Jagunços Kelly Marise Silveira Durães e Telma Borges

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Kelly Marise Silveira Durães e Telma Borges

JAGUNÇOS1: Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, encanta-nos a cada


leitura pela diversidade de temas e questões que podem ser analisadas. Um dos temas
discorridos por Rosa são os jagunços e a sua atuação no sertão. Este é o enfoque deste
trabalho: analisar o papel dos jagunços no sertão e na ficção de Rosa.Para analisar esses
jagunços é fundamental analisar primordialmente o sertão, já que é nele que eles atuam,
traçam seus objetivos e vivem todos os conflitos. O sertão é figura de notada
importância na ficção de Rosa. Ele é representado de forma bastante peculiar, pois é
dotado de várias significações e não apenas aquela popularmente conhecida de lugar
longe e desabitado.

Os jagunços em Grande sertão: veredas

Os jagunços são personagens dotados de extrema importância em Grande


Sertão: veredas; destacam-se por andar sempre em bandos pelo sertão, onde ocorrem
constantes disputas entre grupos rivais. Rosa retrata nessa narrativa o sistema de
jagunços que vigorou no Brasil no período da Primeira República, cujos representantes
exerciam poder em consonância com o bando aos quais pertenciam.
O pano de fundo do romance é o sertão, área pouco atingida pela civilização.
Essa acepção de sertão pode ser relacionada a uma definição histórico-sociológica; há
uma descrição das pessoas e dos hábitos que elas tinham, com o objetivo de mostrar
como era a vida e o comportamento das pessoas no sertão. Segundo Rayanne Cardoso,
em sua monografia Sertão lugar, sertão homem, sertão linguagem, ser tão sertão: tudo
é e não é; do regional ao universal, existe nesse tipo de definição “a descrição de um
povo, sua situação; descrição de grupos sociais como os jagunços; mas principalmente
pela forte presença dos coronéis.” (CARDOSO, 2012, p. 22). É importante relacionar
esse tipo de acepção à definição sócio histórica, porque o romance narra uma história
que ocorreu no final da República Velha. Para Rayanne Cardoso o romance rosiano

narra um momento histórico quando o poder se concentrava principalmente


nas mãos de quem tinha mais posses, mais carisma e, consequentemente,
mais poderes políticos. Eram então os coronéis o centro do poder, mandavam

1
Verbete produzido por Kelly Marise Silveira Durães. A sua pesquisa resultou na monografia Um sertão
movediço: a ambivalência dos jagunços em “Grande Sertão: Veredas”, defendida em 2013 na
Universidade Estadual de Montes Claros.
e desmandavam em todo e qualquer território do qual se consideravam donos.
(CARDOSO, 2012, p. 22).

Cada bando de jagunços era regido por leis particulares; tinham toda uma ética
que os unia a seu grupo e causava repulsa nos demais. Nesse âmbito, podemos
relacionar o jaguncismo ao banditismo, posto que no sistema jagunço existem bandos de
valentões, de bandidos que lutam pelo poder, que travam uma guerra para fazer valer,
em todo o sertão, as leis que regem seu bando; eles se organizam para conquistar o
poder.
Segundo WilliBolle, o “sistema jagunço é uma grande metáfora para designar o
complexo de violência e miséria, a história dos sofrimentos do povo, a falta de justiça e
de diálogo social.” (BOLLE, 2007, p. 144). Ou seja, sem apoio e sem justiça social, os
jagunços são obrigados a se unir para se organizarem nesse espaço sertão. No âmbito
do romance, a lei se manifesta através da força, das armas, da violência, dos tiros e da
luta constante. Isto é, o que impera no sertão rosiano é a lei do mais forte. Logo no
início do romance Riobaldo nos diz que tiros e guerra são rotineiros no sertão: “O
senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a
latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é
o sertão.” (ROSA, 2001, p. 23). Tiros e lutas são acontecimentos tradicionais; é uma
cultura arraigada ao sertão e é através dessa cultura que a lei se expressa. Quem é mais
forte tem poder sobre os demais e, na tentativa de se organizar, acabam desorganizando
cada vez mais o sertão; é uma vida atribulada, notadamente marcada por “constante
brutalidade” (ROSA, 2001, p. 151).
Ao fazermos uma análise do jaguncismo, é mister destacar a definição expressa
pelo vocábulo jagunço. Segundo o Dicionário Etimológico da língua portuguesa,
jagunço é uma “arma de defesa; o indivíduo que a manipula, cangaceiro, valentão
assalariado.” (CUNHA, 1982, p. 452). No Dicionário Houaiss, jagunço é também
sinônimo de cangaceiro; é criminoso foragido ou qualquer homem violento contratado
como guarda-costas por indivíduo influente (fazendeiro, senhor de engenho, político) e
por este homiziado. Na segunda acepção, esse dicionário menciona o seguidor de
Antônio Conselheiro, personagem histórica da Guerra de Canudos. Em terceiro lugar
aparece “pau armado de uma ponta metálica.” (HOUAISS, 2009, p. 1124).
Como se observa, a palavra surgiu, primeiramente, para designar a arma; no seu
processo evolutivo passou a designar metonimicamente o sujeito que a manipula.
Portanto, o substantivo que designa o jagunço é, antes de tudo, atributo da função que
exerce. Por associação, tornou-se sinônimo de cangaceiro que, por sua vez, significa
“malfeitor fortemente armado que andava em bando pelos sertões do Nordeste,
notadamente ao longo das três primeiras décadas do século XX.” (HOUAISS, 2009, p.
386). Malfeitor, guarda-costas, cangaceiro, valentão, não importa a designação, o fato é
que jagunço não designa apenas uma arma rústica, mas também um sistema paralelo,
com leis próprias, rústico, uma vez que é regido por indivíduos que transformam a força
em lei ou operacionalizam o sistema político de modo privativo. O jagunço é mais que
uma arma ou um bandido; como as definições nos sugerem, o jagunço é a metáfora de
um sistema político e social marcado pela rusticidade e pela luta constante de
elaboração e manutenção de leis peculiares.
O adjetivo homiziado, como atributo comum ao jagunço, deixa claro que suas
ações não são espontâneas, mas previamente deliberadas por aquele que lhe oculta da
justiça, donde se conclui da relação de favor entre o jagunço e seu protetor-mor. É
nítido que as atitudes dos jagunços são moldadas por um protetor, que indica o que eles
devem fazer e em troca os livra do acerto de contas com a justiça, ocultando-os dos
meios legais.
Tomando como referência o contexto da literatura rosiana, Nilce Sant’Anna Martins
define jagunço como “sertanejo integrado num grupo, bandoleiro.” (MARTINS, 2001,
p. 283). Nessa definição estão expressas as ideias de banditismo, dos jagunços
integrados em um bando, que tentam se organizar no sertão e organizar o sertão,
reforçando a percepção de que o jaguncismo é um sistema social típico do espaço
sertão, por oposição ao sistema do Estado orientado, em princípio, pelo que se chama de
Leis abstratas, impessoais, comum a todos. Com essa definição, percebemos a relação
do espaço (sertão) com o homem, sendo que essas leis impessoais e abstratas são os
meios que buscam para garantir a sobrevivência, principal objetivo dos jagunços. Para
Danielle Corpas, “os ditames da ferocidade com que o homem tem que lidar no sertão
se convertem em norma de ferocidade do homem.” (CORPAS, 2007, p. 65). No próprio
romance temos várias definições de jagunço:

Jagunço é homem já meio desistido por si... A calamidade de quente! E o


esbraseado, o estufo, a dor do calor em todos os corpos que a gente tem. Os
cavalos venteando – só se ouvia o resfol deles, cavalanços, e o trabalho
custoso de suas passadas. Nem menos sinal de sombra. Água não havia.
Capim não havia. A debeber os cavalos em cocho armado de couro, e dosar a
meio, eles esticando os pescoços para pedir, eles olhavam como para seus
cascos, mostrando tudo o que cangavam de esforço, e cada restar de bebida
carecia de ser poupado. (ROSA, 2001, p. 67).

Ao utilizar expressões como “desistido”, “quente”, “esbraseado”, o narrador


remete ao sofrimento e ao cansaço pelos quais passavam os jagunços nas travessias do
sertão. Não só os jagunços, mas até os animais, como os cavalos, eram expostos às
mais terríveis situações. Para os cavalos não havia sombra, água e nem capim,
arrastavam-se pelo sertão, cumprindo a rotina sofrida e angustiante da vida sertaneja.
“Jagunço – criatura paga para crimes, impondo o sofrer no quieto arruado dos
outros, matando eroupilhando”. (ROSA, 200, p. 306). Aqui é importante analisarmos o
significado de roupilhar. Segundo Nilce Sant’Anna Martins, é “roubar, pilhar”
(MARTINS, 2001, p. 434). Essa definição assinala o sujeito desistido, ora porque no
espaço onde vive faltam as devidas assistências do Estado, ora porque, foragido da lei,
não tem como ou não pretende mais se integrar socialmente ao sistema, tornando-se,
portanto, um bandido assalariado, o que remete à segunda definição. O jaguncismo
torna-se, portanto, uma alternativa para aqueles que estão na “deslei”. Ao definir o
jagunço, Rosa utiliza da expressão “criatura paga para crimes”; o que nos permite
relacioná-la a uma circunstância histórica, ao coronelismo, sendo que os coronéis
mantinham homens para cumprir suas missões e em troca os livravam de qualquer tipo
de punição.
Nesse âmbito de particularidades, pode ocorrer de haver vários grupos que
atuem no mesmo espaço tentando fazer valer a lei do grupo mais forte. É importante
destacar que nesse sertão era possível encontrar grupos de jagunços dos mais variados
tipos; existiam aqueles que queriam espalhar medo e terror, como os hermógenes e os
cardões; aqueles que queriam lutar por justiça, como os jocaramiros e os zé bebelos, que
queriam extinguir o sistema jagunço. Do ponto de vista da permanência e da fidelidade
a um bando, destaque-se que esse é um princípio bastante relativizado, tendo em vista a
troca de um bando por outro, de acordo com a necessidade ou com mudanças de
estratégias. No âmbito de Grande sertão: veredas, a troca de bando pode alternar o foco
com o qual se vê a personagem, sem que isso signifique o desaparecimento de um modo
de ser ou de agir outrora requisitado. No romance, Riobaldo diz ao narratário e ao leitor:

Um jagunço sai do bando quando quer – só tem que definir a ida e devolver o
que ao chefe ou ao patrão pertence. As armas, eles não devolviam, porque
eram deles; mas, como tinham de primeiro vindo a pé, largavam bem agora
os cavalos. Pegavam era um tanto de matula – trivial de farinha e carne-seca,
e rapadura, para uns três dias, mal. Mesmo assim, era doideira, achei.
(ROSA, 2001, p. 513).

A troca de um bando por outro não pode ser considerada uma questão de
infidelidade, uma vez que a necessidade de mudanças para a manutenção da
sobrevivência é inevitável. Trocar de bando, em alguns casos, é questão estratégica para
a vida tumultuada do sertão. Em relação às alternâncias de bandos, podemos citar
Riobaldo que, primeiramente, integrou o grupo de Zé Bebelo, depois passou a fazer
parte do de Joca Ramiro, bando ao qual Diadorim pertencia e ambos, posteriormente ao
julgamento de Zé Bebelo, se dispersaram e acabaram indo para o bando de Titão Passos.
Ao citarmos o julgamento de Zé Bebelo, é fundamental analisarmos o que ele
significa no que tange à ausência de leis do sertão. A ideia de julgamento permite fazer
uma relação com leis mais abstratas e impessoais. O sertão se torna palco de um
tribunal, para julgarem aquele que, segundo Riobaldo, não poderia ser preso nem
dominado: “Também o que eu não entendia possível era Zé Bebelo preso. Ele não era
criatura que se prende, pessoa coisa de se haver às mãos.” (ROSA, 2001, p. 271).
Riobaldo, ao dizer que Bebelo é pessoa que não se prende, refere-se ao fato de ser um
jagunço letrado, por ter conhecimentos passados por ele. Segundo Riobaldo, Zé Bebelo
era inteligente demais para ser preso.
Para que o julgamento ocorra, Joca Ramiro, o chefão dos jagunços, faz uma
convocação aos jagunços para darem suas opiniões no momento em que Zé Bebelo
fosse julgado. Sô Candelário, Ricardão, Titão Passos, Hermógenes e João Gonhá
participaram de uma das cenas mais marcantes do romance: o julgamento de Zé Bebelo.
Joca Ramiro foi quem propôs o Julgamento de Bebelo, com o intuito de agir sem
injustiça, uma tentativa de instaurar no sertão uma nova forma de organização e de leis.
Antônio Carlos Monteiro de Castro, em seu artigo intitulado “O Tão do sertão –
julgamento e transformação em Grande sertão veredas”, diz que Joca Ramiro, “ao
propor o julgamento, demonstrou outras virtudes necessárias a um Sábio – a renovação
dos costumes e a instauração de uma nova era, e por fim, ao aceitar o banimento,
mostrou flexibilidade política e visão histórica [...]” (CASTRO, 2007, p. 99). Joca
Ramiro mais uma vez espalha sabedoria e bom senso pelos lugares pelos quais passa.
Logo no início, Joca Ramiro dispara: “– ‘Lhe aviso: o senhor pode ser fuzilado,
duma vez. Perdeu a guerra, está prisioneiro nosso... ’” (ROSA, 2001, p. 276). Momento
em que Zé Bebelo não se abate e nem intimida e rebate o grande chefe: “– ‘Com efeito!
Se era para isso, então, para que tanto requifife? ’” (ROSA, 2001, p. 276). Ele achava
que não era necessário julgamento; se o intuito fosse apenas o fuzilamento, este podia
ser feito rapidamente, sem delongas. Esse debate continuaria por horas a fio, afinal
nenhum ia entregar as forças, era o momento de iniciar realmente o julgamento:
“Julgamento, já. Ele mesmo, Joca Ramiro, como de lei, deixava para dar opinião no
fim, baixar sentença. Agora, quem quisesse, podia referir acusação, dos crimes que
houvesse, de todas as ações de Zé Bebelo, seus motivos; e propor condena.” (ROSA,
2001, p. 278), cada qual manifestando seus pontos de vista sobre o que deveria ser feito
com Zé Bebelo; o sertão virou um tribunal e os jagunços transformaram-se em jurados.
Hermógenes começa: “– ‘Acusação, que a gente acha, é que se devia de amarrar
este cujo, feito porco. O sangrante... Ou então botar atravessado no chão, a gente todos
passava a cavalo por riba dele – a ver se vida sobrava, para não sobrar!’” (ROSA, 2001,
p. 279). Este, pactário com o demo, tinha sangue nos olhos. Para ele matar, matar e
matar era a solução mais cabível para todos os problemas. Zé Bebelo tentava rebater
Hermógenes, porém ele continuava:

“– ‘Cachorro que é, bom para a forca. O tanto que ninguém não provocou,
não era inimigo nosso, não se buliu com ele. Assaz que veio, por si, para
matar, para arrasar, com sobejidão de cacundeiros. Dele é este Norte? Veio a
pago do Governo. Mais cachorro que os soldados mesmos... Merece ter vida
não. Acuso é isto, acusação de morte. O diacho, cão!’” (ROSA, 2001, p.
279).

Hermógenes o acusava de ser enviado do Governo para modificar a vida


sertaneja dos jagunços; o acusou de ser homem do governo, que tinha como objetivo
corromper os jagunços e, portanto, a única coisa capaz de puni-lo seria a morte. “Zé
Bebelo, por sua vez, afrontou-o: Porque acusação tem de ser em sensatas palavras – não
é com afrontas de ofensa de insulto...” – Encarou o Hermógenes: “– Homem: não abusa
homem! Não alarga a voz!...” (ROSA, 2001, p. 280). Para Zé Bebelo, é imprescindível,
antes de qualquer acusação, haver indícios concretos, provas reais; deve haver um
embasamento discursivo, sendo impessoal, pois não é permitido acusar tomando como
parâmetro brigas ou desentendimentos particulares. Então, Joca Ramiro, percebendo
que a situação se agravaria, resolveu dar prosseguimento ao julgamento e passou a
palavra para Sô Candelário. Ele, por sua vez, queria resolver a pendência com Zé
Bebelo na faca: “Carece mais de discussão não... Zé Bebelo e eu – nós dois, na faca!...”
(ROSA, 2001, p. 282). Joca Ramiro diz então que a sentença será ao final, que o
momento é de fazer acusação quanto aos crimes; porém Sô Candelário disse que não o
acusaria de crime algum, afinal ele, assim como todos os outros, viera para guerrear e
que, por questão de crime, ele poderia ser solto. Chegou a vez de Ricardão manifestar
sua opinião:

[...] Zé Bebelo veio caçar a gente, no Norte sertão, como mandadeiro de


políticos e do Governo, se diz até que a soldo... A que perdeu, perdeu, mas
deu muita lida, prejuízos. Sérios perigos, em que estivemos; o senhor sabe
bem, compadre Chefe.
[...]
A gente não tem cadeia, tem outro despacho não, que dar a este; só um: é a
misericórdia duma boa bala, de mete-bucha, e a arte está acabada e acertada.
Assim que veio, não sabia que o fim mais fácil é esse? Com os outros, não se
fez? Lei de jagunço é o momento, os menos luxos. (ROSA, 2001, p. 283-
284).

Ricardão comungava da mesma ideia de seu amigo Hermógenes, dizendo que Zé


Bebelo era representante do governo e como pena deveria de morrer, sem nenhuma
misericórdia. Para eles, Zé-Bebelo como pupilo do governo, estava traindo seus
companheiros jagunços, pois estaria mudando de lado, e, portanto, os ideiais defendidos
se tornariam divergentes. Riobaldo, que por sua vez, gostava e defendia Zé Bebelo,
rebateu:

Quem sabe direito o que uma pessoa é? Antes sendo: julgamento é sempre
defeituoso, porque o que a gente julga é o passado. Eh, bê. Mas, para o
escriturado da vida, o julgar não se dispensa; carece? Só que uns peixes têm,
que nadam rio-arriba, da barra às cabeceiras. Lei é lei? Loas! Quem julga, já
morreu. Viver é muito perigoso, mesmo. (ROSA, 2001, p. 285).

Para Riobaldo, Zé Bebelo deveria ser solto, pois ninguém tem o poder de julgar.
Titão Passos concorda com o amigo Sô Candelário: “O que eu acho é que é o seguinte:
que este homem não tem crime constável.” (ROSA, 2001, p. 285). E João Gonhá está de
acordo com ambos: “– meu voto é com o compadre Só Candelário, e com meu amigo
Titão Passos, cada com cada... Tem crime não. Matar não. Eh, diá!...” (ROSA, 2001, p.
286). Ou seja, achavam que não havia nada que pudesse condenar Zé Bebelo à morte.
Antes de Joca Ramiro dar o veredito final, Riobaldo ainda tem a fala:

... A ver. Mas, se a gente der condena de absolvido: soltar este homem Zé
Bebelo, a mãvazias, punido só pela derrota que levou – então, eu acho, é
fama grande. Fama de glória: que primeiro vencemos, e depois soltamos...”
(ROSA, 2001, p. 291).
[...]
Melhor é se ele der a palavra de que vai-s’embora do Estadopara bem longe,
em desde que não fique em terras daqui nem da Bahia... (ROSA, 2001, p.
292).

Após a leitura desse excerto, é de grande valia destacarmos o fato de Zé Bebelo


ter sido desterrado. O exílio, tema bem recorrente na literatura, em Grande sertão:
veredas ocorre no momento em que ele é condenado, porque os jagunços o
consideravam uma pessoa que não pertencia ao sertão: “– ‘O senhor não é do sertão.
Não é da terra...’” (ROSA, 2001, p. 276). No julgamento, Zé Bebelo também foi
acusado de querer modificar o sertão, mudanças estas que seriam culturais e políticas.
Assim, o desterro lhe foi imposto como punição referente às acusações que cabiam a
ele. Vale ressaltar, portanto, os significados etimológicos de exílio e desterro, de acordo
com Antônio Houaiss. Exilio é “o lugar que vive o exilado, lugar longínquo, afastado,
remoto; isolamento do convívio social.” (HOUAISS, 2009, p. 856). Desterro é “saída do
domicílio habitual para outro, dentro ou fora do território nacional, por imposição penal
(degredo) ou voluntariamente; estado de isolamento.” (HOUAISS, 2009, p. 670). Fica
claro, então, que Zé Bebelo teve como pena o isolamento, foi obrigado a exilar-se em
outro lugar bem longe do sertão; a condição para sua absolvição era isolar-se de
qualquer convívio com os sertanejos.
Para Riobaldo, o melhor castigo para Zé Bebelo era ter de ir embora do sertão,
que ficasse bem longe daqueles que o venceram após o soltarem. Zé Bebelo logo
manifestou-se positivamente, dizendo que tinha uns parentes em Goiás, para onde iria e
não colocaria mais os pés no sertão. Joca Ramiro fala a Zé Bebelo que ele fosse embora,
mas enquanto vivo fosse, não ousasse, de forma alguma, retornar àquelas terras. Para
Antônio Carlos Monteiro de Castro,a atitude de Joca Ramiro ao propor deixar Zé
Bebelo ir embora foi muito sublime, típico da pessoa tão sábia que ele era: “Ao garantir
a vida de seu adversário – termo relativo a verso de si – o Grande Chefe confirmou a
benevolência como uma das marcas de Homem Superior.” (CASTRO, 2007, p. 99).
O que podemos perceber com esse julgamento são as divergências ideológicas
que regem os jagunços e podem ser a causa dos conflitos entre os bandos, pois tinham
objetivos distintos e fariam tudo para alcançá-los. Em se tratando de Hermógenes e
Joca Ramiro, que faziam parte do mesmo bando, fica claro que tinham ideias distintas;
o pactário queria a condenação de Zé Bebelo, já o grande chefe o absolveu e permitiu
que fosse embora do sertão, sem qualquer outro tipo de punição. É nesse momento que
Hermógenes se revolta e o grupo cinde, pois ele não aceitou o veredito final de Joca
Ramiro. As ideologias podem divergir até dentro do mesmo grupo, cada vez mais
deixando claro quão conturbada era a vida da jagunçagem.
Posteriormente, Hermógenes arma uma cilada e mata Joca Ramiro, assim como
nos relata Riobaldo:

O Hermógenes distanciou Joca Ramiro de Só Candelário, com falsos


propósitos, conduziu Joca Ramiro no meio de quase só gente dele,
Hermógenes, mais o pessoal do Ricardão. Aí, atiraram em Joca Ramiro, pelas
costas, carga de balas de três revólveres... Joca Ramiro morreu sem sofrer.
(ROSA, 2001, p. 314).

Para tanto, Hermógenes contou com o auxílio Ricardão e de seus homens; estes
uniram-se para armarem a cilada contra Joca Ramiro nos mostrando que, apesar de os
bandos terem cingindo, Hermógenes ainda conseguia encontrar apoio e cumplicidade
em Ricardão, formando assim outro bando, outro grupo: os judas. O crime foi
considerado uma grande traição e teve repercussão enorme, afinal Joca Ramiro era o
grande Chefe, respeitado e admirado por grande parte dos jagunços. O que vai movê-los
daí em diante é o desejo de fazer justiça. Zé Bebelo retorna ao sertão com o intuito de
vingar a morte de Joca Ramiro, a quem admirava muito. Segundo Antônio Carlos
Monteiro de Castro, “ele encontrava uma arte de governar naquele Grande Chefe. O
reconhecimento do Soberano o colocava como um verdadeiro antagonista de um grande
drama, ser valorizador do protagonista.” (CASTRO, 2004, p. 102). Zé Bebelo sempre
levava em conta o Homem Superior que Joca Ramiro era. Apenas nas últimas páginas
do romance, Hermógenes é morto por Diadorim (filho (a) de Joca Ramiro), ao mesmo
tempo em que é morto (a) pelo pactário.
Outro ponto que podemos destacar em Grande sertão: veredas é a menção ao
personagem histórico da guerra de Canudos (BA): Antônio Conselheiro. A guerra teve
como principais causas a miséria e a pobreza pelas quais passavam os sertanejos e
caracteriza a crise da República Velha, cujos governantes não davam as atenções
necessárias às regiões mais distantes. Era um cenário de miséria, opressão, cujos
políticos ajudavam a agravar esta situação, pois eram indiferentes a esse quadro. Para
Felipe Araújo:

Os problemas na área eram, e ainda são, a falta de chuvas que causa a morte
das plantações e rebanhos e o descuido dos governantes locais. Parte deste
esquecimento dos políticos nasceu na época do Coronelismo, criado no
Império. O coronel dispunha de um título oficial de militar e atuava como um
chefe político local, mandando na região como bem entendia. (ARAÚJO,
2010. s. p.).*2

Esses coronéis às vezes eram omissos e acabavam contribuindo para o


sofrimento dos sertanejos. É nesse clima que Antônio Conselheiro oferecia a esses
sertanejos abrigo e melhores condições de vida e, portanto, angariava vários adeptos,
que buscavam maneiras de mudar o quadro no qual se encontravam. No romance de
Rosa encontramos algumas descrições que nos remetem ao líder dessa revolta, além do
cenário descrito ser semelhante àquele descrito por Euclides da Cunha em Os sertões,
quando este apresenta ao leitor a história de Canudos. Cenário de pobreza, miséria,
sofrimento e guerras pelas quais passavam o povo sertanejo. Para WilliBolle “Os
sertões e Grande Sertão: Veredas, cuja matéria histórica comum é a guerra no sertão,
são retratos do Brasil, sob o signo da violência e do crime.” (BOLLE, 2004, p. 91). Em
ambos os casos os jagunços são personagens de destaque; inclusive, vale aqui ressaltar a
definição de jagunço por Euclides da Cunha: “o jagunço é menos teatralmente heróico;
é mais tenaz; é mais resistente; é mais perigoso; é mais forte; é mais duro.” (CUNHA,
2002, p. 153). Isto é, o jagunço é caracterizado não pelo heroísmo dos grandes feitos,
mas pela força, pela vida perigosa e pela resistência que tem ao viver num sertão com
condições de vida tão precárias. O jagunço tem o intuito de acabar com seu adversário,
não importando quais meios (legais ou ilegais) tenha que utilizar.
Quando Riobaldo faz a travessia do Liso do Sussuarão, juntamente com seu
bando, encontra um velho, Antônio Conselheiro, e voltam toda a atenção para a arma
antiga, uma espécie de cajado que esse carregava, o que nos lembra a revolta, pois
segundo Luiz Roncari, “o arcaísmo das armas dos combatentes de Canudos é um fato
ressaltado por todos os testemunhos.” (RONCARI, 2007, p. 92). Atentemo-nos a esta
passagem do romance:

Seria velhacal? Não fio. E isto, que retrato, é devido à estúrdia opinião que
divulgou em mim esse velho homem. Que, por armas de sua personalidade,
só possuía ali era uma faquinha e um facão cego, e um calaboca – Porrete
esse que em parte ocado e recheio de chumbo, por valer até para mortes.
(ROSA, 2001, p. 536).

2
Artigo sobre a guerra de Canudos, disponível em http://www.historiabrasileira.com/brasil-
republica/guerra-de-canudos/.Acesso em: 12 out. 2013.
Com essa descrição da arma do “velho” é notória semelhança entre as armas de
defesa dos jagunços e as dos cangaceiros; afinal o termo jagunço, além de significar o
indivíduo, caracteriza a arma utilizada por ele. Sendo assim, é importante retomar uma
das definições de jagunço expressa pelo Dicionário Houaiss: “jagunço é também
sinônimo de cangaceiro” (HOUAISS, 2009, p.1124). Atentando-nos para a associação
de jagunço a cangaceiro, relacionamos mais uma vez a presença de Antônio
Conselheiro, afinal podemos lembrar dos cangaceiros combatentes de Canudos. O que
se depreende aqui é uma semelhança entre a Guerra de Canudos (BA) e a Guerra do
contestado (SC e PR), pois ambas ocorreram na Primeira República e eram movimentos
considerados messiânicos, pois tinham como líderes algum religioso que ajudaria os
sertanejos a mudarem o quadro de sofrimento e injustiça social.
Euclides da Cunha descreve o episódio de Canudos, cujo líder era Antônio
Conselheiro. Guimarães Rosa, assim como Euclides, discorre sobre experiências
alternativas de leis; ambos descreviam a busca por melhores condições de vida para os
moradores do sertão. Este relatava a Guerra de Canudos, que tinha como objetivo
melhores condições de vida para os habitantes do sertão e aquele apresentava o
jaguncismo como a tentativa de organização desse sertão. Enfim, ambos não
acreditavam no sucesso da República. Nos dois autores há uma filiação de tema, pois
retratam o sertão e os costumes dos sertanejos. Rosa parece dialogar com Euclides e
esse diálogo pode ser percebido pela temática e pela metáfora da presença de Antônio
Conselheiro. Porém, eles se divergem, entre outros aspectos, na maneira como retratam
o sertão. A noção de sertão euclidiano o caracterizava como lugar vasto de vegetação,
com poucas casas e habitantes. Rosa expande a definição, relatando um sertão além de
geográfico, histórico, sociológico e metafísico, mostrando que o sertão é o mundo, está
em todos os lugares, em cada um de nós.
Enfim, para finalizarmos este capítulo, salientamos que o autor de Cordisburgo
usa de características bem peculiares para a construção de suas personagens. Para
retratar essas características dos jagunços, Rosa utiliza de estratégias que estimula o
leitor a se convencer da consistência da sua escrita e da concretude dos elementos por
ele apresentados. Segundo Beth Brait,

como um bruxo que vai dosando as porções que se misturam num mágico
caldeirão, o escritor recorre aos artifícios oferecidos por um código a fim de
engendrar suas criaturas. Quer elas sejam tiradas de sua vivência real ou
imaginária, dos sonhos, dos pesadelos ou das mesquinharias do cotidiano (...)
(BRAIT, 1987, p. 52).
A despeito de ser uma obra ficcional, Rosa apresenta uma história que nos
permite inferir que esteja remetendo a um momento histórico no qual os jagunços eram
personagens reais do nosso sertão.

O coronelismo e a ambivalência dos jagunços em Grande sertão: veredas

É de relevante importância fazermos uma análise do espaço sertão, já que é nele


que os jagunços traçam seu desenho sociológico. No romance temos uma das definições
de sertão como: “O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias.
Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinhozinho de metal...”
(ROSA, 2001, p. 35). Essa definição condiz bastante com a vida dos jagunços, pois
vivem guerreando no sertão para tornar válidas as leis do bando mais forte. E faz
referência à força, o que nos permite relacioná-la à ideia de poder; o sertão era regido
pelos que detinham mais força, mais poder. Em outro momento, Riobaldo define:
“Sertão é o penal, criminal. Sertão é onde homem tem de ter a dura nuca e mão
quadrada.” (ROSA, 2001, p. 126). Sobressair-se-ia nesse sertão quem fosse mais
valente, mais forte, mais corajoso; afinal “ainda que a vida dos jagunços seja
eminentemente coletiva, as soluções finais são sempre individuais.” (SPERBER, 1976,
p. 119). O sistema-jagunço estava em voga no Brasil no período republicano, em fins da
República Velha, e tinha como pano de fundo o sertão. Sertão regido por leis próprias, o
coronelismo, visto como um sistema político, econômico e social que tentava manter a
ordem do espaço sertanejo, através da relação de poder entre os coronéis e seus
agregados. Os coronéis mantinham também uma relação com o governo, pois o
Coronelismo foi um mecanismo de sustentação do poder oligárquico no Brasil a nível
municipal. Segundo Newton Luiz de Miranda e Maria das Graças Drumond Andrade
(2006), os coronéis eram os grandes latifundiários espalhados pelos municípios que
promoviam a fraude eleitoral e a manipulação de votos. Através do clientelismo, isto é,
uma troca de favores, os coronéis exerciam o controle sobre as pessoas mais pobres que
viviam sob sua influência. É bom observar que o poder público estava ausente na
resolução dos problemas sociais. Assim, abria espaço para a atuação dos coronéis, que
promoviam uma política assistencialista, de proteção aos apadrinhados e obtenção de
obras públicas para a região. Em troca, o coronel exigia a fidelidade da população que
era obrigada a votar no candidato de sua preferência. O controle do chamado “curral
eleitoral” era feito pelo coronel através do “voto de cabresto”. Muitas vezes o coronel
recorria à violência para efetivar o controle; enfim, possuía grande poder de barganha
para negociar com o governador de seu estado, reivindicando benefícios para sua região.
Quem tinha mais posses, mais dinheiro ou apenas mais carisma concentrava o poder.
Dessa forma, o poder concentrava-se nas mãos dos coronéis, que dominavam o sertão
econômica e politicamente.
Estudar o coronelismo é fundamental para a compreensão da organização
sertaneja na ficção de Rosa, uma vez que através da análise dos personagens é possível
entender a maneira com se dava, no Brasil, a relação entre os coronéis, os fazendeiros e
os jagunços. A relação dos jagunços era dotada de uma hierarquia específica, posto que
cada bando tinha um chefe que detinha maior poder sobre os demais; eles ditavam as
ordens e os outros jagunços as executavam.
Em Coronelismo, enxada e voto, entretanto, Victor Nunes Leal define o termo
coronelismo da seguinte forma: “o coronelismo é, sobretudo um compromisso, uma
troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente
influência social dos chefes locais, notadamente dos senhores de terra.” (LEAL, 1976,
p. 40). Ou seja, esse fenômeno era subsidiado pelo poder público; era uma relação de
troca de favores entre o governo e os coronéis, sendo esses últimos dominadores do
social, do econômico e da cultura da região. Os coronéis agiam como chefes locais, na
tentativa de organizar e manter a ordem no sertão. Apesar de terem direito ao voto, os
sertanejos, habitantes do interior, tinham o processo eleitoral monitorado e controlado
pelos coronéis; afinal eles ditavam em quem eles deviam votar e estes, por sua vez, com
medo de represálias futuras, acabavam cedendo ou até mesmo eram obrigados a ceder.
Os coronéis tinham metas a serem alcançadas através da troca de favores com o
governo; então, quanto mais votos angariassem mais benefícios teriam. É nesse âmbito
que os coronéis, inclusive usando da violência, obrigavam os sertanejos a votarem em
seus candidatos. Em troca dos benefícios públicos recebidos; os coronéis organizam e
fazem o aliciamento nas eleições. Dessa forma passam a ter também uma função
eleitoral.
É perceptível que o coronelismo é marcado política e culturalmente pela troca de
favores. Para Victor Nunes Leal, assim como para Raymundo Faoro, o coronelismo
ganhará força e atuará a todo vapor no período da Primeira República, fazendo uma
espécie de pacto entre o poder público e o poder privado. Faoro defende que no
coronelismo governa quem tem mais patrimônio. Para ele,

o coronel, antes de ser um líder político, é um líder econômico, não


necessariamente, como se diz sempre, o fazendeiro que manda nos seus
agregados, empregados ou dependentes. O vínculo não obedece a linhas tão
simples, que se traduziriam no mero prolongamento do poder privado na
ordem pública. Segundo esse esquema, o homem rico — o rico por
excelência, na sociedade agrária, o fazendeiro, dono da terra — exerce poder
político, num mecanismo onde o governo será o reflexo do patrimônio
pessoal. (FAORO, 2001, p. 737).

Na perspectiva de Faoro, o coronelismo é embasado em relações de favores


entre o governo, fazendeiros, donos de terra e os sertanejos, mas sempre os coronéis
agindo com liderança política e econômica, agindo como os donos do poder. O coronel
acaba sendo o mediador das trocas de poderes entre o poder público e o poder privado.
Segundo Laurindo Mékie Pereira, em sua dissertação de mestrado, intitulada
Dependência, favores e compromissos: relações sociais e políticas em Montes Claros
nos anos 40 e 50, o “coronel é uma liderança social, política e econômica que se utiliza
de variadas estratégias para conquistar, exercer e manter o seu poder.” (PEREIRA,
2011, p. 61). São vários os artifícios para a manutenção do poder, que podem variar em
troca de favores até a violência, lutas constantes; tudo isso com o fito de legitimar tal o
poder.
Para Maria Isaura Pereira de Queiroz, um “coronel era o elemento-chave para se
saber quais as linhas políticas divisórias entre os grupos e os subgrupos na estrutura
tradicional brasileira.” (QUEIROZ, 1975, p. 156). Sendo assim, é notório que, para
Queiroz, o coronelismo é uma maneira diferente de se manifestar o mandonismo; quem
tinha mais poder fazia valer suas vontades sobre os demais. Ainda para Queiroz,

um “coronel” importante constituía assim uma espécie de elemento


polarizador que servia de ponto de referência para se conhecer a distribuição
dos indivíduos no espaço social, fossem esses seus parentes ou inferiores. A
definição de uma determinada pessoa e da sua situação política tinha no
coronel o seu ponto de referência. (QUEIROZ, 1997, p. 156).

Os coronéis não aparecem em relevância em Grande sertão: veredas. Na linha


de frente das ações para fazer que as leis coronelstas fossem cumpridas. Portanto, era
necessária a presença de jagunços que teriam como objetivo cumprir ordens, fazendo
valer os ideais e as vontades desses coronéis. No romance rosiano, aparecem os
jagunços, homens “livres” que povoam o sertão. Sandra Guardini Vasconcelos defende
que os jagunços do romance oscilam entre capangas e cangaceiros, uma vez que se
aproximavam dos cangaceiros pela vida nômade, sem lugares fixos, posições arraigadas
e se aproximavam dos capangas por serem integrantes do sistema político vigente na
época, sendo então “recriados a partir de dados da realidade. Figuram, portanto, no
romance como uma mistura que, combinando traços de um e outro tipo, resulta num
tipo compósito que retém características dos dois.” (VASCONCELOS, 2002, p. 8). Isto
é, o jagunço é um intermediário entre o capanga e o cangaceiro.
No romance, Riobaldo estava constantemente se deparando com as histórias, os
casos contados por seu padrinho Selorico Mendes; dentre essas histórias vale destacar
aquela que faz referência ao coronelismo:

– Ah, a vida vera é outra, do cidadão do sertão. Política! Tudo política, e


potentes chefias. A pena, que aqui já é terra avinda concorde, roncice de paz,
e sou homem particular. Mas, adiante, por aí arriba, ainda fazendeiro graúdo
se reina mandador – todos donos de agregados valentes, turmas de cabras do
trabuco e na carabina escopetada! (ROSA, 2001, p. 127-128).

Fica claro que Selorico narra a presença de chefes políticos que configuravam a
ordem e a chefia do sertão, fazendeiros de posses (“fazendeiro graúdo”); tinham
companheiros, “agregados valentes”, que cumpriam ordens. Sendo assim, esses
fazendeiros reinavam como mantenedores da ordem sertaneja.
Nesse espaço regido pelo coronelismo estava em voga o “sistema jagunço”. O
jaguncismo é um sistema social típico do espaço sertão que pode ser um ambiente
propício para disputas entre os bandos de jagunços. Para Willi Bole, esse sistema “é o
grande personagem coletivo que constitui o pano de fundo de Grande sertão: veredas: o
corpo político dos donos de terra e gente (...)” (BOLLE, 2004, p. 136). Segundo o autor,
o jagunço, como personagem coletivo, representava todos que povoavam o sertão, os
donos de terra, os políticos, e eles mesmos, os homens livres.
No âmbito de Grande Sertão: veredas, os jagunços são vistos através de
ambivalências. Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa, ambivalência é
“caráter que apresenta dois aspectos ou valores; estado de quem, em determinada
situação, experimenta, ao mesmo tempo, sentimentos opostos.” (FERREIRA, 2001, p.
38). Ou seja, é a oscilação de valores, motivada pelas diferentes situações vividas.
Em Grande sertão: veredas nos deparamos com algumas ambivalências, como
bem e mal, Deus e Diabo, certo e errado, medo e coragem. Elas podem ser vistas de
forma diferenciada, porque dependem do ponto de vista interpretativo de cada leitor e
de cada personagem, o que caracteriza uma das máximas que percorre o romance, qual
seja, “tudo é e não é” (ROSA, 2001, p. 27). Ninguém é totalmente bom ou totalmente
mal, são dois extremos que fazem parte de um mesmo universo, mas nunca podem ser
vistos fora dessa dualidade. Sendo assim, não é possível contemplar apenas uma parte
do todo, mas as várias e por vezes contraditórias faces de um mesmo indivíduo.
Essas ambivalências podem ter cunho social, como a necessidade de se adequar
a um lugar com problemas sociais como a seca, a fome, o abandono e o descaso por
parte do governo, assim como indaga Riobaldo: “Valor de lei! Só assim, davam
tranquilidade boa à gente. Por que o Governo não cuida?!” (ROSA, 2001, p. 14). As
ambivalências propõem uma ideia de travessia, a vida com constantes mudanças; os
personagens se deparando com as “tensões da alma”, vivendo inquietações, indefinições
e oscilações, o que nos leva a inferir que há uma espécie de dialética, de contradições.
Os personagens estão em constante busca de ordenação e organização no mundo.
No plano do romance, essas contradições podem ser provenientes do ambiente
no qual os jagunços estão inseridos, o sertão. Para Sperber, “a entidade sertão é ampla,
tendo tanto de concreto, como de abstrato, tendo tanto de preciso quanto de impreciso,
de indeterminado.” (SPERBER, 1976, p. 114). Ele é um ambiente tumultuado e
conflituoso, no qual os jagunços acabam tendo valores oscilantes, com o fito de
sobressair e alcançar seus objetivos. Eles têm, portanto, que se organizar a partir de
esquemas que variam dependendo da situação. Isso faz com que tais personagens
tenham uma vida ambivalente, assim como afirma Antonio Candido: “o jagunço é,
portanto, aquele que, no sertão, adota uma certa conduta de guerra e aventura
compatível com o meio [...]” (CANDIDO, 2004, p. 113).
Os jagunços são moldados pelo sertão em que vivem. Para Candido, “os homens
são produzidos pelo meio físico. O Sertão os encaminha e desencaminha” (CANDIDO,
2006, p. 117). Eles se adaptavam às condições de vida do sertão. Nesse âmbito, é válido
destacar o episódio da travessia do Liso do Sussuarão, momento no qual os jagunços se
deparam com a fome, a sede e não tinham nada para saciar suas necessidades. É nesse
momento, já fracos, que encontram o que pensaram ser um um macaco e optaram por
matá-lo para saciar a fome: “Com outros nossos padecimentos, os homens tramavam
zuretados de fome – caça não achávamos – até que tombaram à bala um macaco
vultoso, destrincharam, quartearam e estavam comendo.” (ROSA, 2001, p. 70). Não
obstante, tiveram grande surpresa, pois não encontraram o rabo do macaco: “Era
homem humano, morador, um chamado José dos Alves! Mãe dele veio de aviso,
chorando e explicando: era criaturo de Deus, que nu por falta de roupa...” (ROSA, 2001,
p. 70). Assim, desolados, todos começaram a passar mal: “Não se achou graça. Não,
mais não comeram, não puderam. Para acompanhar, nem farinha não tinham. E eu
lancei. Outros também vomitavam. A mulher rogava. Medeiro Vaz se prostrou, com
febre, diversos perrengavam.” (ROSA, 2001, p. 70).
A fome fez com que eles matassem um ser humano achando que era um macaco;
a necessidade de lutar pela sobrevivência falou mais alto; as condições adversas do
sertão acabaram condicionando-os a tentarem adaptar-se a ela, pois só assim teriam
chance de resistir, de continuar vivendo. Depois de descoberto o engano, muitos
jagunços temiam as doenças provenientes da carne humana: “Depois Medeiro Vaz
passou mal, outros tinham dores, pensaram que carne de gente envenenava.” (ROSA,
2001, p. 71).
Podemos considerar um episódio de canibalismo em Grande sertão: veredas,
pois há uma prática de consumo de carne humana. Na concepção de Eliane Knorr de
Carvalho, em seu artigo “Canibalismo e antropofagia: do consumo a sociabilidade”, “o
termo canibalismo é usado mais frequentemente, com relação ao ato de comer a carne
para saciar a fome ou uma vontade...”. (CARVALHO, 2008, p. 1). É o que ocorre no
romance rosiano, posto que os jagunços mataram o homem, mesmo que enganados,
com o intuito de saciar a fome que eles tinham. Assim era vida sertaneja, valia de tudo
para viver; luta constante pela sobrevivência. Ainda na concepção de Carvalho, agora
em sua dissertação de mestrado Canibalismo e normalização, “nas situações em que o
canibalismo foi impulsionado pela fome existe certa compaixão com os canibais. Eles
acabam sendo vistos como vítimas de circunstâncias sempre traumáticas.”
(CARVALHO, 2008, p. 63-64). Ou seja, a prática canibal em alguns casos, como em
Grande sertão: veredas, pode ser motivada por situações extremas, por momentos nos
quais o canibalismo é a única alternativa para não se padecer de fome. O que se
depreende aqui é que a própria noção de civilidade é inconstante, é relativizada. Vale
ressaltar que essa noção de vítima só é válida quando o canibalismo é motivado por
situações em que a vontade própria não prevalece, quando não há controle sobre as
ações; qualquer outra motivação para tal prática é injustificável, assim como conclui
Carvalho:
o canibal enquanto vítima é suportável, pois a vítima não tem vontade, ela é
submetida à uma situação arbitrária fora seu eu controle. Qualquer elemento
de desejo é anulado quando se confere a alguém esta condição. Mas se por
algum outro motivo que não for de extrema necessidade [...] estas pessoas
voltarem a praticar o canibalismo, perdem o seu status de vítima, e passam a
ser consideradas loucas, criminosas, monstruosas, anormais. (CARVALHO,
2008, p.64).

Outro importante ponto a ser mencionado em Grande sertão: veredas é que o


jagunço de Rosa oscila entre o herói e o capanga – o homem de guerra. Herói porque
mesmo desorganizando o sertão, tenta organizá-lo através de estratégias particulares. De
acordo com o Minidicionário da Língua Portuguesa, capanga é “o valentão posto a
serviço de quem lhe paga; guarda-costas, cabra, jagunço.” (FERREIRA, 2001, p. 128).
Sendo assim, o jagunço é também aquele que cumpre ordens de quem lhe mantém
financeiramente; é o cabra que vive e está sempre pronto para guerrear no sertão.
Essa ambivalência e fluidez da vida dos jagunços rosianos pode ser percebida
através da oscilação entre polos, como bem e mal, Deus e Diabo; alternância de bandos;
diferenças de anseios e convicções durante o desenrolar do romance e por todas as
grandes inquietudes e tensões humanas que agitavam a vida dos jagunços.
Um dos personagens que se destaca pela vida ambígua é Zé Bebelo, um misto de
jagunço e aspirante a político: “Zé-Bebelo quis ser político, mas teve e não teve sorte:
raposa que demorou.” (ROSA, 2001, p. 33). Seu jeito astuto de ser, suas habilidades de
enganar falharam; a astúcia necessária lhe faltou e não conseguiu se fazer político.
Nesse enfoque, é importante analisarmos a simbologia do termo raposa. Jean Chevalier
e Alain Gheerbrant, em Dicionário de Símbolos citam GermaineDieterlen, que define a
raposa como “independente, mas satisfeita com a existência; ativa, inventiva, mas ao
mesmo tempo destruidora; audaciosa, mas medrosa; inquieta, astuciosa, porém
desenvolta, ela encarna as contradições inerentes à natureza humana.” (DIETERLEN,
apud CHEVALIER; GHEERBRANT, 1999, p. 769). Essa simbologia de raposa
adequa-se ao personagem Zé Bebelo, uma vez que ele é marcado por uma vida
ambivalente; é um jagunço cheio de opostos que fazem parte dos seres humanos. Zé
Bebelo, apesar do seu gosto pela política tipicamente de Estado, pois pretendia ser
deputado, acabou se transformando em chefe de jagunços, mas sempre ocupando posto
de liderança, comandando os bandos aos quais pertencia: “Ah, Zé Bebelo era o do duro.
Atirava e tanto com qualquer quilate de arma, sempre certeira a pontaria, laçava e
campeava feito um todo vaqueiro, amansava animal de maior brabeza...” (ROSA, 2001,
p. 146).
Zé Bebelo ou José Rebelo Adro Antunes é um jagunço de grande destaque no
romance de Rosa; uma de suas características marcantes era a vontade de modernizar o
sertão, trazendo a ordem embasada em leis abstratas; desejava a vinda da civilização e
para isso era necessário que acabasse com a jagunçagem e consequentemente com a
vida desordenada em que viviam: “... Zé Bebelo, que esses projetos ouvisse, ligeiro logo
era capaz de ficar cheio de influência: exclamar que assim era assim mesmo, para se
transformar aquele sertão inteiro do interior, com benfeitorias, para um bom Governo,
para esse ô-Brasil!” (ROSA, 2001, p. 432).
Durante a narrativa integrou e defendeu mais de um bando, fundindo grupos que
antes eram rivais, os zé-bebelos e os joca-ramiros, assim como se percebe no trecho:
“Meu nome d’ora por diante vai ser ah-ohah o de Zé Bebelo Vaz Ramiro! Como
confiança só tenho em vocês, companheiros, meus amigos: zé-bebelos!” (ROSA, 2001,
p. 126). Essa fusão aconteceu como estratégia para vingar a morte de Joca Ramiro,
morto pelo traidor Hermógenes. Fica perceptível, então, a máxima “tudo é e não é”
(ROSA, 2001, p. 27), uma vez que grupos que eram rivais tornam-se aliados em prol de
um ideal comum. Eram inimigos, não são mais. O que conta daí por diante é o desejo
comum de fazerem justiça ao chefe maior, morto pelas mãos daquele de quem se
considerava amigo.
Enfim, nesse universo de reversibilidades, parece não haver espaço para
posições fixas e arraigadas. Ser jagunço, político ou amigo é uma questão de
circunstância, de ponto de vista, de necessidade. Podemos finalizar este capítulo
dizendo que a vida dos jagunços é norteada, de maneira geral, por sentimentos e valores
ambíguos e oscilantes.

Diadorim e Riobaldo: jagunços em destaque no sertão rosiano

Este item consiste em estudar o comportamento dos jagunços


Reinaldo/Diadorim e Riobaldo, analisando-os individualmente e a relação que mantêm
um com o outro, que é por si só uma relação marcada por incertezas, indefinições e
ambivalências.
Primeiramente enfatizaremos Reinaldo/Diadorim, jagunço que povoa o romance
e o sertão através de dupla identidade. Durante a narrativa há uma oscilação entre a
valentia de ser jagunço e a delicadeza dos traços e comportamento de uma mulher, de
uma donzela percebida, entre outros aspectos, através de sua relação tão próxima e
afetiva com Riobaldo, como é notório a seguir: “Aí, entendi o que pra verdade: que
Diadorim me queria tanto bem, que o ciúme dele por mim também se alteava.” (ROSA,
2001, p. 53). Essa passagem sugere a relação entre um homem e uma mulher, uma vez
que, naquela época, as peculiaridades de homem e mulher eram bem determinadas no
sertão. Porém, trata-se apenas de sugestões e pistas que o romance nos dá.
Inicialmente é importante retomarmos uma das definições do vocábulo jagunço.
de acordo com o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, no qual jagunço é
“arma de defesa; o indivíduo que a manipula, cangaceiro, valentão assalariado”
(CUNHA, 1982, p. 452); com o intuito de compará-la à definição do vocábulo donzela.
Tendo como referência bibliográfica o Minidicionário da Língua Portuguesa, donzela é
“mulher moça, nobre, mulher virgem.” (FERREIRA, 2001, p. 245). É evidente que as
definições expressas pelos vocábulos são bastante antitéticas, opostas. Essas antíteses já
nos permitem inferir a vida ambivalente de Diadorim.
No desenrolar dos fatos do romance, apesar de se apresentar sempre como
homem, Diadorim às vezes é descrito com habilidades consideradas primordialmente
femininas, assim como é notório a seguir:

Diadorim estava me esperando. Ele tinha lavado minha roupa: duas camisas e
um paletó e uma calça, e outra camisa, nova, de bulgariana. Às vezes eu
lavava a roupa, nossa; mas quase mais quem fazia isso era Diadorim. Porque
eu achava tal serviço o pior de todos, e também Diadorim praticava com mais
jeito, mão melhor. (ROSA, 2001, p. 51).
É fundamental analisarmos a expressão “mão melhor”, utilizada na passagem
anterior, uma vez que ao utilizá-la Guimarães Rosa deixa transparecer o caráter
ambíguo da personagem Diadorim. Uma leitura rápida permite a construção “mão
molher”, em que a mudança de um fonema dentro de uma mesma palavra, a metátese
das vogais “e” e “o” sugere outro significado, permitindo inferir a forma “mão de
mulher”, propícia para os afazeres domésticos, para os dotes femininos, o que reforça a
dualidade da personagem, que não é notada apenas no plano interpretativo, mas também
se manifesta no plano da escrita.
O próprio nome Diadorim sugere traços femininos, provenientes de nomes de
mulheres, sonora e graficamente parecidos, como Diadorinha – Diadora – Deadora.
Diadorim, durante toda a narrativa, é apresentado como homem, salvo algumas pistas
para as quais precisamos estar muito atentos; apenas no final do romance sua identidade
de mulher é apresentada ao narratário – o doutor da cidade – e ao leitor. Para Antonio
Candido, “Diadorim é uma experiência reversível que une fasto e nefasto, lícito e ilícito,
sendo ele próprio duplo na sua condição.” (CANDIDO, 2006, p. 115). Ainda para
Candido, em seu estudo “Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa”, temos a
seguinte definição para jagunço:

O jagunço oscila entre o cavaleiro e o bandido, tudo se unindo no fecho de


abóboda que é a mulher-homem Diadorim, cujo nome se forma ele próprio
por um deslizamento imperceptível e reversível entre masculino e feminino,
justificado pelos hábitos fonéticos do homem rural: Deodoro
<>Diadoro<>Diadorinho<> Diadorim <>Diadorinha<> (Deodorina)
<>Diadora<>Deodora. (CANDIDO, 2004, p.162).

Além disso, esse mesmo nome – Diadorim – sugere outra ambivalência, afinal
podemos relacioná-lo tanto ao que é divino quanto ao que é demoníaco. De acordo com
Sperber, “Diadorim pode ser Di, [...] da raiz latina, que confere a Diadorim uma
identificação com a divindade. Diadorim também pode ser ‘Diá’, [...] entidade maligna,
o ‘outro’ o ‘Que-diga’, o ‘Diabo’.” (SPERBER, 1976, p. 112-113).
Em síntese, os costumes, os traços físicos, os hábitos, a grafia e a sonoridade do
nome de Diadorim fazem dele (a) um ser oscilante entre o que é feminino e o que é
masculino. Esse é um grande enigma que povoa a narrativa rosiana.
Agora, é de grande relevância atentar para as pistas que sugerem a identidade
feminina de Diadorim, em contraponto àquelas em que a identidade de jagunço é
ressaltada, mostrando cada vez mais as oscilações de Diadorim entre o jagunço e a
donzela.
Diadorim (Reinaldo) e Riobaldo tinham uma relação muito íntima,
ultrapassando os limites da amizade e companheirismo de jagunços. Diadorim via a
vida no sertão com mais sensibilidade; valorizava, entre outras coisas, a beleza dos
pássaros, enquanto Riobaldo era mais frio, alheio; não reparava em tais detalhes.
Diadorim o ensina a ver o sertão com outros olhos, assim como é perceptível na
passagem a seguir:

Mas, melhor de todos – conforme o Reinaldo disse-o que é o passarim mais


bonito e engraçadinho de rio-abaixo e rio-acima: o que se chama o
manuelzinho-da-crôa. Até aquela ocasião, eu nunca tinha ouvido dizer de se
parar apreciando, por prazer de enfeite, a vida mera deles pássaros, em seu
começar e descomeçar dos voos e pousação. Mas Diadorim me ensinou.
(ROSA, 2001, p. 159).

A relação de Riobaldo e Reinaldo era tão singular, tão afetiva, que chegaram a
fazer o que podemos chamar “pacto de amor”, quando Reinaldo faz a grande revelação
do verdadeiro nome: “– ‘Pois então: o meu nome, verdadeiro, é Diadorim... Guarda este
meu segredo. Sempre, quando sozinhos a genteestiver, é de Diadorim que você deve de
me chamar, digo e peço,Riobaldo... ’” (ROSA, 2001, p. 172). No momento em que
Diadorim faz essa revelação, Riobaldo entende que esse segredo significaria ter que
cuidar dele e o proteger sempre, dando pistas de que ele era um ser sensível, que
necessitava de cuidado e carinho, assim como é notório neste excerto do próprio
romance:

Adivinhei o que nós dois queríamos – logo eu disse: – “Diadorim...


Diadorim!” com uma força de afeição. Ele sério sorriu. E eu gostava dele,
gostava, gostava. Aí tive o fervor de que ele carecesse de minha proteção,
toda a vida: eu terçando, garantindo, punindo por ele. Ao mais os olhos me
perturbavam; mas sendo que não me enfraqueciam. Diadorim. (ROSA, 2001,
p. 172).

Afeto, confiança e carinho são demonstrados nas conversas entre Diadorim e


Riobaldo, elementos da relação entre homem e mulher, nos fazendo imaginar, pensar,
inferir e relacionar Diadorim a características essencialmente femininas. Já dizia
Riobaldo: “Amor vem de amor. Digo. Em Diadorim, penso também – mas Diadorim é a
minha neblina [...]” (ROSA, 2001, p. 40). Não foi à toa que Rosa utilizou essa metáfora
da neblina; quis deixar claro ao leitor que o sentimento que os unia ela obscuro, turvo,
duvidoso, incerto. Segundo Ivana Ferrante Rebello, essa metáfora “diz-nos de uma
transparência impossível [...]” (REBELLO, 2011, p. 77), Diadorim era envolto de um
mistério, de um enigma difícil de ser decifrado:

Diadorim permanecerá, mesmo depois de fechado o livro, como metáfora de


um ser insondável e nebuloso, o signo do feminino deslocado no mundo
jagunço, sendo homem e mulher ao mesmo tempo, flor também, mas em que,
primeiramente, se inscreve o signo da pedra. (REBELLO, 2011, p. 77).

É fundamental nos atentarmos para a visão que Riobaldo tinha de Diadorim, o


que além de nos dar pistas da sua ambivalência, nos mostra as inquietações e dúvidas do
narrador. Riobaldo enxerga Diadorim de forma bastante subjetiva, o que lhe causa
estranheza, pois não podia sentir o que sentia por um “macho”, alguém do mesmo sexo
que o seu. Além do mais, ele podia relacionar-se com duas mulheres, Nhorinhá,
prostituta que estava sempre pronta para satisfazê-lo sexualmente, e Otacília, pronta se
para casar, era aquela que tinha os dons dos afazeres domésticos e para a maternidade.
Mas mesmo assim ainda sentia algo inexplicável pelo amigo Diadorim, que tomava
conta dos seus pensamentos, como se pode perceber a seguir:
Conforme pensei em Diadorim. Só pensava era nele. Um João-de-barro
cantou. Eu queria morrer pensando em meu amigo Diadorim, mano-oh-mão,
que estava na Serra do Pau d´Arco, quase na divisa baiana, com nossa outra
metade dos sôcandelários... Com meu amigo Diadorim me abraçava,
sentimento meu ia-voava reto para ele... Ai, arre, mas: que essa minha boca
não tem ordem nenhuma. Eu estou contando fora, coisas divagadas. (ROSA,
2001, p. 37).

Riobaldo relata ao leitor que num dado momento quando pensou em Diadorim
um João-de-Barro ecoou seu canto. Esse pássaro é conhecido por construir sua casa no
alto das árvores para proteger sua fêmea. O João-de-Barro, quando encontra sua fêmea,
não separa jamais, é uma aliança eterna, que não se desfaz. Pode-se inferir, portanto,
que o principal anseio de Riobaldo era proteger e estar para sempre ao lado de
Diadorim.
É fundamental nos atermos à expressão “mano-oh-mão”, utilizada no trecho
anterior. Uma leitura desatenta pode nos permitir a construção “homão”, indicando que
Diadorim era, por outro lado, um homenzarrão, com características bem viris, que o
definia como macho. Isso só nos mostra, mais uma vez, o quanto Diadorim/Reinaldo
era ambíguo e enigmático.
Desde o primeiro momento em que Riobaldo viu Diadorim, na infância,
atravessando o rio, quando este o ensinou a ser mais forte, mais valente, algo estranho
se manifestou dentro dele; um sentimento muito forte e sem qualquer explicação
plausível, o que movia Riobaldo era a vontade de estar junto de Diadorim, de poder
senti-lo, abraçá-lo, independente de qualquer circunstância ou de explicação para tal
sentimento. Atentemo-nos para os desejos que Riobaldo apresenta ao leitor: “Que
mesmo, no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de empapar todas as folhagens, e
eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as
muitas demais vezes, sempre...” (ROSA, 2001, p. 55). O que fica explícito, então, é o
grande amor de Riobaldo por Diadorim; amor que o afligia e vem a entender quando
Diadorim foi morto por Hermógenes e há a grande revelação da sua identidade de
mulher.
No romance, Riobaldo conta ao interlocutor sobre seu segundo encontro com o
Menino, com Reinaldo. Através de como o descreve podemos inferir que seja uma
descrição de alguém pertencente ao sexo feminino, uma vez que os traços descritos,
finos e “afiladinhos”, são mais característicos das mulheres. A descrição feita por
Riobaldo é muito sutil e delicada. Além disso, Riobaldo manifesta o desejo de ir abraçá-
lo, mas hesita por falta de coragem, posto que estava ansiando correr, abraçar e sentir
alguém do mesmo sexo que o seu:

Os olhos verdes, semelhantes grandes, o lembrável das compridas pestanas, a


boca melhor bonita, o nariz fino, afiladinho. Arvoamento desses, a gente
estatela e não entende; que dirá o senhor, eu contando só assim? Eu queria ir
para ele, para abraço, mas minhas coragens não deram. (ROSA, 2001, p.154).

Reinaldo, Diadorim, o próprio nome retoma a questão da dupla identidade, posto


que Reinaldo é nome de homem e Diadorim se assemelha mais a Deodorina, nome
feminino, o que sempre nos faz relacionar sua vida a uma certa ambivalência acerca do
que é masculino e do que é feminino, além de podermos retomar uma das máximas de
Guimarães Rosa que percorre o romance: “tudo é e não é”. (ROSA, 2001, p. 27).
Segundo Adair de Aguiar Neitzel,

Reinaldo é um nome de origem germânica e está relacionado àqueles que


governam– Ragan, conselho, e Wald, que dirige –, nome, portanto, muito
pertinente ao jagunço que é filho de Joca Ramiro. Nessa condição, Diadorim
representa também a ordem, a autoridade, o poder na jagunçagem. Deodorina
parece derivar de Diadorina, Diodora, que vem do grego Diádoros, de dio,
raiz que se acha em Zeus, Diós, o deus Zeus, e Dôron, dom, presente, pelo
latim Diadoru. (NEITZEL apud REBELLO, 2011, p. 147).

Diadorim é o jagunço, filho de Joca Ramiro; mas na verdade é Maria Deodorina,


a filha única desse chefe de jagunços, que também se disfarça em Reinaldo. Apesar de
apresentar algumas pistas acerca de sua identidade feminina, Diadorim atravessa o
romance como jagunço, homem forte e valente, pronto para viver e guerrear no sertão:
“[...] Diadorim só falava nos extremos do assunto. Matar, matar, sangue manda sangue.
Assim nós dois esperávamos ali, nas cabeceiras da noite, junto em junto.” (ROSA,
2001, p. 46).
Não obstante, ao mesmo tempo em que se manifestava como forte, corajoso e
valente, deixa transparecer sensibilidade, carinho, proteção, mais tipicamente femininos,
quando conversa com Riobaldo e o deixa mais relaxado para dormir e este chega até a
sonhar podendo amar Diadorim realmente, de verdade:

De Diadorim, aí jaz que descansando do meu lado, assim ouvi: – “Pois


dorme, Riobaldo, tudo há-de resultar bem...” Antes palavras que picaram em
mim uma gastura cansada; mas a voz dele era o tanto-tanto para o embalo de
meu corpo. Noite essa, astúcia que tive uma sonhice: Diadorim passando por
debaixo de um arco-íris. Ah, eu pudesse mesmo gostar dele – os gostares...
(Rosa, 2001, p. 66).
Ao analisarmos o trecho anterior, há um detalhe cuja atenção deve ser voltada;
ao falar em Diadorim Riobaldo cita o arco-íris, símbolo dotado de várias significações e
que podem ser úteis para a compreensão da relação entre eles. De acordo com a Bíblia
Sagrada, o arco-íris significa a aliança de Deus com seu povo. Deus garante, através
dessa aliança, que todos os seres terão muita vida. Tal aliança pode ser percebida
através de um versículo retirado do Gênesis: “Quando o arco-íris estiver nas nuvens, eu
o verei e me lembrarei da aliança eterna: a aliança de Deus com todos os seres vivos,
com tudo que vive sobre a terra.” (GÊNESIS, 9: 16, 1990, p. 21). O arco-íris, no
romance, remete à relação entre Riobaldo e Diadorim, ao pacto e cumplicidade que
existia entre eles.
Não obstante, o arco-íris pode ser analisado embasado em outros pontos de vista;
um dos quais não podemos deixar de citar é o significado que está arraigado à cultura
popular. Uma crença antiga diz que ao passar debaixo do arco-íris é desencadeada uma
mudança de sexo. Através desse significado popularmente conhecido, entendemos o
sonho de Riobaldo, no qual desejava que Diadorim passasse por debaixo do arco-íris. Se
Diadorim passasse debaixo do arco-íris ocorreria mudança de sexo, ele se transformaria
em mulher e dessa forma poderia viver o sentimento recíproco que tinham. O amor
entre Diadorim (mulher) e Riobaldo (homem), que era apenas do plano da imaginação,
se tornaria realmente verdadeiro. Somente assim eles poderiam concretizar esse
sentimento, juntos poderiam viver o amor que tanto afligia suas vidas.
No que concerne à identidade de Diadorim, existe outra pista, para a qual a
atenção deve ser voltada. Há um momento no romance em que Diadorim sente-se
constrangido quando Riobaldo manifesta o desejo de urinar no mesmo ambiente em que
se encontravam. Riobaldo agiu tipicamente como homem, por acreditar que Diadorim
também fosse homem e não se importaria com a situação. Já Diadorim, por sua vez,
mostrou-se totalmente cheio de pudores e não permitiu que tal situação acontecesse na
sua frente, o que nos mostra, se ficarmos atentos, que estava agindo como mulher,
tímida e reservada, como é notório no excerto a seguir: “Assim quando me veio vontade
de urinar, e eu disse, ele determinou: – ‘Há-te, vai ali atrás, longe de mim, isso faz...’”
(ROSA, 2001, p. 123).
Outro aspecto digno de nota da feminilidade de Diadorim é o ciúme e a raiva
que sente de Otacília, noiva e futura esposa de Riobaldo. Esse ciúme é percebido por
Riobaldo desde o primeiro momento que se conheceram:
Desde esse primeiro dia, Diadorim guardou raiva de Otacília. E mesmo eu
podia ver que era açoite de ciúme. O senhor espere o meu contado. Não
convém a gente levantar escândalo de começo, só aos poucos é que o escuro
é claro. Que Diadorim tinha ciúme de mim com qualquer mulher, eu já sabia,
fazia tempo, até. Quase desde o princípio. (ROSA, 2001, p. 207).

São inúmeras as pistas da identidade feminina de Diadorim, mas agora vamos


enfatizar os traços em que sua identidade masculina prevalece. Diadorim, vivendo como
jagunço, era igual aos outros jagunços; a coragem, a astúcia, a capacidade de manusear
armas o faziam compatível com o meio sertão, pronto para lutar e se organizar a partir
de esquemas próprios e oscilantes. Ao observarmos a passagem do romance vemos que
ele era conhecedor das artimanhas para viver como jagunço: “Hê, mandacaru! Oi,
Diadorim belo feroz! Ah, ele conhecia os caminhares. Em jagunço com jagunço, o
poder seco da pessoa é que vale...” (ROSA, 2001, p. 97). Caracterizar Diadorim como
belo e feroz é ambíguo, uma vez que belo nos permite inferiralguém com características
físicas que se destacam, uma beleza sublime, podendo até ser relacionado ao “belo-
sexo”, o sexo feminino. O belo é, portanto, característica da mulher Maria Deodorina.
Para Humberto Eco, “a beleza é, de fato, entendida como imitação da natureza segundo
regras cientificamente estabelecidas, seja como contemplação de um grau de perfeição
sobrenatural, não perceptível com a visão, porque não completamente realizado no
mundo sublunar. (ECO, 2004, p. 176). Ou seja, é algo que pertence ao sublime, ao
sobrenatural, que encanta e faz bem. No entanto, o adjetivo feroz nos lembra alguém
bravo, impetuoso, violento e ameaçador, características mais peculiares ao sexo
masculino, referindo-se agora ao jagunço Reinaldo.
Diadorim é considerado por Walnice Nogueira Galvão uma Donzela Guerreira,
afinal traveste-se de homem, camuflando seus traços femininos, com o objetivo de
tornar-se apta a habitar e a guerrear no sertão.
A donzela guerreira é toda personagem cuja identidade feminina é disfarçada
para poder guerrear; esta tem os cabelos cortados, hábitos modificados, tudo para deixar
transparecer aos demais uma identidade feminina. Para Walnice Galvão, em seu livro
Donzela-guerreira: um estudo de gênero,

sua posição é numinosa na série filial, como primogênita ou unigênita, às


vezes a caçula; o pai não tem filhos homens adultos ou, o que é quase regra,
não os tem de todo. Ela corta os cabelos, enverga trajes masculinos, abdica
das fraquezas femininas – faceirice, esquivança, sustos –, cinge os seios e as
ancas, trata seus ferimentos em segredo, assim como se banha escondido.
Costuma ser descoberta quando, ferida, o corpo é desvendado; e guerreia; e
morre. (GALVÃO, 1998, p.)
Diadorim é uma personagem que se encaixa em reversibilidades, num jogo de
inconstâncias e dualidades; é ao mesmo tempo o jagunço valente, corajoso, trajado
tipicamente com vestes masculinas e a moça frágil, delicada e sensível.
Um dos motivos que fazem Diadorim/Reinaldo ter uma vida ambivalente é a
existência perigosa e tumultuada do sertão; uma “sociedade sem poder central forte,
baseada na competição dos grupos rurais, onde a brutalidade impõe técnicas brutais de
viver.” (CANDIDO, 2000, p.10-132). O sertão seria mais adequado para o sexo
masculino, já que tudo era baseado na valentia e na força. Ou seja, Diadorim é
produzido e condicionado pelo ambiente no qual vive. Foi criado como homem e
jagunço; era essa identidade que seu pai queria que conhecessem, o jagunço filho do
grande chefe. Quando Joca Ramiro foi morto, de forma traiçoeira pelo traidor
Hermógenes, Diadorim resolveu que ia lutar para o bem e principalmente para vingar a
morte do pai.
Depois de travada luta para matar o traidor Hermógenes, Diadorim foi morto
pelo inimigo. Somente nesse momento, ao final do romance, é revelada a todos sua
identidade feminina, o que nos permite concluir que Diadorim habitou o sertão,
guerreou, viveu e morreu como homem.Finalizamos essa seção com um trecho de Ana
Luíza Martins Costa, do artigo “Diadorim, delicado e terrível”: “As veredas nos levam
até Diadorim, que é justamente um personagem ambíguo, estranho e movediço, que
desponta como um enigma a ser decifrado: ele é delicado e terrível, encanta e repulsa,
masculino e feminino.” (COSTA, 2002, p. 44).
As inquietações de Riobaldo

Agora é relevante mencionar também Riobaldo, personagem dotado de extrema


importância e que também leva uma vida marcada por inquietações e
incompletudes.Riobaldo, o ex-jagunço e narrador do romance, nos apresenta sua
história como jagunço e habitante do sertão. Havia por parte de Riobaldo uma busca
incessante para entender o mundo e a si mesmo; buscava respostas para todas as suas
inquietações e indagações do mundo.
Para ele, tudo era oculto e obscuro e uma das suas grandes metas era ter todos os
seus enigmas decifrados:

Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma
vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria
entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer
tantos atos, dar corpo ao suceder. (ROSA, 2001, p. 116).

Segundo o próprio Riobaldo, ele está falando do desconhecido, do que não é


decifrado; sua vida é movida por um constante conflito entre suas dúvidas e possíveis
respostas que possam sanar suas incompletudes e possibilitar o entendimento do
universo em que vivia: “Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei.
Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas – e só essas poucas veredas,
veredazinhas.” (ROSA, 2001, p. 116).
Outra inquietação inerente à vida de Riobaldo é a questão da identidade de
jagunço, gostar ou não gostar desse jaguncismo, desses costumes, dessas peculiaridades;
ele sempre se questionava quanto à sua vida, seus anseios e ideologias:

Conforme lhe conto: será que eu mesmo já estava pegado do costume


conjunto de ajagunçado? Será, sei. Gostar ou não gostar, isso é coisa
diferente. O sinal é outro. Um ainda não é um: quando ainda faz parte com
todos. Eu nem sabia. (ROSA, 2001, p. 2001).

O sistema jagunço retratado no romance se organizava através de bandos, cada


um regido por uma ética e costumes específicos. Em certo momento Riobaldo se
questionava sobre sua participação nesse mundo jagunço, sobre qual bando integrava,
questionando até sua própria identidade: “Eu, quem é que eu era? De que lado eu era?
Zé Bebelo ou Joca Ramiro? Titão Passos... o Reinaldo... De ninguém eu era. Eu era de
mim. Eu, Riobaldo. Eu não queria querer contar.” (ROSA, 2001, p. 167).
Um dos principais questionamentos que aflige Riobaldo é a possível existência
do demônio; ele existe ou não existe? Essa dúvida o intriga constantemente, afinal não
consegue uma resposta concreta; ele afirma e nega essa existência, levando uma vida
cada vez mais enigmática e que o fazia ter sempre mais e mais indagações sobre seu
lugar no mundo.
Nesse momento, nos vem uma indagação: por que Riobaldo queria entender essa
existência ou não do demônio? Ele, mesmo vivendo no sertão, não era caracterizado
como um jagunço muito corajoso. Dessa maneira, em certo momento, ele decide que
quer ter coragem para viver e enfrentar todas as dificuldades e obstáculos que possam
surgir na sua vida. Sendo assim, Riobaldo passa a acreditar que só conseguirá ser forte e
corajoso o suficiente se fizer um pacto com o demônio. Agora podemos compreender o
porquê de Riobaldo discutir a existência ou não do demônio, essa resposta seria
fundamental para que pudesse concretizar seu pacto.
Para ele, sua vida estava precisando de uma força maior, de uma força capaz de
torná-lo um homem sem medos e receios. Ele precisava ter coragem para enfrentar os
traidores do bando do Hermógenes e para, posteriormente, ser um grande chefe de
jagunços, chefia que exigiria dele muita garra e coragem para liderar os demais. Em
momentos nos quais o medo se fazia presente, Riobaldo dizia:

Esta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não
sabendo, não me entenderá. Ao que, por outra, ainda um exemplo lhe dou. O
que há, que se diz e se faz – que qualquer um vira brabo corajoso, se puder
comer cru o coração de uma onça-pintada. É, mas, a onça, a pessoa mesma é
quem carece de matar; mas matar à mão curta, a ponta de faca! Pois, então,
por aí se vê, eu já vi: um sujeito medroso, que tem muito medo natural de
onça, mas que tanto quer se transformar em jagunço valentão – e esse homem
afia sua faca, e vai emsoroca, capaz que mate a onça, com muita inimizade; o
coração come, se enche das coragens terríveis! (ROSA, 2001, p. 170).

Com todas as dúvidas que rodeavam sua vida, Riobaldo começa a mencionar o
pacto:

Agora, bem: não queria tocar nisso mais – de o Tinhoso; chega. Mas tem um
porém: pergunto: o senhor acredita, acha fio de verdade nessa parlanda, de
com o demônio se poder tratar pacto? Não, não é não? Sei que não há. Falava
das favas. Mas gosto de toda boa confirmação. Vender sua própria alma...
invencionice falsa! E, alma, o que é? Alma tem de ser coisa interna
supremada, muito mais do de dentro, e é só, do que um se pensa: ah, alma
absoluta! (ROSA, 2001, p. 40-41).
Riobaldo se questiona, diz que não quer mais discutir a existência do demônio,
porém ainda tinha uma questão que lhe causava estranheza, será se é realmente possível
se vender ao demônio. Mas ele mesmo chega à conclusão (ou pelo menos tenta
acreditar) de que a alma é algo sagrado, supremo, não pode ser vendida, negociada. É
perceptível que, apesar do desejo de se pactuar com o demo, Riobaldo tenta negar que
ele existia. Para Antonio Candido, “Grande sertão: veredas é um livro de realismo
mágico, lançando antenas para um supermundo metafísico, de maneira a tornar possível
o pacto, e verossímil a conduta do protagonista.” (CANDIDO, 2011, p. 77).
De tanto ouvir falar sobre o demo e sobre o pacto que pode ser feito com ele,
Riobaldo conta ao doutor da cidade e aos leitores o ritual que deve ser feito para
conseguir pactuar com o demônio:

Eu ouvi aquilo demais. O pacto! Se diz – o senhor sabe. Bobeia. Ao que a


pessoa vai, em meia-noite, a uma encruzilhada, e chama fortemente o Cujo –
e espera. Se sendo, há-de que vem um pé-de-vento, sem razão, e arre se
comparece uma porca com ninhada de pintos, se não for uma galinha
puxando barrigada de leitões. Tudo errado, remedante, sem completação... O
senhor imaginalmente percebe? O crespo – a gente se retém – então dá um
cheiro de breu queimado. E o dito – o Coxo – toma espécie, se forma! Carece
de se conservar coragem. Se assina o pacto. Se assina com sangue de pessoa.
O pagar é a alma. Muito mais depois. O senhor vê, superstição parva?
Estornadas! “... OHermógenes tem pautas...”Provei. Introduzi. Com ele
ninguém podia? O Hermógenes – demônio. Sim só isto. Era ele mesmo.
(ROSA, 2001, p. 64).

Pactuar, nesse enfoque, significa fazer uma aliança, um trato, um acordo. O


diabo tornaria Riobaldo mais forte, “lhe daria acessos a poderes secretos, mágicos,
supremos.” (SPERBER, 1976, p. 117). Em troca ele entregaria ao coisa ruim sua
própria alma. É notório que Riobaldo, ao falar do ritual para o pacto, considera tudo
muito estranho e irreal, mas acredita que Hermógenes deve ter feito o dito pacto, afinal
ninguém podia com ele, com suas maldades e danações; era um ser terrível, que cometia
as traições mais vis. Para Riobaldo, ele é o próprio demônio, ou então sua alma era
dominada pelo demônio, como pagamento do pacto com o Dito, o Cujo. Então, após
muito pensar, ele decide rumar ao lugar determinado onde ocorreria o pacto:

Nós dois, e tornopio do pé-de-vento – o ró-ró girado mundo a fora, no dobar,


funil de final, desses redemoinhos: ... oDiabo, na rua, no meio
doredemunho... Ah, ri; ele não. Aheu, eu, eu! “Deus ou o Demo – para o
jagunço Riobaldo!” A pé firmado. Eu esperava, eh! De dentro do resumo, e
do mundo em maior, aquela crista eu repuxei, toda, aquela firmeza me
revestiu: fôlego de fôlego de fôlego – da mais-força, de maior-coragem. A
que vem, tirada a mando, de setenta e setentas distâncias do profundo mesmo
da gente. (ROSA, 2001, p. 437-438).
O redemoinho é bastante significativo no que diz respeito ao pacto, posto que
redemoinho é “o símbolo de uma evolução, devido ao seu movimento helicoidal, mas
de uma evolução incontrolada pelos homens e dirigida por forças superiores.”
(CHEVALIER; GHERBRANT, 1999, p. 773). Ele é incontrolável pelos seres humanos
e seria nesse movimento arbitrário, sem controle, que Riobaldo pactuaria com o Diabo.
Podemos afirmar que ele decidiu selar o pacto para conseguir a tão desejada coragem,
porém é válido destacar que decidir ir até a encruzilhada já foi um ato de extrema
valentia. Ao final do romance, consegue se tornar chefe de jagunços, mas não conseguiu
resolver outra questão que atormentava sua vida: o amor que sentia por Diadorim.
Riobaldo viveu momentos de grandes crises e tensões ao perceber que nutria um
amor, cada vez maior, por Diadorim, até então seu amigo jagunço, seu companheiro. A
ideia de amar alguém do mesmo sexo que o seu era totalmente estranha e perturbadora,
mas mesmo assim não deixava de amá-lo; era mais forte que qualquer outro sentimento;
por Diadorim ele seria capaz de largar tudo para viver com intensidade todo aquele
amor que estava sentindo:

Pensei em Diadorim. O que eu tinha de querer era que nós dois saíssemos
sobrados com a vida, desses todos os combates, acabasse a guerra, nós dois
largávamos a jagunçada, íamos embora, para os altos Gerais tão ditos, viver
em grande persistência. (ROSA, 2001, p. 224).

Riobaldo queria mesmo era romper com qualquer paradigma e tradição; queria
largar o mundo jagunço, as guerras, as lutas e anseios, queria poder viver todo aquele
sentimento que guardava dentro do peito.
Esse sentimento era tão intenso que em certo momento do romance, quando
Riobaldo acorda e percebe que Diadorim o estava olhando dormir, descobre que
realmente não há como fugir de um sentimento tão grande, que invadiu sua vida e seu
coração:

Mel se sente é todo lambente – “Diadorim, meu amor...” Como era que eu
podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter
vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente,
um Diadorim assim meio singular [...] Um Diadorim só para mim. Tudo tem
seus mistérios. (ROSA, 2001, p. 307).
O mistério de amar Diadorim enchia sua vida de angústias e incertezas, mas ao
mesmo tempo amava e deseja que Diadorim fosse seu, exclusivamente seu, para juntos
viverem um amor único e singular.
Somente nas últimas páginas do romance, após a morte de Diadorim, Riobaldo
descobre que ele era na verdade Maria Deodorina, o grande amor de sua vida. Riobaldo
se desesperou e passou por um sofrimento imensurável ao olhar o corpo de Diadorim:

Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos


para trás, incendiável: abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha,
recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca.
Adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata... Cabelos
que, no só ser, haviam de dar para baixo da cintura... E eu não sabia por que
nome chamar; eu exclamei me doendo: – “Meu amor!...” (ROSA, 2001, p.
615).

Restou a Riobaldo seguir certeza: na vida não encontramos respostas para todas
as nossas indagações e incompletudes. As dúvidas e o aprendizado andam sempre
juntos, são diferentes faces de um mesmo mundo, afinal tudo na vida é TRAVESSIA.

Conclusão

Tudo que foi escrito por Rosa tinha um propósito, o acaso não fazia parte de
seus objetivos e não foi diferente ao falar dos jagunços, da sociedade jagunça como um
todo. Para ele, o jagunço era uma espécie diferente, recheado de aventuras, sentimentos
e comportamentos oscilantes; o jagunço era um ser peculiar, com características que o
diferenciavam dos demais, “porque jagunço não é muito de conversa continuada nem de
amizades estreitas: a bem eles se misturam e desmisturam, de acaso, mas cada um é
feito um por si.” (ROSA, 2001, p. 44). Cada jagunço é único e vive com as qualidades e
defeitos que tiverem, sem muitas amizades e relações estreitas, salvo momentos em que
a necessidade fala mais alto.
O jagunço não é uma pessoa comum, simples e, portanto, é muito dificultoso
falar sobre ele, defini-lo e analisá-lo, ele é muito complexo: “jagunço se rege por um
modo encoberto, muito custoso de eu poder explicar ao senhor.” (ROSA, 2001, p. 183);
“Lei de jagunço é o momento, o menos luxos.” (ROSA, 2001, p. 284); jagunço, pelo
que é, quase que nunca pensa em reto...” (ROSA, 2001, p. 291); “Triste é a vida do
jagunço...” (ROSA, 2001, p. 414); “jagunço não passa de ser homem muito provisório.”
(ROSA, 2001, p. 429); “a função do jagunço não tem seu que, nem p’ra que.” (ROSA,
2001, p. 440); “Jagunço é o sertão.” (ROSA, 2001, p. 327). Ou seja, o jagunço não tem
uma definição arraigada, não é fixo, é efêmero, oscilante, transitório, sua vida é
ambivalente, os valores dos quais se cerca são embasados no momento e na situação em
que se encontra.
É importante destacar aqui a ambivalência que é inerente à vida dos jagunços;
além das questões do bem e mal, certo e errado, Deus e Diabo, etc., há, em síntese,
variações do comportamento jagunço, das atitudes que estes têm diante dos obstáculos e
imposições do sertão. Para eles, mudar de bando, de princípios era cotidiano, claro, se
houvesse necessidade; crenças e valores eram mutáveis, as coisas são sempre bastante
relativizadas; nada é fixo, arraigado, pronto e/ou acabado.
Diante de tudo que foi analisado no decorrer desta pesquisa, podemos dizer que
este trabalho tem importância significativa para estudos posteriores sobre os jagunços
rosianos, contribuindo também, de maneira mais ampla, com a fortuna crítica do
romance Grande sertão: veredas. Este trabalho quis mostrar a vida ambivalente dos
jagunços que povoavam a narrativa e o sertão de Rosa, com o fito de analisar as razões
que pudessem justificar essa vida dual, marcada por oscilações de ideais e princípios.
Os jagunços eram dotados de grande importância na ficção rosiana, não foi à toa que
apareceram e foram nomeados mais de 200 jagunços ao longo da história. O narrador-
personagem de Grande sertão: veredas nos afirma que “o jagunço é o sertão” (ROSA,
2001, p. 327) e que “O sertão está em toda a parte” (ROSA, 2001, p. 24), ou seja, o
jagunço é aquele que povoa o sertão, o sertão lugar, sertão sentimento, sertão mundo, o
sertão que está dentro de cada um de nós. Tudo é vago, provisório, impreciso, afinal a
vida não passa de uma grande e maravilhosa travessia.
Enfim, “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a
gente é no meio da travessia.” (ROSA, 2001, p. 80). “Travessia perigosa, mas é a da
vida.” (ROSA, 2001, p. 558).

Referências
A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por Ivo Storniolo e Euclides Martins
Balancin. São Paulo: Edição Pastoral. 1990.
Ambivalência, capanga, donzela. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.
Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 38, 128, 245.
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ANEXO 1 – Jagunços em Grande sertão: veredas

PERSONAGEM DESCRIÇÃO PÁGINAS DE GS:V


“Um roxo esquipático, só de olhar 40, 108, 180, 181,
para ele se via o vulto da guerra.” 183, 335, 342, 383,
Acauã
(ROSA, 2001, p. 335). Ensina os 386, 398, 400, 452,
jagunços a limar os dentes para imitar 482, 491, 612, 617.
as presas da piranha redoleira, do Rio
São Francisco. Conhecia a vida e os
costumes dos catrumanos moradores
das brenhas do sertão. Fica do lado de
Riobaldo na disputa pela chefia do
bando. É um dos seus principais
contra-guias. Após o confronto final
com Hermógenes, retorna para casa
com Riobaldo e se torna meeiro nas
terras do antigo chefe.

Seu nome vem do verbo acerejar, 369.


Acerêjo
tornar-se da cor da cereja. Acerêjo
pertence ao bando de Zé Bebelo.
Morre durante o cerco de Hermógenes
a Zé Bebelo e seus homens, na
Fazenda dos Tucanos, na beira da
Lagoa Raposa, depois da Vereda do
Enxú, próximo ao Rio São Franciso.

Passa por tropeiro liderado por Titão 157, 163, 166, 201,
Acrísio
Passos, um dos tenentes de Joca 336, 355, 378.
Ramiro. Viajando disfarçado, procura
conhecer o terreno por onde deve
viajar a tropa que transporta dos
esconderijos as armas e a munição.
Possuía, antes de entrar na guerra, a
profissão de tropeiro vindo do Rio das
Velhas, junto com Jenolim e João
Vaqueiro. Morto pelos hermógenes no
cerco à Fazenda dos Tucanos. Em sua
morte, os companheiros veem uma
quietude que não mostrava em vida.

Descrito por Riobaldo como boa 190, 263.


Adalgizo
gente, com quem diz ter-se
acompanheirado. Pertencia ao bando
de Sô Candelário.

Pelo perfil se conhecia sua maldade. 257, 258.


Adílcio
“Um, um Adílcio, com vaidade de ser
capaz da maldade qualquer, pavão de
penas.” (ROSA, 2001, p. 257). Parece,
na opinião de Riobaldo, o mais
indicado, pelo perfil, para executar o
prisioneiro que caiu nas mãos do
bando de Hermógenes e Sô
Candelário, depois do tiroteio em
Timba-Tuvaca, na casa de um sitiante,
contra os jagunços de Zé Bebelo.

Em GS:V, disfarçado de tropeiro, 157, 310.


Admeto
comandado por Titão Passos, integra o
grupo que busca a munição para os
homens de Joca Ramiro, escondida na
Crôa-com-Ilha de Malinácio. Era
cantor. Mas só cantava coisas de
sentimento. Desconhecia a canção de
Siruiz. “’ – Sei não, gosto não.
Cantigas muito velhas...’ – eles
desqueriam’” (ROSA, 2001, p. 310).

Variação de Oduvaldo, de origem 340.


Aduvaldo
germânica, que significa aquele que
governa a propriedade. Pertence ao
bando de Zé Bebelo. É morto pelos
hermógenes antes que estes iniciem o
cerco a Zé Bebelo na Fazenda dos
Tucanos.

Participa de um dos momentos 178, 572.


Advindo
descontraídos da narrativa, no campo
de Hermógenes, entre o Furado-de-
São-Roque e o Furado-do-Sapo,
rebeira (sic) do Ribeirão da Macaúba,
por fim da Mata da Jaíba. Bom no
bilhar, lida com a timidez de Riobaldo
e o estimula a jogar uma partida
fazendo parceria com ele.
“Combinado ficou que o Advindo
pudesse me superintender e
pronunciar cada toque, com palavras e
noção de conselho, mas sem licença
de apoiar mão em minha mão ou
braço, nem encostrar dedo no taco.”
(ROSA, 2001, p. 178).

“[...] um cabeça-chata alvaço, com 40, 71, 94, 98, 99,


Alaripe
muita viveza no olhar; desse gostei, 108, 133, 134, 136,
Alaripe se chamava, até hoje se 173, 196, 204, 211,
chama.” (ROSA, 2001, p.133). 213, 256, 259, 301,
Jagunço cearense. Nome que 303, 309,
aproxima de Araripe e este é um nome 314, 316, 320, 321,
indígena que tem a ver com águas. 322, 331,334, 343,
352, 353, 358,
360,363, 364, 377,
382, 383, 386, 409,
422, 441, 449, 452,
464, 469, 478, 479,
482, 493, 522,
529, 547, 548, 553,
565, 582, 583, 584,
585, 586, 587,
588,590, 592, 613,
614, 617, 620.

Bando de jagunços, chefiado por 315.


Alaripes
Alaripe.

“Significa o que não tem tristeza e 82.


Alípio
indica uma pessoa extrovertida e
falante que chama a atenção em
qualquer roda social.”
99, 317, 320.
“Saímos em guerra. Ãhã, do norte, da
Alípio Mota
Lagoa-do-Boi, com troca de avisos,
sobrevinha também o bastante da
rapaziada dos baianos, debaixo do
comando de Alípio Mota, cunhado de
Só Candelário.” (ROSA, 2001, p.
317). Alípio “Significa o que não tem
tristeza e indica uma pessoa
extrovertida e falante que chama a
atenção em qualquer roda social.”

Andalécio (Indalécio “Andalécio, no fundo, um bom 33, 182, 183.


Gomes Pereira) homem-de-bem, estouvado raivoso
em sua toda justiça.” (ROSA, 2001,
p.33).

“Um pai-jagunço chamado Antenor, 193, 194, 246, 247,


Antenor
acho que era coração– de-jesusense, 301, 313.
começou a temperar conversa, sagaz
de fiúza, notei. Ele era homem
chegado ao Hermógenes – se sabia
dessa parte. De diz em diz, rodeava a
questão. Queria saber que apreço eu
tinha por Joca Ramiro, por Titão
Passos, os outros todos.” (ROSA,
2001, p.193).

“Antônio Dó – severo bandido. Mas 33, 35, 100, 182.


Antônio Dó
por metade; grande maior metade que
seja.” (ROSA, 2001, p.33). Antônio
“significa possivelmente "valioso",
"de valor inestimável", "sem preço",
mas a origem do nome é obscura. A
origem é o latim Antonius...”

“Araruta – de toda confiança: esse 180, 181, 336, 559,


Araruta
homem já tinha para mais de umas 601, 602,605, 606.
cem mortes.” (ROSA, 2001, p.559).

84.
Arduininho

“Ataliba, com o facão, pregou o 85.


Ataliba
capiau na
taipa da cafua, ele morreu mansinho,
parecia um santo. Ficou lá, espetado.”
(ROSA, 2001, p.85).
Assunção
157.

461, 560.
Jagunço pai de Sinfrônio, “era um
Assunciano
homem sem pescoço.” (ROSA, 2001,
p.560).

Balsamão “Esse era maneiras grossas, 443.


homem de muito
sobrecenho.” (ROSA, 2001,
p.443).
84.
Batata-Roxa Jagunço que morreu durante
uma das travessias pelo
sertão.
190.
Batatinha “o pobre dum cafuz
magrelo, só que tinha o
danado defeito de contrariar
qualquer coisa que a gente
falava.” (ROSA, 2001,
p.190). Foi morto pelo
companheiro Ezirino.

Bebelos Bando de jagunços, chefiado 186, 200, 214, 226, 227,


por Zé Bebelo. 229, 235,243, 244, 247,
255, 256, 263.

Berósio 360.

Bicalho Morto nas terras do 313.


Xanxerê. Morreu em um
tiroteio terrível contra o
pessoal do Hermógenes e do
Ricardão.

Bobadela Um dos “cabras” que 450.


acompanhavam João Gonhá.

Borromeu “Um cego; ele era muito 462, 465, 466, 469, 470,
amarelo, escreiento, 483, 491, 493, 530, 565,
transformado.” (ROSA, 574, 575, 598, 601,606,
2001, p.462). 607, 609, 612, 614.

Cabra da Zagaia Encomendado para trair Zé 93.


Bebelo, mas este, muito
esperto, logo descobriu a
emboscada.
Caçanje Acompanhava Diadorim a 261, 262.
trotar pelo sertão.

Cajueiro 336, 360.

Cambó Morto nas terras do 313.


Xanxerê.

Campêlo Jagunço que morreu durante 84.


uma das travessias pelo
sertão.

Capixúm “... caboclo sereno, viajado, 189.


filho dos gerais de São
Felipe.” (ROSA, 2001,
p.189).

Carro-de-Boi Jagunço gago. 190.

Catôcho “O Catocho, mulato claro – 190, 224, 248, 251.


era curado de bala.”
(ROSA, 2001, p.190).

Cavalcânti “Cavalcânti, competente 104, 335, 343, 355, 594.


sujeito, só que muito
soberbose ofendia com
qualquer brincadeira ou
palavra.” (ROSA, 2001,
p.335).

Chico Vosso 336.

Clange Jagunço que morreu durante 84.


uma das travessias pelo
sertão.

ClorindoCampêlo Decidiu acompanhar Titão 313.


Passos para lutar contra
Ricardão e Hermógenes.

Coliorano “O Coliorano morava num 558.


buritizal de lagoa, e fazia
chapéus-de-palha
fabricados; dos melhores...”
(ROSA, 2001, p. 558).

Compadre Ciril Companheiro e amigo de 40, 450, 452, 617.


Riobaldo.

Conceiço “O Conceiço, guardava 335, 343, 547.


numa sacola todo retrato de
mulher que ia achando, até
recortado de folhinha ou de
jornal...” (ROSA, 2001,
p.335).

Coscorão “o Coscorão, que tinha sido 108, 335.


carreiro de muito ofício,
mas constante que era
canhoto.” (ROSA, 2001,
p.335).

Credo 108.

Cunha Branco “... um Cunha Branco, 85.


sarado, cabra velho
guerreiro: ele boiava língua
em boca aberta.”
(ROSA,2001, p.85).

Dadá Santa-Cruz “Dadá Santa-Cruz, dito “o 189.


Caridoso”, queria sempre
que se desse resto de comida
à gente pobre com vergonha
de vir pedir...” (ROSA, 2001,
p.189).

Dagobé 190.

Dávila Manhoso 84.

Delfim Jagunço tocador, o violeiro. 190, 201, 216.


Fazia a alegria da jagunçada.

Deovídio 84.

“Diadorim, duro sério, tão 37, 40, 42, 44, 45, 46, 48,
bonito, no relume das 49, 51, 52, 53, 54, 55, 56,
brasas.” 57, 65, 66, 68, 69, 70, 71,
(ROSA, 2001, p.45). 72, 77, 78, 79, 80, 81, 86,
Jagunço dotado de grande 88, 94, 95, 96, 97, 98, 99,
ambivalência. Diadorim 100, 102, 106, 108, 109,
conseguia apresentar 110, 114, 172, 173, 174,
atributos masculinos para 175, 176, 177, 184, 185,
viver e guerrear no sertão. 186, 187, 188, 190, 191,
Diadorim (Reinaldo) Porém, dava alguns vestígios 195, 196, 197, 198, 199,
de características 200, 202, 203, 204, 205,
predominantemente 206, 207, 208, 209, 210,
femininas: “Às vezes eu 211, 212, 213, 214, 215,
lavava a roupa, nossa; mas 216, 218, 219, 224, 225,
quase mais quem fazia isso 233, 234, 236, 243, 244,
era Diadorim. Porque eu 246, 247, 248, 253, 254,
achava tal serviço o pior de 255, 257, 258, 259, 260,
todos, e também Diadorim 261, 262, 264, 265, 266,
praticava com mais jeito, 268, 269, 270, 272, 273,
mão melhor.” (ROSA, 2001, 279, 282, 286,289, 293,
p.51). Nessa fala de 296, 297, 298, 299, 300,
Riobaldo, percebemos que 301, 302, 304, 305, 306,
com olhar atento, é possível 307, 308, 309, 310, 311,
identificar em Diadorim 312, 314, 315, 316, 319,
alguns traços femininos. 320, 321, 323, 324, 325,
Diadorim, na verdade, era a 326, 327, 330, 332, 334,
moça Maria Deodorina da Fé 336, 337, 338, 339, 340,
Bettancourt Marins, filha do 341, 343, 346, 350, 354,
grande chefe de jagunços 363, 368, 369, 370, 376,
Joca Ramiro. Ela se vestia de 377, 379, 381, 382, 383,
homem para apresentar 386, 387, 388, 389, 390,
características adequadas 391, 392, 393, 394, 396,
para viver no ambiente 407, 409, 413, 419, 422,
tumultuado do sertão. 423, 425, 427, 431, 434,
Apenas no final do romance, 443, 444, 449, 450, 452,
com sua morte, que ocorre a 458, 459,464, 467, 469,
revelação que Diadorim 472, 473, 474, 480, 481,
pertencia ao sexo feminino. 482, 484, 485, 495, 497,
498, 499, 500, 501, 503,
504, 505, 506, 507, 509,
510, 511, 512, 517, 518,
519, 520, 522, 526, 529,
530, 531, 533, 539, 541,
545, 546, 549, 550, 551,
553, 554, 555, 557, 561,
566, 568, 574, 576, 579,
582, 583, 584, 588, 591,
592, 593, 597, 598, 599,
603,604, 608, 610, 611,
612, 614, 615, 617, 621.

Dimas Dôido “... doido mesmo não era, só 108, 336, 342, 559.
valente e esquentado.”
(ROSA, 2001, p.336).
Diodato (Diodato Nariz) Jagunço do Alto Urucuia, 512, 513, 514.
“quieto, certo e bem
procedido.” (ROSA, 2001, p.
512).

Diodôlfo “... mexendo os beiços num 201, 336, 352, 375, 376,
bis-bis: que era que sem 383, 559.
preguiça nenhuma rezava
baixo, ou repetia coisas de
mal, da vida alheia,
conversando com si-
mesmo.” (ROSA, 2001,
p.559). Morto pelos
hermógenes no cerco à
Fazenda dos Tucanos.

Diôlo “O Diolo, preto de beiço 190.


maior.” (ROSA,
2001,p.190).

Domingos Trançado 336.

Doristino “Doristino, ferrador dos 108, 339, 340.


animais, tratador deles; e os
outros ajudavam.” (ROSA,
2001, p.108).

Dos-Anjos “... era o falador; e que foi 401, 402, 564, 565.
quem veio adiante, saudar Zé
Bebelo e render
explicação...” (ROSA, 2001,
p. 401).

Dôsno (ou Dôsmo) “...groteiro de terras do 288.


Cateriangongo – entre o
Ribeirão Formoso e a Serra
Escura – e ele tinha olhos
muito incertos e vesgava.”
(ROSA, 2001, p.288).

Drumõo Um dos “cabras” que 308, 450.


acompanhavam João Gonhá.

Durval Foguista 336.

Dute Jagunço que pensava 251.


encontrar lugares com
mulheres da vida.

Duvino “... o Duvino de tudo armava 201.


risada e graça.” (ROSA,
2001, p.201).

Duzentos 336.

Escopil Jagunço jogador de bilhar. 178.

Eleutério “O Eleutério apartou da 84, 85, 190.


gente, umas cem braças, e
foi, a pé, bateu em porta
duma cafua, por esclarecer.
O capiau surgiu, ensinou
alguma coisa, errada.
Eleutério agradeceu, deu as
costas, veio andando uns
passos. O capiau então
chamou. Eleutério virou
para trás, para ouvir o que
havia, e levou na cara e nos
peitos o cheio duma carga
de chumbo fino.” (ROSA,
2001, p. 84-85).

Elisiano “E o Elisiano caprichava de 84, 201.


cortar e descascar um ramo
reto de goiabeira, ele que
assava a carne mais gostosa,
as beiras tostadas, a gordura
chiando cheio.” (ROSA,
2001, p.201).

Etelvininho Pagou quarenta mil réis a 449.


José Misuso para ensiná-lo
“como é que se faz a arte de
um inimigo ter de errar o
tiro que é destinado na
gente.” (ROSA, 2001, p.
449).

Evaristo Caitité “Evaristo Caitité, com os 371, 378.


altos olhos afirmados, esse
sempre
sido prazenteiro no meio de
todos.” (ROSA, 2001,
p.378-379).
Ezirino Jagunço que matou o 190.
companheiro Batatinha,
matou-o por ter descoberto
o seu segredo “de se
bandear com os zé-bebelos.”
(ROSA, 2001, p.190).

Fafafa “O Fafafa, sempre cheirando 40, 108, 109, 111, 112,


a suor de cavalo, se deitava 173, 181, 183, 184, 196,
no chão e o cavalo vinha 204, 209, 211, 213, 256,
cheirar a 320, 321, 331, 336, 339,
cara dele...” (ROSA, 2001, 340, 343, 356, 357, 358,
p.336). Jagunço amigo e 376, 386, 448, 452, 482,
companheiro de Riobaldo. 495, 567, 568, 612, 617.

Fancho-Bode “Diadorim entrava de 175, 176, 177.


encontro no Fancho-Bode,
arrumou mão nele, meteu
um sopapo: – um safado nas
queixadas e uma sobarbada
– e calçou com o pé, se fez
em fúria. Deu com o
Fancho-Bode todo no chão,
e já se curvou em cima: e o
punhal parou ponta
diantinho da goela do dito,
bem encostado no gogó [...]”
(ROSA, 2001, p. 175-176)

Faustino “... pobre dos mais pobres...” 100, 101.


(ROSA, 2001, p.100).

Federico Xexéu 255.

Feijó “... o Feijó, um sacudido 216, 218, 233.


oitavão, ele manobrava rifle
de três canos.” (ROSA,
2001, p.216).

Feliciano 103.

Feliciano Caôlho Jagunço caolho. 335.


Felisberto “Assaz em aparências de 336, 421, 543, 544, 545.
saúde, mas tendo sido
baleado na cabeça, fazia já
alguns anos; uma bala de
garrucha – a bala de cobre,
se dizia – que estava
encravada na vida de seus
encaixes e carnes, em ponto
onde ferramenta de doutor
nenhum não alcançava de
escrafunchar.” (ROSA,
2001, p. 421).

Figueiró 84.

Filgueiras 128.

Firmiano (Piolho-de- “... apelidado Piolho-de- 37, 38, 62.


Cobra) Cobra, se lazarou com a
perna desconforme
engrossada, dessa doença
que não se cura; e não
enxergava quase mais,
constante o branquiço nos
olhos, das cataratas. De
antes, anos, teve de se
desarrear da jagunçagem.”
(ROSA, 2001, p. 37).

Fonfrêdo “... que cantava todas as 189, 201, 250.


rezas de padre, e comia
carne de qualidade
nenhuma, e que nunca dizia
de onde era e viera; o que
rimava verso com ele.”
(ROSA, 2001, p.189).

Freitas Levou um tiro de Zé Bebelo. 268.

Freitas Macho “... grão-mogolense, contava 335, 341, 382, 547.


ao senhor qualquer patranha
que prouvesse, e assim
descrevia, o senhor acabava
acreditando que fosse
verdade.” (ROSA, 2001, p.
335).

Fulorêncio 175, 176, 177.


G

Garanço “O Garanço, era um 191, 192, 194, 199, 200,


mocorongo mermado, com 202, 203, 218, 219, 222,
estúrdias feições, e pessoa 225, 228, 230, 231, 233,
muito agradável de seu 234, 236.
natural. Ele tinha idéias, às
vezes parecia criança
pequena. Punha nome em
suas armas: o facão era
torturum, o revólver
rouxinol, a clavina era berra-
bode. Com ele, a gente
ria,sempremente.” (ROSA,
2001, p.191).

Gavião-Cujo “Ele tinha tomado muitas 311, 312, 313, 314.


chuvas, que tudo era lamas,
dos copos do freio à boca da
bota, e pelos vazios do
cavalo.” (ROSA, 2001,
p.311).

Geraldo Pedro Jagunço que só pensava em 201, 224.


dormir, enquanto os outros
dançavam ao som da viola
de Delfim.

Gregoriano Foi picado por uma cobra 420, 421.


jararaca e faleceu após
algumas horas.

Gú “Um Gu, certo papa- 288.


abóbora,
beiradeiro, tarraco mas da
cara comprida...” (ROSA,
2001, p. 288).

Guima “Guima, que ganhava em 335,343.


todo jogo de baralho, era do
sertão do Abaeté...” (ROSA,
2001, p. 335).
412, 463, 464, 466, 469,
Guirigó (Guirigó de Pretinho, filho de Zé Câncio, 470, 476, 477, 483, 486,
Sucruiú) magro, triste, descuidado, 489, 491, 493, 523, 529,
sofrido, precisava de ajuda. 550, 565, 575, 598, 601,
“Menino especial. Jagunço 606, 612, 614.
distraído, vendo um desses,
do jeito, à primeira, era
capaz da bondade de
desfechar nele um tiro certo,
pensando que padecia
agonia, e que carecesse
dessa ajuda, por livração.”
(ROSA, 2001, p. 412).

Hermógenes (Hermógenes Hérmogénes, o grande


Saranhó Rodrigues traidor, sendo considerado 33, 64, 66, 73, 82, 111,
Felipes) “Judas”, ele acaba matando 132, 133, 134, 135, 149,
Joca Ramiro juntamente 174, 179, 183, 186, 187,
com o Ricardão. Muitos 190, 193, 194, 195, 196,
chegavam a acreditar que
197, 203, 204, 215,
devido a seu jeito e
maldade, Hermógenes tinha 216, 217, 218, 219, 220,
um pacto com o diabo. Ele é 221, 222, 223, 224, 225,
o jagunço que personifica o 226, 227, 228, 229, 230,
mal, só age de má fé, 231, 232, 235, 247, 248,
gerando muitos conflitos no 250, 251, 256, 257, 270,
sertão. “Com ele ninguém 271, 274, 275, 277, 278,
podia? O Hermógenes –
279, 280, 281, 283, 287,
demônio. Sim só isto. Era
ele mesmo.” (ROSA, 2001, 289, 291, 296, 297, 298,
p. 64). 300, 312, 313, 314, 318,
319, 320, 325, 328, 329,
331, 337, 358, 359, 362,
370, 376, 379, 382, 391,
395, 410, 423, 424, 425,
430, 432, 437, 442, 444,
456, 463, 474, 482, 502,
519, 521, 530, 532, 534,
538, 550, 551, 553, 557,
558, 561, 565, 569, 572,
573, 575, 577, 578,
580,586, 589, 590, 603,
605, 609, 610, 611, 612,
613, 618, 622.

hermógenes (os do Bando de jagunços chefiado 72, 200, 214, 329, 333,
Hermógenes) por Hermógenes. 340, 349, 356, 357, 361,
362, 372, 540, 558, 568,
571, 572, 578, 606.

Isidoro Companheiro de João 450.


Gonhá.

Jagunço que passava algum 71, 108, 335, 339, 363,


Jacaré
tempo cozinhando para seu 383, 440, 496,559, 612.
bando. “[...] o Jacaré exercia
de cozinheiro, todo tempo
devia de dizer o de comer
que
precisava ou faltava [...]”
(ROSA, 2001, p. 108).

336, 533.
Jalapa

“Para assuntar e ver com 157, 163, 166, 201.


Jenolim
ver, o Jenolim saiu em rumo
do Jequitaí, de sua Lagoa-
Grande.” (ROSA, 2001, p.
163).

“[...] antigo capataz arrieiro, 335, 336.


Jequitinhão
que só se dizia por ditados
[...]” (ROSA, 2001, p. 336).

“[...] rapaz cordato – a ele 40, 173, 180, 183, 204,


Jesualdo
fiquei devendo, sem me 211, 213, 308,
lembrar de pagar, quantia de 310, 320, 321, 322, 335,
dezoito mil-réis [...]” 617.
(ROSA, 2001, p. 335).

“[...]quase menino, filho de 108, 112, 335, 353, 493,


Jiribibe
todos no afetual paternal 496, 497, 529, 559, 591,
[...]” (ROSA, 2001, p. 335). 598, 600.

“[...]era um baiano bom, na 266, 267, 268, 270, 599,


João Curiol palavra e no caráter [...]” 612, 613, 616.
(ROSA, 2001, p. 616).
João Bugre
Jagunço morto pelos 64, 336.
hermógenes no cerco à
Fazenda dos Tucanos.

129.
João Brandão

“[...] João Concliz, que com 40, 101, 102, 103, 106,
João Concliz
o Sesfredo porfiava, 108, 109, 111,112, 113,
assoviando imitado de toda 270, 334, 341, 343, 378,
qualidade de pássaros, este 385, 394, 464, 469, 522,
nunca se esquecia de nada 548, 553, 559, 569, 579,
[...]” (ROSA, 2001, p. 334- 612, 613, 617.
335).

Morto nas terras do 265, 280, 313.


João Frio
Xanxerê. Morreu em um
tiroteio terrível contra o
pessoal do Hermógenes e do
Ricardão.

“João Goanhá, por valentão 82, 83, 85, 96, 99, 102,
João Goanhá
e verdadeiro, nem carecia de 183, 190, 194, 215, 235,
estadear orgulho. Pessoa 255, 274, 277, 286, 296,
muito leal e briosa.” 301, 313, 316, 320, 433,
(ROSA, 2001, p. 82). 434, 450, 451, 452, 454,
464, 469, 522, 548, 553,
554, 566, 571, 579, 606,
612.

Diamantinense, um jagunço 40, 178, 566, 599, 617.


João Nonato
decido e agradável.

514.
João Tatú

Jagunço que, segundo 157, 173, 201, 204, 211,


João Vaqueiro
Riobaldo, sabia de tudo 213, 309, 311,320, 321,
sobre o gado, o que comiam, 335, 339, 356, 394, 414,
como amansar. 493, 571, 580, 581, 605.
336.
João Vereda

“[...] o mais bravo de todos, 33, 146, 208, 294.


Joãozinho Bem-Bem
ninguém nunca pôde
decifrar como ele por dentro
consistia. [...]” (ROSA,
2001, p. 33).

“[...] conhecia cada recanto 63, 108, 335, 363, 368,


Joaquim Beijú
dos gerais, de dia e de noite, 397, 502.
referido deletreado, quisesse
podia mapear planta.”
(ROSA, 2001, p. 63).

“[...] Joca Ramiro – grande 33, 52, 54, 57, 60, 81, 83,
Joca Ramiro (José Otávio
homem príncipe!” 102, 105, 106, 126, 132,
Ramiro Bettancourt (ROSA,2001, p. 33). Joca 133, 136, 186, 187, 193,
Ramiro era um grande chefe 194, 195, 196, 197, 198,
Marins, o Chefe)
de jagunços. Tinha o 218, 223, 244, 246, 247,
respeito de todos que 257, 258, 264, 265, 266,
chefiava e até dos que eram 268, 269, 270, 271, 272,
rivais. Pai de Diadorim, era 274, 275, 276, 277, 278,
um homem bom, justo e 280, 281, 282, 283, 285,
admirado por todos. Foi 286, 287, 288, 289, 290,
morto de forma traiçoeira 291, 292, 293, 294, 295,
pelo pactário Hermógenes. 296, 297, 298, 299, 300,
Depois disso, os jagunços 301, 302, 311, 312, 314,
seus seguidores, liderados 315, 319, 326, 346, 370,
por Zé Bebelo, lutaram para 378, 380, 382, 390, 425,
vingar sua morte. Joca 430, 444, 445, 462, 549,
Ramiro era o líder sábio, 550, 604.
justo, corajoso. Aparece
como representação das
virtudes.

Bando chefiado pelo grande


joca-ramiros (pessoal
chefe Joca Ramiro.
ramiros)
Jõe Bexiguento (dito
“[...] sobrechamado o 234, 235, 236, 237, 238,
Alparcatas)
Alpercatas esse era homem 243, 248, 250,336, 341,
de estranhez em muitos seus 382, 408, 499.
costumes, conforme se dizia
e era notado.” (ROSA, 2001,
p. 234).

“[...] homem muito valente 35, 37.


Joé Cazuzo
[...]” (ROSA, 2001, p. 35).

“Amigo? Homem desses, 190.


José Amigo
alguém dizendo a um que
ele é
demônio de ruim, ele ria de
não querer ser, capaz até de
nessa raiva matar o outro.”
(ROSA, 2001, p. 190).

“[...] o José do Ponto com o 559.


José do Ponto
jacaré – tocando os
cargueiros, com sua tralha
de cozinhar...” (ROSA,
2001, p. 559).

“[...] o José Félix também 336, 337, 452.


José Félix
tinha tido ferimento, na coxa
e na perna, mas a natureza
dele era limpa, o ofendido
secava por si, nem
parecendo ser.” (ROSA,
2001, p. 337).

“[...] caçador muito bom.” 335, 375, 496, 497, 598,


José Gervásio
(ROSA, 2001. p. 335). 601, 602, 605, 606.

“[...] filho dum lugar que se 335.


José Jitirana
chamava a Capelinha-do-
Chumbo: esse sempre dizia
que eu era muito parecido
com um tio dele [...]”
(ROSA, 2001, p. 335).

336.
José Micuim

“Um José Misuso uma vez 449.


José Misuso
estava ensinando a um
Etelvininho, a troco de
quarenta mil-réis, como é
que se faz a arte de um
inimigo ter de errar o tiro
que é destinado na gente.”
(ROSA, 2001, p. 449).
José Quitério
“[...] comia de tudo, até 336, 343.
calango, gafanhoto, cobra
[...]” (ROSA, 2001, p. 336).

“O José Vereda cachimbava, 443.


José Vereda
sentado perto de seus
pertences.” (ROSA, 2001, p.
443).
“[...] o Jósio, entortado 336, 352, 378.
Jósio
prestes, com pedaços de
sangue pendurados do nariz
e dos ouvidos [...]” (ROSA,
2001, P. 378). Jagunço que
foi morto com um tiro no
pescoço.

Bando de jagunços chefiado 316, 317, 318, 320, 373,


Judas (os judas, o judas
por Hermógenes e Ricardão. 374, 378, 390, 442, 463,
algum, pior dos dois Receberam esse nome por 482.
serem os responsáveis pela
Judas, dos bandos dos
traição que culminou na
Judas, os Judas, cambada morte do grande chefe Joca
Ramiro.
dos Judas, algum judas,
da judadas)

“[...] ferrador e alveitar.” 336.


Justino
(ROSA, 2001. p. 336).

190.
Juvenato

“Mas quem me instruiu 374, 376, 378, 380, 382,


Lacrau
disso, na ocasião, foi o 424, 425.
Lacrau, aquele que à custa
de riscos conseguira nos
Tucanos se baldear para o
meio de nós, consoante
relatei. A ele dei de
perguntar, ao mau respeito,
muitas coisas.” (ROSA,
2001, p. 424).

Foi morto nas terras do 313.


Leite-de-Sapo
Xanxerê. Morreu em um
tiroteio terrível contra o
pessoal do Hermógenes e do
Ricardão.

“Esse estava atirado pelas 201, 336, 344, 345, 387.


Leocádio
queixadas, má bala que lhe
partira o osso, o vermelho
brabotava e pingava.”
(ROSA, 2001, p. 345).

Morto nas terras do 313.


Leôncio Fino
Xanxerê. Morreu em um
tiroteio terrível contra o
pessoal do Hermógenes e do
Ricardão.

“Leopoldo era o irmão mais 188, 198.


Leopoldo
novo de loca Ramiro [...]”
(ROSA, 2001, p. 198).

92.
Leôncio Du

336.
Liberato

“E o Liduvino e o Admeto 310.


Liduvino
cantavam coisas de
sentimento, cantavam pelo
nariz.” (ROSA, 2001, p.
310).

“[...] chapadeiro 190, 201, 252.


Lindorífico
minasnovense, com mania
de aforrar dinheiro.”
(ROSA, 2001, p. 190).

129.
Lióbas

“E o velho LudujoFilgueiras, 317.


LudujoFilgueiras
montesclarense, com vinte e
dois atiradores.” (ROSA,
2001, p. 317).

“Sujeito despachado, 181, 183, 257, 258, 313.


Luís Pajeú
moreno bem queimado, mas
de anelados cabelos, e com
uma coragem
terrivelmente.” (ROSA,
2001, 181).

Filho do coronel Digno de 317.


Luiz de Abreuzinho
Abreu; comandava os
capangas do pai.
“Feito aquele Luzié, que 190, 260.
Luzié
cantava sem mágoas, cigarra
de entre-chuvas. Às vezes,
pedi que ele cantasse para
mim os versos, os que eu
não esqueci nunca, formal, a
canção de Siruiz.” (ROSA,
2001, p. 260).

“[...] um homem finório de 152, 153, 157.


Malinácio (Manuel Inácio)
esperto, com o jeito de tirar
da gente a conversa que ele
constituía. A casa dele –
espaçosa, casa-de-telha e
caiada – era na beira, ali
onde o rio tem mais troas.”
(ROSA, 2001, p. 152).

“[...] porreteiro, nunca 108, 335, 356, 374, 383.


Mão-de-Lixa
largava um bom cacete, que
nas mãos dele era a pior
arma [...]” (ROSA, 2001, p.
108).

“[...] segundo em chefe, 99, 101, 102, 103, 104,


Marcelino Pampa
cumpridor de tudo e senhor 105, 106, 107, 108, 109,
de 334, 341, 378, 382, 464,
muito respeito [...]” (ROSA, 468, 469, 522, 548, 553,
2001, p. 334). Jagunço bom 554, 560, 564, 566, 572,
para ser chefe, mais velho, 579, 597, 598.
experiente e era um homem
de respeito, de bom caráter.
Marimbondo
“[...] faquista, perigoso nos 108, 335.
repentes quando bebia um
tanto de mais [...]” (ROSA,
2001, p. 335).

Jagunço muito forte e 108, 335, 343, 358, 376.


Marruaz
valente: “homem
desmarcado de forçoso:
capaz de segurar as duas
pernas dum poldro [...]”
(ROSA, 2001, p. 335).

“Chefe nosso, Medeiro Vaz, 33, 43, 46, 47, 50, 51, 52,
Medeiro Vaz
nunca perdia guerreiro. 56, 59, 60, 61, 62, 64, 65,
Medeiro Vaz era homem 66, 67, 69, 70, 71, 72, 73,
sobre o sisudo, nos usos 79, 80, 82, 87, 89, 91, 94,
formado, não gastava as 95, 96, 97, 102, 105, 107,
palavras. Nunca relatava 115, 126, 156, 173,
antes o projeto que tivesse, 185, 210, 213, 313, 317,
que marchas se ia 320, 323, 324, 326, 346,
amanhecer para dar. 395, 469, 471, 496, 508,
Também, tudo nele decidia 520, 521, 522, 548, 564.
a confiança de obediência.
Ossoso, com a nuca enorme,
cabeçona meia baixa, ele era
dono do dia e da noite – que
quase não dormia mais:
sempre se levantava no
meio das estrelas, percorria
o arredor, vagaroso, em
passos, calçado com suas
boas botas de caititu, tão
antigas.” (ROSA, 2001, p.
46-47). Chefe de jagunços
que vai unir-se aos homens
de Joca Ramiro para tentar a
vingança contra Ricardão e
Hermógenes.

Bando de jagunços 61, 65, 86.


medeiro-vazes
liderados por Medeiro Vaz.

Jagunço que costumava a 363.


Mijafôgo
atirar da beira de alguma
janela na companhia de
Jacaré.

“[...] um rapaz sério sincero, 69.


Miquim
que muito valia em guerreio
[...]” (ROSA, 2001, p. 69).

“[...] um negro enorme, pai 335, 343, 360, 376, 385.


Moçambicão
e mãe dele tinham sido
escravos nas lavras [...]”
(ROSA, 2001, p. 335).

219, 222, 225, 227, 229,


Montesclarense
233, 234.
N

128, 129.
Neco (Manoel Tavares de
Sá)
Nelson
40, 336, 398, 400, 452,
522.

Jagunço morto pelos 180, 181, 336, 558.


Nestor
hermógenes no cerco à
Fazenda dos Tucanos.

“Veio até quem não se 317.


NhãoVirassaia
imaginou: como aquele
NhãoVirassaia, com seus
trinta e cinco cacundeiros –
o que carregava nome de
fama por todo o Rio Verde
Grande.” (ROSA, 2001, p.
317).

336.
Nhô Faísca

385, 387.
Nicolau

O-Bispo 514.
35, 368.
OlivinoOliviano

Bando de jagunços chefiado 72.


Os cardões
por Ricardão.

Bando de jagunços chefiado 85.


Os goanhás
por João Gonhá.

461.
Osirino

336.
Osmundo

Jagunço religioso e devoto: 40, 336, 343, 408, 452,


Pacamã-de-Presas
“queria qualquer dia ir 482, 493, 612, 617.
cumprir promessa, de
acender velas e
ajoelhar adiante, no São
Bom Jesus da Lapa [...]”
(ROSA, 2001, p. 336).

Urucuiano trazido por Zé 109, 336, 514.


Pantaleão
Bebelo.

Jagunço dotado de muita 189, 201, 243, 244, 252,


Paspe
habilidade em tudo que 303, 308, 309, 312, 450,
fazia. “[...] vaqueiro 571, 600, 617.
jaibano, o homem mais
habilidoso e serviçal que já
topei nesta minha vida [...]”
(ROSA, 2001, p. 189).

336.
Pau-na-Cobra

336.
Pedro Afonso
84.
Pedro Bernardo

336.
Pedro Pintado

“[...] e raposteiro em terras 164.


Pedro Segundo de
da Fazenda São Joãozinho,
Rezende de um
coronel Juca Sá.” (ROSA,
2001, p. 164).
Pereirão
336.
Pescoço-Preto
84,190.

“Um Pitolô, sei lá, cabra 330, 336, 343, 547.


Pitolô
destemido, com crimes nos
maniçobais perto para cima
de Januária; mas era nascido
no
barranco.” (ROSA, 2001, p.
330).

335, 342, 376.


Preto Mangaba

“[...] sempre tinha saudade 335.


Quêque
de sua rocinha antiga,
desejo dele era tornar a ter
um pedacinho de terra
plantadeira [...]” (ROSA,
2011, p. 335).

363.
Quiabo

“[...] o Quim Pidão, no 368, 378.


Quim Pidão
pormiúdo de honesto, que
nunca nem tinha enxergado
tremde-ferro [...]” (ROSA,
2001, p. 378).

Jagunço que cuidava das 108, 336, 342, 360.


Quim Queiroz
munições necessárias,
guardava as balas e as
distribuía nos momentos
certos.

Valente, rápido, esperto e 40, 103, 104, 108, 335, 363,


Quipes
muito ágil: “sujeito ligeiro, 368,502, 503, 522, 582,
capaz de abrir num dia suas 583, 584, 585,586, 587,
quinze léguas, cavalos que 590, 592, 613, 616, 617,
haja [...]” (ROSA, 2001, p. 620.
335).
R

446.
Ragásio

“[...] caolho também, com 108, 336, 343, 441, 452.


Rasga-em-Baixo
movimentos desencontrados,
dizia que nunca tinha
conhecido mãe nem pai [...]”
(ROSA, 2001, p. 336).

Jagunço curandeiro, 108, 336, 337, 345, 422,


Raymundo Lé
conhecia todos os remédios 449.
para as doenças: “[...]
entendia de curas e
meizinhas, teve cargo de
guardar sempre um surrão
com remédios.” (ROSA,
2001, p. 108).

336.
Remigildo
129.
Renovato

“Ricardão, mesmo, queria 23, 73, 132, 133, 136, 151,


Ricardão
era ser rico em paz: para isso 183, 194,195, 263, 270,
guerreava.” (ROSA, 2001, 272, 274, 277, 283, 284,
p. 23). Ele ansiava ser rico, 287, 291, 296, 298, 300,
mas como não tinha outras 302, 313, 314, 318, 319,
oportunidades acabou 362, 370, 374, 376, 382,
guerreando no sertão. Tinha 391, 430, 474, 573, 574.
um bando do qual era o
chefe. Posteriormente
juntou-se com Hermógenes
para matar o grande Chefe
Joca Ramiro. Com essa
junção de bandos, outro
grupo surgiu, os judas,
bando de jagunços chefiado
por Hermógenes e Ricardão.

Personagem narrador do 54, 56, 57, 62, 66, 68, 69,


Riobaldo (Tatarana,
romance, conta a sua 74, 77, 81,95, 96, 97, 98,
Urutú-Branco, o Chefe) história a um doutor que não 102, 103, 115, 142, 145,
é nomeado. Relata sua 146, 147, 160, 164, 165,
trajetória, sua infância, seus 167, 168, 171, 172, 185,
amores, até sua 187, 198, 203, 207, 211,
transformação em chefe de 212, 215, 216, 217, 218,
jagunços. Vive uma relação 225, 226, 229, 230, 231,
enigmática com Diadorim, 232, 244, 247, 253, 254,
por estar apaixonado por 257, 258, 259, 260, 261,
alguém, que até então era do 264, 265, 269, 270, 273,
mesmo sexo que ele. Vive 282, 289, 293, 299, 300,
inquietações da alma, por 305, 308, 314, 315, 316,
não entender tal sentimento. 321, 324, 338, 340, 341,
Apenas no fim do romance, 343, 346, 347, 349, 350,
com a morte de Diadorim, 351, 353, 354, 365,366,
ele descobre que na verdade 367, 372, 384, 385, 386,
estava apaixonado por Maria 390, 391, 392, 393, 437,
Deodorina, a filha de Joca 441,442, 444, 447, 452,
Ramiro. Outra inquietação 453, 454, 458, 459, 465,
de Riobaldo é acerca da 471, 473, 474, 477, 481,
existência ou não do 483, 484, 485, 487, 491,
demônio, tensão que o 495, 496, 498, 502, 503,
acompanha durante todo o 507, 509, 510, 513, 515,
romance. 517, 520, 526, 533, 538,
543, 546, 549, 550, 560,
566, 570, 580, 581, 582,
587, 594, 597, 599, 600,
602, 604, 612, 613, 616,
621, 622.

Jagunço que era bastante 374, 375, 376, 377, 378,


Rodrigues Peludo
devoto de Ricardão, sempre 379, 380, 381.
o admirava.

267.
Roque

136.
Rozendo Pio

336, 361, 362, 365, 514.


Salústio João

190, 268.
Sangue-de-Outro

79.
Santos-Reis
“O Sesfredo comia muito. 40, 80, 81, 85, 86, 88, 94, 98,
E sabia assoviar seguido, 108, 189, 196, 334, 386, 571.
Sesfrêdo
copiando o de muitos
pássaros.” (ROSA, 2001,
p. 81).

Jagunço alegre e 336, 394, 422, 452, 596.


Sidurino
engraçado. Tudo que ele
falava servia de
divertimento e
descontração para os
demais jagunços.

134, 135.
Sié-Marques

“Soubessem que esse seo 467, 469, 470, 472, 473, 474,
Seo Ornelas
Ornelas era homem bom, 475, 476, 477, 478, 618, 619,
(JosafáJumiro Ornelas) descendente, posseiro de 620.
sesmaria. Antes, tinha
valido, com muitos
passados, por causa de
política.” (ROSA, 2001, p.
467).

Conseguiu fugir do terrível 313.


Silvino Silva
tiroteio contra o pessoal do
Hermógenes e do
Ricardão.

180, 181, 183, 336, 339, 340.


Simião

461.
Sinfrônio

Também era um chefe de 33, 79, 82, 102, 183, 186,


Sô Candelário
jagunços. “Morto em 190, 193, 255, 256, 257, 258,
tiroteio de combate, 259, 260, 261, 262, 263, 264,
metralhadoras tinham 265, 266, 269, 272, 274, 277,
serrado o corpo dele, de 278, 281, 282, 283, 286, 290,
esguelha, por riba da 291, 293, 294, 300, 302, 313,
cintura.” (ROSA, 2001, p. 314, 316, 317, 326.
82).

Bando de jagunços
sô-candelários
liderado por Sô
Candelário.
Sólon Nelson
84.
84, 263.
Sucívre

“[...] outro rastreador, feito 63, 335, 385, 414, 415, 496,
Suzarte
cão cachorro ensinado, boa 497, 522, 559, 571, 578.
pessoa [...]” (ROSA, 2001,
p. 335).

461, 466, 534, 535, 609.


Teofrásio

“[...] baiano ladino, chupava 189, 336.


Testa-em-Pé
muito [...]” (ROSA, 2001, p.
336).

Também chefe de jagunços. 33, 79, 82, 99, 190, 193,


Titão Passos
Era um homem bom, de 194, 215, 217, 230, 243,
ótimo caráter, honrado, cujos 263, 270, 272, 273, 274,
companheiros também eram 277, 285, 286, 290, 292,
muitos bons. 293, 296, 301, 303, 311,
312, 314, 316, 317, 320.

Bando de jagunços chefiado 243.


titão-passos
por Titão Passos.
Tipote
“[...] o Tipote, que achava os 63, 335, 414, 415, 522.
lugares d’água, feito boi
geralista ou buriti em broto
de semente [...]” (ROSA,
2001, p. 335).

84.
Toquim

336, 527, 528, 529, 530.


Treciziano

336, 580.
Trigoso
Triol 40, 157, 298, 310, 617.

“TuscaninhoCaramé, que 336, 559.


TuscaninhoCaramé
cantava, bonita voz, algúa
cantiga sentimental.”
(ROSA, 2001, p. 559).

Umbelino
“[...] tinha cara de gato.” 249.
(ROSA, 2001, p. 249).

201.
Ventarol

“[...] era do Serro-Frio.” 547.


Veraldo
(ROSA, 2001, p. 547).

Um jagunço valentão. 533.


Volta-Grande

157, 248, 310.


Vove

“Zé Bebelo era inteligente e 33, 91, 92, 93, 94, 104,
Zé-Bebelo (Zé-Bebelo Vaz
valente. Um homem 105, 106, 107, 108, 109,
Ramiro; José consegue 110, 111, 112, 113, 126,
intrujar de tudo; só de ser 144, 145, 146, 147, 148,
RebêloAdroAntunes)
inteligente e valente é que 149, 150, 151, 152, 153,
muito não pode. E Zé 160, 166, 167, 175, 177,
Bebelo pegava no ar as 183, 185, 187, 188, 190,
pessoas. No regular, Zé 214, 215, 223, 226, 235,
Bebelo pescava, caçava, 243, 253, 255, 256, 259,
dançava as danças, exortava 267, 268, 269, 270, 271,
a gente, indagava de cada 272, 273, 274, 275, 276,
coisa, laçava rês ou topava 277, 279, 280, 281, 282,
à vara, entendia dos 283, 284, 285, 287, 288,
cavalos, tocava violão, 289, 290, 291, 292, 293,
assoviava musical; só não 294, 296, 297, 298, 299,
praticava de buzo nem 300, 301, 319, 324, 326,
baralho – declarando ter 329, 331, 333, 334,
receios, por 336, 337, 338, 340, 343,
atreito demais a vício e 344, 345, 346, 347, 348,
riscos de jogo.” (ROSA, 349, 350, 351, 352, 353,
2001, p. 92-93). Foi 354, 355, 357, 358, 360,
obrigado a exiliar-se do 362, 363, 364, 365, 366,
sertão. Os demais jagunços 367, 368, 371, 372, 373,
acharam que ele tinha 374, 375, 376, 377, 378,
relações com o governo e, 379, 380, 381, 382, 383,
portanto, tinha ideias 384, 385, 386, 394, 395,
opostas. Zé Bebelo retornou 396, 397, 401, 402, 403,
ao sertão e integrou um 404, 406, 407, 409, 411,
bando de jagunços que era 412, 413, 414, 415, 416,
liderado por Joca Ramiro, 420, 421, 427, 428, 429,
tudo isso com o fito de 430, 431, 432, 433, 434,
vingar a morte do grande 441, 442, 444, 445, 447,
chefe. 448, 449, 450, 451, 452,
453, 454, 455, 466, 474,
485, 490, 492, 496, 502,
503, 512, 514, 515, 516,
526, 527, 534, 540, 547,
548, 569, 621, 622, 623.

Bando de jagunços liderado 110, 152, 170, 200, 216,


zebebelos (zebelândia, gente
por Zé Bebelo. 224, 225, 230.
zebebela)

336.
Zé Beiçudo
3
36.
Zé Geralista

313.
Zé Inocêncio

336.
Zé Onça

336.
Zé Paquera

336, 369, 420.


Zé Vital
 Os jagunços que têm o espaço descrição em branco justificam-se porque o
romance não os descreve física nem psicologicamente.

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