Azulejos - Conde de Arnoso
Azulejos - Conde de Arnoso
Azulejos - Conde de Arnoso
CONDE DE ARNOSO
Com prefácio de Eça de Queiroz
Edição de
Alexandra Magalhães
Ana Margarida Fernandes
Ana Vanessa Fernandes
Bruna Silva
Lisboa
2017
1
ÍNDICE
Nota Editorial
― Sobre o escritor
― O livro fonte e a edição
― Processo de reedição
― Normas de transcrição
― Referências Bibliográficas
Prefácio
O Segredo da Minha Cadeirinha
O Folar do snr. Abbade
Pomba entre Milhafres
Historia d’uma Renda
Aromas Campezinos
A Confidencia da Avó
Quadro Incompleto
O Derradeiro Susto de Mimi
A Guitarra do Braz
1
NOTA EDITORIAL
Sobre o escritor
2
Após o regicídio, defendeu, na Câmara dos
Pares, a colocação de uma lápide no Terreiro do
Paço, em honra de D. Carlos. Por estes debates
intensos, ficou conhecido como o “Conde da
Lápide”. Não foi, contudo, bem-sucedido nas suas
intenções. O conjunto dos seus discursos na
Câmara dos Pares foi reunido sob o título Justiça!
Usou o pseudónimo literário Bernardo Pindela até
ser agraciado com o título de Conde de Arnoso,
por decreto de 28 de setembro de 1895.
Colaborou em diversos jornais, escreveu
contos, peças de teatro e relatos de viagem.
Azulejos foi o primeiro livro que publicou. Em
parceria com o poeta Conde de Sabugosa,
escreveu De Braço Dado, publicado em 1894. O
livro Jornadas pelo Mundo, publicado em 1895,
reúne as suas notas da viagem a Pequim. Em
1902, surgiu O Suave Milagre, em colaboração
com o senhor Alberto de Oliveira. A Primeira
3
Nuvem, uma comédia em um ato, foi representada
no Teatro da República.
O Conde de Arnoso foi também membro do
grupo denominado Os Vencidos da Vida, tal como
Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Conde de
Sabugosa, Marquês de Soveral e Conde de
Ficalho.
Depressa ficou um grande admirador e amigo
de Queirós, baseando O Suave Milagre num conto
do escritor, a quem pediu também o prefácio de
Azulejos.
Numa carta entre ele e Eça de Queirós, fica
clara a relação de amizade próxima entre ambos:
4
os braços estendidos para mim, quebrando a
étiquette e fazendo um escândalo público! Sorriso
complacente de S. M. Pasmo dos cidadãos! à
noite recebi um telegrama da Ajuda em que
Bernardo, «sem se moderar», começava por me
mandar «um beijo para cada bochecha». O
telegrama tinha-me o ar de ter sido redigido em
Conselho de Estado. Bom e lindo Bernardo! »
A obra que agora reeditamos foi publicada
pela Portugal Brasil Lda Sociedade Editora.
Apesar de não ter indicação nem da data nem do
número da edição, o prefácio escrito por Eça de
Queirós data de 12 de junho de 1886. Apresenta
vários quadros de um Portugal antigo, captados
pela visão única do Conde do Arnoso, que, além
de um legado de obras literárias, deixou um
testemunho de amigo fidelíssimo.
5
O livro-fonte e a edição
6
“com um prefacio de Eça de Queiroz”. Um
carimbo exibe a seguinte informação:
“Lisboa
PORTUGAL- BRASIL LIMITADA
SOCIEDADE EDITORA
58 - Rua Garrett - 60
RIO DE JANEIRO
COMPANHIA EDITORA AMERICANA
LIVRARIA FRANCISCO ALVES”
7
Processo de reedição
Normas de transcrição
Do livro-fonte conservaram-se
– todas as caraterísticas ortográficas do livro-
fonte, incluindo a alternância entre maiúsculas e
minúsculas e a acentuação, bem como os
tamanhos de letra relativos do corpo do texto, de
títulos e subtítulos;
– a prática de iniciar cada conto numa página
nova;
8
– todas as gralhas e incoerências (p.e.:
«mandrinha» em vez de «madrinha»; «faia» e
«toureiro», grafadas por vezes em itálico e outras
não; aparece «céo» uma vez; aparece «criança»
uma vez; «há» aparece com acento por duas
vezes, «avo» surge com e sem acento e uma vez
aparece «agoa» em vez de «agua»);
– o recurso ao negrito e itálico;
– o tipo de aspas;
– todos os separadores gráficos e títulos
correntes.
Não se conservaram
– a numeração das páginas;
– as páginas em branco;
– as páginas de guarda;
– o lugar de mudança de página;
– os espaços irregulares entre palavras e sinais
de pontuação;
9
– a mancha gráfica;
– as informações sobre o lugar de impressão
do livro-fonte;
– o sistema de marcar segmentos entre aspas
(uma aspa no início de cada linha), que foi
substituído pelo atual.
Referências bibliográficas
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PREFACIO
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PREFACIO
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PREFACIO
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EÇA DE QUEIROZ
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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O FOLAR DO SNR. ABADE
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
*
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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POMBA ENTRE MILHAFRES
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HISTORIA D’UMA RENDA
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entre mimos de bondade, ensinara o Ad Deum qui
lactificat juventutem meam! Fiz-lhe a vontade, e,
finda a missa, seguiu-o na estreita sachristia, onde,
pouco antes, o ajudara a paramentar. Encanecido
e curvado sobre o arcaz, ia-se despindo com
lentidão, murmurando as palavras da sagrada
lithurgia, da casula, da estola, do manipulo, da
alva, e do amicto, dobrando successivamente e
beijando com respeitos esses attributos, com que
se revestira para a celebração do solemne
sacrificio. Depois abriu com custo, levantando as
pesadas argolas de bronze trabalhado, uma
enorme gaveta e d’um canto tirou um pequeno
panno de linho branco, que examinou,
accrescentando:
– É um corporal que, no domingo passado,
preparei para a fidalga mandar lavar. Roto,
esfrangalhado!... Para a outra vez não ha remedio
senão queimal-o!
120
E na sua voz e no seu olhar havia a tristeza
inconsolavel de quem assiste á derradeira
separação d’um velho amigo, d’um antigo
companheiro!
Peguei no corporal, e sahi para o terreiro, a
esperar, á porta da capella, que o padre Manuel
acabasse as suas rezas, para depois lhe fazer
companhia ao almoço. Ao sentir na palma da mão
aquelle pedaço de linho, tão fino e tão macio,
levado por um outro sentimento, comprehendi o
amor do padre, e, desdobrando-o, reparei na
delicada renda, que o orlava. Assim esfarrapado,
pareceu-me mais o lenço d’uma noiva, mordido
desesperadamente no primeiro accesso de ciume,
que o corporal d’um altar! O capellão, pitadeando,
vinha sahindo da capella. Como se realmente
tivesse na mão um lenço, amarroteio-o com
irreverencia, enfiando-o á pressa no bolso do meu
casaco de flanella. Só á noite, quando recolhi ao
121
meu quarto é que voltei a dar com o corporal.
Atirei-o com desdem para cima d’uma meza,
fazendo esforço para não me esquecer de o
entregar no dia seguinte a minha mãe. O somno
na aldêa é facil de conciliar. Metti-me na cama,
passei a vista pelas folhas d’um alfarrabio
poeirento, que de dia tinha descoberto, á hora da
calma, na estante do corredor, e apaguei a luz,
disposto a acordar com os primeiros clarões da
madrugada. Apenas me tinha aconchegado ao
linho fresco dos lençoes, levemente perfumados
pelo cheiro sadio das maçãs camoezas da arca e
das hervas do campo, sobre as quaes tinham
seccado á beira do ribeiro, pareceu-me ouvir no
proprio quarto um chôro dolorido, entrecortado de
gemidos e muito manso, de quem procura evital-
o. Não podia enganar-me. Não era illusão dos
meus sentidos. Levantei-me um pouco na cama, e,
122
em voz baixa, perguntei quem estava ali. Uma voz
sumida respondeu-me:
– Sou eu.
– Quem? insisti de novo.
– A renda, a infeliz renda do corporal, que
hoje trouxeste da capella.
Lancei a mão á caixa de phosphoros para
accender a luz; mas, lembrando-me que talvez o
encanto cessasse com a claridade, deixei-me ficar
na escuridão do quarto, e animei a renda a
desabafar commigo. Ella, então, já á vontade com
o meu bom humor e a minha caridade, contou-me
a sua historia.
*
* *
123
a linha tenuissima, como os fios da teia d’uma
aranha, sem um nó, crescesse na massaroca do seu
fuso favorito, ininterruptamente, até ao acabar da
estriga.
Depois, por ordem de Colbert, levaram-me
para Alençon. Ali, uma rapariga bem nova e bem
infeliz, porque o noivo tinha partido para a
conquista de Flandres, creou-me, orvalhando o
pergaminho sobre que eu ia crescendo com as
lagrimas da sua saudade. Como me lembro d’ella!
Magra, com o peito mettido para dentro, á força
de estar curvada sobre mim; o rosto oval, com a
expressão melancholica, de bocca sempre
entreaberta para deixar passar os suspiros; as
meninas dos olhos negras, humedecidas, como se
fossem recortadas na penna luzidia da aza d’um
corvo e colladas sobre o peito d’uma rolla; os
cabellos castanhos, esparsos, sobre a testa
pequenina! Quando me separaram d’essa gentil
124
camponeza, pouco tempo poderia ter já, para
chorar o seu noivo ausente; tossia, e o seu lenço
tingia-se com laivos de sangue desmaiado. Nunca
mais voltei a saber o que era a sinceridade.
Conheci todos os espendores da côrte do
Grande Rei.
Misturaram-me a quanta intriga doirada se
urdia entre os velludos e as sedas dos cortezãos
respeitosos. Beijei os seios da Montespan, presa
do decote do seu vestido de gala! Nunca vi corpo
mais roseo e branco, de que não póde dar idêa a
alvura d’um jasmim córado pela candura d’uma
creança! Cabellos mais loiros – raios de sol
fundidos em fios ondeados! Olhos mais azues do
que as proprias saphiras estrelladas!
Um dia, roubada, venderam-me a Ninon de
Lenclos. Vi os maiores nomes de França
chafurdarem-se na alma d’essa alcova, toda
forrada de setim e rendas – rendas, minhas irmãs!
125
Escutei, de noite, os segredos lascivos, que,
entre beijos, ella repetia á Maintenon. Depois,
quando, mais tarde, a viuva de Scarron, elevada a
favorita, foi para Versailles, acompanhei-a, como
lembrança da sua antiga amiga. Estive no
casamento do Rei, celebrado de noite, envolto
n’um grande mysterio, abençoado por Hébert,
tendo apenas por testemunhas alguns criados
discretos, pagos a pezo de oiro. Segui assim o
astro em toda a sua orbita, e commigo se ornou
ainda a Maintenon, para receber, doente e deitada
na cama, pouco tempo antes de morrer, a visita do
czar.
Conheci todos os recatos de Saint-Cyr, até
chegar a imaginar que alli morreria ignorada,
passando de mãos em mãos, sempre como
lembrança, d’uma pupilla que saia á amiga dilecta
que ficava. A minha vida era triste, porque não
saia dos cofres delicadamente cinzelados, onde
126
successivamente me iam guardando. Um dia,
porém, Luiza, a minha dona, enamorada
perdidamente d’um rapaz novo, gentil e bem
parecido, com quem fallava da janela, ás horas
mortas da noite, enganando a vigilancia da
superiora, foi-se ao cofre, onde eu jazia, e atirou-
me como mimo de amor, ao seu amado, dizendo-
lhe que eu pertencera á Maitenon. Quando me vi
no ar, tive medo, medo da minha queda! Mas, das
bandas de Paris, corria uma doce aragem que me
embalava, e, desenrolando-me no espaço, como
um passado que vôa, fui poisar, ao de leve, longe
do cavalleiro. Apanhou-me, e, levando-me ao
coração, disse para cima umas palavras mentidas.
Elle era um devasso, e, por esse tempo, enchia as
ruas de Paris a fama da belleza de Joanna Bécu.
Conhecia-a, e, n’essa mesma noite, assisti,
enrollada ao pescoço da cortezã, a uma saturnal de
que ainda hoje córo!
127
Aqui o chôro recomeçou de novo; depois, em
voz sempre muito arrastada continuou:
– A minha sorte, desde esse momento, ficou
presa á da du Barry. Ella tinha-me como um
talisman, sabia de quem eu procedia, e por isso
nunca se separou de mim, chegando a trazer-me
ao pescoço, dobrada, mettida n’um pequeno sacco
de velludo, pendente d’um fio de perolas, como
um amuleto! Uma vez, que me julgou perdida,
pensou em offerecer todo o seu poder, todas as
suas joias, todas as suas riquezas, todo o encanto
da sua formosura plebêa, a quem me descobrisse.
Não foi necessario nenhum sacrificio. Ella propria
me encontrou no seu sumptuoso pavilhão de
Luciennes. Beijou-me, e esses beijos, só lembral-
os, ainda agora me escaldam! Acompanhei-a nas
suas viagens a Londres, em plena republica, e, por
ultimo, ao cadafalso. E essa mulher, que tratára o
rei de França como um joguete de creança, deante
128
da morte, teve medo – não soube morrer com
valor! A cabeça caiu para um lado, decepada, eu
para o outro, sobre o estrado da guilhotina. A sua
superstição por mim era tão forte, que me levára
alinhavada ás pregas do seu corpete. Como desejei
morrer ali! Considerava-me cumplice de todos os
seus crimes. O destino, porém, não o quiz assim.
Os corpos dos cadaveres, com que o terror juncava
os cadafalsos, eram roubados pela populaça. Fui
levada por um sapateiro, que deu o vestido da
morte de presente á sua filha. Quando ella me
descobriu, coseu-me a um lenço de linho finissimo,
despojo talvez tambem d’um outra victima!
Durante alguns annos para ali fiquei, vivendo
n’uma casa humilde, esquecida, relembrando todas
as torpezas de que tinha sido testemunha! D’essa
rapariga passei para uma sua amiga, bem mais
nova do que ella, que estava apaixonada por um
129
soldado da divisão do general Soult, que então
recebera ordem de marchar sobre a peninsula.
Á hora da despedida, quando já nas casernas
rufavam os tambores e tocavam as cornetas a
reunir, enxugando as lagrimas d’essa que mais uma
vez ficava separada do seu amante, fui-lhe dada,
como penhor d’uma affeição eterna. O soldado
metteu-me no bolso da fardeta, sobre o peito,
jurando amor eterno e jurando que, com tal
couraça, não havia bala que o ferisse. Jura
fementida! Como tivesse adquirido na guerra o
habito dos rudes vencedores, veio descendo a
França, como se fosse paiz conquistado, seduzindo
as mulheres, violando as creanças! Assim entrei na
Hespanha e passei a Portugal, deixando sempre
atraz de mim um rastro feito de lagrimas e sangue.
Na passagem do rio Ave, fiquei para traz, tendo
visto o general Jaldon, ferido, cair morto do cavallo
abaixo. Tão esquecido estava o meu soldado da sua
130
amada, que nunca, nem quando se viu só e perdido,
e tinha de evitar a todos, sem poder perguntar a
ninguem qual o caminho que levava ao Porto, para
onde sabia que os seus companheiros de armas se
tinham dirigido, e, parando nos carreiros, atascado
em lama, limpava as bagas do suor, afflicto, por se
ver assim abandonado em paiz inimigo, nem então
se recordava d’ella!
O povo, n’esse tempo, fanatisado, fazia no
Minho uma guerra sem treguas, nem quartel. O
francez não era só o inimigo, era sobretudo o
hereje. Visto, uma manhã no cimo de Tobosa, por
um caseiro d’esta casa, deixou-o espiado por um
guardador de cabras, desceu a buscar a clavina, e
instruido da direcção que o francez tomára, foi
esperal-o ao sobreiro, e ali, de traz d’um muro,
varou-o, de lado a lado, com uma bala, que lhe foi
direita ao coração. Eu salvei-me por milagre! Uma
vez o soldado estendido por terra, revistou-lhe as
131
algibeiras. Nada mais encontrou senão a mim; e,
como nunca tivesse visto um lenço tão fino,
imaginou que era o corporal d’um altar; e, como
tambem lhe pezasse um pouco na consciencia o ter
morto um homem, que a elle propriamente nunca
fizera mal, tomou-me com respeito, lavou-me com
cuidado, entregando-me como voto ao padre, que
então era capelão da casa.
Eis toda a minha historia. Ora, hoje, quando
ouvi fallar em me lançarem ás chammas, eu, que
tanta vez mereci a morte, por me ter visto
misturada a tão infames crimes, arripiei-me e senti
saudades do mundo. Não, não posso merecer a
morte, agora, que me sinto purificada, depois de ter
passado, mais de setenta annos, consagrada ao
serviço divino! E supplicante, pedia-me que a
salvasse; que ornasse com ella um lenço de
cambraia, affirmando que quem o possuisse,
ignoraria a desventura, e que se esse alguem, por
132
uma fatalidade da sorte, tivesse de chorar, saberia
com tal meiguice e carinho enxugar essas
lagrimas, que até seria um prazer o vertel-as!
*
* *
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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AROMAS CAMPEZINOS
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A CONFIDENCIA DA AVÓ
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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A CONFIDENCIA DA AVO
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QUADRO INCOMPLETO
QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
181
QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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QUADRO INCOMPLETO
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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O DERRADEIRO SUSTO DE MIMI
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
……………………………………………….
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A GUITARRA DO BRAZ
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A GUITARRA DO BRAZ
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Porque a morte, nem o fado
Riscam teu nome gravado
No meu terno coração!
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A GUITARRA DO BRAZ
ISBN: 978-1-387-47627-5
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