Programa de Filosofia - 10º - Síntese
Programa de Filosofia - 10º - Síntese
Programa de Filosofia - 10º - Síntese
Se acreditamos que só tem direitos quem cumpre deveres então temos de abandonar
a crença de que as crianças de tenra idade têm direitos.
Se acreditamos que em questões morais tudo é relativo e isso for verdade temos de
considerar falsa a crença de que «Roubar é moralmente errado» é uma regra
objectiva, válida em todo o lado.
1 – À experiência.
O método experimental não serve para resolver questões como «Será que Deus
existe?» ou «Será que a vida tem sentido?». Formula hipóteses e confronta-as com
factos, o que, neste caso, é tarefa condenada ao fracasso.
3 – Ao cálculo matemático.
Como os problemas da filosofia não são empíricos será que ela despreza a experiência
e unicamente relaciona ideias?
Não. O facto de a filosofia não ser uma disciplina empírica ou experimental, não deve
sugerir que ignore a experiência e a prática. A filosofia usa informação empírica
obtida pelas ciências e pela observação. O carácter conceptual da filosofia não
significa que esta unicamente relacione conceitos e ideias. Não é possível argumentar
de forma racionalmente persuasiva acerca da moralidade do aborto, da eutanásia, da
clonagem sem informação empírica. Não é possível defender que devemos ser
vegetarianos se não tivermos dados empíricos confiáveis que mostrem que o
consumo de carne é dispensável.
OS ARGUMENTOS
O que é um argumento?
Um argumento é um conjunto de proposições em que uma delas é defendida pelas
outras. A proposição defendida – a tese – tem o nome de conclusão. A proposição ou as
proposições que a defendem são as premissas.
Exemplo de argumento
“No Irão, os adúlteros de ambos os sexos são punidos com a lapidação pública. Os
homens que cometerem adultério são enterrados até à cintura e apedrejados; as
mulheres adúlteras são-no também, só que são enterradas até aos sovacos. Quem
conseguir libertar-se é ilibado.”
Sabemos que, se a inflação baixa, o consumo aumenta. Dado que a inflação está a
baixar, podemos concluir que o consumo vai aumentar.
Clarificação do argumento
Indicadores de conclusão
Indicadores de premissa
Qualquer frase colocada a seguir a estes indicadores
Porque… é uma premissa.
Uma vez que… Ex: O animal que tenho lá em casa é um cão, visto
Pois…
Visto que… que é um animal que ladra.
Em virtude de… A proposição antes do indicador visto que é a
Como… conclusão.
Assumindo que… Implícita está a outra premissa:
Considerando que… Tenho em casa um animal que ladra.
Pode inferir-se disto… Argumento
Devido a…
Todos os animais que ladram são cães.
Por causa de…
Ora... Tenho em casa um animal que ladra.
Logo, o animal que tenho em casa é um cão.
1 – Válidos
Tem de haver uma preocupação com a verdade de facto (valor de verdade) das
proposições que constituem os argumentos.
1 - Todos os animais que ladram são cães 2 -Todos os animais são seres que ladram
Os Serra da Estrela são animais que ladram Os Serra da Estrela são animais
Logo os Serra da Estrela são cães. Logo, os Serra da Estrela são seres que
ladram
Ambos os argumentos são válidos mas se perguntarmos qual deles é o melhor a resposta será que o argumento 1 é
melhor do que o 2. Porquê? Porque não só é logicamente correcto como também é constituído por premissas e
conclusão de facto verdadeiras.
O argumento 2, apesar de válido, não é bom porque tem uma proposição que é falsa: a premissa Todos os animais
são seres que ladram.
• O que são argumentos indutivos? São argumentos cuja validade não depende
unicamente da sua forma lógica.
Se olharmos para o conteúdo vemos que estes argumentos tratam de assuntos diferentes.
Mas têm a mesma forma ou estrutura. Para verificar isso basta substituir o sujeito e o
predicado por letra ou símbolos.
Alguns C são A
Alguns C são A
Logo, alguns C são B
Logo, alguns C são B
Estes argumentos são válidos e é suficiente inspeccionar a sua forma lógica para o
verificar. Qualquer raciocínio independentemente do seu conteúdo será válido se tiver
esta forma. Esvaziemos o argumento das letras ficando assim:
Todos os … são …
Alguns … são …
Seja o que for que se escreva nos espaços vazios terá como resultado um
argumento válido porque a forma é válida:
Para avaliar criticamente um argumento, para mostrar se é ou não é um bom argumento, temos
de perguntar duas coisas:
No caso dos argumentos indutivos, a questão traduz-se assim: será que se as premissas forem
verdadeiras isso torna provável que a conclusão seja verdadeira?
Sabendo que um argumento dedutivo é bom se for válido e tiver premissas verdadeiras
basta mostrar ou que tem uma premissa falsa ou que não é válido para o refutar.
Sabendo que um argumento indutivo é bom se for válido (as premissas tornam provável a
conclusão) e se tiver premissas verdadeiras basta que algum destes critérios não seja
cumprido para que se refute o argumento.
4 – Como a actividade filosófica consiste essencialmente na discussão de ideias, mediante a
lógica tornamo-nos mais capazes de apresentar argumentos a favor de uma ideia ou de contra-
argumentar, isto é, de apresentar argumentos que a refutem.
Se a verdade da conclusão depende da verdade das premissas, tentar negar a conclusão ou tese
que é defendida por alguém consiste em tentar negar a verdade da ou das premissas.
Miguel é advogado
Podemos atacar a conclusão, negando a premissa inicial, isto é, mostrando que é falsa: há
milhões de pessoas que gostam de ler romances e não são advogados. Podemos também
mostrar que o argumento tem forma inválida, ou seja, que a sua conclusão não deriva das
premissas, não é logicamente apoiada por estas: ser advogado não implica gostar de ler
romances.
UNIDADE 2
A acção e os valores
Capítulo 1 – A acção humana
1. Análise e compreensão do agir.
O QUE É UMA ACÇÃO?
QUE CARACTERÍSTICAS DEVE TER UMA COISA PARA SER CONSIDERADA
UMA ACÇÃO.
1 – Uma acção é um acontecimento.
Considera-se que todas as acções são acontecimentos, ou seja, são coisas que
acontecem num dado momento e num certo lugar. Assim, ir à praia é um
acontecimento porque vamos a uma praia num determinado local e em dado
momento – normalmente no Verão, de manhã ou de tarde. Mas nem tudo o que
acontece é uma acção, ou seja, se todas as acções são acontecimentos nem todos
os acontecimentos são acções. Um furacão é um acontecimento, mas não é uma
acção.
Um exemplo de acção
Vou à farmácia comprar uma embalagem de aspirinas porque me dói bastante a
cabeça.
A dor de cabeça é algo que me acontece, mas ir à farmácia comprar o
medicamento é algo que eu faço acontecer porque quero tratar a dor de cabeça.
Vou à farmácia com esse propósito e por esse motivo.
ACÇÃO
1 – Deliberação
Antecede habitualmente a decisão e consiste em ponderar diferentes
possibilidades de acção
Ex: Devo ir à farmácia ou não? Será que não há alguém que possa ir por mim? A
aspirina não irá fazer-me mal ao estômago? Se calhar isto passa sem tomar
medicamentos, dormindo um pouco.
2 – Decisão
Momento em que se escolhe uma das alternativas ou possibilidades de acção,
preferindo uma delas.
EX: Vou à farmácia. Esta dor de cabeça tem de ser tratada com medicamento e não
vou poder dormir.
3 – Intenção
Trata-se do que pretendo com a acção. Neste caso a intenção é tratar uma dor de
cabeça.
Quando perguntamos "0 que quer fazer aquele que age?", referimo-nos à
intenção, ao que o agente pretende ser ou fazer.
4 – O motivo
O porquê ou a razão de ser da acção.
"Por que razão quero ir à farmácia comprar um medicamento para tratar uma dor
de cabeça?» A resposta apresentar-nos-á o motivo dessa decisão, tomando-a
compreensível. O motivo pode ser acabar com o desconforto físico e poder
trabalhar em melhores condições.
As condicionantes da acção
Entende-se por condicionantes da acção:
1- Os limites que factores internos e externos impõe à nossa acção.
2 – As possibilidades que factores externos e internos conferem às nossas acções.
Dependemos mais do que fazemos com o que nos é dado do que do que nos é
dado. A relativa indeterminação biológica, o facto de os nossos comportamentos
não serem rigidamente controlados pela nossa herança genética, abre ao ser
humano a possibilidade de auto-determinação, e torna-o essencialmente uma
criatura social e cultural. Inacabados e desprotegidos pela natureza, cabe aos
seres humanos completar o seu projecto por si próprios, usando a razão e a
reflexão, que só eles têm.
Não nos adaptamos a um determinado meio como uma chave se adapta a uma
fechadura. Transformamos o meio mediante a nossa imaginação e as nossas
capacidades de raciocínio e de reflexão. Somos «programados para aprender».
Temos, em comparação com os outros animais, a possibilidade de agir segundo
normas e padrões de comportamento aprendidos, de modificar as aprendizagens
efectuadas. Assim, há em nós um reduzido conjunto de comportamentos de base
instintiva e estereotipada.
As condicionantes psicológicas
As condicionantes sócio-culturais
As condicionantes sócio-culturais
A SOCIALIZAÇÃO (1)
As condicionantes sócio-culturais
A SOCIALIZAÇÃO (3)
Os outros exercem uma poderosa influência sobre nós tanto mais que chegamos
ao mundo completamente dependentes e sem competências para vivermos por
nós mesmos. Mas será que somos o que os outros fazem de nós? Será que pessoas
educadas e criadas no mesmo meio são necessariamente iguais?
As condicionantes sócio-culturais
A SOCIALIZAÇÃO (4)
Socializar não é «programar socialmente» um indivíduo, como se fôssemos
totalmente determinados pelo que nos transmitem. Também somos agentes da
nossa própria socialização, ou seja, indivíduos socialmente activos. Não nos
limitamos a guardar o que nos é transmitido. Reagimos, protestamos, propomos
mudanças, inovamos.
As condicionantes sócio-culturais
A SOCIALIZAÇÃO (5)
Não somos simplesmente o que herdámos. Não somos simplesmente o que nos
ensinaram. Não somos unicamente o resultado das nossas experiências pessoais.
Somos a resposta, positiva ou negativa, a todos esses factores. Seja qual for o
instrumento e seja quem for que o dê (a genética ou a transmissão cultural) a
música depende normalmente do intérprete. Para certas pessoas a vida é um
problema. Para outras a vida é resolver problemas, viver conflitos e ultrapassá-
los.
Capítulo 1 – A acção humana
2. Determinismo e liberdade na acção humana.
Somos livres ou o livre-arbítrio é uma ilusão?
Formulação do problema
1 – Se todas as nossas acções são determinadas – efeito necessário de
causas anteriores – não somos livres. Se não somos livres não
podemos ser responsabilizados pelo que fazemos, não podemos ser
elogiados nem culpabilizados.
2 – Se todas as nossas acções são indeterminadas - se não têm uma
causa, se são obra do acaso – então não são nossas e não podemos
também ser por elas responsabilizados.
Três respostas
Não somos livres – não Somos livres porque as Somos livres porque nem
há livre-arbítrio – porque nossas acções podem ao todas as nossas acções
todas as nossas acções mesmo tempo ser livres e são o efeito necessário
são o desfecho necessário determinadas, porque a de causas anteriores.
de causas anteriores. liberdade e o determinismo
são compatíveis.
Explicitação
A queda de uma peça de dominó determina a queda da outra, dando origem a uma
cadeia causal que só termina com a queda da última peça. As acções dos seres
humanos também estão sujeitas a cadeias causais determinadas. Julgamos que as
nossas acções derivam da nossa vontade mas iludimo-nos. Se a certa temperatura e
sem qualquer interferência, o único comportamento possível para a água que está
no copo é congelar, o mesmo se pode dizer de uma dada acção humana. O ser
humano faz exactamente aquilo que tinha de fazer e não poderia fazer outra coisa;
a determinação de seus actos não depende da sua vontade mas de certas causas,
externas e internas. As acções humanas não constituem uma excepção à
necessidade causal que governa todos os acontecimentos. Pode objectar que as
acções humanas resultam de estados mentais e de factores psicológicos como
crenças, desejos, motivos, intenções, valores e personalidade que nos fazem pensar
que ao contrário da água no copo não somos determinados por forças externas. É
muito diferente a acção de preferir um sumo a um café, a universidade x à
universidade y e o congelamento da água em virtude de factores externos. Mas o
determinista radical perguntaria pela origem da sua personalidade. Decidiu ter a
personalidade que tem? E a que se devem os valores morais que tem? Reage
dizendo que os escolheu. Mas mesmo que os tenha escolhido, o que te fez escolher
estes e não outros? A nossa constituição psicológica tem uma origem e termos
certos valores, desejos e crenças é algo que precisa de explicação tanto quanto o
facto de sermos altos, baixos ou magros, diabéticos ou saudáveis. Grande parte das
nossas acções têm uma origem interna – não são o resultado de forças externas -
mas isso não faz com o que o determinista radical mude de ideias. As nossas
escolhas são o resultado da influência de factores biológicos - genéticos e
fisiológicos – e ambientais - as circunstâncias em que fomos socializados e
educados. Assim, se um estado psicológico causa uma certa acção numa dada
situação, esse estado mental é, por sua vez, o produto de múltiplas causas
anteriores.
Negação da ideia de responsabilidade moral.
Explicitação
b) Não for causada por compulsão interna como o caso de adormecer contra a
minha vontade quando estou a conduzir.
A ausência de compulsão, e não a ausência de causa, é a marca de um acto livre.
Todos os actos são causados, mas apenas alguns são compelidos (não livres).
O que distingue acções livres de acções não - livres é a natureza das causas que estão
na sua origem: as acções livres têm causas internas ou psicológicas (desejos, crenças)
que não me compelem ou forçam, ao passo que as acções não - livres têm causas
externas. Vemos aqui a diferença entre o determinista moderado e o radical. Este
considera que uma acção livre seria uma acção sem qualquer causa, o que ele nega
por não ser cientificamente credível ou respeitável. O determinista moderado
concebe a liberdade de outro modo: livre é a acção que tem como causa os desejos e
crenças de um indivíduo, isto é, uma acção cuja causa não são forças externas ao
agente nem forças que internamente o constranjam. Assim se alguém, apontando-
me uma pistola à cabeça me força a assaltar a casa do meu vizinho, a causa imediata
da acção é externa. A acção é realizada por mim mas a sua origem não está em mim.
Trata-se de uma acção compelida, contrária aos meus desejos (não quero assaltar a
casa do vizinho) e às minhas crenças (considero errado ou perigoso roubar). No caso
da jovem que visitou um enfermo em vez de ir a um agradável concerto, o
determinista moderado diria que a sua acção foi livre porque se baseou nas suas
crenças (é preferível ajudar alguém a divertir-me, esse é o meu dever) e na sua
O ARGUMENTO DO LIBERTISMO
1 – Nem todos os acontecimentos estão submetidos ao mesmo tipo de causalidade.
2 – A causalidade natural rege o mundo físico.
3 – Os agentes humanos são causas de acções que produzem efeitos no mundo.
4 – A causalidade livre é própria de algumas acções dos seres humanos.
5 – Essas acções não são o desfecho inevitável de acções anteriores.
6 – Se há acções livres, os agentes humanos são responsabilizáveis por elas.
7 – Assim sendo, o determinismo é falso e a crença na liberdade e na
responsabilidade é verdadeira.
EXPLICITAÇÃO
Determinismo radical
2.As escolhas e
acções humanas
são
acontecimentos.
3.Logo,todas as
escolhas e acções
humanas são
causalmente
determinadas por
acontecimentos
anteriores.
Libertismo
Crença no Crença no livre - arbítrio Crença na responsabilidade
moral
determinismo
2- As acções
humanas são
acontecimentos.
3.Logo,há acções
humanas
desligadas do
encadeamento
causal e que dão
origem a uma nova
série de
acontecimentos.
Determinismo moderado
5. Há acções unicamente
causadas por desejos,
motivos, crenças ou
outros estados internos
do sujeito que age.
Determinismo
Determinismo
Libertismo
Moderado
Radical
Todos os
acontecimentos
são
Aceita Rejeita Aceita
determinados
por causas
anteriores
Não há acções
Aceita Rejeita Rejeita
livres
Ninguém é
responsável Aceita Rejeita Rejeita
pelas suas acções
UNIDADE 2
Capítulo 1 – Análise e compreensão da experiência
valorativa
1. Valores e valoração - a questão dos critérios
valorativos
O que são os valores?
Os valores são os critérios das nossas preferências (são os motivos
fundamentais das nossas decisões). Ao tomarmos decisões
agimos segundo valores que constituem o fundamento, a razão
de ser ou o porquê (critério) de tais decisões.
A atitude valorativa é uma constante da nossa existência: em nome da
amizade, preferimos controlar e orientar noutra direcção uma atracção física
pela namorada ou mulher do nosso amigo; em nome do amor, preferimos
desafiar as convenções sociais em vez de perder a oportunidade de sermos
felizes; por uma questão de saúde preferimos o exercício físico, a dieta e o
fim do consumo de tabaco aos hábitos prejudiciais até então seguidos; em
nome da liberdade, preferimos combater, lutar e correr riscos a aceitar um
estado de coisas que, apesar de tudo, satisfaz os interesses económicos da
família a que pertencemos; por solidariedade, preferimos auxiliar os
famintos e os doentes na Somália e em Moçambique a permanecer em
Lisboa dando consultas; por paixão pela música decidimos interromper um
curso que não corresponde à nossa vocação profunda; em nome de Deus,
renunciamos a certas "ligações terrenas", etc.
Uma coisa, acção ou objecto tem valor instrumental quando vale como meio
para atingir certo fim. Tem valor intrínseco se e só se for valiosa em si
mesma.
O dinheiro tem claramente valor instrumental ou extrínseco. Considera-se
que um ser humano, por ser uma pessoa e ter dignidade, é um fim em si, tem
valor intrínseco independentemente do seu estatuto económico, da
nacionalidade, etnia e género.
Juízos de valor
Juízos de facto
O relativismo moral afirma que aqueles juízos são verdadeiros mas não em
todo o lado e para todas as pessoas. A verdade dos juízos morais é relativa
ao que cada sociedade aprova. Moralmente verdadeiro é o que cada
sociedade - ou a maioria dos seus membros - acredita ser verdadeiro.
Moralmente verdadeiro é igual a socialmente aprovado e moralmente
errado é igual a socialmente desaprovado. Um juízo moral é falso quando
os membros – a maioria – de uma sociedade o consideram falso e
verdadeiro quando o consideram verdadeiro. Assim, afirmar que «Matar é
errado» significa dizer «A sociedade X considera que matar é moralmente
incorrecto». Afirmar que «Matar é moralmente correcto» significa dizer «A
sociedade X considera que matar é moralmente correcto».
É verdade ou pelo menos parece que não há acordo entre os seres humanos
sobre muitas questões morais. Mas também é verdade que a humanidade
tem realizado progressos no plano moral. A abolição da escravatura, o
reconhecimento dos direitos das mulheres, a condenação e a luta contra a
discriminação racial são exemplos. Falar de progresso moral parece implicar
que haja um padrão objectivo com o qual confrontamos as nossas acções. Se
esse padrão objectivo não existir não temos fundamento para dizer que em
termos morais estamos melhor agora do que antes. No passado, muitas
sociedades praticaram a escravatura mas actualmente quase nenhuma a
considera moralmente admissível. Muitos de nós e com razão consideramos
esta mudança de comportamento e de atitude um sinal de progresso moral.
Mas se para o RMC nenhuma sociedade esteve ou está errada nas suas
crenças e práticas morais torna-se difícil compreender a ideia de progresso
moral. Tudo o que o R.M.C. nos permitiria dizer é que houve tempos em que
a escravatura era moralmente aceitável e que agora ela é já não é aceite.
João Miguel
O que torna este juízo moral verdadeiro? O facto de Deus ter determinado
que roubar é errado. Moralmente correcto significa decidido e aprovado
por Deus, o criador das leis morais. Moralmente errado significa que não
foi querido nem é aprovado por Deus.
Como a vontade de Deus é absoluta as normas morais que ela institui são
absolutas, isto é, valem para qualquer ser humano em qualquer época e em
qualquer lugar, não admitem excepções. Por outras palavras, se Deus existe
há um código moral absoluto - as leis ou mandamentos de Deus - que
constitui o critério fundamental que nos permite avaliar as diversas crenças
e práticas humanas. Assim, a prática da tribo Kwakiutl de matar pessoas
inocentes quando morre um familiar é errada porque viola as leis de Deus. O
mesmo se pode dizer do costume indiano de queimar a viúva do esposo
falecido juntamente com este. Ambas as sociedades podem não o saber mas
segundo a perspectiva que estamos a expor isso só mostra que
desconhecem a lei de Deus.
Tese central
Há verdades morais que não dependem nem das crenças de cada cultura,
nem dos gostos e sentimentos dos indivíduos, nem da vontade de Deus.
2- Mentir é errado
3- O assassínio é errado.
CAPÍTULO 1
Intenção ética e norma moral
A INTENÇÃO E AS
CONSEQUÊNCIAS
João age baseado num bom motivo ou com uma boa intenção: ajudar
crianças que passam fome. As consequências da sua acção foram
boas. As crianças foram ajudadas. Será relevante para a avaliação
moral do que fez sabermos que a sua generosidade resultou de um
roubo?
As únicas acções moralmente boas são as acções feitas por dever. Agir por dever
significa reconhecer que há deveres absolutos como não roubar, não mentir e não
matar.
Que nome dá Kant ao princípio ético fundamental que exige que eu cumpra o
dever sempre por dever, sem qualquer outra intenção ou motivo? Kant dá -lhe o
nome de lei moral.
As acções feitas por dever são assim acções que cumprem o que a lei moral exige.
Ouvir a voz da lei moral é ficar a saber como cumprir de forma moralmente correcta
o dever. Essa lei diz-nos de forma muito geral o seguinte: «Deves em qualquer
circunstância cumprir o dever pelo dever, sem segundas intenções». O cumprimento
do dever é uma ordem incondicional, não depende de condições ou de interesses.
Devemos ser honestos porque esse é o nosso dever e não porque é do nosso
interesse.
Pense em normas morais como «Não deves mentir»; «Não deves matar»; «Não
deves roubar». A lei moral, segundo Kant, diz-nos como cumprir esses deveres, qual
a forma correcta de os cumprir. Assim sendo, é uma lei puramente racional e
puramente formal. Não é uma regra concreta como «Não matarás!» mas um
princípio geral que deve ser seguido quando cumpro essas regras concretas que
proíbem o roubo, o assassinato, a mentira, etc.
Imagine que uma pessoa com Quem pede dinheiro emprestado sem
problemas financeiros decide pedir intenção de o devolver está a tratar a pessoa
dinheiro emprestado. Sabe que não que lhe empresta dinheiro como um meio
pode devolver o dinheiro que lhe for para resolver um problema e não como
emprestado, mas prometê-lo – alguém que merece respeito, consideração.
mentir – é a única forma de obter Pensa unicamente em utilizá-la para resolver
aquilo de que precisa. A máxima da uma situação financeira grave sem ter
acção poderia enunciar-se assim “Se qualquer consideração pelos interesses
isso servir os teus interesses, não próprios de quem se dispõe a ajudá-lo.
devolvas dinheiro emprestado ao seu Sempre que fazemos da satisfação dos
dono.” A referida pessoa não pode nossos interesses a finalidade única da nossa
querer sem contradição universalizar acção, não estamos a ser imparciais e a
a excepção que abriu para si própria máxima que seguimos não pode ser
porque se tornará excepção para universalizada. Assim sendo, estamos a usar
todos. Se todos nós fizéssemos os outros apenas como meios, simples
promessas com a intenção de não as instrumentos que utilizamos para nosso
cumprir todos desconfiaríamos delas proveito.
e o empréstimo de dinheiro baseado Esta fórmula não fala só de respeitar os
em promessas acabaria. A prática de outros. Diz que nenhum ser humano se deve
fazer e de aceitar promessas tratar a si mesmo apenas como um meio. A
desapareceria. A máxima referida prostituição, o masoquismo são exemplos
auto destrói-se ao ser universalizada de violação desta norma, mas, mesmo
porque ninguém poderá agir de quando desrespeitamos directamente os
acordo com ela. direitos dos outros, como no caso da
escravatura, da violação, do roubo e da
mentira, estamos também a abdicar da
nossa dignidade.
AUTONOMIA HETERONOMIA
É uma vontade autónoma porque decide cumprir o dever por sua iniciativa
e não por receio de autoridades externas ou da opinião dos outros.
Posição de Kant
Justificação
MORALMENTE INCORRECTO/MORALMENTE
CORRECTO
É uma acção feita por dever, que cumpre É uma acção cujos resultados
a lei moral considerando – a um contribuem para o aumento da
imperativo categórico. felicidade ou para a diminuição da
infelicidade do maior número possível
de pessoas por ela afectadas.
Por que razão não devo enganar a minha namorada? Por que razão não devo
roubar que me confiou dinheiro? Porque é errado. Mas por que razão é errado?
Porque devo agir bem se pode não ser do meu interesse? Há quem responda que
a pergunta é absurda porque estaremos a dar razões morais para sermos morais:
Devemos agir moralmente porque temos a obrigação moral de agir moralmente.
Como o egoísmo psicológico afirma que todas as nossas acções são, em ultima
análise, determinadas pela preocupação com o nosso bem-estar ou o nosso
interesse pessoal, é suficiente encontrar um contra-exemplo plausível para
contestar a verdade de tal teoria.
O egoísmo normativo é uma teoria de tipo consequencialista que diz que devemos
agir sempre em função do nosso interesse pessoal. Para o egoísmo normativo
cada um de nós tem a obrigação moral de promover o seu próprio interesse. Esta
teoria rejeita que sacrifiquemos o nosso próprio bem-estar para ajudar os outros e
que os outros sacrifiquem o seu bem-estar para nos ajudar a nós. Se as pessoas
devem agir sempre apenas motivadas pelo seu interesse pessoal então é
moralmente aceitável qualquer acção que não acarretando prejuízos ao agente
satisfaça essa finalidade.
Uma vez que pode justificar actos profundamente imorais, o egoísmo normativo é
para muitas pessoas uma teoria sem credibilidade.
O egoísta adopta este princípio básico: «Deves pensar no que é benéfico para ti e
não no que serve o interesse dos outros». E admite que esse princípio seja
adoptado por todos. Isto significa que se só devo pensar no que é bom para mim
também devo admitir que os outros pensem unicamente no que é bom para eles.
É esta posição sustentável?
Imagine que estou interessado numa mulher que também interessa a outro
homem. Defendo a teoria do egoísmo normativo. O que implica isso? Que ao
mesmo tempo defendo que o meu rival deve procurar conquistar essa mulher
porque é do seu interesse e que não deve procurar conquistá-la porque isso não é
do meu interesse.
Viver eticamente é melhor do que ser egoísta, preenche mais a nossa existência.
Interessar-me pelo bem-estar dos outros pode fazer-me mais feliz do que viver
centrado exclusivamente nos meus interesses.
Adoptar o ponto de vista moral, agir por razões em que não está envolvido de
forma determinante o meu interesse pessoal, nos torna seres humanos mais
completos e mais auto-realizados, que uma vida sem acções genuína e
espontaneamente altruístas não tem grande valor e é pouco gratificante. Mais
importante do que aquilo que obtemos com o que fazemos é aquilo em que nos
tornamos. Mais do que o interesse pessoal que as acções humanas em certa
medida visam, importa que estas nos engrandeçam como seres humanos. Talvez
esta seja a melhor resposta.
CAPÍTULO 4 – Estado, direito e liberdade.
Estado Direito Liberdade
O Estado é uma O conjunto de normas e Em sentido político é a
instituição que organiza leis que apoiadas no liberdade de optarmos por
e regula a vida social, poder coercivo diferentes modelos de
exercendo o seu poder (imposição de penas e organização económica e
sobre os cidadãos e punições) do Estado que social e de, consequente,
manifestando-se sob a as elabora e institui votarmos ou não no partido
forma de autoridade. regulam o que no nosso entendimento
comportamento dos mais fielmente defende
membros de uma essas opções políticas.
sociedade
Finalidade do acordo
Este acordo visa alterar uma determinada situação na sociedade que se tornou
insustentável, concretamente o desrespeito pelos direitos básicos dos indivíduos,
desrespeito esse que gera um estado conflituoso. O acordo vai permitir eliminar ou
reduzir os conflitos na sociedade.
Que compromissos
recíprocos são
estabelecidos com o
acordo?
Esse poder é o Estado. Neste sentido, o contrato social é uma forma de legitimação do
Estado. As teorias contratualistas que vamos estudar são as de Thomas Hobbes, John
Locke e Rousseau.
O argumento de Hobbes
Explicitação
3.Porquê transferir os direitos para uma pessoa e não para duas, três ou mais?
Porque, de acordo com Hobbes, ao transferirem-se os direitos para mais do que uma
pessoa, regressava-se ao estado de natureza, no qual vários detinham direitos ilimitados.
5. Mas não se pode transformar este poder absoluto do soberano num poder
despótico?
Hobbes responde que, mesmo que se transforme num poder despótico, os súbditos não
têm direito de resistência (a não ser apenas quando o soberano obriga o próprio súbdito
a matar-se – porque também esta situação não ocorria no estado de natureza), porque o
seu poder lhe foi confiado legitimamente pelos próprios súbditos a partir de um pacto ou
contrato.
Explicitação
3. Mas por que razão o direito à propriedade privada gera conflitos de interesses?
É necessário regular estes conflitos de interesses para bem de todos. É com vista a
regular os conflitos de interesse que se estabelece um pacto entre os indivíduos. Este
pacto social passa pelo reconhecimento de uma autoridade que supervisione e regule
esses conflitos e garanta os direitos que os indivíduos já usufruíam no estado de
natureza. Essa autoridade será o Estado.
Tem limites. O estabelecimento do contrato social não implica que cada indivíduo
transfira os seus direitos (direitos que cada indivíduo possuía no estado de natureza)
para o Estado. O contrato social não anula um conjunto de direitos que o indivíduo já
possuía no estado de natureza (o direito à vida, à liberdade e à propriedade). Enquanto
em Hobbes havia uma clara separação entre o estado de natureza e o estado civil –
encarados como dois estados distintos, residindo no primeiro o conflito e o medo e no
segundo a paz e a segurança –, em Locke o estado civil corresponde apenas a uma
legalização de direitos que o indivíduo já possuía no estado de natureza, não se
verificando, por isso, uma separação tão nítida como em Hobbes.
Porque no caso de o Estado não cumprir o seu dever – o de fazer respeitar os direitos
naturais dos indivíduos –, a situação na comunidade ficaria pior do que a situação vivida
no estado de natureza, no qual os direitos eram reconhecidos (mas apenas não se
encontravam legitimados). Reconhece-se na teoria política de Locke, pela primeira vez,
uma limitação do poder político com a sua consequente subordinação ao consentimento
popular.
Explicitação
Para Rousseau, no estado de natureza o indivíduo vive livremente e de forma isolada dos
outros indivíduos. Assegura por si próprio a sua sobrevivência e vive feliz.
Torna-se então necessário regular estes conflitos, não com base na força, mas no direito.
Para isso, defende Rousseau a necessidade do estabelecimento de um contrato social.
4.Por que razão a obediência a leis por todos aprovadas – à vontade geral –
promove e assegura os referidos direitos naturais?
Os direitos naturais básicos são direitos de que todos os indivíduos desejam usufruir na
comunidade, porque ninguém quer viver sem liberdade, ser tratado de modo inferior em
relação aos outros ou viver na dependência de alguém. Se é desejo de todos os
indivíduos possuírem esses direitos e se as leis são a expressão da vontade de todos,
então as leis vão certamente promover os direitos naturais. Sendo as leis o reflexo dos
direitos naturais, torna-se deste modo possível a convivência social num respeito pelos
direitos naturais básicos.
5.Quem governa?
As leis são, para Rousseau, a única autoridade que existe no estado civil. Sendo as leis a
autoridade e sendo as leis a expressão da vontade geral (de todos os indivíduos), então é
o próprio povo que passa a ser a autoridade. É o povo que governa. No estado civil, o
indivíduo passa a agir, não enquanto vontade particular, mas enquanto vontade geral,
vontade de todos.
6. Por que razão é importante que cada indivíduo passe a agir como se fizesse
parte activa de uma vontade geral?
Porque se agisse apenas de acordo com a sua própria vontade regressaríamos ao estado
civilizado sem leis. Ao agir de acordo com uma vontade geral, está a agir de acordo com
um interesse comum e que, como tal, fará também parte do seu interesse. Na teoria
política de Rousseau não existe um poder superior aos outros, mas o poder é o próprio
povo. Rousseau evita deste modo o despotismo, a subjugação dos indivíduos a um poder
com mais força do que a totalidade dos súbditos.
ESTADO E LIBERDADE
INDIVIDUAL
O Estado pode limitar legitimamente a liberdade de acção de uma pessoa se esta causar
danos a outras pessoas ou ameaçar prejudicá-las. Somente para prevenir danos a
outrem o governo está moralmente autorizado a interferir, impondo restrições à
liberdade individual. Este princípio consequencialista é conhecido como princípio do
dano (prejuízo).
Por exemplo, posso fumar e embebedar -me em minha casa, posso andar por aí sem
roupa, vestir-me em público de forma considerada bizarra, ter práticas sexuais pouco
comuns com adultos e com o seu consentimento, professar publicamente o ateísmo, etc.
Alguma destas acções prejudica os outros de modo a que legitime uma interferência
quer através de leis quer mediante a pressão social? A resposta de Mill baseia-se na
crença de que a autonomia individual é um dos valores mais importantes. Mas podemos
perguntar se a pessoa que se embebeda frequentemente só causa dano a si mesma. Não
acontece em muitos casos que pode transformar a vida dos seus familiares num inferno
e deixá-los sem apoio por, devido ao vício, perder o emprego? E o vício não a torna
menos capaz de contribuir para a sociedade com o seu trabalho? A resposta de Mill é a
de que o indivíduo em causa pode ser punido por descurar as suas responsabilidades
familiares, mas que não devemos interferir no estilo e opção de vida das pessoas,
mesmo que a sociedade como um todo seja em certa medida prejudicada. A liberdade
individual, para o bem e para o mal, deve ser preservada o mais possível.
O PROBLEMA DA DESOBEDIÊNCIA
CIVIL: Devo obedecer sempre às
leis?
É uma acção ilegal não criminosa que por razões éticas protesta publicamente contra leis
e medidas das autoridades políticas, estando os seus autores dispostos a sofrer as
consequências da infracção da lei.
A desobediência civil revela-nos que há uma diferença que nunca deve ser esquecida
entre obrigação moral e obrigação política ou jurídica, isto é, uma diferença entre os
direitos das pessoas e os deveres dos cidadãos.
As sociedades ditas livres ou abertas são aquelas que procuram evitar abusos de
poder negando a qualquer ser humano — governante ou governado, privilegiado
ou desfavorecido — o direito de estar acima da lei. Mas as leis podem ser injustas
e repressivas e as próprias sociedades democráticas não parecem estar imunes a
esta crítica. Ora, nessas ocasiões é habitual verificar-se um desacordo entre a
legalidade vigente e os princípios da consciência moral dos indivíduos. Estes não
reconhecem legitimidade a uma determinada lei (ou a várias), não a consideram
em conformidade com valores morais fundamentais. Assim, a legitimidade ou
não das leis define-se em função dos valores que estão na sua base.
O PROBLEMA DA DESOBEDIÊNCIA
CIVIL: Devo obedecer sempre às
leis?
O PROBLEMA DA JUSTIÇA: Não
posso ficar com tudo o que
adquiri?
JUSTIÇA
RESPOSTA 1 - O IGUALITARISMO
CRÍTICA
1.Os defensores da ideia de justiça como igualdade de oportunidades pensam que toda
a justiça é uma espécie de igualdade mas distinguem dois tipos de igualdade: a
igualdade política e a igualdade económica.
Todos devemos ter igual direito de participar na vida política da sociedade a que
pertencemos. Falamos de direitos cívicos, de direito ao voto, e de direito a concorrer a
cargos de natureza política.
CRÍTICA
Se as pessoas em geral competem por dinheiro, cargos, prestígio e estatuto social, será
contudo possível assegurar a igualdade de oportunidades que tornaria a competição
social realmente justa? Não há pessoas que já estão à partida em vantagem? E será
que, por hipótese, iguais condições à partida se traduzirão em resultados semelhantes?
RESPOSTA 3 - A justiça como utilidade social: é justo o
que é socialmente útil
1. Na perspectiva utilitarista deve dar-se a cada um o que lhe é devido mas tendo em
conta o interesse global da sociedade. Nesta visão da justiça, o interesse público ou o
bem comum prevalecem.
O critério fundamental da justiça é o interesse do todo, sendo justas as decisões e medidas que
promovem a satisfação dos interesses do maior número. O papel de quem governa será o de
dirigir as sociedades de situações de menor bem-estar global para situações de maior bem-
estar.
O que conta são as consequências das medidas e políticas económicas e sociais. Aumentam o
bem-estar da maioria dos afectados? A ser verdade, são justas. Em caso contrário são injustas.
Sem desprezar critérios como a igualdade ou desigualdade, o mérito, a competência, o esforço
e certos direitos, o utilitarista subordina-os todos a um: o princípio de utilidade social.
CRÍTICA
A aplicação do princípio de utilidade social não gera situações de injustiça? Não haverá
casos em que a utilidade social colide com os interesses de um indivíduo ou de um
grupo de indivíduos? Devem certos indivíduos e grupos ser prejudicados em benefício
da sociedade? Será que a preocupação imparcial com o bem-estar geral não esquece os
interesses deste e daquele indivíduo em particular? Não importa saber por quem se
distribui o bem-estar? E não têm as pessoas direitos que não devem ser violados seja
em nome de que princípio for?
RESPOSTA 4 – Ralws - A Justiça como equidade: a
injustiça é a desigualdade que beneficia
exclusivamente os mais favorecidos.
Para Hobbes, tinha como objectivo a obtenção da paz e da segurança. Para Locke e Rousseau, a
legitimação de um conjunto de direitos naturais básicos, como o direito à vida, à liberdade, à
igualdade e à propriedade. Rawls pretende conjugar na sociedade duas características: a
liberdade e a justiça social. Porquê ambas? Porque, se apenas houver liberdade, põe-se em
causa a justiça social (uns indivíduos possuirão sempre mais bens do que outros e os que
possuem mais possuirão sempre mais – a riqueza gera mais riqueza). Se apenas houver justiça
social, põe-se em causa a liberdade (limita-se a liberdade de os indivíduos possuírem mais bens
do que a quantidade de bens que possuem).
Enquanto as heranças existirem e não forem objecto de forte tributação, não partimos do
mesmo lugar, porque haverá uns indivíduos que possuirão mais bens do que outros e tenderão
sempre a possuir mais bens e a aumentar continuamente a sua riqueza. Esta é a situação de
apenas haver liberdade e não haver justiça social. Por outro lado, se penalizarmos as grandes
heranças, como, por exemplo, através do pagamento de elevados impostos, estaremos a
limitar os bens desses mesmos indivíduos e, portanto, a limitar a liberdade dos indivíduos para
investir, enriquecer e fazer o que lhes apetecer com a sua herança. Esta é a situação de apenas
haver justiça social e não haver liberdade.
2. Mas, se o mundo é habitado por ricos e pobres, será essa tarefa possível? Como deve
ser estabelecido o contrato social, para que seja possível a promoção simultânea da
liberdade e da justiça social na sociedade?
Para Rawls, o contrato social tem de ser estabelecido com base numa total imparcialidade por
parte de todos os indivíduos, ou seja, tem de ser estabelecido sem que os indivíduos tenham
nele qualquer interesse particular.
Para que seja possível o estabelecimento de um contrato social com base na imparcialidade, os
indivíduos têm de o efectuar a partir daquilo que Rawls denominou “VÉU DA IGNORÂNCIA”.
O “véu da ignorância” é o desconhecimento por parte de cada indivíduo da sua condição social
e económica no momento do estabelecimento do contrato social, no momento em que dão
origem a uma determinada forma de sociedade. Esta posição original é uma situação
imaginária de total imparcialidade em que pessoas racionais, livres e iguais criam uma
sociedade regida por princípios de justiça. Para que tal imparcialidade se verifique essas
pessoas devem estar “cobertas” por um “véu de ignorância”.
Imagine que está num grupo de pessoas prestes a criar de raiz uma nova sociedade e um novo
governo. Essas pessoas têm uma tarefa muito importante que é a de decidir como construir
uma sociedade justa. Estão numa condição muito especial, a bem dizer extraordinária: estão
cobertas por um véu de ignorância quanto à sua condição na futura sociedade. Assim sendo,
você não sabes se vai ser homem ou mulher, rico ou pobre, doente ou saudável, idoso ou
jovem, pouco ou muito dotado em termos intelectuais, não sabe a que grupo étnico vai
pertencer, nem se vai ser católico, protestante, ortodoxo, muçulmano, judeu ou ateu. Em
termos gerais não sabe se vai estar no topo, no meio ou no fundo da escala social. Pensa que
dada essa condição deve escolher um governo e uma sociedade justa para todos: «Vou
escolher um tipo de sociedade que discrimine os ateus? Não porque posso vir a ser ateu. Quero
uma sociedade e um governo indiferentes às necessidades dos mais carenciados, que não
intervenha para atenuar a desigualdade económica? Não, porque não sei se não virei a estar
nessa situação. Quero uma sociedade em que haja discriminação racial no acesso às posições e
lugares economicamente mais favoráveis? Não, porque não sei a que grupo racial irei
pertencer. A prudência aconselha-me mesmo a que me prepare para o pior. Assim, vou
escolher um tipo de sociedade em que se me encontrar numa situação desfavorável me seja
garantido um nível de vida minimamente digno. Nestas condições seria tolice minha pensar
que os outros irão aceitar que a futura sociedade se reja por princípios que beneficiando-me os
prejudicarão. Nem posso aceitar princípios que beneficiem os outros em detrimento dos meus
interesses. O mais provável é que todos aprovem uma igual distribuição dos recursos sociais.
Mas e se, como é muito é provável dadas as diferenças entre os seres humanos, houver
desigualdade económica? Admitirei essa desigualdade se ela também for de alguma forma
vantajosa para mim. Nem todos vamos ter o mesmo nível de vida mas não aprovarei princípios
que permitam que os outros colham benefícios e eu unicamente prejuízos. E se nem todos
vamos ser iguais, pelo menos que haja igualdade de oportunidades. Não quero uma sociedade
que unicamente respeite os meus direitos políticos, que me permita votar e expressar as
minhas ideias, quero também uma sociedade que respeite os direitos das pessoas a bens
materiais e a serviços sociais».
A equidade equivale a uma distribuição desigual dos bens básicos que deve favorecer quem se
encontra em pior situação, isto é, as pessoas em desigualdade de condições por razões
económicas, físicas ou intelectuais. Por outras palavras, justifica-se que algumas pessoas
ganhem acima da média desde que essa desigualdade beneficie os membros menos
favorecidos da sociedade. A desigualdade justifica-se: a) se beneficiar todos os membros da
sociedade, em especial os menos favorecidos; b) se for uma condição necessária e suficiente
para incentivar uma maior produtividade.
Exemplos
1 – Se o que motiva as pessoas para se tornarem bons médicos e dentistas competentes for a
perspectiva de ganharem mais do que a média dos cidadãos, então é justo que, por exemplo,
tenham rendimentos duas ou três vezes superiores à média. Se isto é suficiente para que a
produtividade, a eficácia e a competência destes profissionais seja alta, será injusto que
ganhem cinco ou dez vezes mais do que o rendimento médio de uma sociedade.
2 – Se a condição necessária e suficiente que predispõe certas pessoas para serem eficientes e
capazes directores de empresas é o facto de poderem ganhar cinco ou dez vezes mais do que os
seus empregados, é justa essa desigualdade. Mas será injusto que, tal como Ralws reconhece
acontecer no seu país, o seu salário seja em muitos casos 50 vezes superior ao dos seus
empregados.
Ralws quer dizer que, até certo ponto, a desigualdade económica é um incentivo que aumenta
a produtividade global da sociedade. Assim, há mais recursos e bens que podem ser canalizados
para beneficiar os que estão em situação menos vantajosa. Os impostos são uma destas formas
de assistência contínua aos que estão em piores condições.
2. Tese central - Uma sociedade justa é a que não impõe qualquer limite legal aos níveis
de desigualdade económica nela presentes.
Cada indivíduo, segundo esta perspectiva, deve exigir do Estado a máxima liberdade
sobretudo no que diz respeito à possibilidade de adquirir e dispor de uma quantidade
desigual de bens sociais.
Não há, segundo Nozick, uma forma padronizada de distribuição da riqueza que
determine até que ponto deve ir a desigualdade económica entre os indivíduos, ou seja,
o que cada qual deve possuir.
4.As desigualdades sociais e económicas não devem ser ajustadas de modo a que
reverta também a favor dos mais carenciados. Porquê?
Por duas razões: 1) distribuir os benefícios sociais de acordo com uma regra ou fórmula
geral – um padrão – exige sempre o uso ilegítimo da força e da coerção; b) as livres
escolhas dos indivíduos perturbam frequentemente os padrões de distribuição que as
sociedades pretendem estabelecer.
Exemplo
Imaginemos uma sociedade em que cada qual tem o que deve ter de modo a que a
desigualdade económica não seja injusta. Suponhamos agora que um famoso
basquetebolista - um dos maiores jogadores de sempre da NBA, Willt Chamberlain -
decide livremente efectuar vários jogos de exibição recebendo por jogo 1 dólar de cada
espectador. Milhões de admiradores decidem também livremente gastar essa quantia
para o ver jogar. Resultado: no final da época o jogador ganhou dezenas de milhões de
dólares. É agora detentor de mais bens do que aqueles que deve ter. Assim sendo, o
padrão de justiça em vigor na sociedade exige que algum do dinheiro que ganhou seja
transferido para outros indivíduos de modo a que a apropriada distribuição da riqueza
seja reposta. Mas será correcto este procedimento? Os admiradores do basquetebolista
sabiam que o dinheiro seria de Willt. Não têm direito de se queixar quanto mais porque
contribuíram para o seu enriquecimento por livre iniciativa. Por outro lado, os bens dos
que não assistiram aos jogos não foram de modo algum afectados e os que asssistiram
quase nada gastaram. A distribuição que resultou da conjugação das referidas livres
escolhas, isto é, que Willt tenha ficado mais rico nada tem de injusto.
5.O conceito de justiça de Ralws é imoral.
«O que é meu é meu». Cada um de nós tem direito ao que herdou, recebeu ou ganhou
legitimamente – seja muito ou pouco - e esse direito de propriedade não deve ser
violado pelo Estado. Mesmo que numa sociedade haja assinaláveis desigualdades
económicas, esse facto não torna legitima a redistribuição da riqueza, isto é, que se tire
aos mais favorecidos para dar aos mais desfavorecidos. Como o direito de propriedade
é, para Nozick, um direito absoluto, qualquer redistribuição da riqueza por parte do
Estado é uma violação de um direito fundamental. É imoral que me forcem a partilhar
com outros os bens que legitimamente adquiri.
6.Mas não é injusto haver um grande fosso entre ricos e pobres como acontece em
muitas sociedades?
O fosso entre ricos e pobres só é injusto se for criado através de meios injustos, tais
como a fraude e o roubo. Há várias formas de sermos proprietários de bens: por
heranças e doações que recebemos, por esforço pessoal, etc. A não-redistribuição não
viola nenhum direito e por isso não é injusta. A justiça social consiste em permitir que
os bens de que sou proprietário legítimo permaneçam em meu poder, dispondo deles
conforme entendo. A justiça é a titularidade de posses legítimas. Este direito ao que é
meu é um direito moral que não pode ser suplantado pelo objectivo utilitarista de
aumentar o bem-estar geral nem por ideais igualitários nem por outros direitos como
os direitos de subsistência. Providenciar serviços sociais e bens materiais aos mais
desfavorecidos redistribuindo a riqueza e forçando o pagamento de impostos é violação
do direito de propriedade individual. Segundo Nozick, pode e deve-se apelar à
generosidade dos mais favorecidos mas não é justo obrigá-los a socorrer os mais
necessitados.
«Portanto, Senhor, Tu que dás o entendimento da fé, concede-me que, quanto sabes ser-me
conveniente, entenda que existes como acreditamos e que és o que acreditamos [seres]. E na
verdade acreditamos que Tu és algo maior do que o qual nada pode ser pensado.
Acaso não existe uma tal natureza pois o insensato disse no seu coração: «não há Deus»?
Mas com certeza esse mesmo insensato, quando ouvir isto mesmo que digo, algo maior do que
o qual
nada pode ser pensado, entende o que ouve e o que entende está no seu intelecto ainda que
não entenda que isso exista. Com efeito, uma coisa é algo estar no intelecto, outra é entender
que esse algo existe. Com efeito, quando o pintor concebe previamente o que vai fazer, tem
isso mesmo no intelecto, mas ainda não entende que exista o que não fez. Mas quando já
pintou, não só o tem no intelecto como entende que existe aquilo que já fez. E, de facto, aquilo
maior do que o qual nada pode ser pensado não pode existir apenas no intelecto. Se está
apenas no intelecto pode pensar-se que existe na realidade, o que é ser maior.
Se, portanto, aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado está apenas no intelecto,
aquilo mesmo maior do que o qual nada pode ser pensado é aquilo relativamente ao qual pode
pensar-se algo maior. Existe, portanto, sem dúvida, algo maior do que o qual nada é possível
pensar não apenas no intelecto mas também na realidade.»
Explicitação do argumento
1 – Tenho no meu entendimento a ideia de Deus (como mesmo aqueles que negam a
existência de Deus têm a ideia de Deus na sua mente, então todos temos no nosso
entendimento a ideia de Deus).
2 –A ideia de Deus é a ideia de «alguma coisa maior do que a qual nada se pode pensar».
3 - Aquilo que existe na mente (entendimento) e na realidade é maior do que aquilo que
existe apenas na mente.
5 – Ora é contraditório dizer que há algo maior do que o ser maior do que o qual nada se
pode pensar.
6 - Portanto, «aquilo maior do que o qual nada se pode pensar» existe tanto na mente como
na realidade, ou seja, Deus não pode não existir (existe necessariamente).
COMENTÁRIO
O argumento é dirigido contra pessoas como o insensato (o ateu) do Salmo, 14, 1 da Bíblia, que
dizem que Deus não existe. A estratégia de Santo Anselmo consiste em mostrar que as pessoas
que negam a existência de Deus na realidade (fora da mente) não podem negar que ele exista
nas suas mentes. Mesmo os insensatos compreendem a definição que é dada de Deus porque
negar Deus exige que se compreenda ou tenha a ideia daquilo que se está a negar. Assim Deus
existe pelo menos como uma ideia na nossa mente ou no nosso entendimento, isto é quer na
mente do crente quer na mente do ateu. A questão é saber se é logicamente admissível dizer
Deus só existe na nossa mente.
Anselmo pede-nos para imaginar que sim e para retirarmos as consequências lógicas de uma tal
afirmação. Então suponhamos que Deus, «aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado»
tem uma mera existência mental. Será que esta afirmação é logicamente compatível com a
ideia de que não podemos conceber nada maior ou mais perfeito do que Deus? Anselmo conclui
que não porque se Deus fosse uma simples ideia - se só tivesse existência mental - poderíamos
pensar em algo maior do que Deus (ou em um Deus ainda maior). Como existir na realidade é
superior a existir só no pensamento e não posso conceber um ser maior do que Deus, Deus tem
de existir quer no pensamento quer na realidade.
Críticas
1.O argumento assume como pressuposto que a existência é um predicado, uma propriedade
que não pode faltar a um ser perfeito.
Immanuel Kant dirigiu uma célebre crítica a esta versão do “argumento ontológico”. Kant
interpreta o argumento do seguinte modo:
Se Deus não existisse não seria perfeito (faltar-lhe-ia uma perfeição ou propriedade
fundamental).
Os predicados são geralmente usados para definir e caracterizar coisas. Quando, por exemplo,
dizemos «o quadrado é a figura geométrica com quatro lados e quatro ângulos iguais» estamos
a usar os predicados «figura geométrica», «quatro lados iguais» e «quatro ângulos iguais» para
definir quadrado. Do mesmo modo, quando dizemos que Deus é omnipotente, omnisciente,
etc., estamos a usar os predicados «é omnipotente», «é omnisciente», etc, para definir Deus.
Mas será a existência um predicado? Kant, um dos grandes críticos do argumento ontológico,
diz que não. Quando digo que George Bush existe não estou, segundo Kant, a atribuir um
predicado ou qualidade a esse indivíduo mas simplesmente a dizer que um sujeito possuidor
de certos predicados é uma realidade efectiva e não um simples conceito na minha cabeça.
Anselmo parte do pressuposto de que a existência é uma propriedade ou predicado que uma
coisa pode ter ou não ter. Declara que ter essa propriedade é melhor do que não a ter e conclui
que Deus, ser maior do que o qual nada é possível (perfeito) tem de possuir esse predicado sob
pena de ser imperfeito e inferior a outros seres.
Segundo Kant todo este elaborado raciocínio perde o seu carácter persuasivo porque a
existência não é um predicado mas a condição da realidade efectiva de qualquer predicado.
2.O argumento cosmológico de São Tomás de Aquino
A segunda via resulta da natureza da causa eficiente. Vemos que no mundo dos sentidos existe
uma ordem das causas eficientes. Não há nenhum caso conhecido (nem, na verdade, é possível)
no qual se verifique que uma coisa é a causa eficiente de si mesma; pois, desse modo, seria
anterior a si mesma, o que é impossível. Ora, não é possível regredir infinitamente nas causas
eficientes, porque em todas as causas eficientes ordenadas, a primeira é a causa da causa
intermédia, e esta, quer seja várias ou apenas uma, é a causa da causa última. Ora, retirar a
causa é retirar o efeito. Portanto, se não existisse uma causa primeira entre as causas eficientes,
não existiria uma causa última nem nenhuma causa intermédia. Mas se for possível regredir
infinitamente nas causas eficientes, não existirá uma primeira causa eficiente, nem existirá um
último efeito, nem quaisquer causas eficientes intermédias; e tudo isto é completamente falso.
Portanto, é necessário admitir uma primeira causa eficiente, à qual todos dão o nome de Deus.
Explicitação
1 – Algumas coisas são causadas
3 – Tudo o que é causado é causado por outra coisa, por algo diferente de si.
5 – Se não pode haver uma regressão infinita nas cadeias de causas, então tem de existir uma
causa primeira que tudo causa e por nada é causada
Cada coisa na natureza tem uma causa, esta por sua vez tem outra e esta outra ainda, mas temos de
parar em algum lado para que realmente encontremos a explicação da coisa de que partimos e também
para que faça sentido falar de uma série de causas. Na verdade, se não houver uma causa primeira
(Deus) não há segunda, terceira ou quarta.
Comentário
O argumento não parte da premissa de que tudo o que existe tem uma causa. Isso evita que
faça sentido perguntar no final do argumento se Deus também não tem uma causa.
Mas se A é causado por B, B por C, C por D, D por E, e assim sucessivamente, será que a cadeia
causal é infinita?
São Tomás não o admite e nega tal hipótese mediante um argumento intermédio que é uma
redução ou refutação ao absurdo.
Eis o argumento:
- Suponhamos que há uma cadeia infinita de causas ou uma regressão infinita na cadeia de
causas (popularizada na questão do ovo e da galinha). Que consequências tem esta hipótese?
São logicamente aceitáveis?
Se as cadeias causais (as ligações causa -efeito) regridem infinitamente não há um primeiro
membro da cadeia causal e faltando um primeiro membro também falta uma primeira causa.
Mas faltando uma primeira causa falta também um primeiro efeito e outros efeitos
intermédios. Como os efeitos intermédios são, por sua vez, causa dos efeitos mais próximos e
recentes, segue-se que numa cadeia causal sem primeiro membro não há causas nem efeitos,
ou seja, não há realmente membro nenhum. Se as ligações causa - efeito regredissem
infinitamente nada haveria no início para desencadear a sua sequência.
Como isso é absurdo prova-se que na natureza as cadeias causais não podem regredir
infinitamente.
Assim sendo, tem de haver uma causa primeira que esteja na origem de toda a sequência
causal. A essa causa primeira e necessária dá-se o nome de Deus.
Críticas
1.Não se prova a existência de um Deus que tenha as características do deus das religiões
monoteístas.
A primeira causa pode ter sido não Deus mas um conjunto de agentes ou de deuses. Isto
invalida a conclusão de que o Deus monoteísta seria a origem do acontecimento a que
chamamos causa primeira.
2.O argumento não é sólido porque podemos pensar que o universo existe desde sempre e que
não teve um início.
3.Dizer que todos os acontecimentos naturais têm uma causa não implica dizer que há uma só
causa de tudo.
Se todas as coisas naturais têm uma só causa - que não está na natureza, que é sobrenatural -
podemos objectar que se todos os filhos têm uma mãe então há uma mãe de todos os que são
filhos, o que é absurdo.
5.Será preciso percorrer toda a série de cadeias causais e culminar numa eventual causa
primeira para explicar um acontecimento mais ou memos recente? Parece que não.
Se quisermos explicar porque Hitler invadiu a Polónia em 1939 podemos referir-nos à sua ambição de
encontrar espaço vital para os alemães no leste da Europa, à sua vontade de poder e ao seu ódio pelos
polacos. Se alguém disser que isto não explica porque invadiu a Polónia então temos de referir-nos às
condições económicas e políticas da Alemanha e da Áustria após a primeira guerra mundial, procurando
mostrar como essa situação contribuiu para a ascensão de Hitler ao poder e á sua aventura trágica. Se
alguém dissesse que ainda não é suficiente, teríamos de referir como era a Alemanha antes da primeira
guerra mundial e mostrar como essa guerra contribuiu para que Hitler ascendesse ao poder e anos mais
tarde quisesse dominar a Europa. Mas em algum ponto teríamos de parar e encontrar uma explicação. Não
precisamos de percorrer toda a história do mundo em sentido regressivo para encontrar as causas da
invasão da Polónia pelos exércitos de Hitler em 1939.
6. Não será o BIg Bang um ponto de paragem apropriado? Por que não parar no mundo
material?
3. O argumento teleológico ou do
desígnio
Suponha que ao atravessar uma mata tropeço numa pedra e me perguntam como foi ela ali
parar. Poderia talvez responder que, tanto quanto me é dado a saber, a pedra sempre ali
esteve; e talvez não fosse muito fácil mostrar o absurdo desta resposta. Mas suponha que eu
tinha encontrado um relógio no chão e procurava saber como podia ele estar naquele lugar.
Muito dificilmente me poderia ocorrer a resposta que tinha dado antes — que, tanto quanto
me era dado saber, o relógio poderia sempre ali ter estado. Contudo, por que razão esta
resposta, que serviu para a pedra, não serve para o relógio? Por que razão não é esta resposta
tão admissível no segundo caso como no primeiro? Por esta razão e por nenhuma outra: a
saber, quando inspeccionamos o relógio, vemos (o que não poderia acontecer no caso da
pedra) que as suas diversas partes estão forjadas e associadas com um propósito; por exemplo,
vemos que as suas diversas partes estão fabricadas e ajustadas de modo a produzir movimento
e que esse movimento está regulado de modo a assinalar a hora do dia; e vemos que se as suas
diversas partes tivessem uma forma diferente da que têm, se tivessem um tamanho diferente
do que têm ou tivessem sido colocadas de forma diferente daquela em que estão colocadas ou
se estivessem colocadas segundo uma outra ordem qualquer, a máquina não produziria
nenhum movimento ou não produziria nenhum movimento que servisse para o que este serve.
(...) Tendo este mecanismo sido observado (...), pensamos que a inferência é inevitável: o
relógio teve de ter um criador; teve de existir num tempo e num ou noutro espaço, um artífice
ou artífices que o fabricaram para o propósito que vemos ter agora e que compreenderam a
sua construção e projectaram o seu uso. (...) Pois todo o sinal de invenção, toda a manifestação
de desígnio, que existia no relógio, existe nas obras da natureza, com a diferença de que na
natureza são mais, maiores e num grau tal que excede toda a computação. Quero dizer que os
artefactos da natureza ultrapassam os artefactos da arte em complexidade, em subtileza e em
curiosidade do mecanismo; e, se possível, ainda vão mais além deles em número e variedade;
e, no entanto, num grande número de casos não são menos claramente mecânicos, não são
menos claramente artefactos, não são menos claramente adequados ao seu fim ou menos
claramente adaptados à sua função do que as produções mais perfeitas do engenho humano.
(...) Em suma, após todos os esquemas e lutas de uma filosofia relutante, temos
necessariamente de recorrer a uma Deidade. Os sinais de desígnio são demasiado fortes para
serem ignorados. O desígnio tem de ter um projectista. Esse projectista tem de ser uma
pessoa. Essa pessoa é DEUS.
Explicitação
Primeira premissa - Se abrirmos um relógio e inspeccionarmos o modo como todas as peças do
mecanismo trabalham conjunta e harmoniosamente, compreenderemos que o relógio teve de
ser criado por alguém inteligente, o relojoeiro que o fabricou.
Segunda premissa - O universo e os organismos vivos são muito semelhantes aos relógios, isto
é, também revelam complexidade e organização e harmonia (desígnio).
Comentário
Um relógio é um objecto que foi concebido com um determinado propósito ou desígnio, isto é,
cumpre uma determinada finalidade ou fim (“telos” em grego significa fim; daí a designação de
teleológico dada ao argumento).
Ora, a natureza é como um relógio. Tal como as peças do relógio formam um mecanismo que
funciona harmoniosamente (cada peça cumpre a função que lhe está destinada no conjunto)
porque não foram colocadas ao acaso, também o mundo natural revela, pela harmonia que
reina entre as diversas partes, que não foi obra do acaso ou da união fortuita dessas partes
(Não é o resultado de causas puramente físicas). Cada coisa na natureza, analogamente às
peças do relógio, cumpre uma função. Mesmo que disso não se possa aperceber, está
harmoniosamente adaptada àquilo para que aparentemente foi feita. Cada peça do todo que é
a natureza ocupa um lugar previamente definido dentro do conjunto.
Assim sendo, tal como não há relógio sem relojoeiro, não há natureza ou universo sem um
Criador, ser superiormente inteligente que pôs a natureza a funcionar como se fosse um
relógio. Esse Criador, esse grande Relojoeiro, é Deus.
O argumento de Paley compara - estabelece uma analogia – entre um relógio e as coisas e seres
vivos do universo para concluir que se, devido a certas características, o primeiro tem um
criador inteligente o universo devido a características semelhantes, também foi obra de um ser
inteligente.
Críticas
3. A complexidade dos organismos vivos é para Paley superior à dos objectos fabricados pelos
seres humanos mas isso não implica necessariamente que tenha de ser explicada por uma
causa sobrenatural – Deus.
Para Paley a beleza de uma paisagem ou a formação dos órgãos dos seres vivos (sobretudo do
olho que associa harmoniosamente um aparelho óptico e um aparelho nervoso) são exemplos
dificilmente desmentíveis de finalidade ou desígnio na natureza (de que as coisas na natureza
foram feitas para um determinado fim, isto é, segundo um plano que atribui a cada uma a
função a cumprir). Considera extremamente improvável que a harmonia natural se deva ao
encontro acidental de causas puramente naturais. Contudo, na sequência da teoria de Darwin,
a biologia actual afirma que a surpreendente harmonia e complexidade dos seres vivos pode
ser explicada através de causas simplesmente naturais, sem pressupor um desígnio inteligente
e sobrenatural. Essa complexidade dos organismos é o resultado de uma longa evolução regida
pela capacidade de adaptação dos indivíduos ao meio e à transmissão das características com
maior valor adaptativo por parte dos mais aptos e fortes na luta pela sobrevivência. A teoria de
Darwin enfraquece, de facto, a força do Argumento do Desígnio, uma vez que explica os
mesmos efeitos sem mencionar Deus como causa. A existência desta teoria acerca do
mecanismo de adaptação biológica impede o Argumento do Desígnio de constituir uma
demonstração conclusiva da existência de Deus».
EXPLICITAÇÃO
1.Quem se esforça por ser moralmente perfeito (o virtuoso) não merece uma recompensa.
2. A recompensa adequada é a felicidade moral, a felicidade devida ao mérito moral.
4. Não está em nosso poder realizar tal acordo. Não podemos dominar e governar o mundo
de modo a que este corresponda totalmente aos nossos desejos porque, pensa Kant, para tal
teríamos de ser os seus criadores ou autores.
5. Sermos dignos da felicidade mas não podermos ser felizes é moralmente injusto.
6.Só quem criou o mundo pode estabelecer essa harmonia completa e permanente entre a
virtude e a felicidade, ou seja, dar a quem se esforça por ser moralmente perfeito a felicidade
adequada ao seu sentido do dever.
8. Deus tem de existir para que seja possível esperar que a virtude será recompensada. Deus
tem de existir para que a esperança na recompensa legítima – a felicidade – tenha
fundamento.
O mal natural é o sofrimento O mal moral é o sofrimento e Um mal necessário é algo exigido
que é causado pela natureza – a dor que os seres humanos para evitar ou lutar contra um
catástrofes como tsunamis e infligem uns aos outros mal maior ou para produzir um
terramotos, doenças, (guerras, assassínios, violência bem maior. Certos tratamentos
médicos causam sofrimento mas
epidemias, etc. gratuita, discriminação, etc.).
são necessários para evitar a
morte ou recuperar e melhorar a
saúde. O sofrimento, a dor e a
injustiça são necessários se, e só
se houver um bem que sem eles
não aconteceria.
COMENTÁRIO
Para negar que o argumento seja aceitável, os defensores da existência de Deus têm de mostrar
que há razões plausíveis para considerar que todo o mal que existe no mundo é necessário.
Para defender que o argumento é plausível, os que negam a existência de Deus têm de mostrar
que há boas razões para acreditar que pelo menos algum mal existente no mundo é
desnecessário.
Vários defensores do argumento afirmam que é evidente haver mal desnecessário no mundo e
dão como exemplos o genocídio de Auschwitz e no Ruanda argumentando que seria o cúmulo
do cinismo e moralmente inaceitável afirmar desses imensos sofrimentos resultou algum bem.
Muitos teístas afirmam que Deus deve permitir e tolerar mesmo o mal desnecessário de modo
a proteger e respeitar a liberdade humana. Segundo o seu argumento, Deus escolheu criar um
mundo no qual as criaturas humanas podem realizar escolhas livres. Ora, ter livre-arbítrio
significa que somos capazes de fazer boas ou más escolhas. Criando agentes livres, Deus correu
um risco. Não podia necessariamente garantir que escolheríamos o bem em vez do mal. Não é
logicamente consistente dizer que Deus poderia ter-nos criado livres – com liberdade de
escolha - e ao mesmo tempo incapazes de fazer coisas más. Duas proposições como «Os seres
humanos têm liberdade de escolha» e «Os seres humanos estão programados para fazer só o
bem» não são compatíveis. Portanto o resultado da escolha de Deus ao criar um mundo em
que há seres livres e não meros robôs é este: Vivemos num mundo em que há pessoas que
escolhem agir de forma virtuosa, boa, solidária e pessoas que escolhem que escolhem agir de
forma destrutiva, odiosa, imoral e maldosa.
Deus deu-nos a liberdade da qual muitas vezes deriva o mal para que tenhamos valor e
dignidade moral quando essa liberdade opta pelo bem.
1.Esta defesa apresenta uma imagem de Deus desinteressado dos assuntos do mundo,
indiferente.
Ora um aspecto central da concepção teísta de Deus – a que é própria das religiões
monoteístas - é a ideia de que Deus intervem no curso do mundo. Não poderia Deus ter
evitado com a sua intervenção anomalias morais como Hitler, Estaline e Pol – Pot que
chacinaram milhões de seres humanos? Não poderia Deus permitir más escolhas aos seres
humanos mas evitar as suas más consequências?
2.Só se deve permitir o mal em nome de um bem maior mas há males cuja gravidade
ultrapassa qualquer bem.
De modo a permitir que agentes livres como nós existam Deus tem de permitir que existam os
maus resultados do uso dessa liberdade. Não é profundamente cínico dizer que Deus poderia
ter evitado os males terríveis e os horrores da história tais como Hitler, Estaline, a escravatura,
etc., mas o preço disso seria excluir os grandes momentos da história humana tais como
Mozart, Bach, Leonardo da Vinci, Gandhi, Einstein, Confúcio, Buda, e muitos outros?
3.Mesmo que o mal moral não fosse incompatível com a existência de Deus e mesmo que os
seres humanos escolhessem sempre fazer o bem haveria ainda o problema do mal natural.
Mesmo que o valor que atribuímos à posse de livre-arbítrio seja tão importante ao ponto de
admitirmos o mal moral resta um problema: que sentido atribuir ao mal natural? A chamada
«defesa do livre-arbítrio» não resolve o problema do mal desnecessário porque o desloca do
plano moral para o plano natural. Não se consegue perceber que bem maior advém do
sofrimento de quem tem cancro, de quem sofre terríveis deformações genéticas, das razias
que os terramotos, os tornados e os furacões causam? Ilibaremos Deus se dissermos que tudo
resulta do pecado original cometido por Adão e Eva? Ou dizendo que é acção do Diabo? Neste
caso não se põe em causa a omnipotência de Deus? E não é sinónimo de gratuita crueldade
que paguemos pelos pecados de antepassados imensamente longínquos e cuja existência
histórica é mais do que duvidosa? E fará sentido sermos dotados de livre-arbítrio, o que
ganhamos com isso se somos julgados pelos actos de antepassados muito remotos?
Não é uma atitude prática ou Não é uma atitude cognitiva (de Não é uma atitude
utilitária. conhecimento). subordinada, em si mesma, a
princípios e objectivos
morais.
A atitude estética é alheia a A relação com os objectos A nossa atitude só terá
qualquer consideração sobre a naturais e artísticos na forma estética se dermos
utilidade do objecto, não é experiência estética não é atenção ao objecto
determinada pelo desejo de motivada primordialmente pela contemplado por si mesmo e
posse, ou pelo eventual valor vontade de adquirir e de não à relação do objecto
monetário ou comercial do ampliar conhecimentos. com os nossos conceitos e
objecto contemplado. princípios morais.
EXEMPLO EXEMPLO
EXEMPLO
Negações desta característica
Negações desta característica
O caso do agente imobiliário que,
O biólogo que estuda um bosque
quando observa as paisagens do
de árvores milenares para verificar Negações desta
Gerês, não consegue evitar
o estado da sua flora manifesta característica
pensar no seu valor monetário,
uma atitude cognitiva e não
no excelente negócio que seria
estética, tal como o antropólogo Se uma pessoa sente prazer na
construir um aldeamento
que estuda a arquitectura e a contemplação de um dado
naquele local ou o caso de uma
cerâmica de uma comunidade objecto estético (filme, poema,
pessoa que, num museu, imagina
para conhecer os seus costumes. romance, conto…) somente por
o que seria ter um determinado
lhe reconhecer valor moral, a
quadro em sua casa, se ele
sua atitude não é estética.
combinaria com os móveis e
tapeçarias da sala.
Por que razão discordam as pessoas acerca da beleza ou da fealdade dos objectos estéticos?
Uma primeira explicação pode ser o facto de algumas pessoas não conseguirem assumir um
ponto de vista puramente estético. Há pessoas que estabelecem a ligação da obra com pontos
de vista morais e políticos, o que obviamente condiciona a sua avaliação e pode predispô-las
para aprovar ou rejeitar certas qualidades da obra. Parece consensual que um autor conotado
com o nazismo ou o fascismo tenha mais dificuldade em ser aceite.
Uma outra eventual explicação costuma acentuar a falta de educação estética de algumas
descobri-las. Ora, quem limita o seu gosto musical á chamada música pimba ou a música ligeira
3 – Encontramos na
pintura abstracta, na
música e na arte não –
figurativa exemplos de
obras artísticas que não
imitam nada.
CAPÍTULO 3
A ARTE: PRODUÇÃO E CONSUMO; ARTE E CONHECIMENTO
As Funções da Arte
A arte deve estar A arte vale por si mesma A arte é uma forma de A arte é uma forma
ao serviço da (A arte pela arte) catarse e de purificação de evasão
sociedade
O artista deve estar Teoria cujo principal Para Aristóteles a função A arte permite, quer
ao serviço da representante foi Óscar principal da arte (e referia- ao artista quer ao
sociedade, Wilde. Para esta perspectiva se sobretudo à tragédia público, a evasão
contribuir para a a única finalidade que o grega) era a de libertar face a uma realidade
implantação de artista deve ter é produzir e indirectamente o insatisfatória e
determinados criar uma obra genuína e espectador de certas desagradável. É uma
valores morais e realmente artística. A arte paixões que poderiam ser- forma de escapar à
cívicos, deve ter não deve promover lhe prejudiciais mediante a rotina quotidiana e
consciência das suas princípios éticos e políticos. contemplação das acções de iludir
responsabilidades Deve ser alheia a propósitos normalmente funestas que momentaneamente
sociais e subordinar pedagógicos e acontecem no palco. os aspectos
as suas obras à moralizadores. dolorosos quer da
O espectador comove-se e
educação da nossa existência
colectividade, revive as paixões que pessoal quer da vida
representando dominam as personagens. e da condição
acções, personagens Mediante esse “contágio” humanas. A arte
e cenas que libertar-se-ia dessas paixões oferece-nos, no seio
despertem no Críticas que seriam desastrosas, nas deste mundo tantas
espectador a moral suas consequências, se vezes insuportável e
vividas pessoalmente.
cívica que se supõe 1. A arte, em geral, exerce desencantado,
dever impregnar a Segundo Aristóteles, a “outro mundo”,
uma influência de tal modo
vida de uma tragédia provoca compaixão maravilhoso,
profunda sobre os seres
e piedade no espectador
sociedade. Temos, humanos que não é encantador e
assim, a figura do porque este reconhece que mági
aconselhável avaliá-la em
artista socialmente poderia sofrer as mesmas co.
Críticas
termos simplesmente
consequências que o herói
comprometido ao artísticos. Sem
serviço da melhoria ou o protagonista da “peça esta dimensão
da ordem social e, 2. Uma obra com teatral” se estivesse extraordinária a vida
quando os tempos o extraordinário valor envolvido em circunstâncias seria muito mais
exigem, de ideias artístico pode ser o difícil de suportar.
semelhantes.
revolucionárias. resultado de uma vontade
de denunciar o horror da
Críticas guerra como a Guernica de
Críticas
Picasso ou os vícios dos
1.Perigo de
humanos como algumas 1.A reacção do público às 1.Corre – se o risco
instrumentalização
obras de Bosch. Os novelas, agredindo por de entender em
e de submissão da
Malditos, filme de Visconti parte o artista como
actividade artística vezes os actores que
critica com a densidade representam personagens alguém que nos
por parte do poder
simbólica que o caracteriza, desagradáveis e odiosos distrai, o que pode
político.
a corrupção moral da alta criar uma
coloca alguns limites a esta
2. Quer a actividade burguesia industrial alemã sobrevalorização de
ideia de arte como catarse e
do artista quer o que apoia os nazis produções cujo valor
purificação das paixões.
produto dessa hipotecando a sua liberdade artístico é quase
actividade devem e auto-destruindo-se. inexistente.
ser avaliadas
independentemente 3. Há artistas em cuja obra, 2. Nem toda a
da sua utilidade para além de uma enorme produção artística é
(por mais elevada riqueza artística, uma forma de
que esta possa ser). encontramos aquilo a que evasão ou de criação
se pode chamar a “ideologia de mundos
3. Não é por uma do compromisso com a alternativos dado
obra de arte nos
humanidade”. Em que não se consegue
instruir, nos tornar Beethoven ecoa a ideia de conviver com os
moralmente fraternidade universal no mundos reais em
melhores, promover
“Hino à Alegria” da Nona que existimos. Nem
a unidade e Sinfonia (“Todos os homens todos os artistas
fraternidade entre chegarão a ser irmãos”) e o produzem obras de
os seres humanos
apaixonado desejo de arte para criar um
ou descrever liberdade. mundo no qual
condições reais da possam viver porque
vida que tem valor se sentem
artístico. desadaptados a este
mundo real em que
vivem.