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;NNO I SÃO PAULO, 6 DE AGOSTO DE 1921 NUMERO 15

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ANOVELLA

COLLECÇAO de pequenos livros de versos a CADA volume, caprichosamente confeccionado,,


se publicar sob a direcção de Amadeu Ama- impresso a duas cores em excellente papel,
ral (da Academia Brasileira) e destinada a com artísticos ornatos e solidamente enca-
vulgarizar as obras dos poetas novos de dernado, será vendido a 2$500.
grande merecimento, ainda pouco conhe- Na NOVA PLEIADE somente serão publica
cidos do publico. das obras de verdadeiro valor.
Iniciaremos a collecção com o primoroso livro M A N H A do poeta paulista G r a c c h o Silveira
SOCIEDADE EDITORA OLEGrARIO RIBEIRO— Rua"Dr. Abranches 43 — Caixa, 1172 — S. Paulo

ÍOC.EDITORA OLEG4RIO RBBEIRORDfABRANCHES,45SJ>AlJLO


A NOVELLA SEMANAL DIRECTOR: BRENNO FERRAZ

PUBLICA-SE AOS SABBADOS


Para os 30 milhões de brasileiros, mesmo desconta- VELLA SEMANAL se propõe a salvar do olvido as me-,
dos os analphabetos, RS tiragens dos livros nacionaes lliores paginas esgotadas e as sepultadas em eolleoções'!
são ridículas. E as edições pequenas encarecem o li- de jornaes e revistas — preciosidades que representam
vro, limitam-lhe a expansão, impedem a razoável remu- um'opulento thesouro literário quasi de todo desconhe-
neração dos auctores. Vivemos, assim, num oirculo vi- cido e inaooessivel. Das obras ainda em extracção nn
cioso : o livro não se diffunde entre nós porque é caro mercado livreiro, destacará — a exemplo do que se faz
e é oaro porque não se diffunde. Isto succede com o em vários paizes, em anthologias de grande e pequeno
livro bom, pois dos de fancaria se tiram por ahi deze- tomo, didaoticas e populares, e em publicações periódicas
nas-de milhares e se esgotam edições sobre edições . . . — as que sejam a melhor mostra do livro e do auctor,
de sorte a despertar nos leitores o desejo de ler os li-
Esta situação, de tão funestas conseqüências para o vros que, sem esse reclame, muitos provavel-
paiz, suggeriu a iniciativa da creação deste periódico, mente nunca leriam. E isso fará fornecendo ao mesmo
que representa um esforço no sentido de vulgarizar a tempo todas as indicações precisas para que qualquer
boa literatura. pessoa possa fazer encommenda, ao seu livreiro ou di-
Popularizar o livro, tornal-o accessivel a todos, sem rectamente ao editor, da obra da qual se apresentou
descuidar de o fazer ao mesmo tempo o mais attrahente aqui uma pequena amostra e das outras obras do mes-
possivel pela escrupulosa escolha da matéria e pela ar- mo auctor. Esta publioação constituirá, portanto^ ao-
tística confecção ile cada volume, e depois usar de to- mesmo tempo que um abundante repositório de infor-
dos os meios para o diffundir em todo o território na- mações bibiiographicas. uma selecta de pequenas obras
cional, de fronteira a fronteira, e entre todas as classes excellentes, organizada com o fito de tornar melhor co-
sociaes, desde as mais cultas ás menos letradas — eis nhecida a nossa literatura, dentro das nossas próprias
ahi, resumido em poucas palavras, todo o nosso pro- fronteiras.
gramma.
Não viveremos, porém, de alheia seiva. Teremos a
Participando no mesmo tempo da. natureza ,1o livro nossa collaboração especial, de um punhado dos mais
e da revista, A NOVELLA SEMANAL pretende reunir notáveis escriptores contemporâneos e acolheremos oom
ns vantagens desta e daquelle : como a revista, será de prazer — e remuneraremos — todos os trabalhos inte-
leitura leve e variada, será vendida a preço Ínfimo, será ressantes que nos sejam enviados por auctores conheci-
. apregoada nas ruas, nas estradas de ferro, ern toda par- dos e desconhecidos, consagrados e estreautes^eomtanto
le, a toda irente ; mas não será (nt.il o de interesse e- aue taes obras tenham valor e sejam conformes com a
phemero como ella : pelo fundo — pela qualidade e pela feição d'A NOVELLA, isto é, que tenham pequena ex-
extensão da matéria — constituirá uma verdadeira série tím-ão e possam ser lidas por toda gente.
de pequenos livros, que se encadernarão no fim de cada
trimestre, em bellos volumes com os quaes se formará 'Preferimos dar maior desenvolvimento â< edição da
uma bibliotheca literária realmente preciosa. conto e da novella nestes volum os por serem esses os
gêneros que oontam, entre o publico, maior numero de
Pretendendo ser lida, muito lida., lida por homens apreciadores. Mas não nos restringiremos a elles, em-
o creanças, senhoras e moças, ricos e pobres, letrados e bora delles tenhamos tirado o titulo desta publicação.
curiosos, pela totalidade, emfim, da população ledora. Todos os outros gêneros terão o seu logar no nosso
procurará nos auctores a vida. a acção, o interesse, de supplemento, verdadeira gazeta literária de pequenas
modo a constituir o verdadeiro livro popular. proporções, onde se encontrará um pouco de tudo e só
Destinando-se a se t o m a r um instrumento de pro- do melhor.
paganda das boas letras — dos melhores auctores e dos Eis ahi ao que vem A NOVELLA SEMANAL, que
melhores livros nacionaes — não se limitará a publicar se colloca á disposição do publico, dos auctores e dos
trabalhos inéditos. Xão seria este o melhor meio de se editores, aos quaes deseja servir e dos quaes espera re-
cumprir esta parte do programma traçado, havendo por ceber um acolhimento sympathico.
»lii, esquecida e ignorada, da maior parte do publico,
tanta cousa optima a pedir um editor. Assim, A NO- O s ElOIOKKS.

Aos auctores
Acceitaremos com prazer toda col- Aos leitores queiram nos auxiliar neste trabalho
laboração interessi-.ntc paru qualquer que nos enviem relações de auctores
ilas secções deste periódico. A NOVELLA SEMANAL ambicio- e de livros publicados de modo a nos
Os uctorps devem nos remetter os na ser lida em toda parte : cidades, habilitar a adquirir os volumes para
seus trabalhos, declarando o sennome. villas, povoações. estradas de ferro, os examinar.
endereço e o preço pelo qual nos of- navios, hotéis, clulis, hibliothecas, e t c ,
ferecem n sua colaboração.
Os oriiriuaes devem ser escriptos de
estando porisso organisando um ser-
viço de distribuição que será o mais
Importante
Toda pessoa que angariar três assi-
,ura só lutlo do papel, em calligraphia completo possível, de sorte a não ha- gnaturas d'A NOVELLA SEMANAL-
bem legível e de prelerencia dactylo- ver ponto do território nacional onde enviando-nos adeantadamente a res-
gra phados. nao tenha:leitores e não seja encon- pectiva importância, terá direito' a
Toda a correspondência deve ser trada á venda. Para obter este resul- uma assignatura gratuita.
endereçada á Sociedade Editora Ole- tado contamos com o auxilio dos A t o d a pessoa que angariar qual-
garío Ribeiro Caixa postal n. 1172 nossos leitores, aos quaes pedimos que quer numero de assignaturas d'A NO-
— s. Paulo. nos indiquem endereços de livrarias, VELLA SEMANAL offereccremos a
agencias e vendedores de jornaes e titulo de brinde, livros, escolhidos no
Aos editores pessoas e instituições que possam se catalogo de qualquer livraria do Bra-
A NOVELLA SEMANAL publicará interessai- pela venda ou leitura des- sil, no valor de 20 o/o sobre o preço
com prazer e gratuitamente, o titulo, te periódico em qualquer localidade. total das assignaturas angariadas.
nome do auctor preço e nome e en- por insignificante que seja.
dereço do editor de todas as obras Interessados também em conhecer
editadas no Brasil bastando para isso os escriplores e poetas de mérito de Assignaturas
que os editores lhe enviem aquellas todos os Estados e de todas as épocas,
indicações. afim de lhes poder divulgar a obra. Anno . . 20$000
De todas as obras das quaes lhe for muUo agradeceremos qualquer indi- Semestre . . 10$000
remettido um exemplar, publicará a- cação que a este respeito nos seja Trimestre . 5$000
lém disso uma noticia critica. fornecida, rogand a todos quantos Numero avulso . . . $400

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ANNO I A N O V E[L L A SEMANAL • São Paulo, 6 de A g o s t o de 1921 NUMERO 15

ALMA FRIVOLA — Sud resca dos grandes es-


Mennucci. criptores — Euclydes da
C H I C Ã O " D U A S MOR- Cunha — B . E .
TES" — Dimas Camar- Curiosidades literárias — O
> KO Stein. jornalismo e as letras -
TIO GABRIEL F. Sil- SUPPLEMENTO — A phi- . Josri MARIA B E I X O . • —
DIVINA — Jorge FaHeiros. veira. losophia de T a n — BKKN- "Ürupés" na Argentina.
PEITO - L A R G O Carie NO EKKKAZ.
Paginas esquecidas —- Pri-
da Fonseca. A vida anecdotlca e pitto- mavera. - R A D L POMPKIA.

'A^X^JSéLJS* (3TJ<e> -üitjrx r o m a n c e g o r a d o )


No dia seguinte o Álvaro se achava na casa
do capitão Joaquim da Motta, á espera dos autos diga? Deixemos de casos intrincados de almas
que os havia, a elle e mais a comitiva, de con- alheias, especialmente da minha, que escapa á
duzir á checara «Celeste». i minha própria analyse. Falemos mal dos outros.
A companhia era a mesma do jantar do dia Não acha que seja lim bom emprego?
anterior. — Por exemplo, riu maliciosamente d. Laura,
D. Laura, á chegada do professor, reclamou-o. falemos mal de sua namorada.
Subiu nb automóvel com elle e só permittiu a — Pois seja delia.
entrada de três petizes, dós quaes o mais velho — Dir-me-á quem é ?
não contava mais de sete annos. — Para que, si isso não passa de um flírt in-
E, enquanto o vehiculo corria sobre o pedre- significante, em que eu sou o provocado ?
gulho da alameda ensombrada, que conduzia á -^ E' bonita ?
quinta, ella foi-lhe dizendo um sem numero de — E'. A figura que, hontem, o Sebastião usou
phrases excitantes. a respeito delia é exacta : E' linda como unia bo-
Eiles haviam ficado os últimos na fila dos auto- neca de «bisquit». Ou antes... não, porque as
móveis e, para evitar a poeira da estrada, dis- bonecas são, em geral feias. E' bonita mas...
tanciavam-se muito do ultimo que ia na frente. — Mas.... indagou' a mulher anciosa, más • com
— Eu gosto dâs almas como o senhor, solita* ar distrahido, de quem quer affectar indifferença.
rias e recolhidas, que mesmo nos momentos de — Mas não me agrada.
grande alegria, não se illudem e não deixam nunca — Mas não a deixa.
de ser o que são. — Minha senhora, eü não posso recusar o flirt
i — Más eu nãó sou absolutamente hypocrita e a uma menina «chie». Iria contra as regras do
a senhora está me emprestando ; essa qualidade, bom tom.
exclamou, num riso largo,, o mestre-escola. — Que o senhor aliás não segue. Então para
— Não torça,' Álvaro. O senhor entende-me que , affecta uni sentimento que não tem ? E'
bastante, para querer mangar commigo. ser mau,
— Mangar com uma tão linda mulher? Mas — Não é. E' mais por indolência, porque afi-
seria ignóbil da minha parte. Que quer que lhe nal, o admirado sou eu e e enamorada é ella.
234 A NOVELLA SEMANAL

D. Laura riu, chamando-lhe extraordinário. — Eu sei. Eilas preferem beijos... A senhora,


— Nem tanto quanto julga. Por exemplo, eu comtudo, é muito alia e eu precisaria arranjar,
sou de uma timidez desastrosa. para dar cumprimento ao preceito, uma situaçãoj
— Não se diria. qualquer para fazel-a abaixar-se ou sentar-se.
— Como não ? confirmou o rapaz. Então não Aqui não ha bancos e ha apenas dois minutos que
acha timido uni moço que, desde hontem, tem a descemos do automóvel: não deve estar cançada...
tentação de devorar-lhe os lábios de beijos e Demais, eu não conheço a arte de seduzir. Não
ainda não ò fez ? Não foi falta de occasião nem entendo da chimica do amor.
de vontade. D. Laura riu clamorosamente e indagou :
— Foi, naturalmente, por indolência, volveu — Nunca teve conquistas ?
d. Laura calmamente. — Si as fiz? Não., Mas já fui conquistado
— Ou melhor por timidez. Mas garanto-lhe uma vez'; ainda não ha dois mezes.
que, hoje mesmo, tomarei desforra. — E foi o senhor o conquistado ?
— Querem-n'o auctorizou ? — Sim, porque eu nem siquer disse a essa mu-
— Pois é preciso, acaso, auctorização ? lher que a amava, nem por brincadeira.
Chegaram á chácara. — O senhor é um excêntrico.
— E'grande a propriedade? indagou o professor. — Parece que a senhora se diverte a, me ap-
— Bastante para gyrar-se uma hora. plicar adjectivos. Acha-me com feição de subs-
-- Nesse caso dê-me o seu braço e vamos dar tantivo ?
umas voltas por ella. Ella riu de novo :
— Professor, o sr. está com intenções dia- — Está ou não justificando o meu ultimo dito?
bólicas ! — Não sei.
— Quem sabe ? Acaso sente-se mal em saber Os dois haviam chegado diante de uma latada
que dá o braço a um cavalheiro que está pouco de parreiras. Cachos maduros de uva pendiam,
bem disposto a seu respeito? excitando o desejo.
— Absolutamente. Não sou mulher que me Daili avistava-se, lá em baixo, a cidade, fais-
espante por tão pouco. cando ao sol...
— Então vamos. — Quer chupar uvas, d. Laura ?
E os dois afastaram-se, a passo lento, por uma — Quero. Mas o senhor não as alcança. Eu,
das alamedas da quinta. que sou mais alta, não vou até lá.
D. Laura sentia-se feliz de encontrar-se no meio — Alli está, porem, retorquio o professor, o
das arvores amigas. caixão providencial. Espere.
— Infelizmente não ha vi ração, disse serio, num O rapaz apanhou o primeiro cacho. D. Laura
ar compungido, o Álvaro. avisinhou-se para o receber, mas achegouse tanto
— Para que ? inquiriu a mulher, admirada. que, quando ia levar o primeiro bago á bocca, o
— Para tornar o nosso passeio digno de uma mestre escola, num movimento rápido, cingiu-lhe,:
descripção clássica de Ponson du Terrail ou, os braços ao pescoço e estampou-lhe nos lábios
quando menos, de uma prelecção pedagógica de GOUS rumorosos beijos. -(
dia de Festa das Arvores. A mulher correspondeu-lhe, largando o cacho e
— O senhor, por mais que se esforce, não abraçando-o com toda a força.
pode esquecer-se de que é ferozmente irônico. Depois, fingindo-se arrependida, abandonou o
— E' a minha mania. Não posso torcer a veia rapaz e, baixando os olhos, disse :
de meu temperamento. — E você não entendia de coisas de amor.
— Podia ter outra e deixar essa; que já é ve- Foi para isto que arranjou o caixão ?
lha. Hoje toda a genfe. faz ironias. E' moda. - Não se zangue por tão pouca cousa ! "
— Queria que fizesse maárigâes ? — Foi uma accão indigna ! confirmou, ba-
— Era talvez melhor. tendo o pé.
— Mas, d. Laura, madrigaes todo o mundo os
— Pois então, concertemol-a. diante de todo
fez e os faz. E eu preciso acompanhar a minha S. Luiz, que lá em baixo nos olha, alvitrou Ál-
época para poder justificar o seu epithelo de ex- varo, apontando a cidade.
traordinário.
— Lá volta o senhor. Sabe, Álvaro, que não é E o professor e d. Laura abraçaram-se de novo.
assim que se agradam mulheres ?
SUD MENNUCGI
A NOVELLA SEMANAL 235

Trazia os bolsos cheios de pedregulhos, que se-


leccionava a capricho, para a devastação das tfti-
cas e chupins circumvisinhos. Tinha também um
ceveiro. Ai daquelle-que ousasse profanar o ce-
vei ro do Chico ! .Abria logo umas guélas âtròa-
doras e despejava sobre o audacioso o vocabulá-
rio typicò dos caboclos destorcidos. Era um en-
CHICÃO "DUAS MORTESti xurro. A geração toda do mardito ficava não
raro compromettida, quando não eram especifica-
damente cotejadas as respectivas matronas com a
Aquelle que vae passando alli, do outro lado «Joaquininha-lambisgoià», a Barbina-Reboleira»
na calçada fronteira, chapéu de abas largas que- de quem o Chico ouvira aos talúdos do bairro,
brado na testa, 4passinho afadistado, porrete preso em dias de festa, referencias cochichadas, só entre
ao punho por uma pulseira de couro curtido, é o homens. E fechava sempre o brilhante improviso
•Chicão «Duas Mortes». Eu o conheci simples- com a ameaça sobre todas tremenda: (<Vô conta
mente Chico, um caboclinho encardido e molengo, p'ra pái, lazarento do inferno! » Ante esta deci-
lá das bandas do norte. O nome é banal, mas o siva argumentação sumiam-se pelos atalhos os
appendice que se lhe segue, tem a sua historia. Jecas miúdos e graúdos: O Tuvira pae, um
E por ella se prova uma vez mais, de como, dos membrudo e tostado espécime dos degenerados
confrontos que os contrastes e surprezas da vida ex-heroiços bandeirantes, tinha nome feito na
suggerem, nem sempre se podem tirar conclu- zona. De uma feita rachara o coco á paulada ao
sões harmônicas, deducções lógicas. Bastiãosinho Serelépe, um caboclinho pernóstico'
De pigmeu feito gigante, o heróe deste conto cuéra no pé, que num baile de famia, fizera co-
é uma contribuição a más a corroborar o acerto rar as Julietas patrícias, cantando ao violão, com
desse illogismo. Fiquemos aqui. A vida é a requebros d'olhos maliciosos e pimenta em todas
Vida. E quem a fez a Babel que ella é, foi o as syllabas, aquella modinha indecorosa que lera
homo sapíens, vulgo bicho. Soffra-lhe elle as il- no'"Rio Nu". Entreolhava-se, já com o nó na
lações inopinadas. Já Monteiro Lobato o disse : garganta, mas encolhida a um canto, encurralada,
«Moralidade ha nas fábulas. Na vida, nem sem- a caboclada toda. Nisto, entra na sala o Tuvira.
pre. . E é pena». E' isso mesmo. Veiu, viu, ouviu . . . . E ainda o Bastiãosinho não
pingara o ponto no verso começado . . . . "Óia,
Pois o Chicão foi o caboclo mais preguiça que cachorrinho excumum ....[' O gado ninguém
eu conheci. Em pequeno essa tendência para ouviu. O porrete do Tuvira (perobinha asseada!)
deputado já era soberanamente manifesta. Não cantou duas vezes. Dois gritos, que pareceram
porque fosse tão somente mamparreiro : é que dois urros. Dois faniquitos curados com esfre-
era também duma obtusidade fradesca, o pobre gações, E dois; mezes de- hospedagem por conta
do Chico. Se era para ir á venda lá do Manuel do governo á espera de julgamento. E' pleo-
portüguez, comprar dois litros de farinha ou um nasmo dizer-se que foi unanimissímamente icom
garrafão da azulada, — «Ara, pai, mande 0 Dictol» as 17 letras bem espichadinhas) absolvido. O
Ò Dieta, um esverdinhado, enfermiço rebeíito Dr., Sabugosa Trancoso, advogado do réu, um
da prole maleiteira do Jucá Tuvira, era a taboa bacharelzihho ainda em cueiros, com s s sibi-
de bater roupa do Chico. Pagava o pato sempre. lantes e l l de engasgar, com infinitos "O aç-
Temperamento submisso, duma docilidade passiva,- oitado presente, senhores jurados . . . " <cO„meu
era um joguete nas mãos do irmão lambanceiro. nobre collega representante do ministério publi-
; Óbrigava-se a tudo resignadamente, sem um mur- co . . . " e outras chapas gastas já pelo úzo, ao
cho protesto, vencido. E era por isso tido em terminar a peroração, pediu para o seu consti-
casa como um songamonga, um estúrdio,, um tuinte a absolvição, " . . . como era de justiça,
lorpa refinado. senhores jurados, porque o Sr. José Polycarpo da
— O Chico? — «Rapaisinho sarado este meu Silva Tuvira, lidimo representante, esteio máximo
fio ! . . . » impava o Tuvira ao vel-o de estillin- da sociedade sertaneja de Santo Antônio do Paú
d'Alho com um nobre gesto de franca repulsa ás
•gue em punho, feroz matador dos tico-ticos das
obcenidades do famanaz capoeireiro, desafrontara
redondezas. O pae trazia já de o\ho uma pica-
os brios das tímidas piicellas tos Snrs. jurados
pausinha para elle quando entrasse o anno novo.
236 A NOVELLA SEMANAL

entreolham-se . . . . ) Santantoniopaudalhenses !! " de grandes chalés cruzados na frente e creanci-'


Quatro horas depois, o Tuvira, num anguloso nhas macilentas penduradas nas carnes flacidas:
e melado bucephalo trotão, lá partia, póc, póc, dos peitos terrosos, rezava o terço em ladainha
póc, póc, para os seus domínios saudosos. e fazia promessas. A ladainha, já se vê, era ura
choromigo arrastado, dormente, enervante, como
Foi assim, aos quinze annos, á sombra da
sóe ser tudo que dos gorgomilos afora deixa o
fama avalentoada do pae, que o Chico foi cre-
Jeca sahir como anemêdo de musica. Sons har-
ando azas e já. de vez em quando, ante a resi-
mônicos ? Não! Guinchos. Jeca, meu Deus!
gnada covardia dum Jequinha humilhado, riscava
nem assobia ! . . . ,
com a ponta da perobinha o pó da estrada, cus-
pindo aò medroso a ultima, victoriosa injuria : A ladainha . . . Nisto, rompe da porta a voz
"Mediô, porquera! . Lavo mio ! . . . „ E nesse dia cansada do Beréva : "Achei o hóme, moçada ! „
contava ao pae, engasgado de gozo, a façanhuda E do quarto, como si estas palavras fossem o
scena : " . . . Ranquei do porrete e invisti ! . . . desfecho esperado dos pediíoriosaos mil e um
tudo abriu, pae ! De lapiana na mão, lumiàno ! santos da Folhinha, grandes gritos estridentes par-
Ché ! . . . „ E o Tuvira babava-se . . . . tiram : "São Bão Jesuis me ouviu ! Bamo nhá
Rita, num chore ! Eu nuu dizia pra mecêis ? ! . . . "
Dois annos depois, numa tarde triste de agosto, E vieram de roldão, na ància incontida de far-
cheia da fumarada suffocante das queimadas, o tar-se de pormenores que as acalmassem, que pur
Tuvira não voltou á casa como era costume. zessem fim á angustiosa espera de três dias in-
Procuraram-no debalde nas redondezas. Foi um findáveis.
amigo á cidade : talvez que o caboclo, mesmo sem O Beréva murchara. E encolhido, amarrotando
ser dia santo ou domingo, tivesse querido mata nas mãos o chapéu domingueiro, ante a andada,
o bicho na villa e, n'algum fecha desse com os angustiosa, imperativa pergunta da mulher do Tu-
costados no xadrez. Não sabiam delle, ninguém vira, abriu, num gesto* largo os braços, desem-
o vira. Voltou o portador com a desalentadôra buchou : — Tá lá no brejão do Caviuna,...
nova. Ao passar pelo brejo do Caviuna, o animal,
fedêno ! ! "
esfalfado, enchia duma água barrenta o vazio, a < ' t

grandes goles chupados, quando o Beréva, num Nhá Rita desabou como um muro que se ten-
terror que o immobilisara, deitando esgazeados- desse na base. Teve, momentos depois, "um máu
olhares para os lados, parecia cercado de visões suecesso". E no dia seguinte, os paudalhenses
aterradoras. tiveram um espectaculo inédito : a caminho da
E' que no ar parado do brejal passara, numa villa, para o descanço eterno na vala commum, lá
lufada, a exhalação pútrida dum corpo em de- seguiam, estrada afora, no balanço compassado;
composição. Nãó havia gado nessas paragens. duma rede encardida, os corpos da mãe e do li-'
De mais a mais a tiguéra queimada do Tuvira lho ; adiante, numa carroça emprestada, o corpo
não ficava longe dali. E pela imaginação apavo- disforme, violaceo, nauzeante do Tuvira, empes-
rada do caipira em tremuras, surgiu logo como tava o mormaço, afugentava os curiosos." Só os
uma coisa incontéste, a verdade terrível : Era corvos, famintos, vorazes, insistentes, não pare-
elle ! . . . ciam conformar-se com o banquete que lhes es-
capara 1'. . .
E voltando a si do estupor que o tomara, deu
O Bastiãosinho,, caboclinho máu, aquelle 1
de esporas e abalou desabridamente . . . .
Cáe o pano agora, como nos dramalhões anti-
Na casa do Tuvira, entre a fumarada suffo- gos. E este final de historia, que se poderia
cante dos cigarros, um cheiro activo de caninha quasi chamar também "Alguns annos depois" co-
errava no ar. O ultimo garrafão que o Dicto mo o celebrado romance de Dumas, não tem o
comprara ná venda do Portuguez, já s e fora. E desfecho brilhante dos do grande e fecundo ro-
pelos cantes, de cócoras, cuspilhando de esguicho mancista fidalgo. Epílogo bocejante. Culpa dos
para'os lados, sombras vagas moviam-se na es- Jecas. E' lá possivel hoje, depois que o Lobato
curidão da sala. Vinha do quarto ao lado, de tirou, com o bisíuri da observação, de ''Sobre a
envolta com as lamentações arrastadas do Chico, nudez forte da verdade, o manto diaphano da
a funda magua da viuva: "Tenha dó de mim, phantazia" — reeditar "Iracemás", "Ouaranys",
meu Deus! Ai, Jesiíis . . . . " E era tão compas- romantisar a vida dos Ubirajaras modernos, -J
sada, tão monótona a toada dolorida, que uma ' pasto inexgotavd de vtrminoses, amarelões, anki-
somnolencia invadia, pesava no ar. O muiherio, lostomos ?
A NOVELLA SEMANAL 237

Ah ! Alencar ! Macedo ! Quanta pílula dourada Não houve dito picante, allusão ferina, picuinha
nos destes ! mordente que nãó estravasasse. Chafurdaram-lhe
A vida do Chico, após a morte trágica do pae, a vida, châpinharam-lhe a reputação. O Chico,
é façil prever-se o que tenha sido. Faltou-lhe a moita. Por fim, deram tréguas á campanha sór-
sombra protectora do Tuvira : foi um desmoro- dida e torpe. A mátiíla, á falta de revide que a
namento. Por outro lado, nos arraiaes inimigos, açulasse, debandou indemne. Tréguas forçadas.
foi festejada a quentão a limpeza do mandachuva Ninguém luta com a própria sombra
'da zona. Muita raiva represada transbordou, Exilado pelo desprezo ambiente, num isola-
muito orgulho humilhado explodiu. Não houve 'Hiento raras vezes quebrado por antigos amigos
então, por toda aquella redondeza, quem não qui- de seu pae, o mísero, roida a pequena herança
zesse tirar o ventre da miséria. De 30 passou o paterna, conheceu mais um inimigo: a miséria.
Chico a 8. Levou pés-do-Owôido de estalar, mu- E vinham-lhe á mente, então, os saudosos' tempos
nhecaços puchâdOs á sustância, safanões afuci- da sua meninice, a casinha varrida, rebocada de
^nhantes . . . / novo, a meza farta, a ruidosa alegria do Tuvira,
Culminou tudo isso uma sova a chicote, entre Como isso tudo se fora tao bruscamente epilogar
a risota escarninha e os dichotes zombeteiros da numa emboscada icoyarde, tocaia armada pela as-
assistência: "Ué, Chico 1 Quedêlle as farófia ? „ tucia brutal duma alma mesquinha! - A sua feli-
Xingue, nhá mãi agora, mardito ! '' , cidade se dissipara ao sopro de morte que dissi-
E o Chico, enfiado, murcho,- encolhido, aco- para no brejal do Caviuna, a fumaça assassina.
vardado, a um canto, métteu dó aos circumstantes: Nasceu-lhe então no peito, como labareda que
"Chega, Bermiro ! Isso tamêm num se fáis!..." irrompe dum palheiro, um ódio surdo, implacável,
Desd'ahi era uma indignidade bater no Chico. feroz, contra o matador covarde de seu pae.'
Era degradante. Quem, fòi que disse que Jécá Egoísta mesmo na vingança, elle queria des-
não tem dignidade ? forrar-se, não do assassino que o orphanara ao
Os factos respondem por si. E este é um caso 17 annos, mas daquelle que o privara da abas-
• isolado. A verdade é que, aos vinte annos, o es- tança, até então tão commodameute gozada e que
tiolado rebento a que faltara a seiva forte de o fizera alvo, agora, da chufa e da risota escar-
tronco uberrimo, abatido á trahição na grota es- ninha daquelles a quem elle dominara outróra, á
cura duma restinga — morreu em vida, mas de sombra de quaesquer riscos, sob o prestigio con-
morte moral. vincente da fama avalentoada do Tuvira. Obce-
i E morreu porque casou. Casou . . . . Casou cado por essa idéia, ruminóu de mil modos, no
vcom a Isabézinha, filha da "Reboleira", para que isolamento soturno da tapera, o remate brutal da
se tivesse mais uma vez a confirmação ~ do ^que scena antegozada. E um riso diabólico lhe arre-
reza o mais sábio brocardo popular : "Filho de gaçava os lábios sedentos ; e ficava a olhar, ran-
peixe . . . . " gendo sinistramente os dentes, um ponto escuro
E como nesse tempo já Santos Dumont tinha do quarto : lá estava, como a sua imaginação o
revolucionado a sciencia do Ar e contornava ante desenhava, o quadro dantesco : de borco, escabu-
os basbaques de Pariz a Torre Eiffel na sua "An- Jando no pó que o sangue espastava, uma sombr
tOniette", e já tivessem chegado até Pau d'Alho vaga, que num fio de voz, pedia água.
as zabumbas da Gloria" patíicia e as conseqüentes E elle ia espojar-se, espostejar o corpo á la-
curvaturas da Europa ante o Brasil, nos versos.do nhadas, canibaleseaniente, horrido e sanhudo . . .
'defuncto Eduardo das Neves, julgou de bom- aviso Tropeçava . ....'' E offegante e febril, porefando-
. a trefega loifeira, dar de azas também . . . E lhe do rosto, em camarinhas grossas, um suor
numa noite estrellada, feita de encommenda para gelado, quedava-se aparvalhado, hirto, bestiahsado.
os prirhordios de romances em brochura, com fi- E ás vezes, quando o cansaço vencia a agitação
gura ria capa, a dez tostões o volume, — em- que o tomava e elle conseguia conciliar o somno,
quanto o Chico, espapaçado, roncava de lado, ella já pelas frinchas do reboque cabido, viilha um
abalou sorrateiramente nos braços dum soldado , retalho vivo dó sói beijar-lhe a grénha hirsuta....
de policia
Elle, coitado, deixou-se estar. Choveram re-
moques, chufas, escarneos babados de gozo á Eu sou fataüsta. O nosso destino, mal aporta-
desgraça humilhada do Chico. Cantaram ao vio- mos á vida, traça-õ- indeleveímente o Summo
lão, com denguices na voz, o caso escandaloso. Creador: e tanto podem nascer para o mundo
238 A NOVELLA SEMANAL

dum mesmo santificado connubio, banqueiros res- queire de tiguéra, isso sim, era o que lhes im-
peitáveis e respeitados bandidos, homens d'alma la- portava. Numa cinzenta manhã de sexta-feira,
vada e límpida consciência ou requintados canalhas. uma noticia alvoroçante agitou a pasmaceira ge-
Não ha fugir: a rota traçada pelo dedo invisível ha ral da pacata Pau d'Alho: O Bastiãosinho tor-
de ser palmilhada. E' por isso que a vida é cheia nara á villa. Já não tinha agora aquelle ar aca-
de surprezas. Homens de reputação illibada e poeirado, petulante e rixento d'outróra. Do Se-
caracter impolluto acabam, não raro, como rato- relepe antigo só conservava o pernóstico bigodinho
neiros vulgares ; facinorosos bandidos fazem de retorcido e a paixão racial pela modinha e o vio-.
heróes de romance ; homens de vida intensa e lão. Não viera só : e isto era o que mais es-
trabalho activo, alquebrados ao peso das agruras candalisara as recatadas matronas paudalhenses.
no mourejar quotidiano, esmolam famintamente Trouxera de braço, rebolante e pimpona, uma
uma códea de pão, na velhice honrada e vene- espevitada figura rescendendo á Frèr d'Amú na-
randa. E, ironia da sorte ! — ladravazes trafican- cional. E logo que alguém os viu, uma vóz es-
cantes, para quem a honra é um peso incommodo ganiçada de mulher bisbilhotou p'ra dentro:
e a- dignidade um mytho, — ostentam a sua opu- "Venham vê gente ! A delambida da Zabé . . .
lencia regalada e o seu cynismo victorioso, so- Chi ! Que canaice! . . ."
berbos de empáfia e damos-lhes Excellencia ! . . . " A scena se repetiu. Ferveram commentarios
Nem sempre, se vence na vida tendo o Bem em torno do caso. "Ah ! póvre do Chico!"
por divisa e a sã Morai por dogma. Isto é velho Era com effeito a Izabézinha do Chico, que nu-
e sediço : e antes que eu descambe a pontificar ma noite enluarada quebrara os sagrados laços,
no intrincado cipoal da philosophia de algibeira, numa reles aventura com um soldado. Pou-
reatemos o fio da historia, que, com philosophia cos mezes depois elle a deixara, como traste
e tudo, quasi nem vale a tinta . . . de difficil transporte. Ella ficara, então, como
náu desarvorada, entregue aos caprichos da sorte.
Viveu ao léo, curtiu angustias amargas, jungida :í
Pois é assim : o homem põe e Deus dispõe... vida aventurosa e errante que herdara pelo san-
"O que tem de ser tem força ! " gue e pelo exemplo. Um acaso fortuito os apro- __
Vai dahi, o nosso Chico, com uma intuição ximou. Desde ahi não se largaram mais." Ella,
naturalissima, fundamentada em exemplos da pró- precavida e cançada, confiou-se ao braço forte do
pria ascendência, resolve, num golpe á gran-gui- amante. Elle, temeroso porque suspeitado, logrou
gnol, fazer-se o continuador invejado da gloríóla alliar-se a quem poderia, por despeito e vingança,
paterna. Nada detém o curso da vida ; nem a denuncial-o. O crime busca,o crime: çompleta-
morte, dizem os que crêm na transmigração das ram-se, pois.
almas e na vida futura. Assim viveram largos annos. Um dia, passou-
E a roda da vida; — motu-continuo donde nas- lhes pela idéia a imagem saudosa da terrinha dis-
ceu a roda loterica — na caprichosa indifferença da tante. Que saudade ! Um vago receio o tomava:
sua engrenagem silenciosa, vai extrahindo ás de- e si o prendessem? Mas que provas havia? E
zenas, os bilhetes premiados, (os a quemla fortuna quem tinha lá interesse em demmcial-o ? — O
sorri) aos milhares, os bilhetes corridos, como diz Chico... |
o vulgo (os que falharam na vida . . .) e os que, Mas esse, acovardado, pusilânime e cretino, não
muito sovinamente nos dão o mesmo dinheiro... lhe dava cuidados. Os demais tinham até feste-
São aquelles a quem o zombeteiro rifão satirisa : jado a quentão o trágico fim do Tuvira. Alem
"Quem nasceu p'ra vintém não chega a tostão..." disso, de antemão contava como o descaso das
O Chico queria chegar. A Sorte, que é varia autoridades da comarca, que só tinham rigor para
e inconstante, porque é bem feminina, deu-lhe os casos políticos, alheios a tudo que não fosse
a mão. ferir os interesses da camarilha absorvente. Ella,
Era em agosto. Um cansaço bocejante entor- por seu lado, conhecia á farta o marido. As ul-
pecia os membros, convidava ao repouso ou ao timas duvidas se desvaneceram. E arranjaram
banho frio estimulante. Feitas as roçadas, os Je- as malas.
cas deitavam-lhes fogo e iam socegadamdnte mam- Nessa noite, na casa do Ventura, ia animado o
parrear em casa. Pouco se lhes dava que o fogo bate-pé. No lar^o terreiro da frente, á luz pra-
iasaciavel lambesse em labaredas vorazes o mata- teada duma bojuda lua cheia, um grupo bulhento
gal visinho. A sua quarta de terra, o meio al- sapateava ao violão. Num claro aberto ao meio
.A NOVELLA SEMANAL 239

o Serelépe, de collarinho celulóide e gravata ver- sahindo. "Té aminhã, minha gente ! " E o Se-
melha borboleta, gemia, em nostálgico descante, relépe, repinicando ao violão uma pólkinha salti-
o exilio donde tornara. tante, rumou para casa com a companheira..
Andei mundo, corri terra, Foi se fazendo silencio. De longe em longe,
'tive até no Paraguay, numa volta de caminho, os que se separavam
Deixei os amigo veio davam os "Té aminhã" do costume. O vento tra-
Mas agora . . . nunca mái !
zia, de vez em quando, o écho amortecido dum
E um caboclinho fanhoso, o literato cia terra, tiro á distancia, praxe costumeira de fim de festa
dado a leituras nas horas vagas, com rasoavel na roça. As estrellas fugiam ariscas aos primor-
estoque de versos de Vitruvio, proezas de Sher- dios dum dia de canicula. Pela estrada deserta ia
lock, e pieguices de Macedo, a suspirada aspira- o par cantarolando. 'Scenas rememoradas, im-
ção de toda a lindeza de Pau d'Alho, — pi- pressões fugitivas obrigavam de quando em quan-
garreou e, do a comentários jocosos. Um longo silencio
Assúca preto e mascavo,
depois.
Só se compra no varejo ;' Estavam cansados, dérreados, anciosos por se
•«Nunca mais >" já disse o corvo pilharem em casa, na larga cama de colcha de
Quando perdeu o seu queijo . . .
retalhos e fronhas com monograma. Uma ma-
Toda a roda riu da alhtsão mofina. O Sere- céga, seguida de arbustos cerrados, fez-lhes ver
lépe deu de hombros e tornou •: que estavam chegando. - Isto animou-os. Deram-
Ninguém diga que num vórta,
se os abraços. Elle ertlaçou-a pela cinta, cari-
Quano arruma a troxa e sái. nhoso, ella cingiu-lhe o pescoço, amorosa. E ro-
Quero morre nesta terra bustecidos pela paixão que unira os seus destinos,
Onde tenho mãi e pai. — plangente, melodioso, evocando agruras pas-
E a roda, num sapateado vivo, repetiu, pían- sadas, entoaram em dueto um descante em
gente á copia final: surdina:
«Quero morre'nesta terra Quano chega minha hora
Onde tenho mãi. e pai . . . > Um só desejo me anima ;
Na cova de sete parmo,
E o fanhoso vate, sem esperar pela 'resposta, — Eu embaixo, ella em cima . . .
alteou a vóz e cantou : Não tenho medo da morte
. Quem arruma a trouxa e sái, Seja a mais feia que fô;
E' que tem negocio sério ; Quero i depindurado
Eufconheço um carniceiro Nas azas do meu amô ! . . .
Que já foi barão no império . . . E num movimento brusco, peito a peito, uni-
Jogado quano é matrêro, ram com força os lábios se,dentos . . . .
Pra joga prepara o maço, Da rnacéga ao lado, um urro de íéra a quem
Serelépe é bicho esperto,
Mas um dia cái no laço . . . . tomaram a preza, partiu.
E os dois canos duma garrucha, duma só vez
"Eta [cabocro d'espirito ! Chupa truco, Bas-
despejaram, num estrondo de roqueira, a metra-
tiãosinho ! „ E este, apontando para a compa-
lha assassina. E antes que se dissipasse a fuma-
nheira que o olhava embevecida, chorou no pinho:
rada que suecedeu ao clarão do fogo, um vulto
A muié que agrada os lióme,
Tem sempre cintura fina ;
cahiu sobre elles. Á luz pallida das ultimas es-
Serelépe cái no laço trellas — mudas testemunhas do nefando crime,
Se for sorte, se for sina . . . . — um brilho argenteo faiscou no ar . . .
Quano chega minha hora, Mas o abraço durava . . . A morte queos.sur-
Um só desejo me anima . prehendera num arroubo de amor, inteiriçara-lhes
Na cova de sete párnio,
os membros. E rijos, tezos, hirtos, como'um pi-
• — Eu embaixo, ella em. cima . . . .
nheiro que se abate, os dois corpos tombaram.
Não tenho medo da morte
Seja a mais feia que fô . . . . E sobre elles então, naquelles corpos que a
Quero i depindurado morte unira nnm abraço titanico, fundidos num
Nas azas do meu amô . . . . ultimo beijo, unificados para a viagem eterna,
nas azas do meu amô ! . . . . num furor iconoclasta, satânico, espantoso, o her-
É o bate-pé ferveu em roda viva, até que pe- deiro das glorias paternas, cevou-se na vingança
las três da manhã, os primeiros parceiros foram hedionda. O facalhão brutal com que o velho
240 A NOVELLA SEMANAL

Tuvira já abatera no moirão do terreiro as rezes


passivas, estraçou a lanhadas, na sanha horrenda
da desforra covarde, os corpos exanimes.
E o abraço não se desfez. E na bocca escan-
carada, hediondamente disforme, do Serelépe, que
a claridade diffusa deixava entrever, pairava, num
riso escarninho e mofino, a -alegria derradeira do
que baqueia I N„ A
nas azas do seu amô
Meu irmão è eu somos estudantes de Enge-
nharia. Chamo-me Pedro, elle se chama Paulo.
O resto é pouco. Enoja até. Gostamos muito de dansar. Isto depois de ter-
Realmente, não é uma pilhéria o jury ? terão mos freqüentado uma Escola de Dansa que nos
sempre os honestíssimos srs. juizes de facto a custava 6OS00OO por mez, o que representava um
isenção de animo, a clarividente viz|o dos factos, desfalque enorme na mezada. Fomos, outro dia, '
a integridade moral consentanea a tão melindrosa a um baile no Trianon, em beneficio não sei, de, •
missão ? Ha os que vão ao jury como quem vai que casa de caridade, para recolhimento de crean-
ao theatro : si a peça é boa, mas de um desa- ças pobres. Paulo valsou com uma moça bonita
fecto, quando a não vaiam, condemnam-na com que lhe deitou uns olhos compridos. Foi quanto
o frio indifferentisnio com que a recebem. Si é bastou para entabolarem um namoro que, por
má, mas o auctor é da rodinha d'elles, fazem de desequilibrado, não me pareceu gracioso. Passa-
cláque e estrugem aplausos. Epílogo' corriqueiro : ram assim "até, á madrugada.
Doze reses escolhidas a dedo pelas defeza, mais Ao nos retirarmos Paulo me disse que era ella
um palavriado ôco despejado em jorros, berrado filha duma das famílias mais distinctas da Pauli-
sobre a sonnolencia enfastiada dos srs. jurados, céa. Chamava-se Marianna e morava não. sei em
e o juiz pingou o ponto final do caso. E por que palacete da Alameda Barão de Limeira.
unanimidade, está claro, que no alto conceito dos Pobre rapaz! Queria por força ir visital-a,con-
seus julgadores, o nobre gesto do Chicão-Duas- forme ella o havia convidado. Acabou pedindo-
Mortes, fora uma desaffronta de honra ultrajada me que o acompanhasse: — Sem ti não vou,
e um nobilissimo exemplo de amor filial.. . disse-me. Accedi. Quando deixamos o palacete
Da cadeia para a casa do chefe: um terno da Bella procurei dissuadil-o.
novo, um par de botas, uma peléga de 200. Cabo — Olha, não sejas tolo. A moça é formosa, é
eleitoral de l.a. Temido nos arraiaes da opposi- rica, é de bôa familia, é tudo quanto quizeres,
ção; figura indispensável, obrigatória, necessária, mas não será nunca tua esposa.
de toda situação dominante que se preza. O — Isso dizes tu... e quaes são as razões para
Chico venceu. tal affirrnares ?
Não desanimem os que bracejam no mar largo — Eu ? motivos ? . . . Ora bolas ! eu sei.
da vida, sem a visão confortadora dum escalér — Sabes como ?
salvador. O exemplo é tentador. Força é se- — Escuta, quero ser franco: tua pretensa na-
guil-o. Vivam os magarefes ! ! morada é para comtigo duma indifferença quasi
— Que é que resmungas ? — Moralidade ? — desdenhosa...
Ingênuo que és! "Moralidade ha nas fábulas ! — Desdenhosa? i
Na vida, nem sempre. E é pena." — Desdenhosa. Não lhe viste aquelle modo de
Tietê. perguntar: — Sim ? . . . E' ?... E', é ?... - - a tudo
DIMA.S CAMARGO STEIN quanto lhe dizias ?
— Qual! historias ! Vá sahindo ! São elegân-
cias que não comprehendes. A própria indiffe-
rença é o encanto das mulheres.
— Bom, se é assim, faze o que entenderes.
Aquella sua idéa a respeito da indifferença das '
mulheres lisonjeou tanto a sua vaidade de poeta
(porque é um poeta) que, ao outro dia, veiu me
trazer um soneto que terminava por este verso:
A NOVELLA SEMANAL 241

Indifferente, má, quasi divina». Uma divina indifferença. Não riu, não sorriu
não choiou, não cahiu desmaiada, não sentiu a
II
menor emoção; disse apenas: — Esses estudantes
Não digo mais nada; um mez depois da pri- são uns infelizes; qualquei italianinha os perde
meira visita Paulo era noivo da senhorita Marianna. Divina, pois não achas ?
Fiquei boquiaberto, mas, nem por isso, duvidan- 1
S. Paulo 1921. JORGE FALLE1ROS
do menos. Pudera não! Se a familia havia
pedido prazo até ao dia da formatura !
III
O contracto que acabo de narrar se deu ha
uns dois mezes mais ou menos. Hontem assisti
ao casamento do meu irmão. Não houve outra
assistência além da minha. Fizemos a cousa ás
escondidas.
— Como assim? perguntará o leitor— pois a
PEITO-LARGO
noiva não tinha pedido um prazo enorme ? Eram decorridos alguns anos dês que o Guedes
De facto; mas é que elle não se casou com a comprara uma escassa bem que fértil gleba na,
noiva. Casou-se com uma pequena italiana, cos- sesmaria. "dos Cedros," quando lhe nasceu a Es-
tureirinha corriqueira. mera, "Merínha," consoante tratamento casei-
Paulo tinha o máu costume (por, mim varias ro, que era o alvo dos seus mimos, o ai Jesus!
vezes reprehendido) de ir estudar no Largo do da casa. . ,
Arouche porque o nosso quarto é um tanto es- Ajudava-o valentemente nas roças o filho mais
curo. Ora, aconteceu que a italianinha passava velho, o Neco, que já ia pelos vinte, com uma
por ãlli todos os dias, e elles se entreolhavam mu- notável estatura, torso de íutadpr e pulsos respei-
tuamente. E, como o Diabo escreve torto por táveis e tal arcabouço que bem justificava a al-
linhas direitas... o resto o leitor já sabe. Tam- cunha com que mais tarde vieram a nomeá-lo.
bém o pae delia veiu a saber e quiz que a policia Sua índole é ações, nada prenunciavam então
também o soubesse. Esta forçou meu. irmão ao que justificasse o renome e por completo briga-
casamento. Uma desgraça! Fiquei desconsolado. vam com esse sugestivo e lendário nome de guer-
—- Mas Paulo, — disse a meu irmão — que ra : era um borrêgo simples,' morigerado e timo-
fizeste? Deitaste a perder a tua honra, a honra rato. Se ia a festa,, como sofrível folgaz, e moço
da nossa familia, todo o teu futuro... que era, jamais alguém o vira excedesse em be-
Como, porém, elle começasse a • chorar como, bidas, tomar de cartas para jogar dinheiro ou
uma creança, de tal maneira que fazia dó, tive rentàr a qualquer. Ia aos terços e motirõés, sem
pena d'elle. Consolei-o: prescindir de convites, e tal era o seu porte nes-
— Mas afinal.1., agora... que diabo! sas reuniões, como em toda parte, que chegavam
a cumprimentar o Guedes pelo filho que possuía,
IV o qual era por outro; pais apontado á prole co-
Hoje estava eu fingindo esperar o bonde no mo modelo. '
Largo dos Guayanazes, quando me encontrou um Ha peroração das paternais admonendas suspi-
collega de pensão. ravam :— Se Deus me houvesse dad i um filho como,
— Estavas esperando o bonde? o Neco!,
— Não. Estava te esperando a ti para prosarmos,. Àquele sim! Trabalha em casa toda a semana
Não tínhamos prosa. Passou por nós uma e aos domingos, antes do pasaeio ou dâ caçada,
rapariga. vai á missa. Não ser recolhe para o quartinho á
— Divina, pois não? — fez-me elle. noite sem a bênção do pai, para que tenha um
— Deixa disso! — respondi com uma idéa fi- bom sono e seja feliz. Ali está um rap?z ás di-
xa. Só houve na terra uma mulher divina. reitas !
—. Qual terá sido, Deus de bondade! Acompanhava a irmã á missa ou a algum vi-
— Foi a noiva de meu irmão no momento em zinho que reclama -sua presença dela para que
que soube do casamento d'elle. desse uma demão ás panelas Ou ao' forno, se o
— Estás maluco? cumprimento de um voto > religioso determinava
— De facto, aauella indiffereaa»wjgL divina. para algum sábado ou véspera de santificado uma
242 A NOVELLA SEMANAL

ladainha em oblata ao santo respectivo, sucedida lhou de casa em casa que o decoro da casa do
da ceia e danças consuetas. Guedes fora conspurcado pelo Dito e que a pobre
Reconhecidamente hábil, péchosa em todos os Esmera ia ver-se constrangida pelos tentáculos de
•seus dons caseiros, a moça já aos dezesseis anos um dilema: a casar-se a todo transe com o chas-
era admirada pela diligencia e pelo esmero com quete do rapaz que a desdenhava, ou a eivar pa-
que, bem justificando o seu nome, se desobriga- ra sempre a honesta velhice do pai e as honro-
va de tais tarefas. Caseira e dedicada aos seus, sas, bem que humildes, tradições da familia.
era parca de sorrisos, avara de suas graças, co- Avultava-se a mu rmu ração odiosa, insinuando
medida em palavras, mantendo onde quer que que Esmera já não podia agora dissimular a pres-
aparecesse a mais irrepreensível e louvável.com- sa, talvez a leviandade com que afiusara nos pro-
postura. testos do noivo infame: sua falta, dia a dia, se
Seis meses, se tanto, havia que se mudara para tornava conhecida, evidente.
os "Cedros" uma familia procedente de municí- Pela manhã de Maio, eneblinada e fria, a pe-
pio cercão. As visitas usuais, a reciprocidade de quena e desordenada estação ferro-viária, de pou-
serviços em motirões, ocasionaram para logo a co levantada no seio da mata, vinha se animando,
aproximação das duas famílias. com a aproximação da hora em que devia passar
O Benedicto, "Dito", como lhe chamavam em o único trem diário de passageiros que a visitava.
casa, filho dos nossos vizinhos, em pouco acama- Chegaram fazendeiros, de chapéu de palha,
radou-se ao Neco, que a miúdo o levava para brancos, envergando sobretudos, rebuçados com
casa, aos sábados, ingressando-o até á cozinha, cachinés e repetenando-se nas almofadas do tróli;
onde conversavam junto ao fogo, conversas que ora um cavaleiro moço, de botas e rebenque,
muita vez eram continuadas no quarto do hospe- precedendo ao pagem condutor da mala e que,
deiro, onde o hospede evocava saudoso os encan- recebia às bridas ao apear-se o patrão.
tos do "Arvaré", como êle chamava á cidade pau- Alguns, trigosos e impacientes, iam-se abeiran-
lista, estropiando-lhe o nome., do da bilheteria deserta, a contar dinheiro, tiran-
Esse acotiar á casa do Guedes o foi, dia a dia, do do bolso do colete os níqueis para perfazerem
rendendo aos encantos de Esmera e a sua apro- o custo da passagem. Ociosos passeavam a plata-
positada guapice e rebuscada destreza ao trabalho forma, indiferentes, em passos á toa, e pretas
grangearam-lhe em breve a sua confiança. Assoa- quitandeiras, descobrindo taboleiros portáteis, ex-
lhou-se pelo bairro que a menina deixara de ser punham, junto á parede do edifício, as suas
a princeza encantada dos contos e topara final- mercês.
mente homem que lhe baldasse a timidez e lhe Um silvo possante, novelos de fumo entrevistos
frustrasse a esquivança. Diziam-nos até noivos. na próxima curva e, em uma gradativa conten-
Decorrido o tempo preciso para que se colhes- ção de marcha, o comboio abeirou-se, ruidoso, a
sem as informações sobre o pretendente, período resfolgar. Um rapaz vestindo talvez a sua melhor
de observação que se impusera o velho, foi o e mais nova fatiota de brim, que desde pela ma-
r
'Díto" admitido a participar dos trabalhos, penas nhã aí estava, já de posse da passagem, tomou o
e alegrias da familia como seu futuro membro. estribo de um carro de segunda, entrou, sentou-
Já o vizinho se lembrava, queixando-se, de que se junto a uma janela, cujo vidro desceu, e pôs-
"quem casa uma filha ganha mais um filho e se a olhar para fora, com um ar de satisfação e
quem casa um filho perde-o." Era o que lhe ia tranqüilidade.
fazer o Guedes, usurpando-lhe os direitos e talvez Um cavaleiro a meio galope sustou o animal
a afeição do filho. junto á cerca que guarnece a linha e, apeando-se,
Falava-se em marcar o dia, quando as visitas varou pela estação, abrigado por um espesso pon-
do noivo se foram espadando, até que de vez se cho-pala, cuja gola levantara até o queixo. Dirí-j
cortaram. A' menina foi-se-llie crescendo o re- gindo-se para o trem, defrontava conhecidos que
traímento, tornando-se mais recolhida, rindo-se o cumprimentavam :
raras vezes. — Olá, "seu" Neco! Então por aqui? Bom dia.
Deixou de sair, declinando dos mais instantes e — £' verdade. Bom dia . . .
-amáveis convites. v"" O viajante moço, debruçado á janela, ao vê-lo
E a choquice deu-lhe para a palidez: parecia aproximar-se, intimou-lhe com arrogância:
doente. — Pare aí. Acho bom você não se chegar
O boato malévolo, o abominando,-, onsta, espa- muito, não. >
A NOVELLA SEMANAL 243

O Neco, com um amargo sorriso, parou, obtem- Na, estação, antes que acodisse a? ação e a ini-
perando persuasívo e calmo: ciativa ás duas únicas praças de policia presentes,
— Que é que você receia, Dito ? Não brigo já o Neco, pouco antes apodado de poltrão, desapa-
com ninguém, como você sabe, e não trago ar- recia pela estrada arenosa paralela ao leito da linha.
ma. Olhe. E, tirando as mãos de sob o pala, agi- Mais tarde, quando foi a júri, aureolado pela
tou-as abertas, acrescentando, conciliador: simpatia popular, aclamavam-no e os jornais Ihe-
—Í Vim só para conversarmos Um pouco. En- faziam referências cheias de subtítulos, chamandõ-
tão é certo que se vai embora? lhe Neco Guedes, o Peito-largo.
— Para Botucatú. Estou entejado do sertão - ' indiferente a essa significativa antonomásia, o Ne-
Você embarca também ? co acareou a estima, a admiração e o respeito gerais.
— Não. Lá em casa estão chorando, por amol- Peito largo é hoje, até onde vai a sua fama,
de você... E o casamento, Dito, não sai mesmo ? simultaneamente temido e bemquisto.
Minha irmã como fica? Venda a que elle chegue deserta-se logo e a
—-Ora essa! Fica como era: nada lhe fiz, não sua presença desfaz rusgas' em começo, é portado-
lhe tirei nenhum pedaço . . . Casa com outro; há ra de reconciliação e de ordem. No entanto con-
tanto rapaz por aí. tinua sendo êle em casa o calado, o pacifico, o
O Neco voltou o rosto, por esconder a palidez, cangueiro de outros tempos.
e continuou: Pirajú (S. Paulo) 1898. CARLOS DA FONSECA
— Não é isso. Você bem sabe - e está se fazen-
do desentendido. Merinha não pode casar com
outro. È, aproximando-se mais, perguntou em voz '
frouxa, com um tom de piofunda angústia:
— E . . . a criança, Dito ?
— O'filho? Tudo se remedeia: você casa e
leva-o para criar. Não gosta de um sobrinho ?
Curiosos, interessados no dialogo, saboreando
o cômico e o inédito da scena^ os circumsíantes
sentiam-se boquiabrir ante aquela incrível poltro-
TIO GA IEL
Chovia desregradamente e as águas cahindo no
neira. Um viajante, apoiado ao "break", retirou-
inferno do monjolo velho, enchiam de clamores
se cuspindo, enojado, a murmurar: '
aquella noite escura. Com as barbas derramadas
— Apre ! Já é não prestar ! Tamanho homem ! sobre o ponche azul, mãos espalmadas para o ca-
Quem ouve destas e nada faz . . . lor da lareira, pois que a estação era de inverno,
O Neco baixou a cabeça trêmulo, meio cego, entretia-nos o nosso pae, recordando o seu tempo
livido, cruzando os braços ao largo peito, sob o de moço, quando enganava as velhas por causa
pala; e, como se calasse, o interlocutor pergun- das jovens e usava gravata de laço longo para os
tou a escarnear: exames em Palácio. Não fora songo e os"seus
— Então, é só ? Olhe que já houve signal de olhos, rebrilhando nas orbitas-fundas, diziam muito
embarque... em abono dos feitos que nos ia narrando. As
/ — E minha irmã? P e n s e . . . montadas e os novilhos nedios da chácara do
— Não tenho tempo de pensar. Adeus í Quer Pary; as fugas do collegio dos educandos em
alguma cousa para Botucatú ? SanfAnna, as festas da Penha e, sobre tudo, os
— Nada. Muito obrigado! Boa viagem'. sustos ao preto Manoelão, doceiro de Sinhazinha
O Dito, triunfante, a impar, estendeu a mão: Machado, passavam vividamente pela nossa ima-
— Então, adeus, Neco . . . ginação exaltada ao calor do brazido, aos arrou-
O rapaz, que já descruzara os braços; deixan- bos por vezes eloqüentes do narrador. E á con-
do-os caídos aos flanços, quando já tangera uma versa derivava deliciosa, cheia de encantos para
sineta e a locomotiva arrancava, tirou rapidamen- nós, cheia de saudades para o ancião. Gabriel, o-
te uma arma. heróe de todas as façanhas, companheiro e salvador
O estrugir de um tiro misturou-se ao silvo de daquelle que, para nós, tomava as proporções dum
partida e ao entréchocar de ferros em movimento. ser divino, insinuou-se em nosso affecto, assenho-
Quando, passada a estupefação da surpreza e reou-se da nossa alma. Quem era esse Gabriel ?
do terror súbito, alguém se lembrou do aparelho — Quem era? pois ainda não sabem que falo.
de alarma, já ó trem corria, levando o cadáver do seu tio Gabriel ? Arre ! . . .
de um passageiro. Uma dessas pausas communs nas palestras, so-
244 A NOVELLA SEMANAL

breveio á exclamação do velho que, em silencio, se duma jluz triste, melancólica, apagada. O sof-
apertava com a unha do pollegai a ponta encan- frimento extinguira o brilho daquellas pupillas
decida do cigarro, pensativo a olhar os carvões negras. Reavivou-se a lareira, erepiíou o lume
c-repitando no ladrilho. para guizados ligeiros, emquanto o nosso proge-
— Em que está pensando? interrogou um de nós. nitor rejuvenecido até, narrava ao tio Gabriel os
— "Não sei porque, respondeu-nos, fui soprar pensamentos fúnebres que tivéramos sobre a sua
essa cinza, essa poeira que os annos haviam aca- pessoa. "Ora veja, mano : chorávamos a sua mor-
mado por sobre tantas passagens da minha mo- te e você bem vivo, tão perto de nós; foi Deus
cidade ! Olhem, o coração da gente é como este que nos enviou aquellas maguas para melhor go-
brazido: venha a recordação reavival-o como faz zarmos este encontro inesperado. Chega de tanto
a aragem ao fogo e as saudades se ateiam como peregrinar; moraremos juntos, a casa é grande".
brazas, queimando mais do que ellas. A casa é grande — repetimos nós, olhando as
feições esbatidas do tio Gabriel. O seu porte não
Disse tanto do mano Gabriel e elle, coitado !
correspondia ao vulto que imagináramos atraveí
onde estará a estas horas ? Desde que a esposa
da eloqüência paterna. Não era\um forte; o cor-
morreu, nem commigo quiz morar; andava lar-
po se arqueava como si um peso o acurvasse para
gado, sosinho, alma penada a cumprir um fadario
a frente e as faces duma côr de cera pareciam de
triste, assombrando os viajeiros das estradas do
morto. Eram três horas da madrugada e ainda se
oeste. Nunca mais soube delle; talvez já não exis-
conversava animadamente ao redor da mesa quan-
ta, o pobre! Quem lhe haveria cavado a cova ?
do um bocejo longo nos fez pensar no cansaço
talvez morresse ao longo dos caminhos, sem uma
do velho tio. Demos-lhe o quarto da sala, desti-
prece, sem urna cruz para dizer que alli dormia
nado aas Hospedes. Coitado! ha quantos annos
um christão. Nem sei porque fui tocar nesses tre-
não veria nm leito bom como aquelle ? Ficamos
chos do meu passado, que me dormiam cá dentro,
ainda á mesa em commentarios cheios de excla-
no velho coração, frios como em cemitério."
mações e surprezas. Lá fora amiudavam os gallos
Seus grandes olhos choravam e nós commovi- e a chuva cedia; do beirai já gottejavam as ulti-
dos viamos também entre lagrimas, a cova pobre mas .águas da1 tormenta.
do tio infeliz, sem epitaphio e sem cruz.
Lá fora, continuava a chuva fragorosamente e Dispunhamo-nos a dormir as horas que restavam
as águas, cahindo no inferno do monjolo velho, para o amanhecer quando ouvimos o chapinhar
enchiam a noite escura de clamores. Um medo de um cavalleiro apressado e logo um ancioso —
se apoderou de nós. Era já bem tarde e o vento, "O' de casa! "
soprando no beirai, 'embrava choros, imitava ge- Que historia! exclamou o velho chefe; alguma
midos. Recahimos num silencio mortal; amedron- nova surpreza ? Abriu-se à porta. Um mulato ma-
tados, não ousávamos fitar uns os outros, quando gro, sem1 reverencia alguma saccou do bolso um
uma voz forte nos gelou o sangue com um po- telegramma. Dentro estava escripto: — Em Rin-
derosíssimo — ''O' de casa! " Ninguém respon- cão ; casa de amigo; meia noite, falleceu Gabrjel
deu. Quem seria? Era fanhosa a voz. "Vou abrir Lopez. Gabriel Lopez ! não era o nosso tio ! não
a porta," disse o nosso pae. Não vá — gritamos repousava na alcôVa da sala ? Havia de ser en-,
nós. E nesse entremeio de "vou" "não vá", amai- gano; voamos ao quarto, escancaramos a porta...
nou-se o vento; aproveitando a calada, a mesma Nada ! tudo vasio ; o leito sem uma ruga, intac-
voz retumbou e desta vez, accrescentando o no- to. Unicamente um mystico aroma de incenso e
me do chefe da familia. Não havia duvida, era rosas murchas perfumava o aposento vasio. Fora
gente conhecida. A porta se abriu. No fundo ne- uma visão; fora o fantasma do tio Gabriel.
gro da noite, mal alumiado pela chamma dum
lampeão, pudemos apenas ver um homem alto,
grande chapéu na cabeça, molhado inteirinho. Um Longe vinha o dia pallidamente. Na meia luz
sopro de vento apagou a luz. "Entre! " foi o que da nossa memória vibratilizada pelas emoções da
ouvimos e depois, o ranger dos quicios emperra- noite, desfazia-se aos poucos a personalidade mys-
dos da poita que se fecha. No clarão davasaJa- teriosa do Tio'Gabriel, cujo' olhar velado duma
de jantar, com voz tremula apresentou-nos o nos- tristeza que parecia eterna, diluia-se como as ul-
so pae ao desconhecido : "seus sobrinhos" ; e a timas estrellas nos esplendores da manhã, enchen-
• nós : "seu tio Gabriel". Tio Gabriel! Possivel ? ! e do-nos a alma duma dôr profunda, cónvidando-
precipitamo-nos para os braços delle, enchemol-o nos a chorar. E choramos sentidamente.
de caricias. Mas, os seus olhos fundos trasvasavam EIRA
A philosophia de Tan nhum guerreiro entediado, foi por va pote. Pois~si o seu t a n g r a m m a
mim deduzida, do texto, incomprehen- só dava para isso... ,
sivel aos olhos'do vulgo, bem que eu E eu estou com o chinez. As theo-
Nunca li obra alguma do philoso- não seja nenhum matador em dispo- rias philosophicas são um traço cari-'
pho chinez. Sei-lhe apenas o nome e nibilidade. catural, cujo complemento imagina-
conheço-lhe o invento, que aliás, é E u sempre achei exquisito o tan- mos de aeeordo com aJFpropria idío-
obra de fôlego : úm brinquedo de gramma. Fazer' uma gallinha, de- syncrasia... Assim, no geral, a ca-
creanças... compol-a e, oom luas partes, crear rantonha do autor degenera, na dà
Si Tan escreveu algum tratado igno- u m homem, sem, no entanto, lh'as gente. '
ro-o ; si existiu, não -sei'; mas com dar a comer,! Ou de um ganso fazer E eis ahi com o que .brincam me-
certeza, era philpsopho e chinez. Si. uma frueteira ou um lampeâo !... ' ninos e Bonapartes — com o sueco de
duvidam informem-se do tangramma, . Simples e profundo ! (Pudera ! Não
Qualquer um, me^mo um p i r r a l h o ! fosse tal e desabaria sobre mim o todas as sabedorias. Sempre è uma
esclarece 1-os-á, aTespeíto, recortando mundo todo para vingar-sc da affron- grande verdade que 6 simples ó o
. em papel cartão quadrungulár as sete ta que lhe faria em ser profundo e profundo.
cabaliscicas, geométricas figuras : um complicado.) Magno Tan !
parallelogrammo, um qxradrado, dois BKKNNO FERJCSÜ.-
triângulos grandes, outros tantos me- E puz-me a pensar, largos dias, na
nores e um médio. Com esse barro chiheza intenção oceulta, que presi-
fazem-se homens e coisas e até aquillo dira a faotura do magno, brinquedo.
que satan não' houvesse imaginado. Al,li havia dedo...
E o pequeno que isto lhes disser
accíescentará, por certo, a guiza, de
Transcendi. Passei pelo monismo
e1 detestei Haeekel" pelo Evolucionis- Avíd^-^écdiDtíca.
indefectível credencial, a particulari- mo e abominei . Spencer... Chegara
tarde para ' formulsr essas theoriás,
.é pifÍer&Ê&;405 :-Z
dade '-notável'de ter sido o t a n g r a m - que aliás estavam ha séculos alli, la-
ma o passatempo predilecto de Na- tentes, no papel recortado. Consolei-
poleão I. me, afinal, com o diminuir-lhes a
,E me venham dizer, depois, que gloria,, dizendo que muito antes o,meu
Tan não -era philosopho e chinez...
Pouco importa que elle nao tenha
Tan j á fizera do Um sahir o Tudo e o Epclydes da Cunha
Tudo voltar a Um. E com grande
existido, listará, então, em muito vantagem sobre aquelles dois, porque
b o a , companhia, - junto de Homero, Euclydes da Cunha viveu em São
não escreveu, mas demonstrou mate- Paulo. Fez-se em nosso meio e entre
Lycurgo, Siiakespeare e celebridades rialmente a Verdade... O seu invento ,nós escreveu «Os Sertões>. Fartamen-
taes, bastante celebres para que sua ó a corporisação daquellas philoso-
existência seja posta em duvida. O te conhecido, portanto,: em nossas me-
phias. lhores rodas, fácil se torna apanhar
facto é que existe a obra prima da
quinquilharia, que é delle. Nós somos tangrammas ; viver é algumas notas sobre a sua vida, isto
brincar com tangrammas ; o mundo é, sobre o seu modo de ser, a manei-
, Eis quanto basta para haver u m a ra de encarar as coisas e de se con-
philosophia de Tan. Mas ainda ha não passa de um grande tangramma... duzir entre os factos.
mais. Pois o passatempo de Bona- Sim, senhores. No fundo tudo é pa-
parte poderia djeixar de t e r , u m a phi- pel.;, perdão ! matéria e o que faze- A propósito, a personalidade do
losophia ? Não se concebe irreverên- mos é dar-lhe esta ou aquella forma. grande mestre do estylo se revelava
cia tamanha. 0 tangramma precisa, E a alma ? sempre typic.i, inconfundível, com
ter, tem uma profunda sabedoria, es- , A. alma também é rim quadrado de um caracter aneedotico' significativo
trangulada, esquartejada nos seus se- papel a se recortar, á medida que de bem vincadas feições moraes. A
te pedaços, como por certo, o bom crescemos, nas sete figuras «tangram- verdade a seu respeito é, sempre, ver-
chinez também ofoi. (Precisa ver-se matícas». E são ellas que, quando 1 dade pittoresca. E' que a originalida-
que um chím de gênio devia ter mais queremos philosophar, se põem a dan- de estava-lhe nos instinetos, no -mais
de quatro >quartos). sar, desordenadamente, em nosso cé- profundo dos nervos.
Pois é isso. 0 brinquedo de pape- rebro, até que se coordenam em uma Entre os episódios dó seu dia a dia,
lão foi inventado por um philqsopíio, imagem. 'Mas esta varia de indiví- conta-se um, oceorrido nesta capital,
que lhe transfundiu alguma coisa' de duo para indivíduo, porque não está em casa de distinetopaulista. E : uma-
sua alma, poíque Napoleão não era na sua vontade armsfr o tangramma passagem simples, vulgar, mas cheia
qualquer, nem era homem p'ara ma- da razão assim oxi assim. Nascemos 'Se significação. Anima-a ó grande po-
tar tempo. A expressão "passatem- j á com a silhueta bosquejada no ín- der aifectivo, o forte sentimento, que
po" é o que-ha de esfarrapadámente timo, mais ou menos definida nesta dis^inguia o genial brasileiro. Ressu-
eitphemieo. Ell,e matava coisa me- on naquelle. 0. trabalho é determi- ma, ao mesmo tempo, uni amor pró-
l h o r : a gallínha, b ganso, o vende- nar-lhe os contornos, justapondo-lhes prio hypertrophiado e um orgulo tão
dor de porcelana, o homem na bar- os polygonos para resaltar a nossa
quinha e outros animaes que , se fa- personalidade. E é difficil isto, por- ' profundo quão insopitaveL.
zem e desfazem com o, tangramma. que alguns- têm mais de um bosquejó Euclydes da Cunha-, quando de pas-
Sempre .fera... "' , e de um-para outro andam, sem nada sagem por São Paulo, hosped,ava-se,
geralmente, com ,um dos seus amigos.
E, além disso, .tinha pra.zer ainda conseguir cie eítavel... Mesmo com família, mulher e todos
maior : gosava o riso philosophieo, Na razão do valor da c-ffigie qtie os filhos, um bello dia lá vinha elle
sardonico, esboçado naquelles carac- i compuzermos está o nosso talento.' — gente de casa, que chega e entra
teres cuneiformes e nelles via a morte Quem não sae.do quadrado é... natir- , e, quando vae, só deixa saudade. Uma .
moral do gênero humano... '' ralmente,-quadrado. Quem chega ao ' vez, de mudança, precisou deixar nes-
Era isso. Devia ser, ao menos, por, lampeâo é menos grosseiro. E aquelle sa casa algumas malas, engradados e
honra da firma. B, si nao foi, me- que confecciona o ganso é quasi a- outros volumes, ,que na occasião não
lhor para mim, que terei, nesse caso, gnia. .Nessa proporção também está podiam seguir com elle. Muito bem.
para honra da familia, a prioridade a nossa philosophia : simplista, ba- Lá ficou tudo sem maior incommodo
na decifração dos sete hieroglyphos. rata, traseendente... , pára quem quer que fosse.
A philosophia do nosso homem — Tempos depois, volta Euclydes e
como se vê — ó extraordinariamente procura o que era seu. Levam-no ao
Começarei, portanto, por dizer que monista. Admitte a existência de to- porão. Embora na meia obscuridade
a philosophia de Tan, si nao e delle, das as outr-is, que não são mais que- daquelles quartos baixos, mas nem
é minha, bem que eu não seja chim; formàs da verdadeira. Admitte mes- tanto que nelles não se andasse á von-
,e, si jamais foi entrevista por ne- mo aquella do suieito que,, se julga- tade, os seus guardados ficavam bem
24S A NOVELLA SEMANAL

F a s c i c u l o 21. 5 F a s c i c u l o T\.O 1 1
O L u n d u m — José Veríssimo . . . 73 A resalva — João Luso . . . , !Bí*
A Feiticeira — Inglez de Souza . . . 7B A V i r g e m d a s e s m e r a l d a s - C a s t r o .Menezes . 172
Uma Santa Brasileira — Santa Diana — Lima O velocípede — J . Ramos . . . . . 171
Campos . , . . SO A e s m o l a — Mario Sette 177 ,
G , C . P . A. — H a s t a o C r u l s . . . . K3 Tia Elisa — J u l i o Scheibel . . . . . . 179
A carta do suicida — Sud Mennncci . . . i»)
S U P P L E M E N T O - Vida literária — Psycholo-
gia do tlieatro . . . , . .' 86 S U P P L E M E N T O .— A v i d a a n e c d o t i c a e p i t t o -
C u r i o s i d a d e s l i t e r á r i a s — «A C o m e d i a » . »~ resca dos grandes escriptores — Amadeu
Os n o s s o s p o e t a s — U m a s a t y r a d e H i l á - Amaral — Paulo Duarte . . . . . . 182
rio Tácito . . . . . . . . 8b C u r i o s i d a d e s literárias — Pensai»entos de
EU3- B a r b o s a ( C o l l e c t a n e a d e M a r i o d e L i -
m a Barbosa) . . . . . . is.i
Fe.scic-u.io n . 43 R a c i n e em C a f é - c o n e e r t o . . . . IS&
Preço d e f S a n g u e — Jorge Falleiros . . . 89 L e c o n t e d e I-i.sle — ,le;m D o r n i s . . . 1S4
O s v:cios d e l l e s — .Tulia L o p e s d e A l m e i d a . . 91
Ciar,nha d a s r e n d a s — Mario Sette . . . 93 F a s c i c u l o n . o12
conomiar domestica — Euclydes Andrade . . 100
Na escola — José Sizenando . . . . . . . 185.
S U P P L E M E N T O — A vida anecdotica e pitto- Conto d e F a d a s — Raul Pompeia 1Ü8*
resca d o s g r a n d e s escriptores — Simões A c a r a d o m e u visinho — J u l i a Lopes de A l -
Pinto — Lourenço Filho 102 meida M
Vida l i t e r á r i a — O p a r a d o x o d a c u l t u r a A. M. 102 A v i n g a n ç a d o T e i x e i r i n h a — JSicolau P e r o . : 192
Curiosidades literárias — VERSOS — João C h r i s t o — S y l v i o Kloreal -194
Ribeiro . . . . . . . . 103 T r a p o s d a vida — Manoel Víetor . . . 196

F a s c i c a l o n . 7 S U P P L E M E N T O - Vida l i t e r á r i a — V i s ã o g e r a l
d a l i t e r a t u r a b r a s i l e i r a — M o n t e i r o L o b a t o 198
Briga d e gallos — Julio Scheibel . . . . 105 A a u r o r a d e C a s t r o A l v e s — B o n a l d de
L a g r y m a p e r d i d a — Lúcio d e Mendonça . . 107 Carvalho . . . - . . . ' 199
O Cordão — / f bales Andrade 111 C u r i o s i d a d e s l i t e r á r i a s — L i t e r a t u r a do
O Arrepio — Oscar Lopes . . . . 11 ti outro mundo, . . . , 200
S U P P L E M E N T O —Vida Literária -'CRITICA
— Melían Lafmur . . . . . . . 119 F a s c i c u l o n . o -13
P a g i n a s Celebres— D a «Arte de F u r t a r » . . 119
L e i t u r a s — O nome Brasil — Questões de A v e l h i n h a — Affonso A r i n o s . . . . . . 201
P o r t u g u ê s — lli-liyuiils d a M e m ó r i a 120 Má s i n a — Lucilo Varejão . . . . . . . 203
Os n o s s o s p o e t a s — U m a bella i m a g e m 120 O n a t a l d e V o l t a i r e — E d u a r d o P r a d o . . . . 204
A e r m i d a — Rodrigo Octavio . . . 207
O poder d e D. Domitilla — V i r i a t o Corrêa . 209
F a s c l c u l o ín o 8 O a v ô — G-odofredo R a n g e l . . ... . . 210
Rogério, o rude — Raul Pompeia 121 O Tio d a Escócia — Luclo de Mendonça, . . 211
U m p r o b l e m a d e p s y c h o l o g i a — L é o Vaz 123
121 S U P P L E M E N T O — A vida a n e c d o t i c a e pitto-
A f u g a — Aftbuso A r i n o s . . . . . . r e s c a d o s g r a n d e s e s c r i p t o r e s — U m a car-
Noite d e São J o ã o — Luiz Carlos . . . 127
129 ta inédita de Euclides 211
" M ã e M a r i a " — Olavo B i l a c . . . . . Vida l i t e r á r i a — G-óea T a t u n a A r g e n t i n a —
J e s u s — T h o m a z Lopes . . . . 132 •Manoel ( l a l v e z H i j o 217
S U P P L E M E N T O — A vida a n e c d o t i c a e p i t - C u r i o s i d a d a s l i t e r á r i a s - - P o n s o n d u Ter-
t o r e s c a dos g r a n d e s escriptores — Euclides rail, poeta . . . . 215
da C u n h a — Viriato Corrêa . . . 131 O 'tactilismo» — S 215
Vida l i t e r á r i a — A Atlantid;i> . . . 1.55 Um discurso proferido pelo grammophone 2lfl
O s . - o s s o s p o e t a s — P a u l o Ku-ó — A.maderx Os nossos poetas — Simões Pinto . . . . 2 lli
Ar.nral . . . . 136 1
Paeinas celebres — De Anaereonte 136 F a s c i c u l o x&.o 1 4 -
Vida e l e g a n t e — J u l i o C é s a r d a -Silva . . 217
Fasciculo n . o <J A e n t r e v i s t a — T l i e o d o r o M a g a l h ã e s .. . . . . 219
Anecdoía pecuniária — Machado de Assis . 137 O h o m e m d a s c i r c u l a r e s — J u r a n d y r G o m e s ; 221
A lavadeira — José Veríssimo Ml S i m p l i c i d a d e — C o e l h o Metto . . . " 22i I
Natal no Lourenção - - Waldomiro Silveira 111 Dois idiotas — J u l i o Schcibol
A venda secca — Oliveira e Souza . ., lli
O veiho escrinio — F. Silveira . - 146 S U P P L E M E N T O - A vida a n e c d o t i c a e pitto-
O Tônico — João do Xorte 119 resco d e s grandes escriptores — Ricardo
G o n ç a l v e s — M, Vil l a ç a d e C a m a r g o . . 229-
SUPPLEiviENTO - - A vida anecdotica e pitto- C u r i o s i d a d e l i t e r á r i a s - - A ' s s e n h o r a s ha-
resca dos grandes escriptores — Coelho hiariii/i — C a s t r o A l v e s . . . .' . 230
Netto. . . . , . . . 150 O C e n t e n á r i o d e F h u i l i e r t — C. . . . 231
. Os nossos poetas — dnania verba» — B. F. 151 Paginas esquecidas O vocabulário —
Curiosidades literárias — A cAilantida» de Coelho Nctt.j . . . 23
iJlatão — 1-1. cie Rauville . O s n o s s o s p o e t a s — J u l i o César <ln S i j y a . 231
Leituras — Vultos e Livros — Figurões vis-
tos por dentro -*- Piraquaras . 152 F a s c i c u l o n . o 15
F a s c i c u l o m.o IO Alrna frivola - - S u d M e n m i e e i 2*1
C h i c ã o " D u a s m o r t e s " — Dima» C a m a r g o St.uin 235
A Façanha ,do Imperador Theortoro Maga- Divina — J o r g e F a l l e i r o s . . . . 210
lhães . . l r>:-s P e i t o l a r g o — Clarins d a Fonsee.i, 24!
Querer bem — Afranio Peixoto . . . I.'i8 Tio G a b r i e l — K. S i l v e i r a . . . . 213
Ultimo lance — Aluizio Azevedo 131
S,lo José — Thomaz Lopes . . . . 162 SUPPLEMENTO A philosophia do Tan
Brenno Ferraz 2-15
SUPPLEMENTO — A vida anecdotica.o piíto- A vida a n e c d o t i c a e p i t t o r e s c a d o s g r a n d e s
resca dos grandes escriptores - - Ola%o Bi- escriptores — Euclides d a Cunha — B F . . 245
lac — Mario de Alencar ,. Vti Vida literária — O j o r n a l i s m o e as,letras
Vida literária — Cupitaas literárias . . . 137 — J o s é V;.ria Bello . . . . . , , . 245
Tradição e novidade em poesia . . . '. 107 Ürupés n a Argentina , . . .!i'i
Curiosidades literárias — Helena, <.a dos P a g i n a s e s q u e c i d a s -•• P r i m a v e r a — Raul
braços brancos. - Helena, ca das bellas faces» 16H Pompeia . . . .
E D I Ç O E 8 D A

AMADEU;AMARAL F. T. DE SOUZA REIS


A Pulseira de Ferro (novella) 1$000 A Divida do Brasil (estudo histórico) . . 4$000
Um soneto de Bilac (critica) 2$000
WALDEMAR FERREIRA
MONTEIRO LOBATO Manual do Commerciante 8$000
Os Negros (novella) . . Estudos de Direito Commercial . . . . 10$0rj0
A Hypotheca Naval no Brasil 3$000
LEO VAZ
AUCTORES DIVERSOS
Ritinha (novella) No prelo
O que todo o commerciante precisa saber
GUSTAVO BARROSO (lO.o milheiro) , 2$000
Mula sem cabeça (novella) No prelo Almanach Commercial Brasileiro de 1918 6$000

A. DE SAMPAIO DORIA NICOLAU ATHANASSOF


Os Suínos, manual do criador de porcos
O que o cidadão deve saber (10.° milheiro) 3$000 (2.a edição, 8.° milheiro) . . . . 3$000
OS PEDIDOS DO INTERIOR DEVEM TRAZER MAIS 10 o/o PARA O PORTE

SOCIEDADE EDITORA OEEGARIO RIBEIRO


R u a T3r. A b r a n c h e s , - a » - Caixa. P o s t a l X l - ^ S =. ® Ã . O P A U L O

EDIÇÕES DA
ti
Revista do Brasil,,
Broch. Encad. Broch. Encad
NEGRINHA, contos por Monteiro DIAS DE GUERRA E DE SER-
Lobato 2$500 3$500 TÃO, interessante narrativa pelo
ÜRUPÉS, contos por Monteiro Lo- Visconde de Taunay . . . . 4$000 5$000
bato, 6.a edição 4$000 5$000 MADAME POMMERY, íomance
CIDADES MORTAS, contos por satyrico, por Hilário Tácito. . 4$000 —
Monteiro Lobato, 2.a edição . . 4$000 5$000 BRASIL COM S OU COM Z, por
IDÈAS DE JECA TATU, critica F. Assis Cintra 3$000 —
por Monteiro Lobato, 2.a edição 4$000 5$000 VIDA OCIOSA, romance por Go-
NARIZINHO ARREBITADO, li- dofredo Rangel 4$000 5$000
vro de historias para crianças, OS CABOCLOS, contos por Val-
por Monteiro Lobato . . . . 3$500 domiro Silveira 4$000 5$000
POPULAÇÕES MERIDIONAES HISTORIAS DA NOSSA HISTO-
DO BRASIL, estudo de sociolo- RIA, por Viriato Corrêa . . . 3$500 4$500
gia por F. J. Oliveira Vianna . 8$000 101000 ESPHINGES, versos de Francisco
PROFESSOR JEREMIAS, por Léo Julia 5$000 —
Vaz, 3.a edição 4$000 5$000 VULTOS E LIVROS (Academia
VIDA E MORTE DE GONZAGA Brasileira de Letras) Arthur Motta 5$000 —
DE SÁ, romance por Lima Bar- CASA DE MARIBONDO, contos,
reto 2$000 — João do Norte 3$000 -
LIVRO DE HORAS DE SOROR PAIZ DE OURO E ESMERALDA,
DOLOROSA, poesias por Gui- romance, J. A. Ngueira . . . 4$000 —
lherme de Almeida 5$000
ALMA CABOCLA, versos de Pau- PEDIDOS PARA O INTERIOR,
lo Setúbal, 2.a edição . . . . 3$000 4$000 MAIS 10 o/o PARA O PORTE
Pedidosuo» Editores: M O ü t e í r O L o b a t O ® . C , C a i x a 2 - A - S. P A U L O
À NOVELLA NACIONAL
"Volumes publicados:

A NOVELLA NACIONAL e uma A P u l s e i r a d e F e r r o por


série de pequenos livros, nos quaes AMADEU AMARAL, o succossor cie
se mira ao seguinte escopo : olierecer Olavo Bilac. na Academia Brasileira.
a melhor leitura, sob a apresentação "E1 no gene.ro uma verdadeira obra
mais artística, ao preço mais barato prima,, — disse desta novella o grande
possivel. Os objectivos desta publi- poeta Alberto de Oliveira.
cação, de que e direi:tor o sr. Amadeu O s N e g r o s por MONTEIRO LO-
Amaral (cia Academia Brasileira) podem BATO, o celebre rrcmior de Jeca Tatu.
assim, condensar-se no lemma — LI- Estão no prelo mais dois volumes:
VRO BOM E BONITO AO ALCAN- R i t i n h a por LEO VAZ, o fes-
CE DE TODOS. tejado auctor cio "Professor Jeremias",
romance que obteve o maior successo
Apparece approximadamente um vo- literário da actualicla.de, alcançando três
lume por mez, com cerca de 80 pa- edições em poucos mezes.
ginas, no formato 16 i/s X 12 >/2 centí- M u l a s e m c a b e ç a por GUS-
metros, impresso em magnifico papel TAVO BARROSO, o famoso escriptor
e illustrado com numerosas e artísticas cearense, autor da T E R R A DO SOL,
gravuras, contendo uma obra completa H E R O E S E BANDIDOS e outras
de auctor conhecido. jóias literárias já sobejamente conhe-
cidas e apreciadas.

il2Si gãs«.tj J''3ê2£; ffOS NEGROS

A seguir novellas de :
Coelho Netto,
Afranío Peixoto,
Waldomíro Silveira
Cornelio Pires e outros.
Cada volume LfOOO em
todas as livrarias. Pelo
correio, registrado 1|3Ü0.
Assignaturas com direito
a receber todos os vo-
lumes registrados :
Série de três novellas
3í$500; série de seis no-
vellas 7$000; série de
doze novellas 14J000.
Pedidos á

Sociedade Editora
Olegarío Ríbeífo
Rua Dr, Abranches N. 43
Caixa, 1172 - SAO PAULO

Typ. " Revista de Commercio e Industria „ da


Soe. Ed. Olegarío Ribeiro, Abranches 43, S. Paulo — L á , fogeív.






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