Compartimentos Morfodinâmicos Do Litoral Do Espírito Santo e As Principais Unidades Geomorfológicas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS


DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E ECOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA

Beatriz Marins Tintori


Gabriele Wanderley Ferreira
Luan Amaral

Compartimentos morfodinâmicos do litoral do Espírito Santo e as principais


unidades geomorfológicas.

Vitória-ES
Outubro, 2021
INTRODUÇÃO

A sedimentologia e a morfologia da plataforma continental interna no litoral do Estado do


Espírito Santo e os processos atuantes junto aos elementos da geomorfologia costeira,
geologia e hidrodinâmica geram uma diversidade de segmentos costeiros e tipologias de
praias associadas. Dessa forma, diferentes comportamentos e tendências erosivas e/ou
progradacionais das praias são encontrados (ALBINO et al., 2001; ALBINO et al., 2016a).

A magnitude da resposta aos processos costeiros, depende do grau de exposição da seção


costeira e do clima das ondas do local em consideração, bem como de suas características
geológicas, diferenciando assim, litorais compostos por rochas sedimentares consolidadas
(falésias), rochas duras (costões, costeiras) e por sedimentos não consolidados formando
praias e feições morfológicas associadas (cordões litorâneos, ilhas barreira, pontais,
planícies de cristas de praia, tômbolos) (MUEHE, 2001).

De acordo com o “ATLAS DE EROSÃO E PROGRADAÇÃO COSTEIRA DO LITORAL DO


ESPÍRITO SANTO”, o litoral da região do estado do Espírito Santo apresenta uma
tendência tanto à estabilidade quanto à progradação da costa. As regiões com tendência à
estabilidade da costa compreendem 239,66 km de extensão, representando 48,5% de todo
o litoral. As regiões com tendência a progradação compreendem 173,83 km de extensão, o
que representa 35,2% do litoral. As regiões que apresentaram erosão representaram 16,3%
do litoral em 80,35 km de extensão.

No litoral do Espírito Santo existem setores em que a costa se encontram em estabilidade,


devido aos afloramentos rochosos e terraços de abrasão, que geram a dissipação das
ondas, funcionam como armadilha para retenção de sedimentos, além de limitar o
transporte longitudinal entre os arcos praiais, e transversal, nas regiões dos terraços.
Também há regiões em que a costa se encontra em progradação, devido ao aporte
sedimentar dos rios, nas proximidades das desembocaduras fluviais. Em algumas regiões
da costa é possível encontrar processos de erosão, geralmente associados à ocupação
humana, como a habitação da orla, sobre as dunas frontais, assim como a implantação de
estruturas portuárias, que interrompem o balanço de sedimentos. O recuo das falésias são
evidências de processos erosivos no litoral capixaba, gerando uma perda de terreno dos
tabuleiros. Processos naturais como a mobilidade em desembocaduras fluviais, também
podem causar processos erosivos (ALBINO et al., 2006).

O litoral do Espírito Santo é constituído por três unidades geomorfológicas distintas: os


tabuleiros terciários da Formação Barreiras, os afloramentos e promontórios cristalinos
pré-cambrianos e as planícies flúvio-marinhas quaternárias (MARTIN et al., 1996; ALBINO
et al., 2006).

FORMAÇÃO BARREIRAS

A Formação Barreiras é caracterizada por depósitos mal selecionados e com pouca


maturidade, estão geralmente associados a processos fluviais que ocorreram durante o
Neógeno (BIGARELLA e ANDRADE, 1964; ALBINO et al., 2006). Em todo o litoral do Espírito
Santo pode-se encontrar os depósitos da Formação Barreiras, geralmente em forma de
tabuleiros costeiros, falésias vivas, falésias mortas e terraços de abrasão marinha. Em
algumas regiões ao longo do litoral, encontram-se os terraços de abrasão, que são
distribuídos aleatoriamente e caoticamente nas praias, como exemplo no litoral norte, nas
praias de Aracruz, onde esses terraços são expostos durante a maré baixa, e na plataforma
continental interna (ALBINO et al., 2006).

AFLORAMENTOS CRISTALINOS
Os gnaisses migmatíticos, rochas graníticas, gnaisses kinzigíticos e núcleos de
charnoquitos (COUTINHO, 1974; ALBINO et al., 2006), que tivemos a oportunidade de
conhecer na aula de campo de geologia com o Prof. Machado, fazem parte dos
afloramentos cristalinos do pré-cambriano, que podem ser encontrados na porção centro-sul
do Estado, de Vitória rumo ao sul, como exemplo em Guarapari. As colinas, os
promontórios rochosos e as ilhas presentes no Estado, são representantes dessa unidade
geomorfológica (ALBINO et al., 2006).

PLANÍCIES FLÚVIO-MARINHAS
As planícies sedimentares quaternárias são mais desenvolvidas no litoral capixaba nas
adjacências da desembocadura do rio Doce e também nos vales entalhados dos rios São
Mateus, Piraquê-Açu, Reis Magos, Jucu,Itapemirim e Itabapoana. As flutuações do nível do
mar e a disponibilidade de sedimentos fluviais estão associadas com a evolução geológica
da unidade. Nas outras regiões do litoral, as planícies costeiras não são bem desenvolvidas,
são estreitas ou inexistentes, onde as praias são limitadas pelos tabuleiros da Formação
Barreiras e/ou pelos promontórios rochosos (ALBINO et al., 2006).

De acordo com Martin et al. (1996) pode-se dividir o litoral do estado em sub-regiões de
acordo com a distribuição dos depósitos quaternários e seu contato com os depósitos da
Formação Barreiras e os afloramentos rochosos, ou seja, as interações das unidades
geomorfológicas presente (Figura 1).
Figura 1 - Compartimentação do litoral do Espírito Santo em relação a (1) interações das unidades
geomorfológicas em cada região do estado; (2) depósitos quaternários predominantes em cada setor;
(3) classificação das praias em relação às suas tipologias predominantes. Observa-se no mapa a
interação da geomorfologia com a morfodinâmica praial, evidenciando sua imposição nos controles
morfológicos e de disponibilidade de sedimento para cada compartimento.

● SETOR 1

O setor 1 se estende entre a divisa do Estado do Espírito Santo com o Estado da Bahia, até
a região de Barra do Riacho. Compreende 177 km de linha de costa (35,8% do litoral), e é
caracterizado por planícies costeiras estreitas, associadas às desembocaduras dos rios
Itaúnas e São Mateus, ao sopé das falésias da Formação Barreiras. Na desembocadura do
rio Doce se encontra o maior desenvolvimento dos depósitos Quaternários, já em outras
margens costeiras de outros rios do estado, as planícies flúvio-marinhas quaternárias são
desenvolvidas, mas limitadas pela proximidade dos tabuleiros e falésias da Formação
Barreiras (ALBINO et al., 2006). Na região próxima a desembocadura do rio doce, as praias
do Setor 1 são refletivas e intermediárias, caracterizadas por serem extensas e em grande
parte associadas às dunas frontais, com areias siliciclásticas de granulometria grossa a
média, oriundas do rio Doce, São Mateus e Itaúnas. Já em direção ao norte, as praias são
intermediárias a dissipativas, com alto grau de exposição, sendo limitadas pela presença
dos tabuleiros ou falésias da Formação Barreiras (ALBINO et al., 2006).

Alterações antrópicas realizadas nas regiões entre as praias de Riacho Doce e Bugia,
causaram processos erosivos no local, além da influência de processos naturais. A praia da
Vila de Itaúnas, pode ser um dos casos mais interessantes do estado, relacionado com a
influência das ações antropogênicas e seus efeitos na sociedade e meio ambiente. Com a
ocupação urbana na região das dunas, e a retirada de vegetação que realizava a fixação
das dunas, o processo de migração das dunas frontais acabou afetando a própria vila,
soterrando as casas e construções. O recuo da linha de costa associado a esta
problemática, foi reduzido com os programas de fixação das dunas pela vegetação. Outro
caso muito importante ocorrido no estado, inclusive visto em sala de aula, foi o ocorrido com
o bairro Bugia, na barra fluvial da margem norte do rio São Mateus, onde a barra fluvial
sofreu processo intenso de erosão, acarretando o bairro que estava situado na localidade.
Nas praias de Barra Nova e Urussuquara, devido ao aporte sedimentar fluvial, além da
pouca ocupação antropogênica, permitem que ocorra a progradação da linha de costa, além
da manutenção do balanço sedimentar das praias em eventos mais extremos (ALBINO et
al., 2006).

A região entre a praia de Barra Seca e a praia de Monsarás apresenta uma alta
progradação da linha de costa, relacionada ao aporte sedimentar do rio Doce e também a
deriva litorânea. Essa região apresenta uma tendência à inundação sazonal, durante
eventos mais extremos ou de alta pluviosidade, devido às características intermediárias a
dissipativas, a exposição às ondas incidentes e a presença do rio (ALBINO et al., 2006).

○ RIO DOCE

A complexa morfodinâmica das desembocaduras fluviais, como na região do


rio Doce, provoca uma alta mobilidade do litoral (ALBINO et al., 2010;
ALBINO et al., 2006). Os padrões e sistemas dos ventos e ondas no litoral do
Espírito Santo, geram inversões sazonais na direção e intensidade da
corrente longitudinal, que ocasionam a mobilidade da linha de costa em
conjunto com a desembocadura do rio, onde em momentos a costa está com
tendência a progradação, já em outros momentos com tendência à erosão
(ALBINO et al., 2006). Apresenta deriva litorânea majoritária de Sul para
Norte, e os sedimentos fluviais são transportados também nessa direção
(Martin et al. 2003).

A planície deltaica do Rio Doce compreende o maior registro de depósitos


quaternários do Espírito Santo. Configura-se em um delta dominado por
ondas onde as evidências morfológicas e estratigráficas destacam a atuação
da deriva litorânea de sedimentos, da carga e descarga fluvial e das
variações do nível do mar na sua evolução (Dominguez et al. 1981,
Dominguez et al. 1983, Martin et al. 1996, Martin et al. 1997).

● SETOR 2

O Setor 2 é compreendido entre Barra do Riacho e Vitória, representando 16,3% do litoral


em 80,6 km de linha de costa. Nessa região os depósitos quaternários atingem o máximo
desenvolvimento, em aproximadamente 38 km transversalmente entre as falésias mortas da
Formação Barreiras, no interior, e a linha de costa. Os tabuleiros da Formação Barreiras
podem ser encontrados muito próximos à linha de costa, geralmente em forma de falésias
vivas e terraços de abrasão (ALBINO et al., 2006). Na região compreendida pelo setor 2,
existem locais que devido a intensa urbanização, sofrem processos de erosão (0,7% dos
16,3%), já em locais próximos das desembocaduras fluviais, por exemplo do rio
Piraquê-Açu e Reis magos, apresentam processos de progradação da linha de costa
(5,8%). As praias que apresentam os terraços de abrasão são consideradas estáveis, além
da tipologia refletiva a intermediária mais terraços, como exemplo as praias de Aracruz,
como praias dos Padres, Mar Azul e Potiri. Os terraços permitem que as praias apresentam
a capacidade de proteção contra a erosão, além da característica relacionada com a
variação da maré, onde em momentos de maré baixa, os terraços ficam expostos e a
arrebentação ocorre distante da linha de costa, já em momentos de maré alta, as ondas
arrebentam próximas à costa, quando associadas a eventos de maior energia, como
tempestades, as praias podem sofrer inundações, de forma que o espraiamento alcance as
construções urbanas. Outra região que sofre problemas erosivos, devido a influência de
processos antropogênicos são as praias do litoral da Serra, onde a urbanização foi
realizada sobre os cordões litorâneos estreitos e sobre as dunas frontais, o que causa a
intensificação da vulnerabilidade erosiva e inundacional da região, podendo causar danos
às construções humanas, como exemplo em Jacaraípe e Manguinhos. (ALBINO et al.,
2006).

○ FALÉSIAS E TERRAÇO DE ABRASÃO

As falésias e terraços de abrasão da Formação Barreiras, foram originadas


por depósitos aluviais, constituídos por sedimentos terrígenos, depositados
quando o nível médio do mar estava 130 m abaixo do atual, em
aproximadamente 25 a 4 milhões de anos A.P. Durante o Período
Quaternário, com as últimas transgressões marinhas, através da ação das
ondas atuando sobre esses depósitos, foram formadas as falésias e terraços
de abrasão, pois as variações no nível do mar, relacionados com a abrasão
das ondas sobre os depósitos, causaram o recuo do tabuleiros, modelando
as falésias e expondo os terraços de abrasão.

Os terraços de abrasão são formados pelo solapamento das ondas na base


das falésias (Figura 2), além das eventuais subidas do nível médio do mar,
que inundaram as regiões costeiras, causando erosão nos depósitos da
Formação Barreiras, geralmente representados por falésias ou tabuleiros,
ocasionando a exposição das lateritas, que estavam presentes nas bases
das falésias, quando o nível médio do mar voltou a abaixar.

As superfícies de abrasão, como apresentadas no litoral central do Espírito


Santo, são rasas em algumas áreas e cobertas por resíduos de laterita, são
causadas pela retrogradação dos depósitos sedimentares do Barreiras
(MUEHE, 2001). Os terraços de abrasão presentes na antepraia e na
plataforma continental interna, permitem a dissipação da energia das ondas
incidentes, reduzindo a amplitude de variação das alturas de arrebentação.
Assim como minimizam as correntes longitudinais, devido a rugosidade dos
terraços, o atrito ocasiona a diminuição potencial do transporte das correntes.
A presença dos terraços permitem que a maré atue na energia das ondas e
no alcance dos espraiamentos (run up), ocasionando a dissipação das ondas
durante as marés baixas e aumentando o alcance do espraiamento durante a
maré alta, por serem substratos rígidos, podem auxiliar na elevação do nível
local do mar (ALBINO et al., 2006). As praias com terraços apresentam
pequena variação topográfica sazonal dos perfis praiais. Como visto em aula,
os terraços funcionam como armadilhas para a retenção dos sedimentos na
antepraia, o que contribui para a estabilidade dos perfis. Os terraços também
funcionam como estruturas rígidas para a fixação de organismos bentônicos,
como algas calcárias e briozoários, o que induz a composição
predominantemente bioclástica das areias destas praias. Outra característica
importante das praias com terraço, é que a presença dos terraços de
abrasão alteram o ponto de fechamento da praia, ou seja, a troca de
sedimento entre a parte emersa e submersa, se o sedimento ultrapassa o
terraço, geralmente não retorna para a praia. As praias com terraços e
limitadas por falésias são estreitas, com berma alta e face praial com
gradiente suave. Essas praias podem ser classificadas como “praia refletiva
com terraços rochosos de baixa mar”, no entanto, a presença do terraço mais
próxima ou mais distante da praia, influência na tipologia da mesma, sendo
assim, terraços mais próximos da praia, as praias geralmente são mais
inclinadas, com características refletivas, já praias com terraços mais
distantes, a praia apresenta características mais dissipativas.

Figura 2 - (A) Modelo de desenvolvimento de terraços de abrasão de Sunamura (1992); (B) Praia dos
Padres, litoral de Aracruz, onde observa-se os tabuleiros terminando em falésias ao longo do litoral
(fundo) e os terraços de abrasão na praia (primeiro plano).

● SETOR 3

O Setor 3 compreende-se de Barra do Riacho a Ponta de Tubarão, Baía do Espírito Santo.


Esse setor é caracterizado por pouco desenvolvimento de depósitos quaternários ao sopé
das falésias da Formação Barreiras, onde há regiões em que as falésias da Formação
Barreiras estão em contato direto com a praia. Nessas regiões, a energia das ondas é
dissipada nos terraços de abrasão, presentes tanto na plataforma continental interna quanto
na zona costeira adjacente (ALBINO e SUGUIO, 2011). De acordo com a classificação de
Wright et al (1979), as praias adquirem estágios dissipativos e intermediários. Os vales dos
rios Piraquê-Açu, Reis Magos e Santa Maria de Vitória, apresentam os depósitos
flúvio-marinhos mais desenvolvidos (ALBINO et al., 2006).

Os terraços costeiros e cortados por onda, situados próximos à costa, apresentam


inclinação suave, devido à retenção de boa parte de sedimentos vindos do mar aberto. Essa
inclinação só não está presente em setores onde os terraços foram truncados pela erosão
(ALBINO e SUGUIO, 2011).

● SETOR 4

O Setor 4 se estende do litoral entre a Baía do Espírito Santo e a desembocadura do rio


Itapemirim, representando 40,2% da linha de costa do litoral do estado. O setor é
caracterizado por afloramentos de rochas cristalinas pré-cambrianas em contato com os
depósitos quaternários flúvio-marinhos, intercalados pelos afloramentos da Formação
Barreiras (ALBINO et al., 2006).

Em relação a tipologia das praias do setor, existe uma variação que está relacionada ao
grau de exposição às ondas incidentes, à extensão e envergamento do arco praial e à
proximidade de afloramentos rochosos. As praias extensas do setor são mantidas pelos
sedimentos nas enseadas e pelos aportes fluviais dos rios Santa Maria da Vitória, Jucu,
Guarapari e Benevente. Essas praias estão associadas a dunas frontais, compostas por
areias siliciclásticas (ALBINO et al., 2006).

Em algumas regiões do setor, onde as falésias da Formação Barreiras estão em contato


com a praia, pode-se observar processos erosivos sobre os depósitos terciários, pois essas
praias não apresentam capacidade de proteção (ALBINO et al., 2006).

A intensa ocupação urbana ocasionou alterações morfo-sedimentares no setor. Como


exemplo, temos a construção do Porto de Tubarão na enseada da praia de Camburi em
Vitória, que alterou a morfologia do fundo da baía do Espírito Santo e o padrão da direção
das ortogonais das ondas, ou seja, o padrão de chegada de ondas, além da influência da
construção de um enrocamento e de uma dragagem de um canal com profundidade de 21
metros, que causou a intensificação das alturas de ondas na parte central da praia, e uma
diminuição na região norte, que vem gerando uma nova adaptação morfológica da praia, ou
adaptação da planta da praia, gerando o recuo da porção exposta às ondas. A praia de
camburi é totalmente artificializada, com diversas alterações, como aterros, construção de
espigões, praias artificiais e engordamentos de praia, com o objetivo de retardar o recuo da
linha de costa, favorecendo o crescimento urbano e uso da costa para turismo e lazer. A
engorda da praia visa restaurar praias que foram afetadas pela erosão, e para criar uma
formação de praia que irá proteger a linha de costa e persistem em face da ação das ondas
(BIRD, 2008). Assim como a intensa urbanização e a construção de indústrias e portos,
influência na aceleração dos desequilíbrios sedimentares da zona costeira. No município de
Anchieta, na praia de Maimbá, também ocorreu alteração na morfologia da planta da praia,
após a construção do terminal portuário (ALBINO et al., 2006). Onde quebra-mares foram
construídos para estabilizar fozes de rios ou entradas de lagunas e melhorar sua
navegabilidade, ou criar portos de barco, a deriva ao longo da costa foi interceptada no lado
ascendente e há erosão da praia no lado ascendente. De acordo com o BIRD 2008, há
muitos casos como esse. O quebra-mar construído em Lagos, Nigéria em 1912 era para
manter uma entrada navegável para a Lagoa de Lagos, interceptaram a areia, na Praia do
Farol que se movia de oeste para leste. Assim, causou a erosão de Victoria Beach perto do
porto. Em 1975, a costa avançou mais de 1.300 metros ao longo do quebra-mar em direção
ao mar, mas Victoria Beach recuou para 1.300 metros.

Na praia de Maimbá, o Porto de Ubu exerce uma influência no transporte longitudinal de


sedimentos, funcionando como uma armadilha para bloquear o transporte de sedimentos
via correntes longitudinais. A deriva litorânea que segue preferencialmente de Norte para
Sul, junto com a exposição da praia às ondas incidentes, ocasiona o recuo da linha de costa
na região norte da praia, provocando erosão das falésias dos depósitos terciários da
Formação Barreiras, causando prejuízos urbanos, como a destruição da Rodovia do Sol
(ES 010) . Já na região do Porto de Ubu, ocorre uma progradação da linha de costa, devido
o processo citado acima, ocasionando o desenvolvimento de terraços arenosos estreitos,
que protegem as falésias das ações de ondas (ALBINO et al., 2006).

Na praia de itaipava, devido a implementação de um quebramar, que foi instalado para


auxiliar nas operações pesqueiras,gerou a adaptação em planta da praia, no qual as ondas
são difratadas na estrutura, ocasionando um hotspot erosivo na parte central da praia
(ALBINO et al., 2006).

A praia do Morro possui orientação da costa NE-SW, e é onde o embasamento cristalino


Pré-Cambriano alcança a linha de costa, possui com uma extensão de aproximadamente 3
km e a partir da região serrana do estado apresenta um litoral com muitas praias de
enseada. Essa região apresenta alta energia de ondas, baixo aporte sedimentar continental,
assimetria da linha de costa e plataforma continental estreita (OLIVEIRA e ALBINO, 2014).
É possível analisar 3 seções diferentes pela sua morfologia, uma onde possui um setor
mais retilíneo onde as ondas normalmente incidem paralelas à costa, outra seção mais
centralizada suavizada e a outra seção próxima ao promontório principal, onde possui uma
inflexão mais acentuada. Já para deriva longitudinal predominante, foram encontrados a
condição de estado de equilíbrio estático, sendo a deriva sentido SW - NE, sendo capaz de
fornecer então para o setor NE deposição de areias de baixa granulometria, o que
possivelmente resulta na neutralidade deste em relação ao input sedimentar (OLIVEIRA e
ALBINO, 2014).

As maiores instabilidades analisadas nos setores finais da praia que devido ao processo de
difração das ondas na enseada, representam o ajuste do arco da praia, juntamente ao clima
das ondas atual, ou seja, semelhante à período e à altura dos quadrantes S/SE. Dessa
forma, produz maior erosão do setor SW e transporte longitudinal causada pela atenuação
de energia no sentido NE, com o consequente depósito de grãos finos. Da mesma forma, os
resultantes rotacionais foram observados em uma menor escala temporal, comprovando a
maior mobilidade encontrada ao longo de todo o arco (OLIVEIRA e ALBINO, 2014).

Há décadas, o litoral da Praia do Morro apresenta um aparente processo de retrogradação


de sua linha de costa. Suas diferentes taxas de mobilidade ao longo do tempo e a
retrogradação da linha de praia confirmam sua escala temporal de resposta aos processos
físicos atuantes (OLIVEIRA e ALBINO, 2014). Segundo (OLIVEIRA e ALBINO, 2014) como
previsto pelo modelo parabólico, a praia apresenta um comportamento de ajuste
morfodinâmico em relação às suas transformações em águas rasas e a diferentes graus de
exposição ao clima de ondas. Dos parâmetros físicos que também induzem sobre o
processo erosivo são a orientação da praia exposta a eventos energéticos de sistemas
frontais, baixo aporte continental e plataforma estreita.

○ PRAIAS DISSIPATIVAS

O estado dissipativo apresenta baixo gradiente topográfico e grande reserva


de areia na porção subaquosa da praia, tendo uma larga zona de surfe e
presença de bancos longitudinais. Esse estágio é favorecido pela ocorrência
de ondas altas e de elevada esbeltez (tempestade) e pela presença de areias
de granulometria fina. Esse tipo de estágio praial é encontrado ao norte do
rio Doce, onde a planície costeira é bem desenvolvida. As praias apresentam
alto grau de exposição (ALBINO et al. , 2018). As praias dissipativas são os
locais mais procurados por banhistas e veranistas, que instalam construções
urbanas, geralmente muito próximas da linha de costa, sobre as dunas
frontais. Esse processo antropogênico tem causado a diminuição dos
sedimentos disponíveis para a adaptação morfodinâmica, onde em eventos
extremos, como entradas de frentes frias e tempestades, associadas às
marés de sizígias, devido a baixa declividade da antepraia, o espraiamento
acaba alcançando as construções urbanas, causando danos econômicos e
sociais.

○ DUNAS COSTEIRAS

As dunas frontais são caracterizadas como cordões de dunas arenosas


paralelos à linha de praia. São formadas logo após o pós-praia por
transporte de areia normalmente mais fina pelos ventos, que por vezes com
vegetação associada, agindo como um obstáculo e assim, acumulando
esses sedimentos (CALLIARI et al. 2005; HESP, 2002). É de extrema
relevância o conhecimento em torno dessas feições geomorfológicas por seu
potencial de troca de sedimentos com a praia. Além disso, possuem uma
importante função de auxiliar no equilíbrio do balanço dos sedimentos, e
também de conter o avanço das ondas de tempestade (CALLIARI et al.
2005). Segundo Short (1988), alguns fatores auxiliam na formação das
dunas, porém as ondas possuem domínio sobre a mobilidade dos
sedimentos e o equilíbrio do cordão de dunas frontais. As dunas frontais
tornam-se mais vulneráveis, menos estáveis e maiores quando há um
aumento da energia das ondas, aumentando sua capacidade de
abastecimento de sedimentos ao longo da costa. Assim, possui a capacidade
de transformar as praias intermediárias cada vez mais em dissipativas. Short
(1988) mostra que há associação benéfica entre o seu tamanho, tipo de
dunas e a força da energia das ondas.

● SETOR 5
O Setor 5 se estende da foz do rio Itapemirim até a margem norte da desembocadura do rio
Itabapoana, representando 7,6% da linha de costa do litoral do estado. Nesse setor, os
depósitos da Formação Barreiras estão em contato com as praias estreitas, que são
limitadas pelas falésias sedimentares. O setor é caracterizado por estreitos depósitos
quaternários, que estão limitados por falésias vivas da Formação Barreiras. No vale fluvial
do rio Itabapoana, existe uma extensa planície de depósitos quaternário flúvio-marinhos,
desenvolvida aos pés das falésias. As praias do setor são classificadas como dissipativa e
intermediária. Eventos meteorológicos mais energéticos, como tempestades relacionadas
com marés de sizígia, alcançam a base das falésias, podendo ameaçar os depósitos
terciários da Formação Barreiras. As praias adjacentes às regiões onde há um
desenvolvimento estreito de terraços arenosos, que são limitados pelas falésias, estão
associadas a dunas frontais, que em algumas regiões foram alteradas por construções
humanas, como calçadões e quiosques, podendo ocasionar processos erosivos, como
exemplo na praia de Marataízes (ALBINO et al., 2006).

A orla do município de Marataízes apresenta intenso processo de erosão, causando


diversos prejuízos econômicos e sociais. As características naturais da região, como o
baixo desenvolvimento natural das planícies costeiras, favoreceram a urbanização sobre as
dunas frontais, proporcionando processos erosivos, devido a destruição das dunas frontais,
que são intensificados em eventos extremos, como passagens de frentes frias e
tempestades associadas às marés de sizígias, que ocasionam espraiamento das ondas nas
regiões onde as estruturas urbanas estão situadas, causando danos sociais e econômicos.
Diversas intervenções de engenharia foram realizadas na região, com intuito de proteger as
praias existentes ou impedir processos de recuo da linha de costa, no entanto, onde, essas
próprias construções podem ser um dos principais fatores relacionado com a erosão da
praia, pois as mesmas, podem interferir no transporte litorâneo de sedimento.

REFERÊNCIAS
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