Falácias Informais

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O discurso argumentativo e os principais tipos de argumentos e

falácias informais
FALÁCIAS INFORMAIS
FILOSOFIA 10º ano | 2020/2021
Escola Secundária Alves Martins | Viseu
Prof. Fátima Oliveira
Para além das falácias inerentes aos argumentos FALÁCIAS INFORMAIS
indutivos, por analogia ou de autoridade…
Argumentos inválidos, aparentemente válidos, cuja invalidade não
resulta de uma deficiência formal, antes decorre do conteúdo, da
matéria, da linguagem natural comum usada nesses argumentos.

Falácia da petição de princípio

Falácia do falso dilema

Falácia do apelo à ignorância (argumentum ad ignorantiam)

Falácia ad hominem

Falácia da derrapagem ou “bola de neve”

Falácia do espantalho ou do boneco de palha

Falácia da causa falsa (post hoc, ergo propter hoc)

Falácia do apelo à força (argumentum ad baculum)

Falácia do apelo à misericórdia (argumentum ad misericordiam)


FALÁCIA DA PETIÇÃO DE PRINCÍPIO
Argumento que consiste em, de uma forma mais ou menos disfarçada, tomar
como premissa a própria conclusão cuja verdade se pretende demonstrar.

A conclusão é usada, de forma implícita, como premissa, encontrando-se muitas vezes


disfarçada com palavras de significação idêntica/equivalente à das da conclusão.

Argumento circular que procura provar uma conclusão que já foi assumida como
verdadeira nas premissas.
Exemplos: FALÁCIA DA PETIÇÃO DE PRINCÍPIO

Andar a pé é um desporto saudável. Logo, andar a pé é um desporto que faz bem à


saúde.

O ser humano é inteligente, porque é um ser que possui inteligência.

A água é um excelente hidratante. Logo, hidrata muito bem.

A porcelana quebra facilmente porque é frágil.

“- Está cá toda a gente. Por isso, não falta ninguém.”

A petição de princípio é uma forma falaciosa de argumentar, dado que


tem implícita uma forma circular de raciocínio, tentando provar a
verdade da conclusão utilizando essa mesma conclusão,
implicitamente, como premissa.
FALÁCIA DO FALSO DILEMA/ FALSA DICOTOMIA
Consiste em reduzir as opções possíveis a apenas duas (disjunção),
apresentando-se como únicas e incompatíveis, ignorando-se as restantes
alternativas/possibilidades que possam existir.

Trata-se, portanto, de extrair uma conclusão a partir de uma disjunção falsa.

Forma Lógica:

Ou A ou B (ignorando-se outras alternativas).


Não A.
Logo, B.
Exemplos: FALÁCIA DO FALSO DILEMA / FALSA DICOTOMIA

Ou votas no partido x, ou será a desgraça do país!


Não votas no partido x.
Logo, será a desgraça do país.

Ou adoras o meu clube, ou não percebes nada de futebol.


Não adoras o meu clube.
Logo, não percebes nada de futebol.

Um aluno falta à aula e alguém formula a seguinte alternativa para


explicar o facto: O aluno ou viajou ou adoeceu. Dado que não
adoeceu, então o aluno viajou.

A dicotomia estabelecida é falsa, uma vez que, nestes casos, há outras


alternativas possíveis que não foram consideradas.
Para evitar esta falácia, sempre que pretendermos concluir a partir de uma
disjunção, negando uma das alternativas para afirmar a outra, temos de estar
seguros de que não há pelo menos uma terceira possibilidade para além das
que formam a dicotomia.
FALÁCIA DA CAUSA FALSA / FALSA RELAÇÃO CAUSAL
(“post hoc, ergo propter hoc”)

A expressão latina «post hoc, ergo propter hoc» significa «depois disto, logo por
causa disto». Nesse sentido, a falácia da causa falsa surge sempre que se
toma como causa de algo aquilo que é apenas um antecedente ou uma
qualquer circunstância acidental.

Consiste em assumir precipitadamente uma relação causal, com base na mera


sucessão temporal.

Relação de causa e efeito entre 2


acontecimentos, pelo facto de ocorrerem um a
seguir ao outro:

Quando o evento A acontece, em seguida o


evento B também ocorre. Portanto, o evento A é
causa do evento B.
Exemplos: FALÁCIA DA CAUSA FALSA / FALSA RELAÇÃO CAUSAL
(“post hoc, ergo propter hoc”)

Fiquei com dores de cabeça no dia em que a minha avó fez um bolo. O bolo
foi a causa das minhas dores de cabeça.

Quando faço testes em dias de chuva, tiro negativa. Por isso, a chuva é a
causa das negativas dos meus testes.

Na sala, alguém abriu uma janela e a Maria tossiu. Logo, a Maria tossiu,
porque a janela foi aberta.

Um aluno que nunca reprovou num exame, mas que teve sempre o cuidado
de entrar na sala com o pé direito, conclui que a causa da sua passagem no
exame é o facto de entrar na sala com o pé direito.

Esta forma de argumentar é falaciosa pelo facto de não se admitir que


a causa do sucedido possa ser outra.
Sucessão ou simultaneidade não são sinónimo de causalidade.
A causa pode ser outra. Tudo pode não passar de coincidência.
FALÁCIA DO APELO À IGNORÂNCIA
(“argumentum ad ignorantiam”)

Comete-se esta falácia sempre que uma proposição é considerada


como verdadeira só porque não se provou a sua falsidade
ou
como falsa só porque não se provou que é verdadeira.

Acontece quando se pretende concluir algo com base na não existência


de qualquer prova em contrário, relativamente àquilo que se defende.

Forma Lógica:
Não se sabe ou ignora-se que P.
Logo, é falso que P.
Não se sabe/ignora-se que é falso que P.
Logo, é verdade que P.

Ninguém provou que A é falso. Logo, A é


verdadeiro.
Ninguém provou que A é verdadeiro. Logo, A é
falso.
Exemplos: FALÁCIA DO APELO À IGNORÂNCIA
(“argumentum ad ignorantiam”)

A alma é imortal. Na verdade, ninguém provou que a alma morre com o


corpo.
Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém provou que
eles existem.
Os fantasmas não existem, pois nunca se provou a sua existência.
Afirma-se que Deus existe, porque ninguém conseguiu provar que Deus não
existe. OU Afirma-se que Deus não existe, porque ninguém conseguiu
provar que Deus existe.

Estes argumentos são tão legítimos quanto os seus contrários. A falta de


provas da tese contrária nunca é suficiente para afirmar uma tese.
A inexistência de prova apenas evidencia a limitação do nosso conhecimento.

Há circunstâncias em que o argumento do apelo à ignorância não é falacioso,


como é o caso do juiz que declara a inocência do acusado, pelo facto de a
sua culpa não ter sido provada.
FALÁCIA “AD HOMINEM” / CONTRA A PESSOA

É o tipo de argumento
dirigido contra o
homem.
Em vez de se atacar
ou refutar a tese de
alguém, ataca-se a
pessoa que a
defende.

Forma Lógica:
A afirma P. A não é credível. Logo, P é falso.
X afirma P. X tem alguma característica reprovável. Logo, P é falso.
FALÁCIA “AD HOMINEM “/ CONTRA A PESSOA

Os ataques pessoais poderão centrar-se, por ex., na classe social, no


partido político, no clube desportivo ou na religião da pessoa em causa.
Muitas vezes, o objetivo destes argumentos consiste em desviar as
atenções daquilo que está em causa, retirando a credibilidade da
pessoa que defende a ideia.

Utilizado normalmente em situações de refutação,


revestindo-se de procedimentos como:
• Lançar a dúvida sobre o saber e a inteligência da
pessoa;
• Gerar suspeitas sobre os reais motivos da pessoa;
• Denunciar interesses particulares para pôr em
causa a boa-fé da pessoa;
• Lançar o descrédito sobre a família, a etnia, ou o
grupo social a que a pessoa pertence;
• Denunciar a contradição entre o que a pessoa diz
e o que ela faz.
Exemplos: FALÁCIA “AD HOMINEM”

A tua tese não tem qualquer valor, porque és um ex-presidiário.

Sartre estava errado a respeito do ser humano, porque não ia regularmente à missa.
O relatório de contas da empresa, elaborado pela equipa do Pedro, não é de
confiança. Soube que ele se esqueceu de pagar a conta da água em casa dele. [O
facto de Pedro se ter esquecido de pagar a conta da água não torna necessário que
tenha cometido erros no relatório de contas.]

Um engenheiro considera que o melhor lugar para construir uma nova estrada é o
caminho XPTO. Porém, como o engenheiro é antipático e trata mal a família, isso não
pode ser verdade.

Um cientista defende a comercialização de um determinado medicamento, dadas as


qualidades terapêuticas que lhe atribui. Entretanto, alguém denuncia a ligação desse
cientista a empresas farmacêuticas, bem como o facto de no passado ele ter sido
condenado pela sua ligação a fraudes científicas.

Em todo o caso, atacar a credibilidade do opositor nem sempre é um procedimento


falacioso. Neste caso, dada a relação entre os aspetos denunciados da pessoa e a tese
por si defendida, há boas razões para duvidar da verdade desta.
FALÁCIA “AD POPULUM “/ DO POVO

Consiste em apelar à opinião da maioria, da multidão ou do povo, para


defender a verdade de uma dada afirmação.

Forma lógica:
A maioria das pessoas diz que P. Logo, P.
Exemplos: FALÁCIA “AD POPULUM”

A maioria das pessoas acredita que o Pai Natal não existe. Logo, é verdade que o Pai
Natal não existe.

Mãe, tens de me deixar pôr um piercing no nariz, porque todos os meus amigos têm
um.

Esta forma de argumentar é falaciosa, porque para além de que a maioria das pessoas
pode estar enganada, a verdade ou falsidade de uma tese não depende da opinião das
pessoas, independentemente de estas serem muitas ou poucas.
Com efeito, a esmagadora maioria das pessoas acreditou durante séculos que a Terra
era plana e que o Sol girava em torno da Terra, e nem por isso estas afirmações eram
verdadeiras.
FALÁCIA DA DERRAPAGEM OU“BOLA DE NEVE”

Esta falácia é cometida sempre que alguém, para refutar uma tese, apresenta,
pelo menos, uma premissa falsa ou duvidosa e uma série de consequências
progressivamente inaceitáveis.

Usa-se um exemplo que se estende indefinidamente para mostrar que um


determinado resultado indesejável inevitavelmente se seguirá.

Consiste em assumir que, se dermos um pequeno passo numa dada direção,


não conseguiremos evitar ser conduzidos a um passo muito mais substancial
na mesma direção.

Forma Lógica:
Se P, então Q. Se Q, então R. Se R, então S. Logo, se
P, então S.
Se permitirmos uma exceção a uma regra, mais e
mais exceções se seguirão, o que conduzirá à
inevitabilidade de a regra ser totalmente subvertida
ou de haver consequências totalmente indesejáveis.
Exemplos: FALÁCIA DA DERRAPAGEM OU“BOLA DE NEVE”

É péssimo que jogues a dinheiro. Se o fizeres, vais viciar-te no jogo. Desse modo,
perderás tudo o que tens.. E, em consequência, se não quiseres morrer à fome, terás de
roubar.

Se permitirmos que as votações sejam feitas informaticamente, não tarda deixarão de


existir mesas de voto e só poderá votar quem tiver computador em casa. Por isso, não
devemos permitir que a votação seja feita informaticamente. [Neste argumento assume-
se que, uma vez desencadeada a ação, esta não terminará enquanto não se verificarem
todas as consequências previstas, o que não é necessário.]

Se saíres à noite encontras colegas. Se encontras colegas, vais beber um copo. Se


bebes um copo, bebes vários. Se bebes vários copos, ficas alcoolizado. Se ficas
alcoolizado, vomitas. Se vomitas, escorregas no vomitado. Se escorregas no vomitado,
bates com a cabeça. Se bates com a cabeça, morres. Logo, se saíres à noite, morres.

Esta forma de argumentar é falaciosa, pelo facto de que considera premissas que
são apenas prováveis, como se fossem certas, ocultando ainda o facto de –
em virtude de a probabilidade de uma sequência de acontecimentos se verificar ser
sempre menor do que a probabilidade da ocorrência de cada acontecimento
isoladamente –, a conclusão ser necessariamente menos provável do que cada
uma das premissas consideradas.
FALÁCIA DO “ESPANTALHO” OU DO “BONECO DE PALHA”
Esta falácia é cometida sempre que o orador, em vez de refutar o verdadeiro
argumento do seu opositor/interlocutor, ataca ou refuta uma versão
simplificada, mais fraca e deturpada desse argumento, a fim de ser mais fácil
rebater a tese oposta.

Consiste em distorcer ou caricaturar as ideias do interlocutor, enfraquecendo-


as, para melhor as poder atacar/refutar, procurando levar o auditório à
conclusão de que são falsas.

Além de não tratar realmente a afirmação do


adversário, o orador tende a criticar uma posição
diferente daquela que tinha sido originalmente
defendida pelo oponente.

Atribui-se ao interlocutor uma visão simplista e


distorcida das suas teses, atacando de seguida não
estas, mas aquela sua versão simplista e deturpada.
Desta forma, o ataque falha o alvo que pretende
atingir.
Exemplos: FALÁCIA DO “ESPANTALHO” ou do “BONECO DE PALHA”
António defende que não devemos comer carne de animais cujo processo de
industrialização os tenha sujeitado a condições de vida e morte cruéis. Diogo refuta
António dizendo: «António quer que apenas comamos alface!»
[Em momento algum António defende que não devemos comer todo e qualquer tipo de carne,
sugerindo que sejamos vegetarianos, mas apenas aquele tipo de carne sujeito às condições
descritas. O argumento é assim deturpado e simplificado.]

A pessoa A defende o argumento X. A pessoa B apresenta o argumento Z, como se


fosse o argumento X, apresentado por A. A pessoa B ataca o argumento Z. O argumento
sustentado pela pessoa A é considerado falso. O argumento X é considerado falso.

Ana: Penso que devemos investir mais dinheiro na Saúde e na Educação.


Francisca: Surpreende-me que odeies o teu país ao ponto de o quereres deixar sem
defesas, cortando o orçamento para os militares.

Para melhor poderem atacar o evolucionismo de Darwin, os seus adversários


deturparam a sua teoria dizendo que ela defendia que o homem descende do macaco.
[Como se sabe, Darwin não dizia nada disso, mas sim que os atuais macacos e o homem
descendem de um ancestral comum.]

Só funciona face a pessoas que ignorem ou tenham um conhecimento muito


superficial do assunto em discussão. Caso contrário, imediatamente a pessoa
se apercebe da fraude em que a pretendem fazer cair.
FALÁCIA DO APELO À FORÇA
(“argumentum ad baculum”)

Consiste em obrigar alguém a admitir uma opinião, recorrendo à força, à


ameaça ou ao medo.

Submetidos a ameaças físicas ou psicológicas, os indivíduos são levados a


aceitar determinada conclusão ou tese, tendo em conta as consequências
desagradáveis que adviriam da sua não-aceitação

É bom que aceitem o aumento dos


impostos ,se não querem que o país vá à
falência e venha aí uma ditadura.

É muito conveniente que se acredite no


que diz o nosso Livro Sagrado. Se alguém
não acreditar, será queimado na fogueira.
FALÁCIA DO APELO À MISERICÓRDIA
(“argumentum ad misericordiam”)

Esta falácia ocorre quando se apela ao sentimento de piedade ou de compaixão


para se conseguir que uma determinada conclusão seja aceite.

O meu ato, embora horrível, merece desculpa.


Naquele dia, eu não estava psicologicamente
bem e doía-me o estômago.

Esperamos que aceite as nossas teses. No


último mês, praticamente não dormimos só para
chegar a estas conclusões.

Professor, por favor, cancele o teste, porque já


temos muitos testes agendados, temos o horário
sobrelotado e temos tido insónias terríveis.

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