ColetâneaInclusão Escolar - Lucelmo e Als

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COLETÂNEA

ANEC

JUNTOS PELA EDUCAÇÃO CATÓLICA

INCLUSÃO
Material organizado para
Instituições católicasas

ISBN:  978-65-991727-0-0 
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

CONSELHO SUPERIOR CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA


Ir. Irani Rupolo – Presidente Roberta Valéria Guedes de Lima
Pe. Mário Sündermann – Vice-Presidente
Ir. Cláudia Chesini – Secretária CÂMARA DE ENSINO SUPERIOR
Fabiana Deflon dos Santos Gonçalves
CONSELHEIROS
Frei Gilberto Gonçalves Garcia CÂMARA DE MANTENEDORAS
Ir. Iranilson Correia de Lima Guinartt Diniz Rodrigues Antunes
Ir. Ivanise Soares da Silva
Pe. João Batista Gomes de Lima SETOR PASTORAL/RELACIONAMENTO
Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães INSTITUCIONAL
Pe. Josafá Carlos de Siqueira Ir. Cláudia Chesini
Ir. Márcia Edvirges Pereira dos Santos
SETOR ADMINISTRATIVO/

DIRETORIA NACIONAL FINANCEIRO

Ir. Paulo Fossatti – Diretor Presidente Idelma Alves Alvarenga

Ir. Adair Aparecida Sberga – Diretora 1ª Vice-Pre-


sidente COORDENAÇÃO DE EVENTOS

Ir. Natalino Guilherme de Sousa – 2º Vice-Presidente Davi Lira Varela Rodrigues

Ir. Marli Araújo da Silva – Diretora 1ª Secretária


Pe. Maurício da Silva Ferreira – Diretor 2º Secretário SECRETÁRIA-GERAL

Pe. Roberto Duarte Rosalino – Diretor 1º Tesoureiro Tatiana Perrine

Frei Claudino Gilz – Diretor 2º Tesoureiro


ORGANIZADORAS:

CONSELHO PARA ASSUNTOS Adriane Melo de Castro Menezes

ECONÔMICOS E FISCAIS - CAEF Suely Melo de Castro Menezes

FICHA CATALOGRÁFICA Luiz Cezar Marques – Conselheiro Titular


Mauro Peres Macedo – Conselheiro Titular GERÊNCIA DE COMUNICAÇÃO
Associação Nacional de Educação Católica – ANEC.
Pe. José Marinoni – Conselheiro Suplente Natália Ribeiro Pereira
Coletânea ANEC: Inclusão. Material Organizado para Instituições Católicas /
Organizada por: Menezes, Adriane Melo de Castro; Menezes, Suely Melo de Castro. Júlia Eugênia Cury – Conselheira Suplente
– 1 ed.– Brasília: ANEC e-Book, 2020. v.2. Ir. Amélia Guerra – Conselheira Suplente PROJETO GRÁFICO
Verlindo Comunicação
Recurso digital: il.
SECRETARIA EXECUTIVA
Formato: ePub2
Requisitos do Sistema: Adobe Digital Editions. James Pinheiro dos Santos
Modo de Acesso: World Wide Web.
ISBN: 978-65-991727-0-0
1. Educação Inclusiva. 2. Educação. 3. Necessidades Educacionais Especiais. I.
Menezes, Adriane Melo de Castro. II. Menezes, Suely Melo de Castro. III. Título.
IV. Coleção.
CDD 371.91

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Educação mais aberta e inclusiva, capaz A obra é composta por 13 textos de


de escuta paciente, de diálogo constru- professores e pesquisadores da área
tivo e mútua compreensão”. de Inclusão, que versam sobre a for-
mação continuada, a aprendizagem ao
Diante desse chamado do Papa, e dan- longo da vida, o autismo, o currículo
do continuidade às ações de formação e planos de adaptação, a inclusão de
da Câmara de Educação Básica, a ANEC jovens e adultos, a Educação Bilíngue
organizou este Vol. 2 da Coletânea In- para surdos, as altas habilidades e a
clusão. O objetivo desta ação é o de superdotação, os desafios da inclu-
animar os educadores e as educadoras, são nas escolas privadas e públicas, as
de toda a sociedade, a participarem da estratégias de ensino, o trabalho de
aldeia que educa, assumindo o compro-
Apresentação misso comum, com a missão profética
inclusão com estudantes com graves e
múltiplos impedimentos, o ensino re-
de colocar em ação uma Educação in- gular inclusivo, as avaliações de larga
clusiva, fraterna, justa e solidária. escala no contexto inclusivo e o uso das
A Associação Nacional de Educação Neste sentido, alerta-nos o Papa Fran-
tecnologias assistivas.
Católica (ANEC) publicou, em 2018, o cisco: “A inclusão não é uma invenção Este Vol. 2 da Coletânea Inclusão des-
Vol. 1 da Coletânea Inclusão, com textos moderna, mas parte integrante da men- tina-se a todos as(os) educadoras(es) A seleção e a organização destes tex-
que orientam as práticas pedagógicas e sagem salvífica cristã. Hoje, é necessário para que se envolvam e se interessem tos foram feitas pela professora Suely
fazem referência à legislação educacio- acelerar esse movimento inclusivo da pela Educação Inclusiva, pelas políticas Menezes, conselheira do Conselho Na-
nal, no intuito de apoiar às instituições Educação para combater a cultura do públicas e pela formação de professo- cional de Educação, e pela professora
de ensino nas discussões sobre como descarte, criada pela rejeição da frater- res, no contexto de que é a aldeia toda Dra. Adriane Menezes que dedicaram
acolher a todos os estudantes nos am- nidade como elemento constitutivo da que educa e, por isso, é necessário que grande parte de sua vida profissional e
bientes educacionais católicos. humanidade” . Assim, para suscitar uma o pacto seja feito pelos educadores, fa- acadêmica às temáticas da inclusão e
Educação inclusiva e libertadora, o Papa mília, sociedade e instituições de ensino. da diversidade.
Acolher as pessoas com deficiência, nas Francisco lança um Pacto Educativo Glo-
suas mais variadas síndromes e/ou ne- Esta Coletânea de Inclusão traz en- Que esta leitura aqueça os corações,
bal.
cessidades, além de ser um gesto huma- saios, artigos e textos discursivos que traga luz para os educadores e seja
nitário, é um direito do estudante e um Este Pacto, que marca, em 2020, os abordam o tema da inclusão, sua impor- alicerce para uma aliança geradora de
dever de todo educador e cidadão. As cinco anos de lançamento da encíclica tância, seus significados e algumas ex- paz, justiça e aceitação entre todos os
mesmas, também, ensinam-nos muitas Laudato Si’, é uma iniciativa dirigida aos periências significativas para as institui- povos da família humana.
lições de vida e de esperança, instigam- educadores de todo o mundo. Como ções educacionais. As palavras Diálogo
-nos a ter olhar mais contemplativo, a explica o próprio Pontífice, trata-se e Respeito são centrais da Coletânea, Ir. Adair Aparecida Sberga
que pautadas nos conceitos da igualda- Presidente da Câmara de
ser mais solidários e criativos em ações de um “encontro para reavivar o com-
de e das diferenças, marcam, sobrema- Educação Básica da ANEC
que promovem a equidade e a inclusão. promisso em prol e com as gerações
jovens, renovando a paixão por uma neira, o direito à Educação de qualidade
para todas(os) as(os) estudantes.

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findas especificidades que se encontram Queremos muito contribuir e somar,


no bojo dos desafios de incluir, é preciso com cada um de vocês, para que cada
pensar sobre a inclusão como algo que escola seja sempre um espaço de
requer responsabilidade coletiva, que se aprendizagem, um espaço onde cada
inicia nas formas como vemos e lidamos aluno encontre condições favoráveis
com a diferença, não apenas no âmbito ao seu desenvolvimento e onde suas
das salas de aula, mas na vida. especificidades, suas singularidades
sejam respeitadas.
É muito bom perceber, que mergulhan-

Introdução do nesse trabalho, nos irmanamos a


cada um de vocês para melhoria da
Isso não é tarefa fácil, não existe recei-
ta, existem estratégias, recursos, inves-
qualidade de atendimento aos estu- timentos, conhecimentos, que servirão
dantes que são público da educação de maneira singular a cada instituição.
Caros educadores, gestores e profes- percepções, visto que nossas diferentes especial, para os quais muitas vezes, a Incluir é processo, é devir, é busca, é
sores que dedicam suas vidas, seus sa- trajetórias nos levam a um mesmo dese- inclusão não se materializa ou se res- construção de caminhos, que se dá
beres e fazeres aos alunos das escolas jo, contribuir com a construção de redes tringe a matrícula. no caminhar, em cada passo, em cada
católicas desse grande país. de ensino mais inclusivas. experiência, Que o bem estar, a ale-
Pretendemos que essa coletânea pos- gria, os progressos, o desenvolvimento
Reunimos nessa Coletânea de Inclu- Os temas abordados nesta obra são sa ampliar horizontes conceituais, que e a aprendizagem dos alunos sejam
são 2020, conhecimentos e convic- fruto de inquietações, estudos, experi- aponte caminhos para a construção de a bússola orientadora para todos os
ções acumulados em nossas trajetórias, ências profissionais, que nos colocam, respostas às pequenas ou grandes in- ajustes que reconheçam necessários e
acrescidos do grande aprendizado das constantemente, diante de possibili- certezas, que possa servir para quando não temam em mudar, em enfrentar as
trocas, das experiências, das pesquisas, dades de dúvidas e questionamentos, enfrentarem as situações do cotidiano. barreiras e dificuldades.
dos estudos e da convivência com os que demandam paciência e disposição Adiante vão encontrar textos e refle-
estudantes, com quem trabalhamos e para discutir e pactuar infinitos ajustes xões sobre inclusão educacional, aces- Queremos que se debrucem nessa co-
desejamos incluir. e ressignificação de conceitos e práti- sibilidade curricular, formação de pro- letânea, percebendo que ela traz uma
cas, disposição para construir novos fessores para educação especial, uso de síntese de nossos desejos e sonhos de
Os autores desta Coletânea são grandes conhecimentos e colocar em questão tecnologias e aprendizagem ao longo da promover inclusão, num mundo sem en-
parceiros, que compartilharam conosco tantos outros, disposição para encon- vida, desafios do ensino e aprendizagem feites, como arte que se deve praticar,
de um intenso e rico trabalho na cons-
trar novos modos de empreendermos de alunos com Altas Habilidades, ou su- como modos diferentes de se respirar.
trução dos Pareceres do Conselho Na-
práticas educativas, que possibilitem perdotação, com transtorno do espec-
cional de Educação (CNE) que traduzem Boa leitura!
mais equidade nos processos de ensino tro autista, com deficiências múltiplas,
propostas para as novas Diretrizes da
e aprendizagem. sobre as especificidades da educação Suely Menezes
Educação Especial, que estamos torcen-
bilíngue de surdos e outros desafios que Adriane Menezes
do, possam ser regulamentados. Esse É importante destacar que, antes de
exercício exigiu grande dedicação, com- compõe o universo das escolas, de cada
começarem a leitura destes ou outros
binada com ampla abertura para novas sala de aula.
textos, antes do envolvimento com as in-

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Capítulo 6
74
OS ESTUDANTES COM GRAVES E MÚLTIPLOS IMPEDIMENTOS
E OS COMPROMISSOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Autoras: Erenice Natália Soares de Carvalho e Kátia Rosa Azevedo

Capítulo 7
88
A INCLUSÃO ESCOLAR COMO DIREITO DA PESSOA
COM AUTISMO: PARA ALÉM DA SOCIALIZAÇÃO

Sumário Autores: Flávia Luciana Guimarães Marçal Pantoja


de Araujo e Lucelmo Lacerda

Capítulo 8
104
IDENTIFICAR E ATENDER ALUNOS COM ALTAS
Capítulo 1 HABILIDADES OU SUPERDOTAÇÃO NA ESCOLA
8 Autoras: Angela Virgolim e Vera Lúcia Palmeira Pereira
DE QUE ESTAMOS FALANDO QUANDO COLOCAMOS
EM PAUTA A INCLUSÃO EDUCACIONAL?
Capítulo 9
Autora: Suely Melo de Castro Menezes 122
A EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM AO LONGO DA
Capítulo 2 VIDA COMO PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
20 E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A INCLUSÃO NAS ESCOLAS PRIVADAS:
REALIDADES E POSSIBILIDADES Autores: Eduardo Barbosa e Fabiana Silva Zuttin Cavalcante
Autoras: Aline Novaes Ximenes e Suely Melo de Castro Menezes
Capítulo 10
136 INCLUSÃO E EQUIDADE NA EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE SURDOS
Capítulo 3
34 Autoras: Vânia Elizabeth Chiella e Crisiane Nunes Bez Batti
AS ESTRATÉGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM
PARA UM CURRÍCULO INCLUSIVO
Capítulo 11
Autores: Andréa Poletto Sonza e Franclin Costa do Nascimento 150
A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Capítulo 4 NOS PROCESSOS DE AVALIAÇÕES DE LARGA ESCALA
50
A EDUCAÇÃO ESPECIAL, O CURRÍCULO E PLANOS Autoras: Nilma Santos Fontanive e Suely da Silva Rodrigues
DE ADAPTAÇÕES “RAZOÁVEIS”
Capítulo 12
Autoras: Cristina Maria Carvalho Delou e 168
INCLUSÃO EDUCACIONAL: A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO
Mariuza Aparecida Camillo Guimarães
CONTINUADA DE PROFESSORES NA OFERTA DE UMA
Capítulo 5 EDUCAÇÃO PARA TODOS
66
O USO DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO E NO Autoras: Adriane Melo de Castro Menezes e Rosana Cipriano
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO
Autor: Ivan Cláudio Pereira Siqueira
De Que Estamos
Falando Quando
Colocamos em
Pauta a Inclusão
Educacional?
Suely Menezes
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Quando discutimos a inclusão na escola, que nem sempre significa oportunidades


estamos falando da sua missão de ser de participação e aprendizagens, pois
contexto de aprendizagens significativas, ainda enfrenta muitas dificuldades na
de socialização, de aceitação da diversida- oferta educacional, de acordo com suas
de e também da necessidade de situá-la singularidades.
como espaço de valorização da diferença,
compartilhamento de experiências e de Para aprofundarmos as propostas de
oportunidades iguais para todos. gestão e as formas estruturais da Edu-
cação Especial na perspectiva inclusiva,
O princípio de igualdade da oportuni- precisamos mergulhar um pouco na his-
dade está referendado na Constituição tória e nas lutas sociais, para compreen-
Federal de 1988, que, no caput do artigo der o processo como oriundo de amplo
5°, define: movimento, desencadeado a partir da
década de 1980, discutindo políticas
Todos são iguais perante a educacionais e legislações, revelando
lei, sem distinção de qualquer diferentes momentos de debates, apro-
natureza, garantindo-se aos fundamentos e revisões. Nesses diver-
brasileiros e aos estrangeiros sos estágios, muitos paradigmas foram
residentes no país, a invio- quebrados, muitas conquistas foram
labilidade do direito à vida, alcançadas e muitos desafios ainda re-
à liberdade, à igualdade, à presentam um longo caminho a percor-
segurança e a propriedade rer, para alcance de uma educação de da exclusão social, ao estabelecer que to- autista e altas habilidades ou superdota-
(BRASIL,1988). qualidade para todos. dos os alunos devem frequentar o mesmo ção, é dos sistemas de ensino, os quais
ambiente de aprendizagem. garantem as matrículas nas classes co-
Ao colocar em prática esse princípio, No contexto internacional, prescrições muns da escola regular, preceito diferen-
estamos falando da aceitação de que as emanadas de duas convenções são fonte A Declaração de Salamanca foi regu- cial defendido e estabelecido pela Política
pessoas são diferentes, que apresentam inspiradora para a legislação brasileira, na lamentada no Brasil pelo Decreto n.º Nacional de Educação Especial de 2008.
demandas diversas e que a lei lhes ou- sustentação dos direitos das pessoas com 3.956/2001, o que influenciou direta-
torga respeito às suas peculiaridades. deficiência: a Declaração Mundial de Edu- mente na política e na organização da Finalmente, o Decreto n.º 6.949/2009
cação para Todos (1990) e a Declaração Educação Especial como modalidade reconhece que a deficiência é um con-
Para o desenvolvimento do princípio
de Salamanca (1994). A primeira estabe- educacional. ceito em evolução, o que se configu-
da inclusão, a escola deve considerar
leceu os objetivos e metas da Educação ra na Política de Educação Especial,
as desigualdades e as diferenças, que Ainda em 2001, as Diretrizes Nacionais
Básica de forma equitativa, enquanto como eixo estruturante e garantidor
ainda são olhadas com muita resistência para a Educação Especial na Educação
a Declaração de Salamanca reforça os das ações inclusivas.
por muitos. O aluno que é público da Básica definem que a responsabilidade de
mesmos princípios e introduz a Educação
Educação Especial hoje tem garantido adaptação e atendimento dos estudantes Quando discutimos inclusão escolar, es-
Inclusiva como estratégia de superação
o acesso à escola e à classe comum, o com deficiência, transtorno do espectro tamos falando de respeito às diferenças

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e acolhimento das singularidades. Assim, Sua importância e significado ultrapas- remoção das barreiras à aprendizagem, de aprendizagens significativas e resul-
precisamos materializar esses princípios sam os limites conceituais, na busca de além de avaliações que levem em con- tados exitosos, na possibilidade de uma
em ações efetivas, no direito do aluno à respostas para as demandas sociais. sideração o exercício de competências vida cidadã e feliz.
avaliação que sinalize quem ele é, em to- e as habilidades básicas propostas pela
das as suas dimensões. Devemos também As demandas da educação inclusiva são escola. Referimo-nos, ainda, à partilha
propor, concretamente, as diferentes produtos das lutas de muitos “persona- do processo de ensino-aprendizagem
formas de atendimento e enfrentamento gens”, do embate de diferentes pontos do aluno da educação especial com pro-
(...) precisamos indagar
das barreiras à aprendizagem, por meio de vista, externados por muitas vozes. fessores sensíveis à causa e preparados
de que escolas estamos
Isso traduz convicções de muitos falan- falando, considerando
de planos de desenvolvimento e de en- para o desafio, a partir de formação
tes, situados historicamente como fa- que a educação especial
sino, com soluções metodológicas ade- profissional que lhes permita identificar
mílias, amigos, professores, defensores requer a inclusão como
quadas às necessidades de cada aluno. as dificuldades impostas pelos impedi-
da inclusão dos alunos com deficiências, princípio norteador.
Isso requer que cada instituição busque mentos e desenvolver formas de remo-
estabelecer e discutir os caminhos de ção das barreiras que interfiram no seu
transtornos do espectro autista , e 1 Para operacionalização dos princípios de
inclusão, a partir da construção dos pro- desenvolvimento pleno.
também dos estudantes com altas ha- inclusão e definição de normas e regras
jetos de vida, com propostas de ações
bilidades ou superdotação. Diante dessas reflexões precisamos in- a serem adotados nas escolas brasileiras,
de muita intencionalidade no exercício
dagar de que escolas estamos falando, é instituída a modalidade de Educação
da cidadania e da igualdade de direitos.
Assim, quando falamos de inclusão, considerando que a educação especial Organizada. Seu objetivo é dar suporte
Essa reflexão me recorda um retalho de estamos respondendo a todas essas requer a inclusão como princípio norte- complementar e suplementar aos estu-
pensamento de Evelina Dagnino quando vozes que exigem os direitos à edu- ador, propondo com clareza que todas dantes com deficiência e transtorno do
fala de inclusão: cação de qualidade e à equidade – o as escolas brasileiras, sejam públicas espectro autista e altas habilidades ou
que implica na oferta de atendimento ou privadas, devem ser inclusivas, rei- superdotação, na garantia de que seus
[...] inclui a invenção/criação especializado – além do respeito às terando sempre que: direitos sejam respeitados (BRASIL, Re-
de novos direitos, que surgem suas singularidades, ações que promo- solução CEB/CNE n.º 04/2010)
de lutas específicas e de suas vam acessibilidade, de acordo com as As pessoas com deficiência,
práticas concretas. [...] essa potencialidades do aluno e exigências transtornos globais do desen- O princípio da inclusão, então, permeia
redefinição inclui não somen- do processo de ensino e aprendizagem. volvimento e altas habilidades todos os níveis e modalidades da edu-
te o direito à igualdade, como têm o direito à educação de cação no país e estabelece práticas a
também o direito à diferença, Estamos falando de acessibilidade cur- qualidade e desenvolvimento serem aplicadas nas classes comuns, na
que especifica, aprofunda, e ricular, a partir de metodologias especí- pleno de suas competências e escola especial e na classe especial, nas
amplia o direito à igualdade. ficas, materiais didáticos próprios e tec- habilidades, a ser ofertada nas classes e escolas bilíngues para surdos
(DAGNINO, 2004, p.104) nologias assistivas capazes de ajudar na escolas da rede regular de ensi- e nas escolas polos.
no, na perspectiva da educação
Dessa forma, a inclusão educacional não 1 - Os transtornos globais do desenvolvimento A Educação Especial se organiza a par-
(TGD) foram substituídos por Transtorno do Es-
inclusiva. (BRASIL, 2008)
pode ser entendida como conceito ima- tir de atendimentos educacionais es-
pectro Autista (TEA), considerando as mudanças
terial ou simples proposta teórica formal. do DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Enfim, estamos falando de uma escola pecializados, que devem ser ofertados
Transtornos Mentais) da American Pshychiatric
Association (2014). que ofereça condições de participação, independentemente dos espaços de

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escolarização, como salas comuns, es- proposta de inclusão, o que nos permite condições de limitação e de deficiência O professor é o maior aliado que esse
colas e classes especiais e outros am- refletir que a exclusão não é arbitrária ou de cada estudante, podemos desem- público pode ter. Dos professores e
bientes de ensino-aprendizagem. Esses acidental. Sempre há, por trás das ati- penhar o papel de “removedores de técnicos podemos esperar as melhores
serviços se estruturam a partir de es- tudes, uma ordem social que a justifica, barreiras” educacionais, mediadores da atitudes, tradutoras da predisposição
paços de atendimento especializados, considerando que a exclusão é construída, inclusão. É fundamental nossa convic- de incluir, do desejo de serem “remove-
como: salas de tecnologia e materiais; admitida, desenvolvida e potencializada ção de que “o outro” somos nós, e que dores de barreiras”, principalmente com
centros de atendimento; núcleos de in- quando valorizamos um padrão, quando nossa relação com esses estudantes estudos, pesquisas e com as trocas de
clusão e outros. A oferta de suporte ao elegemos o melhor, estabelecendo parâ- precisa valorizar as especificidades que experiências, capazes de fortalecer os
aluno visa garantir que a escolarização metros de avaliação por comparação. os constituem e os singularizam. alunos. Os professores têm significativa
atinja seus melhores resultados, prin- influência no enfrentamento dos medos
cipalmente nas escolas privadas que Certamente, os conceitos são impor- Precisamos falar e lembrar sempre que dos alunos; na busca de soluções que
trabalham de acordo com as propostas tantes, quando enfrentamos os desa- matricular não é incluir, que para in- valorizem as diferenças; na coragem de
do projeto pedagógico, definidas com fios de uma escola que se predispõe a cluir não basta a matrícula, que coloca utilizar as leis e normas de inclusão, no
autonomia e criatividade. incluir. Para caminharmos nessa direção, esse estudante junto com os demais cotidiano da escola; na decisão de pla-
é necessário situar a educação social e alunos. A aprendizagem não acontece nejar o desenvolvimento de cada aluno
Considerando a política da Educação institucionalmente, na sua relação com por osmose. É preciso investir, princi- na vida pessoal e escolar; na resistência
Especial como eixo estruturante das as diferenças, pois é preciso admitir que palmente, em pessoas verdadeiramen- necessária, quando for preciso come-
ações inclusivas, destacamos o desafio o vetor da exclusão não está na diferen- te inclusivas, que influam da vida dos çar de novo.
das pessoas com deficiência; adotamos ça em si, mas no valor que atribuímos estudantes com deficiência.
o conceito que as identifica, consagrado a ela. Para melhor compreendermos a Quando pensamos e falamos nos impe-
pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei n.º inclusão, precisamos insistir na diferença Assim, além de todo o aparato ambien- dimentos de várias naturezas de nos-
13.146/2015), no art. 2°: como valor positivo, respeitando-a como tal, material e tecnológico, as pessoas sos estudantes, precisamos assumir o
constitutiva do ser humano; nos consti- da escola, os professores e técnicos protagonismo de buscar os recursos
Considera-se pessoa com de- tuímos na relação com o outro tendo que precisam acreditar nas suas próprias que poderão eliminar barreiras, ins-
ficiência aquela que tem im- assumir que o “outro” somos nós, família, possibilidades como “removedores de trumentalizando o aluno com todas as
pedimento de longo prazo de escola, eu, você. (BAKHTIN, 2010) barreiras”, e nas possibilidades de o ferramentas necessárias, para que as
natureza física, mental, inte- aluno aprender, de superar barreiras, dificuldades sejam neutralizadas ou
lectual ou sensorial, o qual, em Neste sentido, o Professor Haim Gruns- de avançar nas metas educacionais. compensadas, diante dos saberes e
interação com uma ou mais pun (2005) defendia a possibilidade de fazeres propostos pela escola.
barreiras, pode obstruir sua a resiliência ser desenvolvida e criou um É necessária uma dose significativa de
participação plena e efetiva grande centro de resiliência, organizado confiança e acreditação na competên- Essa missão de remover barreiras não
na sociedade em igualdade e operacionalizado por personagens ba- cia da escola e no seu potencial, para pode ser exercida com desinteresse ou
de condições com as demais tizados de “promovedores de resiliência”. que possa impregnar o ambiente, os com improviso. As pessoas que condu-
pessoas. (BRASIL, 2015). professores, os outros alunos da clas- zem e implementam a inclusão escolar
Se considerarmos que a escola e todos se, os pais e, principalmente, o próprio precisam ser qualificadas, especiali-
Ao discutirmos esse conceito, estamos os envolvidos nela devem assumir a res- aluno, da convicção e da confiança nas zadas e, principalmente, movidas pelo
falando de como e quanto ele impacta na ponsabilidade do enfrentamento das condições de avanços e sucessos.

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desejo de incluir, de promover acesso Um dos principais eixos da inclusão dito que cada vez mais exercitarão sua “A escola não pode tudo, mas
educacional, a partir da participação e educacional é a acessibilidade curri- autonomia e criatividade, competência pode mais. Pode acolher as
acreditação na possibilidade de suces- cular, com a participação e o compro- e solidariedade na missão de mobilizar diferenças. É possível fazer
so, ancorado em planejamento deta- misso da escola e da família, além da exércitos de “removedores de barreiras” uma pedagogia que não te-
lhado do desenvolvimento geral e do discussão com o próprio estudante, que, atuando à favor da inclusão dos nha medo de estranheza, do
processo de ensino-aprendizagem de quando possível, sobre seu projeto de estudantes com deficiência, transtornos diferente, do outro”
cada aluno. vida, suas expectativas e participação do espectro autista e altas habilidades (ABRAMOWICZ, 1997, p. 89).
na sociedade. ou superdotação, possam mudar suas
Uma das principais missões dos “remo- histórias, valorizar suas diferenças, fa-
vedores de barreiras” é a garantia de Vale falar, ainda, que “removedores de zendo o melhor que podem, pela edu-
acessibilidade, de usufruto das infor- barreiras” precisam ser apoiados por cação na perspectiva inclusiva.
mações e de acesso ao currículo. Entre recursos tecnológicos assistivos, mate-
outras legislações em vigor, esse direito riais pedagógicos próprios e, principal-
foi consagrado na Lei Brasileira de In- mente, por mediadores pedagógicos,
SOBRE A AUTORA
clusão (Lei n.º 13.146/2015), LBI, no seu professores e pessoas de apoio.
título III – Da Acessibilidade – capítulo
I, art. 53, que define: Ao discutir a inclusão educacional em
SUELY MELO DE CASTRO MENEZES
nosso País, minha experiência nesses
Formação em Pedagogia com foco em Administração Es-
A acessibilidade é direito que dois últimos anos foi de uma crescente
colar e Orientação Educacional pela Universidade Federal
garante à pessoa com deficiên- confiança na construção das Diretrizes
do Pará (UFPA). Mestra em Desenvolvimento Regional pela
cia ou com mobilidade reduzida Nacionais de Educação Especial, a se-
UNITAU. Diretoria do COFENEN (Confederação Nacional de
viver de forma independente e rem propostas pelo Conselho Nacional
Escolas Particulares de Ensino). Conselheira do Conselho
exercer seus direitos de cida- de Educação (CNE). Meu sentimento
Nacional de Educação. Relatora da Comissão de Revisão
dania e de participação social. aponta que precisamos assumir, gra-
das Diretrizes Nacionais de Educação Especial.
(BRASIL, 2015) dativamente, a responsabilidade e o
compromisso de melhorar nosso prota-
A garantia de acessibilidade é uma mis- gonismo e capacidade de fazer a dife-
são relevante para a escola inclusiva, rença, a partir de estratégias inclusivas
considerando que o acesso ao currículo que cheguem ao chão das salas de aula.
e à vida escolar, a partir dos aspectos
arquitetônicos que garantem o ir e vir, Nesse contexto, tenho alegria e orgu-
representa a possibilidade de o aluno lho de ter sido educada e exercido a
chegar à sala de aula e conviver com docência em escolas privadas católicas
sua escola. do Pará. Pelo muito que essas escolas
fazem pela inclusão educacional, acre-

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REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS

ABRAMOWICZ, Anete Jaqueline Moll (org). Para além do fracasso es- _____. Ministério da Educação. CNE/CEB. Diretrizes Nacionais para a
colar. Campinas: Papirus, 1997. Educação Especial na Educação Básica. Brasília: 2001.

BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia o ato responsável. Tradução: _____. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades
Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro & João educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.
Editores, 2010.
_____. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: plano de ação
BRASIL. Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Jomtiem:
Inclusão da Pessoa com Deficiência. Diário Oficial da União: Brasília, 7 UNESCO, 1990.
set, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm. _____. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
_____. Resolução CNE/CEB n° 04, de 13 de julho de 2010. Define Diretrizes constituicaocompilado.htm.
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Diário Oficial da
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_____. Decreto n.º 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Con- Central de Venezuela, pp. 95-110, 2004.
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ccivil_03/decreto/2001/D3956.htm.

20 21
A Inclusão nas
Escolas Privadas:
Realidades e
Possibilidades
Suely Menezes
Aline Novaes Ximenes
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

A discussão sobre Educação Inclusiva é representam 15% da população mundial, A fim de fortalecer, ainda mais, os mar- as diretrizes relativas ao dever do Es-
permanente e se constitui como novo vivem com alguma deficiência”. Essa cos legais brasileiros referentes à inclu- tado para com as pessoas público-alvo
paradigma educacional do século XXI, constatação nos impõe a responsabili- são educacional, a Lei n.º 13.146/2015 da Educação Especial, ao envolver a
norteando as propostas de ensinar e dade de se materializar, plenamente, a (LBI) garante, em seu art. 27, que a edu- garantia de um sistema educacional in-
aprender, voltadas para os públicos que inclusão em todos as suas dimensões, cação “constitui direito da pessoa com clusivo, em todos os níveis: aprendizado
devem ser acolhidos, a partir do reco- com urgência e eficiência. deficiência, assegurando sistema edu- ao longo de toda a vida; garantia do
nhecimento de seus direitos de cida- cacional inclusivo em todos os níveis e ensino gratuito e compulsório; garantia
dania e do atendimento educacional de O Brasil, como participante do “Fórum aprendizado ao longo de toda a vida”. de adaptações razoáveis do Currículo;
qualidade, capaz de superar barreiras Mundial de Educação – 2015”, e signatá- Expressa, ainda no Parágrafo Único, que oferta de apoio necessário às singula-
que impossibilitam seu desenvolvimen- rio da Declaração de Incheon, torna-se ridades do estudante; adoção de medi-
to pessoal e profissional. referência como política de Educação é dever do Estado, da família, das de apoio individualizadas e efetivas;
Inclusiva, quando define metas para a da comunidade escolar e da matrícula preferencial em salas comuns;
Os debates e as discussões conceitu- “Educação 2030: rumo à educação de sociedade, assegurar Educa- além do apoio técnico e financeiro às
ais sobre a Educação no nosso tempo qualidade, inclusiva e equitativa e ao ção de qualidade à pessoa instituições privadas, com atuação ex-
produzem reflexões e proposições, as longo da vida”. com deficiência, colocando-a clusiva em Educação Especial.
quais influenciam na construção de po- a salvo de toda forma de vio-
líticas públicas, no campo de Educação Atendendo ao convite da UNESCO, re- lência, negligência e discrimi- Em uma análise mais acurada, essas di-
Inclusiva, e que reverberam nos objeti- presentantes de países e agências inter- nação. (BRASIL, 2015, s.p.) retrizes estão contempladas e reforça-
vos da Educação Especial, modalidade nacionais assinaram esta declaração que das na LBI, no Artigo 28, que estabelece
que assegura atendimento apropriado reafirma o direito humano fundamental Ao refletirmos sobre o Parágrafo Único as incumbências das esferas educacio-
aos estudantes com deficiência, trans- de inclusão e reforça o compromisso do Artigo 27, percebemos que, além do nais públicas e privadas, ampliando as
torno do espectro autista e altas habi- de ampliação dos esforços para acesso, Estado, também são responsáveis pela obrigações, propondo sistema educa-
lidades ou superdotação. equidade e inclusão educacional. educação das pessoas com deficiên- cional inclusivo em todos os níveis e
cia, também, a família, a comunidade modalidades; aprendizado ao longo da
Mesmo considerando-se a amplitude Mesmo considerando que o Brasil já escolar e a sociedade. No Artigo 28, vida; garantia de condições de acesso,
e diversidade do público de Educação estrutura essa questão em amplo e podemos, também, entender melhor o permanência, participação e aprendiza-
Especial, as grandes questões giram em importante arcabouço legal, inspirados princípio da LBI, quando define que as gem; oferta de serviços e recursos de
torno dos estudantes com deficiência, nos compromissos da Agenda 2030, instituições privadas devem cumprir as acessibilidade que eliminem barreiras e
acolhidos nas escolas comuns e regu- que propõe enfrentar todas as formas mesmas incumbências propostas para promovam inclusão plena; projeto pe-
lares do Brasil. de exclusão, manipulação, disparidades os sistemas públicos. dagógico que estabeleça atendimento
e desigualdades no acesso à Educa-
educacional especializado, acesso ao
De acordo com World Health Organiza- ção, o Congresso Nacional decreta e Vale ressaltar que a LBI é a primeira
currículo; adoção de medidas individua-
tion (2011, apud MORAES; SIMÕES; BE- a Presidência da República sanciona a legislação que expressa, de forma ex-
lizadas e coletivas que maximizem o de-
CKER, 2018, p. 47): “a deficiência é uma Lei n° 13.146/2015, a qual “Institui a Lei plícita, as obrigações da escola privada
senvolvimento acadêmico e social dos
experiência universal que impacta dire- Brasileira de Inclusão de Pessoa com relativas à Educação Especial. Entre-
estudantes com deficiência; pesquisa
ta ou indiretamente a todos. Estima-se Deficiência” (LBI), aclamada como Es- tanto, o Decreto n.º 7.611, em vigor des-
de novos métodos, técnicas, materiais
que mais de um bilhão de pessoas, que tatuto da Pessoa com Deficiência. de 2011, no seu Artigo 1°, já estabelecia

24 25
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

didáticos, equipamentos e tecnologias cação Inclusiva, a partir dos recursos do projeto pedagógico proposto • Organização de setor que coorde-
assistivas; planejamento de estudos de da Educação Especial, são mantidos pela escola a todos os alunos, não ne as ações inclusivas, composto
caso e planos de atendimento; partici- por duas cotas do FUNDEB. Quando pode ser onerado para o público de profissionais especializados em
pação dos estudantes na comunidade nos reportamos à manutenção da Edu- da Educação Especial. Assim, não dinâmica consultiva e orientadora
escolar; desenvolvimento dos aspectos cação Inclusiva, no sistema privado de pode cobrar pela oferta da esco- aos técnicos e docentes da escola
linguísticos e culturais; programas de ensino, precisamos considerar algumas laridade regular da instituição. e as famílias.
formação inicial e continuada de pro- questões, como. Vejamos:
3. O Artigo 2° do Decreto n.º • Composição de Conselho de Ges-
fessores; especialização em libras e
1. O sistema educacional inclusivo 7.611/2011 estabelece que a Edu- tores da Inclusão Educacional, o
braile; acesso a profissionais de apoio
pressupõe que todos os estu- cação Especial deve garantir os qual reunirá diretores, coorde-
e articulação intersetorial.
dantes têm direito ao acesso, à serviços de apoio especializa- nadores, professores, famílias e,
A lista de obrigações, que parece inter- participação, à permanência e à do, voltados à eliminação das eventualmente, o próprio estudan-
minável, revela a proposta de Educação aprendizagem. Assim, atender ao barreiras que possam obstruir te envolvido.
Inclusiva para as escolas públicas e priva- aluno, que é público da Educação o processo de escolarização • Elaboração de Programa de Edu-
das, restando aos mantenedores buscar Especial, torna-se inerente ao de estudantes com deficiência, cação Especial, no contexto do
formas de materializá-las, de financiá-las. papel da escola pública ou pri- transtornos globais do desenvol- projeto político pedagógico, com
vada. Se o sistema público bus- vimento e altas habilidades. objetivos bem definidos, em prol
Voltando ao Decreto n.º 7.611/2011, va- cou soluções para manutenção da inclusão educacional, com o in-
mos constatar que as incumbências, das políticas de Estado, relativas Esses serviços compreendem o conjun-
tuito de estabelecer responsabili-
propostas como dever do Estado, já à inclusão educacional, o siste- to de atividades pedagógicas e os re-
dades pelo financiamento, investi-
foram previstas quanto aos recursos ma privado precisará, também, cursos de acessibilidade, organizados,
mentos em recursos tecnológicos
para manutenção da Educação Espe- buscar formas de manutenção e continuamente, de forma complemen-
assistivos, avaliação e políticas de
cial, com a distribuição da arrecadação sustentabilidade, para cumprir os tar aos estudantes com deficiências,
capacitação.
do FUNDEB, a partir da dupla matrícula deveres das escolas, da família e transtornos do espectro autista e al-
do aluno, o que remunera o atendi- tas habilidades ou superdotação. E, de • Definição de política de acolhi-
da sociedade, para com o público
mento na sala comum e o Atendimen- forma suplementar, para os estudantes mento, identificação e acompa-
de Educação Especial.
to Educacional Especializado (AEE). com altas habilidades/superdotação e a nhamento dos estudantes, a partir
Tais atendimentos são oferecidos no 2. É importante ressaltar que a LBI, todo estudante que necessitar de apoio da qual se elaborará os Planos de
próprio sistema público, ou por insti- ao definir que as instituições pri- educacional especializado. Desenvolvimento Individual Educa-
tuições comunitárias, confessionais ou vadas devem cumprir as obriga- cional (PDIEs) dos estudantes e os
filantrópicas, sem fins lucrativos, com ções de oferta da Educação In- Neste contexto, a escola não poderá Planos de Ensino Individuais (PEIs).
atuação exclusiva de oferta de servi- clusiva, é vedada a cobrança de cobrar, de forma adicional, por ações
• Montagem e atuação de equipe es-
ços, na Educação Especial. valores adicionais em suas men- da Educação Especial de apoio aos es-
pecializada no conhecimento e no
salidades, anuidades e matrícu- tudantes, alocados nas salas comuns,
atendimento de pessoas com defi-
Assim, os deveres do Estado de finan- la. A Lei estabelece que o aten- tais como:
ciência, com transtorno do espec-
ciamento e operacionalização da Edu- dimento do alunado, no âmbito

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

tro autista e altas habilidades ou devem ser ofertadas sem acréscimos poderão ser ofertados de acordo com cesso de inclusão se, desde a análise
superdotação, e a todo estudante nas obrigações financeiras do estudan- o projeto ou a proposta pedagógica, diagnóstica do estudante, avaliações
que necessitar de apoio educacio- te incluído. Desse modo, esse trabalho respeitando a política institucional, as psicopedagógicas, acompanhamentos
nal especializado. deverá ser planejado com base nos possibilidades da escola e do estudante. terapêuticos e outras dinâmicas impor-
princípios da escola inclusiva, que or- tantes relativas ao aluno são delegadas
• Contratação de docentes regentes Nesse sentido, as escolas privadas po-
ganizará proposta no bojo do projeto à terceiros e, geralmente, os resultados
das classes comuns, preparados derão se organizar em associações
político-pedagógico, de acordo com produzidos, e que são oferecidos às
para aplicação das medidas inclusi- ou consórcios, e reunir várias escolas
sua autonomia, identidade institucional, escolas, nem sempre são acreditados
vas, propostas por especialistas com de uma rede ou de várias instituições
princípios e políticas de atuação junto pelas equipes técnicas responsáveis.
relação aos resultados acadêmicos, mantenedoras, ou estabelecer parce-
à comunidade escolar. Portanto, é importante o investimento
sociais e emocionais, a partir das ob- ria sob a égide do sindicato patronal da equipe escolar para que haja a sinto-
servações do estudante, para avalia- A escola inclusiva se movimenta com para montagem de Núcleos de Inclusão nia e a sinergia das ações em torno do
ções do desempenho, das dificulda- bons resultados, a partir de um planeja- Educacional. Esses núcleos poderão aluno, bem como a confiança e a acre-
des, dos sucessos e dos retrocessos. mento detalhado e compartilhado com ofertar serviços de apoio pedagógico, ditação da família na competência da
• Oferta de profissional de apoio es- a comunidade escolar, o que não permi- terapias individuais, formação de pro- escola. Isso é resultado de uma política
colar aos estudantes que necessi- te improvisações. Para que isso ocorra, fissionais e, principalmente, oferecer de inclusão cuidadosamente construída
tarem de acompanhamento para no âmago do projeto político-pedagó- serviços, de forma opcional às famílias, e planejada na direção de muitas ati-
locomoção, higiene e alimentação, gico, deve ser discutido e pactuado o e cobrar por tais serviços. Isso porque vidades ou investimentos que podem
em todos os momentos e espa- Programa de Inclusão Educacional da são desvinculados das mensalidades ser traduzidos e elencados como ações
ços da escola. A formação exigi- escola, com equipe gestora responsá- que mantêm o ensino regular. Os mes- estruturantes de um Núcleo de Inclusão
da deverá ser ensino médio, sem vel, instalação do colegiado para to- mos representarão a oportunidade de Escolar, que pode ser empreendimen-
qualificação que concorra com os mada de decisões e estabelecimento desenvolver propostas ousadas e am- to de uma escola ou rede de escolas.
profissionais regulamentados, bem de princípios norteadores das ações pliadas de atendimento especializado, Vale considerar que tal núcleo poderá
como oferta de acompanhantes em direção aos estudantes público da fortalecendo o princípio da inclusão. funcionar a partir de rateio de custos e
especializados aos estudantes com Educação Especial. investimentos, promovendo e atenden-
Na dinâmica das políticas de inclusão
transtorno do espectro autista. do demandas, como:
Quanto ao atendimento especializado, escolar, parte significativa das ofer-
• Articulação dos profissionais da as atividades programadas nas escolas tas de serviços, utilizadas pelas escolas
• Consultoria para planejamento, im-
escola com núcleos ou centros privadas não devem ser confundidas com privadas, são delegadas a profissionais
plantação e acompanhamento de
de atendimentos especializados, o Serviço de Atendimento Educacional autônomos ou instituições, que terceiri-
política de Educação Inclusiva, em
visando investimentos em ações Especializado (SAEE), o qual é obriga- zam projetos. Essa terceirização ocorre,
cada escola ou rede de escola.
inclusivas direcionadas aos pro- tório nas escolas públicas. Em geral, de- em especial, em avaliações diagnósticas,
fessores, aos alunos e às famílias. senvolvido no contraturno, remunerado formação dos profissionais e terapias • Organização de equipe multidisci-
pela duplo FUNDEB, autorizado para a de apoio aos alunos, quase sempre pela plinar para realização de avaliação
Vale ressaltar, então, que essas ações
Educação Especial como dever público. iniciativa e escolha das famílias. biopsicossocial dos estudantes,
propostas para o atendimento inclusivo
Na escola privada, esses atendimentos a partir de agendamento com as
do aluno inserido nas classes comuns
É muito difícil desenvolver um pro- equipes técnicas das escolas.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

• Atendimento terapêutico especia- o alunado na superação de barrei- nos processos pedagógicos de en- extensão dos cursos de formação
lizado individual ou grupal, para ras à aprendizagem. sino-aprendizagem. inicial de Educação, na busca de
alunos encaminhados de cada es- soluções para questões polêmicas
• Atendimento do alunado nas ava- • Organização de grupos de pais para
cola, por profissionais autônomos da Educação Especial.
liações psicopedagógicas, e rea- discussão e orientação sobre áreas
em parceria com o núcleo.
valiações programadas, de forma de desenvolvimento do estudante • Montagem de centro de recursos
• Formação e capacitação de pro- periódica. e seus projetos de vida. de Tecnologia da Informação e
fessores, técnicos, apoios e fa- Comunicação, para atendimento
• Oferta de cursos ou atividades, vi- • Orientação e desenvolvimento de
mílias para atendimento dos es- dos alunos público da Educação
sando o desenvolvimento de com- parcerias com os docentes e as
tudantes da Educação Especial, Especial.
petências socioemocionais, por so- famílias dos alunos em acompa-
envolvendo várias escolas, com
licitação ou indicação da escola. nhamento terapêutico, proposto • Atendimento do alunado, em am-
rateio de custos.
pela escola. bientes próprios de treinamento
• Serviços de professores e técnicos
• Desenvolvimento de suportes tec- do uso de recursos pedagógicos e
especializados, de forma itineran- • Proposição de parcerias e coope-
nológicos assistivos e metodolo- tecnológicos assistivos, de acordo
te, como apoio aos professores rações técnicas com instituições
gias de utilização dos materiais e com a singularidade de cada estu-
regentes, às famílias e aos alunos superiores para desenvolvimen-
recursos pedagógicos, para auxiliar dante.
to de projetos em prol da Edu-
cação Inclusiva, com estágios e A escola privada, no exercício da liber-
atividades práticas dos alunos das dade que lhe outorga o projeto polí-
licenciaturas. Além disso, Centros/ tico-pedagógico, precisa desenvolver
Núcleos de Atendimento Univer- cultura inclusiva institucional, como
sitários, dos cursos das áreas de investimento, como empreendimento,
Psicologia, Saúde e outros, para com visão empreendedora de valoriza-
que ofereçam serviços que pos- ção da escola básica e dos cursos su-
sam favorecer o desenvolvimento periores. Dessa forma, poderá acolher
dos estudantes. com qualidade as demandas atuais dos
alunos atendidos pela Educação Es-
• Estruturação de grupo de pes-
pecial, assumindo suas singularidades
quisa, em cooperação técnica com
com o máximo de qualidade.
instituições de ensino superior ou
institutos de pesquisa, a fim de dis- É fundamental a ampliação do conhe-
cutir áreas de desenvolvimento do cimento dos alunos, dos professores e
público de Educação Especial. das famílias, para maior compreensão
• Proposição de temas de pesqui- de suas demandas, e melhor aproveita-
sa, artigos, estudos de caso, de- mento de suas potencialidades, a partir
senvolvidos como programas de da vivência dos princípios da cultura
inclusiva na escola, responsável pelo

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

entusiasmo necessário ao trabalho co- ter seu PDIE construído coletivamente, podem realizar uma rede de troca de sustentam sua identidade institucional.
letivo. O grande propósito da escola orientando seu projeto de vida. materiais e recursos, favorecendo que
inclusiva é remover as barreiras que a inclusão aconteça de forma coletiva. Queremos acreditar na utopia de que
impedem o desenvolvimento, buscan- Como ferramenta auxiliar, elaborada podemos mudar paradigmas e que a
do recursos materiais, tecnológicos, pelos professores regentes, devemos, Quando falamos em êxito educacional escola privada não precisará recorrer
instrumentais e atitudinais que ajudem nas práticas escolares, organizar e valo- desse público parece utopia. Será uto- a álibis, como o não saber fazer, na
o estudante na superação das dificulda- rizar o Plano Individual de Ensino (PEI). pia quando pensamos no direito deste justificativa de não exercitar a inclu-
des, a partir do enfrentamento de seus Ele sugere as adaptações curriculares, aluno em ter acesso ao currículo de são educacional. Isso porque a escola
impedimentos ou dificuldades. as propostas diferenciadas, a flexibili- todos, se considerarmos suas diferen- privada já vem exercitando a inclusão
zação dos tempos, das metodologias e ças. Se considerarmos que ele tem o escolar e desenvolvendo maravilhosos
Como recurso fundamental para garan- dos processos de avaliação para cada direito de participar em igualdade de trabalhos, que conseguiram fazer da
tia de acessibilidade curricular, todas as componente, disciplina ou conteúdo. condições com os outros, se formos utopia, realidades exemplares.
instituições de ensino, e a escola priva- competentes na remoção das barrei-
da, principalmente, deverão estabelecer, Cada professor regente deverá elabo- ras; que tem o direito de permanecer e Concluímos essa reflexão com um frag-
como proposta efetiva de inclusão, a rar o PEI do aluno da Educação Espe- progredir nos percursos escolares, se mento do pensamento de Eduardo Ga-
elaboração de instrumento que organize cial relativo à sua disciplina, como sua respeitarmos sua singularidade e, prin- leano, que diz:
o trabalho do aluno, a fim de favorecer “bússola”. Por meio do PDIE, busca-se cipalmente, que pode aprender e usar
projetar as adaptações tecnológicas, fí- “A utopia está lá no horizonte.
subsídios para a organização do currí- as aprendizagens, como ferramenta
sicas, digitais e curriculares, para que as Me aproximo dois passos, ela se
culo, que pode e deve buscar itinerários para o exercício da cidadania.
limitações dos alunos sejam compensa- afasta dois passos. Por mais que
formativos específicos, além de indicar
das, suas barreiras superadas, deixando eu caminhe, jamais a alcançarei.
o uso dos materiais didáticos, das me-
claros os objetivos de aprendizagem Para que serve a utopia? Serve
todologias e das tecnologias assistivas.
propostos. A partir deste plano, pode- para isso, para que eu não deixe
É importante que toda de caminhar”. (GALEANO, 2007,
A elaboração do PDIE como instrumen- mos antever todos os atendimentos,
a comunidade escolar p. 310).
to organizador do processo escolar, concomitantes e paralelos, que devem
desenvolva ações
baseado no conhecimento do estu- ser oferecidos durante sua trajetória
dialogadas entre todos
dante, na identificação de seus poten- educacional, para que possa, ao final, os níveis de ensino.
ciais, dos desafios a serem superados obter êxito.
e das condições que concorrem para
a sua aprendizagem, desenvolvimento É importante que toda a comunidade Sabemos que é longa a caminhada para
e inclusão na escola. O PDIE deve ser escolar desenvolva ações dialogadas a escola inclusiva e queremos acreditar
construído na escola, com a partici- entre todos os níveis de ensino. Uma na utopia de que podemos construí-la.
pação de professores especializados, vez que muitos alunos necessitam de Sabemos, também, que a escola privada
professor regente, família e estudante. adaptações no que se referem aos con- é espaço privilegiado para materializar
Cada aluno da Educação Especial deve teúdos e às avaliações. Ademais, os a Educação Inclusiva, por sua autono-
professores de diferentes séries\anos mia e seu exercício de princípios que

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

SOBRE AS AUTORAS REFERÊNCIAS

SUELY MELO DE CASTRO MENEZES BRASIL. Lei n.° 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Formação em Pedagogia com foco em Administração Es- Inclusão da Pessoa com Deficiência. Diário Oficial da União, Brasília,
colar e Orientação Educacional pela Universidade Federal DF, 7 set., 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
do Pará (UFPA). Mestra em Desenvolvimento Regional pela ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 7 set. 2015.
UNITAU. Diretoria do COFENEN (Confederação Nacional de
Escolas Particulares de Ensino). Conselheira do Conselho BRASIL. Decreto n.º 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a
Nacional de Educação. Relatora da Comissão de Revisão educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras
das Diretrizes Nacionais de Educação Especial. providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 nov., 2011. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decre-
to/d7611.htm. Acesso em: 18 nov. 2011.

ALINE NOVAES XIMENES


GALEANO, Eduardo. Janela sobre a Utopia. In: GALEANO, Eduardo. As
Possui graduação em PEDAGOGIA pelo Centro Universitá- palavras andantes. Porto Alegre: L&M, 2007, p. 310.
rio de Brasília (1998), pós graduação em Psicopedagogia,
Educação sexual e orientação familiar e Gestão de Proces- MORAES, Louise; SIMÕES, Armando Amorim; BECKER, Kalinca Léia. A
sos Acadêmicos e mestrado em Educação pela Universida- Educação Especial no Brasil: Caminhos do Plano Nacional de Educa-
de Católica de Brasília (2008). Atualmente é professora e ção. In: BOF, Alvana Maria;
coordenadora do curso de Pedagogia do Centro Univer-
OLIVEIRA, Adolfo Samuel de. Cadernos de Estudos e Pesquisas em
sitário PROJEÇÃO do curso de Pedagogia. Orientadora
Políticas Educacionais. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesqui-
Educacional, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio e
sas Educacionais Anísio Teixeira, 2018.
Coordenação Pedagógica Educação Infantil e Ensino Fun-
damental anos iniciais. Acompanhamento de crianças com
necessidades especiais e práticas inclusivas. Trabalho de
estimulação Cognitiva e motora com idosos. Atendimento
clinico Psicopedagógico. Graduanda de Psicologia.

34 35
As Estratégias
de Ensino e
Aprendizagem
para um Currículo
Inclusivo
Andréa Poletto Sonza
Franclin Costa do Nascimento
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Introdução tas. Torna-se importante a atuação de autista, outros transtornos do neuro- Para tanto, será necessário entendermos
técnicos especializados que colaborarão desenvolvimento e altas habilidades ou a Lei nº 13.146 (BRASIL, 2015, p. 1) quando
Estamos diante de um desafio: as ins- com os docentes na construção desse superdotação; e sugestões para elimi- cita, em seu Artigo 2º, Parágrafo 1º, que:
tituições de ensino, ao considerar os trabalho em equipe que, a partir daqui, ná-las, por meio de um currículo flexível
construirá todos os processos educa- e atento às especificidades e ritmos de § 1o A avaliação da deficiên-
novos marcos legais e as mudanças
cionais de acordo com a singularidade aprendizagem de cada um. cia, quando necessária, será
ocorridas na Educação, ultimamente,
de cada estudante e mostrando os di- biopsicossocial, realizada por
necessitam, mais do que nunca, desen-
versos saberes já adquiridos por ele. Após o registro de todo o percurso equipe multiprofissional e in-
volver modelos e processos que pos-
No entanto, para a construção desse formativo, esse ensaio apresenta uma terdisciplinar e considerará:
sibilitem um atendimento educacional
modelo, será necessário que os siste- proposta, que já está na pauta das dis-
que, mais que “especializado”, se pre-
cussões nacionais, para certificação/ I - os impedimentos nas fun-
ocupe com as singularidades e com o mas de ensino coloquem em prática
diplomação desse perfil de alunado. ções e nas estruturas do corpo;
respeito às diferenças. Dessa forma, a todo arcabouço legal que ampara esse
partir de agora, será preciso que essas fazer inovador, bem como, conhecer na II - os fatores socioambien-
instituições pensem no Brasil com suas prática a labuta dos profissionais desse Mas por Onde tais, psicológicos e pessoais;
peculiaridades, na autonomia de esta- atendimento especializado, na busca
Começar?
dos e municípios, nas culturas regionais por uma Educação Inclusiva em que as III - a limitação no desempe-
e na desigualdade social. Tudo isso nos pessoas não sejam consideradas “espe- nho de atividades; e
Seguindo o raciocínio que pensar Cur-
remeterá a um modelo de Educação que ciais”, mas singulares. rículo e avaliação, voltados para todos
IV - a restrição de participação.
deverá ser balizado pela Base Nacional os estudantes brasileiros, é o que está
Pretendemos que este ensaio seja uma
Comum Curricular (BNCC), desenvolvido posto como desafio. Somos estimulados Dessa forma, após seu ingresso, o es-
proposta de reflexão ao pensar as diver-
com novos procedimentos, no qual não a pensar em uma instituição renovada, tudante público de Educação Especial
sas realidades em que atuam pessoas
haverá mais espaço para homogeneida- atenta às especificidades do estudan- Inclusiva, que for matriculado, deverá
comprometidas com a inclusão e, prin-
de formativa nem para instituições de te (independente de quem seja). Am- ser avaliado, considerando todos os as-
cipalmente, como encontram entraves
ensino que não atuam comprometidas pliando um pouco esse pensamento, ao pectos envolvidos no processo de seu
nos diversos sistemas de ensino, quando
com um atendimento específico e que considerar os perfis dos estudantes que desenvolvimento escolar. Para isso, será
seu planejamento propõe ao fazer peda-
não estejam abertas à inclusão. recebemos, com um olhar diferenciado necessário o estabelecimento de pro-
gógico uma maior aproximação com os
para aqueles que precisam do suporte cedimentos, fluxos e passos que atuem
Neste sentido, esses processos dife- estudantes que tenham uma deficiência,
de Educação Especial Inclusiva, devemos além da sala da aula. As estratégias de
renciados nos levarão a refletir nossas transtorno do espectro autista, outros
conceber um Currículo que considere os ensino-aprendizagem deverão ser dife-
práticas em uma perspectiva de inclu- transtornos do neurodesenvolvimento
princípios da inclusão e da acessibilidade, renciadas quando necessário, conside-
são que, até chegar à confecção dos ou altas habilidades ou superdotação.
como base nas ações pedagógicas, e que rando sempre incluir todos os estudan-
Currículos, nas diversas formas de ava-
Assim, trazemos uma reflexão acerca de envolva também as práticas sociais como tes, pensando nas diversas formas de
liação e dos modelos de certificação, a
estratégias para remoção das barreiras componentes formativos em atendimen- acessibilidade. Assim, apresentaremos a
aprendizagem passará por novos des-
impostas à escolarização de estudantes to às especificidades de cada estudante. seguir algumas considerações que forta-
dobramentos que trará para essa nova
com deficiência, transtorno do espectro lecerão esse entendimento.
dinâmica de ensino outros protagonis-

38 39
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Passo 1 – Promover as diversas di- do todo de cada aluno, novo con- pessoas em geral e da convivência instituição de ensino buscar estratégias
mensões de Acessibilidade ceito de avaliação de aprendiza- na diversidade humana resultando para sua remoção, e promover o Aten-
gem, novo conceito de educação, em quebra de preconceitos, estig- dimento Educacional Especializado
Este é um grande desafio para o aten- novo conceito de logística didática mas, estereótipos e discriminações. (AEE), concebido como “o conjunto de
dimento às pessoas com deficiência etc), de ação comunitária (meto- atividades, recursos de acessibilidade e
Comumente, as instituições tentam
ou outras necessidades educacionais dologia social, cultural, artística pedagógicos organizados institucional
quebrar as barreiras arquitetônicas
específicas, pois, envolve um conjunto etc. baseada em participação ativa) e continuamente” (BRASIL, 2011, p.1).
com a construção de rampas e adap-
de ações. Sassaki (2005, p. 19) apre- e de educação dos filhos (novos Este constitui uma potente forma de
tando banheiros (apenas para pessoas
senta as 6 (seis) dimensões que podem métodos e técnicas nas relações quebra dessas barreiras, buscando a
com deficiência física). No entanto, há
promover a Acessibilidade Curricular: familiares etc); inclusão dos alunos com deficiência,
diversos outros tipos de adaptações
transtorno do espectro autista, outros
• Acessibilidade arquitetônica, sem • Acessibilidade instrumental, sem que são tão importantes quanto as
transtornos do neurodesenvolvimento
barreiras ambientais físicas em to- barreiras nos instrumentos e rampas. Geralmente, as instituições
e altas habilidades ou superdotação.
dos os recintos internos e exter- utensílios de estudo (lápis, cane- dizem não dispor de recursos financei-
nos da escola e nos transportes ta, transferidor, régua, teclado ros para prover essas “acessibilidades Para a implementação do SAEE (Ser-
coletivos; de computador, materiais peda- físicas”. Mas, é possível produzir diver- viços de Atendimento Educacional Es-
gógicos), de atividades da vida sos recursos de acessibilidade de baixo pecializado), há espaços específicos:
• Acessibilidade comunicacional,
diária (tecnologia assistiva para custo, como os mapas táteis , sinaliza-
1
as Salas de Recursos Multifuncionais
sem barreiras na comunicação in-
comunicar, fazer a higiene pessoal, ções em braille , além de estratégias
2
– SRM (da Educação Básica) e as salas
terpessoal (face-a-face, língua de
vestir, comer, andar, tomar banho simples e baratas para a quebra de de recurso específicas ou os Núcleos
sinais, linguagem corporal, lingua-
etc) e de lazer, esporte e recre- barreiras arquitetônicas, por meio de de Atendimento/Apoio à Inclusão/de
gem gestual etc.), na comunicação
ação (dispositivos que atendam checklists de acessibilidade física, como Acessibilidade (da Educação Tecnoló-
escrita (jornal, revista, livro, carta,
às limitações sensoriais, físicas e trazem Manfredini e Liska (2020). gica e do Ensino Superior). Apesar da
apostila etc., incluindo textos em
mentais, etc); existência desses espaços em algumas
braile, textos com letras amplia-
• Acessibilidade programática, sem instituições de ensino, ainda há diver-
das para quem tem baixa visão,
barreiras invisíveis embutidas em sas fragilidades no que tange à quebra
notebook e outras tecnologias as- As estratégias de ensino-
políticas públicas (leis, decretos, aprendizagem deverão das barreiras supramencionadas, seja
sistivas para comunicar) e na co-
portarias, resoluções, medidas ser diferenciadas quando por falta de profissionais capacitados,
municação virtual (acessibilidade
provisórias etc), em regulamen- necessário, considerando insuficiência de materiais e/ou equipa-
digital);
tos (institucionais, escolares, em- sempre incluir todos os mentos adaptados e/ou pela existência
• Acessibilidade metodológica, sem
presariais, comunitários etc) e em estudantes” das barreiras atitudinais - outra dimen-
barreiras nos métodos e técnicas são de acessibilidade que depende de
normas de um geral;
de estudo (adaptações curricula- todos e de cada um para sua efetiva
Além das barreiras arquitetônicas, tra-
res, aulas baseadas nas inteligên- • Acessibilidade atitudinal, por meio
zemos para discussão também aquelas remoção3. Para ilustrar o exposto, tra-
cias múltiplas, uso de todos os esti- de programas e práticas de sensi-
de comunicação, metodológicas, ins-
los de aprendizagem, participação bilização e de conscientização das 3 - O artigo de Pôncio e Sonza (SONZA et al,
trumentais e programáticas. É dever da 2020) discute as barreiras atitudinais no ensino.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

zemos alguns exemplos: nem sempre a deficiência ou com mobilidade nos de pauta ampliada, posicionadores por conta de sua experiência escolar,
escola consegue proporcionar de for- reduzida, visando à sua auto- de mão. que é única, ele trará para a instituição
ma efetiva a comunicação interpessoal nomia, independência, quali- sua própria história de vida, um conjun-
ao estudante surdo, pois a quantidade dade de vida e inclusão social to de saberes construídos e aprendidos
Passo 2 – Identificar os atores res-
de intérpretes de Libras é insuficiente (BRASIL, 2015, p.1). e o seu modo próprio de aprender. Além
ponsáveis pela inclusão educacional
e, por vezes, inexistente; no caso dos disso, haverá o cumprimento do precei-
estudantes cegos, usuários do Sistema A Tecnologia Assistiva (TA) traz grandes to da Organização das Nações Unidas
Para o desenvolvimento de um mo-
Braille e/ou de softwares leitores de possibilidades e, juntamente com profis- (OMS) que preconiza: “Nada sobre nós,
delo de ensino-aprendizagem inclu-
tela, nem sempre a eles é propiciado sionais capacitados, é um dos potentes sem nós”.
sivo, será preciso o envolvimento de
material em Braile ou notebook para caminhos para a implementação de uma
toda instituição, desde as equipes de
sua acessibilidade digital; os professo- escola inclusiva que respeita o ritmo de Essas mesmas instituições devem ter
apoio até a direção maior da instituição.
res, por vezes, apresentam dificuldades cada um, e, sobretudo, disponibiliza re- como parceiras àquelas das quais vie-
De nada adiantará uma comunidade
metodológicas para ensinar alunos com cursos, serviços, práticas metodologias, ram seus estudantes. Pois, em tese,
escolar comprometida sem o aval da
transtorno do espectro autista, defici- estratégia, de acordo com as especifici- essa instituição tem a história educa-
gestão, bem como de nada adiantará
ência intelectual, e/ou outras especifi- dades de seu alunado. Alguns exemplos cional (Atendimento Educacional Es-
toda mobilização das Salas de Recurso
cidades. Como consequência disso, há de ferramentas gratuitas de tecnolo- pecializado, adequações/adaptações
Multifuncionais (SRM) e dos Núcleos
uma dificuldade para a quebra das bar- gia assistiva4 são: softwares leitores de realizadas, estratégias diferenciadas
de inclusão se os docentes não parti-
reiras, uma vez que não se faz adapta- tela, ampliadores de tela, softwares de utilizadas, dentre outros) do estudante,
ciparem das atividades. Portanto, cada
ção/adequação/flexibilização curricular comunicação alternativa, simuladores seu histórico de convivência escolar e
setor e cada pessoa da instituição tem
sem essas logísticas e sem acessibilida- de mouse ou de teclado, conversores todos os registros do acompanhamen-
seu papel relevante, na perspectiva de
de instrumental, principalmente, sem de fala para texto, de texto para áu- to. Essa interação facilitará a continui-
um trabalho colaborativo.
apoio da tecnologia assistiva. dio, tradutores de Língua Portuguesa dade do atendimento específico, bem
para Libras, dentre outros. No que tange Outro componente a ser envolvido é a como evitará retrabalhos.
Por falar em tecnologia assistiva, que aos recursos de tecnologia assistiva5, família. No caso de instituições da Edu-
pode perpassar as diversas dimensões muitos deles podem ser confeccionados Definidos os atores, para o desenvol-
cação Básica, a família será importante
de acessibilidade supramencionadas, a baixo custo, como: mouses e teclados vimento das ações pedagógicas inclu-
para apresentar a história de vida desse
trazemos o conceito da Lei nº 13.146: adaptados, colmeia, acionadores, adap- sivas, a instituição de ensino deverá
estudante, o seu histórico de convivên-
tação em lupas, suporte para uso do formalizar a construção de uma equi-
cia, e o principal: com esse envolvimen-
Tecnologia assistiva ou aju- smartphone como lupa, suportes para pe multisetorial, com representação
to, ela assume a corresponsabilidade na
da técnica: produtos, equipa- leitura, facilitadores para escrita, cader- de todos os setores e convidar outros
Educação do estudante e se comprome-
mentos, dispositivos, recursos, externos para comporem essa equipe,
te com seu processo formativo.
metodologias, estratégias, 4 - Ferramentas gratuitas de tecnologia assistiva inclusive, quando for o caso, trazendo
e respectivos manuais de instalação e uso dis-
práticas e serviços que objeti- poníveis em https://cta.ifrs.edu.br/tecnologia-as- Quando se tratar das instituições de outras organizações “de” e “para” pes-
sistiva/ferramentas-gratuitas-de-ta/.
vem promover a funcionalida- 5 - Recursos de tecnologia assistiva desenvolvi- Educação Tecnológica e do Ensino Su- soas com deficiência, com transtorno
de, relacionada à atividade e dos no Centro Tecnológico de Acessibilidade
perior, será imprescindível que o pró- do espectro autista, outros transtornos
(CTA) disponíveis em: https://cta.ifrs.edu.br/
à participação da pessoa com category/tecnologia-assistiva/nossos-recur- prio estudante seja protagonista, pois, do neurodesenvolvimento e altas habi-
sos-de-ta/.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

lidades ou superdotação. A equipe multisetorial da instituição de mações sobre as necessidades específi- e, quando possível, pelo pró-
ensino, em conjunto com a família e as cas, potencialidades e preferências dos prio estudante (IFRS, 2018, p.1).
instituições “de” e “para” pessoas com estudantes, também a contribuição de
Passo 3 – Formar todos os envol- Para que essa construção seja possível,
deficiência e/ou outras necessidades currículos adequados ou as adaptações/
vidos no processo setor pedagógico, profissionais da SRM
específicas poderão decidir, em reu- adequações/flexibilizações que a esse
niões estratégicas, como se dará essa estudante foram propiciadas durante (Salas de Recurso Específicas) ou do
Para possibilitar uma plena participa-
definição, tendo como base sua infra- seu percurso formativo. Núcleo de Atendimento/Apoio à Inclu-
ção dos estudantes com deficiência e/ou
estrutura e os estudantes incluídos. A são e docentes formarão uma equipe
com outras necessidades específicas na
partir disso, a primeira ferramenta a A ferramenta pedagógica a ser elabora- multiprofissional, tendo como base in-
instituição de ensino, será providencial
ser implementada será o PDIE - Plano da e utilizada pelos professores regen- formações pregressas desse estudante
que as pessoas e os setores envolvidos
de Desenvolvimento Educacional Indi- tes e o PEI - Plano de Ensino Individual: público de Educação Especial Inclusiva.
tenham, no mínimo, uma formação básica
vidual do aluno, elaborado a partir da Deste modo, definirão estratégias para
na área de inclusão. Antes de iniciar essa § O PEI é um recurso pedagógi-
avaliação biopsicossocial, que define os adequar/adaptar o Currículo de acordo
formação em serviço, cada pessoa de- co com foco individualizado no
encaminhamentos necessários para o com as especificidades de cada um. Tais
verá apontar suas fragilidades e neces- estudante e tem por finalidade
desenvolvimento pleno do estudante. procedimentos passam pela remoção
sidades para um atendimento de forma otimizar o processo de ensino das diversas barreiras de acessibilidade
adequada. Assim, quando da elaboração e aprendizagem de pessoas
Dessa forma, a instituição deverá atuar e vão desde a acessibilidade física, o
do projeto de formação, a equipe multi- com deficiência ou outras es-
com ações pedagógicas que se baseiam uso de tecnologia assistiva6, a produ-
setorial terá alguns referenciais para os pecificidades. É um registro das
em um currículo flexível e adequado a ção de materiais didático-pedagógicos
cursos. Sugere-se que seja realizado um adaptações individualizadas
cada estudante. A identificação de es- adaptados até às adaptações metodo-
levantamento dessas demandas durante que são necessárias para o es-
tudantes com deficiência, transtorno lógicas. Todas essas informações, bem
a semana pedagógica, que ocorre no iní- tudante alcançar as expectati-
do espectro autista ou outros trans- como o registro das adaptações, das
cio de cada período letivo. vas de aprendizagem definidas
tornos do neurodesenvolvimento ou estratégias e metodologias, ficam re-
altas habilidades ou superdotação deve para ele, no qual deve haver gistradas no PEI do estudante7.
Outra questão de fundamental impor-
ser feita no ato da matrícula, para que, registro dos conhecimentos e
tância é que todos os setores da insti-
por meio de um trabalho colaborativo, habilidades prévios que identi-
tuição participem dessa formação e não
ficam o repertório de partida, Passo 5 – Promover a Avaliação/
apenas os docentes. Será crucial envidar o PDIE já comece a ser traçado e seja
acompanhar a evolução em Certificação/Diplomação com um
esforços para a participação de repre- uma construção constante. Deve traçar viés inclusivo
as metas de desenvolvimento do es- direção aos objetivos, e traçar
sentantes de toda a comunidade intra-
tudante, e é elaborado pelo professor novas estratégias de ensino e O Brasil vive um momento de implemen-
escolar. Vale lembrar que até chegar à
regente, especialistas dos SAEE, equi- aprendizagem. É uma propos- tação da Base Nacional Comum Curricu-
sala de aula, o estudante terá percorrido
pe multidisciplinar, família e estudante. ta pedagógica compartilha-
diversos setores e espaços na instituição.
da, que deve ser construída 6 - Os capítulos 21 e 22 do livro de Sonza et al
(2020) trazem orientações e exemplos acerca do
de forma colaborativa pelos uso da tecnologia assistiva no contexto educacional.
Passo 4 – Definir as estratégias para O PDIE é a ferramenta de apoio que profissionais da instituição de 7 - O modelo de Plano Educacional Individualizado
encontra-se anexo à IN IFRS 12/2018, disponível em:
o ensino-aprendizagem manterá o registro, para além das infor- ensino, pais e/ou responsáveis https://ifrs.edu.br/wp-content/uploads/2018/12/IN-
PEI-21.12_Publicada_em_271218.pdf.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

lar – BNCC, a qual apresenta a proposta sos progressos de cada estudante, ao tomem como base a trajetória pessoal tes, é necessário pensar na certifica-
de construção de um grande projeto longo do curso, novas possibilidades de do estudante e o quanto ele adquiriu de ção/diplomação daqueles que tiveram
nacional para a gestão curricular, na atendimento com um projeto pedagógi- competências e habilidades no perfil de percursos formativos diferenciados.
colaboração entre os entes federados, co inclusivo. A partir disso, construída conclusão do curso escolhido. Partindo
sob a orientação da União. Assim, tendo essa consciência coletiva e definidos os do pressuposto de que todos aprende- Apresentamos a seguir, uma possibili-
o Currículo como centro desse projeto papéis, a instituição dará largos passos mos (de uma maneira ou de outra, em dade de certificação/diplomação, com
educacional, a aprendizagem deverá para ofertar aos seus estudantes, pos- forma e tempo diferentes), a certifica- a qual concordamos e que já está na
reconhecer a diversidade como uma das sibilidade de aprendizagem, aproveitan- ção/diplomação deve respeitar e reco- pauta das discussões nacionais:
características de aprender, asseguran- do toda sua potencialidade, bem como nhecer os progressos individuais dos
• A terminalidade específica para
do os meios necessários para que todos dando a eles o tempo necessário para estudantes. Assim, tendo esse olhar
alunos do Ensino Fundamental
aprendam e se engajem na sociedade. seu desenvolvimento. minucioso sobre os avanços conquis-
será fornecida apenas aos estu-
Um dos fundamentos dessa proposta é tados, a equipe multiprofissional terá
Após garantir o Currículo inclusivo, a dantes com graves deficiências
o Parecer CNE/CEB nº 17/2001, que cita: condições de avaliar as aprendizagens
equipe multiprofissional deverá estabe- múltiplas ou deficiências intelectu-
alcançadas durante esse percurso. E,
A política de inclusão de alu- lecer procedimentos para uma avaliação ais severas que não alcançaram os
a partir do diploma convencional, que
nos que apresentam necessi- biopsicossocial8 do estudante, o que, resultados de sua escolarização,
será entregue à maioria dos estudan-
dades educacionais especiais para tanto, necessitará da participação esgotadas todas as possibilidades
na rede regular de ensino não da família que, interagindo com o setor
consiste apenas na perma- pedagógico, com a Assistência Estu-
nência física desses alunos dantil, com os docentes e com a SRM ou
junto aos demais educandos, os Núcleos de Atendimento/Inclusão,
mas representa a ousadia de desenvolverão um espaço formativo
rever concepções e paradig- que consiga garantir a permanência,
mas, bem como desenvolver aprendizagem e êxito do estudante. No
o potencial dessas pessoas, caso das instituições de Educação Tec-
respeitando suas diferenças e nológica e do Ensino Superior, os estu-
atendendo suas necessidades dantes incluídos deverão ser ouvidos
(BRASIL, 2001, p. 12). quanto ao seu atendimento específico.

Para que isso aconteça, será necessário Quanto à certificação/diplomação dos


que a equipe multiprofissional da ins- estudantes com deficiência ou com
tituição mobilize, mais uma vez, todas transtorno do espectro autista é de
as pessoas e os setores, objetivando extrema importância que as avaliações
construir, colaborativamente, um Currí-
culo que quebre práticas pedagógicas 8 - Podem ser serviços específicos: de educação
e de saúde, articulando aspectos de natureza
convencionais e se detenha nos diver- biológica, psicológica, social com a pedagógica,
dentre e outras.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

de aprendizado. Essa orientação são impostas nos percursos formativos


tem como norte o estabelecido de todos aqueles que fogem ao padrão
SOBRE OS AUTORES
na LDB (BRASIL, 1996) e na Reso- de normalidade.
lução CNE/CEB 02/2001 (BRASIL,
2001), referindo-se ao Ensino Fun- Urge uma mudança de paradigma onde ANDRÉA POLETTO SONZA
damental; as dificuldades de “ensinagem” também
Possui graduação em Ciência da Computação pela Univer-
sejam postas à mesa. É hora de eviden-
• O diploma convencional será dis- sidade de Caxias do Sul (1994), especialização em Psico-
ciar as estratégias de ensino-aprendi-
ponibilizado à grande maioria dos pedagogia Institucional pela UNISUL (2000), mestrado em
zagem para um currículo inclusivo e ter
estudantes com deficiência ou com Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
coragem para mostrar nossas fragilida-
transtorno do espectro autista. (2004) e doutorado em Informática na Educação (Linha de
des enquanto instituição de ensino, pois
Caso esses estudantes tenham Pesquisa: Informática na Educação Especial) pela mesma
as dificuldades já estão postas.
percorrido itinerários formativos Universidade (2008). Atua como Assessora de Ações Afir-
diferentes do convencional, em É preciso sim, um olhar individualizado mativas, Inclusivas e Diversidade do Inclusivas do Instituto
função de suas especificidades, as para aqueles que vêm sendo deixados Federal do Rio Grande do Sul - IFRS.
informações acerca desse itinerá- à margem dos currículos convencionais;
rio específico estarão detalhadas é preciso ACREDITAR que a aprendiza-
no histórico escolar. No verso do gem ocorre quando estamos dispostos FRANCLIN COSTA DO NASCIMENTO
diploma, que é igual ao convencio- a apostar em nosso estudante! Então, Possui graduação em História e em Estudos Sociais, espe-
nal, aparecerá apenas o registro mãos à obra! cialização em Gestão da Educação Profissional e Tecno-
de que o itinerário formativo desse lógica, mestre e doutor em Educação (linha de pesquisa:
estudante encontra-se detalhado educação inclusiva). É Professor Titular aposentado do
no histórico escolar. Instituto Federal de Brasília (IFB). Está Presidente da Asso-
ciação Nacional de Educadores Inclusivos - ANEI Brasil. Tem
experiência com formação em EAD na Educação Inclusiva
Considerações e atua principalmente nos seguintes temas: Pessoas com
Finais Deficiência e outras Necessidades Específicas, Educação
para as Relações Étnico-raciais, Políticas Públicas voltadas
Esperamos que esse ensaio possa, para
para a Inclusão, Gestão da Educação Profissional e Tecnoló-
além de problematizar a implementa-
gica e Projetos Educacionais Inovadores. Além disso, presta
ção de uma educação verdadeiramen-
consultorias para instituições em inovação tecnológica e
te inclusiva, auxiliar profissionais do
em conteúdos voltados para a inclusão social e produtiva.
ensino a lançar mão de estratégias de
aprendizagem que efetivamente elimi-
nem as barreiras arquitetônicas, atitu-
dinais, metodológicas, instrumentais,
comunicacionais e programáticas que

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS

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tras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

A Educação Especial,
o Currículo e Planos
de Adaptações
“Razoáveis”
Cristina Maria Carvalho Delou
Mariuza Aparecida Camillo Guimarães

53
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

INTRODUÇÃO inclusivos, considerando as determina- metodológicas que podem ser adotadas ensinar na escola é muito complexo, pois
ções presentes em documentos interna- para a inclusão dos alunos com impe- não se trata, apenas, de organizar um
Este artigo aborda as questões referen- cionais, dos quais o Brasil era signatário. dimentos nos processos escolares, de rol de conteúdos. Quando se trata de
tes à Educação Especial, ao Currículo e Mas alerta que a inclusão não se daria forma que tenham acesso ao Currículo e pessoas com deficiência intelectual ou
aos Planos de Adaptações “Razoáveis”, por decreto, o que a prática escolar vem que lhe seja oportunizado a permanên- com altas habilidades ou superdotação,
relacionadas aos alunos com deficiên- evidenciando, nos últimos anos, em que cia e a progressão na vida escolar. ele se torna um mistério.
cia intelectual e altas habilidades ou o Ministério da Educação está imple-
mentando políticas nessa direção. Para Goodson (1995), o conhecimento A afirmação dos ordenamen-
superdotação, público da Educação Es-
e o currículo precisam ser apresenta- tos temporal e espacial, nes-
pecial. Optamos por apresentar estes
Postos estes dados iniciais, este texto dos como provisórios e possíveis de sa análise, está intimamente
dois grupos de pessoas por considerar
apresentará conceitos de Educação reconstrução. Nessa lógica, sequer ligada com o movimento de
o que, em tese, poderia ser identificado
Inclusiva e Educação Especial, a partir precisaríamos estar discutindo um cur- localização do currículo no
como grupos antagônicos ou de ex-
de alguns autores, como Guimarães rículo para a inclusão. A escola deveria processo de legitimação das
tremos, tendo em vista que o primeiro
(2012), Mendes (2008), Glat (2009). organizar o seu currículo de forma que formas de transmissão do co-
teria déficits cognitivos importantes e
Importante para a compreensão do este pudesse ser modificado, moldado nhecimento sobre as neces-
o segundo, capacidade cognitiva acima
tema central será, também, explicitar em favor do aluno, para que este pu- sidades e as possibilidades
da média. No entanto, ambos os grupos
conceitos de Currículo e de Currículo desse, do seu jeito, na sua condição, de aprendizagem dos alunos
precisam de serviços de Atendimen-
em Educação Especial, por meio de apropriar-se dos conhecimentos esco- com deficiências (SILVA, 2011,
to Educacional Especializado (AEE) e
pesquisadores como Goodson (1995), lares e das capacidades de elaborar o pp. 29-30).
olhares diferenciados para o currículo
Pacheco (2005), Silva (2011, 2019) Diaz seu próprio conhecimento.
escolar, especialmente, se consideramos
et al. (2019). Posteriormente, apresen- A autora aborda as questões temporal
a Educação Inclusiva, concepção norte-
tar a origem do termo adaptações ra- Entretanto, a discussão sobre um currí- e espacial na elaboração e execução do
adora da organização educacional.
zoáveis, presente nas políticas públicas culo que tenha esse caráter provisório, currículo. Compreender esta problema-
e normas vigentes. Na sequência, serão flexível, passível de permanente recons- tização, quando se trata de deficiência
A perspectiva da inclusão, constante
apresentados autores, tais como Gui- trução, ainda se apresenta em um hori- intelectual e de altas habilidades ou su-
em documentos indicadores para as
marães e Santos (2010), Sodré (2007), zonte a ser alcançado. Pacheco (2005, perdotação, é fundamental. A escola
políticas públicas na atualidade, come-
Delou (2007), Virgolim (2007), e ou- p. 29) afirma que o termo currículo foi não pode estabelecer o tempo e o es-
çou a ser discutida, no Brasil, apenas
tros, que tratam dos grupos de pessoas posto no dicionário pela primeira vez, paço de aprendizagem destes sujeitos à
na primeira década dos anos 2000. A
que serão objeto deste texto, além de em 1663, significando “[...] um curso, em priori. Mas então o que fazer?
construção da Educação Inclusiva nos
documentos oficiais. especial um curso regular de estudos
sistemas de ensino brasileiros tem sua
numa escola ou numa universidade”. Ve- Entramos nas especificidades que a
origem em documentos oficiais, como
Em seguida, serão apresentados ele- jam que o currículo como curso, como Convenção sobre os Direitos das Pes-
o Parecer CNE CEB nº 17/2001, o qual
mentos para a reflexão acerca de prá- caminho, já está delineado há séculos. soas com Deficiência nos traz. Vejamos
estabelece as Diretrizes Nacionais da
ticas pedagógicas possíveis, que serão, o que afirma o Art. 24:
Educação especial para a Educação Bá-
aqui, denominadas de adaptações “ra- Os processos de construção de um cur-
sica (BRASIL, 2001a) e aponta para a
zoáveis” entendidas, como as interações rículo que dê conta do que se pretende
necessidade da construção de sistemas

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Os Estados Partes reconhe- reúne os dados necessários ao acom- se darão e se apresentarão de diversas Deve-se considerar, ainda, que este
cem o direito das pessoas panhamento do estudante e o registro formas, com recursos diferenciados, não pode ser um trabalho solitário do
com deficiência à educação. no Censo Escolar do Instituto Nacional tempos, espaços (contraturno), critérios professor regente. Exige-se um tra-
Para efetivar esse direito sem de Estudos e Pesquisas Educacionais de avaliação diferenciados. É um proces- balho colaborativo, metodologias das
discriminação e com base na Anísio Teixeira (INEP). so que envolve a instituição escolar nos comumente utilizadas nas escolas, com
igualdade de oportunidades, aspectos de gestão da ação pedagógica. fileiras, escassez de material, ensino ali-
os Estados Partes assegu- A definição do PDIE é uma ferramen- geirado, ausência de avaliação baseada
rarão sistema educacional ta indispensável e que vai determinar É relevante destacar, ainda, que o Brasil em objetivos. Afinal, estamos falando
inclusivo em todos os níveis, as ações do professor, apesar de que aprovou a Base Nacional Comum Cur- de uma nova gestão da sala de aula
bem como o aprendizado deve-se destacar que, como todo pla- ricular para a Educação Básica (BNCC) (GLAT, 2009). Mas, vamos refletir um
ao longo de toda a vida, [...] nejamento, este também deve ter um (BRASIL, 2019), a qual é um documen- pouco sobre estas questões na prática,
(BRASIL, 2007, p. 28). caráter flexível. Cada aluno tem o seu to baseado na LDB, que pressupõe o considerando os grupos de pessoas de
tempo, o qual não pode ser previsto desenvolvimento de competências e que trata este artigo.
Dentre os objetivos propostos, quanto a priori, por isso a avaliação deve ser habilidades, pautado nos princípios da
à construção de sistemas educacionais processual, com objetivos e critérios equidade e inclusão. Logo, não será
inclusivos e da educação ao longo da claros, que deem aos profissionais da necessário criar um documento em se- Conceitos em Defi-
vida, apresenta-se o de “adaptações Educação dados que permitam as reto- parado para dizer que os estudantes ciência Intelectual e
razoáveis”, que pode-se considerar o madas necessárias no processo de en- com deficiências e altas habilidades ou Práticas Pedagógicas
aspecto central desse processo, pois sino e de aprendizagem do estudante. superdotação estão incluídos na BNCC.
significa essa flexibilização curricular A BNCC é o instrumento orientador dos Trabalharemos com os conceitos pre-
necessária à aprendizagem do aluno. sentes na Resolução CNE/CEB nº 02,
A partir das informações contidas no currículos e fundamenta as propostas
de 11 de setembro de 2001, que instituiu
PDIE, será estabelecido um Plano de pedagógicas adotadas pelas redes de
Pensar em “adaptações razoáveis” não as Diretrizes Nacionais para a Educação
Ensino Individual (PEI), que indicará as ensino. Portanto, os currículos serão
significa indicar uma receita, mas pro- Especial na Educação Básica (BRASIL,
metodologias, os recursos e as práticas organizados a partir dela.
duzir, na escola, novas culturas de cur- 2001b); e na Resolução CNE/CEB nº 4,
pedagógicas, que possa ir ao encontro
rículo, que implica em conhecimento de 2 de outubro de 2009, que instituiu
das diversidades de cada aluno com Nessa lógica, tem-se que analisar as
as Diretrizes Operacionais para o Aten-
do aluno, por meio de avaliação pe- deficiência e ou altas habilidades ou adaptações razoáveis numa perspecti- dimento Educacional Especializado na
dagógica e de desempenho, de modo superdotação e deverá fazer a inter- va de conjunto. Não pode significar que Educação Básica, modalidade Educa-
que o professor obtenha informações locução com o Currículo Escolar em os alunos estarão em temáticas distin- ção Especial (BRASIL, 2009).
sobre o que o aluno sabe e como ele operacionalização na sala de aula em tas, ainda que as suas aprendizagens
aprende. Os planos de adaptações po- que estiver posicionado. estejam aquém ou além da média da A primeira norma assim conceitua a defi-
dem ser resumidos em um documento sua turma. Mas, trata-se de encontrar ciência, denominada, no citado documen-
administrativo-pedagógico: o Plano de Já definimos que pensar currículo pres- o equilíbrio entre as possibilidades de to. necessidades educacionais especiais:
Desenvolvimento Individual e Escolar supõe espaços e tempos diferenciados, respostas a serem dadas pelo aluno, de
(PDIE), para alunos com deficiências ou I - dificuldades acentuadas de
pois, independente das condições apre- acordo com as suas reais possibilidades.
altas habilidades ou superdotação, que aprendizagem ou limitações no
sentadas pelo aluno, as aprendizagens

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processo de desenvolvimento intelectual, aqui denominada de defi- pessoa, separá-la da condição de nor- o saber escolar, mas o saber
que dificultem o acompanha- ciência intelectual, o prejuízo está na mal/anormal, de saúde/doença, ou ou- humano, constituído histórica
mento das atividades curricu- memória, recurso indispensável para a tras dicotomias que se confundem com e socialmente, de forma a que
lares, compreendidas em dois aprendizagem, fazendo-se necessário a identidade das pessoas com deficiên- novas relações de poder se
grupos: a) aquelas não vincu- explorar os sentidos que podem ajudar cias, dentre outras características, ela constituam, transgressões se
ladas a uma causa orgânica a memória: a descreve: consolidem e novas experiên-
específica; b) aquelas rela- cias possam ser vivenciadas.
cionadas a condições, disfun- • Visão - usar o máximo de recursos [...]. É uma jovem, uma mulher
ções, limitações ou deficiências visuais, tais como: figuras, maque- [...]. Tem nome. Tem endereço, As pessoas com deficiência intelectual,
(BRASIL, 2001b, p. 2). tes, vídeos, mapas; é brasileira [...]. Mas ninguém a comprovadamente, podem aprender.
escuta muito, nem muito bem Mas isto exige uma nova compreensão
• Audição - utilizar recursos sonoros
A norma complementar, aprovada pelo [...]. Parece, às vezes, mais pa- de currículo. Pressupõe novas relações
que possibilitem a associação de
Conselho Nacional de Educação, em tológica que normal porque é entre os profissionais da educação, en-
ideias;
2009, apresenta conceito de deficiên- desconsiderada como sujeito tre os profissionais da educação e os
cia também numa perspectiva genérica: • Tato - manipulação de objetos; que pensa, que deseja, que alunos, entre os profissionais da educa-
“Alunos com deficiência: aqueles que • Experimentação, vivências; necessita. ção e as famílias, e de alunos e famílias,
têm impedimentos de longo prazo de reciprocamente, com os profissionais
natureza física, intelectual, mental ou • Olfato e paladar - explorar cheiros Esta é a descrição de uma pessoa, uma da educação, regentes e dos serviços
sensorial” (BRASIL, 2009, p. 1). e gostos. aluna, que assim precisa ser vista. É de Atendimento Educacional Especia-
preciso estabelecer um tipo de comu- lizado. É outra escola, outro olhar, o da
Estes são recursos e percepções que
Estas normas apontam para a organi- nicação, encontrar a medida para que razoabilidade, talvez.
podem ser acessados para desenvolver
zação dos currículos, avaliação, apoios o aluno com deficiência intelectual de-
o currículo. Digamos que o currículo
especializados, formação de professo- senvolva a capacidade de significar o
é caminho a ser trilhado para aces-
res, entre outros aspectos de relevância mundo e representá-lo por algum tipo
sar a aprendizagem. Estes recursos
para o atendimento dos alunos, público de registro que possa produzir e ex- As pessoas com
e percepções são esta estrada, cujo
da Educação Especial, de forma ge- pressar conhecimento. deficiência intelectual,
percurso pode-se colher flores, frutos, comprovadamente,
neralista, considerando a perspectiva
espinhos, pedras e outras coisas para É dessa forma que Guimarães e Santos podem aprender. Mas
norteadora de ambas que entende, a
as quais posso dar significado, a partir (2010, p. 11) apresentam uma concepção, isto exige uma nova
partir da Lei de Diretrizes e Bases da
das vivências e experiências dos pró- na linha de Michel Foucault (1926-1984), compreensão de
Educação (LDB), Lei nº 9394/1996, que
prios alunos. em que é preciso compreender esses currículo.
a educação das pessoas com deficiên-
cia deve se dar, preferencialmente, em processos na perspectiva de saber e
Conforme vemos em Padilha (2001,
escolas comuns (BRASIL, 1996). poder, entendendo que o conhecimento As interlocuções entre estes sujeitos
s.p.), em sua pesquisa desenvolvida com
é transgressor, por isso que fazem parte do cotidiano das pes-
Bianca, uma jovem de 17 anos, em uma
Quando se trata de alunos com impe- soas com deficiência intelectual devem
instituição especializada, a sua primeira [...] é que o saber tem que es-
dimentos de longo prazo de natureza se constituir em informações impor-
preocupação foi a de conceituar essa tar disponível para todos, não tantes, para que os professores re-

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gentes em classes comuns e outros ao processo de aprendizagem, os recur- Conceitos Altas Habi- nadas: intelectual, liderança, psicomotora,
profissionais dos serviços de Atendi- sos pedagógicos, modos diferenciados lidades ou Superdota- artes e criatividade” (BRASIL, 2009, p. 1).
mento Educacional Especializado, com de avaliação, as tecnologias assistivas,
ção e Práticas Peda- Como dito anteriormente, a BNCC esta-
base na Convenção sobre os Direitos de acordo com os objetivos que se pre-
gógicas belece “conhecimentos, competências
das Pessoas com Deficiência (BRASIL, tende alcançar, dados os impedimentos
2008, p.11) - “e) Medidas de apoio indi- identificados. Enfim, deve-se lançar mão e habilidades que se espera que todos
Tratar do assunto Educação Especial,
vidualizadas e efetivas sejam adotadas das ferramentas que oportunizem o os estudantes desenvolvam ao longo
Currículo e Planos de Adaptações para
em ambientes que maximizem o de- acesso ao currículo escolar. da escolaridade básica” (BRASIL, 2019).
estudantes com altas habilidades/su-
senvolvimento acadêmico e social, de Contudo, os estudantes com altas habi-
perdotação é enfrentar um desafio que
acordo com a meta de inclusão plena”-, O PDIE e o PDI deverão explicitar as lidades ou superdotação podem, pon-
envolve a cultura escolar. Estudantes
elaborem o PDIE e o PEI, conforme pre- condições e necessidades específicas tualmente, apresentar conhecimentos,
com altas habilidades ou superdotação
conizado na Lei Brasileira de inclusão, apresentadas por cada aluno, as mes- competências e habilidades antes mes-
fazem parte do público da Educação Es-
Lei nº 13.145/2015 (BRASIL, 2015). mas deverão ser identificadas pelo con- mo da escola promover a aprendiza-
pecial, previsto na LDB (BRASIL, 1996).
junto de profissionais que o atende, seja gem de maneira formal. São precoces,
Estes documentos devem conter in- na área da Educação, seja nas outras autodidatas, fazem antes do tempo, o
Atualmente, existem dois conceitos
formações dos alunos que indiquem que fazem interface com esta. Entretan- que todos deverão fazer mais tarde.
convivendo, concomitantemente, para
as adaptações “razoáveis” previstas to, ressalta-se que a definição das ações É o caso da leitura com fluência oral
efeito da legislação. O primeiro conceito
para o atendimento escolar, tais como profissionais cabe ao professor regente, superior aos seus pares de idade, com
está na Resolução CNE/CEB nº 02, de
as estratégias de trabalho a serem im- com apoio da equipe técnica da escola e emissão de interpretação e juízo de
11 de setembro de 2001, que instituiu as
plementadas na classe comum e nos dos professores especializados respon- valor, dos cálculos mentais complexos
Diretrizes Nacionais para a Educação
serviços de Atendimento Educacional sáveis pelos serviços de Atendimento em uma ou mais operações matemáti-
Especial na Educação Básica: “altas habi-
Especializado, as possibilidades de co- Educacional Especializado. cas, a fluência linguística para leitura e
lidades/superdotação, grande facilidade
municação, as metodologias necessárias escrita, em uma ou mais línguas estran-
de aprendizagem que os leve a dominar
geiras diferentes, os conhecimentos
rapidamente conceitos, procedimentos
científicos complexos ou o pensamento
e atitudes1.” (BRASIL, 2001b, p. 2).
filosófico que emitem, constrangendo o
O segundo conceito foi apresentado na meio social onde se encontram, porque
Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outu- os adultos não compreendem ou não
bro de 2009, que instituiu as Diretrizes praticam a justiça como esperam.
Operacionais para o Atendimento Educa-
A acentuada discrepância, demonstrada
cional Especializado na Educação Básica,
pelo desenvolvimento biopsicossocial
modalidade Educação Especial: “aqueles
mais adiantado, é o que justifica a ne-
que apresentam um potencial elevado e
cessidade de a escola realizar as adap-
grande envolvimento com as áreas do co-
tações curriculares para os estudantes
nhecimento humano, isoladas ou combi-
com altas habilidades/superdotação,
1 - Utiliza-se a barra aqui por ser citação.

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oferecendo, conforme diz o art. 59, Inc. I Para operacionalizar o dia a dia, num no programa educacional do tempo de duração demarcado e previ-
a V, as condições consideradas adequa- ambiente de bem estar psíquico e de aluno (SODRÉ, 2007, p. 64). são de organização e apresentação de
das ao atendimento deste grupo: produtividade escolar, é preciso que a trabalho final em feiras de ciências ou
escola coloque o estudante com altas As adaptações curriculares podem e em sala de aula da própria escola.
currículos, métodos, técnicas, habilidades no centro do planejamento devem ser realizadas com a participa-
recursos educativos e organi- pedagógico. Ora, se o estudante está ção da família que, regra geral, é quem Em último caso, quando todos os es-
zação específicos, para aten- classificado num ano escolar, levando- demanda a suplementação curricular forços já tiverem sido feitos para que o
der às suas necessidades; [...] -se em conta apenas a idade cronoló- para seus filhos. Valorizada com a par- estudante com altas habilidades ou su-
e aceleração para concluir em gica, e o planejamento pedagógico não ceria estabelecida, a família pode vir a perdotação se sinta engajado na turma,
menor tempo o programa es- leva em consideração o desenvolvimen- apoiar o corpo docente e a administra- com relações interpessoais adequadas,
colar para os superdotados; to integral desse aluno, certamente, ção da escola, efetivamente empenha- e, ainda assim, ele continuar sem amigos
professores com especializa- ele se sentirá deslocado, entediado da a realizar as adaptações reais que o entre os pares de idade devido à dis-
ção adequada em nível médio por apresentar conhecimentos, com- estudante demanda. “Estas estratégias crepância cognitiva e de conhecimento
ou superior, para atendimento petências e habilidades mais adianta- poderiam ajudar a minimizar o desinte- adiantado que possui, a escola deve
especializado, bem como pro- das do que o planejamento prevê. Se o resse e o tédio que a criança apresenta recorrer a uma adaptação cirúrgica,
fessores do ensino regular ca- estudante tiver que copiar ou repetir em sala de aula” (DELOU, 2007, p. 52). radical, denominada de “compactação
pacitados para a integração conteúdos e métodos que já domina, curricular” que “permite ao aluno avan-
desses educandos nas clas- certamente, ele vai vivenciar sentimen- Mas, para que os alunos avancem na çar nos conteúdos com maior rapidez,
ses comuns; educação espe- tos de frustração por estar indo à es- sala de aula, quando estão matricula- reduzindo seu ‘tempo de espera’ em sala
cial para o trabalho, visando a cola sem aprender algo novo a cada dia. dos pelo critério “idade cronológica”, a de aula, através de conteúdos/formas
sua efetiva integração na vida escola deve oferecer, em sala de aula realmente interessantes para ele” (FREI-
em sociedade, inclusive condi- As adaptações “razoáveis”, previstas ou no contraturno escolar, quando em TAS; STOBAÜS, 2011).
ções adequadas para os que na LBI para os alunos com deficiência horário integral, “técnicas e estratégias
não revelarem capacidade de intelectual, não são assim denomina- de ensino para a suplementação, a di- Inclusive quando o estudante chega à
inserção no trabalho compe- das para os alunos com altas habilida- ferenciação e o enriquecimento curri- Educação Infantil e já é leitor fluente,
titivo, mediante articulação des ou superdotação. Os estudantes cular” (VIRGOLIM, 2007, p. 10). não se deve ter dúvida quanto à verifi-
com os órgãos oficiais afins, com altas habilidades ou superdotação cação do rendimento escolar2 , obser-
bem como para aqueles que precisam avançar, sendo possível O enriquecimento escolar pode ser re- vando-se o critério: “possibilidade de
apresentam uma habilidade alizado por meio de oficinas pedagógi- avanço nos cursos e nas séries median-
superior nas áreas artística, [[...] fazer adaptações curri- cas diferenciadas individualmente, nas te verificação do aprendizado” (BRASIL,
intelectual ou psicomotora; culares para aqueles que não áreas de interesse dos estudantes com 1996, p.8). Mesmo que o Inciso II, do
acesso igualitário aos benefí- têm condições de cumprir altas habilidades ou superdotação (As- Artigo 24, diga que “a classificação em
cios dos programas sociais su- todo o conteúdo no tempo tronomia, Arqueologia, Biologia, Geo- qualquer série ou etapa, exceto a pri-
plementares disponíveis para determinado para seus pares” grafia, Matemática, Línguas, Química, meira do ensino fundamental, pode ser
o respectivo nível do ensino [...] “adaptações reais, que de Mecânica, Robótica, entre outras), or-
regular (BRASIL, 1996, p. 24). fato promovam uma mudança ganizadas em projetos individuais, com
2 - Previsto no artigo 24, Inc. V, alínea c.

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feita” (BRASIL, 1996, p. 8), não devemos Mas é importante ressaltar que as le-
esquecer que crianças com altas habi- gislações e as normas, especialmente SOBRE AS AUTORAS
lidades ou superdotação são referidas aquelas expedidas pelos sistemas de
no Capítulo V - Educação Especial, Art. ensino, os direitos e as adaptações cur-
CRISTINA MARIA CARVALHO DELOU
59, Inciso II, que não restringe a acele- riculares “razoáveis” devem estar pre-
Coordenadora-Geral de Políticas, Regulação e Formação
ração de estudos de tais estudantes. vistas no Regimento Escolar, no Projeto
de Profissionais em Educação Especial do MEC, Psicólo-
Político Pedagógico da Escola (PPP),
ga, Licenciada em Psicologia, Especialista em Educação,
A reclassificação é prevista para quem registradas oficialmente na escola com
em Deficiência Intelectual e Deficiência Visual, Mestre em
tem atraso escolar. Conforme Inciso V, Atas e outros documentos pertinentes
Educação (Área: Educação Especial – Superdotados),
alínea b, do Art. 24, que prevê a “possibi- à vida escolar, a fim de garantir os di-
Doutora em Educação, no Programa de Pós-Graduação
lidade de aceleração de estudos para alu- reitos dos estudantes e o cumprimento
em Educação: História, Política e Sociedade, Professora
nos com atraso escolar” (BRASIL, 1996, da legislação vigente. Aposentada da Faculdade de Educação da Universidade
p. 8), e pelo princípio da equidade, não se Federal Fluminense, Orientadora de cursos de Mestrado e
deve impor barreira atitudinal na escola, Este texto não tem a pretensão de
Doutorado, Pesquisadora Produtividade Nível 2 do CNPq.
frente aos estudantes com altas habilida- estabelecer verdades pois devemos
des ou superdotação, que já apresentam lembrar que as dificuldades apresen-
conhecimentos, competências e habilida- tadas pelos estudantes têm que ser MARIUZA APARECIDA CAMILLO GUIMARÃES
des do 1º ano escolar. Pensemos nisso! observadas considerando, para além
Currículo: Pedagoga; Especialização em Educação Especial,
de suas limitações e potencialidades, as Mestrado e Doutorado em Educação; Docente do Curso de
condições apresentadas pelo contexto Pedagogia/FAED/UFMS; Conselheira Suplente do Conse-
Considerações social, escolar e familiar. E, ainda, os lho Estadual de Educação (CEE MS); Vice- Coordenadora
Finais conhecimentos sobre os processos e do Fórum Estadual de Educação (FEE MS); Membro do
perspectivas educacionais para estes Grupo de Estudos e de Investigação Acadêmica nos Refe-
Entendemos que dominar todas estas sujeitos, a ciência é viva, está sempre renciais Foucaultianos. Pesquisadora da área de Educação
questões conceituais, a complexidade em movimento e trazendo novas ver- Especial, Políticas Públicas e Legislação Educacional.
das normas, transformar estes proces- dades sobre a pedagogia, as metodolo-
sos em práticas pedagógicas cotidianas gias, os recursos e outros aspectos da
não é algo fácil. Exige estudos e dedica- educação. Esperamos ter contribuído
ção, mas sobretudo, olhar para os alu- com a formação dos professores e,
nos, enxergar os potenciais, evidentes sobretudo, com a escolarização dos
ou não, pedir ajuda, trabalhar no coletivo, alunos com deficiência intelectual e
vivenciar trocas com outros profissionais, com altas habilidades/superdotação,
com as famílias, trazem novos elementos público tratado neste trabalho.
para a formação do professor, que não
se conclui com a graduação, ou mesmo
com a pós-graduação.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

O Uso de Tecnologias
na Educação e
no Atendimento
Educacional
Especializado
Ivan Cláudio Pereira Siqueira

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Há pelo menos duas décadas, se pro- O termo ‘deficiência’ signifi- (Cook & Hussey, 1995). No Brasil, havia tem acesso a essas tecnologias, seja por
blematiza a necessidade de mudanças ca uma restrição física, men- o alerta de que a legislação brasileira desconhecimento, indisponibilidade de
estruturais na educação. Um aspecto tal ou sensorial, de natureza carecia conceitualmente da: recursos e serviços, ausência de pes-
fundante dessas discussões é a disrup- permanente ou transitória, soas treinadas, programas, políticas ou
ção ocasionada pelo fenômeno digital. que limita a capacidade de (...) ideia de Serviços de Aju- financiamento.
Em tempos de pandemia do COVID-19, exercer uma ou mais ativida- das Técnicas, de metodolo-
a importância do acesso às tecnolo- des essenciais da vida diária, gias e práticas, além das fer- A meta 4 do Plano Nacional de Educa-
gias digitais ficou ainda mais evidente, causada ou agravada pelo ramentas e dispositivos, o que ção (PNE, 2014-2024) faz referência
sobretudo pelo inédito fechamento de ambiente econômico e social. é uma limitação em relação a ao Atendimento Educacional Especiali-
escolas em praticamente todo o mun- outras concepções mais am- zado (AEE), descrevendo políticas pú-
do. Entretanto, é preciso considerar Por meio da literatura especializada plas, com já foi visto ante- blicas para educandos com deficiência
que os argumentos para a mudança nacional e internacional, sabemos que riormente, e que favorecem (intelectual, física, visual e múltipla),
também devem atingir a educação es- há um expressivo conjunto de tecno- melhor uma abordagem inter- transtorno global do desenvolvimento
pecial: desenvolvimento do currículo, logias, dispositivos e serviços que se disciplinar do estudo, pesqui- (TGD) e altas habilidades. Tecnologias
planejamento do trabalho pedagógico, mostram cada vez mais fundamentais sa e desenvolvimento, nessa assistivas ainda contemplam adequa-
formação de professores e alocação de para o desenvolvimento desses estu- área do conhecimento. Jesus ção arquitetônica e material didático
recursos tecnológicos adequados. dantes. Internacionalmente, as expres- Garcia & Teófilo Galvão Filho apropriado. Antes do PNE, a Secreta-
sões utilizadas são Assistive technology (2012, p. 21) ria de Educação Especial do Ministério
Por que a premissa corrente de que device e Assistive technology service1 . da Educação (SEESP/MEC) já havia
os estudantes devem estar no centro Em português, utilizamos comumente As tecnologias assistivas favorecem o traçado diretrizes e metas de inclusão
do planejamento do ensino-aprendi- Tecnologias Assistivas, Tecnologias de desenvolvimento, a autonomia e a in- escolar de estudantes com deficiência
zagem não se aplicaria aos estudantes Apoio e Ajudas Técnicas. Resultado da tegração de pessoas com diferentes por meio do AEE (Brasil, 2010).
da educação especial? Por que as com- luta dos próprios estudantes, das suas graus de deficiência ou mobilidade re-
petências do século XXI não lhes deve- famílias, dos pesquisadores e de autori- duzida nas várias dimensões da vida Há farta legislação nacional asseguran-
riam ser proporcionadas? Não deveriam dades compromissadas com a educação social – educacional, laboral, lazer. A do a inclusão desse público na socie-
os avanços nos serviços, estratégias inclusiva, a expressão remete a um sis- sua escassez ou ausência redunda em dade: Lei nº 8160, de 08/01/1991 (uso
e dispositivos digitais estar na agen- tema de serviços e produtos assistivos. exclusão, isolamento e aprofundamento do Símbolo Internacional de Surdez);
da cotidiana das instituições escolares de inúmeras dificuldades – econômicas, Decreto nº 3298, de 20/12/1999 (regu-
que atendem a esse público, sejam elas Nos Estados Unidos e na Europa, As- sociais e de saúde. Infelizmente, poucos lamenta a Lei nº 7853, de 24/11/1989,
públicas ou privadas? sistive Technology compreende não países têm políticas ou programas de sobre a Política Nacional para a Inte-
apenas dispositivos e serviços, mas tecnologias assistivas. Segundo a Orga- gração da Pessoa Portadora de Defici-
Segundo a Convenção Interamericana também estratégias e práticas efetivas nização Mundial da Saúde , somente 1
2
ência); Decreto nº 3956, de 08/10/2001
para Eliminação de Todas as Formas para assistir às pessoas com deficiência em cada 10 pessoas com necessidades (promulga a Convenção Interamericana
de Discriminação contra as Pessoas para a Eliminação de Todas as Formas
Portadoras de Deficiência: 1 - A expressão “Assistive Technology” surge 2 - Organização Mundial da Saúde. Assistive de Discriminação contra as Pessoas
no âmbito da legislação dos Estados Unidos em Technology. Disponível em: <https://www.who.int/
1988, por meio do “Public Law 100-407” e da news-room/fact-sheets/detail/assistive-technol- Portadoras de Deficiência); Decreto
“American with Disabilities Act” (ADA). ogy> Acesso em: 14 jun. 2020.

70 71
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

nº 5296, de 02/12/2004 (regulamenta va de espaço e assentos em ginásios,


a Lei nº 10048, de 08/11/2000 e a Lei salas de espetáculos, cinemas); Decreto
nº 10098, de 19/12/2000, que priori- nº 10.014, de 06/09/2019 (altera o De-
zam, respectivamente, atendimento, creto nº 5296, de 02/12/2004).
normas gerais e critérios básicos para
a promoção da acessibilidade); Decre- Contrariamente à opulência de leis, ha-
to Legislativo nº 186, de 09/07/2008 via escassez de projetos e programas
(Convenção Internacional sobre os Di- institucionais de tecnologias assistivas
reitos das Pessoas com Deficiência e pelo país. Era o que se ilustrava a par-
Na última década, houve considerável Para os estudantes com diferentes graus
de seu Protocolo Facultativo); Decreto tir de dados da Pesquisa Nacional de
acúmulo de conhecimento em relação às de surdez, há sistemas que se utilizam da
nº 7612, de 17/11/2011 (Plano Nacional Tecnologia Assistiva (2007-2008). O es-
deficiências de um modo geral e conse- tecnologia wireless em dispositivos que
dos Direitos da Pessoa com Deficiên- tudo sublinhava pouca capilaridade e a
quente desenvolvimento de estratégias, transcrevem o texto falado (subtitles) e
cia – Plano Viver sem Limites); Lei nº concentração de 77% das iniciativas em
metodologias, serviços, equipamentos ainda acrescentam a sonoridade do cená-
13146, de 06/07/2015 (Lei Brasileira apenas três estados da Federação (Rio
e tecnologias assistivas. Temos teclado rio (close captions).
de Inclusão da Pessoa com Deficiência Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janei-
virtual para auxiliar estudantes com mo-
– Estatuto da Pessoa com Deficiência); ro). A maior parte dessas ações ocorriam Aqueles com dificuldades relacionadas à
bilidade reduzida; Head Mouse, para estu-
Decreto nº 9404, de 11/06/2018 (reser- na iniciativa privada sem fins lucrativos: fala podem contar com softwares no mo-
dantes sem mobilidade nos braços usarem
computador a partir dos olhos; DOVOX, delo Speech-to-text, ou predição de pa-
que permite uso de computador por meio lavras, que convertem e transcrevem fala
Distribuição de Projetos de TA de sintetizador de som; PRO DEAF e Hand em texto. Com incrementos de inteligência
Por Unidade Da Federação Talk, que operam traduzindo texto e voz artificial, esses dispositivos melhoraram
da Língua Portuguesa para a Língua Bra- significativamente as possibilidades de
Número de Questionários

35 sileira de Sinais (LIBRAS). comunicação e interação em tempo real.


30
25 As ferramentas digitais abarcam pesso- Estudantes com dificuldades de apren-
20 as com diferentes graus de deficiência dizagem, baixa cognição ou problemas
15 visual, seja por meio de leitura, contras- relacionados ao desenvolvimento men-
10 te de cores, aumento de imagens ou tal têm demonstrado melhor interação
5 ainda com conexões para teclados em e aprendizagem por meio de tecno-
Braille ou Bluetooth, caso haja neces- logias de realidade virtual (ambiente
AC AM BA DF ES MS MG PR PE RJ RS SC SP
sidade de assistência. São exemplos o criado por computador) ou realidade
Chromebooks, o seu leitor ChromeVox e aumentada (acréscimo de informação
a G Suite for Education, aplicativos ba- à realidade). Há ainda materiais como
seados em cloud computing (computa- cartões de memória, áudio livros e tec-
ção nas nuvens), ou ainda as opções de nologias de leitura imersiva (Microsoft
acessibilidade do Microsoft Office 365. Immersive Reader), para auxiliar estu-

72 73
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

dantes com dislexia ou disgrafia, por pamentos e os dispositivos digitais,


meio da leitura oral do texto, desmem- que capacitemos docentes, gestores SOBRE O AUTOR
bramento de sílabas e oferta de fontes e equipe escolar. E que também apli-
como OpenDyslexic, que prometem quemos verdadeiramente os princípios,
IVAN CLÁUDIO PEREIRA SIQUEIRA
ajudar na leitura. Outras aplicações de os valores e as diretrizes vinculados
Doutor em Letras (FFLCH/USP). Especialista em Música e
interesse seriam as ferramentas da Li- na legislação que construímos em be-
História da Arte (Berklee College of Music - EUA). Professor
vescribe Echo Smartpen, que oferece nefício de uma educação verdadeira
na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de
um conjunto de tarefas para escrita, inclusiva. Para o tempo e as dinâmicas
São Paulo (USP). É também Presidente da Câmara de Educa-
gravação e transferência de dados. instauradas pelo fenômeno digital no
ção Básica do Conselho Nacional de Educação. Foi professor
século XXI, arte e tecnologias digitais
Estudantes com espectro de autismo visitante na Kyoto University of Foreign Studies (Japão) e
são imprescindíveis; assim como pro-
professor na educação básica na rede pública em São Paulo.
que apresentam ansiedade quando da fissionais bem preparados, valorizados Suas pesquisas envolvem: Artes, Educação e Computação.
mudança de ambientes físicos podem e com condições adequadas para o
ser beneficiados com tecnologias de exercício da profissão que assegurará a
realidade virtual que facilitam inte- possibilidade de pleno desenvolvimento
rações sociais. É o caso do aplicativo a cada estudante da educação especial,
Floreo, que apresenta variedades de conforme as suas potencialidades. REFERÊNCIAS
treinamentos para essas crianças com
autismo terem contato com o mundo
exterior sem traumas. BRASIL, 2010. Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educa-
Urge que apliquemos o ção: Publicações. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index. php?op-
Quaisquer que sejam as restrições, conhecimento disponível, tion=com_content&view=article&id=12625&Itemid=860>. Acesso em 14
de ordem física, mental ou sensorial, que utilizemos os jun. 2020.
existem inúmeros dispositivos que fa- equipamentos e os
cilitam a comunicação e tornam o en- dispositivos digitais, que COOK, Albert; HUSSEY, Susan. Assistive Technologies: Principles and
sino-aprendizagem mais efetivo, com capacitemos docentes, Practices. St. Louis, Missouri, EUA. Mosby-YearBook, Inc, 1995.
ganhos de autonomia para o estudante gestores e equipe escolar.
GARCÍA, Jesus; GALVÃO FILHO, Teófilo. Pesquisa Nacional de Tecnologia
e para a sociedade. A indústria desse
Assistiva. São Paulo: ITS BRASIL/MCTI-SECIS, 2012.
segmento não para de crescer. Também Estudantes e seus familiares, órgãos
as metodologias e processos didáticos públicos, organizações da sociedade Organização Mundial da Saúde (OMS). Assistive Technology. Disponível
se sofisticaram enormemente a partir civil, instituições de pesquisa, da saúde em: <https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/assistive-tech-
dos avanços de estudos na neurociên- e da assistência social também devem nology> Acesso em: 14 jun. 2020.
cia, na psicologia, na educação e em ajudar na construção desse novo pa-
áreas interdisciplinares de pesquisa. radigma de educação e de sociedade.

Urge que apliquemos o conhecimen-


to disponível, que utilizemos os equi-

74 75
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Os Estudantes com
Graves e Múltiplos
Impedimentos e os
Compromissos da
Educação Especial
Erenice Natália Soares de Carvalho
Kátia Rosa Azevedo

77
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

INTRODUÇÃO sional, cujas dimensões concorrem e O corpo não é [...] feixe de Como agentes, indivíduo ou grupos
interagem: pessoa e ambiente. Ou seja, nervos, músculos e sangue. atuam, no decurso de suas experiências
Este artigo aborda a concepção de a deficiência não mais se restringe a uma Não é central de informação, e diante dos acontecimentos dos quais
graves e múltiplos impedimentos indi- condição individual, ideia que prevale- nem receptáculo de estímulos participam. Tomam decisões pensan-
viduais, segundo a perspectiva biopsi- ceu, historicamente, durante séculos. [...] Não é fato inspecionado do, sentindo e agindo. Na condição de
cossocial, e tece algumas considera- pelo entendimento [...]. O cor- sujeitos, vão além: indivíduo ou grupo
ções sobre o Atendimento Educacional O Caráter Biopsicos- po é um ‘sensível exemplar’ são capazes de abrir “uma via própria
Especializado cabível ao público corre- social da Situação De [...] sensível para si, porque de subjetivação” que ultrapassa o que
lacionado. O conceito de pessoa com Deficiência se sente ao sentir que sente. está estabelecido pelas normas sociais
deficiência encontra-se na Convenção Corpo cognoscente e reflexi- onde vivem as experiências, exercendo
Internacional sobre os Direitos das Pes- A vertente biopsicossocial supera o vo, móvel, movido e moven- autoria e opções criativas nas ações
soas com Deficiência – CDPcD, da ONU modelo clínico, representante da he- te, mas também se movente; (GONZÁLEZ REY; MITJÁNS MARTÍNEZ
(2006), e na Lei Brasileira de Inclusão gemonia organicista, e o modelo social, tangível, tangido e tangen- (2017, p. 73).
- LBI (2015), assim caracterizado: defensor do determinismo social da te, mas também se tangente;
deficiência, harmonizando-se em uma ouvível, ouvido e ouvinte, mas
Pessoas com deficiência são abordagem que caracteriza-se pela Impedimentos corporais
também se ouvinte; visível e
aquelas que têm impedimen- multidimensionalidade do conceito. visto, mas também vidente A emergência do sujeito constitui uma
tos de longo prazo de nature-
que se vê a si mesmo vendo. meta relevante para as pessoas em si-
za física, mental, intelectual
ou sensorial, os quais, em in- O corpo em evidência tuação de deficiência. Considerando a
O enfoque da autora aborda o corpo
teração com diversas barrei- concepção de impedimento como parte
A noção de impedimento, adotada na como ente sensível e cognoscente. Na
ras, podem obstruir sua par- integrante desse conceito, a visão com-
CDPcD, remete à ordem biológica: o perspectiva desta lógica, e ampliando
ticipação plena e efetiva na preensiva de corpo coaduna-se com a
corpo, suas estruturas e funções. O as reflexões, acrescenta-se aqui outras
sociedade em igualdades de noção de diversidade corporal, não sig-
significado adotado, neste artigo, di- considerações sobre o corpo, captu-
condições com as demais pes- nificando variação do corpo “normal”,
namiza essa noção para referir-se à rando o ser existente, sua humanida-
soas. (Art. 1). [Grifo do Autor]. “disfuncional” ou de corpo desviante,
forma corporal de estar no mundo, nos de e sua subjetividade. González Rey
como Amaral (1992) denunciou essa no-
termos defendidos por Diniz (2007). O e Mitjáns Martínez (2017) defendem
A CDPcD foi recepcionada, no Brasil, em ção historicamente hegemônica. A con-
corpo pensado nas vivências pessoais, que tanto indivíduos como grupos são
2008, como emenda constitucional e frontação dessas visões, sobre o corpo
na realidade sociocultural, contextual e capazes de gerar novas subjetivações,
regulamentada pela LBI. Vem orientando “anormal” com a ideia de corpo sadio
relacional, para além da Biologia. frente aos contextos dos quais partici-
as políticas públicas no país e as pro- “normal”, tornou-se indutora de desigual-
pam. Podem inovar no decurso de suas
duções técnicas, científicas e políticas, dade, discriminação e exclusão social.
Nessa perspectiva, uma ontologia do cor- vivências. O protagonismo social da
em cenário global. O conceito adotado
po é afirmada por Chauí (2020, pp. 58-59), pessoa pode ocorrer, segundo os cita- Na situação de deficiência, o corpo vi-
representa uma evolução paradigmá-
quando focaliza a insuficiência dos olhares dos autores, nas condições de agente vencia impedimentos que se classificam
tica, tendo em vista que compreende
nas percepções sobre o corpo: ou de sujeito. pela sua natureza, segundo as catego-
a deficiência como processo bidimen-
rias nomeadas na CDPcD. Considerando

78 79
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

as características heterogêneas desses como respostas que propiciam a emer- e de Comportamento da CID-10 (OMS, ciados. As repercussões e respostas
impedimentos, as capacidades criadoras gência da participação, da cidadania e 1993), como também da Associação sociais a essas condições impactam,
e inovadoras se expressam de maneira do protagonismo social desse agente ou Psiquiátrica Americana - Manual Diag- não somente a própria constituição da
diferenciada para cada pessoa, conso- desse sujeito. Assim, pode-se enfatizar nóstico e Estatístico de Transtornos pessoa, mas, ainda, a posição social que
ante suas possibilidades e habilidades o papel desempenhado pelas barreiras Mentais DSM-5 (APA, 2014). ocupa. A identificação e caracterização
singulares. Nesse sentido, Mitjáns Mar- físicas, sociais, atitudinais culturais e dos graves e múltiplos impedimentos
tínez1 ressalta que a garantia de direitos outras, na repressão do agente ou do No que tange aos impedimentos, de um levam em consideração os seguintes
das pessoas em situação de deficiência, modo geral, são indicados no manual de
sujeito, na sua atuação e emancipação. aspectos:
bem como das pessoas em geral, vai Classificação Internacional de Funciona-
além da acessibilidade e da Educação. lidade, Incapacidade e Saúde-CIF (OMS, • Associação entre os dois ou mais
São direitos de ser sujeito e de ser “di- Graves e Múltiplos 2003), que enfatiza os componentes da impedimentos de natureza inte-
ferente”, com garantia de expressar-se
Impedimentos2 : Saúde e os fatores a ela relacionados, lectual, mental, físico e sensorial;
e de participar ativamente, a partir das
Caracterização e pautando-se em uma visão funcional e
• Época de surgimento dos impedi-
diferenças que as caracterizam.
Heterogeneidade multidimensional, na qual as estruturas
mentos;
e as funções corporais se articulam com
O conceito de múltiplos impedimentos aspectos ambientais e contextuais, para • Intensidade dos impedimentos:
Barreiras ambientais
decorre da associação de dois ou mais compreensão da funcionalidade da pes- leve, moderada, grave (ou crité-
Frente à dualidade interativa (pesso- entre aqueles de natureza intelectual, soa na vida social, seja facilitando ou lhe rios similares) adotadas na área
a-ambiente) que define o conceito de mental, sensorial e físico. Os graves e interpondo barreiras. da saúde;
pessoa com deficiência, os ambientes múltiplos impedimentos são definidos • Qualidade, intensidade, quanti-
físico e social comparecem de modo pela área de Saúde e suas diversas es- Nesses instrumentos, os impedimentos
dade e natureza dos apoios de-
destacado, principalmente, as barreiras pecialidades, no que tange aos aspectos são identificados e qualificados em ní-
mandados pela pessoa (apoios
que impedem a plena participação do orgânicos, e pelos elementos psicosso- veis que se estendem em um contínuo
humanos, processuais, materiais,
sujeito com impedimento(s). Os efeitos ciais que também os circunscrevem. de leve a grave, propiciando elementos
técnicos e tecnológicos);
sociais, econômicos, políticos, educa- que ajudam a caracterizar demandas de
cionais e outros, colocam em evidência As disposições intelectuais e mentais apoio, atenção, cuidado e intervenção • Identificação dos impedimentos
a responsabilização do Estado, das ins- são indicadas nos sistemas de classi- para a pessoa em situação de defici- e seu maior ou menor impacto na
tituições e de outrem, frente à origem ficação que definem suas caracteriza- ência. Compõem, conjuntamente, com aprendizagem, no desenvolvimen-
da deficiência e de sua permanência ções. Entre esses, destacam-se os ma- juízos clínicos e análise de profissionais to, na funcionalidade e na partici-
para o sujeito que a vivenciam. nuais da Organização Mundial de Saúde diversos, equipes multi e interdiscipli- pação da pessoa na vida social e
- Classificação de Transtornos Mentais nares, o processo diagnóstico mediante comunitária, de modo a orientar
Remover barreiras e propiciar acessibi- avaliação biopsicossocial, legitimados os processos, recursos e fluxos de
lidade são dois fatores que se associam 2 - Antes da nova conceituação de pessoa com na Lei Brasileira de Inclusão (2015). atendimento com melhores resul-
deficiência, proposta pela ONU, na Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
tados para seu bem-estar, quali-
1 -Trabalho apresentado na Mesa Redonda “Edu- Deficiência, em 2006, a situação de múltiplos im- Impedimentos graves e múltiplos são dade de vida e promoção pessoal
cação Especial e garantia de direitos”. I Conferên- pedimentos era nomeada como deficiência múltip-
significativos, complexos e diferen- e familiar.
cia Municipal de Educação, realizado em Teresi- la, conforme o Decreto nº 5.296/2004, significan-
na/PI, s/d. do a associação de duas ou mais deficiências.

80 81
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Provimento de apoios individuais ne- serem adotadas por docentes qualifica- dantes à Educação de qualidade.
cessários, em ambientes que maximi- dos para atuação com esses estudantes.
zem a aprendizagem e o desenvolvi- São preocupações da Educação Es-
Impedimentos graves Muitos estudantes, com graves e múlti- pecial, também, o uso de conceitos,
e múltiplos são mento dos estudantes com graves e
múltiplos impedimentos, são acrescen- plos impedimentos, evadem das escolas classificações e expressões utilizados
significativos, complexos
tados aos demais direitos, como tam- precocemente ou são retirados dos para identificar e caracterizar o grupo
e diferenciados.
bém acessibilidade plena com equidade. sistemas de ensino pela família, porque estudantil específico a quem se destina,
Os desafios impostos a esses estudan- não encontram acolhida no contexto tendo em vista o potencial que têm de
A análise do conjunto desses itens con- tes requerem articulação entre família, escolar ou não recebem a Educação gerar depreciação, estereótipo, rotu-
tribui para esclarecer sobre as condições escola e comunidade, tendo em vista a esperada, em uma escola que não fun- lagem e estigmatização. Sobre esses
heterogêneas, vivenciadas pelas pessoas abrangência e a natureza dos apoios ciona como efetivamente inclusiva. O aspectos, deve atuar, principalmente,
com múltiplos e graves impedimentos, demandados. Atendimento Educacional Especiali- no sentido preventivo.
tendo em vista os diferentes níveis de zado é essencial ao estudante e sua
Atitudes positivas também são rele- oferta tem qualidade de apoio também Outro aspecto a ser considerado é a
complexidade, funcionalidade e deman-
vantes, porque as condições dos es- à escola e à família. Impossibilitada a produção e disseminação, articulada
das de atendimento nas áreas corres-
tudantes podem alimentar descrença Educação com padrão de qualidade na e pertinente, de conhecimentos, re-
pondentes de suas habilidades, poten-
em suas potencialidades e gerar baixas escola comum, cabe à Educação Espe- cursos e providências que possibilitem
cialidades e necessidades singulares.
expectativas por parte de familiares, cial avaliar caminhos mais adequados e atenção continuada aos estudantes
profissionais que os atendem, colegas e promissores ao estudante. com graves e múltiplos impedimentos.
O Lugar da Educação outros sociais. Eliminar mitos e crenças Articulações, com apoio da família, e
Frente Aos Graves infundadas assume igual importância. em seu favor, visando ao provimento de
Compromissos da Educação Especial apoios, quando necessários, nas áreas
e Múltiplos Criar e buscar possibilitações podem
de Saúde e Assistência Social, visto que
Impedimentos iluminar caminhos a percorrer. Dispo- Avaliação biopsicossocial, realizada por
nibilizar recursos; confiar nos proces- a associação de impedimentos repre-
equipe multiprofissional e interdiscipli-
As finalidades da Educação direcionam sos de ensino e aprendizagem e nos senta um fenômeno multidimensional,
nar, é indicadora de orientações, apoios
os compromissos educacionais frente resultados dos atendimentos; contar a requerer soluções compatíveis com
e recursos de acessibilidade adequados
aos estudantes com graves e múltiplos com outrem e reconhecer o valor do seu caráter espectral.
a cada estudante com graves e múlti-
impedimentos: pleno desenvolvimento compartilhamento são caminhos para plos impedimentos, por meio da Edu- A Educação Especial orienta-se pelo
do estudante, preparação para o traba- bons resultados. cação Especial, modalidade de ensino reconhecimento da mediação dos ele-
lho e o exercício da cidadania. A oferta
integrada à Educação geral nas redes mentos afetivos e socioculturais como
de um sistema educacional inclusivo, nos A Educação realizada com fundamento
de ensino que oferta os serviços e re- impactantes sobre o desenvolvimento
diversos níveis e modalidades de ensino na aprendizagem e no ensino coope-
cursos de Atendimento Educacional Es- do estudante, em comparação com sua
e Educação, ao longo da vida, são direi- rativo e colaborativo; na aplicação de
pecializado. A Educação Especial evoca realidade biológica, e a importância de
tos de todos os estudantes, como asse- princípios e recursos do desenho uni-
condições igualitárias de compromisso, adotar princípios e ações que possibili-
gurado no ordenamento legal do país. versal para aprendizagem, associado
investimento e respostas educacionais tem afirmar sua dignidade, seus direitos
às adaptações razoáveis, são medidas a
que garantam os direitos desses estu-

82 83
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

e formular políticas públicas capazes do emprego de tecnologia da Web Se- envolvendo 415 alunos nos EUA, com o fluenciam na constituição dessas crian-
de garanti-los. mântica. Requerem, outrossim, análise objetivo de examinar a influência nas ças; relacionamentos podem ter efeitos
das necessidades do estudante, uso de decisões da escola sobre inclusão de duradouros em resultados educacionais
Evidências Científicas materiais de aprendizagem e corres- estudantes com múltiplos impedimen- e vocacionais, além da escolaridade for-
Recentes pondência de recursos de aprendizagem tos, em comparação aos demais impe- mal; esses estudantes apresentaram

Para elaboração deste texto, as auto- específicos, por meio de modelagem dimentos. Fatores foram listados como mais interesse em ir para faculdade que

ras realizaram um levantamento de es- ontológica e personalização adaptativa. possíveis facilitadores: envolvimento seus colegas da educação geral; opções

tudos sobre múltiplos impedimentos3 , parental nas equipes de planejamento de Educação on-line e a distância, na
Adabas (2019) estudou a Comunicação, na escola; crenças parentais nas possi- transição para o ensino superior podem
no qual identificaram aspectos relevan-
essencial para aprendizagem em sala de bilidades dos filhos para maior indepen- tornar-se mais disponível.
tes sobre a educação desses estudan-
aula de estudantes com impedimentos dência; elevação no nível de Educação
tes, tanto na legislação nacional como
graves e múltiplos com dificuldades ver- dos pais para comunicar interesse pela Almalki (2016) realizou revisão literária
norteamericana. Os artigos identifica-
bais. Investigou as perspectivas de 172 inclusão; renda familiar mais elevada. em periódicos publicados entre 2000-
dos orientam para a Educação Inclusiva
professores de Educação Especial, na Dificultadores: estudantes oriundos de 2015, para identificar melhores práticas
e a promoção da aprendizagem das
Arábia Saudita, sobre barreiras e facilita- minorias linguísticas e crianças egres- baseadas em evidências aplicadas, no
crianças, cujos resultados estão resu-
dores no uso de Comunicação Aumenta- sas da intervenção precoce. ensino de habilidades de alfabetização
midos a seguir. Sousa e Daineaz (2016)
tiva e Alternativa (CAA) com esses estu- entre estudantes com múltiplos impe-
identificaram, em estudo realizado com
dantes, que são subestimados na escola. Rogers e Johnson (2018) realizaram re- dimentos. Os maiores desafios identifi-
um estudante do Ensino Fundamental,
Os resultados indicaram que o ambiente visão da literatura para determinar fa- cados foram: crianças que apresentam
a precariedade das condições sociais
escolar produz as mais graves barreiras, cilitadores para inclusão de estudantes dificuldades na área da Comunicação;
e institucionais que sustentam a par-
superando as habilidades dos professores com impedimentos graves/múltiplas sistemas de apoio exigidos (professo-
ticipação do estudante nas práticas
e dos estudantes. O uso da CAA pode ser na sala de aula comum. As práticas e res, pais, tecnologia assistiva, fisiote-
educacionais. Mediações pedagógicas,
facilitador no ambiente escolar. materiais facilitadores evidenciados rapeutas e outras equipes); inclusão
entretanto, revelaram-se positivas para
foram: uso adequado de dispositivos de muitas disciplinas no planejamento;
sua participação e relações de ensino Holyfield et al. (2019) investigaram a de CAA; aprendizado de instruções; incluir os interesses e pontos fortes
mostraram-se potencializadoras para Comunicação Aumentativa E Alternati- utilização de dispositivos especializa- do estudante para regular as diretrizes
seu desenvolvimento. va (CAA), comprovando sua efetividade dos. Concluíram que práticas inclusivas no processo de planejamento. Quatro
para promover a comunicação e a lin- podem potencializar a capacidade de estratégias destacam-se no fomento
Nganji e Brayshaw (2017) investigaram
guagem em crianças com múltiplos im- estabelecer relacionamentos fora das às habilidades de alfabetização des-
como o ambiente virtual de aprendiza-
pedimentos. A alta tecnologia superou salas de aula. ses estudantes: instrução sistemática,
gem pode ser projetado para incluir as
a baixa tecnologia no envolvimento dos aprendizado autodirigido, tutoria por
necessidades de estudantes com múl-
estudantes, porque amplia suas opor- Bowlwn et al. (2018), em estudo nacional pares e uso de tecnologia.
tiplos impedimentos, possível por meio
tunidades para aprender, facilitando sobre preditores de resultados educa-
ainda o aprendizado de idiomas. cionais em estudantes com múltiplos Whinnery et al. (2016) abordaram os de-
3 - Pesquisa nas bases de dados Eric e Capes, impedimentos, encontraram os seguin- safios enfrentados pelos educadores para
durante o período de 2015-2020, utilizando o
Banerjee et al. (2016) realizaram estudo tes resultados: familiares e colegas in- equilibrar instruções de habilidades fun-
descritor “estudante com deficiência múltipla”,
obtendo 09 artigos selecionados.

84 85
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

cionais e acadêmicas, para alunos com A revisão de literatura, realizada pelas


impedimentos, deficiências graves e múl- autoras, demonstrou o reduzido nú-
REFERÊNCIAS
tiplas, motoras. Descreveram estratégias mero de pesquisas sobre a Educação
empregadas para instruções numéricas de estudantes com múltiplos impedi-
precoce e habilidades motoras funcionais, mentos nos dois países, pelo período
ALDABAS, R. (2019). Barriers and facilitators of using augmentative and
durante as atividades de Educação Físi- consultado. Os temas mais abordados
alternative communication with students with multiple disabilities in in-
ca, demonstrando ganhos de mobilidade dizem respeito, na sequência, à Educa-
clusive education: Special education teachers´perspectives. International
funcional e funcionamento independen- ção Inclusiva, Comunicação e acessibi-
Journal of Inclusive Education. V. 6, n.5, pp.1-17.
te, bem como capacidade para adquirir lidade, com perspectivas positivas em
novos conhecimentos, interagindo mais ambientes favoráveis. ALMALKI, N (2016). What is the best strategy “evidence-based practice”
diretamente com o ambiente. to teach literacy skills for students with multiple disabilities? A systema-
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SOBRE AS AUTORAS
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coletivo pela voz da literatura infanto-juvenil. Tese (Doutorado em Psicolo-
ERENICE NATÁLIA SOARES DE CARVALHO gia) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.
Psicóloga, fonoaudióloga, mestre e doutora em Psicologia
(1975), especializada em Educação a Distância (2000). Fo- ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA (2014). Manual Diagnóstico e
noaudióloga. Mestre e doutora em Psicologia (1979, 2007). Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. Porto Alegre: Artmed.
Professora de graduação e pós-graduação stricto sensu em
BANERJEE, R. et al. (2016). Factors that explain placement decisions for
Psicologia na Universidade Católica de Brasília (1997-2013).
Experiência em Educação Especial. Pesquisa o tema educação students with multiple disabilities: Findings from national data. Journal
inclusiva e Educação Especial, com publicação na área. Con- of Research in Special Education Needs. V.2, n.2, pp.1-10.
sultora do MEC (1995-2003, 2019), INEP, Conselho Nacional de
BOWLEN, K. et al. (2018). Predictors of educational outcomes of stu-
Educação, Secretaria de Educação do DF e Federação Nacio-
dents with multiple disabilities: Results from a national study. Internatio-
nal das Apaes. Editora da Revista Apae Ciência. Professora da
nal Journal of Evaluation and Research in Education. V.7, n. 3, pp. 176-181.
Associação Objetivo Objetivo de Ensino Superior-ASSOBES

BRASIL (2004). Decreto nº 5.296/2004. Regulamenta as Leis nos


KÁTIA ROSA AZEVEDO 10.048/2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que espe-
cifica, e 10.098/2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos
Doutora e Mestre em Educação pela Universidade de Brasí-
para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiên-
lia (UnB). Tem graduação em Psicologia com especialização
cia ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Brasília. Dis-
em Terapia Conjugal e Familiar. Tem, também, Graduação
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/
em Letras com especialização em Língua e Comunicação.
decreto/d5296.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
Atua há 25 anos como professora de Inglês na SEEDF e há
18 anos como psicóloga em clínica particular.

86 87
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS

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88 89
7.
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

A Inclusão Escolar
Como Direito da
Pessoa Com Autismo:
Para Além da
Socialização
Flávia Luciana Guimarães Marçal
Pantoja de Araujo
Lucelmo Lacerda

91
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Introdução O mesmo não ocorre para a Educação. E.E x 90,3% E.B). Por fim, os dados de Existem 3 tipos de pesquisas que indi-
Governos podem comprar “soluções repetência indicam que 27,9% dos alunos cam evidência de uma prática, seja ela
Este artigo é um esforço de apresen- pedagógicas” ineficazes, jamais testadas da Educação Especial são repetentes nas de Educação ou Saúde. Apresentamos,
tação dos referenciais para a inclusão sem qualquer restrição, levando a Edu- sérias iniciais do Ensino Fundamental, a seguir, da mais fraca para a mais forte:
de pessoas com autismo, baseada em cação Brasileira a uma profunda crise contra 7,3% da Educação Básica4.
evidências. O conteúdo desta temática, e, especialmente, a Educação Especial. 1. Ensaios Randomizados: dois gru-
por si só, daria uma série de livros. En- Por outro lado, quando observamos pos são divididos, aleatoriamen-
tão, tivemos que resumi-lo ao extremo, Dados do Anuário Brasileiro da Educa- os dados referentes às condições de te, e recebem diferentes inter-
mas, para facilitar a amplificação desta ção Básica2 indicam que, em relação à oferta de escolas, com sala de recursos venções, que são comparadas;
perspectiva, colocamos links para o meta nº 43 do Plano Nacional de Edu- multifuncionais para Atendimento Edu-
cação, a taxa de matrícula, nas escolas cacional Especializado (AEE), apenas 2. Revisões Sistemáticas: levanta-
aprofundamento de cada tópico, tor-
comuns, de pessoas com deficiência 31, 5% das escolas urbanas e 16, 1% das mento e análise com critérios
nando este texto mais um norteador de
passou de 46,8%, em 2007, para 85,9%, escolas rurais possuem esse serviço5. pré-estabelecidos, de todos es-
um desempenho bem amplo de estudo
em 2018. No entanto, para que melhor tudos de um determinado objeto
do processo de inclusão.
possamos compreender o contexto da Os dados demonstram as dificuldades ou prática;
Educação Especial, faz-se necessário da implementação da Educação inclusi-
3. Metanálise: Revisão Sistemática com
O Que São as ir além dos dados referentes ao acesso va, e somam-se a ausência de práticas
integração estatística dos dados.
baseadas em evidências para pessoas
Evidências e garantir, também, a permanência e
aprendizagem efetiva. com TEA6. Esta situação ocorre, no
São, portanto, consideradas Práticas
Se uma pessoa pegar um extrato de caso brasileiro, a despeito do fato de
Baseadas em Evidências aquelas que
erva, for ao farmacêutico e convencê-lo Sobre estes temas, podemos destacar que muitos países desenvolvidos elabo-
possuem estes tipos de estudo, ao de-
a oferecer como “remédio para autis- que as taxas de abandono da Educação raram legislações que obrigam a utili-
monstrar sua efetividade. No caso do
mo” nas prateleiras da farmácia, ambos Especial (E.E), para os anos iniciais do En- zação de práticas com evidências7. Ou
Transtorno do Espectro Autista, há
podem ser presos por crime hediondo1 . sino Fundamental, são mais elevadas que seja, assim como é obrigatório para um
muitas destas pesquisas e elas apon-
Isto porque é proibida a venda de produ- as da Educação Básica (E.B) (2,7%, E.E x remédio ser considerado e comerciali-
tam no mesmo sentido. Para fins didá-
tos como remédio, para qualquer con- 0,9% E.B). A taxa de promoção também zado como remédio, também é exigido
ticos, vamos nos deter na maior e mais
dição, sem que, antes, haja uma pesqui- é menor na Educação Especial (64,8% que uma prática, para que possa ser
forte delas, a Metanálise do National
sa forte o suficiente para que sejamos usada nas escolas, é necessário que
Autism Center, dos EUA, denominada
capazes de garantir que ele possui alta 2 - TODOS PELA EDUCAÇÃO. Anuário Brasileiro tenhamos pesquisas fortes o suficiente
da Educação Básica 2019. Disponível em: https:// National Standard Project, publicada
probabilidade de efetividade. www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_ para garantir sua efetividade, isto é,
posts/302.pdf. em 2015, a qual analisou e integrou es-
3 - Universalizar, para a população de 4 a 17 anos
que sejam capazes de ensinar.
tatisticamente mais de 2.700 estudos.
com deficiência, transtornos globais do desen-
volvimento e altas habilidades ou superdotação, 4 - Dados do Censo Escolar de 2014/2015. Dis-
o acesso à Educação Básica e ao atendimento ponível em: https://pnee.mec.gov.br/integra#ce- O National Standard Project apontou
1 -A Lei 8.072/90 dispõe sobre os crimes he- educacional especializado, preferencialmente na narioatual.
diondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da rede regular de ensino, com a garantia de sistema 5 - TODOS PELA EDUCAÇÃO. Anuário Brasileiro 14 práticas com evidência, sendo 13
Constituição Federal e prevê em seu artigo 1º, educacional inclusivo, de salas de recursos multi- da Educação Básica 2019.
delas baseadas em Análise do Compor-
inciso que prevê “VII-B - falsificação, corrupção, funcionais, classes, escolas ou serviços especial- 6 - Transtorno do Espectro Autista.
adulteração ou alteração de produto destinado a izados, públicos ou conveniados”. Disponível em: 7 - O caso mais conhecido é o da Lei No Child tamento Aplicada - ABA, que aparece
fins terapêuticos ou medicinais”. http://pne.mec.gov.br/. Left Behind, dos EUA.

92 93
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

implementada em clínicas e, mais comu- Déficits são todas as habilidades/com- entre outros; e também o ensi- Neste caso especifico das habili-
mente, em escolas8. Junto com a meta- portamentos que uma pessoa deveria no da redução de comportamen- dades acadêmicas, os protocolos
nálise, foi publicado o caderno Práticas fazer e não faz, ou faz menos do que o tos que podem ser barreiras para devem cobrir as habilidades mais
Baseadas em Evidências para Autismo adequado. Como referência, utilizamos aprendizagem, tais como gritos, básicas, como leitura simples ou
nas Escolas (tradução livre), que nos os marcos do desenvolvimento humano comportamentos autolesivos ou operações lógicas ou matemáticas
orienta neste processo de elaboração e os comportamentos necessários para heterolesivos, jogar-se no chão, fundamentais e a avaliação deve
(NATIONAL AUTISM CENTER, 2015). cada fase escolar. Por exemplo, na Edu- dependência do apoio. ser suplementada com a elabora-
cação Infantil é importante fazer roda, ção da própria escola, convergen-
• As habilidades desenvolvimen-
depois sentar; ao fim do primeiro ciclo te com o ano em que a criança ou o
tais: são todas aquelas que, nor-
Avaliação do Ensino Fundamental, é esperada a adolescente estiver matriculada/o.
malmente, não precisamos ensinar
leitura e assim por diante.
O primeiro passo no processo de in- explicitamente para pessoas com Diversos protocolos podem oferecer
clusão é a avaliação. Do ponto de vista Excessos são comportamentos que desenvolvimento típico, mas que esta visão geral. Por exemplo: ABLLS-
legal, a Lei Brasileira de Educação – LBI9 podem não terem sido desenvolvi- -R – um protocolo bastante completo;
constituem barreira para o aprendiza-
prevê a Educação inclusiva em todos os das em pessoas com Transtornos PEAK – ideal para o autismo um pouco
do, como gritar ou chorar de modo con-
níveis e aprendizado, ao longo de toda a do Neurodesenvolvimento, sem mais leve; AFLS – ideal para jovens e
tinuado, bater a cabeça, agir agressiva-
vida, de forma a alcançar o máximo de- um planejamento e ensino espe- adultos; Essential for Living – ideal para
mente, entre outros. São respostas que
senvolvimento possível de seus talentos cífico e que, portanto, devem ser casos muito graves; Inventário Portage
deveriam ser reduzidas ou eliminadas.
e suas habilidades físicas, sensoriais, in- explicitamente ensinadas por se- Operacionalizado – ideal para bebês;
telectuais e sociais, segundo suas carac-
A avaliação de déficits e excessos deve rem imprescindíveis para a apren- VB-MAPP – outro protocolo bastante
terísticas, interesses e necessidades de
se dar por meio de um protocolo cienti- dizagem acadêmica, tais como o amplo, do qual falaremos mais adiante.
aprendizagem. Assim, para o processo
ficamente validado e amplo o suficiente comportamento verbal, que pode
de avaliação, devem ser considerados Para sermos mais claros, trabalhare-
para abarcar, ao menos, três áreas: ocorrer por meio da fala, da en-
tais talentos e habilidades. mos, neste capítulo, com um exemplo
trega de cartões ou sinais, assim
• As habilidades de aprendiz: são como a compreensão da fala do para que possamos oferecer um mode-
Porém de que forma podemos che-
aquelas que criam a disponibilida- outro, o rastreio visual, escanea- lo de alguns processos. Para isso, ima-
gar a esta avaliação? É necessário que
de para a aprendizagem de outras mento visual, assim por diante. ginemos que uma criança matriculada
haja um levantamento preciso de quais
habilidades mais complexas. Pos- na Educação Infantil, 4 anos e diagnós-
comportamentos estão em déficit e • As habilidades acadêmicas: são
sibilitar ao indivíduo o desenvolvi- tico de TEA, fala um pouco, mas tem
quais estão em excesso no repertório aquelas descritas no currículo do
mento das habilidades de aprendiz dificuldades de interação e comporta-
da criança ou do adolescente. sistema de ensino, englobando
envolve o ensino de habilidades mento, o chamaremos de Joãozinho. O
como sentar, esperar, fazer con- aqueles previstos na Base Nacio- Professor de Educação Especial, presu-
8 - A 14ª prática com evidência é a Terapia Cogni-
tivo Comportamental, aplicada com pessoas com
tato visual, olhar para o professor, nal Comum Curricular, mas que mivelmente com domínio das Práticas
autismo leve, entre 6 e 14 anos, com depressão e
ansiedade. olhar para o elemento do ambien- podem passar por adaptações ra- Baseadas em Evidências em Educação
9 - Instituída pela Lei 13.146/2015, é destinada a zoáveis de várias formas, tal como
assegurar e a promover, em condições de igual- te indicado pelo professor, como Especial, decide usar o VB-MAPP para
dade, o exercício dos direitos e das liberdades
a lousa ou a página de um livro, simplificadas ou desmembradas esta criança, com os seguintes resultados:
fundamentais por pessoa com deficiência, visan-
do à sua inclusão social e cidadania. em habilidades mais progressivas.

94 95
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

NÍVEL 1 O VB-MAPP mede 24 Barreiras da frequência de ocorrência e uma avaliação


aprendizagem. São comportamentos funcional para elaborar uma hipótese de
Mando Tato Ouvinte PV/PM Brincar Social Imitação Ecóico Vocal
que trazem dificuldade para o processo qual era a função deste comportamento
5
de ensino/aprendizagem. Imaginem, (RIBEIRO, SELLA & SOUZA, 2018).
4 por exemplo, uma criança que chore
durante as 4h de aula. Seria possível O que foi descoberto? Descobriu-se
3
ensiná-la a ler e escrever? Ou, ainda, que o comportamento ocorre a cada
2
um menino com TEA que corra por toda 20 minutos, em média, e que a profes-
1 a escola, por todo o tempo em que sora regente manda o estudante sair da
passa nela, como poderia aprender as sala, de modo que a hipótese principal
operações matemáticas básicas? é que a função do comportamento é
ganhar um passeio pela escola, isto é, o
Problemas de

NÍVEL 2
Comportamento reforço do comportamento é, justamen-
4 te, permitir sair da sala. No VB-MAPP,
Mando Tato Ouvinte PV/PM Brincar Social Imitação Ecóico RFCC Intraverbal Grupo Ling.

10
3 portanto, esta barreira é registrada com
2 uma pontuação 3, porque é recorrente
9
1 e traz graves prejuízos para a estudan-
8
te, seja do ponto de vista do conteúdo,
1 2 3 4
7
seja do ponto de vista social, perante
6 Dentre estas várias barreiras de apren- os amigos.
dizagem, selecionamos uma que é bas-
tante comum, que pode ser chamada,
O VB-MAPP é um protocolo de avaliação No caso desta criança, em particular, genericamente, de “Problemas de com- Programação e
com ênfase especial no Comportamento apesar de ter 4 anos, isto é, 48 meses portamento”, ou seja, um indivíduo que Monitoramento
Verbal, baseado nos marcos de desen- ou mais, ela não possui as habilidades emite algum comportamento que traz
volvimento humano. Ele é dividido em 3 esperadas para a idade. Na verdade, prejuízo a ele e que tenha uma função Após esta avaliação de déficits e ex-
níveis: sendo o primeiro uma descrição ela possui menos habilidades do que social (isto é, não sensorial). Apesar de cessos, sem dúvida nenhuma, podemos
das habilidades que devem estar presen- se esperava há cerca de um ano e meio este registro ser bem simples, a avalia- agora elaborar um Plano de Ensino In-
tes com até 18 meses; o segundo nível, atrás, o que faz com que tenhamos um ção não é e pode dar um bom trabalho. dividualizado que seja, realmente, bem
com as habilidades até os 30 meses; e grande desafio de ensino, mas isso deve informado e adequado às necessidades
Suponhamos que este menino fictício, em individuais desta criança. É importante
o terceiro nível, as habilidades dos 48 ser feito de maneira progressiva. Antes
certo momento da aula, comece a gritar, destacar que o Plano de Ensino Indivi-
meses de idade. O primeiro nível possui de avançar, é preciso considerar que
bater no próprio rosto e choramingar. dualizado encontra-se abarcado pelo
9 domínios; o segundo, 12 domínios; e o já sabemos que habilidades estão em
Este conjunto é o que chamamos, aqui, direito à adoção de medidas individu-
terceiro, 13 domínios. Cada nível de cada déficit, mas ainda não apresentamos os
de Problema de Comportamento. A ava- alizadas e coletivas, em ambientes que
domínio possui 5 marcos, isto é, um nível comportamentos em excesso.
liação, então, usou um registro de eventos maximizem o desenvolvimento aca-
de habilidade específico e progressivo.
(FAGUNDES, 2015, p. 79) para descrever a dêmico e social dos estudantes com
96 97
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

deficiência, favorecendo o acesso, a Decorrente desta avaliação, isto é, em tas de médio e longo prazo. Sabemos ser descrito em termos objetivos, da se-
permanência, a participação e a apren- todos os itens que o estudante não que, para interagir com outras crianças, guinte forma: “Não apresentar nenhum
dizagem em instituições de ensino, pre- conseguiu desempenhar10, poderíamos são inúmeras as habilidades verbais e episódio do comportamento disruptivo
visto no artigo 28, inciso V, da mencio- escrever a seguinte meta de longo não verbais necessárias. Sabemos que descrito, como chorar, gritar e bater no
nada Lei Brasileira de Inclusão. prazo, que deve ser alcançada até o fim uma interação de brincadeira exige que próprio rosto, nenhuma vez, durante o
do ano letivo: “Joãozinho deverá per- atendamos às expectativas do colega, dia, pelo menos por uma semana”.
Observe que caso ela não tenha o diag- manecer em contato, em roda ou con- que seja reforçador para ele brincar
nóstico fechado de TEA ou de Defici- Diante das metas de curto prazo esta-
versa individual, com colegas, pelo me- conosco, do contrário, na próxima opor-
ência Intelectual, isto não faz diferen- belecidas, é imprescindível, para a com-
nos por 5 minutos, durante os tunidade, ele irá se recusar. Entre as
ça porque sabemos o que ela precisa posição do Plano de Ensino Individua-
intervalos, por 4 dias por semana, no inúmeras habilidades necessárias para o
aprender e quais comportamentos re- lizado, que sejam escritos programas
mínimo, com intuito de iniciar intera- sucesso em interações de brincadeiras
duzir. Então, esta avaliação é o que de ensino para cada uma delas. Aqui,
ções, ao menos uma vez na jornada, em entre crianças está a de intraverbalizar,
nos afasta de um modelo médico e apresentamos duas possibilidades de
cada um dos dias, e, deste modo, res- responder a comentários. Para isso, al-
nos aproxima das potencialidades de
ponder às interações dos pares, em ao guns objetivos, em curto prazo, podem programa para as metas descritas: uma
aprendizagem do indivíduo, atendendo,
menos 80% das vezes, em ao menos 3 incluir a habilidade de fazer onomato- com o objetivo de ensinar uma habili-
ainda, a Nota Técnica nº 04/2014/MEC/
desses 4 dias, com ao menos 2 colegas”. peias. Segundo a avaliação apresentada, dade (emissão de onomatopeias com-
SECADI/DPEE (BRASIL, 2014).
Joãozinho não apresentou o primeiro pletando frases); e outra com o obje-
O primeiro passo para a elaboração do Metas de médio prazo podem ser as marco do domínio “Intraverbal”, que, re- tivo de eliminar um comportamento
Plano de Ensino Individualizado é a de- diferentes habilidades separadas, as sumidamente, é a habilidade de respon- (emissão de comportamento de chorar,
finição das metas que iremos perseguir. quais devem se acumular para alcançar der verbalmente a um estímulo verbal gritar e bater no próprio rosto).
Devemos escrever as metas mínimas de a meta de longo prazo, como por exem- antecedente11. Neste sentido, entre as
desempenho para a aprendizagem de plo: “Joãozinho deverá iniciar interações Apresentemos como exemplo, então, o
metas de curto prazo, podemos colocar:
cada habilidade em déficit e de redução de maneira espontânea, emitindo si- programa de ensino do comportamento
“Completar ao menos 5 frases, ditas por
de barreiras da aprendizagem. Estas me- nal para participar de brincadeira com de onomatopeia completando frases.
ao menos 2 pessoas, com o som corres-
tas não podem ser feitas de maneira ge- colega, ao menos 2 vezes, durante o pondente a 5 diferentes animais e/ou
nérica. Elas devem descrever a habilidade período de brincadeira compartilhada, objetos, em 6 tentativas, durante 3 dias
esperada, o contexto de emissão e o cri- ao menos 4 dias por semana, com ao consecutivos”.
tério de desempenho (LAFRANCE, 2018) menos 2 colegas”.
Outra meta de curto prazo deve ser
Por fim, metas de curto prazo são a de zerar o comportamento negativo
aquelas que serão trabalhadas imedia-
O primeiro passo para a descrito, que é o de chorar, gritar e ba-
tamente e que devem constituir o pro-
elaboração do Plano de ter no próprio rosto, diversas vezes, du-
Ensino Individualizado é a cesso progressivo de alcance das me- rante o mesmo dia de aula, o que pode
definição das metas que
10 - Não teremos aqui o espaço para descrever.
iremos perseguir Quem desejar entender mais, leia a adaptação no 11 - O conceito é muito mais complexo. Mas,
VB-MAPP e compare com os resultados apresen- pode-se aprofundar com a leitura de Skinner (
tados em Martone (2017). 1957).

98 99
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Programa: Intraverbal de Onomatopéias Programa: Reforço Diferencial de Resposta Alternativa

Comportamentos desenvolvidos: Habilidades desenvolvidas:


O aprendiz completará a frase com o som do estímulo requerido. Aprender a pedir para sair quando quiser dar uma volta
Exemplo: Acompanhante diz “a moto faz...” O aprendiz diz “vrumm”
Materiais necessários: Uma ficha plastificada com a foto do lugar por
Materiais necessários: Itens reforçadores onde o estudante vai quando sai

Procedimento: Procedimento:
Após garantir a atenção do aluno, comece a frase do som alvo. Forneça A cada intervalo ir ao estudante, pedir para entregar ficha e dizer “Mui-
ajuda do passo corrente para o aluno emitir o som. O aprendiz deverá to bem, você está pedindo ‘eu quero dar uma volta’, claro, pode ir”; e
repetir o som dito. pedir para o mediador dar uma volta com ele e MARCAR O QUADRADI-
NHO DO MINUTO EM QUE OCORREU, PINTANDO-O.
Passos: Se o comportamento de birra ocorrer, MARCAR UM X no quadrado e
NÃO TIRAR DA SALA, de nenhuma forma. Esperar 1 minuto e fazer o
P1: Completar a frase com ajuda Hierarquia de ajuda:
procedimento de DRA.
ecóica imediata. Mudar o passo após dois dias conse-
P2: Completar a frase ecóica cutivos de 90% acerto dentro do passo Passos:
atrasada em 1s. ou um dia de 100% de acerto dentro do Critério de aprendizagem:
P1: DRA a cada 10 minutos
P3: Completar a frase com aju- passo. P2: DRA a cada 12 minutos 3 dias sem nenhum episódio de com-
da ecóica atrasada em 2s.
P3: DRA a cada 16 minutos portamento-alvo, é considerado
P4: Completar a frase de for-
P4: DRA a cada 20 minutos aprendido e então avança ao passo
ma independente.
P5: DRA a cada 25 minutos seguinte.
LISTA DE ESTÍMULOS: P5: DRA independente

Estímulos Data Aquisição Data Generalização


Apresentamos também como exemplo comportamento disruptivo de chorar,
o programa de ensino de redução do gritar e bater na carteira:

2ª 3ª 4ª 5ª 6ª
1ª aula
Forma de
Significado
Registro 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
2
+ Acerto 3 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

4 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Tentativas
+
Acerto 5
Independente Diárias 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
g
7 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
- Erro
8
p- Erro/Ajuda 9
10

100 101
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

É importante ter atenção aos diversos fico), o que deve servir de base não está sendo implementado da forma Para a execução destas ações, no que
aspectos desses programas: para tomada de decisão e tam- correta ou é uma estratégia inadequa- concerne a organização das políticas
bém para ser entregue à família da para aquela criança. Estas decisões públicas, é fundamental a formação
1. São descritivos, com intuito de eli- no fim da semana. Estabelece-se de avanço ou não, tomadas pelo pro- de professores, de forma inicial e con-
minar dubiedades, buscando ob- uma reflexão sobre a mudança de fessor de Educação Especial, respon- tinuada (art. 28, X, da LBI), bem como
jetividade, que faz com que as vá- confiança na relação com a famí- sável pelo caso, dinamizam o Plano de a existência de Projeto Político Peda-
rias pessoas, que implementem o lia, quando deixarmos de dizer Ensino Individualizado e proporcionam gógico que institucionalize o AEE (defi-
procedimento, o façam da mesma “ele está ótimo, mãe” e passarmos que consigamos atingi-lo. nindo sua forma de atuação e organiza-
forma (a esta característica damos a entregar gráficos de todos os ção administrativa, por exemplo), assim
o nome de Dimensão Tecnológica); Assim, a partir do estudo de caso e da
programas do PEI. como os demais serviços e adaptações
intervenção com o objetivo da aquisi-
razoáveis (como a designação de apoio
2. Possuem passos e critérios espe- 4. Possuem um critério quantitativo ção de habilidades, é possível alcan-
escolar e/ou acompanhante especiali-
cíficos de avanço: nosso objetivo que determina quando alcança- çar a efetiva inclusão destes alunos. O
zado, nos casos de comprovada neces-
é o desenvolvimento da autono- mos a habilidade. Este critério planejamento de estudo de caso, de
sidade), para atender às características
mia, mas o ensino desta condição não é aleatório, mas baseado nas elaboração de plano de Atendimento
dos estudantes com autismo e garantir
deve ser progressivo e orientado pesquisas sobre o tema. No en- Educacional Especializado (AEE), de
seu acesso ao currículo em condições
pela ciência; assim, elaboramos tanto, ao alcançar uma habilida- organização de recursos e serviços de
de igualdade, promovendo a conquista
um processo, baseado na litera- de, ela é posta em manutenção, acessibilidade e de disponibilização e
e o exercício de sua autonomia (art.28,
tura científica, em que passamos isto é, entra em um programa que usabilidade pedagógica de recursos de
III).
progressivamente para condições será executado uma vez por se- tecnologia assistiva está prevista no
mais independentes; mana (normalmente). Porém, al- artigo 28, inciso VII da LBI. Em conjunto com as práticas baseadas
gumas crianças não conseguem em evidências científicas para o aprendi-
3. Possuem folhas de registro de- O uso de programas afigura-se também
executar a mesma habilidade em zado do aluno com autismo, estas ações
talhadas: nada se faz em ciência como exemplo de adaptações razoá-
manutenção, ou seja, para elas, o levarão ao o aprimoramento dos siste-
sem dados; por isso é impres- veis, prevista no artigo 3º, VI da LBI,
critério de alcance da habilidade mas educacionais, conforme preconi-
cindível haver um levantamento que se caracterizam por adaptações,
deve ser diferente, mais forte. zado no art. 28, II da LBI, garantindo,
de dados minucioso, sem o qual modificações e ajustes necessários e
então, as condições de acesso, perma-
toda intervenção só pode ser ba- Com estes programas e de todos os adequados que não acarretem ônus
nência, participação e aprendizagem,
seada em opinião. No programa demais escritos conforme a avaliação, desproporcional e indevido, quando
por meio da oferta de serviços e de re-
1, é importante notar que há um é previsível que Joãozinho irá superar requeridos em cada caso, a fim de as-
cursos de acessibilidade que eliminem as
sistema de registro dos acertos rapidamente vários deles. É quando segurar que a pessoa com deficiência
barreiras e promovam a inclusão plena.
independentes bastante simples, passamos para outros programas, o possa gozar ou exercer, em igualdade
o qual proporciona a construção que se acumula para atingirmos as me- de condições e oportunidades com as
de um gráfico com uma caneta tas de médio e longo prazo, caso algum demais pessoas, todos os direitos e
no papel (simulamos resultados, programa não esteja funcionando, isto liberdades fundamentais.
justamente, para colocar o grá- é, não se verifique melhora nos dados.
Neste sentido, é preciso avaliar se ele

102 103
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

SOBRE AS AUTORAS
REFERÊNCIAS

FLÁVIA LUCIANA GUIMARÃES MARÇAL


PANTOJA DE ARAUJO BRASIL (2015). Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Doutorado em Ciências Sociais pela UFPA. Mestrado em Direito Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
pela UFPA/UNB (2010) e Especialista em Direito do Estado Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 20 de abril de 2020.
pela UNAMA/EGPA (2008). Professora Adjunta da UFRA e
______ (2014). Ministério da Educação. Nota Técnica nº 04/2014/MEC/SE-
Professora Formadora da ESAF e ENAP. Membro do Grupo de
CADI/DPEE. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educa-
Trabalho do Estado do Pará para Políticas voltadas à Pessoa
cao-continuada-alfabetizacao-diversidade-e-inclusao/legislacao. Acesso em:
com Autismo. Membro do Grupo de Trabalho para atualização
22 abr. 2020.
das Diretrizes Nacionais da Educação Especial (CNE/MEC). Vice
Coordenadora da Pós-Graduação em Autismo pela UEPA/ ______ (2018). Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial.
UFRA. Coordenadora do Projeto TEA - UFRA/MEC. Fundadora Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/SECADI.
e Voluntária do Grupo Mundo Azul (PA).
FAGUNDES, A.J.F.M. (2015). Descrição, Definição e Registro do Comporta-
mento. São Paulo: Edicon, 17ª ed.
LUCELMO LACERDA
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Pós-Doutorando em Educação Especial pela UFSCar, estu-
A.C. RIBEIRO, D.M. Análise do Comportamento Aplicada ao autismo. Curitiba:
dando a inclusão escolar da pessoa com TEA, Doutor em
Appris.
Educação pela PUC-SP, Mestre em História pela PUC-SP,
Historiador, Especialista em Educação Especial, Inclusiva e MARTONE, M. C. C. (2017). Tradução e adaptação do Verbal Behavior Miles-
Políticas de Inclusão. Pesquisa a representação da pessoa tones Assessment and Placement Program (VB-MAPP) para a Língua Portu-
com TEA, Inclusão escolar, Mediação escolar em proces- guesa e a efetividade do treino de habilidades comportamentais para quali-
sos inclusivos. Tem interesse em Psicologia Experimental ficar profissionais. Tese (Doutorado em Psicologia) São Carlos: Universidade
e Pesquisa Aplicada em ambiente escolar, implementando Federal de São Carlos.
práticas pedagógicas baseadas em evidências. É autor
do livro “Transtorno do Espectro Autista: uma brevíssima NATIONAL AUTISM CENTER (2015). Findings and conclusions: National Stan-
introdução, 2018 dards project, Phase 2.

RIBEIRO, D.M., SELLA, A.C., SOUZA, A.A. (2018). Avaliação do Comporta-


mento. In: SELLA, A.C. RIBEIRO, D.M. Análise do Comportamento Aplicada ao
autismo. Curitiba: Appris.

TODOS PELA EDUCAÇÃO (2019). Anuário Brasileiro da Educação Básica


2019. Disponível em: https://www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_
posts/302.pdf. Acesso em: 21 abr. 2020.

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Identificar e Atender
Alunos com Altas
Habilidades ou
Superdotação
na Escola
Angela Virgolim
Vera Lúcia Palmeira Pereira
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

O aluno com altas habilidades ou super- c. O anel da Criatividade ressalta, A Identificação das terísticas como: facilidade e rapidez
dotação tem sido conceituado, na legisla- por sua vez, o pensamento inde- Altas Habilidades e na aprendizagem, alto nível de energia
ção brasileira mais recente, como os que pendente e original, o humor, a e curiosidade, ideias complexas e in-
Superdotação
imaginação e as atitudes ligadas comuns para a idade, motivação com
“demonstram potencial ele- à personalidade divergente e não temas do seu interesse, interesse por
Enquanto população, as pessoas com
vado em qualquer uma das conformista do aluno. desafios, vocabulário rico e avançado,
altas habilidades e superdotação se
seguintes áreas, isoladas ou boa memória, raciocínio abstrato, ver-
constituem em um grupo heterogêneo,
combinadas: intelectual, aca- Em 2005, a Secretaria de Educação Es-
com características diferentes e habi- bal ou numérico, criatividade, pensa-
dêmica, liderança, psicomo- pecial do Ministério da Educação (SE-
lidades diversificadas. Estão presentes mento divergente e original, preferên-
tricidade e artes. Também ESP/MEC), com apoio da UNESCO, criou
em todas as classes econômicas e em cia por trabalhar sozinho, preferência
apresentam elevada criativi- os Núcleos de Atividades para Alunos
todas as etnias, seus comportamen- pela companhia de pessoas mais velhas,
dade, grande envolvimento na com Altas habilidades/Superdotação
tos de superdotação podem se tornar empatia e preocupação com os senti-
aprendizagem e realização de (NAAH/S), adotando o referencial teóri-
evidentes em qualquer idade e podem mentos do outro, capacidade de lide-
tarefas em áreas de seu inte- co de Renzulli e Reis.
estar presentes como dupla especifici- rança, grande sensibilidade e senso de
resse.” (BRASIL, 2008, p. 15). justiça muito desenvolvido, inclinação
Renzulli (1988) considera que a superdo- dade, junto às deficiências sensoriais,
tação e o talento têm componentes tanto físicas, intelectuais, de aprendizagem ao perfeccionismo e autocrítica.
Essa definição espelha a conceituação
de superdotação dada por Renzulli e genéticos (gifted) quanto ambientais (ta- e outros transtornos do desenvolvi-
Reis (2014), em seu “Modelo de Enri- lented), usando a expressão superdota- mento. Eles também diferem uns dos
quecimento Escolar”, para os quais a do e talentoso (gifted and talented). Da outros por seus interesses, estilos de
Alunos com altas
superdotação se dá pela confluência de mesma forma, e para ser coerente com aprendizagem, níveis de motivação e de
habilidades e
três fatores, graficamente representa- essa postura teórica, Virgolim (2019) uti- autoconceito, características de per-
superdotação se destacam
liza a expressão altas habilidades e super- sonalidade, ritmo de aprendizagem e,
dos por três anéis que se interceptam: com relação a seus pares
dotação com o mesmo sentido, ou seja, principalmente, por suas necessidades em, pelo menos, uma área
a. O anel da Habilidade acima da representando dois aspectos do mesmo educacionais. Dessa forma, consideran- do conhecimento.
média ressalta as habilidades que fenômeno. Enquanto o termo “superdota- do essa diversidade dentro do mesmo
o aluno apresenta acima da média ção” faz referência aos aspectos inatos e grupo, a cautela deve ser exercida para No entanto, nem sempre os professo-
dos seus pares, em qualquer área genéticos da inteligência e da personali- se evitar generalizações indevidas. res conseguem identificar adequada-
do conhecimento, como nas áreas dade, o termo “altas habilidades” enfatiza mente seus alunos. Isso pode ocorrer
intelectual, acadêmica, liderança, os aspectos que são moldados, modifica- Alunos com altas habilidades e super-
em função dos inúmeros mitos e das
psicomotricidade e artes; dos e enriquecidos pelo papel do ambien- dotação se destacam com relação a
ideias pré-concebidas presentes em
te (família, escola, cultura)1. seus pares em, pelo menos, uma área
nossa sociedade. Por exemplo, a noção
b. O anel do Compromisso com a tare- do conhecimento. Assim, a depender da
1 - As autoras estão cientes da terminologia utilizada errônea de que todo superdotado é um
fa ressalta os fatores de motivação pela legislação atual, com a grafia “altas habilidades área de dominância do potencial (verbal
ou superdotação”. Neste texto os termos super-
gênio, de que sempre tira boas notas
intrínseca, persistência, concentra- ou lógica-matemática, artística, psico-
dotado, altas habilidades e talento, assim como as e tem ótimo desempenho em todas as
ção e perseverança na área em que expressões “altas habilidades/superdotação”, “altas motora ou de liderança, por exemplo),
habilidades ou superdotação” e “altas habilidades e disciplinas escolares e de que não pre-
o aluno demonstra interesse; superdotação” são utilizados com o mesmo sentido. esses alunos podem apresentar carac-

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

cisa de nenhum recurso, uma vez que a. Localização de potenciais que b. O conceito de superdotação. dados coletados sobre cada alu-
se desenvolverá sozinho de qualquer não estão sendo suficientemente Os indicadores e instrumentos de no. Os talentos específicos, os
forma. Todavia, a literatura na área tem desenvolvidos ou desafiados pelo medidas usados para a identifica- interesses, os estilos de aprendi-
demonstrado que a superdotação, por ensino regular, se esses alunos não ção devem refletir o conceito de zagem, as aptidões e áreas for-
si só, não garante sucesso ou proe- são identificados, o mais provável superdotação adotado, os tipos tes de cada estudante devem ser
minência na vida adulta, e que são as é que não desenvolvam seus inte- de talentos a serem identifica- analisados na entrada ao progra-
condições relacionadas ao ambiente fa- resses e habilidades nesse contex- dos, e os conteúdos e objetivos ma, para que sejam estabelecidos
miliar e escolar, assim como as relações to. Gubbins (2005) lembra que o propostos pelo programa. Por os recursos e as atividades es-
com os colegas, os maiores determi- desenvolvimento do talento se dá exemplo, se entendemos a su- pecíficas que cada um necessita
nantes do desempenho acadêmico do em três estágios: o estágio mani- perdotação como potencial, e se para desenvolver seu potencial.
superdotado, seja em direção das suas festo, o emergente e o latente. O percebemos a criança como pos-
reais possibilidades, ou em direção ao talento manifesto é aquele que suidora de qualidades e capaci- d. Avaliação. E, finalmente, o pro-
baixo rendimento e fracasso escolar. aparece de maneira óbvia, como dades latentes que, supostamen- cesso de aprendizagem dos es-
na criança pré-escolar precoce que te, a levarão a obter sucesso na tudantes selecionados deve ser
Renzulli e Reis (2014) argumentam que já lê e entende textos de maior escola e na vida, a identificação avaliado periodicamente, a fim de
talvez seja a persistência em atingir um complexidade, ou que manifesta deve ser feita utilizando-se de se verificar se os critérios para
resultado ou ideal, a autoconfiança e a habilidades para resolver proble- metodologias diversas e medidas admissão ao programa foram
vontade de realizar alguma coisa, que mas em Matemática ou para criar de aptidão que possam predizer adequados para se atingir os ob-
verdadeiramente façam da criança um desenhos originais. No entanto, o desempenho futuro. Porém, jetivos planejados (Hany, 1993).
adulto produtivo. Por outro lado, a falta outras crianças podem apresentar se entendemos a superdotação
de incentivo, de experiências de apren- A identificação deve iniciar de forma
habilidades em estágios iniciais de como desempenho, o foco se dá
dizagem e de vida enriquecedoras, a que inclua tantos alunos quanto for pos-
emergência, precisam então de na produção manifesta da criança
falta de reconhecimento das capacida- sível, garantindo o direito dos que se
atenção especial e encorajamento e na sua capacidade atual de de-
des e potencialidades de uma pessoa, qualificam para o serviço especial. Para
para que possam atingir plenamen- monstrar habilidades superiores
poderão, por sua vez, concorrer para o isso, uma equipe multidisciplinar (que
te os requisitos necessários para a em uma área do conhecimento. A
desuso dessas habilidades e sua con- pode incluir profissionais de diferentes
emergência dessas capacidades. identificação nesse tipo de abor-
sequente estagnação. No entanto, o formações, como pedagogo, professor,
E, ainda, há aqueles talentos que dagem utiliza testes padroniza-
que realmente importa é que a escola psicólogo, fonoaudiólogo, neuropsicó-
podem estar ainda em estágio la- dos de inteligência e medidas do
ofereça múltiplas condições para que logo, entre outros) pode ser formada
tente devido aos níveis de desen- desempenho escolar.
todos os alunos descubram e eviden- para incluir diferentes olhares sobre o
volvimento ou pela falta de ex-
ciem suas habilidades especiais. c. Supervisão de especialistas. A potencial a ser desenvolvido.
periências e da devida exposição
aos domínios. Portanto, a escola entrada no programa para altas
Quais seriam então os propósitos da Diferentes tipos de informação devem
deve estar atenta para deixar o habilidades deve ser supervisio-
identificação? Alguns pontos essenciais ser obtidos para se reduzir as chances
potencial da criança florescer, em nada por um grupo de especia-
são salientados na literatura (Hany, de, incorretamente, excluir alunos que
um ambiente de desafios, de enga- listas, depois de discutirem os
1993, Pfeiffer, 2008) como: poderiam se beneficiar do programa,
jamento e de oportunidades. casos individualmente, à luz dos
como os membros de grupos minoritá-

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

rios, alunos de baixa renda, de outras escalas de comportamento, observação


culturas, com problemas de aprendi- sistemática e planejada, análise de pro- Instrumentos de Identificação
zagem e as meninas, as quais, cultural- dutos e de desempenho em tarefas reais
Objetivos Subjetivos
mente, têm sido preteridas em favor dos e de resolução criativa de problemas, em
meninos. Também aqueles que são tími- adição aos tradicionais testes lápis-e-
Indicações de professores, ges-
dos, diferentes em termos da língua ou -papel. Deve também permitir observar
tores, alunos e pais. As nomeações
cultura, que têm deficiências ou incapa- os níveis de motivação e engajamento Testes e avaliações. Testes
(ou indicações) ajudam a lançar uma
cidades (dupla especificidade), que são do aluno em atividades do seu interes- individuais de inteligência, criati-
ampla rede para identificar o maior
precoces, estão em ambientes escolares se, levando em consideração sua forma vidade e motivação são frequen-
número possível de alunos que pos-
que não encorajam suas habilidades, preferencial de aprender e de apresen- temente usados para avaliar a
sam se qualificar para serviços espe-
que estão desmotivados como o estilo tar o que aprendeu, como por exemplo: superdotação. O uso de testes
ciais. Listas de verificação de carac-
de ensino, ou aqueles que escolhem não em atividades individuais ou de grupo, psicológicos é prerrogativa de
terísticas, inventários e formulários
demonstrar suas altas habilidades para em projetos que envolvam pesquisas e psicólogos e deve ser utilizado
de indicação ou nomeação podem ser
não serem percebidos como diferentes. experimentação, em estudos dirigidos, de acordo com as recomenda-
preenchidos por alunos, pais, profes-
Para esses grupos, os testes psicoló- debates, resolução criativa de problemas, ções do Conselho Federal de
sores e gestores para fornecer uma
gicos podem ser uma valiosa fonte de dramatização, trabalhos artísticos e per- Psicologia.
perspectiva informal das habilidades
informação sobre aptidões e potenciais formáticos, práticas desportivas, projetos
e comportamentos percebidos.
que não estão aparentes. tecnológicos. Dessa forma, deve-se per-
mitir aos alunos que usem os materiais e
Os testes de inteligência (ou testes de Aplicação de escalas de caracte-
meios mais relevantes para a expressão
QI) podem prever, razoavelmente, o êxi- rísticas e checklist. Os professores
daquelas habilidades que apresentam de
to acadêmico do aluno. Contudo, estão podem fazer observações em sala de
forma mais acentuada, em detrimento de
longe de serem as únicas medidas possí- aula e usar escalas de classificação
suas áreas fracas ou menos desenvolvidas Registros acumulados de
veis para essa tarefa. A inteligência pode ou checklists para alunos que exibem
(Virgolim, 2007, 2014). desempenho. Notas em testes
ser mais bem percebida pela observação um certo traço ou característica no
escolares ou em avaliações nacio-
das pessoas funcionando nos seus am- O quadro a seguir mostra como a ava- ambiente escolar. As escalas de clas-
nais, testes estaduais e padroni-
bientes cotidianos, e pela competência liação pode ser feita por meio de uma sificação de comportamentos incluem
zados e ainda medalhas e prêmios
no desempenho de tarefas que esti- triangulação de instrumentos, tanto de a Escala para Avaliação das Caracte-
obtidos em concursos e olimpía-
mulam o intelecto dentro da cultura de forma objetiva quanto subjetiva: rísticas Comportamentais dos Alunos
das podem ser usados como fon-
cada um e em seu ambiente real. com Habilidades Superiores – Revisada
te de dados durante o processo
(Renzulli, Smith, White, Callahan, Hart-
de identificação do aluno super-
Assim, a forma mais efetiva de se medir man, & Westberg); a Lista base de in-
dotado
a inteligência deve contemplar a utiliza- dicadores de superdotação (Delou); e
ção de vários tipos de medidas, como as Listas de Verificação de Indicadores
de Altas Habilidades/ Superdotação
(Pérez & Freitas), entre outras.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

O Atendimento das suas necessidades sociais e educacio-


Portfólios e performances. Portfó-
Altas Habilidades e nais, por meio do respeito das suas
lios impressos ou digitais e trabalhos singularidades, do ritmo do estudante,
escolares nas áreas de interesse do
Superdotação
da realização de adequações e dife-
Testes psicopedagógicos. aluno e que são coletados ao longo renciações pedagógicas, como a ace-
Quanto mais amplos forem os procedi-
Aplicação de instrumentos não do tempo devem incluir reflexões do leração do ano escolar, a compactação
mentos de avaliação, melhores serão as
restritos a psicólogos para ava- estudante quanto aos seus produtos do Currículo e do acompanhamento de
bases que sustentarão os procedimen-
liação de aspectos formais nas e/ou performances. Os portfólios suas interações sociais, estão funda-
tos de atendimento às necessidades
áreas emocional, cognitiva, psi- podem ser desenvolvidos tanto para mentados conforme preconizado nos
desses estudantes. A identificação e
comotora e pedagógica. atividades acadêmicas (linguagem, artigos 29 e 30, da Lei de Diretrizes e
avaliação dos indicadores de superdo-
matemática etc.) quanto criativas Bases da Educação (LDB); no Decreto
tação só terão utilidade se forem utili-
(artes, música, teatro, dança etc.) e n.º 6.571/08; na Nota Técnica n.º 04 do
zadas para promover o melhor desen-
tecnológicas (games, softwares etc.). Ministério da Educação/SECADI, pela
volvimento de suas potencialidades e
aprimoramento de seus valores e habili- Portaria n.º 243 /2016 e outras da área
Perfis educacionais estudantis. da Educação Especial; por meio da Po-
dades sociais. Atender às necessidades
Uma abordagem acadêmica ou artís- lítica Nacional de Educação Especial,
dos estudantes com altas habilidades
tica de estudo de caso pode oferecer das leis orgânicas estaduais, do Distrito
e superdotação diz respeito à com-
um perspectiva mais abrangente so- Federal e municipais e seus desdobra-
preensão que os sistemas de ensino
bre o aluno. Estudos de caso podem mentos legais.
devem ter em relação às característi-
incluir dados, observações, entrevis-
cas, aos estilos de aprendizagem e ao
tas, demonstrando o crescimento do A importância da oferta de atendi-
processo de escolarização, pois esses
estudante em vários cenários. mento educacional, na área das altas
alunos apresentam particularidades
habilidades e superdotação, tem sido
em relação ao ritmo de suas apren-
Observação sistemática enquanto mais bem compreendida pelos edu-
dizagens, aos níveis de compreensão
o aluno realiza projetos e atividades cadores e suas ações desencadeadas
dos conteúdos ministrados e ao grau
na sua área de interesse e aptidão. e entendidas como oportunidades de
e complexidade de suas expectativas
estímulo a diferentes capacidades no
e realizações.
contexto atual. Essas ações refletem
A legislação brasileira reconhece as o reconhecimento de que, por maiores
características diferenciadas expres- que sejam as habilidades do indivíduo,
sas no processo das aprendizagens as oportunidades de aperfeiçoamento
e perfis socioemocionais diferencia- de habilidades e a garantia de espaço
dos dos alunos com altas habilidades para suas realizações são necessárias
e superdotação, relacionando-os aos para que os estudantes de altas habi-
alunos com necessidades educacionais lidades e superdotação desenvolvam
especiais (Brasil, 2013). A atenção às plenamente seus potenciais.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Se as ofertas forem compartilhadas escolar. Conhecer essas características


em seus grupos de pares, na Educação e suas possíveis repercussões facilita a Pontos Fortes Possíveis Problemas
Básica, elas possibilitarão, também, o compreensão dos educadores quanto
Impaciente diante da lentidão de
desenvolvimento de todo o grupo da aos rearranjos que poderão ser efeti- Adquire e retém informações
colegas, não gosta da rotina e re-
sala de aula, já que as oportunidades vados, para que o clima da sala de aula rapidamente.
petição.
de desenvolvimento se estenderão a e da aprendizagem favoreça práticas,
todos. Winebrenner e Brulles (2012) experiências positivas e engajamento
Faz perguntas desafiadoras ao
consideram que ter altas expectativas no processo de aprendizagem, bem Apresenta curiosidade intelectual e
professor, resiste ao direcionamen-
geradas para todos leva a maioria dos como em sua inserção social, algo que atitude inquisitiva, motivação intrín-
to, tem vasta gama de interesses,
estudantes a reagir muito positivamen- pode ser muito desafiador. seca, busca por significados.
esperando o mesmo dos outros.
te a essas expectativas. É compreensí-
vel que, ao propiciar desafios e ativida- A habilidade e expertise do professor
na gestão de sua sala de aula, respei- Dificuldade para aceitar o ilógico, o
des produtivas de desenvolvimento de
tando os propósitos da inclusão, farão a Percebe relações de causa-efeito superficial e conhecimentos deses-
projetos, como a participação em feiras
diferença ao proporcionar novas apren- truturados.
culturais e atividades de investigação
ativa, o professor consiga mobilizar a dizagens e realizações. O quadro a se-
guir, desenvolvido por Webb (2000), Habilidade de contextualização, abs- Rejeita ou omite detalhes, resistên-
turma toda.
descreve alguns possíveis problemas tração, síntese, gosto pela resolução cia ocasional à imposição, questio-
Conhecer o seu estudante com altas comumente associados às caracterís- de problemas e atividade intelectual. na processos de ensino.
habilidades e superdotação é impres- ticas das altas habilidades e superdo-
cindível para qualquer professor. Esse tação que requerem o olhar cuidadoso Amplo vocabulário e proficiência Torna-se entediado com a escola e
grupo apresenta características sociais, de professores, por favorecer experi- verbal, tem amplas informações em colegas visto pelos outros como o
intelectuais e afetivas que têm sido ências socioemocionais conflitantes no áreas avançadas. “sabe tudo”.
pouco compreendidas por seus educa- curso de sua escolarização, quando não
dores, as quais demandam ações e atu- compreendidas suas necessidades: Pensamento crítico elevado, tem Intolerante ou crítico dos demais,
ação de excelência de toda uma equipe altas expectativas, é autocrítico e pode tornar-se desencorajado, de-
avalia demais. primido e/ou perfeccionista.

Tem dificuldades em aceitar práti-


Gosto pela verdade, equidade e
cas paralelas, preocupação huma-
jogo limpo.
nitária.

Questionador e tende a rejeitar o


Criativo e inventivo. Gosta de novas que é tido como conhecido, visto
maneiras de fazer as coisas. pelos outros como diferente e fora
do compasso.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Diferentes compreensões dessas ca- gógica da escola regular ao aluno


Intensa concentração, longos perí- Resiste à interrupção, negligencia racterísticas têm sido associadas a identificado, evidenciando suas
odos de atenção em áreas de inte- deveres ou pessoas durante pe- quadros clínicos, quando a reatividade necessidades educacionais espe-
resse, persistência e comportamen- ríodos de interesses focalizados, e sensibilidade desses estudantes são ciais, por exemplo, a necessidade
to dirigido a metas. obstinação. confrontadas com a rigidez e as pou- de aceleração do ano escolar, o
cas oportunidades de demonstrar suas que permitirá ao aluno avançar
Sensibilidade excessiva à crítica e à habilidades. Os quadros que indicam no ano escolar de acordo com seu
Sensibilidade e intensidade emocio-
rejeição dos colegas, espera que os possíveis patologias (déficit de atenção ritmo e a compactação do Cur-
nais, empatia com os outros, desejo
outros tenham valores semelhantes, e transtorno de hiperatividade, trans- rículo, eliminando as repetições
de ser aceito pelos outros.
sente-se diferente e alienado. torno opositor, transtorno obsessivo- de forma que ele possa cumprir
-compulsivo e transtornos do humor) e o Currículo mais rapidamente e
Independente, prefere trabalho indi- Pode rejeitar o que é imposto pelos comportamentos desafiadores, muitas utilizar o seu tempo em ativida-
vidualizado, confiante em si mesmo. pais e colegas, não conformista. vezes, escondem mentes criativas, bri- des mais desafiadoras;
lhantes e cheias de energias produtivas.
Frustração com a inatividade, au- b. O redirecionamento das práticas
Grande energia, vivacidade, agilida- sência de progresso, impaciência, Vários pesquisadores (Webb, 2000; pedagógicas em sala de aula e o
de, período de intenso esforço. necessita de contínua estimulação, Guenther, 2011; Sabatella, 2008) assi- encaminhamento do aluno aos
pode ser confundido com hiperativo. nalam que crianças talentosas gastam serviços especializados de aten-
pelo menos um quarto do tempo normal dimento nas altas habilidades e
Pode parecer desligado e desorgani- da sala de aula à espera que os colegas superdotação;
Diversos interesses e habilidades, zado, frustra-se com o tempo perdi- o alcancem na realização ou no enten-
versatilidade. do, necessidade de individualização dimento de conteúdo apresentado. O c. Criação de redes de relaciona-
e contínua estimulação. tédio, o pouco envolvimento, a distra- mentos: a participação dos pro-
ção, a frustração, a baixa realização e a fessores e da equipe pedagógica
Percebe situações absurdas, seu insatisfação retratam algo que precisa nos encontros técnicos com a
senso de humor pode não ser com- mudar. Nesse sentido, considerando equipe de serviço especializado,
preendido por seus pares, muito que o desenvolvimento do estudante com o objetivo de acompanhar,
Forte senso de humor. avaliar e redirecionar ações de-
frequentemente torna-se o palhaço deve ser efetivado por processo parti-
do grupo, como forma de chamar cularizado e que envolve o respeito às senvolvidas; e o relacionamento
atenção sobre si. suas singularidades, as ações que pro- com pais e famílias, por meio de
movam sua melhor participação escolar encontros e reuniões de acom-
Quadro 1: Problemas emocionais associados às características da superdotação. In: Pereira, panhamento, apoio e orientação.
2008) – Tradução livre da autora. devem ser estruturadas, considerando:

a. O desenvolvimento do Planeja- As principais possibilidades na oferta


mento Individualizado de Ensino, educacional para alunos superdotados
a ser realizado pela equipe peda- se organizam por meio de ações plane-

118 119
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

jadas e preparadas para propiciar ampli- metodologia própria de enriqueci-


tude de conhecimentos, investigação de mento, com vistas à produtividade SOBRE AS AUTORAS
temas de interesses, desenvolvimento criativa, aprimoramento de habili-
de diferentes habilidades, condução de dades sociais e de lideranças.
ANGELA VIRGOLIM
diferentes experimentações e envolvi-
Presenciar olhos brilhantes, estudantes Psicóloga, Doutora em Psicologia Educacional pela Univer-
mento em propostas de trabalho com
ativos e participativos, lideranças posi- sity of Connecticut. Especialista em Psicologia da Superdo-
base em solução de problemas e dilemas
tivas emergindo, autonomia e produti- tação pelo Renzulli Center for Creativity, Gifted Education,
de contextos reais. Assim:
vidade, forte senso de valor e ética, es- and Talent Development. Professora adjunta no Instituto de
d. Quando realizadas em classe co- tudantes capazes de se autodirecionar Psicologia da Universidade de Brasília. Presidente do Conse-
mum, devem proporcionar con- e, efetivamente, se comprometer, pare- lho Brasileiro para Superdotação - ConBraSD. Pós-doutora
teúdos aprofundados, amplitude ce ser um algo distante e utópico. En- pelo Laboratório de Avaliação e Medidas Psicológicas da
e extensão de conhecimentos, tretanto, considerando que estudantes PUC-Campinas. Escreve sobre temas relacionados à criati-
desafios crescentes e contínuos convergem para a escola na esperança vidade e superdotação
e aprimoramento de habilidades; de aprendizagem, de relacionamento,
desenvolvimento e reconhecimento,
e. Quando oferecidas em grupos VERA LÚCIA PALMEIRA PEREIRA
é imprescindível que reconheçamos e
específicos, devem possibilitar o atendamos, com o melhor de nossos Graduada em Pedagogia, UNICEUB; Especialista em Psico-
encontro e o confronto dos di- esforços, sem frear seu ritmo de apren- pedagogia, Universidade Católica de Brasília e Educação
versos interesses em atividades dizagem, aqueles que podem direcionar de Bem-Dotados e Talentosos, Universidade de Lavras/
produtivas, por meio de ativida- e motivar para as melhores descober- MG. Mestre em Educação pela Universidade Católica de
des práticas e situações desa- tas e desenvolvimento de identidades Brasília. Sócia fundadora do Conselho Brasileiro para a
fiadoras a serem desenvolvidas positivas, possibilitando, a todos os Superdotação e Vice-Presidente na gestão 2019/2021.
paralelamente aos temas desen- demais, crescimento e desabrochar Conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia/
volvidos em salas comuns; de habilidades que poderão contribuir DF na gestão 2020/2022. Proprietária do Espaço Ativi-
para o melhor de nossa sociedade. dade: mente, corpo e emoção em Brasília/DF. Experiência
f. Ao serem desenvolvidas em servi-
na área de Educação com ênfase em Educação Especial
ços especializados, devem enfatizar
e Superdotação, Atendimento Psicopedagógico em Altas
Habilidades/Superdotação, Inclusão Educacional, Avaliação
e intervenção nas necessidades educacionais especiais de
estudantes de Altas Habilidades / Superdotação.

120 121
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS

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122 123
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

A Educação e
Aprendizagem ao
Longo da Vida como
Princípio da Educação
Especial e Educação
de Jovens e Adultos
Fabiana Silva Zuttin Cavalcante
Eduardo Barbosa

125
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Introdução assegurar a educação inclusi- Educação Especial, como na Educação Concepções e Pers-
va e equitativa de qualidade, de Jovens e Adultos (EJA), conforme pectivas da Educação
O conceito de Educação e Aprendiza- e promover oportunidades de previsto nessa legislação.
e Aprendizagem ao
gem ao Longo da Vida (ELV) é o tema aprendizagem ao longo da
aqui abordado, em vista de uma possí- Pela mesma norma legal citada anterior- Longo da Vida
vida para todos e suas metas
vel incorporação dele nos campos da correspondentes. Comprome- mente, entende-se que a Educação de
A literatura nos mostra que várias orga-
Educação Especial e da Educação de temo-nos a promover, com Jovens e Adultos será destinada àqueles
nizações, como a UNESCO1 , a OCDE2 , o
Jovens e Adultos, tão incipientes em qualidade, oportunidades de que não tiveram acesso ou continuidade
Conselho da Europa e a União Europeia,
nosso País. educação ao longo da vida de estudos no Ensino Fundamental e En-
têm elencado diversas definições acer-
para todos, em todos os con- sino Médio na idade própria e constituirá
ca do tema de Educação e Aprendiza-
Abordaremos esse conceito a partir de instrumento para a educação e a apren-
textos e em todos os níveis de gem ao Longo da Vida (VILLAS-BOAS
um enquadramento teórico, histórico e dizagem ao longo da vida. Nesse viés, os
educação (BRASIL, 2015, p. 1). et al., 2016). Alguns autores consideram
legal, além de retratar uma experiência sistemas de ensino deverão assegurar
e utilizam tais definições como sinôni-
empírica que realizamos com jovens e Nessa perspectiva, torna-se relevante oportunidades educacionais apropria-
mas, outros se propõem a utilizá-las de
adultos com Deficiência Intelectual (DI). elucidar o último marco legal que foi das, consideradas as características do
forma complementar. Há duas grandes
Este estudo clarifica as possibilidades publicado, levando em consideração estudante, os seus interesses, as con-
vertentes que permeiam o tema: uma
existentes para a realização de propos- esse conceito. A promulgação da Lei dições de vida e de trabalho, mediante
com visão humanista e solidária, outra
tas e projetos educacionais inovadores n.º 13.632/2018 alterou a Lei n.º 9.394, cursos e exames (BRASIL, 1996; 2018).
marcada pela ideologia neoliberal.
no campo da educação, baseadas nessa de 20 de dezembro de 1996, Lei de Di-
concepção de ELV. retrizes e Bases da Educação Nacional O Capítulo V da LDB retrata a Educação
Neste estudo, o nosso objetivo não é
(LDB), que estabelece as diretrizes e Especial como uma modalidade de edu-
aprofundar a discussão sobre a origem
As discussões acerca dessa concep- cação escolar oferecida preferencial-
normas da educação nacional. A LDB dos conceitos e descrever as suas simili-
ção de Educação e Aprendizagem ao mente na rede regular de ensino, para
dispõe sobre o direito de educação e tudes e alteridades, mas reafirmar o en-
Longo da Vida influenciaram as formu- educandos com deficiência, transtornos
aprendizagem ao longo da vida, como quadramento humanista que adotaremos,
lações de políticas públicas no campo globais do desenvolvimento e altas ha- inspirado na visão de construir uma socie-
um princípio no âmbito da Educação
da educação. Em particular, iremos citar bilidades ou superdotação, tendo início dade educativa que assegure a educação
de Jovens e Adultos e na Educação
os dois últimos ordenamentos legais e na Educação Infantil e se estendendo para todas as pessoas. Uma educação que
Especial (BRASIL, 1996; 2018). A pro-
normativos: a Declaração de Incheon e ao longo da vida (BRASIL, 2013; 2018). ocorra em contextos formais, não formais
clamação dessa legislação foi um dos
a Lei Federal n.º 13.632/2018. e informais, permitindo que essas pessoas
maiores propulsores para elaborarmos
Para que possamos transpor esse concei- adquiram novos conhecimentos e novas
A Declaraçao de Incheon foi assina- o projeto piloto que será tratado nes-
to descrito na legislação, almejando efeti- habilidades e que sejam capazes de se
da em maio de 2015, durante o Fórum te trabalho, baseado na concepção de
var práticas educacionais no seio dessas transformarem socialmente, exercendo
Mundial de Educação, e preconiza uma Educação e Aprendizagem ao Longo
duas modalidades de ensino, é preciso seus papéis como cidadãos. Além disso,
nova visão da educação rumo a 2030, da Vida direcionada às pessoas com
conhecer os aportes teóricos e históricos
de forma a: deficiência intelectual. No entanto, o
que embasaram essa concepção de Edu- 1 - Organização das Nações Unidas para a Edu-
conceito de ELV é amplo e pode ser cação, a Ciência e a Cultura
cação e Aprendizagem ao Longo da Vida.
incorporado tanto na modalidade da 2 - Organização para a Cooperação e Desenvolvi-
mento Econômico

126 127
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

iremos retratar os conceitos encontra- Já o Memorando da Comissão Europeia formal e para a informal” e “imperativos cerne da Educação Especial e da EJA.
dos nessa perspectiva. descreve que a Educação ao Longo para o alcance da equidade e da inclu- Por isso, transformações nos sistemas
da Vida se refere a todas as ativida- são social, para a redução da pobreza e educacionais, elaboração de programas
Um grande marco em relação à visão des significativas de aprendizagem, para a construção de sociedades justas, ou avanços nas políticas públicas que
humanista do conceito de Educação tais como: processos de aprendizagem solidárias, sustentáveis e baseadas no regulamentem o direito à Educação e
ao Longo da Vida foi a publicação do formais, que ocorrem nas instituições conhecimento” (UNESCO, 2010, p. 7). Aprendizagem ao Longo da Vida para
conhecido Relatório Delors intitulado de formação clássicas e que são, ge- todas as pessoas se fazem necessárias
Educação: um tesouro a descobrir (DE- ralmente, validados por certificações A Educação ao Longo da Vida sustenta para a construção de propostas edu-
LORS et al., 1996). Nesse documento, socialmente reconhecidas; processos que o processo de aprendizagem pode cacionais que ofereçam oportunidades
escrito para a UNESCO, a ELV é com- de aprendizagem não formais, que se “decorrer em todas as dimensões das de aprendizagem a todas as pessoas,
preendida como “uma construção con- desenvolvem, habitualmente, fora dos nossas vidas” e que “abrange todos os de acordo com suas singularidades, ne-
tínua da pessoa humana, do seu saber estabelecimentos de formação insti- tipos de ensino e aprendizagem”, sendo cessidades, interesses e aspirações em
e das suas aptidões, mas também da tucionalizados — nos locais de traba- formal, não formal e informal. Para os diversos contextos de vida.
sua capacidade de discernir e agir”. lho, em organismos e associações, no autores, a “aquisição de conhecimentos
Essa proposta visa auxiliar a pessoa “a seio de atividades sociais, na busca por decorre na escola, no seio da família, Dessa forma, uma maneira de opera-
tomar consciência de si própria e do interesses esportivos ou artísticos; e durante o tempo de lazer, na convivên- cionalizar e intentar uma proposta pe-
meio que a envolve e a desempenhar processos de aprendizagem informais, cia comunitária e na vida profissional dagógica que reconheça o direito de
o papel social” que lhe cabe na comu- que não são empreendidos intencional- cotidiana” (VILLAS-BOAS et al., 2016, p. Educação e Aprendizagem ao Longo
nidade, baseando-se nos quatro pila- mente e que “acompanham” incidental- 122). Esse conceito de ELV converge na da Vida como um princípio foi alvo de
res da educação: aprender a conhecer, mente a vida cotidiana (Commission of direção da concepção de uma sociedade investigações empíricas no campo da
aprender a fazer, aprender a conviver the European Communities, 2000, p. 8). educativa que possibilita uma oportuni- Educação Especial, por intermédio da
e aprender a ser (DELORS et al., 1996, dade para aprender e desenvolver ta- realização de um estudo piloto que
p.18; DELORS et al., 2010). Em consonância com essa ideia, as Con- lentos, além do estudo de novas formas será retratado a seguir. Embora essa
ferências Internacionais de Educação de obtenção das certificações, levando experiência tenha sido realizada com
Estudos recentes mostram que a assimi- de Adultos (CONFINTEAs), promovidas em consideração o conjunto de compe- jovens e adultos com deficiência inte-
lação desse conceito ainda parece latente pela UNESCO, contribuíram com deba- tências adquiridas (DELORS et al., 2010). lectual, ela pode ser estendida também
e propõem três grandes argumentos para tes acerca das políticas globais de en- para o âmbito da EJA, pois se propõe
a compreensão da educação ao longo da sino relacionadas à educação ao longo Torna-se evidente que, apesar de todos a utilizar a metodologia denominada
vida: “como mecanismo de promoção do da vida. Além disso, a VI Conferência esses avanços e construção de conheci- Reconhecimento de Saberes, já discu-
respeito às necessidades e diferenças in- trouxe uma contribuição importante, mento sobre a temática da Educação e tida em alguns estudos nesse campo,
dividuais; instrumento de democratização demarcando a amplitude do conceito Aprendizagem ao Longo da Vida, ainda além de elencar, como centralidade, os
da educação e chave de acesso ao século de aprendizagem e educação de adul- há uma preocupação em relação à in- projetos de vida dessas pessoas numa
XXI, capaz de promover a participação do tos como “componente significativo do corporação desse conceito no bojo das proposta educacional que se baseou
sujeito na modernidade global” (RODRI- processo de aprendizagem ao longo da discussões e propostas educacionais, no nos pressupostos da ELV.
GUES E CAVALHEIRO, 2015, p. 139). vida, envolvendo um continuum que pas-
sa da aprendizagem formal para a não

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Retrato de uma Nesse sentido, a proposta pedagógica desse estudo piloto. A figura 1 ilustra a Essa metodologia descreve o passo a pas-
Experiência: desenvolvida nessa experiência baseou- metodologia utilizada no Projeto de ELV, so da prática pedagógica, com o objetivo
-se no conceito de ELV, proporcionando desenvolvido em duas instituições espe- de verificar os saberes adquiridos pelos
Proposta Pedagógica
aos estudantes com DI novas oportu- cializadas no estado de Minas Gerais. jovens e adultos com DI ao longo de sua
Baseada no Conceito
nidades de aprendizagem e de trans-
de Educação e formação social, para que pudessem
Aprendizagem Ao desenvolver habilidades que os dire- Metodologia De Reconhecimento De Saberes
Longo Da Vida cionassem às escolhas e aos caminhos
relacionados aos seus projetos de vida. Etapas Procedimentos
Por todo esse delineamento, nos parece
imperativo destacar a necessidade de Para esse trabalho, utilizamos a defi- Reconhecimento
Acolhimento • Ficha de matrícula: dados do estudante
de Saberes
compreensão e incorporação do concei- nição de Nascimento (2013, p. 87), que e dos responsáveis
to de Educação e Aprendizagem ao Lon-
conceitua projeto de vida como: • Coleta de dados nos prontuários Clí-
go da Vida, de forma a possibilitar novas Validação de nicos, Escolares e Sociais (Avaliação
oportunidades de aprendizagem a todas Saberes Multidimensional - PDI, PDU, PTI e etc)
aspirações, desejos de reali-
as pessoas da sociedade. Assim, uma das zações que se projetam para • Entrevista Semiestrutural com o estu-
possibilidades encontradas pelo Instituto dante e com a família: descrição inicial
o futuro como uma visão an- Certificação de do projeto de vida
de Ensino e Pesquisa Darci Barbosa, de Saberes
tecipatória de acontecimen-
Minas Gerais, foi desenvolver um projeto
tos, cuja base reside em uma
piloto3 , por intermédio de uma pesqui- Avaliação dos
realidade construída na inter- • Inventário de habilidades escolares
sa realizada com jovens e adultos com estudantes
seção das relações que o su- • Escala de autodeterminação
deficiência intelectual. Essas pessoas
jeito estabelece com o mundo. • Identificação dos saberes
precisam de apoios intermitentes e limi-
Emerge da trama complexa de (formais, informais e não-formais)
tados4 nos momentos de transição de
alguma fase da vida, principalmente no relações, de construção de sa- • Descrição do Perfil do Estudante

que tange à definição de seus projetos beres sobre si e sobre o mundo


de vida, de acordo com o interesse e na medida em que significados
Identificação • Definição do projeto de vida com o
a capacidade de realização do sujeito, são partilhados no cotidiano.
e Desenvol- estudante
respeitados os seus princípios e valores. vimento de
A metodologia adotada para esse traba- Habilidades • Indicação para outros serviços, se
necessário*
lho foi baseada na Metodologia de Re-
3 - Os dados empíricos descritos foram basea-
conhecimento de Saberes proposta para • Elaboração do plano de ação pedagó-
dos no documento on-line intitulado “Educação
e Aprendizagem ao Longo da Vida para a Pessoa gico - Mapa de Aprendizagem
a Educação de Jovens e Adultos, sendo
com Deficiência Intelectual”, publicado em 2020,
• Plano de Atividades Práticas: desen-
no site do Instituto de Ensino e Pesquisa Darci fundamentada no conceito de educa-
Barbosa. Para obter maiores informações acesse: volvimento das habilidades centraais
https://www.uniapaemg.org.br. ção ao longo da vida (MARTINS et al., e secundárias
4 - Intermitente: caracterizado por sua natureza 2016). Para se adequar ao cerne dessa
episódica ou de curto prazo. Pode ser de baixa ou • Construção inicial do portfólio
alta intensidade. Limitado: caracterizado pela con- proposta educacional, foram realizados
sistência ao longo do tempo, limitados no tempo,
mas não de natureza intermitente (AAMR, 2006). alguns ajustes, para atender aos objetivos

130 131
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Etapas Procedimentos Nessa fase, foi fundamental traçar o pla- com Deficiência Intelectual com base no
no de ação pedagógico amparado no Modelo Social da Deficiência, valorizan-
Reconhecimento Análise do plano
de Saberes • Análise das habilidades descirtas no mapa de aprendizagem, a fim de orientar do esse sujeito como um ser social, que
pedagógico
plano de ação pedagógico e redefinição
dos objetivos, se necessário.
o(a) professor(a) no desenvolvimento necessita ser respeitado como cidadão,
das habilidades em relação ao projeto de com direitos e deveres de participação
Validação de
Saberes vida dos estudantes, sendo esse organi- na sociedade. Além disso, mostrou como
Emissão de
• Análise de habilidades descritas zado em três grandes eixos: habilidades cada sujeito se transformou socialmente
certificação
• Apresentação do portfólio conceituais, habilidades socioemocionais e quais foram as mudanças identitárias
Certificação de
Saberes • Certificação dos saberes adquiridos e habilidades práticas, tendo como fun- ocorridas durante o processo de apren-
em relação ao projeto de vida dos es- damento a Base Nacional Comum Curri- dizagem (formal, não formal e infor-
tudantes
cular (BNCC, 2018) e o Comportamento mal) em relação ao seu projeto de vida.
Figura 1. Metodologia de Reconhecimento de Saberes do Projeto de ELV. Adaptativo (AAIDD, 2010).

A segunda etapa dessa metodologia, Va-


trajetória de vida em contextos formais, e deve ser realizada por meio da escuta
lidação de Saberes, consistiu na análise Essa experiência
não formais e informais, a fim de compre- do estudante, levando em consideração
das habilidades descritas no portfólio, reconheceu a Pessoa com
ender o que eles sabem e o que precisam o seu protagonismo. A participação da
no plano de ação pedagógico e nas ou- Deficiência Intelectual
desenvolver em termos de habilidades família, bem como dos parceiros da co- com base no Modelo
tras formas de avaliação, o que permitiu
em relação aos seus projetos de vida. munidade e da instituição educacional, Social da Deficiência,
verificar se atendiam aos requisitos da
A metodologia descrita na figura 1 deve é complementar, no sentido de trazer valorizando esse sujeito
certificação e se ainda existiam lacunas
ser realizada pelos(as) professores(as), elementos que auxiliem na compre- como um ser social”
que sinalizavam a necessidade de desen-
com o apoio de outros profissionais que ensão desses desejos, adequando-os
volver novas habilidades relacionadas ao
irão atuar como parceiros (da instituição à realidade e ao contexto em que os
projeto de vida do estudante.
educacional e/ou da comunidade), além da estudantes vivem, e assegurando que Considerações
colaboração dos familiares com o proces- a proposta pedagógica se efetive. Por fim, a última etapa, Certificação de Finais
so de aprendizagem. Saberes, consistiu na apresentação do
A primeira etapa dessa metodologia, Ao longo das reflexões propostas no
portfólio e na realização do processo de
As práticas pedagógicas desenvolvidas denominada Reconhecimento de Sabe- decorrer deste texto, buscamos apre-
certificação dos saberes adquiridos em
para ajudar os estudantes a definir seus res, buscou, por meio do conhecimento sentar e problematizar a concepção de
relação ao projeto de vida do estudan-
projetos de vida se baseiam na visão hu- da história de vida e do mapeamento da educação e aprendizagem ao longo da
te. Todo esse percurso metodológico
manista de formação desse sujeito e elen- trajetória do estudante em contextos vida no bojo das discussões do âmbito
pode ser realizado no período de até
cam alguns temas como: identidade; rela- de aprendizagem formais, informais e da EJA e da Educação Especial.
no máximo dois anos, após a entrada
ções sociais; vida cotidiana; tecnologias; não formais, conhecer esse sujeito para
do estudante nessa proposta de caráter
vida profissional; esporte, arte e cultura; melhor intervir, considerando as suas Essa escolha teve estreita ligação com a
pedagógico baseada no conceito da ELV.
cuidado de si e educação para a vida. habilidades e seus desejos em relação necessidade de ressignificar as propos-
ao projeto de vida. Essa experiência reconheceu a Pessoa tas pedagógicas existentes, de forma a
A definição do projeto de vida é pessoal possibilitar mudanças nos sistemas edu-

132 133
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

cacionais, a fim de que todos os mem- aprofundando o enquadramento con-


bros da sociedade possam ter oportu- ceitual, histórico e legal, bem como o SOBRE OS AUTORES
nidades de aprendizagem em contextos enriquecimento e a reflexão sobre as
formais, não formais e informais. práticas nesse campo de conhecimento.
EDUARDO BARBOSA
Muitos projetos e propostas educacio- O interesse por essa nova concepção de Graduado em Medicina, com especialidade em Saúde Públi-
nais inovadoras poderão ser pensadas, educação na sociedade em que vivemos ca e em Pediatria. Participa do Movimento das Apaes desde
levando em consideração outros temas visa reconhecer os desafios existentes e 1994. É Deputado Federal por 7 mandatos consecutivos. É
centrais, além do foco nos projetos de as barreiras que devemos superar para Membro das seguintes Comissões: seguridade social, educa-
vida, como foi retratado nesse capí- promover novas oportunidades de apren- ção, pessoa com deficiência, além de presidir a subcomissão
tulo. Experiências como esta podem dizagens e de formação humana, que de Educação Especial. É ouvidor da Câmara dos Deputados.
contribuir para a emancipação dessa resultem em transformações sociais para
concepção de Educação e Aprendiza- o alcance do exercício pleno da cidadania.
gem ao Longo da Vida em nosso País,
FABIANA SILVA ZUTTIN CAVALCANTE
Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Mestre em Educação Especial pela
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Especia-
lização em Terapia Ocupacional aplicada a Neurologia
(Unisalesianos) e em Planejamento, Implementação, Ges-
tão em EAD pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Graduada em Pedagogia (UNIP) e em Terapia Ocupacional
(UFSCar). Atualmente é docente do curso de Pós-Gradu-
ação da PUC Minas e Coordenadora da unidade de Ensino
e Pesquisa do Instituto Darci Barbosa (IEP-MG).

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

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136 137
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Inclusão e
Equidade na
Educação Bilíngue
de Surdos
Vânia Elizabeth Chiella
Crisiane Nunes Bez Batti

139
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Introdução educação bilíngue oferecidas a esses texto escolar, cujo olhar se volta para Os estudantes, em escala maior ou me-
sujeitos. Na sequência, vamos abor- as diferenças e individualidades dos nor, têm necessidades distintas, e estas
O presente texto tem como objetivo dar, no limite que o texto permite, a sujeitos. Somos sujeitos singulares, te- impactam diretamente nas estratégias
contribuir com reflexões sobre algumas compreensão dos modos pelos quais o mos nossas particularidades e indivi- de ensino utilizadas pela escola.
possibilidades de obtermos condições processo de inclusão escolar dos estu- dualidades; os sujeitos surdos e com
para a escola avançar com equidade dantes surdos e com deficiência auditi- deficiência auditiva, do mesmo modo, Partindo das experiências de vida das
nos processos de inclusão escolar de va proporciona o seu desenvolvimento não podem ser vistos pela medida da autoras imbricadas com a temática e
estudantes surdos e com deficiência de forma equitativa. deficiência, ou seja, não será o nível de dos conhecimentos construídos nas
auditiva. Para isso, entendemos que é audição que determinará a capacidade trajetórias acadêmicas e profissionais,
necessário ressignificar ações nos di- do estudante de aprender. selecionamos alguns elementos da edu-
ferentes níveis de ensino da educação Inclusão Escolar de cação bilíngue de surdos que conside-
bilíngue de surdos. Estudantes Surdos O conceito de pessoa surda que baliza ramos importantes para abordar e con-

e de Estudantes com este texto está de acordo com o De- tribuir com a prática dos professores
A pauta da educação bilíngue está creto nº 5.626, de 22 de dezembro de que atuam na Educação Básica.
Deficiência Auditiva
presente há mais de duas décadas em 2005, que dispõe sobre a Língua Bra-
pesquisas acadêmicas, principalmente
Sinalizantes
sileira de Sinais (Libras). No seu Art. 2º,
as desenvolvidas nas áreas da edu- O processo de inclusão escolar envolve lê-se: “considera-se pessoa surda aquela Sobre A Língua
cação e da linguística, bem como nos a escola como um todo e reflete-se nas que, por ter perda auditiva, compreen- Brasileira De Sinais
movimentos de entidades representa- práticas pedagógicas em sala de aula, no de e interage com o mundo por meio (Libras)
tivas da comunidade surda. A recente espaço da escola e na comunidade esco- de experiências visuais, manifestando
conquista está concretizada por meio sua cultura principalmente pelo uso da A comunicação é uma necessidade do
lar. Isto significa que a inclusão escolar
dos grupos de trabalho reunidos na Co- Língua Brasileira de Sinais - Libras”. Nes- ser humano. É pela linguagem que es-
não se limita ao acolhimento da matrícula
missão de Educação Básica do Conse- sa perspectiva, o processo de inclusão truturamos nosso pensamento, intera-
do estudante, implicando também que a
lho Nacional de Educação, por ocasião escolar se constrói com o entendimento gimos, expressamos nossas opiniões,
escola ofereça as condições de equidade
da revisão e ampliação das Diretrizes de que a língua de sinais é fundamen- acessamos o mundo e nos desenvolve-
de oportunidades para este estudante.
Nacionais da Educação Especial, no GT tal aos estudantes, que se beneficiam mos. Comunicar-se e optar pela língua
Quando nos referimos à escola inclusiva,
da Diretriz Operacional para a Oferta com a condição bilíngue, tendo acesso em que a comunicação se dará é um
estamos considerando suas condições
de Educação Bilíngue de Surdos. à Libras como língua de comunicação e direito humano básico.
de acessibilidade e de acolhimento para
viabilizar o processo de inclusão escolar, instrução, bem como à língua portugue-
Motivadas pela possibilidade de As línguas mais conhecidas são orais,
que deve se dar em situações adequadas sa como sua segunda língua na escola.
avançarmos nas discussões sobre a baseadas na audição e na fala. Porém,
e equitativas de aprendizagem para to- Acreditamos que condições linguísticas
inclusão escolar para estudantes sur- existe outra modalidade linguística, que
dos os estudantes. adequadas são fundamentais para o
dos e para estudantes com deficiência chamamos de visogestual. Compreen-
desenvolvimento das pessoas.
auditiva e no processo educacional, de a capacidade dos surdos de se co-
Ao propormos falar em avanços nos
que deve ser constantemente reavalia- A escola deve conhecer as necessida- municar utilizando a visão como canal
processos de inclusão escolar de forma
do, propomos revisar as condições da des de cada um dos seus estudantes. receptor e as mãos para se expressar.
equitativa, levamos em conta o con-

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Chamamos as línguas produzidas pelos brasileiros, é considerada uma segunda munidades surdas do Brasil. Em 2005, o apenas permitir que use sua
surdos de línguas de sinais. língua; dessa forma, deve-se considerar Decreto nº 5.626 regulamentou a refe- língua, é preciso também pro-
o seu ensino na escola com metodolo- rida lei, garantindo a educação bilíngue mover a integração com sua
As línguas de sinais, assim como as lín- gias específicas de segunda língua. de surdos. cultura, para que se identifi-
guas orais, são línguas naturais, ou seja, que e possa utilizar efetiva-
se desenvolvem naturalmente nos seus A Libras, assim como diversas línguas O desenvolvimento de estudantes mente a língua de sinais.
usuários, a partir do contato com ou- existentes, é composta por níveis lin- surdos que utilizam a língua de sinais
tros usuários dessas línguas. São siste- guísticos, como fonologia, morfologia, desde cedo é equivalente ao desen- É vital que a escola seja difusora da
mas abstratos com regras gramaticais sintaxe e semântica. Ao contrário do volvimento de um ouvinte que utiliza Libras desde a fase da alfabetização
e podem expressar qualquer tipo de que alguns pensam, o alfabeto manual sua língua oral. Quando utilizada de das crianças surdas e em todo o pro-
ideias e conceitos. Não devemos cha- (apresentação sinalizada do alfabeto maneira expressiva na vida do surdo, cesso escolar. É fundamental que os
mar as línguas de sinais de “linguagens oral) não é o modo principal de comu- a língua de sinais pode conduzi-lo ao professores que atuam com estudantes
de sinais”, pois isso seria reduzir todo nicação entre os surdos. Geralmente, desenvolvimento pleno. Ela fornece a surdos compreendam a importância do
esse sistema linguístico a uma forma o alfabeto manual é utilizado para ex- oportunidade ao surdo de ter acesso à uso dessa língua na construção cogniti-
alternativa e simplificada de comuni- pressar nomes de lugares e pessoas, aquisição de linguagem e de conheci- va e identitária dos estudantes surdos.
cação. ou para explicar algum termo da língua mento de mundo e de si mesmo. Dizeu Essa compreensão deve movê-los a
portuguesa não entendido pelo recep- e Caporali (2005, p.597) aclaram: aprender a língua e a atuar como profis-
As línguas de sinais são bastante com- tor. A maior parte da comunicação sur- sionais bilíngues. O bilinguismo leva-nos
plexas e têm a mesma funcionalidade da se dá pelo uso dos sinais. Os sinais Uma criança que não escu- à próxima seção de nosso texto – quem
cognitiva e expressiva que as línguas são formados mediante uma combina- ta possui as mesmas condi- são os profissionais intérpretes que
orais. Ao contrário do que muitos pen- ção de alguns elementos, como: con- ções de aprendizagem que atuam como instrumentos de comuni-
sam, as línguas de sinais não são univer- figuração das mãos, expressão facial, uma criança ouvinte, porém cação na educação de surdos.
sais. Em cada país, a comunidade surda espaço onde a sinalização acontece o acesso à linguagem se dará
desenvolve sua língua de sinais a partir (em frente ao corpo, ou apoiada em por meio do canal gesto-visu-
das suas interações e da sua cultura. alguma parte do corpo), movimento e al. Ao permitir que a criança Sobre o Papel do
Portanto, como as comunidades e cul- orientação das mãos. surda tenha a oportunidade Intérprete de Libras
turas são distintas, as línguas de sinais de se desenvolver de forma e do Guia-Intérprete
também o são. Em 2002, a Libras foi reconhecida pela análoga à das crianças ouvin-
de Língua de Sinais
Lei Federal nº 10.436 como meio legal tes, estar-se-á respeitando
No Brasil, existem duas línguas de si- na Escola
de comunicação e expressão. Esta lei sua língua, sua diferença. Não
nais: a língua Kaapor (LSKB), utilizada também prevê que o Poder Público e se pode mais negar aos sur- O intérprete de Libras e o guia-intérpre-
pelos índios da tribo Kaapor, da qual as concessionárias de serviços públicos dos o direito de serem parte te de língua de sinais ocupam um espaço
muitos membros são surdos, e a Lín- devem garantir formas institucionali- integrante e participativa de importante na educação bilíngue de sur-
gua Brasileira de Sinais (Libras), que zadas de apoiar o uso e a difusão da nossa sociedade. Além dis- dos. Sua profissão, citada primeiramente
é utilizada na maior parte do país. A Libras como meio de comunicação ob- so, para que o surdo possa na Lei 10.436/2002, foi regulamentada
língua portuguesa, no caso dos surdos jetiva e de utilização corrente das co- desenvolver-se, não basta na Lei 12.319/2010, que estipula as com-

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

petências, atribuições e formação para apenas intermediará as relações e in- Os professores ouvintes não bilíngues sibilidade de escolher o melhor espaço
seu exercício. A referida lei estipula que, terpretará o conteúdo. Assim, o tra- que atuam na educação de surdos de- educacional para o filho. Encontra-se
para o exercício da interpretação, é im- balho do intérprete fluirá por meio do vem fazer um esforço para aprender Li- expresso no parágrafo primeiro que:
portante que o intérprete tenha profi- suporte dos professores que com ele bras e interagir com seus alunos surdos. “são denominadas escolas ou classes
ciência em português e em Libras, além atuarem. O intérprete deverá ter aces- Nunca devem delegar apenas ao intér- de educação bilíngue aquelas em que a
de competência técnica para realizar a so ao planejamento do professor para prete a tarefa de interagir com esses Libras e a modalidade escrita de Língua
transposição das informações de uma poder se preparar com antecedência, estudantes. O papel do intérprete sem- Portuguesa sejam línguas de instrução
língua para a outra. em relação aos conteúdos que serão pre será de mediação, porém, quando utilizadas no desenvolvimento de todo
explanados. Ademais, é imprescindível toda a equipe escolar dá passos em o processo educativo”.
Segundo Quadros (2004), o intérprete que haja comunicação constante entre direção ao aprendizado da Libras, os
educacional é aquele que atua como os professores e o intérprete. Ao re- alunos surdos sentem-se respeitados Essas escolas são específicas e diferen-
profissional intérprete de língua de si- passarem juntos quais conteúdos serão e incluídos no processo educacional. ciadas. Seu critério de seleção e entur-
nais na educação. O intérprete edu- trabalhados, o intérprete poderá dar mação dos estudantes não é a defici-
cacional deverá interpretar, em Libras sugestões de como tornar o conteúdo Entretanto, é importante considerar ência, mas a especificidade linguística
- Língua Portuguesa, as atividades di- mais atrativo visualmente, auxiliando no que o estudante surdo deve dominar cultural, reconhecida e valorizada pela
dático-pedagógicas e culturais desen- aprendizado do aluno surdo. Tal comu- a língua de sinais para beneficiar-se da Convenção sobre os Direitos das Pessoas
volvidas na instituição de ensino onde nicação é especialmente significativa presença do intérprete de Libras na com Deficiência, em vista da promoção
atua, de forma a viabilizar o acesso no caso de muitas disciplinas em que escola. Em contextos ideais de escola da identidade linguística da comunidade
aos conteúdos curriculares. Também certos termos específicos utilizados bilíngue, os estudantes surdos passam surda, bem como do favorecimento do
efetuará a comunicação entre surdos ainda não possuem sinais correspon- por um processo de experimentação da seu desenvolvimento social, acadêmico,
e ouvintes, surdos e surdos, surdos e dentes em Libras. Quando o professor sua língua natural, a Libras. Isso permite cultural e emocional. Esse princípio en-
surdocegos, e surdocegos e ouvintes, se dispõe a explicar tais termos com que o estudante transite pelas línguas, e seja a necessidade de ajustes pedagó-
por meio da Libras para a língua oral antecipação ao intérprete, colabora o profissional intérprete de Libras passa gicos e metodológicos pelos sistemas
e vice-versa, conforme estabelece a para que este possa interpretá-los para a ser uma condição de acessibilidade de ensino, levando-se em conta o que
Lei 12.319/2010, no seu Artigo 6º. Tal os alunos de uma forma compreensível. para o estudante em diferentes espaços. é reconhecido e considerado em dispo-
intermediação ocorrerá dentro da sala sitivos legais em vigor – o direito a uma
de aula e também em outros espaços Educação Bilíngue de surdos em todo o
escolares onde o aluno surdo ou outros Sobre a Escola processo educativo, integrando no cur-
profissionais em interação com alunos É importante que cada Bilíngue de Surdos rículo as línguas envolvidas.
surdos necessitam de interpretação. profissional atuante na
A escola bilíngue de surdos foi con- Pesquisadores, como Capovilla (2011),
educação bilíngue de
É importante que cada profissional atu- solidada como marco legal a partir do avaliam que os estudantes surdos apren-
surdos entenda seu papel
ante na educação bilíngue de surdos Decreto 5626/2005, que a define como dem mais e melhor em ambientes bilín-
dentro da sala de aula e
entenda seu papel dentro da sala de modalidade de ensino que precisa ser gues. Estudantes surdos que acessam
dentro da escola como
aula e dentro da escola como um todo. ofertada como uma opção à qual os a educação bilíngue desenvolvem-se em
um todo.
O intérprete não é um professor – ele pais fazem jus, tendo em vista a pos- muitos aspectos, que contemplam não

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

apenas a evolução de aprendizados es- fato de a Libras, no caso do Brasil, ser Médio são os níveis de ensino em que o A escola bilíngue de surdos e as esco-
colares, como também o seu desenvol- adquirida de forma “espontânea” no en- estudante se beneficiará da presença las comuns com classes organizadas na
vimento humano, identitário e cultural. A contro entre surdos na escola, ao con- do intérprete de Libras, que propicia perspectiva bilíngue de surdos também
comunidade surda deseja uma educação trário do processo que acontece com a a acessibilidade necessária e auxilia na necessitam disponibilizar disciplinas de
pautada em princípios linguísticos e cul- língua portuguesa. Sendo assim, é ne- criação de condições adequadas de en- Libras ofertadas como componente cur-
turais, na direção do direito de expres- cessário rever o processo de aquisição sino-aprendizagem na classe e na escola. ricular, além de oficinas de Libras para
sá-los e difundi-los, com o livre acesso que ocorre com esta língua. A Libras e a melhorar a competência linguística dos
à informação e à equidade. língua portuguesa têm papéis definidos Para que o processo de inclusão ocorra estudantes surdos e com deficiência au-
de grande importância no processo de no ambiente escolar, são necessárias ditiva, dos técnicos, dos professores e
Em nossa experiência na educação de bilinguismo na vida das crianças surdas medidas que vão além da presença do dos estudantes ouvintes da escola. Tudo
surdos, podemos verificar que estudan- na escola. Autores, como King e Ma- intérprete de Libras e do guia-intérpre- isso contribuirá para que, naquele am-
tes surdos que tiveram acesso à condi- ckey (2007), apontam a importância te de língua de sinais na classe. O movi- biente escolar bilíngue, a língua de sinais
ção linguística desde a primeira infância dos benefícios e vantagens cognitivas mento deve dar-se na escola como um circule além do grupo de estudantes
demonstraram maior habilidade com a para crianças em condições bilíngues. todo. Algumas ações positivas podem surdos e com deficiência auditiva.
leitura e a escrita da língua portugue- Segundo esses autores, tais crianças ser executadas pela escola para mul-
sa. Um bom exemplo, acessível a todos demonstram maiores habilidades cria- tiplicar os conhecimentos entre estu- Vale ainda ressaltar a importância da
que tiverem interesse em conhecer, é o tivas, tendo em vista, por exemplo, que dantes, comunidade escolar e famílias, presença de palestrantes surdos con-
blog “O Diário da Fiorella”, criado pelos conseguem processar reflexão bilíngue auxiliando a informar sobre eventuais vidados pela escola, fundamental para
seus pais surdos. Esse blog diário traz dos sentidos dos objetos e palavras que preconceitos que possam existir em vir- divulgar as experiências de vidas sur-
vídeos com experiências do desenvol- não se limitam a um único significado. tude de desconhecimento das questões das e enfatizar a acessibilidade linguís-
vimento linguístico da menina Fiorella, linguísticas e culturais que envolvem as tica da língua de sinais no seu dia a dia.
hoje com cinco anos e quatro meses de A educação bilíngue de surdos é a si- pessoas surdas e com deficiência au- A escola deve também disponibilizar
idade. Seus pais (Francielle e Fabiano) tuação ideal para estudantes surdos, ditiva sinalizantes. Tais ações também recursos e tecnologias que, respeitan-
escrevem o diário sobre o desenvolvi- estudantes com deficiência auditiva e podem contribuir para o conhecimento do a condição de diferença linguística
mento linguístico das filhas Fiorella e da estudantes surdocegos que optam pela das implicações das perdas sensoriais dos estudantes surdos e surdocegos,
bebê Florence. As duas crianças surdas utilização da língua de sinais. A escola significativas dos estudantes surdoce- possibilitem sua participação na escola
têm interações linguísticas em língua de que promove a inclusão escolar deve gos, associadas à baixa visão/cegueira como um todo, de maneira a multipli-
sinais com seus pais surdos e entre si considerar, em primeiro lugar, a condição e à perda auditiva/surdez, demandan- car a cultura da valorização da tro-
desde os primeiros meses de vida, evi- linguística do estudante surdo, com defi- do a utilização de sistemas simbólicos, ca de conhecimento das diferenças. O
denciando que crianças surdas podem ciência auditiva e surdocego que chega entre os quais, estão o braille, a língua grande desafio da escola, entretanto,
ter um desenvolvimento linguístico com- à escola. A partir da avaliação, o ideal é de sinais tátil, o alfabeto datilológico, a é preparar o ambiente escolar para o
patível com o esperado para a sua idade, criar possibilidades de acesso linguísti- comunicação háptica, o Sistema Braille reconhecimento da diferença cultural
como tem sido constatado em pesquisas co aos estudantes para que tenham um Tátil e recursos e serviços específicos e linguística do estudante.
com crianças surdas. (FIORELLA, 2020). desenvolvimento de maneira equitativa para acessibilidade ao currículo, orien-
com os demais estudantes. Os anos fi- tação e mobilidade.
Quadros (2015) chama atenção para o nais do Ensino Fundamental e o Ensino

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Considerações deles em qual modelo educacional se


Finais sentem confortáveis para desenvolver- SOBRE AS AUTORAS
-se em todas as suas potencialidades.
A escola, ao assumir o processo de Por isso, apoiamos a comunidade surda
CRISIANE NUNES BEZ BATTI
ensino fundado no bilinguismo, está em sua opção pelo modelo da educação
Mestranda em Linguística Aplicada (UFSC). Especialista em
tomando uma decisão política. Essa bilíngue, privilegiando escolas bilíngues
Formação Pedagógica em Educação especial, Língua Brasi-
decisão precisa ser tomada com base como a melhor maneira de fornecer aos
leira de Sinais e Prática Interdisciplinar: Educação Infantil e
em reflexões linguísticas e pedagógicas. estudantes surdos o que necessitam.
Séries iniciais (FUCAP). Graduada em Pedagogia (UNIASSEL-
Ao eximir-se de tomar decisões sobre Entender essa realidade é vital, mesmo
VI). Cursa Letras Libras (UFSC). É presidente da Associação
políticas linguísticas a serem seguidas, para profissionais que atuam em esco-
de Surdos de Laguna (SC), membro efetivo Núcleo de Con-
a escola abandona a possibilidade do las comuns inclusivas. Enquanto não
tadores de História da ALBSC. Atua na área de Libras e pes-
sucesso do bilinguismo na educação de temos, em todo o território nacional, quisas em Linguística e História dos Surdos de Laguna (SC).
surdos. A ausência de decisões provoca escolas bilíngues para atender alunos Foi Coordenadora Geral de Política Pedagógica da Educação
reflexos negativos no resultado da es- surdos, é imprescindível que os educa- Bilíngue, e atual Diretora de Políticas de Educação Bilíngue
colarização desses estudantes. dores tornem o habitat educacional o de Surdos DIPEBS/SEMESP/MEC.
mais bilíngue possível, mantendo suas
Nesse sentido, não são os ouvintes que interações, estratégias pedagógicas e
precisam tutelar os surdos, dizendo- projetos educacionais alinhados com VÂNIA ELIZABETH CHIELLA
-lhes qual é a melhor forma de educá- essa perspectiva. Doutora em Linguística Aplicada e Mestre Educação (UNI-
-los. Ao contrário, é importante saber SINOS). Especialista em Educação de Surdos, Licenciada
em LETRAS. Foi docente no Programa de Aprendizagem
Diferença Cultural, Educação e Inclusão Escolar e Coorde-
nou o Programa de Aprendizagem em Libras (UNISINOS).
Foi Diretora da FADERS Acessibilidade e Inclusão e FENEIS/
RS. Atual é Dirigente da Divisão de Políticas para a Educa-
ção Especial na SEDUC/RS. Atua e pesquisa em Educação
Bilíngue de Surdos, Educação Especial e Inclusão Escolar.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS

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23 abr. 2020. 3-15.

_______ (2005). Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Dispo- QUADROS, Ronice M. (2004). O Tradutor e intérprete de língua brasilei-
nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/ ra de sinais e língua portuguesa. Brasília: MEC.
decreto/d5626.htm> Acesso em: 23 abr. 2020.
_________ (2015). O “BI” em bilinguismo na educação de surdos. In:
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12319. Eulalia (Org.). Letramento, bilinguismo e educação de surdos. 2. ed. Por-
htm > Acesso em: 23 abril 2020. to Alegre: Editora Mediação, pp. 187-194.

CAPOVILLA, F. C. (2011). Sobre a falácia de tratar as crianças ouvintes


como se fossem surdas, e as surdas, como se fossem ouvintes ou defi-
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Manaus: Valer.

DIZEU, Liliane C. T. B.; CAPORALI, Sueli A. (2005). A língua de sinais


constituindo o surdo como sujeito. Educação & Sociedade, v. 26, n. 91,
pp. 583-597.

FIORELLA (2020). O diário de Fiorella. [S.l.]. Disponível em: <https://www.


facebook.com/odiariodafiorella/>. Acesso em: 23 abr. 2020.

150 151
11.
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

A Participação
dos Estudantes da
Educação Especial
nos Processos
de Avaliações de
Larga Escala
Nilma Santos Fontanive
Suely da Silva Rodrigues

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Introdução praticamente toda população de 7 a 14 de forma descontextualizada, já que cam: a universalização do acesso à es-
anos à escolarização formal. as desigualdades sociais também têm cola; o combate aos altos índices de
O Sistema Nacional de Avaliação da reflexos no plano educacional. Deve-se repetência e de distorção idade-série;
Educação Básica (Saeb), iniciado em A oferta escolar, até o início da década deixar claro, no entanto, que fatores in- e a elevação do número de alunos que
1990, e sistematicamente aplicado des- de 90, sempre esteve aquém da deman- traescolares têm peso no desempenho completam o Ensino Fundamental, o
de 1995, tem procurado, a partir dos da. A partir dessa década, verificou-se dos alunos, e uma escola comprometida que se refletirá, consequentemente, em
ciclos de avaliação realizados a cada uma evolução positiva das taxas de com seus alunos, apesar de condições um maior número de alunos a ingres-
dois anos, oferecer subsídios para que matrícula, com acentuada melhoria no adversas, pode fazer diferença. sarem no Ensino Médio e o concluírem.
gestores de políticas públicas, em to- fluxo escolar. Como reflexo das me-
dos os níveis, diretores e professores lhores taxas de aprovação nas quatro Os resultados revelados pelo Saeb, O resultado dos esforços empreendi-
efetuem as mudanças necessárias à primeiras séries do Ensino Fundamen- nesses quase 25 anos, mostram uma dos traduziu-se na melhora gradativa
melhoria da qualidade da educação. tal, aumentaram, também, as taxas de certa estabilidade em relação aos resul- ao longo da década e, especialmente, a
matrícula no segmento de 5ª a 8ª série, tados da avaliação realizada na década partir de 1995, dos indicadores educa-
A partir das informações coletadas pelo estabilizando-se o número de concluin- anterior, mas evidenciam, também, que, cionais em nível nacional e em cada re-
Saeb, podem ser definidas ações que tes desse grau de ensino. No momento, embora muito se tenha feito, muito ain- gião per se. O primeiro ponto destaca-
possibilitem a correção de distorções face à correção de antigas distorções da há a fazer. A escola brasileira, nesta do é a conquista da universalização do
ainda evidentes na educação brasileira, no fluxo escolar, pode-se observar um nova década que se inicia, necessita dar acesso à escola no Ensino Fundamental,
reduzindo-se as desigualdades histori- aumento significativo de matrículas no um salto de qualidade e possibilitar às com o atendimento da população de 7 a
camente presentes em nossa sociedade. Ensino Médio. Os reflexos desse movi- pessoas que a frequentam a construção 14 anos: 97% da população nessa faixa
mento são notados, também, no Ensino de conhecimentos e valores que lhes etária está na escola (PNAD/IBGE). Tal
Mudanças para tornar a escola mais
Superior. permitam transitar com desenvoltura crescimento, deve ser ressaltado, foi
eficaz não podem prescindir do levan-
no mundo contemporâneo. acompanhado pela expansão do aten-
tamento de indicadores que forneçam No Brasil, vencido o desafio do acesso dimento no Ensino Médio.
informações válidas e confiáveis, não à escola da grande maioria de crianças,
apenas sobre o desempenho dos alunos, adolescentes e jovens, é imperativa a Contexto Educacional Constata-se, também, que as taxas de
mas também sobre os fatores contextu- construção de uma escola verdadeira- Brasileiro nas Últimas escolarização e de escolaridade dos
ais associados a esse desempenho. mente eficaz, que possibilite condições Duas Décadas brasileiros aumentaram na última dé-
satisfatórias de ensino para todos. cada. No Brasil como um todo, e es-
Os resultados do Censo Nacional, rea-
Para a educação brasileira, tanto a dé- pecialmente nos Estados das Regiões
lizado pelo IBGE, e, também, do Censo Após a realização da análise dos da- cada de 1990 como a de 2020 se de- Norte e Nordeste, amplos segmentos
Escolar, realizado pelo Inep, mostram dos coletados pelo Saeb, observam-se finem como um período de grandes que estavam privados de oportunida-
o esforço empreendido pelo País na grandes disparidades no desempenho transformações. O Ministério da Edu- des educacionais foram incorporados à
democratização do acesso à escola. dos alunos nas diversas regiões bra- cação, desde 1995, estabeleceu como escola e retornaram a ela em busca da
Quase todos aqueles em idade escolar sileiras. Todas as análises reforçam o prioridade de sua atuação superar os ampliação de sua escolaridade, diante
a frequentam e nela permanecem. Fi- fato de que não se podem discutir re- principais desafios de nosso sistema das exigências cada vez maiores do mer-
nalmente, 500 anos após o descobri- sultados de avaliações educacionais educacional, entre os quais se desta- cado de trabalho. De fato, nossas crian-
mento, pode-se falar em acesso real de

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

ças, jovens e adultos estão chegando ou Os grandes desafios da Educação bra- Características Os sistemas de avaliação em larga es-
voltando à escola, nela permanecendo e sileira, no início do século XXI, refe- das Avaliaçôes em cala ainda abrangem um grande número
avançando ao longo das séries. rem-se em boa parte às já citadas e de alunos, de diferentes níveis de esco-
Larga Escala
conhecidas desigualdades regionais, à laridade, assim como também apresen-
Os esforços pela democratização da baixa eficiência do sistema, e a deficiên- tam uma grande quantidade de itens de
Apesar de assumirem feições próprias
escola traduziram-se no crescimen- cias na formação de professores, para teste, para medir a aprendizagem dos
em cada país, os sistemas de avaliação
to significativo da matrícula, tanto no mencionar apenas alguns elementos. alunos em uma determinada área cur-
implementados nos últimos anos apre-
Ensino Fundamental como no Ensino As referidas desigualdades indicam que ricular. Por essas características, uma
sentam elementos comuns, que permi-
Médio, bem como na melhoria do fluxo ainda não se atingiu a equidade entre questão de vital importância nesses
tem caracterizá-los de modo a diferen-
escolar. No entanto, esses dados, alia- as regiões brasileiras. Os resultados processos avaliativos é como tornar os
ciá-los de outros sistemas ou práticas
dos a outros indicadores de movimen- dos diferentes ciclos de aplicação do resultados compreensíveis e acessíveis
avaliativas realizadas pelos professores
tação e fluxo escolar, apontam para Saeb devem ser observados à luz des- a todos os envolvidos e interessados no
no âmbito de uma sala de aula. Eles têm,
diferenças entre as regiões brasileiras. ses indicadores gerais, que podem ser desempenho dos sistemas educativos.
frequentemente, um caráter diagnóstico
Com efeito, enquanto em algumas re- considerados os de maior preocupação. e podem ser mais bem definidos como
giões os sistemas educacionais estão
sistemas de informações consistentes,
em estágio avançado de correção do Além dos desafios acima citados, é fun-
confiáveis, válidos e comparáveis para (...) uma questão de
fluxo escolar, especialmente em rela- damental também ressaltar as conquis-
responder basicamente a duas ques- vital importância nesses
ção à matrícula no 5º ano do Ensino tas da Educação brasileira ao longo
tões: qual é a qualidade da Educação processos avaliativos é
Fundamental, em outras regiões esse do tempo: ampliou-se a rede pública
fornecida em uma nação, unidades de como tornar os resultados
processo é, ainda, lento. até praticamente o pleno atendimento;
federação ou rede escolar? Em que con- compreensíveis e
ampliou-se o tempo de escolaridade
Dessa forma, apesar de as regiões com
dições ela se realiza? acessíveis a todos
dos estudantes na primeira fase do
menor dinamismo econômico se te- ciclo fundamental; e, gradativamente, Para responder a essas questões, as Nos últimos anos, novas formas de
rem empenhado na universalização do os estados de todas as regiões brasi- avaliações em larga escala, além de um apresentação dos resultados vêm sen-
atendimento e na ampliação de suas leiras investiram no sentido de absorver programa de testes cognitivos, coletam do valorizadas, fornecendo-se informa-
redes, há ainda muitas limitações. É crianças e jovens na escola, procuran- informações para analisar o contexto ções concretas sobre os resultados da
importante destacar que à expectativa do, por meio de diferentes programas, no qual se dá a aprendizagem dos alu- Educação às famílias e à sociedade em
de oportunidades educacionais mais como os de aceleração, corrigir o fluxo nos – essencial para qualquer proposta geral, e conferindo a esses resultados
amplas e de melhor qualidade devem escolar. Foi dada também atenção à um papel de “prestação de contas”. É
de melhoria de qualidade – utilizando
corresponder equipes mais qualificadas inclusão e avaliação dos alunos com interessante assinalar também o cres-
outros instrumentos de pesquisa, como
para a tarefa (principalmente o corpo deficiências e transtorno do espectro cente interesse desses agentes nos
questionários que buscam informações
docente) e estruturas mais ágeis, per- autista, e ainda foi observada ênfase resultados, atentos ao que se passa
socioeconômico-culturais sobre os alu-
mitindo diversificação e ampliação dos à formação de professores para todos dentro dos estabelecimentos de ensino
nos e seus pais, hábitos de estudo dos
serviços exigidos e maior capacidade os níveis e modalidades, a despeito da e preocupados em controlar o uso dos
alunos, características dos professores,
de gestão de um sistema educacional grande distância que ainda preside a recursos públicos investidos nos siste-
dos métodos de ensino e perfil dos di-
mais complexo que o anterior. mas educacionais.
comparação entre regiões. retores e da gestão escolar.

156 157
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Entretanto, o desenvolvimento de no- cada. Ou seja, notas ou conceitos têm longo dos anos. Essa comparabilidade intervalo – as proficiências dos alunos
vas teorias e práticas de medidas edu- um significado próprio que depende do é importante não só para evidenciar as submetidos aos processos de avaliação.
cacionais, conjugando novos métodos conhecimento dos processos e dos ins- desigualdades de aprendizagem, mas
de coleta de dados e diferentes ma- trumentos utilizados para sua obtenção. também para acompanhar a evolução As escalas do Saeb e as do Pisa orde-
neiras de julgar sua qualidade, apoian- e o progresso da Educação oferecida nam os desempenhos dos alunos, do
do-se ainda no uso de modernas teo- Quais foram as soluções técnicas encon- em um país, identificando possíveis re- menor para o maior, em um continuum.
rias estatísticas e de robustos sistemas tradas para obter e divulgar os resulta- lações entre políticas públicas imple- Para compreender o conceito de esca-
computacionais, trouxe um desafio para dos de uma avaliação de desempenho mentadas e melhorias de desempenhos la, costuma-se ilustrá-lo com uma escala
os especialistas em tornar públicos os quando, de um lado, não se conhece com educacionais, equidade e inclusão. conhecida do público, a escala de tem-
resultados encontrados. precisão a população de alunos a ser peratura expressa em graus Celsius. Por
avaliada e, de outro, não é viável divulgar Por exemplo, o Sistema de Avaliação da meio de acordos internacionais, o ponto
No cotidiano da escola, o professor ava- todas as questões das provas? Educação Básica do Brasil (Saeb) vem de fusão da água foi arbitrado em 0 e o
lia os alunos da sua turma, alunos que obtendo, descrevendo e comparando de ebulição em 100. Como existem 100
ele conhece, com provas cujas questões Antes de discutir uma metodologia de o desempenho dos alunos brasileiros gradações entre esses dois pontos de
ele elabora, tendo como referências o divulgação de resultados para profes- em Língua Portuguesa e Matemática, referência – os centígrados –, basica-
programa de ensino que ele cumpriu e sores, gestores e para a sociedade em em uma série histórica de mais de 25 mente todas as temperaturas podem
os materiais didáticos que selecionou geral, deve-se ter em foco que, nas anos. Da mesma maneira, o Programa ser expressas nessa escala. Do ponto
para criar as experiências de aprendi- avaliações de sistemas escolares, as Internacional de Avaliação de Alunos de vista prático, qualquer pessoa, ao
zagem na sala de aula. pesquisas vêm revelando que a apren- (Pisa) acompanha, desde 2000, o de- olhar um termômetro, quer na rua ou
dizagem dos alunos é influenciada por sempenho de jovens de 15 anos dos no próprio corpo, saberá interpretar o
Assim, quando o professor atribui um fatores intraescolares, do ambiente países membros da Organização para significado dos números ali expressos.
grau ou um conceito a um aluno particu- socioeconômico-cultural das famílias a Cooperação e Desenvolvimento Eco-
lar, pode avaliar com relativa precisão o e das regiões geográficas onde vivem, nômico (OCDE) e de outros países con- Apresenta-se a seguir um texto, elabo-
que aquele aluno sabe, que habilidades sobretudo em países com grandes de- vidados. O Pisa avalia as disciplinas de rado pelos pesquisadores da Fundação
adquiriu, enfim, o que ele aprendeu. A sigualdades sociais. Um sistema de ava- Matemática, Ciência e Leitura, a cada Cesgranrio, que ilustra o conceito de
nota ou o conceito atribuído ao aluno liação escolar competente deve ser 3 anos, há 18 anos, sendo que na sua escala e é divulgado para os professo-
tem, para esse professor, um significado capaz de contemplar tal diversidade, última edição, em 2018, contou com a res nos relatórios técnico-pedagógicos.
próprio, particular, que é fruto do domí- não só para obter resultados fidedig- participação de 73 países.
nio do seu processo de trabalho como nos, mas também para orientar políti- Uma escala é uma maneira de medir re-
um todo. Se, por hipótese, tal resultado, cas públicas voltadas para superar os O que esses dois sistemas de avaliação sultados de forma ordenada, tendo ar-
nota ou conceito fosse apresentado a desníveis encontrados. têm em comum? Ambos utilizam os mo- bitrado a origem e a unidade de medida.
um outro professor, de outra escola, delos matemáticos e estatísticos da Te-
essa nota ou esse conceito só poderia Além de contemplar a variabilidade de oria da Resposta ao Item para obtenção
ser interpretado em termos do que o desempenhos, os sistemas de avaliação de escalas de desempenho. As escalas
aluno aprendeu, caso o professor ti- devem também trazer no seu escopo a medem com uma métrica invariante
possibilidade de comparação de resul- A imagem de um termômetro usado para me-
vesse acesso às questões de prova apli- – exceto pela escolha da origem e do
tados entre populações de alunos e ao dir a temperatura corporal.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

O termômetro, utilizado para medir • os níveis da escala são cumula- adquiridas pelos alunos, quando seus daquela avaliação. Para a inter-
a temperatura corporal de uma pes- tivos, ou seja, os alunos posicio- desempenhos se posicionam em de- pretação das escalas obtidas, são
soa, costuma apresentar valores que nados em um nível dominam as terminados níveis das escalas. Alguns selecionados os itens que se posi-
vão dos 35 graus aos 42 graus Celsius. habilidades dos níveis anteriores. professores tendem a confundir as es- cionam em um determinado nível
Como a temperatura basal de uma pes- Assim, quanto maior o nível da calas com as matrizes curriculares e/ (ou ponto) da escala;
soa é de aproximadamente 36 graus, se escala, melhor o desempenho. ou os padrões de aprendizagem. Essa
o termômetro acusar uma temperatura é uma diferenciação importante, pois 2. Apresentação dos itens âncora a
Após o texto ilustrativo do conceito especialistas
acima de 37 graus, pode-se interpretar matrizes, padrões e/ou objetivos são
de escalas, é frequente que relatórios
que a pessoa está febril. Se o resultado formulações teóricas que expressam o
ou boletins de desempenho fornecidos Os especialistas das áreas curri-
obtido for 41 graus, a interpretação in- que se deseja alcançar com o processo
às secretarias de Educação e escolas culares avaliadas interpretam o
dica a necessidade de se tomar algum educativo, enquanto as escalas de pro-
apresentem os níveis interpretados das que os alunos sabem, são capazes
procedimento para a temperatura vol- ficiência são descrições de desempe-
escalas, acompanhados dos percen- de fazer ou que habilidades de-
tar aos níveis de normalidade. nho dos alunos obtidas empiricamente,
tuais de alunos posicionados nesses monstraram possuir para acertar
com a aplicação dos itens de teste.
Na escala nacional, a origem e a unidade níveis. Nos dias atuais, a maior parte aqueles itens.
de medida foram arbitradas como a mé- das avaliações de sistemas escolares Desde 1995, para chegar à descrição
das diferentes unidades da Federação, Nos painéis, os especialistas contam
dia e o desvio padrão da distribuição do das habilidades que compõem cada
assim como das redes municipais, têm com todos os itens utilizados na ava-
desempenho dos alunos da 8ª série/9º nível da escala, a Fundação Cesgranrio
seus resultados colocados na escala do liação e não somente com o subconjun-
ano, no ano de 1997, considerando os adotou uma metodologia de interpre-
Saeb. Essa estratégia tem sido possível to de itens de testes aplicados a uma
valores de 250 para a média e 50 para tação, que já tinha sido aplicada nos Es-
graças à ação do Inep/MEC em ceder série. É importante recordar que há
o desvio padrão. Enquanto os pontos tados Unidos com a denominação Na-
itens selecionados do Banco Nacio- blocos de itens comuns nos cadernos
marcados no termômetro vão de 35 tional Assessment of Students (NAEP),
nal de Itens (BNI), calibrados na escala de testes respondidos por alunos das
graus a 42 graus (escala Celsius), nas no início dos anos 90. A metodologia
Saeb. Assim, estando em uma mesma três séries avaliadas, e que a Teoria da
escalas de proficiência, os valores estão de interpretação de escalas adotada
escala, o desempenho dos alunos de Resposta ao Item permite colocá-los
normalmente compreendidos entre 0 e apoia-se em dois procedimentos:
uma unidade da Federação ou rede e ordená-los em uma mesma escala,
500. Algumas características da escala
de ensino pode ser comparado com o 1. Identificação dos níveis âncora independente da série do aluno.
de proficiência devem ser lembradas:
obtido pelos alunos brasileiros e, ainda, da escala
Os especialistas também dispõem, para
• a escala é comum às séries avalia- com o de outros extratos de interesse
Em primeiro lugar, deve-se lem- a discussão nos painéis, dos resultados
das para cada componente curri- daquela avaliação.
brar que a adoção da Teoria da estatísticos obtidos pelos itens. Eles
cular. Foi possível obter uma escala
É bastante comum que gestores, pro- Resposta ao Item permite colocar podem então avaliar os índices de di-
única porque alunos de 5º, 9º anos
fessores, demais autoridades educa- em uma mesma escala os itens ficuldade de cada item, tipos de erros
do Ensino Fundamental e 3a série
cionais tenham uma certa dificulda- de teste utilizados na avaliação mais frequentes cometidos pelos alunos,
do Ensino Médio responderam a
de em compreender como é possível de uma disciplina e o desempe- analisando a atração de uma alternativa
alguns itens comuns apresentados
chegar às descrições das habilidades nho dos alunos que participaram errada, pelo percentual de alunos que
nos cadernos de prova;
escolheram aquela alternativa.

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Com essas informações, os especialis- níveis de desempenho de uma popu-


Inferir o assunto de divulgação científi-
tas chegam às descrições de cada um lação de alunos. Embora não se possa
ca para crianças. Localizar a informação
dos níveis das escalas. Desde a divulga- afirmar que as tentativas de simplificar explícita, situada no meio ou final do
ção dos resultados do primeiro Saeb, informações tão complexas tenham texto, em gêneros como tirinha e poe-
realizado em 1995, os pesquisadores sido bem-sucedidas, acredita-se que ma narrativo. Inferir relação de causa e
tiveram que enfrentar o desafio de di- muito já se avançou nessa direção. consequência em gêneros como tirinha,
vulgar os resultados de maneira que 3 Adequado anedota, fábula e texto de literatura in-
eles pudessem ser compreendidos pela Apresenta-se a seguir um exemplo faantil. Inferir sentido com base em ele-
comunidade escolar, pelos pais e por de escala de leitura, interpretada nos mentos verbais e não verbais em tirinha.
seus níveis. Reconhecer significado de expressão de
todos os interessados em conhecer os
linguagem figurada em gêneros como
poema narrativo, texto de literatura
Suficiente
Nível Descrição do Nível infantil e tirinha.

Ler palaavras dissilabas, trissílabas e Inferir sentido de palavra em texto


polissílabas com estruturas silábicas ca- verbal. Reconhecer os participantes de
nônicas, com base em imagem. Ler pala- um diálogo em uma entrevista ficcional.
1 Elementar 4 Desejável Inferir sentido em texto verbal. Reco-
vras dissílabas, trissilabas e polissílabas
com estruturas silábicas não canônicas, nhecer relação de tempo em texto ver-
com base em imagem. bal. Identificar o referente de pronome
posssessivo em poema.
Identificar a finalidade de textos como
Fonte: Inep 2016
Insuficiente convite, cartaz, texto instrucional (recei-
ta) e bilhete. Localizar informação explí- O Atendimento do agendamento das aplicações. Outra
cita em textos curtos (com até cinco li- variável importante na determinação
aos Alunos com
nhas) em gêneros como piada, parlenda, da forma de atendimento a essa po-
tirinha (história em quadrinhos em até
Deficiência ou
pulação foi a exigência de profissional
três quadros), texto informativo e texto Transtorno no Saeb especializado, como poderá ser visto
2 Básico narrativo. Identificar o assunto de tex- adiante. Esta seção apresentará um
tos, cujo assunto pode ser identificado Ao longo das edições do Saeb, a forma
breve histórico de como os alunos da
no título ou na primeira linha em gêneros de atendimento aos alunos da Educa-
Educação Especial foram atendidos nas
como poema e texto informativo. Inferir ção Especial variou de acordo com o
edições mais recentes do Saeb.
o assunto de um caartaz apresentado disposto nas portarias publicadas em
em sua forma estável, com letras gran- Diário Oficial sobre a abrangência e Na edição de 2014 da Avaliação Nacio-
des e mensagem curta e articulação da a população-alvo de cada edição, os nal da Alfabetização (ANA/Saeb) para
linguagem verbal e não verbal. o atendimento ao aluno com deficiência
instrumentos de avaliação elaborados
pelo Inep e as informações prestadas visual, informado no Censo, houve pro-
pelas escolas no Censo Escolar e no dia va ampliada e aplicador adicional para

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

a avaliação. Os alunos tiveram direito No Saeb 2015, como recurso para aten- Kit 03 Kit 10
a tempo adicional e responderam as dimento especializado, de acordo com o • Prova em Braile
questões da prova em ambiente sepa- informado no Censo Escolar, foi disponi- • CD com áudio da prova
• Prova em Braile
rado, indicado pela escola. bilizada prova ampliada (com fonte 18). • Prova do Ledor
• CD com áudio da prova
Os alunos com deficiência foram aten- Surdoce- • 3 Folhas 120g para res-
• Prova do Ledor
Para os estudantes com outras defi- didos de acordo com a viabilidade da gueira ponder à prova de Escri-
• Prova impressa adptada
ciências, não houve prova adaptada, escola (ledor, transcritor, intérprete de ta (1 para cada item)*
pra Surdez
mas foram fornecidos um ou mais apli- libras, leitor labial). Tais alunos ficaram • Prova impressa adptada
• Ata de Turma
cadores adicionais, desde que a escola em ambientes separados de sua turma. pra Surdez
oferecesse as condições adequadas • Ata de Turma
para atender o(s) aluno(s), sala extra Foi disponibilizado um aplicador adi- Kit 04 Kit 11
e profissional especializado, e tivesse cional somente nos casos em que a es- • Prova ampliada - fonte 18 • Prova ampliada - fonte 18
informado essa necessidade no Censo cola confirmou já possuir o profissional. • Ata de Turma • Ata de Turma
Baixa
Escolar, ou no momento do agenda- Quando na escola havia aluno(s) que Kit 05 Kit 12
Visão
mento. Nesse caso, o aplicador adicio- precisava(m) de atendimento especiali- • Prova superampliada - • Prova superampliada -
nal acompanhava esse(s) aluno(s) com zado, mas não havia esse profissional, o fonte 24 fonte 24
sua(s) respectiva(s) prova(s) ao local coordenador de polo orientou a direção • Ata de Turma • Ata de Turma
indicado pela escola para a aplicação. da escola a providenciar outra atividade Kit 06 Kit 13
para esse(s) aluno(s) no dia da aplicação • Prova impressa adaptada
• Prova impressa adaptada para surdez
Deficiência/ 1º dia - 2º dia para Surdez • DVD com a prova em Li-
Transtorno Lingua Portuguesa Matemática • Prova Ampliada - fonte 18 bras
Kit 01 Kit 08 • Ata de Turma • Prova Ampliada - fonte 18
• Prova em Braile Surdez + • Ata de Turma
Baixa Kit 07 Kit 14
• CD com áudio da prova
• Prova em Braile Visão • Prova impressa adaptada
• Prova do Ledor
Cegueira • CD com áudio da prova • Prova impressa adaptada para Surdez
• 3 Folhas 10g para res-
• Prova da Ledor para Surdez • DVD com a prova em Li-
ponder à prova de Es-
• Ata de Turma • Prova Superampliada - bras
crita (1 para cada item)*
fonte 24 • Prova Superampliada -
• Ata de Turma
• Ata de Turma fonte 24
Kit 02 Kit 09
• Ata de Turma
• Prova impressa Não haverá Kit Não haverá Kit
• Prova Impressa adapta- adaptada para Surdez Outras
Surdez Deficiência / • Prova regular • Prova regular
da para Surdez • DVD com a prova
Transtornos • Ata de Turma • Ata de Turma
• Ata de Turma em Libras
• Ata de Turma *Essas folhas serão personalizadas com os dados do aluno e terão espaço em bran-
co com o registro em Braile de respostas de cada questão
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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

das provas, se ele(s) não pudesse(m) Censo Escolar, foram disponibilizadas so Escolar e a viabilidade da escola. Os a escola providenciasse uma sala extra
fazer a avaliação com os demais. provas adaptadas e aplicadores espe- alunos com baixa visão foram atendidos para esse atendimento. Alunos de tur-
cializados (ledor, intérprete de libras e pelas provas adaptadas, enquanto que mas diferentes poderiam ser agrupados
Os alunos com deficiência que partici- guia-intérprete). Aos alunos com baixa os alunos com outras deficiências foram desde que estivessem cursando a mes-
pam da avaliação na própria sala de sua visão foram disponibilizadas provas atendidos por provas regulares. ma série/ano escolar, no mesmo turno.
turma também puderam utilizar, ou não, ampliadas e aplicador extra, pois esse
o tempo adicional. Os alunos que reali- recurso permitiu que o aluno respon- Se o aluno precisasse de atendimento O cartão-resposta das provas adap-
zaram a avaliação com prova ampliada desse a prova com autonomia, sem ne- por profissional especializado, a escola tadas não era ampliado e, portanto, o
tiveram as suas respostas transcritas cessidade de aplicador especializado. deveria providenciar esse profissional aluno com baixa visão não realizou a
nas sedes das instituições aplicado- (ledor, transcritor, intérprete de libras, transcrição das respostas do caderno
ras; esses alunos não responderam ao A Figura 2 apresenta os kits de aten- leitor labial, guia-intérprete) – essa de provas para o cartão. A transcrição
questionário contextual, uma vez que o dimento especializado que foram ofe- foi uma grande mudança em relação à das respostas foi feita na sede das insti-
cartão-resposta não é ampliado. recidos aos alunos de acordo com as ANA 2016 - e sala extra para atender tuições aplicadoras, após o recebimento
informações do Censo Escolar, por dia o aluno de acordo com sua situação. dos materiais aplicados nas escolas.
Na ANA 2016, aos alunos com defici- de aplicação. Nesses casos, a instituição aplicadora
ência foi concedido o tempo adicional disponibilizava um aplicador adicional, Os alunos não informados no Censo
de 20 (vinte) minutos para cada prova. Os alunos com deficiências ou transtor- para acompanhar a aplicação. Escolar somente puderam participar
Esses alunos puderam optar por fazer nos do espectro autista, indicados no da avaliação se a direção confirmasse,
uso, ou não, do tempo adicional, com Censo Escolar sem previsão de provas Quando a escola apresentava aluno(s) no momento do agendamento, que eles
a condição de que, para utilizá-lo, a adaptadas, foram atendidos com pro- informado(s) no Censo Escolar que conseguiriam responder a prova na sala
aplicação deveria ser realizada em sala vas regulares do envelope da turma e precisava(m) de atendimento especiali- da turma, junto com os demais alunos.
separada. Essa condição é diferente da profissionais de apoio da própria es- zado e não havia profissional na própria Caso o aluno precisasse de tempo adi-
edição de 2015, em que era possível cola. Nos casos em que a escola, no escola para atendê-lo(s), o coorde- cional ou de profissional especializado,
ter tempo adicional mesmo respon- momento do agendamento, informou nador responsável pela aplicação no ele era encaminhado pela própria dire-
dendo as provas junto com os demais. a necessidade de atendimento em sala local informava à direção da escola, no ção da escola para outra atividade.
No entanto, essa situação causava, na separada da turma, a aplicação foi rea- momento do agendamento, que esse(s)
prática, a aplicação com tempos dife- lizada por um aplicador adicional. Esses aluno(s) não poderiam fazer a avaliação Como se pode depreender dos dados
renciados em um mesmo ambiente, o mesmos procedimentos foram ado- com os demais alunos de sua turma. apresentados, o Sistema de Avaliação
que dificultava o controle da sala de tados para os alunos com deficiência da Educação Básica procura atender os
aula pelo aplicador. ou transtorno cujo atendimento não Somente aos alunos que foram atendi- alunos com deficiência e transtornos do
estava previsto no Censo Escolar. dos fora da sala da turma, ou seja, em espectro autista, embora, ainda faltem
O atendimento a esses alunos foi re- salas extras, era disponibilizado tempo recursos para a completa inclusão des-
alizado de acordo com as indicações Nas edições de 2017 e 2019, os alunos adicional para a realização da prova. se público no Saeb.
do Censo Escolar e as possibilidades com deficiência ou transtorno do espec- Portanto, se no momento do agenda-
das escolas. Aos alunos com cegueira, tro autista foram atendidos de acordo mento fosse informado que o aluno pre-
surdez e surdocegueira, indicados no com as informações prestadas no Cen- cisava de tempo adicional, era encami-
nhado um aplicador adicional desde que

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COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

SOBRE AS AUTORAS
REFERÊNCIAS

NILMA SANTOS FONTANIVE


FONTANIVE, N. S.; KLEIN, R. (2000). Uma Visão sobre o Sistema de Ava-
Possui graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade
liação da Educação Básica do Brasil – SAEB. Ensaio. Avaliação e Políti-
Católica do Rio de Janeiro (1964), mestrado (1974) e dou-
cas Públicas em Educação, Rio de Janeiro: v. 8, n.29, pp. 409-440.
torado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (2009). Foi professora da Universidade
FONTANIVE, N. S. (2013). A divulgação dos resultados das avaliações
Federal do Rio de Janeiro de 1973 a 1995. É coordenadora
dos sistemas escolares: limitações e perspectivas. Ensaio (Fundação
do Centro de Avaliação da Fundação Cesgranrio, onde atua
Cesgranrio. Impresso), v. 21, pp. 83-100.
desde 1994. É membro do Conselho Nacional de Educação
da Câmara de Educação Básica no período de 2016 a 2020. KLEIN, R.; FONTANIVE, N. S (2009). Alguns Indicadores Educacionais de
É vice-presidente da Câmara de Educação Básica no período
Qualidade no Brasil de Hoje. São Paulo em Perspectiva (Impresso), São
de 2018-2020. Tem experiência na área de Educação, atuando
Paulo, v. 23, pp. 19-28.
principalmente nos seguintes temas: avaliação da educação
básica, capacitação de professores em avaliação, SAEB/Prova BRASIL (2017). Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Brasil e ANA/Avaliação Nacional da Alfabetização. Anísio Teixeira (Inep). Relatório SAEB 2017. Disponível em: http://portal.
inep.gov.br/documents/186968/484421/Relat%C3%B3rio+Saeb+2017/
e683ba93-d9ac-4c2c-8f36-10493e99f9b7?version=1.0. Acesso em: 19
SUELY DA SILVA RODRIGUES
abr. 2020.
Doutora em Educação, PUC-Rio; Mestre em Tecnologia
Educacional nas Ciências da Saúde, NUTES/UFRJ; Licen-
ciada em Matemática, UFRJ. Docente do Mestrado Pro-
fissional em Avaliação da Fundação Cesgranrio.Atua no
Centro de Avaliação da Fundação Cesgranrio desde 2012,
desempenhando recentemente a seguintes funções: Coor-
denadora de Capacitação do SAEB - MEC/INEP nas edições
de 2013, 2015 e 2017 e da ANA- MEC/INEP nas edições de
2014 e 2016; Coordenadora Geral do Encceja - MEC/INEP
nos anos de 2017 a 2019 e Coordenadora Geral do SAEB
na edição de 2019.

168 169
12.
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Inclusão
Educacional:
A Importância da
Formação Continuada
de Professores
na Oferta de uma
Educação Para Todos
Adriane Melo de Castro Menezes
Rosana Cipriano Jacinto da Silva

171
COLETÂNEAS • Inclusão ANEC COLETÂNEAS • Inclusão ANEC

Introdução presença da diversidade, ou melhor, de dependente a formação de docente. Contudo, historicamente, os cursos de
estudantes com características e ne- Pois, como implementar estas mudan- formação inicial para professores, no
A formação de professores é um tema cessidades de aprendizagem diversas, ças, como se constituir uma escola in- Brasil, quanto muito, ofereciam uma
de amplo debate na literatura científi- no sistema educacional, desperta no- clusiva, sem uma equipe qualificada para ou duas disciplinas, em sua formação
ca, o que indica sua importância e os vos modos de trabalhar, pedagógico e promover mudanças? Esta pergunta inicial, com a abordagem de questões
múltiplos aspectos que se relacionam socialmente, para que eles possam par- traz novamente para a centralidade dos relacionadas à Educação Especial e in-
a esta temática. ticipar e se desenvolver plenamente. desafios de incluir, o tema da formação clusão educacional.
docente, que é o propósito deste ensaio.
Muitas são as questões que motivam os Falar em Inclusão implica falar em demo- Em 2019, no Parecer CEB/CNE 22/2019,
estudos e as pesquisas nesse campo. cratização dos espaços sociais, dentre Para atender ao atual modelo de Edu- sobre a Formação de Professores dos
Entre elas, a problematização de as- eles, a escola. democratização no acesso cação Inclusiva, o professor precisa ver cursos de licenciatura, foi estabelecido,
pectos em que se constata a importân- aos conhecimentos. Significa crer na di- a diversidade como um valor positi- na estrutura curricular das licenciatu-
cia da formação docente e continuada, ferença como valor, visto que o vetor da vo, precisa respeitar as características ras, como obrigatório, a inserção de
para o desenvolvimento do professor exclusão/inclusão não está na diferença próprias de cada estudante, precisa sa- conteúdos que abordam os
e do estudante, bem como o acesso à em si, mas no valor a ela atribuído. ber lidar com a diferença, precisa estar
Educação formal de questões correla- preparado para adotar estratégias e Marcos legais, conhecimentos
tas, como as condições didático-peda- Estudos apontam que a exclusão social recursos de ensino diversificados, que, básicos de Educação Especial,
gógicas, inerentes a esse contexto. se expressa em diversos campos da de fato, promovam o desenvolvimento das propostas e projetos para
atividade humana – e também na edu- de competências e habilidades, consi- o atendimento dos estudantes
Distante da possibilidade de se tornar cação. Neste sentido, concluem que a com deficiências, transtorno
derando as singularidades de todos os
um tema repetitivo, a cada momento se concepção de Educação Inclusiva res- de espectro autista e altas
seus estudantes.
reconhece a importância da formação salta a Educação para todos, indepen- habilidades/superdotação
continuada para o atendimento das dentemente de condições socioeco- É imprescindível compreender que a (BRASIL, 2019, art. 12-V).
metas de uma Educação de qualidade nômicas ou raciais e de características inclusão parte:
para todos e para a efetivação de uma individuais, e pressupões um ensino de No entanto, sabe-se que uma disciplina
política de inclusão. Mas não se trata qualidade, no qual a formação do do- [...] do princípio de que há di- nos cursos de formação inicial, cujos
apenas da formação, segundo Oliveira cente seja uma realidade merecedora versidade dentro de grupos conteúdos são sobre as questões rela-
(2009, p. 69), “Falar em educação in- de atenção (Cipriano et al., 2010). comuns e de que esta está tivas à Educação Especial, não promove
clusiva é remeter à idéia de uma esco- vinculada ao desenvolvimento condições suficientes para o preparo
la que se renova e que se transforma Assim, é necessário pensar os movi- de uma educação comunitá- do professor. Nesse caso, é mais apro-
para propiciar a convivência entre os mentos de reformulação das escolas, ria obrigatória e universal. Tal priado dizer que, os cursos oferecem
diferentes [...]”. em suas políticas de organização e perspectiva preocupa-se com conteúdo e que informam, mas não
atendimento dos estudantes, em seus o incentivo à participação de em articulação ideal para que a for-
A inclusão está não só nas pautas e valores, estruturas físicas, materiais, todos e com a redução de to- mação possa promover, ao professor,
agendas das políticas públicas, como, em seu projeto político-pedagógico das as pressões excludentes condições necessárias para lidar com a
também, nas políticas e ações de cada (PPP), de maneira articulada e inter- (Booth et al.,, 1998, p. 24). complexidade e a abrangência dos de-
escola da Educação Básica. A ideia da

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safios relacionados ao atendimento dos processos de ensino e aprendizagem com turmas numerosas, encontram e, principalmente, por meio de ações
estudantes da Educação Especial, visto são complexos, por si só; a formação crianças e adolescentes que deman- técnico-pedagógicas, ou seja, tornar o
que não é uma tarefa nada simples. do professor desempenha imprescin- dam e que não demandam Atendimento próprio espaço escolar um espaço de
dível papel no sentido de prepará-los Educacional Especializado. formação continuada.
para atuar de maneira crítica e reflexiva
Importância da (AINSCOW, 2001; CARVALHO, 2004; Destaca-se a questão: como exigir do É fundamental que, neste contexto es-
Formação Para a DAMASCENO, et al 2006; GARCÍA, C., professor um ensino eficaz, transmitin- colar e no processo de formação, o

Qualidade e Melhoria 1999; GONZÁLEZ, J. 2002), que possam do o conhecimento, metodologicamen- professor reconheça a função da es-
te adequado, se o mesmo não teve, ou cola como transformadora da realidade
dos Resultados desenvolver práticas que atendam seus
não tem, acesso a este saber? social dos estudantes, bem como da
No Atendimento alunos, a partir de suas singularidades,
interesses, motivações e ritmos dife- relação entre as práticas educativas e
Dos Estudantes Da Dentre tantos saberes indispensáveis uma prática social mais global. Em uma
rentes, e em contextos sociais diversos.
Educação Especial ao professor, conhecimentos específi- escola verdadeiramente inclusiva, es-
Não podemos considerar a inclusão cos, conhecimento didático-curricular, pera-se que todos tenham participação
Na perspectiva da promoção de trans- conhecimentos produzidos pelas Ci-
educacional como uma realidade a ser e que esta participação seja harmônica,
formações, e não, simplesmente, como ências da Educação, faz-se necessá-
perseguida, sem pensar sobre o con- sem exclusões, onde as diferenças de
oferta de um instrumental técnico a rio, como acrescenta Saviani (2002), o
texto escolar, na formação do profes- todos sejam reconhecidas a atendidas
ser utilizado, a formação perpassa di- domínio, por parte do professor, de um
sor e suas condições de desenvolver em sua individualidade. A escola, neste
ferentes momentos de atuação profis- “saber atitudinal”, relativo aos compor-
práticas educativas que deem susten- sentido, carece de transformação e
sional, reconhecendo o docente como tamentos e às vivências, adequados ao
tação a este ideal. ressignificação de aspectos políticos,
pessoa e valorizando sua história de trabalho educativo. Pesquisas apontam sociais e pedagógicos, especialmen-
vida, que se integram e compõem sua Isto implica no conhecimento aprofun- a insuficiência da formação inicial, para te, no acolhimento do professor como
identidade profissional. dado de conceitos, estratégias, recur- que os professores possam trabalhar agente que promove e sofre transfor-
sos didáticos e de novas Tecnologias numa perspectiva inclusiva (CABRAL mações.
Considerando que, para além dos de-
da Informação e Comunicação, ou seja, et al, 2014; CABRAL, SILVA, 2017). Esta
safios de atender, com qualidade e efe-
todos os elementos que possam bene- realidade favorece que eles ajam, mui- Cabe ressaltar que Leis e Decretos ga-
tividade os estudantes da Educação
ficiar e atender as suas necessidades tas vezes, de modo empírico, ou seja, rantem que o estudante com deficiência
Especial, as escolas enfrentam o desa-
profissionais e as necessidades de seus sem o conhecimento científico sobre tenha melhores possibilidades e condi-
fio de encontrar respostas para estu-
estudantes. A maioria dos profissionais práticas que atendam, de modo mais ções de desenvolvimento, assegurando
dantes com outras especificidades, que
de Educação não teve, na sua formação assertivo, aos princípios e às demandas formação docente para a sua inclusão,
afetam diretamente suas condições e
inicial, a oportunidade de conhecer e da Educação Inclusiva. por meio da formação profissional.
demandas de e para a aprendizagem1
desenvolver atividades voltadas ao de-
; considerando o compromisso e res- Nestes termos, cabe às instituições Destaca-se a LDB 9394/96, no seu Art.
senvolvimento de competências e habi-
ponsabilidade de ser “uma escola para que contratam o profissional contri- 59, que garante:
lidades, para trabalharem com a diver-
todos”; considerando, também, que os buir para a sua formação, por meio de
sidade, especialmente, nos contextos
das escolas comuns, onde trabalham cursos de capacitações, orientações
1 - Estudantes com transtornos funcionais espe-
cíficos (disgrafia, dislexia, dislalia e outros).

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Os sistemas de ensino assegu- confrontação de experiências; planeja- promoção de melhorias contínuas no são imprescindíveis, dentre eles, que a
rarão aos educandos com de- mento, acompanhado por técnicos e/ atendimento educacional de todos os organização de estratégias que possam
ficiência, transtornos globais ou especialistas, onde a qualidade do estudantes. promover o uso da sala de aula, como
do desenvolvimento e altas ensino e da aprendizagem sejam para ambiente de formação, exige decisão e
habilidades ou superdotação: todos, cujo direito à igualdade de opor- Ação-Reflexão- planejamento de todos os envolvidos,
III - professores com especia- tunidades é ofertado a cada um que ne- Ação: A Prática Como pois, requer uma mudança na cultura e
lização adequada em nível cessita, em função de seus interesses Lugar De Formação nas práticas de trabalho, que exigem
médio ou superior, para aten- e características individuais. E Construção De um olhar atento e novas atitudes, des-
dimento especializado, bem Conhecimentos, de a equipe de gestão, envolvendo toda
como professores do ensino Claro que isto nos remete a um proces- a equipe técnica e docentes.
so de compromisso e responsabilidade
Competências E
regular capacitados para a
da instituição. Mas, também, do pró- Habilidades Para A partir desse princípio, a aquisição
integração desses educandos
prio professor. Pensar estratégias, para Atuar Frente Aos de informações científicas, didáticas e
nas classes comuns. Parágrafo
único: Garantir-se-á formação fazer das situações reais de ensino e Desafios Da Inclusão psicopedagógicas saem da posição de
continuada para os profissio- aprendizagem oportunidades de desen- centralidade do processo formativo,
O pensamento educacional brasileiro e
nais a que se refere o caput, volvimento profissional e qualificação do para posicionar a reflexão crítica, sobre
os estudos sobre a formação do pro-
no local de trabalho ou em ins- trabalho e atendimento dos estudantes. práticas contextualizadas, como eixo
fessor sofreram fortes mudanças, es-
tituições de educação básica para a construção de conhecimentos e
Considerando o cenário atual, que nos pecialmente na década de 1990, privile-
e superior, incluindo cursos de teorias sobre a prática docente.
impulsionou a potencializar o uso de giando a orientação teórico-conceitual
educação profissional, cursos crítico-reflexiva como a mais adequada
tecnologias e instaurou novos modos Sobre esta orientação, Imbernón (2001,
superiores de graduação ple- para a formação do professor.
de interação, é interessante pensar pp. 48-49) afirma:
na ou tecnológicos e de pós-
em inserir no planejamento escolar a
-graduação (BRASIL, 1996). Diversas pesquisas, desde a década de A formação terá como base
formação docente, por meio de ini-
1990, discutem e comprovam que a práti- uma reflexão dos sujeitos so-
Assim, a oferta de uma Educação que ciativas presenciais, mas, também, fó-
ca reflexiva é um caminho importante de/ bre sua prática docente, de
atenda, efetivamente, aos princípios da runs de debate em ambientes virtuais.
para a formação continuada de profes- modo a permitir que exami-
inclusão exige intensificação de investi- Estas estratégias permitiriam maior
sores (FREIRE, 2001; PERRENOUD, 2002; nem suas teorias implícitas,
mento na formação de professores. Uma abrangência de ações e a organização
PIMENTA e GHEDIMN, 2002; IMBERNÓN, seus esquemas de funciona-
das possibilidades de assegurar isso é de uma rede de aprendizagem entre
2001; ALARÇÃO, 2003; ZEICHNER, 1993, mento, suas atitudes etc., re-
provocar, criar condições para que os as equipes de técnicos e professores,
SCHÖN, 1995, PÉREZ GÓMEZ, 1995), e alizando um processo cons-
professores possam transformar seu com interações e trocas de experiên-
têm contribuído com obras de referência tante de auto-avaliação que
próprio espaço de trabalho em espaço cias e conhecimentos entre as escolas
que permanecem atuais e importantes oriente seu trabalho. A orien-
de investigação e autoformação. da ANEC; e participações de profissio-
para os avanços nessa área. tação para esse processo de
nais externos, que venham somar com
Isto é possível a partir da organiza- seus propósitos de construir conheci- reflexão exige uma proposta
Em suas diferentes investigações, em
ção de grupos de estudos e discussão/ mentos e intercambiar práticas, para a crítica da intervenção educa-
cenários diversos, existem fatores que

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tiva, uma análise da prática dora de atenção. A reflexividade induz os professores a cimento de nível fenomenológico e os
do ponto de vista dos pressu- mergulharem nas suas práticas, trazendo saberes cotidianos dos alunos (SILVA;
postos ideológicos e compor- Segundo Cipriano (2010), o professor à tona outros modos de compreender a ZANON, 2000)
tamentais subjacentes. precisa reconhecer, em seu processo de teoria e os conceitos que guiam a orga-
formação, a função transformadora da nização do seu trabalho, o que propicia De acordo com Saul e Saul (2016, p.02),
Uma questão importante a se destacar, escola, na sua relação com a realidade reconstruí-la (MIZUKAMI et al, 1998). temos as seguintes observações:
neste processo, é que o investimento social dos alunos e a relação entre as
em práticas autoformativas, nas insti- práticas educativas e as práticas sociais. O conhecimento surge na e O conhecimento na ação é o
tuições, promove avanços e melhora na para a ação e a teoria é siste- conjunto de saberes interio-
qualidade da oferta do ensino para to- Mas voltando aos nossos propósitos de maticamente testada em con- rizados (conceitos, teorias,
dos os estudantes. Embora se observe discutir a “ação-reflexão-ação”, como textos reais. Supõe-se que uma crenças, valores, procedimen-
que o atendimento dos estudantes da estratégia de construção de conheci- das primeiras implicações de tos), que são adquiridos atra-
Educação Especial demande estudos mentos, competências e habilidades uma tal epistemologia da ação vés da experiência e da ativi-
e investimentos específicos, de todas para atuar frente aos desafios da in- seja uma mudança na experi- dade intelectual, mobilizados
as ordens, incluindo, como responsa- clusão, é necessário resgatar o papel ência vivida daqueles envolvi- de forma inconsciente e me-
bilidade das escolas, a promoção de do professor e a necessidade de sua dos no processo de questiona- cânica nas ações cotidianas
uma formação que seja propulsora de formação continuada, em contextos mento/reflexão/investigação; do professor, em situações
mudanças na sociedade. que busquem integrar não apenas te- experiência que conduz a no- reais do exercício profissional.
oria e prática, ensino e pesquisa, mas, vos conhecimentos por meio
Atuar, na perspectiva da Educação In- também, a ação-reflexão-ação em sua A reflexão na ação é a refle-
da participação (MIZUKAMI et
clusiva, remete-nos a promover uma atuação pedagógica. xão desencadeada durante a
al., 1998, p.97 apud MIZUKAMI
maneira diferente de compreender a realização da ação pedagó-
et al., 2002, p. 141).
Educação, de compreender a própria Adotar práticas, com base nos princí- gica, sobre o conhecimento
vida e a sociedade. A inclusão educa- pios da “ação-reflexão-ação”, deman- A formação docente precisa partir de que está implícito na ação.
cional propõe e requer mudanças de da, primeiramente, compreender como reflexões sobre o cotidiano, sobre as Ela é o melhor instrumento de
ordem valorativa, exigindo que a escola isso pode ser organizado na escola e na dúvidas reais que os professores sen- aprendizagem do professor,
consiga promover o reconhecimento, prática profissional dos professores, os tem no dia a dia do seu trabalho, aten- pois é no contato com a situ-
o respeito, a apreciação e a promoção quais precisam entender como mudar dendo de maneira mais articulada e ação prática que o professor
da diversidade como um valor positivo, seu olhar para o cotidiano, como agir coerente a realidade. Isto incide em adquire e constrói novas te-
natural e próprio de cada estudante, e ressignificar suas práticas. A ideia é reflexões e conhecimento da realidade orias, esquemas e conceitos,
que garanta acessibilidade curricular e que consigam perceber que os novos pessoal e profissional, em mudanças de tornando-se um profissional
o seu direito de aprendizagem e desen- significados a serem construídos ul- imagem, valores, crenças e convicções, flexível e aberto aos desafios
volvimento pleno. A inclusão pressu- trapassam a compreensão já existente, nas atividades de experimentação que impostos pela complexidade
põe, entre outras condições, um ensino que envolve o sistema conceitual já adquirem valor se orientadas para a da interação com a prática.
de qualidade, no qual a formação do elaborado por eles, fazendo com que reflexão, o momento de discussão te- No entanto, a reflexão reali-
professor seja uma realidade merece- modifiquem as práticas habituais. órico-prática que transcende o conhe- zada sobre a ação e para a

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ação é de fundamental im- está implícito na ação; a reflexão sobre


portância, pois elas podem a ação - desencadeada após a ação
ser utilizadas como estraté- pedagógica; e a reflexão para a ação -
gias para potencializar a re- desencadeada antes da realização da
flexão na ação. ação pedagógica.

Neste momento, também po- [...] os saberes teóricos propo-


derá ser realizada a reflexão sitivos se articulam, pois, aos
sobre a reflexão realizada du- saberes da prática, ao mesmo
rante a ação. tempo ressignificando-os e
sendo por eles ressignificados.
A reflexão para a ação é a O papel da teoria é oferecer
reflexão desencadeada antes aos professores perspectivas
da realização da ação peda- de análises para compreen- Tardif (2002) diz que a relação dos do- gerais, transformando a sala de aula
gógica, através da tomada de der os contextos históricos, centes com os saberes não é restrita a num laboratório prático, na qual reúna
decisões no momento do pla- sociais, culturais, organiza- uma função de transmissão de conhe- as situações reais com estudos e con-
nejamento da ação que será cionais, e de si mesmos como cimentos já constituídos. Ele explica ceitos teóricos (Shön, 2000). Segundo
desenvolvida. (grifos nossos) profissionais, nos quais se dá que a prática docente integra diferen- Perrenoud (2001, p. 25),
sua atividade docente, para tes saberes e que mantém diferentes
A “ação-reflexão-ação”, como estraté-
neles intervir, transformando- relações com eles. Define o saber do- [...] a verdadeira competência
gia da formação, favorece a autonomia
-os. Daí é fundamental o per- cente “como um saber plural, formado pedagógica consiste, de um
do professor no processo de constru-
manente exercício da crítica pelo amálgama, mais ou menos coeren- lado, em relacionar os conteú-
ção de conhecimentos, competências
das condições materiais nas te, de saberes oriundos da formação dos a objetivos e, de outro, as
e habilidades que respondam aos de-
quais o ensino ocorre (PIMEN- profissional e de saberes disciplinares, situações de aprendizagem.
safios vivenciados no cotidiano escolar.
TA, 2005, p.26). curriculares e experienciais” (TARDIF,
Dominar o conhecimento é apenas par-
Os estudos de Schön (1992), Alarcão 2002, p. 36). Nessa perspectiva, os sa-
A reflexão crítica deve constituir orien- te do processo, pois a competência
(2007) e Perez Gomes (1992) apre- beres profissionais dos professores
tação essencial para a formação con- exige a capacidade de mobilização e
sentam o modelo reflexivo, a partir de são temporais, plurais e heterogêneos,
tinuada dos professores que buscam a aplicação de vários conhecimentos.
quatro conceitos básicos: o conheci- personalizados e situados, e carregam
transformação, por meio de sua prática
mento na ação - saberes interiorizados as marcas do ser humano. A capacidade de agir mobi-
educativa. O saber profissional, nesta
adquiridos por meio da experiência lizando conhecimentos e va-
concepção de professor reflexivo, vis- O conhecimento do profissional docen-
e da atividade intelectual nas ações lores implica uma aprendiza-
to como experiência, é a fonte do sa- te deve se construir sobre a experiên-
cotidianas do professor; a reflexão na gem. Logo, competências são
ber, e o professor é considerado como cia, de maneira que possa experimen-
ação - desencadeada durante a ação aprendidas, principalmente
profissional em constante e contínuo tar a ação e a reflexão em situações
pedagógica sobre o conhecimento que quando se constrói conhe-
processo de formação.

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cimento. O conhecimento é Acessibilidade curricular, oportunidade Reconhecidamente, é sabido que não pessoais e sociais precisam incorporar
parte indispensável do que é de desenvolvimento e aprendizagens se pode atribuir à formação do pro- valores mais inclusivos e de equidade.
preciso dominar para ser com- precisam ser alcançados, por razões fessor, inicial e continuada, soluções Envolve, também, os modos como as
petente (MELLO, 2004, p. 55). essenciais quando se pensa nas res- instantâneas, especialmente, no âmbito escolas pensam, planejam e empreen-
ponsabilidades de cada escola, e, mais da Educação Especial, porém, é indis- dem todos os aspectos relacionados a
ainda, quando pensamos que a Educa- cutível quando se anela a construção de Educação, incluindo e valorizando, no
ção compõe e perpassa por todas as uma Educação efetivamente inclusiva. contexto escolar conhecimentos que
Concluir Sem áreas de direitos constitucionais funda- vão além dos acadêmicos, valorizando
Encerrar... mentais. Não podemos mais sustentar Para tanto, as ações de formação con- as diferentes formas de aprender.
Provoc(Ações) por a ideia de inclusão restrita a matrícula tinuada precisam assumir o caráter da
Palavras Outras! ou metas simplórias de socialização, qualidade e contar com o apoio dos di- A escola precisa de todos os seus sujei-
precisamos garantir condições para versos atores, como gestores, e políticas tos, incluindo os alunos e suas famílias,
“O aprender contínuo é es- públicas, caracterizadas por meio de para construir respostas aos desafios
que todo aluno tenha oportunidades e
sencial e se concentra em formação teórica, atividades práticas e de incluir. Ser inclusiva não é um status
êxito nos processos de escolarização.
dois pilares: a própria pes- trocas de experiências, que oportunizem a ser alcançado, é processo permanen-
soa, como agente, e a esco- aos professores diferentes vivências e te de decisões e ações, deve ser “sendo
la, como lugar de crescimen- reflexões, reverberando em práticas pe- para todos”, ao mesmo tempo em que
to profissional permanente”. Não podemos mais dagógicas diferenciadas, em ambiente precisa ser “sendo para cada um”, valo-
Antônio Nóvoa sustentar a ideia que atue na desconstrução dos precon- rizando as singularidades e construindo
de inclusão restrita ceitos, que promova e valorize a diversi- práticas que individualizem sem excluir.
Debruçar-se sobre os estudos que a matrícula ou dade e o respeito pelas diferenças.
abordem a formação continuada de metas simplórias de
professores é, particularmente, inte- socialização” Neste particular, cabe destacar que a
ressante. De modo especial, quando as inclusão escolar não pode se restringir
considerações transitam em campos A formação inicial e continuada são os as reflexões e ações relacionadas aos
específicos e que exigem uma compre- balizadores de uma prática pedagógica processos de ensino e aprendizagem
ensão qualificada sobre o tema, como coerente e eficaz em contexto escolar, ou ao modo como as relações inter-
a educação dos estudantes que são considerando ser a escola, para um nú-
público da Educação Especial. mero relevante de crianças brasileiras, o
principal ou único espaço de desenvolvi-
Ampla discussão tem sido mantida sobre
mento e apropriação de conhecimentos
a importância da formação continuada
universais, cabendo a ela proporcionar
do professor e este ensaio, após discutir
às crianças, o desenvolvimento de todas
o cenário e o impacto da formação, com
as suas potencialidades, criando meca-
vistas à oferta de uma educação inclusi-
nismos de apropriação cultural, social,
va e para todos, aponta para aspectos
afetivo e intelectual (DRAGO, 2014).
relevantes na tomada de decisões.

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SOBRE AS AUTORAS
REFERÊNCIAS

ADRIANE MELO DE CASTRO MENEZES


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Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Línguas, Culturas, Inclusão
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Possui graduação em Letras/Língua Espanhola pelo Centro
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Universitário de Brasília, (1991), mestrado em Educação
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derais: Interiorizando Libras/MEC, na Coordenação Geral tas de Almeida Salles e Ricardo Gauche. – Goiânia : Cânone Editorial.
da Política Pública de Educação Especial, na tutoria do
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como Coordenadora Geral do Centro de Capacitação de tica educativa. São Paulo: Paz e Terra.
Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas
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