Estrela de David No Cruzeiro Do Sul
Estrela de David No Cruzeiro Do Sul
Estrela de David No Cruzeiro Do Sul
Blajberg vem
Israel Blajberg
Israel Blajberg
contribuir no preenchimento de uma lacuna na
história da presença judaica no Brasil.
Desde o Império as histórias foram muitas, boa par-
te desconhecida dos estudiosos. Com o aumento
do número de correligionários, muitos seguiram
a carreira militar, fatos nem sempre conhecidos
a não ser pelas famílias. A saudosa “caçadora dos
passos perdidos”, como gostava de ser chamada,
a historiadora Frieda Wolff, já viúva e em idade Da Carta de Mestre João a D. Manuel I sobre o Cruzeiro do Sul
avançada depois de décadas de estudos e dezenas
de livros publicados, junto com o saudoso marido
em 1º de Maio de 1500
Egon Wolff, sobre a presença judaica no país, ini- Portugal, Torre do Tombo, Corpo Cronológico,
ciou pesquisa visando recolher fontes primárias so-
bre este tema, pouco conhecido. Durante um ano Parte III, mç. 2, n.º 2
e meio frequentou o Arquivo Histórico do Exército,
Estrela de David
A obra mostra a identidade de um segmento da
trabalho que ela já não mais poderia continuar e se a estrela do Pólo Antárctico, o Sul, é pequena como a do Norte e mui clara, e a estrela
preocupava com este fato. nossa sociedade, afirmando a cidadania brasileira
que está em riba de toda a Cruz é muito pequena. Não quero mais alargar, por não dos judeus e seus descendentes, reafirmando
Limitada pelas condições físicas, encontrou no
disciplinado e persistente Prof. Blajberg, Diretor
importunar a vossa alteza, salvo que fico rogando a Nosso Senhor Jesu Cristo a vida que a sua pátria é a do solo onde nasceram e con-
tribuem para o pleno desenvolvimento, nação
e estado de vossa alteza acrescente como vossa alteza deseja. Feita em Vera Cruz, o
no Cruzeiro do Sul
do Memorial Judaico de Vassouras, a pessoa certa
construída por imigrantes europeus e africanos,
para continuar a difícil missão nos arquivos do
Exército, Marinha e Aeronáutica, e localizar prota-
primeiro de Maio de (1)500. formando com os indígenas uma nacionalidade
gonistas e familiares. Tarefa complexa, muitas com DNA de todas as religiões e etnias.
vezes tendo que convencer interlocutores da
Do criado de Vossa Alteza e vosso leal servidor
O profundo trabalho do grande historiador mili-
importância histórica do depoimento. João tar brasileiro Israel Blajberg, registrando a pre-
A obra constitui-se pois em valioso instrumento de Bacharel em Artes e Medicina sença marcante de membros da comunidade
resgate da memória da presença militar judaica e judaica nas Forças Armadas e Policiais, além de
seus descendentes em nosso país, desde a primei- contar a história da bravura de nossos militares
ra geração incorporados e completamente inte- Mestre João, médico particular da Coroa portuguesa e astrônomo. tem um mérito extraordinário no combate ao
O BRASIL
O BRASIL
M I L I TA R T
M I L I TA R T
e Indústria do Rio de Janeiro
Presidente da FIERJ no período 2006-2008
souras na Santa Casa,
Memorial Judaico de Vas RR RR
D
E
E
ESTRE ESTRE
paro.
hoje Asilo Barão do Am
Este importante trabalho do Prof. Blajberg vem
Israel Blajberg
Israel Blajberg
contribuir no preenchimento de uma lacuna na
história da presença judaica no Brasil.
Desde o Império as histórias foram muitas, boa par-
te desconhecida dos estudiosos. Com o aumento
do número de correligionários, muitos seguiram
a carreira militar, fatos nem sempre conhecidos
a não ser pelas famílias. A saudosa “caçadora dos
passos perdidos”, como gostava de ser chamada,
a historiadora Frieda Wolff, já viúva e em idade Da Carta de Mestre João a D. Manuel I sobre o Cruzeiro do Sul
avançada depois de décadas de estudos e dezenas
de livros publicados, junto com o saudoso marido
em 1º de Maio de 1500
Egon Wolff, sobre a presença judaica no país, ini- Portugal, Torre do Tombo, Corpo Cronológico,
ciou pesquisa visando recolher fontes primárias so-
bre este tema, pouco conhecido. Durante um ano Parte III, mç. 2, n.º 2
e meio frequentou o Arquivo Histórico do Exército,
Estrela de David
A obra mostra a identidade de um segmento da
trabalho que ela já não mais poderia continuar e se a estrela do Pólo Antárctico, o Sul, é pequena como a do Norte e mui clara, e a estrela
preocupava com este fato. nossa sociedade, afirmando a cidadania brasileira
que está em riba de toda a Cruz é muito pequena. Não quero mais alargar, por não dos judeus e seus descendentes, reafirmando
Limitada pelas condições físicas, encontrou no
disciplinado e persistente Prof. Blajberg, Diretor
importunar a vossa alteza, salvo que fico rogando a Nosso Senhor Jesu Cristo a vida que a sua pátria é a do solo onde nasceram e con-
tribuem para o pleno desenvolvimento, nação
e estado de vossa alteza acrescente como vossa alteza deseja. Feita em Vera Cruz, o
no Cruzeiro do Sul
do Memorial Judaico de Vassouras, a pessoa certa
construída por imigrantes europeus e africanos,
para continuar a difícil missão nos arquivos do
Exército, Marinha e Aeronáutica, e localizar prota-
primeiro de Maio de (1)500. formando com os indígenas uma nacionalidade
gonistas e familiares. Tarefa complexa, muitas com DNA de todas as religiões e etnias.
vezes tendo que convencer interlocutores da
Do criado de Vossa Alteza e vosso leal servidor
O profundo trabalho do grande historiador mili-
importância histórica do depoimento. João tar brasileiro Israel Blajberg, registrando a pre-
A obra constitui-se pois em valioso instrumento de Bacharel em Artes e Medicina sença marcante de membros da comunidade
resgate da memória da presença militar judaica e judaica nas Forças Armadas e Policiais, além de
seus descendentes em nosso país, desde a primei- contar a história da bravura de nossos militares
ra geração incorporados e completamente inte- Mestre João, médico particular da Coroa portuguesa e astrônomo. tem um mérito extraordinário no combate ao
O BRASIL
O BRASIL
M I L I TA R T
M I L I TA R T
e Indústria do Rio de Janeiro
Presidente da FIERJ no período 2006-2008
souras na Santa Casa,
Memorial Judaico de Vas RR RR
D
E
E
ESTRE ESTRE
paro.
hoje Asilo Barão do Am
Estrela de David
no Cruzeiro do Sul
Israel Blajberg
ACADEMIA
DE
HISTÓRIA
O BRASIL
M I L I TA R T
RR
D
E
ESTRE
Resende – RJ
2015
▶▶ Copidesque e revisão: Rachel Ades
▶ ▶ Capa e diagramação: Carlos Alberto Herszterg
▶▶ Impressão: Cromosete Gráfica e Editora Ltda., São Paulo – SP
▶ ▶ Ficha Catalográfica
Catalogação na fonte
Elaborada pela Bibliotecária Erika Arruda CRB-7 5228
▶▶ Israel Blajberg
▶▶ Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB), Cadeira 24 –
Coronel Mário Clementino
▶ ▶ Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB), Cadeira 73 –
Marechal Mascarenhas de Moraes.
▶ ▶ E-mail: [email protected] e [email protected]
Editora
▶ ▶ Federação das Academias de História Militar Terrestre do Brasil (FAHIMTB),
de Resende – RJ, pelo seu Fundador, Presidente e Acadêmico Grande
Benemérito Cel. Claudio Moreira Bento, eminente pensador militar, a quem
devemos sua amizade, decidido apoio e valiosa orientação.
Patrocinio
▶▶ Dr. Israel Klabin
▶▶ Dr. Daniel Miguel Klabin
▶▶ Dr. Armando Klabin
▶▶ Anônimo
▶▶ Associação Religiosa Israelita Chevra Kadisha do Rio de Janeiro
▶▶ Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro
▶▶ Cromosete Gráfica e Editora Ltda.
Apoio Cultural
▶ ▶ General de Divisão Marcio Rosendo de Melo, Presidente da Associação
Nacional dos Veteranos da FEB – ANVFEB
▶▶ General de Brigada Walter Nilton Pina Stoffel, Diretor do Patrimônio Histórico
e Cultural do Exército e 2º. Presidente de Honra da AHIMTB/Rio de Janeiro
▶ ▶ Coronel de Artilharia Luiz Antonio Fortes, Diretor do Museu Histórico do
Exército e Forte Copacabana
▶ ▶ GEN | Grupo Editorial Nacional – Mauro Koogan Lorch e Alberto Moszkowicz
▶ ▶ Dr. Sergio Niskier
▶ ▶ Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro – FIERJ
▶ ▶ Memorial Judaico de Vassouras
ix
x Israel Blajberg
Esta obra foi possível pela ajuda de biografados e familiares, que colaboraram
fornecendo preciosos dados e informações.
▶ ▶ Nota sobre as imagens: as nominatas são sempre da esquerda para a direita, salvo indicação em
contrário.
Dois Momentos
Cento e quarenta e sete anos separam estas duas imagens, que têm em comum
militares judeus partindo para longe da Pátria, conduzindo na missão o sagrado
Pavilhão Nacional.
xi
xii Israel Blajberg
xiii
xiv Israel Blajberg
I
srael Blajberg faz um trabalho abrangente acerca da contribuição dos judeus
na História do Brasil, por intermédio da participação destes nas Forças
Armadas.
Enfocando o momento histórico vivido por esses homens, suas convicções e
contradições, o autor apresenta um mosaico histórico de experiências e paixões
que caracterizam o seu papel para a construção do País.
General de Brigada Walter Nilton Pina Stoffel
Diretor
DPHCEx – Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército
xv
Prefácio
O
presente livro, intitulado Estrela de David no Cruzeiro do Sul, de autoria
do historiador Israel Blajberg, atual acadêmico benemérito da Federação
das Academias de História Militar Terrestre do Brasil (FAHIMTB), é
mais uma contribuição sua ao desenvolvimento da História das Forças Armadas
do Brasil, abordando a contribuição de judeus e de brasileiros de origem judaica
que integraram as Forças Armadas do Brasil, na paz e na guerra, do descobri-
mento até a atual Missão de Paz do Brasil no Haiti.
Neste livro, seu autor dá continuidade e complementa expressivamente os
estudos dos historiadores judeus alemães, o distinto casal Egon e Frieda Wolff,
naturais de Berlim. Casal, lamentavelmente falecido, com o qual tive o prazer
de conviver como seu confrade no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(IHGB) e estar presente em sua concorrida Bodas de Ouro no Hotel Glória, no
Rio de Janeiro.
Egon e Frieda Wolff escreveram 43 livros, a maioria em coautoria, sendo
o primeiro em 1975, pela Universidade Federal de São Paulo, e os demais até a
década de 90, além de 400 artigos sobre o tema de judeus no Brasil.
Frieda Wolff dedicou-se à temática dos judeus militares brasileiros, assunto
que Israel dá continuidade no presente livro e o amplia expressivamente.
Tendo estreado no tema com seu livro Soldados que vieram de longe (Resende:
Academia de História Militar Terrestre do Brasil, 2008), por nós apresentado.
Livro tratando dos 42 brasileiros com descendência judaica que combateram na
2.ª Guerra Mundial em nossas Forças Armadas e em nossa Marinha Mercante,
cabendo destacar dentre estes bravos, o Marechal Waldemar Levy Cardoso,
como o Tenente-Coronel Comandante de uma unidade de artilharia da FEB, e
hoje consagrado patrono de cadeira especial da FAHIMTB.
A obra, esgotada, foi lançada de 2008 a 2013 em 11 cidades brasileiras
na oportunidade dos Encontros Nacionais de Oficiais da Reserva do Exército
(ENOREx), egressos dos CPOR e NPOR. Os ENOREx planejados pelo Conselho
Nacional de Oficiais R/2 (CNOR), sob a presidência desde a sua fundação há 17
anos do historiador militar e acadêmico da FAHIMTB, Ten. R/2 Sérgio Pinto
Monteiro, em cidades espalhadas pelo país, e antes do CNOR as coordenações
xvii
xviii Israel Blajberg
atuavam isoladas. O ENOREx desde então tem a sua sede no CPOR RJ, na
Avenida Brasil n.º 5.292. A Reserva de Oficiais R/2 se orgulha hoje de ostentar o
título de “Reserva atenta e forte do Exército”, tendo seu próprio uniforme priva-
tivo dos oficiais da reserva formados nos CPORs e já projeta este ano realizar em
sua sede no Rio o primeiro Curso de Atualização para Oficiais R/2 do Exército,
com conferências de autoridades do Exército a partir de seu Comandante e Chefe
do Departamento de Educação e Cultura. Grande iniciativa do Ten. Monteiro!
A presença de judeus do Brasil, segundo o autor deste livro, teve início com
dois deles integrando a frota de Pedro Alvares Cabral, quando do descobrimento
do Brasil em 1500. O Mestre João, médico e astrônomo, que foi o primeiro a
identificar a Constelação do Cruzeiro do Sul, teria inspirado um dos primeiros
nomes da terra descoberta, Terra de Santa Cruz; e Gaspar da Gama, intérprete
que acompanhara Vasco da Gama às Índias como o comandante da nau que
transportava mantimentos da expedição. Além desses dois que faziam parte da
guarnição da Esquadra de Cabral, cristãos-novos, judeus que foram obrigados a
se converteram ao catolicismo e mudaram de nome.
E o autor, ao longo de seu alentado trabalho, desfila os nomes e dados bio-
gráficos de judeus e descendentes que ao longo do processo histórico brasileiro
integraram as nossas Forças Armadas na paz e na guerra.
Eu me lembro de um deles, um oficial brasileiro descendente de judeus,
o 2.º Ten. R/2 Eng.º Isaac Clerman, porto-alegrense, que foi o meu primeiro
A
historiografia nacional é riquíssima em títulos abordando a temática
militar, bem como existe substancial acervo de literatura sobre os judeus
no Brasil. Entretanto, parece-me que ainda há muito a ser escrito sobre
a intersecção dos dois subconjuntos, ou seja, os militares brasileiros de origem
judaica, bem como seus temas conexos, na paz e na guerra – de Cabral ao Haiti.
Parece existir pouca visibilidade sobre a participação dos brasileiros judeus
nas Forças Armadas. Já no que concerne a outros segmentos da sociedade, sejam
religiosos, geográficos ou das diferentes origens imigratórias, suas vertentes mili-
tares encontram-se muito mais disseminadas, em decorrência de livros, asso-
ciações, eventos e outras manifestações. Como exemplo, citamos: livros sobre
soldados descendentes de alemães, poloneses, italianos e outros; associações de
militares cristãos, espíritas, evangélicos; comemorações diversas, como o cen-
tenário da imigração japonesa, que repercutiu nas Forças Armadas por home-
nagens aos nisseis, de soldado a general; monografias temáticas, dissertações de
mestrado e teses de doutorado. Já no que concerne aos militares judeus, pou-
quíssimas são as iniciativas nesse sentido.
A saudosa historiadora D.ª Frieda Wolff (1911–2008), sócia emérita do
IHGB, foi a pioneira e praticamente a única até então a se dedicar com afinco ao
assunto. Em vista da importância desse nicho histórico pouco abordado, resol-
vemos nos dedicar ao mesmo, culminando, em outubro de 2008, com o lança-
mento no Rio de Janeiro de SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE, sobre os
42 heróis brasileiros judeus da Segunda Guerra Mundial, sendo ESTRELA DE
DAVID NO CRUZEIRO DO SUL a continuidade desse trabalho inicial e pratica-
mente sui generis até o momento.
Editado em 2008 pela Academia de História Militar Terreste do Brasil e pela
FIERJ – Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, o livro Soldados que vie-
ram de longe contou com a participação especial do General Ruy Leal Campello,
veterano do Regimento Sampaio da FEB e do Batalhão Suez; apresentações do
Coronel Claudio Moreira Bento, Presidente da Academia e do engenheiro Sergio
Niskier, Presidente da FIERJ; prefácio do Coronel Germano Seidl Vidal e men-
sagem do Marechal Waldemar Levy Cardoso. A edição inicial de mil exempla-
res está esgotada, tendo sido realizados 11 lançamentos em diversas cidades, de
norte a sul do Brasil, de 2008 a 2013.
1
2 Israel Blajberg
O título Soldados que vieram de longe refere-se aos pracinhas, assim vistos
pelos italianos, a princípio desconfiados daqueles homens que vieram de uma
terra distante, mas logo iriam descobrir, por trás dos uniformes verde-oliva, a
especial e boníssima alma brasileira daqueles soldados-cidadãos.
As pesquisas necessárias para produzir um livro assim aos 70 anos de idade
fizeram aflorar antigas recordações. Este é, portanto, um livro escrito com emo-
ção, e o autor acredita que os leitores também a experimentará.
A obra do Casal Wolff serviu como inspiração e um dos pontos de partida
para nossos dois livros, onde utilizamos e ampliamos suas pesquisas sobre pre-
cursores e integrantes judeus e de origem judaica nas Forças Armadas do Brasil,
conforme apresentado por D.ª Frieda Wolff à CEPHAS, Comissão de Estudos e
Pesquisas Históricas do IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em
sua 5.ª Sessão de 14 de abril de 1985, cujo presidente era o Dr. Marcos Carneiro
de Mendonça e a secretária era a Prof.ª Cybelle de Ipanema: Os judeus no Brasil
e a 2.ª GM.1
Valiosos subsídios foram obtidos em alguns dos livros do Casal Wolff, como
em Participação e contribuição de judeus ao desenvolvimento do Brasil, de 1985,
onde registraram os nomes levantados em suas extensivas pesquisas no Arquivo
Histórico do Exército e outras fontes.
Alguns elementos deste nosso segundo livro constaram de uma comunica-
ção apresentada no V Encontro do AHJB, na Hebraica de São Paulo, em novem-
bro de 2008: “Judeus fardados na obra de Egon/Frieda Wolff ”.
O último livro de D.ª Frieda Wolff2 veio à lume em 1999. Lendo essa obra é
fácil constatar como a perda do esposo Egon foi sentida por D.ª Frieda. Na con-
tracapa, D.ª Frieda deixou uma mensagem, espécie de premonição. Já estava com
88 anos, mas ainda esperançosa:
“(...) me ocupar com a descrição das carrreiras de muito coronéis e até generais
judeus no Exército Brasileiro, depois de tanto tempo de pesquisa no arquivo do
mesmo? Ah, mas isso ainda precisa de mais pesquisa, história oral – e não sei se
terei o tempo e a coragem necessários.”
Em 17 de maio de 2008, falece D.ª Frieda, aos 97 anos, sem ter tido tempo de
enriquecer a História Militar com o livro que pretendia escrever sobre os judeus
nas Forças Armadas do Brasil, confirmando seu presságio de uma década antes.
A ela, assim como ao nosso Grande Patriarca Moisés, o Eterno não concedeu a
▶ ▶ Pouco mais de um ano antes de partir, já residindo no Lar da Amizade da Rua Santa Alexandrina
(Rio Comprido – RJ), D.ª Frieda Wolff ofereceu ao autor um exemplar de seu último livro Nossas
três vidas e outras histórias (1999). Na dedicatória lê-se: “Ao muito amigo Dr. Israel Blajberg com um
aperto de mão da amiga Frieda W. – Rio, 13-1-07”. Acervo do autor.
O
presente trabalho constitui-se em uma continuidade de Soldados que
vieram de longe, livro lançado em outubro de 2008 sobre os 42 heróis
brasileiros judeus da Segunda Guerra Mundial, apresentando relatos
sobre esses 42 ex-combatentes, sendo 30 do Exército (26 na FEB), quatro da
Marinha, três da FAB e cinco da Marinha Mercante, dos quais, em janeiro de
2015, é possivel que não mais do que três deste total ainda estejam entre nós.
Para melhor compreensão da nossa proposta, adotamos um roteiro linear
cronológico que se inicia com a chegada de Cabral, já trazendo a bordo da esqua-
dra os primeiros cristãos-novos a desembarcar nesta terra. Os capítulos iniciais
sintetizam didaticamente aspectos já conhecidos, servindo ainda de subsídio
para consolidar a ideia básica, a saber:
▶ ▶ Cap. 1 – Introdução – Delineia as motivações e objetivos do trabalho.
▶ ▶ Cap. 2 – Linha do tempo e estrutura adotada nesta obra.
▶ ▶ Cap. 3 – “Origens Judaicas” – Conceito adotado nesta obra – Conceito
amplo adotado em relação à complexa questão de “quem é judeu”, esclare-
cendo as premissas definidas para seleção e inclusão nesta obra dos precur-
sores e integrantes judeus e de origem judaica das Forças Armadas do Brasil.
▶▶ Cap. 4 – Brasil: o descobrimento – Discorre sobre as navegações e a res-
pectiva contribuição judaica, tendo como uma das consequências a des-
coberta do Brasil.
▶▶ Cap. 5 – Brasil: país de imigrantes – Aborda a temática geral dos cris-
tãos-novos, e a inserção dos judeus nas correntes imigratórias que for-
maram o nosso Brasil.
Os capítulos iniciais deste livro resumem, a título de informação, uma
História do Brasil ainda pouco ensinada nos bancos escolares até o 2.º Grau. Nas
universidades, o assunto está em pauta, já que temas como criptojudaismo, cris-
tãos-novos e a Inquisição têm sido objeto de mais estudos. O leitor interessado
poderá aprofundar-se na farta bibliografia disponível.
5
6 Israel Blajberg
Carlos Lessa
Economista
Professor Emérito e ex-Reitor da UFRJ
Ex-Presidente do BNDES
E
sta obra propõe-se a registrar excertos da significativa contribuição
judaica vertida para as Forças Armadas do Brasil, aí compreendidos os
precursores que atuaram em nosso território quando ainda não havia for-
ças organizadas, que assim formaram entre as tropas portuguesas.
Para tanto, consideraremos passível de inclusão, além, é claro, de judeus,
os cristãos-novos, ou marranos, ou criptojudeus, ou judaizantes, que no idioma
hebraico são designados como “anussim” (forçados), bem como aqueles oriun-
dos de famílias com origens judaicas que em um determinado momento, seja
pelo casamento, seja por outros motivos, embora nominalmente pudessem ter
se deslocado da sua condição judaica, mas que nem por isso perderam os laços
genealógicos que os vinculam ao judaísmo (ainda que eventualmente remotos),
eis que estes são quase que indissolúveis, pelas razões que exporemos nas linhas
que se seguem.
São esses, portanto, como bem denota o próprio subtítulo da obra, alguns
dos precursores e integrantes judeus e de origem judaica das Forças Armadas
do Brasil. Seja um povo, religião, cultura, filosofia, sejam sionistas ou antissio-
nistas, bundistas2 ou trotskistas, socialistas ou capitalistas, liberais, de direita ou
de esquerda, a resposta à pergunta sobre quem é judeu não é tão simples quanto
parece. Sartre saiu-se com uma interessante definição – judeu é quem assim é
considerado como tal pelos outros.
7
8 Israel Blajberg
3 Conjunto de leis que orientam a vida judaica. Incluem os 613 mandamentos da Torá e posterio-
res determinações de eminentes rabinos e do Talmud, os comentários sobre a Bíblia.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 9
em “Asa branca”, talvez sem o querer, o fez. Um distinto locutor da rádio certa
vez utilizou o termo para referir-se a maus tratos a animais, tenho certeza que
involuntariamente.
Muitos não sabem o que é um judeu, talvez pensem que eles têm rabo ou
parte com o demônio, como ensinavam na roça no século passado. É provável
que ao ver ou falar com algum, nem se deem conta. Claro, existem os antisse-
mitas, para quem não é possível ser judeu e brasileiro, mas essa patologia social
afeta um número ínfimo neste país.
Quando aqui chegamos, a bordo das caravelas de Cabral, possivelmente
antepassados de vários dos 37% que responderam à pesquisa vieram juntos
conosco. Viemos buscando um novo mundo, onde ninguém fosse obrigado a
ter a religião do rei, onde pudéssemos seguir os Dez Mandamentos, a Lei de
Moisés. Foi enorme a contribuição judaica nos 500 anos do Brasil, essa gente
que secretamente comia carne na Semana Santa, não jejuava, não ia à missa,
não considerava crime a vida sexual, enfim, não achava correto que alguém
fosse obrigado a seguir uma religião à força, como hoje querem os aiatolás e
talibans.
Vimos passar a Babilônia, Grécia e Roma. As fogueiras da Inquisição e as
câmaras de gás dos nazistas. Ainda que alguns dos nossos tivessem sido encan-
tados pelo Bezerro de Ouro, resistimos e não renegamos a fé no Todo-Poderoso.
Odiados por uns, amados por outros, geralmente concordam que somos
“O Povo do Livro”. Para os ortodoxos, somos o povo eleito. Para os socialistas,
somos capitalistas. Para os capitalistas, socialistas e para os nazistas, fomos sim-
plesmente... judeus.
Com banqueiros como Rothschild e Safra, mas também com mendigos. Se
por um lado da nossa gente vieram Rosa Luxemburgo e Trotsky, de outro, saíram
poderosos industriais renomados no século XX.
Nas cidadezinhas da Europa Oriental, da África Setrentrional, do Líbano ou
da Síria, éramos sapateiros, carregadores de água, alfaiates ou artesãos. Mas da
nossa gente vieram Einstein e dezenas de prêmios Nobel.
Hoje nas terras bíblicas, Israel é defendido por um dos melhores exércitos
do mundo, mas já fomos indefesos, quase exterminados.
Na verdade, somos feitos de carne e osso como qualquer um, somos altos e
baixos, gordos e magros, pretos e brancos, ateus e ortodoxos. Também torcemos
pelo Flamengo, Vasco, Corinthians, pulamos o carnaval, até vamos ao centro
espírita, não tapamos a luz do sol tropical com a Torá. Pouco nos importa quem
seja nosso vizinho, convivemos de bom grado com gente decente, seja gay, árabe,
negro, índio, chinês ou nordestino.
O Todo-Poderoso nos criou para sermos tão numerosos quanto os grãos de
areia do deserto e as estrelas no firmamento; se somos poucos é porque tantos
dos nossos abandonaram a fé mosaica ao longo do caminho.
Um até ensinou que a humanidade deve se amar, que uns amem aos outros,
assim como Ele nos amou. E que aquele que não tivesse culpa, que atirasse a
primeira pedra.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 11
recentes, passando ainda pelo estudo da evolução das comunidades judaicas nas
capitais e no interior do país.
Algumas pesquisas trazidas à lume seriam surpreendentes para o grande
público, como, por exemplo, saber que uma família de cristãos-novos, os
Montarroyo, fizeram erguer em 1637 a Capela de São Mateus em Nilópolis – RJ,
que existe até hoje. Seu desejo de progedir nos negócios levou-os a procurar
abandonar de vez o judaísmo, liberando-os da mácula de “cristãos-novos”, da
qual desejaram se afastar através da construção de uma capela para facilitar sua
aceitação num mundo católico pelos cristãos-velhos.
Justamente o caminho inverso de judeus da Europa Oriental, que 300 anos
depois escolheram outro caminho, construindo uma comunidade em Nilópolis
com sinagoga e cemitério...
Mas, indubitavelmente, tanto uns quanto outros, em Nilópolis ou no
Nordeste, nas Minas Gerais ou na Amazônia, ajudaram a fazer deste país uma
grande nação.
É sabido que historiadores divergem bastante entre si com respeito à confir-
mação da condição judaica de diversos vultos da História do Brasil, mormente
no período colonial, constando ter sido relevante a contribuição judaica aos 515
anos do Brasil. Queremos crer, entretanto, que todos concordam que a presença
judaica no Brasil, seja atraves de judeus, cristãos-novos ou criptojudeus, é um
fato que não pode ser minimizado.
A História do Brasil e a História Judaica andam juntas desde o descobrimento.
A vida em segredo dos judaizantes tem um ponto final quando, no dia 25
de maio de 1773, José de Carvalho e Melo, mais conhecido como o Marquês de
Pombal, Ministro de Estado português, depois de convencer o rei, decreta o fim
da classificação do povo português em cristãos-velhos e cristãos-novos.
Segundo a doutora em História, professora emérita da USP e especialista
em marranismo:
“(...) todos os brasileiros devem ter algum parente judeu. Muitos dos primeiros
colonos são de ascendência judaica, depois se misturaram muito. Muitos judeus,
escondidos como cristãos-novos, continuaram praticando a cultura e a religião.”7
7 TABAK, Bernardo; FARAH, Tatiana. Portugal: nacionalidade para judeus expulsos. In: O
Globo,p. 29, 2015.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 13
S
abe-se que dois judeus em posição proeminente serviram sob as ordens
do Almirante Pedro Álvares Cabral, em 1500, fazendo parte de sua tripu-
lação: Mestre João, médico particular da Coroa portuguesa e astrônomo,
o primeiro a identificar a constelação do Cruzeiro do Sul; e Gaspar da Gama,
intérprete (ajudara Vasco da Gama nas Índias, onde vivia) e comandante da nau
que trazia mantimentos. Gaspar da Gama, por exemplo, foi personagem de uma
aventura só comparável à de Marco Polo. Judeu polonês, de Posna, originário de
Jerusalém, passou a vida entre Portugal, Espanha, Índias e África. Aprisionado
pelos portugueses, o judeu polonês transformou-se no “língua”, o intérprete de
Vasco da Gama, participando das descobertas nos mares das Índias. Mais tarde,
torna-se piloto de Cabral e de Américo Vespúcio, tudo isto tendo como pano de
fundo o drama da Inquisição, com a conversão forçada dos judeus. Um estudo
desse personagem, tal como feito pelo historiador brasileiro Elias Lipiner, em
Gaspar da Gama, um converso na frota de Cabral, mostra-nos que o ambicioso
projeto ultramarino português só foi possível graças à participação concreta
dos judeus. E mais: os judeus vinculavam o sucesso desses projetos às suas pró-
prias aspirações de redenção, com o restabelecimento da soberania nacional,
perdida com a queda do Segundo Templo, na antiga pátria bíblica.1
A contribuição judaica ao descobrimento de novas rotas e de novas terras
para a Coroa portuguesa não se limitou ao campo científico de feição prepara-
tória, senão também se traduziu na participação direta das temerárias viagens,
nas quais os judeus se revelaram de vital utilidade, graças ao conhecimento que
tinham das línguas e costumes de vários países e povos. E foi assim que os judeus
tiveram papel importante na expedição que resultou no descobrimento do Brasil.
Mestre João, como astrônomo, viajou equipado com os instrumentos de
outro judeu, o rabino cabalista Abraham Zacuto, tendo como incumbência rea-
lizar pesquisas astronômicas e geográficas; Gaspar de Lemos – ou da Gama ou
15
16 Israel Blajberg
das Índias – foi o primeiro explorador do Brasil. Como relata outro Gaspar, o
Correia, em Lendas da Índia:
“El-Rei entregou ao Capitão-mor Gaspar da Gama (Gaspar de Lemos), o judeu,
porque sabia falar muitas línguas, a que El-Rei deu alvará de livre e forro de sua
comédia em terra dez cruzados cada mês, muito lhe recomendando que o ser-
visse com Pedro Álvares Cabral, porque se bom serviço lhe fizesse, lhe faria muita
mercê; e porque sabia as coisas da Índia, sempre bem aconselhasse ao Capitão-
mor o que fizesse, porque este judeu tinha dado a El-Rei muita informação das
coisas da Índia mormente de Goa”.
Gaspar de Lemos era judeu nascido na Polônia, de onde foi expulso ou teve
que fugir em 1450, quando criança, por não ter sua família acedido em converter-se
ao cristianismo. Após uma longa peregrinação através da Itália, Palestina, Egito e
outras terras, teria resolvido permanecer em Goa, na Índia, ali adquirindo prestígio
e vindo a ocupar a função de Capitão-mor de uma armada pertencente a um rico
mouro na ilha de Arquediva. Foi nessa ilha que Vasco da Gama, em 25 de setembro
de 1498, ao regressar de uma viagem à Índia, conheceu Gaspar de Lemos, que se lhe
apresentou a bordo como cristão e prisioneiro do poderoso Saboya, proprietário da
ilha. Não tendo conseguido burlar a perspicácia de Vasco da Gama, este depressa o
forçou a confessar que tinha sob suas ordens 40 navios com instruções de Saboya
para, na primeira oportunidade, atacar a frota lusitana. No entanto, o incidente aca-
bou gerando uma sólida amizade de Vasco da Gama com Gaspar de Lemos, a quem
levou consigo para Portugal, onde o apadrinhou no batismo, dando-lhe o seu nome
– que passou a ser Gaspar da Gama – e apresentou-o ao rei, D. Manoel, que o fez
persona grata na Corte, nomeando-o “cavalheiro de sua casa”. Vários historiadores
acham que foi apoiado na sua enorme experiência de viagens marítimas que Gaspar
intencionalmente induziu Pedro Álvares Cabral a afastar-se da África por acreditar
na existência de outras terras na direção oeste da vastidão do oceano. Gaspar da
Gama fez jus ao epíteto de “o primeiro explorador da terra”, que lhe deu Afrânio
Peixoto, e mesmo ao de “codescobridor do Brasil”, que lhe atribuiu Alexander von
Humboldt. Não podemos esquecer, também, a figura do também judeu Bartolomeu
Dias, o primeiro a atravessar o Cabo das Tormentas. Na prática, foi o homem que
possibilitou não apenas a viagem de Vasco da Gama às Índias, mas a própria expe-
dição de Cabral. Foi Bartolomeu quem concebeu uma manobra chamada de “volta
do mar”, o percurso original que, afastando-se da costa africana, permitiu às naus
portuguesas escaparem da calmaria nas proximidades daquele litoral.
As grandes navegações:mapas, tábuas e instrumentos
que ajudaram a descobrir o Brasil2
“(...) a época legendária em que o infante D. Henrique cercou-se de alguns judeus
e moçarabes mais conceituados de então em náutica, cartografia e matemáticas,
até a Inquisição pôr tudo a perder.”3
2 Baseado em BLAJBERG, Israel; FURMAN, Jorge Bastos. Breve relato da contribuição de judeus
e cristãos-novos à cartografia, astronomia e navegação. Furman é engenheiro cartógrafo (UERJ,
1975), membro do AHJB e SGJB e engenheiro da CISCEA (Comando da Aeronáutica).
3 CARVALHO, Cel. Luiz Paulo Macedo. Colóquio Militar Luso-Brasileiro, Lisboa, 2002.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 17
Parsá era o nome dado pelos judeus para a antiga medida pasaranga egípcia
ou síria, sendo uma parsá igual a 4 milhas de 1.620 metros cada uma, totalizando
6.480 metros. A parsá judia de 4 milhas deu origem à légua de 4 milhas usada
pelos navegantes portugueses e espanhóis do século XV.
Contribuição de judeus à arte da navegação
ESPANHA
A seguir cita-se, resumidamente, as principais contribuições de judeus espa-
nhóis no campo da Astronomia, Cartografia e Navegação.
▶ ▶ Abenazara (ou Benazara), Judah (século XIV). Cartógrafo judeu sefardita.
Autor do Mapa do Mediterrâneo, típico da escola catalã-maiorquina de car-
tografia e de outros importantes mapas em 1500.
▶ ▶ Abravanel, Judá (1460-1521). Também conhecido como Leão Hebreu. Judeu
sefardita português. Médico, astrônomo, matemático e filósofo. Nasceu em
Lisboa e faleceu em Nápoles, Itália. Era filho de Isaac Abravanel, ministro
de Afonso V, o Africano, rei de Portugal, e posteriormente, devido a proble-
mas políticos, emigrou para a Espanha, tornando-se ministro de Fernão de
Aragão e Isabel de Castela, os Reis Católicos.
▶▶ Bar Hiyya, Abraham, o Savasorda (século XII). Astrônomo judeu sefar-
dita espanhol. Adaptou e traduziu para o hebraico a obra de Muhammad
ibn Musa al-Khwarizmi sobre o sistema numérico indiano, com o título de
Hibbur ha-Mechiba ve-ha Tichboret (Tratado da medida e do cálculo), intro-
duzindo na Europa os algarismos indo-arábicos. Em 1145, o texto hebraico
foi traduzido para o latim por Platão Tiburtino de Tívoli, sob o título de Liber
Embadorum.
▶ ▶ Bath, Adelardo de (1080-1152). Inspirado em Moisés Sefardi (Petrus Alfonsi),
escreveu no ano de 1140 a obra em latim Regulae Abaci, sobre tábuas de cál-
culo de números do sistema de algarismos indo-árabicos.
▶ ▶ Bocarro, António (1594-1642). Publicou, em 1635, a obra Livro das plantas
de todas as fortalezas, cidades e povoações do Estado da Índia Oriental.
▶▶ Daud, Abraão ibn (1110-1180). Astrônomo, filósofo e historiador judeu
sefardita espanhol. Influenciado pelo filósofo e médico árabe Avicena (ibn
Sinna, 980-1036), escreveu diversas obras. Completou, no ano de 1180, a sua
obra sobre Astronomia. Morreu martirizado em Toledo.
▶ ▶ Daud, Juan ibn (1090?-1165). Judeu sefardita espanhol. Também conhecido
pelos nomes de David Judaeus Avendaet de Toledo e Johannes Hispalensis; e
após a sua provável conversão ao cristianismo como João da Luna ou João de
Sevilha. Escreveu uma obra sobre o princípio do cálculo do sistema decimal
posicional, traduzida para o latim sob o título Liber Algorismi (de al-Khwa-
rizmi) de numero indorum de practica Arithmetica. Empregou pela primeira
vez os termos algarismo e algoritmo.
▶ ▶ Ezra, Abraham ibn (1089-1164). Judeu sefardita de Toledo. Astrônomo,
astrólogo, médico, poeta, teólogo e gramático. Viajou para a Itália, França,
20 Israel Blajberg
com exatidão sete tribos indígenas, além dos topônimos do interior e o curso
do rio São Francisco. Seus mapas registram a expansão no interior, de que são
Vicente e Santos serviram de base.
▶ ▶ Vizinho, Mestre José (século XV). Físico (médico) e astrólogo judeu sefar-
dita português do Rei D. João II. Natural de Covilhã. Discípulo de Abraham
Zacuto. Elaborou as tábuas de declinação solar para o regimento do astrolá-
bio; traduziu para o latim e castelhano a obra Almanach Perpetuum, escrita
em hebraico por Avraham Zacuto. Junto com o Mestre Rodrigo e Martim
Benhaim, foi coautor da construção de um astrolábio de madeira. Por ordem
do rei, esteve com ambos na Guiné, em 1485, para calcular a latitude do local,
comprovando a veracidade das tábuas de Avraham Zacuto, servindo de pre-
paração para as viagens marítimas de Bartolomeu Dias e de Vasco da Gama.
Esses estudos foram utilizados por Cristóvão Colombo, em 1492, na viagem do
descobrimento da América. Os historiadores Cecil Roth e Meyer Kayserling
identificaram-no como sendo o cristão-novo Diogo Mendes Vizinho.
HOLANDA
▶ ▶ Colon, Yaacov (século XVII). Cartógrafo judeu sefardita da Holanda. Autor
de um atlas marítimo.
▶ ▶ Iaacov, Abraham ben (final do século XVI). Cartógrafo judeu que viveu
em Amesterdã, onde elaborou o “Mapa do êxodo dos israelitas através do
Deserto do Sinai”.
▶ ▶ Musa al-Khwarizmi, Muhammad ibn (século IX). Bibliotecário persa do
Califa al-Mamun. Escreveu em 825 uma obra sobre o sistema numérico deci-
mal posicional indiano. Na Espanha, no século XII, foi adaptada pelo judeu
sefardita Abraham ben Hiyya de Barcelona, o Savasorda, com o título em
hebraico Hibbur ha-Mechiba ve-ha Tichboret (Tratado da medida e do cálculo).
Em 1203, Leonardo Fibonacci traduziu a obra de al-Khwarizmi para o latim
com o título de Liber Abbaci. Também escreveu uma obra sobre Geometria,
baseada no livro Mishná haMidot, do erudito judeu Neemias (século II). Do
nome al-Khwarizmi originou-se os termos algarismo e algoritmo.
ITÁLIA
▶ ▶ Anatoli, Jacob ben Aba (1194?-1246). Judeu sefardita nascido em Provença.
Pregador, tradutor e filósofo. Estabeleceu-se em Nápoles e, sob a proteção do
imperador Frederico II, traduziu para o hebraico os trabalhos astronômicos
e filosóficos árabes, principalmente os de Averroes, que mais tarde foram ver-
tidos para o latim.
▶ ▶ Meir Ha-Cohen, Yossef benYehoshua ben (século XVI). Historiador judeu
genovês. Autor de A crônica dos reis da França e dos sultões dos turcos oto-
manos, redigido em hebraico e publicado em 1554, atribuía a descoberta do
Novo Mundo a Américo Vespúcio.
▶ ▶ Sforno, Obadiah ben Jacob (1470-1550). Médico judeu sefardita italiano.
Escreveu obras de Geometria, Gramática e Filosofia.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 25
OUTROS PAÍSES
▶ ▶ Delmedigo, José Salomão Ber Elias (1591-1655). Judeu nascido na ilha de
Creta, de família alemã. Astrônomo, matemático e talmudista. Estudou
na Universidade de Pádua, Astronomia (com Galileu Galilei), Filosofia,
Matemática e Medicina. Viajou para o Egito, Turquia, Polônia, Alemanha,
Holanda e Boêmia. Escreveu diversos livros religiosos e científicos, tendo
sido compilados alguns desses escritos em Sefer Elim. Morreu em Praga.
▶ ▶ Gans, David ben Salomão (1541-1615). Judeu asquenazita polonês.
Astrônomo e historiador. Estudou em Cracóvia e se estabeleceu na cidade de
Praga, onde foi colaborador de Johannes Kepler e de Tycho Brahe. Publicou
um livro em hebraico denominado Nechmad ve-Naim, sobre problemas
astronômicos e matemáticos.
▶ ▶ Haim, Levi ben Abraham ben (1245?-1315). Erudito judeu sefardita francês.
Nasceu em Villefranche-de-Conflent, nos Pirineus Orientais. Astrônomo,
matemático, poeta e teólogo. Escreveu uma obra enciclopédica intitulada
Sefer Ha-Kolel ou Leviat Chen, dividida em duas partes ou colunas, sendo
uma denominada Yakin e a outra Boaz (nome das colunas do Templo de
Salomão). A primeira parte, Yakin, compõe-se de cinco seções que tratam de
Aritmética, Lógica, Geometria, Astronomia, Astrologia, Física e Metafísica.
A segunda, Boaz, trata de Teologia. Seus escritos astronômicos e astrológicos
estão fundamentados nos trabalhos de Cláudio Ptolomeu e de Abraham ibn
Ezra.
▶ ▶ Salomão, Gerson ben (século XIII). Erudito judeu sefardita francês. Escreveu
em hebraico o trabalho enciclopédico Shaar ha-Shamayim, sobre Ciência
Natural, Matemática e Astronomia.
▶ ▶ Tibon, Jacob ben Makhir ibn (1240-1308). Também conhecido como Don
Profiat. Astrônomo, médico, escritor e tradutor judeu sefardita. Nasceu em
Marselha, na França. Traduziu do árabe para o hebraico as obras de Euclides,
Averroes e Al-Gazali. Professor de Medicina na Universidade de Montpelier.
Suas Tabelas Astronômicas, elaboradas no ano de 1300, foram traduzidas
para o latim e usadas por Dante em Divina comédia.
▶ ▶ Tibon, Moisés ben Samuel ibn (1240-1283?). Escritor, tradutor e médico
judeu sefardita. Residiu em Marselha, na França e, traduziu do árabe para o
hebraico muitos livros filosóficos e científicos.
CAPÍTULO 5
Brasil: País de Imigrantes
A
presença judaica no Brasil data dos primórdios, com a chegada de Cabral,
em cuja armada já havia cristãos-novos, como nos ensina o Almirante
Max Justo Guedes. Eram também conhecidos como conversos, ou pejo-
rativamente marranos, na literatura hebraica “anusim”.
Nas décadas seguintes, muitos outros viriam nas expedições, às vezes até
como financiadores. O mesmo fenômeno aconteceu também com as expedições
de Colombo em 1492 e Hernan Cortés em 1519. Os cultores secretos da Lei de
Moisés vinham animados pela possibilidade de viver longe do ódio e da intole-
rância, e principalmente das garras da Inquisição, aliada às notícias das riquezas
do Novo Mundo. Nem todos se mantiveram fiéis à fé de seus ancestrais, e os
que haviam abraçado o cristianismo eram visados pela Inquisição, suspeitos de
serem judaizantes (judeus em segredo), “crime” para o qual correspondia a pena
de serem queimados vivos nas fogueiras. O terror inquisitorial certamente em
muito contribuiu para que as comunidades de conversos fossem desaparecendo,
até não restar mais indícios da tênue vida judaica. Apenas com o Marquês de
Pombal e a Abertura dos Portos este panorama iria se modificar.
Assim, a atual comunidade judaica brasileira não descende linearmente
daqueles pioneiros, cujo judaísmo latente foi se perdendo através das gerações.
Se a estes fosse dada a possibilidade de exercer livremente sua religião, é possi-
vel que hoje o número de judeus brasileiros fosse muitíssmo maior. Mas como
não foi isso que aconteceu, pouco a pouco os criptojudeus e os cristãos-novos
foram perdendo a identidade judaica. Assim, as origens dos atuais judeus brasi-
leiros são mais recentes, ou seja, correspondem a imigração procedente nos últi-
mos 200 anos de alguns polos principais, em diferentes levas vindas do Império
Otomano, Marrocos e a Europa, principalmente. Entretanto, o DNA daqueles
cristãos-novos de priscas eras permanece adormecido, possivelmente em boa
parte da atual população brasileira, em partes infinitesimais.
A raiz de tudo foi certamente a Diáspora Judaica, iniciada em 70 d.C. com a
destruição de Jerusalém pelos romanos, quando o povo hebreu se espalhou pelos
quatro cantos da terra.
Dispersos, os judeus mantiveram ao longo dos séculos uma ligação sedi-
mentada nos laços religiosos com a Torá (Bíblia) e com a Terra Santa, onde
27
28 Israel Blajberg
1 Palavra russa que significa ataque violento maciço a pessoas, com a destruição simultânea do
seu ambiente. Historicamente, a palavra pogrom é associada a ataques espontâneos ou preme-
ditados contra judeus. Um pogrom famoso foi o de Kishinev, na Rússia, em 1903, que inspirou
o grande poeta Bialik a escrever o poema “Na cidade da matança”.
2 HELLER, Reginaldo. Artigo: A partir de 1808 as portas do Brasil se abrem aos judeus.
30 Israel Blajberg
5 HOROVITZ, Eduardo. Idn in Brasil – an Aingartiker Ishuv, in Unzer Baitrag (em iídiche:
Judeus no Brasil – uma comunidade singular, nossa contribuição), 1956, Rio de Janeiro, citado
em Ziskind, Spitcovski, Zimberg, Gitelman e Leipziger – Pepitas a flor da Terra: fontes esque-
cidas para a História dos judeus no Brasil, Departamento de Cultura IÍdiche do AHJB, VI
Encontro do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, São Paulo, 2014.
32 Israel Blajberg
N
este capítulo, apresentamos o panteão virtual dos heróis brasileiros de
origem judaica. O panteão é constituído por militares e civis falecidos
em atos de guerra ou em serviço, e pelos militares condecorados por
atos de bravura em combate.
Militares e civis falecidos em atos de guerra ou em serviço
Neste primeiro levantamento, foram apurados nove nomes, sendo cinco de mili-
tares das três armas falecidos em serviço e quatro civis falecidos em combate ou
atos de guerra contra o Brasil.
Os postos dos falecidos incluem Tenente da Arma de Aviação do Exército,
Comissário de Marinha Mercante, Aluno do CPOR, Aspirante a Oficial Aviador
e Tenente Coronel Aviador.
Os civis pereceram por ocasião do torpedeamento de navios nacionais pelo
submarino nazista U-507, em 1942, no litoral da Bahia e Sergipe, e durante a
Revolução de 1932.
Este trabalho insere-se nos esforços para a maior divulgação do panteão vir-
tual dos heróis brasileiros de origem judaica, e adoção de medidas no sentido de
recuperar alguns dos túmulos, que não se revestem das devidas condições dese-
jáveis para perpetuar os atos heroicos daqueles bravos, e a possível construção de
monumentos ou instalação de placas em cemitérios e sinagogas, além da realiza-
ção de cerimônias anuais que sirvam de referência de cidadania para a comuni-
dade maior em geral e comunidade judaica brasileira in memoriam daqueles que
honrando o juramento, fizeram o sacrifício supremo da própria vida.
▶▶ José Preis (1932) – Voluntário da Revolução Constitucionalista
▶▶ José Zippin Grinspun (30 jan. 1939) – 1.º Tenente da Arma de Aviação do Exército
▶▶ Mauricio Pinkusfeld (17 ago. 1942) – 2.º Comissário de Marinha Mercante
▶▶ Alter Ber Zylbersztajn – Civil
▶▶ Nute Faiwel Zylbersztajn (1942) – Civil
▶▶ Jaime Sagorski (1942) – Civil
▶▶ Reiven Rosenthal (1942) – Aluno do CPOR/RJ
▶▶ Luiz Kanter (1945) – Asp. Of. Av.
▶▶ Oscar Grubman (1973) – Ten. Cel. Av.
33
34 Israel Blajberg
▶ ▶ Navio mercante Aníbal Benévolo, do Lloyd Brasileiro, torpedeado pelo submarino nazista U-507
na costa da Bahia em 16 de agosto de 1942, no qual o 2.º Comissário Mauricio José Pinkusfeld reali-
zou a sua primeira, última e única viagem. Crédito: n. d.
Suas histórias
▶ ▶ José Preis
José Preis era um jovem brasileiro israelita que cursava a Faculdade de Direito de
São Paulo, tendo sido incorporado ao início da Revolução no Batalhão Ibrahim
Nobre. Seguiu logo para a frente sul de combate, integrando-se no destacamento
do Coronel Pedro Dias de Campos. Foi um bravo. Mostrou, exuberantemente,
sua fibra patriótica, tal como seus colegas da faculdade. Não mediu sacrifícios
em benefício do ideal que servia. Sua morte foi trágica e sublime, combatendo
corpo a corpo com um oficial gaúcho, que também foi ferido. O trágico aconte-
cimento deu-se entre Salto Grande e Ourinhos, às margens do rio Pardo. A data
presumivelmente está entre 27 e 28 de setembro.1
▶ ▶ 1.º Tenente da Arma de Aviação do Exército José Zippin Grinspun
Aqui resumimos a história do Tenente Zippin, melhor detalhada no capítulo 25
– FAB – Aviação Naval e Aviação Militar. Em 30 de janeiro de 1939, ocorreu o
1 Cruzes paulistas, por especial gentileza do Coronel PMSP Mario Fonseca Ventura, Secretário
da Sociedade Veteranos de 32 – MMDC. No dizer do poeta Paulo Bomfim, a Bíblia do
Movimento Constitucionalista de 1932 é o livro Cruzes paulistas, editado em 1936. Um exem-
plar, presenteado a SV32-MMDC em 1966 por um veterano, foi cedido à Imprensa Oficial do
Estado para uma reedição. O livro traz as biografias dos que morreram em combate naquela
época, mais de 700 heróis de 32 que estão imortalizados no monumento Mausoléu do Soldado
Constitucionalista de 32, no Ibirapuera.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 35
primeiro acidente fatal envolvendo um V-11 no Brasil, ocasião que o avião matri-
culado 115, que era pilotado por Zippin Grinspun e Mr. Powell (piloto de provas
e demonstração da fábrica Vultee), colidiu com uma casa no bairro de Vila Isabel,
no Rio de Janeiro, quando realizava voos rasantes na região, acarretando a morte
dos seus dois tripulantes.
Nascido em 25 de setembro de 1910, natural do Paraná, Zippin foi matricu-
lado no Curso de Oficial Aviador da Escola de Aviação Militar em 30 de março
de 1935.
O então 2.º Ten. Zippin teve participação destacada na repressão ao levante
comunista da madrugada de 27 de novembro de 1935 na Escola de Aviação
Militar, onde servia, sendo elogiado nominalmente pelo Ten. Cel. Eduardo
Gomes, comandante do 1.º Regimento de Aviação, por ter se distinguido na
reação ao levante, e ainda conforme declaração de próprio punho firmada pelo
Brigadeiro Eduardo Gomes em 19 de agosto de 1948, para fins de melhoria de
pensão militar. Até esta ocasião, contava o mesmo com 365 aterragens e tempo
de voo de 172 horas e 39 minutos.
No elogio fúnebre, assim se manifestou o comandante do regimento
(trechos):
(...) o destino na sua implacável sentença quis deter a brilhante trajetória do
nosso inesquecível Ten. Zippin(...) aliava as qualidades de aviador intimorato
às de um bravo(...) ao lado do Cel. Eduardo Gomes constituiu o reduto inex-
pugnável à investida criminosa comunista(...) sua bravura e patriotismo(...) na
grandeza de seus atos(...) devotado soldado do dever.
2 Agressão – Documentário dos fatos que levaram o Brasil ▶▶ Retrato 3 x 4 de Mauricio Pinkus
à guerra. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943. feld na sua ficha da Escola de
3 BLAJBERG, Israel. Soldados que vieram de longe – Os 42 Marinha Mercante. CIAGA – Centro
heróis brasileiros judeus da 2.ª Guerra Mundial, p. 119- de Instrução Almirante Graça Ara
123. Resende-RJ: FIERJ/AHIMTB, 2008, 245 p. nha, na Av. Brasil, Penha/RJ.
36 Israel Blajberg
Os civis Alter Ber Zylbersztajn e Nute Faiwel Zylbersztajn, pai e filho caçula,
passageiros desaparecidos no naufrágio do N/M Itagiba ao largo da costa da
Bahia, afundado pelo submarino nazista U-507.4
O civil Jaime Sagorski, passageiro desaparecido no naufrágio do N/M
Araraquara ao largo da costa da Bahia, afundado pelo submarino nazista U-507.
Em 15 jun 1942, Hitler ordenou ao Comandante da Kriegsmarine,
Almirante Karl Doenitz, lançar uma blitz submarina no litoral brasileiro, em
represália à exportação de alimentos e matérias-primas estratégicas do Brasil
para EUA e Inglaterra. Mais de 30 navios mercantes seriam afundados, com a
nação lamentando o sacrifício de um milhar de preciosas vidas brasileiras ino-
centes. Foi empregada uma flotilha de 10 submarinos de 500 a 700 ton, baseados
na França ocupada, e mais um de reabastecimento, ao qual se agregaram mais
tarde unidades italianas.
Em apenas três dias, de 15 a 17 de agosto de 1942, foram torpedeados o
Baependy, Aníbal Benévolo, Araraquara, Itagiba e Arará; das 824 pessoas a bordo
dos cinco navios, três quartos desapareceram no mar: 607 patrícios inocentes,
4 Entrevistas com Dr. Salomon Binensztok e Arq Izaac Szulc, netos de Nute Faiwel Zylbersztajn
e sobrinhos de Alter Ber Zylbersztajn, jan. 2013, Rio de Janeiro-RJ.
5 DUARTE, Paulo de Queiroz (General de Exército). Dias de guerra no Atlântico Sul, p. 211-213
e 105-127. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1968, 367 p.
38 Israel Blajberg
sem nada puderem fazer, o esforço de Alter Ber, jovem de 18 anos, atlético
e bom nadador, mas que foi vencido pelas ondas ao tentar ajudar o pai Nute
Faiwel, ficando os dois entre os 36 desaparecidos do Itagiba. Lamentavelmente,
a Alemanha nazista acabava de assassinar judeus no Brasil, juntamente com
centenas de outros patrícios, numa versão reduzida do Holocausto que já vinha
ocorrendo na Europa sofrida.
Por incrível que pareça, os nazistas não se comoveram com a sorte dos náu-
fragos! Também o Arará, com as máquinas paradas, foi torpedeado logo em
seguida, tendo a bordo 15 sobreviventes que recolhera do Itagiba.
Como por milagre, uma hora depois surgiu o barco de madeira Aragipe,
que vinha de Ilhéus transportando cacau, recolhendo os novos náufragos, alguns
tendo escapado dos dois naufrágios, como foi o caso do então soldado do 4.º
GADo, Dálvaro José de Oliveira, hoje tenente, com 94 anos, antigo Presidente da
Associação Nacional dos Veteranos da FEB. Dálvaro todo ano comparece à ceri-
mônia recordatória no quartel do 21.º Grupo de Artilharia de Campanha, uni-
dade que sucedeu o 4.º GADo, sediada em Niterói-RJ. Dos 35 a bordo do Arará,
apenas 15 se salvaram. O U-507 afastou-se devido a aproximação do cruzador
Rio Grande do Sul, e de uma aeronave, permitindo o salvamento de 159 náu-
fragos. Também o saveiro Deus do Mar retirou da água muitos sobreviventes.
O U-507 estava avariado, com defeitos no tubo de torpedos e na câmara de sub-
mersão. Foi atacado por uma aeronave da USAF, reagindo com fogo de canhão.
Sua última vítima foi a barcaça Jacira, afundada com cargas de detonação.
No Aníbal Benévolo, desapareceu também um tripulante judeu, o 2.º
Comissário Mauricio José Pinkusfeld, de 18 anos, recém-saído da Escola da
Marinha Mercante. Foi a sua primeira, última e única viagem 6. A perda foi
imensa, uma tragédia. Apenas quatro dos 154 a bordo se salvaram.
A triste notícia dos cinco navios afundados caiu como uma bomba sobre a
população. Imediatamente as ruas foram tomadas pelo povo e pelos estudantes,
os caras pintadas da época, exigindo que o governo revidasse a brutal agressão.
A multidão em frente ao Itamaraty e os marítimos diante do Palácio Guanabara
clamavam por uma resposta ao ataque traiçoeiro e imotivado, tendo em vista
nossa terra tão dadivosa e tão hospitaleiramente acolhedora, até para os próprios
alemães.
Em resposta, o presidente Getúlio Vargas em seu discurso declarou que
“os agressores não ficariam impunes, com os bens dos súditos do Eixo no Brasil,
esta boa terra que lhes deu hospitalidade e onde fizeram fortuna sendo incorpo-
rados ao patrimônio do Estado; e que os quinta-colunistas, os espiões, traidores
dos interesses brasileiros, denunciantes da partida dos navios afundados, iriam
de enxada e picareta ao ombro, cortar estradas no interior do Brasil. O Brasil
defenderá as suas águas e trabalhará pela sua grandeza!”7
Por ter o empresário Adolfo Aizen intercedido junto a um amigo que tinha
sido Chefe de Polícia de Getúlio Vargas, foi dispensada a realização da autópsia,
visto ser proibida pela lei judaica.
Ele era primo do veterano Tenente Dr. Israel Rosenthal. A mãe do inditoso
aluno Reiven Rosenthal, D.ª Rebecca Aizen, havia falecido por ocasião do parto
de seu filho. A mesma era prima de Adolfo Aizen.
▶ ▶ Aspirante-Aviador Luiz Kanter8
Luiz Kanter nasceu na Rua Sant’Anna 14, em 6 de junho de 1926, na região da
então Praça XI judaica. Na certidão de nascimento constam os nome dos avós
paternos Luiz e Elza, e maternos, Hans Vigoder e Chaja Vigoder Wether, todos
lituanos.
Realizou estudos do admissão até a 4.ª série de 1937 a 1941, e a 5.ª série em
1942, no tradicional Colégio Anglo-Americano na Praia de Botafogo.
Foi matriculado no CPOR/Aer em 1.º de fevereiro de 1945, sendo promo-
vido de estágio em 25 de maio de 1945 e matriculado no 2.º Grupamento.
Sua história nos arquivos históricos da UNIFA, no Campo dos Afonsos,
termina com uma singela anotação em sua ficha – Desligado do CPOR/Aer por
falecimento.
Com pouco mais de 19 anos, em voo de treinamento na aeronave P-19-128
da FAB, ao executar a manobra “folha seca”, o motor não teve potência suficiente
para recuperar a estabilidade, determinando o impacto da aeronave no solo, em
23 de setembro de 1945, na praia de Maria Angú.
▶ ▶ 17 de agosto de 2012 – Tenente Israel Rosenthal (E.), Veterano da FEB, Tenente Dálvaro José de
Oliveira (D.), este último sobrevivente de dois naufrágios, do Itagiba e do Arará, e veterano da FEB.
Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 41
▶ ▶ 17 de agosto de 2012 – Local onde se realiza anualmente a cerimônia recordatoria dos Náufragos
no Quartel do 21 GAC em Niterói/RJ. Acervo do autor.
9 Dados do relatório do acidente disponível no CENIPA, fornecidos por Franz Matheus – Cel. Av
R1, Chefe da DIPAA, mediante autorização do Brigadeiro Diretor.
42 Israel Blajberg
▶ ▶ Túmulo do Major Aviador Oscar Grubman no Cemitério Israelita de Vila Rosaly (Novo), na Baixada
Fluminense/RJ. Acervo do autor.
10 Alocução alusiva ao Jubileu de Ouro da Turma Sai da Reta por Manuel Cambeses Júnior – Cel.
Av. Ref. Aluno 61-238. Barbacena/MG, 18 mar. 2011.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 43
7.º Grupo de Artilharia de Dorso (7.º GADo), atual 7.º Grupo de Artilharia de
Campanha, em deslocamento do Rio de Janeiro/RJ para Olinda/PE. Filhos e
parentes de desaparecidos e sobreviventes também comparecem para prestar
mais uma homenagem a memória dos entes queridos, inocentes vÍtimas de uma
ideologia equivocada, contra a qual o Brasil iria se levantar em armas, enviando
25 mil dos seus melhores filhos para o Teatro de Operações Europeu, uma faça-
nha que ainda hoje seria admirável.
A cerimônia é singela mas significativa. O Comandante do 21 GAC, Ten.
Cel. Lima, recorda aquela história fantástica, de bravura e desprendimento diante
da tragédia. O Comandante da Artilharia Divisionária e Guarnição Federal de
Niterói, Gen. Faillace, presta uma emotiva homenagem, ele que no início da
década comandou o próprio 7.º GAC de Olinda.
As palavras de ordem são respondidas pela tropa em uníssono, trazendo de
volta o eco refletido pelas montanhas que circundam o aquartelamento. Jovens
soldados entoam a “Canção do Expedicionário”, desfilam com garbo, mesmo os
recém-incorporados. Jovens com a fibra do soldado brasileiro que doravante o
serão, até o dia em que tiverem que deixar o quartel, do qual jamais se esquecerão.
O desfile é magnífico, o pavilhão nacional e os estandartes tremulando ao
vento. As baterias com suas flâmulas vão se distanciando e passam ao lado do
nicho onde Santa Bárbara inspira e protege os artilheiros.
O Toque de Silêncio corta os ares, enquanto ao longe se ouvem apenas as
turbinas dos aviões distantes. Nesses momentos, nos perguntamos por que tan-
tos inocentes tiveram que pagar com a própria vida pelos desvarios de um dés-
pota. Mas se nem ao próprio Patriarca Moisés o Eterno se permitiu dizer por
que seu Povo sofria, também nós, simples mortais, jamais teremos esta resposta.
Os velhos artilheiros recordam pensativos os irmãos de armas não mais
aqui presentes e aqueles que não voltaram. Não existe consolo, mas suas almas
se elevaram pela certeza de que um mundo melhor passaria a existir. Seu sacrifí-
cio não foi em vão. Derrotadas as tiranias, uma nova era de democracia e liber-
dade despontou com a Vitória. Três anos depois, uma pesada barragem de fogo
da Artilharia da FEB contra as tropas alemãs encerraria a resposta às agressões
sofridas pelo Brasil, com a perda de mais de um milhar de preciosas vidas de
inocentes nos torpedeamentos.
A cerimônia vai terminando. Imersos em pensamentos, todos retornam ao
mundo do dia a dia, deixando as recordações do passado... Velhos Artilheiros,
cumpriram seu dever, honrando a memória da nossa gente. Simplesmente
foram soldados do Exército de Caxias, da artilharia de Mallet, a bradar o eterno
e sagrado comando, que ecoou em Tuiuti, Fornovo di Taro, e agora em Niterói e
Olinda, o Brasão d’Armas do Marechal Mallet (Patrono da Artilharia Brasileira):
Peça, Fogo!!!
Peça Atirou!!!
“Ma Force d’en Haut”
Minha Força vem do Alto
CAPÍTULO 7
Bandeirantes
S
egundo a eminente Prof.ª Anita Waingort Novinsky1, uma das maiores
autoridades mundiais em marranismo e estudos dos cristãos-novos, há um
mistério em torno da vida de Raposo Tavares, bandeirante paulista que
expandiu as fronteiras brasileiras às custas dos domínios espanhóis. Entretanto
pesquisas recentes acrescentaram um fato novo à história dos bandeirantes: sua
possível origem judaica, da qual não se conhecem ainda muitos detalhes. Há
relatos que afirmam que ele avançava em nome da lei de Moisés, contestando
jesuítas, opressão e fanatismo. Afinal, ele e muitos bandeirantes possuíam, efeti-
vamente, parentes presos nas terríveis prisões da “Santa Inquisição”.
A documentação dos inquisidores sobre os hereges brasileiros era enviada
ao Provincial da Companhia de Jesus, isso desde a primeira visitação de 1591.
Os bandeirantes eram mencionados como judeus, sob epítetos como corsários
e facínoras.
Antônio Raposo Tavares, o Velho, nasceu em 1598, em São Miguel de Beja,
Alentejo, de origem judaico-portuguesa, tendo falecido em 1658 em São Paulo.
Filho de cristãos-novos, chegou ao Brasil em 1618 com o pai, Fernão Vieira
Tavares, designado capitão-mor governador da Capitania de São Vicente em
1622. Era assim preposto do Conde de Monsanto, donatário da Capitania de São
Vicente. A mãe era Francisca Pinheiro da Costa Bravo.
Com a morte do pai mudou-se a Vila de São Paulo no planalto de Piratininga,
passando a integrar expedições para a Captura de índios. Raposo foi criado no
Alentejo natal pela madrasta, Maria da Costa, que observava em segredo as fes-
tas e tradições judaicas. Capturada pela Inquisição com outros parentes, confes-
sou-se culpada sob tortura, do “crime de judaísmo”.
Raposo tinha 18 anos ao chegar em São Paulo. Em 1628, expulsou os jesu-
ítas do Paraguai e incorporou as terras conquistadas ao Brasil. Além de atacá-
-los, ainda destruía suas igrejas e imagens. Como se sabe, o judaísmo é uma
47
48 Israel Blajberg
religião sem ícones. Um acaso evitou que Raposo fosse entregue à Inquisição:
a revolução que dividiu Portugal e Espanha. A ordem real acabou ficando em
aberto.
Em 1647, Raposo trilhou uma das maiores expedições realizadas, desbra-
vando a América do Sul e estendendo as fronteiras do Brasil. “Herói de uma
das mais famosas façanhas de que guarda memória a história da humanidade”
– assim o descreveu Julio de Mesquita Filho. Jaime Cortesão coloca Raposo
Tavares como um dos homens que construíram o Brasil.
A mais longa Bandeira de Limites (1648 a 1651) foi empreendida por
Raposo Tavares, explorando as bacias dos rios Paraná, Paraguai e Amazonas,
até alcançar Gurupá, na confluência do rio Xingu com o delta do rio Amazonas,
onde havia um forte erguido pelos holandeses no início do século XVII.2
O Exército muito adequadamente deu a denominação histórica de Regimento
Raposo Tavares ao 4° Batalhão de Infantaria Leve – 4.º BIL, anteriormente 4.º
Batalhão de Infantaria Blindada – 4.º BIB) e 4.º Regimento de Infantaria – 4.º RI,
de Quitaúna, Osasco/SP, cujo quartel se situa em terras outrora pertencentes ao
bandeirante Raposo Tavares.
É oportuno ainda registrar um descendente remoto do bandeirante
Raposo Tavares, o Coronel Amerino Raposo, tendo completado 90 anos em
20 de janeiro de 2012. Conceituado pensador militar e membro da AHIMTB,
▶ ▶ Brasão do Regimento Raposo Tavares – 4.° Batalhão de Infantaria Leve – 4.º BIL, de Quitaúna –
Osasco/SP, cujo quartel se situa em terras outrora pertencentes ao bandeirante Raposo Tavares.
Extraído do sítio da 12.ª Brigada de Infantaria Aeromóvel. Disponível em: <www.bdaamv.eb.mil.br/
conteudo.php>
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 49
▶ ▶ 4 de maio de 2013 – Estátua de Raposo Tavares no Museu Paulista da USP. Acervo do autor.
Introdução1
C
om a instalação da Inquisição em Portugal, muitos judeus fugiram
em direção ao norte, para a França, Inglaterra e Holanda. E quando a
Companhia das Índias Ocidentais decide enviar uma frota de navios com
o objetivo de se fixar na Capitania de Pernambuco, muitos judeus se oferecem
para participar da expedição, também como milicianos. O calvinismo se dife-
renciava do catolicismo porque não matavam seus inimigos de fé. No Brasil,
esses judeus se juntaram a outros que chegaram ainda durante o século XVI,
período do descobrimento e dos primeiros colonizadores, e se tornaram cria-
dores de gado e proprietários de terras plantando cana-de-açúcar. Um deles era
Duarte Saraiva, dono de cinco engenhos e de casas na antiga Rua dos Judeus,
uma das quais ao lado daquela onde vivia com a família e transformada na sina-
goga Kahal Tzur Israel.
No século XVII, os holandeses invadiram o Nordeste. No Brasil Holandês
os judeus puderam então prosperar, na indústria do açúcar e sob a liberdade de
crença – em 1636 construindo a primeira sinagoga das Américas, a Kahal Zur
Israel (Comunidade Rochedo de Israel) em Recife, a capital holandesa Maurícia,
formada por judeus portugueses que vieram de Amsterdã, onde até hoje existe a
sinagoga de rito português.
15 de fevereiro de 1630 marcou o início da invasão holandesa com o bom-
bardeio do Recife pela esquadra do Almirante Hendrick Loncq, formada por 50
navios e 7 mil homens a soldo da Companhia das Índias Ocidentais, iniciando
o breve período de 24 anos do Brasil Holandês. Em 19 de abril de 1654, eles
foram derrotados e expulsos. Assim, em 2014, decorreram 360 anos da data que
o Exército Brasileiro escolheu para comemorar o seu dia. Marca também os 360
anos da imigração judaica do Brasil para Nova Iorque, o que foi condignamente
1 MELLO, José Antônio Gonsalves de. Gente da Nação. Revista do Instituto Arqueológico,
Histórico e Geográfico Pernambucano, Recife, v. 51, 1979. MOURA, Hélio Augusto de. Presença
judaico-marrana durante a colonização do Brasil. Cadernos de Estudos Sociais, Recife, v. 18, n.
2, p. 267-292, jul./dez. 2002.
51
52 Israel Blajberg
3 Com subsídios do paper de Arnold Wiznitzer, Jewish Soldiers in Dutch Brazil (1639-1654),
AJHS – American Jewish Historical Society, PAJHS XLVI, set. 1956, p. 40-50.
4 MELLO, José Antonio Gonsalves de. Tempo dos flamengos. Rio de Janeiro, 1947, p. 57.
54 Israel Blajberg
Conclusão
Foi, portanto, no Brasil onde se formaram as primeiras unidades militares judai-
cas combatentes desde a tomada de Jerusalém e da Terra Santa pelas legiões
romanas de Tito, com a queda do Templo em Jerusalém, no ano 70 d.C., e a
consequente dispersão dos judeus pelo mundo, gerando a diáspora.
Eram soldados e marinheiros judeus que falavam português, pois eram
portugueses, emigrados para Amsterdã e de lá vindos para o Brasil. Pela pri-
meira vez em 16 séculos, judeus pegavam novamente em armas em defesa da
▶ ▶ Frente e verso de fragmento de artefato metálico identificado durante as escavações nas proxi-
midades dos sepultamentos. Observar ícones judaicos no artefato. Foto cedida por: A. Pessis, A. C.
P. T. Ramos, A. M. Pereira Filho, G. Martin, I. P. da Costa, M. X. G. de Matos, S. F. S. M. da Silva, S. Ferraz.
Participação especial de Tânia Kaufman e GustavoWanderley, do Núcleo de Pesquisa do Acervo
Histórico Judaico de Pernambuco. AHJPE – Kahal Zur Israel.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 59
▶ ▶ 2014 – Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, fundada pelos judeus que partiram do Brasil em 1654
após a expulsão dos holandeses. Verdadeira catedral judaica, imensa, profunda, janelas altas, até
hoje iluminada por velas, sem utilizar a luz elétrica. Nela pregou o primeiro Rabino do Brasil, Isac
Aboab da Fonseca, que em 1675 construiu a sinagoga monumental, à feição do Templo de Salomão
em Jerusalém, a maior do mundo na época. Abriga a biblioteca Etz Haim, a Árvore da Vida, mais
antigo repositório judaico existente. O coro da sinagoga entoa até hoje cânticos luso-judaicos. A
língua portuguesa está presente em placas e inscrições, e nos livros de orações. Acervo do autor.
8 SILVA, Marco Antônio Nunes da. O Brasil holandês nos cadernos do promotor: Inquisição de
Lisboa, século XVII. – São Paulo, 2003. 393 p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo.
60 Israel Blajberg
▶ ▶ 2012 – Mapa do Teatro de Operações Pernambucano da Guerra Brasílica contra a Holanda inva-
sora. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 61
tropa não era integralmente formada de brasileiros, pois havia além dos indíge-
nas, negros escravos e portugueses.
Note-se ainda que, em fevereiro de 1641, a restauração do trono português,
com Portugal e Holanda aliando-se em guerra com a Espanha deveria trazer
como consequência natural à cessação de hostilidades no Brasil. Com efeito,
celebrou-se um armistício de 10 anos, em que Portugal reconhecia a conquista
pela Holanda dos territórios de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, e
os batavos se comprometiam a não expandir suas ações para outras áreas.
Apesar do armistício – desrespeitado por ambos os lados –, os pernambu-
canos mantiveram a luta contra os invasores. D. João IV, rei de Portugal, velada
e modestamente, manteve o apoio aos insurgentes nordestinos. De Salvador foi
enviado o sargento-mor Antônio Dias Cardoso, exímio especialista em com-
bate de guerrilhas, com a missão de organizar e treinar secretamente o exército
luso-brasileiro, fortalecido com as tropas do índio Felipe Camarão e do negro
Henrique Dias.
Assim, a revolta que expulsou os holandeses foi motivada essencialmente
pelos antigos portugueses senhores de engenho, que perderam suas terras para
os invasores, e as queriam de volta. Aceitar que portugueses, índios e negros
teriam se unido em condições de igualdade e fraternidade para expulsar o inva-
sor holandês convive com verdades históricas irrefutáveis, como a caça aos
índios nos sertões, o tráfico negreiro e a continuidade de índios e negros como
cidadãos de segunda classe após a restauração do domínio lusitano, apesar da
dita “nacionalidade forjada”.
▶ ▶ 2012 – Vista do PHNG – Parque Histórico Nacional dos Guararapes, no local onde se desenroloram
as 1.ª e 2.ª batalhas, vendo-se ao fundo os prédios ao longo da praia. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 63
▶ ▶ 2012 – Ten. Cel. Carlos Daroz, professor do CMR faz uma apresentação no modelo reduzido do
Mirante do PHNG para a comitiva de antigos alunos do CPOR participantes do XIV ENOREx. Acervo
do autor.
Esta tese, de que os invasores foram expulsos pela união heroica de portugue-
ses, índios e negros foi revista por Evaldo Cabral de Mello, em sua obra O negócio do
Brasil (Cia. das Letras), na qual prova que os portugueses entregaram em pagamento
63 toneladas de ouro para que os batavos deixassem Pernambuco. Especialista em
Brasil Holandês e História de Pernambuco, em outubro de 2014 o conceituado his-
toriador e diplomata de 78 anos, irmão de J. C. de Mello Neto (1920-1999), foi eleito
para a vaga de João Ubaldo na Cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras.
O Brasil independente veio, pois, a surgir apenas 168 anos depois da expul-
são dos holandeses, em 7 se setembro de 1822.
Especulações poderiam ser levantadas a partir da hipótese de uma eventual
derrota portuguesa. Um Brasil colonial holandês teria sido melhor? Se judeus
não tivessem partido do Recife para a Nova Amsterdã, hoje a cidade poderia ser
uma Nova Iorque?
Fica a avaliação ao prudente critério do leitor.
9 BLAJBERG, Israel. Notas de viagem a Recife por ocasião do XV ENOREX 2013 e lançamento
de Soldados que vieram de longe.
64 Israel Blajberg
10 MELLO, José Antonio Gonsalves de. Gente da Nação: cristãos-novos e judeus em Pernambuco,
1542-1654. Recife. Fund. Joaquim Nabuco, Ed. Massangana, 1989. 552 p.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 65
Comentários11
No Brasil Holandês, já em 1637, a população judaica se tornara tão numerosa
que conseguiu arrendar espaço para duas sinagogas, onde os cultos públicos
foram celebrados. Como exemplo da tolerância religiosa, consta que no exército
regular holandês havia uma milícia na qual os judeus eram isentos da guarda
aos sábados, em deferência aos seus “escrúpulos de consciência”. Tinham, entre-
tanto, que pagar uma certa quantia por este privilégio.
Ocupavam importante posição na indústria açucareira e na arrecadação de
impostos (63% dos negócios de arrecadação no Brasil Holandês)
Os resultados da pesquisa de Anita Novinsky mostram que havia cristãos-
novos ao lado dos holandeses, como havia cristãos-velhos, porém em número
incomparavelmente menor do que do lado dos portugueses, e que os cristãos-
novos educados na Bahia constituíam um elemento cultural diferente daque-
les educados no judaísmo na Holanda ou daqueles que viviam na comunidade
judaica do Recife. Cristãos-novos e velhos teriam apoiado a causa holandesa
ou portuguesa não por motivos religiosos ou políticos, mas, principalmente,
econômicos.12
Ante a contínua ameaça dos holandeses, o governador pediu aos senhores
de engenho e lavradores mais ricos que construíssem por sua própria conta bar-
cos para ajudar a socorrer os engenhos do Recôncavo, pois a Coroa não estava
em condições de fazê-lo e, havendo ataque, os senhores de engenho deviam
acudir a cidade com esses barcos e ainda com negros e remeiros. Encontramos
diversos cristãos-novos atendendo ao pedido do governador, além de Mateus
Lopes Franco e Diogo Ulhoa, e ainda Domingos Alvarez de Serpa, Antônio Dias
de Morais, Diogo Correa do Sande etc. (Novinsky, na obra citada, p. 126-127)
13 Oração de posse do Cel. Claudio Skora Rosty na Academia de História Militar Terrestre do
Brasil.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 67
N
a Marinha do Império, Leão Amzalak foi o primeiro judeu de que se
tem conhecimento, filho de Isaac Amzalak, da Bahia, e irmão das três
beldades – Simy, Esther e Mary Roberta – que Castro Alves imortalizou
em alguns de seus poemas.
Leão sentou praça como Aspirante em 1879; acompanhou seu colega de
turma o príncipe Dom Augusto na visita a Portugal, a bordo do encouraçado
Solimões. Segundo-Tenente em 1886, Primeiro-Tenente em 1889, foi transferido
para a reserva em 1894, devido à sua participação na Revolta da Marinha.
Em 1900, era Capitão-Tenente, servindo na Biblioteca da Marinha e no
Museu Naval, ingressando depois na Marinha Mercante.
O sobrenome Amzalak é de origem berbere ou árabe, significando “Calvo”,
este muito comum entre judeus sefarditas e cristãos-novos.
Isaac Amzalak, judeu português, chegou à Bahia entre 1829 e 1832, para aber-
tura de uma filial da firma Amzalak & Irmão, provavelmente localizada em Lisboa.
Homem muito rico, rapidamente adquiriu projeção na sociedade da Bahia, tendo
entre seus amigos mais próximos o Marquês de Paranaguá e o Barão de Cotegipe.
Escreveu um memorial narrando o cerco à cidade da Bahia durante a
Guerra da Sabinada e suas ações em favor das forças da lei e da Revolução de
7 de novembro de 1837. O memorial foi reeditado por volta de 1924, no Rio de
Janeiro, com a permissão de seu neto, Dr. Isaac da Costa Mesquita.
Casou-se na Bahia com Hannah Levi, aos 29 do mês de Av de 5604, pelo
calendário judaico, correspondendo a 14 de agosto de 1844.
O casal residia em uma bela casa com grande varanda na rua Sodré. Quis
o destino que fossem vizinhos de Castro Alves, que encantado com a beleza das
filhas do casal, escreveu poemas memoráveis inspirado nelas, um hino à beleza
da mulher judia, como “Hebreia”.
1 Com subsídios de D.ª Frieda Wolff, Abecassis, Eng. José Maria, Genealogia Hebraica em 5
volumes, Lisboa, 1990 e PERNIDJI, Joseph Eskenazi: A saga dos cristãos-novos, Rio de Janeiro:
Imago, 2005, 216 p.
69
70 Israel Blajberg
Isaac Amzalak fez amigos na Corte Imperial, visitando o Rio de Janeiro com
frequência.
O Jornal do Commercio de 6 de junho de 1871 registrou a notícia de um
“Appello” à população da cidade para ajudar os judeus perseguidos pelo czar da
Rússia, assinado por uma comissão de seis eminentes israelitas. De acordo com o
editor, era a prova do grande espírito ecumênico da população do Rio de Janeiro.
O coração judaico de Amzalak não lhe permitia esquecer os sofrimentos de seus
irmãos, cruelmente assassinados nos pogroms da Rússia.
Depois de relatar os suplícios dos infelizes judeus russos, continua o apelo:
“O único modo, pois, de mitigar os sofrimentos dos israelitas – que, na Rússia,
depois de terem consumido a vida no trabalho honesto, tomando parte na comu-
nhão de boas obras sempre que a humanidade o exigia, agora foram forçados a
deixar ali tudo quanto possuem, menos de que pode dispor qualquer sectário de
qualquer religião – é socorrê-los pecuniariamente”.
▶ ▶ Mary Roberta Amzalak, a musa de Castro Alves, uma das três filhas de Isaac Amzalak.
Foto extraída de publicação do casal Egon e Frieda Wolff.
72 Israel Blajberg
A morte pressentida
Pouco tempo depois de ter composto essa belíssima poesia, Castro Alves viria a
falecer, vítima de tuberculose pulmonar, em uma época em que não havia tra-
tamento eficaz para combater a doença. Apesar de ter morrido bastante jovem,
com apenas 24 anos, conseguiu produzir uma das mais expressivas obras poé-
ticas em língua portuguesa, onde se destacam “Navio negreiro”, que serviu de
bandeira para a causa abolicionista, “Hebreia”, uma ode ao amor, e “Mocidade e
morte”, em que pressentia a chegada do fim nos pungentes versos “Eu sei que vou
morrer. Dentro em meu peito um mal terrível me devora a vida”...
não parecia assim tão difícil. Entrou em contato com o ramo dos Amzalak que
residia em Três Corações e que guardava, com muito carinho, antigas fotos de
família. Contemplou uma das imagens, amarelecida pelo tempo, e foi logo per-
guntando, assim meio de sopetão: “Qual dessas pessoas era a musa de Castro
Alves?”. Todos apontaram para o rosto de uma bela jovem e, em uníssono, res-
ponderam: “Essa era a paixão secreta do poeta!”. Estavam se referindo a uma das
três filhas de Isaac Amzalak, de nome Mary Roberta – Mary Roberta Amzalak,
a musa de Castro Alves
CAPÍTULO 10
O Exército no Império
O
s efetivos do Exército eram pequenos, mercê, entre outras causas, do
êxodo dos militares portugueses que integravam suas fileiras. Carecendo
de completar o efetivo do Exército, o imperador fez uso de mercenários,
comuns à época, particularmente para lutar no Prata. Criou, em 8 de janeiro de
1823, o 1.º Regimento de Estrangeiros, composto de Estado-Maior, um batalhão
de granadeiros e dois batalhões de caçadores, com 834 homens cada. Em 1825,
foi criado o 2.º Batalhão de Granadeiros.
O recrutamento era problemático. Para entrar no Exército as praças deve-
riam ser de “raça pura”, ou seja, brancos. Os pardos e negros só serviam nas
Tropas Auxiliares (Milícias e Ordenanças), as quais foram extintas posterior-
mente para que o parlamento criasse a Guarda Nacional, “uma organização mili-
tar que, ao contrário das antigas forças auxiliares coloniais, não era subordinada à
administração central, o controle da tropa era dado aos juízes de paz”.
As preferências se estendiam aos oficiais: “No fim do Primeiro Reinado,
apesar da Independência e do retorno para a Europa de um grande número de
oficiais portugueses, dos 44 generais em serviço no Exército, apenas 16 deles, um
pouco mais de um terço, eram brasileiros”. Os brasileiros eram, em sua maioria,
limitados ao posto de Capitão. A preferência era entrar na Guarda Nacional.
Conforme sua lei de criação, as corporações deveriam ser organizadas
e subordinadas às autoridades locais. Seu serviço de pessoal era obrigatório e
abrangia os homens maiores de 18 anos que tivessem renda superior a 200 mil
réis, com exceção dos militares de terra e mar, as autoridades locais, os maiores
de 50 anos, os reformados da Marinha e do Exército e os inaptos para o serviço.
Cabe ressaltar que os que não quisessem fazer parte dessa força militar podiam
indicar substitutos de boa procedência. Em 10 de setembro de 1860, outro
Decreto-Lei referente à Guarda Nacional foi promulgado, com a determinação
de que todos os cidadãos filhos de estrangeiros que possuíssem renda superior a
200 mil réis eram obrigados a servir na Guarda Nacional.1
1 NASCIMENTO, Luiz Augusto Rocha. Preparação logística para a Guerra da Tríplice Aliança: A
organização do 1.º Corpo do Exército Imperial Brasileiro. Trabalho de conclusão de Curso de
Especialização em História Militar – UNIRIO/IGHMB.
75
76 Israel Blajberg
Contraiu núpcias por duas vezes com distintas damas argentinas de reli-
gião católica, uma delas Rudecinda de Los Ríos, continuando na sua religão.
Durante 14 anos (1895-1898 e 1904-1915) dirigiu os destinos da primeira orga-
nização comunitária judaica, da qual era cofundador, a Congregação Israelita da
Argentina.4
Em 1894, havia presidido a Sociedade do Cemitério Israelita Chevra Kadisha
(sociedade funerária), e em 1897 aderiu à primeira entidade sionista constituída
no país. Pertenceu também à Maçonaria.
Faleceu aos 83 anos, como servidor do Estado, ocupante de elevado cargo
na Administração Pública. Como judeu observante, dispôs expressamente que
seus funerais fossem realizados sob o estrito rigor ritual do culto israelita.
A
Guarda Nacional foi uma força paramilitar organizada por lei no Brasil
durante o período regencial, em agosto de 1831, para servir de “sentinela
da constituição jurada”; e desmobilizada em setembro de 1922.
Em 1864, a Guarda Nacional consistia em 212 comandantes superiores e
um grande quadro de oficiais. Contava com 595.454 praças, distribuídos na arti-
lharia, cavalaria, infantaria e infantaria da reserva. Em contraposição, o exército
regular nessa época contava com 1.550 oficiais e 16 mil praças.
Durante a Guerra do Paraguai, a Guarda Nacional teve participação impor-
tante, haja vista que do efetivo total de cerca de 123 mil soldados, 59.669 seriam
provenientes da Guarda Nacional.
A Guarda Nacional foi perdendo espaço com o advento da República, cuja
instalação se deu por conta do Exército, historicamente oposto à Guarda.
Foi transferida em 1892 para o Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
Em 1918, passou a ser subordinada ao Ministério da Guerra, através da orga-
nização do Exército Nacional de 2.ª Linha, que constituiu de certo modo sua
absorção pelo Exército. Sua última aparição pública foi no 7 de setembro de 1922,
quando do desfile pela independência do Brasil na cidade do Rio de Janeiro,
marcando aquele, também, o ano de sua oficial desmobilização.
A Guarda Nacional tinha por missão legal “defender a Constituição, a liber-
dade, a independência e a integridade do Império”. Todo homem livre com mais
de 18 anos, possuidor de um certo patrimônio, pertencia à Guarda, mas a ascenção
hierárquica dependia da posição social da família, e da renda compatível com a taxa
cobrada para promoção aos altos postos do oficialato, o que possibilitava somente
aos capitalistas, grandes fazendeiros e altos funcionários, chegarem a major,
tenente-coronel e coronel. Os famosos coronéis que dominaram a política do país.
Este modo de escolher os comandantes nos municípios e nas províncias – pela
influência da família, do partido, da pressão social – e o pagamento das patentes é
que, nos seus últimos anos, tornaram a Guarda Nacional menos respeitável.
1 DONATO, Hernani. História dos usos e costumes do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 2005, p.
287, 304.
79
80 Israel Blajberg
2 Com subsídios de WOLFF, Egon e Frieda, Jornal Israelita, Rio de Janeiro, 5/4/79. Arquivo do
autor.
82 Israel Blajberg
▶ ▶ 1864 – Tenente-Coronel da Guarda Nacional da Corte, Francisco Leão Cohn. Acervo de Frieda Wolff.
84 Israel Blajberg
Exmo. Sr. – Desculpe-me V.ª Ex.ª que eu aproveito esta ocasião para lhe
pedir uma vez se dignar conceder-me a sua proteção, sem ela, o que será de mim
e fiado é que eu marchei.
V.ª Ex.ª lembra-se que me prometeu que me ia dar promoção posto de
Coronel, estou quase convencido que esta hora, tal tem sido a sua bondade, que
lhe devo desde já agradecer-lhe esta graça.
Felizmente tenho a glória de dizer a V.ª Ex.ª que os Srs. Comandantes e
Oficiais do Corpo da Linha procuram ser-nos úteis, já com instrução, já com
outro trabalhos – e com essa coadjuvação muito tenho conseguido.
Meus Oficiais estão extremamente contentes e satisfeitos – sofrem com a
maior resignação todos os incômodos, como se a eles já estivessem habituados.
Daqui a 2 meses assegurou a V.ª Ex.ª não terei vergonha de apresentar o meu
Batalhão onde quer que seja – A S. Majestade o Imperador ao saber estas minu-
ciosidades julgo ser-lhe há muito satisfatório. Por isso muito pedia a V.ª Ex.ª o
especial favor de patentear ao tão Augusto Monarca estas lisonjeiras novas.
Desculpe-me V.ª Ex.ª, que assim tomei parte do precioso tempo de que V.ª
Ex.ª dispõe, e ansioso aguardo as suas ordens.
Deus guarde V.ª Ex.ª
3 GIORGIS, Cel. Luiz Ernani Caminha. Os Corpos de Voluntários da Pátria: sua estruturação,
organização e atuação na Guerra do Paraguai.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 85
▶ ▶ Fuzileiro da Guarda Nacional; ao fundo, bandeira do Império. Foto de capa do n.º 82 de O Tuiuti.
5 Entrevista com o neto do Cap. Leão Zagury, Dr. Leão Zagury, em seu consultório de Ipanema,
em 1.º de fevereiro de 2011.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 87
▶ ▶ Cerca de 1908 – Capitão Leão Zagury. Foto extraída do livro Personagens ilustres do Amapá, de
Coaracy Sobreira Barbosa.
em Macapá, Bailique e Mazagão. Dez anos depois de uma vida agitada, montou
seu estabelecimento comercial, onde vendia de tudo. Casou-se com a jovem Sarah
Roffe, natural de Tânger, Marrocos, filha do abastado comerciante Abrahão Roffe.
Dessa união nasceram Isaac, pai do médico Leão Zagury, renomado endocrinolo-
gista no Rio de Janeiro, Esther, José, Eliezer, Issac, Syme, Meryan, Abrão, Moisés e
Ana. Isaac possuía uma concessionária Ford em Macapá, e dois outros filhos vie-
ram para o Rio de Janeiro estudar. Naturalizou-se brasileiro em 13 de outubro de
1904. Recebeu a patente de Capitão da Guarda Nacional em 13 de agosto de 1905.
D.ª Sarah, sua esposa, naturalizou-se brasileira em 5 de outubro de 1945. O Capitão
Leão Zagury teve uma atuação importante em Macapá, fazendo parte do grupo
formado pelos Coronéis Coriolano Jucá, José Serafim Gomes Coelho, José Antônio
Siqueira, o jornalista Mendonça Júnior do jornal Pizonia e uma plêiade de ilustres
militares. Fundou a primeira farmácia com o primeiro farmacêutico amapaense,
seu filho José Zagury; colaborou com o padre Júlio Maria Lombaerd na fundação
da escola infantil, do internato feminino e do teatro. O Capitão Leão Zagury faleceu
repentinamente no ano de 1930, deixando marcada a sua passagem na história do
Amapá como um homem de bem e ilustre personagem do então território federal.6
O esteio maior dos judeus no Amapá foi plantado por Leão Zagury, que lá
chegou com sua esposa Sara Roffé Zagury7 em fins do século XIX oriundo de
Marrocos, chegando a receber patente de Capitão pela defesa do solo brasileiro
na Fortaleza de Macapá, marco histórico da conquista portuguesa na Amazônia.
Seu diploma da Guarda Nacional, com data de 13 de agosto de 1906 está exposto
no museu daquela cidade.
▶ ▶ Carta-patente assinada pelo Presidente da República Affonso Penna atestando a nomeação por
Decreto, de 13 de agosto de 1906, de Leão Zagury para o posto de Capitão Assistente da 6.ª Brigada
de Infantaria da Guarda Nacional da Comarca de Macapá do Estado do Pará. Foto cedida pelo Dr.
Leão Zagury, neto do Capitão Leão Zagury.
▶ ▶ Capa do Livro de Registro dos Oficiais da Guarda Nacional de Macapá, aberto em 28 de julho de
1871. Foto cedida pelo Dr. Leão Zagury, neto do Capitão Leão Zagury.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 89
▶ ▶ Página de abertura do Livro de Registro dos Oficiais da Guarda Nacional de Macapá. Foto cedida
pelo Dr. Leão Zagury, neto do Capitão Leão Zagury.
▶ ▶ Registros da 6.ª Brigada de Infantaria da Guarda Nacional de Macapá. Foto cedida pelo Dr. Leão
Zagury, neto do Capitão Leão Zagury.
90 Israel Blajberg
▶ ▶ Registro da carta-patente do Capitão Leão Zagury no livro próprio. Foto cedida pelo Dr. Leão
Zagury, neto do Capitão Leão Zagury.
▶ ▶ Anos 50 – Governador Janary Gentil Nunes e outros visitantes com a família Zagury nas dependên-
cias da fábrica do Flip Guaraná. Identificados por Sarah Zagury: da esquerda para direita – a tia Meriam
(hoje com 93 anos), o pai Isaac Zagury, a avó Sarah Rofféh Zagury, o Coronel Janary Nunes, o tio Zeca
(José Zagury) e a tia Ester. Dos demais integrantes conseguimos reconhecer à direita (na porta da
fábrica atrás do visitante de bigode) o Sr. Otaciano Bento Pereira (bem novo) e mais à direita, olhando
por trás do visitante de calça preta e de óculos, o Dr. Hildemar Pimentel Maia. Ao fundo, o barracão de
madeira da fábrica do Flip Guaraná. Foto cedida por Sarah Zagury para o blog João Lázaro.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 91
▶ ▶ 2 de julho de 2013 – Tania e Leão Zagury lançam juntos os livros infantis O menino e o macaco
Caco e O jacaré que comeu a noite, em 23 de junho de 2013 na Livraria da Travessa do Shopping
Leblon, Rio de Janeiro/RJ. Foto do jornal ALEF.
92 Israel Blajberg
Em 2014, foi eleito pelo Amapá para o Senado Federal David Samuel Alcolumbre
Tobelem. Além do ilustre Major Eliezer Moisés Levy, prefeito de Macapá, alguns
foram eternizados em logradouros como a rua Isaac Alcolumbre, alameda Abraão
Peres, Aeroporto Alberto Alcolumbre e Trapiche Major Eliezer Levy.9
Ao neto do Cap. Leão Zagury devemos a recuperação da memória de seu
avô, levantando a documentação alusiva à Guarda Nacional. Homônimo do avô,
Dr. Leão Zagury é um conhecido médico especializado em diabetes no Rio de
Janeiro.
Presidente da UISGH
1968-1970 – General Aarão Benchimol
1988-1990 – General Abrahão Ramiro Bentes
REVOLUÇÃO DE 1924
N
a madrugada de 5 de julho de 1924, irrompeu em São Paulo, capital, a
chamada Revolução de 1924, contra o governo do presidente Arthur
Bernardes. Algumas tropas mais tarde se uniram aos revoltosos gaú-
chos e formaram a Coluna Miguel Costa/Prestes que durante dois anos marchou
através do Brasil.
Os revoltosos procuraram reforçar suas forças com o concurso de imigran-
tes europeus, de preferência veteranos da 1.ª Guerra Mundial, conforme se con-
cluiu da História da Revolução de 1924 na História do Exército Brasileiro – Perfil
Militar de um Povo, publicado em 1972, v. 3, p. 905/919 e no livro A noite das
grandes fogueiras, de Domingos Meireles (Ed. Record, 1995).
Dos 122 que teriam se alistado no Batalhão Húngaro, 13 seriam oficiais com
alguma experiência em combate. A colônia húngara de São Paulo era de cerca de
6 mil habitantes, distribuídos nos bairros da Lapa e Vila Pompeia.
O Batalhão Alemão foi localizado próximo ao Batalhão Húngaro, e passou a
ser denominado Batalhão Patriótico da Colônia Alemã, possuindo 650 homens,
sendo 200 alemães e 80 italianos. Os restantes 370 eram brasileiros. Alguns eram
apenas descendentes de imigrantes, e provavelmente havia entre eles alguns
judeus, ficando esta nota como lembrete para futuras pesquisas.1
REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932
Salve, M.M.D.C.
[Martins, Miragaia, Drausio, Camargo]
Por nós tombastes, pelo direito,
A glória de Deus vos dê,
Por nosso sangue derramado,
no céu láurea de heróis.
93
94 Israel Blajberg
2 Este extenso texto sobre José Preisz é de autoria de Emeric Lévay, juiz do Tribunal de Alçada
Criminal do Estado de São Paulo e professor na Faculdade Direito da Universidade Mackenzie.
Ver: LÉVAY, Eméric. Leitura, São Paulo, Universidade Mackenzie, 11 ago. 1992.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 95
de 1932. Entre eles, o estudante húngaro José Preisz, que morreu num encontro
com as forças federais em Salto Grande, na fronteira no Paraná.
Para perpetuar a memória dos estudantes da faculdade de Direito do Largo
de São Francisco que tombaram na Revolução de 1932, ergueu-se em seu pátio
um monumento de granito negro e mármore branco, completado por um pedes-
tal encimado com uma cabeça de soldado em bronze dourado, cuja face anterior
reproduz os versos de Tobias Barreto:
Quando se sente bater
no peito heroica pancada
deixa-se a folha dobrada
enquanto se vai morrer.
III – MMDC
A vida acadêmica, contudo, se agita na fase de turbulência política nacional. A
chamada “causa de São Paulo” – que postula na autonomia do tocante à escolha
de seus governantes, a par da campanha pelo restabelecimento do regime consti-
tucional interrompido pela Revolução de 30 – assumia, nas praças, nos comícios,
destacando-se a palavra inflamada de Ibrahim Nobre, que reclama uma defini-
ção das autoridades.
A crise atinge o clímax na noite de 23 de maio de 1932, quando a população,
em delírio nas ruas, festejando a notícia da formação de um novo governo esta-
dual, “genuinamente paulista e tirado da frente única”, é recebida à bala pelos legio-
nários de Miguel Costa, dando origem à Sociedade MMDC, tirada do nome das
primeiras vítimas fatais: Mário Martins de Almeida, Euclides Buenos Miragaia,
Dráusio Marcondes de Souza e Antonio Américo de Camargo Andrade. A sigla
não compreendeu o nome de uma quinta vítima, Orlando de Oliveira Alvarenga,
que faleceu posteriormente no Hospital Santa Rita, no dia 12 de agosto.
IV – Militância política
José Preisz não se mostra indiferente à reação popular. Juntamente com outros
colegas reclama da prisão do Coronel Joaquim Thedompo Godoy Vasconcelos
no Rio de Janeiro, que serviu na 2.ª Região Militar de São Paulo. Assina um
documento dirigido ao presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, além de
participar da formação da Liga Pró-Constituinte, no dia 11 de junho, conforme
se pode verificar de sua assinatura na lista de presença dos alunos.9
Nas ruas, o movimento constitucionalista avança, com o fortalecimento pela
união entre o Partido Democrático e Republicano, até a eclosão da Revolução de
9 de julho, sob a chefia do Coronel Euclides Figueiredo, e apoio da força pública,
comandada pelo Coronel Júlio Marcondes Salgado, seguindo-se a mobilização
da primeira tropa civil no Largo de São Francisco.
José Preisz engaja-se no movimento, alistando-se no batalhão que leva o
nome do tribuno da Revolução – Ibrahim Nobre – e segue para o Sul, onde se
localizava os dois eixos naturais de penetração entre a paulista Itarare e Ribeira,
servido de duas estradas, uma de ferro e outra de rodagem, na direção de
Itapetininga, a pouca distância de Sorocaba, que seria o palco de sangrento com-
bate, e cuja sorte, afinal, favoreceu as tropas governamentais vindas do Paraná
sob o comando do General Waldomiro de Castilho Lima.
V – Combate fatal
Foi ali, no Distrito de Salto Grande, então comarca de Santa Cruz no Rio Pardo,
que José Preisz caiu mortalmente ferido numa emboscada, vindo a falecer às
8 horas da manhã do dia 23 de setembro, quando circulavam na Frente Norte
VI – Homenagem
Antes do reinício das aulas, a congregação da faculdade, juntamente com a dire-
toria, mandou celebrar missa de réquiem em sufrágio à sua alma no pátio da
escola12, e o primeiro mestre a falar dos estudantes mortos na Revolução foi o
professor Cândido Mota, ouvindo-se em seguida a palavra eloquente do pro-
fessor Pinto Ferreira, que também participou do movimento como um simples
soldado, e do acadêmico Dário Ribeiro Filho, em nome dos alunos.
A imprensa acadêmica tarjou-se de luto: A Balança, em seu número 18, que
circulou em novembro de 1932, presta significativa homenagem aos estudantes
Nélio Guimarães, José Preisz, Agemiro Silvestre e Ary Fernandes, que tomba-
ram na luta, em artigo assinado por Arnaldo Barbosa e Alexandre Barbour. A
Tribuna Liberal, sob o título “Nossa luta”, relata com pormenores os destinos de
cada um, inclusive o de José Maria D’Azevedo, cujos nomes somados aos de dois
outros companheiros – César Penna Ramos e Hermes de Oliveira César – viriam
a receber a luz perene da lâmpada votiva que ilumina o monumento plantado no
coração da velha academia, à sombra das Arcadas, símbolo do sacrifício de suas
vidas por um ideal.13
Na matzeiva (lápide tumular em hebraico) de Preisz no Cemitério Israelita
de Vila Mariana, Q1 R8 n.º 133, lê-se em húngaro: “Orokke. Gyaszol. Anyad.
Hugod, Sogorod.” (Lembrança eterna da mãe, irmã e irmão).
10 Assento de óbito de José Preisz lavrado no livro C-21 fls. 47-v, do Cartório de Registro Civil de
Santa Cruz do Rio Pardo; pesquisado pelo Dr. Manoel Renê Nunes, a pedido do autor.
11 O Estado de S. Paulo, edição de 16 de outubro de 1932, 1.ª página.
12 O Estado de S. Paulo, edição de 5 de outubro de 1932, p. 3, sob o título “Anúncio Fúnebre”. Idem
na edição de 6 de outubro, p. 3.
13 O prefeito Jânio da Silva Quadros, por sugestão do autor destas linhas, referendada pela
Sociedade Veteranos de 32 – MMDC, assinou o Decreto nº 24.763, de 14 de outubro de 1987,
dando o nome de José Preisz a uma rua do Bairro da Saúde.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 99
Isaias trabalhou em diversos locais, sua vida foi repleta de mudanças e adap-
tações. Não prosseguiu na carreira militar, mas formou-se em Administração e
especializou-se em Organização e Métodos.
Após o falecimento da esposa, mudou-se para o Lar Mauricio Seligman da
Sociedade Israelita Rio-Grandense.14
▶ ▶ Senhoras voluntárias da organização feminina israelita, com pacotes de materiais médicos para
envio às tropas paulistas durante a Revolução de 1932. Fonte não determinada.
100 Israel Blajberg
qualquer auxílio que fosse necessário. Também resolvem anunciar nos jornais
O Estado de São Paulo e Diário da Noite pedindo aos israelitas donativos para a
Cruz Vermelha Brasileira. Ainda por proposta da Sr.ª Mindlin, ficou resolvido
fazer capuzes para os soldados. As próprias senhoras da Sociedade fizeram 949
capuzes, que foram entregues à Cruz Vermelha.
Outras instituições, como a Ezra e a Loja Moses Mendelsohn da B’nai B’rith,
também se mobilizaram, mostrando, segundo o jornal San Pauler Idische Tzeitung
que “toda a comunidade israelita está participando deste grande movimento”.
Depoimentos
O Núcleo de História Oral do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro tem em seu
acervo várias entrevistas que mencionam a Revolução Constitucionalista de
1932, das quais destacamos os seguintes depoimentos:16
Ida Coulicoff Gotlieb – nascida em 21 de setembro de 1911 (21 anos)
“Na Revolução em 32, eu e minha irmã Rosa levávamos cigarros para os solda-
dos. Nós coletamos cigarros – fomos em várias fábricas –, sempre na companhia
do meu pai. Íamos nas fábricas e depois íamos levar nos quartéis – junto com
meu pai, sempre na companhia dele – nós levávamos cigarros para os soldados.
Nossos soldados, não é?”
Sender Fishiman – nascido em 8 de setembro de 1915 (17 anos)
“Em 1932 eu estudava no Ginásio Oswaldo Cruz, que ficava na Rua Marquês
de Itu. Então eu fazia o serviço militar, que era o Tiro de Guerra, e meu irmão
também, embora ele não estivesse estudando na mesma escola. Nós fazíamos
instrução juntos. No dia 9 de julho rebentou a Revolução. Nessa ocasião, apela-
vam para que os jovens do Tiro de Guerra se apresentassem para ir pra briga lá
na Serra da Mantiqueira, onde dezenas e dezenas de jovens morreram, dezenas
vieram sem pernas, sem braços... Sabe por quê?”
Sjoma Casoy – nascido em 26 de dezembro de 1923 (8 anos)
“Naquela época, morávamos na Rua do Glicério – não muito longe tinha um
quartel. Nós tínhamos um armazenzinho de secos e molhados e alguns soldados
às vezes vinham até lá tomar alguma coisa. Meu pai, que tinha sido soldado
na Rússia, todo dia ele ia para o quartel, desmontava, montava, arrumava... E
minha mãe ficava na loja.”
Luiz Sterman – nascido em 1.º de agosto de 1914 (17 anos)
“Quando eu estava no quarto ano do Ginásio, em 1932, estourou a Revolução
aqui. Eu tinha 17 anos e como naquela ocasião a gente andava cheio de ideais,
▶ ▶ O Tenente José Gutman é o terceiro da direita para a esquerda, em grupo de revoltosos do 3.º RI
na Praia Vermelha – Rio de Janeiro/RJ. Fonte não determinada.
104 Israel Blajberg
Introdução
O
s judeus têm uma grande tradição naval. Como se sabe o cristão-novo
Gaspar da Gama aqui chegou nas caravelas de Cabral, e o chamado Pai
da Escola de Sagres, Abraham ibn Ezra, um dos primeiros integrantes
da escola, estabelecida pelo infante Dom Henrique, desenvolveu os primeiros
instrumentos para navegação que possibilitaram a descoberta do caminho marí-
timo para as Índias e as grandes navegações portuguesas, como a descoberta
do nosso Brasil. Nos capítulos iniciais desta obra, tecemos outras considerações
sobre o assunto, alinhando a seguir as biografias de alguns bravos integrantes da
Marinha do Brasil naquele período difícil da Segunda Guerra Mundial.
107
108 Israel Blajberg
Nos períodos letivos dos anos 1956, 1957 e 1958, no Hospital Naval Marcílio
Dias, o médico Capitão de Mar e Guerra Dr. Edídio Guertzenstein supervisio-
nou um Setor Experimental (pesquisa científica), treinando técnicos para anes-
tesia e endoscopia peroral em cães, e em 1959 foi diretor do Departamento de
Cirurgia – no Laboratório de Técnica Operatória e Medicina Experimental da
Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (hoje UNIRIO).
Recebeu diversas condecorações, nacionais e estrangeiras, incluindo-se a
Ordem do Mérito Naval.
Promovido a Capitão de Mar e Guerra, solicitou transferência para a reserva,
no posto de Contra-Almirante.
Autor de livros sobre cirurgia pulmonar, Edidio Guertzenstein foi presidente
da FIERJ – Federação Israelita do Rio de Janeiro, no período de 1965 a 1968.
Faleceu em 28 de junho de 1978, estando sepultado no Cemitério Israelita
de Vila Rosaly, Rio de Janeiro/RJ.
▶ ▶ Boris Chigris
Boris trabalhou num navio socorro, um rebocador de alto-mar assistindo os
navios na costa brasileira do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul e, mais tarde,
cardiologista, no Hospital Marcílio Dias, servindo com Amihay Burlá – depois
Almirante e diretor do Hospital Central da Marinha, onde também serviram
Marcus Blank, urologista, Luís Blank, anestesista, e Drs. Mink e Brenner, car-
diologistas como Boris, que foi, no final da carreira, transferido para Brasília,
fundando na então nova capital o primeiro hospital da Marinha e convidado a
ser médico cardiologista do presidente Médici.
Fé de Ofício:
Nascido no Rio de Janeiro aos 20 de maio de 1933
1.º Ten. em 4 de janeiro de 1960
CT em 5 de fevereiro de 1936
CC em 5 de março de 1969
▶ ▶ 2.º Tenente Melchisedech Affonso de Carvalho
O Ten. Melchisedech é um dos mais jovens veteranos vivos. Quase um menino ainda,
alistou-se na Escola de Aprendizes Marinheiros de Fortaleza, no mesmo tempo em
que seu irmão, o Maestro Eleazar de Carvalho, alistava-se no Corpo de Fuzileiros
Navais. Mel, como é carinhosamente conhecido, é filiado à ARI – Associação
Religiosa Israelita, em cujo Kabalat Shabat está invariavelmente presente, colabo-
rando sempre com associações de veteranos, FIERJ e outras entidades dentro e fora
da comunidade judaica, em atividades voltadas para a cidadania e benemerência.
Nascido aos 16 de novembro de 1928, em Fortaleza/CE, filho de D.ª Dalila
M. de Carvalho, descendente de índios tabajaras, e do Capitão do Exército e
pastor presbiteriano, Manoel Afonso de Carvalho.
Fez o curso de grumete na E.A.M Almirante Batista das Neves em Angra
dos Reis.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 111
▶ ▶ O Ten. Melchisedech (de paletó branco e calça preta bem atrás do Ten. Israel Rosenthal) parti-
cipa da aposição de coroa de flores no busto do Marechal Mascarenhas, Comandante da FEB pelos
Veteranos. O Gen. Cesário, Comandante Militar do Leste, está ladeado pelo Ten. Rosenthal e o Gen.
Campello, antigo comandante do Regimento. Acervo do autor.
112 Israel Blajberg
▶ ▶ 2014 – Prof. Israel Blajberg, Diretor-Secretário da Associação dos Veteranos Ten. Melchisedech
Afonso de Carvalho e Almirante Médico Roberto Becman durante o tradicional almoço dos vete-
ranos, no Espaço Varanda do restaurante O Navegador, no Clube Naval – Rio de Janeiro, promo-
vido pela Associação dos ex-combatentes do Brasil – Seção Rio de Janeiro, reunindo veteranos da
Marinha do Brasil, FEB, FAB, Marinha Mercante, Forças do Litoral, Forças de Paz e Nações Amigas
Aliadas, extensivo aos amigos e familiares.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 113
O
Cmt. Tissenbaum nasceu em 4 de julho de 1926, filho de Chuna Karlos
Tissenbaum e Eva Grinberg Tissenbaum, ambos judeus ucranianos de
Kamenetz Podolski, aqui chegados em 1925.
Estudou nos tradicionais colégios Pedro II e Andrews.
Foi declarado Guarda-Marinha Fuzileiro Naval na Turma Beauclair, tendo
cursado a Escola Naval de 1943 a 1945. É ex-combatente por ter servido em zona
de guerra.
Morava na Praça da Bandeira, sua família tinha poucos recursos. Sua
entrada na Escola Naval foi difícil e desestimulada pelo próprio Comandante, o
qual, em conversa com seu pai, recomendou que o jovem Benjamim estudasse
engenharia, pois era bastante preparado, entretanto, ele não desistiu e acabou
conseguindo seu intento.
A Viagem de Instrução não se realizou devido à guerra, e o jovem
Tissenbaum foi servir em Ladário/MT, na 1.ª Cia Regional de Fuzileiros Navais.
Concluiu vários cursos, como o de eletrônica, no qual o primeiro classifi-
cado um dia viria a ser o presidente da Telebras e Ministro das Comunicações,
Cmt. Euclides Quandt de Oliveira, falecido recentemente em Petrópolis/RJ.
Frequentou ainda o Curso de Comando da Escola de Guerra Naval – EGN,
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais – EsAO do Exército, na Vila Militar – Rio
de Janeiro, e o Communications Course, em Quantico, Virginia, EUA.
Dedicou-se aos esportes, vôlei no Botafogo e natação no Vasco da Gama.
Casou-se na Argentina em 1973, tendo uma filha, Virginia (Bassia).
Serviu no Centro de Instrução do Corpo de Fuzileiros Navais (CICFN) na
Ilha do Governador, atual CIASC, o precursor dos modernos fuzileiros de hoje
em dia. Entre seus comandantes, houve vários Comandantes-Gerais do Corpo
de Fuzileiros Navais, assinalados com (*):
▶▶ (*) CMG (FN) Heitor Lopes de Sousa – 28/2/1961 a 4/1/1962
▶▶ (*) CMG (FN) Roberval Pizarro Marques – 1/º/4/1964 a 5/1/1966
▶▶ CMG (FN) Benjamin Tissenbaum – 20/8/1968 a 4/6/1971
▶▶ (*) CMG (FN) Carlos de Albuquerque – 4/6/1968 a 24/12/1971
115
116 Israel Blajberg
▶ ▶ 2012 – CMG FN Benjamin Tissenbaum e sua esposa, na residência no Jardim Botânico. Acervo do
autor.
▶ ▶ Imagem 10 – Casamento de Isaac Aaron Benchimol e Oro Dueña (Ordueña) Cohen. Acervo da
família.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 119
▶ ▶ 1960 – Casamento da filha do Gen. Aarão Benchimol, em 1960, no Rio de Janeiro. À esquerda, o
então Primeiro-Tenente Isaac Benchimol, irmão da noiva. Acervo da família.
▶ ▶ Túnel de aço formado pelos colegas de turma à saída do Grande Templo Israelita – Rua Tenente
Possolo n.º 8, próximo à Pça. Cruz Vermelha. Acervo Cmt. Mário Edelman.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 123
▶ ▶ Beber do cálice de vinho puro faz parte do ritual do casamento. Acervo Comte Mário Edelman.
124 Israel Blajberg
F
ilho de Moisés Burlá, natural de Jerusalém e de Fortunné Burlá, de Galipoli,
Turquia, nascido a 10 de abril de 1925, faleceu aos 30 de julho de 2003.
Casado com D.ª Maria Helena Burlá, natural de Minas Gerais, enfermeira
diplomada. Era irmão de Eliezer Burlá, presidente da FIERJ, Jacob Burlá, presi-
dente da Sinagoga Beth-El e Jayme Burlá, médico.
Estudou no Colégio Hebreu Brasileiro da Tijuca e Colégio Pedro II.
Inicialmente pretendia ser engenheiro, participava das Olimpíadas de Matemática
do famoso Professor Malba Tahan, do Colégio Mello e Souza. Posteriormente
desejou ser médico inspirado por ter seu avô falecido por falta de socorro.
Foi interno da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do
Brasil e da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro no biênio 1949-1950.
Comissionado 1.º Tenente Médico aos 15 de julho de 1952, atingiu o posto de
Capitão de Mar e Guerra aos 31 de abril de 1973. Contra-Almirante em 31 de
março de 1980 e Vice-Almirante em 31 de março de 1986. Passou para a reserva
aos 31 de março de 1988.
Serviu no contratorpedeiro Amazonas, no cruzador Barroso, CIAT-Natal.
Cursou a Escola de Guerra Naval – EGN.
Recebeu diversas distinções, entre as quais sócio honorário da ABOMI –
Associação Brasileira de Odontologia Militar, sócio titular da Academia Brasileira
de Medicina Militar, Cidadão Honorário de Houston, Personalidade Ilustre de
Nova Friburgo, Honra ao Mérito do Conselho Nacional de Farmácia, Medalha
Mérito Tamandaré, Medalha do Pacificador, Medalha Santos Dumont, Ordem
do Mérito Judiciário Militar, Ordem de Rio Branco e as Ordens do Mérito Naval
(Grande Oficial), Militar e da Aeronáutica (Comendador).
Era um marinheiro nato, cirurgião torácico, serviu em Natal, Nova Friburgo
e Rio de Janeiro, HNMD no Lins de Vasconcellos.
Foi diretor do Sanatório Naval de Nova Friburgo e do Hospital Central
da Marinha na Ilha das Cobras, e Diretor de Saúde da Marinha, o posto mais
125
126 Israel Blajberg
▶ ▶ 1986 – Diretor de Saúde da Marinha – Vice-Almirante Médico Amihay Burlá. Acervo da família.
▶ ▶ 1986 – Diretor de Saúde da Marinha – Vice-Almirante Médico Amihay Burlá recebido em audiên-
cia pelo Papa João Paulo II no Vaticano. Acervo da família.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 127
▶ ▶ 1986 – Diretor de Saúde da Marinha – Vice-Almirante Médico Amihay Burlá em seu gabinete.
Acervo da família.
128 Israel Blajberg
▶ ▶ 1986 – Diretor de Saúde da Marinha – Vice-Almirante Médico Amihay Burlá recebendo as honras
de estilo. Acervo da família.
3 ROCHA, Sonia Fonseca. O Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD) – referência no tratamento
de vítimas de acidentes radioativos.
4 Depoimento da sua secretária D.ª Iaraci Casaes Lamenha Lins, servidora civil da Marinha de
1952 a 1989. Revista Marítima Brasileira, jan. 2004.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 129
▶ ▶ Capitão de Mar e Guerra (Médico RM1) Dr. Alexandre Cherman ao receber a Medalha Mérito
Tamandaré. Acervo pessoal.
132 Israel Blajberg
▶ ▶ Capitão de Mar e Guerra (Cirurgião-Dentista RM1) Dr. Sergio Prais, na Escola Naval. Acervo pessoal.
A
o iniciar este capítulo, que registra uma das mais relevantes contribui-
ções, seja numérica seja qualitativa da Comunidade Judaica Brasileira à
Marinha, queremos registrar a epopeia dos Sinais de Barroso, que apesar
do tempo decorrido desde que aqueles jovens pela última vez envergaram o hon-
roso uniforme branco, certamente ainda acompanha esses antigos marinheiros,
e lhes serve de inspiração:
CIORM1– Legislação
Os CIORM foram criados pelo Decreto-Lei n.º 9.851 de 13 de setembro de 1946,
sendo colocado em funcionamento o do DF pelo Aviso n.º 2.890, de 24 de novem-
bro de 1951. Seus primeiros comandantes foram o CF Ernesto de Mello Batista
(que assumiu em 10 de dezembro de 1951), CC Arnaldo de Negreiros Jannuzzi,
CF Gualter Maria Menezes de Magalhães, CF André Estefano Guimarães e CF
Lourival Monteiro da Cruz. O primeiro viria a ocupar o cargo de Ministro da
Marinha no Governo Castello Branco.
Extrato do Decreto n.º 32.765 – Rio de Janeiro, 13 de maio de 1953; 132.º
da Independência e 65.º da República. Getúlio Vargas e Renato de Almeida
135
136 Israel Blajberg
a) que é brasileiro nato ou por opção, comprovada neste caso, pelo docu-
mento de opção;
d) que tem idoneidade moral para a situação de futuro oficial;
e) que foi vacinado ou revacinado contra varíola há menos de seis meses;
f) que é aluno de estabelecimento de ensino superior, ou que já cursou, cursa
o 2.º ano dos cursos Clássico, Científico, ou 2.º ano do 2.º ciclo Comercial ou
Técnico de Colégio oficial ou equiparado.
Art. 17. Os candidatos aprovados e classificados serão matriculados pelo
Comandante do CIORM, em um dos três cursos, considerando-se:
a) a Faculdade que o candidato frequenta, ou pretende frequentar, ou sua ati-
vidade na vida civil.
b) a preferência do candidato.
Art. 21. Não é permitida a transferência de alunos de um curso para outro.
Art. 22. Não serão admitidos alunos ouvintes.
Art. 26. Anualmente, a cada aluno será atribuído um grau de aptidão para o
oficialato, conferido por uma junta de oficiais do CIORM. O grau de oficialato
será dado numa escala de zero a dez e o julgamento se fará como preceituado
no Regimento Interno.
Parágrafo único. O aluno que tiver grau de oficialato inferior a quatro será
excluído do CIORM.
Art. 31. Só é permitido aos alunos repetirem um ano.
Art. 32. Os Guardas-Marinha da Reserva inabilitados em assuntos do Estágio
de Adaptação prestarão um exame oral do assunto três meses após a primeira
inabilitação. Se inabilitados neste exame oral, serão demitidos.
Do regime disciplinar:
Art. 35. Os alunos do CIORM, tanto no estágio Escolar como no de adap-
tação estarão sujeitos ao Código Penal Militar, e as penas estabelecidas no
Regimento Interno.
Parágrafo único. Quando embarcados ou aquartelados, estarão sujeitos ao
Regulamento Disciplinar para a Armada.
Art. 37. Os alunos dos CIORM terão os seguintes direitos:
a) o direito às horas e sinais de respeito que lhes forem aplicáveis pelo
Regulamento de Continência, Honras e Sinais de Respeito da Forças Armadas;
b) tratamento gratuito nos hospitais e demais estabelecimentos de saúde da
Marinha, quando vítimas de moléstia durante o curso, ou acidentados na ins-
trução ou no serviço;
c) transporte gratuito quando em serviço ou instrução;
d) alimentação por conta do Estado, quando embarcados, ou aquartelados.
Art. 38. Os alunos não perceberão vencimentos, vantagens ou quaisquer gra-
tificações enquanto no Estágio Escolar; durante o Estágio de Adaptação, como
138 Israel Blajberg
▶ ▶ Vista aérea da Ilha das Enxadas, na Baía da Guanabara, onde está instalado o CIAW, e onde funcio-
nou o CIORM e a EFORM. Foto extraída de www.mar.mil.br.
140 Israel Blajberg
O CIAW situa-se na Ilha das Enxadas, com cerca 50 mil m², entre edifi-
cações, áreas de esportes e muita fauna e flora. O ensino é ministrado para os
cursos de formação, serviço militar inicial, curso de especialização e aperfeiçoa-
mento, para oficiais de diversos Corpos e Quadros da Marinha.
ADEFORM – Associação dos Diplomados da Escola de
Formação de Oficiais da Reserva da Marinha
Em 9 de dezembro de 1971 foi constituída a Associação dos Antigos alunos da
EFORM, em sessão solene no Theatro Municipal, com a presença dos governadores
Chagas Freitas da Guanabara e Raimundo Padilha do Estado do Rio; Alm. Adalberto
de Barros Nunes, Ministro da Marinha; Alm. José Uzeda de Oliveira, Comandante
do 1.º Distrito Naval; Alm. Julio de Sá Bierrenbach, Comandante do CIAW; Alm.
Rubem de Matos, Diretor da Escola Naval; General Almir Castro Neves, represen-
tando o Gen. Bina Machado, Comandante do I Exército; e Monsenhor Francisco
Bessa, representante de Dom Eugênio Salles, Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro.
A sessão revestiu-se de grande pompa no Theatro Municipal, sendo apre-
sentada então a ópera Madame Butterfly, como homenagem à nossa gloriosa
Marinha. Desde 1953 até 1971, o CIORM havia formado quase mil oficiais.
À época, o governador do Rio de Janeiro cedeu para sede da nova entidade
o prédio da Rua das Marrecas n.º 27, justamente ao lado da atual sede da Casa da
FEB, que está até hoje no n.º 35.
Congregando cerca de mil antigos alunos, seu primeiro presidente foi o
Deputado Joaquim Affonso Mac Dowell Leite de Castro, vice-presidente Mário
Henrique Simonsen, secretário-geral jornalista Arnaldo Niskier, primeiro secre-
tário José Carlos de Mello Ourivio, segundo secretário Paulo Noemio Xavier
da Silveira, tesoureiro Alexandre de Médici, diretor de relações públicas Marcos
Pereira Vianna, e membros do Conselho Fiscal Pedro Calmon Filho, Sergio
Cabral de Sá, Dalmar Santos (titulares), José Carlos Pecegueiro Rangel, Julio
Raphael Aragão Bozzano, Tomaz Francisco Leonardo (suplentes). Notam-se
nomes conhecidos de personalidades destacadas na vida nacional, ministros, pre-
sidentes de bancos estatais e privados, ilustres juristas, engenheiros e jornalistas.
Na ocasião foi lida a Ordem do Dia baixada pelo Ministro da Marinha,
Alm. Adalberto de Barros Nunes. Seus estatutos foram publicados na coluna
Ministério da Marinha – Comandos Navais – 1.° Distrito Naval, do DO de 15 de
outubro de 1971, dos quais destacamos:
Art. 31. Todos os Excelentíssimos Senhores Ministros da Marinha de Guerra,
Almirantes Chefes do Estado Maior da Armada; Comandantes de Operações
Navais e Comandantes do 1.º Distrito Naval, além dos Comandantes da Escola
de Formação de Oficiais da Reserva da Marinha, são Presidentes Honorários
da ADEFORM.
Art. 33. Até a posse da referida primeira Diretoria fica constituída a seguinte
Comissão Constituinte: Dr. J. A. Mac. Dowell Leite de Castro, Presidente Dr.
José Carlos Mello Ourivio, Dr. Dalmar Santos Filho e Dr. Arnaldo Niskier.
Art. 34. A sede da ADEFORM funcionará, temporariamente, no prédio do
Clube Naval, no Estado da Guanabara.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 141
▶ ▶ 1953 – Formatura da 1.ª Turma de Guarda-Marinha do CIORM. Em pé: GM Isaac Sapir, GM José da
Silva Samburski, GM Nicola Provenzano, dois GM NI, GM Samuel Lederman. Sentados: dois GM NI,
GM Manoel Griner, GM Leizer Lerner e GM NI. Acervo Leizer Lerner.
▶ ▶ 21 de setembro de 1953 – Formatura da 1.ª Turma de Guarda Marinha do CIORM. Familiares e ami-
gos de Leizer Lerner e Isaac Sapir – após a entrega das espadas pelas madrinhas. Acervo Leizer Lerner.
144 Israel Blajberg
▶ ▶ 1953 – Estágio de Guarda Marinha da 1.ª Turma do CIORM a bordo do CT Bauru, hoje navio-museu.
Em pé: CT Imediato, quatro oficiais do navio, GM Isaac Sapir e GM Eduardo Della Nina. Agachados:
GM Octavio Lopes da Silva F.º e GM Leizer Lerner. Acervo Leizer Lerner.
▶ ▶ 24 de setembro de 1953 – Notícia no jornal em língua iídiche Unzer Shtime. Formatura da 1.ª
Turma de Guarda-Marinha do CIORM. Acervo Leizer Lerner.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 145
Uma das cenas dramáticas desse tempo foi assistir, da ponte de acesso à Ilha
das Enxadas (estava de serviço), as comemorações do Rio relativas ao Réveillon.
Os fogos espocando lá longe e nós, de revólver na cinta, à espera de um inimigo
que nunca apareceu...
As viagens foram muito importantes. Na primeira delas, visitamos a região
de Abrolhos, onde demos tiros de canhão (cada um era obrigado a dar três tiros
num alvo alaranjado situado a 3 milhas de distância). Difícil acertar, mas atira-
mos à vontade. Depois, à noite, os tiros eram de metralhadora antiaérea (pom-
-pom), procurando alvos que se encontravam a quilômetros de distância. O céu
coalhado de estrelas e com aqueles tiros que deixavam um rastro vermelho – isso
foi espetáculo difícil de esquecer.
Quando tudo terminou, depois de uma viagem de contratorpedeiro a Recife,
parando, naturalmente, fui promovido de Aspirante a Guarda-Marinha e depois
a 2o Tenente. Naquele ano, a Marinha do Brasil estava precisando de profissio-
nais para as suas atividades e os alunos do CIORM eram altamente qualifica-
dos (muitos estudantes de Engenharia, Direito e Medicina). Então, foi oferecido
ao nosso grupo permanecer na ativa, podendo as promoções alcançar o posto
de Capitão de Mar e Guerra. Alguns continuaram (Condoreli, Enio Baldissara
Pires, Nelson Gallo etc.).
Para mim, não era vantajoso, pois eu já trabalhava na Manchete e ganhava
mais do que me era oferecido, mas fiquei tentado pela proposta. Já tinha feito
muitos amigos na Marinha.
Uma última palavra sobre a formatura. Foi um espetáculo lindo, na Ilha das
Enxadas, todos os 120 alunos das três turmas (Armada, Intendência e Fuzileiros
Navais) vestidos de branco, recebendo o espadim das respectivas madrinhas. E
marchando, na pista olímpica, em saudação às autoridades presentes. Eu tinha
21 anos de idade e acabara de conquistar uma posição em que a grande maioria
dos formandos pertencia à classe média alta, da qual eu estava economicamente
bem distante. Foi um feito!
Arnaldo Niskier, sobre quem sai agora uma biografia de José Louzeiro, Luzes
da consagração, que narra a luta que o antigo menino de Pilares empreendeu nos
últimos decênios em prol de uma política de educação que transformasse este
país grande num grande país.3
Depois de uma infância em subúrbio pobre e de uma dedicação permanente
ao estudo, já aos 33 anos era Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio
de Janeiro e, em seguida, Secretário de Educação e Cultura: estava inteiramente
integrado na luta que vem empreendendo até hoje. No discurso com que foi
recebido na Academia Brasileira de Letras, Rachel de Queiroz chamou a atenção
para os 28 livros que Arnaldo publicara até então. Estas foram suas palavras:
A história de Arnaldo Niskier e de sua família, bem como a história geral de uma
concepção do mundo, na linha que nos vem de Abraão e da Bíblia, aparecem
com evidência no livro de José Louzeiro, junto com o relato das perseguições
que seus descendentes sofreram em toda a parte. De tal modo ela se integra na
existência do Brasil como país que o livro de Louzeiro acaba sendo também
uma História do Brasil dos tempos do integralismo e de Getúlio Vargas, que foi
quando nos aproximamos, em tempos recentes, de uma inaceitável e condenável
política racial.
E segue:
“ Pude escrever este prefácio porque José Louzeiro, o autor deste livro, teve a gen-
tileza de submeter previamente os seus originais à minha apreciação. Deliciei-me
com a sua leitura da primeira à última página.
Já conhecia o biografado Arnaldo Niskier há mais de meio século, quando
nos encontramos e nos unimos num afeto comum, nascido na velha oficina de
Bloch Editores, onde a Revista Manchete dava, então, os seus primeiros passos.
Os ancestrais de Arnaldo têm raízes profundas em Ostrowiec, na Polônia
dos cruéis tempos que antecederam à Segunda Grande Guerra, com as implacá-
veis perseguições de Hitler ao bravo povo judeu, até o seu êxodo para o Brasil,
que adotaram como a sua segunda Pátria.”
▶ ▶ Turma de 1957
Em 27 de setembro de 1957, foram declaradas as Turmas Kilo, Luar e Maré, res-
pectivamente da Armada, Intendentes e Fuzileiros, com a presença do Presidente
Juscelino Kubitschek, com a presença do Ministro da Marinha, Alm. Antonio
Alves Câmara Jr.; do Chefe do Estado Maior da Armada,Alm. Renato Guillobel;
e do Patrono da Turma, Alm. Ari Parreiras.
▶ ▶ Turma de 1958
Esta, que foi a sexta turma do Centro, editou uma revista5 explicitando a impor-
tância do CIORM, com fotos de todos os formandos, da viagem de instrução,
olimpíadas e os currículos de formação de cada turma.
Houve missa como se fazia na época e também uma bela cerimônia reli-
giosa no Grande Templo Israelita com a presença de todos os oficiais, oficiada
pelo Rabino-Chefe Jacob Fink. Esta turma deteve um possível recorde na adesão
da comunidade judaica, que forneceu nada menos que 21 integrantes.
O Baile de Gala realizou-se no Clube Naval, na Ilha do Piraquê na Lagoa, em 4
de outubro de 1958 às 22h, os militares de uniforme branco, e os civis de smoking.
5 A revista e demais subsídios foram cedidos pelo integrante da Turma Isaac Huf.
▶ ▶ 1958 – CIORM – Cerimônia religiosa no Grande Templo Israelita da Rua Tenente Possolo n.º 8, na Praça
Cruz Vermelha, oficiada pelo Rabino-Chefe Jacob Fink. A turma de 1958 deteve um possível recorde na
adesão da comunidade judaica, nada menos que 21 integrantes. Sentados: 1) Samuel Adler, falecido em
acidente de moto, 2) Abraão Rumchinski, 3) Samuel Cogan, 4) não identificado, 5) Isaac Huf, 6) Jayme
Tobias Steichel, 7) Chefe do Departamento Escolar CC Maurício Mockel Paschoal, 8) Mário Sitnoveter,
9) David Finkielsztejn(falecido.), 10) Bernardo Schipper, 11) Moyses Sacks, 12) Daniel Cohen. Em pé:
1) Leon Gornsztejn, 2) Leyser Garber, 3) não identificado, 4 Bernard Toledano Vaena, 5) Paulo Roberto
Sauberman (1.º Lugar Geral da Turma – médico, falecido em 2010), 6) não identificado, 7-Milton Jacob
Mandelblatt, 8), 9) e 10) não identificados. Acervo Pessoal Isaac Huf e Abrahão Rumchinsky.
150 Israel Blajberg
▶▶ Maurício Leonardos
▶ ▶ Milton Jacob Mandelblatt
▶ ▶ Pincos Gorenstein
▶ ▶ 1958 – Viagem de instrução no C-11 cruzador Barroso. Isaac Huf está ao centro. Acervo pessoal.
154 Israel Blajberg
Rex foram a estrada que o levou a frequentar a Escola Nacional de Música até o
ano de 1958, quando ficou difícil a conciliação entre o sonho e a realidade de um
jovem que precisava trabalhar para ter uma vida digna.
Em 1949, seu tio-avô de Miami Sam Maltz lhe trouxe um violino, e assim
estudou música durante o curso do Pedro II, aos 12 anos, o que veio a retomar
40 anos depois.
Estudou Estatística, Engenharia Econômica e cursou seis anos de violino na
Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil.
Ao terminar a faculdade e começar a vida profissional, a partir do início da
década de 60, ainda participava do coral da Escola Eliezer Steinbarg.
No antigo Teatro Recreio, na esquina que hoje não existe mais da Rua do
Senado com a Rua Pedro I, Praça Tiradentes, demolido para a construção do
BNH, Isaac participava de uma bandinha klezmer (música judaica) com Abraão
Rumschinski, colega de turma do CIORM.
Isaac realizou o estagio a bordo do CT Amazonas durante dois meses, e do
cruzador Barroso.
Nesta ocasião, um acidente nas caldeiras vitimou o Cmt. Didier, causado
pela aspiração do vapor superaquecido.
Casado em 1966, tem dois filhos e três netos.
Em 2004, já praticamente aposentado, Isaac retornou ao violino depois de
40 anos, participando há mais de 10 anos da Orquestra Rio Camerata, além de
ter retornado ao Coral do Instituto Israelita Brasileiro – Eliezer Steinbarg.
A música tem sido uma terapia, de tal forma que Isaac sente estar realizando
aquele sonho interrompido em 1958.
▶ ▶ Abrahão Rumchinsky – Turma de 1958
O Maestro Rumchinsky, como é conhecido nos meios artísticos e sociais, dedica-
se há muitos anos ao Coral Israelita Brasileiro, formado por voluntários, sempre
presente em audições não só no Rio de Janeiro, mas também nos estados e até
no exterior.
O coral participou de cerimônias cívicas realizadas no Monumento
Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, em homenagem ao Soldado
Desconhecido Brasileiro, interpretando o Hino Nacional Brasileiro e a Canção
do Expedicionário, sempre obtendo calorosos aplausos do público.
Nascido em 13 de março de 1937, em Pouso Alegre/MG, o menino Abrahão
chegou no Rio em 29 de dezembro de 1945 com 8 anos para morar com os tios.
Havia algumas poucas famílias judaicas na região de Poços de Caldas, Santa Rita
do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, bem depois de Itajubá e Piquete.
Seu pai Maurício Rumchinsky era imigrante de Secureni, Bessarábia,
maçon muito conceituado em Pouso Alegre, um Grão-Mestre. Sua mãe Sarah
Cimerman Rumchinsky era polonesa.
Estudou no Colégio Israelita Brasileiro Sholem Aleichem na Tijuca, e no
Ginásio Hebreu Brasileiro, na Rua Desembargador Isidro, na Praça Saens Peña,
depois Impacto e GPI. Cursou o Colégio de Aplicação em um casarão da Praça
156 Israel Blajberg
▶ ▶ 1958 – CIORM – Ilha das Enxadas – Declaração de Guardas-Marinha – Preparando para o Desfile
em Continência. Acervo pessoal A. Rumschinsky.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 157
▶ ▶ 1958 – Desfile dos Guardas-Marinha. Abrahão Rumschinsky é o 4.º da D. para E. Acervo pessoal.
Havia grupo de teatro, onde participaram Helio Tys, Paulo Afonso Grizolli,
ganhando vários prêmios. Abrahão era assistente de direção. Yan Michalski, um
dos grandes críticos de teatro brasileiro também participava.
O grupo obteve o primeiro lugar no Festival de Teatro do Rio de Janeiro,
organizado em 1960 por Paschoal Carlos Magno, diplomata e escritor.
Abrahão foi incorporado ao CIORM em 1957, a instrução era aos domin-
gos, e o coro ensaiava aos sábados à tarde.
Seu tio era do coral, Abrahão entrou no seu lugar como tenor, Moisés Aron
Levcowiz do Dram Kreiz da BIBSA.
De 1964 até 1989, participou do coro, e em 1990 tornou-se regente, lugar
que foi ocupado por Niremberg, Morelenbaum e Karabchevsky.
Era um regente autodidata, e possui o curso de seis anos da Escola Nacional
de Música, na Rua do Passeio.
Em 2000, na Orquestra Rio Camerata, fundada pelo maestro Israel Menezes,
tornou-se assistente do regente.
O Coral Israelita Brasileiro do qual Abrahão é regente foi fundado jun-
tamente com a Escola Israelita Brasileira Eliezer Steinbarg, na Rua das
Laranjeiras n.º 405, pelo IIBCE – Instituto Israelita Brasileiro de Cultura e
Educação, em 1954.
Abrahão foi professor de matemática no Pedro II e em diversos colégios.
Seu estágio de Guarda-Marinha foi de três meses, em 1959, sendo realizado
na Base Almirante Castro e Silva – BACS, na Ilha do Mocanguê, onde se situa a
Força de Submarinos da Esquadra. Ainda não existia a Ponte Rio-Niterói, que
hoje serve de acesso à base. Na ocasião, teve oportunidade de realizar uma imer-
são submarina de oito horas em câmara de pressão.
▶▶ Ruy Flaks Schneider – Turma de 1961
Em 19 de julho de 2011, a Turma de 1961 comemorou 50 anos de formatura,
quando o Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW) recebeu os
ex-alunos do antigo Centro de Instrução de Oficiais da Reserva da Marinha
(CIORM) para celebrar a data.
Após visitarem as instalações do CIAW, os ex-alunos participaram, junta-
mente com os alunos do Curso de Formação de Oficiais (CFO), do Cerimonial
à Bandeira Nacional.
A visita foi finalizada com uma confraternização no Edifício Colonial. Na
ocasião, o Comandante do CIAW, Contra-Almirante Eric Barbosa, discursou
sobre os projetos em andamento na Marinha e a importância dos encontros
▶ ▶ 11 de junho de 2014 – Ruy Flaks Schneider (Turma de 1961 do CIORM) recebe comenda por ter
sido promovido ao grau de Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval. Acervo pessoal Ruy Schneider.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 159
▶ ▶ 2015 – O Eng.º Ruy Schneider, presidente do Grande Templo Israelita e ex-aluno do CIORM, cum-
primenta o novo Comandante da Marinha Alm. Esq. Eduardo Bacellar Leal Ferreira por ocasião de
sua posse. Acervo pessoal.
▶ ▶ 1961 – GM RRm Salomão Vainberg e o Grão-Rabino do Grande Templo Israelita Jacob Fink. Acervo
pessoal Salomão Vainberg.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 161
▶ ▶ Turma do CIORM de 1962. Fila da frente: Israel Beloch é o quarto e Moyses Szwarcbarg é o sétimo.
Fila do meio: Ikeciel Kiperman é o sétimo. Fila de trás: Sloime Zylberberg é o sexto. Acervo pessoal
Israel Beloch.
162 Israel Blajberg
7 Israel Beloch – 2º Tenente. Sanção: Demissão. D.O.: 26-8-1969, p. 7242. Atos Institucionais
Sanções Políticas.
▶ ▶ Turma do CIORM de 1962. Em pé: Israel Beloch é o sexto, agachados: David Tenengauzer é o ter-
ceiro. Acervo pessoal Israel Beloch.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 163
Quadro Técnico
▶ ▶ 1.º Ten. RM2 Marcos Jaimovick Homsani
Bacharel em Direito, foi incorporado às fileiras da Marinha em janeiro de
2008, como Guarda-Marinha, tendo sido promovido ao posto de 2.º Tenente em
julho de 2008 e ao posto de 1.º Tenente em janeiro de 2009.
Imediatamente após o curso de formação, foi movimentado para a Diretoria
de Hidrografia e Navegação, em seguida foi transferido para o Presídio da
Marinha, único presídio militar federal do país, onde exerce a função de assessor
jurídico e encarregado da Divisão de Custódia.
Sua esposa Renata Gorinstein também é da Marinha, sendo 1.ª Tenente
RM2-S Nutricionista.
▶ ▶ 2012 – 1.º Ten. RM2 Marcos Jaimovick Homsani – Porta-Bandeira – Rio de Janeiro. Acervo pessoal.
166 Israel Blajberg
Quadros de Saúde
▶▶ Dr. Alberto Samuel Mercante
8 http://www.ame-rio.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1&Itemid=2
▶ ▶ 1994 – Dr. Alberto Samuel Mercante – Guarda Marinha (Md) RM2 – Rio de Janeiro. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 167
▶ ▶ 1994 – Dr. Alberto Samuel Mercante – Guarda Marinha (Md) RM2, ao receber suas platinas – Rio
de Janeiro. Acervo pessoal.
Obituário:9
Alberto Samuel Mercante, Z”L, veio a este mundo com uma missão, que bem
cumpriu durante os 54 anos que lhe haviam sido concedidos. Sim, pois quando
uma criança nasce, o seu destino já foi traçado por uma força superior, e nada
poderá mudá-lo.
Mercante, já em tenra idade, viu despertar a sua vocação para a Medicina.
Entretanto, jamais desejou seguir a profissão em busca da riqueza, nem da fama
ou da glória, Mercante veio a este mundo para servir, sempre bem-humorado, a
todos contagiando com a sua alegria.
Logo após a formatura apresentou-se como voluntário para prestar o Serviço
Militar no Corpo Médico da Marinha do Brasil, ao que se seguiu a sua opção
pelos mais pobres. Com poucos recursos e ajuda da família, abriu uma clínica na
Baixada Fluminense, uma região tão carente de atendimento médico, realizando
o seu sonho de infância, a custa de muito trabalho seu e dos familiares.
Durante pouco mais de meio século de vida deixou um exemplo a ser
seguido, digno do Juramento de Hipócrates. Sua opção foi a mesma de grandes
nomes da Medicina, como o Dr. Albert Schweitzer, que trocou a Europa sofisti-
cada pelo interior da África remota para ajudar os que sofriam. No último plan-
tão, antes que o Anjo da Morte cruzasse o seu caminho, teve a derradeira opor-
tunidade de praticar a tzedaká, milenar palavra hebraica que traduz a autêntica
caridade, e a que todos nos seguidores da Lei de Moisés estamos obrigados.
Tirou do próprio bolso o seu remédio, para cedê-lo a uma paciente. Muitos
de nós se perguntam... Por que teve que partir? Mas se o nosso Grande Patriarca
9 Palavras de Israel Blajberg durante o Ofício Religioso no sepultamento do Dr. Alberto Samuel
Mercante no Cemitério Comunal Israelita do Caju.
168 Israel Blajberg
▶ ▶ 2013 – Dr. Jony Reifman – 1.º Ten. (CD) RM2 em seu consultório no Leblon, tempos depois de
haver dado baixa do Serviço Ativo – Rio de Janeiro. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 169
Colégio Naval
Cursaram o Colégio Naval em Angra dos Reis: CMG Isaac Benchimol,
Michel Cohen e José Pines. Os dois primeiros estão biografados em outra parte
desta obra.
José Pines é engenheiro formado pela ENE-UB, Eletrônica, 1966. Cursou o
Colégio Naval de 1959 a 1961, onde foi colega de turma do jovem aluno Moura
Neto. Entretanto, seus caminhos se separaram ao final do curso. Pines formou-se
em Engenharia Eletrônica e seguiu brilhante carreira na Embratel, onde ocupou
cargos importantes, e escreveu livros profissionais muito utilizados nas facul-
dades. Moura Neto continuou no serviço militar, chegando a Comandante da
Marinha, recordando aquele período ao deixar o cargo, em sua Ordem do Dia,
da qual transcrevemos o trecho alusivo:
Passagem do Cargo de Comandante da Marinha
Brasília/DF
Em 6 de fevereiro de 2015
Ordem do dia n.º 2/2015
Assunto: Passagem
As recordações são pungentes e fazem relembrar os idos de 1959, quando che-
guei à Angra dos Reis, para ingressar no Colégio Naval. Naquela oportunidade,
com apenas dezesseis anos, não poderia antever que estaria principiando uma
duradoura trajetória e que seria, dentre aqueles rapazes, que viriam a constituir
a Turma Mendes, o que atingiria o posto máximo da nossa querida e digna car-
reira. Assim, por ser sabedor que chegaria a hora de não mais usar os uniformes
que venho envergando com orgulho e devoção, desde aquela época, é com espírito
sereno e pronto para o futuro que enfrento esse instante, já bastante próximo.
Aos companheiros da Turma Mendes, pelo estímulo constante e, sobre-
tudo, pela amizade construída, desde quando, ainda muito jovens, chegamos à
Enseada Batista das Neves e à Ilha de Villegagnon.
Definição de ex-combatente
E
x-combatente é aquele que participou efetivamente de operações bélicas
na Segunda Guerra Mundial, como integrante da Força do Exército, da
Força Expedicionária Brasileira, da Força Aérea Brasileira, da Marinha de
Guerra e da Marinha Mercante.
Ex-combatente do Litoral é aquele que participou de missões de segurança
na costa brasileira, ilha de Fernando de Noronha ou transportado em navios
escoltados por navios de guerra.
A comprovação é feita por elementos como:
▶▶ Diploma da Medalha de Campanha ou o certificado de ter ser-
viço no Teatro de Operações da Itália, para o componente da Força
Expedicionária Brasileira;
▶▶ Certificado de participação efetiva em missões de vigilância e segurança
do litoral, como integrante da guarnição de ilhas oceânicas ou de uni-
dades que se deslocaram de suas sedes para o cumprimento daquelas
missões.
▶▶ Diploma da Cruz de Aviação, para os tripulantes de aeronaves engajados
em missões de patrulha.
▶ ▶ Diploma da Medalha Naval do Mérito de Guerra, desde que tenha sido
tripulante de navio de guerra ou mercante, atacado por inimigos ou des-
truído por acidente, ou que tenha participado de comboio de transporte
de tropas ou de abastecimentos, ou patrulha;
▶ ▶ Certidão de integrante de tropa transportada em navios, escoltados por
navios de guerra.
O Brasil em guerra
Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, houve grande adesão
popular às campanhas de recrutamento e doações.
Em 19 de setembro de 1942, O Globo noticiava em primeira página uma
grande cerimônia na 1.ª Circunscrição de Recrutamento – 1.ª CR, no Palácio
171
172 Israel Blajberg
O orador oficial no ato da entrega foi o Dr. Samuel Malamud, sendo o docu-
mento assinado por 46 representantes de instituições judaicas de todo o Brasil,
sendo a primeira de Eduardo Horovitz, seguindo-se as demais em ordem alfa-
bética, entre as quais: Aron Bergman, Victorio Camerini, Salomão Guelman,
Wolf K. Klabin, Horacio LAfer, Rabino Dr. H. Lemle, Samuel Malamud, Aron
▶ ▶ Representação do Clube Macabi – porta faixa de apoio a FEB, diante de um estádio que parece ser
o Pacaembu. Crédito não determinado.
174 Israel Blajberg
Neumann, Tofic Nigri, Jacob Palatnik, David José Perez, Rabino Dr. Fritz
Pinkuss, Jacob e Scylla Schneider, Rabino Mordechai Tzikinovski, Moisé Vainer,
Rosa Waisman e outros.
IHGB
Em sessão do IHGB, D.ª Frieda Wolff discorreu sobre “Os judeus no Brasil e a
Segunda Guerra”. Discute dados da imigração israelita. Oferece cópia do mani-
festo, em apresentação artística, da comunidade judaica ao presidente Getulio
Vargas, saudando a entrada do Brasil na guerra. Promete relação datilografada
dos signatários. Arrola ex-combatentes israelitas, como o Gen. Leyy Cardoso e
o pintor Carlos Scliar. Apartes do Gen. Jonas, Mário Barata e Cel. Ruas, o qual
lembra de Carlos e seus desenhos da frente de batalha.
Os indesejáveis3
Alguns dos militares brasileiros judeus retratados nesta obra recordaram
suas dificuldades em serem admitidos nas escolas de formação. No caso destes,
as restrições foram contornadas, conforme relatado nas respectivas biografias,
graças ao famoso “jeitinho brasileiro”. Entretanto, nem todos os candidatos tive-
ram esta sorte, conforme mostra o trabalho que citamos, uma tese de doutorado
apresentada ao PPGH/UERJ que originou um livro revelador.4
O Exército brasileiro adotou medidas para impedir a entrada, nos seus quadros,
“de negros, de judeus e de islâmicos, grupos considerados subversivos ou inferio-
res racialmente para a formação de uma nova elite militar”.
brinde de satisfação pelo mundo ter-se livrado de uma judia nojenta que fale-
ceu hoje”. Era a mãe do Roosevelt! 6 Nós ficamos boquiabertos! O Brasil ainda
não estava em guerra com a Alemanha, mas... Exatamente nessa fase começa-
ram torpedeamentos de navios na costa brasileira. Evidentemente a posição dos
navios seria dada daqui do Brasil. E o Hoffmann foi acusado desta coisa. Foi
acusado, e a Marinha, a contragosto, chamou-o ao Rio para depor num inqué-
rito que estava aberto sobre uma denúncia que tinha havido contra ele, que eu
acho que era verdadeira, dado esse brinde que ele fez. E ele, para confirmar,
suicidou-se durante a viagem. Suicidou-se.
Entrevistador L.H.: Não chegou aqui para depor?
F.T.: Não chegou ao Rio. Suicidou-se no meio da viagem, num navio de
guerra, onde estava meio preso. Aí o Brasil já estava quase na guerra, porque
estavam torpedeando os navios. E era ele quem dava as informações.
L.H.: Ele era comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros?
F.T.: Era o comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros de Salvador.
Morreu. O que eu quero dizer é que já havia um certo antissemitismo. Ele era,
claro, um integralista dos mais destacados da Marinha. Foi!
6 Sara Ann Delano Roosevelt faleceu em 7 de setembro de 1941 e nem era judia. O presidente
Roosevelt foi seu único filho.
7 Notícias citadas na obra do Casal Wolff.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 177
▶ ▶ 4 de dezembro de 2006 – 106 anos do Marechal Levy e Dia da Padroeira da Artilharia. Forte
Copacabana no Dia de Santa Bárbara e reunião da Ordem dos Velhos Artilheiros, da qual era o
Decano. No Cassino dos Oficiais, o Marechal Levy recebeu o Bastão de Comando da FEB, como mais
antigo ex-combatente, e da janela comandou uma salva festiva, disparada por peças do 8.º Grupo
de Artilharia de Campanha Paraquedista. Acervo do autor.
Sua família era toda do Rio de Janeiro, apenas o pai sendo natural do Rio
Grande do Sul, Antonio de Almeida Cardoso, filho de portugueses, falecido
quando o menino Waldemar tinha 11 anos, passando então a ser criado por sua
mãe, professora. O pai havia se convertido ao judaísmo para casar-se com D.ª
Stela Levy, em 1898.
▶ ▶ O Maariv, maior jornal de Israel, publicou a notícia do 108.º aniversário do Marechal Levy, em
2008. Extraído do jornal.
Tiveram dois filhos, Armando Levy Cardoso, que foi ativo na comunidade
judaica, na época de Capitão. Alcançou o posto de Coronel, tendo falecido em
maio de 1983.
O menino Waldemar foi educado na religião judaica, tendo se convertido à
religião católica com 53 anos. Na época, comandava o Regimento de Artilharia
de Itu/SP, cidade com a qual tinha fortes laços familiares.
Consta que Frei Gilberto, daquela cidade, desempenhou papel relevante na
sua conversão, cuja motivação remonta a um episódio ocorrido durante a guerra
na Itália.
Tendo o então Tenente-Coronel Levy se extraviado, adentrou uma igreja
para solicitar informações sobre a posição da tropa brasileira. O pároco não sabia,
mas aproveitou para mostrar uma antiga e valiosa imagem de Santa Barbara, a
mártir cristã. Ao retirar-se, Levy percorreu uma curta distância e avistou o pavi-
lhão nacional hasteado no ponto que procurava.
Ainda conforme relatado ao Prof. Niskier, uma pequena medalha de Santa
Bárbara que lhe foi dada pela mulher, na véspera da partida para a guerra, o
protegeu:
180 Israel Blajberg
“Sou judeu, não nego, mas Santa Bárbara, a quem venero, foi quem salvou a
minha vida. Minha mãe era muito religiosa. Tinha o sobrenome Levy. Não que-
ria que me casasse fora da religião judaica, mas aconteceu.”
▶ ▶ Retrato do então Cel. Levy Cardoso na Galeria dos Comandantes do Regimento Mallet em Santa
Maria/RS, 3.º Regimento de Obuses 105 mm, atualmente 3.º Grupo de Artilharia de Campanha
Autopropulsado. Acervo do Regimento Mallet.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 181
▶ ▶ 27 de novembro de 2003 – Dia de Santa Bárbara e 103.º aniversário do Marechal Levy, no 31.º
Grupo de Artilharia de Campanha – Grupo Escola de Artilharia em Deodoro, com a Sr.ª Dorinha
Nahon, filha do General Isaac Nahon. Acervo do autor.
▶ ▶ Marechal Levy proferindo suas palavras, vendo-se a retaguarda D.ª Dorinha Nahon, sua filha D.ª
Myriam Levy Cardoso Moreira, e seu genro General Antonio Joaquim Soares Moreira, ex-Presidente
do STM. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 183
viajava de bonde de tração animal até a estação Central do Brasil, onde embar-
cava no trem para Campo Grande. De lá, um pagem contratado pelo marido
Armando a conduzia a cavalo até a escola.
Chegava em casa ao anoitecer. O marido lhe pedia que deixasse de lecionar,
mas ela insistia, alegando ser seu dever ensinar, o que fez sucessivamente nas
escolas do Alto do Morro do Castelo, que subia a pé, Rua do Vianna em São
Cristóvão, Rua Mariz e Barros, e finalmente na Escola Teophilo Ottoni, na Rua
Senador Furtado na Praça da Bandeira, quando se aposentou.
Ao final do séc. XIX, quando Stela e Armando se casaram, a população
judaica do Brasil era pequena, apenas 300 indivíduos, segundo o IBGE, mas
diversos autores como o Casal Wolff, AJC e outros estimam que um número
mais real seria da ordem de 3 mil almas.
O Marechal recorda que se relacionavam com seu pai Armando Levy, Wolf
Klabin e Horacio Lafer, da Indústria de Papel Klabin, as famílias Azulay, Kanitz
(ou Kaminitzer) e a família Abraão, cujo filho Rafael (Rafa) possuía uma fazenda
de café em São Paulo.
▶ ▶ 2006 – Marechal Levy Cardoso e o autor em solenidade no Monumento Nacional aos Mortos da
Segunda Guerra Mundial. Acervo do autor.
se pronuncia em hebraico (que ele não dominava), assim: “Baru, Batai, Adonai,
Mitzvá, Achê, Eloeinu, etc...”10
O jovem Waldemar não praticava a religião, mas todos respeitavam o Yom
Kippur11. Waldemar jejuava durante 24 horas, inclusive sem beber água, indo a
pé de casa até a sinagoga, como preconiza a Lei Mosaica.
10 Transcrito de documento ditado pelo Marechal Levy ao seu genro General Moreira. Bem pró-
ximo de “Baruch Atá, Adonai” – Bendito Seja Vós, nosso D’eus, início de muitas rezas.
11 Hebraico: Dia do Perdão, o mais sagrado do ano.
186 Israel Blajberg
Vida profissional:
▶▶ 4.ª Companhia de Infantaria (1918);
▶▶ 4.º Regimento de Artilharia Montada (1921);
▶▶ 6.º Grupo de Artilharia a Cavalo (1931);
▶▶ 4.º Regimento de Artilharia Montada (1932);
▶▶ Escola de Artilharia (1933);
▶▶ Regimento Misto de Artilharia (1934);
▶▶ Estado-Maior do Exército (1937);
▶▶ 4.ª Região Militar (1938);
▶▶ 2.º Regimento de Artilharia de Divisão de Cavalaria (1940);
▶▶ 2.ª Região Militar (1941);
▶▶ 1.ª Região Militar (1943);
▶▶ Estado-Maior do Exército (1944);
▶▶ Comandante do 1.º Regimento de Obuses Autorrebocado (FEB) (1944);
▶▶ Estado-Maior do Exército (1945);
▶▶ Comandante do 5.º Regimento de Artilharia Montada (1948);
▶▶ Chefe de Gabinete do Ministro da Guerra (1949);
▶▶ Adido Militar das Embaixadas Brasileiras na Espanha e França (1951);
▶▶ Comandante do 2.º Regimento de Obuses (1953);
▶▶ Chefe do Estado Maior da 2.ª Região Militar (1954);
▶▶ Comandante da 2.ª Região Militar (1960);
▶▶ Diretor de Aperfeiçoamento e Especialização (1961);
▶▶ Comandante da 2.ª Divisão de Infantaria (1961);
▶▶ Diretor de Serviço Militar (1963);
▶▶ Chefe do Departamento Geral do Pessoal (1964);
▶▶ Chefe do Departamento de Provisão Geral (1964).
Possuía as seguintes medalhas e condecorações: Medalha Militar de Prata
– 1934; Croce Valore Militare (Itália) – 1945; Medalha de Guerra – 1945; Cruz
de Guerra com Palma – 1945; Estrela de Bronze, Bronze Star (EUA) – 1946;
Medalha de Campanha (MC); Medalha de Guerra (MG); Cruz de Combate
2ª Classe (CZC2) – 1947; Medalha Militar de Ouro – 1949; Ordem do Mérito
Militar – 1955; Medalha Marechal Hermes Aplicação e Estudo em Prata com
1 coroa (MHp1) – 1956; Medalha do Pacificador – 1957; Medalha Mérito de
Santos Dumont – 1957; Medalha Militar de Ouro com passador de Platina SPP –
1958; Ordem do Mérito Aeronáutico (OMA4); Ordem do Mérito Naval – 1958.
Promoções:
▶ ▶ Aspirante: 18/1/1921
▶ ▶ 2.º Tenente: 11/5/1921
▶▶ 1.º Tenente: 7/9/1922
188 Israel Blajberg
▶▶ Capitão: 26/6/1929
▶▶ Major: 5/3/1940 – merecimento
▶▶ Tenente-Coronel: 24/6/1943 – merecimento
▶▶ Coronel: 25/3/1948 – merecimento
▶▶ General de Brigada: 9/8/1954
▶▶ General de Divisão: 25/3/1961
▶▶ General de Exército: 25/11/1964
▶▶ Marechal de Exército: 6/10/1966 – inatividade
Seria interessante destacar que tanto o Coronel Levy Cardoso quanto
o Coronel Isaac Nahon comandaram a mais tradicional unidade da Arma de
Artilharia do Exército Brasileiro, o Regimento Mallet, onde também serviu o
neto do Gen. Nahon, Tenente-Coronel Paulo Antonio Nahon Penido Monteiro.
Decano das unidades de Artilharia de Campanha do Exército Brasileiro,
foi criado em 4 de maio de 1831, com a denominação de Corpo de Artilharia a
Cavalo em Rio Grande de São Pedro/RS.
Sob o comando de Mallet, participou da Campanha contra Oribe e Rosas,
na qual adquiriu o legendário apelido de “Boi de Botas”, participando da maior
batalha da América do Sul, Tuiuti, em 24 de maio de 1866, na qual enfrentou
mais de vinte cargas da Cavalaria paraguaia:
“Eles que venham! Granada e metralha, espoletas a seis segundos!...Por aqui eles
não passam!...Por aqui não entram!”
Em 1925, o 5.º RAM instalou-se em Santa Maria/RS, recebendo em 1932 a
denominação histórica “Regimento Mallet”. Cinquenta e quatro integrantes da
unidade integraram a Força Expedicionária Brasileira na Itália.
Posteriormente, recebeu a denominação 3.º Regimento de Artilharia 75
mm Autorrebocado, 3.º Regimento de Obuses 105 mm e atualmente 3.º Grupo
de Artilharia de Campanha Autopropulsado, o “Regimento Mallet”, por ter rece-
bido em 1971 obuseiros M 108 105 mm autopropulsados.
Abriga o Memorial Mallet, onde repousam os restos mortais do Patrono da
Artilharia e sua esposa, e o museu, que possui um fragmento de osso de Santa
Bárbara. A relíquia é guardada em estojo de prata guarnecido de ouro, protegida
por uma tampa redonda de cristal atada com um cordão de seda vermelha com
o selo do Vaticano, e tem certificado de autenticidade assinado pelo vigário-geral
do Vaticano. Ela foi recebida como doação pelo Marechal Levy Cardoso, ex-
Comandante do Regimento Mallet, quando visitou o mosteiro de Monte Casino,
na Itália, em 1945.
O grupo de Santa Maria construiu uma capela que abriga o estojo com o
fragmento de osso e imagens de Santa Bárbara e Nossa Senhora da Conceição,
padroeira do 3.º GAC.
Moyses Chahon
Moyses Chahon nasceu em 27 de agosto de 1918 no Rio de Janeiro, filho de José
Ascher Chahon e Mathilde Gammal. Em princípios do séc. XX, seus pais emi-
graram de Izmir, Turquia, país onde florescia importante comunidade judaica,
há poucos anos vítima do ódio que dinamitou uma sinagoga.
Após longa viagem de navio, a família foi morar na Rua do Rezende.
Preferiram o Brasil, país do futuro, no dizer do correligionário Stefan Zweig,
seguindo os passos de outros que haviam partido mais cedo em busca dos ares
mais amenos do Novo Mundo.
Ali perto, Moyses estudou no Colégio Anglo-Americano na Praia de
Botafogo, e depois no Colégio Pedro II (internato). Cursou a Escola Militar do
Realengo, praça de 28 de abril de 1939, tendo sido declarado Aspirante a oficial
da Arma de Infantaria em 3 de dezembro 1941.
Promovido a 1.º Tenente, foi transferido para o Rio, onde foi servir no
Sampaio, o I Regimento de Infantaria, na Vila Militar. Os jornais de Florianópolis
de janeiro de 1944 noticiavam os atos de promoção e transferência do Ministro
da Guerra, já naquela época destacando suas qualidades promissoras, lamen-
tando a sua ausência e referindo-se em termos bastante elogiosos.
Embarcou para a Itália no 2.º Escalão, em 22 de setembro de 1944. Na FEB,
foi incorporado à 6.ª Companhia do Regimento, hoje o 1.º Batalhão de Infantaria
Motorizada do Grupamento de Unidades Escola. Comandou um pelotão de
fuzileiros, nos ataques a Monte Castelo em 12 de dezembro de1944 e em 21 de
fevereiro de 1945. Conquistou as posições inimigas em La Serra em 24 de feve-
reiro de 1945.
De amarelecidos recortes de jornais zelosamente preservados pela família,
pode-se reviver uma história recoberta pela poeira do tempo. A emoção de ler
hoje estes relatos é a mesma de exatos 70 anos, em 24 de fevereiro de 1945, três
dias após a Tomada do Monte Castelo.
Segundo despacho do correspondente de guerra Joel da Silveira, enviado
especial da Agência Meridional de algum ponto da Itália, ao cair da tarde, os
pelotões comandados pelos Tenentes Moyses Chahon e Apolo Miguel Rezk rece-
beram ordem de avançar sobre os morros de La Serra. Após seis horas de com-
bate, a posição foi tomada, ficando feridos os tenentes Apolo e Moyses.
A valente conduta dos soldados sob pesado fogo alemão, tomando dois
pontos fortemente defendidos foi elogiada pelo Comandante do V Exército
Americano, devido à sua grande importância para as operações futuras.
O Correio da Manhã, sob a manchete “É carioca o Tenente Chahon”, divulga
que ele tem 26 anos, filho de Matilde Chahon Gammal, o endereço na Av. N.
Sr.ª de Fátima, 86/501, e que esta senhora, além do Ten. Moyses, tem outro filho
lutando pelo Brasil, que se chama Alberto e é tenente do Corpo de Transmissões.
Ao final da guerra, em 23 de maio de 1945, ainda na Itália, na cidade de
Alexandria, o Comandante do V Exército Americano, Tenente General Lucian
Truscott, agraciou os soldados brasileiros da FEB e da FAB que mais se destaca-
ram com as seguintes medalhas:
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 191
▶ ▶ 1945 – Ten. Moyses Chahon (em pé, ao centro, de bigode), sentado o futuro Presidente da
República, o então Ten.-Cel. Castello Branco. Acervo da família.
Moyses foi agraciado com a Cruz de Combate de 2.ª Classe outorgada pelo
Presidente da República. Em extensa citação no diploma, Moyses é louvado pela
coragem com que comandou seu pelotão, mantendo-se por quatro dias em face
de sucessivos e violentos contra-ataques inimigos, sendo atacado a granadas de
mão, desabrigado e sob fogo de artilharia e morteiros. Nos dias seguintes melho-
rou as posições e repeliu diversos contra-ataques, fazendo prisioneiros, tendo
seu pelotão sofrido as maiores baixas da companhia.
Moyses retornou da Itália em 22 de agosto de 1945. Transferido para Reserva
no posto de General de Divisão em 25 de dezembro de 1969 e reformado em 22
de setembro de 1971.
Moyses Chahon, este bravo soldado brasileiro de fé judaica, herói de La
Serra, nos combates da Itália honrou a memória do valente cearense de Tamboril,
Brigadeiro Antonio de Sampaio, Patrono da Arma de Infantaria que dá nome ao
seu Regimento. Deixou nosso convívio em 24 de junho de1981, aos 63 anos.
Depoimentos
Tentaremos mostrar o desempenho dos sempre lembrados companheiros
Alberto Chahon e Moyses Chahon, dois irmãos que viveram, como todos nós
jovens tenentes da arma de infantaria, todas as agruras da guerra, integrando o
Regimento Sampaio. A exposição relativa a Moyses Chahon é mais ampla, pois
participou de todas as operações do II BI (Major Syseno), justamente o meu
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 193
13 Dr.ª Vera Chahon é psicóloga no Rio de Janeiro, e gentilmente elaborou o relato que reprodu-
zimos abaixo. Julgamos oportuno preservar o estilo coloquial, apenas com ligeiras alterações,
permitindo ao leitor conhecer o lado familiar dos irmãos Chahon, emotivo e tocante.
14 Gen. Francisco Azevedo de Paula Pondé, sócio do IGHMB e da AHIMTB.
194 Israel Blajberg
Contavam eles que foram muito discriminados no Internato, e até mesmo sofre-
ram maus tratos por parte de uma diretora – Miss Dayse –, pois eram pobres,
mal vestidos. Papai contava do solado de seu sapato, formando uma língua, das
camisetas surradas... Eles eram muito diferentes dos outros meninos.
Interessante que nunca transpareceu nenhuma queixa, ressentimento ou
mágoa. Acho que nos contava essas passagens muito no sentido de nos ensi-
nar a valorizar as conquistas e o esforço necessário para se vencer na vida.
Os estudos acima de tudo!!! Ele foi exigente nesse ponto, mas a gente nunca se
sentiu pressionado, era muito suave a forma como exerceu sua função paterna.
Minha mãe às vezes se dirigia a ele como sendo “pai-mãe”, pois era ele que nos
levava ao colégio (para que ela pudesse dormir um pouco mais), preparava
merenda, comprava livros e encapava os cadernos, ajudava nos trabalhos de
escola. E sempre fazendo amizade com nossos mestres. Só mais tarde percebi
que era uma forma de controlar nosso “andamento”, mas também era tão sutil
e natural que nunca nos sentimos perseguidos ou envergonhados por sua pre-
sença constante.
Lembro de uma vez o meu tio Alberto, já em idade avançada, comentando o
fato, e tomado de tanta emoção que me comoveu, pois não sabia que tinham
sofrido a tal ponto.
Depois estudaram no Pedro II e de lá direto para a Escola de Cadetes, após
vencerem as provas dificílimas, inclusive de esforço físico, e com a carta de
recomendação do Gen. Pondé.
Seguiram carreira, papai serviu inicialmente em Florianópolis.
(Nossa, Israel, ao escrever estas linhas acabei me emocionando tanto! Fico a pen-
sar como deve ter sido difícil a vida para eles ainda tão pequenos, vivendo a sepa-
ração dos pais, em uma época em que isto não era nada comum. Em seguida,
órfãos de um pai muito querido, e separados da mãe ao viverem no internato...
Acho que para quem conseguiu vencer essas batalhas da vida e da alma, a guerra
foi... não dá para saber!)
Na época da guerra, minha avó foi chamada ao Quartel General, pois tendo
dois filhos militares, e sendo viúva, somente um deveria ir para a Itália.
Escolha de Sofia! Ela retrucou que iriam os dois, ou nenhum.
Daí em diante você já conhece parte da história. Tio Alberto ocupou fun-
ção nas telecomunicações, e ficamos sabendo das “ordens” que eram dadas,
quando havia problemas nos fios, sei lá. Na época pode-se imaginar a preca-
riedade de tudo.
Ao voltarem da guerra, fizeram de imediato exame para a Escola Técnica
Militar (atual IME). Loucos! Passaram, mas tiveram que esperar o ano
seguinte para que fossem então promovidos a Capitão (houve alteração impe-
dindo que 1.º Ten. ingressassem no IME).
Meus pais se casaram no Grande Templo, em 26 de janeiro de 1950.
Ambos foram grandes chefes de família, pais amorosíssimos, maridos mara-
vilhosos, segundo as esposas. Também filhos gratos e generosos, pois com as
economias que fizeram durante a guerra, vovó comprou uma casa geminada
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 195
em Botafogo, cujo aluguel sempre foi revertido para o casal (ela e o padrasto,
um verdadeiro e amadíssimo pai postiço e avô –Selim Gammal –, nascido
em Alexandria, Egito). Os dois sempre se ocuparam do bem-estar do casal,
mesmo morando fora do Rio.
Papai Moyses, após concluir Engenharia Mecânica de Automóveis e
Industrial, fez arquitetura na Universidade do Brasil (atual UFRJ). Mas ele era
um compositor, fazia músicas, cantava, e sua grande frustração era não tocar
nenhum instrumento. Isto nunca lhe impediu de cantar nos bailes, o que me
surpreendia, porque apesar de muito expansivo e dado, ele era um tímido lá
no seu interior. Uma figura! Amava esportes, e ao receber um trote da turma
de Cavalaria, passou a se dedicar à montaria. Tenho seu uniforme completo
de equitação – menos o quepe.
Aos 36 anos de idade, foi diagnosticado como portador da doença paterna, e
lhe deram de seis meses a um ano de vida, devido à falta de recursos da medi-
cina. Outra batalha a enfrentar – dietas absolutas, privações de toda ordem,
inclusive de praticar esportes.
Ele cumpriu rigorosamente tudo que lhe favorecesse uma melhor qualidade
de vida – e assim foi! Trabalhava normalmente, sem nunca faltar, enfim, levou
vida normal e controlada. Gostava muito de viver! Fazia tudo pela família.
Saímos do Rio para Itajubá, sul de Minas (muito distante na época) e lá ele
serviu na Fábrica de Armas de Itajubá. Em Juiz de Fora, serviu no Quartel
sede da 4ª Região Militar, tendo chefiado o Setor de Motomecanização de toda
a Região Militar, em especial em março de 1964, quando apoiou a Revolução
juntamente com o Gen. Olímpio Mourão Filho, sendo o responsável pela
mobilização das tropas para o famoso encontro no Rio Paraibuna.
Nunca, porém, rompeu com seu ideal de democracia, entendendo que os pre-
sidentes militares deveriam ter realizado a transição de poder aos civis, muito
antes do ocorrido.
Mesmo morando fora, e não tendo sinagoga nem famílias judias onde morá-
vamos, sempre vínhamos ao Rio para todos os festejos judaicos. Tínhamos a
sorte de comemorar com ambas as famílias, pois moravam no mesmo prédio
em Copacabana. Embora tenhamos tido na juventude pouco contato com a
comunidade, nossos avós – maternos e paternos – eram muito religiosos e
zelosos quanto aos princípios judaicos, mas não diria propriamente ortodo-
xos. Presunto, camarão, nem pensar.
Frequentávamos a Sinagoga Beth-El, do CIB – Centro Israelita Brasileiro, na
Rua Barata Ribeiro em Copacabana/RJ.
Com o agravamento da doença, Papai Moysés sofreu um transplante de rim,
passando para a Reserva, isso após ter feito o curso de Direito juntamente com
o filho, José Alberto Chahon, engenheiro do BNDES. Tio Alberto mudou-se
para Barueri.
Eis que foram colegas de nossa turma de cadetes da saudosa Escola Militar
de Realengo, matriculados em 1938, portanto, época em que o fantasma da
Segunda Grande Guerra preparava-se para mostrar suas garras avassaladoras.
196 Israel Blajberg
General Campello15
I – Dois Tenentes
O Tenente Alberto Chahon, mais moço dos [anteriormente] citados, comigo
serviu no 2.º Regimento de Infantaria, quando se iniciou a organização da
FEB. Foi classificado no 1.º Batalhão do Regimento Sampaio e exerceu função
de realce como “oficial de transmissões”, termo usado na época para indicar
importante necessidade de combate e chefia, isto é, as comunicações necessá-
rias ao comando, no que respeita o estabelecimento das ligações, transmissão
de ordens e informações de combate. No 1.º Batalhão de Sampaio permane-
ceu durante toda a campanha. Viveu as dificuldades da entrada em ação no
ataque, de 29 de novembro de 1944, a Monte Castelo, a defensiva de inverno
no Vale do Reno; o ataque vitorioso a Monte Castelo de 21 de fevereiro de
1945; as operações da ofensiva da primavera em Montese e a perseguição das
colunas inimigas até o Vale do Pó. Em nenhum momento ouvi ou presenciei
atos ou reclamações que atingissem sua atuação profissional, principalmente,
no seu Batalhão (Btl. Uzeda), cujo comandante não poupava àqueles que apre-
sentassem alguma falha. Alberto Chahon continuou sua carreira, já agora, no
posto de Coronel e fazendo parte de quadro especial, pois concluíra o curso
do Instituto Militar de Engenharia (QMB), Material Bélico. Calmo, simples e
cortês, compareceu sempre às reuniões de sua turma – “Os cadetes de 1938”.
Em setembro de 2001, perdemos o caro companheiro e fomos homenageá-lo
em seu sepultamento, no Ceminário de São Francisco Xavier (Ala Israelita).
O Tenente Moyses Chahon, irmão mais velho de Alberto, sempre apresentou
traços diversos de personalidade. Alegre e comunicativo, conosco confrater-
nizou, nos tempos felizes de tenentes solteiros, na Tijuca e em suas reuni-
ões festivas. Inteligente e com facilidade no trato de idioma estrangeiro, dei-
xou passar a oportunidade e foi ultrapassado por Alberto, que foi declarado
Aspirante a Oficial, da arma de Infantaria, um ano antes, a 3 de dezembro de
1940. A época era de incerteza e vamos encontrá-lo, vejam o destino, também
classificado no Regimento Sampaio, que se preparava para integrar a FEB.
Eram os tempos do 2.º Batalhão (Major Syseno) e o Ten. Chahon fora assumir
a sua função de comandante de pelotão da 6.ª Cia. Em novembro 1944, nosso
comandante do Regimento, o sempre lembrado Coronel Aguinaldo Caiado de
Castro, em sua “Ordem do Dia”, alertava seu Regimento: “Além, nas Alturas
Apeninas, o “Boche” invasor e traiçoeiro vos espera...!” Estávamos ainda
acampados na área da Tenuta di S. Rossore (Pisa), em final de ajustamentos.
Dias antes, final de outubro de 1944, por puro acaso, quando nos deslocá-
vamos, vamos encontrar, em animada conversa, Alberto e Moyses Chahon
que estavam “sendo visitados” por outro companheiro de turma – o Tenente
José Maria Pinto Duarte, que integrava o 6° RI, em ação no Vale do Serchio,
pois seu Regimento fazia parte do 1.º escalão da FEB e nos precedera na che-
gada além-mar. A conversa seguia animada e Pinto Duarte transmitia suas
15 Depoimento do General Campello, com base em: CAMPELLO, Ruy Leal. Um Capitão de
Infantaria da FEB. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1999. A numeração dos
tópicos foi adaptada aqui para seguir uma ordem cronológica.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 197
Alberto Chahon
Alberto Chahon, nascido em 12 de dezembro de 1919, no Rio de Janeiro, sentou
praça como Cadete da Escola Militar do Realengo em 28 de abril de 1938, sendo
declarado Aspirantea oficial da Arma de Infantaria em 3 de dezembro de 1940.
Em sua rica e extensa carreira militar ao longo de 39 anos, serviu em
diversificadas organizações militares, como o 14.° Batalhão de Caçadores em
Florianópolis; o 2.º Regimento de Infantaria, Rio de Janeiro; o 1.º Regimento
de Infantaria, Regimento Sampaio, da Vila Militar no Rio de Janeiro, quando
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 201
Salli Szajnferber
Salli Szajnferber nasceu em 4 de outubro de 1923, no Rio de Janeiro, filho de
Abram e Berta. Em princípios do séc. XX, seus pais emigraram da Polônia.
Abram era um ex-combatente da Primeira Guerra Mundial.
Após longa viagem de navio, a família foi morar em Guaratinguetá/SP, onde
em 1932 Salli teve sua primeira experiência de “combate”, quando durante a
Revolução Constitucionalista de 1932 um avião bombardeou a cidade.
Mudando-se mais tarde para o Rio, na Rua Carlos Vasconcellos, ao lado
da Praça Saens Peña, na Tijuca, o menino Salli de 11 anos prestou o exame de
admissão para o prestigioso Instituto Lafayette, na Rua Haddock Lobo, que
existe até hoje como Fundação Bradesco. Tirou 100 em todas as matérias, nas
nove provas, escritas, orais e finais.
202 Israel Blajberg
▶ ▶ 8 de março de 2010 – Sepultamento Cel. Salli Szajnferber no Cemitério Israelita do Caju, Rio de
Janeiro/RJ. Cel. Eric Julius Wurts compareceu à frente da representação do 11.º Grupo de Artilharia
de Campanha. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 203
▶ ▶ 8 de março de 2010 – Sepultamento Cel. Salli Szajnferber no Cemitério Israelita do Caju Rio de
Janeiro/RJ. À frente do cortejo, o cantor litúrgico Marco Salem. Acervo do autor.
▶ ▶ 8 de março de 2010 – Sepultamento Cel. Salli Szajnferber no Cemitério Israelita do Caju Rio de
Janeiro/RJ. O Pelotão de Honras Fúnebres dispara uma salva de tiros de fuzil. Acervo do autor.
204 Israel Blajberg
▶ ▶ 8 de março de 2010 – Sepultamento Cel. Salli Szajnferber no Cemitério Israelita do Caju – Rio
de Janeiro/RJ. Quatro soldados em uniforme histórico da FEB guarnecem o caixão recoberto pelo
Pavilhão Nacional. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 205
▶ ▶ 2009 – Ten.-Cel. Mário Raphael Vanuteli e Cel. Salli Szajnferber na cerimônia do 1.º Tiro da Artilharia
Brasileira na Itália, no 21.º GAC – Forte do Imbuhy – Niterói/RJ. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 207
▶ ▶ 2009 – Ten. Melchisedech Affonso de Carvalho e Cel. Salli Szajnferber na cerimônia do 1.º Tiro da
Artilharia Brasileira na Itália no 21.º GAC – Forte do Imbuhy – Niterói/RJ. Acervo do autor.
solo que foste feito” (Bereshit – Gênesis 3:19). Dizem nossos sábios que a alma é
eterna, apenas migra para outra dimensão, e assim eleva-se aos Jardins do Éden,
atravessando o Portal do Paraíso. Os presentes vão se dispersando, até que mais
ninguém está por ali.
Apenas restou a sepultura, recoberta pela terra. Mas para sempre perdura-
rão as boas e valiosas lições que o irmão Salli nos ensinou, antes de passar agora
para o Olam haEmet (Mundo da Verdade).
Salli Szajnferber, bravo soldado brasileiro de fé judaica, herói de Montese,
nos combates da Itália honrou a memória de Mallet, Patrono da Arma de
Artilharia. Que a sua alma se incorpore a corrente da Vida Eterna.16
Mensagem recebida pelo autor
Prezado amigo Israel, sua presença foi muito apreciada pela família, v. era um
dos poucos amigos que restavam ao tio Salli. A memória dele, expressa nas pala-
vras tão bonitas do Gen. Nery nos emocionaram e peço que agradeça a ele em
nome de toda a nossa família. Um abraço, Israel Klabin – 10 de março de 2010.
Salomão Malina
Salomão Malina nasceu em 16 de maio de1922, no Rio de Janeiro, filho de Jacob
e Lea. Em princípios do séc. XX, seus pais emigraram de Lodz, cidade industrial
na Polônia, onde florescia uma importante comunidade judaica, que poucos
anos depois seria exterminada pelo ódio.
Na longa viagem de navio, jamais poderiam sequer imaginar que um dia
a chegada de um menino viria alegrar a casa simples, e estava escrito que este
menino seria um pensador, e mais que isso, unindo a ação às palavras e fazendo
o caminho inverso dos imigrantes, por vontade própria iria lutar de arma na
mão contra aqueles mesmos nazi-fascistas inimigos da Humanidade que tenta-
vam destruir as raízes do seu povo.
Moravam em uma região pobre, hoje a conhecida área comercial do SAARA,
próximo à Rua Regente Feijó e Rua da Alfândega, em um quarto. Sua mãe estava
doente, e viria a falecer em 1945. Não muito distante da Praça XI, a rua judaica
humilde da época. Ali perto, Salomão estudou no Colégio Pedro II, tradicional,
que reunia a elite escolar da época e cursou o CPOR – Centro de Preparação de
Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, de onde saiu Aspirante a Oficial da Arma
de Infantaria.
Na FEB foi incorporado ao 11.º Regimento de Infantaria de São João del Rey,
hoje o 11.º Batalhão de Infantaria de Montanha, tendo comandado o Pelotão de
Minas, os sapadores mineiros que desativavam armadilhas, minas e explosivos.
Embarcou para a Itália no posto de Aspirante a Oficial em 3 de novembro de
1944, onde já no Teatro de Operações foi designado com mais nove capitães e
tenentes para tirar o curso de “Engineering Training Detection Mine Warfare
and Demolition Course # 11”, no QG do 5th USA Army em Dugemta, Itália, de
colecionados pelo Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, teria sido difícil
obter detalhes ou fotos da sua vida militar, de vez que as circunstâncias exigiam
que fotos e documentos seus não ficassem guardados em casa.
Salomão Malina foi militante histórico, último Secretário-Geral do PCB, e
ao final da vida Presidente Honorário do PPS.
Antes de partir, vitimado por doença incurável de que padecia há longos
anos, manifestou a vontade de ser enterrado como judeu. Toda vida conservou
o talit (manto ritual) com que cumpriu a cerimônia do bar-mitzvá (maiori-
dade religiosa aos 13 anos). A tradicional foto de kipá (solidéu) e talit que todo
menino judeu tira nesse dia consta do livro de memórias, lançado às vésperas de
seu passamento.
Teve enterro judaico com velório na Assembleia Legislativa de São Paulo,
onde compareceram inúmeros representantes dos setores políticos e culturais da
sociedade. Frisava que suas raízes eram autênticas, e não uma volta às origens, de
vez que sempre viveu como israelita, jamais ocultando sua fé.
Malina (seu nome em hebraico Schlomo ben Yaakov), faleceu em 2002 aos
80 anos, em 31 de agosto de 2002, sendo sepultado no Cemitério Israelita do
Butantã.
Samuel Kicis
A carreira exemplar de um soldado brasileiro de fé Mosaica17
Corria o ano de 1944. Leda, uma menina de 7 anos no colo da mãe, assis-
tia da varanda da sua casa em Deodoro, à beira da linha da Central do Brasil, o
lento e constante desfilar do imenso comboio de vagões rolando sobre os trilhos,
carregando as tropas prontas para o embarque no Cais do Porto, onde os navios
americanos de transporte aguardavam, junto com a nossa Marinha de Guerra que
faria a escolta até Gibraltar. As tropas vinham da Vila Militar e de Minas Gerais.
Mesmo no inverno, o sol do Rio de Janeiro já era quente de manhãzinha,
bem diferente da Itália gelada para onde o pai de Leda estava iniciando uma
longa viagem naquele trem, a viagem que não teria retorno para todos.
Com seus olhinhos de menina esperta, Ledinha conseguiu divisar o pai à
distância, na janela do trem. Assim, com as bênçãos infantis da filha, o jovem
Capitão de Artilharia Samuel Kicis, Comandante da 2.ª Bateria do 4.º Regimento
de Obuses 155, seguiu para o front, junto com os seus soldados.
Samuel vinha de longe. Seus pais, Isaac e Bertha Kicis nasceram e cresceram
na Bessarábia, hoje Moldávia, região entre a Romênia e a Rússia. Havia deze-
nas, centenas de pequenas cidades onde floresciam pequenas, médias e grandes
comunidades judaicas. Um mundo que acabou... Uma terra que amargava sécu-
los de dominação estrangeira, pelos russos, pelos prussianos, e onde a minoria
judaica alternava períodos de tranquilidade com a perseguição injustificada.
17 Palestra apresentada no evento de 1.° de maio de 2005 no Grande Templo Israelita, em home-
nagem aos heróis brasileiros judeus da 2.ª Guerra Mundial.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 211
Era um prenúncio do Holocausto que estava por vir. Não surpreende, por-
tanto, que tantos tenham decidido partir.
Os Kicis descendem do Rabino Ze’ev Wolf Kitzes, que viveu no séc. XVIII.
A grafia experimentou evoluções ao longo dos séculos, bem como novos ramos
se incorporaram: Kitces, Keces, Keses, Kitzes, Ketzis, Kitzis, Kicis, Kitsis, Kitses,
Charest, Pearson, Gordon, Westheimer, Greenwald, Simon, Rohr, Dunsky.
Os Kicis ouviram falar do Brasil. Um país que diziam haver tantas riquezas
que até pedras preciosas estavam penduradas nas árvores.
Uma terra abençoada, onde vivia um povo alegre, lúdico e musical, com
fartura de terra e água, o sol brilhando o ano todo, onde seriam bem recebidos
por um povo hospitaleiro, descendente dos índios, dos negros escravos e dos
portugueses, e que por isso mesmo não discriminava ninguém. Todos tinham
uma oportunidade, e o sol nascia para todos.
A viagem foi penosa. Reunindo os poucos pertences que podiam levar, des-
pediram-se dos familiares, que jamais iriam rever, iniciando a viagem para a
nova Terra Prometida. Como a maioria dos imigrantes, iriam de terceira classe,
porque não havia a quarta...
Não era raro que crianças e idosos não resistissem a bordo. Os pais se deses-
peravam ao ver o pequeno corpinho sendo lançado ao mar. Queriam ir juntos,
quase enlouquecidos, era preciso que os amigos os segurassem para que não
pulassem a amurada.
Mas o futuro iria sorrir para aquela gente, apesar de tudo com o coração
cheio de esperança.
Ao atravessar a entrada da barra na Baía da Guanabara, só de olhar a paisa-
gem já gostaram daquela terra, e entre lágrimas de saudade da família distante,
prometiam a D’us e a si mesmos que tudo fariam para honrar a confiança que a
nova pátria lhes depositava, tudo fazendo para serem bons brasileiros, criando
os filhos, trabalhando e estudando por um Brasil melhor.
212 Israel Blajberg
18 A Páscoa judaica.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 213
Verificamos que sua folha de serviços neste período era plena de elogios,
inclusive de superiores que um dia se tornariam Presidentes da República, como
na época do Comandante do Núcleo da Divisão Blindada, o General Arthur da
Costa e Silva.
“(...) elogio o Ten.-Cel. Kicis, que integrou o meu Estado-Maior, pela capacidade
de ação, inteligência, dinamismo e garbo, destacado oficial de Estado-Maior (...)”
Em 21 de setembro de 1953, seu pai deixa este mundo, tendo labutado anos
e anos a fio, deixando três filhos.
Samuel serviu em seguida no EME com outros destacados oficiais, como os
então Cel. Ademar de Queiroz, que viria no futuro a ser Presidente da Petrobras,
Cel. Aurelio de Lyra Tavares, que veio a ser Ministro da Guerra e imortal da ABL,
Cel. Adalberto Pereira dos Santos, futuro Vice-Presidente da República.
Em 7 de janeiro de 1956, se deu o casamento de sua filha Leda Pfeil Kicis.
Em 1957 foi mandado a Pouso Alegre/MG, onde exerceu o subcomando do
8.º RA 75 Mont.
216 Israel Blajberg
Salomão Naslausky
Salomão nasceu no Rio de Janeiro em 20 de junho de 1915, filho de Marcos e Annita.
Serviu na Itália no 1.º Grupo do 1.º Regimento de Obuses Autorrebocado,
1/1 ROAuR, sob o comando do Tenente-Coronel Waldemar Levy Cardoso,
tendo embarcado em 22 de setembro de 1944 e retornado com a mesma unidade
em 22 de agosto de 1945. Comandou a 2.ª Bateria de Obuses 105 mm.
Desempenhou importantes comissões ao longo de uma brilhante carreira
militar com mais de 30 anos, como a de Comandante da Escola de Artilharia de
Costa e Antiaérea – EsACos AAe.
220 Israel Blajberg
Boris Schnaiderman
A FEB era um verdadeiro microcosmo da sociedade brasileira, com homens de
diversos estados do Brasil, tanto é que até hoje existem associações de ex-com-
batentes em mais de 20 cidades brasileiras.
222 Israel Blajberg
22 KIRSCHBAUM, Saul. Entrevista com Boris Schnaiderman. De Odessa a São Paulo: uma vida
traduzida – Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG – V. 1, n. 5, out.
2009.
224 Israel Blajberg
Carlos Scliar
Carlos Scliar nasceu em Santa Maria da Boca do Monte/RS, em 21 de junho de
1920. Foi um dos grandes mestres brasileiros da gravura e da pintura.
Embarcou para a Itália em 22 de setembro de 1944, integrando o 1.º Grupo
do 1.º Regimento de Obuses Autorrebocado, retornando em 28 de julho de 1945
com a Tropa do QG. Durante a guerra, desenhava as cenas que assistia, as quais
foram reunidas em seu retorno formando os Cadernos de Guerra.
Em 1950, após voltar da Europa, Scliar recebeu convites para a realização de
murais, sobre o levante do Gueto de Varsóvia (SP), teve projetos aprovados por
Oscar Niemeyer, para Brasília e ainda para os Estados Unidos, através do Itamaraty.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 225
▶ ▶ 1945 – Rubem Braga e Carlos Scliar na Itália. Acervo do Instituto Cultural Carlos Scliar.
23 NIEMEYER, Oscar. Texto para exposição “Scliar: Obras Recentes”, Galeria AM Niemeyer, mar.
1981.
24 Verde-Oliva, CComSEx, ano XXV, n.º 157, set./out. 1997.
226 Israel Blajberg
Ser primo do Carlos Scliar era para mim motivo de orgulho. Aliás, não só para
mim, para toda a família. Que não era pequena. Nove filhos a minha avó Ana
trouxera da Rússia e todos eles também tiveram um número razoável de filhos.
Resultado: uma grande tribo de gente voltada sobretudo para a cultura: vários
músicos, um fotógrafo e cineasta, vários profissionais liberais... Mas em Carlos
eu via um modelo, sobretudo por causa da coerência e da dignidade com que
sempre se dedicou à sua arte.
Mais que isto, desde cedo revelou-se um militante que acreditava em um
mundo melhor, sonho que partilhava com numerosas pessoas, entre elas Jorge
Amado e Zelia Gattai. Foram os primeiros escritores que conheci, e isto graças ao
Carlos, que lhes servia de anfitrião cada vez que vinham a Porto Alegre.
Eu admirava o talento de Carlos. Um talento que ele, generosamente, tra-
tou de me transmitir. Um dia, eu ainda garoto, resolveu me ensinar a desenhar.
Deu-me um lápis, uma folha de papel, e pediu que eu o retratasse. Desenhei um
círculo com vários pontinhos dentro. Ele olhou aquilo, meio espantado, e pergun-
tou o que era o círculo. A tua cara, respondi. E esses pontinhos, ele indagou. A
barba, foi minha resposta. Ele não disse nada, mas não voltou ao assunto. Em
compensação, quando comecei a escrever minhas primeiras historinhas, era a ele
que mostrava. Lia, anotava, dava sugestões. E indicava-me autores para ler; foi
graças a ele que descobri Clarice Lispector. Até hoje lembro Carlos lendo em voz
alta o belíssimo conto “Uma galinha”, que tinha publicado na revista Senhor.
Antes disso, porém, ele foi para a guerra. De novo, aquilo me encheu de
orgulho. Mas seus pais sofriam muito. Pior ainda, a mãe, Cecília, faleceu quando
ele estava na Itália. Meu tio Henrique, desnorteado, não sabia como dar a notícia
ao filho, numa época em que as comunicações eram precárias. Entrou em contato
▶ ▶ 1945 – Carlos Scliar, pintor e soldado da FEB. Acervo do Instituto Cultural Carlos Scliar.
228 Israel Blajberg
▶ ▶ Um dos desenhos de Carlos Scliar durante a Campanha da Itália. Acervo de Francisco Scliar.
com Rubem Braga, que era então correspondente de guerra junto aos pracinhas
e pediu que o fizesse. Numa crônica notável, Braga conta que procurou Carlos e
encontrou-o felicíssimo: era sua primeira folga no fronte e ele ia aproveitar para
visitar Florença. Braga adiou a revelação: “Não se pode estragar a primeira visita
de um jovem artista a Florença”.
No fronte e na vida Carlos Scliar foi um lutador admirável e humano. Faz
falta. Faz muita falta.
25 http://carlosscliar.com/linha-do-tempo/
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 229
Jacob Gorender
Jacob Gorender, escritor, jornalista e historiador, nasceu em 20 de janeiro de
1923, em Salvador/BA. Filho de Ana e Nathan Gorender, seu pai, judeu ucra-
niano socialista, não sendo sionista, emigrou em 1905 para a Argentina, e de lá
seguiu para a Bahia onde, como tantos correligionários naquela época, ganhava
o sustento como vendedor a prestação.
Gorender estudou na Escola Israelita Brasileira Jacob Dinenzon e poste-
riormente no Ginásio da Bahia, renomada escola pública onde estudava a elite
baiana. Cursou a Faculdade de Direito, onde teve contato com estudantes comu-
nistas, que participaram ativamente da mobilização pela entrada do Brasil na
Segunda Guerra, após os torpedeamentos em 1942.
Em 1943, Gorender, Ariston Andrade e Mário Alves apresentaram-se como
voluntários à FEB, este último não tendo sido aprovado no exame médico.
Gorender foi soldado da FEB, tendo servido no 1.º Regimento de Infantaria,
o Regimento Sampaio, da Vila Militar, Rio de Janeiro, onde integrou o Pelotão de
Transmissões, participando das batalhas da Tomada de Monte Castelo, Montese,
Campanha dos Apeninos e a ofensiva até Piacenza.
Embarcou para a Itália com o 1.º Regimento de Infantaria em 22 de setem-
bro de 1944, retornando com a mesma unidade em 22 de agosto de 1945. Contou
tempo no Teatro de Operações da Itália de 6 de outubro de 1944 a 11 de agosto
de 1945, sendo licenciado do serviço ativo aos 15 de setembro de 1945, como
Reservista de 1.ª Categoria, tendo sido agraciado com a Medalha de Campanha.
Seu Comandante foi o Capitão Castello Branco e o Comandante do
Regimento o Coronel Caiado de Castro.
▶ ▶ 2010 – Prof. Jacob Gorender, veterano da FEB, durante o lançamento do livro Soldados que vieram
de longe, contendo a sua biografia, no Acervo Histórico Judaico Brasileiro, São Paulo/SP.
230 Israel Blajberg
26 http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/526/entrevistados/
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 231
Brasil, país católico, cristão. O mais curioso é que nós estávamos separados do
recinto dele por uma espécie de gradeado e ele, quando terminou de falar, se
aproximou do gradeado e todo mundo, todos os outros soldados, apresentavam
a ele crucifixos e rosários para que ele abençoasse. E eu estava na primeira fila,
consegui ficar. Então detrás vinham os rosários e os crucifixos, e eu me apresentei
ao Papa quando ele ficou perto de mim.” (risos)
Marcos Chapire
Marcos Chapire era irmão do Capitão QAO Jacob Chapier Sobelman, tendo
ambos nascido em Santa Maria da Boca do Monte/RS, e integrado a FEB.
Filho de Benjamin Chapire e Rosa Chapire, tendo nascido em 3 de maio
de 1913. Eram avós paternos Chabse Chapire e Perel Chapire, e avós maternos
Mendel Aronis e Amalia Aronis. Casado com Odaiza Moura Chapire.
Os irmãos Marcos e Jacob foram criados separadamente com parentes da
família devido à separação dos pais e problemas de saúde da mãe, portanto, não
tinham certeza sequer da grafia correta do sobrenome do pai. Marcos obteve seu
registro de nascimento posteriormente e Jacob antes de entrar para o Exército,
adotou por gratidão o sobrenome de seu tutor Sr. Sobelman, passando-o a seus
filhos.
Os irmãos se reencontraram por volta de 1932 quando lutavam na
Revolução Constitucionalista, em tropas do Rio (Marcos) e São Paulo (Jacob).
Coincidentemente, ambos seguiram carreira militar e depois deste reencontro
estiveram sempre juntos.
Quando ainda era 2.º Tenente, se inscreveu para participar do X Congresso
Brasileiro de Geografia, em 7 de setembro de 1944, em Belém/PA, com foco em
Geografia Amazônica.
Integrante da FEB como 2.º Tenente do I/1 ROAuR, tendo embarcado em
22 de setembro de 1944 e retornado em 19 de agosto de 1945.
Praça em 2 de maio de 1931, Aspirante em 14 de junho de 1941, 2.º Ten.
em 30 de janeiro de 1942, contando antiguidade desde 25 de dezembro de 1941,
1.º Ten. em 25 de dezembro de 1944. Tirou o curso da Escola de Instrução
Especializada (EsIE), servindo no I/1.º ROAuR.28
Marcos trabalhou na Petrobras, no Rio de Janeiro, com seu antigo irmão de
armas Gen. Neves. Era também Engenheiro Agrônomo e Florestal, formado pela
Escola Nacional de Agronomia, no km 47 da antiga Rio-SP. No Rio de Janeiro,
▶ ▶ Ten.-Cel. Intendente Marcos Chapire, integrante da FEB como 2.º Tenente do I/1 ROAuR. Acervo
da família.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 233
residiam membros da sua família materna, sua prima D.ª Rosinha Aronis
Barbalat, casada com Sr. Maurício Barbalat, e seu filho, o jurista Dr. Rui Barbalat.
Marcos passou para a Reserva como Tenente-Coronel do Serviço de
Intendência do Exército. Faleceu em 4 de outubro de 1989.
Sua viúva, D.ª Odaiza Moura Chapire Fagundes, casou-se em segundas
núpcias com o Cel. PM/PB Jarlon C. Fagundes.
Fé de Ofício:29
▶▶ 14/4/39 a 16/6/41 – Escola de Intendência do Exército, Cap. Fed. como
segundo aluno.
▶ ▶ 16/6/41 – Para a Diretoria de Intendência. Declarado Aspirante a Oficial
do Quadro de Intendentes do Exército.
▶ ▶ 26/6/41 – 7.° Batalhão de Caçadores, Porto Alegre/RS, como Almoxarife
e Aprovisionador.
▶▶ 30/6/43 – Diretoria de Intendência do Exército – Cap. Fed. como Auxiliar
da 1.ª Seção – S/1
▶▶ Transferido para o I/1.º ROAuR – Almoxarife e Aprovisionador. Oficial
de manutenção da Bateria de Serviços.
▶▶ 22/9/1944 – Embarque para a Europa – Nápoles.
Israel Rosenthal
Israel nasceu no Rio de Janeiro em 7 de fevereiro de 1921. Seus pais Rubin e
Clara emigraram da Bessarábia, hoje Moldávia, no começo do século XX, indo
morar na Praça XI. Israel estudou no Colégio Nacional e apresentou-se como
voluntário para prestar o Serviço Militar. Prestou exame de admissão para o
Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, CPOR/RJ, tendo
sido aprovado e matriculado no Curso de Infantaria.
Entre seus contemporâneos, havia vários rapazes judeus, que simultane-
amente cursavam faculdades e o CPOR, entre os quais Marcos Cerkes, Pedro
Kullock e Salomão Malina, que integraram a FEB, e os médicos Isaac Faerchtein
e Jacob Kleiman, que não foram à guerra, bem como Reuven Josef Rosental,
aluno do 2.º Ano do Curso de Artilharia, falecido em 15 de setembro de 1944 em
decorrência de um acidente quando montava um cavalo que disparou durante
exercício na Barreira do Vasco, indo de encontro a um bonde.
Israel foi admitido pelo vestibular em 23 de fevereiro de 1941 e formou-se
cirurgião-dentista pela Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do
Brasil em 1943, tendo obtido um dos primeiros registros no CRO-RJ sob n.º 196.
A colação de grau foi em 28 de novembro de 1953 no Theatro Municipal.
Em concorrida cerimônia no Estádio do Vasco da Gama em São Januário,
Israel foi declarado Aspirante a Oficial da Arma de Infantaria, na Turma de 1944.
Em 19 de dezembro de 1944, o Aspirante a Oficial R/2 Israel foi convo-
cado para o serviço ativo, apresentando-se no Centro de Recompletamento de
▶ ▶ 1945 – Tenente R/2 Inf. Israel Rosenthal, no tempo em que integrou a FEB. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 235
O retorno
Ao retornar no navio Duque de Caxias, Rosenthal participou em 4 de setembro
do desfile da FEB em Lisboa, com seus colegas Tenentes R/2 de Infantaria, da
Turma de 1944 do CPOR/RJ: Rubens Garcia Bastos, Ramiro Hey de Campos
Cabral, Carlos Ernesto da Cunha e Oswaldo Francisco Costa. O Maj. Paredes foi
o Comandante do Destacamento do desfile. No palanque, ficou o Cel. Travassos,
Comandante do Depósito de Pessoal, que assistiu ao desfile ao lado de Salazar.
Os cinco tenentes mencionados eram Adidos ao EM e ficaram também no
palanque. Cerca de 1.100 homens desfilaram, em apoteose na Av. Liberdade, foi
assombroso, o povo aplaudia, muita confraternização.
Ao desfile seguiu-se o almoço, sendo que cerca de 100 militares não desfila-
ram, entre os que permaneceram no navio e no palanque. Os oficiais brasileiros
sentavam à mesa intercalados com os portugueses. Por ordem de Salazar, qualquer
▶ ▶ 2014 – Desfile Cívico Militar de 7 de Setembro. Tenentes R/2 Ney Costa, Israel Blajberg e Israel
Rosenthal, e Tenente da Marinha Melchisedech Affonso de Carvalho em frente ao PDC – Palácio
Duque de Caxias. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 239
▶ ▶ XI ENOREx 2009, Brasília – Vet. Cel. Vanutelli, Gen. Adhemar da Costa Machado, então Chefe do
CComSEx, Vet. Ten. Israel Rosenthal e Ten. R/2 Israel Blajberg. Acervo do autor.
brasileiro fardado tinha direito a transporte grátis nos táxis, naquele único dia em
que o Duque de Caxias permaneceu atracado no porto. Todos os militares brasi-
leiros foram agraciados com a Medalha de Ouro do Valor Militar, sendo que na
pressa muitas não foram entregues, sob a promessa de que iria mais tarde pelo
correio, o que nunca aconteceu, pelo menos para os cinco tenentes mencionados.
O Cel. Travassos recebeu uma insígnia de brilhantes de grande valor. Um dos aspi-
rantes que ficou a bordo acabou se casando com uma brasileira que visitou o navio.
Era colega de pelotão e de turma de Rosenthal: FNO 1943 e CPOR 1944.
Rosenthal achou a cidade maravilhosa e muito bonita, gostou das ruas gran-
des, espaçosas, limpas, do povo que recebeu muito bem aos brasileiros.
Marcos Cerkes
Marcos nasceu em 10 de março de 1925, filho de Isaac e Raquel Cerkes. Seu
nome hebraico era Mordehai Ben Izhak haCohen. Como seu nome indica, pela
palavra Cohen, descendia remotamente dos sacerdotes do Templo de Salomão,
o que é transmitido por tradição oral de pai para filho ao longo das gerações.
Cursou o CPOR/RJ, sendo declarado Aspirante a Oficial da Arma de
Infantaria.
Foi 1.º Tenente na FEB.
Marcos Galper
Marcos Galper, filho de Samuel Galper e Ana Galper, nasceu no Rio de Janeiro em
10 de outubro de 1921. Casado com D.ª Paulina Galper. Residia em Copacabana.
Seu pai era sobrinho de Jacob Scheneider, grande ativista da Comunidade
Judaica e ativo no teatro iídiche da época.
Em 1926, a família saiu do Rio fixando-se em Sorocaba, onde o pequeno
Marcos frequentou a Escola de Freiras, por falta de outras. Em 1930, mudaram-
se para Campinas, voltando depois para o Rio de Janeiro, onde Marcos entrou
no Colégio Pedro II, segundo colocado no exame de admissão, com média de 93
pontos, um ponto só a menos do que o primeiro colocado.
Prestou exame, em 1938, na Escola Naval, obtendo o primeiro lugar em
matemática, mas preferiu cursar a Faculdade de Filosofia da Universidade do
Brasil (hoje UFRJ), na área de Matemática. Concluiu o Curso de Humanidades
no Colégio Pedro II, sendo declarado apto para o serviço do Exército, ingressando
no CPOR/RJ como aluno do Curso de Artilharia em 16 de dezembro de 1940.
Em 22 de janeiro de 1943, foi declarado Aspirante a Oficial da Reserva da
Arma de Artilharia. Na época o curso do CPOR tinha a duração de três anos.
Entre seus colegas de turma de Artilharia, podemos citar Manoel Jairo
Bezerra, professor de Matemática que se notabilizou por ser um dos “quatro
▶ ▶ Ten. R/2 Art. Marcos Galper e a peça de 105 mm da Bateria de Obuses do CPOR/RJ que leva o seu
nome.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 243
autores” do livro famoso adotado nas melhores escolas do Brasil, Mauro Thibau,
Jayme Jakubovicz, Carlos José Tuttman e os irmãos Antonio e Mário Raphael
Vannutelli.
Mário Raphael Vannutelli reside em Brasília, tendo completado 96 anos em
27 de julho de 2014. Serviu junto com Galper na FEB.
As unidades de Artilharia – o 2.° Grupo do 1.º Regimento de Obuses
Autorrebocado, o 1.º Grupo de São Cristóvão, comandado pelo Coronel Levi
Cardoso e o 3.º Grupo, do Coronel Souza Carvalho, que veio de São Paulo,
faziam manobras na região de Campo Grande e Barra da Tijuca.
Galper era Oficial de Motores da Bateria de Comando e Serviços, do 2.º/1.º
ROAuR, e depois Observador Avançado da 3.ª Bateria, missão de alto risco junto
às primeiras linhas do avanço da Infantaria, quando escapou da morte por oca-
sião de rajada de fogo amigo que atingiu a cota 911 onde estava posicionado.
Chegando à Itália, o 2.° Grupo de Galper e Vannutelli se deslocou para região
de Vecchiano, recebendo ordem, assim como o 6.º RI, de engajar-se na frente,
em área já determinada pelo Comandante do IV Corpo. O II Grupo, comandado
pelo Coronel Da Camino, ocupou posição vizinha ao Monte Bastione – depois
da guerra, essa unidade foi denominada Grupo Monte Bastione.
Lá, disparou o primeiro tiro, com a 1.ª Bateria do Capitão Mário Lobato
Vale. Coube à 1.ª Bateria dar o primeiro tiro, no Vale do Sercchio, fato glorioso
para a Artilharia brasileira, a fim de apoiar as ações do 6.º RI na captura de várias
localidades importantes, como Barga, Massarosa, Galicano e tantas outras.
No I Grupo de Artilharia, comandado pelo Tenente-Coronel Valdemar
Levi Cardoso, estava seu irmão, 2.º Tenente Antônio Vanutelli. Era subalterno
da Bateria Comando do I Grupo, oficial de manutenção da subunidade e rece-
bia muitos elogios nessa função. O Comandante da Bateria Comando era o
Capitão Odemar Ferreira Garcia que, mais tarde, chegaria a General. Os dois,
únicos filhos, saíram de casa, no Rio de Janeiro, deixando os pais, e seguiram
para Itália, para a guerra, no 1.º e no 2.º Escalão. Antonio, o irmão mais novo,
é falecido.
Na ofensiva de abril, a unidade prosseguiu rumo ao Vale do Pó, sabendo
que vinha do sul, a 148.ª Divisão do exército alemão, com remanescentes da 90.ª
Divisão Panzer e da Divisão italiana Monterosa no propósito de atravessar os rios
Pó e Panaro e prosseguir para o norte. Houve, no início, uma refrega, porquanto
os brasileiros perceberam, através da ação do 1.º Esquadrão de Reconhecimento,
que o inimigo pretendia furar o cerco. Houve tiro da Artilharia e ação da
Infantaria. Como estavam com muitos feridos, resolveram prosseguir com os
entendimentos junto ao Comando da FEB para que se procedesse a rendição.
Vannutelli esteve presente ao evento. Perto de 20 mil homens foram fei-
tos prisioneiros. O comandante dessa Divisão alemã era o General Otto Fretter
Pico e seu Chefe de Estado-Maior era o Major W. Kuhn, considerado um ofi-
cial de elite, naquela época. Coincidentemente, na FEB estava o Coronel Franco
Ferreira, um oficial de Estado-Maior, de Cavalaria, que tinha sido adido militar
na Alemanha antes da guerra, falava muito bem alemão.
244 Israel Blajberg
▶ ▶ 11 de março de 2011 – Sepultamento Ten. Marcos Galper no Cemitério Israelita de Vilar dos Telles/
RJ. Palavras do Comandante do 21.º GAC Cel. Marto, vendo-se os filhos Marcio e Marcel e o cantor
litúrgico diante do esquife recoberto pelo Pavilhão Nacional. Acervo do autor.
▶ ▶ 11 de março de 2011 – Sepultamento Ten. Marcos Galper no Cemitério Israelita de Vilar dos Telles/
RJ. Transporte do esquife recoberto pelo Pavilhão Nacional por militares do 21.º GAC de Jurujuba –
Niterói/RJ. Acervo do autor.
246 Israel Blajberg
▶ ▶ 11 de março de 2011 – Sepultamento Ten. Marcos Galper no Cemitério Israelita de Vilar dos Telles –
Rio de Janeiro/RJ. O Pelotão de Honras Fúnebres dispara uma salva de tiros de fuzil. Acervo do autor.
▶ ▶ 11 de março de 2011 – Sepultamento Ten. Marcos Galper no Cemitério Israelita de Vilar dos Telles/
RJ. O Pavilhão nacional é dobrado e entregue a família. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 247
Pedro Kullock
Pedro nasceu em 12 de dezembro de 1922 na cidade do Rio de Janeiro, filho de
Manoel e Sara Kullock.
Na FEB, foi Aspirante a Oficial de Infantaria tendo embarcado em 8 de feve-
reiro de 1945 com o CRP/FEB – Centro de Recompletamento de Pessoal, e retor-
nado em 3 de outubro de 1945 com o DP/FEB – Depósito de Pessoal.
Embora jovem ainda, já era um homem com grande experiência de vida e
viajado, conhecia a Argentina, tinha residido nos Estados Unidos, e por dominar
o inglês ocupou a função de intérprete junto ao V Exército.
Oriundo do CPOR/RJ, esteve sediado em Florença, o que resultou em forte
ligação emocional com esta magnífica cidade italiana, o berço do Renascimento
italiano, e uma das cidades mais belas do mundo, terra natal de Dante Alighieri,
autor de Divina comédia, marco da literatura universal.
O pessoal da FEB costuma gozar licenças nessa cidade, governada pela
família Médici desde o início do século XV até meados do século XVIII. O pri-
meiro líder da cidade pertencente à família Médici foi Cosme, o Velho, chegou
ao poder em 1437. Foi um protetor dos judeus na cidade, iniciando uma longa
relação da família com a comunidade judaica, uma relação tensa, que se tornaria
comprometedora com a Inquisição italiana.
Florença teve antes e durante o período de governo dos Médici uma
influente comunidade judaica, que deteve um papel proeminente nas artes,
finanças e negócios da cidade, até que os judeus passaram a ser perseguidos mais
fortemente pela Inquisição italiana.
248 Israel Blajberg
Samuel Soichet
Samuel era Aspirante a Oficial R/2 formado pelo CPOR/RJ.
Médico de Niterói, levou seu violino, e entre um e outro atendimento,
empunhava o instrumento em pleno front.
Quando dos acontecimentos que marcaram a Declaração da Independência
do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, Samuel teria se incorporado ao
nascente Exército de Israel, a Haganá, onde teria atingido a patente de Major
durante a Guerra da Independência.
Foi realizar uma bolsa de residência médica nos Estados Unidos, e acabou
radicando-se naquele país, onde faleceu. Trabalhava no Mount Sinai Hospital.
Como tantos universitários da década de 1940, Samuel cursou o CPOR –
Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, e com mais um punhado de corre-
ligionários, que tinham garra e patriotismo, seguiu para a Itália, para enfrentar
o duplo perigo.
Em de dezembro de 2014, continuam vivos pelo menos dois médicos da
FEB que conviveram com Samuel, o Dr. Edgard, com 104 anos, e o Dr. Carlos
Henrique Bessa, com 95 anos, residentes no Rio de Janeiro.
Quatro médicos se formaram juntos na FFM em 1944, embarcaram jun-
tos, viajaram no mesmo camarote, serviram no mesmo Batalhão de Saúde como
tenentes:
▶▶ Dr. Antonio Fonseca Jardim, de Montes Claros/MG
▶▶ Dr. Carlos Henrique Bessa de Niterói/RJ
▶▶ Dr. Jorge Arturo Boring, de Niterói/RJ (argentino naturalizado brasileiro)
▶▶ Dr. Samuel Shoichet, de Niterói/RJ
O 1.º BS foi instalado em janeiro de 1944 em Valença/RJ, sendo convocados
médicos civis para recompletar o efetivo, que foi o caso dos quatro médicos citados
acima. Trata-se do atual 21.º B Log (Batalhão Oswaldo Cruz/1.º Batalhão de Saúde).
O 2.º Tenente Médico Dr. Carlos Henrique Bessa serviu no Posto de Triagem
e Evacuação da 3.ª Cia. do 1.º Batalhão de Saúde, comandados respectivamente
250 Israel Blajberg
▶ ▶ 1945 – Tenentes Médicos Antonino Fonseca Jardim, Jorge Arturo Borring e Samuel Soichet.
Acervo do Ten. Bessa.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 251
▶ ▶ 1945 – Grupo do Primeiro Batalhão de Saúde, formado pouco antes da chegada de volta ao Rio de
Janeiro, no transporte de tropas Mariposa. Acervo do Ten. Bessa.
escala. Os feridos eram levados pelos padioleiros ao Posto de Triagem, onde rece-
biam um atendimento e preparo inicial para transporte às Cias de Tratamento
ou ao Hospital brasileiro em Porreta Terme, instalado em um antigo hotel pró-
ximo ao QG do Gen. Mascarenhas. Se necessário, poderiam ser transferidos para
um hospital americano na retaguarda, e mesmo para os EUA nos casos mais
complexos, o que aconteceu com diversos pracinhas.
O QG era muito visado pela artilharia alemã, e consequentemente o
hospital também. O Comandante do V US Army, General Mark Clark, havia
sugerido que a FEB recuasse o QG, o que não foi aceito pelo Comandante Gen.
Mascarenhas.
Dr. Bessa nos relata que seu alojamento em Porreta chegou a ser atingido,
e ele mesmo se feriu no queixo quando a ambulância em que viajava foi alvo
de uma granada que caiu à frente e se desgovernou. Ele estava próximo a uma
ponte em Sila que era continuamente coberta por fumaça para dificultar a sua
visualização.
Dr. Bessa tinha 13 comandados, entre sargentos enfermeiros e padioleiros.
Uma das Ordens de Serviço que guardou refere-se ao povoado de Farné, próximo
a Marzabotto, onde houve um massacre perpetrado pelos alemães. Em função
disso, muitos partisans se incorporaram a pelotões brasileiros, conforme mostra
o diagrama anexo a OS, que distribui o efetivo entre as diversas frações em ação
na região de Farné.
Samuel faleceu prematuramente em Nova Iorque, onde havia se radicado
após a guerra, vitimado por uma doença incurável, deixando esposa e filhas.
Sua especialidade era a ginecologia, sendo dotado de grande criatividade,
inclusive tendo desenvolvido um DIU – Dispositivo Intra Uterino bastante ori-
ginal, que teria tido grande aceitação não fosse o lançamento da pílula anticon-
cepcional, que ocorreu logo após.
Após a guerra, o Dr. Bessa não prosseguiu na carreira militar, sendo admi-
tido no HSE – Hospital dos Servidores do Estado no Rio de Janeiro, onde labu-
tou por 30 anos. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.
Samuel33
O Samuel era, como se diz, “uma figuraça”. Muito simpático, inteligente, alegre
e comunicativo.
Alguns achavam que o Samuel fosse excessivamente excêntrico. Na ver-
dade, tinha por vezes traços extremados: um idealista sem limites, um sonhador
frequente.
Cumpriu todas as suas missões neste mundo com muita eficiência e sabe-
doria. Como estudante, como soldado na guerra, como médico em Nova Iorque,
como um pai de família, como um bom amigo de seus amigos. Infelizmente,
morreu muito cedo e sofreu no fim da vida algumas amarguras.
33 Reminiscências escritas especialmente para esta obra pelo veterano 1.º Ten. R/2 Médico Dr.
Carlos Henrique Bessa, amigo de infância e colega de turma e da FEB do Dr. Samuel Soichet.
Aos 94 anos viajou em 2014 para a Itália em busca das suas recordações. Escreve atualmente um
livro de memórias.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 253
▶ ▶ 1945 – Tenentes Médicos Antonino Fonseca Jardim (de Nova Lima/MG), Carlos Henrique Bessa (de
Niterói/RJ), Jorge Arturo Borring (argentino, naturalizado brasileiro), Samuel Soichet (de Niterói/RJ).
Colegas de turma formaram-se juntos na FFM, Segundos Tenentes Médicos do 1.º Batalhão de Saúde.
Embarcaram juntos e estiveram no mesmo batalhão durante toda a guerra. Acervo do Ten. Bessa.
254 Israel Blajberg
abraçavam-nos com olhos marejados de quem não sabia se nos veríamos outra
vez. Lembro-me que o reitor da faculdade, o Prof. Barros Terra, emocionado,
disse que em toda a sua vida de velho mestre tinha sido aquela uma formatura
sem discursos nem representantes oficiais a mais comovente que ele já tinha visto.
Na guerra, o Samuel esteve no mesmo batalhão que eu, mas não na mesma
Cia. Mas nos encontrávamos com frequência, e ao voltar, como na ida, ocupa-
mos o mesmo camarote no navio. Depois da guerra, quando morava em Nova
Iorque, fui visitá-lo várias vezes e vice-versa, quando ele vinha ao Brasil.
Um primo meu também médico e que também morava em Nova Iorque
e que através de mim tornara-se amigo do Samuel, um dia telefonou-me avi-
sando que ele estava com um câncer já avançado, mas sobre o qual não falava.
Telefonei para ele buscando um assunto qualquer para conversarmos um pouco e
me disse, otimista como sempre, que estava doente, mas que via naquilo um lado
bom porque a família estava reunida em torno dele.
Parte do capítulo 1 do livro do 1.º Ten. R/2 Méd. Dr. Bessa34
Antes do embarque (Uma formatura diferente de todas as outras)
Faltando dois meses para concluirmos o curso médico, um curso de oito anos,
não nos conformávamos eu, Samuel, Antonino e Boring em ter que embarcar
como “praças”, quando muito mais justo seria que pudéssemos fazer os exames
finais e irmos como médicos. Inclusive para o Exército, pois formar um médico
demanda muito mais tempo de preparação.
Para felicidade nossa, o diretor da faculdade, Prof. Barros Terra – entre
outros – assumiu a nossa causa e trabalhou muito junto ao Ministério da
Educação, comprometendo-se a acelerar o final de alguns cursos, exames, etc.,
e assim pudemos obter o diploma de médico antes do embarque. Fomos como
Aspirantes e logo Tenentes Médicos da “Força Expedicionária Brasileira” em
operação na Itália.
Passo a transcrever um trecho do diário que escrevi quando já embarcado.
“(...) até que, uma noite recebi um telefonema do Samuel: O Ministério da
Educação nos dera permissão para fazermos os exames finais e deveríamos
começá-los imediatamente. Um ofício do Prof. Barros Terra pedindo permissão
para que fizéssemos exames das cadeiras de frequência gerara essa solução, a
melhor possível para nós. Em quatro dias fizemos todos os exames. Saímo-nos
regularmente em todos eles. Apesar de não termos, em algumas cadeiras, assis-
tido a uma aula. A 7 de julho fizemos os últimos exames, Fisiologia e Clínica
Médica, e descemos para a secretaria: nós quatro, o Prof. Terra, o Prof. Pedro
da Cunha (Pedrão entre nós), os Profs. Mazini Bueno, Alcides Lintz, o Silvio
Alvim de Lima, assistente do grande Pedrão, alguns colegas nossos – o Fernando
Monteiro (gaúcho), o Kastrup, Chumbinho, Eulália, Arlete e Ester, e talvez mais
alguns. A secretaria estava como sempre esteve. Todos trabalhando. O Prof. Terra
reuniu-nos, então entre quatro mesas em torno de nós todos os presentes. Seria
34 Livro em preparo relatando a experiência de guerra do veterano 1.º Ten. R/2 Médico Dr. Carlos
Henrique Bessa, amigo de infância e colega de turma e da FEB do Dr. Samuel Soichet.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 255
▶ ▶ 2014 – Cel. Mário Felizardo Medina, adido militar na Itália com Ten. Méd. Dr. Carlos Henrique
Bessa, Veterano do 1.º BS. Acervo do Ten. Bessa.
a nossa colação de grau. Sei que jamais esquecerei das cenas que então se passa-
ram: O Prof. Terra dizendo em voz comovidíssima o juramento que nós quatro,
fardados de sargento, cansados por quatro dias de exames sucessivos, um tanto
barbados, repetimos mais emocionados ainda. Colocando depois o anel em nos-
sas mãos. ‘Podem exercer e ensinar a medicina’(...)”
Adio Novak
Adio Novak nasceu em 12 de agosto de 1920, no Rio de Janeiro, filho de Motta e Vera
Novak, tendo sido 3.º Sgt. da FEB, e transferido para a Reserva no posto de Capitão
R/1 de Infantaria. Foi condecorado com as Medalhas de Guerra e de Campanha.
256 Israel Blajberg
Henrique Schaladowsky
Henrique nasceu em 26 de abril de 1919 no Rio de Janeiro, filho de Samuel e
Ana.
Na juventude, frequentou o Clube dos Cabiras e o Clube Azul e Branco.
Embarcou para a Itália como 2.º Sargento do 9.º Batalhão de Engenharia em
22 de setembro de 1944, retornando com a mesma unidade em 13 de agosto de
1945.
Sua unidade desempenhou relevante papel, como primeira tropa de
Engenharia a atravessar o Oceano Atlântico para combater em outro continente,
tendo Henrique pertencido à Companhia de Comando e Serviços, o primeiro
elemento do 9.º BE e da FEB a entrar em ação em 6 de setembro de 1944 no
Teatro de Operações da Itália.
O 9.º Batalhão de Engenharia de Combate foi criado pelo decreto nº 4.799,
de 6 de outubro de 1942, e organizado no quartel do 1.º Batalhão de Engenharia
(atual BEsEng) na cidade do Rio de Janeiro, com efetivos locais, e do 2.º Batalhão
de Engenharia, na cidade mineira de Itajubá.
Deslocou-se para Aquidauana, no então Estado de Mato Grosso, no dia 1.º
de dezembro de 1942, ocupando, ao chegar, o aquartelamento já existente desde
1922, e que no momento era ocupado por um Grupo de Artilharia.
Em agosto de 1943, foi designado para compor a 1.ª Divisão de Infantaria
Expedicionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutaria na 2.ª
Grande Guerra Mundial (1939-1945). Posteriormente à designação, seguiu para
a cidade fluminense de Três Rios, a fim de realizar os treinamentos, visando o
embarque para o Teatro de Operações da Europa.
Incorporado à 1.ª DIE/FEB, o 9.º Batalhão de Engenharia participou da
Campanha da Itália (1944-1945), durante a 2ª Guerra Mundial, realizando
▶ ▶ Capitão QAO Jacob Chapier Sobelman, integrante da FEB no 6.º RI de Caçapava/SP. Acervo da família.
leva que veio da Europa, no âmbito do projeto visionário do Barão Hirsch, que
estimulou a imigração judaica para o Sul do Brasil e Norte da Argentina, a fim
de que tivessem mais oportunidades numa terra sem discriminação religiosa.
Os irmãos ficaram órfãos, os avós já haviam morrido e encontraram na car-
reira militar que abraçaram um futuro promissor.
▶ ▶ 1945 – Subtenente Jacob Chapier Sobelman (D.), com a FEB na Itália. Acervo da família.
260 Israel Blajberg
▶ ▶ 2014 – Cemitério Judaico da Colônia Phillipson, Itaara/RS (antigo distrito de Santa Maria da Boca
do Monte), onde se encontram sepultados pais e avós de diversos militares mencionados neste livro.
Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 261
Assim, no então 2.º Distrito de Santa Maria, depois nomeado Itaara, de 1904
a 1920 floresceu uma pequena mas pujante comunidade judaica, no Rio Grande
do Sul, que acolheu italianos, alemães, e tantos outros.
Nos tempos duros, tiveram que escapar das perseguições no outro lado do
mundo, eram nomes desconhecidos, de difícil pronúncia. Batalharam de sol a
sol nestas terras, fazendo mais do que jus à determinação divina: “Ganharás o
teu pão com o suor do próprio rosto”.
37 Hebraico: caridade, a que todo judeu está obrigado, pela Lei de Moisés
262 Israel Blajberg
Jacob Perelmann
Jacob nasceu em 29 de junho de 1920, filho de Marcos e Sabina Perelman.
Embarcou para a Itália em 23 de novembro de 1944 com o Depósito de
Pessoal da FEB, retornando em 17 de setembro de 1945 com a mesma unidade.
Era 3.º Sargento.
Jacob Perelman, Sargento de Niterói, falando em iídiche quando estava de
guarda a prisioneiros alemães da 148.ª Divisão de Infantaria, que se rendeu a
FEB, disse-lhes que era judeu e que poderia matá-los, mas que não o faria porque
não era como eles:
38 D.ª Fátima Chapier Bellini Scarpelli é engenheira civil, reside em Caçapava/SP, tendo enviado
seu depoimento por e-mail de 26 out. 2010.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 263
Fé de Ofício:40
▶▶ 1923 – Regimento Sampaio.
▶▶ 1927 – Ajudante da Casa das Ordens.
▶▶ 1941 – Colégio Militar, adido.
▶▶ 1944 – Campanha da Itália com a FEB, embarcado em 19/9/1944 e retor-
nado em 22/9/1944.
▶▶ 1946 – Aprovado no Curso Regional de Aperfeiçoamento de Oficiais.
▶▶ 1947 – Regimento Sampaio. 2.º Ten. adido.
▶▶ 1948/49/50/51/52 – Comandante do Contingente da Secretaria Geral.
▶▶ 1956 – Chefe de Seção.
Carleto Bemerguy
Não foi possível fazer contato ou identificar familiares ou pessoas que pudessem
falar sobre Carleto Bemerguy. As pesquisas também não revelaram mais deta-
lhes. Entretanto, outros membros da Comunidade Judaica o identificaram como
tal, informando ter ido à guerra, ignorando seu paradeiro atual.
Os registros da Associação Nacional de Veteranos da FEB dele dizem ter
sido Soldado, tendo embarcado em 8 de fevereiro de 1945 integrando o CRP –
Centro de Recompletamento de Pessoal, e retornado em 22 de agosto de 1945 no
1.º Regimento de Infantaria, Regimento Sampaio.
Isto significa que após algum tempo na retaguarda, recebendo instru-
ção, foi mandado à linha de frente para suprir uma baixa, incorporando-se
ao 1.º I.41
David Lavinski
1944. David estava acantonado no Forte de Campinho, subúrbio do Rio de
Janeiro, com o seu Grupo de Artilharia. Embarcou em 22 de setembro com o
2.º e 3.º dos cinco escalões da FEB, integrando o Grupamento General Cordeiro
de Farias, Comandante da Artilharia Divisionária da FEB. Era véspera de Yom
Kippur. A bordo do navio da Marinha Americana, U.S.S. General W. A. Meenor,
de transporte de tropas, o gaúcho de Quatro Irmãos, David Lavinski, ouviu pelo
fonoclama um rabino capelão naval americano convocando os judeus que esti-
vessem a bordo para o “Kol Nidrei”42.
Compareceram 30 militares da fé mosaica, entre brasileiros e americanos. A
cerimônia teve de ser interrompida pela ameaça de ataque de submarinos nazis-
tas, e o navio começou a navegar em zigue-zague, o que provocou enjoo em mui-
tos expedicionários, inclusive David, que se julgava um homem valente, tendo
sido a única ocasião em toda a sua vida que sentiu medo, muito medo.
40 Idem.
41 Segundo Isaac Oeiras Pires – 3.º Sgt. R/1 (responsável pelo acervo documental Seção do Serviço
de Inativos e Pensionistas do Comando da 8.ª Região Militar).
42 O “Kol Nidrei” é uma oração que inicia o Yom Kipur.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 265
Elias Niremberg
Elias nasceu em 14 de setembro de 1919, tendo embarcado em 8 de fevereiro de
1945 integrando o CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal, e retornado
em 18 de julho de 1945 integrando a Tropa do QG. Consta que, por dominar a
língua inglesa, atuou como intérprete junto aos Altos Comandos da FEB e do
V Exército americano. Elias teria sido motorista do Marechal Mascarenhas de
Moraes. Residia em Porto Alegre/RS, tendo sido um dos introdutores do sinteco
(Synteko) no Brasil, gozando de boa situação financeira, o que lhe teria permi-
tido auxiliar a Regional de Porto Alegre da Associação de Veteranos, sendo bas-
tante ativo e comparecendo assiduamente aos encontros nacionais.
O uso do sinteco foi uma criação de Nissim Castiel, um gênio da área téc-
nica – nome de rua em Gravataí. Elias Niremberg era seu sócio e conseguiu
arrecadar milhões e se instalar em Gravataí.
Foi presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, por sinal um ótimo
dirigente. Quando da realização no Rio de uma grande homenagem aos heróis
brasileiros judeus da Segunda Guerra, de relevante grandiosidade e que deu ori-
gem ao livro Soldados que vieram de longe, Elias ainda vivia, em Porto Alegre.
Tentei contatá-lo, através de um amigo comum, para que recebesse a homena-
gem em vida, mas ele estava velho e sozinho. Não tinha família e era cuidado por
uma senhora que se apiedara da sua situação. Tinha sido herói de guerra, grande
empresário e presidente da FIRS [Federação Israelita do Rio Grande do Sul], mas
morreu só e esquecido.43
Samuel Safker
Samuel foi Cabo da FEB, tendo embarcado em 22 de setembro de 1944 integrando
o QG do General Olympio Falconiere da Cunha, e retornado em 22 de agosto de
1945 integrando a Tropa do QG da 1.ª DIE – Divisão de Infantaria Expedicionária.
Residia no Rio de Janeiro, onde faleceu aos 81 anos, em 27 de dezembro de 2001.
43 Depoimento por e-mail, de 14 de agosto de 2014, do médico e ativista Nelson Menda, nascido
em Santa Maria/RS.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 267
Saul Antelman
Saul nasceu no Rio de Janeiro em 3 de dezembro de 1921, filho de Isaac e Maria
Antelman. Moravam na Rua 24 de Maio, estação do Riachuelo, onde Saul se
alistou no Tiro de Guerra 140, da 1.a Região Militar, convertendo-se no Atirador
n.º 123 da classe de 1939.
A guerra iria estourar em 1.º de setembro do mesmo ano.
Como reservista pelo TG 140, turma de 1939, Saul foi convocado em 1943.
Serviu no I RCD, II RMM, QG da I DIE, atingindo a graduação de Cabo QMG
02 Cavalaria, QMP 001 – Combatente, durante a Campanha da Itália, no período
de 6 de outubro de 1944 a 11 de agosto de 1945, com dois anos cinco meses e 29
dias de tempo de serviço militar, de 2 de março de 1943 a 31 de agosto de 1945.
Saul embarcou para a Itália no navio americano de transporte de tropas
Mariposa, em 22 de setembro de 1944, integrando o QG do General Falconieri,
retornando em 22 de agosto de 1945 com a mesma unidade.
Por ter participado das operações de guerra na Itália, Saul foi condecorado
pelo Presidente da República com a Medalha de Campanha pelos relevantes ser-
viços prestados ao esforço de guerra.
Saul trabalhou na Cia. T. Janer, foi o seu segundo emprego após retornar da
Itália, e onde se aposentou como contador, formado pelo Instituto Comercial do
Rio de Janeiro, em fevereiro de 1943.
Tradicional empresa, Saul aparece no ambiente contábil que hoje não exis-
tem mais, no qual inúmeros profissionais se dedicavam a escriturar a vida das
empresas, nas antigas máquinas mecânicas de contabilidade.
Saul foi reformado em 17 de julho de 1979, e residia na Barra da Tijuca, no
Rio, onde faleceu em 21 de agosto de 1999, aos 77 anos.
Moisés Gitz
Moisés nasceu em Cruz Alta/RS, em 25 de outubro de 1925, filho de Firmina
Silverston Gitz e Salomão Gitz. Moisés estudou no Heder (escola judaica) e frequen-
tou o Círculo Israelita de Porto Alegre. Na juventude, era vendedor, até ser incor-
porado à FEB como Cabo, tendo embarcado em 8 de fevereiro de 1945 integrando
o CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal, e retornado em 17 de setembro
de 1945 com o DP/FEB, Depósito de Pessoal da FEB, tendo sido licenciado em 2 de
outubro de 1945. Seu Comandante foi o Coronel Arquimino de Carvalho.
Pelo lado materno, Moisés descende de escoceses e ingleses, sendo seus avós
Moritz e Rachel Silverston. Seu bisavô era o Rabino Jacob Silverston, que no começo
do século passado planejou o arruamento da cidade de Petach Tikva em Israel.
Moritz trabalhava como gerente de uma fábrica, Water-Pool, cujo proprie-
tário era seu irmão. Moritz tinha ideias socialistas, e desentendimentos com o
irmão em função de uma greve determinaram seu afastamento, tendo emigrado
para a Argentina em 1880 e de lá para o Brasil em 1912.
Moisés Gitz faleceu em 31 de maio de 2012 aos 86 anos de idade, em Porto
Alegre/RS, onde residia.
268 Israel Blajberg
Israel Bona
Nos registros da Associação Nacional de Veteranos da FEB, verificamos ter sido
Soldado, oriundo do Sul do Brasil, tendo embarcado em 8 de fevereiro de 1945
integrando o CRP – Centro de Recompletamento de Pessoal e retornado em 17
de setembro de 1945 no DP – Depósito de Pessoal.
Consta ter sido reformado em 6 de março de 1978.
E
x-Combatente do Litoral é aquele que participou de missões de segu-
rança na costa brasileira, ilha de Fernando de Noronha ou transportado
em navios escoltados por navios de guerra. Abrange os que tiveram parti-
cipação efetiva em missões de vigilância e segurança do litoral, como integrante
da guarnição de ilhas oceânicas ou de unidades que se deslocaram de suas sedes
para o cumprimento daquelas missões; tripulantes de aeronaves engajados em
missões de patrulha; tripulante de navio de guerra ou mercante, ou que tenha
participado de comboio de transporte de tropas ou de abastecimentos, ou
patrulha; integrante de tropa transportada em navios, escoltados por navios de
guerra.
Basicamente, são aqueles que não seguiram para a Itália com a FEB.
269
270 Israel Blajberg
▶ ▶ 1925 – O menino sentado com seus irmãos, em Belém, viria a ser o Coronel Elias Isaac Benchimol.
Acervo de sua neta Lorena Benchimol de Veloso.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 273
▶ ▶ 1940 – Aspirante a Oficial de Infantaria Elias Isaac Benchimol. Acervo de sua neta Lorena Benchimol
de Veloso.
50 Hebraico – caridade.
51 Hebraico – Subida à Torá – honra concedida na sinagoga, de leitura da Torá diante da
Congregação.
274 Israel Blajberg
Waldemar Rosenthal
Waldemar nasceu no Rio de Janeiro em 20 de agosto de 1921, filho de Julio e
Rebeca Rosenthal.
Durante a guerra, integrou a 1.ª Bateria do 2.º Grupo de Artilharia de
Dorso, a qual em 1942, após a declaração de guerra do Brasil aos países do Eixo,
deslocou-se de sua sede em Jundiaí/SP para São Sebastião, no litoral paulista,
formando com o 2.º Batalhão do 5.º Regimento de Infantaria de Lorena/SP o
Destacamento Militar de Defesa da Área Litorânea do Estado de São Paulo,
área de alto risco como valor estratégico nacional, protegendo São Paulo, o mais
pujante estado da federação.
O QG estava sediado no porto de São Sebastião, de onde coordenava as
operações de patrulhamento, vigilância e defesa da soberania nacional.
O destacamento estava subordinado ao Comandante da Segunda Região
Militar, General Maurício José Cardoso. Como Comandante da Guarda do
Porto, o Sargento Waldemar prestou honras militares por ocasião de uma visita
de inspeção do General.
Relata ainda ter conhecido o Major Severino Sombra de Albuquerque, que
lhe indagou se era judeu. Foi um breve contato, que impressionou Waldemar
pelo olhar firme e simpatia afável do Major, que declarou ele mesmo ter ances-
tralidade judaica, acreditando descender de cristãos-novos.
No mesmo ano, o Major Severino Sombra iria ser nomeado membro da
Comissão Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos no Pentágono em Washington,
composta de delegados brasileiros e americanos das três forças singulares, esta-
belecida em 1942 para executar o planejamento de Estado-Maior para defesa
mútua do Hemisfério Ocidental.
Anos depois, o General Severino Sombra iria ser presidente do Instituto de
Geografia e História Militar do Brasil, e criaria uma universidade em Vassouras,
que hoje leva seu nome.
Nesta cidade, o casal de historiadores Egon e Frieda Wolff em suas andanças
pelo Brasil em pesquisas históricas sobre judeus e cristão-novos descobriu um
terreno vazio nos fundos da Santa Casa, atual Asilo Barão do Amparo, onde
estavam sepultados dois judeus falecidos em meados do século XIX.
Com apoio da prefeitura e diversos entusiastas, entre os quais o paisagista
Burle Marx, que elaborou o projeto, e o General Professor Severino Sombra de
Albuquerque, então presidente da Fundação Universitária Severino Sombra,
foi erguido o Memorial Judaico de Vassouras, onde repousam Morluf Levy e
Benjamim Benatar, ambos de origem marroquina, falecidos em 1879 e 1852,
hoje um monumento histórico integrante do circuito turístico da cidade.
Foi então formado o Memorial Judaico de Vassouras, sob a presidência de
Luiz Benyosef, que até hoje cuida da manutenção e preservação do Memorial.
A fase em que Waldemar serviu na 1.ª Bateria era de tempos incertos, em
que a ameaça nazista ainda era significativa, antes que as derrotas na frente
russa e na África afastassem do horizonte uma possível invasão nazista na costa
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 275
brasileira, não indo além dos cruéis torpedeamentos de nossos navios mercan-
tes na guerra submarina que Hitler mandou desencadear contra o Brasil, nação
pacífica e neutra.
A quinta-coluna alemã estava ativa no Brasil, informando secretamente aos
submarinos a posição de nossos navios. A espionagem nazi-fascista foi respon-
sável, inclusive, por afundamentos de navios brasileiros em mares do Caribe.
O imenso Teatro de Operações em solo pátrio, correspondendo ao extenso
litoral e as ilhas oceânicas, foi guarnecido desde 1942, muito antes, portanto, da
FEB iniciar operações na Itália.
Waldemar serviu em áreas virgens e inóspitas do litoral paulista, àquela
época zona endêmica de malária, infestada de protozoários e anofelinos, sem
infraestrutura e sem material adequado. Apenas pouco antes da FEB partir, os
Estados Unidos passaram a fornecer material moderno, inclusive uma parte
sendo levada diretamente para a Itália, onde nossos soldados tomaram contato
pela primeira vez com aquele armamento.
Portanto, a unidade defrontava-se fora de sede com material precário, bar-
racas envelhecidas e sem serviço médico-veterinário para a cavalhada, (a uni-
dade era hipomóvel), o material tracionado penosamente por muares em ter-
reno encharcado de difícil locomoção.
As comunicações eram antiquadas, apenas telégrafo Morse e sinalização
manual. Não existia posto médico, e o mais próximo era em Caraguatatuba.
Entretanto, reinava na tropa elevado nível moral, cívico, patriótico, espírito
de renúncia, abnegação e altruísmo, nas palavras de Waldemar, deixadas em diá-
rio conservado pela família.
O Presidente da República concedeu ao 2.º Sargento Waldemar Rosenthal a
Medalha de Guerra, por ter cooperado no esforço de guerra do Brasil.
Passou para a Reserva como 1.º Tenente, falecendo no Rio de Janeiro em
2003.
Era irmão do engenheiro José de Julio Rosenthal, que atuou na área nuclear,
sendo um dos coordenadores da operação montada em Goiânia para o acidente
com o Césio-147. Foi presidente da Hebraica – Rio, e após se aposentar passou a
morar em Israel, onde faleceu há alguns anos.
Abrahão Fainguelernt
Filho de Bella e Jacob, Abrahão nasceu no Paraná em 23 de setembro de 1923.
Como tantos estudantes da tradicional Escola Politécnica, Alma Mater da
Engenharia Nacional, apresentou-se como voluntário para cursar o CPOR/RJ,
no quartel de São Cristóvão, ao lado da Quinta da Boa Vista.
Sentou praça como Aluno do CPOR/RJ em 16 de março de 1942, tendo sido
declarado Aspirante a Oficial da Reserva de Artilharia em 29 de setembro de
1943, em 12.º lugar na turma de 81 alunos, com média 7,329.
Em 6 de janeiro de 1944, foi reincluído ao serviço ativo do Exército, para fins
de Estágio de Instrução no 3.º Grupo de Artilharia de Costa e Forte Copacabana.
276 Israel Blajberg
José Segal
Segal nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 25 de março de 1925, filho de Moyses
Segal e Fany Segal. Sua família originalmente radicou-se em Nova Friburgo/RJ.
Em 26 de outubro de 1944, concluiu o Curso de Infantaria no CPOR/RJ,
sendo declarado Aspirante a Oficial da Reserva da Arma de Infantaria e incorpo-
rado ao Centro de Recompletamento da FEB – CRP/FEB na Vila Militar,
Sua unidade embarcou no navio de transporte de tropas americano Gen.
Meiggs com destino ao Teatro de Operações da Itália.
Segal e outros colegas permaneceram no Brasil guarnecendo o acervo da
unidade para futuro emprego em caso de necessidade, o que acabou não aconte-
cendo devido ao término do conflito.
Em 19 de maio de 1952, o Presidente da República concedeu ao Ten. Segal a
Medalha de Guerra, por ter cooperado no esforço de Guerra do Brasil.
Segal faleceu há poucos anos no Rio de Janeiro, tendo exercido a odon-
tologia durante várias décadas, no serviço público municipal e em consultório
particular no Largo do Machado.
52 Fonte: Pasta n.º IX-4-61-SAP-AHEx. Pesquisa realizada por Antonio Mauro de Oliveira Pereira,
Cap. QAO –Arquivo Histórico do Exército.
53 Informações de seu filho Ari Gitz, em 1.º set. 2010.
54 Certificado de Reservista nº. 451.873, emitido em 27 out. 1945. Fonte: AHJB.
CAPÍTULO 19
Exército Brasileiro
OFICIAIS GENERAIS
General de Exército Isaac Nahon
Meio século de vida militar (1923-1973)
O
sobrenome Nahon é encontrado em diversas e proeminentes famílias
judaicas originárias do Marrocos, e que imigraram para a Amazônia em
princípios do séc. XIX.
Diversos militares descendem desses pioneiros, destacando-se o General
Nahon, de relevante carreira militar, inclusive na sucessão do General Costa e
Silva, sendo um dos três militares de alta patente cogitados pelo Comando da
Revolução, para ocupar a presidência da República – que viria a ser exercida pelo
General Emílio Garrastazu Médici.1
281
282 Israel Blajberg
▶ ▶ 1957 – Cel. Nahon, então Comandante do “Regimento Mallet”, atual 3.º Grupo de Artilharia de
Campanha Autopropulsado, sediado em Santa Maria/RS – decano das Unidades de Artilharia de
Campanha do Exército Brasileiro, criadas em 4 de maio de 1831. Acervo do 3.º GACap.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 283
das línguas dos países por onde andaram, como o árabe). O espanhol é uma
língua que o brasileiro entende com facilidade, e que teria facilitado a imigração
dos Levy e Nahon para o Brasil, como, aliás, o fizeram já após a Abertura dos
Portos em 1808, milhares de judeus do Marrocos, que se dirigiram a Região
Amazônica, subindo o Rio e fixando-se em Belém, Santarém, Manaus e outras
cidades ribeirinhas, chegando até Iquitos no Peru, onde até hoje existem sinago-
gas e cemitérios judaicos nestas cidades, alguns já abandonados.
▶ ▶ 1969 – O então General de Divisão Nahon, Chefe da Secretaria de Economia e Finanças – SEF, de
2 de junho de 1967 a 17 de abril de 1969. Acervo da SEF.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 285
▶ ▶ 2013 – D.ª Dora Nahon, filha do General, em sua residência no Leblon, onde guarda preciosas
recordações do pai. Acervo do autor.
A tradição militar foi continuada pelo neto, Coronel Paulo Antônio Penido
Monteiro Nahon, que seguiu os passos do avô, e como Tenente-Coronel de
Artilharia também comandou o histórico 4.º GA Cav 75 de Uruguaiana, atual
22.º GAC AP – Grupo Uruguaiana. Realizou cursos na Itália, e serviu na ESG
como assistente de seu comandante Gen. Ex. Tulio Cherem, também ele osten-
tando raízes próximas, pelo lado materno.
Os netos Paulo Antônio e Luiz Antônio cursaram o Colégio Militar do Rio
de Janeiro, com Luiz Antônio seguindo a carreira das artes, residindo hoje em
Paris, e a neta Flora é fisioterapeuta no Rio de Janeiro.
Como fato pitoresco, havia um homônimo do General, residente em
Copacabana, que frequentemente recebia telefonemas e correspondências ende-
reçadas ao General Nahon, e tinha o cuidado de sempre redirecioná-las. Certa
vez, ele recebeu um telefonema do Presidente da República, que desejava cum-
primentar o então Coronel Nahon por ter sido elevado ao generalato...
As grandes famílias Levy e Nahon, já em sua sétima geração nascida no
Brasil, vêm, assim, dando uma rica contribuição a todos os setores da vida
nacional, do Exército à Medicina, passando pela Engenharia, Saúde, Magistério,
Comércio, e tantas outras profissões, atendendo à mensagem divina do Gênesis:
“Crescei e multiplicai-vos”.
E tudo começou do outro lado do mundo há apenas pouco mais de um
século aqui chegando. Ajudando a confirmar a profecia de Isaias, ainda que
poucos tenham mantido a vinculação ao judaísmo, talvez a maioria de seus
integrantes hoje sendo bons católicos, mas ainda assim pelo DNA emulando as
estrelas do céu e os grãos de areia semeados por Stella, Armando, Isaac, Maria
286 Israel Blajberg
▶ ▶ 2013 – Reprodução de quadro com foto do General Nahon e esposa D.ª Flora. Acervo da família.
▶ ▶ 2013 – Quadro com medalhas, barretas e distintivos que pertenceram ao Gen. Nahon. Acervo da
família.
288 Israel Blajberg
O General Correa recorda, ainda, que o curso da vida do General Nahon o levou
ao encontro da Senhorita Flora do Rego Barros, em função de quem se tornou
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 289
2 Projeto de Lei Ordinária: Denominação de bem público não especificada – Proposição n.º
09.00066.2004 de 22/6/2004.
290 Israel Blajberg
1930, quando recebeu do seu Comandante merecida referência especial por sua
contribuição para a vitória da causa revolucionária.
Na revolução de 1932, ainda 1.º Tenente, integrou o Destacamento do
Exército Sul. Seu Comandante o elogiou pela atuação à frente do serviço de
Material Bélico, onde se mostrou à altura de suas responsabilidades, cumprindo
plenamente seus deveres de soldado e patriota, com dedicação, eficiência e espí-
rito de cooperação.
Absolutamente integrado com os hábitos e costumes da cidade, casou-se
com Flora do Rego Barros, descendente de tradicional família paranaense, cujo
pai, o senhor Coronel Fabricio do Rego Barros, foi o fundador e também o pri-
meiro Comandante do Corpo de Bombeiros do Paraná, um reconhecimento à
sua heroica participação na Campanha do Contestado.
A sua total identidade com Curitiba, cidade que adotou como sendo a
preferida do seu coração, é facilmente verificada pelos elos de amizade sincera,
franca e leal que cultivou nos diversos segmentos da sociedade curitibana, seja
como sócio do Graciosa Country Club, do Club Curitibano e do Círculo Militar
do Paraná, seja como frequentador do tradicional Clube de Xadrez.
Seu relacionamento com a cidade de Curitiba não se limitou somente
ao campo social. Também no campo esportivo teve forte ligação com o Clube
Atlético Paranaense, onde foi técnico, vitorioso e campeão estadual em mais de
uma temporada. Deve-se, em parte, ao General Nahon o passado glorioso do
famoso goleiro “Caju”, que defendeu com brilhantismo as cores do clube rubro-
-negro. Isso porque o então Capitão Nahon viu naquele soldado qualidades que o
motivaram a levá-lo para jogar na sua equipe. Juntamente com Candinho Mader
e Otávio Coelho, dentre tantos outros torcedores apaixonados pelo “Furacão da
Baixada”, integrou a saudosa e atuante velha guarda atleticana.
Sua paixão por Curitiba foi determinante para, após concluir o Curso de
Aperfeiçoamento de Oficiais no Rio de Janeiro, escolher a cidade como destino final
de curso, tendo retornado à sua antiga Unidade, o 9.º RAM, em outubro de 1934.
Esta nova fase de sua carreira pôde estreitar ainda mais seus laços com a
sociedade local, uma vez que foi nomeado para exercer as funções de Instrutor
Chefe do Curso de Artilharia do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva
(CPOR) de Curitiba, quando demonstrou seus atributos de chefia e liderança na
formação de oficiais.
Aprovado em primeiro lugar em concurso nacional para admissão à Escola
de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), afastou-se da Guarnição
em 1941, com destino ao Rio de Janeiro.
Ao término daquele curso, por escolha pessoal e também mérito intelec-
tual, retornou a Curitiba, em 1945, tendo desempenhado as suas funções de
Oficial de Estado-Maior no Comando da Artilharia Divisionária da 5ª Divisão
de Exército/5.ª Região Militar. Sua proverbial habilidade no relacionamento
humano, seu nobre caráter, sua esclarecida inteligência e a sua reconhecida capa-
cidade de congregar todos que com ele trabalham são traços marcantes reconhe-
cidos por seus chefes, que fizeram constar em diversas referências elogiosas.
Por todas estas qualidades, foi selecionado para exercer as delicadas e
importantes funções de Adido Militar à Embaixada do Brasil no Paraguai, onde
se impôs à estima dos camaradas do Exército daquela Nação amiga e ao apreço
e consideração das figuras mais representativas da sociedade paraguaia. Dessa
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 291
4 EIZIRIK, Moysés. Imigrantes judeus – relatos, crônicas e perfis. Porto Alegre: Escola Superior
de Teologia e Espiritualidade Franciscana/Caxias do Sul: Editora da Universidade de Caxias do
Sul, 1986. p. 114-5. Entrevista realizada por Moysés Eizirik.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 293
Origens
Abraham Ramiro Bentes nasceu em 28 de março de 1912 em Itaituba/PA, filho
de Simão Moysés Bentes e D.ª Estrella Benchimol Bentes.
Casado com Sara Mekler Bentes, tiveram uma filha, Anna Bentes Bloch,
dedicada ativista comunitária, e hoje presidente do Conselho Deliberativo da
FIERJ e vice-presidente do Memorial Judaico de Vassouras.
Dos seus quatros irmãos, três também nasceram em Itaituba, e um em
Belém.
Isaac Ramiro Bentes, prefeito de Salinópolis, depois Diretor do Depar
tamento de Municipalidades e em seguida Diretor do Tesouro do estado do
Pará; Elias Ramiro Bentes, falecido em 1975, economista, diretor da Associação
Comercial do Amazonas, ocupando ainda outros cargos; Jayme Bentes, advo-
gado, residente em Belém, presidente da comunidade israelita paraense por
longos anos; e o quarto irmão, Efraim Ramiro Bentes, o nascido em Belém,
engenheiro civil, foi deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa
do Estado do Pará.
O menino Abraham foi mandado para cursar o primário na Alliance
Française Universelle, em Tanger, Marrocos, diploma revisto no Grupo Escolar
Floriano Peixoto, de Belém/PA. Obteve o título de Bacharel em Ciência e Letras
pelo Ginásio Paes de Carvalho, de Belém, turma de 1928.
Encontrou resistência por parte dos pais, que não consideravam a carreira
militar desejável para Abraham, tornando-se então funcionário da Ford Pará.
Quando em 1929, acometido de impaludismo, fantasiava inconscientemente
com a vida de soldado, com a farda. Uma vez restabelecido, não houve mais
empecilho. Recuperado, prestou concurso para a Escola Militar do Realengo, no
Rio de Janeiro, onde sentou praça como cadete em 24 de março de 1930, sendo
declarado Aspirante a Oficial da Arma de Artilharia em 25 de janeiro de 1934,
2.º Tenente no mesmo ano, alcançando os demais postos de 1.º tenente em 1936,
Capitão em 1941, Major em 1948 e Tenente-Coronel em 1953.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 297
Voto de louvor
A Assembleia Legislativa de São Paulo consignou na ata dos trabalhos da sessão
de 20 de outubro de 1964, o requerimento do deputado Omair Zomignani por
um voto de congratulações com o Comando do 2.º Grupo de Obuses 155, de
Jundiaí, na altura do km. 53 da Via Anhanguera, pelo transcurso do seu 42.º ani-
versário de instalação, dando-se ciência ao Cel. Abraham Ramiro Bentes, atual
Comandante.
Criado em 11 de dezembro de 1919, com a denominação de 2.º Grupo de
Artilharia de Montanha, sua instalação efetiva ocorreu a 15 de novembro de
1922, em Jundiaí, com duas baterias, na sede de um ginásio existente na cidade.
O 2.º GO 155 tem se destacado na defesa da soberania nacional, cumprindo
ainda o seu relevante papel de ministrar ensino militar aos soldados anualmente
recrutados, bem como elevar o índice moral e cívico dos jovens, objetivando
fortalecer o patriotismo e a coragem pelo bem-estar do país.
Ao ensejo das comemorações do seu 42.º aniversário, o 2.º GO 155 deixa
patenteado o dinamismo e marcante conduta desenvolvida pelo Coronel Ramiro
Bentes, no Comando do Grupo. Os relevantes serviços prestados por esse oficial
simbolizam a certeza de que as Forças Armadas estão coesas em torno do único
ideal de bem servir à Pátria.
300 Israel Blajberg
Sua destacada postura militar foi muito bem expressa pelo general Amaury
Kruel, em sua visita ao 2.º GO 155:
“O comandante, com a alma de soldado, colocou esta alma em seu trabalho,
colocou esta alma na sua tarefa, demonstrando o seu valor profissional e seu
sentimento de soldado”.
10 http://sinagogashel.com/historico.html
302 Israel Blajberg
Epílogo
Gen. Bentes faleceu em 1990. No dia 1.º de maio de 1990 foi realizada a mizmará
de 30 dias. No sábado à noite, 23 de fevereiro de 1991, foi oficiada a mizmará
na UISGH, e no dia seguinte a descoberta da matzeivá no Cemitério Comunal
Israelita do Caju.
Em 15 de fevereiro de 1995, por requerimento do vereador Milton Nahon,
foi reconhecida pela Câmara Municipal, como logradouro público, sob a deno-
minação de Abraham Ramiro Bentes (Militar, General de Divisão/1912-1990),
uma rua no bairro do Recreio dos Bandeirantes.
O General Bentes foi um dos mais destacados militares judeus brasileiros.
Representa bem a contribuição judaica às Forças Armadas nacionais, mormente
pela sua origem amazônica de que tanto se orgulhava, numa época em que as
guarnições militares eram mínimas na região, se comparadas com a situação
de hoje, em que a Amazônia ocupa um lugar proeminente nas hipóteses de
emprego estudadas pelos Estados-Maiores, com o significativo reforço de tropas
que vem ocorrendo nos últimos anos.
A ele, merecidamente, dedicamos a tradicional saudação dos soldados da
Amazônia:
SELVA!!!
Fé de Ofício:11
▶▶ Praça – 24/3/1930
▶▶ Escola Militar do Realengo – 1930/1934 (reg. 1929)
▶▶ Escola de Estado Maior – 1945/1949
▶▶ Centro de Instrução de Artilharia de Costa – 1938
▶▶ Medalha Militar com Passador de Ouro (S1)
▶▶ Medalha do Pacificador
▶▶ Ordem Nacional do Mérito – Paraguai (ONM3)
Promoções:
▶▶ Aspirante: 25/1/1934
▶▶ 2.º Tenente: 30/8/1934
▶▶ 1.º Tenente: 7/9/1936
▶▶ Capitão: 24/3/1941
▶▶ Major: 25/6/1948
▶▶ Tenente-Coronel: 25/4/1953
▶▶ Coronel: 25/8/1961
▶▶ Passou para a Reserva por Decreto de 18 de março de 1969.
Arma de Infantaria
Coronel Armando Levy Cardoso
Armando Levy Cardoso era filho de Antônio Almeida Cardoso e da educadora
Stella Levy Cardoso, formada pela Escola Normal após brilhante curso, sendo
irmão mais velho do Marechal Waldemar Levy Cardoso, nascido em 12 de julho
13 http://www.15blog.eb.mil.br/antigos-comandante.html#
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 305
de 1899. Seu pai era figura de destaque do meio bancário, sendo diretor do
Banco Espanhol del Rio de la Plata e fundador do Banco de Espanha e Brasil, na
Rua da Candelária n.º 21.
Admitido na Escola Militar em 9 de janeiro de 1918, foi declarado Aspirante
a Oficial da Arma de Infantaria em 18 de janeiro de 1921 (Reg. 1919).
Promovido a 2.º Tenente em 11 de maio de 1921, 1.º Tenente em 9 de feve-
reiro de 1923, Capitão em 7 maio 1923 e Major em 24 de maio de 1941. Contou
tempo dobrado: R.S.P. – 23 de agosto a 20 de setembro de 1924. Foi Lente da
Escola de Intendência da Guerra. Serviu no Batalhão de Guardas, e como 1.º
Tenente em 1927, no 29.º Batalhão de Caçadores – Natal e no 23.º Batalhão de
Caçadores – Fortaleza.14
Em 1922, na Escola de Aviação Militar, pilotou aviões Pilates V 24 em voo
solo, sofrendo acidente em 8 de fevereiro de 1924.
Em 1924, pilotou aviões Niendorff 23M, tirando os cursos de Piloto Aviador
e de Piloto Obervador.
Em 1928, foi a Juazeiro comissionado pelo Ministro da Guerra estudar a
possibilidade de construção de um campo de pouso no Cariri, onde o Padre
Cícero havia oferecido um terreno ao Governo Federal.
Em 1938, foi membro da Comissão Brasileira de Limites do Setor Norte,
chefiada pelo Cmt. Braz de Aguiar, que demarcou a fronteira com a Guiana
Holandesa. Sua vivência entre tribos de índios em Roraima o levou a escrever o
livro Toponimia Brasílica, (BIBLIEX, 1961).
Em 1934, entregou ao presidente Vargas, em nome do diretor Artur Weiner
da Sociedade Brasileira de Educação Cinematographica, o filme Baptismo do
Brazilian Clipper, exibido no Palácio Guanabara ao Presidente e sua família
Em 25 de novembro de 1933, o Cap. Levy Cardoso foi um dos fundadores
e primeiro presidente da CIB – Confederação Israelita Brasileira, entidade diri-
gente judaica nacionalista, em uma assembleia que reuniu 450 participantes.
Segundo a notícia, praticamente todas as entidades israelitas do Rio de
Janeiro se filiaram. No arcabouço nacional, filiaram-se: Federação Israelita do
Rio Grande do Sul; Centros Israelitas de Pelotas, Santa Maria e Cruz Alta; União
Israelita de Belo Horizonte; Federação Israelita Paulista (precursora indireta da
FISESP). Iriam se filiar em breve: Centro Israelita do Paraná; Comitês Israelitas
de Belém e de Manaus; Beneficência Israelita de São Luiz do Maranhão;
Associação Israelita da Paraíba; Sociedade Israelita de São Salvador (Bahia);
Centro Israelita de Aracajú; Biblioteca Israelita de Maceió; União Israelita de
Campos dos Goytacases; Sociedade Israelita de Niterói; Círculo Israelita de
Petrópolis e outras não nominadas.15
À mesa da sessão solene estava o deputado da Constituinte Dr. Horácio
Lafer. A CIB foi uma precursora que equivalia à atual CONIB – fundada em
Criação da Confederação
“Eu sempre senti que era judeu”, disse o então Capitão Cardoso. “Eu nunca neguei
pertencer à nação judaica. No entanto, nunca senti a necessidade de demonstrar
minha expressão judaica, exceto na sinagoga, onde ia ocasionalmente. Mas, o
caso de Hitler e a maneira pela qual são feitas tentativas para transplantar o hitle-
rismo ao nosso continente, me revolta. “
Foi esse sentimento de revolta que levou o Capitão Cardoso a se comprome-
ter, com outros judeus, a organizar a Confederação como um órgão representa-
tivo judaico no Brasil e de defesa dos interesses coletivos.
Entre aqueles que colaboraram com o Capitão Cardoso nesse empreendi-
mento, estava notadamente o Dr. Herbert Moses, presidente da ABI. Dr. Moses
era proeminente nos melhores círculos brasileiros, mas como o Capitão Cardoso,
sentia que os judeus do Brasil precisavam de um organismo oficial para repre-
sentá-los nos círculos influentes deste país.
Como exemplo de uma ocasião em que um organismo deste tipo teria sido
desejável, o Capitão Cardoso citou o momento em que o presidente Getúlio
Vargas foi ferido em um acidente automobilístico. Naquela ocasião, represen-
tantes das associações representativas de comunidades de imigrantes visitaram
o presidente para desejar-lhe uma rápida recuperação, mas não havia nenhuma
entidade representativa judaica para tal.
“Tais deficiências”, disse Capitão Cardoso, “criam uma impressão muito
pobre da Comunidade Judaica no Brasil”. Assim, a Confederação foi criada para
evitar tais óbices, e enfatizar a unidade dos brasileiros judeus.
No dia de Ano Novo, a comunidade judaica, pela primeira vez na sua história,
enviou um telegrama para o presidente, expressando o apoio da Confederação
a todas as medidas que conduzissem ao progresso do Brasil. Este é um procedi-
mento normalmente adotado pelas demais confederações representativas. E se
disse muito otimista sobre o fundo a ser criado para auxiliar os judeus alemães
refugiados do nazismo a se estabelecerem na Palestina.
Acreditava que o povo judeu deveria exercer todos os meios para fazer
da Palestina uma terra de possível escolha natal, embora admita que nem ele,
nem muitos outros que estão confortáveis no país, desejassem passar a viver na
Palestina. No entanto, a possibilidade de imigrar para a Palestina deve ser uma
opção aberta para aqueles judeus que perderam status econômico em outros
países, ou seja, vítimas de perseguições. Assim como expressou a esperança de
que o governo do Brasil também manifestasse seu apreço pelos judeus como
um elemento valioso, convidando famílias judias para vir a se instalar no Brasil,
onde poderiam encontrar um futuro de emprego útil e produtivo.
Arma de Cavalaria
Nobre arma ligeira
21 http://web.cip.com.br/art46/
22 Folha de São Paulo, Esporte, 6 set. 2000.
310 Israel Blajberg
23 Um dos cinco maiores eventos esportivos do mundo, realizado a cada quatro anos desde 1932,
similar aos Jogos Olímpicos. Ocorrem em Israel, reunindo atletas judaicos ou não. No Brasil,
ocorrem as Macabíadas Nacionais, organizadas pela Confederação Brasileira Macabi.
24 Nosso Jornal Rio, ano IV, n. 178, 12 mar. 2013.
25 http://www.sephardim.com/namelist.shtml?mode=form&from=A&to=U
26 “Brazil, Rio de Janeiro, Civil Registration, 1829-2012”, index and images, <i>FamilySearch</i>
(https://familysearch.org/pal:/MM9.1.1/KFSH-TLF – Acesso: 19 jan. 2015)
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 311
atividades dos 12 CTA. Seu filho, Mauricio, com 12 anos, estuda no 8º ano do
Colégio Militar de Brasília.
Oficiais Generais
Gen. Salomão Bergstein1
N
ascido em 7 de janeiro de 1900, Aspirante Farmacêutico em 30 de dezem-
bro de 1925. Serviu na Fábrica de Pólvora de Piquete e no Laboratório do
Arsenal de Guerra do Rio – AGR. Capitão em 24 de maio de 1942, ser-
vindo na Fábrica do Andaraí. Formado pela Faculdade de Medicina e Farmácia
do Rio de Janeiro. Faleceu em 16 de setembro de 1953, sendo promovido post-
mortem a Gen. Brigada.
Médicos
General de Divisão Médico José Moysés Ezagui2
Filho de Moysés Ezagui e Esther Peres Ezagui, nascido em Itacoatiara/AM.
Formado na EsSEx em 27 de abril de 1936. Serviu na EsEFEx, 16.ª RI (MT), 1.º
Grupo do 5.º Regimento da Divisão de Cavalaria e Fábrica de Itajubá.
Em 1944, comandou a 2.ª Companhia de Evacuação do 1.º Btl de Saúde em
Valença/RJ.
Em 1945, serviu no Grupo Móvel de Artilharia de Costa de Niterói/RJ
seguindo-se o HGe Juiz de Fora/MG, passando para a inatividade em 16 de maio
de 1963.
Condecoração: Medalha Militar Passador Prata (S2).
Cursos: Formação de Oficiais Médicos (FOM) e Escola de Aperfeiçoamento
de Oficiais (EAO).
317
318 Israel Blajberg
▶ ▶ Túmulo do Cap. Méd. Dr. Marcos Perelberg, falecido em março de 1956, no Cemitério Israelita de
Vila Rosaly (Velho), RJ. Acervo do autor.
com passador bronze, por contar mais de dez anos de serviço, nas condições
exigidas. Promovido a Capitão em 25 de dezembro de 1950.
Falecido em 18 de março de 1956, encontra-se sepultado no Cemitério
Israelita de Vila Rosaly (Velho), RJ. Deixou a viúva D.ª Bertha Paskin Perelberg
e filhos. Em 19 de abril de 1956, a família promoveu a Hazkará de 30 dias no
Grande Templo Israelita da Rua Tenente Possolo n.º 8 – Centro, Rio de Janeiro.
▶ ▶ 1984 – Cel. Méd. Dr. Mordekhai Antabi, Diretor do HGeRJ – Hospital Geral do Rio de Janeiro, antigo
HGuVM – Hospital da Guarnição da Vila Militar, de 25 de setembro de 1980 a 10 de dezembro de
1984. Galeria de Ex-Diretores do HGeRJ. Acervo do autor.
Natasha Rissin, 1.ª Tenente Médica do Exército Brasileiro, foi a única mulher
a concluir o concorrido curso de Combatente de Montanha. Apesar dos inúme-
ros hematomas e bolhas pelo corpo, ela agora terá o direito de usar no ombro
esquerdo o disputado brevê “Montanha”3 dos combatentes, cujo grito de guerra
é “Para a Frente, Para o Alto, MONTANHA!!!”
Nascida em 17 de agosto de 1980, no Rio, estudou no Colégio Max Nordau
até prestar o vestibular. Formou-se em Medicina em 2003, poucos meses após
completar 23 anos. Cursou a Residência Médica em Cirurgia Geral nos anos de
2004 e 2005. Realizou Residência Médica em Coloproctologia nos anos de 2006
e 2007 e em Colonoscopia em 2008. Aos 24 anos, foi indicada para o Colégio
Brasileiro de Cirurgiões e, aos 26, para a Sociedade Brasileira de Proctologia.
Ingressou no Exército em 2009 como voluntária, cursando o EAS no CPOR,
tendo sido a 1.ª da turma de 209 integrantes. Após conclusão do curso, foi desig-
nada para servir no HCE no setor de Proctologia e Colonoscopia.
Incentivada pelos seus superiores, prestou concurso para a Escola de Saúde
do Exército, na especialidade de Cirurgia Geral, sendo aprovada, cursando
durante todo o ano de 2010, quando se formou na EsSEx. Em 2011, foi transfe-
rida para o HGeJF/MG, onde chefiou os setores de Proctologia e Colonoscopia,
sendo adjunta da Cirurgia Geral.
3 Jornal ALEF.
▶ ▶ 2013 – Tenente Médica Dr.ª Natasha Rissin, com a boina azul das Forças de Paz da ONU, distintivos de
Curso da EsSEx, Combatente de Montanha, Combate Corpo a Corpo e Medalha da ONU. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 321
▶ ▶ 2012 – Tenente Médica Dr.ª Natasha Rissin, em missão humanitária prestando assistência a recém-
nascido no Haiti. Acervo pessoal.
▶ ▶ 2012 – Tenente Médica Dr.ª Natasha Rissin no monumento recordatório do terremoto de 2010
que vitimou 18 brasileiros. Acervo da família.
322 Israel Blajberg
No início de 2012, foi aceita como voluntária para a Força de Paz no Haiti,
para onde seguiu no início de março, integrando o BRABATT 1, depois de um
período de treinamento na cidade de Cristalina/GO. Chefiou o Serviço de Saúde
do BRABATT 1, integrando o Estado-Maior. Retornou em novembro de 2012,
tendo recebido Referência Elogiosa do Force Commander da Minustah – Missão
das Nações Unidas para Estabilização do Haiti.
Fé de Ofício:
Ingressou na EsSEx como Asp. Of. Méd. em 3 de fevereiro de 2009, for-
mando-se como 2.º Ten. em 31 de agosto de 2009, sendo promovida a 1.º Ten.
em 6 de novembro de 2010. Possui os seguintes cursos militares:4
▶▶ AAL01 Formação de Carreira – Saúde – Médico EsSEx Oficiais
▶▶ LMB01 Estágio Escalador Militar/Básico do Combatente de Montanha
▶▶ MTM01 Estágio Básico de Operações de Paz
▶▶ MTN01 Estágio Avançado de Operações de Paz
▶▶ LPB01 Estágio Combate Corpo a Corpo
Medalha: 924 – Forças de Paz da ONU.
Sobre sua atuação no Haiti: 5
Além de atender os colegas no quartel e em patrulhas na rua, a tenente médica
Natasha Rissin, 32 anos, dança, canta e faz o que mais preciso for para encantar
crianças, adolescentes, jovens e adultos haitianos.
Nas missões cívicas, realizadas semanalmente em escolas, creches e outras
entidades, ela troca a farda por roupa de dançarina ou outro tipo de recrea-
dor. Carioca que tem Juiz de Fora (MG) como base de trabalho e moradia, não
esconde a satisfação de atuar em uma missão de paz e poder ajudar a comuni-
dade local.
“Antes de vir para cá, pensei em integrar a Médicos sem Fronteiras, para
trabalhar em algum ponto de conflito ou miséria no mundo”, conta. Para manter
a vaidade feminina em um país tão carente, ela e as colegas se ajudam. “A dife-
rença aqui é que não temos salão, a gente traz tudo do Brasil”, explica. Ela ainda
tem a sorte de ter o marido por perto. O também tenente e médico Maurício
Augusto Lopes, 31, de Goiânia, trabalha, come e dorme em outro batalhão do
Exército, em Porto Príncipe. Por isso, ambos só se veem nos dias de folga, fora
da base militar.
4 Almanaque DGP.
5 Resenha 7 out. 2012 – Exército Brasileiro.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 323
Dentistas
Ten.-Cel. Dent. Bernardo Nuzman
Filho de Arthur Nuzman e Zéna Meskelman Nuzman. Natural do Distrito
Federal. Casado com Tuba em 1.ª núpcias. Em 10 de dezembro de 1952 nasce
sua filha Roberta.
Diplomado em Odontologia pela Faculdade Fluminense de Medicina em
1943. 2.º Ten. R/2 em 13 de abril de 1945.
Em 1947, trabalhou na EsEFEx. Diplomado em Odontopediatria pela PUC
em 1957. Instrutor da EsSEx em 1960. Em 1962, serve na Policlínica Geral do
Exército, na Rua Moncorvo Filho – Centro.
Fé de Ofício:
▶▶ Praça – 1.º de janeiro de 1950
▶▶ 2.º Tenente – 14 de agosto de 1950
▶▶ 1.º Tenente – 25de dezembro de 1950
▶▶ Capitão – 25 de setembro de 1955
▶▶ Major – 25 de fevereiro de 1962
▶▶ Tenente-Coronel –18 de dezembro de 1964 (na Reserva)
Tempo de serviço: vinte e cinco anos, oito meses e vinte e um dias.
Condecorações: Medalha Militar com passador bronze (S3) e Medalha de
Guerra (MG).
Curso de Técnica de Ensino (CTE).
Faleceu em 2004, estando sepultado no Cemitério Israelita de Vilar dos
Telles/RJ.
▶ ▶ 1954 – Diploma outorgado ao 1.º Ten. Dent. Jayme Barandes pela Association of Military Surgeons
of the United States. Acervo da família.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 325
▶ ▶ c. 1960 – Cap. Méd. Dr. Barandes faz demonstração de novas técnicas odontológicas. Acervo da
família.
6 BARANDES, Jayme et al. Technical Details of a new approach to the full maxillary subperiosteal
implant, Oral Implantology. American Academy of Implant Dentistry, 1974, p. 420-30.
▶ ▶ c. 1962 – Cap. Méd. Dr. Barandes durante visita de inspeção de Oficiais Generais. Acervo da família.
326 Israel Blajberg
7 La historia de la cirugía bucomaxilofacial en los países miembros de ALACIBU, 1ª ed.: ago. 2009.
ALACIBU – Asociación Latinoamericana de Cirurgía Bucomaxilofacial.
Elogios recebidos
Em 25 de janeiro de 1956, o Major Ch. Sv. Odontológico da AMAN, elogiou-o
nos seguintes termos:
Como auxiliar do GO do CC, tem dado provas constantes de bom servir aos
cadetes, dentro dos princípios técnicos profissionais, assim como dentro das nor-
mas disciplinares, exigidos para quem lida com esta elite militar em formação.
Além disso, louvo-o pela esforçada dedicação, amor ao trabalho e competência
profissional demonstrados no período escolar que se findou.
Fé de Ofício:8
▶▶ Nascimento – 22 de junho de 1928
▶▶ Turma – 30 de janeiro de 1952
▶▶ Praça – 2 de abril de 1951
▶▶ 2.º Tenente – 30 de janeiro de 1952
▶▶ 1.º Tenente – 25 de abril de 1953
▶▶ Capitão – 2 de abril de 1961
▶▶ Major – 25 de agosto de 1965
▶▶ Tenente-Coronel – 25 de abril de 1971 (merecimento)
▶▶ Coronel – 25 de dezembro de 1975 (merecimento)
Recebeu a Medalha Militar por Tempo de Serviço Prata (S2).
Cursos: Formação de Oficiais Dentistas e Curso de Técnico de Ensino.
▶ ▶ 2010 – Pedra Tumular do Major Welvul Cunha (1928-1978), no Cemitério Israelita de Vila Rosaly.
Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 333
▶ ▶ c. 1963 – Desfile do Corpo de Alunos do CPOR/RJ na Quinta da Boa Vista. O Cap. Dent. Aron
Felberg é o quarto da primeira fila. Acervo pessoal.
casa-se com Blima Felberg. Retorna ao Brasil no mês de outubro do mesmo ano,
indo morar na Rua do Catete n.º 92 casa 2. Seu pai possuía uma loja de enxovais,
e no pós-guerra enviava pacotes para parentes que ficaram na Rússia.
Aron nasceu no Rio em 23 de janeiro de 1932. Vínculos com a vida militar
se iniciam aos 11 anos de idade, quando cursava o admissão do colégio Franco
▶ ▶ 1954 – Aron Felberg com seus pais, após a Declaração de Aspirantes do CPOR/RJ no Estádio do
Vasco da Gama, Rua São Januário. Aron foi da Arma de Cavalaria, posteriormente ingressando por
concurso no Quadro de Dentistas. Acervo pessoal.
334 Israel Blajberg
▶ ▶ 1962 – Cap. Aron Felberg atende paciente no consultório do CPOR/RJ na Av. Dom Pedro I. Foi o
primeiro Gabinete Odontológico da unidade. Acervo pessoal.
▶ ▶ 1968 – Cap. Dent. Aron Felberg, 1.º da segunda fila, durante formatura com antigos alunos do
Curso de Cavalaria, no antigo quartel dos Dragões da Independência, para onde se mudou o CPOR/
RJ, onde hoje está aquartelado o 1.º BG – Btl. do Imperador. Acervo pessoal.
▶ ▶ 1970 – Formatura do CPOR/RJ no antigo Quartel dos Dragões. Cap. Aron é o 3.º, formando com o
Estado-Maior do Centro na primeira fila. Acervo pessoal.
336 Israel Blajberg
▶ ▶ c. 1962 – Culto religioso por ocasião da Formatura de Turma de Aspirantes do CPOR/RJ, no Grande
Templo Israelita, Rua Tenente Possolo n.º 8 – próximo à Pça. Cruz Vermelha – Rio de Janeiro. Cap.
Aron é o terceiro da primeira fila, e o Asp. Nigri o sétimo. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 337
Teve como pacientes e amigos importantes chefes militares, como o Gen. Ruy
Leal Campello, que ajudou muito a divulgar seu projeto da OCEx – Odontoclínica
Central do Exército, e o Ministro General Ex. Walter Pires de Carvalho e Albuquerque,
que ao final da administração, ofereceu um exemplar autografado do seu relatório:
“Ao amigo Ivo, com a amizade e admiração do Walter Pires, Rio, 9 abril 87.”
Por inicitiva do Cel. Ivo, o Ministro Walter Pires recebeu do Ministro da
Defesa de Israel, General Moshe Dayan, um exemplar autografado do seu livro
Living With the Bible: “To General Pires, Best wishes, M. Dayan, 20/1/81.”
Durante seu tempo na Policlínica, mercê da sua abalizada competência pro-
fissional e elevado tirocínio, foi designado para atender aos Oficiais Generais
e seus dependentes, mantendo um excelente padrão. Foi um dos que levaram
adiante o projeto da OCEx, hoje instalada em prédio próprio.
Cel. Ivo recebeu importantes medalhas, como a Ordem do Mérito Militar,
nos graus de Cavaleiro e Oficial (OMM Ten.-Cel. Oficial 25 de agosto de 1989),
Medalha do Pacificador, Distintivo de Comando de Unidade, Medalha Militar
por Tempo de Serviço Prata (S2) – 20 Anos de Serviços Prestados e a Insígnia da
Academia Brasileira de Odontolgia Militar – ABOMI.
Em 1973, tirou o curso de direção de viaturas blindadas no 24.º BIB, sendo
habilitado para dirigir a VBTP M-113, que compunha a dotação da unidade
(Viatura Blindada de Transporte de Pessoal). O Comandante Cel. Nelson Vianna
ofereceu uma foto das viaturas em exercicio de transposição de curso d’água
com a dedicatória: “Para o Dr. Milman, dentista blindado, com a admiração e o
apreço do Amigo Nelson Vianna – Cel.”
Farmacêuticos
Salomão Bergstein
Fé de Ofício:12
▶▶ Nascimento – 7 de janeiro de 1900
▶ ▶ Praça – 15 de janeiro de 1926
11 http://www.abomi.org.br/acadêmicos.php
12 Almanaque do Exército, 1945, p. 339.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 341
Maurício Zaikowaty
Nasceu em 25 de novembro de 1926, em Cascadura, Rio de Janeiro, filho de
Salomão e Clara Zaikowaty. Morou em Madureira e estudou no Colégio Arte e
Instrução. Formou-se como farmacêutico em 1949 e como médico em 1973. Foi
incorporado ao Exército em 1950 como Of. Farmacêutico.
Serviu em Uruguaiana (fronteira com o Uruguai), Niterói (Fortaleza de
Santa Cruz), Escola de Saúde do Exército, foi Ajudante de Ordens do General
Médico Dr. Ernestino de Oliveira na Diretoria de Saúde, Chefe do Laboratório
da Policlínica Geral do Exército e assistente do General Médico Dr. Olívio Vieira
Filho na Diretoria de Saúde. Serviu durante cinco anos no Instituto de Biologia
do Exército, sendo o primeiro oficial farmacêutico a ser diretor do IBEx, cargo
até então exercido apenas por médicos. Foi reformado no posto de Coronel com
proventos de General de Brigada.
▶ ▶ c. 1971 – Cel. Farm. Dr. Mauricio Zaikowaty em cerimônia no IBEx. Acervo da família.
342 Israel Blajberg
▶ ▶ c. 1973 – Convidados a cerimônia no IBEx na gestão do Cel. Farm. Mauricio Zaikowaty. Acervo pessoal.
▶ ▶ 1973 – Retrato do Cel. Farm. Mauricio Zaikowaty na Galeria dos Diretores da Farmácia Central do
Exército, que dirigiu de 29 de agosto de 1972 a 12 de setembro de 1973. Acervo da família.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 343
13 VIEIRA, João Paulo S.; PINTO, Eduardo A. Da botica real militar ao Laboratório Químico
Farmacêutico do Exército – Fatos e Personagens de sua História, p. 165.
▶ ▶ 2012 – Retrato do Cel. Farm. Mauricio Zaikowaty na Galeria dos Diretores do IBEx – Instituto de
Biologia do Exército, que dirigiu de 29 de novembro de 1973 a 9 de junho de 1978. Acervo do autor.
344 Israel Blajberg
▶ ▶ 2012 – Placas dando o nome do Cel. Farm. Mauricio Zaikowaty à Seção de Bioquímica do IBEx, e
homenagem da FIERJ em 25 de junho de 2007. Acervo do autor.
▶ ▶ 2007 – Retrato do Cel. Farm. Mauricio Zaikowaty entregue pelo seu irmão Dr. Zaikowaty ao Cel.
Farm. Ferrari, diretor do IBEx, durante homenagem da FIERJ em 25 de junho de 2007, com Anna
Bentes Bloch. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 345
▶ ▶ 2007 – Público presente à homenagem da FIERJ ao Cel. Farm. Mauricio Zaikowaty em 25 de junho
de 2007, vendo-se na primeira fila sua irmã, Anna Bentes Bloch e o então Presidente da FIERJ Sergio
Niskier. Acervo da família.
▶ ▶ 2007 – Retrato do Cel. Farm. Mauricio Zaikowaty entregue pelos irmãos Zaikowaty ao Cel. Farm
Ferrari, diretor do IBEx, durante homenagem da FIERJ em 25 de junho de 2007, com Anna Bentes
Bloch. Acervo da família.
346 Israel Blajberg
▶ ▶ 2007 – Descerramento da placa recordatória do Cel. Farm. Mauricio Zaikowaty, com Sergio Niskier,
presidente da FIERJ, Cel. Farm. Ferrari, e os irmãos Zaikowaty, durante homenagem da FIERJ em 25
de junho de 2007. Acervo da família.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 347
Curriculum vitae
Dr. Maurício Zaikowaty
C.R.M. RJ – 17.881
C.P.F. 005123117
Av. N. S. Copacabana 897/305 Fone: 255 – 2035
348 Israel Blajberg
▶ ▶ Cursos
▶▶ Revisão de Bacteriologia – A.B.F.
▶▶ Radiobiologia – Comissão Nacional de Energia Nuclear
▶▶ Curso de Técnica de Ensino – M. Ex
▶▶ Psicologia das Relações Humanas – M.E.C.
▶▶ Curso Intensivo de Homeopatia – Fed. Bras. De Homeopatia
▶▶ Instrutor de Bioquímica na Escola de Saúde do Exército
▶▶ Registro nº 13.036 do Departamento de Educação Primária
▶▶ Atualização em Imunologia – Soc. Bras. de Hematologia
▶▶ Radioterapia – Soc. Bras. De Hematologia
▶▶ Medicina Nuclear em Hematologia – Soc. Bras. de Hematologia
▶▶ Coagulação Sanguínea – S.B.A.C.
▶▶ Cardiologia Clínica – Santa Casa de Misericórdia
▶▶ Anual de Gastroenterologia – Soc. Bras. de Gastroenterologia
▶▶ Interpretação Eletrocardiografia – Hospital da Lagoa (INPS)
▶ ▶ Outros
▶▶ Membro “Titular” Cadeira 65 da Academia Brasileira de Medicina
Militar
▶▶ Membro “Titular” na Academia Brasileira de Farmácia Militar
▶▶ Chefe de Clínica Médica da 25.ª Enf. da Santa Casa de Misericórdia
▶▶ Trabalho Científico publicado “Efeitos biológicos das irradiações ionizantes”
▶▶ Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas
ABRAFARM
São Patronos Farmacêuticos da Academia Brasileira de Farmácia Militar,
ABRAFARM:
▶▶ Cadeira 47 – Maurício Zaikowathy
▶ ▶ Cadeira 49 – José Scheinkmann
▶ ▶ Cadeira 57 – Moisés Fuks
Veterinários
Cel. Vet. Dr. Henrique Fainstein
Seu pai imigrou em 1917 da Rússia, região da Ucrânia mais tarde incorporada à
Polônia, e sua mãe da Bessarábia, atual Moldávia. Conheceram-se no Brasil, onde
tiveram dois filhos, Henrique e Arnaldo, conceituado engenheiro do DNER.
Dr. Henrique nasceu em Angra dos Reis/RJ em 10 de julho de 1927, onde o
pai trabalhava no comércio e tinha plantações de bananas.
Mais tarde, mudaram-se para o Fonseca em Niterói/RJ, onde o jovem
Henrique foi incorporado em 1944 à Escola de Instrução Militar 186, nos moldes
dos tiros de guerra, na Praia de Icaraí, entre o Clube de Regatas Icaraí e a Reitoria
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 351
▶ ▶ 2003 – Cel. Henrique Fainstein e esposa Gerty ao ingressar na Academia de Medicina Veterinária
do Estado do Rio de Janeiro, ocupando a cadeira n.º 4. Acervo da família.
da UFF. Hoje no local onde existiu a Escola situa-se um grande edifício, como
tantos que “copacabanizaram” Icaraí. Em Niterói, Henrique trabalhou no extinto
SAPS – Serviço de Alimentação e Previdência Social e Social, o precursor dos
restaurantes populares. Frequentava no Rio de Janeiro as festas organizadas pelo
▶ ▶ 1951 – 5.º RAM de Cruz Alta/RS, Maj. Araken, Ten. Reginaldo e Ten. Veterinário Henrique Fainstein.
Acervo da família.
352 Israel Blajberg
▶ ▶ 1951 – Ten. Veterinário Henrique Fainstein, 5.º RAM de Cruz Alta/RS. Acervo da família.
extinto Clube dos Cabiras, sediado na Rua Álvaro Alvim, que organizava bailes
em salões de clubes como o Fluminense e Botafogo.
Bem próximo à antiga Escola 186 situa-se sua residência, apartamento em
um 10.º andar, onde hoje reside com sua esposa Gerty, com vista ampla para a
▶ ▶ 1952 – Parada de 7 de Setembro em Cruz Alta/RS. O Comandante do 5.º RAM Cel. Nelson Werneck
Sodré desfila em continência. Sentado no banco traseiro o Ten. Veterinário Henrique Fainstein.
Acervo da família.
▶ ▶ 1952 – Parada de 7 de Setembro em Cruz Alta/RS. O 5.º RAM desfila pela Avenida General Osório.
O Ten. Veterinário Henrique Fainstein segue montado atrás à direita. Acervo da família.
354 Israel Blajberg
A família tem uma ligação com a UFF, eis que o filho Claudio é médico
e professor de cirurgia da universidade, bem como sua esposa Eloane, profes-
sora de enfermagem. O filho mais novo, Flávio, é formado em Administração de
Empresas também pela UFF.
Os netos também ingressaram na área médica, Leo é anestesista, André é
cirurgião e Hélio é clínico. André encontra-se cursando o CIAW na Ilha das
Enxadas, para ingresso no Corpo de Médicos da Reserva da Marinha.
Em março de 1951, Dr. Henrique prestou concurso para a Escola de Veterinária
do Exército, uma carreira que se estendeu até 1980. Após a conclusão do curso, foi
mandado servir em Bagé e Cruz Alta/RS, onde permaneceu de 1952 a 1957.
Nesta última cidade havia uma pequena comunidade judaica, onde o jovem
Henrique encontrou a sua alma gêmea, Gerty, com quem se casou em 1954,
completando em 2014 as Bodas de Diamante – 60 anos.
A família de D.ª Gerty emigrou de Viena em 1937, pouco antes do Anschluss
de 1938, a anexação político-militar da Áustria por parte da Alemanha nazista,
que traria consequências trágicas para a comunidade judaica. A princípio, a
família Tisser foi para a Argentina, de onde mais tarde seguiram para o Brasil,
através de Uruguaiana. Eram cinco irmãos.
Os membros da família materna de D.ª Gerty, Vicky-Nerfin, permaneceram
na Áustria, onde foram vitimados no Holocausto.
D.ª Gerty atualmente é presidente da Seção da WIZO em Niterói, uma orga-
nização beneficente – Womens International Zionist Organization, que presta
auxilio ao segmento feminino, inclusive, de comunidades carentes em diversas
cidades brasileiras.
Em Cruz Alta, Dr. Henrique serviu como 2.º Tenente no 6.º Regimento
de Artilharia Montado, herdeiro das ricas tradições do 4.º Corpo Provisório
de Artilharia a Cavalo, criado em 1868 durante a Guerra da Trípice Aliança,
quando combateu em Humaitá, Avaí, Itororó, Piquissiri, Lomas Valentinas e
▶ ▶ 1952 – Parada de 7 de Setembro em Cruz Alta/RS. O 5.º RAM desfila pela Avenida General Osório.
O Ten. Veterinário Henrique Fainstein segue montado à direita. Acervo da família.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 355
▶ ▶ 1952 – Parada de 7 de Setembro em Cruz Alta/RS. O 5.º RAM desfila pela Avenida General Osório.
O Ten. Veterinário Henrique Fainstein segue montado à direita. Acervo da família.
das armas. Sessenta anos mais tarde, em 2011, aquele menino alcançaria o pata-
mar da carreira, recebendo as 4 estrelas de General de Exército, até que em
janeiro de 2015 assumiria as elevadas funções de Comandante da Força.
Outras figuras históricas também passaram pelo regimento na época do Dr.
Henrique, como seu Comandante Coronel Nelson Werneck Sodré (1911-1999),
que se tornaria um conhecido historiador e escritor autor de vasta bibliografia.
Dr. Henrique prosseguiu a carreira servindo em Santa Maria/RS. Em 1961,
tornou-se instrutor da Escola de Veterinária em Inspeção de Alimentos, perma-
necendo pelo tempo máximo permitido de cinco anos, seguindo-se a EsAO, de
onde foi convidado para trabalhar com o Diretor de Veterinária Gen. Osvaldo
Castro como chefe da Seção Técnica, inicialmente no Rio de Janeiro, sendo
depois a diretoria transferida para Brasília.
Cel. Henrique chegou a Subdiretor de Veterinária do Exército. Na época
havia 16 coronéis veterinários no Quadro de Veterinária do Exército. Em 1980,
solicitou transferência para a Reserva Remunerada. Teve todas suas promoções
por merecimento.
Em 11 de julho de 2003, o Cel. Henrique foi eleito membro titular da
AMVERJ – Academia de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro,
ocupando a cadeira n.º 4.
CAPÍTULO 21
Exército Brasileiro – Antigos Alunos
dos CPOR e NPOR
4 de novembro
Dia do Oficial R/2
Data de Nascimento
do Cel. Correia Lima
Fundador do CPOR
Portaria n.º 429 de 18 de julho de 2006
do Comandante do Exército
E
xistem hoje no Brasil cinco CPOR: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre,
Recife e Belo Horizonte. Existem também 46 NPOR, que funcionam den-
tro de unidades militares, sendo 25 de Infantaria, cinco de Cavalaria, sete
de Artilharia, três de Engenharia, um de Comunicações, dois de Material Bélico
e três de Intendência.
Nos idos da década de 1920, o bravo Coronel Correia Lima teve uma ideia
avançada para o Brasil da época, que iria se provar acertada até hoje, revelando-
se em toda a sua magnitude durante a Segunda Guerra Mundial, quando metade
dos 800 tenentes da FEB era R/2, a mocidade do CPOR. Lançou a ideia pioneira,
de convocar os alunos das faculdades para cursar um centro de preparação, dos
quais sairiam como oficiais da Reserva. O então Cap. Luiz de Araujo Correia
Lima comandaria o 1.º CPOR do Brasil de 12 de maio de 1926 a 11 de novembro
de 1929, no quartel de artilharia de São Cristóvão, que lamentavelmente junto
com antigas e históricas casernas, como a Escola de Veterinária e outras ao longo
da Av. Bartolomeu de Gusmão, foram demolidas. Em seu lugar, a FIFA colocou
instalações provisórias para apoio à Copa do Mundo de 2014. Tudo isso para que
nem ao menos o Brasil ganhasse a Copa ou tivesse algum retorno significativo.
Desde logo, o Cap. Correia Lima obteve a adesão dos alunos da Escola
Politécnica, não fora ela a precursora do ensino militar no Brasil, já que naquele
mesmo prédio do Largo de São Francisco fora instalada por D. João VI em
1810 a Academia Real Militar, da qual descendem hoje em linha direta o IME,
357
358 Israel Blajberg
Janeiro. Realizado em três finais de semana, o curso reuniu cerca de 80 Oficiais R/2
e, em seu encerramento, o Chefe do DEP, General de Exército Gleuber Vieira, antigo
instrutor do CPOR/RJ dirigiu ao Presidente da Associação as seguintes palavras:
“Tenente Monteiro, sugiro que a Associação de Oficiais R/2 do Rio de Janeiro
promova uma reunião entre as diretorias das cinco entidades congêneres em ati-
vidade no país, visando uma desejável integração entre elas. Quem sabe, desse
encontro surja uma organização nacional que possa atuar como elo entre as
Associações e o Exército.”
▶ ▶ 2010 – 12.º Encontro Nacional de Oficiais da Reserva do Exército – 12.º ENOREx – BELO HORIZONTE
– de 20 a 26 de setembro de 2010, no CMBH, promovido pelo CNOR – Conselho Nacional de Oficiais
R/2 do Brasil. Carlos Vaintraub (filho do Dr. José) e os ex-alunos, Israel Blajberg (RJ) e Dr. José
Vaintraub (BH). Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 361
CPOR/RJ
Desde 1927, estima-se que 10 mil alunos formaram-se no CPOR/RJ. A comu-
nidade judaica tradicionalmente enviou muitos de seus melhores filhos para a
Casa de Correia Lima. Os arquivos do CPOR encontram-se ainda em papel, de
qualidade incompatível e armazenamento em condições difíceis de consulta. Os
mais antigos já estão em condições críticas e quase nada foi digitalizado. A con-
tinuar assim, tememos que estes precisos dados possam se perder. Assim não
foi possível realizar uma pesquisa completa, apenas uma pequena amostragem,
com apoio nos arquivos da Associação dos Antigos Alunos, que só dispõe de
anos mais recentes, que passamos a descrever. Esperamos que no futuro, com a
recuperação dos arquivos, possa ser melhor descrita a contribuição da comuni-
dade judaica ao CPOR e, claro, a contribuição à Sociedade Brasileira.
▶ ▶ 1965 – Aposição floral no busto do Ten.-Cel. Correia Lima, em frente ao antigo quartel do CPOR/
RJ na Av. Pedro I, São Cristóvão, Rio de Janeiro. Ao fundo, à esquerda, o comandante Cel. Francisco
Ruas Santos, veterano da FEB. O autor aparece à esquerda ao lado do Cap. Wallace. Acervo pessoal.
362 Israel Blajberg
▶ ▶ 2007 – Nos 80 Anos do CPOR/RJ em seu antigo quartel na Av. Pedro I, São Cristóvão, Rio de
Janeiro, hoje o Museu Militar Conde de Linhares, os antigos alunos Israel Blajberg (1965), Samuel
Sztyglic (1961), Israel Rosenthal (1944), Denis Fred Benzecry (NPOR 1.º BIS – Manaus – 1987) e Jacob
Ibrahim Dahab (1962). Acervo pessoal.
▶ ▶ 2007 – Após o desfile dos 80 Anos do CPOR/RJ na Quinta da Boa Vista, os antigos alunos Denis
Fred Benzecry, Samuel Sztyglic, Jacob Ibrahim Dahab, Israel Blajberg, Sergio Pinto Monteiro (1961,
Presidente do CNOR), Marcelo Cortes (1961) e Paulo Coimbra Sauwen (1951). Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 363
▶ ▶ 1965 – Declaração de Aspirantes do CPOR/RJ no Estádio do Vasco da Gama em São Januário, Rio
de Janeiro. O autor aparece com sua mãe e madrinha, D.ª Perla Blajberg. Acervo pessoal.
Turma de 1939
Em 7 de julho de 1939, diversos Aspirantes a Oficial e de Oficiais da 2.ª classe
da Reserva de 1.ª linha, tiveram aprovados seus requerimentos pedindo estágio
nos corpos de tropa da Primeira Região Militar, despachados pelo Exmo. Sr.
General de Divisão comandante da Primeira Região Militar: Arma de Artilharia:
Aspirantes: Wilkie Moreira Barbosa, Mauro Ribeiro Viegas, Alberto Borgerth
Filho, Alvaro Pantoja Leite, Hugo Cardoso da Silva, Luiz Augusto da Silva Teles,
Alfredo do Amaral Osório, Oscar de Oliveira, Servio Túlio dos Santos Sá. Arma
de Infantaria: Aspirantes: Edílio Guertzenstein. Dentre estes, havia vários alunos
da Escola Nacional de Engenharia, que futuramente viriam a ser professores,
chefes de departamento e diretores da Escola.
Na década de 1920, o idealizador e fundador dos CPOR, Cel. Correia Lima,
costumava postar-se nas escadarias da Polytechnica no Largo de São Francisco
e conclamar os estudantes que passavam a matricular-se no curso para forma-
ção de Oficiais da Reserva que mantinha no seu quartel de artilharia em São
Cristóvão. A aceitação era boa, e logo se cristalizou a tradição entre os alunos
do Largo de São Francsisco de aderir ao CPOR. Era uma época em que futuros
chefes militares históricos passaram pelo CPOR, como os Generais Muricy e
Canrobert. Mais tarde, a Escola Nacional de Engenharia enviou nove de seus
alunos para a FEB na Itália.
A ENE foi também um ponto focal das manifestações que pediam a decla-
ração de guerra contra as potências do Eixo, seguindo-se aos infames torpede-
amentos de navios mercantes nacionais por submarinos nazistas no fatídico de
agosto de 1942, quando em uma semana foram afundados cinco navios com 600
370 Israel Blajberg
José Weksler
Nascido no Distrito Federal em 1.º de julho de 1918, filho de Simon Weksler e
Rachel Moskovitz. Era estudante de Medicina, sendo matriculado no Curso de
Infantaria do CPOR em 12 de junho de 1937. Foi declarado Aspirante em 21 de
novembro de 1939, como 34.º em uma turma de 70 alunos. Naquela época, o
curso do CPOR era de três anos.
▶ ▶ 1943 – Bateria do Ten. R/2 Abrahão David Bregman (assinalado na primeira fila com uma seta) – 1.º
Grupo do 3.º Regimento de Artilharia Antiaérea – I/3.º RAAAé. Bateria em posição com o material de
88 mm Krupp, de fabricação alemã. Natal/RN, atual 17.º GAC. Acervo da família.
372 Israel Blajberg
Moysés Genes
Filho dos imigrantes russos Luiz e Menha Genes, nasceu no Recife/PE em 5 de
novembro de 1919. Em 7 de dezembro de 1938, foi matriculado no Tiro de Guerra
382 no Clube de Regatas do Flamengo, tendo cursado o CPOR – Artilharia em
1939-41, com estágio no Grupo de Artilharia de Dorso em Campinho, Rio de
Janeiro, cujo comandante era o Ten.-Cel. Geraldo Da Camino, unidade essa que
foi incorporada à FEB e seguiu para a Itália. Foram da sua turma os engenheiros
Francisco Kaufman, Leopoldo Nachbin e Adolpho Cohen, já falecidos. Genes não
pôde seguir com a FEB,por estar a sua genitora doente e necessitar do seu arrimo.
Durante 25 anos, foi diretor da Escola e Colégio Israelita Brasileiro Scholem
Aleichem.
Leonardo Koatz
Filho de Luiz Koatz e Joanna Blugerman Koatz, nasceu no Recife/PE em 13
de maio de 1924. Em 26 de fevereiro de 1942, foi matriculado no Curso de
Infantaria, sendo declarado Aspirante em 29 de setembro de 1943.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 373
Sadi Canetti
Nascido a 31 de outubro de 1921 em Porto Alegre/RS, faleceu em 8 março 1998
aos 76 anos.
Filho de Elias Simantov Canetti e Sarah Canetti, nascida em 1885.3
Em março 1944, Sadi Caneti era aluno do Núcleo de Preparação de Oficiais
da Reserva anexo ao 12.° Regimento de Infantaria, pedindo transferência para o
Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, sendo o reque-
rimento deferido.
Leopoldo Nachbin
Matemático de fama internacional, nascido em 1922, veio do Recife para o Rio
onde cursou o CPOR/RJ juntamente com a Escola Nacional de Engenharia. Já
formado, deu aulas de física no CPOR da Aeronáutica.
Em depoimento, conta: 4
Naquela época eu era muito jovem e tinha muita energia, então, a minha vida,
naquela ocasião, era: de manhã cedo, fazer o Centro de Preparação de Oficiais
da Reserva (CPOR) de Artilharia, das 6h00 às 8h00, depois, às 9h00, mais ou
menos, ia para a Escola Nacional de Engenharia, onde assistia às aulas. E, na
medida do possível, fugia da Escola Nacional de Engenharia e ia para a Faculdade
Nacional de Filosofia que, naquele tempo, funcionava no Largo do Machado. A
Escola Nacional de Engenharia funcionava no Largo de São Francisco, naquele
tempo, e a Faculdade Nacional de Filosofia funcionava no Largo do Machado,
de modo que, realmente, tinha, digamos, muita energia para me dividir entre
todas essas atividades.
Aliás, naquele tempo eu também me interessava muito por jogar xadrez. Eu
jogava xadrez e cheguei até a ganhar algumas medalhas de primeiro lugar nos
campeonatos de xadrez da Escola Nacional de Engenharia.
Eu sou judeu de origem, e talvez por isso mesmo eu seja pouco preconceitu-
oso. Sempre, quando era professor na Escola Nacional de Engenharia e exami-
nava os alunos de segunda época, me lembro de sempre ter uma certa proteção
com os alunos pretos ou mais pobres, ou minorias.
3 GENI.com http://www.geni.com/people/Sadi-Canetti/6000000002073086475
4 História da Ciência (Depoimentos orais realizados pelos Arquivos Históricos do CLE/
Unicamp). Entrevista com o professor Leopoldo Nachbin. Entrevistadores: professor Roberto
de Andrade Martins e Hiro Barros Kumasaka.
374 Israel Blajberg
Gudel não foi aceito no Colégio Militar. Sua mãe foi inscrevê-lo, sendo per-
guntada a religião do menino, assim é de se supor que delicadamente recusaram
a inscrição, talvez devido à orientação vigente na época (vide Os indesejáveis, no
cap. 17). Entretanto, esta não era a regra geral, já que vários judeus cursaram o
Colégio Militar naqueles tempos.
Assim, o menino Gudel foi estudar no Colégio Felisberto de Menezes, na
Rua São Francsico Xavier, onde davam aula professores do Pedro II e do Colégio
Militar, formando-se pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do
Brasil em 1948.
Gudel trabalhou no HSE, onde relata episódios de antissemitismo. Por um
lado, fazia projetos, achavam formidável, por outro, chegou a ouvir de um chefe:
“Vocês judeus cometeram o grande erro de não ter aceito Jesus há 2 mil anos”.
Certa vez, Dr. Gudel teve o ponto cortado por ter faltado no Yom Kipur – Dia
do Perdão.
Gudel foi chefe de laboratório do HSE, presidente da Sociedade Brasileira
de Patologia Clínica e diretor do Centro Municipal de Saúde – Copacabana.
Recebeu a Medalha Pedro Ernesto, da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Foi conselheiro da FIERJ e diretor da B’nai Brith, onde desenvolve trabalhos
ligados ao ensino da história do Holocausto.
Gudel recorda os anos difíceis das décadas de 1930/40, quando foram proi-
bidas as associações israelitas, e os integralistas proliferavam. Constava que
Gustavo Barroso teria sido representante da Casa dos Rotschild, por suas liga-
ções com o Exército, e que, demitido, tornou-se antissemita.
Dr. Jaime Gudel comemorou em janeiro de 2015 seus 90 anos, cercado
de familiares e amigos, em almoço festivo em aprazível restaurante no Rio de
Janeiro.
5 Jornal ALEF.
376 Israel Blajberg
Jacob Steinberg
Jacob era descendente de imigrantes judeus, casado com Clara Perelberg, com
quem fundou a Servenco. Ambos eram formados pela tradicional Escola
Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil.
Foram empreendedores de obras que se tornaram marcos na cidade tais
como o Clube de Aeronáutica, o conjunto de edifícios da Rua Marquesa de
Santos, o Rio Flat Service – primeiro apart hotel – e o edifício da Caemi – um
prédio inteligente, entre outros prédios residenciais e comerciais.
O Rio Design Center, primeiro shopping brasileiro especializado em deco-
ração e design e centro cultural de reconhecida importância para a cidade e o
Rio Design Barra, um projeto três vezes maior também foram seus empreen-
dimentos. Preocupados com o social, criaram o Instituto Rogério Steinberg,
1997, instituição voltada para dar apoio especializado às crianças carentes,
personagem marcante na história da indústria da construção civil do Rio de
Janeiro
▶ ▶ Junho de 2008 – Eng. Jacob Steinberg, ex-aluno do CPOR (Eng. de 1946) entrega diploma ao Cel.
Ernesto Caruso, durante Sessão da AHIMTB na A3P, no prédio histórico da antiga Escola Polytechnica.
Acervo do Autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 377
Jacob cursou o CPOR na turma de 1945, com seu amigo José Griner, colega
do Pedro II e da ENE. Da Arma de Engenharia, acamparam em Itajubá/MG,
onde enfrentando o frio construíam pontes sobre o Rio Sapucaí, na Serra da
Mantiqueira, além da instrução de combate com rolos de arame farpado, trin-
chieras e dinamite. Outros colegas da ENE também cursaram nesta e em outras
turmas do CPOR. Era uma tradição que aos poucos foi sendo esquecida na
nossa tradicional Polytechnica, herdeira das glórias da Academia Real Militar de
1811, eis que tantas outras universidades surgiram. Entre os antigos alunos do
CPOR e da ENE, temos Aimone Camardella, Eng. 1946; Jacob Steinberg, Eng.
1946; Pedro Carlos da Silva Telles, Eng. 1947; Manoel Martins, Eng. 1946 e Israel
Blajberg, Art. 1965.
Jacob Steinberg era sócio e conselheiro da A3P – Associação dos Antigos
Alunos da Politécnica. Entre outros, integram também o Conselho Diretor os
engenheiros Leizer Lerner (presidente de honra e membro vitalício, foi presi-
dente em 1961-1976), Bernardo Griner, Israel Blajberg e Marconi Nudelman.
A A3P homenageia todo o ano um engenheiro que tenha se destacado na
profissão pelos seus trabalhos e serviços prestados à engenharia brasileira com o
título de Engenheiro Eminente do Ano. Em 2008, foi aberta uma exceção, com o
prêmio sendo concedido a um casal, casal Jacob e Clara Steinberg.
Jacob Steinberg teve uma vida plena de realizações, tendo falecido em 23
de abril de 2013 aos 89 anos. Sua esposa Clara faleceu em 19 de janeiro de 2015.
Klabin Irmãos & Cia. Foi indicado para prefeito do Rio em 1979 pelo governa-
dor Chagas Freitas, passando o cargo que recebera de Marcos Tamoio para Júlio
Coutinho, os três engenheiros formados pela ENE, exceto Júlio, formado pelo
ITA, mas que era professor da COPPE-UFRJ.
Um Klabin fardado6
▶ ▶ Depoimento para o Projeto de História Oral do Exército
Em seu escritório em meio a Mata Atlântica de São Conrado, Israel Klabin
recebe a equipe do Programa de História Oral do Exército. Assim como tantos
universitários de sua geração, envergou com orgulho a farda verde-oliva. Era um
rapaz de 18 anos, pouco mais magro que hoje, ao se tornar aluno do Centro de
Preparação de Oficiais da Reserva.
O tradicional CPOR estava aquartelado junto à Quinta da Boa Vista, onde
hoje funciona o Museu Militar Conde de Linhares, em belo edifício neoclássico
construído pelo Marechal Rondon. Em 1948, recebeu em solene formatura a sua
espada, ao ser declarado Aspirante da Reserva, a qual acaba de dar em doação ao
Museu do R/2, situado no atual quartel na Avenida Brasil, em Bonsucesso.
Pelo corredor estreito e acolhedor por onde se adentra o atual Museu, passa-
ram tantos brasileiros dos mais ilustres, até presidentes da República, incontáveis
ministros, desembargadores, cientistas, profissionais liberais, professores, indus-
triais, artistas, políticos, enfim toda a variada gama que compõe o espectro social
brasileiro esteve representada naqueles jovens alunos, que com o coração pleno de
esperança, um dia tiveram o privilégio de ser um aluno do CPOR.
Alguns desses antigos e proeminentes alunos vêm dando depoimentos que
irão compor uma coleção de livros historiando a contribuição do CPOR para a
sociedade brasileira.
Klabin recebe cordialmente a equipe de entrevistadores, recordando com
alegria aqueles anos inesquecíveis, quando num distante 15 de dezembro de
1946 foi incorporado às fileiras do CPOR.
Muita camaradagem, alegria, ensinamentos preciosos, a disciplina militar, a
opção pela Arma de Cavalaria, influenciado pelos ensinamentos paternos sobre
a importância do trabalho da terra, o valor do cavalo na vida rural, assim como
pelo esporte de polo, praticado por ele e seus irmãos.
A vida militar foi como uma continuidade da sólida formação que recebeu
dos pais Wolff e Rosa Klabin.
Recorda com saudade os treinamentos de cargas de cavalaria no Campo
de São Cristóvão, não sem algumas quedas acidentais, longas marchas a cavalo,
embarcando nos vagões da Central bem cedinho, estender a corda-tronco para a
cavalhada, os banhos de salmoura que ele como jovem aluno dava para refrescar
o costado dos cavalos cansados, e seu companheiro de alojamento, aquele que
viria a ser o grande escritor José Rubens Fonseca.
Luiz Chor7
Luiz Chor nasceu a 29 de novembro de 1930 no Rio de Janeiro. Engenheiro, foi
empresário do ramo da construção civil, e líder sindical. Cursou a ENE-UB de
1949 a 1953, e o CPOR na Arma de Engenharia de final de 1949 a de agosto de
1951. Sua turma da ENE possuía um razoável número de alunos judeus, entre
os quais José Moisés Samburski, Mário Ribenboim, José Kaufman, Bernardo
Griner, Herman Mendlowicz, e destes vários cursaram o CPOR, onde foi matri-
culado no curso de Engenharia a 15 de dezembro de 1949. Naqueles tempos, era
apreciável a contribuição do alunado da ENE para o CPOR, onde alguns chega-
vam a se destacar nos primeiros lugares das turmas, principalmente da Arma de
Engenharia, como, por exemplo, o prof. Archibald MacEntyre, que foi o 1.º da
sua turma e mais tarde Catedrático Vitalício da ENE.
Ao ingressar no CPOR, sua turma foi formada por estudantes de engenha-
ria, com um único colega que estudava Matemática na PUC-RJ, experiência que
foi feita naquele ano, e que se saiba, não mais repetida.
Foram seus colegas no CPOR Emanoel Waissman (Cav.), Isaac Hilf, que foi
presidente do CCER Monte Sinai, Bernardo Griner, José Moisés Samburski e
José Kaufman (Art.), que se formou um ano antes. Seu estágio de instrução deu-
se nos batalhões de Engenharia em Itajubá e Pindamonhangaba.
7 Com elementos colhidos em: GRINBAUM, Victor - Algumas memórias, a vida de Luiz Chor.
MW Comunicação, 2011.
▶ ▶ 1953 – Retrato de Luiz Chor em seu álbum de formatura da ENE-UB, Turma de 1953. Durante o
curso, Luiz fez o CPOR, que concluiu em 1951, na Arma de Engenharia. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 381
Bension Akherman
Nascido a 19 de dezembro de 1932, filho de Gdale e Sendel Akherman, é geólogo
formado pela Escola Nacional de Geologia da Universidade do Brasil em 22 de
dezembro de 1967. Seu irmão gêmeo Efraim também foi da Infantaria no CPOR.
Seus pais eram imigrantes da Bessarábia. Estabeleceram-se em 1924 no
Méier, depois, em 1932, em Cascadura, com comércio de móveis. Bension cur-
sou o primário na Escola Amaro Cavalcanti e o secundário no Ginásio Franco
Brasileiro e Andrews.
▶ ▶ 1952 – Os irmãos gêmeos Bension e Efraim Akherman com pais e famíliares na Declaração de
Aspirante a Oficial da Reserva, Estádio do Vasco da Gama. Acervo do autor.
384 Israel Blajberg
▶ ▶ 1952 – Os irmãos gêmeos Bension e Efraim Akherman com seus pais na Declaração de Aspirante
a Oficial da Reserva, Estádio do Vasco da Gama. Eram da Infantaria. Acervo do autor.
8 http://cbte.org.br/template.ph
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 385
Turma de 1955
Confraternização
No mês de maio, como acontece todos os anos, a Turma de Infantaria CPOR/
RJ de 1955 se reuniu no Círculo Militar da Praia Vermelha para comemorar
mais um ano de existência. O encontro é composto por 35 oficiais da Reserva,
oriundos de uma turma de 189 alunos. O presidente da AORE/RJ parabeniza a
todos os integrantes desse seleto grupo e, em especial, aos Ten. R/2 Schetline de
Aguiar, Delcio da Silva Horta, Roberto Sussman e José Peixoto Roig pelo empe-
nho na mobilização da turma.
BRASIL!!!!!!
▶ ▶ Intendência:
▶▶ Marcus Cherman
▶ ▶ Serviço de Saúde:
▶▶ Carlos Gutman
▶▶ Jacob Arkader
▶▶ Jacob Meisler
▶▶ José Noel Rokbrand
▶▶ Manoel Bermanzon
▶▶ Miguel Rubinstein
▶▶ Moyses Gutmacher
▶▶ Moyses Spiegel
▶▶ Pedro Mintz
▶▶ Samuel Szerman
Infantaria 1957
A Turma de Infantaria de 1957 tinha 233 alunos, dos quais 12 de origem judaica.
A formatura da Turma Santos Dumont foi em 31 de julho de 1957 no Estádio do
CR Vasco da Gama, em São Cristóvão, com a presença do Presidente Juscelino
Kubitschek. Foram realizadas 3 cerimônias religiosas, a Missa em Ação de Graças
na Igreja de São Sebastião, dos capuchinhos, Rua Haddock Lobo, Cerimônia
Evangélica na Catedral Presbiteriana da Rua Silva Jardim, e Solenidade Mosaica no
Grande Templo Israelita da Rua Tenente Possolo. O Diretor do Serviço de Trânsito
baixou edital determinando proibição de estacionamento e diversas modificações
na mão das ruas em torno do estádio. A turma completa tinha cerca de 500 alunos.
▶▶ Bernardo Rubinstein
▶▶ Chain Loib Grossman
▶▶ Clovis Benchaya Cardoso
▶▶ Hugo Sergio Koatz
▶▶ Isaac Bokehi
▶▶ Isack Kipper
▶▶ Jacob Bajzer
▶▶ José Lipet Slipoi
▶▶ José Rosenblut
▶▶ Levir Bassin
▶▶ Luiz Brafman
▶▶ Salim Nigri
▶ ▶ 1957 – Bernardo Pochaczevski, Asp. Of. de Cavalaria, Turma Santos Dumont, de 1957, na
Declaração de Aspirante a Oficial da Reserva, Estádio do Vasco da Gama. Acervo pessoal.
de Lucena, que viria a ser Ministro do Exército. Mais tarde Bernardo serviu sob
seu comando no 3.º BCC, quando o mesmo foi Comandante de Esquadrão de
Carros Leves. Como oficial mais moderno, era o porta-bandeira da unidade. Sua
carta-patente foi assinada pelo Presidente JK. Era comandante da I RM o Gen.
Odylio Denis e Comandante da Divisão Blindada o General Amaury Kruel.
Bernardo é advogado, trabalhou no Forum da Comarca da capital e de
Petrópolis, sendo escrevente titular do cartório da 3.ª VC, inventariante judicial
das varas pares e avaliador judicial.
▶ ▶ 2009 – Ex-alunos do CPOR/RJ, Israel Blajberg (ART. 1965) e Efraim Meniuk (ENG. 1959), no quartel
do Centro durante as comemorações do Jubileu de Ouro. Acervo do autor.
390 Israel Blajberg
▶ ▶ 1960 – Formatura do Curso de Saúde – Quartel do CPOR ao lado da Quinta da Boa Vista. Eliezer
Leiderman, futuro cirurgião, e Leon Rabinovitch, futuro farmacêutico. Acervo da família.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 391
Títulos
Farmacêutico Bioquímico pela FNF-UB atual UFRJ em 1962, quando recebeu
a Medalha de Ouro Universidade do Brasil. Ingressou no Instituto Oswaldo
Cruz – IOC – Fiocruz -RJ, em 1963. Criou o Laboratório de Física Bacteriana
na década de 1970, do qual foi pesquisador titular e chefe. Professor e chefe do
Departamento de Bacteriologia, vice-diretor, membro do Conselho Deliberativo
de 2005 a 2007, primeiro presidente da Associação de Ex-Alunos do IOC –
AEAIOC, aposentando-se em 1997.
Professor adjunto aposentado da Faculdade de Farmácia da UFF, de 1966 a
1995, sendo livre-docente desde 1981. Realizou, em 1983, aperfeiçoamento na
área de Química Microbiana no Instituto Pasteur em Paris, durante seis meses.
Em maio de 2010, quando dos 110 anos do Instituto Oswaldo Cruz, recebeu
Medalha de Ouro pelos seus 46 anos de serviço contínuo em Pesquisa no IOC-
Fiocruz-MS. Membro da Academia Nacional de Farmácia.
Ao longo de 34 anos, realizou trabalhos de pesquisa, desenvolvimento e
produção, envolvendo acordos assinados pela Presidência da Fiocruz com enti-
dades privadas nacionais e estrangeiras, orientação de profissionais no campo
de bolsas institucionais e de pós-graduação e organização de eventos científicos.
Inventor, em conjunto com outros pesquisadores, de processos de obtenção de
linhagens de bactérias e composição de bioinseticidas, com privilégios de inven-
ção concedidos pelo INPI de titularidade da Fiocruz.
Membro de bancas examinadoras de concursos públicos de provas e títulos
para professor, de comissões de avaliação de projetos de pesquisa da Fiocruz,
de bancas de dissertação de mestrado. Orientador de alunos de mestrado e
doutorado. Membro e presidente de comissões julgadoras de teses, de simpó-
sios internacionais, coordenador de mesas, membro de comissões científicas de
congressos, diretor da Sociedade Brasileira de Microbiologia, consultor ad hoc
da FAPERJ, CNPq, FINEP, SUCEN (SP), FACEPe. Publicou dezenas de traba-
lhos em revistas científicas nacionais e estrangeiras. Apresentou trabalhos no
Segundo Encontro Ein Gedi, na Universidade Ben Gurion do Negev, Israel
Idealizou e coordenou a série bianual de Simpósio de Controle Biológico,
apoiada pelo IOC e Sociedade Entomológica do Brasil.
Autor de imensa contribuição ao conhecimento da biodiversidade brasileira,
nos termos da manifestação da Comissão Organizadora do I TAXBIO – I Simpósio
Nacional de Taxonomia e Biodiversidade, que o homenageou na abertura do evento
em 1.º de dezembro de 2009, no auditório da Escola Nacional de Saúde Pública
Sergio Arouca, no campus da Fiocruz em Manguinhos – Rio de Janeiro/RJ.
Turma de 1961
Eram todos brasileiros natos de primeira geração. Dos 600 aspirantes, cerca de
20 eram da comunidade judaica.
A Declaração de Aspirantes se realiza solenemente em formatura militar
no Estádio do Vasco da Gama, em São Januário, com a presença do Ministro
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 393
▶ ▶ 2011 – Ex-alunos do CPOR/RJ, Israel Blajberg (ART. 1965), Sergio Pinto Monteiro (ART. 1961),
Presidente do CNOR e Altamiro Zymerfogel (INF. 1961) no quartel do Centro durante as comemora-
ções do Jubileu de Ouro. Acervo do autor.
394 Israel Blajberg
▶ ▶ 2011 – Ex-alunos do CPOR/RJ, Isaac Lancman (INF. 61), Altamiro Zymerfogel (INF. 1961), Samuel
Sztiglyc (ENG. 61), Cel. Dent. Aron Felberg (CAV. 54), Israel Blajberg (ART. 1965), no quartel do Centro
durante as comemorações do Jubileu de Ouro da Turma de 1961. Acervo do autor.
▶ ▶ Intendência:
▶▶ Felix Kac
▶▶ Isaac Feingold
▶▶ Mauricio Guerchon Cohen
▶▶ Samuel Kauffmann
▶ ▶ 2011 – Ex-alunos Tenentes R/2 Eliezer, Moreira e Ubirany, no Jubileu de Ouro da Tuma de 1961.
Acervo do autor.
396 Israel Blajberg
O inesquecível CPOR13
“Ao ler o artigo de Israel Blajberg na última edição do NJR fiquei saudoso. Ele
mencionou os 'rapazes' que prestaram serviço militar em 1961 no CPOR e vol-
tei 50 anos atrás, pois também fiz parte daquela turma junto com Altamiro
Zimerfogel, que por sinal fez estágio comigo no 3.º RI, em Niterói. Também fez
parte daquela turma Gerson Barg, que infelizmente não foi mencionado.”
Michel Rosenberg
Turma de 1962
A Turma de 1962 era formada por cerca de 440 alunos, dos quais 16 judeus, 3,6%.
▶ ▶ 2012 – Jubileu de Ouro da Turma de 1962 do CPOR/RJ, ex-aluno Jacob Ibrahim Dahab e sua famí-
lia durante o almoço de confraternização. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 399
▶ ▶ 2012 – Ex-alunos Eliezer Moura, José Samuel Jalom e Jacob Ibrahim Dahab. Acervo do autor.
▶ ▶ Artilharia:
▶▶ Boris Bancovsky
▶▶ Jacob Ibrahim Dahab
▶▶ Paulo Bancovsky
▶▶ Moysés Tenenblat
▶▶ Leibich Gruzman
▶ ▶ Engenharia:
▶▶ Alberto Chinicz
▶▶ Jayme Saul Frajhof
▶▶ Salomão Luiz Wejgman
▶▶ Slomo Wenkert
▶ ▶ 2012 – Jubileu de Ouro da Turma de 1962. Solenidade no Auditório do CPOR/RJ. Acervo do autor.
400 Israel Blajberg
▶ ▶ Infantaria:
▶▶ Gustavo Aichenblat
▶▶ Ilton Gewandsznajder
▶▶ José Samuel Jalom
▶▶ Luiz Samet
▶▶ Moacyr Botsman
▶ ▶ Intendência:
▶▶ Abram Kutwak
▶▶ Noel Szyfman
▶ ▶ 1962 – Grupo de Aspirantes após a Solenidade Mosaica no Grande Templo Israelita da Rua Tenente
Possolo. Dos 440 alunos da Turma de 1962, 16 eram judeus. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 401
Isaac Kayat
Isaac é engenheiro civil, com especialização em Estradas, pela ENE-UB. Trabalhou
em projetos importantes, como a Ponte Rio-Niterói e a Av. Perimetral, no Rio.
▶ ▶ Isaac Kayat preside celebração da Páscoa Judaica em Petrópolis (ao fundo, o último à direita).
Fernanda Soares, do G1 Região Serrana. <http://g1.globo.com/rj/regiao-serrana/notícia/2014/04/pas-
coa-judaica-comeca-nesta-terca-e-e-celebrada-em-Petrópolis-no-rj.html> Acesso em: 20 abr. 2014.
402 Israel Blajberg
Jacob Kligerman15
Nascido e criado no Rio de Janeiro, graduou-se na Escola de Medicina e Cirurgia
do Rio de Janeiro, em 1964. Desde o início de sua vida profissional, sempre teve
a Oncologia como área de interesse. De 1960 a 1964, estagiou no Departamento
de Cabeça e Pescoço do INCA, onde foi residente no período de 1964 a 1967.
Em 1972, foi médico visitante no Departamento de Cabeça e Pescoço do
M.D. Anderson Cancer Center. No Brasil, foi pioneiro na cirurgia de base de
crânio, estudos randomizados e na sofisticada técnica de reconstrução e preser-
vação de órgãos. É consultor na área de cabeça e pescoço, membro do conselho do
Journal of the American Medical Association no Brasil, com mais de 35 artigos
publicados, e editor da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Em 1993, após mais de 18 anos como Chefe do Departamento de Cabeça
e Pescoço, tornou-se Diretor do Hospital do Câncer do INCA, cargo que ocupou
até 1996. Em maio de 1998, após ser eleito membro da Academia Nacional de
Medicina, passou a ocupar a cadeira nº 26 na Seção de Cirurgia. Em setembro do
mesmo ano, foi nomeado diretor-geral do INCA pelo Ministro da Saúde.
Além de todo o seu envolvimento nas áreas pública e científica, também
exerce intensa prática médica de caráter privado, recebendo pacientes de todo
o país.
Durante sua gestão, o INCA experimentou sólidos avanços qualitativos no
que diz respeito à prestação da assistência oncológica integral e integrada, o que
aumentou a visibilidade do Instituto como referência no tratamento e controle
do câncer.
Em janeiro de 2003, no governo Lula, o Dr. Jacob Kligerman foi substitu-
ído pelo Dr. Jamil Haddad no cargo de diretor-geral. Continuou no INCA como
membro da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital do Câncer I.
Entre 2005 e 2008 atuou como Secretário Municipal de Saúde do Rio
de Janeiro. É Membro da Academia Nacional de Medicina, American Head
and Neck Society, American College of Surgeons e Membro titular do Colégio
Brasileiro de Cirurgiões.
14 http://g1.globo.com/rj/regiao-serrana/notícia/2014/04/pascoa-judaica-comeca-nesta-terca-
e-e-celebrada-em-Petrópolis-no-rj.html, por Fernanda Soares / Portal G1 Acesso em: 20 abr.
2014.
15 Rua Judaica. <www.ruajudaica.com>
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 403
▶ ▶ 1963 – Esta clássica foto que toda turma do CPOR/RJ tirava ao final do curso é da Engenharia –
1963. Os instrutores estão sentados: Capitão Arnaldo Lopes Martins, Capitão Job Lorena de Santana,
Major Fernando Vale (Instrutor-Chefe), Capitão Milburgens Nelson de Melo Junior, Capitão Jardim. Na
última fila temos: 4.º – Márcio Aronovich, 8.º – Waldemar Stein, 9.º – Simon Rosental. Acervo pessoal.
404 Israel Blajberg
▶ ▶ 1963 – Asp. Of. R/2 Eng. Simon Rosental, Turma de 1963 do CPOR/RJ. Acervo pessoal.
▶ ▶ 2010 – Prof. Simon Rosental, Ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal,
General Enzo Martins Peri, Comandante do Exército, em cerimônia na ESG quando foram agraciados
com a Medalha do Mérito Marechal Cordeiro de Farias. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 405
▶ ▶ 2010 – O Comandante do Exército Gen. Enzo Martins Peri cumprimenta seu antigo Aspirante
Simon Rosental, sob as vistas do Ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal,
quando da outorga da Medalha do Mérito Marechal Cordeiro de Farias, na ESG, em 2010. Ao fundo
o Comandante da Marinha Alte. Julio Cesar de Moura Neto. Acervo pessoal.
▶ ▶ 2014 – os primos veteranos da FEB Ten. R/2 Inf. Israel Rosenthal e o professor da ESG Simon
Rosental. Acervo pessoal.
406 Israel Blajberg
▶ ▶ 2014 – Jubileu de Ouro da Turma de 1964 – Israel Blajberg, Mário Waissman, Mauricio Caetano e
Aristóteles. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 407
▶ ▶ 1973 – Aluno do Curso de Infantaria Benjamin Finkielman, da Turma de 1974 do CPOR/RJ. Acervo
do autor.
▶ ▶ 1951 – Asp. Of. Int. Benito Oscar Roitberg, do CPOR/BH. Foto dada à sua namorada e futura esposa
Aída em 1954. Acervo José Roitberg.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 411
▶ ▶ 1979 – Aluno José Roitberg, Artilharia CPOR/RJ, uniformizado para o Desfile de 7 de Setembro.
Acervo José Roitberg.
CPOR/SP
Histórico22
O CPOR/SP foi criado com a autorização do Ministro da Guerra, por ato do
Comandante da 2.ª Região Militar, publicado no Boletim Regional n.º 79, de 6
de abril de 1930.
Situa-se em sítio histórico de onde se irradiou toda a ocupação do flanco
norte da cidade de São Paulo, as chamadas “terras do além Tietê”, nos contrafor-
tes da Serra da Cantareira.
O local onde hoje se ergue o quartel foi sede da Fazenda de Santana, doada
em 1673 à Companhia de Jesus. Por ocasião da expulsão dos Jesuítas, a fazenda
passou a pertencer à Coroa portuguesa, ficando sob os cuidados da família do
Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrade e Silva.
Inicialmente, o Centro instalou-se com apenas três cursos: Infantaria,
Cavalaria e Artilharia, utilizando para a instrução materiais pertencentes às uni-
dades sediadas em São Paulo.
Posteriormente, ocupou as instalações na Avenida Tiradentes, sendo trans-
ferido para as atuais instalações no bairro de Santana em 1948.
Desde sua criação, foram formados cerca de 16 mil Aspirantes a Oficial
das Armas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações, do
Serviço de Intendência e do Quadro de Material Bélico, dentre os quais perso-
nalidades que se destacaram na sociedade, importantes nomes da ciência, das
profisões liberais, das artes, política e do empresariado nacional, numa contínua
formação dos futuros líderes da nossa sociedade.
“CPOR/SP: Berço de Líderes, Escola de Cidadania!”
integração ocorre e torna, cada vez mais forte, o elo de ligação com o Exército
dos EUA. O Cel. R/1 Infantaria Oscar de Abreu Paiva, febiano, foi, durante mui-
tos anos, principal assessor do Dr. Leon Feffer, que, sensibilizado pela nobreza
do ato, propiciou o início das viagens aos EUA como prêmio aos melhores clas-
sificados no curso do CPOR/SP.
Parabéns ao Comandante do CPOR/SP, por liderar a comitiva, com os Aspirantes
melhores classificados, em suas Armas e Serviços e renovados agradecimentos
ao Tenente David Feffer, principal Executivo da Companhia Suzano de Papel e
Celulose, por esta patriótica iniciativa.
Dr. David Feffer honra suas origens e seu Povo, assim como dá mostras de
que é brasileiro de primeira grandeza.23
23 Dr. Márcio Mendes Gonçalves, 1.º Tenente R/2 de Infantaria e antigo presidente da ABORE, em
e-mail, 6 nov. 2011.
24 Nota de falecimento emitida pelo CNOR em 26 de março de 2012.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 415
26 http://pt.wikipedia.org/wiki/Abram_Szajman
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 417
CPOR/RECIFE
Os Aspirantes formados no CPOR/Recife são considerados simbolicamente
“Herdeiros dos Heróis de Casa Forte“ em reverência aos que tombaram na Batalha
de 1645, ocorrida sobre o mesmo chão da área ocupada pelo antigo engenho de
cana-de-açúcar em que foi erguido o “Velho Casarão de Casa Forte”, prédio prin-
cipal do Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva da capital pernambucana.
Essa batalha, que resultou em uma das importantes vitórias do exército
luso-brasileiro contra o invasor holandês, em 17 de agosto de 1645, dá nome a
418 Israel Blajberg
▶▶ Israel Feldman
▶▶ Israel Mesel
▶▶ Israel Naslasvsky
▶▶ Israel Prutchansky
▶▶ Israel Schachnik
▶▶ Israel Schver
▶▶ Jacob David Ribemboim
▶▶ Jacob Fichman
▶▶ Jaime Berenstein
▶▶ Marcos Grinspun
▶▶ Moisés Naslaswski
▶▶ Mote Stambonsky
▶▶ Rubem Tachelitsky
▶▶ Samuel Hulak
▶▶ Zildo Faierstein
▶ ▶ 1957 – Aluno Bernardo Rabinovitch municia canhão Krupp C-76 75 mm de Artilharia de Campanha
Hipomóvel da Bateria do CPOR/Recife. Acervo da família.
422 Israel Blajberg
▶ ▶ 7 de Setembro de 1958 –
Último desfile, com talabarte e
luvas brancas. Alunos do Curso
de Artilharia: Marc Gel, Edson
de Azevedo Monteiro, da área
de Matemática Pira, alagoano
radicou-se em SP, Bernardo
Rabinovitch, Paulo Gustavo,
futuro Governador de PE,
Manoel Eustáquio, futuro
advogado. Acervo da família.
▶ ▶ c. 1987 – Ten. Posternak na formatura do Dia da Bandeira, no QG da 7.ª RM/7.ª DE. À esquerda o
então Cel. Esper, comandante do CPOR/R. Acervo do autor.
CPOR/PORTO ALEGRE
Major Jacó Faerman – Infantaria
Jacó Faerman nasceu a 29 de junho de 1909 em Porto Alegre/RS, filho de Leon
e Fany Faerman. Casou-se em de janeiro de 1934 com a Sr.ª Anita Schopman
Faerman. Em 1941, servia no 7.º Batalhão de Caçadores em Porto Alegre, como
Aspirante na 3.ª Cia. Em 1942, foi transferido para Cruz Alta/RS, sendo promo-
vido a 2.º Tenente. Em 2 de janeiro de 1945, foi promovido a 1.º Tenente. Em
1947, foi transferido para o 7.º RI de Santa Maria/RS, assumindo o comando
da 1.ª Cia.
426 Israel Blajberg
CPOR/CURITIBA
O Exército possuía amplas instalações em pleno Centro de Curitiba. Com a
expansão da cidade, supervalorização do terreno, e a movimentação que dificul-
tava as atividades de instrução, ocorreu a realocação das unidades para a região
do Pinheirinho, mais adequada.
Eventualmente, o CPOR foi substituído pelos NPOR, e seu aquartelamento
original deu lugar a um shopping center, mantendo a fachada como era naqueles
tempos, na Rua Visconde de Guarapuava.
Ilustres curitibanos passaram pelo CPOR, dos quais poderíamos citar
inúmeros, como os irmaõs Schulman, Saul e Mauricio. Saul fez cavalaria no
CPOR, Sua viúva, D.ª Sara Schulman, é presidente do Instituto Cultural Judaico-
Brasileiro Bernardo Schulman (Comunidade Israelita do Paraná). Mauricio foi
presidente do BNH, Eletrobras e Bamerindus.
A seguir transcrevemos algumas reminiscências de um antigo instrutor do
CPOR de Curitiba, e 2.º Adido Militar em Tel-Aviv, Gen. Octavio Rezende. Ocupou
importantes comissões, tendo sido o primeiro chefe do CComSEx e comandante
da Brigada de Infantaria de Petrópolis, mais tarde transferida para a Amazônia.
“Foi grande a alegria ao ler seu e-mail. Quando for o caso, me avise, vou tentar
contato com o Cmt. da Região, Gen. Ademar, cujo pai foi meu amigo em BSB.
Não o conheço, meu primeiro passo será conseguir seu telefone. Foi naquele quar-
tel que comecei minha vida militar, como Asp. em 1946, o que explica minha
velhice. Morei em um quarto, com outro tenente, no andar sobre a entrada prin-
cipal da frente. Tínhamos ali dois Grupos de Artilharia: 600 cavalos no terreno ao
lado: quase inacreditável. No terreno à frente, fazíamos equitação, sob os olhares
das meninas do Batel. Dali, levamos o Regimento para o Boqueirão. Depois insta-
lou-se ali o CPOR, onde também fui instrutor.O Saul deve ser posterior, portanto,
mais moço que o Maurício? A Martha, esposa do Mauricio, é nossa conhecida;
tem uma loja bem no centro.Gosto muito deles. Saudades de tudo, até do frio que
endurecia o pano da barraca como placas de gelo e da alfafa dos cavalos que à
noite nos servia de colchão. Passamos nossa lua de mel em São Bento, onde um
senhor preto não pôde nos ensinar um caminho porque não falava português,
apesar daquele Capitão. O gigante Major Osny, campeão de pentatlom foi meu
chefe, nasceu lá; foi pai de uma miss Brasil de nome Angela. Portanto, estamos
todos em casa. Com um abraço do Rezende.”29
CPOR/BELÉM
Isaac Dahan – Turma de 1967 – Infantaria
Issac foi da última turma do CPOR em Belém, que no ano seguinte 1968 foi
transformado em NPOR do atual 2.º Batalhão de Infantaria de Selva. Isaac é o
Shaliach Tzibur30 da Comunidade de Manaus.
▶ ▶ Jacob Pinheiro Goldberg, ao centro de paletó azul, no Desfile Cívico da Escola Municipal Fanny
Goldberg em Francisco Morato/SP. Acervo Jacob Pinheiro Goldberg.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 431
▶ ▶ 2014 – Governador Tarso Genro, ex-aluno do NPOR do Regimento Mallet faz visita de cortesia
à FIRS – Federação Israelita do Rio Grande do Sul, sendo recebido pela diretoria com um café da
manhã. Acervo da FIRS.
NPOR/MANAUS
1.º BIS – 1.º Batalhão de Infantaria de Selva
Antigo 1.º BC – 1.º Batalhão de Caçadores
Em Manaus, os primeiros Oficiais da Reserva, R/2 no jargão militar, despon-
taram no período da Segunda Guerra. Foram realizadas apenas duas turmas,
quando foram diplomados 100 alunos. Após esse esforço, o NPOR foi suspenso.
Somente no ano de 1965 foi reiniciado o NPOR, funcionando no então 27.º BC
(hoje 1.º BIS), localizado no bairro de São Jorge, sob o comando do Tenente-
Coronel Alípio Carvalho. O curso foi aberto para 20 candidatos, com exigência
do ensino médio completo.
434 Israel Blajberg
35 www.alumniime.com.br/
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 435
▶ ▶ 1978 – Asp. Of. Mauricio Rubinsztajn ao formar-se engenheiro de comunicações pelo IME, com
suas irmãs Leila e Fani. Acervo pessoal.
Escolas preparatórias
EsPCEx Campinas:
Yaroni Tabatchnik ingressou na EsPCEx em Campinas, mas não concluiu o
curso em virtude de um fatídico acidente de trânsito ocorrido no Rio de Janeiro.
Colégios Militares
ZUM ZARAVALHO!1
O Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) é composto por doze colégios
militares e pela Fundação Osório. Encontra-se sob o controle da Diretoria de
Ensino Preparatório e Assistencial, por sua vez subordinada ao Depamento de
Educação e Cultura do Exército – DECEX. O Sistema Colégio Militar do Brasil
atende atualmente a cerca de 14.500 alunos de ambos os sexos. Atualmente o
sistema é composto pelos seguintes estabelecimentos de ensino:
▶▶ Colégio Militar de Belo Horizonte
▶▶ Colégio Militar de Brasília
▶▶ Colégio Militar de Campo Grande
▶▶ Colégio Militar de Curitiba
▶▶ Colégio Militar de Fortaleza
▶▶ Colégio Militar de Juiz de Fora
▶▶ Colégio Militar de Manaus
▶▶ Colégio Militar de Porto Alegre
▶▶ Colégio Militar de Salvador
▶▶ Colégio Militar de Santa Maria
▶▶ Colégio Militar do Recife
▶▶ Colégio Militar do Rio de Janeiro – Casa de Thomas Coelho
▶▶ Fundação Osório
437
438 Israel Blajberg
Jacques Wagner
Antigo aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro, Jaques Wagner nasceu em 1951
no bairro de Cascadura, Rio de Janeiro/RJ. Quando tinha 6 anos, a família mudou-
se para Copacabana. Seus pais, Joseph e D.ª Paulina Wagner, eram poloneses.
Joseph vivia em Ostrowiec. Os ventos de guerra já ameaçavam a Europa, e
muitos tentavam imigrar, enfrentando as dificuldades para obtenção de passa-
portes e visto, além do elevado custo da viagem.
Joseph e um amigo de infância, Mayer, conseguiram viajar para a possessão
inglesa Trinidad e Tobago, um dos poucos lugares onde refugiados judeus ainda
estavam sendo admitidos, às vésperas da eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Tendo sido internados em Port of Spain, tão logo a guerra terminou Mayer
decidiu imigrar para os EUA, e Joseph para o Brasil.
Ostrowiec sempre teve uma operosa e extensa comunidade judaica, até que,
após a noite negra do Holocausto, sua presença extinguiu-se.
Mas a contribuição da pequenina Ostrowiec para o Brasil foi significativa,
como vemos. Um Ministro da Defesa tem suas raízes naquele lugar, assim como
tantos brasileiros que hoje engrandecem seu país, como engenheiros, professo-
res, artistas, intelectuais, empresários, descendentes daqueles mesmos judeus
tementes a D’us que pereceram como mártires.
A mãe de Jaques Wagner, D.ª Paulina, chegou ao Brasil em 1939, aos 15 anos
de idade, também tangida pela intolerância e a perseguição dos nazistas.
Sua irmã Gienia ficou na Polônia, desaparecendo durante a guerra, após
a invasão da Polônia pela Alemanha. Joseph e D.ª Paulina se conheceram no
Brasil, casando-se em 1946.
▶ ▶ 2015 – Jaques Wagner recebe as honras militares ao chegar no Ministério da Defesa em Brasília
para a cerimônia de posse. Acervo ASCOM/MD.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 439
O
Brasil tem um histórico relevante de participação em missões de paz
da ONU. A primeira experiência foi o envio do Batalhão Suez, uma
unidade de infantaria de cerca de 600 homens, ao Egito, de janeiro
de 1957 a julho de 1967. A finalidade da missão, denominada 1.ª Força de
Emergência das Nações Unidas (UNEF 1)1 era evitar conflitos entre forças
egípcias e israelenses.
Durante os 10 anos em que participou da tarefa em Suez, o Brasil enviou
cerca de 6.300 homens ao local, tendo inclusive exercido o comando operacional
da missão, de janeiro de 1965 a janeiro de 1966.
O primeiro contingente partiu em 12 de janeiro de 1957, e o último foi o
20.º de 1967, que em 5 de junho de 1967 assistiu à invasão da Faixa de Gaza pelas
Forças de Defesa de Israel. As tropas eram deslocadas de várias unidades em
diversos estados, a exemplo do que ocorreu na FEB. No Rio de Janeiro, os efeti-
vos se formaram no 2.º Batalhão de Infantaria Motorizado (Escola), o histórico
Regimento Avaí, da Vila Militar.
A Força de Emergência das Nações Unidas no Egito totalizava cerca de 6
mil homens, equivalente a duas brigadas. Dez países contribuíram com tropas
para a UNEF: Brasil (500), Canadá (1.100), Colômbia (520), Dinamarca (390),
Finlândia (250), Índia (940) Indonésia (600), Noruega (460), Suécia (330) e
Iugoslávia (740).
Antes do início dos bombardeios na Guerra dos Seis Dias, o Batalhão Suez
estava em posição em postos de observação, na fronteira Israel-Egito.
441
442 Israel Blajberg
▶ ▶ 11 de janeiro de 1957 – O 1.º Contingente do Btl. Suez desfila pela Av. Rio Branco a caminho do
Cais do Porto a fim de embarcar para Port Said, Egito. www.unmultimedia.org, acesso em: 1.º mar.
2015.
▶ ▶ Imagem 1 – 19 de janeiro de 2008 – Mesa que conduziu a posse da nova diretoria dos Veteranos
do Batalhão Suez para o biênio 2008-2009, prof. Israel Blajberg, Diretor de Cidadania da FIERJ; Cel.
R/1 José Enid Lopes Ribeiro, do 11.º Contingente; Coronel José Wood Conrado, Comandante do
atual Regimento Avaí; Ten.-Cel. Carlos Onildo da Costa Ribeiro, Comandante do Regimento Sampaio;
deputado estadual Roberto Dinamite; Dr.ª Emilia Gouveia; Vet. Wantuil Alves dos Santos, primeiro
presidente da Associação no Rio. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 445
Rafah, que possibilitava aos integrantes até o contacto com familiares, convoca-
dos ao PDC por uma escala.
Os Serviços de Saúde tiveram que se desdobrar, diante das ameaças de
doenças tropicais e outras prevalentes em uma região de condições precárias,
com nossos médicos militares garantindo a higidez da tropa.
Portanto, a missão não era fácil, em meio ao deserto escaldante e entre dois
inimigos mortais. Mas tudo corria bem, até que Nasser achou que poderia aca-
bar com o Estado de Israel, para tanto afastando os capacetes azuis.
Mas Israel atacou primeiro, assestando profundo golpe no agressor despreve-
nido. Em 5 de junho de 1967, os soldados da UNEF estacionados na Faixa de Gaza
acordaram com o ronco de centenas de jatos riscando o céu do deserto.
Eram os aviões de Israel, que em apenas três horas destruíram no chão
450 aviões de cinco países árabes. A vitória estava garantida, tendo passado à
História como a Guerra dos Seis Dias.
Até os capacetes azuis voltarem para casa, de 1957 até 1967, foram 20 con-
tingentes, cerca de 6 mil militares brasileiros entre cabos, soldados, sargentos, e
oficiais, principalmente tenentes, capitães.
O tempo passou, jovens soldados, sargentos, oficiais, agora muitos aposen-
tados ou na Reserva que tanto contribuíram para o desenvolvimento do Brasil
nas mais diversas profissões, hoje todos guardando com carinho as recordações
daqueles tempos passados à beira do deserto.
Na Rua Dias da Cruz no Méier, movimentado subúrbio do Rio de Janeiro,
todo sábado a Associação dos Integrantes do Batalhão Suez se anima com a che-
gada dos sócios para momentos de lazer, churrasco, sinuca.
Fundada em 23 de maio de 1958, as décadas se sucedem, mas o entusiasmo
continua, congregando centenas de Veteranos ostentando orgulhosamente a
Boina Azul.
Um dia, aquele prédio foi a agência da Caixa Econômica Federal do Méier.
Esquina famosa, ponto muito procurado pelo público para serviços bancários.
Diante dos trilhos da Central, próximo da estação do Méier, era uma referência
visível a todos que passavam de carro ou de trem. O portão ainda sugere a majes-
tade daquela época, entretanto, quem passa hoje de carro quase não o percebe.
Apenas os mais atentos notarão pelo espelho retrovisor a placa da Associação, à
retaguarda... Introduzida a mão-dupla na Dias da Cruz, o portão fica bem aces-
sível aos pedestres, mas encoberto para os carros...
A Caixa cedeu o prédio, mas deixou o IPTU, que virou bola de neve, hoje
dívida impagável de 400 mil reais. As bandeiras do Brasil, do Batalhão Suez e da
ONU altaneiras recebem os visitantes no hall de entrada. Mas a dívida deixa no
ar a questão: até quando?
A nossa primeira tropa de paz merece que as suas memórias permaneçam
vivas ainda durante muito tempo, justamente hoje em que na mesma região
outra força multinacional está prestes a ser convocada.
As décadas passaram, mas as mesmas ameaças se repetem, seja do deserto
ou das montanhas pedregosas. A bandeira verde que insuflava as turbas fanáticas
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 447
hoje é amarela, mas permanece a mesma retórica absurda. Pobres dos que
sofrem, de qualquer religião ou nacionalidade, vítimas do desentendimento que
a Humanidade ainda não conseguiu superar...
Mas a vida continua, e no Desfile de 7 de Setembro, sempre muito aplaudi-
dos, os Veteranos de Suez marcam a presença da nossa primeira, maior e mais
tradicional Força de Paz.
Passados 50 anos, que a Associação dos Integrantes do Batalhão Suez conti-
nue ativa e vibrante por muito tempo como apreciável referência.
Aos Veteranos que cultuam a memória de um episódio marcante da História
Militar Brasileira, a certeza de que bem cumpriram a missão!!!
CAPÍTULO 24
Exército Brasileiro – Serviço Militar
Ambrozio M. Ezagui1
“Assentou praça de reservista no glorioso Exército Brasileiro nosso jovem amigo
Ambrosio M. Ezagui, estudante de Direito desta capital. Com quanto não seja
de estranhar da nossa raça essa sincera manifestação de dedicação à Pátria de
nascimento, é digno de menção o gesto deste estimado correligionário por ser, ao
que nos consta, o primeiro israelita que presentemente se alista como voluntário
nas fileiras do Exército, acompanhando o nobre movimento de apoio à defesa
nacional ora tão entusiasticamente iniciado pela mocidade acadêmica.”
E
zagui nasceu em Itacoatiara/AM, cidade onde existiu ponderável comuni-
dade judaica oriunda da imigração marroquina do início do séc. XIX. No
Rio, era secretário do jornal A Columna, fundado pelo prof. David José
Perez e Álvaro de Castilho, publicado na primeira sexta-feira de cada mês. O jor-
nal se intitulava “Órgão dos interesses dos israelitas no Brasil”, estando a redação
e administração na Rua Major Fonseca n.º 51 – São Cristóvão.
Ezagui foi também eleito 1.º Secretário do 1.º Congresso Israelita do Brasil,
sendo que a Sociedade Gemiluth Hassadim de Itacoatiara expediu telegrama o
nomeando representante no Congresso, que realizou-se no salão da Biblioteca
Israelita, na Rua Visconde de Itaúna.
Ezagui acompanhou David Perez em viagem a São Paulo, onde este foi pro-
nunciar conferência em benefício dos israelitas vítimas da guerra, sendo rece-
bido pelo Sr. Mauricio Klabin.
Em 1.º de agosto de 1939, estabeleceu-se em sociedade com Alberto J. Levi,
para o comércio de compra e venda de importação e exportação de produtos
nacionais e estrangeiros, com o capital de 100 mil réis e prazo de cinco anos,
formando a firma De Levy & Ezagui Ltda.
Borisov Steinberg
Estudava no tradicional Instituto Granbery de Juiz de Fora/MG, prestando em
1926 o serviço militar no Tiro de Guerra.
449
450 Israel Blajberg
▶ ▶ 1926 – Borisov Steinberg, estudante do tradicional Instituto Granbery de Juiz de Fora/MG, pres-
tando em 1926 o serviço militar no Tiro de Guerra. Acervo de Frieda Wolff.
João Gorodicht2
João Gorodicht nasceu em 1918 em Caxias do Sul/RS. Prestou serviço militar em
Santa Maria/RS em 1937. Formou-se em medicina pela Faculdade Fluminense
de Medicina, em 1954, na turma cujo orador foi Nilton Velmovitsky. Faleceu em
1985 no Rio de Janeiro.
Miguel Grinspan
▶▶ Soldado do 1.º Batalhão de Guardas – Batalhão do Imperador
▶▶ Integrante da Representação do Brasil no Desfile Comemorativo do
▶▶ 1.º Aniversário da Vitória Aliada na Europa, V – E Day
▶▶ Londres – 8 de maio de 1946
Miguel nasceu em 31 de dezembro de 1924 em Santa Maria da Boca do Monte/
RS, importante entroncamento rodo-ferroviário a cerca de 400 km de Porto
Alegre, sediando importante guarnição militar, com vários regimentos e um
Hospital Geral. Hoje é também uma cidade universitária, e lá nasceu o pintor
Carlos Scliar.
▶ ▶ 1937 – João Gorodicht em Santa Maria da Boca do Monte/RS. Acervo de seu filho Mauro Frajblat
Gorodicht.
▶ ▶ 2014 – Veterano do Btl. de Guardas Miguel Grinspan no Desfile Cívico Militar de 7 de Setembro.
Acervo do autor.
▶ ▶ 2014 – Antigos alunos do CPOR Israel Blajberg, Nasser Derwiche e Veterano do Btl. de Guardas
Miguel Grinspan no Desfile Cívico Militar de 7 de Setembro. Acervo do autor.
454 Israel Blajberg
▶ ▶ 2012 – Veterano Miguel Grinspan em visita ao Centro Cultural do Batalhão de Guardas, na Av.
Pedro I – São Cristóvão, entre o Subcomandante, Major Façanha, e o Comandante Coronel Bottino.
Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 455
▶ ▶ 2010 – Diploma assinado pelo ministro Nelson Jobim e respectiva Medalha da Ordem do Mérito
da Defesa, concedida ao Veterano Miguel Grinspan. À esquerda, a Medalha Garra e Coragem, conce-
dida pela Associação dos Ex-Combatentes do Brasil – Seção Rio de Janeiro. Acervo do autor.
militar do imperador D. Pedro II, ele mesmo um reconhecido hebraísta que visi-
tou a Terra Santa, de lá trazendo a milenar Torá que hoje se encontra no Museu
da Quinta da Boa Vista.
Hoje, 3 de setembro de 2010, voltou ao tradicional quartel da Av. Pedro I em
São Cristovão para receber a elevada distinção, o grau de Cavaleiro da Ordem
do Mérito da Defesa.
Em seu discurso, o comandante do Batalhão de Guardas, Tenente-Coronel
Alfredo de Andrade Bottino, ressaltou a dedicação de Miguel ao Exército e ao
Brasil, que o fizeram merecedor desta honraria, como exemplo aos jovens sol-
dados formados à sua frente, até hoje ligado ao seu antigo quartel. Disse ainda
da satisfação por ter Miguel optado por receber a comenda não em Brasília, na
cerimônia presidida pelo Ministro Nelson Jobim, mas sim no seu antigo quartel,
onde ao longe se lia o dístico “A Guarda morre mas não se rende”
Miguel se emocionou ao receber a medalha do Cel. Bottino e da sua neta
Karen, naquele mesmo pátio onde um dia ele mesmo estava ali como um dos
Granadeiros do Imperador, eternizados nas figuras dos soldadinhos de chumbo.
Estiveram presentes a esposa Suzana, filhos e netos, inúmeros amigos
e representantes da comunidade, como o vice-presidente da FIERJ Helio
Koifman; Diretor de Cidadania e Tenente R/2 Israel Blajberg; conselheiros
Stephan Blank, Zvi Reiner e Waldemar Schaffell; Cel. R/1 Dr. Aron Felberg;
Paulo Guberfain, o diretor do Memorial Judaico de Vassouras; Capitão da
FAB Osias Machado, veterano da guerra na Itália, onde serviu no 1.º Grupo de
Aviação de Caça, o famoso Senta a Pua; Dr. Luiz Kutwak e outros amigos do
homenageado.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 457
▶ ▶ 2 de dezembro de 2005 – Sami Mehlisnky com o General Glenio Pinheiro, antigo comandante da
Escola de Educação Física do Exército, na inauguração do Espaço Cultural e Museu do Desporto do
Exército, na Fortaleza de São João na Urca, quando representando o presidente da CBV, Ary da Silva
Graça Filho, recebeu o Prêmio CDE 90 Anos. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 459
▶ ▶ 2 de dezembro de 2005 – Sami Mehlinsky com o Gen. de Brigada Celso Krause Schramm, diretor
de Pesquisas e Estudos de Pessoal do Exército Brasileiro, e Comandante da Fortaleza de São João, na
inauguração do Museu do Desporto do Exército. Acervo do autor.
Sami sempre mostrou aspecto sério e circunspeto, mas temos certeza que
naquele instante uma lágrima emocionada deve ter perpassado pela sua face,
naqueles breves momentos recordando a sua infância em Vitória, filho de imi-
grantes judeus que aqui chegaram em 1924 buscando um futuro melhor.
A mãe, natural de Kiev na Ucrânia, onde os judeus experimentaram não
poucas perseguições ao longo do século, e o pai nascido em Iasi, na Romênia,
deixaram para trás as agruras da Europa, e logo no ano seguinte nasceu Sami,
na casa que existe até hoje, o número 10 da Rua do Resende, próximo ao Campo
de Santana, onde o pequeno Sami corria atrás das cotias que até hoje povoam os
jardins.
Era um local de encontro e lazer nos primeiros e difíceis tempos da nascente
comunidade judaica carioca, concentrada nas imediações, e que hoje migrou
para outros bairros.
Mais tarde, a família foi para Vitória, onde seu pai, engenheiro eletrônico
em Bucareste, abriu uma farmácia. Lá mesmo, Sami foi campeão de futebol em
1941 pelo Rio Branco de Vitória.
Chegaram a morar um ano no Canadá, onde a família tinha parentes, mas
preferiram o Brasil, vindo assim o menino Sami a fixar-se em Belo Horizonte,
trabalhando e estudando.
Já ao alistar-se para prestar o serviço militar, atuou como técnico das equipes
de vôlei do 10.º Regimento de Infantaria de Belo Horizonte, ao final da guerra
em 1946, que diz brincando haver terminado pois os alemães souberam que ele
iria servir o Exército e acharam melhor se render... Em 1946 treinou a equipe
militar de vôlei da 4.ª Região Militar.
Aí começava uma grande carreira, que ainda não terminou, pois Sami é
consultor da Confederação Brasileira de Vôlei, agora mesmo de mudança para
as novas instalações no Cittá América na Barra da Tijuca.
Pelo Vasco, foi campeão em 1949, jogando também no Grajaú Tênis Clube,
Vila Isabel e Flamengo. Tricampeão pelo Flamengo em 1959, 60 e 61.
A sua grande contribuição foi certamente como técnico, supervisor e admi-
nistrador. Dirigiu a seleção em 1956 no Uruguai, no primeiro Campeonato Sul-
Americano, e nos seguinte: em 1958 em Porto Alegre, em 1961 em Lima e em
1962 no Chile. O Brasil foi tetracampeão com Sami, após o primeiro mundial
de vôlei em Paris ter perdido para a China, seguindo-se posteriormente muitos
sucessos.
A primeira concentração do vôlei brasileiro foi realizada por Sami na
Academia Militar das Agulhas Negras em Resende, em 1956, onde se instalou
por 30 dias a equipe masculina, sendo que a feminina ficou em uma cidade pró-
xima de Volta Redonda. Lá conheceu um jovem capitão, Glenio Pinheiro, mais
tarde viria a ser o Comandante da Escola de Educação Física do Exército.
Sami foi técnico da seleção masculina por 10 anos, ganhando o Pan-
Americano de 1959 em Chicago, e o bicampeonato em São Paulo em 1973. Em
1959, foi campeão como técnico da seleção feminina e, ao mesmo tempo, vice-
campeão com o time masculino.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 461
Antes de iniciar o cumprimento da pauta, o Sr. David Schipper pediu aos presen-
tes um minuto de silêncio, em homenagem póstuma pelo passamento do Sr. Sami
Mehlinsky Z”L, com moção de mérito pelos serviços prestados à Comunidade
Judaica e à comunidade maior, afirmando que o esporte brasileiro, o Macabeu
e a Hebraica perderam uma grande referência, por ter sido o primeiro técnico
olímpico de uma seleção brasileira de vôlei, onde se manteve por vários anos,
Benemérito da Macabi-Rio onde participou ativamente da organização das pri-
meiras delegações brasileiras às Macabíadas e Sócio Honorário da Hebraica-Rio,
onde exerceu a Superintendência de Esportes por mais de três décadas.
Israel, não sei se você sabe, mas o Sami foi técnico de vôlei do CIB durante mui-
tos anos, tendo inclusive ido com o time a Israel na primeira Macabíada em
que o Brasil participou (e como ele era temido: uma ordem era uma ordem –
mas também muito querido). Nós do time feminino tínhamos um outro técnico,
Correntes, mas adorávamos assistir ao treino masculino para entre outros olha-
res...ver o Sami dar a bronca nos rapazes. Isto foi aí pelos anos de 51, 52, 53, 54,
55. Muitos do nosso grupo continuam tentando jogar vôlei, outros só assistem.
Até hoje nós, as meninas do vôlei, nos vemos em várias atividades filantrópicas.
Fomos campeões dos Jogos da Primavera em1954. Adorei esse seu artigo sobre o
Sami, fez o tempo voltar um pouco em lembranças muito boas.
Abs, suz@n@5
Israel Averbach
Israel serviu na 2.ª Companhia Independente de Guardas no Recife de 2 de outu-
bro de 42 a 16 de novembro de 45 Sv Moto. Hoje em idade avançada, é um reco-
nhecido membro da comunidade judaica do Recife.
4 General Gleuber Vieira, último Ministro do Exército e Primeiro Comandante da Força nos
Governos FHC – 1995-2002.
5 Suzana Grinspan, ativista carioca e ex-presidente da WIZO.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 463
Israel Ghinsburg
Nascido em 16 de janeiro de 1928, foi Atirador do Tiro de Guerra 445 de Taubaté/
SP. Tornou-se mais tarde comerciante na mesma cidade.
Adolfo Berditchevsky
Nascido em Campos dos Goytacazes/RJ numa época em que a comunidade
judaica crescia com a vinda de judeus da Europa, na maioria correligionários da
Bessarábia.
Serviu no histórico 3.º RI de São Gonçalo/RJ, sendo cabo armeiro da CCAC
– Companhia de Canhões Anticarro. Em Campos, era amigo de infância do
futuro CMG Méd. Dr. Boris Chigres, cujos pais Adolpho e Ita eram vizinhos de
seus tios na Av. Pelinca.
Em 1954/55 serviu sob o comando do Capitão Eduardo do Couto Pfeil, cujo
Comandante do III Regimento de Infantaria era o saudoso Gen. Paulo Guerra,
que o incluiu na unidade. Era amigo e irmão de seu pai Emílio
Nos acontecimentos de 1954, com o suicídio do presidente Vargas, Adolfo,
o Cabo Dila e outros dois soldados estavam em patrulha motorizada em jipão
armado de metralhadora, na Praça Arariboia em Niterói, quando surgiram
acompanhados pelo Capitão Pfeil seu irmão David e sua mãe D.ª Geny... Estavam
na esquina da Rua São Clemente com a praça, próximo da loja “A Decoradora”,
de Mauricio e Oscar Zveiter, cujo pai era primo de sua mãe. Tiveram então per-
missão para receber a família naquela loja e desfrutar de bons sanduíches que a
mãe preocupada havia trazido...
Adolfo foi também desenhista dos crachás do regimento.
Nos feriados judaicos tinha permissão para ausentar-se. Recorda ainda o
ano de 1948, quando houve um desfile que a juventude judaica de Nova Friburgo
promoveu no Parque São Clemente, ovacionando a ressurreição do Estado
Judeu, Estado de Israel.
Nessa ocasião participou também do desfile pelas ruas do Centro o Dr. José
Segal, dentista, que era antigo aluno do CPOR, e como tenente R/2 esteve mobi-
lizado para seguir com a FEB para a Itália.
Recorda também seu bom amigo, Coronel Júlio Halfim, que se preocupava
em transmitir para uma pleiade de jovens, dentro e fora dos quartéis, seus ensi-
namentos, e de Caster, que foi soldado do Regimento Escola de Infantaria e par-
ticipou dos acontecimentos de 1955 na Base Aérea de Santa Cruz.
Sílvio Santos
Em setembro de 1993, o Exército concedeu a Ordem do Mérito Militar a Senor
Abravanel, mais conhecido como Sílvio Santos, que completou em 2014 seus
84 anos, nascido em 12 de dezembro de 1930. Serviu nos anos de 1947/1948 no
antigo Núcleo de Formação e Treinamento de Paraquedistas, atual Brigada de
Infantaria Paraquedista em Deodoro e tinha o número 392 – Soldado Abravanel.
Teve como companheiro no quartel o cantor Toni Tornado.
464 Israel Blajberg
Embora não tivesse chegado a receber o brevê, Silvio Santos costuma dizer que:
“Eu construí tudo aprendendo a sobreviver nas ruas e no curso de paraquedismo”.
▶ ▶ Junho de 1951– Soldado Zvi Reiner, agachado, à esquerda, com seus colegas de curso de Mecânica
de Artilharia no quartel da EsIE (Escola de Instrução Especializada) em Realengo, Rio de Janeiro, ao
fim do qual foi promovido a cabo. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 465
Sua família tem um recorde de três gerações de gêmeos, que foi apresentado
para avaliação do Guiness Book.
Aqui transcrevemos um breve relato de Zvi, em suas próprias palavras:
Comecei o exército no dia 1.º de março de 1951. Em junho fui fazer um curso de
mecânica de artilharia.
O retrato é desse curso. Todos fizeram esse curso comigo mas não lembro do
nome das pessoas. A foto é no quartel da EsIE (Escola de Instrução Especializada)
em Realengo, Rio de Janeiro.
No fim do curso fui promovido a cabo. Meu quartel original era o Primeiro
Batalhão de Carros de Combate e hoje é o CPOR. O quartel fica na Av. Brasil
em Bonsucesso.
Fui citado duas vezes no boletim do batalhão com elogios. A primeira vez
quando doei sangue para a mãe de um oficial que tinha sido atropelada e preci-
sava de uma transfusão; a segunda vez quando fui promovido a cabo.
Quanto a parte religiosa, só fui fazer bar-mitzvá aos 76 anos de idade pois
na época dos meus 13 anos, meu pai sofreu um acidente sério e tive que adiar.
Não fiz isso antes dos 76 porque pensei que não mais pudesse fazer. Conversando
com o Rabino Stauber de Copacabana, este me incentivou a fazer bar-mitzvá.
Segue vídeo que minha filha colocou no Youtube com fotos da cerimônia: http://
www.youtube.com/watch?v=ms0q720STT0
No ano de 2008, lendo o jornal O Globo, vejo uma notícia da América
comentando que um judeu de 78 anos estava entrando no Guinnes Book por ser
o judeu mais idoso a fazer bar-mitsvá, e junto com o neto.
O meu neto ia fazer bar-mitsvá e isso me incentivou, fazendo o bar-mitzvá
aos 76 anos com o neto.
Fui conselheiro da Fierj de 2008 a 2010.
me avisou: “Veltman, hoje você vai almoçar na UDN, vem aí o General Orlando
Geisel e você vai participar do encontro”.
Na hora marcada, desci (com meu paletó estepe) e encontrei toda a turma
do andar de cima alinhada, aguardando o convidado ilustre. Quando o Geisel
chegou, ele foi apresentado aos companheiros do anfitrião. Na minha vez, ganhei
um abraço. “Cabo Veltman, como vai você?!”. Senti um ar coletivo de surpresa
dos coleguinhas. Na hora do almoço, o general me puxou pelo braço e fomos
sentar, apenas nós dois, numa mesinha de canto. O Doutor Roberto não enten-
deu nada, muito menos os demais editores, redatores, assessores e puxa-sacos.
Ficamos, Geisel e eu, no nosso cantinho, falando animadamente.
Depois que o general foi embora, o meu patrão, como quem não quer nada,
me perguntou: “Do que vocês falaram tanto e tão interessados?”.
“Ah, Doutor Roberto, apenas lembranças e sacanagens dos tempos de caserna”.
7 Plataforma Lattes.
468 Israel Blajberg
▶ ▶ 2010 – Em sessão solene no Clube Naval, o Dr. Ernesto Rymer foi admitido como membro da
ABMM – Associação Brasileira de Medicina Militar. Na foto, sua esposa Dr.ª Celia Rymer é a primeira,
Dr. Jayme Gudel o terceiro e Dr. Ernesto Rymer o quinto. Acervo do Autor.
▶ ▶ 2010 – Sessão solene da ABMM no Clube Naval, Dr. Ernesto Rymer é o segundo, o Diretor de Saúde
da Marinha o terceiro e o CMG RRm Méd. Dr. Carlos Alberto Jaimovick o quarto. Acervo do autor.
▶ ▶ 2012 – O presidente da loja Herut da Beni-Brith, Dr. Ernesto Rymer, usa da palavra em evento da enti-
dade. Dr. Jayme Gudel é o primeiro, e Dr. Abraham Goldstein, presidente da B’nei Brith nacional o terceiro.
470 Israel Blajberg
▶ ▶ 18 de janeiro de 2011 – Ten.-Cel. Inf. Evandro Rodrigues Schneider e José Caster, na passagem de
comando recebida do Ten.-Cel. Inf. Carlos Alberto Naccer. Acervo pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 473
Paraquedistas militares:8
▶▶ 3.229 – Henri Schteinberg – TIBAet 1957/4
▶▶ 4.676 – Sansão Zolotar – TIBAet 1958/3
▶▶ 11.672 – Carlos Rozenberg – TIBAet 1964/4
▶▶ 13.604 – Marcos Fridman – TIBAet 1965/7
Aviação naval
A
Aviação Naval remonta a 23 de agosto de 1916, quando foi criada a
Escola de Aviação Naval, que operava o hidroavião Curtiss F, que foi o
primeiro avião militar do Brasil.
No final de 1918, dois anos depois da Marinha, o Exército dá início à for-
mação de seus pilotos, sob a direção de instrutores da Missão Francesa. Em 10
de julho de 1919, inaugura sua Escola de Aviação Militar. Já em 1912, a Fazenda
dos Afonsos era utilizada pela aviação brasileira.
A Marinha instalou sua Escola de Aviação na Ilha das Enxadas e instruía
seus aviadores em hidroaviões; o Exército, no Campo dos Afonsos, utilizando
aviões Nieuport.
O passo seguinte foi a criação da Arma de Aviação em 1927, no Exército, e,
em 1931, na Marinha.
Com a criação do Ministério da Aeronáutica em 20 de janeiro de 1941, a
Aviação Naval e a Arma de Aviação Militar, então a Quinta Arma do Exército
Brasileiro, foram transferidas para a nova pasta, formando a nascente FAB.
Foram, então, reunidos os meios que compunham as aviações da Marinha e do
Exército, além do Departamento de Aeronáutica Civil – DAC, que pertencia ao
Ministério de Viação e Obras Públicas.
Ainda existem na Base Aérea do Galeão antigos prédios e hangares que
foram utilizados pela Marinha e sua Aviação. Em 5 de junho de 1961, com a
recriação da Força Aero-Naval, a Marinha passou novamente a contar com uma
Aviação Naval – desde 26 de janeiro de 1965 com asa rotativa, e desde 8 de abril
de 1998 com asa fixa – sediada na Base Aérea Naval de São Pedro d’Aldeia/RJ.
Era a realização de um velho sonho sempre acalentado pela Marinha e pelos seus
pilotos navais, que já vinham sendo treinados em Pensacola, EUA.
É interessante registrar que o Grande Templo Israelita situa-se na Rua
Tenente Possolo, nome do primeiro piloto naval brasileiro morto em serviço, em
1 Com subsídios de LOPES FILHO, Hermelindo, exposição “Nas Asas da História da Força
Aérea Brasileira”, São Paulo, 2012.
475
476 Israel Blajberg
Milton Kastro
Carioca, filho de Salomão Kastro, rumeno, e de D.ª Ophelia Kastro, nascido em
1915. Seu pai era dono da Joalheria Tavares, na Rua do Ouvidor n.º 93 e de uma
outra na Rua Senador Euzébio, tendo falecido em 1928.
Milton possuía um irmão, Leopoldo, cinco anos mais velho.
Já nos idos de 1935, era piloto da Aviação Naval, depois, instrutor de pilotos
de caça. Em 1942, na época do novel Ministério da Aeronáutica, foi cedido para
a Panair do Brasil, na falta de pilotos civis. Lá, pilotou o pequeno, mas seguro,
Lodstar e, mais tarde, os Constellation, tendo realizado o primeiro voo da Panair
para o Oriente Médio.2
Aviação militar
Já em 1867, o Duque de Caxias utilizou balões cativos para observação aérea
das operações na Guerra do Paraguai contra a Tríplice Aliança. Em 10 de julho
de 1919, foi criada a Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, e em 13
de janeiro de 1927 a Quinta Arma do Exército, Aviação, somando-se às quatro
tradicionais: Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia. Com a criação do
Ministério da Aeronáutica em 20 de janeiro de 1941, a Aviação Militar incorpo-
rou-se à nova pasta, até que em 3 de setembro de 1986 foi reativada a Aviação do
Exército, somente com helicópteros, sendo criado em 1993 o CAvEx – Comando
de Aviação do Exército, sediado em Taubaté/SP.
2 WOLFF, Frieda.
3 ALAMINO, Aparecido Camazano (Cel. Aviador e Historiador Aeronáutico). O Vultee V-11
GB2 no Brasil, ideias em destaque. INCAER, Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, Rio
de Janeiro, n. 32, p. 96-112, jan. /abr. 2010.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 477
Jacob Zveiter
479
480 Israel Blajberg
Bernardo Stifelman
Nascido em 20 de março de 1914, Bernardo era natural da Colônia Philipson,
em Santa Maria da Boca do Monte/RS, filho de Guilherme Stifelman e Rosa
Goldenberg Stifelman, judeus que foram trazidos no projeto de imigração do
Barão Hirsch para o interior do Rio Grande do Sul e Argentina, transformando-
se em autênticos gaúchos.
O barão fundou a Jewish Colonization Agency, que comprava terras no interior
do Brasil, Argentina, Estados Unidos e Canadá, e pagava as passagens dos judeus
que quisessem sair da Europa sofrida e se transformarem em agricultores naquelas
terras carentes de povoação e mão de obra. Os Stifelman poderiam ter escolhido
Moiseville no Pampa argentino, Erechim ou Quatro Irmãos, onde até hoje existem
judeus descendentes daqueles trazidos pelo barão. Mas por alguma razão, preferi-
ram Santa Maria, passando a desfrutar da vida rural com que sonharam na Rússia.
Devido às dificuldades para plantar e comercializar a produção, como
outros de seus correligionários, o jovem Bernardo deixou o interior, atraído pela
cidade grande, onde de 1930 a 1936 foi ser auxiliar de escritório na Cooperativa
de Consumo dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, nas horas
vagas frequentando o Círculo Social Israelita em Porto Alegre.
Gostava de aviões, que observava aterrissando e decolando no então lon-
gínquo aeroporto, depois Salgado Filho. Daí para alistar-se na Aeronáutica foi
um passo.
Em 25 de setembro de 1935, assinada pelo Ten.-Cel. Gervasio Duncan
de Lima Rodrigues, chefe da 3.ª Divisão da Diretoria da Aviação do Exército,
foi publicada no Diário Oficial a relação dos candidatos ao Curso de Sargento
Aviador Navegante, que tiveram os seus requerimentos despachados favoravel-
mente pelo Sr. General Diretor, na qual constava Bernardo Stifelmann, civil, 3.ª
R. M., tendo concluído o Tiro de Guerra 318 em 1930.
Ingressa na Escola de Aviação Militar, do Exército, onde tirou o Curso de
Sargento Aviador como Navegante, na Categoria de Metralhador.
Praça de 20 de abril de 1936, em 4 de janeiro de 1937 foi promovido a 2.º
Cabo, e em 17 de dezembro de 1937 a 1.º Cabo.
Mandado servir na Base Aérea de Recife, foi Sargento e Suboficial, fotógrafo
de voo, metralhador e bombardeador.
Eram tempos difíceis, a Alemanha já dominava meia Europa, Polônia,
França, estendia seus tentáculos malignos para a África, e os submarinos amea-
çavam a navegação atacando nossos navios em plena costa brasileira.
Bernardo passava longas horas a bordo de aeronaves patrulhando o
Atlântico. Mas, felizmente, a ameaça nazista ao Brasil se desvaneceu, assim como
os sonhos malévolos do III Reich de dominar a América Latina, em seus preten-
sos mil anos que foram apenas 12.
Assim, em razão de sua dedicada atuação, o 1.º Sargento Q-FT Bernardo
foi condecorado com a Cruz de Aviação, fita B, Medalha Militar da Campanha
do Atlântico Sul, por ter realizado 32 missões de patrulhamento, e promovido a
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 481
Israel Hollmann
Israel era mecânico de voo da FAB, também de Quatro Irmãos e já falecido.
Era primo dos também ex-combatentes Heitor Sennes Pinto e Moisés Gitz,
os três originários da Colônia Agrícola de Quatro Irmãos, criada pelo Barão
Hirsch no interior do Rio Grande do Sul.
N
asceu em 21 de dezembro de 1942 e faleceu em 3 de julho de 1977.
No dia 6 de março de 1961, o jovem Oscar e mais 244 jovens de
todo Brasil desembarcaram dos vagões de madeira em Barbacena para
enfrentar uma típica manhã de frio barbacenense e caminhar, pela linha férrea
mesmo, até a sede da EPCAR – Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica.
Três anos depois, em 1964, a Turma Sai da Reta descia as montanhas do sul
mineiro para sentar praça na antiga Escola de Aeronáutica, localizada no eterno
Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro.
A lembrança do primeiro voo solo... naquela manhãzinha bem cedo... o
assento do instrutor vazio, e nas mãos firmes daquele garoto, o sonho de levantar
do chão um mais pesado que o ar novamente seria realizado...
O voo parecia interminável, era preciso cumprir à risca todas as instruções
recebidas durante o primeiro ano nos briefings e debriefings, nas sessões de simu-
lador, checar tudo, conferir os instrumentos, fazer os contatos... Na volta, a visão
tranquilizadora do asfalto se oferecendo para a descida segura, rolar pela pista,
estacionar o avião, o vento das hélices, o ronco dos motores ao longe e o cheiro
do óleo, o encontro com o grupo e o batismo de voo...
Ele conseguiu, naquele dia ficou provado que poderia ser um aviador, usar
na farda o brevê das asas prateadas da FAB.
Era uma vez um menino pobre de Madureira que gostava de aviões... As
paredes do quarto na casa da vila viviam cobertas de recortes das máquinas pra-
teadas, tiradas de revistas e jornais. Com seu jeito tranquilo e mãos hábeis, Oscar
se entretinha, montando aeromodelos. Ao longe, via passar os aviões na rota dos
Afonsos. Os pequenos T-6, os grandes Sapões lançando paraquedistas. Às vezes,
um enorme Super H Constellation da VARIG voando alto, identificado pelos
tanques que levava nas pontas das asas.
Os aviões roncando em cima das casas, os carros de combate movimen-
tando-se à nossa frente na estrada, o tropel da Cavalaria, tantos quartéis próximos
485
486 Israel Blajberg
▶ ▶ Logomarca da Turma Sai da Reta – EPCAR – 1964 – Barbacena, a qual pertenceu o Aluno 61-078
Oscar Grubman. Disponível em: <www.saidareta.com.br> Acesso em: 1.º ago. 2013.
▶ ▶ 1967 – Grubman, então 2.º Tenente Aviador, é o segundo da esquerda para a direita, em Natal/
RN, no dia em que solou a aeronave Beechcraft TC-45T. Os quatro pilotos acabavam de tomar o tra-
dicional banho de mangueira promovido pelos bombeiros da Unidade. Acervo de Luiz Tito Walker
de Medeiros (primeiro à direita).
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 487
passou, e aquelas crianças felizes que andavam descalças pelas ruas do subúr-
bio vieram a ser executivos, médicos e artistas conhecidos, coronéis, um chefe
da torcida organizada do América que deixava os pais doidos... uma bailarina
famosa... donas de casa... cidadãos comuns.
Uma vez nos encontramos em uma solenidade. Corria o ano de 1967. O 2.º
Ten. Oscar vestia a farda cáqui antiga da FAB, herança dos tempos da Aviação do
Exército. Tinha acabado de sair da Escola do Campo dos Afonsos. O pai, homem
honrado que criou três filhos, ganhando o pão de cada dia com o suor do próprio
rosto, estava orgulhoso: “Meu filho está feito na vida!”.
Mas, quando uma criança nasce, seu destino já foi selado pelo Grande
Arquiteto do Universo, e nada poderá mudá-lo.
Era uma tarde de domingo. A aeronave C-95 FAB 2157 decolou em 3 de
julho de 1977 da Base Aérea de Natal, Campo Eduardo Gomes (Parnamirim/
RN). Sua tripulação estava composta pelo 1.º Piloto Cel. Av. Antônio Carlos
Azevedo da Rocha Paranhos e 2.º Piloto Maj. Av. Oscar Grubman, em Missão
de Transporte.1
Logo após a decolagem, a máquina oscilava perigosamente, já não mais
respondendo aos comandos. Pouco restava a fazer. A tecnologia cobrou do
homem o seu tributo. Nos últimos momentos, a vida desfilou pela mente de
Oscar. Seus pais, a família, os colegas da escola. Pressentia que a hora estava
1 Dados do relatório do acidente disponível no CENIPA, fornecidos por Franz Matheus – Cel.
Av. R/1, Chefe da DIPAA, mediante autorização do Brigadeiro Diretor.
▶ ▶ 1966 – Wilson Cavalcanti, hoje Coronel da Reserva, e Oscar Grubman, cadetes do 3.º Ano em um
C-47 ou um Avro 748, no trecho Pirassununga-Rio. No banco detrás, outro colega de turma, Júlio
Sereni. Acervo do Cel. R/R/Wilson Cavalcanti.
488 Israel Blajberg
▶ ▶ 1964 – Campo dos Afonsos/RJ – Grupo aguardando voo posa à frente de um Gloster Meteor F-8,
do 1.º Grupo de Caça (Senta a Pua), estacionado nos Afonsos. Grubman é o terceiro da direita para a
esquerda. Acervo do Cel. R/R/Wilson Cavalcanti (segundo da direita para a esquerda).
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 489
▶ ▶ 1966 – Brasília – Viagem da Turma. Grubman é o primeiro agachado à esquerda, sem quépi.
Acervo do Cel. R/R/Wilson Cavalcanti (quinto de pé à direita, sem quepe).
Nada mais havia a fazer. Sem que ninguém soubesse, o Anjo da Morte tam-
bém havia embarcado naquele voo. Qual o oitavo passageiro da nave Nostromo
do filme Alien, recebera a missão de interromper a jornada daquela aeronave em
céus potiguares. Tal desígnio divino, do qual nenhum ser humano jamais esca-
pou, tem a força de um veredicto irrevogável e irrecorrível, emanado d’Aquele
que tudo conhece, tudo pode, e que em sua infinita sabedoria fez escrever pela
mão invisível numa parede – Mane, Thecel, Phares: pesado, medido, contado.2
O avião se espatifou no solo. Infelizmente, não houve sobreviventes entre
os quatro tripulantes e 14 passageiros. Mais uma vez um Grubman se sacri-
ficava. Na Europa sofrida, tios e primos distantes pagaram com a vida pelo
ódio que produziu um Holocausto. Aqui, o Major Oscar, com 2.925 horas de
voo, Praça de 1961 e Aspirante da Turma de 1966, brasileiro nato de primeira
geração, também partiu prematuramente, mas servindo à Pátria, em uma Terra
Abençoada. Era o segundo acidente com a frota de 60 Bandeirantes da FAB.
Contando com as aeronaves civis, era o oitavo, sendo que em cinco não houve
vítimas.
Às vezes, os antigos alunos da Escola de Madureira se reúnem num almoço.
Contemplando as antigas fotografias amarelecidas, uma chama atenção. No
palco, a figura esbelta de Oscar destaca-se em meio aos colegas. Alto, magro,
com a farda do colégio, paletó e calça também cáqui, a fisionomia serena, parece
lançar um olhar ao longe, aos céus com que tanto sonhava...
2 Palavras que, segundo o livro de Daniel, apareceram na parede da sala onde o rei Baltasar
promovia uma festa sacrílega.
490 Israel Blajberg
3 Alocução alusiva ao Jubileu de Ouro da Turma Sai da Reta por Manuel Cambeses Júnior – Cel.
Av. Ref., Aluno 61-238 Barbacena, 18 de março de 2011.
▶ ▶ 1965 – Estágio Básico nos Afonsos – Grubman é o primeiro agachado à esquerda. CD da Turma.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 491
Isaac Ohana4
Isaac é paraense de origem marroquina. Foi transferido para o Sul e acabou lá se
radicando, tendo servido na Base Aérea de Canoas/RS. Foi presidente do CHR –
Centro Hebraico Rio-Grandense, a única sinagoga sefardita do Sul.
Começou como sargento especialista e hoje está na Reserva como Coronel, gal-
gando todos os postos com grande honra. Ele mora atualmente em Canoas/RS
com a esposa Ruth. Fomos amigos desde a infância em Belém e, além de seu
trabalho como militar, ele teve uma atuação destacada no Grêmio Azul e Branco,
onde se reunia a juventude judaica da época e de onde saíram vários casamentos
na comunidade. 5
Foi classificado no 5.º G Av em janeiro de 1955, onde conheceu sua esposa D.ª
Marlene.
Do 5.º Grupo foi para o 6.º Grupo em Recife, já como 2.º Sgt. de
Fotogrametria. Na Base de Recife, foi reformado devido a um enfisema pulmo-
nar e outros problemas de saúde, devido à aspiração de gás de escape dos B-25.
Foi reformado como 2.º Ten.
Cursou a Escola de Engenharia e Teologia no seminário presbiteriano de
Recife, em 1956. Era conselheiro de educação religiosa – preparava a revista para
a escola dominical. Discutia muito, Israel era um país como outro qualquer, o
Israel bíblico tinha sido rejeitado por Deus, a igreja era o novo Israel.
Mas isso ele não aceitou, Israel nunca deixou de ser do povo eleito. Pagava o
dízimo. Em carta ao Presbitério em Pernambuco, pediu para sair, pela decepção.
Sua consagração rabínica ocorreu a 24 de dezembro de 2006.
Medeiros não aceitava a conversão, pois já era judeu. A conversão seria para
um não judeu, o que não era o caso.
7 http://www.coisasjudaicas.com/2006/10/iv-congresso-sefaradi-participem.html
494 Israel Blajberg
Dias de Medeiros diz que ainda hoje muitos costumes judaicos fazem parte
do dia a dia seridoense. A circuncisão no oitavo dia de nascido, lavar o cadáver
antes de sepultá-lo e enterrar o morto sem caixão são alguns deles.
“Eu fui circuncidado no oitavo dia de nascido (...) Voltei ao judaísmo por causa
da minha história de vida, do meu povo bíblico, que pouco a pouco fui escava-
cando e descobrindo o passado escondido de propósito. Não concordava com a
vida de cristão.”
CAPÍTULO 28
FAB – Quadro de Saúde
W
aldemar Kischinhevsky era um dos quatro filhos homens do escri-
tor Adolpho Kischinhevsky, nascido na Moldávia em 1890, e de D.ª
Berta Medovedowsky, pouco mais jovem, de Russenie Gubernie.
Imigraram primeiramente para a Argentina, onde se casaram e nasceu Esther
em 1916. Waldemar nasceu em 1926 em Nilópolis/RJ, tendo falecido no Rio de
Janeiro em 30 de abril de 2003. O pai Adolpho era editor de um jornal em iídiche
e morreu ainda jovem. Escreveu um livro em iídiche sobre sua experiência de
imigrante, Naie heime (novos lares), que foi traduzido nos anos 2000 no âmbito
de um projeto que compreendeu o lançamento de um filme sobre a antiga comu-
nidade judaica de Nilópolis e o projeto de recuperação da sinagoga da Rua Mena
Barreto.
Com o falecimento do pai, a mãe e o filho mais velho Jacob sustentaram a
família.
O jovem Waldemar estudou no Colégio Pedro II de São Cristóvão. Trabalhou
desde os 12 anos vendendo camisas. Durante a faculdade, cursou o CPOR e foi
ainda representante comercial de remédios e técnico de R-X, uma novidade pro-
missora com a qual trabalhou no Hospital dos Servidores do Estado.
Seu primo Bernardo o apresentou ao prof. Nicola Caminha, o maior vulto
da Radiologia nacional, que veio a ser o mentor profissional de Waldemar, e a
quem substituiu na Cadeira 90 da ANM – Academia Nacional de Medicina.
Sua esposa Inah Mochel Kischinhevsky era de São Luiz e o incentivou na
carreira. Eram colegas de turma na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de
Janeiro, atual Faculdade de Medicina da UNIRIO, nos anos 1946-1951. A Dr.ª
Inah foi médica da ECT e perita do INSS. Foi a primeira colocada no vestibular
em 1946 e em todos os semestres até 1951.
O casal teve quatro filhos. Walter, cardiologista formado na UNIRIO seguiu
os passos do pai, alcançando também o posto de Brigadeiro-Médico. Walter cur-
sou o Colégio Militar de 1969 a 1976. Arthur, radiologista, era o primogênito,
estudou no Colégio Militar de Fortaleza, tendo falecido prematuramente em 1988
495
496 Israel Blajberg
▶ ▶ Brigadeiro Médico Dr. Waldemar Kischinhewsky, retrato na Galeria dos Diretores do HCA –
Hospital Central da Aeronáutica, no Rio Comprido, Rio de Janeiro/RJ (Gestão 7 de abril de 1981 a 2
de fevereiro de 1983). Acervo do autor.
▶ ▶ Brig. Méd. Dr. Walter Kischinhevsky ao tornar-se Oficial General. NOTAER, jornal do Centro de
Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER).
498 Israel Blajberg
▶ ▶ Cel. QOMED Refm. Dr. Raphael Benchimol, ao ser admitido na FAB como 1.º Tenente Médico.
Acervo pessoal Dr. Raphael Benchimol.
500 Israel Blajberg
11 Depoimento de seu filho, também médico oftalmologista, Dr. Sérgio Benchimol, da Clínica de
Olhos Benchimol, em Copacabana – Rio de Janeiro/RJ.
12 http://www.benchimolclinic.com.br/historia.html
13 Entrevistado em 11 de dezembro de 2010 no CIB, em Copacabana – Rio de Janeiro/RJ.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 501
▶ ▶ Panóplia oferecida ao Major Gregório Feldman por ter servido no Department of Peacekeeping
Operations da ONU de 15 de maio de 1997 a 28 de fevereiro de 1999, na função de Medical Supply
Officer da Unidade de Suporte Médico. Acervo pessoal Cel. Méd. Dr. Gregório Feldman.
▶ ▶ 1997 – Major Gregório Feldman ao ser designado para servir na ONU, com Brig. Méd. Monteiro,
Brig. Méd. Ricardo Germano, Diretor de Saúde, e Cel. Roberval. Acervo pessoal Cel. Méd. Dr. Gregório
Feldman.
502 Israel Blajberg
▶ ▶ Cel. Méd. Dr. Max Feldman em frente a aeronave AMX, quando servia como médico do 1.º
Esquadrão/16.º Grupo de Aviação, sediado na BASC – Base Aérea de Santa Cruz – Rio de Janeiro.
Acervo pessoal Cel. Méd. Dr. Max Feldman.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 503
▶ ▶ Cel. Méd. Dr. Max Feldman em frente à aeronave Mirage da FAB. Acervo pessoal Cel. Méd. Dr. Max
Feldman.
▶ ▶ 1994 – Cel. Méd. Dr. Max Feldman em frente à aeronave Hércules C-130 da FAB, em operação na
Antártica. Acervo pessoal Cel. Méd. Dr. Max Feldman.
504 Israel Blajberg
▶ ▶ Aos 13 anos, o futuro Cel. Méd. Dr. Max Feldman leu a Torá (Antigo Testamento) pela primeira vez,
na cerimônia do bar-mitzvá, de maioridade religiosa. Acervo pessoal Cel. Méd. Dr. Max Feldman.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 505
▶ ▶ Em março 2011, o programa Menorah na TV, no canal 14 da NET-RIO, apresentou entrevista exclu-
siva do Cel. Max Feldman a Ronaldo Gomlevsky. Acervo Menorah.
O
CPOR da Aeronáutica formou Aspirantes a Oficial Aviador na década
de 1940, e teve existência efêmera, ao contrário da Marinha, onde o
CIORM e depois a EFORM funcionaram até a década de 1980, e do
Exército, que mantém os CPOR até hoje.
Na FAB, apenas o ITA manteve um CPOR, voltado exclusivamente para
seus alunos.
O CPORAER de São José dos Campos forma Aspirantes a Oficial da
Reserva da Aeronáutica, de 2.ª Classe, proporcionando aos alunos do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA) a prestação do Serviço Militar em nível com-
patível com sua formação técnico-profissional; e promove atividades comple-
mentares para alunos do curso profissional do ITA (Aspirantes convocados),
visando ao preparo militar de oficiais para o Quadro de Oficiais Engenheiros da
Aeronáutica, da ativa.
507
508 Israel Blajberg
Realizou estudos do admissão até a 4.ª série, de 1937 a 1941, e a 5.ª série em
1942, no tradicional Colégio Anglo-Americano na Praia de Botafogo.
Ao final de 1944, requereu matrícula no CPOR/Aer, declarando ser filho
de Abraham e Sevia (Sophia) Kanter, respectivamente comerciante e de prendas
doméstica, ambos nascidos na Lituânia e brasileiros naturalizados, residente na
Rua Ramon Franco n.º 104 – Urca, e de professar a religião hebraica.
Entre os inúmeros documentos exigidos, apresentou atestado de idonei-
dade moral assinado por dois Oficiais da Ativa, o General de Brigada Brasiliano
Americano Freire e o Major Pedro Geraldo de Almeida. Declarava ainda concor-
dar em prosseguir o curso nos EUA, uma vez aprovado no Estágio de Instrução
Pré-Aeronáutico.
Em novembro de 1944, Kanter havia sido reprovado em inspeção de saúde
a que se submeteu no Departamento de Seleção, Controle e Pesquisa para fins de
matrícula no CPOR/Era. Em dezembro de 1944, Kanter requereu ao Ministro da
Aeronáutica que fosse submetido a nova inspeção, uma vez que já se encontrava
curado da otite de que era portador.
O processo circulou pelos elevados escalões da diretoria de Saúde, até que a
Junta Médica afinal o considerou apto para o serviço de aviação, sendo o parecer
aprovado pelo Brigadeiro Médico Dr. Angelo Godinho dos Santos, diretor de
Saúde da Aeronáutica.
Por despacho favorável ao ministro, assinado pelo Major-Brigadeiro
Armando Figueira Trompowski de Almeida, chefe do Estado-Maior da
Aeronáutica, foi matriculado no CPOR/Aer em 1.º de fevereiro de 1945, sendo
promovido de estágio em 25 de maio de 1945 e matriculado no 2.º Grupamento.
▶ ▶ Aspirante Aviador Luiz Kanter – túmulo no Cemitério Israelita de Vila Rosaly (Velho), na Baixada
Fluminense. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 509
▶ ▶ Aspirante Aviador Luiz Kanter – detalhe da lápide tumular no Cemitério Israelita de Vila Rosaly
(Velho), na Baixada Fluminense. Acervo do autor.
M
elvyn nasceu em 4 de fevereiro de 1954 no Rio de Janeiro, filho de
Moyses Cohen, natural de Lodz – Polônia, e de Terezinha de Jesus
Afonso, natural de Ibertioga – Minas Gerais.
Sua participação na comunidade judaica se dava apenas em alguns casa-
mentos, bar-mitzvá e peladas de futebol na Hebraica quando garoto. Chegou
também a participar, quando bem novo, de uma colônia de férias na Associação
Kinderland, em Sacra Família do Tinguá.
Estudou no Colégio Israelita Brasileiro Eliezer Steinberg, em Laranjeiras –
Rio de Janeiro, durante quatro anos no Colégio Militar de Belo Horizonte e na
Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica em Barbacena de 1966 a 1970,
concluindo o curso em fevereiro de 1971, quando ingressou na Associação dos
Ex-alunos da Epcar (AEPCAR).
Formado em Matemática/Informática pela UFRJ e Economia pela UERJ,
trabalhou no BB, CVM, BNDES, com passagens pela COPPE – Engenharia de
Sistemas, IBMEC – Finanças; Casa da Moeda; Lojas Americanas; UFF e SESAT.
Em 1982, foi admitido por concurso público no BNDES, aposentando-se
em 2009.
Figura ímpar, Melvyn trabalhou durante anos no BNDES, onde é muito
benquisto e conhecido. Ao se aposentar, formou um grupo na internet, que
gerencia até hoje, constituindo-se em importante elo de ligação entre os bene-
denses aposentados, contando com mais de 700 membros.
Como o próprio Melvyn nos conta:
“Sou filho de Moyses Cohen, casei na igreja católica... provavelmente o menos
militar e o menos judeu dos aqui listados, embora valorize tanto a tradição dos
militares como a cultura e tradição dos judeus. Filho de mãe católica, fui gói 1
1 Iídiche – expressão coloquial, gentio, não judeu. A exemplo de “judeu” e “sionista”, a palavra
“gói” teve seu significado distorcido por certos segmentos, como setores de esquerda, direita
radical ou islamismo fundamentalista, para atribuir erradamente aos vocábulos conotações
negativas e pejorativas, no âmbito de uma campanha de propaganda enganosa contra os judeus
em geral e o Estado de Israel em particular.
511
512 Israel Blajberg
entre os judeus e judeu entre os góis. Hoje, casado há mais de 30 anos com uma
árabe, filha de Meherj Mohamed Assad Selman, que foi muito amigo de Moshe
Cohen, meu pai, nem Flamengo convicto eu sou mais.
Meu pai, nascido em 1909, que vivenciou a I Guerra Mundial e observou
os horrores da II Guerra era muito orgulhoso de ter um filho (único) militar na
época do regime militar; até porque sofreu perseguições por militares e achava
que um filho militar seria no mínimo um habeas corpus. Não entendeu por que
saí da Aeronáutica e nem depois por que saí do Banco do Brasil; mas hoje enten-
deria e aprovaria.
Tive três filhos que também estudaram em escolas militares; somos os úni-
cos quatro Cohen da família no Brasil, e todos com passagem pela caserna. O
mais novo, Moyses, terminou o ensino médio no CMRJ – Colégio Militar do Rio
de Janeiro; o do meio, Michel, estudou no Colégio Naval e saiu Guarda-Marinha
na Escola Naval; e o terceiro, Marcio Afonso Assad Cohen, com desempenho
brilhante, concluiu o curso de engenharia em 2003 como primeiro colocado em
todos os anos no IME – Instituto Militar de Engenharia.
Marcio casou-se em 2011 em Boston-MA-USA, onde estudou no MIT e traba-
lha na Mckinsey & Company. Sua esposa Naomi é de Boston, estudou em Harvard e
trabalha na Bain, outra consultoria. Coincidentemente ela também é Cohen.
Hoje, como o pai, são todos civis e mais que o pai, um “gói-judeu” poderiam
ser “góis-judeus-árabes”. Somos todos “quase”-judeus e ex-”quase”-militares
Dos meus antepassados judeus restam-me uma meia dúzia de primos de
primeiro grau e suas famílias que vivem em Israel e com os quais mantenho
contato eventual.
▶ ▶ 1966 – Melvyn Cohen no CMBH – Colégio Militar de Belo Horizonte. Acervo da família.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 513
▶ ▶ Moyses Cohen, nascido em 1985 – aluno do CMRJ – Colégio Militar do Rio de Janeiro, formado em
2002, o mais novo. Acervo da família.
514 Israel Blajberg
▶ ▶ Michel Cohen, nascido em 1982 – aluno do Colégio Naval (1997) e da Escola Naval, onde se for-
mou em 2003 como Guarda-Marinha, e fez a viagem de ouro em 2004. Marcio Cohen, nascido em
1980 – aluno do IME (Instituto Militar de Engenharia), onde se formou em 2003 – sendo “zero-um”,
primeiro lugar geral todos os anos. Acervo da família.
A
Marinha Mercante sofreu as maiores perdas do Brasil na Segunda Guerra
Mundial devido aos ataques submarinos nazistas contra a navegação marí-
tima nacional, com mais de 30 navios mercantes torpedeados, com a nação
lamentando o sacrifício de um milhar de preciosas vidas brasileiras inocentes.
515
516 Israel Blajberg
▶ ▶ 1941 – Ficha escolar de Mauricio José Pinkusfeld. Escola de Marinha Mercante – CIAGA – Centro
de Instrução Alte. Graça Aranha. Acervo CIAGA.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 517
Mauricio foi o único caso até agora conhecido dos 42 ex-combatentes judeus
que deu a vida pela Pátria em decorrência de operações bélicas, como tripulante
de navio mercante a serviço do progresso do Brasil.
Possivelmente uma pensão especial e uma medalha post-mortem aguarda-
ram todo este tempo em alguma gaveta perdida em desconhecida repartição.
Mas nada nunca foi requerido.
Durante 63 anos sua história foi esquecida. Mas em 1.º de maio de 2005,
a memória daquele jovem brasileiro foi homenageada diante do Túmulo do
Soldado Desconhecido, no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial
no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro.
A irmã Doroteia Lola Pinkusfeld Grossman, que tinha 11 anos quando
Mauricio partiu para a viagem sem volta, última remanescente, conduziu a
▶ ▶ 2010 – Mausoléu – subsolo do Monumento Nacional aos Mortos da 2ª Guerra Mundial, Parque
do Flamengo – Rio de Janeiro/RJ. Os mortos das Marinhas tiveram como túmulo o mar, assim seus
nomes estão gravados no mármore ao longo da parede. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 519
▶ ▶ 2010 – Trecho onde está gravado o nome de Mauricio José Pinkusfeld. Houve um erro na grafia,
constando Pindenfeld. Acervo do autor.
tradicional coroa de flores a ser aposta diante da Chama Eterna. Sem ter tido
sequer uma matzeiva (pedra tumular), o nome de Mauricio (ainda que incor-
retamente grafado – Pindenfeld) está eternizado no mármore do Monumento
dos Pracinhas, junto com centenas de outros brasileiros sacrificados no Altar da
Pátria, entre os quais um Moisés, a lembrar o nosso grande Patriarca.
Jacob Benemond
Jacob Benemond, Capitão de Longo Curso, comandava o Olinda, segundo navio
nacional a ser torpedeado por submarino nazista. Conseguiu salvar toda a tripu-
lação, à deriva no mar gelado durante 36 horas.
Jacob Benemond nasceu em Belém do Pará em 5 de agosto de 1881 e faleceu
em 23 de outubro de 1960 no Rio de Janeiro.
Era filho de Abraham Benemond e Emilia Benemond.
Frequentava a Sinagoga Shell Guemilut Hassadim.
Pelo heroísmo demonstrado no episódio do afundamento do Olinda, o
Comandante Benemond foi condecorado pelo Presidente da República com
as medalhas: Medalha de Serviços de Guerra, tendo em consideração os valio-
sos serviços prestados ao país e Medalha do Mérito Naval com 3 Estrelas como
recompensa aos valiosos serviços prestados em 18 de fevereiro de 1942 ao ser
o Olinda torpedeado por um submarino alemão, quando com risco da pró-
pria vida corajosamente efetuou em meio ao pânico geral o salvamento dos 46
homens da guarnição, reunindo-os em duas baleeiras abastecidas que permane-
ceram à espera de socorro durante 30 horas consecutivas.
520 Israel Blajberg
Anexo 1:
Eu, abaixo assinado, Comandante do Vapor Olinda, brasileiro, de propriedade
da Companhia Carbonífera Rio-Grandense, fretado à Companhia Comércio e
Navegação, sinistrado no dia dezoito do corrente mês, às doze horas e trinta
minutos, na Costa da Virginia, Estados Unidos da América do Norte, declaro ao
cônsul do Brasil, em Norfolk o seguinte: Que o vapor partiu do último porto de
Santa Lúcia, na tarde do dia 9, do corrente mês, com destino ao porto de Nova
York; a essa hora acima ouvi um tiro de canhão, sendo em seguida verificado
pela popa do navio, um submarino que continuava atirando, cerca de quatorze
tiros, tendo atingido o navio três tiros, sendo um na altura da radiotelegrafia,
outro no alojamento da guarnição de proa e outro no costado. Imediatamente
parei o navio e dei sinal para a salvatagem, isto é, o acidente deu-se na latitude
37 graus, trinta minutos norte, e longitude, sessenta e cinco graus, (o) zero minu-
tos, oeste de Greewinch. Às doze horas e quarenta minutos, arriou-se a baleeira
número dois (2), com 23 tripulantes e às doze horas e cinquenta minutos, a de
número um (1), com a mesma quantidade de tripulantes. Fomos intimados pelo
Capitão do submarino para atracar ao costado do mesmo, sendo eu interrogado
pelo dito Capitão, sobre o manifesto da carga, porém eu respondi que o manifesto
se achava a bordo. O 2.º Rádio também surgiu e foi interrogado. Depois de curto
tempo, voltamos para as baleeiras, tendo em seguida o submarino dado marcha
até que se aproximou do Olinda, cerca de um quarto de milha, tendo disparado
cerca de vinte tiros, adernando em seguida e posto a pique. Tenho a declarar
mais que o submarino e sua guarnição, são alemães. Passamos nas baleeiras,
vinte horas, quando fomos salvos por um destróier Americano, e logo que chega-
mos, em Norfolk, fomos hospitalizados no Hospital da Marinha.
Jacob Benemond – Comandante.
5 A partir de texto original fornecido pelo seu filho, Eng. Naval Mauro Rodin.
526 Israel Blajberg
e persuasão, Isaac concordou com o casamento, que ocorreu com grande pompa
em 20 de março de 1937, na casa dos pais de David.
Por força das constantes e ininterruptas viagens, David pouco participou da
vida comunitária, porém fazia questão que seus filhos tivessem uma tradicional
educação judaica, comandada por Cecília, oriunda de família seguidora de pre-
ceitos judaicos ortodoxos. Quando aportava no Rio, frequentava a sinagoga da
Rua de Santana; em outras cidades, procurava sinagogas mais próximas do porto.
O primeiro embarque de David ocorreu em 29 de novembro de 1929 no
navio Barbacena, na categoria de Praticante de Piloto.
Cada categoria exigia um período mínimo de prática, quando então David
retornava aos estudos na Escola de Marinha Mercante para galgar nova catego-
ria, e assim sucessivamente.
Desta forma, foram muitos os navios de embarque e as funções desempe-
nhadas por David, inclusive durante a Segunda Guerra Mundial.
▶ ▶ Antes da Segunda Guerra
▶ ▶ Praticante de Piloto – navios Barbacena e Alegrete, de 20/11/1929 a
9/2/1931;
▶ ▶ 2.º Piloto – navios Ayuroca, Rodrigues Alves, Parnaíba, Mantiqueira e
Comandante Alcídio, de 12/3/1932 a 17/2/1937;
▶ ▶ 1.º Piloto – navios Rodrigues Alves, Comandante Capela, Aníbal Bené
volo e Aracajú, de 19/3/1937 a 31/1/1941.
▶ ▶ Durante a Segunda Guerra
Como Capitão de Cabotagem ou Imediato, fez parte do comando dos navios
Murtinho e Pirineus, no período de 1.º de fevereiro de 1941 a 22 de dezembro
de 1945, realizando 65 viagens em “Zona de Risco Agravado”, para assegurar o
abastecimento e o transporte de materiais necessários à obtenção da vitória, sob
a orientação das autoridades navais brasileiras, ao lado das Nações Unidas.
Foi agraciado pelo Presidente da República com a Medalha de Serviços
de Guerra com 3 Estrelas, Outorgada pelo Conselho do Mérito de Guerra da
Marinha do Brasil, em 2 de setembro de 1948. Como reza o diploma assinado
pelo Ministro da Marinha, Almirante Sylvio de Noronha,
pelos serviços prestados durante a II Guerra Mundial ao lado das Nações Unidas
contra os países do Eixo, a bordo de navios mercantes nacionais ou estrangeiros,
empregados em assegurar o abastecimento e o transporte de materiais necessá-
rios a obtenção da Vitória, tornou-se merecedor da Medalha Naval de Serviços
de Guerra, com 3 Estrelas.
Samuel Miller
Samuel nasceu no Rio de Janeiro em 26 de março de 1927, filho de Simon Miller,
polonês, e Alica Miller, alemã. Era artista plástico autodidata. Desde 1956,
Capitão de Longo Curso da Marinha Mercante. Era também advogado e admi-
nistrador de empresas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi companheiro de viagem de Jacob
Niskier e David Leon Rodin. Era primo em segundo grau do Veterano da FEB
Adio Novak. Foi supervisor da construção do navio Comandante Ferraz, no
Estaleiro Mauá, em Niterói/RJ.
Residia em Brasília, onde colaborava como diretor jurídico da Associação
dos Ex-Combatentes do Brasil.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 529
Samuel Miller, OAB/DF n.º 1.109 era juiz arbitral da Comissão de Mediação
e Arbitragem, cujo Presidente era o conselheiro Leon Frejda Szklarowsky, OAB/
DF n.º 1.303, Samuel prestava assistência jurídica a veteranos e pessoas carentes
nas áreas previdenciária e militar, inclusive nas cidades-satélite.
Concorreu a deputado distrital pelo PMDB em Brasília, e nas eleições de 3
de outubro de 1958 no Rio de Janeiro (então Distrito Federal) como vereador do
PSD – Partido Social Democrático. Foi suplente de vereador no antigo Estado da
Guanabara – 1958. Pertencia a Sociedade de Amigos da Marinha – SOAMAR-DF.
▶ ▶ 2012 – Esposa de Samuel Miller inaugura exposição póstuma de seus quadros na Associação dos
Ex-Combatentes do Brasil, Brasília/DF. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 531
N
ascido em 14 de setembro de 1938, no Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, filho de Hilel e Bajla Goldbach, imigrantes da Polônia. Estudou
no Instituto Lafayette e Colégio Andrews.
Em 25 de julho de 1959 recebeu o certificado de conclusão da 1.ª fase do
curso de Saúde do CPOR/RJ, sendo graduado 3.º Sargento de Saúde reservista
de 2.ª Categoria, com validade até 25 de julho de 1967, obrigado a apresentar-
se na Região Militar antes do início do ano letivo, durante os dois últimos anos
do curso de Medicina para realizar a 2.ª fase do curso – Estágio de Instrução. O
comandante do Centro era o Cel. Álvaro Alves dos Santos.
Dr. Mauricio formou-se na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade
do Brasil em 1962, onde foi auxiliar de ensino da 4.ª Cadeira de Clínica Médica
durante 18 anos, e também no Hospital São Francisco de Assis e HESFA, Serviço
do prof. Lopes Pontes.
Como médico da PMRJ, serviu na Escola de Formação de Oficiais, CFAP
31 de Voluntários, ambulatório do conjunto residencial de Olaria, Policlínica de
Olaria e diretor da Policlínica Militar de São João de Meriti.
Na época, há 30 anos, já existiam UBS, Unidades Primárias de Saúde, a
maioria dos batalhões possuía dentista, enfermaria de família, a Unidade Básica
de Saúde era a Policlínica, seguindo-se o terceiro nível HCPM e HPM Niterói
Em 1975, com a fusão, passou a servir no Palácio Guanabara como chefe
do Serviço Médico, onde entre outras atribuições contava-se o atendimento ao
governador e familiares, na época o Alte. Faria Lima. O Cel. PM Carlos Osório
da Silveira Neto era o chefe do Gabinete Militar e ajudante de ordens do gover-
nador. Em 7 de novembro de 1978, foi elogiado em Boletim de Serviço pelo Cel.
Chefe do Gab. Mil.
Sua passagem pelo Gabinete Militar deu-se entre 1975 e 1979, seguindo-se
Olaria até 1983, chefe da Clínica Médica do HCPM 1983 a 1986, subsecretário de
533
534 Israel Blajberg
▶ ▶ Cel. PMRJ Méd. Dr. Mauricio Goldbach – retrato na Galeria de sócios beneméritos do CCER Monte
Sinai, Rua São Francisco Xavier, Tijuca – RJ. Acervo pessoal.
Perícias Médicas 1986 e 1987, diretor da Policlínica Militar de São João de Meriti
de 1987 a 1990, diretor-geral de Saúde de 1990 a 1991, no QG da Rua Evaristo da
Veiga, na gestão do Cel. PM Manoel Elísio e chefe do Estado-Maior Cel. Jorge da
Silva. Na ocasião, era também membro da Comissão de Promoção de Oficiais.
Em 1990, recebeu a Comenda da Ordem do Mérito Policial Militar, sendo o
governador Moreira Franco, o secretário e comandante geral Cel. Manoel Elysio,
▶ ▶ Cel. PMRJ Méd. Dr. Mauricio Goldbach – Diretor-geral de Saúde da PMERJ – 1990/1991. Acervo
pessoal.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 535
▶ ▶ 1977 – Maj. PMRJ Méd. Dr. Mauricio Goldbach – cumprimentando o Governador do Estado
Almirante Faria Lima (mandato 1975-1979), no Palácio Guanabara, vendo-se o chefe do Gabinete
Militar, em uniforme, e o Oficial Dentista Haroldo Vanzeler Ribeiro. Acervo pessoal.
chefe do Gabinete Cel. Silvio Guerra e diretor de Ensino e Instrução Cel. Jorge
da Silva. Na mesma ocasião, foram agraciados a escritora Rachel de Queiroz, da
ABL, um futuro comandante-geral, Ten.-Cel Dorasil Castilho Corval e o Maj.
PM Méd. Abraham Kutwak.
▶ ▶ 1977 – Maj. PMRJ Méd. Dr. Mauricio Goldbach (3.º em uniforme branco) – cumprimentos do pes-
soal do Gabinete Militar por ocasião do aniversário do Governador do Estado Almirante Faria Lima,
no Palácio Guanabara. Acervo pessoal.
536 Israel Blajberg
▶ ▶ 1959 – Aluno do Curso de Saúde do CPOR/RJ Mauricio Goldbach – o 2.º da 1.ª fila. Acervo pessoal.
2 Em 2006 o HCPM era dirigido pelo Cel. PM Méd. Dr. James Strougo, que posterioremente viria
a ocupar a DGS.
3 Froien Farain com você. Newsletter Quinzenal, Ed. 23, out. 2014.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 537
▶ ▶ 2015 – Retrato do Cel. PMRJ Méd. Dr. David Taublib na galeria de diretores da Policlínica de Polícia
Militar de São João de Meriti. Acervo pessoal.
6 Sinagoga pequena e não oficial onde são realizados o culto a Deus, a leitura da Torá, a recitação
de salmos etc.
7 Hebraico: Preces penitenciais nos dias que precedem o Ano Novo Judaico.
8 Informe Mensal AHJB – Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, ano1, n. 4, Nov. 2009. Editor
Engº. Samuel Belk.
9 Jornal do Brasil, Obituário em 2 abr. 1977.
540 Israel Blajberg
▶ ▶ 25 de março de 2012 – Cel. PMRN José Fontes Sobrinho, sócio benemérito e membro da Comissão
de Patrimônio da FIRN/CIRN, que construiu a nova sede inaugurada em 2006. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 541
Caribe, alguns chegando até uma ilha habitada por índios, que hoje se chama
Manhattan. Mas alguns decidiram ficar, e secretamente manter viva a chama do
judaísmo. Consta que teriam se embrenhado nos sertões, chegando a regiões
remotas do Nordeste, onde esperavam poder manter a sua fé, como o Seridó, no
Rio Grande do Norte.
Cel. Fontes é da Turma de Oficiais de 1962, com licenciatura em Geografia
pela Faculdade de Educação da UFRN no mesmo ano, tendo tirado os cursos de
Aperfeiçoamento de Oficiais na PMPE em 1976 e Superior de Polícia na PMESP
em 1985. Cursou a International Polices Services Academy em Washington,
D.C. em 1971 e o Partners of the America’s Disaster Management Seminar em
1986. Cursou a ADESG em 1974.
É sócio benemérito da Sinagoga Braz Palatnik de Natal, com cuja constru-
ção da nova sede muito contribuiu.
Seu filho, Ten.-Cel. Swami de Holanda Fontes, assumiu o comando do 7.º
Grupo de Artilharia de Campanha – Regimento Olinda, orgânico da 10.ª Brigada
de Infantaria Motorizada, em 15 de janeiro de 2014, em Olinda/PE.
10 www.motonline.com.br/notícia/mossoro-a-terra-que-colocou-lampiao-pra-correr/#sthash.
A42rETVj.dpuf
11 Conforme relato ao autor em março de 2012 por ocasião do lançamento de Soldados que vieram
de longe em Natal/RN.
542 Israel Blajberg
▶ ▶ c. 1930 – Cap. PMRN Abdon Nunes de Carvalho, que viveu como judeu oculto. Acervo não
identificado.
▶ ▶ 25 de março de 2012 – Matzeiva (pedra tumular) de José Nunes Cabral de Carvalho (1913-1979),
na ala judaica do Cemitério do Alecrim, Natal/RN. Foi circuncidado aos 8 dias pelo próprio pai, o
criptojudeu Cap. PMRN Abdon Nunes de Carvalho. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 543
Os marranos potiguares12
O despertar dos marranos em Natal – RN, abordado na obra de João F. Dias de
Medeiros, nos faz identificar a proto-história desta busca pelas raízes ancestrais
dos cristãos-novos no Rio Grande do Norte.
Assim, encontramos um dos heróis da resistência à invasão do bando do
cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião, à cidade de Mossoró, RN, em 13
de junho de 1927, o então tenente da Polícia Militar do Rio Grande do Norte,
Abdon Nunes de Carvalho.
Este, já em 1913, revelou viver de acordo com o universo simbólico judaico,
ao circuncidar seu filho, José Nunes Cabral de Carvalho aos oito dias de nascido.
Estudiosos do marranismo potiguar atribuem a José Nunes Cabral de
Carvalho (1913 – 1979), o aprofundamento dos estudos das origens judaicas do
povo nordestino e o apostolado marrano.
O conceituado historiador e genealogista Paulo Valadares lança a hipótese
de que foi após encontrar-se com uma comunidade israelita, em Niterói, RJ, espe-
cialmente a família de Samuel Cudisevici, que o mesmo decidiu criar uma socie-
dade para congregar os marranos potiguares. 13
Havendo estudado Odontologia em Niterói, RJ, tornou-se professor na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e cofundador, junto com Luís
da Câmara Cascudo e outros, do Museu de Antropologia da Universidade, em
Natal, RN. Certamente, conhecedor da obra de Luís da Câmara Cascudo, pôde
encontrar em Mouros, Franceses e Judeus: Três Presenças no Brasil, de 1967, as
reminiscências dos costumes judaicos na cultura brasileira.
da Segunda Guerra Mundial, quando Natal foi o Trampolim da Vitória, até que
ao final da década de 1960 chega o ocaso. A geração de imigrantes já não estava
mais aqui, outros se transferiram para Salvador e Rio de Janeiro, a sinagoga foi
fechada, o cemitério caindo em desuso.
Mas estava escrito que a Estrela de David não haveria de deixar Natal... Com
efeito, numa sexta-feira à noite, pedi ao taxista que me levasse na Rua General
Varela. Com alguma dificuldade achamos a antiga rua dos judeus, próximo ao
Colégio da Imaculada Conceição, onde eles tinham suas lojas e residências, pró-
ximo a antiga sinagoga que não mais existe. Era uma noite fresca no começo do
outono. Não havia ninguém, nem carros passando pelas ruas escuras. Apenas
uma pequena casinha com as luzes acesas e janelas fechadas. Desci do táxi e
fiquei por algum tempo estático diante do prédio branco modesto, com uma
estrela de David no alto. Uma brisa vinha do rio Potengi, me encontra sozinho
perdido no silêncio daquela ruela escura e estreita, onde há várias décadas efer-
vescia a vida da Natal judaica. Imagino-me retornando àquele passado distante
da Segunda Guerra Mundial... A qualquer momento algum judeu poderia sair
de uma daquelas esquinas, quem sabe a figura serena do capelão militar ameri-
cano Shaftei Baum, acompanhado de marines e aviadores judeus, todos enver-
gando orgulhosos a farda cáqui, para o serviço religioso; ou quem sabe, um dos
Palatnik, que piedosamente construiu a sinagoga....
Logo desperto das divagações, e bato à porta. Cerca de 15 fiéis assistem
ao serviço. A maioria de anussim (retornados), cujo judaísmo latente despertou
após anos, quem sabe, séculos adormecido nos desvãos da história. Mas a pátina
do tempo não foi suficiente para apagar a chama. E aqui estou eu, testemunhando
▶ ▶ 25 de março de 2012 – Sinagoga Braz Palatnik e sede própria da FIRN/CIRN, Rua Gen. Varela n.º
624, Cidade Alta, Natal/RN, inaugurada em 14 de março de 2006 com a colaboração de Rubens e
Solange Palatnik. Acervo do autor.
Emergência no HCPM15
No alto do morro, em meio ao fragor da batalha, uma pequena tropa se quedou
isolada. É preciso retrair o mais rápido possível. O inimigo pérfido se dissimula,
ocultando-se entre moradores, constrangendo-os. Conhecem o terreno, pos-
suem armamento pesado, não respeitam nenhuma regra.
As comunicações se sucedem secas e precisas com as viaturas operacionais,
helicópteros e o PC. A voz do comandante não deixa transparecer, mas do outro
lado colegas experimentados já se aperceberam do perigo mortal. Situação séria,
crítica.
O tiroteio é intenso, projéteis ricocheteiam por todos os lados. De repente,
um grito de dor: um jovem soldado foi atingido. O ferimento exige cuidados, o
miliciano terá que ser evacuado com urgência, está perdendo sangue. O anoi-
tecer chegando e tornará as coisas ainda mais difíceis. Apesar do alto risco, o
helicóptero se aproxima tanto quanto possível para dar cobertura ao grupo que
carrega o ferido pelas vielas estreitas.
15 BLAJBERG, Israel. Adaptação de conto publicado no Jornal do CORPMRJ - Clube dos Oficiais
da Reserva e Reformados da PMERJ, 2010.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 547
Sente que algo gelado percorre lentamente a região suturada pelos pontos,
e conforme avança, a dor desaparece instantaneamente. Já está tudo bem, o CTI
novamente imerso na meia-luz, o bip-bip dos aparelhos antes do velhinho apa-
recer. Não precisou se identificar, nem que portas do centro cirúrgico se abris-
sem, mas o Mestre já sabia que alguém merecia sua visita, um justo na defesa da
sociedade. O Grande Arquiteto do Universo consentiu que orientasse a mão do
cirurgião.
Chega o dia da alta hospitalar. Logo depois nasceu o menino. Diante da
pia batismal, o Soldado recordou o seu sofrimento, implorando mentalmente ao
D’us Todo-Poderoso que esse menino pudesse viver num mundo melhor que o
nosso.
CAPÍTULO 33
Corpos de Bombeiros Militares
L
uiz Chvaicer nasceu em Campos/RJ, em 25 de dezembro de 1930, filho de
Arthur Chvaicer, imigrante da Bessarábia, e D.ª Fany Chvaicer, imigrante
da Argentina. Estudou na Escola Israelita Brasileira Sholem Aleichem e
Colégio Hebreu-Brasileiro. Diplomado pela Faculdade Nacional de Medicina da
Universidade do Brasil em 28 de dezembro de 1954, sendo o diploma assinado
pelo Magnífico Reitor Pedro Calmon
O Dr. Chvaicer foi nomeado 1.º Tenente Médico do Corpo de Bombeiros do
Distrito Federal por Decreto de 15 de março de 1955, passando para a Reserva
no posto de Coronel em 1983. A Carta-Patente foi assinada pelo Presidente da
República Dr. João Café Filho, no Palácio da Presidência do Rio de Janeiro, na
mesma data. Sua especialidade é a Clínica Médica e Cardiologia.
Em 19 de setembro de 1960, foi promovido a Capitão Médico, e em 15 de
julho de 1965 a Major Médico, estando a Carta-Patente assinada pelo Governador
do Estado da Guanabara Embaixador Francisco Negrão de Lima em 5 de setem-
bro de 1966. Em 24 de janeiro de 1980, foi promovido a Tenente-Coronel pelo
Comandante Geral Cel. Luiz Vieira de Abreu. Na gestão do Comandante-Geral
Cel. EB Renato Ribeiro da Silva, foi promovido a Coronel em 31 de janeiro de
1983 e nomeado diretor-geral de Saúde. A promoção a Major foi pelo critério de
antiguidade, e as demais por merecimento.
Ao passar para a Reserva, foi elogiado em Boletim de Serviço n.º 132, de
9 de setembro de 1983, pelo Comandante-Geral Interino Cel. BM José Halfeld
Filho.
Participou de ocorrências em desastres, quedas de avião, incêndios. No
desastre de trens na via férrea em Mangueira em 1956 contou 103 corpos, havia
montanhas de corpos vivos e mortos misturados, era 1.º Tenente recém-incor-
porado aos Bombeiros.
Um desabamento em Santa Teresa, durante as fortes chuvas de 1966, o
impressionou fortemente, a mãe abraçada ao filho, sobre um armário de roupas,
ambos mortos.
549
550 Israel Blajberg
▶ ▶ Ten.-Cel. BM David Szpilman orienta surfistas para auxiliarem em salvamento. Acervo pessoal de
David Szpilman.
16 www.sobrasa.org e www.facebook.com/SobrasaBrasil
552 Israel Blajberg
“(...) o amor pelas atividades e esportes aquáticos sempre foi uma constante em
minha vida. Quando garoto, costumava pescar com minha família. Quando
iniciei este trabalho com afogamentos há 23 anos, observei que não havia algo
do gênero no Brasil e que esta era uma área muito carente de conhecimento.
Estabeleci alguns contatos com especialistas internacionais onde pretendia obter
respostas a várias de minhas perguntas no assunto. Fiz o curso de guarda-vidas
em 1996, pois queria estar por dentro de tudo na área. Curiosamente após alguns
eventos internacionais descobri que estas respostas haveriam de sair de nosso
trabalho brasileiro. Foi então quando eu investi em pesquisa sobre o assunto.
Foi uma maneira que encontrei para ajudar a reduzir o número de afogamen-
tos no Brasil. Procurando respostas para minhas perguntas e indagações sobre
as melhores formas de prevenir e tratar um afogado, com muitas dificuldades
pelo caminho, elaboramos ao longo dos anos diversas pesquisas que nos deram
este reconhecimento mundial de liderança na área. Ao longo desse trajeto reuni-
mos um grande grupo de especialistas nessa área e juntos fundamos a Sociedade
Brasileira de Salvamento Aquático, onde fui o primeiro presidente.”
EUA
Gerald Goldstein
G
erald era estudante em Nova Iorque quando resolveu se apresentar como
voluntário para a Marinha Mercante americana.
Durante a guerra, serviu como Oficial Radiotelegrafista a bordo
de navios mercantes navegando em zona de guerra no Atlântico Norte e
Mediterrâneo, em águas sujeitas a ataques aéreos, navais e submarinos.
Logo após a guerra, imigrou para o Brasil, onde trabalhou muitos anos na
área bancária.
Aposentou-se, mas continuou a prestar serviços voluntários como presi-
dente dos ex-combatentes USA, e nas associações que congregam cidadãos ame-
ricanos e ingleses no Brasil.
Residia com a esposa Betty em Copacabana, e possui diversas condecora-
ções nacionais e estrangeiras. Faleceu em 21 de novembro de 2012.
Gerry Goldstein, R.I.P.
It is with great sadness that the American Society Rio conveys the news that
Gerry Goldstein, our friend, colleague and mainstay of Rio’s American
community for as long as most of us can remember, has died.
The funeral will take place today, November 21st and will be webcast live at
2:30 pm (Rio de Janeiro time).
You can access the event by clicking here:
To Gerry’s family and friends:
“Ha’makom yenahem etkhem betokh she’ar avelei Tziyonvi’ Yerushalayim.”
(May God console you among the other mourners of Zion and Jerusalém.)
Queiram avisar os demais veteranos do seu grupo
555
556 Israel Blajberg
▶ ▶ 1.º de maio de 2005 – Chegada dos Veteranos das Nações Amigas Aliadas ao Grande Templo
Israelita da Rua Tenente Possolo, Rio de Janeiro/RJ, para a solenidade do Dia da Vitória e homena-
gem aos heróis brasileiros judeus da 2.ª GM. Acervo do autor.
concedido pelos seus meritórios serviços em prol das necessidades religiosas, espi-
rituais, culturais e recreativas das forças armadas americanas, estacionadas em
Natal durante a guerra.
Sua chegada, em 1965, coincidiu com a entrada oficial dos Estados Unidos
na Guerra do Vietnam e ele, na condição de imigrante, foi convocado para o ser-
viço militar apenas dois anos depois de ter pisado em solo americano. Realizou
seu treinamento nos estados do Texas e Geórgia e, em 1967, embarcou para o
Vietnam, onde foi destacado para o serviço de patrulhamento de comboios.
Augusto permaneceu no Vietnam pelo período de um ano, metade do qual
em combate, ocasião em que foi atingido por estilhaços de granada durante uma
ofensiva militar adversária. No final de 1968 retornou do Vietnam, tendo com-
pletado seu serviço militar em uma base na Califórnia. O governo norte-ameri-
cano sempre tratou muito bem seus veteranos de guerra, especialmente os que
participaram – e foram feridos – em combate. Bolsas de estudo e financiamento
público permitiram ao veterano Augusto e aos seus três filhos cursar faculdade.
Além disso, ele e a esposa têm direito à assistência médico-hospitalar e farma-
cêutica subsidiados durante toda a vida. Quando se leva em conta que os Estados
Unidos chegaram a dispor de 2 milhões e 300 mil homens no Vietnam, com 300
mil feridos e 58 mil mortos, pode-se ter uma ideia do que isso representa.
Assim que deu baixa do exército, Augusto pôde realizar o sonho de fre-
quentar uma escola de pilotos, profissão que exerceu tanto nos Estados Unidos
quanto no Brasil, para onde retornou em 1980, pois queria que seus filhos apren-
dessem, ao lado do inglês, o português. Foi piloto civil nos dois países, baseado
em Belo Horizonte e Los Angeles. Em 1995, voltou de vez aos Estados Unidos,
optando por se radicar, dessa feita, em Miami, onde o conheci.
Augusto fez questão de relatar um fato bastante pitoresco. Como serviu
na Polícia do Exército americano e até hoje gosta de envergar seu boné com as
insígnias MP, debaixo do qual usa uma quipá4, muitos veteranos ainda olham
atravessado para ele. Afinal, como membro da Polícia do Exército, era encar-
regado de manter a disciplina, que ele sempre fez questão que fosse obedecida
à risca. Disciplina que ele continua seguindo ao pé da letra, chova ou faça sol,
pois atualmente, já aposentado, faz questão de comparecer, duas vezes por dia, à
Sinagoga da Normandy Drive, em Miami Beach, para as rezas matinais e vesper-
tinas, pois é religioso ou, como dizem os sefarditas cubanos do Templo Moses,
“un judío observante”.
4 Solidéu.
5 WOLFF, Frieda.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 559
Uriah Philipe Levy nasceu nos Estados Unidos em 1792 e já aos 10 anos de
idade estava servindo como taifeiro na Marinha Mercante. Quando irrompeu a
guerra contra os ingleses em 1812, Levy alistou-se na Marinha de Guerra como
voluntário.
Em 1827, ainda tenente, Levy serviu no navio Cyane quando este aportou no
Rio de Janeiro. Um mal-entendido entre seus marinheiros e brasileiros resultou
numa briga desordenada, violenta; Levy interveio salvando um dos seus subo-
ficiais, mas recebendo ele mesmo o golpe de sabre destinado ao seu camarada.
Naquela época, D. Pedro visitava quase que diariamente os estaleiros inspecio-
nando os preparativos da esquadra brasileira que se aprontava para seguir para o
sul. Tinha conversado várias vezes com o tenente, em francês, e na manhã seguinte
ao incidente relatado, cumprimentou-o pela maneira corajosa de ter socorrido
seus marinheiros e oferecendo-lhe o comando de uma fragata de 60 canhões que
acabara de ser entregue. Agradecendo respeitosamente a confiança demonstrada
pelo imperador, Levy eximiu-se desta grande honra dizendo que preferia servir de
grumete à sua pátria a ser capitão em qualquer outra armada do mundo.
6 http://shearithisrael.org/content/uriah-phillips-levy
560 Israel Blajberg
FRANÇA
Akiba André Levy
Natural de Sidi Bel Abbès, Oran, Argélia, Akiba nasceu em 5 de fevereiro de
1927, filho de Moise Levy e Rachel Zaya Levi, engajando-se voluntariamente na
Marinha Nacional francesa como Marinheiro de 2.ª Classe Mecânico, durante
toda a duração do conflito mais três meses.
Inicialmente, serviu no Aviso La Boudeuse baseado em Casablanca, e poste-
riormente no Cruzador Jean Bart, de 6 de junho de 1944 a 10 de fevereiro de 1945.
Possui a Medaille Comemorative Francais e de La Guerre 1939-1945, com
barreta “Engage Volontaire”, Croix Du Combatant Volontaire avec Barrette
“Guerre 1939-1945” e o Diploma de Reconhecimento pelos Serviços Prestados
a França, concedido pelo Secretaire d’Etat a La Defense Charge dês Ancies
Combattants.
Foi admitido na Associationdes Anciens Combattants et Victimes de la
Guerre du Maroc, em Casablanca, em 22 de agosto de 1947.
Na vida civil, trabalhou na Cables de Lyon, uma empresa do Grupo Alcatel.
Em 1949, emigrou para o Brasil, onde hoje possui uma indústria eletrônica em
Pouso Alegre/MG.
É membro da Association Francaise dês Anciens Combattants a Rio de
Janeiro, tendo participado do último Desfile Militar de 7 de Setembro no Rio de
Janeiro, juntamente com o também veterano Frances, Jean Wittmer, porta-ban-
deira da AFAC.
Akiva foi admitido no Brasil em 20 de fevereiro de 1949, como mecânico,
vindo no vapor Florida, com visto emitido em 19 de dezembro de 1948 pelo
cônsul brasileiro em Argel.
▶ ▶ 2012 – Medalhas conferidas ao Veterano Francês da Marinha Nacional Francesa Akiba André Levy.
Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 561
▶ ▶ 1942 – Bombardeiro Douglas similar ao que em 22 de outubro de 1943 executou a missão sobre
a Holanda ocupada, na qual foi morto em combate o Sgt. Georges Schteinberg. Acervo Cel. Henry
Lafont, Aviateurs de la Liberté, Serviço Histórico da Armée de l’Air, 2002.
562 Israel Blajberg
7 Entrevista com a Sra. Henriete Schteinberg Musser, Sobrinha de Georges Schteinberg, residente
no Rio de Janeiro, em 30 de outubro de 2013.
região, para que nelas fosse erguida a Escola Militar de Resende, atual AMAN –
Academia Militar das Agulhas Negras. Como na colônia existiu uma sinagoga,
pode-se concluir que uma terra sagrada permeia de bons eflúvios aquele estabe-
lecimento de ensino militar que forma Oficiais para o Exército Brasileiro.
Octave Schteinberg residia na Tijuca, tendo falecido em 2007, mas os docu-
mentos que colocou à disposição da comissão permitiram recuperar a memória
do irmão junto a AFAC – Asociation Francaise dês Anciens Combatants de Rio
de Janeiro, identificando assim quem foi Georges, cujo nome figurava em placas
no Consulado na Maison de France e no Mausoléu dos Franceses no Cemitério
São João Baptista, sem que o seu sacrifício fosse melhor conhecido, a exemplo de
tantos outros heróis ainda anônimos
Muitos outros nomes, vários judaicos, aguardam nas placas e no mausoléu
que deles venha a ser removida a pátina do tempo, que a tudo recobre. No 11 de
novembro, data do Armistício da Primeira Guerra Mundial, a AFAC promove
uma visita ao Mausoléu, com honras militares prestadas por uma Guarnição da
Marinha do Brasil.
Em 1940, Georges ouviu pelo rádio o famoso discurso de Charles de Gaulle,
convocando os franceses à resistência pela França Livre.
Embora tivesse recebido seu registro de permanência definitiva em 6 de
novembro de 1940, sensibilizado pelo discurso, planejou escondido seu enga-
jamento. Em 1942, deixou a casa da família a pretexto de procurar trabalho em
São Paulo, onde se alistou no Comitê Francês de Libertação. Embarcando para
Londres, em 1.º de dezembro de 1942, formalizou sua adesão como voluntário
navegador de 2.ª Classe. Durante um ano, esteve em treinamento na Força Aérea
564 Israel Blajberg
da França Livre junto a RAF, chegando a ter uma namorada, e após seguir todos
os estágios nas escolas da RAF, foi mandado servir para o Grupo de Bombardeio
Lorraine, como Sargento Metralhador.
De Londres, enviou uma carta aos pais, e algum tempo depois foram infor-
mados de que Georges falaria para a família através da BBC de Londres, quando
pronunciou algumas palavras dedicadas a seus entes queridos.
A carta foi publicada apenas décadas após tombar em combate, por inicia-
tiva de seu irmão Salomon, residente em Israel. Na missiva revela uma premoni-
ção, que lamentavelmente acabaria se confirmando:
“Queridos pais e irmãos, peço perdão em ter embarcado para a Europa sem reve-
lar a verdadeira intenção. Não pude fechar meus olhos nem ouvidos diante dos
acontecimentos aqui na Europa, na França e com nossos correligionários. Não
seria justo alguém que possa fazer alguma coisa cruzar os braços. Não culpem a
ninguém se algo acontecer comigo, somente ao destino.”
▶ ▶ 22 de outubro de 2013 – Irmãs Henriete e Hana Schteinberg (Brasil) com Sr. Huubert Willems,
membro da comissão que construiu e organizou a inauguração do Monumento aos 70 anos do
Douglas. Acervo Huubert Willems.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 565
▶ ▶ 2012 – Mausoléu Frances no Cemitério São João Baptista no Rio de Janeiro, onde na placa inferior
1939-1945 se encontra inscrito o nome do Sgt. Georges Schteinberg. Acervo AFAC – RJ.
9 LAFONT, Cel. Henry, Aviateurs de la Liberté, Serviço Histórico da Armée de l’Air, 2002.
▶ ▶ 2013 – Medalha da Cruz de Guerra com Palma, concedida post mortem, em 12 de janeiro de 1945,
ao Sargento Georges Schteinberg assinado de próprio punho pelo Gen. De Gaulle, relatando a car-
reira de Schteinberg, o ataque de bombardeiros do Groupe Lorraine sobre território ocupado e sua
morte gloriosa frente ao inimigo. Acervo Georges Schteinberg (Israel).
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 567
Moyses Graziani
Franco-brasileiro, nascido em 17 de novembro de 1923 na Turquia. Nos 70 anos
do Appell (chamado) do Gen. De Gaulle de 18 de Junho, em 2010, Moisés Graziani
e demais membros da Associação de veteranos franceses se reuniram no sexto
andar da Casa da França para celebrar o 70º aniversário do convite à resistência
lançado pelo General de Gaulle a partir de Londres, em 1940. Na ocasião, quatro
estudantes do Liceu Molière leram as palavras históricas do general, em momento
de recordação e comunhão entre as gerações. Um medalhão da Fundação França
Livre foi aposto junto à placa dos Mortos pela França 1939-45, sendo inaugurado
por Moisés Graziani, último integrante das FFL Forças da França Livre no Brasil.
Um minuto de silêncio foi observado em memória de Michael Mokdesse, ex-
FFL, herói de Bir Hakeim, nomeado Cavaleiro da Legião de Honra por Nicolas
Sarkozy, falecido a 26 de março, na véspera do seu 91.º aniversário.
11 www.memoiredeshommes.sga.defense.gouv.fr/fr/arkotheque/client/mdh/base_morts_pour_
la_france_premiere_guerre/index.php
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 569
ITÁLIA
Veteranos sepultados no Cemitério Israelita De Vila Mariana12
Hugo Piazza. Falecido em 3/11/1928 – “Marechal de Artilharia do Exército
Italiano – Reduce da Guerra Europea”. Q6 R5 nº 81.
Victorio Funaro. Livorno, 5/7/1895 – São Paulo, 31/1/1934 – “Piloto Aviador
na Grande Guerra. Seu coração ardente de amor pátrio e de ternura familiar apa-
gou-se prematuramente aos 38 anos”. Q7 R8 nº 138
PARAGUAI
Emilio Nudelman13
Em de fevereiro de 1923 o presidente Eusebio Ayala criou a Escola de Aviação
Militar do Paraguay, com quatro aviadores um dos quais o 2.º Tenente de
Cavalaria P.A.M. Emilio Nudelman. Estes quatro pilotos receberam bolsas
para prosseguir os seus estudos e treinamento de voo no Brasil, no Campo dos
Afonsos, onde receberam seu brevê um ano mais tarde retornaram para a terra
natal bastante prestigiados, fazendo um voo de demonstração sobre Assunção,
granjeando admiração e entusiasmo da população. Em 1927, o Paraguai
adquiriu quatro aeronaves HD Hanrot, tipo 32, equipadas com motores
rotativos.
Nudelman tornou-se diretor da Escola de Aviação e mais tarde foi piloto da
Pluna em 1936, quando a mesma foi fundada. Hoje, uma rua em Assunção leva
seu nome.
POLÔNIA
Veteranos poloneses de origem judaica14
Diversos veteranos poloneses imigraram para o Brasil após a Segunda Guerra
Mundial, aqui estabelecendo família e se tornando bons brasileiros, dos quais
alguns nomes são:
Mieczysław Krymchantowski
Judeu polonês, nascido em 1924 em Gniewoszow, abandonou a terra natal após
a invasão nazista de 1.º de setembro de 1939.
Perdeu toda a sua família no Holocausto, conseguindo chegar à Sibéria sob um
trem, sendo colocado em campo de trabalho forçado russo. A Operação Barbarossa
– invasão da Rússia pela antiga aliada Alemanha – criou uma oportunidade para
que conseguisse se refugiar na Inglaterra, onde foi recrutado inicialmente para
▶ ▶ 2014 – Desfile Cívico Militar da Independência do Brasil 7 de Setembro de 2014 – Rio de Janeiro
– 192 Anos de Independência – viaturas dos Veteranos dos EUA e Polônia – Ward Ryan e Cap. Eng
Ignacy Felczak. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 571
▶ ▶ 2014 – Desfile Cívico Militar da Independência do Brasil 7 de Setembro de 2014 – Rio de Janeiro
– Veteranos de todos os tempos e todas as tropas abrem o desfile, sempre os mais aplaudidos: FEB,
Forças de Paz, CPOR, Fuzileiros Navais, Brigada Paraquedista. Os mais idosos seguem embarcados
em viaturas do CVMARJ. Acervo do autor.
▶ ▶ 2014 – Desfile Cívico Militar da Independência do Brasil 7 de Setembro de 2014 – Cap. Eng. Ignacy
Felczak, presidente da SPK – Veteranos Poloneses, Israel Blajberg, ex-aluno CPOR, Miguel Grinspan,
decano dos Veteranos do BG, Ten. Dr. Israel Rosenthal, Veterano da FEB. Acervo do autor.
Partisans
Introdução
A
palavra Partisan designa integrantes de forças militares irregulares for-
madas para combater tropas de ocupação, como os que lutaram contra
os nazistas na Europa ocupada. Em geral, são nativos da região e atuam
atrás das linhas inimigas em ações de sabotagem e emboscada.
Dentre os partisans na Segunda Guerra Mundial, estima-se que havia de 20
a 30 mil judeus, tendo a maioria tombado em combate, nos guetos ou em campos
de extermínio, sendo que alguns imigraram para o Brasil ao término do conflito.
A história dos Combatentes da Resistência Judaica é pouco conhecida,
pelas condições em que atuavam, como todos os partisans sem a infraestrutura e
573
574 Israel Blajberg
2 Prof. Israel Blajberg (ex-aluno do prof. Jaspan nas Escolas I. L. Peretz e Chaim Nachman Bialik,
de Madureira e Méier (1951-1955). Informações da família, Arquivo Nacional.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 575
3 FRANÇA BELÉM, Euler. Livro resgata história de líder da revolta do campo de extermínio de
Sobibor que morou em Goiânia, Jornal Opção, ed. 2.029, 25/5/2014 (http://www.jornalopcao.
com.br/colunas-e-blogs/imprensa/livro-resgata-historia-de-lider-da-revolta-campo-de-
exterminio-de-sobibor-que-morou-em-goiania-4944/)
CAPÍTULO 36
Diplomados pela Escola Superior
de Guerra – ESG
Introdução
A
Escola Superior de Guerra foi criada em 1949 por um grupo de milita-
res liderado pelo Marechal César Obino, com vistas ao futuro do Brasil
como grande potência. Seus primeiros comandantes foram os Marechais
Cordeiro de Farias e Juarez Távora.
A ESG preconiza uma doutrina com base em cinco vertentes: política, eco-
nômica, psicossocial, científica e tecnológica e militar, estando atualmente vin-
culada ao Ministério da Defesa, sendo comandada em sistema de rodízio entre
as Forças por um Oficial General de 4 Estrelas.
Como casa de estudos multidisciplinar, congrega também entre seus estagi-
ários além de militares das três forças nos postos de Coronel e General, civis de
diversos segmentos da sociedade e membros das Forças Auxiliares.
Em quase sete décadas de atuação, cerca de oito mil esguianos foram diplo-
mados, incluindo quatro Presidentes da República e Ministros de Estado. É
muito grande a relação dos judeus brasileiros e descendentes que passaram pela
ESG, de modo que listamos apenas alguns, a título informativo.
Foi Comandante da ESG em 2011-2012 o General de Exército Tulio
Cherem, nascido em Tijucas, Santa Catarina. Em 1960, a família transferiu-se
para Curitiba, onde Cherem cursou o Colégio Militar. Durante a carreira militar
ocupou elevados cargos, passando para a Reserva em 2013.
Prof. Josemar Bezerra Rapôso, Delegado da ADESG no Maranhão. É des-
cendente remoto do cristão-novo Bandeirante Raposo Tavares.
Sarita Schaffel, professora aposentada do CEP – Centro de Estudos de
Pessoal e Forte Duque de Caxias.
Prof. Israel Blajberg – Turma Vontade Nacional – CAEPE 2004 e Turma
Cinquentenário – CLMN – 2007.
A Turma de 2004 fez realizar um Culto Ecumênico pela sua formatura, com
a presença do capelão Naval Pe. João, do Reverendo Dr. Guilherme Cunha e do
Rabino Eliezer Stauber. A porta-bandeira da solenidade de formatura foi a Ten.
Dent. Katie Lee Rosental, como oficial mais moderna da unidade.
577
578 Israel Blajberg
Mais adiante entendi que tínhamos dentro da RF uma pessoa que simboli-
zava tudo isso. Que simbolizava integridade profissional, a competência, enfim,
um exemplo para todos.
E foi justamente por isso que nós resolvemos combinar a Medalha Funcional
com a pessoa de Noé Winkler, criando a Medalha do Mérito Funcional Auditor
Fiscal Noé Winkler. Porque Noé Winkler é, realmente, esse servidor que con-
segue reunir numa só pessoa todas essas qualidades, todas essas virtudes que
servem como modelo, como exemplo para todos nós que trabalhamos no serviço
público.”1
Turma de 19972
CAEPE – Cruzeiro do Sul
▶▶ Patrono: Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva
▶▶ Economista – David Klajmic
▶▶ Engenheiro – Léo Posternak
▶▶ Capitão de Fragata – Alfredo Isaac Naslauski
Civis
N
este capítulo, abordaremos civis que possuem alguma ligação com as
Forças Armadas, seja prestando serviços relevantes, recebendo citações
e condecorações ou participando e promovendo eventos alusivos ao
setor militar nacional.
Marcos Moretzsohn
O engenheiro mineiro Marcos Moretzsohn Renault Coelho descende de David
Moretzsohn Campista (1863-1911), o Ministro da Fazenda que não pôde se can-
didatar a Presidente da República por ser judeu. Uma rua carioca de Botafogo
leva o seu nome.
Marcos é um estudioso da FEB e do Holocausto, e autor da apresenta-
ção de Quero viver... Memória de um ex-morto, livro do sobrevivente Joseph
Nichthauser.
Joseph Nichthauser
Dos portões de Buchenwald Belo Horizonte haveria de brilhar1
1 BLAJBERG, Israel. Título do artigo publicado in memoriam a Joseph Nichthauser (30 nov
1928 – 24 set 2010).
http://www.pletz.com/blog/ dos-portoes-de-buchenwald-belo-horizonte-haveria-de-brilhar/
581
582 Israel Blajberg
Moisés Roitman
O engenheiro Moisés Roitman foi autor do projeto da Casa da FEB, na Rua das
Marrecas n.º 35, na Lapa – Rio de Janeiro, em 16 de julho de 1976, dia em que
se comemora o Desembarque do Primeiro Escalão da FEB na Itália (16/7/1944),
Fundação da ANVFEB (16/7/1963) e inauguração do prédio da Casa da FEB
(16-7-1976)
Jayme Aben-Athar
As Forças Armadas desempenham papel importantíssimo na preservação da
Amazônia brasileira, não só em termos de soberania mas também de apoio. No
passado, o contingente era pequeno e muito se sofria com as doenças tropicais.
Hoje a estrutura militar de saúde é ampla e bem aparelhada, mas nem sem-
pre foi assim, como veremos.
Nesse particular, um grande médico e patriota desempenhou importante
papel no tratamento das doenças que muito afetaram a Amazônia em geral e as
tropas militares em particular.
O médico Jayme Aben-Athar ingressou na Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro no final do século XIX, formando-se em 1902. Ainda acadêmico e
já demonstrando pendores para a pesquisa para atividade de laboratório e
problemas de saúde, ingressou no Instituto de Maguinhos, então dirigido por
Oswaldo Cruz. Isso se constituiu em motivo de orgulho e referência para o
jovem bacteriologista.
No início de 1908, o jornal Folha do Norte 5 anunciava com grande entu-
siasmo a inauguração do Laboratório de Análises e Clínica do doutor Jayme
Aben-Athar. O consultório do médico, que passou a funcionar na Travessa São
▶ ▶ Instituto de Higiene, Seção de Bacteriologia. Dr. Jayme Aben-Athar, Dr. Antonio Magalhães,
microscopista chefe, e demais auxiliares – Belém. Foto integrante da dissertação de mestrado de
Silvio Ferreira Rodrigues.
Matheus, foi considerado como “um progresso entre nós, sobretudo pelos predi-
cados de seu diretor, um dos mais salientes discípulos de Manguinhos”, instituto
“que o último Congresso de Berlim sagrou um dos primeiros do mundo”.
Ao mestre Oswaldo Cruz, Jayme Aben-Athar não poupava elogios. Em
1917, durante a sessão solene realizada pela Sociedade Médica-Cirúrgica em
homenagem à memória de Oswaldo Cruz, Jayme Aben-Athar ressaltou em seu
discurso que o patriotismo era o principal componente do caráter de seu mestre,
dando a entender que era fundamental abraçar esse exemplo. 6
“Por influência de uma educação mal dirigida, até hoje temos vivido quase alhe-
ados das cousas da nossa terra. A nossa cultura está ainda por definir-se nos
lineamentos severos duma teoria científica ou por palpitar (...) Era preciso então
firmar o caráter nacional: Vivemos exclusivamente do reflexo de outra cultura,
animados de sentimentos que não são bem os nossos porque os recebemos já
feitos, de ideais que se desvirtuam porque não os gerou a dor augusta das nossas
necessidades que ainda não chegamos a determinar”.7
6 Homenagem a Oswaldo Cruz: o discurso do Dr. Jayme Aben-Athar. Folha do Norte, 16 mar.
1917.
7 RODRIGUES, Silvio Ferreira, Esculápios tropicais: a institucionalização da medicina no Pará,
1889-1919. Orientador, Aldrin Moura de Figueiredo. Belém, 2008. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-
Graduação em História Social da Amazônia, Belém, 2008.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 585
D.ª Roseana faz questão de enaltecer sua condição de judia e usa seu nome de
família, Aben-Athar, ostentando, com muito orgulho, a Estrela de David em seu
peito, não fora ela neta do médico de renome e especializado em hanseníase, no
tempo em que tratar pacientes dessa moléstia era coisa para abnegados da medi-
cina. A neta soube assimilar o espírito do avô.
Assim, cabe destacar aqui dois trechos de uma fala presidencial alusiva, o
discurso do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimô-
nia de celebração do Dia da Recordação do Holocausto em Recife/PE em 27 de
janeiro de 2010, na Sinagoga Kahal Zur Israel, a mais antiga das três Américas:
Minhas amigas e meus amigos;
Esta é a quinta vez consecutiva em que me encontro com a comunidade judaica
no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto – data instituída
pelas Nações Unidas também há cinco anos, em referência ao dia em que o exér-
cito soviético libertou o campo de extermínio de Auschwitz.
Como vocês sabem, este é o último ano em que participo dessa cerimônia
como Presidente da República – e espero que todos os presidentes que me sucede-
rem também participem todos os anos.
Peço licença para homenagear aqui aquela que se constitui em um dos
importantes símbolos da compaixão e da solidariedade humana: a embaixatriz
Roseana Aben-Athar Kipman. Talvez vocês nem saibam que ela – que carrega
uma Estrela de David no peito – é neta de um judeu, o médico Jayme Aben-
Athar, que dedicou a sua vida aos doentes de hanseníase. Ao aconchegar crian-
ças feridas e, em muitos momentos, até mesmo expor sua vida para salvá-las,
Roseana expressa o papel que a nossa presença no Haiti tem desde antes do ter-
remoto: compaixão, solidariedade e convicção de que os haitianos podem um dia
erguer uma nação que eles mesmos sustentarão.
Uma significativa homenagem foi prestada ao Dr. Aben-Athar, dando o seu
nome honrado à Colônia Jayme Aben-Athar, no estado de Rondônia, no local da
Comunidade Jayme Aben-Athar (Leprosário).
O Dr. Aben-Athar participou do II Congresso Brasileiro de Medicina
Militar, em Porto Alegre/RS, 1959, onde apresentou o trabalho “As doenças
infecciosas e o serviço militar”. Escreveu em coautoria com Ary Scheidt o livro
“Morbus Hansen” em face do código de vantagens.
Felicja Blumenthal
Felicja Blumenthal foi uma grande pianista polonesa judia, nascida em Varsóvia
em 28 de dezembro de 1918. Emigrou para o Brasil em 1942, em meio às atro-
cidades nazistas contra os judeus, que custaram a vida de quase toda a minoria
8 Facebook, A FEB em imagens, citando Clarice fotobiografia, Nádia Battella Gotlib, EdUSP,
2008. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
▶ ▶ Felicja Blumenthal ao piano. The Felicja Blumenthal International Music Festival. http://www.blu-
mentalfestival.com/en/felicja/
Helio Copelman
Prof. Copelman tem estreito relacionamento com a área médica militar. É titular da
Cadeira 24 da Academia, cujo patrono é o Dr. João Câncio Nunes de Mattos, tendo
tomado posse em 23 de maio de 1986. Coordena a Seção de Clínicas Médicas da
ABMM. Foi agraciado com a Medalha da Ordem do Mérito Naval por relevantes
serviços médicos prestados à Marinha do Brasil, em cerimônia na Escola Naval.
Presidiu e coordenou o XXVI Gastroproct, tradicional evento da gastroen-
terologia brasileira, realizado no Centro de Convenções do Colégio Brasileiro
de Cirurgiões/RJ. O encontro contou com o apoio de várias academias médicas
e participação de alguns dos mais renomados especialistas nacionais. Seu livro
Gastroproct II (editora MW Comunicação) foi lançado em noite de autógrafos
no Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Na seção de Clínicas Aplicadas à Medicina o coordenador é o Alte. (Md)
José Luiz de Medeiros Amarante Júnior, e no Conselho Fiscal, presidido pelo
Prof. Dr. Pietro Novellino, um dos membros é o Prof. Dr. Ernesto Maier Rymer.
Meer Gurfinkel
Natural de Yedenitz, Bessarábia, hoje Moldávia. Nasceu em 17 de março de 1921,
tendo imigrado aos 13 anos com os pais para o Brasil. Era o caçula de cinco
irmãos, o último ainda vivo, aos 94 anos. Formou-se pela Faculdade Nacional
10 http://www.blumentalfestival.com/en/felicja/
11 Historiadora, graduada e pós-graduada em História pela Universidade de São
Paulo, que desenvolve pesquisas sobre a questão dos direitos humanos, intolerância,
antissemitismo e outras. http://notícias.uol.com.br/ultimas-notícias/bbc/2015/1/27/projeto-
colhe-depoimentos-ineditos-de-sobreviventes-do-holocausto-no-brasil.htm
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 589
12 Com base nos depoimentos prestados pelo Dr. Salomon Binensztok e arq. Izaac Szulc, netos
de Nute Faiwel Zylbersztajn e sobrinhos de Alter Ber Zylbersztajn, em janeiro de 2013, Rio de
Janeiro/RJ.
590 Israel Blajberg
Jacob Lewin15
“Então, ele foi morar em Jacarepaguá e ampliou os negócios. Ele percebeu que
ele não podia ser refém de um único fornecedor comerciante, logo começou a
diversificá-los. Ele já possuía um nome, conhecimento sobre o assunto, e podia
jogar com isso. Conheceu, em uma de suas andanças, um libanês, o senhor Fuad,
na Rua da Alfândega, dono de uma casa de tecidos. Tecidos melhores do que os
que meu pai vendia para a sua freguesia. Um dia, esse senhor disse ao meu pai:
‘Sabe, seu Jacó, eu tenho um negócio para o senhor. Ganhei uma concorrência,
vou fornecer uniformes para a Intendência e quero que o senhor organize isso
13 Percentual de 0,1 %, compatível com os 40 mil judeus da época, numa população total de 40
milhões, ou seja, 1 cidadão judeu para cada 1.000 habitantes.
14 FRANCO, Celso. Meu Encontro com o Almirante Karl Doenitz, p. 94-98. Paiol de Saudades
– Crônicas. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.
15 Professora Helena Lewin recorda seu pai.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 591
para mim’. Assim, meu pai ficou encarregado de arranjar os alfaiates, tomar
conta da produção, da entrega, do recebimento de dinheiro. Foi na verdade, um
grande salto, uma oportunidade de fazer negócios. Mas havia prazos a cum-
prir, o processo de fabricação dos uniformes demandava várias operações até a
entrega do produto. Mas meu pai nunca desistiu de trabalhar por conta própria,
queria ser dono do próprio nariz. Um pouco recordando a situação anterior da
Polônia em que ele era o dono, o seu pai era o dono. Então ele aproveitou esse
período para economizar, juntar dinheiro e fazer amizades. As amizades dele
também começaram a se diversificar. Ele tinha amigos portugueses, com os quais
ele aprendeu a falar português.”
Noel Nutels
Um médico judeu russo dedica e consagra a sua vida para tratar e cuidar dos
índios da Amazônia:
Noel Nutels – A Majestade do Xingu, segundo Moacyr Scliar. Obra de
1997, com personagens e fatos reais, conta a vida do médico sanitarista que
dedicou sua vida às populações indígenas. Formado em Recife em 1938, era
amigo de Ariano Suassuna, Capiba e Rubem Braga. Foi para o Rio durante a
ditadura Vargas, época em que abundavam intelectuais comunistas. Noel foi
admitido como especialista em malária no SPI – Serviço de Proteção ao Índio,
para trabalhar no Alto Xingu. Mais tarde, indicado por Darcy Ribeiro, chefiou
o SPI.
Noel nasceu em Ananyev, na Ucrânia, em 1913, e faleceu no Rio em 1973.
Ainda menino, chegou ao Brasil com os pais, residindo no Recife/PE. O Serviço
de Unidades Sanitárias Aéreas – SUSA, do Ministério da Saúde, foi criado por
Noel em 1957, levando a saúde pública para a selva amazônica. Publicou cerca
de 50 trabalhos científicos no Brasil e no exterior, e foi professor da UnB e outras
universidades nacionais e estrangeiras.
Nutels contou com apoio da FAB – Força Aérea Brasileira e do CAN –
Correio Aéreo Nacional para as unidades volantes junto às populações rurais
e indígenas para prevenir doenças infecciosas, realizando vacinações em massa
nessas comunidades.
O SUSA operava na rota do CAN combatendo endemias rurais, surtos epi-
dêmicos e a tuberculose entre os índios, pois o SPI nos anos 1960 não atuava
na área da saúde, assim era alta a mortandade indígena no pós-contato, como
ocorreu com os índios Pakaa Nova/RO.
para dedicar-se integralmente a paixão que tinha desde seu bar-mitzvá: colecio-
nar livros raros.
Era membro do Conselho de Curadores da FUNCEB – Fundação Cultural
Exército Brasileiro, onde possuía inúmeros amigos, para o qual foi convidado
pelo diretor Gen. Div. Synésio Scofano Fernandes e pelo presidente do conselho
Roberto Duailibi.
Visitava sempre que podia o acervo cultural do Exército em suas pesquisas. Era
admirador do trabalho educacional do Exército na formação de seus quadros
e na valorização do livro. Sabia do amor do Exército aos livros e a guarda de
documentos que refletem a história do Brasil.16
Aleksander Laks
Presidente da Associação Brasileira dos Sobreviventes do Holocausto
Memórias de um sobrevivente de guerra foi o tema da palestra de Aleksander
Henrik Laks, no Auditório do Centro Cultural Casa da FEB no Rio de Janeiro,
que emocionou os presentes pela intensidade do relato e pela mensagem passada
na palestra. Ao final, o Veterano Tenente Dálvaro José de Oliveira entregou ao
palestrante Aleksander Laks a Medalha Mascarenhas de Moraes, por proposta
do presidente da Casa da FEB, General de Divisão Marcio Rosendo de Melo.
Um coquetel no Salão Nobre encerrou mais uma concorrida tarde cultural, que
integra o já tradicional Ciclo de Encontros febianos, em seu 3.º ano de realização.
▶ ▶ Sr. Aleksander Laks, Veterano Dálvaro e General Marcio Rosendo, presidente da Casa da FEB.
Acervo do autor.
594 Israel Blajberg
Jorge Mautner
Filho de um judeu austríaco e uma iugoslava católica, quase toda a família dos
pais foi executada pelos nazistas.
Em agosto 2012, Jorge Mautner esteve no Midrash, na Rua General Venâncio
Flores n.º 184 – Leblon, para falar sobre “Amálgama do Brasil Universal”, que é
como José Bonifácio de Andrada e Silva definiu o brasileiro, em 1823. O Patriarca
da Independência dizia que a união de raças e culturas era uma das qualidades
mais importantes do brasileiro. Esse foi o tema da palestra que o compositor,
violinista, poeta, escritor e cantor carioca Jorge Mautner fez no Midrash Centro
Cultural, a diversidade de culturas e a facilidade que o brasileiro tem de “abraçar
o diferente”.
“Era 18 de julho de 45. Fui com meu pai assistir ao desfile das tropas que volta-
vam da guerra. Eu tinha 4 anos e passei o tempo todo batendo continência. Isso
habita para sempre meu coração.”
“Diferente dos outros povos e culturas, nós somos a amálgama, essa amál-
gama tão difícil de ser feita”. Com essa frase José Bonifácio definiu o brasileiro,
no século XIX. Segundo Mautner, o multiculturalismo e a multidiversidade
ainda são os primeiros passos para se alcançar essa amálgama do Brasil univer-
sal, que é a absoluta necessidade da humanidade e que nasce de nossa extraor-
dinária originalidade.
No encontro, Mautner fala sobre a peculiar capacidade de o brasileiro aco-
lher o diferente, de se misturar a ele, de incorporar seus atributos, de reinterpre-
tar tudo a cada segundo e, incluindo posições contrárias e opostas, chegar a uma
outra coisa, a um caminho do meio, ao equilíbrio. Uma virtude que, segundo ele,
vem se tornando exemplo para o mundo.
“O processo de ‘brasilificação’ está em avanço no mundo e nosso país é a espe-
rança da sobrevivência da humanidade. O Brasil é o continente indicado há
muito tempo. Todas as profecias falam isso. Rabindranath Tagore (filósofo
indiano) dizia que ‘a civilização superior do amor nascerá no Brasil’. Jacques
Maritain (filósofo francês) dizia que ‘o único lugar onde a justiça e a liberdade
poderão aflorar juntas é o Brasil’. Stefan Zweig escreveu no século XIX o livro
Brasil, o país do futuro. O jornal Time Life publicou em artigo recente: ‘Em breve,
seremos todos brasileiros’”, explica Mautner.
Eliane Velozo
Uma visão original do Brasil na 2.ª Guerra Mundial e o Holocausto
Eliane Velozo é multiartista plástica e fotógrafa. Esteve na Itália, onde refez o
percurso de seu pai, que combateu com a Força Expedicionária Brasileira – FEB
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 595
▶ ▶ 2012 – Vet. Rosenthal, Ten.-Cel. Tavares, Comandante do 10.º Regimento de Infantaria, sediado em
Juiz de Fora, Eliane Velozo e o autor. Acervo do autor.
17 SAN LUCAS, Maria Zali – SBGG. Geriatra e gerontologista. História da geriatria e gerontologia
no Brasil.
18 SCLIAR, Wremyr. Moacyr Scliar, o cidadão.
19 site CMPA
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 597
▶ ▶ 2012 – Sgt. Heleno, pastor voluntário do 11.º Batalhão de Infantaria de Montanha, de São João
d’El Rey. Acervo do autor.
598 Israel Blajberg
▶ ▶ 2012 – 11.º BIMth de São João d’El Rey, núcleo evangélico, que leva o nome do Pastor Soren,
um dos dois únicos capelães militares evangélicos que acompanharam a FEB na Itália. Acervo do
autor.
Marconi Nudelman
Engenheiro, faleceu aos 91 anos em novembro de 2013. O Conselho Diretor
do Clube de Engenharia, por proposta do conselheiro Leizer Lerner, fez
uma homenagem a Marconi em 24 de novembro, com um longo minuto de
silêncio.
Formado pela ENE-UB em 1946, durante a Segunda Guerra Mundial inte-
grou a campanha pela participação nacional no conflito em apoio às Nações
Aliadas contra o Eixo. Ainda estudante e logo após formar-se, trabalhou na
Diretoria de Engenharia no Ministério da Guerra.
Posteriormente, fundou uma empresa que construiu mais de 100 imóveis
residenciais, comerciais e industriais na cidade do Rio de Janeiro.
Foi membro do Conselho Diretor do Clube de Engenharia, sucessivamente
reeleito até o final da vida, e diversas vezes chefe da DTE de Construção. Presidiu
a seção brasileira da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Israel.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 599
Isac Jacubovicz
Isac Jakubovicz foi assessor para assuntos jurídicos e de política aérea inter-
nacional da Comissão de Estudos Relativos à Navegação Aérea Internacional
(CERNAI) do Ministério da Aeronáutica. Durante anos, foi assessor da delega-
ção brasileira na International Civil Aviation Organization (ICAO) – Montreal
– de janeiro de 1974 a agosto de 77.
Foi também juiz do colégio arbitral da Organização de Aviação Civil
Internacional (OACI) e conselheiro do Instituto Histórico-Cultural (INCAER),
tendo sido admitido na Ordem do Mérito Aeronáutico, no grau de Comendador.
Em 22 de janeiro de 1997, foi eleito para ocupar a Cadeira 17 do INCAER,
tendo falecido em 30 de agosto de 1999.
Abrão Lowenthal
Foi presidente da B’nei Brith do Brasil, entidade de direitos humanos e luta
contra o preconceito e antissemitismo.
Em 18 de outubro de 1990, por ocasião de sua 10.ª Convenção Nacional, a
entidade outorgou a Medalha de Direitos Humanos à ANVFEB, pela brava luta
da FEB em prol dos Direitos Humanos, em particular o combate ao nazismo, em
diploma que vai assinado por Lowenthal.
David Gorodovits
Dr. David é engenheiro, foi diretor de Culto Religioso da FIERJ, um ícone da
comunidade judaica carioca, sempre presente nas cerimônias cívicas e ecumê-
nicas, trazendo belas mensagens apreciadas por todos. Entre outras, sua pala-
vra foi ouvida no Monumento Nacional aos Mortos da 2.ª Guerra Mundial, por
ocasião da Vigília da Saudade em 2 de novembro de 2012, com a presença do
Comandante Militar do Leste, Gen. Modesto, na inauguração da Casa da FEB e
em palestras e cultos na ESG. Atualmente, Dr. David é diretor do CHCJ, Centro
de História e Cultural Judaica, situado na ARI em Botafogo – RJ.
Participou do ato inter-religioso no Monumento aos Mortos da 2.ª Guerra
Mundial, a tradicional Vigília da Saudade no Dia de Finados, que contou com
602 Israel Blajberg
Oswaldo Aranha
Oswaldo Aranha foi o artífice da Revolução de 30.
Durante a Segunda Guerra Mundial, como uma das poucas cabeças lúcidas
do governo, insistia para que o Brasil se mantivesse ao lado dos países democrá-
ticos, alinhando-se às forças aliadas.
Apesar dos hábitos afáveis e cavalheirescos da vida diplomática, Oswaldo
Aranha não se separava da sua pistola, nem mesmo na histórica sessão da ONU
em que foi ameaçado de morte caso a partilha da Palestina fosse aprovada.
Oswaldo Aranha marcou época. Não é à toa que existe um prato a ele dedi-
cado, o saboroso filé à Oswaldo Aranha, como também um Grande Prêmio no
Jóquei Clube, uma arborizada e ampla Avenida em Porto Alegre, por coincidência
delimitando o bairro judaico do Bonfim ou, ainda, uma importante rodovia no
Rio Grande do Sul, que corta o estado de Leste a Oeste, de Osório a Uruguaiana,
passando pela cidade de Alegrete, onde nasceu e iniciou sua vitoriosa trajetória
política. A casa de sua família, atualmente, abriga o Museu Oswaldo Aranha e
a melhor escola da região, que leva, merecidamente, seu nome, e guarda com
muito carinho a maior parte de sua vasta biblioteca particular. É lá, em Alegrete,
na vastidão do pampa gaúcho, que será erguido o Memorial Oswaldo Aranha,
belo e arrojado projeto de Oscar Niemeyer.
Oswaldo Aranha desempenhou importante papel na histórica votação de
29 de novembro de 1947, quando as Nações Unidas aprovaram a partilha da
Palestina entre árabes e judeus.
Em 13 de dezembro de 2007, foi realizada uma Sessão Solene no plenário
da Câmara dos Deputados em Brasília, convocada e presidida pelo parlamentar
gaúcho Ibsen Pinheiro e destinada a homenagear a memória de Oswaldo Aranha
por ocasião do 60.º aniversário da Assembleia Geral da ONU, por ele presidida,
que discutiu, votou e aprovou por maioria de 2/3 a partilha da Palestina.
603
604 Israel Blajberg
com vergonha de ter reclamado, por ter sido maltratado nesse campo... Por aí
vocês têm uma ideia... (Palmas intensas)
▶ ▶ 2006 – Cel. Salli Szanferber, Maj. Elza Cansanção Medeiros, Ten. Marcos Galper, Ten.-Cel Mário
Raphael Vannutelli, na cerimônia do 1.º Tiro da Artilharia Brasileira na Itália, no antigo quartel do 21.º
GAC em São Cristóvão – RJ. Acervo pessoal
610 Israel Blajberg
▶ ▶ 1953 – Ignácio Azevedo Amaral, professor da Escola Politécnica e Reitor da Universidade do Brasil.
Apoiava causas ligadas à comunidade israelita e foi um grande incentivador do CPOR, juntamente
com seu fundador, Cel. Correia Lima. Acervo pessoal.
Anexos
F
undada em Resende, a Cidade dos Cadetes do Exército em 1o de março de
1996, aniversário do término da Guerra do Paraguai e do início do ensino
militar na AMAN.
A Academia de História Militar Terrestre do Brasil, ou simplesmente
AHIMTB, desenvolve a História das Forças Terrestres do Brasil: Exército,
Fuzileiros Navais, Infantaria; da Aeronáutica; Polícias e Bombeiros Auxiliares e
outras forças que as antecederam.
Possui sede e foro em Resende, mas de amplitude nacional, tem como
patrono o Duque de Caxias e como patronos de cadeiras historiadores militares
terrestres assinalados, também ilustres chefes militares.
Entre os fatores da escolha de Resende, ressalta ser a AMAN a maior con-
sumidora de assuntos de História Militar que hoje ministra a seus cadetes nos
2.o 3.o e 4.o anos, através de sua cadeira de História Militar, o único núcleo con-
tínuo e dinâmico de estudo e ensino de História Militar no Brasil. A Academia
possui como órgão de divulgação o jornal O Guararapes, já no seu número 40
– que é dirigido a especialistas no assunto e a autoridades com responsabili-
dade de Estado pelo desenvolvimento desse assunto de importância estratégica.
Divulgação que potencializa através de sua home page – já com mais de 700 mil
visitas – www.ahimtb.org.br
A Academia desenvolve seu trabalho e duas dimensões: 1.a – a clássica, como
instrumento de aprendizagem em Arte Militar com vistas ao melhor desempe-
nho constitucional das Forças Terrestres, com apoio em suas experiências passa-
das etc.; 2.ª – com vistas a isolar os mecanismos geradores de confrontos bélicos
externos e internos para que colocados à disposição das lideranças civis estas
evitem futuros confrontos bélicos com todo o seu rosário de graves consequên-
cias para a sociedade civil brasileira.
A Academia vem atuando em escala nacional com representantes em todo
o Brasil em suas várias categorias de sócios
615
616 Israel Blajberg
1 http://www.ebc.com.br/cultura/2013/04/tres-cartas-documentam-o-descobrimento-do-
brasil-e-revelam-detalhes-da-viagem-de
2 FURMAN, Jorge Bastos (eng. Cartógrafo). Boletim “Carta Mensal”, Associação de Cartofilia do
Rio de Janeiro, 6 jul. 2009.
618 Israel Blajberg
Mestre João (João Faras ou João Emeneslau) era espanhol, e a carta foi
escrita em um misto de espanhol e português quinhentista. Como curiosidade,
apresentaremos, também, a versão original.
Texto original:3
Señor
O bacharel mestre Johan fisico e cirurgyano de Vosa Alteza beso vosas reales
manos. Señor porque de todo lo aca pasado largamente escrivieron a vosa alteza
asy arias correa como todos los otros solamente escrevire dos puntos senor ayer
segunda feria que fueron 27 de abril descendimos em terra yo e el, pyloto do capi-
tan moor e el pyloto de Sancho de touar e tomamos el altura del sol al medyodya
e fallamos 56 grados e la sonbra era septentrional por lo qual segund las reglas
del estrolabio jusgamos ser afastados de la equinocial por 17 grados, e por consy-
guiente tener el altura del polo antarctico en 17 grados, segund que es magnifiesto
en el espera e esto es quanto alo uno, por lo qual sabra vosa alteza que todos
los pylotos van adiante de mi en tanto que pero escolar va adiante 150 leguas
e otros mas e otros menos: pero quien disse la verdad non se puede certyficar
fasta que en boa ora allegemos al cabo de boa esperança e ally sabremos quien
va mas cierto ellos con la carta e con el estrolabio: quanto Señor al sytyo desta
terra mande vosa alteza traer un mapamundy que tyene pero vaaz bisagudo e
por ay podrra ver vosa alteza el sytyo desta terra, en pero aquel mapamundy
non certyfica esta terra ser habytada, o no: es napamundi antiguo e ally fallara
vosa alteza escrita tan byen la mina: ayer casy entendimos per aseños que esta
era ysla e que eran quatro e que de otra ysla vyenen aqui almadias a pelear
con ellos e los lleuan catiuos: quanto Señor al otro puncto sabra vosa alteza que
cerca de las estrellas yo he trabajado algo de lo que he podido pero non mucho
a cabsa de una pyerna que tengo mui mala que de una cosadura se me ha fecho
una chaga mayor que la palma de la mano, e tan byen a cabsa de este navio ser
mucho pequeno e mui cargado que non ay lugar pera cosa ninguna solamente
mando a vosa alteza como estan situadas las estrellas del, pero en que grado
esta cada una non lo he podido saber, antes me paresce ser impossible en la mar
tomarse altura de ninguna estrella porque yo trabaje mucho en eso e por poco
que el navio enbalance se yerran quatro o cinco grados de guisa que se non puede
fazer synon en terra, e otro tanto casy digo de las tablas de la India que se non
pueden tomar con ellas sy non con mui mucho trabajo, que si vosa alteza supiese
como desconcertavan todos en las pulgadas reyrya dello mas que del estrolabio
porque desde lisboa ate as canarias unos de otros desconcertavan en muchas pul-
gadas que unos desian mas que otros tres e quatro pulgadas, e otro tanto desde
las canarias ate as yslas de cabo verde, e esto rresguardando todos que el tomar
fuese a una misma ora, de guisa que mas jusgauan quantas pulgadas eran por la
quantydad del camino que les paresçia que avyan andado que non el camino por
las pulgadas: tornando Señor al proposito estas guardas nunca se esconden antes
syenpre andan en derredor sobre el orizonte, e aun esto dudoso que non se qual
de aquellas dos mas baxas sea el polo antartyco, e estas estrellas principalmente
3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Carta_do_Mestre_Jo%C3%A3o
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 619
las de la crus son grandes casy como las del carro, e la estrella del polo antartyco,
o sul es pequena como la del norte e muy clara, e la estrella que esta en riba de
toda la crus es mucho pequena: non quiero mas alargar por non ynportunar a
vosa alteza, saluo que quedo rogando a noso Señor ihesu christo la la vyda e
estado de vosa alteza acresciente como vosa alteza desea. Fecha en uera crus a
primero de maio de 500. pera la mar mejor es regyrse por el altura del sol que
non por ninguna estrella e mejor con estrolabio que non con quadrante nin con
otro ningud estrumento.
Do criado de vosa alteza e voso leal servidor.
Johannes
artium el medicine bachalarius.
Versão do texto:
Senhor:
O bacharel mestre João, físico e cirurgião de Vossa Alteza, beijo vossas reais
mãos. Senhor: porque, de tudo o cá passado, largamente escreveram a Vossa
Alteza, assim Aires Correia como todos os outros, somente escreverei sobre dois
pontos. Senhor: ontem, segunda-feira, que foram 27 de abril, descemos em terra,
eu e o piloto do capitão-mor e o piloto de Sancho de Tovar; tomamos a altura
do sol ao meio-dia e achamos 56 graus, e a sombra era setentrional, pelo que,
segundo as regras do astrolábio, julgamos estar afastados da equinocial por 17°,
e ter por conseguinte a altura do Polo Antártico em 17°, segundo é manifesto na
esfera. E isto é quanto a um dos pontos, pelo que saberá Vossa Alteza que todos
os pilotos vão tanto adiante de mim, que Pero Escolar vai adiante 150 léguas, e
outros mais, e outros menos, mas quem diz a verdade não se pode certificar até
que em boa hora cheguemos ao cabo de Boa Esperança e ali saberemos quem vai
mais certo, se eles com a carta, ou eu com a carta e o astrolábio. Quanto, Senhor,
ao sítio desta terra, mande Vossa Alteza trazer um mapa-múndi que tem Pero
Vaz Bisagudo e por aí poderá ver Vossa Alteza o sítio desta terra; mas aquele
mapa-múndi não certifica se esta terra é habitada ou não; é mapa dos antigos e
ali achará Vossa Alteza escrita também a Mina. Ontem quase entendemos por
acenos que esta era ilha, e que eram quatro, e que doutra ilha vêm aqui almadias
a pelejar com eles e os levam cativos. Quanto, Senhor, ao outro ponto, saberá
Vossa Alteza que, acerca das estrelas, eu tenho trabalhado o que tenho podido,
mas não muito, por causa de uma perna que tenho muito mal, que de uma
coçadura se me fez uma chaga maior que a palma da mão; e também por causa
de este navio ser muito pequeno e estar muito carregado, que não há lugar para
coisa nenhuma. Somente mando a Vossa Alteza como estão situadas as estrelas
do (sul), mas em que grau está cada uma não o pude saber, antes me parece ser
impossível, no mar, tomar-se altura de nenhuma estrela, porque eu trabalhei
muito nisso e, por pouco que o navio balance, se erram quatro ou cinco graus, de
modo que se não pode fazer, senão em terra. E quase outro tanto digo das tábuas
da Índia, que se não podem tomar com elas senão com muitíssimo trabalho, que,
se Vossa Alteza soubesse como desconcertavam todos nas polegadas, riria disto
mais que do astrolábio; porque desde Lisboa até as Canárias desconcertavam
uns dos outros em muitas polegadas, que uns diziam, mais que outros, três e
620 Israel Blajberg
quatro polegadas, e outro tanto desde as Canárias até as ilhas de Cabo Verde, e
isto, tendo todos os cuidados que o tomar fosse a uma mesma hora; de modo que
mais julgavam quantas polegadas eram, pela quantidade do caminho que lhes
parecia terem andado, que não o caminho pelas polegadas. Tornando, Senhor, ao
propósito, estas Guardas nunca se escondem, antes sempre andam ao derredor
sobre o horizonte, e ainda estou em dúvida que não sei qual de aquelas duas
mais baixas seja o pólo antártico; e estas estrelas, principalmente as da Cruz, são
grandes quase como as do Carro; e a estrela do Polo Antártico, ou Sul, é pequena
como a da Norte e muito clara, e a estrela que está em cima de toda a Cruz é
muito pequena. Não quero alargar mais, para não importunar a Vossa Alteza,
salvo que fico rogando a Nosso Senhor Jesus Cristo à vida e estado de Vossa
Alteza acrescente como Vossa Alteza deseja. Feita em Vera Cruz no primeiro
de maio de 1500. Para o mar, melhor é dirigir-se pela altura do sol, que não por
nenhuma estrela; e melhor com astrolábio, que não com quadrante nem com
outro nenhum instrumento.
Do criado de Vossa Alteza e vosso leal servidor.
João
Bacharel em Artes e Medicina.
4 Hebraico: Filhos da Aliança. Organização mundial em prol dos Direitos Humanos fundada em
1843, organizada em lojas, combate o antissemitismo.
5 BLAJBERG, Israel. Soldados que vieram de longe, p.VI e VII.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 621
▶▶ 2008 – Rio – CEP – Forte Duque de Caxias – Presidido pelo Gen. Castro,
então chefe do DEP.
▶ ▶ 2009 – São Paulo – Arquivo Histórico Judaico Brasileiro – Presidido pelo
Cel. Edson Rosa, assistente do Cmt. CMSE Gen. Esper.
▶ ▶ 2009 – Brasília – Durante o XI ENOREx – ACIB – Associação Cultural
Israelita de Brasília – Presidido pelo Dep. Federal Marcelo Itagiba.
▶▶ 2010 – Belo Horizonte – Instituto Histórico Israelita Mineiro – Durante
o XII ENOREx – Presidido pelo Cel. Wilger representando o Gen. Ilidio
Gaspar Cmt. IV RM.
▶▶ 2011 – Porto Alegre – Durante o XXIII Encontro Nacional dos Veteranos
da FEB – No Centro Hebraico Rio-Grandense – Presidido pelo Diretor
do CHR Davi Castiel Menda.
▶▶ 2012 – Campinas – Academia Campinense de Letras – Presidido pela
diretora da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças
Armadas, prof.ª Arita Damasceno Pettená.
▶▶ 2012 – Fortaleza – Livraria Cultura – durante a XIX Convenção Nacional
da SOAMAR Brasil – Presidido pelo Diretor da Ass ExCmb BR Ten. MB
Melchisedech Affonso de Carvalho.
▶ ▶ 2012 – Natal – no IHGRN – Presidido pela delegada da ADESG no Rio
Grande do Norte, Dr.ª Zélia Madruga.
▶ ▶ 2012 – Petrópolis – no IHP – Presidido pelo diretor do IHP Luiz Carlos
Gomes.
▶▶ 2013 – Recife – durante o XIV ENOREx – na Sinagoga-museu Kahal
Zur Israel, a mais antiga das Américas – Presidido pelo Gen. Fernando
Sergio Nunes Ferreira, ChEM representando o Cmt. CMNE Gen. Benzi.
▶▶ 2013 – Manaus – no CIAM – Centro Israelita do Amazonas – durante
o Encontro Regional SOAMAR – Presidido pelo Vice-Alte. Domingos
Savio, Cmt. do 9.º DN.
A tiragem de 1.000 exemplares esgotou-se em 2014, estando o livro dispo-
nível em diversos endereços da internet, em formato PDF, podendo ainda ser
encaminhado por e-mail aos que o solicitarem ao autor.
▶ ▶ 2009 – Lançamento de Soldados que vieram de longe no AHJB em São Paulo/SP, vendo-se o
Veterano Antonio Cruchaki, presidente da Associação dos Veteranos da FEB de São Bernardo do
Campo e sua esposa D.ª Nadir. Acervo do autor.
Norte; Prof. Dr. César Campiani Maximiano, historiador da FEB, prof. Ronney
Citrinowicz, Sema Petragnani, e diversos associados do Arquivo e entidades cul-
turais militares e judaicas.
Na abertura, a Banda de Música do 2.º Batalhão de Polícia do Exército exe-
cutou o Hino Nacional Brasileiro, seguindo-se a execução pelo corneteiro do 2.º
BPE do Toque de Presença de Ex-Combatente, dado encontrarem-se presentes
veteranos da FEB.
A Mesa Diretora estava composta pelo Dr. Jaime Serebrenic, Presidente do
AHJB, Dr. Mauricio Serebrinic, Vice-Presidente do AHJB, Cel. Edison Luiz da
Rosa, Assistente do Comandante Militar do Sudeste e pelo autor.
O evento iniciou-se com a saudação do Dr. Jaime Serebrenic, Presidente
do AHJB ao Dia do Soldado e Semana do Exército, dizendo da satisfação do
Arquivo em prestar esta homenagem ao Exército e aos Veteranos. Agradeceu a
presença das autoridades civis e militares, especialmente a delegação do CPOR,
recordando que ele mesmo é um ex-aluno do CPOR de Salvador, que cursou nos
idos da década de 50.
O autor fez um breve resumo sobre o livro Soldados que vieram de longe,
enfatizando o heroísmo, desprendimento e resgate desta memória após tantas
décadas.
O Cel. Edison Luiz da Rosa, maior autoridade militar presente fez uso da
palavra, recordando ser ele mesmo também um descendente de imigrantes, por-
tugueses. Em brilhante oração, recordou sua terra natal Cruz Alta, e seu pai,
sargento do Exército, de quem herdou o gosto pela carreira das armas.
▶ ▶ 2009 – Lançamento de Soldados que vieram de longe no AHJB em São Paulo/SP, vendo-se o
Veterano da FEB prof. Jacob Gorender. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 625
▶ ▶ 2011 – Lançamento de Soldados que vieram de longe em Porto Alegre/RS, no CHR – Centro
Hebraico Rio-Grandense, vendo-se o autor, Major Ruy Fonseca, Veterano da FEB e o Dr. Jarbas
Milititski, presidente da FIRS. Acervo do autor.
626 Israel Blajberg
▶ ▶ 2011 – Mosaico de fotografias do lançamento de Soldados que vieram de longe em Porto Alegre/
RS, no CHR – Centro Hebraico Rio-Grandense. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 627
▶ ▶ 2011 – Aspecto do público presente ao lançamento de Soldados que vieram de longe em Porto
Alegre/RS, no CHR – Centro Hebraico Rio-Grandense, vendo-se ao fundo a fanfarra do Regimento
Osório – 3.º RCG. Acervo do autor.
▶ ▶ 2011 – Lançamento de Soldados que vieram de longe em Porto Alegre/RS, no CHR – Centro
Hebraico Rio-Grandense, vendo-se o Veterano Ten. Rosenthal, Rabino Binjamini e Israel Blajberg.
Acervo do autor.
Tenente Claudio Bayerle – Brigada Militar do RS, Sr. Vitor L A Santos e Ana
Lucia Nogueira Mestre – Grupo Histórico FEB, Jaboticabal/SP, Sr.ª Clelia Maria
Kreusch Andrade, Diretora Secretaria ANVFEB-SC, Sr.ª Leila Queiroz dos
Santos – diretora ANVFEB Salvador, Sr.ª Maria do Socorro Barros – diretora
ANVFEB-Brasília.
Inúmeros colaboradores tanto contribuíram para o sucesso do evento, como
Albert Poziomyck – FIRS, Eliana Camejo Comunicação Empresarial, Carlos Renato
Pereira Rodrigues – Cerimonial, Claudia Ioschpe – Zero Hora, Cláudia Surita –
Cerimonial, Conib – Confederação Israelita do Brasil, Correio do Povo, Editoria
Arte e Agenda – Zero Hora, Editoria By N9ve – Zero Hora, Editoria Gasparotto –
Jornal O Sul, Editoria Roteiro – Zero Hora, Família Isdra, Fanfarra do Regimento
Osório, Regente Subtenente Carlos Alberto e Mestre 1.º Sargento Maiato, Fernanda
Alfaya Lignon – Recepção, Fernando Albrecht – Jornal do Comércio, FIRS –
Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Gasparotto – Jornal O Sul, Holiday Inn
POA, Instituto Cultural Marc Chagall, Sr. Jaime Spitz – Conib, Sr. Jarbas Milititsky –
FIRS, Juliana Gomes – Recepção, Sr.ª Karen Didio Sasson – Conib, Karina Abrahão
– Comunicações, Cel. Luiz Ernani Caminha – Academia História Militar Terrestre
do Brasil/RS, Marcos Nagelstein – Fotografia, Master Hotéis, Melissa Broncher –
Conib, Ricardo Besen – Conib, Vânia Misura – Holiday Inn Porto Alegre.
▶ ▶ 2012 – Campinas
A Sociedade Amigos da Marinha -– SOAMAR Campinas, presidida pela Sr.ª
Christiane Chuffi, promoveu palestra e lançamento de Soldados que vieram de
longe, em 1.º de março de 2012.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 629
▶ ▶ 1.º de março de 2012 – Lançamento de Soldados que vieram de longe em Campinas – SP. O autor
faz breve alocução sobre o livro, observado pelo Cmt. Ronald dos Santos Santiago, atual Presidente
da Academia Campineira de Letras. Acervo do autor.
▶ ▶ 2012 – Natal
Foi lançado em Natal/RN Soldados que vieram de longe. O evento ocorreu no
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, a mais antiga enti-
dade cultural do Estado, guardião da memória potiguar, na Rua da Conceição
– Cidade Alta.
Foi homenageado na ocasião o veterano da Força Expedicionária Brasileira,
Capitão Severino Gomes de Souza, de 88 anos. O autor foi apresentado pela
Delegada da ADESG no Rio Grande do Norte, Dr.ª Zélia Madruga, e em seguida
discorreu sobre os 70 anos da entrada do Brasil na guerra. A mesa foi composta
pelos Srs. Augusto Maranhão e Fred Nicolau, diretores Secretário e de Ensino
e Pesquisa da Fundação Rampa, Juiz Dr. Carlos Adel de Souza, do IHGRN, o
eminente Rabino João F. Dias de Medeiros, da Sinagoga Braz Palatnik (CIRN
– Centro Israelita do Rio Grande do Norte) e Dr.ª Zélia Madruga, delegada
da ADESG no Rio Grande do Norte. O mestre de cerimônias foi o jornalista
Leonardo Dantas, diretor de Comunicação Social da Fundação Rampa.
Prestigiaram o evento membros da comunidade israelita local, entre os quais
o Vice-Presidente do Conselho Religioso, Sr. Manoel Moura Filho, o Presidente
do CIRN, Carlos Cortez, o eng. Adauto Medeiros, advogado Dr. Dejamiro
Acipreste, integrantes da Fundação Rampa e da SOAMAR, ex-alunos do NPOR
do 16.º BI, como o Dr. Domingos Guará, ex-presidente da Associação, e o Cel.
PMRN REIS, ex-comandante-geral da PM, professores, estudantes e interessa-
dos na História Militar e da FEB.
▶ ▶ 2012 – Lançamento de Soldados que vieram de longe em Natal no Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Norte – IHGRN, vendo-se o autor com o Rabino João Medeiros e o Sr. Manuel
Moura. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 631
▶ ▶ 2012 – Lançamento de Soldados que vieram de longe no Instituto Histórico de Petrópolis/RJ, ven-
do-se o autor, o Rabino A. Binjamini e o presidente do IHP, Luiz Carlos Gomes. Acervo do autor.
▶ ▶ 2012 – Lançamento de Soldados que vieram de longe em Fortaleza/CE, vendo-se o autor e o diretor
da SIC Marlus de Carvalho. Acervo do autor.
632 Israel Blajberg
▶ ▶ 2013 – Lançamento de Soldados que vieram de longe em Recife/PE, na Sinagoga Kahal Zur Israel,
vendo-se o autor, o Secretário de Segurança de Jaboatão dos Guararapes/PE, a diretora da sinagoga,
prof.ª da UFPE Tania Kaufman e o Cel. Antonio Carlos de Souza, Comandante do CPOR de Recife.
Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 633
▶ ▶ 2013 – Lançamento de Soldados que vieram de longe em Recife/PE, na Sinagoga Kahal Zur Israel,
vendo-se o autor com o prof. Marcos Albuquerque, coordenador do Laboratório de Arqueologia da
UFPE. Acervo do autor.
▶▶ 2013 – Lançamento de Soldados que vieram de longe em Recife/PE, na Sinagoga Kahal Zur Israel, ven-
do-se o autor com o Cel. Antonio Carlos de Souza, Comandante do CPOR de Recife/PE. Acervo do autor.
634 Israel Blajberg
▶ ▶ 2013 – Lançamento de Soldados que vieram de longe em Recife/PE, na Sinagoga Kahal Zur Israel,
vendo-se o Gen. Fernando Sergio Nunes Ferreira, chefe do EM do CMNE com o autor. Acervo do autor.
▶ ▶ 2013 – Lançamento de Soldados que vieram de longe no Recife/PE, vendo-se o autor com um
grupo de oficiais e alunos representando os diversos cursos do CPOR. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 635
▶ ▶ Repercussão na imprensa militar e judaica sobre os lançamentos de Soldados que vieram de longe
em diversas cidades. Acervo do autor.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 637
PARÂMETROS INICIAIS
Publicações do Casal Egon e Frieda Wolff
▶ ▶ A odisseia dos judeus do Recife, Centro de Estudos Judaicos da
Universidade de São Paulo. 1979.
▶ ▶ Conferências e comunicações em institutos históricos.
▶ ▶ Crônicas do nosso arquivo.
▶ ▶ Depoimentos.
▶ ▶ Dicionário Biográfico V – Judaísmo e judeus na bibliografia em língua
portuguesa. Rio de Janeiro, Cemitério Comunal Israelita, 1990.
▶ ▶ Fatos históricos e mitos da história dos judeus no Brasil – ensaios, con-
ferências, artigos. Ed. Mateus Kacowicz, Editora Xenon, Rio de Janeiro,
1996. (Prêmio Clio de História 1997, da Academia Paulistana da História)
▶ ▶ Guia histórico-sentimental judaico carioca.
▶ ▶ Judeus em Amsterdã – Seu relacionamento com o Brasil 1600-1620. Rio
de Janeiro, Cemitério Comunal Israelita, 1989.
▶ ▶ Judeus nos primórdios do Brasil República.
▶ ▶ Natal – uma comunidade singular.
▶ ▶ Nossas três vidas e outras histórias.
▶ ▶ O cristão-novo na obra de Carlos G. R. Os judeus no Brasil Imperial.
▶ ▶ Participação e contribuição de judeus ao desenvolvimento do Brasil.
▶ ▶ Quantos judeus estiveram no Brasil Holandês e outros ensaios.
▶ ▶ Sepulturas de israelitas, volumes I, II e III.
▶▶ Revista Shalom, São Paulo – SP, n°. 367, v. VIII – 1°. de maio de 2006, p.
18, Nominata dos homenageados.
▶▶ Boletim ASA, Sem eles não estaríamos aqui, p. 3. Rio de Janeiro, n. 95.
jul./ago. 2005.
▶ ▶ Jornal Vínculo, Ao Ex-Combatente Benedenses e ao Tenente Chahon, p.
2. Rio de Janeiro, AFBNDES, ano 37, n. 731, 17 ago. 2005.
▶▶ Jornal do Centro dos Oficiais da Reserva e Reformados da PM e do
CBMERJ. Especial: Heróis brasileiros judeus, p. 4-5. Rio de Janeiro, ano
15, n. 100, mai. 2005.
▶ ▶ Palestra no IV Encontro Brasileiro de Estudos Judaicos, Judaísmo e
Modernidade: suas múltiplas inter-relações. Programa de Estudos
Judaicos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.
“Combatentes Judeus Brasileiros na Segunda Guerra Mundial – Breve
perfil de quatro heróis”, 11 nov. 2005.
▶ ▶ Palestra no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro. “General de
Divisão Samuel Kicis, Veterano da FEB: A Carreira Exemplar de um
Soldado Brasileiro de Fé Mosaica”, 1.º mai. 2005.
▶▶ Gerações/Brasil, publicação semestral da Sociedade Genealógica Judaica
do Brasil. Marechal Waldemar Levy Cardoso, p. 4, v. 12, fev. 2004.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS9
Obras Gerais: Livros, artigos, dissertações
ALMEIDA, Francisco Inácio. O último secretário – A luta de Salomão Malina. Brasília:
Fundação Astrojildo Pereira, 2002.
BARONE, João. 1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2013.
BENCHIMOL, Samuel. Eretz Amazônia – Os judeus na Amazônia. Manaus: Valer, 2008.
BENTO, Cláudio Moreira. 2010 – 200 Anos da criação da Academia Real Militar à
Academia Militar das Agulhas Negras. Resende: AHIMTB, 2010.
BENTO, Cláudio Moreira. As Forças Armadas e a Marinha Mercante na Segunda Guerra
Mundial. Resende: AHIMTB, 1995.
DUARTE, Paulo de Queiroz. Os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai, v. I. Rio de
Janeiro: BIBLIEX, 1981.
FALBEL, Nachman. Estudos sobre a comunidade judaica no Brasil. São Paulo: FIESP,
1984.
FREIXINHO, Nilton. Instituições em crise – Dutra e Góes Monteiro, duas vidas paralelas.
Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1997.
FREIXINHO, Nilton. O poder permanente da História. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1994.
GENES, Moysés. O 1.º Mandamento. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 2002.
GRIECO, Donatello. Pequena história da descoberta do Brasil. Rio de Janeiro: BIBLIEX,
2002.
9 Durante décadas o autor colecionou extensa bibliografia, da qual citam-se algumas referências.
Foram anos e anos de leitura sobre a temática militar e judaica, permitindo assim organizar esta
obra, a qual se espera que venha a ser significativamente enriquecida futuramente.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 639
Fontes eletrônicas:
▶▶ adesgnacional.blogspot.com
▶▶ chicomiranda.wordpress.com
▶▶ cobrafumando.wordpress.com
▶▶ darozhistoriamilitar.blogspot.com/2009/05/instituto-de-geografia-e-historia.html
▶▶ exalunoscporrecife.org.br
▶▶ folhamilitar.com.br
▶▶ http://www.clubemilitar.com.br
▶▶ http://www.soamar-rio.com.br
▶▶ ighmb.org
▶▶ iisesfeb.blogspot.com
▶▶ segundaguerra.org
▶▶ www.1rm.eb.mil.br
640 Israel Blajberg
▶▶ www.abomi.org.br/academicos.php
▶▶ www.ad1de.eb.mil.br
▶▶ www.adesgrio.org.br
▶▶ www.aecbh.org
▶▶ www.ahimtb.org.br/acamardella.htm
▶▶ www.anvfeb.com.br
▶▶ www.aore.org.br
▶▶ www.aoremaceio.com.br
▶▶ www.arquivojudaicope.org.br
▶▶ www.batalhaosuez.com.br
▶▶ www.bdaamv.eb.mil.br
▶▶ www.bibliex.com.br
▶▶ www.brasilinter.com.br/guerraproscrita
▶▶ www.carlosscliar.com/guerra.htm
▶▶ www.cbmerj.rj.gov.br/
▶▶ www.cdocex.eb.mil.br
▶▶ www.clubemilitar.com.br
▶▶ www.cml.eb.mil.br
▶▶ www.cnor.org.br
▶▶ www.cporrj.ensino.eb.br
▶▶ www.cporsp.ensino.eb.br
▶▶ www.defesa.gov.br
▶▶ www.defesacivil.rj.gov.br
▶▶ www.dep.ensino.eb.br
▶▶ www.dgp.eb.mil.br
▶▶ www.dgp.eb.mil.br/almq1/acesso.asp
▶▶ www.dgp.eb.mil.br/almq1/dcem/almanaqueonline
▶▶ www.ecsbdefesa.com.br/defesa
▶▶ www.egn.mar.mil.br
▶▶ www.exercito.gov.br
▶▶ www.exercito.gov.br/web/resiscomsex/eb-em-revista
▶▶ www.fab.mil.br
▶▶ www.fundacaorampa.com.br
▶▶ www.historiamilitar.com.br
▶▶ www.icomamrio2008.com.br
▶▶ www.incaer.aer.mil.br
▶▶ www.lemp.historia.ufrj.br
▶▶ www.mar.mil.br
▶▶ www.mar.mil.br/sdm/
▶▶ www.museu.cbmerj.rj.gov.br
▶▶ www.policiamilitar.rj.gov.br/biblioteca_pm_nova.php
▶▶ www.revistadehistoria.com.br
▶▶ www.revistanavigator.net
▶▶ www.revistaoperacional.com.br
▶▶ www.rudnei.cunha.nom.br/medalhas/index.html
▶▶ www.saidareta.com.br
▶▶ www.sangueverdeoliva.com.br
▶▶ www.sentandoapua.com.br
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 641
▶▶ www.sgex.eb.mil.br
▶▶ www.siscomsex.exercito.gov.br
▶▶ www.unmultimedia.org
▶▶ www.utv.org.br
▶▶ www.veteranos.org.br
Periódicos:
▶▶ A Defesa Nacional, BIBLIEX, Rio de Janeiro
▶▶ Boletim do AHJB, São Paulo
▶▶ Herança Judaica, Editora B’nei Brith, São Paulo
▶▶ Polonicus, Curitiba
▶▶ Revista Correia Lima, CPOR/RJ
▶▶ Revista da Escola Superior de Guerra, ESG, Rio de Janeiro
▶▶ Revista de Estudos Judaicos, IHIM, Belo Horizonte
▶▶ Revista do Clube Militar, Rio de Janeiro
▶▶ Revista do Exército Brasileiro, BIBLIEX, Rio de Janeiro
▶▶ Revista Marítima Brasileira, DPHDM, Rio de Janeiro
▶▶ Revista Shalom, São Paulo
Documentos:
▶▶ Carta do Coronel José Spangenberg sobre Oswaldo Aranha – 30/3/2010
▶▶ Fé de Ofício do General Samuel Kicis.
▶▶ Wolff, Frieda. Caderno de anotações manuscritas de Fés de Ofício do AHEx
▶▶ Wolff, Frieda. Texto datilografado, Uma colônia agrícola em Resende
▶▶ Gorodovits, David. Discurso Proferido no Monumento Nacional aos Mortos da 2ª
Guerra Mundial em Ato Inter-religioso aos Civis e Militares Brasileiros Mortos nos
Torpedeamentos e Operações Bélicas e Recordatório dos 70 anos da Entrada do
Brasil na 2ª Guerra Mundial (1942-2012)
▶ ▶ Diploma por Ocasião da Passagem da Linha do Equador Durante a II Guerra
Mundial – Relação dos Companheiros de Camarote (Aspirante R/2 Israel Rosenthal)
Almanaques:
▶▶ Almanaque da ADESG, 1950 – 1984
▶▶ Almanaque do Pessoal Militar do Exército, 1974, 1977, 1987
▶▶ Almanaque dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, ESG, 1999
▶▶ Almanaque Quadrimestral dos Oficiais da Aeronáutica, 30 set. 2002
▶▶ Boletim dos Oficiais dos Corpos e Quadros da Marinha, 1977, 2001
▶▶ Livro ITA, 1995
▶▶ Turma Escola Militar de Resende, 28 dez. 1946
▶▶ Octave Schteiberg, sobre seu irmão, o Sargento George Schteinberg da Força Aérea
da França Livre – 7/3/2005
▶ ▶ Paulo Cesar Kullock, sobre seu pai, o Tenente R/2 Pedro Kullock – 2005
▶▶ Professor Mauricio Kischinhevsky, sobre seu pai, o Brigadeiro Médico Waldemar
Kischinhevsky – 2011
▶ ▶ Rachel Niskier, sobre seu tio, o Capitão de Longo Curso Jacob David Niskier
– 21/3/2005
▶▶ Raquel Cerkes, sobre seu pai Tenente Marcos Cerkes – 2004
▶ ▶ Samuel Messod Benzecry (reservista) – 2013
▶▶ Sargento Jacob Perelman – 2005
▶▶ Sargento Moisés Gitz – 26/3/2005
▶▶ Soldado Jacob Gorender – 2005
▶ ▶ Tenente da Marinha Melchisedech Afonso de Carvalho – 17/4/2005
▶▶ Tenente R/2 Dr. Adolpho Hoirisch – 2012
▶▶ Tenente R/2 José Segal – 2010
▶▶ Tenente RM2 Abrahão Rumchinsky – 8/1/2011
▶▶ Tenente RM2 Bernardo Schipper – 2012
▶▶ Tenente RM2 Dawid Aronson – 8/1/2011
▶▶ Tenente RM2 Isaac Huf – 2012
▶ ▶ Tenente RM2 Leizer Lerner – 2014
▶▶ Tenente RM2 Salomão Vainberg – 17/2/2011
▶ ▶ Tenente-Coronel Art. Mario Raphael Vanuttelli – 2008
ARQUIVOS E BIBLIOTECAS
Oficiais:
▶▶ Arquivo Histórico do Exército
▶▶ Arquivo Nacional
▶▶ Biblioteca Coronel Macedo – BIBLIEX – CPHIMEX
▶▶ Biblioteca da Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN
▶▶ Biblioteca da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME
▶▶ Biblioteca da Escola de Guerra Naval – EGN
▶▶ Biblioteca da Escola Superior de Guerra
▶▶ Biblioteca da Marinha – DPHDM
▶▶ Biblioteca do Centro de Instrução Almirante Graça Aranha – CIAGA
▶▶ Biblioteca do INCAER
▶▶ Biblioteca do Ministério da Defesa – MD
▶▶ Biblioteca e Arquivos do Yad vaShem, Jerusalém
▶▶ Biblioteca Franklin Dória – BIBLIEX
▶▶ Biblioteca Lobo Vianna – BIBLIEX
▶▶ Biblioteca Nacional
Privados:
▶▶ Arquivo Histórico Judaico Brasileiro – São Paulo
▶▶ Casa da FEB
▶▶ Clube Militar
▶▶ Lar União (Parte do arquivo de D.ª Frieda Wolff)
644 Israel Blajberg
GLOSSÁRIO DE SIGLAS
A3P – Associação dos Antigos Alunos da Politécnica
ABAL – Associação Brasileira do Artista Lírico
ABL – Academia Brasileira de Letras
ABMM – Associação Brasileira de Medicina Militar
ABMR – Associação Brasileira de Medicina de Reabilitação
ABOMI – Associação Brasileira de Odontologia Militar
ABORE – Associação Brasileira de Oficiais da Reserva
ACIB – Associação Cultural Israelita de Brasília
AD/6 – Artilharia Divisionária do 6.º Batalhão de exército
ADAF – Associação David Frishman
ADEFORM – Associação dos Diplomados da Escola de Formação de Oficiais da Reserva
da Marinha
ADEMI – Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário
ADESG – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra
AFA – Academia da Força Aérea
AFAC – Association Francaise des Anciens Combattants
AGR – Arsenal de Guerra do Rio
AHIMTB – Academia de História Militar Terrestre do Brasil
AHJB – Arquivo Histórico Judaico Brasileiro
AIB – Ação Integralista Brasileira
ALERJ – Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
ALN – Ação Libertadora Nacional
AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras
AMEBRASIL – Associação dos Militares Estaduais do Brasil
AMIRPE/FA – Associação dos Militares da Reserva, Reformados, Pensionistas e
Expedicionários das Forcas Armadas
AMJV – Amigos do Memorial Judaico de Vassouras
AMVERJ – Academia de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro
ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil
ANL – Aliança Nacional Libertadora
ANM – Academia Nacional de Medicina
ANVFEB – Associação Nacional dos Veteranos da FEB
AOPM – Associação dos Oficiais da PM
AORE/RJ – Associação dos Oficiais da Reserva
ARI – Associação Religiosa Israelita
ASA – Associação Sholem Aleichem
AVCFN – Associação dos Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais
BABL – Base Aérea de Belém
BACS – Base Almirante Castro e Silva
BANERJ – Banco do Estado do Rio de Janeiro
BASC – Base Aérea de Santa Cruz
BB – Banco do Brasil
BBC – British Broadcast Corporation
BC – Batalhão de Caçadores
BCC – Batalhão de Carros de Combate
Bda Inf Mtz– Brigada de Infantaria Motorizada
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 645
Postos
▶ ▶ a) Marinha Coronel | Cel.
Tenente-Coronel | Ten.-Cel. ou TC
Almirante | Alte.
Major | Maj.
Almirante de Esquadra | Alte. Esq. ou AE
Capitão | Cap.
Vice-Almirante | V-Alte. ou VA
Contra-Almirante | C-Alte. ou CA 1.º Tenente | 1.º Ten.
Capitão de Mar e Guerra | CMG 2.º Tenente | 2.º Ten.
Capitão de Mar e Guerra Intendente | Aspirante a Oficial | Asp.
CMG (IM)
▶ ▶ c) Aeronáutica
Capitão de Fragata | CF
Capitão de Corveta | CC Marechal do Ar | Mar. Ar
Capitão Tenente | CT Tenente-Brigadeiro do Ar | Ten.-Brig Ar
1.º Tenente | 1.º Ten. ou 1T Major-Brigadeiro | Maj.-Brig.
2.º Tenente | 2.º Ten. ou 2T Brigadeiro | Brig.
Guarda-Marinha | GM Coronel | Cel.
Tenente-Coronel | Ten.-Cel.
▶ ▶ b) Exército Major | Maj.
Marechal Mar Capitão | Cap.
General de Exército | Gen. Ex. 1.º Tenente | 1.º Ten.
General de Divisão | Gen. Div. 2.º Tenente | 2.º Ten.
General de Brigada | Gen. Bda. Aspirante | Asp
654 Israel Blajberg
Graduações
▶ ▶ a) Marinha Segundo Sargento | 2.º Sgt.
Terceiro Sargento | 3.º Sgt.
Aspirante | Asp. Cabo | Cb
Suboficial | SO Soldado | Sd
Primeiro Sargento | 1.º SG
Segundo Sargento | 2.º SG ▶ ▶ c) Aeronáutica
Terceiro Sargento | 3.º SG
Cabo | Cb Cadete | Cad.
Soldado (CFN) | SD Suboficial | SO
Marinheiro | MN Primeiro Sargento | 1S
Segundo Sargento | 2S
▶ ▶ b) Exército Terceiro Sargento | 3S
Cabo | Cb.
Cadete | Cad. Soldado de Primeira Classe | S1
Subtenente | STen.
Primeiro Sargento | 1.º Sgt.
Para identificar o pessoal de cada uma das Forças, quando houver coincidência na deno-
minação do posto ou da graduação, será utilizada, após a respectiva abreviatura, aquela
indicadora da Força, entre parênteses.
Exemplo: Cel. (FAB) João da Silva; Cel. (EB) Antônio de Souza; 1.º Ten. (MB)
Alberto Santos; Cb. (MB) Paulo Gonzaga.
Para os militares de carreira, quando na Reserva Remunerada, acrescenta-se “R/1”
(EB e FAB) ou “(RM1)” (MB), após o posto ou graduação. Em caso de Reserva Não
Remunerada, acrescenta-se “R/2”.
Exemplo: Alte. Esq. (RM1); CMG (RM1-FN); Gen. Ex. R/1; Ten.-Brig Ar R/1; CMG
(RM1); Cel. (EB) R/1; Cel. (FAB) R/1; Ten.-Cel. Av Rfm; 1.º SG (RM1); 1.º Sgt. R/1; 1S R/1.
Estrela de David no Cruzeiro do Sul 655
PERSONALIDADES
Aarão Isaac Benchimol Aron Bergman Claudio Isaac Serruya
Abdon Nunes de Carvalho Aron Felberg Clovis Benchaya Cardoso
Abraão Issac Waisman Aron Zisel Tenenblatt Daniel Cohen
Abraão Kerzner Arthur Dieudonné Haas Daniel Israel
Abraham Jaspan Arthur Lewcovitch Dario Gabai
Abraham Messod Benzecry Arthur Velihovetchi Dario Sion
Abraham Michel Resserman Ary Fleischman David Bizinover
Abrahão Cherpak Ary Jaques Zveiter Averbug David Dahan
Abrahão Datz Ary Roitberg David Feffer
Abrahão Fainguelernt Benjamin Finkielman David Felix Balassiano
Abrahão Lifchitz Benjamin Szwarcwing David Finkielsztein
Abrahão Ramiro Bentes Benjamin Tissenbaum David Fischel
Abrahão Rumchinsky Benjamin Waissmann David Furman
Abrahão Spitzcovsky Benjamin Zymler David Gorodovits
Abrahão Wulf Spigel Bension Akherman David Gryner
Abram Kaczelnik Bernardo Rabinovich David Jacobovitz
Abram Kutwak Bernardo Demenstein David Jacobovitz Netto
Abram Szajman Bernardo Goldvag David Lavinski
Abran Tandeitnik Bernardo Kosminsck David Leon Rodin
Abrão Lowenthal Bernardo Nuzman David Mizrahi
Adelton Gunzburger Bernardo Pochachevsky David Rosenvald
Adio Novak Bernardo Rubinstein David Szpacenkopf
Adolfo Berditchevsky Bernardo Samuel Manela David Szpilman
Adolfo Krutman Bernardo Schipper David Tenengauzer
Adolpho Berezin Bernardo Schnitzer David Ubiratan Weissblum
Adolpho Cohen Grinplascht David Zibenberg
Adolpho Hoirisch Bernardo Stifelman Davis Taublib
Adolpho Milman Bernardo Toledano Vaena Davy Bogomeletz
Adolpho Prais Bertholdo Perecmanis Decio Chvaicer
Adolpho Tuchman Bertholdo Pirim Denis Fred Benzecry
Akiba André Levy Boris Bancovsky Donald Cohen Marques
Alberto Burd Boris Chigris Edgard Buxbaum
Alberto Chahon Boris Gheventer Edidio Guertzenstein
Alberto Chinicz Boris Markenzon Eduardo Horovitz
Alberto Magrisso Boris Munimis Eduardo Stambowski
Alberto Mossé Boris Schnaiderman Efrahim Kopel Meniuk
Alberto Reznik Boris Sitnik Efraim David Cassvan
Alberto Salomão Nigri Borisov Steinberg Eliane Velozo
Alberto Samuel Bruno Meisels Elias Beniste
Alberto Winkler Busi Rosenblit Elias Isaac Benchimol
Aleksander Laks Carleto Bemerguy Elias Niremberg
Alexander Feldmann Carlos Alberto Alhanati Elias Toruzman
Alexandre Cherman Carlos Arthur Nuzman Eliezer Itzhak
Alfredo Nicolau Carlos Gorenstin Eliezer Moises Levy
Altamiro Moyses Zimerfogel Carlos José Tuttman Elio Fischberg
Alter Ber Zylbersztajn Carlos Schwartz Elisa Levy
Ambrozio M. Ezagui Carlos Scliar Emanuel Rottemberg
Amihay Burla Carlos Szerman Emilio Nudelman
Arão Berezovsky Celso Lafer Ernesto Maier Rymer
Arão Gerscovich Chaim Leib Grossman Ernesto Wachsmann
Armando Levy Cardoso Chaskiel Jankiel Orensztajn Ezequiel Rosman
Arnaldo Niskier Clarice Lispector Gurgel Feiga Rebeca Rosenthal
Arnaldo Strosberg Valente Felicja Blumenthal
656 Israel Blajberg