Cognição Social Resumo
Cognição Social Resumo
Cognição Social Resumo
Quando vos perguntam em que estão a pensar, normalmente sabem responder. Acham que
sabem o que se passa na vossa mente: muitas vezes consiste num pensamento consciente
que conduz a outro, de forma ordenada. Mas essa não é a única forma de a vossa mente
trabalhar, nem na verdade é a forma habitual. A maioria das impressões e dos pensamentos
surgem na vossa experiência consciente sem que saibam como é que foram lá parar. Não
conseguem traçar o modo pelo qual acabaram por acreditar que há um candeeiro sobre a
secretária à vossa frente, ou como detetaram um indício de irritação na voz da vossa esposa,
ao telefone, ou como conseguiram evitar uma ameaça de acidente na estrada, antes de se
terem consciencializado dela. O trabalho mental que produz impressões, intuições e muitas
decisões prossegue em silêncio na nossa mente.
Daniel Kahneman, Pensar, depressa e devagar, p.10
Bruni e Tagiuri (1958) criaram a expressão teoria implícita da personalidade para dar conta do
conhecimento que temos dos outros em geral e da forma como o usamos nas nossas
tentativas de compreender comportamentos particulares.
A. Estratégias de simplificação
O mundo social é extremamente complexo, mas os seres humanos têm uma capacidade
limitada de receção de informação. Uma vez que não nos é possível prestar atenção a tudo o
que se está a passar em simultâneo, somos muitas vezes obrigados a fazer os nossos
julgamentos com base na informação limitada de que dispomos, de modo a não ficarmos
parados. Assim, tomamos as melhores decisões possíveis com os meios que temos. Uma
decisão eficiente exige um equilíbrio entre um bom resultado e um gasto de tempo e recursos
mentais razoável. Vários mecanismos podem ser usados para fazer esses julgamentos rápidos
e com esforço limitado:
Estereótipos
A divisão da realidade em diferentes categorias é uma estratégia que permite uma poupança
considerável de tempo e esforço na nossa compreensão da realidade. “Nós” e “eles” são duas
categorias básicas que todos usamos quando consideramos grupos de pessoas. Em psicologia
social estas categorias são também designadas endogrupo (nós) e exogrupo (eles).
Uma vez que é impossível prestar atenção a todas as variedades de características que as
pessoas podem apresentar, simplificamos muitas vezes o nosso pensamento social através do
uso de categorias gerais que aplicamos a todo um grupo, atribuindo um conjunto de
características a todos os seus elementos. São aquilo a que chamamos estereótipos – teorias
implícitas de personalidade geralmente aceites pelo nosso grupo acerca de outro grupo (ou do
nosso próprio grupo).
Ao categorizar os membros de outros grupos de acordo com um estereótipo, torna-se mais fácil
sentirmos que sabemos como são. Por exemplo, basta-nos conhecer uma ou duas pessoas do
norte da Europa que nos pareçam frias para dizermos que as pessoas do norte da Europa são
frias e que as pessoas do sul são mais calorosas. Assumimos que dentro do grupo “nórdicos”
haverá alta semelhança e que esse grupo se distingue claramente do nosso grupo – “europeus
do sul”. Ou seja, tendemos a acentuar as semelhanças entre os elementos do mesmo grupo e
as diferenças entre elementos de grupos diferentes.
Inferências correspondentes
Como vimos anteriormente, quando observamos o comportamento de outras pessoas,
tendemos a inferir qual a intenção da pessoa ao agir de determinada forma, isto é, atribuir uma
causa a esse comportamento. Embora os comportamentos possam ser provocados tanto pela
personalidade do indivíduo como por fatores da situação, quando observamos o
comportamento dos outros tendemos a atribuir os seus comportamentos mais a fatores da
pessoa do que da situação. Jones e Davis (1965) chamaram inferência correspondente a este
julgamento que um observador faz de que a determinado comportamento de uma pessoa
corresponde um determinado traço de personalidade. A partir das ações que temos
oportunidade de observar de uma determinada pessoa, atribuímos-lhe determinadas
características. Este mecanismo de simplificação é tão comum que é conhecido em psicologia
social como o erro fundamental de atribuição.
No entanto, quando explicamos o nosso próprio comportamento não demonstramos esta
tendência para valorizar mais as características individuais do que as circunstâncias em que
nos encontramos. Parece haver um critério diferente quando estamos no papel de ator ou no
papel de observador de uma determinada ação. Este efeito, observado em diferentes estudos,
é denominado diferença ator-observador. Pensa-se que ocorre porque quando estamos numa
situação, enquanto atores, não nos observamos a nós próprios, mas sim ao que nos envolve;
pelo contrário, quando estamos a observar uma outra pessoa, o foco da nossa atenção é a
pessoa e as suas ações, sendo o contexto menos valorizado, ou mesmo em parte
desconhecido. Por exemplo, se observamos um homem responder com irritação a um pedido
do filho, nem sempre temos em conta que o filho havia já feito variados pedidos num curto
espaço de tempo, e podemos não saber que o sujeito está preocupado com problemas
profissionais e dificuldades económicas. Assim, é mais provável que pensemos nele como um
pai duro, enquanto ele próprio tenderá a explicar a sua reação com base na situação em que
se encontrava.
Definição:
“O conceito de representação social designa uma forma de conhecimento específica, o saber
do senso comum” (Jodelet, 1983)
“Uma representação social define-se como a elaboração de um objeto social por uma
comunidade” (Moscovici, 1963)
“Uma forma de conhecimento socialmente elaborado e partilhado, com uma orientação
prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”
(Jodelet, 1989).
“Um sistema de valores, de noções e de práticas relativas a objetos […] do meio social”
(Moscovici, 1961)
Características
As representações sociais têm um objeto, um assunto ao qual se referem, que é socialmente
partilhado. É uma forma de ver as coisas gerada por um determinado grupo social.
As pessoas têm representações cognitivas individuais dos objetos que percebem. As
sociedadse constroem representações sociais, fenómenos socio-históricos, construídos
coletivamente. Uma vez formadas, as representações sociais são relativamente independentes
das pessoas que as criaram. Estes significados partilhados tornam possível a comunicação
entre as pessoas (e são elaborados nessa mesma comunicação).
Juliana Sampaio, Maria de Fátima de Souza Santos, Maria Rejane Ferreira da Silva (2008). A
representação social da maternidade de crianças em idade escolar. Psicologia: Ciência e Profissão,
vol.28, no.1
http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932008000100013
Funções
As representações sociais permitem interpretar e compreender a realidade, ao mesmo tempo
que influenciam os fenómenos sociais. Pode-se dizer, assim, que constroem a realidade.
Permitem a comunicações com os outros que partilham o mesmo significado, da mesma forma
que fala a mesma língua nos permite falar com alguém. Ao serem construídas dentro de um
grupo social, as representações são próprias desse grupo, nem sempre sendo partilhadas com
outros grupos – assim, nem sempre é fácil a comunicação entre pessoas de culturas e
sociedades diferentes, uma vez que não partilham os mesmos significados. Então, uma das
funções das representações sociais é também definir e consolidar os grupos sociais em que
têm origem.
2. Objetivação
Através do processo de objetivação, conceitos abstratos tornam-se objetivos e esquecemo-nos
de que são produto da nossa própria construção - percebemos os novos objetos como algo
real. Quando algo se objetiva deixa de ser visto como uma criação nossa e passa a ser visto
como algo independente de nós, que pertence ao mundo real e nele tem efeitos.
Se a ancoragem dá significado ao desconhecio, a objetivação transforma o intangível em
realidade. O processo de objetivação de uma teoria complexa passa por diferentes fases:
Seleção e descontextualização dos elementos da teoria. Os conceitos mais salientes
ou úteis são extraídos do seu contexto teórico e aplicados à realidade do grupo social.
Formação de um núcleo figurativo, isto é, adaptação da estrutura conceptual da teoria,
criando-se uma estrutura que a reproduz de certa forma.
Naturalização – os elementos desse núcleo figurativo tornam-se parte do mundo real.
Referências
Taylor, S. E.; Lichtman, R. R.; Wood, J. V. (1984). Attributions, beliefs about control, and
adjustment to breast cancer. Journal of Personality and Social Psychology, Vol 46(3), 489-502.
doi: 10.1037/0022-3514.46.3.489