Apostila 4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA

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EDUCAÇÃO INCLUSIVA

O fenômeno da Inclusão Escolar surgiu contextualizado nos eventos e transformações sociais


que vêm ocorrendo ao longo da história da Educação Especial, caracterizando uma quinta fase
na evolução do atendimento educacional que a sociedade, de forma geral, tem oferecido às
pessoas com necessidades especiais.

Já havia, na segunda metade dos anos 80, em alguns países da Europa e nos EUA, um consenso
entre os estudiosos e pesquisadores referente à necessidade de mudanças na forma como o
processo de integração/mainstreaming vinha ocorrendo. Se havia consenso quanto a essas
mudanças, as opiniões dividiam-se em relação às soluções encontradas para implementá-las,
daí surgindo basicamente duas orientações.

Uma delas propunha a melhoria e o aprofundamento do conceito de


integração/mainstreaming por meio de experiências mais controladas, concomitante ao
desenvolvimento de pesquisas. O principal promotor do conceito de integração,
Wolfensberger sugeria a substituição do termo normalização pela expressão “valorização16
dos papéis sociais”, esperando, com esta mudança, enfatizar o objetivo da normalização, ou
seja, o apoio ao exercício dos papéis sociais valorizados pelas pessoas suscetíveis de
desvalorização social (DORÉ et al.,1997).
Fonte:
https://adaptacoescurricularesparaeduc.club.hotmart.com/admin/beta/modules/KR4jr8A24a/
content/new

A outra orientação de mudanças trazia para o foco da discussão um novo conceito – a Inclusão
Escolar. A Inclusão Escolar despontava como outra opção de inserção escolar e vinha
questionar as políticas e a organização da educação especial, assim como o conceito de
integração (mainstreaming). De todas as críticas que os defensores da inclusão fazem ao
processo de integração/mainstreaming, talvez, a mais radical seja aquela que afirma que a
escola acaba ocultando seu fracasso em relação aos alunos com dificuldades, isolando-os em
serviços educacionais especiais segregados (DORÉ et al.,1996).

Em relação ao surgimento do movimento inclusivista na Educação, apesar dos estudiosos da


área concordar que países desenvolvidos como os EUA, o Canadá, a Espanha e a Itália foram os
pioneiros na implantação de classes e de escolas inclusivas, não foi possível definir, com
exatidão, a partir da bibliografia pertinente, o exato do início do movimento de Inclusão
Escolar. Em sua retrospectiva histórica, Semeghini (1998) comenta que, desde a década de 50,
a escola inclusiva está atuante em vários países da Europa com o desenvolvimento de projetos
e programas de inclusão, apontando a década de 70 como sendo o marco do surgimento do
processo de Inclusão Escolar nos EUA.

Mrech (1997; 1998; 1999) acredita que tanto o movimento de Integração Escolar e o
subsequente movimento da Educação Inclusiva surgiram nos EUA em consequência da
promulgação da Lei Pública 94.142, de 1975. Outros autores relatam que o conceito de
inclusão surgiu, nos EUA, relacionado à implantação em 1986 de uma política educacional
denominada “Regular Education Iniciative (REI) ”, que defendia a adaptação da classe regular
de modo a tornar possível inserir ali o maior número possível de alunos com necessidades
especiais; incentivando os serviços de educação especial e outros serviços especializados a
associarem-se ao ensino regular (COR REIA,1997; DORÉ et al.,1996).

Sem a preocupação com a precisão histórica de seu surgimento, o fato é que, depois de um
período de intensas discussões e críticas a respeito do processo de integração/mainstreaming
e suas possíveis limitações, ao final dos anos 80 e início da década de 90, começaram a tomar
vulto as discussões em torno do novo paradigma de atendimento educacional – a Inclusão
Escolar.
Na realidade, tanto o processo de integração quanto o de inclusão escolar são formas de
inserção escolar ou sistemas organizacionais de ensino cuja origem se fundamenta no mesmo
princípio, o princípio da normalização. Apesar da origem comum no mesmo princípio e de
terem basicamente o mesmo significado, os conceitos de Integração e de Inclusão escolar
estão fundamentados em posicionamentos divergentes quanto à consecução de suas metas.

A Integração Escolar remete à ideia de uma inserção parcial e condicionada às possibilidades


de cada pessoa, enquanto que o processo de Inclusão se refere a uma forma de inserção
radical e sistemática, total e incondicional, de toda e qualquer criança no sistema escolar
comum (WERNECK, 1997; MANTOAN, 1997; 1998).

Normalizar uma pessoa, dentro do paradigma inclusivista, segundo Werneck (1997), não
significa torná-la normal; significa garantir-lhe o direito de ser diferente e de ter suas
necessidades reconhecidas e atendidas pela sociedade. Em relação à 18 área educacional,
continua Werneck, normalizar é oferecer ao aluno com necessidades especiais os recursos
profissionais e institucionais adequados e suficientes para que ele tenha condições de
desenvolver-se como estudante, pessoa e cidadão.

Fonte: https://uptokids.pt/educacao/receber-um-aluno-com-deficiencia-na-sala-de-aula-nao-
significa-inclusao/

Dessa forma, o objetivo fundamental da Inclusão Escolar é não deixar criança alguma fora do
sistema escolar e garantir que todas possam frequentar a sala de aula do ensino regular da
escola comum, e, que está escola, por sua vez, adapte-se às particularidades de todos os
alunos para concretizar o objetivo da diversidade, pro posto pelo modelo inclusivista. O
paradigma da Inclusão não admite diversificação de atendimentos pela segregação e, na busca
de um ensino especializado no aluno, procura soluções que atendam às suas diversidades, sem
segregá-los em atendimentos especializados ou em modalidades especiais de ensino
(WERNECK, 1997; MAN TOAN, 1996; 1997).

Portanto, a inserção proposta no modelo da inclusão é muito mais completa, radical e


sistemática, não admitindo que ninguém fique fora da escola; por isso, os pressupostos da
inclusão provocam o questionamento das políticas educacionais e da organização da educação
especial e regular, assim como o conceito de mainstreaming e de integração.

Nesse sentido, as escolas inclusivas propõem um modo de constituir um sistema educacional


que considere as necessidades de todos os alunos e que seja estruturado em virtude dessas
necessidades. A proposta inclusivista, assim, provoca uma ampliação na perspectiva
educacional, dentro do contexto escolar, já que sua prática não prevê apenas o atendimento
aos alunos que apresentam dificuldades na escola. Além disto, o trabalho educacional
desenvolvido dentro do paradigma da inclusão apoia a todos os que se encontram envolvidos
no processo de escolarização, professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham
sucesso na corrente educativa geral (MANTOAN, 1997).

A ênfase da escola inclusivista não se restringe ao atendimento das crianças com necessidades
especiais. A meta do novo paradigma é incluir todos aqueles que se encontra em situação de
exclusão, quer sejam eles deficientes físicos, mentais, sensoriais, ou crianças fracassadas na
escola; ou alunos marginalizados por conta de suas peculiaridades raciais ou culturais; ou
qualquer outra criança que esteja impedida de usufruir seu direito de acesso à educação
democrática e de qualidade que lhe garanta um desenvolvimento social, emocional e
intelectual adequado

A escola inclusivista respeita e valoriza as diversidades apresentadas por seus alunos. A


proposta da Inclusão exige uma transformação radical da escola, pois caberá a ela adaptar-se
às necessidades dos alunos, ao contrário do que acontece atualmente, quando são os alunos
que devem se adaptar aos modelos e expectativas da escola. Se a meta do processo de
Inclusão é que todo e qualquer educando seja inserido na escola comum, então, a escola
inclusivista deve preparar-se para oferecer um ambiente propício ao desenvolvimento das
potencialidades de todos os tipos de alunos, qualquer que seja sua deficiência, diferença,
déficit ou necessidades individuais (WERNECK, 1997; SEMEGHINI, 1998).

O princípio da Inclusão, sintetiza Correia (1997), apela para uma escola que tenha sua atenção
voltada para a criança-todo, e não só a criança-aluno, respeitando os três níveis de
desenvolvimentos essenciais – o acadêmico, o sócio emocional e o pessoal, de modo a
proporcionar a essa criança uma educação apropriada, orientada para a maximização de seu
potencial.

Em termos teóricos e ideológicos, a ideia da inclusão escolar é, sem dúvida alguma,


revolucionária. Entretanto, há que se refletir sobre importantes questões de 20 natureza
pragmática e operacional levantadas pelos pesquisadores da área. A instalação de uma prática
educacional não será garantida por meio de promulgações de leis que, simplesmente,
extingam os serviços de educação especial e obriguem as escolas regulares a aceitarem a
matrícula dos alunos “especiais”, ou seja, a inserção física do aluno com deficiência mental em
sala de aula regular não garante a sua “inclusão escolar”
Fonte: https://radioglobo.globo.com/media/audio/23006/o-que-fazer-caso-escola-se-recuse-
matricular-crian.htm

Por outro lado, conforme observa Bueno (1999), a implementação de uma escola regular
inclusivista demanda o estabelecimento de políticas de aprimoramento dos sistemas de
ensino, sem as quais não será possível garantir um processo de escolarização de qualidade.

Uma política de Inclusão Escolar implica no (re) planejamento e na reestruturação da dinâmica


da escola para receber esses alunos (GLAT, 1998). Em relação a estas mudanças da escola,
alguns autores alertam que devam ser feitas com cautela, ponderação e conscientização,
alertando que a realização de uma reforma de fundo não ocorre de imediato; ao contrário,
trata-se de um processo em curso, que deve ser devidamente estudado e planejado,
considerando todos os fatores envolvidos na questão educacional (CORREIA, 1997; CARVALHO,
1998).

Apesar do conceito de inclusão conciliar-se com uma educação para todos e com o ensino
especializado no aluno, a opção por esse tipo de inserção escolar não 21 poderia ser realizada
sem o enfrentamento de desafios importantes, uma vez que o maior deles recai sobre o fator
humano. Na adoção do paradigma da inclusão, as mudanças no relacionamento pessoal e
social e na maneira de efetivar os processos de ensino e aprendizagem têm prioridade sobre o
desenvolvimento de recursos físicos e os meios materiais para a realização de um processo
escolar de qualidade (MANTOAN, 1998).

Essas novas atitudes e formas de interação na escola dependem de fatores, tais como: o
aprimoramento da capacitação profissional dos professores em serviço; a instituição de novos
posicionamentos e procedimentos de ensino, baseados em concepções e práticas pedagógicas
mais modernas; mudanças nas atitudes dos educa dores e no modo deles avaliarem o
progresso acadêmico de seus alunos; assistência às famílias dos alunos e a todos os outros que
estejam envolvidos no processo de inclusão.

Todas estas mudanças, na opinião de Mantoan (1997; 1998), não devem ser impostas, ao
contrário, devem resultar de uma conscientização cada vez mais evoluída de educação e de
desenvolvimento humano.

BIBLIOGRAFIA
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