O Impacto Da Técnica Alexander Na Atuação de Músicos Instrumentistas
O Impacto Da Técnica Alexander Na Atuação de Músicos Instrumentistas
O Impacto Da Técnica Alexander Na Atuação de Músicos Instrumentistas
XVII ENCONTRO
DIVERSIDADE MUSICAL E COMPROMISSO SOCIAL
NACIONAL SÃO PAULO, 08 A 11 DE OUTUBRO DE 2008
O PAPEL DA EDUCAÇÃO MUSICAL
DA ABEM FECHAR
Resumo. Este artigo apresenta pesquisa em andamento, sobre o impacto da Técnica Alexander na
atuação de instrumentistas, alunos da Escola de Música da UFMG. Na introdução, a problemática
enfrentada por músicos instrumentistas é discutida, com base em pesquisa realizada por profissionais da
música e da área médica. A seção seguinte discrimina detalhes sobre a presente pesquisa. A seguir,
resultados preliminares da pesquisa são apresentados. Conclui-se que a Técnica Alexander tem tido
efeitos positivos sobre os instrumentistas, ampliando sua consciência corporal durante a performance e
favorecendo a manutenção de sua saúde psicofísica.
1. Introdução
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de Música da UFMG, sendo intitulada “O impacto da Técnica Alexander na atuação de músicos
instrumentistas”. A pesquisa investiga os efeitos da Técnica Alexander em músicos
instrumentistas durante a performance e estudo de seus instrumentos.
O propósito da pesquisa é introduzir a Técnica Alexander a um grupo de alunos daquela
instituição durante um período de 6 meses, nos quais serão ministradas aproximadamente 30
seções de Técnica Alexander. Especificamente, a pesquisa visa observar e avaliar os padrões
físicos inadequados apresentados por alunos de instrumento dos cursos de graduação e de pós-
graduação da Escola de Música da UFMG durante a performance musical (entre 15 e 20 alunos).
A pesquisa parte da hipótese de que os padrões físicos nocivos, apresentados por cada
um dos alunos envolvidos, serão amenizados ou talvez superados devido à prática da Técnica
Alexander; a Técnica Alexander provavelmente beneficiará o uso corporal dos alunos,
facilitando sua performance musical.
2. Metodologia
A pesquisa lida com três áreas de investigação, incluindo, portanto, revisão bibliográfica
nestas áreas, a saber:
(1) Técnica Alexander e Técnica Alexander e música (ALEXANDER, 1910; 1923; 1932;
BARLOW, 1955; JONES, 1968; CARRINGTON, 1970; LEWIS, 1980; GELB, 1981; LLOYD,
1986; MACDONALD, 1989; HEAD, 1996; ALCANTARA 1997; BEM-OR 1978; STEIN,
LANGFORD, 1994, 1996, 2003; KRATZERT, 2003; SANTIAGO, 2001; 2004; 2005; 2006a;
2006b; 2007; CAMPOS, 2006).
(2) Cinesiologia e da Anatomia (BIENFAIT, 1964, 1995; TUBIANA; CAMADIO, 2000;
MAGEE, 2002).
(3) Estudos que discutem os problemas físicos apresentados por instrumentistas,
encontrados em periódicos como Permusi e Medical Problems of Performing Artists (ANDRADE;
FONSECA, 2000; DAWSON, 2001; FRY, 1986ª; 1986b; SAKAI, 1992; 2002; STEPTOE,
WARRINGTON, 2002).
A pesquisa adota uma abordagem experimental, na qual as mudanças físicas apresentadas
pelos alunos instrumentistas possam ser observadas, a partir da gravação em vídeo de pré-testes
e de pós-testes. O delineamento do estudo inclui uma triangulação de métodos de coleta de
dados, a saber:
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(1) Materiais audiovisuais: vídeos e fotos dos pré-testes e dos pós-testes dos
instrumentistas. As filmagens e fotos dos pré e dos pós-testes serão realizadas nos horários das
aulas individuais da Técnica Alexander, nas dependências da Escola de Música da UFMG.
(2) Observações qualitativas sobre as condições físicas dos instrumentistas, concedidas
por um painel de profissionais especialistas (médicos, fisioterapeutas e professores da Técnica
Alexander). O painel de observadores deverá assistir as gravações dos pré e os pós-testes de
todos os alunos participantes e, segundo seus próprios critérios, avaliar as condições físicas de
cada um deles. Os membros do painel deverão indicar os possíveis padrões físicos nocivos
apresentados por cada aluno, bem como as possíveis mudanças que ocorrerem após as aulas da
Técnica Alexander.
(3) Três relatos escritos dos alunos participantes, através dos quais eles poderão oferecer
sua própria perspectiva sobre as possíveis mudanças físicas ocorridas a partir do contato com a
Técnica Alexander. No primeiro relato, enviado antes do início da pesquisa, os alunos deverão
descrever seu perfil profissional e seus problemas físicos (por exemplo, dor ou desconforto
durante a performance; problemas posturais). No segundo relato, enviado dois meses depois de
iniciadas as aulas da Técnica Alexander, os alunos responderão perguntas sobre sua experiência
com a Técnica Alexander. Finalmente, no terceiro relato, no final da pesquisa, os alunos deverão
relatar suas percepções sobre o impacto da Técnica Alexander na sua atuação no instrumento.
Os dados advindos do painel de observadores e dos relatos dos alunos participantes serão
analisados pela pesquisadora, com o objetivo de: (1) se descobrir quais são os padrões
inadequados e recorrentes de uso corporal relacionados à performance instrumental de cada
participante e: (2) qual o impacto que a Técnica Alexander teve sobre tais padrões. À luz da
revisão bibliográfica, a pesquisadora deverá apontar aspectos relevantes do uso corporal na
performance musical, indicando a provável proveniência dos problemas físicos dos participantes
(em termos de anatomia humana e de acordo com os princípios da Técnica Alexander), bem
como prover explicações para as possíveis mudanças ocorridas com os alunos. Finalmente, a
pesquisadora deverá buscar explicações rivais para as possíveis mudanças ocorridas com os
alunos, de forma a esgotar todas as outras causas para estas mudanças, que não a prática da
Técnica Alexander.
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pesquisa (de 15 a 20). O grupo escolhido não é homogêneo já que este trabalho não objetiva
generalizações e sim, estudo aprofundado de cada caso. O acordo ético entre pesquisadora e
participantes tem ocorrido através de consenso livre e esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo
Comitê de ética em Pesquisa da UFMG (COEP, parecer n. ETIC 30/08).
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1. Habilidades técnico-musicais:
• Maior liberdade de ação corporal, dedos mais livres e rápidos;
• Maior relaxamento para cantar e tocar, facilitando a realização de habilidades técnicas;
• Maior leveza para tocar;
• Melhoria da condição de apoio dos pés com melhor sensação de chão;
• Melhoria da emissão da voz;
• Melhoria da posição da cabeça e do pescoço;
• Melhoria da respiração.
3. Precisão rítmica:
• Melhoria da articulação e da dicção das palavras;
• Melhoria da clareza e precisão rítmica;
• Melhoria da manutenção da duração do som;
4. Qualidade do fraseado:
• Melhoria do fraseado devido à melhor interação do corpo com a música e devido ao aumento
de consciência corporal.
6. Fluência musical:
• Diminuição de dores e aumento da resistência da respiração, o que favorece melhoria da
fluência musical;
• Melhoria da fluência devido à melhoria dos níveis de atenção;
• Melhoria da fluência na condução de frases musicais;
• Melhoria da integrou o corpo na tarefa musical, ajudando a fluência.
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tensões; ampliar a caixa de ressonância da boca sem exageros; liberar a face das tensões;
sentir prazer em estar usando todo o corpo para se expressar musicalmente.
4. Conclusão
A partir dos resultados iniciais e parciais aqui apresentados, a pesquisa sugere que a
prática da Técnica Alexander tem ajudado aos alunos da escola de Música da UFMG,
participantes da pesquisa, a superar ou minimizar algumas de suas dificuldades físicas e
atitudinais, que poderiam prejudicar sua performance musical e sua saúde. A prática da Técnica
Alexander parece estar proporcionando a estes alunos uma melhor integração do seu organismo
psicofísico durante o estudo e a performance em si. As melhorias da performance, relatadas
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pelos próprios alunos, parecem ter ocorrido devido à Técnica Alexander; porém, devemos
considerar que tais melhorias poderiam ter ocorrido devido a um conjunto de fatores
combinados, relacionados ao próprio aprendizado instrumental, tais como qualidade de instrução
e qualidade e quantidade de estudo individual, dentre outros. Assim, precisamos ampliar os
resultados da pesquisa a partir de sua continuação e da finalização da coleta de dados, e atreves
da análise completa dos dados audiovisuais que a pesquisa tem coletado. A análise de tais dados,
a partir das observações concedidas pelo painel de especialistas, poderá nos dar uma visão mais
clara sobre as mudanças ocorridas com os alunos, bem como explicações de tais mudanças, à luz
dos princípios da Técnica Alexander.
Referências
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