III Elasticidade Da Tecnica Psicanalitica
III Elasticidade Da Tecnica Psicanalitica
III Elasticidade Da Tecnica Psicanalitica
III
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durar dois, três, cinco, dez anos?”, perguntarão muitos pacientes com uma
hostilidade visível. “Tudo isso é possível”, será a nossa resposta. “Mas,
naturalmente, uma análise de dez anos equivale em termos práticos a um
fracasso. Uma vez que nunca se pode apreciar de antemão a importância
das dificuldades a superar, tampouco se pode prometer um resultado certo,
e contentamo-nos em invocar o fato de que em muitos casos são suficientes
períodos muito mais curtos. Mas como você vive na crença, segundo parece,
de que os médicos adoram fazer prognósticos favoráveis e, além disso, como
já certamente ouviu muitas opiniões desfavoráveis sobre a teoria e a técnica
da psicanálise, ou como as escutará daqui a pouco, é preferível que, do seu
ponto de vista, considere este tratamento uma experiencia ousada que lhe
custará muito esforço, tempo e dinheiro; se, apesar de tudo isso, quer tentar
essa experiencia conosco, deve fazê-lo depender, portanto, do grau do seu
sofrimento. Em todo caso, reflita bem antes de começar: começar sem a
intenção séria de perseverar, apesar de agravamentos inevitáveis, só
acrescentará uma nova decepção aquelas que já sofreu.”
É evidente que não penso que o analista deva ser mais do que
modesto; ele tem todo o direito de esperar que a interpretação apoiada na
experiência se confirme mais cedo ou mais tarde, na grande maioria dos
casos, e que o paciente ceda à acumulação de provas. Mas, em todo caso, é
preciso aguardar pacientemente que o doente tome a decisão; toda a
impaciência por parte do médico custa ao doente tempo e dinheiro, e ao
médico uma quantidade de trabalho que teria perfeitamente podido evitar.
base num material justificativo suplementar que se pode, enfim, decidir uma
interpretação.
⁵. Ver os trabalhos sobre a técnica nos volumes III a IV das Obras Completas.
⁶. “O problema do fim da análise”, neste volume.
OBRAS COMPLETAS – ELASTICIDADE DA TÉCNICA PSICANALÍTICA 34
⁷. Entende-se por “metapsicologia”, como todos sabem, a soma de representações que nos
podemos fazer a respeito da estrutura e da energética do aparelho psíquico, com base na
experiência psicanalítica. Ver os trabalhos metapsicológicos de Freud no volume V das
Gesammele Werke (em francês: Métapsychologie, Editions Gallimard).
analista durante a análise. Seus investimentos oscilam entre identificação
(amor objetal analítico), por um lado, e autocontrole ou atividade intelectual,
por outro. No decorrer de sua longa jornada de trabalho, jamais pode
abandonar-se ao prazer de dar livre curso ao seu narcisismo e ao seu
egoísmo, na realidade, e somente na fantasia, por breves momentos. Não
duvido de que tal sobrecarga – que, por outra parte, quase nunca se encontra
na vida – exigirá cedo ou tarde a elaboração de uma higiene particular do
analista.
Privar o “tato” do seu lado místico era justamente o motivo principal que
me levava a escrever este artigo; mas admito ter simplesmente abordado o
problema, sem tê-lo resolvido. No tocante à possibilidade de formular também
conselhos positivos para a avaliação de certas relações dinâmicas típicas, eu
seria talvez um pouco mais otimista do que o meu crítico. Aliás, sua exigência
no que se refere à experiência e à normalidade do analista é virtualmente
equivalente à minha, a saber, que a única base confiável para uma boa
técnica analítica é a análise terminada do analista. É evidente que num
analista bem analisado, os processos de “sentir com” e de avaliação, exigidos
por mim, não se desenrolarão no inconsciente, mas ao nível pré-consciente.