Os Direitos Humanos

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OS DIREITOS HUMANOS

Direitos humanos são os direitos básicos de todos os seres humanos. São direitos
civis e políticos (exemplos: direitos à vida, à propriedade privada, à língua
materna, liberdade de pensamento, de expressão, de crença, igualdade formal, ou
seja, de todos perante a lei, direitos à nacionalidade, de participar do governo do
seu Estado, podendo votar e ser votado, entre outros, fundamentados
no valor liberdade); direitos económicos, sociais e culturais (exemplos: direitos a
o trabalho, à educação, à saúde, à previdência social, à moradia, à distribuição de
renda, entre outros, fundamentados no valor igualdade de oportunidades); direitos
difusos e colectivos (exemplos: direito à paz, direito ao progresso, autodeterminação
dos povos, direito ambiental, direitos do consumidor, inclusão digital, entre outros,
fundamentados no valor fraternidade).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações
Unidas afirma que "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros
em espírito de fraternidade.
A ideia de "direitos humanos" tem origem no conceito filosófico de direitos
naturais que seriam atribuídos por Deus; alguns sustentam que não haveria
nenhuma diferença entre os direitos humanos e os direitos naturais e vêem na
distinta nomenclatura etiquetas para uma mesma ideia. Outros argumentam ser
necessário manter termos separados para eliminar a associação com características
normalmente relacionadas com os direitos naturais, sendo John Locke talvez o mais
importante filósofo a desenvolver esta teoria.
As teorias que defendem o universalismo dos direitos humanos se contrapõem
ao relativismo cultural, que afirma a validez de todos os sistemas culturais e a
impossibilidade de qualquer valorização absoluta desde um marco externo, que,
neste caso, seriam os direitos humanos universais. Entre essas duas posturas
extremas situa-se uma gama de posições intermediárias. Muitas declarações de
direitos humanos emitidas por organizações internacionais regionais põem um
acento maior ou menor no aspecto cultural e dão mais importância a determinados
direitos de acordo com sua trajectória histórica.
A Organização da Unidade Africana proclamou em 1981 a Carta Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos, que reconhecia princípios da Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948 e adicionava outros que tradicionalmente se tinham
negado na África, como o direito de livre determinação ou o dever dos Estados de
eliminar todas as formas de exploração económica estrangeira. Mais tarde, os
Estados africanos que acordaram a Declaração de Túnez, em 6 de
Novembro de 1992, afirmaram que não se pode prescrever um modelo determinado
a nível universal, já que não podem se desvincular as realidades históricas e
culturais de cada nação e as tradições, normas e valores de cada povo. Em uma
linha similar se pronunciam a Declaração de Bangkok, emitida por países asiáticos
em 23 de Abril de 1993, e de Cairo, firmada pela Organização da Conferência
Islâmica em 5 de agosto de 1990.
Também, à visão ocidental-capitalista dos direitos humanos, centrada nos direitos
civis e políticos, como a liberdade de opinião, de expressão e de voto, se opôs,
durante a Guerra Fria, o bloco socialista, que privilegiava a satisfação das
necessidades elementares, porém que suprimia a propriedade privada e a
possibilidade de discordar e de eleger os representantes com eleições livres de
múltipla escolha.

Um dos documentos mais antigos que se vinculam aos direitos humanos é


o Cilindro de Ciro, que contém uma declaração do rei persa Ciro II depois de sua
conquista da Babilónia em 539 a.C. Foi descoberto em 1879 e a Organização das
Nações Unidas o traduziu em 1971 a todos os seus idiomas oficiais. Pode ser
resultado de uma tradição mesopotâmica centrada na figura do "rei justo", cujo
primeiro exemplo conhecido é o rei Urukagina, de Lagash, que reinou durante o
século XXIV a.C. Cabe destacar, também, nessa tradição, Hamurabi da Babilónia e
seu famoso Código de Hamurabi, que data do século XVIII a.C. O Cilindro de Ciro
apresentava características inovadoras, especialmente em relação à religião. Nele,
era declarada a liberdade de religião e a abolição da escravatura. Tem sido
valorizado positivamente por seu sentido humanista e inclusive foi descrito como a
primeira declaração de direitos humanos.

A história
Na Roma antiga, havia o conceito jurídico da concessão da cidadania romana a
todos os romanos. O cristianismo, durante a Idade Média, foi a afirmação da defesa
da igualdade de todos os homens numa mesma dignidade. Foi também durante
esta época que os filósofos cristãos recolheram e desenvolveram a teoria do direito
natural, em que o indivíduo está no centro de uma ordem social e jurídica justa, mas
a lei divina tem prevalência sobre o direito laico tal como é definido pelo imperador,
o rei ou o príncipe. Logo, foram criadas muitas teorias no decorrer do tempo.
Documentos posteriores, como a Carta Magna da Inglaterra, de 1215, e a Carta de
Mandén, de 1222, se têm associado também aos direitos humanos. Os direitos
humanos ou colectivos foram forjados ao longo da história, através de debates
realizados por filósofos e juristas.
A conquista da América no século XVI pelos espanhóis resultou em um debate
sobre direitos humanos na Espanha. Isto marcou a primeira vez que se discutiu o
assunto na Europa.
Muitos filósofos e historiadores do direito consideram que não se pode falar de
direitos humanos até a modernidade no Ocidente. Até então, as normas da
comunidade, concebidas na relação com a ordem cósmica, não deixavam espaço
para o ser humano como sujeito singular, concebendo-se o direito primariamente
como a ordem objectiva da sociedade. A sociedade testamental tem seu centro em
grupos como a família, a linhagem ou as corporações profissionais ou laborais, o
que implica que não se concebem faculdades próprias do ser humano enquanto tal.
Pelo contrário, se entende que toda faculdade atribuível ao indivíduo deriva de um
duplo status: o do sujeito no seio da família e o desta na sociedade. "Fora do
Estado, não há direitos".
A existência dos direitos subjectivos, tal e como se pensam na actualidade, será
objecto de debate durante os séculos XVI, XVII e XVIII, o que é relevante porque
habitualmente se diz que os direitos humanos são produto da afirmação progressiva
da individualidade e que a ideia de direitos do homem apareceu pela primeira vez
durante a luta burguesa contra o sistema do Antigo Regime. Sendo esta a
consideração mais estendida, outros autores consideram que os direitos humanos
são uma constante na História e têm suas raízes no mundo clássico; também sua
origem se encontra na afirmação do cristianismo da dignidade moral do homem
enquanto pessoa.
Com a Idade Moderna, os racionalistas dos séculos XVII e XVIII, reformulam as
teorias do direito natural, deixando este de estar submetido a uma ordem divina.
Para os racionalistas, todos os homens são, por natureza, livres, e têm certos
direitos inatos de que não podem ser despojados quando entram em sociedade. Foi
esta corrente de pensamento que acabou por inspirar o actual sistema internacional
de protecção dos direitos do homem.
A evolução destas correntes veio a dar frutos pela primeira vez na Inglaterra, e
depois nos Estados Unidos. A Magna Carta (1215) deu garantias contra a
arbitrariedade da Coroa, e influenciou diversos documentos, como por exemplo
o Habeas Corpus (1679), que foi a primeira tentativa para impedir
as detenções ilegais. A Declaração Americana da Independência surgiu a 4 de
Julho de 1776: nela, constavam os direitos naturais do ser humano que o poder
político deve respeitar. Esta declaração teve, como base, a Declaração de
Virgínia proclamada a 12 de Junho de 1776, onde estava expressa a noção de
direitos individuais.
Durante a Revolução Inglesa, a burguesia conseguiu satisfazer suas exigências de
ter alguma classe de seguridade contra os abusos da coroa e limitou o poder dos
reis sobre seus súbditos, proclamando a Lei de Habeas corpus em 1679. Em 1689,
o Parlamento impôs, a Guilherme III de Inglaterra, na Carta de Direitos (ou
Declaração de direitos), uma série de princípios sobre os quais os monarcas não
podiam legislar ou decidir.
No século XVII e XVIII, filósofos europeus, destacando-se John Locke,
desenvolveram o conceito do direito natural. Os direitos naturais, para Locke, não
dependiam da cidadania nem das leis de um Estado, nem estavam
necessariamente limitadas a um grupo étnico, cultural ou religioso em particular. A
teoria do contrato social, de acordo com seus três principais formuladores, o já
citado Locke, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau, se baseia em que os
direitos do indivíduo são naturais e que, no estado de natureza, todos os homens
são titulares de todos os direitos.
A primeira declaração dos direitos humanos da época moderna é a Declaração de
Direitos de Virgínia de 12 de Junho de 1776, escrita por George Mason e
proclamada pela Convenção da Virgínia. Esta medida influenciou Thomas
Jefferson na declaração dos direitos humanos que existe na Declaração da
Independência dos Estados Unidos da América de 4 de Julho de 1776, assim como
também influenciou a Assembleia Nacional francesa em sua declaração,
a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Esta definia o direito
individual. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada
na França em 1789, e as reivindicações ao longo dos séculos XIV e XV em prol das
liberdades, alargaram o campo dos direitos humanos e definiram os direitos
económicos e sociais.
A noção de direitos humanos não experimentou grandes mudanças até o século
seguinte. Com o início das lutas operárias, surgiram novos direitos que pretendiam
dar solução a determinados problemas sociais através da intervenção do Estado.
Neste processo, são importantes a Revolução Russa e a Revolução Mexicana.
Desde o nascimento da Organização das Nações Unidas em 1945, o conceito de
direitos humanos se tem universalizado, alcançando uma grande importância na
cultura jurídica internacional. Em 10 de Dezembro de 1948, a Declaração Universal
dos Direitos Humanos foi adoptada e proclamada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em sua Resolução 217 A (III), como resposta aos horrores
da Segunda Guerra Mundial e como intento de assentar as bases da nova ordem
internacional que surgia depois do armistício.
Mas o momento mais importante, na história dos Direitos do Homem, é durante
1945-1948. Em 1945, os Estados tomam consciência das tragédias e atrocidades
vividas durante a 2ª Guerra Mundial, os levando a criar a Organização das Nações
Unidas (ONU) em prol de estabelecer e manter a paz no mundo. Foi através da
Carta das Nações Unidas, assinada a 20 de Junho de 1945, que os povos
exprimiram a sua determinação "em preservar as gerações futuras do flagelo da
guerra; proclamar a fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e valor
da pessoa humana, na igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim como
das nações, grande e pequenas; em promover o progresso social e instaurar
melhores condições de vida numa maior liberdade". A criação das Nações Unidas
simboliza a necessidade de um mundo de tolerância, de paz, de solidariedade entre
as nações, que faça avançar o progresso social e económico de todos os povos.
Os principais objectivos das Nações Unidas, passam por manter a paz, a segurança
internacional, desenvolver relações amigáveis entre as nações, realizar a
cooperação internacional resolvendo problemas internacionais do cariz económico,
social, intelectual e humanitário, desenvolver e encorajar o respeito pelos direitos
humanos e pelas liberdades fundamentais sem qualquer tipo de distinção.
Assim, a 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas
proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Declaração Universal
dos Direitos Humanos é fundamental na nossa Sociedade pois quase todos os
documentos relativos aos direitos humanos têm, como referência, esta Declaração,
a qual alguns Estados fazem referência directa nas suas constituições nacionais.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos ganhou uma importância
extraordinária, contudo não obriga juridicamente que todos os Estados a respeitem
e, devido a isso, a partir do momento em que foi promulgada, foi necessário a
preparação de inúmeros documentos que especificassem os direitos presentes na
declaração e, assim, forçassem os Estados a cumpri-la. Foi nesse contexto que, no
período entre 1945-1966, nasceram vários documentos, entre os quais se destacam
os Pactos Internacionais de Direitos Humanos de 1966.
Assim, a junção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, os dois pactos
efectuados em 1966, nomeadamente o Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, bem
como os dois protocolos facultativos do Pacto dos Direitos Civis e Políticos (que, em
1989, aboliu a pena de morte), constituem a Carta Internacional dos Direitos do
Homem.
Em 2016, no entanto, o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty, no
relatório anual da organização, questionou a eficiência do actual sistema de
protecção dos direitos humanos no mundo, segundo ele incapaz de resolver
problemas como a crise migratória na Europa, a perseguição aos defensores dos
direitos humanos, as violências sexual e de género, a impunidade, o aliciamento de
crianças por organizações criminosas, a tortura, a violência policial, a manutenção
da pena de morte em alguns países e as remoções forçadas de populações.

Classificação

Em 1979, em uma conferência do Instituto Internacional de Direitos Humanos, Karel


Vasak propôs uma classificação dos direitos humanos em gerações, inspirado no
lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade, fraternidade).
Assim, os direitos humanos de primeira geração seriam os direitos de liberdade,
compreendendo os direitos civis, políticos e as liberdades clássicas. Os direitos
humanos de segunda geração ou direitos de igualdade, constituiriam os direitos
económicos, sociais e culturais. Já como direitos humanos de terceira geração,
chamados direitos de fraternidade, estariam o direito ao meio ambiente equilibrado,
uma saudável qualidade de vida, progresso, paz, autodeterminação dos povos e
outros direitos difusos.
Posteriormente, com os avanços da tecnologia e com a Declaração dos Direitos do
Homem e do Genoma Humano feita pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a doutrina estabeleceu a quarta
geração de direitos como sendo os direitos tecnológicos, tais como o direito de
informação e bio direito.
O jurista brasileiro Paulo Bonavides, defende que o direito à paz, que segundo Karel
Vasak seria um direito de terceira geração, merece uma maior visibilidade, motivo
pelo qual constituiria a quinta geração de direitos humanos.

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