Erosão Costeira o Estado de São Paulo

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Erosão costeira: o Estado de São Paulo

ACH1027 - Geotecnia Ambiental

Nome dos integrantes: Gabriela Maria Melo


Carvalho (10725331), Joyce Souza Maia
(10285967), Larissa Torres (10285843) e Laura
Domingues dos Santos (11209729).

14 de Junho de 2022
Resumo
O processo de erosão no sistema praial ocorre de forma natural, mas pode ser
intensificado conforme as dinâmicas ocorridas neste espaço, que podem ser por processos
naturais, como as mudanças climáticas e elevação do nível do mar (NM), processos que
também são alterados por ações antrópicas. Este trabalho faz uma revisão bibliográfica e
trata de praias encontradas no Estado de São Paulo, que sofrem com pressões naturais e
antrópicas, como turismo e intensa densidade demográfica.

Introdução

A erosão costeira é uma realidade presente no mundo inteiro por se tratar de um


ambiente dinâmico, com interações de processos continentais e costeiros. Este fenômeno
se dá por razões naturais, como mudanças climáticas e elevação do nível relativo do
mar; e por causas antrópicas, como a rápida urbanização, crescimento populacional,
atividades turísticas, desenvolvimento portuário, industrialização, exploração de
recursos naturais, assimilação de resíduos e poluição ambiental (Souza, C.R.G.,
Suguio, K., 2003). No entanto, é importante frisar que o agente natural, relacionado ao
aumento do nível do mar, tende a se intensificar com a mudança climática gerada pelo
aquecimento global (Souza, C.R.G., 2009).

Segundo Souza e C.R.G., existem praias com o balanço sedimentar negativo


(aquelas que estão em situação de erosão), positivo (praias que estão em situação de
deposição de sedimentos) ou nulo (em estado de equilíbrio). Esses processos
sedimentares são produtos de fatores climáticos (relacionado a variação do nível do mar e
dinâmica dos ventos), hidrológicos (envolvem a ação de ondas, marés e correntes)
geológicos (erosão de rochas e depósitos sedimentares na linha de costa) e antrópicos
(Souza, C.R.G., 2009).

O presente trabalho tem como objetivo entender aspectos a respeito da erosão


costeira do Estado de São Paulo, localizada entre a Serra da Escarpa da Serra do Mar e a
atual linha de costa. Esta região atinge até 1.200 metros de altitude e sua costa possui
cerca de 430 quilômetros de comprimento (Souza, C.R.G., Suguio, K., 2003). Trata-se de
um local onde as praias possuem importante função sócio-ecológica, como a proteção do
continente contra a erosão causada pelas ondas e marés, oferta de espaço para lazer,
esporte e turismo costeiro, proteção natural para os ecossistemas adjacentes e
equipamentos urbanos. No entanto, é uma área com bastante traços de erosão costeira,
onde mais de 50% das praias paulistas se encontram em situação de risco alto e muito alto
de erosão (Souza, C.R.G., 2009.)

Os processos erosivos deixam marcas ao longo da costa, que são caracterizadas


como indicadores. No litoral de São Paulo existem 11 indicadores de erosão costeira que
são passíveis de serem monitorados e têm sido utilizados pelo Plano Estadual de Gestão
Costeira, a fim de criar normas para algumas atividades ao longo do litoral. Existem
propostas para que haja uma gestão costeira sustentável, como é o caso da Gestão
Integrada da Zona Costeira (ICZM), que será explorada no presente trabalho.(Souza,
C.R.G., Suguio, K., 2003). Com isso, ao longo deste artigo discorreremos sobre o plano de
São Paulo com relação a gestão litorânea.

Discussão
A erosão costeira é um processo natural ou um processo acelerado por
modificações antrópicas. Este depende de diversos fatores: meteorológicos/climáticos,
oceanográficos/hidrológicos, geológicos e antrópicos1. A velocidade da erosão costeira
depende de duas principais pressões2, às antrópicas dizem respeito a rápida urbanização;
ou também urbanização pretérita e, segundo Milton Santos3, crescimento populacional,
atividades turísticas, desenvolvimento portuário, industrialização, exploração de recursos,
aumento de resíduos e poluição ambiental. Já os dois principais processos naturais são, o
aumento relativo do nível do mar (NRM) e mudanças climáticas, que acabam sendo
agravados por ações antrópicas.
O aumento do NRM tem como causas o derretimento das geleiras, glaciares, calotas
polares e camadas de gelo (permafrosts) que despejam água doce nos oceanos e mares.
Outra causa é a expansão térmica, isto é, quando a água do mar se expande à medida que
aquece, fazendo subir o nível do mar4. Em relação às praias oceânicas a autora5 cita duas
condicionantes relevantes para a alteração/mudanças nas praias: as condicionantes
geológicas- geomorfológicas e oceanográficas. A primeira diz respeito a características
físicas da planície costeira e da plataforma continental próximas à praia e a segunda diz
respeito ao clima de ondas, marés e do vento.
O processo sedimentar (erosão, deposição e transporte), ao ser modificado, sofre
mudanças em seu balanço sedimentar, que é a relação entre perdas/saídas e
ganhos/entradas de sedimentos em praias. No caso de um déficit sedimentar, que é a atual

1
Souza (2009 apud 1997)
2
Souza e Suguio (2013)
3
Santos (2002)
4
PBMC (2016)
5
Souza (2009)
realidade da maioria das praias do Estado de São Paulo, a largura e retração da linha de
costa vai aumentando ao longo do tempo. O problema é que devido a emergência climática
o prazo é cada vez mais curto, mesmo que conseguíssemos atingir a meta da NDC6 de até
2025 emitirmos menos 1,61 GtCO2 (-37%) e até 2030 emitirmos menos 1,28 GtCO2e (-
50%), a temperatura continuará subindo assim como o nível do mar.
Existem outras causas da erosão costeira e não apenas o déficit sedimentar, estas
foram sintetizadas na Figura 1. Um destaque a urbanização acelerada que é um problema
relevante para o impacto que a erosão pode causar nos moradores, o qual, depende do
nível de risco e vulnerabilidade. Esta urbanização gera problemas em acesso desigual a
empregos, habitações, cultura, água, educação, alimentação e esgoto e as populações
periféricas estão sujeitas então aos maiores riscos socioambientais devido toda falta de
planejamento urbano inclusivo. Dessa forma, o risco ambiental de alguma região está ligado
com a pobreza naquele local, ou seja, com o social. Este risco ambiental, sobretudo, se
relaciona com a vulnerabilidade socioambiental influenciada pelas condições
socioeconômicas, raciais, habitacionais e de infraestrutura. Por esta razão que os
indicadores de monitoramento e gestão de risco da erosão costeira são essenciais para a
adaptação e resiliência climática.
Figura 1: Causas naturais e antrópicas da erosão costeira no Brasil

Fonte: Souza et al., 2005

6
NDC (2022)
Os indicadores de erosão costeira7, são:
“I: Pós-praia muito estreita ou inexistente devido à inundação pelas preamares
de sizígia (praias urbanizadas ou não);
II: Retrogradação geral da linha de costa nas últimas décadas, com
franca diminuição da largura da praia, em toda a sua extensão ou mais
acentuadamente em determinados locais dela (praias
urbanizadas ou não);
III: Erosão progressiva de depósitos marinhos e/ou eólicos
pleistocênicos a atuais que bordejam as praias, sem o
desenvolvimento de falésias (praias urbanizadas ou não);
IV: Intensa erosão de depósitos marinhos e/ou eólicos
pleistocênicos a atuais que bordejam as praias, provocando o
desenvolvimento de falésias com alturas de até dezenas de
metros (praias urbanizadas ou não);
V: Destruição de faixas frontais de vegetação de restinga ou de
manguezal, presença de raízes e troncos em posição de vida
soterrados na praia, devido à erosão e/ou ao soterramento
causado pela retrogradação/migração da linha de costa;
VI: Exumação e erosão de depósitos paleolagunares, turfeiras,
arenitos de praia ou terraços marinhos holocênicos e
pleistocênicos, sobre o estirâncio e/ou a face litorânea atuais,
devido à remoção das areias praiais por erosão costeira e déficit
sedimentar extremamente negativo (praias urbanizadas ou não);
VII: Freqüente exposição de “terraços ou falésias artificiais”,
apresentando pacotes de espessura até métrica, formados por
camadas sucessivas de aterros erodidos soterradas por camadas
de areias praiais/dunares (contato entre a praia e a área
urbanizada);
VIII: Destruição de estruturas artificiais construídas sobre os
depósitos marinhos ou eólicos holocênicos, a pós-praia, o
estirâncio, a face litorânea e/ou a zona de surfe;
IX: Retomada erosiva de antigas plataformas de abrasão marinha,
elevadas de +2 a +6 m, formadas sobre rochas do
embasamento ígneo-metamórfico pré cambriano a mesozóico,
rochas sedimentares mesozóicas, sedimentos terciários

7
Souza, (1997, 2001b;) Souza & Suguio (2002)
(Formação Barreiras) ou arenitos praiais pleistocênicos, em
épocas em que o nível do mar encontrava-se acima do atual,
durante o Holoceno e o final do Pleistoceno (praias urbanizadas
ou não);
X: Presença de concentrações de minerais pesados em
determinados trechos da praia, em associação com outras
evidências erosivas (praias urbanizadas ou não);
XI: Desenvolvimento de embaíamentos formados pela presença de
correntes de retorno concentradas e de zona de barlamar ou
centros de divergência de células de deriva litorânea localizados
em local(s) mais ou menos fixo(s) da linha de costa;”

As principais consequências da erosão costeira são perdas de propriedades e bens


públicos e privados, destruição das estruturas artificiais, colapso do sistema de
esgotamento sanitário, perda da paisagem e turismo, reconstrução da linha de costa (muito
caro), redução da largura do ambiente e migração transversal e alteração da circulação
estuarina (e.g., manguezais)8.

A autora disponibiliza dados em porcentagem sobre o panorama dos riscos, onde


MA: muito alto, A: alto, MB: muito baixo. O destaque vai para a Baixada Santista e Litoral
Sul onde o risco muito alto equivale a metade da proporção analisada. Estas praias
necessitam de ações imediatas como realocação ou retirada das infraestruturas urbanas
e/ou obras de engenharia, recuperação das praias através do fornecimento artificial de
sedimentos (com atenção especial a fonte desse sedimento), recuperação de dunas
frontais, e eliminação ou minimização das causas antrópicas da erosão costeira9.
● Litoral Norte: MA=22,4%; A=24,3%; M=27,5%; B=22,4% e MB=3,4%
● Baixada Santista: MA = 52,3%; A=13%; M=21,7%; B =13%; MB=0%
● Litoral Sul: MA=50%; A=12,5%; M=25%; B=12,5%; MB =0%

Apesar da gravidade e altos riscos de erosão costeira, no Brasil ainda há poucos


instrumentos legais ambientais nas praias. No Estado de São Paulo existem 2 principais
instrumentos o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro e o Zoneamento
Ecológico-Econômico (ZEE) apenas para o Litoral Norte10. Uma possível integração destes
instrumentos com o Plano Nacional de Mudança do Clima seria relevante para prevenir e

8
Chiessi (2022)
9
Souza (2009)
10
Instituto Geológico (2015)
reduzir os desastres naturais. Outra possível integração relevante para o financiamento de
medidas preventivas são linhas de financiamento para adaptação e resiliência como os
nacionais, Fundo Nacional do Meio Ambiente11 e Fundo Nacional sobre Mudança do Clima12
e internacionais, The Global Facility for Disaster Reduction and Recovery (GFDRR)13.

11
MMA (2022)
12
MMA (2022)
13
GFDRR
Figura 2: Mapa de Risco à Erosão Costeira para o Estado de São Paulo
Fonte: Souza (2009) apud Souza (2007)

Considerações finais
A erosão costeira por ser um desastre natural de importante relevância visto a
elevada densidade populacional de aproximadamente 135 hab/km2 (seis vezes a média
nacional)14 necessita de constante monitoramento e indicadores, os quais foram
apresentados ao longo do trabalho. Dessa forma, a transversalidade entre os temas de
Gestão Costeira e Mudanças Climáticas, Adaptação e Resiliência, além da integração de
financiamentos tanto públicos quanto privados são essenciais para mitigação dos impactos
socioambientais e riscos.

Referências bibliográficas

Chiesse M. Cristiano, 2022. Aula: Ambientes costeiros e erosão costeira.

GFDRR, 2022. Where we work: Latin America and Caribbean: Brazil. Acesso em 14 de
junho de 2022. Disponível em <Brazil | GFDRR>

MMA, 2022. Fundo Nacional do Meio Ambiente. Acesso em 14 de junho de 2022.


Disponível em < Fundo Nacional do Meio Ambiente — Português (Brasil) (www.gov.br)>

MMA, 2022. Fundo Nacional sobre Mudança do Clima. Acesso em 14 de junho de 2022.
Disponível em <Fundo Nacional sobre Mudança do Clima — Português (Brasil)
(www.gov.br)>

PMBC, 2016. Vulnerabilidades frente ao aumento do nível relativo do mar.

SANTOS, Milton., 2002. A urbanização brasileira. São Paulo, EDUSP, Cap. 2.

SOUZA, Celia Regina de Gouveia, 2009. A Erosão nas Praias do Estado São Paulo:
Causas, Conseqüências, Indicadores de Monitoramento e Risco. In: Bononi, V.L.R.,
Santos Junior, N.A. (Org.), Memórias do Conselho Cientifico da Secretaria do Meio
Ambiente: A Síntese de Um Ano de Conhecimento Acumulado, pp.48-69, Instituto de
Botânica – Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

14
Chiessi (2022)
SOUZA, Celia Regina de Gouveia. Causas Naturais da Erosão Costeira. Instituto
Geológico/SMA e Programa de Pós-Graduação em Geografia Física- FFLCH/USP. Acesso
em 14 de junho de 2022. Disponível em <PRAIAS: UMA ABORDAGEM DO MEIO FÍSICO E
IMPACTOS DA ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR (infraestruturameioambiente.sp.gov.br)>

SOUZA, Celia Regina de Gouveia; SUGUIO, Kenitiro, Jan 2003. The Coastal Erosion Risk
Zoning and the São Paulo State Plan for Coastal Management. Journal Of Coastal
Research, Special Issue. Itajaí, Sc, p. 530-347.

United Nations Climate Change (UNCC) & Federative Republic of Brazil., 21 March 2022.
Paris Agreement: Nationally Determined Contribution (NDC). Acesso em 14 de junho de
2022. Disponível em <https://unfccc.int/NDCREG>

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