PDF - Caliny Muniz de Lima Silva

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CENTRO DE HUMANIDADES – CAMPUS III

DEPARTAMENTO DE LETRAS
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS

CALINY MUNIZ DE LIMA SILVA

ENTRE OBSTINAÇÃO E SUBALTERNIDADE:


Uma leitura do feminino nas ‘Letras Escarlates’ de Nathaniel Hawthorne
e Roland Joffé

GUARABIRA – PB
2016
CALINY MUNIZ DE LIMA SILVA

ENTRE OBSTINAÇÃO E SUBALTERNIDADE:


Uma leitura do feminino nas ‘Letras Escarlates’ de Nathaniel Hawthorne
e Roland Joffé

Monografia apresentada como Trabalho


de Conclusão de Curso (TCC), à
Universidade Estadual da Paraíba -
UEPB, Campus III, Guarabira, em
cumprimento aos requisitos para
obtenção do grau de Licenciada em
Letras - Habilitação em Língua
Portuguesa e Inglesa, sob orientação do
Prof. Me. Auricélio Soares Fernandes.

GUARABIRA – PB
2016
É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na forma impressa como eletrônica.
Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na
reprodução figure a identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação.

S586e Silva, Caliny Muniz de Lima


Entre obstinação e subalternidade: [manuscrito] : uma leitura
do feminino nas 'Letras Escarlates' de Nathaniel Hawthorne e
Roland Joffé / Caliny Muniz de Lima Silva. - 2016.
34 p. : il. color.

Digitado.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Letras) -
Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Humanidades, 2016.
"Orientação: Auricélio Soares Fernandes, Departamento de
Letras".

1. Obstinação. 2. Subalternidade. 3. A Letra Escarlate. 4.


Romance. I. Título.
21. ed. CDD 400
Ao meu pai, Antônio Alves de Lima (In
memoriam), pelo desejo de me ver num
curso superior. Esse trabalho será em prova
do meu amor e de minha eterna saudade.
DEDICO.
AGRADECIMENTOS

Sou extremamente grata a Deus pela força em meio às dificuldades, pela


sabedoria, superação, pela coragem e por ter me feito perseverar dia após dia,
agradeço em especial por esta conquista e por me proporcionar um mundo de
possibilidades.
Agradeço a essa Instituição de Ensino, seu corpo docente, pela
oportunidade de abrir-me a porta e iniciar a minha vida profissional. Ao meu
orientador Auricélio Soares Fernandes pela dedicação, pelo suporte e incentivo e
por ser um educador admirável e comprometido.
O meu agradecimento especial é voltado à minha mãe Santana Muniz, a
qual amo incondicionalmente. Agradeço pela contribuição moral e financeira, por
não medir esforços para me ajudar, por ser minha fonte de inspiração, e a pessoa
que mais amo e sou grata.
Agradeço também ao meu esposo Felipe Eduardo, a minha irmã Cleide
Muniz, aos meus sobrinhos João Victor e Lucas Alves e à minha tia Arlucia Muniz
(Dé).
Aqui retribuo o meu carinho e agradecimento a minha avó Inês Muniz (In
memoriam) e a minha tia Rita Ferreira, pela fé e devoção, por rezar o terço diário em
intenção de minha jornada acadêmica. Sou grata pelo refúgio que encontro em
minha família e por saber que mesmo seguindo outros rumos, a minha raiz
continuará sendo a mesma.
Agradeço ainda a minha turma 2011.2, as amigas Jamile Alves, Tarciana
Karla, Leiliane Melo, Miqueilha Barbosa, Morgana Nathana e Geiziane Rodrigues,
obrigada pela amizade, pelo convívio e aprendizagem durante esses quatro anos.
Por fim, agradeço a todos que direta e indiretamente contribuíram para essa
conquista, ao meu amigo e parceiro de academia Gilliam Cândido, que tanto me
incentivou e me fortaleceu, o qual reporto todo o meu respeito e admiração.
RESUMO

Esse trabalho analisa a obstinação e a subalternidade através da representação da


personagem feminina no romance A Letra Escarlate de Nathaniel Hawthorne (2010)
e em uma de suas adaptações fílmicas, especificamente a de Roland Joffé (1995).
Através da perspectiva dos estudos comparados, analisaremos a força de Hester
Prynne como marca representativa para a denominação de primeira heroína
americana, bem como as divergências e convergências entre romance e filme. Com
A Letra Escarlate, Hawthorne criava uma história fictícia que até hoje tem permeado
a mente dos americanos como uma luta entre o indivíduo e a sociedade, entre o
amor, a hipocrisia e a lealdade. Muitos acreditam que Hawthorne criou um tipo de
paradoxo em forma de narrativa, dramatizando as reinvindicações do indivíduo para
com a sociedade e as imposições da mesma para com o indivíduo, tornando a obra
(ou romance na definição de Hawthorne) um clássico da literatura mundial, presente
na cultura de massa nos mais distintos tipos de alusões, referências e releituras.
Para o corrente estudo, utilizamos como aportes teóricos, estudos de Kathryn
VanSpanckeren (1994), Bourdieu (2002), Spivak (2010), Antonio Candido (2011),
Stam (2006), Lawrence (2012), Cunha (2007) e outros.

Palavras-chaves: Obstinação; Subalternidade; A Letra Escarlate; Romance;


Adaptação Fílmica.
ABSTRACT

This work analyze the obstinacy and subordination through the representation of the
female character in the novel The Scarlet Letter by Nathaniel Hawthorne (2010) and
in one of its filmic adaptations, specifically the one of Roland Joffé (1995). Through
the perspective of comparative studies, we analyze the strength of Hester Prynne as
a representative mark for the name of the first American heroine, as well as the
differences and similarities between novel and film. With The Scarlet Letter,
Hawthorne created a fictional story that until today has permeated the mind of
American people as a struggle between the individual and society, between love,
hypocrisy and loyalty. Many believe that Hawthorne has created a kind of paradox in
narrative form, dramatizing the individual's claim on the society and the impositions of
the same to the individual, making the novel (or romance in Hawthorne´s definition)
becoming a classic of world literature, present in mass culture in the most different
kinds of allusions, references and readings. For the current study, we used as
theoretical framework. studies by Kathryn VanSpanckeren (1994), Bourdieu (2002),
Spivak (2010), Antonio Candido (2011), Stam (2006), Lawrence (2012), Cunha
(2007) and others.

Keywords: Obstinacy; Subalternity; The Scarlet Letter; Romance; Filmic adaptation.


LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: A sensualidade de Hester ............................................................................... 25

Imagem 2: As vestimentas rendadas de Hester .............................................................. 25

Imagem 3: Obstinação de Hester ao enfrentar os Magistrados .................................... 26

Imagem 4: Hester no cadafalso é obrigada a usar a letra “A” como marca do

adultério ................................................................................................................................... 27

Imagem 5: Hester é salva da forca quando seria morta por suspeita de bruxaria..... 28

Imagem 6: Após a prisão de Hester, Dimmesdale decide entregar-se ao Governador

Bellingham e ela se opõe ..................................................................................................... 29

Imagem 7: Marca escarlate no corpo de Pearl ................................................................ 29

Imagem 8: Pássaro vermelho que conduz Hester ao primeiro encontro com

Dimmesdale. ........................................................................................................................... 30

Figura 9: Hester é surpreendida por Brewster ................................................................. 31

Figura 10: Final Feliz (Hester, Dimmesdale e Pearl) ...................................................... 32


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 9

2 O ROMANTISMO OBSCURO DE NATHANIEL HAWTHORNE ............................................ 10

3 O FEMININO NA LETRA ESCARLATE ..................................................................................... 11

4 A LETRA ESCARLATE NO CINEMA – DISCUTINDO A ADAPTAÇÃO

HOLLYWOODIANA DE JOFFÉ (1995) ......................................................................................... 19

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 33
9

1 INTRODUÇÃO

O principal objetivo deste trabalho é analisar a subalternidade e a obstinação


da personagem feminina Hester Prynne, no romance A Letra Escarlate de Nathaniel
Hawthorne (2010), bem como discutir as convergências e divergências estéticas da
obra, na adaptação fílmica homônima de Roland Joffé (1995).
O fundamento em analisar o romance e a produção cinematográfica corpus
do nosso trabalho, deu-se através da perspectiva da comparação. Apesar de ambas
as obras apresentarem elementos estéticos semelhantes, a exemplo dos títulos
homônimos, as mesmas divergem em muitos aspectos, o que não caracteriza uma
suposta superioridade de uma obra com relação à outra. Assim, verificaremos ainda
que algumas alterações fundamentais estão no fato de que, na literatura, a narrativa
é construída através das palavras, dos signos verbais; e no cinema a narrativa fica a
cargo das imagens em movimento (CUNHA, 2007. p. 27).
Para tanto, discutiremos no primeiro tópico o Romantismo obscuro de
Nathaniel Hawthorne e as características principais do autor, sintetizando suas
ideias e intenções em escrever a narrativa, num período em que o puritanismo era
dominante.
No segundo tópico, analisaremos o feminino na Letra Escarlate, do mesmo
modo que faremos uma reflexão crítica sobre a moral e os costumes da comunidade
puritana no século XVII, observando quais os temas abordados, principalmente os
conflitos das personagens.
No terceiro e último tópico, nos deteremos em analisar as divergências e
convergências entre o romance de Hawthorne e o filme de Joffé (1995), percebendo
que elementos de uma obra escrita, criados através da linguagem verbal, podem
divergir quando a história é transportada para o cinema. Para embasamento teórico,
utilizaremos obras de Kathryn Vanspanckeren (1994), Bourdieu (2002), Spivak
(2010), Antonio Candido (2011), Lawrence (2012) dentre outros.
Portanto, através da perspectiva comparada, será possível observar que
uma obra, mesmo servindo de base para outra, ainda que haja modificações, jamais
perderá o seu sentido primário.
10

2 O ROMANTISMO OBSCURO DE NATHANIEL HAWTHORNE

Em meados da década de 1820, o chamado Movimento Romântico, ou


Romantismo, chega aos Estados Unidos com o intuito de destacar a relevância da
arte e da autoexpressão para a sociedade e o homem. Caracterizando os valores
éticos e estéticos, o Romantismo, em suma, pode ser caracterizado pela valorização
da mente e o espírito do indivíduo em seu self, um maior reconhecimento das
emoções e paixões do artista, bem como a igualdade e a liberdade de criação. O
Romantismo foi palco dos grandes poetas e ensaístas americanos, pois o espírito
romântico parecia pertinente à democracia americana.
Nathaniel Hawthorne é aclamado como um dos maiores escritores da
literatura americana mais obscura, o que posteriormente convencionou-se em
chamar de Dark Romanticism1, em sua obra, fez inúmeras referências à História
Colonial da América. Visionário da Nova Inglaterra, nasceu em 1804 na cidade de
Salem, Massachusetts e pertenceu a uma família de antepassados puritanos, os
quais foram os primeiros colonizadores da América. Esse fato torna-se de grande
relevância ao considerarmos os temas literários de Hawthorne, que, quase em sua
totalidade, refletem acerca do mau, do pecado, da corrupção da alma, do impuro e
do lado hipócrita dos seus personagens, quase sempre religiosos puritanos.
Hawthrone perdeu o pai aos quatro anos de idade, que morreu de febre amarela
quando era capitão da marinha. Após tal fato, sua mãe privou-se da vida social.
Posteriormente, já adulto, no período de 1821 e 1825, estudou no Bowdoin College,
transformando-se num escritor de romances e contos. Seu bisavô, John Hathorne,
atuou como juiz no tribunal das bruxas de Salem em 1692.
Na década de 1830, através da literatura de Ralph Waldo Emerson e Henry
David Thoreau, surge o Movimento Transcendentalista, outra ramificação do
romantismo americano, que privilegiava a natureza e ia contra as formalidades
religiosas, podendo ser encarado também como uma reação ao racionalismo, assim
como uma filosofia liberal. Hawthorne também aderiu a esse movimento. Os
Transcendentalistas acreditavam na filosofia dos princípios de sensações subjetivas,
vindas do interior e da mente do ser humano, respeitavam as intuições, buscavam
um estilo de vida crítico e rejeitavam rotinas.
1
O Dark Romanticism, ou o Romantismo Obscuro é uma das ramificações do Romantismo, porém
aborda temas mais sombrios como a dualidade humana, o supernatural, a corrupção, o pecado, o
duplo e principalmente o poder obscuro da mente, como Botting (1995) afirma.
11

Em suas obras, Nathaniel Hawthorne retratava a perseguição e processos


de mulheres por atos de bruxaria, como seus ancestrais o fizeram, analisando o que
a sociedade pensava sobre elas. Tal fato pode ser adicionado à seguinte afirmação:
Hawthorne extraía seus temas da dolorosa herança cultural da Nova Inglaterra, uma
colônia puritana. Dela exorcizava os demônios, com olhar aguçado para os
sofrimentos psicológicos e os dramas morais (ROYOT, 2009. p. 35).
Com o intuito de transportar seus leitores para o século XVII, Hawthorne cria
o seu primeiro grande romance, A Letra Escarlate, num período em que os puritanos
vinham para a América com o objetivo de se livrarem da Igreja da Inglaterra e
constituírem a sua própria colônia, a que denominaram de Novo Mundo, pois a
América era em parte uma fronteira indefinida e em constante movimento povoada
por imigrantes falando línguas estrangeiras e seguindo costumes rudes e estranhos
(VANSPANCKEREN, 1994. p. 38).
Com a tentativa de estabelecerem uma sociedade religiosa de acordo com
suas normas, para servirem como modelo para a nação, os puritanos eram
protestantes devotos, instigados na purificação de sua fé. Eles consideravam todo
tipo de prazer pecado, priorizavam as atitudes morais com rigidez e valorizavam o
trabalho árduo, visto como dignidade humana.
Discutindo sobre pecado, acrescentamos o pensamento de Lawrence
(2012), quando afirma que o pecado não existe, e sim a forma com que a sociedade
se porta com relação às contravenções morais. No entanto, o pecado seria um
estado natural do humano, servindo mais como punição pela própria consciência,
não sendo um castigo divino. Como diz Lawrence (2012): “Comporte-se e nunca
peque! Seus pecados acabarão por denunciá-lo” (p. 121), nos mostrando que o
pecado é algo infligido pela própria pessoa, que através dos nossos atos nos
entregamos.

3 O FEMININO NA LETRA ESCARLATE

No enredo do romance, em busca de uma vida pacata, Roger Prynne e


Hester planejam mudar-se para a puritana Boston, ele decide enviá-la primeiro e
devido a um naufrágio, acaba indo parar numa ilha e é mantido em cativeiro por
índios pagãos. Alguns anos após esse incidente, e pensando que seu esposo
estivesse morto, Hester se envolve com o Reverendo Arthur Dimmesdale, jovem
12

clérigo adorado pela comunidade, proclamador de sermões admiráveis, puritano


fervoroso, que deixa-se envolver pela paixão e se atrai por Hester, ao ponto de
conceberem uma filha ilegítima. Após dois anos, finalmente Roger escapa dos índios
e chega a Boston, sendo surpreendido ao ver sua esposa exposta num cadafalso
(palanque montado em local aberto), onde a presencia sendo julgada por toda a
sociedade, em pleno meio dia, com um bebê nos braços, a sua filha Pearl.
O capítulo de abertura de A letra escarlate, “A porta da prisão”, captura-nos
no limiar da narrativa e cria suspense. Também provoca identificação com a pessoa
desconhecida que está prestes a emergir por aquela porta e antecipa os conflitos
que estão a caminho (BAYM 2010 apud HAWTHORNE 2010. p. 298). Hester
possuía um vasto conhecimento e argumentava com qualquer um que tentasse
impor-lhe regras. Dessa forma, escandalizava a sociedade que a olhava com
reprovação. Pois as mulheres puritanas não apenas aceitavam as condições de
sujeição às quais eram impostas, mas também buscavam manter a obediência em
todos os sentidos, com medo de serem julgadas segundo as regras do Puritanismo.
Hester foi exposta em um cadafalso, ameaçada e condenada pela sociedade
puritana a carregar em suas vestes uma letra A em tons escarlates, como marca de
seu pecado, o adultério. “No peitoral da túnica, em tecido vermelho fino e adornada
por um elaborado bordado e fantásticos floreios em linha dourada, trazia a letra A”
(HAWTHORNE, 2010. p. 67). Hawthorne usa o adultério como paradigma para os
pecados do coração, porque violava não apenas a relação do matrimônio, como
também o acordo social, visto que o casamento é feito sob o olhar do estado.
Roger, ao presenciar o julgamento da sua (ex) esposa, não se identifica
como marido dela e a ameaça na prisão para que ela não revele sua identidade,
agora que é apresentado à sociedade como um conceituado médico, o Dr. Roger
Chillingworth. Roger é retratado por Hawthorne como um personagem odioso e
vingativo. Ele, assim como toda a sociedade puritana, pressiona Hester para saber
quem é o verdadeiro pai da pequena Pearl, porém, ela se recusa e continua a
manter tal segredo. “De natureza impulsiva e apaixonada, Hester sentia-se forte
para enfrentar os golpes e venenosas estocadas do público com insolência,
suportando todo tipo de insulto” (HAWTHORNE, 2010. p. 71). Embora Hester
suportasse o peso implacável de mil olhos sobre ela e o forte castigo que lhe
coubera suportar, por vezes ela sentia vontade de gritar e jogar-se de cima daquele
cadafalso.
13

O adultério era um dos muitos pecados estigmatizados pelos puritanos com


letras escarlates. Eles não toleravam transgressões às regras impostas, tinham a
Bíblia como preceito espiritual e civil. Segundo a escritora Nina Baym (2010):

A letra escarlate não fala em nome de Deus. A questão importante


na história não é saber se o adultério é realmente um pecado, mas a
maneira como a crença de que é conduz os puritanos a certas ações
que, por sua vez, afetam pessoas que mantêm opiniões diferentes
sobre o adultério (BAYM, 2010 apud HAWTHORNE 2010. p. 305).

Para os puritanos, Hester cometeu um crime e deveria ser condenada por


isso, porém ela permanece resistente na aceitação dessa designação. Ela se
destacava por sua obstinação, mãe solteira, que apesar de ser julgada por todos
como prostituta, manteve-se equilibrada, mostrando-se indiferente aos inúmeros
insultos recebidos, lutando para permanecer com a sua filha, trabalhando
arduamente dia após dia com costuras e bordados, para conseguir o sustento de
ambas.

A fôrça das grandes personagens vem do fato de que o sentimento


que temos da sua complexidade é máximo; mas isso, devido à
unidade, à simplificação estrutural que o romancista lhe deu. Daí
podemos dizer que a personagem é mais lógica, embora não mais
simples, do que o ser vivo (CANDIDO, 2011. p. 55-56).

Levando em consideração a afirmação de Candido, diante dos recursos


utilizados pelo autor, o mesmo cria no leitor a imagem de uma personagem mais
coerente, menos complexa do que o ser humano.
Entretanto, de acordo com Bourdieu (2002), as mulheres representam-se
fortes, muitas das vezes, mesmo em meio as suas vulnerabilidades: “[...] a
feminilidade suscita: fracas e princípios de fraqueza enquanto encarnações da
vulnerabilidade da honra, sempre expostas à ofensa, as mulheres são também
fortes em tudo que representa as armas da fraqueza” (p. 32). Assim, levando em
conta o romance, observamos que mesmo em meio à fragilidade que se encontrava,
Hester nos mostra ser uma mulher ousada, à frente de sua época. Há nela uma
força interior muito grande, usa da obstinação para enfrentar tudo e todos e de suas
habilidades para sobreviver sem marido e criar a filha sozinha.
O Reverendo Dimmesdale por vezes satisfaz os desejos da carne, porém
logo em seguida o peso na consciência surge, fazendo com que se torture,
14

buscando manter um controle mental sobre o seu corpo, mas que não obtém
resultado positivo. Acerca disso, Lawrence (2012), afirma:

Nós somos seres divididos em nós mesmos, contra nós mesmos,


pois quando a consciência do sangue domina, anula a consciência
racional. Possuímos essas duas consciências e elas são divergentes
dentro de nós. Em todos nós existe uma hostilidade básica entre o
físico e o mental, o sangue e o espírito. A mente se “envergonha” do
sangue. E o sangue é destruído pela mente, na verdade
(LAWRENCE, 2012. p. 124).

Esse dualismo é próprio do ser humano, razão versus desejo, consciência


lutando incessantemente contra a carne, porém a sensação de amar torna-se
viciosa, ao ponto de os perigos não serem relevantes em meio à sensação de prazer
instantâneo. Tal luta observamos no Reverendo Dimmesdale, que, mesmo diante da
rigidez de sua religião, viu como resultado o desejo carnal ser mais forte que o medo
da punição, deixando-se seduzir.
Ademais, com a tentativa de vingar-se do amante de sua mulher, Roger
Chillingworth começa a suspeitar dos olhares de Hester e Dimmesdale, aproxima-se
da fragilidade da saúde do Reverendo e torna-se o seu cuidador. Aproveitando um
dos momentos de sono do clérigo, observa que sua roupa está entre aberta e assim
vê que ele tem uma letra A no peito, marcada a ferro quente. Como podemos
observar no seguinte trecho:

O médico avançou direto para seu paciente, parando diante dele e


levando a mão sobre seu peito, puxando-lhe de lado, em seguida, a
roupa que, até aquele dia, interditara até mesmo um exame físico
(HAWTHORNE, 2010. p. 155).

A partir de então, Chillingworth alimenta a sua vingança. Hester, no intuito de


fugir com Dimmesdale e a filha Pearl, articula com o marinheiro sua partida, porém a
fuga fracassa. Passados sete anos, o Reverendo Dimmesdale, não suportando mais
tanta angústia, aproveita o feriado na Nova Inglaterra em que haveria a confirmação
do mais novo governador e decide confessar o seu pecado. Esse seria o cenário
perfeito, em praça pública no mesmo local onde Hester foi exposta e humilhada por
todos. Por fim, ele a chama ao cadafalso com Pearl não para declarar (finalmente)
seu amor eterno, mas para exibir um emblema simbolizando o seu pecado, como
lição para o povo e em busca de salvação para a própria alma (BAYM 2010 apud
15

HAWTHORNE, 2010. p. 306). Diante de todos, após a confissão, o Reverendo


morre.
Foi a partir desse suposto peso na consciência que Arthur Dimmesdale
decidiu desvendar o seu segredo em público, expondo-se no cadafalso da vergonha,
(no qual a sua amante Hester foi exposta por horas), para assim ter uma morte
tranquila. “A lei nós infringimos! O pecado, aqui tão terrivelmente revelado! E assim
ele morre, jogando o ‘pecado’ na cara dela e fugindo para a morte” (LAWRENCE,
2012. p. 132). Chillingworth, que era movido por vingança, perde toda a força após a
morte de Dimmesade, morre um ano depois e deixa sua herança para Pearl. Hester
decide ir embora com a filha, mas com o tempo regressa a Boston e continua a usar
a letra escarlate, aquela que se tornara sua marca.
A Letra Escarlate – um romance2, publicado pela primeira vez em 1850,
desde o princípio foi bem recebido pelos leitores e aclamado pelos críticos. Nele,
destaca-se a obsessão calvinista por moralidade, repressão sexual, culpa e
confissão e salvação espiritual (VANSPANCKEREN, 1994. p. 39).
Conceituado como um clássico da literatura americana, essa é uma obra
que aborda temas de amor, confiança, intolerância, pecado, hipocrisia, moralidade,
obstinação, soberania da sociedade para com o ser humano e a obrigação do
indivíduo para com a sociedade.

Temas recorrentes como segredo, isolamento, intolerância e culpa


permanecem ligados ao problema de um mau permanente. As
referências históricas são secundárias e até mesmo inexistentes, e o
que se considera é o encontro dos destinos, que assume grandeza
mítica, entre realismo e fantasia (ROYOT, 2009. p. 36).

É um romance atemporal, em que as questões abordadas ainda


permanecem vivas, lei versus objeção. Podemos dizer, portanto, que o romance se
baseia, antes de mais nada, num certo tipo de relação entre o ser vivo e o ser
fictício, manifestada através da personagem, que é a concretização deste
(CANDIDO, 2011. p. 52). De acordo com Vanspanckeren (1994), para a época, The
Scarlet Letter era um livro audacioso e até subversivo. O estilo suave de Hawthorne,

2
Hawthorne denominou “Romance”, um tipo elevado, emocional e simbólico de romance. Os
“Romances” não eram histórias de amor, mas obras sérias que usavam técnicas especiais para
comunicar significados complexos e sutis, como Vanspanckeren (1994) afirma.
16

o contexto histórico remoto e a ambiguidade amenizaram seus temas sombrios e


satisfizeram o público (VANSPANCKEREN, 1994. p. 39).
Ademais, A Letra Escarlate foi escrito num período caracterizado pelo
movimento de emancipação feminina, pela liberação da mulher que lutava pelo
direito à educação e pelo excesso de controle que seus maridos tinham sobre elas.
Sarah Rodriguez e Hannah Arsdale (2011) abordam A Letra Escarlate como
um romance norteador e pioneiro das ideias feministas, que apenas se
concretizariam posteriormente, embora não o considere essencialmente feminista.
As autoras afirmam que na época de Hawthorne a discussão acerca do feminismo
ainda não alcançara tanta projeção quanto nos anos 1960.
As autoras afirmam que Hester Prynne é um exemplo perfeito do que uma
feminista deveria ser. Rodriguez e Arsdale (2011), acrescentam que:

A Letra Escarlate é um romance “acidentalmente” feminista devido


ao modo que Hester se posiciona contra as duras críticas dos
Puritanos, e por causa do fato das ideias do empoderamento das
mulheres de Hawthorne a frente do seu tempo (p. 1).

As autoras discutem também que o feminismo sempre existiu desde o


começo dos tempos, embora o mesmo só tenha começado a ser colocado em ação
no fim do século XIX, ganhando ainda maiores repercussões durante o século XX.
De acordo com as autoras: “Este movimento foi caracterizado como a primeira onda
e focava no ganho de maiores direitos políticos das mulheres. Por exemplo, as
mulheres queriam mais igualdade no casamento, propriedade e direitos sufragistas”
(p. 1).
A maior discussão e mesmo o maior questionamento levantado no artigo
Feminism & The Scarlet Letter de Rodriguez e Arsdale (2011) são como essas ideias
revolucionárias acerca da emancipação do papel social da mulher, no tempo de
Hawthorne influenciaram a escrita e consequentemente a personagem de Hester
Prynne. Para as autoras, há também uma provável não-intencionalidade de
Hawthorne ter caracterizado Hester como uma mulher à frente de seu tempo e
mesmo com um pensamento radical, se considerarmos a época que o romance se
passa, no século XVII.
No romance, Hester Prynne transgride regras impostas pela sociedade
puritana, que ditava como as mulheres deveriam viver. A tendência do seu destino e
17

felicidade tinha permitido sua liberdade (HAWTHRONE, 2010. p. 137), uma vez que
a mesma diferenciava-se e não tinha que se submeter às mesmas regras que as
mulheres Puritanas. Assim, Hester tinha obtido um passaporte para as regiões onde
outras mulheres não ousavam pisar (idem, p. 137): a letra escarlate pregada em seu
peito é símbolo do pecado de adultério que uma vez cometera, porém a diferencia
de todas as outras mulheres da comunidade puritana da Nova Inglaterra.
Quando a protagonista passa então a viver na floresta e longe da
comunidade de Salem, e decide tirar a letra escarlate do seu peito, ela torna-se
radiante e com sorriso tenro, que parecia jorrar do coração de uma mulher
(HAWTHORNE, 2010. p.139).
Ademais, no decorrer do romance, Hester, sem a letra escarlate no peito,
está aberta a viver a liberdade que lhe foi forçadamente imposta por tanto tempo; o
pecado não mais a define.

Além disso, na floresta, o céu mostra a Hester e Dimmesdale que


eles são iguais. Ela traz Dimmesdale e eles estão lá, julgados por
Deus; dois amantes que cometeram pecado, mas duas almas que
são as mesmas. Mesmo no final, depois que todos os personagens,
exceto Pearl já morreram, “uma lápide serviu para ambos” (p. 180).
Isto simboliza que eles eram iguais e que o seu pecado poderia falar
para ambos. Em certo sentido, Hawthorne nos deu uma amostra da
igualdade de gênero, mesmo antes disso se tornar um gosto tentador
no gosto feminino (RODRIGUEZ e ARSDALE, 2011. p. 2).

As autoras ainda afirmam que:

O feminismo se esforça para igualdade, e isso é exatamente o que


Hawthorne nos dá; ou, dá Hester e Dimmesdale pelo menos. Além
disso, Hawthorne traz a ideia de que uma vez que você alcançar a
felicidade e amor por si mesmo, então você pode ser igual [...]
(RODRIGUEZ e ARSDALE, 2011. p. 2).

Quando Hester arrranca a presilha que mantinha fixa a letra escarlate em


seu peito, bem como retira a touca solene que lhe aprisionava os cabelos, ela
transcende de alegria. Livre do estigma, Hester soltou um longo e profundo suspiro,
libertando de seu espírito o fardo da vergonha e da angústia. “Ah, que primoroso
alívio! Ela não sabia daquele peso até sentir tamanha liberdade!” (HAWTHORNE,
2010. p. 225). Naquele momento, surge a brilho do sol, alegrando a floresta obscura,
tornando objetos que eram sombra em luz, transformando-se num mistério divino.
18

Rodriguez e Arsdale (2011) declaram que,

Este romance poderia facilmente ser considerado um romance


feminista porque representa as principais ideias que trouxeram o
feminismo para a sociedade: a igualdade de género e amor para as
auto como uma mulher. Hawthorne retrata Hester como uma mulher
livre nas páginas finais deste livro, e também faz dela e Dimmesdale
iguais por tê-los compartilhar o mesmo marcador em suas lápides. A
Letra Escarlate personifica o espírito das mulheres, enquanto
também é um marcador para o feminismo inicial, uma vez que essas
ideias radicais não eram algo ainda que houvesse sido trazido à luz
[à época] (p. 2-3).

A atitude obstinada de Hester não era típica das mulheres puritanas, ela
pode ter sido reflexo de mudanças acontecidas na época do autor. Muitos acreditam
que a narrativa não era refletida na Nova Inglaterra, mas sim ao próprio Hawthorne,
homem com alma de pagão num corpo puritano, como então afirma Thomas (2006):

Há um pouco do autor em todas as personagens do livro: na


severidade dos juízes que puniram Hester pelo seu pecado com
Artur Damesdale; na implacabilidade de Roger Chillingworth que se
arvorou em consciência vingadora do jovem ministro; na irresolução
de Dimmesdale que ocultava um coração ardente sob as cinzas de
um código convencional; e na coragem de Hester Prynne que usava
o símbolo de sua dor com uma consagração sobre a roupagem do
seu amor (THOMAS, 2006. p. 236).

Hawthorne idealizava personagens que se entrelaçavam à sua existência. A


demissão da alfândega de Salem por motivos políticos, a rejeição da sociedade
americana que ignorou muitas vezes os seus escritos, ocasionam um sentimento de
tristeza e fracasso no autor, que a partir da recusa, dedica-se à literatura e logo
escreve A Letra Escarlate, que ficou reconhecido por muitos críticos como um
clássico. Escrevendo esta ficção que está intrincadamente ligada à sua experiência
de vida, sem exibir muitos traços de uma autobiografia convencional (BAYM 2010
apud HAWTHORNE 2010. p. 297), Hawthorne cria uma narrativa de vingança,
punições, rejeição e força, fazendo reflexo à sua própria vida.
A Letra Escarlate foi um símbolo da esfera social a qual Hester Prynne
pertencia. Marcas recorrentes como o pecado, a vulnerabilidade da mulher, a
soberania da sociedade, transformaram-na em um símbolo de amor, através da
concepção de Pearl, que mesmo sendo um fruto do pecado, aos olhares puritanos,
torna-se uma preciosidade. Para Hester, a pequena filha representava purificação e
19

abdicação. De acordo com Royot (2009), Hawthorne filia-se ao espírito do


romantismo ao fazer ressurgir a “verdade do coração” e a “energia interior” de
personagens em luta contra a alienação que os submete a um poder sombrio
(ROYOT, 2009. p. 36).
A protagonista do romance, Hester Prynne é considerada a primeira heroína
americana. Alguns críticos acreditam que a feminista Margaret Fuller serviu de
modelo para Hester (BAYM, 2010 apud HAWTHORNE 2010. p. 317). Hester é uma
mulher obstinada que possui controle e percepção sobre si, independente e
destemida, que luta contra a comunidade que tenta condená-la. O significado bíblico
de seu nome, Esther ou Hester3 tem a definição de “estrela” (origem babilônica
Ishtar ou persa stareh). Assim, Ester4 reflete o simbolismo celeste inerente a esse
astro: luz, perfeição, esperança, divino. À medida que Ishtar é a deusa da beleza e
do amor - tal como Afrodite, na mitologia grega - Ester carrega consigo, ainda, as
características dessas mesmas deusas.

4 A LETRA ESCARLATE NO CINEMA – DISCUTINDO A ADAPTAÇÃO


HOLLYWOODIANA DE JOFFÉ (1995)

O romance mais aclamado de Hawthorne tem se tornado uma espécie de


símbolo cultural do imaginário americano. Desde a época em que foi lançada, em
1850, a obra tem servido de base para outros meios artísticos que se propagaram a
partir do período tardio do século XIX. Ainda em 1896, o romance foi adaptado para
a ópera The Scarlet Letter, produzida por Walter Damrosch e George Parsons
Lathrop. O trabalho, dividido em três atos, é a primeira adaptação artística que se
tem notícia a partir do trabalho do grande romance hawthorniano. Posteriormente,
com o advento do cinema, em 1908, surge a primeira adaptação cinematográfica
baseada no romance.
Em consulta ao IMDB5, encontramos a seguinte relação de filmes,
adaptados a partir do romance:

3
Quem foi Ester na Bíblia? Disponível em <http://www.abiblia.org/ver.php?id=6985>. Acesso em 10
de Janeiro de 2016.
4
Dicionário de Nomes Próprios. Disponível em
<http://www.dicionariodenomesproprios.com.br/ester/>. Acesso em 10 de Janeiro de 2016.
5
IMDB – Movies, TV and Celebrities. Disponível em <http://www.imdb.com>. Acesso em 20 de
janeiro de 2016.
20

Curtas-Metragens (9 filmes):

 The Scarlet Letter (1908), directed by Sidney Olcott;


 The Scarlet Letter (1910), sem informações sobre o filme;
 The Scarlet Letter (1911), co-directed by George Loane Tucker, adapted
by Herbert Brenon;
 The Scarlet Letter (1913), estrelando Linda Arvidson e Murdock MacQuarrie;
 The Scarlet Letter (1920) sem informações sobre o filme;
 The Scarlet Letter (1922), adapted by Frank Miller;
 My Scarlet Letter (2004), sem informações sobre o filme;
 The Scarlet Letters (2007), dirigido por Kevin R. Hershberger;
 The Scarlet Letter (2013), dirigido por Anastasia Koutsouradi.

Longas-Metragens (7 filmes):

 The Scarlet Letter (1917) dirigido por Carl Harbaugh;


 The Scarlet Letter (1917), estrelando Werner Krauss;
 The Scarlet Letter (1926), dirigido por Victor Sjostrom e adaptado por Frances
Marion;
 The Scarlet Letter (1934), dirigido por Robert G. Vignola;
 The Scarlet Letter (1973), filme de Wim Wenders;
 The Scarlet Letter (1995), dirigido por Roland Joffé;
 The Scarlet Letter (2015), dirigido por Elizabeth Berry.

Além de todas essas adaptações fílmicas que citamos acima, há referências


e alusões à letra escarlate, símbolo principal do romance, nas canções e vídeos-
clipes:

 1957: Em "The Sadder-But-Wiser Girl for Me" de The Music Man, quando
Harold Hill cant "I hope and I pray for Hester to win just one more 'A'";
 1987: A Scarlet Letter, álbum de Curtiss A que leva o título do romance;
 1991: No vídeo clipe "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana, as cheerleaders
têm a letra 'A' costuradas em seus uniformes;
21

 1993: Courtney Love e sua banda Hole cantam: "No one knows she's Hester
Prynne"; na versão reescrita de "Old Age”, do Nirvana;
 2001: a canção de Jag Panzer, "The Scarlet Letter";
 2003: a canção da banda The Distillers, intitulada "Die on a Rope";
 2004: outra canção, da banda Halifax, chamada "Scarlet Letter Part 2";
 2006: mais outra canção da banda As Blood Runs Black cujo título é "Hester
Prynne", assim como outra, de 2007, com o mesmo título, da
banda Deathcore;
 2008: a canção do Mudvayne, "Scarlet Letters";
 2010: a canção "The Scarlet Letter SparkTune" da banda Abdominal;
 2013: Childish Gambino song "Earth the Oldest Computer" (The A on my
chest like adultery).

Há várias referências e mesmo citações do romance na cultura popular,


como em um episódio dos Simpsons ("Treehouse of Horror VIII") quando Ms.
Krabappel aparece com uma letra A vermelha no peito; em 2000; o episódio "Caged"
da série Popular, que adapta elementos do romance (I temporada, Episódio 14). Em
2004, há também uma citação do romance na série One Tree Hill, no episódio "Don't
Take Me For Granted" e em 2010, no 2º episódio da segunda temporada do seriado
O Mentalista, cujo título é The Scarlet Letter, que fala sobre um caso de adultério.
Além de outras dezenas de filmes para a televisão, outras óperas, peças teatrais e
mesmo outros livros que referenciam o aclamado romance de Hawthorne na cultura
popular6.
Porém, nosso foco aqui jaz nas adaptações fílmicas. Dentre essas, a mais
aclamada pela crítica especializada é a alemã de 1973, que apresenta em seu
roteiro uma história bem próxima do romance do Hawthorne. Entretanto, a versão
que se tornou mais popular até hoje foi a hollywoodiana de 1995, com interpretação
da atriz Demi Moore como Hester Prynne e dirigida por Rolland Joffé. É exatamente
essa versão que iremos comparar com o romance de Hawthorne, focando
inicialmente nas divergências e convergências gerais entre o filme e romance e,
posteriormente, na representação da personagem Hester Prynne. Para tal,

6
A Letra Escarlate na cultura popular. Disponível em
<https://en.wikipedia.org/wiki/The_Scarlet_Letter_in_popular_culture>. Acesso em 30 de Março de
2016.
22

discutiremos o diálogo que se mantém em ambas as narrativas, literária e fílmica,


não enaltecendo ou menosprezando cada arte, mas sobretudo destacando como
cada uma retrata seus símbolos semióticos à sua maneira.
O diálogo se mantém por vezes entre um texto e outro, sendo ele oral,
escrito ou visual; pode se materializar também por intermédio de uma ocorrência
chamada de intertextualidade. Esse princípio da textualidade se apresenta de duas
maneiras: explícita e implícita.
Quando denominamos um texto de adaptação, ela passa a ser um discurso
“novo”, “baseado” ou “influenciado” por outro, originado de outro texto-base, pois ele
recria um discurso anterior; porém, em outro meio icônico, através do processo de
tradução intersemiótica7, que apresenta uma das inúmeras possibilidades de discutir
as relações dialógicas entre diferentes, uma vez que o caráter tátil-sensorial,
inclusivo e abrangente, das formas eletrônicas permite dialogar em ritmo
“intervisual”, “intertextual” e “intersensorial” com os vários códigos da informação
(PLAZA, 2008. p. 13).
Assim, sabemos que a literatura utiliza-se em sua maioria da linguagem
verbal e para construir sentido recorre às mais diversas categorias, como
personagens, ambientação, ponto de vista, tom, diálogos, símbolos, ironias,
metáforas e outras figuras de linguagem. O cinema, por outro lado, lida com a
imagem, o som e o diálogo, falado ou escrito, iluminação, ângulos das câmeras e
outros para se definir como arte autônoma. Dessa forma, afirmamos que, assim
como qualquer outra arte, numa escolha e numa ordenação, o cinema dispõe de
uma prodigiosa possibilidade de densificação do real que é, sem dúvida, a sua força
específica e o segredo do fascínio que nos exerce (MARTIN, 2005. p. 31).
Ademais, as palavras de Stam (1992) corroboram com a nossa discussão:

A arte não é um simples servo, um simples transmissor de outras


ideologias; em vez disso, tem seus próprios processos
independentes e seu papel ideológico. Na arte, a vida social é
expressa no interior de um material semiótico definido e na
linguagem específica de um meio (p. 24).

7
A Tradução intersemiótica ou “trasmutação” foi definida por Jakobson como o tipo de tradução que
“consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais”, ou “de um
sistema de signos para outro [...]” (PLAZA, 2008).
23

Assim, os elementos semióticos, conectados com a linguagem do cinema,


são os responsáveis por guiar o espectador na compreensão do que ele está vendo.
Ao passo que através da literatura nós interpretamos uma mensagem através das
palavras, no cinema, nós vemos e ouvimos, o que pode tornar a compreensão mais
fácil ou não, a partir da intenção de cada cineasta.
Discutindo Stam (1992), afirmamos mais uma vez que cada arte é
representada por sua linguagem distinta e é através dessas especificidades que
cada uma estabelece sua estética original. Mas, apesar de cada discurso artístico se
apresentar como discurso singular e individual, as possibilidades de discutir os mais
diversos diálogos provenientes da teoria linguística nos ajudam a refletir acerca da
adaptação fílmica a partir da literatura e de noções de fidelidade e dependência de
um discurso comparado ao outro.
Stam (2006) adiciona que a partir do conceito de dialogismo de Bakhtin e da
definição de intertextualidade de Genette, torna-se possível pensar em adaptação
em termos de uma prática intertextual (p.19):

Embora seja fácil imaginar um grande número de expressões


positivas para as adaptações, a retórica padrão comumente lança
mão de um discurso elegíaco de perda, lamentando o que foi
“perdido” na transição do romance ao filme, ao mesmo tempo em
que ignora o que foi “ganhado” (STAM, 2006. p.20).

Nesse contexto, Linda Hutcheon (2013) afirma que a adaptação pode


também ser descrita nos seguintes moldes:

Uma transposição declarada de uma ou mais obras reconhecíveis;


Um ato criativo e interpretativo de apropriação/recuperação;
Um engajamento intertextual extensivo com a obra adaptada (p. 30).

Dessa forma, a adaptação é uma derivação que não é derivativa, uma


segunda obra que não é secundária (HUTCHEON, 2013. p. 30). Considerando a
adaptação fílmica a partir desses três eixos, afirmamos que a mesma acarretará
mudanças de conteúdo, sentido e forma durante o processo de transposição.
Ademais, segundo Cunha:

A relação entre literatura e cinema não se esgota. As leituras críticas


expandem a capacidade intertextual das duas linguagens, que não
perdem a originalidade. Se o diálogo existe, resiste e persiste, desde
24

o aparecimento do cinema, é porque ambas se beneficiam de suas


ilusões, que nada mais são do que novas formas de se expressar
(CUNHA, 2007. p. 63).

Embora a base do romance de Hawthorne seja o fanatismo religioso


desordenado e o conflito entre almas de Hester e Dimmesdale, Roland Joffé cria
uma nova versão da história, com inúmeras divergências. Para Cunha (2007) essas
modificações acontecem por causa da existência de coisas absolutamente
impossíveis de se traduzir, ainda mais quando o que está em jogo é a relação entre
signos verbais (p. 11). Na transposição para as telas, observamos a candura da
protagonista, pois a narrativa nos mostra que o envolvimento de Hester com o jovem
pastor só é concebido após ela se certificar da suposta morte de seu marido. Dentre
essas divergências, o final da história é o ponto que mais diverge da obra de
Hawthorne.
Ao compararmos o romance A Letra Escarlate com a adaptação fílmica de
1995, observamos inicialmente que a narrativa literária descreve a protagonista
minunciosamente, uma mulher bela, alta, elegante e muito bem vestida, como
podemos ver:

A jovem era alta, uma figura de perfeita elegância em todos os


sentidos. Tinha cabelo escuro e abundante, tão lustroso que brilhava
à luz do sol, e um rosto que, além de bonito pela regularidade dos
traços e pela riqueza da composição, causava aquela impressão
própria a sobrancelhas bem marcadas e olhos negros profundos. Era
bem feminina, para os padrões da época; caracterizava-se por certa
postura e dignidade, mais do que pela delicada, evanescente e
indescritível graça que anunciariam, hoje, aquela condição
(HAWTHORNE, 2010. p.67).

Podemos observar, em uma das cenas em que Hester se banha pensando


em Dimmesdale, que é notória a sua beleza e sensualidade; por baixo das longas
vestes rendadas, a protagonista é refletida por uma figura feminina perfeita, como
acima bem descreve Hawthorne:
25

Imagem 1: A sensualidade de Hester

Hester, a partir do momento que conhece Dimmesdale, não o esquece. Ao


banhar-se e tocar em seu corpo, recorda os momentos até ali vividos com o
Reverendo. A recíproca é verdadeira, Dimmesdale também já não consegue parar
de pensar na bela mulher por quem já estava apaixonado.
Na adaptação fílmica, a beleza de Hester é nítida, bem como a
caracterização da personagem mediante sua sensualidade e feminilidade, por meio
de suas vestes rendadas que chamavam atenção da comunidade puritana:

Imagem 2: As vestimentas rendadas de Hester


26

Na transposição do romance para o cinema, existem inúmeras


peculiaridades, nos apresentando através dos signos não verbais as vestimentas de
Hester, cobertas por rendas, atitude exagerada, que para os puritanos era marca de
vaidade e libertinagem. Na imagem acima, Hester estava atenta com seus escritos,
até ouvir barulhos fora de sua casa, com receio, pega a arma e abre a porta para ver
quem é, nesse instante se depara com o (ex) marido, Roger Prynne, por quem é
surpreendida e a partir daí manipulada pelo desejo de vingança de Roger.
Na produção cinematográfica, a ordem dos fatos e das circunstâncias em
que os mesmos acontecem divergem do romance, tornando o enredo dinâmico e
arrojado. Ainda, na adaptação fílmica de Joffé (1995), observamos que há
divergências entre as obras quando Hester enfrenta os magistrados e nega-se a pôr
fim nas reuniões que realiza em sua casa, mesmo sob denúncias contra ela pelo
fato de nas conversas as mulheres falarem sobre heresias e fornicação. No entanto,
essa foi mais uma construção de Joffé (1995):

Imagem 3: Obstinação de Hester ao enfrentar os Magistrados

Sobre os líderes puritanos, Nina Baym (2010) afirma:

Enquanto esses homens defendem o bem-estar do Estado e exigem


a submissão do indivíduo a um controle total, Hester insiste no bem-
estar da pessoa, privado, e na liberdade do mundo interior. Ela
acredita, mais do que isso, que certos atos considerados
pecaminosos pelos puritanos são, na verdade, bons atos. (apud
HAWTHORNE, 2010. p. 309-310).
27

Podemos dizer que um dos conflitos mais intensos na obra literária ocorre
entre Hester e os líderes puritanos, a respeito do que significa a letra escarlate.
No romance e na adaptação fílmica, há convergências na cena em que
Hester é exposta no cadafalso e julgada pela comunidade com a filha nos braços,
principalmente quando a obrigam a usar a letra A em suas vestes, como marca do
adultério. A infeliz condenada mantinha-se no limite da contenção possível a
qualquer mulher que se encontrasse sob o peso implacável de mil olhos, todos
pregados nela e fixos ao que trazia no peito. Algo quase intolerável a ser suportado
(HAWTHORNE, 2010. p 71):

Imagem 4: Hester no cadafalso é obrigada a usar a letra “A” como marca do adultério

Hester, no momento da exposição com a filha nos braços, encontrava-se em


total submissão por milhares de olhares que a cercava. Com uma desconstrução
derridariana, Spivak considera errôneo usar o termo subalterno ao sujeito
marginalizado. Para ela, refere-se a subalterno: “As camadas mais baixas da
sociedade constituídas pelos modos específicos de exclusão dos mercados, de
representação política e legal, e da possibilidade de se tornarem membros plenos no
extrato social dominante” (SPIVAK, 1985. p.12). A crítica de Spivak concede ao
sujeito a possibilidade falar, de ter autonomia, capacidades, fazendo com que o
mesmo possa ser ouvido e o poder de opressão por parte dos intelectuais que
meramente falam pelos outros seja desconstruído.
28

Outra divergência na produção cinematográfica de Joffé se dá na cena em


que Hester é salva da forca junto com outras mulheres que também eram acusadas
por bruxarias:

Imagem 5: Hester é salva da forca quando seria morta por suspeita de bruxaria

Na cena acima, Dimmesdale decide confessar para a multidão que é o


verdadeiro pai de Pearl, e coloca-se no lugar de Hester, para ser enforcado; porém,
na hora em que um dos magistrados iria matá-lo, surge um conflito entre puritanos e
índios, fazendo com que o jovem clérigo e Hester se livrem da forca. Observamos
que esta guerra também não ocorre no romance.
A partir da comparação das obras, literária e fílmica, é possível observar que
Dimmesdale é definido na narrativa de Hawthorne como uma pessoa covarde, sem
atitudes, que mascara a candura de um bom pastor, na hipocrisia do medo de
revelar seu pecado, pela posição que lhe coubera, escondendo-se por trás da força
de Hester, que estava disposta a encarar tudo e todos para manter segredo sobre a
verdadeira identidade do pai de sua filha.
29

Imagem 6: Após a prisão de Hester, Dimmesdale decide entregar-se ao Governador Bellingham e ela
se opõe

Na versão cinematográfica, o personagem sofre alterações significativas,


mostrando ser um homem mais decidido e disposto a enfrentar os magistrados e as
punições para defender Hester e, enfim, terem a liberdade de viverem o amor que
sentiam um pelo outro.
Ainda, podemos observar que na adaptação para o cinema, há ações que
não se encontram na narrativa de Hawthorne, a exemplo do julgamento da senhora
Harriet Hibbons, quando Chillingworth aproveita a oportunidade para expor a marca
escarlate com que Pearl nascera, afirmando ser concepção de bruxaria, sendo
aquela a marca do demônio.

Imagem 7: Marca escarlate no corpo de Pearl


30

Diante dos magistrados e comunidade, Chillingworth ergue Pearl nos braços


e afirma que a menina foi concebida através de bruxaria, fazendo com que Hester, a
senhora Hibbons e todas as mulheres que se reuniam na casa dela, sejam
perseguidas para posteriormente irem para a forca por consequência de feitiçaria. A
forca era um dos castigos mais comuns impostos pelos puritanos.
Observamos também o símbolo escarlate na figura de um pássaro que
aparece para Hester na floresta e a leva em direção a Dimmesdale no momento em
que ele se banha no lago.

Imagem 8: Pássaro vermelho que conduz Hester ao primeiro encontro com Dimmesdale.

Assim como os outros símbolos, o pássaro também possui a cor escarlate, e


a conduz para a floresta misteriosamente. O vermelho presente na coloração do
pássaro é símbolo do amor, da paixão e do desejo que estavam prestes a surgir nos
dois. Esse fio condutor foi crucial para o momento em que Hester contempla
Dimmesdale pela primeira vez.
Reaparecendo novamente à escrava Mituba, fiel companheira de Hester, o
pássaro surge quando a senhora Prynne e o Reverendo concebem o ato de amor.
Observando atentamente Mituba tomar banho, o pássaro naquele instante distrai a
escrava para que nada possa interferir a concepção de amor que ali acontece entre
Hester e Dimmesdale. Podemos destacar que essa foi mais uma alteração feita por
Joffé, bem como a cena em que Hester desperta desejo em Brewster, um dos
líderes puritanos, que tenta violentá-la sexualmente.
31

Figura 9: Hester é surpreendida por Brewster

Hester, a partir do momento em que chega a Boston desperta o desejo em


um dos puritanos. Destacamos a imagem acima da cena em que numa noite, onde
estava apenas com a filha Pearl, ela é surpreendida por Brewster, que a agride e
tenta violentá-la sexualmente, porém com sua força e coragem Hester defende-se,
usando uma vela que atinge os olhos do agressor, logo o expulsa, ameaçando-o
com uma espingarda. Ela era destemida e enfrentava qualquer um que ousasse ir
contra suas vontades.
O final da produção cinematográfica nos mostra o ponto de maior
divergência criado por Joffé: um final feliz para a família constituída por Hester,
Dimmesdale e Pearl. Outro momento em que a adaptação fílmica se distancia da
obra de Hawthorne, é quando a letra A é simplesmente jogada fora por Pearl e
pisada pela roda da carroça no momento em que pais e filha saem de Boston.
Estas modificações feitas pelo diretor Roland Joffé, nos servem de base
para chamar atenção sobre os direitos que o ser humano tem, independente de
religião ou leis impostas. Ainda, podemos relacionar a afirmação de Stam (2006)
com as mudanças estéticas feitas pelo diretor: as adaptações cinematográficas
frequentemente “corrigem” ou “melhoram” o texto original, de formas muito diferentes
e até contraditórias (STAM, 2006. p.44), pois muitas adaptações televisivas ou das
tendências dominantes de Hollywood fazem o que pode ser chamado de uma
adequação estética às tendências dominantes (idem, p.45).
32

Figura 10: Final Feliz (Hester, Dimmesdale e Pearl)

Ao produzir um final feliz, divergente do romance, Joffé nos mostra como as


pessoas podem livrar-se da severidade religiosa, pois quem tem o direito de julgar
ou dizer que o outro merece castigo? O diretor cria um protótipo para expor a
obstinação e a reação de pessoas que se veem forçadas a acreditar que serão
condenadas por consequência de seus pecados, apenas por seguirem o coração. A
partir de então, percebemos que, tanto na narrativa de Hawthorne, quanto no filme
de Joffé, Hester permanece sendo uma mulher forte, que embora sofra humilhação
e vergonha, luta pelo direito de mãe e permanece ao lado de sua filha.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, a partir das análises feitas, percebemos


que Hawthorne, na sua produção literária A Letra Escarlate, nos proporciona
enxergar acontecimentos do século XVII, bem como evidencia aspectos desse
período, seja nos diálogos, nos personagens ou nas práticas de um povo.
Através da adaptação feita por Joffé (1995), a narrativa de Hawthorne passa
a ser um discurso novo, por meio de uma tradução intersemiótica. Constatamos uma
leitura que se aproxima dos aspectos transportados do romance, porém com
algumas divergências refletidas em acréscimos feitos pelo diretor, isso porque
elementos recriados através de imagens podem ser interpretados de maneiras
diferentes.
33

Percebemos que a intertextualidade oportuniza um universo amplo ao leitor,


tornando a capacidade de compreensão de obras que são homônimas, embora
tenham situações, diálogos e finais distintos, sejam atraentes aos expectadores.
Verificamos também os inúmeros meios artísticos os quais A Letra Escarlate serviu
como base, que embora haja interpretações divergentes, cada criação estabelece
sua originalidade.
Além disso, a narrativa nos leva a enxergar até que ponto as pessoas são
capazes de julgar e condenar em nome de Deus, cometerem terríveis atos, onde a
lei severa está acima dos valores humanos. O romance também promove uma
reflexão sobre a luta da razão e do coração.
Através da postura de Hester Prynne na narrativa, observamos que embora
o feminismo só tenha sido posto em prática a partir do final do século XIX, este foi
um romance norteador para as ideias feministas, levando em conta a igualdade de
gênero com a simbologia da lápide que Hester e Dimmesdale compartilharam, nos
mostrando que ao alcançarmos o amor próprio, podemos ser igual ao outro.
Portanto, a obstinação e a subalternidade de Hester Prynne, presentes no
romance de Hawthorne e na adaptação fílmica de Joffé, nos mostra que a
personagem feminina, embora condenada e frágil, manteve-se resistente e foi
agente da mudança social daquela época.

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