Guia de Laboratórios

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QUÍMICA

GUIA DE LABORATÓRIOS

IST
2021/2022

*QUIGE.LB*
QUIGE.LB
QUÍMICA
Guia de Laboratórios

IST
2021/2022
Contribuíram para estas folhas, entre outros docentes da cadeira:
Eurico C. Melo
Jorge Morgado
Maria Isabel Viseu
João L. Ferreira da Silva
Hermínio P. Diogo
César A. C. Sequeira
Pedro T. Gomes
Luísa Margarida Martins
Maria de Fátima Guedes da Silva
Guia de Laboratórios

ÍNDICE

APRESENTAÇÃO..............................................................................................................................1

TÉCNICAS LABORATORIAIS

• Trabalho Nº 0 (T0) – INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS LABORATORIAIS……………..............................3

MODELO QUÂNTICO DO ELECTRÃO LIVRE

• Trabalho Nº 1 (T1) – ENERGIA DAS ORBITAIS  DE POLIENOS CONJUGADOS...............................15

COMPOSTOS QUÍMICOS: SÍNTESE E PROPRIEDADES

• Trabalho Nº 2A (T2A) – SOLUBILIDADE E MISCIBILIDADE................................................................23

• Trabalho Nº 2B (T2B) – DETERMINAÇÃO DA VISCOSIDADE DE LÍQUIDOS......................................29

• Trabalho Nº 2C (T2C) – SÍNTESE DE UM COMPOSTO COVALENTE..................................................31

EQUILÍBRIO QUÍMICO E CINÉTICA QUÍMICA

• Trabalho Nº 3A (T3A) – pH DE ÁGUAS NATURAIS............................................................................37

• Trabalho Nº 3B (T3B) – DETERMINAÇÃO DA ACIDEZ DE UM VINAGRE...........................................43

• Trabalho Nº 3C (T3C) – CINÉTICA DA HIDRÓLISE BÁSICA DO VIOLETA DE CRISTAL.....................45

ELECTROQUÍMICA E CORROSÃO

• Trabalho Nº 4A (T4A) – INTRODUÇÃO À OXIDAÇÃO-REDUÇÃO.......................................................51

• Trabalho Nº 4B (T4B) – CORROSÃO E PROTECÇÃO CATÓDICA......................................................59

• Trabalho Nº 4C (T4C) – PILHAS E ACUMULADORES.........................................................................63

. i
Química Geral

TRABALHOS LABORATORIAIS A REALIZAR EM CADA CURSO


NO PRESENTE ANO LECTIVO

CURSOS T0 T1 T2A T2B T2C T3A T3B T3C T4A T4B T4C
LEMec / LEAer / LEAN
LEEC
LEC
LEAmb / LEME / LEMat
LEBiom
LEBiol
LEGI / LEE
LEFT a
a
– as restantes actividades em LEFT serão de indole computacional.

– trabalhos a realizar no presente ano lectivo

LEMec – Licenciatura em Engenharia Mecânica

LEAer – Licenciatura em Engenharia Aeroespacial

LENO – Licenciatura em Engenharia Naval e Oceânica

LEEC – Licenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores

LEC – Licenciatura em Engenharia Civil

LEAmb – Licenciatura em Engenharia do Ambiente

LEME – Licenciatura em Engenharia de Minas e Recursos Energéticos

LEMat – Licenciatura em Engenharia de Materiais

LEBiom – Licenciatura em Engenharia Biomédica

LEBiol – Licenciatura em Engenharia Biológica

LEGI – Licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial

LEE – Licenciatura em Engenharia Electrónica

LEFT – Licenciatura em Engenharia Física Tecnológica


Guia de Laboratórios

APRESENTAÇÃO
− Ó filho! Já me tiraram o medo há muito tempo!
Perder o medo é ganhar o conhecimento da vida. Aquela rapariga deve
ter tido um grande mestre para conhecer daquela maneira a realidade!
Esse mestre foi sem dúvida a própria realidade. Não há mestre mais
categórico do que a realidade a seco.
in “Nome de Guerra” de Almada Negreiros

Confrontamo-nos todos os dias com fenómenos químicos e físicos, mas estes aparecem-nos
envolvidos na sua utilidade imediata.

Não nos perguntamos porque é que a cara não se dissolve na água em que a lavamos nem o que faz
com que uma caneta escreva azul e outra vermelho.

Dizer que a tinta azul resulta da adição de uma substância (corante) que absorve o amarelo é substituir
uma ignorância por outra. Finalmente, porque é que uma substância absorve o amarelo e não o
vermelho ou o verde?

As aulas de laboratório de Química Geral têm por objectivo a análise da realidade “a seco”.
Observando-a e interpretando-a, até onde permite o conhecimento da química que os alunos possuem.

Porque é que este conhecimento é necessário a um aluno de um curso superior de engenharia? Pela
própria definição de curso superior em oposição a curso técnico.

A nosso ver, saber que é das normas não pôr ferro zincado em ambientes fabris ou PVC em esgotos
de hospitais é muito meritório, mas não corresponde a conhecimento superior. Conhecimento superior
seria saber o porquê último destas normas, baseado nas razões físico-químicas das propriedades
destes materiais. Da mesma forma, para o técnico de engenharia electrónica o semicondutor da GaAs
(arsenieto de gálio) tem tanta razão de existir como o de AgSe (selenieto de prata). Um técnico
superior deverá reconhecer que o GaAs pertence à linha clássica de semicondutores, enquanto que o
AgSe (se existir) deverá apresentar propriedades eléctricas que podem diferir muito das dos
semicondutores usuais.

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Química Geral

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TRABALHO Nº 0

INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS LABORATORIAIS

OBJECTIVO

Dar a conhecer aos alunos os métodos que irão utilizar nas aulas:
1. Métodos de medida e preparação de soluções
2. Métodos de separação
3. Tratamento de dados experimentais
4. Determinação da concentração desconhecida de uma solução pelo método da recta de calibração
com base na lei de Lambert-Beer

1. CONCENTRAÇÃO DE SOLUÇÕES

Uma solução é uma mistura homogénea de dois ou mais componentes. Existem soluções líquidas (as
mais usuais) mas também soluções sólidas (por ex., algumas ligas metálicas) e gasosas.

Quando se tem uma solução de um sólido ou gás num líquido diz-se que o primeiro é o soluto e o
segundo o solvente. Quando se trata de um líquido dissolvido noutro líquido é mais adequado falar
em mistura homogénea dos dois líquidos do que em solução, embora esta última denominação esteja
correcta. A concentração de um soluto numa solução exprime, sem ambiguidade, a composição da
mistura.

Definimos em seguida as unidades em que mais usualmente uma concentração é expressa.

i) Peso de soluto por unidade de volume: em geral número de gramas de soluto por litro de solução
(ex.: solução aquosa de NaCl com a concentração de 5,85 g dm−3).
ii) Percentagem em peso ou percentagem ponderal (m/m): número de gramas de soluto por 100
gramas de solução. Como variantes da percentagem ponderal são muito usadas as concentrações
em partes por mil (permilagem), abreviada como ppt, partes por milhão, ppm, e partes por bilião,
ppb. As duas últimas são correntes na especificação de águas e alimentos quanto à existência de
substâncias tóxicas (ex.: uma água com 16 ppm de Al3+ contém 16 mg de Al3+ por 1000 g de
solução).

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Química Geral

iii) Percentagem em volume (v/v): número de mililitros (mL) de um dos líquidos, em geral aquele
que se encontra em menor quantidade, por 100 mL de solução. Não é indiferente qual o líquido
que se acrescenta primeiro, pois se juntar 50 mL de um líquido a 50 mL de outro não obtém
necessariamente 100 mL de solução, isto devido a que as moléculas passam a organizar-se de
forma diferente. Assim, para evitar ambiguidades, uma solução aquosa a 70% (v/v) em etanol
quer dizer que medimos 70 mL de etanol a que acrescentámos água até perfazer 100 mL.
iv) Razão de volumes (n:m): normalmente usado em medidas pouco rigorosas, como diluição de
tintas, componentes de colas, etc.. Por exemplo uma tinta diluída a 1:5 com água significa que
por cada unidade de volume de tinta deve acrescentar 4 unidades de volume de água.
v) Molaridade (M): número de moles de soluto por litro de solução. Como exercício, calcule qual
a molaridade em etanol, CH3CH2OH, de um vinho com 12% (v/v) de etanol sabendo que a
densidade do etanol é 0,82. Calcule também a molaridade da solução aquosa de cloreto de sódio
dada como exemplo na alínea i).
vi) Fracção molar e percentagem molar: a fracção molar de um componente numa solução é
definida como o número de moles desse componente a dividir pelo número total de moles de
todos os componentes da solução. A soma das fracções molares de todos os componentes da
solução é obviamente 1. Esta medida é muito usada para gases, devido a haver uma relação
directa entre a pressão parcial de cada componente e a sua fracção molar, mas também é útil no
estudo de misturas líquidas. A percentagem molar corresponde à fracção molar vezes 100.
Existem ainda outras maneiras de representar concentrações mas, ou têm uma interpretação óbvia, ou
são especialmente úteis para certos estudos especializados (por exemplo, em titulações ou quando se
trabalha a temperatura ou pressão variáveis) que não têm relevância neste contexto.

2. MÉTODOS DE MEDIDA

2.1 - Massa

Tipos de Balanças
Balança técnica Rigor: 0,1 g Gama típica: 0−2000 g
Balança analítica Rigor: 0,1 mg Gama típica: 0−100 g
Microbalança Rigor: 0,1 g Gama típica: 0−1 g

Modo de usar e cuidados a ter

Balanças técnicas:
• ligar e esperar pela autocalibração;

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• pesar todas as substâncias químicas dentro de um recipiente ou barquinha feita em papel de


alumínio;
• descontar o peso do recipiente levando a zero a balança por meio do botão de tara.
• Ter em atenção que a massa do recipiente + substância pesada nunca ultrapasse a carga máxima
da balança.

Balanças analíticas:

Para além dos aspectos referidos para as balanças técnicas,


• devem ser mantidas rigorosamente niveladas e fechadas, e o interior seco com um recipiente
contendo sílica gel;
• a pesagem e taragem devem ser efectuadas com a balança fechada;
• o prato da balança deve ser pincelado antes da pesagem de forma a permitir a continuação da
pesagem no caso de derrame de composto, e depois da pesagem para evitar a contaminação e
corrosão da balança.

2.2 - Volume

Medidores
Copos graduados Rigor: a partir de 5 ml Gama: 5−2000 mL
Provetas Rigor: a partir de 1 ml Gama: 5−2000 mL
Pipetas graduadas Rigor: a partir de 1 l Gama: 50 L − 10 mL
Balões volumétricos Rigor: a partir de 10 l Gama: 1−2000 mL
Pipetas marcadas Rigor: a partir de 1 l Gama: 10 L − 100 mL

Modo de usar e cuidados a ter


• O material de vidro deverá estar desengordurado para que o líquido contacte directamente com a
superfície de vidro e não com a gordura adsorvida.
• A leitura do volume deverá ser feita pela tangente ao menisco, tal como
é indicado na figura
Nota: se o líquido não for água o menisco terá características diferentes,
logo, a medida deveria ser corrigida. Trata-se de um preciosismo, sem
cabimento nas medidas efectuadas no contexto desta cadeira. 22 mL, e não 23 ou 24 mL
• As pipetas marcadas deverão ser despejadas a 45º e encostadas a uma
superfície de vidro. A gota final deve ser retida dentro da pipeta, e não soprada para fora.

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Química Geral

• Sempre que o líquido seja tóxico ou corrosivo (característica indicada no rótulo do frasco) deve
ser usada uma pompete.

2.3 - Temperatura

Termómetros clássicos (mercúrio e etanol)

Vantagens: poucas, excepto serem baratos, quando o objectivo é fazer uma medida esporádica dentro
de uma gama estreita de temperaturas.

Inconvenientes: fragilidade, preço elevado quando é necessário ter rigor para uma larga gama de
temperaturas, e difícil registo automático da temperatura.

Termómetros electrónicos

Baseiam-se na variação da resistência dos metais com a temperatura (Pt100 e Pt1000) ou na variação
do potencial de junção metal−metal com a temperatura (termopares).

Vantagens: a sonda termométrica é barata e resistente química e mecanicamente; uma mesma sonda
permite o acesso a uma larga gama de temperaturas com elevado rigor; é possível fazer o registo e
controlo automático da temperatura.

Inconvenientes: elevado preço do ohmímetro ou milivoltímetro necessário à medida.

2.4 - Absorção de Luz

Luz − radiação electromagnética

Cargas eléctricas num campo eléctrico ficam sujeitas a uma força. Se este campo for oscilante a força
é oscilante.

Um campo electromagnético é um campo eléctrico oscilante, que se caracteriza pela sua frequência,
, e/ou comprimento de onda, 
c
=

onde c é a velocidade de propagação da onda no meio.

Absorção − Interacção da radiação electromagnética com os átomos ou moléculas

Interpretação Corpuscular Quântica

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A radiação electromagnética é constituída por fotões de energia E = h (h  constante de Planck =


6,62610−34 J s).

Os electrões num átomo ou molécula só podem existir com energias bem determinadas e discretas
(quantificação). Logo, só fotões de energia tal que conduzam ao salto de um electrão de um destes
estados de energia para outro (permitido), podem ser absorvidos. Fotões de todas as outras energias
passam pelo átomo ou molécula sem interactuar com ele.

Interpretação Ondulatória

Os electrões num átomo ou molécula comportam-se como ondas electromagnéticas. Estas ondas têm
frequências de ressonância próprias (tal como uma corda de viola ou um vão de uma ponte).

Quando a onda electromagnética entra em ressonância com estas frequências próprias do átomo ou
molécula a energia é absorvida (tal como acontece numa corda de viola, conforme o seu comprimento
o som produzido tem uma frequência diferente e entra em ressonância, isto é, absorve, essa mesma
frequência).

Cor - noção qualitativa e quantitativa

A nossa vista é sensível a uma curta gama de comprimentos de onda, que abrange dos 400 aos 800
nm aproximadamente (7,51014 Hz − 3,71014 Hz), denominado espectro visível.

VISÍVEL: Cores complementares

UV Azul Verde Amarelo Vermelho IV

400 nm 500 nm 600 nm 700 nm 800 nm

Dizemos que um objecto é verde quando a radiação que dele recebemos é de cerca de 500 nm. Para
isso o objecto tem que absorver todos os comprimentos de onda excepto os 500 nm (Figura 1). Porém,
também interpretamos como verde um objecto que absorve apenas o vermelho, cor complementar do
verde (Fig. 1). Da mesma forma, o azul e o amarelo também são complementares.

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Química Geral

A luz cuja cor observamos pode ser reflectida por um objecto ou


transmitida através dele. A medida da quantidade de luz (de um Solução

dado ) transmitida através de um vidro ou solução é feita segundo


I0 I
o esquema ao lado. Designa-se como transmitância, T, e é definida  
por1:
T = Transmitância = I / I0

Um gráfico representando a variação da percentagem de percurso óptico


(l)
transmitância, 100×T, em função de , como os apresentados na Figura 1, é denominado espectro de
transmitância, sendo obtido automaticamente com um aparelho, o espectrofotómetro, que se
encontra descrito mais abaixo.

Absorve tudo menos o verde Absorve apenas o vermelho

Figura 1: Os espectros aqui apresentados são ambos de soluções verdes. O primeiro corresponde a uma
solução muito opaca enquanto que o segundo corresponde a uma solução verde transparente.

Absorvância − relação com a concentração

Foi definida a transmitância, T, de uma solução a um dado comprimento de onda, como a fracção de
luz que atravessa essa solução. A absorvância, A, da solução a esse mesmo comprimento de onda
relaciona-se com a sua transmitância segundo a equação:

A = −log10 T = log10 (1/T)

Um gráfico da variação da absorvância A em função de  denomina-se espectro de absorvância,


sendo também obtido num espectrofotómetro, em alternativa a um espectro de transmitância.

1
Na realidade I0 refere-se à intensidade do feixe aos atravessar uma célula com solvente e inclui, para além da eventual absorção do
solvente, a refracção, dispersão e reflexão nas paredes da célula.

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Uma propriedade importante da absorvância de uma solução é a sua variação linear com a
concentração molar do soluto que absorve luz, tal como é definido pela Lei de Lambert−Beer:

A =  × l × [M]
onde  é, para cada comprimento de onda, uma constante característica do composto denominada
coeficiente de absorção molar (ou absortividade molar); l é o percurso óptico dentro da solução
(distância entre as paredes transparentes da célula, medida no seu interior); e M é a concentração
(expressa em moles por dm3) do soluto, M, que absorve luz. Note-se que a relação linear da
absorvância com a concentração molar permite determinar a concentração de um dado corante para
o qual se conhece .

Espectrofotómetro − descrição

Um espectrofotómetro (representado esquematicamente na Figura 2) é constituído por:

• Uma fonte de luz, lâmpada, que emita os comprimentos de onda adequados. Esta pode ser uma
usual fonte de tungsténio, lâmpada normal, para a zona do visível, ou uma lâmpada de plasma
de deutério, para a zona do UV.

• Um monocromador, para seleccionar um só comprimento de onda. Usualmente, um prisma


rotativo metido dentro de uma caixa com uma fenda de entrada e uma de saída.

• Um “splitter” que divide o feixe de luz em dois feixes iguais: um para ser usado como
referência, I0, e o outro para atravessar a amostra, destinado a medir I.

• Um compartimento para a amostra e referência. Normalmente a amostra é uma solução contida


numa cuvete em vidro com um percurso óptico (l) de 1 cm e a referência uma cuvete idêntica
contendo apenas o solvente.

• Detectores para a amostra e referência que transformam a intensidade luminosa que sobre eles
cai, I, numa corrente, i, proporcional à intensidade luminosa.

• Variados dispositivos eléctricos e electrónicos cujas funções são: controlo da rotação do prisma
para seleccionar o comprimento de onda, escolha automática da lâmpada adequada ao
comprimento de onda seleccionado, cálculo da transmitância e da absorvância, representação
gráfica do espectro, etc..

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Química Geral

Figura 2: Diagrama esquemático de um espectrofotómetro de varrimento para a gama da luz visível.

3. MÉTODOS DE SEPARAÇÃO

Quando temos uma suspensão de produtos sólidos num líquido, a separação do sólido pode ser feita
por um ou mais dos seguinte métodos.

Decantação − deixar assentar o precipitado e verter o sobrenadante. Apenas aplicável quando o sólido
é mais denso do que o líquido. É um processo muito lento, porém, muito usado na indústria.

Centrifugação − é uma decantação forçada. Numa centrífuga de bancada o aumento de “peso” das
partículas pode ser de 5.000 a 10.000 vezes (aceleração 5.000 a 10.000 G) e numa ultracentrífuga a
aceleração pode atingir os 500.000 G (1 grama estará sujeito a uma força equivalente a 0,5 ton). Note-
se que o rotor da centrífuga deve estar sempre equilibrado. Isto consegue-se colocando no suporte
diametralmente oposto ao da amostra um tubo igual e com a mesma massa. A identidade das massas
é obtida adicionando a este tubo um volume adequado de água. As forças exercidas sobre o fundo do
tubo contendo a amostra são elevadas, portanto os tubos de centrífuga têm o fundo reforçado, não
sendo tubos de ensaio normais.

Filtração − uma vez escolhido o poro e o material do filtro (normalmente papel) pode-se separar
quase tudo. É, porém, um processo lento.

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4. NOÇÕES DE TRATAMENTO DE DADOS EXPERIMENTAIS

Todas as medidas experimentais contêm erros intrínsecos ao equipamento e método de medida usado.
Quando apresentamos o valor de uma medida devemos indicar com que erro ele foi obtido.

4.1 - Manuseamento dos dados experimentais

Um método de indicar a incerteza das medidas é exprimi-las apresentando apenas algarismos


significativos, de acordo com as regras:

i) Algarismos diferentes de zero são sempre significativos.


ii) Quanto ao zero: se colocado antes de outros dígitos não é significativo; entre outros dígitos é
significativo; no final do número, depois de uma vírgula é significativo, mas antes da vírgula não
necessariamente.

Exemplos:
Valor Algarismos significativos Comentário
5,630 4 zero com significado
0,270 3 zero à esquerda sem significado
0,0004 1 zeros à esquerda sem significado
1,0007 5 todos os algarismos com significado
não é claro se os zeros são significativos porque os zeros
31 000 entre 2 e 5
podem estar apenas a indicar a posição da vírgula
3,1105 2
3,10105 3
o número em índice indica um valor estimado: por exemplo
2,36 2
2,36 cm medidos com uma régua graduada em mm.

Arredondamentos. Os números arredondam-se para o valor imediatamente superior se o algarismo


seguinte for maior do que 5 e para o imediatamente inferior se o algarismo seguinte for menor do que
5. Porém, para evitar erros sistemáticos, quando o algarismo seguinte for 5 o arredondamento faz-se
para o número par mais próximo. Exemplo: 3,55 arredondado a 1 casa decimal passa a 3,6, mas 6,45
fica 6,4.

A incerteza de um valor propaga-se em todas as contas que com ele fizermos.

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Química Geral

1) Adição e subtracção: Os cálculos fazem-se com todas as casas decimais, mas o número de casas
decimais significativas do resultado não pode ultrapassar o menor número de casas significativas
das parcelas. Ex.:
22,33
2,23 3
0,22 33
24,78 63 = 24,79
⎯⎯⎯⎯⎯⎯→
arredondamento
2) Multiplicação e divisão: Numa multiplicação ou divisão o número de algarismos significativos
do resultado é idêntico ao do factor com menor número de algarismos significativos
Ex.: 0,2  103,4 = 20,68 0,2  102 ou 0,21  102
0,2  140,7 = 28,14 0,2  102 ou 0,28  102
(É neste caso que se torna informativa a nomenclatura com índice.)

Notemos porém que os números inteiros (cujo número de algarismos significativos é indefinido),
quando multiplicados por reais, não afectam o número de algarismos significativos destes. Claro
que se um computador custar 700,00 €, dois computadores custam 1.400,00 € e não 1103 euros!

3) Logaritmos: o argumento do logaritmo e a mantissa do seu resultado deverão ter o mesmo número
de algarismos significativos:

log 2,02 = 0,305

4.2 - Exactidão e precisão

Os resultados experimentais contêm os seguintes tipos de erros:

1) Erros sistemáticos − provêm de uma falta de calibração do aparelho de medida, inadequação à


medida realizada, ou deficiente técnica de medida.

2) Erros aleatórios − provêm de instabilidades, limites de resolução, vibrações mecânicas, etc.

3) Erros do operador − se seguirmos o aquecimento de um líquido e a sequência de temperaturas


registadas for 32 ºC, 35 ºC, 42 ºC, 74 ºC, 51 ºC, 67 ºC, provavelmente o valor de 74 ºC corresponde
a 47 ºC que o operador se enganou a ler ou escrever. Estes dados, e só estes, podem ser desprezados
(nunca substituindo pelo valor que supomos correcto) quando é feita uma análise estatística dos
dados.

A exactidão reflecte a concordância da medida com o valor real.

A precisão reflecte a sua reprodutibilidade.

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A Figura 3 ilustra os dois conceitos.

Figura 3: Comparação dos conceitos de Exactidão e de Precisão

Na falta de uma análise estatística dos dados para determinar o desvio padrão das medidas, pode ser
usada, em primeira aproximação, a incerteza da medida. Assim, com uma régua graduada em mm as
medidas serão feitas com uma incerteza de  0,5 mm (p.ex. 23  0,5 mm) e com um balão volumétrico
da classe A de 100 mL pode medir-se 100  0,08 mL (menos de 0,1% de erro).

5. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

5.1. Material e reagentes


− espectrofotómetro de absorção UV−VIS
− células de absorção em vidro (com um percurso óptico, l, de 1,0 cm)
− balão volumétrico de 25 mL
− balão volumétrico de 10 mL
− pipeta graduada de 5 mL ou 10 mL
− copo de 100 mL
− copo de 10 mL ou 20 mL
− espátula de cana
− pompete
− vareta de vidro
− cloreto de cobalto hidratado, CoCl2.6H2O.
− solução de CoCl2.6H2O de concentração desconhecida

5.2. Operações e análise dos resultados

1) Prepare 25 mL de uma solução 0,05 M em cloreto de cobalto. Tenha em atenção que o CoCl2 se
apresenta sob a forma de sal hexa-hidratado, CoCl2.6H2O.

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Química Geral

2) Usando uma pipeta graduada e a solução mãe obtida em 1) prepare 10 mL de uma solução diluída
de CoCl2: Grupo I– 0,01 M, Grupo II– 0,02 M, Grupo III– 0,03 M, Grupo IV– 0,04 M.

3) Trace o espectro de absorção das soluções que obteve em 1) e 2), usando água como referência.
Determine o comprimento de onda para o qual a absorvância é máxima, max, e o seu valor, Amax.

4) Represente graficamente os valores da absorvância máxima de cada uma das 5 soluções em função
da respectiva concentração molar exacta ([CoCl2.6H2O]) e inclua o ponto (0,0) na recta de ajuste
aos pontos experimentais: determine a equação da recta e o seu declive pelo método dos mínimos
quadrados (use uma calculadora ou o Excel®). Calcule o valor do coeficiente de absorção molar
() do CoCl2.6H2O para o comprimento de onda do seu máximo de absorvância (max), tendo em
conta o percurso óptico (l) de 1,0 cm da célula que continha as amostras.

5) Trace o espectro de absorção da solução de CoCl2.6H2O de concentração desconhecida, usando


água como referência. Determine o valor de absorvância , Amax, ao comprimento de onda para o
qual a absorvância é máxima, max.

6) Com base no valor de Amax e na equação da recta calculada em 4 determine a concentração em


CoCl2.6H2O desta solução de concentração desconhecida.

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TRABALHO Nº 1

ENERGIA DAS ORBITAIS  DE POLIENOS CONJUGADOS

OBJECTIVO

Estudo da partícula numa caixa de potencial a uma dimensão.


Modelo do electrão livre. Espectros de absorção e energia das transições.

1. PARTÍCULA NUMA CAIXA DE POTENCIAL LINEAR

Uma caixa é uma região do espaço na qual a energia potencial da partícula é nula, mas aumenta
abruptamente para infinito nas paredes. Isto quer dizer que, embora a partícula seja livre de circular
dentro da caixa, é-lhe impossível sair dela, tal como acontece a uma bola dentro de uma caixa, de
onde não sai por necessitar de ultrapassar a energia potencial correspondente à subida das paredes.

Sendo esta caixa linear, a partícula é livre de se mover entre x = 0 e x = L, sendo L a dimensão linear
da caixa. A energia da partícula provém inteiramente da energia cinética resultante do seu movimento
dentro da caixa.

Como sabemos, um electrão pode comportar-se como uma onda. A onda associada ao electrão é
descrita pela equação de Schrödinger, que a uma dimensão é dada por (ver folhas teóricas):

 2 d 2
− + V = E
2m d x 2

Como sabemos que dentro da caixa V = 0, e que a partícula se reflecte nas paredes não podendo assim
existir quer em x = 0 quer em x = L, a equação de Schrödinger deverá ser integrada tendo em conta
as condições de fronteira  = 0 para x = 0 e para x = L. Notemos que estamos a seguir a hipótese de
Born segundo a qual a probabilidade de encontrar o electrão é proporcional a 2. Logo, nas paredes
onde a probabilidade de encontrar a partícula é nula (porque nelas reflecte) a função de onda também
deverá ser nula.

Nestas condições, a integração da equação de Schrödinger conduz às seguintes expressões para a


função de onda e para a energia da partícula (e.g. electrão) numa caixa linear:
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Química Geral

 n x 
 n = 2 L sen  
 L 

h2
En = n 2 n =1,2,...
8 m L2
Note-se que:

• As energias são definidas por um só número quântico, n, e são proporcionais a n2.

• A energia mínima não é zero, o que está de acordo com o princípio de incerteza de Heisenberg.

• Quanto menor a massa da partícula, m, maior a separação entre níveis energéticos, isto é, quando
a massa é muito elevada os níveis de energia para os diversos números quânticos n estão tão
próximos que constituem um contínuo (bolas de ping-pong numa caixa não estão quantificadas!).

• +-

• A separação dos níveis energéticos é tanto maior quanto menor for a dimensão da caixa (um
electrão livre não tem a sua energia cinética quantificada).

• No interior da caixa, as funções de onda são sinusoidais com um comprimento de onda de 2L/n.
No exterior da caixa a função de onda é nula.

As funções de onda, soluções da equação de Schrödinger a uma dimensão, correspondentes aos 4


números quânticos mais baixos, podem ser visualizadas na Figura 1:

5E-18
Energia (unid. arb.)

4E-18

3E-18

2E-18

1E-18

0
0 2.5E-10 5E-10

x (m)

Figura 1: Ondas associadas ao electrão numa caixa linear de 0,5 nm, para n = 1, 2, 3 e 4.

16
Guia de Laboratórios

2. POLIENOS CONJUGADOS

Polienos são hidrocarbonetos com diversas ligações duplas carbono-carbono. Quando as duplas
ligações estão localizadas em carbonos contíguos denominam-se polienos conjugados. As orbitais
2pz destes carbonos contíguos coalescem lateralmente, formando-se um sistema de orbitais 
deslocalizadas. O exemplo mais simples é o 1,3-butadieno:

Outro exemplo que terão oportunidade de analisar neste trabalho será o retinol (vitamina A):

Diversos compostos naturais cuja função é a absorção de luz visível são polienos conjugados. O
retinal (molécula com grandes semelhanças com o retinol) é responsável pela absorção de luz visível
pela rodopsina, a proteína existente na retina que detecta a luz e dá origem aos sinais eléctricos que
são enviados para o cérebro.

Um notável exemplo de polieno conjugado é o -caroteno, que dá a cor às cenouras. Este polieno
contém nada menos do que 11 ligações duplas conjugadas.

As orbitais  dos polienos conjugados são muitas vezes consideradas como independentes das outras
orbitais da molécula, denominadas esqueleto . Nas aulas e nas folhas teóricas já lhe foi apresentado
o estudo do caso mais simples, o 1,3-butadieno, pelo método TOM−CLOA. Recorde o que aí estudou.
Verificou que, como sempre, combinou 4 orbitais atómicas 2pz obtendo 4 orbitais moleculares (OM),
17
Química Geral

das quais duas, ligantes, com menor energia do que as orbitais atómicas e as outras duas, antiligantes,
com maior energia.

Um modelo muito simples para descrever os electrões nestas orbitais deslocalizadas , denominado
modelo do electrão livre, foi proposto por Platt. De acordo com este modelo, as orbitais podem ser
consideradas caixas lineares com o comprimento total (N+1)×dCC, onde dCC representa a dimensão
de uma ligação carbono−carbono (entre simples e dupla) e N o número de ligações C−C. As equações
para o electrão numa caixa linear permitem calcular a sua energia para os diversos números quânticos,
En, e a função de onda que lhes está associada, n.

No presente trabalho os alunos terão a oportunidade de aplicar o modelo do electrão livre a três
polienos conjugados (um dieno, um pentaeno e o -caroteno).

3. DETERMINAÇÃO DA ENERGIA DE UMA TRANSIÇÃO

No 1,3-butadieno, por absorção de luz, um electrão transita da orbital molecular 2 para a orbital
molecular 3, de acordo com o seguinte esquema:

4
3
2
1

A energia que leva o electrão de uma orbital molecular para outra, E = h, é absorvida pela molécula
de uma só vez, “como um quantum de energia”, e não resulta de uma absorção progressiva de energia.
Portanto, uma dada molécula só deverá absorver radiação que corresponda a um salto entre duas
orbitais moleculares, ou seja, com um comprimento de onda característico  = c/, onde c é a
velocidade da luz no meio.

A quantificação das energias absorvidas E obtem-se por espectrofotometria. Como se viu no


trabalho nº 0, de Introdução às Técnicas Laboratoriais, esta técnica baseia-se na medida da
absorvância ou da percentagem de transmitância da luz incidente, por uma solução (ou vapor), em
função do comprimento de onda  da luz. Um espectro em absorvância ou transmitância é traçado
automaticamente num espectrofotómetro de varrimento.

18
Guia de Laboratórios

A percentagem de transmitância, a um dado comprimento de onda , %T, já foi definida no trabalho


de Introdução às Técnicas Laboratoriais como2:

Cuvete com
Amostra

Solução

I0 I
  Luz emergente de
I
Luz incidente de %T =  100
intensidade I0 intensidade I I 0

percurso óptico
(l)

Na Figura 2 apresenta-se o espectro de transmitância da clorofila na zona do visível. No contexto da


Teoria das Orbitais Moleculares (TOM) este espectro indica que, com uma energia de 1,86 eV
correspondente a  = 4,491014 s−1 ou  = 667 nm, absorvida num só fotão, fazemos transitar um
electrão de uma orbital para outra numa molécula de clorofila.

Figura 2: Espectro de transmitância da Clorofila no Visível.

De um ponto de vista de análise de cor sabemos que, sendo verde, a clorofila deve absorver a cor
complementar do verde, o vermelho. Desta forma, o amarelo e o azul que incidem sobre a folha de
uma planta são reflectidos e anulam-se, dando a sensação de branco. Porém, o verde é também
reflectido enquanto que a sua cor complementar é absorvida. Assim, a luz reflectida por uma folha
vem empobrecida em vermelho e nós interpretamo-la como verde.

2
Na realidade I0 refere-se à intensidade do feixe aos atravessar uma célula com solvente e inclui, para além da eventual absorção do
solvente, a refracção, dispersão e reflexão nas paredes da célula.

19
Química Geral

O espectro de transmitância da clorofila mostra uma característica que parece estar em desacordo
com a descrição anteriormente feita do processo de absorção de luz. De facto, a banda de absorção
deveria ser bem definida, a um só comprimento de onda (energia), mas o que se observa é que ela se
espraia por uma gama de cerca de 100 nm, apresentando três “sub-bandas”. Também no caso do
antraceno, de que se apresenta o espectro em absorvância (A = −log10 T) na Figura 3, a banda de
absorção possui uma série de picos sucessivos parecidos com os dedos de uma luva. Porque será que,
ao contrário do que lhe foi dito nas aulas, as transições não têm lugar a uma única e bem definida
energia, ou comprimento de onda? Pelo contrário, uma transição electrónica manifesta-se muitas
vezes pelo aparecimento de diversas bandas estreitas muito próximas umas das outras. Parece que a
cada transição correspondem, não uma, mas diversas subtransições.

Isto é verdade! As moléculas têm diversas formas de acumular energia: a energia electrónica está
quantificada, mas as moléculas também vibram e rodam, e a sua energia vibracional e rotacional
também não é contínua, está quantificada. Isto é, as ligações químicas não são rígidas, são como
pequenas molas que unem os átomos, molas estas que têm a sua frequência de oscilação própria,
exactamente como as molas macroscópicas.

Assim, quando fornecemos energia electromagnética (na região do visível e/ou ultra-violeta) a uma
molécula, esta energia é usada para promover electrões de uma orbital molecular para outra, e a
energia em excesso pode ainda servir para fazer vibrar a molécula (isto é, aquecê-la).

No estado fundamental à temperatura ambiente, praticamente todas as moléculas estão no seu modo
de vibração de menor energia (não estão paradas, pois isto violaria o princípio de incerteza de
Heisenberg). Quando absorvem energia, podem ficar no estado vibracional mais baixo, primeira
banda, ou em outros estados vibracionalmente excitados, bandas seguintes. Na Figura 3, estes
diferentes estados vibracionais são identificados com as bandas de absorção observadas.

20
Guia de Laboratórios

Figura 3: Espectro de absorção no ultra-violeta do antraceno com resolução vibracional e diagrama de energias
correspondente. Naturalmente, a energia da transição puramente electrónica deverá ser a da banda 0-0, isto é,
a de menor energia.

4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

4.1 Material e reagentes

− espectrofotómetro de absorção UV−VIS


− células de absorção em sílica (l = 1,0 cm)
− n-hexano de grau espectroscópico
− n-hexano para lavagens
− solução de trans-1,3-hexadieno em dioxano
− trans-retinol (sólido)
− trans--caroteno (sólido)
− pipetas de Pasteur
− espátula fininha

4.2 Operações

Em princípio, os espectros deveriam ser obtidos com os polienos em fase gasosa. A manipulação
destes gases envolve contudo procedimentos complexos. Assim, em vez dos gases serão usadas as
suas soluções em n-hexano, CH3(CH2)4CH3. O n-hexano é um líquido que:
- é transparente na gama de comprimentos de onda que nos interessa,
- é inerte em relação aos compostos referidos.

Nota: Os polienos puros são tóxicos, nomeadamente supõe-se que produzem o cancro. Os seus
vapores não devem ser inalados, portanto nenhuma das suas soluções deverá ser pipetada à boca. O
seu cheiro muito desagradável também a isso não convida! Por vezes são também altamente
inflamáveis, extremamente reactivos e muito caros. Por todas estas razões, são fornecidas aos alunos
soluções em 1,4-dioxano, já preparadas.

O 1,3-butadieno é muito volátil, Teb = 43 ºC. Em vez deste composto será usado o 1,3-hexadieno cujo
ponto de ebulição é de cerca de 67 ºC.

21
Química Geral

4.2.1 Preparação das soluções

As soluções a medir do dieno serão preparadas molhando a ponta de uma pipeta de Pasteur na solução
mãe fornecida e transferindo a gota recolhida para uma cuvete de absorção contendo n-hexano. Caso
a solução ainda esteja excessivamente concentrada, deve ser diluída o suficiente para obter uma boa
definição da banda de absorção ou de transmitância. No caso do retinol e do -caroteno (sólidos), a
solução a medir será preparada dissolvendo um pouco do composto (raspado do frasco com uma
espátula) directamente numa cuvete de absorção contendo n-hexano.

4.2.2 Obtenção dos espectros

O manuseamento do espectrofotómetro, nomeadamente a selecção das condições a usar, será


efectuado de acordo com as instruções fornecidas na altura da realização experimental.

Uma das células contendo n-hexano irá servir como referência, com a qual o aparelho determina o
valor de I0. Na outra posição será colocada a segunda célula, contendo sucessivamente as várias
soluções, traçando-se então os espectros (em absorvância ou transmitância) para cada uma delas.

4.3 Análise dos resultados

1. Determine a energia da transição 0-0 experimental para cada um dos compostos.

2. Compare as energias experimentais determinadas na alínea anterior com os correspondentes


valores teóricos, calculados pelo modelo da partícula numa caixa, admitindo um valor médio para
a distância C−C (dCC) de 1,41 Å. Comente de forma crítica as diferenças observadas.

3. Sabendo que as distâncias carbono−carbono no dieno são: d(C1−C2) = 1,349 Å e d(C2−C3) =


1,467 Å, compare estes valores em relação às dimensões típicas de uma ligação C−C simples (dC−C
= 1,531 Å) e dupla (dC=C = 1,337 Å). Comente se o modelo do electrão livre permite prever (apenas
qualitativamente) esta diferença de comprimentos de ligação.

Explique por que razão, para obter os espectros de absorção dos polienos, se usam soluções diluídas
e não os líquidos (ou sólidos) puros. De que modo o funcionamento do espectrofotómetro permite
corrigir os efeitos da presença de solvente?

Dados: h = 6,62610–34 J s = 4,13610–15 eV s


c = 2,998108 m s–1
me = 9,10910–31 kg
1 eV = 1,60210–19 J

22
Guia de Laboratórios

TRABALHO Nº 2A

SOLUBIDADE E MISCIBILIDADE

OBJECTIVOS

1) Familiarização com compostos químicos e suas propriedades.

2) Relação entre as propriedades mais correntes e a estrutura electrónica, geometria molecular e


características dos grupos funcionais existentes na molécula.

3) Propriedades decorrentes das forças intermoleculares. Miscibilidade e solubilidade.

1. SOLUÇÕES E MISTURAS DE LÍQUIDOS. COMPOSTOS IÓNICOS E


MOLECULARES

Quando dissolvemos uma substância, soluto, separamos as suas moléculas ou iões, que se introduzem
entre as moléculas do solvente. Assim, é do senso comum que uma dissolução só terá lugar quando
o cômputo das energias postas em jogo:

1 - Energia de ligação entre moléculas ou iões de soluto − consumida,


2 - Energia de ligação entre moléculas de solvente − consumida,
3 - Energia de ligação soluto−solvente − libertada,

for favorável à dissolução. Porém, o mecanismo de dissolução difere conforme as características do


composto.

No caso de compostos moleculares, as moléculas de soluto, coesas devido às interacções inter-


moleculares de Keesom, Debye, London e/ou Ligações de Hidrogénio, separam-se no solvente, mas
mantêm a sua individualidade química.

Pelo contrário, os compostos iónicos em solventes polares, como a água, dissociam-se nos seus iões
constituintes. Os iões em solução ficam envolvidos por uma gaiola de solvente, constituída por
dipolos moleculares que estabilizam as cargas eléctricas, como se mostra esquematicamente na
Figura 1 para o solvente água.

23
Química Geral

Figura 1: Solvatação de iões pelos dipolos eléctricos das moléculas de solvente (água).

Estas soluções apresentam características diferentes das de compostos moleculares. Uma solução
iónica pode conduzir corrente eléctrica (pelo menos corrente alterna) enquanto que uma solução
molecular não o faz, a menos que se dê oxidação e redução dos seus componentes no ânodo e no
cátodo, respectivamente. Note-se que os iões podem ser átomos electricamente carregados, mas
também iões moleculares, como por exemplo o ião sulfato, SO42−. Neste caso, a dissolução tem lugar
tal como se apresenta no esquema reaccional seguinte, para o sulfato de sódio:

No caso de compostos iónicos a sua solubilidade deve ser analisada em termos termodinâmicos mais
complexos (ver secção 2, adiante).

Quando se trata de compostos moleculares a sua solubilidade ou miscibilidade deve ser sempre
avaliada através das energias postas em jogo no processo de dissolução (ver início da secção 1). Para
levar à prática esta avaliação é necessário:

1º Desenhar correctamente a estrutura das moléculas em estudo, com especial atenção à geometria
e pares de electrões em orbitais não ligantes, propícios à formação de ligações de hidrogénio.
2º Avaliar os momentos dipolares de forma qualitativa, adicionando vectorialmente os momentos
dipolares parciais das ligações.
3º Avaliar as suas polarizabilidades relativas, usando o número total de electrões como uma
“medida” aproximada do seu volume.
4º Analisar as interacções intermoleculares em jogo entre moléculas de soluto e entre moléculas de
solvente, e a sua energia relativa.
5º Decidir se no processo de mistura se perdeu uma quantidade apreciável de ligações
intermoleculares, ou não. Se sim, provavelmente a solubilidade será diminuta; se não, é
espectável que se dê dissolução (ou mistura, no caso de dois líquidos).

24
Guia de Laboratórios

Vamos exemplificar para os compostos n-hexano, C6H14, e metanol, CH3OH. No quadro abaixo, N
(não) representa ausência de ligação intermolecular do tipo em causa e S (sim) indica que existe; e
será S+ ou S− se contribuir para a coesão molecular, respectivamente, de uma forma importante ou
pouco relevante (nas folhas da cadeira encontrará o suporte teórico para estas análises).

1º Estrutura das moléculas:

HH HH HH
HH
C C C H C O
H C C C
H H
HH HH HH
n-hexano metanol
2º Polaridade:

O n-hexano é apolar (pelo menos na conformação apresentada, a mais estável) e o metanol

claramente polar devido à diferença de electronegatividades entre os seus átomos:  C = 2,55,  H

= 2,20, e  O = 3,44.

HH CO pi
C O
HO
H HC H
3º Polarizabilidade:

O n-hexano tem 50 electrões e o metanol 18 (cerca de 3 vezes menos).

4º Interacções intermoleculares:

Moléculas Keesom Debye London Ligações de hidrogénio


n-hexano N N S+ N
metanol S S− S− S+
n-hexano − metanol N S− S N

5º Conclusão sobre a miscibilidade:

Nas misturas perderam-se as interacções de Keesom e ligações de hidrogénio do metanol e parte


das ligações de London do n-hexano. Provavelmente não serão miscíveis.

Experimentalmente observa-se que são parcialmente miscíveis: qualquer deles se mistura com
cerca de 25% em volume do outro.

25
Química Geral

2. TERMODINÂMICA DA DISSOLUÇÃO MOLECULAR

Na análise da solubilidade efectuada considerámos exclusivamente os aspectos energéticos e


desprezámos os aspectos estatísticos. Qual será o estado mais provável? Aquele em que as moléculas
estão separadas, umas arrumadas num cristal e outras na semi-desarrumação que caracteriza o estado
líquido, ou umas dispersas no meio de outras? É evidente que o número de diferentes posições
relativas possível em solução é muito superior àquele em que as moléculas se encontram em posições
bem definidas num cristal ou semi-desarrumadas num líquido puro.

Embora o senso comum nos diga que qualquer sistema tende obrigatoriamente para uma menor
energia, isto não é totalmente verdade. Na realidade, os sistemas tendem não só para um estado de
menor energia como também para um estado mais provável, isto é, um estado em que possam existir
de mais maneiras diferentes, ou seja, num maior número de configurações. A função termodinâmica
entropia, S, mede o número de configurações possíveis de um sistema.

Na realidade, numa transformação física ou química os sistemas evoluem espontaneamente no sentido


de diminuir a sua energia livre de Gibbs, G (G < 0). A variação desta função termodinâmica numa
transformação tem que ter em conta duas contribuições, a entálpica (ou energética), H, e a
entrópica, S, esta última pesada com a temperatura absoluta, T (já que um sistema a 0 K, em que os
movimentos moleculares estão congelados, não tem nenhuma possibilidade de aproveitar as
diferentes configurações possíveis):

G = H − T S

Numa dissolução a variação de entropia do sistema soluto−solvente é em geral positiva (S > 0), no
caso de sais de metais monopositivos, devido à dispersão das moléculas do soluto no solvente
relativamente aos compostos puros separados. Sendo assim, uma dissolução pode dar-se
espontaneamente (isto é, com G < 0) mesmo que seja com consumo de energia. Portanto,
dissoluções endotérmicas (ou endoentálpicas, H > 0) são frequentes, embora, em princípio, menos
favoráveis do que as exotérmicas (exoentálpicas, H < 0).

Podemos então concluir que uma análise baseada apenas na energia libertada ou consumida numa
dissolução, como a apresentada acima para o n-hexano e o metanol, só nos indica se a contribuição
entálpica (H) é ou não favorável à dissolução, nada nos dizendo se a variação de entropia (S) pode
ou não compensar aquela. É fácil concluir que não há substâncias insolúveis noutras, o que há é
substâncias cuja solubilidade é tão desfavorável do ponto de vista entálpico (energético) que, na
prática, se pode considerar inexistente.

26
Guia de Laboratórios

3. REALIZAÇÃO EXPERIMENTAL

3.1 – Material e reagentes

− 11 tubos de ensaio
− 2 espátulas de cana
− Cloreto de amónio
− Cloreto de cálcio anidro
− Água destilada
− Metanol
− Tolueno
− Soluções mistério: X, Y, Z.

3.2 - Dissoluções endo- e exoentálpicas

Coloque num tubo de ensaio um pouco de cloreto de amónio (NH4Cl) e noutro um pouco de cloreto
de cálcio anidro (CaCl2). Adicione água destilada a cada um deles e agite ligeiramente para ajudar a
dissolver os sais. (Nota: na ausência de agitação a dissolução também se dá −pois é espontânea−, mas
o processo é mais lento.)

Observe qualitativamente a variação de temperatura associada a cada uma das disoluções. Comente
a validade dos raciocínios feitos com base no senso comum e nos conhecimentos de termodinâmica.

3.3 - Miscibilidades

Usando um conjunto de 9 tubos de ensaio e os solventes água, metanol e tolueno, teste as


miscibilidades dos compostos desconhecidos, X, Y e Z. Anote o resultado na Tabela:

Tabela de miscibilidades

Composto 1 / Composto 2 X Y Z
Água
Metanol
Tolueno

Sabendo que os 3 compostos desconhecidos são o n-hexano (C6H14), o éter dietílico


(CH3CH2OCH2CH3) e o etilenoglicol ou 1,2-etanodiol (CH2(OH)CH2OH), identifique X, Y e Z.

27
Química Geral

EXERCÍCIOS

1. Explique a dissolução dos metais em mercúrio (soluções usualmente denominadas amálgamas).

2. Desenhe uma molécula de metanol tendo em conta a sua estrutura e geometria. Em torno desta
coloque outras moléculas de metanol formando todas as possíveis ligações de hidrogénio
metanol−metanol.

3. Analise a miscibilidade do acetonitrilo, CH3CN, em água. Note que esta é uma das inúmeras
excepções à regra “semelhante dissolve semelhante”. Explique por que razão esta regra não é
observada neste caso.

4. As soluções de sais iónicos são condutoras de corrente alternada, mas quando a diferença de
potencial é pequena não conduzem corrente contínua senão durante um breve período inicial.
Explique porquê.

28
Guia de Laboratórios

TRABALHO Nº 2B

DETERMINAÇÃO DA VISCOSIDADE DE LÍQUIDOS

OBJECTIVO

Determinar a viscosidade de líquidos e relacioná-la com a sua estrutura molecular.

1. DEFINIÇÃO

A viscosidade dinâmica, habitualmente designada por viscosidade absoluta ou apenas por


viscosidade, , é definida como a resistência de um fluido ao seu escoamento.

Considere-se o líquido contido entre duas placas paralelas, cada uma com uma área A. Mantendo a
placa inferior fixa, aplica-se uma força, F, à placa superior.
Devido à viscosidade, o líquido que se encontra junto da
placa inferior fica parado, enquanto que as camadas de
líquido superiores vão aquirindo velocidades tanto maiores
quanto mais afastadas estiverem da placa inferior parada.
Assim, cria-se um gradiente de velocidades que,
simplificadamente, é dado pela razão entre a diferença de velocidades entre as camadas de líquido
junto de cada uma das placas, v, que corresponde à velocidade adquirida pela placa
superior, v, e a separação entre essas placas, L. A relação entre este gradiente de
velocidades e a força aplicada à placa superior é dada por:

(F/A) =  (v/L)

A viscosidade, , tem unidades Pa.s ou Poise, P, sendo 1 P = 1 g.cm−1.s−1 = 0,1 Pa.s.


É habitual usar-se a unidade centipoise, cP. Para determinar  existem vários tipos de
viscosímetros. Neste trabalho usa-se o viscosímetro de Ubbelohde, no qual se
determina o tempo de escoamento de um líquido através de um capilar.

29
Química Geral

A partir do tempo de escoamento t (s), pode obter-se a viscosidade cinemática, , como sendo  =
k.t, em que k é uma constante de calibração do viscosímetro. No caso dos viscosímetros usados na
aula, obtém-se  em centistokes, cSt (1 cSt = 10−6 m2.s−1). Pode então obter-se a viscosidade absoluta
do líquido, , fazendo

 = 

em que  é massa volúmica do líquido. Se as unidades de  forem g.cm−3, obtém-se  em centipoise.

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Seguindo as instruções, proceda ao enchimento do viscosímetro que contém o líquido indicado na


montagem e determine o tempo de escoamento através do capilar.

Usando a constante de calibração desse viscosímetro, determine a viscosidade cinemática  e, a partir


desta, usando a massa volúmica do líquido, determine a viscosidade .

Nesta aula, tem dois viscosímetros: um contendo etilenoglicol ou 1,2-etanodiol (CH2(OH)CH2OH,


 = 1,11 g cm−3) e outro com glicerol (CH2(OH)CH2(OH)CH2OH,  = 1,26 g cm−3).

Discuta os valores obtidos para as viscosidades de cada um dos líquidos em termos das respectivas
estruturas moleculares e das forças intermoleculares existentes em cada um deles.

30
Guia de Laboratórios

TRABALHO Nº 2C

SÍNTESE DE UM COMPOSTO COVALENTE


ÁCIDO ACETILSALICÍLICO1

OBJECTIVO

Síntese do ácido acetilsalicílico através de uma reacção de esterificação de um anidrido.

ATENÇÃO: É OBRIGATÓRIA A UTILIZAÇÃO DE ÓCULOS DE PROTEÇÃO!

1. INTRODUÇÃO

Os efeitos medicinais do extracto do salgueiro são conhecidos desde a antiguidade. Hipócrates usava
esta preparação para aliviar as dores e reduzir a febre. No início do século XIX os químicos
descobriram que o princípio ativo desses extratos era o ácido salicílico, o qual se verificou ser um
bom analgésico, antipirético e anti-inflamatório, mas que provocava graves irritações
gastrointestinais. Atualmente o ácido salicílico, como um medicamento, é utilizado para ajudar a
remover a camada externa da pele, sendo aplicado diretamente na área afectada. Como tal, é usado
para tratar verrugas, calos, psoríase, caspa, acne, micose, e ictiose. Para algumas condições de
verrugas muitas vezes é usado juntamente com outros medicamentos.

Figura 1 – Ácido salicílico.

Em 1897 o químico alemão Hoffman, ao serviço da Bayer, descobriu que uma simples modificação
do ácido salicílico conduzia a uma composto que não só atuava mais eficazmente como tinha efeitos
secundários muito mais reduzidos. Esse composto é o ácido acetilsalicílico, e neste trabalho é obtido
através da esterificação entre o anidrido acético e o ácido salicílico, catalisada pelo ácido sulfúrico.
A Bayer comercializou este composto com o nome comercial Aspirina.

31
Química Geral

Ácido salicílico Anidrido acético Ácido acetilsalicílico Ácido acético

Figura 2 – Reação de síntese do ácido acetilsalicílico.

Foi posteriormente verificado que a Aspirina reduz o risco de ataque cardíaco em pacientes com
problema cardiovasculares. A ação da Aspirina está relacionada com a inibição da produção de
prostaglandinas2. Estes compostos são responsáveis por várias reacções como febre, dor e inflamação,
as quais são avisos de que algo não funciona bem no nosso organismo.

A Aspirina tem dois grupos funcionais ligados ao anel aromático: um grupo éster e um grupo ácido
carboxílico. A Aspirina tem propriedades ácidas (pKa = 3.49), é pouco solúvel (2-4 mg/ml) em
soluções neutras aquosas, mas dissolve-se totalmente em soluções básicas.

Figura 3 – Ácido acetilsalicílico (grupos funcionais).

2. MATERIAL E REAGENTES

Material:
Balão de 250 mL de 3 tubuladuras
Condensador de refluxo
Termómetro
Proveta 10 mL
Proveta 50 mL
Pipeta 1 mL

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Guia de Laboratórios

Kitasato
Funil de Büchner

Reagentes:
Ácido salicílico
Anidrido acético
Ácido sulfúrico

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL1,2,3

1 - Coloque os óculos de proteção.

2 - Dentro de uma câmara de exaustão (vulgarmente designada por hotte) faça uma montagem
colocando o balão de três tubuladuras sobre uma placa de agitação e aquecimento. Prenda o balão
com uma pinça pelo esmerilado da tubuladura central; caso pense ser necessário utilize outra pinça
para apoiar o condensador de refluxo (ATENÇÃO: apenas apoiar, não apertar).

Coloque no balão uma barra de agitação magnética, um termómetro numa das tubuladuras laterais e
um condensador de refluxo na tubuladura central. Todas as ligações efectuadas através de esmerilados
devem ser previamente lubrificadas com gordura adequada (grease). Antes de colocar o condensador
de refluxo deve ligar os tubos de circulação de água (o tubo ligado à parte inferior deve ser ligado à
torneira e o tubo ligado à parte superior deve ser colocado na pia da bancada).

1- Balão de 3 tubuladuras
2- Termómetro
3- Condensador de refluxo
4- Rolha
5- Banho de água
6- Placa de agitação e aquecimento
7- Barra de agitação

– Montagem reaccional.

33
Química Geral

(ATENÇÃO: NÃO TAPAR COM UMA ROLHA O TOPO DO CONDENSADOR!!!).

3 - Pese aproximadamente 5 g de ácido salicílico numa balança técnica (marcando previamente a tara
na balança com o copo no interior do qual vai efectuar a pesagem). O peso final não necessita de ser
rigorosamente 5 g, mas deve ser um valor próximo. Deve anotar o valor. Coloque-os no balão
utilizando um funil para sólidos.

4 –Adicione 10 mL de anidrido acético (10 mL) medidos numa proveta: não deixe o anidrido acético
entrar em contacto com a pele ou os vapores entrarem em contacto com os olhos. Ligue a agitação
magnética (CUIDADO PARA NÃO LIGAR O AQUECIMENTO!). Ligue a circulação de água no
condensador de refluxo.

5 – Meça com uma pipeta 1 mL de H2SO4 concentrado (não deixe o ácido entrar em contacto com a
pele ou os vapores entrarem em contacto com os olhos) e adicione lentamente gota a gota à mistura
reacional. Tape a terceira tubuladura com uma rolha de vidro (ATENÇÃO: NÃO TAPAR O TOPO
DO CONDENSADOR!!!). Ao adicionar o ácido a mistura reacional deixa de ser uma suspensão e
passa a solução transparente. Embora não se efetue a medição, poder-se-ia verificar que a temperatura
aumenta inicialmente e depois diminui, à medida que se vai formando o ácido acetilsalicílico.

6 - Aqueça a 50-60 ºC em banho-maria (banho de água) durante 10 minutos.

7– Coloque um frasco de vidro com água destilada a arrefecer num banho de gelo.

8 - Desligue o aquecimento e retire cuidadosamente o balão do banho de água (está quente) e deixe-
o arrefecer durante 3 minutos.

9 - Adicione lentamente água destilada arrefecida previamente num banho de gelo (50 mL) à mistura
reaccional para facilitar a decomposição do excesso de anidrido acético (anidrido acético + água =
ácido acético) e agite o balão para misturar os componentes.

10 - Coloque o balão num banho de gelo até à precipitação completa do produto (aproximadamente
15 minutos; se não observar cristais pode raspar as paredes interiores do balão com uma vareta de
vidro para induzir a precipitação). Retire o condensador e o termómetro. Limpe os esmerilados da
gordura (grease) utilizada na montagem.

11 - Recolha o produto sólido usando um funil de Büchner e um papel de filtro. Certifique-se que o
papel de filtro está bem colocado adicionando inicialmente uma pequena quantidade de água) (Figura
5)4. Ligue o dispositivo gerador de vácuo.

12 - Lave o balão duas vezes com 3 mL de água arrefecida para remover cristais residuais,
filtrando-os.

34
Guia de Laboratórios

13 - Deixe o vácuo ligado durante alguns minutos para secar o produto através da circulação de ar.
14 - Coloque o filtrado (líquido) no contentor de resíduos.

15 - Seque os cristais de ácido acetilsalicílico entre 2 papéis de filtro.

16 – Faça uma primeira pesagem dos cristais numa balança técnica (pese inicialmente o frasco e tome
nota do peso até à semana seguinte; deverá obter um valor de peso de produto superior ao real, uma
vez que os cristais ainda se encontram com solvente; caso o peso do solvente seja significativo poderá
obter um rendimento “superior” a 100%).

17 - Guarde os cristais num excicador, dentro de um frasco devidamente identificado com os números
dos alunos do grupo.

18 – Pese os cristais na semana seguinte numa balança técnica e calcule o rendimento real.

Figura 5 – Filtração em vácuo.

4. CÁLCULO DO RENDIMENTO DA REACÇÃO

Expressão para calcular o rendimento de uma reacção geral do tipo

aA + bB + cL → dP

em que A e B são reagentes, L é o reagente limitante e P é o Produto; a, b, c e d são os respectivos


coeficientes estequiométricos.

35
Química Geral

O número de moles de P teórico seria o correspondente a um rendimento de 100% e seria dado por

O reagente limitante é aquele que apresenta no início da reacção um menor valor para a relação
nº de moles/coeficiente estequiométrico, ou seja, para esta reacção geral

BIBLIOGRAFIA

1 – C. A. M. Afonso, D. P. Simão, L. P. Ferreira, M. A. S. Serra, M. M. M. Raposo, 100 Experiências


de Química Orgânica, IST Press, Lisboa, pp. 287-289, 2011.

2 – L. F. Fieser, K. L. Williamson, Organic Experiments, Houghton Mifflin Company, 8ª ed., pp.


392-396, 1988.

3 – Chemistry 104: Synthesis of Aspirin, http://www.chem.latech.edu/~deddy/chem104/ 104Aspirin


(consultado em 15/06/2021).

4 – Organic Chemistry at CU Boulder, Filtration, https://orgchemboulder.com/Technique/

Procedures/Filtration/Filtration.shtml (consultado em 15/06/2021).

36
Guia de Laboratórios

TRABALHO Nº 3A

PH DE ÁGUAS NATURAIS
ACIDEZ (PH) POR MEDIDA ELECTROMÉTRICA

OBJECTIVOS

1. Familiarizar os alunos com o pH e o método corrente de determinação.


2. Constituição das águas naturais (CO2, H3O+, O2, etc.).
3. Capacidade de raciocínios elementares sobre equilíbrio químico.

1. INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais resultantes da contaminação das águas naturais estão relacionados com o
seu teor em determinados compostos químicos, quer porque estes compostos representam uma
agressão ambiental por si próprios (são poluentes), quer porque a sua concentração numa água nos
indica qual o seu estado de "saúde".

No primeiro caso estão os excessos de concentração de H3O+ (chuvas ácidas), catiões de metais

pesados como mercúrio(II), cádmio(II) e chumbo(II), aniões fosfato (PO4)3−, nitrato (NO3)− e sulfato

(SO4)2− e ainda poluentes orgânicos (hidrocarbonetos, hidrocarbonetos clorados e pesticidas de

composição muito variada).

A concentração de oxigénio molecular (O2) na água é um dos parâmetros mais importantes na


avaliação da capacidade que esta tem de suportar contaminações de substâncias biodegradáveis. É
portanto um dos melhores indicativos da "saúde" de uma água. O oxigénio em concentrações
inferiores a 5 mg L−1 ( 3×10−4 M) não permite a manutenção de uma comunidade de organismos
aeróbios capazes de limpar uma água por processos bioquímicos. Este facto é tanto mais importante
quanto muitas classes de compostos que poluem as águas, provenientes da indústria química e da
agro-indústria, são fortemente tóxicos e quimicamente muito estáveis, sendo só degradáveis por via
biótica (por ex., os pesticidas da classe das triazinas).

37
Química Geral

2. ACIDEZ DE ÁGUAS NATURAIS

A ionização da água pura (neutra) traduz-se pelo equilíbrio:

2 H2O (l) H3O+ (aq) + OH− (aq) (1a)

A constante de equilíbrio da ionização da água, KW 3 (também conhecida por produto iónico da água)
pode ser escrita como:
KW = [H3O+] [OH−] (1b)

tendo, a 25 oC, o valor de 1,0×10−14.

3
Nota sobre a lei da acção das massas e sobre a escrita de constantes de equilíbrio:

Na realidade, o produto iónico da água dever-se-ia escrever, tal como se deduz da termodinâmica, como
(H3O+ )(OH- )
KW = , onde os parênteses curvos indicam actividades e não concentrações.
(H 2O)2

Como se explica, então, que a equação 1b (KW = [H3O+]×[ OH−]) também esteja correcta? Ou seja, porque é

que substituímos (H2O) por 1, em vez da concentração de H2O na água pura, que é de 1000 g L−1 / 18 g mol−1

= 55,6 mol L−1, e as actividades dos iões, (H3O+) e (OH−), pelas suas “concentrações” adimensionais,

respectivamente, [H3O+]/1M e [OH−]/1M?

A actividade é um conceito fácil de compreender. Uma substância duplica a sua actividade quando duplica a
sua probabilidade de reacção; logo, se a concentração de iões OH− na água duplicar, a probabilidade de eles
reagirem com iões H3O+ (de concentração supostamente constante) também duplica. De facto, o equilíbrio
depende da possibilidade de reacção, e não necessariamente da concentração. Para soluções diluídas a
actividade é proporcional à concentração. Porém, quando se trata de um sólido ou de uma substância muito
concentrada, isto não se verifica. Por exemplo, se o solvente for água, cuja concentração é de 55,6 M, a
probabilidade de reacção de uma molécula de H2O com qualquer outra molécula dissolvida (soluto) não é
significativamente afectada se a concentração da água for reduzida para metade. De facto, o soluto estará
sempre em contacto directo com muitas moléculas de H2O, logo, a actividade da água deixa de ser proporcional
à sua concentração, e a constante de equilíbrio deverá reflectir este facto.

Em Termodinâmica, usam-se algumas convenções para definir o valor da actividade de uma substância
química: i) a actividade de uma substância em solução é unitária para uma concentração 1 M (concentração
padrão); e ii) a actividade de um sólido, líquido puro, ou solvente é unitária.
[H3O + ] -
 [OH ]
Assim, KW = 1M 1M = [H O + ] [OH - ] (“concentrações” adimensionais), sendo portanto
3
(H 2O) 2 = 1

adimensional, tal como qualquer constante de equilíbrio.

38
Guia de Laboratórios

Logo, em água pura e a 25 ºC, [H3O+] = [OH−] = 1,0×10−7 M.

 1 
A acidez é usualmente medida em unidades de pH = log10  +  . Assim, a 25 ºC, a água neutra
 [H3O ] 
tem pH = 7,0. (Nota: a expressão pH provém das iniciais de potencial do ião Hidrogénio. Esta
notação é usada frequentemente em química: por ex., pKa é o log10 (1/Ka) em que Ka representa uma
constante de acidez.

Na realidade a água da chuva, mesmo na ausência de poluição, contém O2, N2 e CO2 dissolvidos. O
CO2 dissolvido reage com a água para dar ácido carbónico, H2CO3:

CO2 (aq) + H2O (l) H2CO3 (aq), com K = 10−2,8 = 1,6×10−3 (2a;b)

O ácido carbónico é um diácido com constantes de acidez:


+
H2CO3 (aq) HCO3− (aq) + H (aq), com Ka1 = 10−3,5 = 3,2×10−4 (3a;b)
+
HCO3− (aq) CO32− (aq) + H (aq), com Ka2 = 10−10,3 = 5,0×10−11 (4a;b)

Como consequência dos equilíbrios 2a, 3a e 4a, por volta de pH = 7 as espécies CO2, H2CO3 (ácido
carbónico) e HCO3− (bicarbonato) coexistem; o CO32− porventura existente passa a HCO3− devido à
baixa constante de equilíbrio da reacção 4a. Assim, o CO2 dissolvido é responsável pela acidez
natural da água da chuva. Quando o CO2 se liberta, a água torna-se menos ácida.

As águas recolhidas em reservatórios naturais do nosso País contactam terrenos de origem siliciosa
ou calcária.

No primeiro caso (terrenos graníticos do Norte de Portugal) podem dar-se diversas trocas iónicas,
mas não nos ocuparemos aqui desses casos. Em geral o pH destas águas é dominado pela presença
de CO2 e têm uma acidez semelhante à que se encontra na água da chuva recolhida directamente.
Diversas águas de mesa provenientes de zonas montanhosas do Norte de Portugal (Luso, Fastio,
Caramulo, Serra da Estrela) pertencem a esta classe.

Quando a água contacta terrenos calcários, o carbonato de cálcio (calcário) dissolve-se na água:

CaCO3 (s) CO32− (aq) + Ca2+ (aq) Ks = 4,96×10−9 (5a;b)

Em consequência, a concentração do ião carbonato (CO32−) aumenta, mas, devido à muito baixa
constante de acidez 4b, este ião reage com o H+ existente, provocando o aumento do pH do meio e
enriquecendo-o em ião bicarbonato; ou seja, dá-se a reacção 4a em sentido inverso. Em consequência
do aumento da concentração do ião bicarbonato, a reacção 3a prossegue também em sentido inverso,

39
Química Geral

aumentando ainda mais o pH do meio. Estas águas (Monchique, por exemplo) apresentam pH muitas
vezes básico e são usualmente provenientes do Sul ou do Centro de Portugal.

3. METODOLOGIA EXPERIMENTAL. DETERMINAÇÃO DO pH

O método dos indicadores corados para determinação do pH de uma água natural está actualmente
caído em desuso. Usam-se "aparelhos de pH" que não são mais que milivoltímetros ligados a uma
pilha cujo potencial depende da concentração de H+. Em seguida esquematiza-se a pilha usada:

Hg (s) | Hg+ (aq, saturado) || H+ (aq, concentração a determinar) | H2 (g) | Pt (s)

O eléctrodo Hg+/Hg, denominado eléctrodo de calomelanos, é usado como referência. O seu


potencial de redução padrão é de +0,2412 V a 25 ºC. O potencial do eléctrodo de hidrogénio:

H+ (aq) + e− 1/2 H2 (g, 1 atm) (6a)

é proporcional à concentração de H+ tal como prevê a equação de Nernst:

0, 0591(a 25ºC) pH 2
E = EH0 + − log10 = −59,1 mV  pH (6b)
H2
n(= 1) [H + ]

Na prática é utilizado um "eléctrodo de vidro", em vez do eléctrodo de hidrogénio. Trata-se de uma


membrana de vidro, na qual se dá a redução do H+ e que dispensa o uso de H2 gasoso. O seu
funcionamento é complexo e está fora do âmbito deste curso.

Denomina-se "eléctrodo combinado" um dispositivo que contém numa só peça o eléctrodo de


calomelanos e o eléctrodo de vidro.

4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

4.1 – Material e reagentes

− 4 copos de 100 mL
− 1 copo de 400 mL
− placa de aquecimento e agitação
− barra de agitação
− aparelho de pH, eléctrodo combinado, e soluções tampão
− águas minerais do Luso, Monchique (ou Vimeiro) e Pedras gaseificada.

40
Guia de Laboratórios

4.2. Execução laboratorial

1) Calibre o aparelho de pH com as soluções tampão (“buffers”) de pH = 7,0 e pH = 4,0, seguindo


criteriosamente as instruções dadas junto do aparelho.

2) Meça o pH de uma água proveniente de terrenos graníticos (por ex., água do Luso) e o de uma
água de zonas calcárias (por ex., água de Monchique). Registe a composição indicada nos rótulos
das garrafas e tente interpretar os resultados.

3) Faça passar a água do Luso por uma coluna contendo calcário (CaCO3). Meça o pH à saída da
coluna. Interprete a variação observada.

4) Meça o pH de uma água gasosa (por ex., água das Pedras). Interprete o valor obtido, comparando
com a composição indicada no rótulo. Atenção: não deixe o eléctrodo combinado muito tempo
dentro da água gasosa para evitar a difusão do CO2 para o interior do eléctrodo.

5) Aqueça a água das Pedras num copo com agitação intensa. Deixe arrefecer até próximo da
temperatura ambiente, num banho de água (ou água e gelo) e meça o pH. Explique a variação
observada. Qual a origem e composição do precipitado que (por vezes) se forma?

EXERCÍCIOS

1. Explique, com base nos equilíbrios indicados, por que razão a dissolução de calcário em água lhe
reduz a acidez.

2. Calcule o pH de uma água pura na qual se dissolveu 10−2 mol L−1 de CO2.

3. a) Escreva as reacções que descrevem a dissolução do anidrido sulfúrico, SO3, em água, sabendo
que são análogas às que representam a dissolução do anidrido carbónico, CO2, em água.

b) O anidrido sulfúrico é o principal responsável pela formação de “chuvas ácidas”. Interprete este
facto calculando o pH de uma água em que se dissolveu 10−2 mol L−1 de SO3, e compare com o
resultado obtido no exercício 2. Dados: pKa1 (H2SO4) = -3; pKa2 (H2SO4) = 1,98; constante de
equilíbrio da reacção do SO3 com a água = 210−2.

41
Química Geral

42
Guia de Laboratórios

TRABALHO 3B

DETERMINAÇÃO DA ACIDEZ DE UM VINAGRE

OBJECTIVO

Determinação da concentração em ácido acético num vinagre comercial.

1. INTRODUÇÃO

Uma das reacções mais importantes em Química é a que envolve um ácido e uma base, de acordo
com o esquema geral:

Neste trabalho vamos utilizar uma base forte, o hidróxido de sódio (NaOH), para determinar a
concentração de ácido acético (CH3COOH) numa solução aquosa (vinagre), de acordo com o
esquema:

O O
H3C C + NaOH H3C C + Na+ + H2O
OH O-

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

2.1. Material e reagentes

- 4 erlenmeyers de 150 mL

- proveta de 25 mL

- bureta de 50 mL

- balão volumétrico de 250 mL

- pipetas de 10 mL e 25 mL

- pompete

43
Química Geral

- vareta de vidro

- fenolftaleína 0,1%

- NaOH 0,05 M

- vinagre comercial

2.2. Técnica

1) Lave a bureta e encha-a com a solução de NaOH 0,05 M já preparada, existente no laboratório.

2) Dilua de 1:10 o vinagre fornecido, preparando uma solução num balão de 250 mL.

3) Pipete rigorosamente 10 mL da solução diluída de vinagre para um Erlenmeyer. Adicione 25 mL


de água destilada e 2 a 4 gotas do indicador ácido−base fenolftaleína.

4) Titule a solução de vinagre com NaOH até atingir o ponto final de titulação. Tome nota do volume
V utilizado.

5) Repita os pontos 3 e 4 até obter dois resultados concordantes (V ≤ 0,1 cm3).

3. TRATAMENTO DOS RESULTADOS

1 – Calcule a concentração do ácido acético na amostra fornecida. Apresente os cálculos.

2 – Determine a percentagem em massa de ácido acético no vinagre (use o valor de 1,01 g cm−3 para
a densidade do vinagre). Apresente os cálculos.

3 – Explique como actua um indicador ácido−base.

BIBLIOGRAFIA

1 – D. A. Skoog, D. M. West, F. J. Holler, Fundamentals of Analytical Chemistry, 6th ed.; Saunders


College Publishing: Fort Worth, 1992.

2 – J. J. Lagowski e S. E. Webben, Laboratory Experiments in Chemistry, 1977.

3 – A. J. L. Pombeiro, Técnicas e Operações Unitárias em Química Laboratorial, Fundação Calouste


Gulbenkian, Ed., Lisboa, 1983.

4 – A. Vogel, Textbook of Quantitative Inorganic Analysis, 4th Ed., Addison-Wesley Pub Co, 1978.

44
Guia de Laboratórios

TRABALHO Nº 3C

CINÉTICA DA REACÇÃO DE HIDRÓLISE BÁSICA


DO VIOLETA DE CRISTAL

OBJECTIVO

Monitorização da cinética da reacção entre o violeta de cristal e o ião hidroxilo, por espectrometria
de absorção molecular no visível a temperatura controlada (T= 35ºC).

1. INTRODUÇÃO

O violeta de cristal (VC), C25H30N3Cl, é um composto iónico, que em solução aquosa se dissocia em
C25H30N3+ e Cl−. O catião C25H30N3+ é responsável pela tonalidade violeta da solução. Em presença
de ião OH− (proveniente de NaOH, no presente trabalho) o C25H30N3+ é hidrolisado de acordo com a
reacção 1, gerando-se um composto com uma ligação C−OH (um carbinol), onde o C apresenta uma
hibridação sp3, que é incolor.

(1)

Violeta de cristal, VC (violeta) Carbinol (incolor)

A evolução da reacção é acompanhada por uma descoloração gradual da solução, visto que se vai
consumindo um reagente corado e produzindo um produto de reação incolor. Esta característica
permite utilizar a espectrometria de absorção molecular, no visível, para monitorizar a cinética da
reacção.

O estudo cinético de uma reacção tem, em geral, dois aspectos particularmente importantes. O
primeiro é estabelecer a equação matemática que descreve a forma como a velocidade da reacção é
influenciada pelas concentrações dos reagentes (ou dos produtos). O segundo consiste em analisar o
efeito de factores como temperatura, pressão, tipo de solvente, etc., sobre a velocidade da reacção.

45
Química Geral

No presente trabalho ir-se-á apenas monitorizar a concentração de violeta de cristal no decurso da


reacção (mantida a temperatura constante) e confirmar a equação cinética (eq. 6) descrita abaixo.

A variação da velocidade de uma reacção com as concentrações das espécies nela envolvidas é
designada equação cinética ou equação de velocidade. Esta exprime-se geralmente em termos da
taxa de consumo de um dado reagente, ou de aparecimento de um produto, por unidade de tempo.
Seja, por exemplo, a reacção genérica:

aA + bB → xX + yY (2)

onde A e B representam reagentes, X e Y denotam produtos, e a, b, x e y são os respectivos


coeficientes estequeométricos. A velocidade da reacção, expressa em termos da velocidade de
consumo do reagente A por unidade de tempo, obedece frequentemente a uma equação do tipo:

1 dA
= k A B
 
v=− (3)
a dt

Na equação 3, k é a constante de velocidade da reacção e  e  são as ordens parciais da reacção


relativamente aos reagentes A e B. A ordem global da reacção, n, é dada por n =  + . Se a reacção
for elementar (isto é, se se der num único passo), os expoentes  e  são iguais aos coeficientes
estequiométricos a e b, respectivamente, e a ordem global da reacção é igual à sua molecularidade.

Existem vários métodos para determinar a ordem e a constante de velocidade de uma reacção. Todos
eles se baseiam na análise da variação da concentração de um reagente ou produto em função do
tempo, determinada experimentalmente.

Trabalhando com concentrações de violeta de cristal suficientemente baixas para que seja válida a lei
de Lambert−Beer, e numa zona do espectro visível em que apenas este composto absorva radiação
(neste caso,  = 590 nm), tem-se, em cada instante:

VC  = A
(4)
l

sendo A a absorvância da solução,  a absortividade molar e l o percurso óptico (ou espessura interior
da célula que contém a solução), que neste caso é de 1,0 cm. O valor de  é determinado medindo a
absorvância de soluções de violeta de cristal de concentração conhecida.

Verifica-se que a reacção 1, de hidrólise do violeta de cristal, é de primeira ordem em relação a este
reagente. Nas condições experimentais usadas, em que a concentração de OH− é muito superior à
concentração de VC, podemos considerar que a concentração de OH− se mantém aproximadamente
constante ao longo da reacção. Nestas condições, podemos escrever:

46
Guia de Laboratórios

dVC
v=− = k VC OH −  kap VC (5)
dt

em que kap = k×[OH−]0 se designa constante de velocidade aparente. Integrando a eq. 5 (entre t = 0 e
t), obtém-se:

[VC] = [VC]0 × exp(−kap×t) equivalente a: ln([VC]) = ln([VC]0) − kap×t (6a;b)

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL E ANÁLISE DOS RESULTADOS

2.1. Aparelhagem e Preparação de Soluções

A Figura 1 esquematiza a montagem utilizada no presente trabalho. O sistema possibilita o estudo


simultâneo até quatro reacções, com diferentes concentrações de reagentes, à mesma temperatura. As
reacções são realizadas em vasos de parede dupla onde circula água a temperatura constante oriunda
do banho termostatizado. As soluções são mantidas em agitação pelo conjunto agitadores
magnéticos/placa de agitação.
Controlador de temperatura

Banho termostatizado Água termostatizada em circulação

Vaso reaccional

Placa de agitação

Figura 1: Esquema da montagem utilizada no estudo cinético da hidrólise básica do violeta de cristal. Para
simplificação do esquema, apenas se encontram representados dois vasos reaccionais.

No início da aula, o controlador de temperatura do banho termostático deve ser regulado para 35 ºC
e ligado de modo a que se inicie a circulação de água através dos vasos reaccionais.

As soluções A e B encontram-se disponíveis no laboratório:

A – Violeta de cristal (VC): 15 mg.dm−3;


B – NaOH: 0,1 M (com NaCl 0,5 M). (Nota: o NaCl serve para manter constante a força iónica
do meio reaccional; considera-se que se trata de um inerte, isto é, que não participa na reacção.)
A partir delas, prepare rigorosamente em balões volumétricos as soluções C e D:
C – Pipete 10 mL (Grupos I e II) ou 8 mL (Grupos III e IV) da solução A para um balão
volumétrico de 50 mL e perfaça o volume com água destilada.
47
Química Geral

D – Pipete 1,5 mL da solução B para um balão volumétrico de 50 mL e perfaça o volume com


água destilada.

2.2. Verificação da validade da lei de Lambert−Beer

Com o espectrofotómetro Spectronic 20 meça a transmitância (ao valor de  = 590 nm) das 3
soluções de violeta de cristal que já se encontram preparadas no laboratório, de concentrações típicas:
7,35×10−7 M, 2,21×10−6 M e 3,68×10−6 M (confirme as concentrações nos rótulos dos frascos).

2.3. Monitorização da Cinética da Reacção entre o VC e o Ião Hidroxilo

Despeje todo o conteúdo do balão contendo a solução C (VC) para um vaso reaccional. Mergulhe o
balão contendo a solução D (NaOH) no banho termostatizado. Espere até que as soluções C e D
atinjam a temperatura de trabalho (35 ºC), controlando a evolução desta com um termómetro.

Adicione rapidamente a totalidade da solução D (50 mL) à solução C, contida no vaso reaccional, e
inicie imediatamente a contagem do tempo.

Retire cerca de 3 mL de amostra da mistura reaccional cerca de 2,0 minutos após o início da reacção,
coloque-a no tubo de medida e leia, no Spectronic 20, o valor da transmitância (para  = 590 nm).
Registe o tempo real em que fez a leitura. Após a medição descarte o conteúdo do tubo para o copo
de resíduos. Repita o mesmo procedimento em intervalos de cerca de 2,0 minutos até à obtenção de
10 valores (tempo, transmitância).

2.4. Determinação da Absortividade Molar 

Construa uma tabela com os resultados das medidas de absorvância (converta a transmitância em
absorvância) em função da concentração molar de violeta de cristal para as 3 soluções acima
indicadas. Represente graficamente a absorvância em função de [VC] e inclua o ponto (0,0) na recta
de ajuste aos pontos experimentais (regressão linear). Determine a absortividade molar, , referindo
as suas unidades. Utilize a equação 4, com l = 1,0 cm.

2.5. Análise da Cinética da Reacção entre o VC e o Ião Hidroxilo

1) Resuma numa tabela os resultados das medidas de absorvância A (proporcional a [VC]) em função
do tempo t (preferencialmente convertido a segundos) para a reacção C+D estudada.

2) Represente graficamente ln(A) em função de t. O gráfico deve conter os pontos experimentais e a


recta de regressão correspondente. Conclua se a equação 6b é obedecida, ou seja, se a cinética da
reacção em estudo é de primeira ordem.

48
Guia de Laboratórios

3) Determine a constante de velocidade aparente, kap, a partir da recta de regressão linear, explicitando
as suas unidades.

4) Recorrendo à concentração inicial de ião hidroxilo, [OH−]0, determine a constante de velocidade,


k, explicitando as suas unidades.

49
Química Geral

50
Guia de Laboratórios

TRABALHO Nº 4A

INTRODUÇÃO À OXIDAÇÃO−REDUÇÃO

OBJECTIVOS

1. Observação de reacções redox entre metais e iões metálicos.


2. Utilização de algumas das reacções anteriores na construção de células galvânicas.

1. INTRODUÇÃO

1.1. Reacções Redox

As reacções de oxidação-redução (reacções redox) são um dos tipos de reacções químicas mais
importantes, englobando processos tão diversos como a combustão da gasolina, a produção de
electricidade em pilhas, a corrosão dos materiais, ou o metabolismo alimentar; um dos seus principais
interesses industriais reside na obtenção de metais a partir dos minerais.

Enquanto que nas reacções ácido-base há permuta de protões entre as espécies intervenientes, nas
reacções redox ocorre transferência de electrões entre os reagentes. Quando uma substância é oxidada
perde electrões e quando é reduzida ganha-os.

Por exemplo, se colocarmos uma chapa de zinco dentro de uma solução


contendo iões Cu2+, Figura 1, verificamos que se forma um depósito de
cobre metálico na superfície do zinco, enquanto que a solução azul de Cu2+
se vai descorando.

Estas alterações são devidas à seguinte reacção redox: Figura 1: Deposição de


cobre numa chapa de
Zn0 (s) + Cu2+ (aq) → Zn2+ (aq) + Cu0 (s) (1) zinco.

Nesta reacção o zinco é o redutor, oxidando-se a Zn2+ e fornecendo electrões, e o Cu2+ é o oxidante,
aceitando electrões e reduzindo-se a cobre metálico.

Zn0 (s) → Zn2+ (aq) + 2 e− (2)

Cu2+ (aq) + 2 e− → Cu0 (s) (3)

51
Química Geral

1.2. Potenciais normais de redução

A tendência que uma espécie tem em reduzir-se, aceitando electrões, pode ser visualizada através do
valor do seu potencial normal de redução, E0. Por definição, o potencial normal de uma reacção é o
potencial correspondente à reacção quando a actividade de todas as espécies envolvidas for unitária,
ou seja, quando a concentração de todas as espécies em solução for 1 mol L−1 e a pressão de todas as
espécies gasosas for 1 atm.

O potencial normal de redução, Eº, de uma espécie está relacionado com a variação da energia livre
de Gibbs para essa reacção, G0, através da expressão:

G0 = −nFE0 (4)


sendo n o número de electrões envolvidos na reacção e F a constante de Faraday (96485 C mol−1). F
representa a carga por mole de electrões, isto é, o produto da carga do electrão (1,602210−19 C) pelo
número de Avogadro (6,02211023 mol−1). A eq. 4 mostra que, quanto mais positivo for um potencial
normal, maior será a tendência para que ocorra a reacção de redução.

O valor zero da escala de potenciais normais foi atribuído à reacção de redução do hidrogénio:
2 H+ (aq) + 2 e− → H2 (g); com E0 = 0 (5a;b)

A Tabela 1 permite prever a evolução de reacções redox: no caso apresentado da chapa de zinco numa
solução de Cu2+, uma vez que o potencial de redução do Cu (+0,34 V) é maior que o do zinco (−0,76
V), é de prever que os sais de cobre sofram redução, enquanto que o zinco metálico deve oxidar-se a
Zn2+, o que na realidade se passa.

Tabela 1 - Escala de potenciais normais de redução

Reacção E0 (V)
F2 (g) + 2 e− → 2 F− (aq) +2,87
MnO4 − (aq) + 8 H (aq) + 5 e− → Mn (aq) + 4 H2O (l)
+ 2+ +1,51
O2 (g) + 4 H+ (aq) + 4 e− → 2 H2O (l) +1,23
Ag+ (aq) + e− → Ag0 (s) +0,80
O2 (g) + 2 H2O (l) + 4 e− → 4 OH− (aq) +0,40
Cu2+ (aq) + 2 e− → Cu0 (s) +0,34
2 H+ (aq) + 2 e− → H2 (g) 0
Pb2+ (aq) + 2 e− → Pb0 (s) −0,13
Zn2+ (aq) + 2 e− → Zn0 (s) −0,76
2 H2O (l) + 2 e− → H2 (g) + 2 OH− (aq) −0,83
Li+ (aq) + e− → Li0 (s) −3,05

52
Guia de Laboratórios

1.3. Células Galvânicas

O dispositivo representado na Figura 2 é uma célula galvânica (ou pilha). Nesta montagem o zinco
metálico e os iões cobre não estão em contacto directo, ao contrário do que sucedia na Figura 1. A
transferência de electrões entre ambos dá-se através de um condutor externo (por exemplo, um fio de
cobre), que liga a chapa de zinco a uma chapa de cobre mergulhada na solução de CuSO4. O circuito
é fechado por uma ponte salina, que consiste num tubo com a forma de um U invertido contendo uma
solução de um sal iónico (por exemplo, KNO3) que não participa na reacção mas participa na
condução da corrente.

Voltímetro
V

Ânodo - Ponte salina


NO3 Cátodo

K+

Zn Cu
2+ 2+
Zn Cu
SO 24- SO 24-

Figura 2: Esquema de uma célula galvânica.

A diferença de potencial (E) entre os dois eléctrodos (semi-células de zinco e cobre) é a força
electromotriz da reacção e pode ser medida com um aparelho adequado, por exemplo um voltímetro.

E pode ser calculada através da subtracção dos potenciais de eléctrodo, E. Um destes está associado
à reacção que ocorre no cátodo (redução) e o outro à reacção que ocorre no ânodo (oxidação).

Para uma reacção genérica:


Mn+ (aq) + n e− → M0 (s) (6)

a equação que exprime a variação do potencial de eléctrodo com a concentração da espécie em


solução (ou com a pressão, no caso de um gás) é a chamada equação de Nernst:

RT RT 1
E = Eo − ln Q = E o − ln (7)
nF nF  M n + 

em que Q é o quociente reaccional e E0 o potencial normal de eléctrodo, que corresponde à presença


do ião Mn+ em solução com actividade unitária. Note-se que, por convenção, a actividade do sólido
puro M0 é também unitária.

53
Química Geral

Substituindo na equação 7 os valores das constantes R e F e convertendo o logaritmo neperiano em


decimal, obtém-se a forma mais comum da equação de Nernst, válida para T = 25 ºC = 298,15 K:
0.0591 1
E = Eo − log (8)
n  M n + 

Assim, por exemplo, no caso da reacção:

Zn2+ (aq) + 2e- → Zn0 (s) (9)

a equação de Nernst escreve-se:


RT 1
E = Eo − ln (10)
nF  Zn 2+ 

O potencial, ou força electromotriz, da célula, Ecélula, é dado por:

Ecélula = Ecátodo – Eânodo (11)

sendo Ecátodo e Eânodo os potenciais de eléctrodo das duas semi-reacções que ocorrem na célula. Por
exemplo, no caso da célula galvânica ilustrada na Figura 2 a equação de Nernst toma a forma:

RT  Zn 
2+

Ecélula = ECu 2+ /Cu − EZn 2+ /Zn = E o


Cu 2+ /Cu
−E
o
Zn 2+ /Zn
− ln (12)
nF Cu 2+ 

A equação 12 permite calcular o valor esperado de Ecélula a partir do conhecimento dos potenciais de
eléctrodo padrão e da concentração dos electrólitos usados em cada semi-célula.

1.4. Constante de equilíbrio da reacção da célula

Quando o equilíbrio é atingido (e a pilha deixa de funcionar), o potencial da célula, Ecélula, torna-se
nulo (Ecátodo = Eânodo) e o valor do quociente reaccional, Q = [Zn2+]/[Cu2+], é igual ao da constante de
equilíbrio, K = [Zn2+]eq/[Cu2+]eq, da reacção global da célula (eq. 13):

Cu2+(aq) + Zn(s) → Cu(s) + Zn2+(aq) (13)

Substituindo Ecélula = 0 e Q = K na equação 12 e explicitando K, obtém-se:

 Zn 2+ 
lnK = ln
Cu 2+
eq
=
nF o
RT
(
ECu2+ /Cu − EZn
o
2+
/Zn ) (14)
eq

54
Guia de Laboratórios

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

2.1. Material e Reagentes

- 11 copos de 100 mL

- 4 placas de cobre

- 3 placas de zinco

- 2 placas de chumbo

- 1 placa de prata

- multímetro

- 4 pontes salinas

- fios terminando em “crocodilos”

- Soluções disponíveis no laboratório:

A - CuSO4 0,1 M
B - CuSO4 0,01 M
C - AgNO3 0.1 M
D - ZnSO4 0,1 M
E - Pb(NO3)2 0,1 M

2.2. Preparação de eléctrodos metálicos

Preparar quatro eléctrodos de cobre, três eléctrodos de zinco, dois eléctrodos de chumbo e um
eléctrodo de prata, a partir das amostras destes metais existentes no laboratório. Antes da utilização,
os eléctrodos devem ser polidos com uma lixa fina, lavados com água destilada e secos com papel.

2.3. Pontes salinas

As pontes salinas já se encontram preparadas no laboratório. Para evitar contaminações, existe uma
ponte salina específica para cada célula galvânica, identificada com o número correspondente à célula
galvânica a que se destina. Atenção: Quando as pontes salinas não estão a ser utilizadas, as
extremidades devem ser lavadas com água destilada e mergulhadas numa solução 0,1 M em KNO3.

2.4. Observação de reacções redox entre metais e iões metálicos

(i) Coloque cerca de 60−80 mL de solução de ZnSO4 0,1 M em dois copos.

55
Química Geral

(ii) Introduza num dos copos uma placa de cobre e no outro uma placa de chumbo. Registe as
alterações observadas.
(iii) Repita as operações indicadas em (i) e (ii) mas usando desta vez a solução de CuSO4 0,1 M e uma
placa de zinco e outra de chumbo.
(iv) Repita as operações indicadas em (i) e (ii) mas usando desta vez a solução de PbSO4 0,1 M e uma
placa de zinco e outra de cobre.

2.5. Construção de células galvânicas e medição das suas forças electromotrizes

Serão estudadas 4 células galvânicas:

Célula 1: Cu (s) | Cu2+ (aq, 0.01 M) || Cu2+ (aq, 0.1 M) | Cu (s)


Célula 2: Zn (s) | Zn2+ (aq, 0.1 M) || Cu2+ (aq, 0.1 M) | Cu (s)
Célula 3: Cu (s) | Cu2+ (aq, 0.1 M) || Ag+ (aq, 0.1 M) | Ag (s)
Célula 4: Zn (s) | Zn2+ (aq, 0.1 M) || Ag+ (aq, 0.1 M) | Ag (s)

A força electromotriz de cada célula é medida utilizando uma montagem análoga à apresentada no
esquema da Figura 2. Construa as células de acordo com a seguinte sequência:

(i) Coloque 60−80 mL de solução em cada copo.


(ii) Introduza a(s) ponte(s) salina(s) correspondente(s) à célula galvânica em estudo.
(iii) Ligue os eléctrodos ao voltímetro de modo a gerar uma diferença de potencial positiva: o sinal
(+) do voltímetro deve ser ligado ao eléctrodo que vai funcionar como cátodo e o sinal (−) ao
eléctrodo que vai funcionar como ânodo.
(iv) Mergulhe os eléctrodos na solução e meça a força electromotriz da célula com auxílio do
voltímetro. Registe o valor da temperatura ambiente.

2.6. Tratamento dos resultados

Secção 2.4:
1. Construa um quadro com as observações registadas.
2. Interprete as suas observações e escreva as semi-reacções de oxidação e de redução e a reacção
redox global envolvidas em cada um dos 6 casos estudados.
3. Com base nestas observações, ordene as semi-reacções de redução por ordem crescente dos
seus potenciais e diga qual o oxidante mais forte e qual o mais fraco.
4. Será possível guardar sulfato de cobre em recipientes de zinco? E de prata? Justifique.
Secção 2.5:
1. Construa um quadro com os valores das forças electromotrizes registadas para cada uma das
4 células galvânicas estudadas.

56
Guia de Laboratórios

2. Recorrendo à equação de Nernst, preveja os valores dos potenciais para as mesmas 4 células
galvânicas, à temperatura de trabalho. Compare-os com os valores do quadro da alínea 1.
3. Calcule a energia livre de Gibbs e a constante de equilíbrio da reacção verificada em cada uma
das células galvânicas.

BIBLIOGRAFIA

1. P. W. Atkins, The Elements of Physical Chemistry, 1st ed.; Oxford University Press: Oxford, 1992.
2. D. A. Skoog, D. M. West, F. J. Holler, Fundamentals of Analytical Chemistry, 6th ed.; Saunders
College Publishing: Fort Worth, 1992.
3. R. C. Weast, Ed., Handbook of Chemistry and Physics, 68th ed., CRC Press, Boca Raton (1987-88).

57
Química Geral

58
Guia de Laboratórios

TRABALHO Nº 4B

CORROSÃO E PROTECÇÃO CATÓDICA

OBJECTIVOS

1. Introdução à corrosão electroquímica.


2. Identificação das zonas catódica e anódica no processo de corrosão de pregos em ferro.
3. Ilustração dos processos de protecção catódica por ânodo de sacrificio e por potencial imposto.

1. INTRODUÇÃO

O fenómeno da corrosão electroquímica de um metal consiste na sua oxidação quando em presença


de água e oxigénio (humidade atmosférica). A observação de ferrugem (Fe2O3·xH2O) em peças de
ferro, ou de coloração verde em peças de cobre, são sinais usuais de corrosão.

Para que uma espécie se oxide (isto é, perca electrões) outra espécie terá que se reduzir (receber
electrões) simultaneamente. Ou seja, os processos de oxidação e redução estão sempre associados
numa reacção electroquímica (por ex., numa pilha), pelo que terá que haver sempre um ânodo e um
cátodo (eléctrodos onde se dão, respectivamente, as reacções de oxidação e de redução).

Atendendo aos potenciais de redução normais (E0) do ferro, hidrogénio e oxigénio (indicados à
direita no esquema reaccional seguinte), a corrosão de uma peça de ferro (mesmo não estando em
contacto com outro metal) em ambiente arejado e húmido será provocada pelas seguintes reacções:

Ânodo: Fe2+ (aq) + 2 e− Fe0 (s) E0 (Fe2+/Fe0) = −0,44 V


Fe3+ (aq) + 3 e− Fe0 (s) E0 (Fe3+/Fe0) = −0,04 V
Fe3+ (aq) + e− Fe2+ (aq) E0 (Fe3+/Fe2+) = +0,77 V
⎯⎯⎯
oxidações

Cátodo: H+ (aq) + e− ½ H2 (g) E0 (H+/H2) = 0 V

O2 (g) + 4 H+ (aq) + 4 e− 2 H2O (l) E0 (O2,H+/H2O) = +1,23 V

O2 (g) + 2 H2O (l) + 4 e− 4 OH− (aq) E0 (O2/OH−) = +0,40 V

reduções

59
Química Geral

Como se pode ver pelas reacções acima, a corrosão (ou destruição do material) resulta da passagem
do elemento metálico à sua forma oxidada, na zona anódica da peça, e na concomitante redução, na
zona catódica, quer do oxigénio dissolvido na água quer do H+ também presente na água.

Quando não há contacto entre dois metais diferentes (como no exemplo dado atrás; ver também a
Figura 10.2 das folhas teóricas, cap. 10) a corrosão ocorre devido à coexistência no material de zonas
anódicas e catódicas; estas podem ser criadas quer pela não uniformidade da superfície metálica
quer pela não uniformidade do poder oxidante do meio exterior.

Por exemplo, os átomos de ferro numa zona do metal deformada a frio (ou nos limites do grão
cristalino) estão menos ligados aos seus vizinhos, logo num estado de energia superior. Assim, é de
esperar que a sua passagem à solução por oxidação seja mais favorável do que os átomos de ferro
situados nas zonas não deformadas:

Fe2+ (aq) + 2 e− Fe0 (s, não deformado) E0 (Fe2+/Fe0) = −0,44 V


Fe2+ (aq) + 2 e− Fe0 (s, deformado) E0 (Fe2+/Fe0deformado) < −0,44 V

Da mesma forma, se uma dada região de uma peça homogénea está exposta a maior concentração de
H+ ou de O2 (ou seja, se existe um arejamento diferencial ao longo da peça), essa zona terá um
consumo extra de electrões, que terão que ser fornecidos pelas regiões adjacentes da peça.

Para evitar ou minimizar a corrosão, recorre-se quer a protecções de cobertura (por ex., pintura), quer
a outros tipos de protecção. No presente trabalho observaremos o efeito de protecção catódica por
ânodo de sacrifício e também por potencial imposto.

Qualquer destes dois processos baseia-se em tornar a peça a proteger numa zona catódica, isto é, num
eléctrodo cujo potencial é suficientemente elevado para que não seja possível a oxidação do metal à
superfície.

No caso da protecção catódica por ânodo de sacrifício, a peça a proteger é ligada electricamente a
um metal de menor potencial normal de redução (por ex, zinco, com E0 (Zn2+/Zn0) = −0,76 V), em
contacto com o mesmo electrólito. Na protecção catódica por potencial imposto, o pólo negativo de
um gerador de corrente contínua é ligado à peça a proteger, enquanto o pólo positivo se liga quer a
um eléctrodo inerte (por ex., carbono ou grafite) quer a um eléctrodo de um material de baixo valor
comercial (por ex., ferro velho) o qual se irá oxidar.

60
Guia de Laboratórios

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

2.1. Material e reagentes

− agar-agar
− NaCl
− solução indicadora de fenolftaleína
− solução aquosa 0,1 M de K3[Fe(CN)6] (fresca)
− solução de HCl diluído
− 1 copo de 600 mL
− 2 copos de 10 mL (para pesagens)
− 3 copos de 25, 50 ou 100 mL (de forma alta)
− 1 cristalizador pequeno
− 5 pregos em ferro de 6 cm de comprimento
− 1 barra de zinco
− 1 fio metálico terminado em crocodilos
− 1 pilha com terminais de crocodilo
− 1 placa de aquecimento com agitação
− 1 barra magnética para agitação
− 1 vareta de vidro para agitação

2.2. Operações

1. Num copo contendo 200 mL de água destilada em ebulição disperse cerca de 1,5 g de agar-agar
(agite fortemente com a vareta, para evitar formar grumos). Sem parar a agitação, adicione 2 g
de NaCl, 2 mL da solução de fenolftaleína e 2 mL da solução de K3[Fe(CN)6]. Mantenha a
solução em ebulição durante alguns minutos até esta se tornar límpida. Se a solução adquirir uma
cor carmim em consequência da adição de fenolftaleína adicione uma quantidade mínima de HCl
diluído (apenas o suficiente para que a tonalidade avermelhada desapareça).

2. Antes da utilização os pregos e a barra de zinco devem ser polidos com uma lixa fina, lavados
com água destilada e secos com papel de laboratório. Tome particular cuidado com o prego
dobrado, passando-o, depois de polido, por uma solução de HCl diluído, lavando-o com água
destilada e, finalmente, secando-o.

3. Verta, a quente, a solução para os 3 copos de 100 mL e para o cristalizador e deixe arrefecer até
que as soluções comecem a gelificar (pode mergulhar os copos em água para acelerar o processo).
De seguida, proceda do seguinte modo:

61
Química Geral

Cristalizador: Mergulhe completamente o prego dobrado na solução preparada ainda antes de


esta gelificar, evitando o arrastamento de bolhas de ar.

Copo 1: Coloque um prego na vertical semi-mergulhado no electrólito (gel).

Copo 2: Coloque um prego e a barra de zinco na vertical sem se tocarem no gel, mas unidos pelo
fio condutor exterior.

Copo 3: Ligue a bateria às extremidades de cada um de dois pregos e mergulhe-os no gel na


vertical, sem se tocarem.

4. Registe o que observou em cada uma das experiências e verifique o aspecto da superfície da barra
de zinco depois de removida.

Notas:

(i) A presença de OH é detectada por meio de um indicador ácido-base, a fenolftaleína. Esta é
carmim em meio básico (pH > 9,8) e incolor em meio ácido ou neutro (pH < 8,2).

(ii) A detecção dos iões Fe2+ baseia-se na reacção de formação do corante azul-esverdeado,
denominado "Azul de Turnbull". Este corante é um complexo originado na seguinte reacção:

Na+ + Fe2+ + [FeIII (CN)6]3− ⎯⎯→ Na+ [FeII {FeIII (CN)6}]−

(iii) A observação dos iões Zn2+ é mais difícil. Este ião é também complexado pelo ferricianeto,
originando um complexo de cor branca, Na+ [ZnII {FeIII (CN)6}]−, observável à superfície do eléctrodo
de zinco após dias de reacção (no tempo da aula em que decorre a experiência não se observa nada,
devido ao curto tempo de contacto).

EXERCÍCIOS

1. Descreva o mecanismo da corrosão observada na zona mergulhada imediatamente adjacente à


superfície da solução (copo 1).

2. Na experiência com o prego deformado identifique o cátodo e o ânodo, e escreva as reacções


catódica/s e anódica/s que é possível terem lugar na solução de agar-agar.

3. Explique a função do NaCl na solução preparada.

62
Guia de Laboratórios

TRABALHO Nº 4C

PILHAS E ACUMULADORES

OBJECTIVOS

1. Familiarizar os alunos com os geradores electroquímicos: pilhas e acumuladores


2. Características carga-descarga dum acumulador de chumbo−ácido
3. Funcionamento de uma pilha de combustível de metanol−água oxigenada.

1. INTRODUÇÃO

1.1. Generalidades

Os geradores electroquímicos são dispositivos capazes de transformar energia química em energia


eléctrica. Contêm dois eléctrodos e, pelo menos, um electrólito. Põem em jogo dois sistemas de
oxidação-redução, Ox1/R1 e Ox2/R2, caracterizados pelos potenciais padrão E01 e E02, em condições
de utilização em que os potenciais de eléctrodo são dados pela lei de Nernst. Trata-se de um domínio
em plena expansão, quer ao nível da investigação quer da produção industrial, em particular no quadro
da miniaturização de fontes de energia portáteis.

A reacção química que se estabelece quando o dispositivo funciona como gerador de corrente
eléctrica é caracterizada por uma energia livre de Gibbs negativa (G < 0). Assim, se E2 é superior a
E1, observa-se a redução de Ox2 no cátodo e a oxidação de R1 no ânodo.

As curvas corrente−potencial correspondentes têm a disposição relativa indicada na Figura 1.

Figura 1.

63
Química Geral

Em situação de equilíbrio, isto é, quando o dispositivo não debita corrente, a diferença de potencial
entre os dois eléctrodos é a força electromotriz (potencial da célula) E do gerador, dada por:

E = E2 – E1

Quando o gerador debita uma corrente de intensidade i, o ânodo assume um potencial superior ao
potencial de equilíbrio E1 e a diferença de potencial entre esse potencial reaccional E1i e E1 exprime-
se em função da sobretensão anódica a; o cátodo assume então um potencial inferior ao potencial de
equilíbrio E2 e a diferença de potencial entre esse potencial reaccional E2i e E2 exprime-se em função
da sobretensão catódica c. Uma vez que a solução entre os dois eléctrodos apresenta uma resistência
eléctrica R, quando é percorrida por uma corrente i estabelece-se através dela uma queda óhmica dada
por Ri. A diferença de potencial U aos terminais do gerador (Figura 2) é, portanto, dada por:
U = E2 – E1 – a + c – Ri

U é a soma dum termo termodinâmico (E2 – E1), dum termo cinético (a + c) e dum termo óhmico.

Figura 2.
A Figura 2 mostra que a diferença de potencial U aos terminais do gerador em funcionamento é tanto
maior quanto:
• mais elevada é a força electromotriz; convém, portanto, usar oxidantes e redutores muito fortes,
isto é, com potenciais padrão tão afastados quanto possível;
• menores são as sobretensões; convém, portanto, usar sistemas rápidos e evitar limitações por
transferência de massa;
• mais pequena é a queda óhmica no electrólito; convém, portanto, usar soluções com uma
condutibilidade elevada; os dispositivos que não necessitam de diafragma (separação do
electrólito em 2 compartimentos) são vantajosos sob este ponto de vista.

64
Guia de Laboratórios

1.2. Classificação

Costuma-se classificar os geradores electroquímicos em três categorias, de acordo com os critérios


referentes à sua capacidade e à possibilidade de os regenerar.

Numa pilha de combustível o oxidante e o redutor são-lhe fornecidos à medida que se vão
consumindo. Podem funcionar indefinidamente desde que o aprovisionamento seja assegurado.

Um acumulador é um sistema que podemos recarregar; mas para isso é necessário que os dois
sistemas electroquímicos postos em jogo sejam reversíveis. Com efeito, um acumulador está sujeito
a duas fases de funcionamento:

• fase de carga, em que se acumula energia impondo aos terminais da célula uma diferença de
potencial U’ superior à força electromotriz (Figura 3):
U’ = E2 – E1 + 2a – 1c + Ri

Figura 3.

• fase de descarga, em que o sistema fornece energia; passa então a funcionar como se mostrou
na Figura 1.

Uma pilha fornece energia, mas não é recarregável. Um dos sistemas electroquímicos, pelo menos,
não é reversível: a oxidação de R2 ou a redução de Ox1 não pode efectuar-se porque uma outra reacção
se produz preferencialmente. Assim, no exemplo da pilha Ox2/R1 representada na Figura 4, a
oxidação de R2 para dar Ox2 é impedida pela oxidação do solvente.

Figura 4.
65
Química Geral

As designações comerciais respeitam esta classificação entre pilhas e acumuladores. Opostamente,


outras designações de um produto comercializado só raramente reflectem a composição físico-
química de forma explícita. Tais designações só se compreendem conhecendo a evolução histórica
dos processos que intervêm. Por ex., as designações pilha de lítio e pilha de manganês referem-se a
duas realidades químicas muito diferentes: a primeira contém um ânodo de lítio metálico, a segunda
contém dióxido de manganês que é reduzido no cátodo. Do mesmo modo, os nomes próprios são
insuficientes para caracterizar uma pilha porque eles correspondem muitas vezes ao nome do inventor
duma pilha cujo desenvolvimento conduziu a uma indústria que fabrica pilhas de todos os tipos. É o
caso, por ex., das pilhas de Leclanché, comercializadas sob a marca Mallory.

1.3. Pilhas correntes

As pilhas mais usadas são as de Leclanché, as de óxido mercúrico e as de lítio.

As reacções primárias na pilha de Leclanché:


 Zn │ Electrólito │ MnO2 │ C 
são a oxidação do zinco:
Zn → Zn2+ + 2 e−

e a redução do dióxido de manganês, em que o Mn passa do grau de oxidação (IV) para o grau (III):

MnO2 (s) + e− + H2O (l) → MnOOH (s) + OH− (aq)

Por vezes o electrólito é gelificado com amido, o que conduz à designação de “pilha seca”; podem
também usar-se soluções de potassa gelificada, o que conduz às “pilhas alcalinas”.

A pilha de óxido mercúrico pode ser simbolizada por:

 Zn amalgamado │ KOH a 40% saturado de [Zn(OH)4]2− │ HgO │ C 

No cátodo reduz-se o óxido mercúrico:

HgO (s) + 2 e− + H2O (l) → Hg (s) + 2 OH− (aq)


e no ânodo oxida-se o zinco:
Zn (s) + 4 OH− (aq) → [Zn(OH)4]2− (aq) + 2 e−

O lítio é um metal muito electropositivo e possui uma baixíssima massa volúmica. Por estes motivos
tem sido muito explorado, particularmente em aplicações móveis e em sistemas de miniaturização.
Uma vez que se oxida na presença da água, usa-se em electrólitos, solventes não aquosos, líquidos
iónicos e polímeros condutores.

66
Guia de Laboratórios

1.4. Acumuladores correntes

Num acumulador os dois sistemas electroquímicos são reversíveis e as reacções postas em jogo
durante a carga são inversas das que se produzem na descarga. Os acumuladores mais usados são os
de chumbo−ácido e os alcalinos.

O acumulador de chumbo-ácido pode ser simbolizado por:

 Pb │ PbSO4 │ H2SO4 │ PbSO4 │ PbO2 │ Pb 

A reacção global que se produz no seu interior pode escrever-se:

PbO2 (s) + Pb (s) + 2 H+ (aq) + 2 HSO4 − (aq) ⎯⎯ ⎯⎯ ⎯→


descarga
2 PbSO4 (s) + 2 H2O (l)
⎯c⎯ ⎯⎯⎯
arg a

que corresponde:
• na descarga, à redução do chumbo (IV) do cátodo e à oxidação do chumbo (0) do ânodo, num
e noutro caso com formação de Pb(II)SO4;
• na carga, à dismutação do sulfato de chumbo(II) em Pb e PbO2.

O tempo de vida útil do acumulador está ligado à qualidade dos grânulos de PbSO 4 que se formam.
Se não aderem fortemente à superfície do eléctrodo, depositam-se no fundo da célula e não podem
redissolver-se. Se crescem demasiado, podem estabelecer um curto-circuito entre placas vizinhas.

Os acumuladores alcalinos devem o seu nome ao electrólito básico que contêm. O mais conhecido
é o de Ni−Cd (baterias de níquel−cádmio), que se pode representar por:

 Cd │ Cd(OH2) │ KOH (aq) │ NiOOH │ Ni(OH2) │ Ni 

A reacção global escreve-se:

Cd (s) + 2 NiOOH (s) + 2 H2O (l) ⎯⎯ ⎯⎯ ⎯→


descarga
Cd(OH)2 (aq) + 2 Ni(OH)2 (aq)
⎯c⎯ ⎯⎯⎯
arg a

Essencialmente por questões ambientais, os acumuladores de níquel−cádmio têm vindo a ser


substituídos por acumuladores de níquel−hidreto metálico e outros.

1.5. Pilhas de combustível correntes

As pilhas de combustível mais usadas são as de hidrogénio−oxigénio (ou hidrogénio−ar), mas muitos
outros combustíveis (hidrazina, metanol, hidrocarbonetos saturados, etc.) e comburentes (água
oxigenada, etc.) podem ser utilizados.

No caso da pilha de H2/O2, a reacção global escreve-se:

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Química Geral

H2 + ½ O2 → H2O

a que corresponde uma força electromotriz, a 25ºC, de:

E = −G / nF = 237×103 / 2×96500 = 1,23 V

uma vez que G = −237 kJ/mol de H2, o número de electrões postos em jogo nos processos de
eléctrodo é igual a 2 e F é a constante de Faraday, F = 96500 C mol−1.

A oxidação electroquímica do hidrogénio ocorre num ânodo dum material catalítico condutor (por
exemplo, grafite impregnada de platina), que constitui o terminal negativo da pilha:

H2 (g) → 2 H+ (aq) + 2 e− (numa pilha de combustível ácida)

H2 (g) + 2 OH− (aq) → 2 H2O (l) + 2 e− (numa pilha de combustível alcalina)

enquanto que a redução do oxigénio se processa num cátodo catalítico, que constitui o terminal
positivo da pilha:
½ O2 (g) + 2 H+ (aq) + 2 e− → H2O (l) (numa pilha de combustível ácida)

½ O2 (g) + H2O (l) + 2 e− → 2 OH− (aq) (numa pilha de combustível alcalina)

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

2.1. Estudo do acumulador de chumbo

2.1.1. Material e Reagentes

• Solução de ácido sulfúrico 2 M


• Tina de vidro
• Duas placas de chumbo (2 × 5 cm)
• Eléctrodo de calomelanos saturado
• Gerador de corrente contínua
• Miliamperímetro
• Milivoltímetro

2.1.2. Execução experimental

Coloque as duas placas de chumbo paralelamente uma à outra a uma distância da ordem de 1 cm e
depois mergulhe-as no ácido sulfúrico (de modo a imergir cerca de 2 × 3 cm). Introduza na solução,
entre as placas, a extremidade do eléctrodo de calomelanos saturado. A montagem eléctrica
galvanostática está representada esquematicamente na Figura 5.

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Guia de Laboratórios

Figura 5.

Imponha uma corrente fixa ic de cerca de 20 mA durante 10 minutos. Seguidamente, altere o sentido
da corrente, impondo novamente uma corrente id de cerca de 20 mA durante 10 minutos. Assim que
o potencial do eléctrodo positivo começar a diminuir bruscamente, carregue o acumulador. Após dois
ciclos de carga e descarga os eléctrodos estabilizam. Efectue então um terceiro ciclo, durante o qual
as tensões EA − ER e EB − ER devem ser registadas ao longo do tempo. Trace as características de
carga e de descarga para cada eléctrodo. Calcule o rendimento de corrente e de energia do acumulador
durante o seu ciclo de funcionamento.

2.1.3. Discussão

O andamento das características de carga e descarga está indicado na Figura 6.

Eléctrodo positivo

Carga Descarga

Eléctrodo negativo

Tempo (min.)

Figura 6.

Durante a carga o potencial do terminal positivo é vizinho de 1,6 V vs. ECS, que é o potencial
necessário para oxidar PbSO4 a PbO2 à velocidade imposta. A variação do potencial do terminal
negativo retrata a intervenção de dois sistemas. No início da carga há redução de PbSO4 a Pb, que se
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Química Geral

observa a um potencial de cerca de –0,6V vs. ECS. Quando a quantidade de PbSO4 redutível se
esgota, a manutenção da corrente implica a redução dos protões à superfície do chumbo, a qual se
verifica a um potencial mais negativo, de cerca de –1,0 V vs. ECS, para a velocidade imposta. A
duração da primeira fase depende do funcionamento anterior do acumulador; assim, para observar a
redução dos protões é necessário carregar o acumulador durante bastante tempo.

Durante a descarga o potencial do terminal negativo (ânodo) permanece muito constante a cerca de –
0.55 V vs. ECS; isto deve-se ao facto de que, quer o oxidante, quer o redutor, são dois sólidos (PbSO4
e Pb) e a actividade dos sulfatiões na solução pouco se altera durante a descarga. O potencial do
terminal positivo é ligeiramente superior a 1,4 V vs. ECS. O fim da descarga é indicado por uma
queda brusca do potencial do cátodo (eléctrodo positivo), que corresponde ao empobrecimento do
PbO2 redutível à superfície do eléctrodo.

A qualidade dum acumulador costuma caracterizar-se por duas grandezas, o rendimento de corrente
e o rendimento de energia.

O rendimento de corrente Rq é a razão entre a quantidade de electricidade Qd que percorre o


acumulador durante a descarga e a quantidade de electricidade Qc que o percorre durante a carga:

Rq = Qd / Qc =
 i dt
d

 i dt
c

Claro que, se se carrega e descarrega o acumulador a uma intensidade constante, Rq depende apenas
da duração da carga e da descarga.

O valor de Rq depende da existência de reacções secundárias e da aderência dos sólidos PbO2 e PbSO4
aos eléctrodos. Nas condições laboratoriais propostas Rq é da ordem de 80%.

O rendimento de energia Rw é a razão entre a quantidade de energia Wd fornecida pelo acumulador


durante a descarga e a quantidade de energia Wc que lhe é fornecida durante a carga. Pode aproximar-
se em função das correntes e da tensão U aos terminais da célula:

Rw = Wd / Wc =
 U i dt
d d

 U i dt
c c

Rw depende dos factores que influenciam Rq e da cinética dos processos electroquímicos, visto que
inclui as sobretensões em Ud e Uc, assim como a queda óhmica no acumulador. Portanto, Rw é
necessariamente menor que Rq. Nas condições experimentais propostas Rw é da ordem de 60 a 70%.

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Guia de Laboratórios

O aluno deverá executar a parte laboratorial como se descreve no procedimento 2.1.2, bem como
registar as características de carga−descarga e calcular, aproximadamente, o rendimento de corrente
e o rendimento de energia do acumulador.

2.2. Pilha de combustível de metanol−água oxigenada

2.2.1. Material e Reagentes

• Água oxigenada a 10 volumes


• Hidróxido de potássio 3 M
• Metanol
• Célula de vidro de dois compartimentos separados por um diafragma poroso
• Eléctrodos de platina (2)
• Miliamperímetro
• Reóstato
• Milivoltímetro

2.2.2. Execução experimental

Coloque a solução de hidróxido de potássio nos dois compartimentos da célula. Mergulhe os dois
eléctrodos em cada compartimento. Coloque em série, entre os terminais da pilha, um interruptor, um
miliamperímetro e um reóstato (Figura 7). Adicione alguns cm3 de metanol a um dos compartimentos
(anólito) e um pouco de água oxigenada no outro compartimento. Meça a diferença de potencial aos
terminais em circuito aberto. Feche o circuito e observe a variação da corrente quando a pilha está a
debitar.

Reóstato

Vidro

Figura 7.

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Química Geral

2.2.3. Discussão

O dispositivo laboratorial utilizado permite um débito de corrente de algumas dezenas de mA, uma
vez que a área dos eléctrodos é razoável e o diafragma de vidro poroso tem uma resistência eléctrica
reduzida. No ânodo verifica-se a oxidação do metanol a carbonato, de acordo com a reacção:

CH3OH (aq) + 8 OH− (aq) → CO3 2− (aq) + 6 H2O (l) + 6 e−

No cátodo intervém a redução do peróxido de hidrogénio:

H2O2 (aq) + 2 e− → 2 OH− (aq)

À superfície da platina também se observa uma libertação gasosa devido à decomposição da água
oxigenada em meio alcalino, que consiste na dismutação em água e oxigénio:

H2O2 → H2O + ½ O2

Portanto, o funcionamento da pilha implica também a redução do oxigénio à superfície do cátodo:

½ O2 (g) + H2O (l) + 2 e− → 2 OH− (aq)

A reacção global correspondente à oxidação do metanol escreve-se:

CH3OH (aq) + 3 H2O2 (aq) + 2 KOH (aq) → K2CO3 (aq) + 6 H2O (l)

Podem, é claro, usar-se outros sistemas. Na pilha em estudo, por exemplo, a hidrazina pode substituir
o metanol e a água oxigenada pode ser substituída por oxigénio gasoso.

O aluno deverá executar a parte laboratorial descrita no procedimento 2.2.2. Para traçar a curva de
descarga efectue uma vintena de medidas de valores U(i), utilizando o reóstato ligado em série com
a pilha. Constate que a curva característica não é linear, em virtude das sobretensões associadas aos
processos de eléctrodo. O afastamento à linearidade deverá ser tanto maior quanto mais intensa a
corrente que a pilha debita ou, por outras palavras, quanto mais afastado se estiver da força
electromotriz ( Ui = 0).

BIBLIOGRAFIA

1 – C. A. C. Sequeira, “Reciclagem de Pilhas Domésticas”, Ingenium, 2ª Série, nº 27, Julho 1998, págs. 95−98.
2 – O. P. Dias, I. C. Teixeira, J. P. Teixeira e C. A. C. Sequeira, “A Influência do Regime de Descarga na
Capacidade das Baterias de Chumbo-Ácido”, Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 8, Nº 3-4, Dezembro
1996, págs. 19−28.
3 – C. A. C. Sequeira, “Pilhas de Combustível e sua Aplicação a Veículos Eléctricos”, Annualia Verbo 2005-
2006, Agosto 2005, págs.155−177.

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