Bases Neurologicas Do Desenvolvimento de 0 A 10 Anos 2

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 DESENVOLVIMENTO HUMANO ............................................................... 4

2.1 Os fatores que influenciam o desenvolvimento humano ...................... 5

3 FALANDO NAS RELAÇÕES CRIANÇA-AMBIENTE .................................. 6

3.1 Desenvolvimento cognitivo ................................................................... 8

4 DESENVOLVIMENTO DA MORALIDADE SEGUNDO JEAN PIAGET .... 22

5 A PERSPECTIVA SOBRE A ADOLESCÊNCIA ........................................ 28

6 CONCEITO DE INTELIGÊNCIA ............................................................... 29

6.1 As inteligências múltiplas ................................................................... 33

7 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL ................................................................... 39

8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 42

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro, quase improvável, um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 DESENVOLVIMENTO HUMANO

Fonte: ead.mined.gov.mz

Há certo consenso entre os pesquisadores no que tange as influências no


desenvolvimento. Segundo eles, essas influências originam-se com a hereditariedade
(aspecto biológico), o ambiente externo e a maturação. Já referindo-se aos aspectos
contextuais, destacam-se: em primeiro grau a família, posterior e concomitantemente
a cultura e etnicidade; condições socioeconômicas e bairro; influências normativas e
não-normativas. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002; PAPALIA; OLDS; FELDMAN,
2013 apud SANTOS G, et al., 2019).
O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e ao
crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se
caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de
organização da atividade mental que se vão aperfeiçoando e solidificando até o
momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão um
estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos da inteligência, vida afetiva e
relações sociais. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002, p. 98 apud SANTOS G, et al.,
2019).
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A importância do estudo sobre o desenvolvimento humano se dá ao fato de
permitir conhecer as características comuns de determinada faixa etária, no que diz
respeito ao desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial, contribuindo para que se
possam reconhecer as individualidades, contribuindo, por conseguinte, à obtenção de
informações que permitam interpretar comportamentos e atitudes dos sujeitos. Entre
outras palavras, representa a descoberta de que o indivíduo é produto da interação
de diversos fatores, fatores estes já elucidados. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002
pud SANTOS G, et al., 2019).
Conforme SILVA J; et al., (2015), o desenvolvimento humano é um processo
de conhecimento, formação, sociabilização e vivência do indivíduo no dia a dia.

2.1 Os fatores que influenciam o desenvolvimento humano

Esses fatores são tidos como fatores universais e são os mesmo que explicam
como acontece o desenvolvimento humano, são quatros pontos fundamentais e eles
não fazem parte de uma teoria específica, eles são universais como já citado acima,
esses fatores são necessários para o desenvolvimento humano, independente da
teoria. São eles:
 Hereditariedade: ela tem ligação exatamente com a genética, ou seja,
aquilo que é hereditário, aquilo que nós passamos para outro de uma
forma genética, aquilo que iremos passar para nossa prole. Entende –
se que é o conjunto de pessoas que descendem de um indivíduo ou de
um casal e chamamos de descendência. E a hereditariedade irá
influenciar no desenvolvimento humano através da carga genética.
 Crescimento orgânico: o mesmo apresenta características ligadas
com os aspectos físicos sobre a questão corporal. O aspecto físico irá
permitir que a estruturação do esqueleto, portanto de acordo com o
crescimento e o desenvolvimento da criança ela poderá alcançar os
objetos que antes ela não conseguia pegar.
 Maturação neurofisiológica: ela irá permitir o padrão de
comportamento, e irá influenciar as estimulações ambientais onde
podem alterar os padrões de comportamentos do ser humano.

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Podemos dizer também que isso é aspecto físico-motor e faz parte
também do crescimento orgânico. Portanto, é ela que vai permitir que o
indivíduo desenvolva capacidades novas e diferentes, em vários
momentos de seu desenvolvimento.
 Meio: É o um conjunto de influencias e estímulos que existem no
ambiente e é uma característica muito interessante porque pode alterar
os padrões de comportamento do indivíduo, porque sabemos que cada
pessoa tem a sua singularidade e cada um é constituído numa interação
entre o meio e o indivíduo.
Chega – se a conclusão que os fatores mencionados acima fazem parte do
desenvolvimento do ser humano e são extremante importantes. Compreende – se que
o desenvolvimento humano implica em conhecer todas as características comuns de
cada faixa etária, para que possamos reconhecer todas as individualidades. Dessa
maneira fica mais claro a forma como aprendemos a observar e interpretar os
comportamentos e como eles acontecem.

3 FALANDO NAS RELAÇÕES CRIANÇA-AMBIENTE

Fonte: institutoneurosaber.com.br

De acordo com NASCIMENTO G; et al., (2001), partindo da premissa de


conceituar o ambiente como um conjunto de condições e estímulos que afetam a vida
humana no âmbito social, cultural, moral e até escolar, é possível perceber como o
ambiente é um agente continuamente presente na experiência humana. Na verdade,
muito do comportamento de um indivíduo envolve a interação com o espaço sendo no
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espaço, que as atividades simples irão acontecer, como comer e se vestir, até
atividades complexas, como traçar um percurso pela cidade.
Para NASCIMENTO G; et al., (2001), neste contexto, é reconhecida a grande
importância do meio ambiente para o desenvolvimento infantil, uma vez que a criança
determina a relação com o mundo e com as pessoas por meio do meio ambiente e,
assim, garante sua educação e sua qualidade de vida social, vida moral, psicológica
e cultural. De acordo com esse viés, a função do meio ambiente no desenvolvimento
infantil é uma questão fundamental para o desenvolvimento humano.
De acordo com NASCIMENTO G; et al., (2001), em sua obra "Emílio ou da
Educação", Rousseau representa o conceito de uma educação natural: a criança deve
ser educada livremente, ou seja, a liberdade e a natureza da criança devem ser
respeitadas, ela deve ser criada em um ambiente livre e natural. Ele observa e afirma
que a criança criada livremente no campo terá mais facilidade para falar e aprender
(eles aprendem por si mesmos).

Fonte: uricer.edu.br

Portanto, para NASCIMENTO G; et al., (2001) para Rousseau, a infância é


referida como a idade da natureza, a educação não vem de fora, vem da liberdade de
expressão da criança em seu contato com a natureza.

A criança precisa ser criada livremente. Precisa correr e cair cem vezes por
dia, assim aprenderá mais cedo a se levantar. Ela pode e deve sentir dor.
Sofrer é a primeira coisa que deverá aprender, para que quando seja adulto
não acredite morrer a primeira picada e desmaie ao ver a primeira gota de
sangue. [...] é na infância, onde as dores são menos sensíveis, que devemos

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multiplicá-las, para poupá-las na idade da razão. (ROUSSEAU, 1999, p. 236
apud NASCIMENTO G; et al., 2001).

Já Froebel (1985 apud NASCIMENTO G; et al., 2001), defendendo a


brincadeira, a motricidade e a jardinagem como atividades a serem promovidas e
praticadas nas escolas, chama a atenção para a integração do caráter escolar e,
consequentemente, para as necessidades desses espaços abertos como integração
escolar da natureza que podem ser utilizados pelos alunos. Nessa perspectiva, para
Makarenko (1981 apud NASCIMENTO G; et al., 2001), não é o educador que educa,
mas o ambiente, por isso é necessário que o ambiente seja acolhedor, favorável e
adequado à aprendizagem e ao desenvolvimento da criança, não só o ambiente
escolar, mas também o familiar.
Nesse sentido, Montessori defende a liberdade individual, a autodeterminação
da criança e o uso de materiais didáticos concretos e lúdicos (1980 apud
NASCIMENTO G; et al., 2001) eram feitos os pedidos de salas de aula espaçosas
com móveis não permanentes para poder fornecer materiais que tornassem mais fácil
a escolha das crianças; a ocorrência simultânea sem influência mútua de várias
atividades individuais e em grupo; e a prática de exercícios coletivos em roda ou seja
em círculo. De acordo com as concepções de alguns autores, podemos dizer que o
ambiente influencia o desenvolvimento da criança e é um dos fatores mais
importantes, pois é por meio dele que a criança cria sua relação de ser e estar no
mundo.

3.1 Desenvolvimento cognitivo

Para ter uma visão mais ampla da aprendizagem das crianças, foi necessário
olhar para Piaget. (1974, p.16 apud SILVEIRA L; 2013), que considera a cognição
como uma forma específica de adaptação biológica de um organismo complexo a um
ambiente complexo. Ao construir sua teoria que trata do desenvolvimento cognitivo,
Piaget observou diretamente as crianças, como a fonte original mais próxima de sua
realidade.

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De acordo com SILVEIRA L; (2013), vários ramos da ciência se seguiram,
destacando que o sistema cognitivo seleciona e interpreta ativamente as informações
ambientais à medida que constrói seu próprio conhecimento. Deste ponto de vista, o
pensador entende que a mente está constantemente reconstruindo e reinterpretando
esse ambiente a fim de adaptá-lo à sua própria estrutura mental existente.

 Estágios de desenvolvimento cognitivo

Por meio de pesquisas aprofundadas, inicialmente com seus próprios filhos,


Jean Piaget conceitua que "inteligência por definição é adaptação a novas situações
e, portanto, uma construção contínua de estruturas”. E que esta é uma das muitas
atividades interativas entre o organismo e o ambiente e que a inteligência nessas
interações aumenta seu equilíbrio entre assimilar e acumular trocas. (PIAGET In:
BERINGUIER, p. 61 (45); SEBER, 1997, p.79 apud SILVEIRA L; 2013).

Nesse sentido, o desenvolvimento cognitivo é entendido como um processo


contínuo de construção e reconstrução que decorre sequencialmente a partir
das ações mentais, de forma que seja possível integrar novos dados aos
esquemas existentes durante todo o processo de desenvolvimento. Segundo
Piaget (s.d), ...] A acomodação é determinada pelo objeto, enquanto a
assimilação é determinada pelo indivíduo. Então, assim como não há
acomodação sem assimilação, já que é sempre a acomodação de alguma
coisa que é assimilada [...] de igual modo não pode haver assimilação sem
acomodação. Porque na adaptação você tem sempre dois polos: você tem
um polo do indivíduo e o polo do objeto – acomodação [...] (PIAGET In:
BERINGUIER, p. 61 (45); SEBER, 1997, p.79 apud SILVEIRA L; 2013).

Nessa compreensão, partindo desse processo cíclico de desenvolvimento


cognitivo, que implica acomodação, assimilação e equilíbrio contínuo, Piaget tenta,
para compreender a questão do conhecimento, estabelecer uma conexão entre a
biologia e a evolução do conhecimento por meio de processos funcionais, perceber
que a assimilação ocorre tanto fisiologicamente (centrada no corpo) quanto
racionalmente (conforme evidenciado no julgamento). Desse modo, segundo Seber
(1997, p. 54 apud SILVEIRA L; 2013), pode-se entender que “a adaptação cognitiva
também descreve o equilíbrio das trocas entre a criança e o mundo exterior, entre a
assimilação e a acomodação”.

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Todo esse processo desenvolvimental, de acomodação assimilação e equilíbrio
(equlibração, segundo Piaget), acontece por estágios que se diferenciam nas diversas
fases etárias e qualitativas das crianças. O desenvolvimento cognitivo, então, é um
processo contínuo, ininterrupto, que passa por etapas, com as crianças passando por
todas as etapas, mas isso não significa que seja igual para todos; cada criança se
desenvolve à sua maneira e em seu próprio tempo . Segundo Moro (1987, p. 20 apud
SILVEIRA L; 2013), Piaget sugere que as "construções estruturais da inteligência
humana são universais" e sempre seguem a mesma ordem em que acabam surgindo.
No entanto, a idade cronológica das crianças referente às manifestações dessas
construções varia de um sujeito para outro e de um grupo para outro. Segundo Piaget
(1963 apud SILVEIRA L; 2013), os estágios são: sensório-motor, pré-operatório,
operações concretas e operações formais.

 Estágio de desenvolvimento cognitivo sensório-motor

O conhecimento e, consequentemente, o desenvolvimento, surgem de


interações contínuas entre o sujeito e o ambiente. Todo pensamento tem origem na
ação, e analisar a experiência do sujeito com os objetos é fundamental para tomar
conhecimento sobre a gênese das operações intelectuais (FERRACIOLI, 1999 apud
BONOMO L; 2010). Embora o recém-nascido e a criança pequena não apresentem
pensamento formado e representações propriamente ditas, as condutas desse
primeiro estágio, chamado de sensório motor, são de extrema utilidade ao
desenvolvimento cognitivo ulterior.
Trata-se, fundamentalmente, de uma inteligência de cunho prático em que a
criança de 0 a 2 anos, por meio de percepções, movimentos e coordenação de ações
sensório-motoras, cria sistemas complexos de assimilação e, em seis subestágios,
“organiza o real construindo, pelo próprio funcionamento, as categorias de ação que
são os esquemas de objeto permanente, do espaço, do tempo e da causalidade [...]”
(PIAGET; INHELDER, 1968/2003, p. 19 apud BONOMO L; 2010), passando de um
do puro egocentrismo para se situar como objeto entre os outros num mundo estável
em que os acontecimentos podem ocorrer independentes dela, estando apta a
combinar mentalmente os esquemas, entrando no universo da linguagem e dos

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símbolos (PIAGET; INHELDER, 1968/2003; PIAGET, 1970/2006; PIAGET,
1970/2008; LIMA, 1980 apud BONOMO L; 2010).

 Estágio cognitivo pré-operatório:

Quando acontece o aparecimento da capacidade simbólica por volta dos dois


anos ocorre, como ressalta Terra (2011 apud FERRARI D; 2014), o surgimento da
linguagem, que traz grandes modificações importantes e necessárias nos aspectos
cognitivos, afetivos e sociais da criança, visto que há a possibilidade de interações
interindividuais e que consequentemente propicia, principalmente a capacidade de
trabalhar com representações para atribuir significados à realidade, haja visto que o
desenvolvimento do pensamento é mais acelerado nessa fase devido aos contatos
sociais possibilitados pela linguagem. Nesse momento a situação muda
drasticamente, pois com a linguagem e a capacidade de representação por meio do
jogo simbólico e da imagem mental a criança pode internalizar as ações, ganhando
assim significado.
Como aponta FERRARI D; (2014), o estágio pré-operacional é representado
por um grande avanço para o desenvolvimento com a gênese da capacidade
simbólica. O desenvolvimento da linguagem traz consigo três consequências para a
vida mental da criança, sendo: a socialização da ação com trocas entre os indivíduos;
o desenvolvimento da intuição e desenvolvimento do pensamento a partir do
pensamento verbal que traz consigo o finalismo (porquês), e os animismos, e por fim
o artificialismo.
Segundo Papallia (2000 apud FERRARI D; 2014), além da função simbólica
(pensar em algo sem precisar vê-lo), as crianças nessa fase podem desenvolver a
compreensão de identidades (ideia de que as pessoas e muitas coisas continuam as
mesmas, mesmo mudando aparência), de causa e efeito (o mundo é organizado e
que ela pode fazer as coisas acontecerem), capacidade de classificar (organizar
objetos, pessoas e eventos em categorias de significado) e compreensão de números
(contar e lidar com quantidades).

Esse avanço todo ocorre porque segundo Biaggio (2000 apud FERRARI D;
2014), esse período a criança já não lida apenas com sensações e
movimentos, mas já distingue um significador (imagem, palavra ou símbolo)
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de um significado concreto (objeto ausente), ampliando assim em muito o seu
vocabulário e formando sentenças mais complexas.

Embora Papallia (2000 apud FERRARI D; 2014) mostre que a segunda infância
é uma fase de grandes realizações, Biaggio (2000 apud FERRARI D; 2014)
acrescenta que, além disso, o estágio pré-operacional também é definido em termos
negativos, ou seja por meio de tarefas não realizáveis por crianças dessa idade. São
elas conforme Papallia (2000 apud FERRARI D; 2014):
 De acordo com FERRARI D; (2014), centração: não pensa em vários aspectos
ao mesmo tempo, mas concentra-se apenas em um.
 Conforme FERRARI D; (2014), confusão entre aparência e realidade: é a
incompreensão entre o que parece ser e o que é, por exemplo, se uma criança
vê um recipiente com leite e em seguida é lhe dado um óculos que faz o leite
parecer verde e lhe é perguntado que cor é o leite, ela responde que é verde.
 Para FERRARI D; (2014), irreversibilidade: a criança não compreende que
uma operação pode ter dois ou mais sentidos, que certos fenômenos são
reversíveis, como a água que vira gelo e pode vir a ser água novamente.
 Como aponta FERRARI D; (2014), foco mais nos estados do que nas
transformações: a criança vê um mundo em quadros estáticos, não
compreendem o processo de transformação que leva de um estado para outro.
 Segundo FERRARI D; (2014), raciocínio transdutivo: a criança vê uma
situação como base para outra, e estabelece um relacionamento causal entre
essa situação como por exemplo a criança que acha que seus pais se
divorciaram porque ela se comportou mal.
 FERRARI D; (2014) conceitua o egocentrismo: se caracteriza pela
incapacidade de a criança ver o ponto de vista do outro, a compreensão do
mundo é centrada em si.
Embora o pensamento da criança se transforme rapidamente, o egocentrismo
ainda continua presente, pois observa-se que nesse estágio, o sujeito ainda não
concebe uma realidade da qual não faça parte devido à ausência de esquemas
conceituais e da lógica. Rodrigues et al (2005 apud FERRARI D; 2014) acrescenta
que nesse estágio, a leitura da realidade é incompleta e parcial, pois a criança prioriza
aspectos que são mais relevantes aos seus olhos e também não é possível a

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reversibilidade do pensamento, pois a criança não consegue organizar os objetos e
acontecimentos em categorias lógicas gerais.
O aspecto central dessa fase é mesmo o desenvolvimento da linguagem que
de acordo com Balestra (2007 apud FERRARI D; 2014) gera novos esquemas e
favorece a reconstrução daqueles anteriormente formados, oportunizando a
edificação do pensamento simbólico em substituição à ação direta do sujeito sobre o
objeto pela sua evocação e representação mental. O pensamento simbólico possibilita
a superação dos limites referentes a noção de tempo e espaço da fase anterior, e
essa nova habilidade de operar a partir de representações mentais conduz à
superação gradativa do subjetivismo da criança, possibilitando maior objetividade na
aquisição de conhecimento.

 Estágio de desenvolvimento cognitivo operatório-concreto

De acordo com SOUZA N; et al., (2014), o período operatório concreto ocorre


aproximadamente na faixa etária dos sete aos onze anos, e é caracterizado como
sendo uma fase de transição entre a ação e as estruturas lógicas mais gerais. Neste
período, temos duas ordens de operações: as operações lógico-matemáticas e as
operações infralógicas. As operações lógicas possuem como referência as operações
lógicas matemáticas, que foram denominadas por Piaget como sendo
“agrupamentos”. As mesmas são identificadas durante dois períodos de
desenvolvimento: o operatório concreto e o formal (o período operatório formal ocorre
em sujeitos de doze anos em diante, quando o pensamento já está formado para as
abstrações).
Segundo Coutinho (1992 apud SOUZA N; et al., 2014), no decorrer deste
estágio (operatório concreto), o indivíduo adquire vários conhecimentos, como a
capacidade de consolidar as conservações de número, ou as operações infralógicas
que são referentes à conservação física: peso, volume e substância. Há também a
constituição do espaço, que se trata da conservação de comprimento, superfície,
perímetros, horizontais e verticais e a constituição do tempo e do movimento
(coordenação entre tempo e velocidade). A operações infralógicas e lógicas aparecem
neste período de desenvolvimento, sempre com base em algo concreto, pois ainda

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não está formada a capacidade de abstração, que acontece apenas no período
operatório formal (sujeitos de 11 ou 12 anos em diante).
Assim, o período operatório concreto é o penúltimo estágio para se chegar ao
nível mais elevado de raciocínio: a abstração. De acordo com Piaget (2003 apud
SOUZA N; et al., 2014), o sujeito tem a capacidade de organizar o mundo de forma
lógica ou operatória, não se limitando mais a uma representação imediata, mas ainda
dependendo do mundo concreto para desenvolver a abstração. Contudo, este período
é caracterizado por uma lógica interna consistente e pela habilidade de solucionar
problemas concretos. Nesta fase, já começa também a compreender a conservação
de volume, massa e comprimento.

 Estágio de desenvolvimento cognitivo operatório formal

De acordo com RIZZI C; et al., (2004) o estágio de desenvolvimento cognitivo


operatório formal, entra na fase da adolescência (dos onze ou doze anos em diante),
etapa onde ocorre a troca do pensamento concreto para o formal. A estrutura formal
conquistada neste período é constituída a partir da estrutura operatória, própria do
período anterior. Naquele estágio era um período em que a criança pensava
concretamente sobre cada problema conforme eles surgiam e não estabelecia
relações entre suas soluções e teorias gerais. Ao contrário, o que se observa no
adolescente é seu interesse por problemas abstratos e a facilidade com que elabora
as respectivas teorias que versam sobre política, filosofia, ética, enfim,
particularmente, sobre sistemas que visem transformar o mundo. Este tipo de
raciocínio é denominado hipotético-dedutivo.
Conforme RIZZI C; et al., (2004), o pensamento formal não tem o objetivo de
apenas estimular os pensamentos das operações que realiza sobre objetos, mas
“reflete” estas operações independentemente dos objetos e as substitui por
proposições. Esta “reflexão” é como um pensamento em segundo grau, ou seja, o
pensamento formal é uma representação de uma representação de ações possíveis.
À medida que os dados (o real) não podem ser representados por imagens, faz-se
necessário elaborá-los como hipóteses (o possível) podendo, assim, deduzir as

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consequências (o necessário). Em outras palavras, as hipóteses são formas de
imaginar o que deveria ser o real se esta ou aquela condição fosse satisfeita.
Sobre o equilíbrio do pensamento formal podemos dizer que o mesmo é
atingido quando há compreensão de que a função da reflexão é a de adiantar e
interpretar a experiência. Este equilíbrio ultrapassa, em muito, o pensamento concreto
porque engloba, além do mundo real, as construções que são indefinidas da dedução
racional e da vida interior. Para caracterizar essas formas de equilíbrio, a psicologia
recorre à álgebra visando a deduzir suas possibilidades e predizer seus efeitos. Então,
na medida em que os juízos enunciados correspondem a operações proposicionais e
que estas podem ser expressas por meio de símbolos algébricos, o raciocínio
corresponde diretamente às transformações que ligam estas operações entre si. Por
outro lado, essas transformações correspondem ao próprio cálculo, que é intrínseco
a essa álgebra. É assim que o ato inteligente equivale a agrupar operações entre si
(Filho, 1988 apud RIZZI C; et al., 2004).

 Processo de construção do conhecimento e desenvolvimento


mental do indivíduo

Para MOTA M; et al., (2001), a aprendizagem é um processo contínuo que


ocorre durante toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra infância até a mais
avançada velhice. Normalmente uma criança deve aprender a andar e a falar, depois
a ler e escrever, aprendizagens básicas para atingir a cidadania e a participação ativa
na sociedade. Já os adultos precisam aprender habilidades ligadas a algum tipo de
trabalho que lhes forneça a satisfação das suas necessidades básicas, algo que lhes
garanta o sustento. As pessoas idosas embora nossa sociedade seja reticente quanto
às suas capacidades de aprendizagem podem continuar aprendendo coisas
complexas como um novo idioma ou ainda cursar uma faculdade e virem a exercer
uma nova profissão.
De acordo com MOTA M; et al., (2001), o desenvolvimento geral do indivíduo
será resultado de suas potencialidades genéticas e, sobretudo, das habilidades
aprendidas durante as várias fases da vida. A aprendizagem está diretamente
relacionada com o desenvolvimento cognitivo. As passagens pelos estágios da vida

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são marcadas por constante aprendizagem. “Vivendo e aprendendo”, diz a sabedoria
popular. Assim, os indivíduos tendem a melhorar suas realizações nas tarefas que a
vida lhes impõe. A aprendizagem permite ao sujeito compreender melhor as coisas
que estão à sua volta, seus companheiros, a natureza e a si mesmo, capacitando-o a
ajustar-se ao seu ambiente físico e social.

A teoria da instrução de Jerome Bruner (1991 apud MOTA M; et al., 2001),


um autêntico representante da abordagem cognitiva, traz contribuições
significativas ao processo ensino-aprendizagem, principalmente à
aprendizagem desenvolvida nas escolas. Sendo uma teoria cognitiva,
apresenta a preocupação com os processos centrais do pensamento, como
organização do conhecimento, processamento de informação, raciocínio e
tomada de decisão. Considera a aprendizagem como um processo interno,
mediado cognitivamente, mais do que como um produto direto do ambiente,
de fatores externos ao aprendiz. Apresenta-se como o principal defensor do
método de aprendizagem por descoberta (insight).

Piaget (1969 apud MOTA M; et al., 2001), foi quem mais contribuiu para
compreendermos melhor o processo em que se vivencia a construção do
conhecimento no indivíduo. Apresentamos as ideias básicas de Piaget (l969, p.14
apud MOTA M; et al., 2001) sobre o desenvolvimento mental e sobre o processo de
construção do conhecimento, que são adaptação, assimilação e acomodação. Piaget
diz que o indivíduo está constantemente interagindo com o meio ambiente. Dessa
interação resulta uma mudança contínua, que chamamos de adaptação. Com sentido
análogo ao da Biologia, emprega a palavra adaptação para designar o processo que
ocasiona uma mudança contínua no indivíduo, decorrente de sua constante interação
com o meio.
Conforme MOTA M; et al., (2001), esse ciclo adaptativo é constituído por dois
subprocessos: assimilação e acomodação. A assimilação está relacionada à
apropriação de conhecimentos e habilidade. O processo de assimilação é um dos
conceitos fundamentais da teoria da instrução e do ensino. Permite-nos entender que
o ato de aprender é um ato de conhecimento pelo qual assimilamos mentalmente os
fatos, fenômenos e relações do mundo, da natureza e da sociedade, através do estudo
das matérias de ensino. Nesse sentido, podemos dizer que a aprendizagem é uma
relação cognitiva entre o sujeito e os objetos de conhecimento.

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Como caracteriza MOTA M; et al., (2001), a acomodação é que ajuda na
reorganização e na modificação dos esquemas assimilatórios anteriores do indivíduo
para ajustá-los a cada nova experiência, acomodando-as às estruturas mentais já
existentes. Portanto, a adaptação é o equilíbrio entre assimilação e acomodação, e
acarreta uma mudança no indivíduo. A inteligência desempenha uma função
adaptativa, pois é através dela que o indivíduo coleta as informações do meio e as
reorganiza, de forma a compreender melhor a realidade em que vive, nela agi,
transformando.
Para Piaget (1969, p.38 apud MOTA M; et al., 2001), a inteligência é adaptação
na sua forma mais elevada, isto é, o desenvolvimento mental, em sua organização
progressiva, é uma forma de adaptação sempre mais precisa à realidade. É preciso
ter sempre em mente que Piaget usa a palavra adaptação no sentido em que é usado
pela Biologia, ou seja, uma modificação que ocorre no indivíduo em decorrência de
sua interação com o meio. Portanto, é no processo de construção do conhecimento e
na aquisição de saberes que se desenvolve a aprendizagem e ao mesmo tempo
superar as dificuldades que sentem em assimilar o conhecimento adquirido.

 A relação entre desenvolvimento e aprendizagem na teoria de


Piaget

Piaget (1964/2014 apud CORRÊA C; 2017) estrutura sua explicação do


desenvolvimento cognitivo e afetivo a partir de uma ação motivada, que sempre se
reflete em uma necessidade que manifesta uma situação de desequilíbrio, aqui é
necessário introduzir os termos esquema, assimilação e acomodação. Estruturas
mentais que se relacionam com um todo organizado e se relacionam com uma
estrutura cognitiva específica.
Conforme CORRÊA C; (2017), a assimilação se refere à capacidade do sujeito
de integrar objetos cognitivos em sua estrutura cognitiva. A acomodação refere-se ao
ajuste que foi feito na estrutura para acomodar o novo objeto. O equilíbrio entre
assimilação e acomodação é chamado de equilíbrio. Esses processos em relação aos
objetos são os processos de assimilação e acomodação que estão presentes, ora com
predomínio de um, ora com predomínio do outro.

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Os esquemas possuem uma plasticidade dinâmica e se adaptam à realidade
de tal forma que podem ser assimilados. Diante de uma situação externa, o esquema
é aplicado, ou seja, a ação assimiladora do sujeito inicia um ciclo de ação sobre o
objeto. Se o esquema consegue integrar o novo objeto à estrutura existente, a
situação atual é mantida, mas se o esquema não inserir o novo objeto na frente do
qual o sujeito está localizado, o sujeito enfrenta um desequilíbrio. Essa situação surge
quando o ciclo de ação do sujeito sobre o objeto citado e é seguido por ações de
retorno do objeto ao sujeito. A função do objeto na construção de habilidades
cognitivas é desequilibrar o sujeito. (Becker, 2014 apud CORRÊA C; 2017).

O fracasso da ação desencadeia a tomada de consciência, com o sujeito


procurando os pontos em que houve falha da adaptação do esquema de
assimilação ao objeto. Intervém, nesse caso, o mecanismo de regulação.
Sobre as regulações e a tomada de consciência, para Piaget, regular é
manter, modificar ou variar a ação seguinte em função dos resultados da ação
anterior. Há dois tipos de regulação: automática e ativa. São as regulações
ativas que provocam a tomada de consciência. O sujeito, diante da
resistência do objeto, efetua modificações em seus esquemas assimiladores
“para dar conta da nova ação que sentiu ser insuficiente. Um novo ciclo de
ações pode ser inaugurado se o sujeito resolver continuar e voltar a agir sobre
o objeto, agora com capacidade de assimilação melhorada” (Becker, 2014, p.
110-11) (equilibração majorante apud CORRÊA C; 2017).

Como resultado, temos um indivíduo que é mais capaz. “Novas construções


surgem das ações do sujeito em resposta à resistência do objeto” (Becker, 2014, p.
111 apud CORRÊA C; 2017). Desse modo, o desequilíbrio pode ser majorante ou
não. Por desequilíbrio majorante Piaget define o desequilíbrio que leva o sujeito a um
processo de acomodação da estrutura cognitiva. Os esquemas de assimilação são
modificados para assimilar o novo objeto, mas se o objeto se desvia muito das
possibilidades de assimilação dos esquemas atuais, há um desequilíbrio que não é
maior. Nesse caso, o sujeito nega ou ignora o objeto e, assim, mantém a situação
atual, além disso, o próprio processo de assimilação também permite que o
mecanismo regulador intervenha e libere a consciência.
Como caracteriza CORRÊA C; (2017), para intensificar ainda mais o conceito
de ação que transcende ao desenvolvimento de crianças e adolescentes a partir de
uma perspectiva piagetiana, propomos falar de experiência: existem dois tipos de
experiência: física e lógico-matemática. A experiência física consiste em atuar sobre
os objetos, privando-os das propriedades que lhes são inerentes ou mesmo existentes

18
neles antes de o sujeito atuar sobre eles. A experiência lógico-matemática, por outro
lado, consiste na ação sobre os objetos, o que elimina características específicas
dessas coordenações não deles, mas da ação e coordenação do sujeito.
Por conseguinte, de acordo com Becker (2013 apud CORRÊA C; 2017), A
experiência na perspectiva piagetiana não é uma submissão passiva aos objetos, mas
uma ação sobre eles que os modifica ou transforma, uma ação que se compõe das
duas ações complementares mencionadas acima: assimilação e acomodação. Em
relação a experiência física e a experiência lógico-matemática as mesmas colocam
em jogo o processo de abstração, que consiste em tirar algo de algo que interessa ao
sujeito. Assim, o fator afetivo - o interesse - está no centro do processo de abstração.
(Becker, 2013 apud CORRÊA C; 2017). Encontramos dois grandes tipos de abstração
em Piaget: a empírica e a reflexiva ou reflexionante.
Como aponta CORRÊA C; (2017), enquanto a abstração empírica lida com a
experiência física: abstração por meio da qual o sujeito extrai propriedades ou as
qualidades de objetos ou ações em suas características materiais, do observável, a
abstração reflexiva é a abstração de que trata a experiência lógico-matemática, ou
seja, é a abstração por meio da qual o sujeito extrai qualidades inobserváveis da
coordenação de suas próprias ações, extrai dela certas qualidades e as usa para
outros fins, a fim de reconstruir essas qualidades em um novo nível e gerar novas
formas. A abstração reflexiva torna-se abstração pseudoempírica e abstração
refletida.
A abstração pseudoempírica é uma abstração que em sua totalidade é uma
abstração empírica, mas o que assim remove o sujeito do objeto não está no objeto,
mas na coordenação das ações do sujeito. Exemplo: Este lápis é menor que este, o
“menor que” não está no lápis, mas no assunto que o caracteriza. Portanto, é uma
propriedade ou qualidade da ação do sujeito sobre o lápis, não do lápis. O novo
conhecimento é obtido por meio da abstração, não das propriedades do objeto, mas
da organização trazida pelo sujeito. (Becker, 2013 apud CORRÊA C; 2017). A
abstração refletida, por outro lado, ocorre quando a reflexão se torna o trabalho do
pensamento, em níveis superiores, a reflexão que cria coisas novas só pode
permanecer no nível da ação e sem consciência por muito tempo.

19
Desta forma, as abstrações refletidas podem ser conceituadas como o
resultado de uma abstração reflexiva quando se torna consciente. Esse tipo de
abstração permite ao sujeito estabelecer relações implícitas entre os fatos sem
transmitir o real. Com base na concepção teórica de ações coordenadoras, Piaget
(1964/2014 apud CORRÊA C; 2017) inseri os estágios de desenvolvimento de
crianças e adolescentes, que não descrevemos, levando em consideração o fato de
que as duas funções superordenadas que são a inteligência e afetividade são
indissociáveis em todos os comportamentos e tendem a se mover na direção de um
equilíbrio móvel.

Com a abordagem piagetiana do desenvolvimento cognitivo e afetivo calcado


na ação, fica explicitado que, embora Piaget não tenha sido efetivamente um
pedagogo, seu pensar epistêmico e sua psicologia genética muito contribuiu
para a elaboração de uma pedagogia ativa. O objetivo dessa pedagogia,
segundo Piaget, é levar a criança a atingir o seu pleno desenvolvimento
cognitivo. Para Piaget (1970 apud CORRÊA C; 2017), os conhecimentos
derivam da ação no sentido já abordado. E assim o sendo, “conhecer um
objeto é agir sobre ele e transformá-lo” (p. 30). A natureza da construção do
conhecimento na Epistemologia piagetiana é ativa. Isso porque a criança, os
adolescentes/alunos são sujeitos ativos de seu desenvolvimento cognitivo.
Ele conhece, compreende, inventa, cria, constrói e reconstrói. A natureza
ativa da construção do conhecimento implica a existência de métodos ativos
na aprendizagem escolar. Tais métodos são descritos como aqueles que
conferem especial destaque à pesquisa espontânea do aluno, requerendo
que toda verdade a ser adquirida seja reinventada por ele e não apenas
transmitida.

Para que a criança e o adolescente possam aprender, deve haver uma


interação entre sujeito e objeto, pois o conhecimento é adquirido por meio de uma
construção contínua, ou seja, não é pronto nem acabado no exterior e nem no sujeito
de conhecimento. Em vez disso, o conhecimento ocorre no relacionamento entre eles.
Na tese central do construtivismo: " nem no saber de sua origem nem no sujeito nem
no objeto, mas surge das interações entre sujeito e objeto por meio da ação do
sujeito"(Collares, 2003, p. 49 apud CORRÊA C; 2017). Portanto, a presença
convincente da ação reside na relação entre o sujeito do conhecimento e o objeto a
ser conhecido.
Desta forma, o aluno aprende porque atua como sujeito ativo nos conteúdos
escolares e acolhe as sugestões, assimilando o que o professor (a) propõe. Para
Becker (2013 apud CORRÊA C; 2017), do ponto de vista piagetiano, o aluno tem que
amadurecer, mas não basta amadurecer, ele tem que ser estimulado - o estímulo tem

20
que estar presente na escola. Mas é a ação do aluno que realmente faz desse material
estimulante um estímulo, uma ação que não pode ser deixada ao acaso: deve ser
orientada pelo professor.
O professor, como colaborador, precisa saber como usar a atividade da criança
para estimular seu aprendizado. É mais do que um conhecimento profundo do
conteúdo a ser veiculado ao que se é ensinado: é saber relacioná-lo às possibilidades
da criança. (Vergnaud, 2009 apud CORRÊA C; 2017).
Porém, o ato do educador de criar situações para o aluno conhecer é um ato
baseado na ciência e no respeito ao seu desenvolvimento cognitivo, uma vez que o
que é veiculado nas aulas é bem recebido pela criança quando na verdade é uma
extensão de alguma de suas construções espontâneas (Piaget, 1970 apud CORRÊA
C; 2017).
Nesse contexto, é muito importante destacar que para Piaget, o
desenvolvimento espontâneo não significa amadurecimento nem negar a influência e
a necessária ação sistemática do ambiente escolar. Pelo contrário, significa que ao
estudar o desenvolvimento de conceitos científicos é necessário "considerar o
processo de construção de operações pelo sujeito do conhecimento, consistindo em
ações internalizadas que se tornam reversíveis e estão contidas em sistemas de
conhecimento. Leis claramente definidas " (Dongo Montoya, 1995, p. 36 apud
CORRÊA C; 2017). Nesse sentido, a escola deve partir dos esquemas de assimilação
das crianças e adolescentes e propor atividades desafiadoras que gradativamente
causem desequilíbrios e reequilíbrios (maior equilíbrio) e conduzam o aluno a novas
descobertas e ao desenvolvimento de conhecimentos.

Na aprendizagem, pois, ao assimilar, o sujeito depara-se com novidades que


perturbam seu equilíbrio. Por meio da autorregulação, recupera o equilíbrio
perdido, mas construindo algo novo, para que o equilíbrio se restabeleça
(Becker, 2013 apud CORRÊA C; 2017).

Segundo Becker (2013 apud CORRÊA C; 2017), a abstração reflexiva e suas


consequências, a abstração pseudoempírica e a abstração refletida, introduzem a
ideia de que o sujeito nada adquire senão por meio de sua atividade no mundo (ação
assimiladora), que se desdobra em atividade sobre si mesmo (ação da acomodação).
Essas ações complementares formam as habilidades cognitivas, e é o ponto de
partida para toda aprendizagem.
21
Portanto, o sujeito não recebe nada em termos de suas habilidades cognitivas,
tudo é construído, construções que são feitas de acordo com as possibilidades de
assimilação e os interesses do indivíduo (fator afetivo), portanto a aprendizagem para
Piaget é um epifenômeno do desenvolvimento. “ Podemos dizer então que em tudo,
a aprendizagem depende do desenvolvimento; suas possibilidades são abertas ou
limitadas pelo desenvolvimento cognitivo” (Becker, 2013, p. 83 apud CORRÊA C;
2017) e afetivo.
Por fim, é importante apontar algo sobre o referido interesse que, junto com a
necessidade, configura essencialmente o desenvolvimento afetivo na perspectiva
piagetiana. Alinhado com a escolanovismo, para Piaget (1964/2014 apud CORRÊA
C; 2017), a aprendizagem não ocorre sem o próprio interesse do indivíduo em quem
o regulador de energia está interessado. A intervenção de interesse mobiliza reservas
internas de força de tal forma que ocorre uma sensação de fadiga e cansaço quando
o conhecimento proposto é do interesse do aluno. Para ele, os alunos são melhores
quando o ensino corresponde aos seus interesses e os conhecimentos oferecidos
correspondem às suas necessidades.

4 DESENVOLVIMENTO DA MORALIDADE SEGUNDO JEAN PIAGET

Conforme MEHANNA A; (2002), na teoria conhecida como Psicologia Genética


do psicólogo suíço Jean Piaget, a inteligência não é inata, entretanto a gênese da
razão, da afetividade e da moral é feita progressivamente através de estágios
sucessivos, onde a criança organiza o pensamento e o julgamento. O saber é
construído e não imposto de fora. Nessa perspectiva, o desenvolvimento moral é
concomitante ao desenvolvimento lógico, com aspectos paralelos de um mesmo
processo geral de adaptação.
Segundo MEHANNA A; (2002), Piaget escreveu o texto “Os procedimentos de
Educação Moral” em 1930, em que apresenta os resultados de suas pesquisas acerca
da construção da moralidade. Nesse texto, o autor defende a necessidade de se
educar moralmente e discorre sobre a importância do papel das relações sociais
(interação) nessa educação. Piaget diz que tanto as relações de coação como as de
cooperação são importantes.

22
No dizer de MEHANNA A; (2002), num primeiro momento, a coação se faz
necessária para que a criança conheça as regras e tenha noções sobre o bem e o
mal, o certo e o errado. Estudando a construção da moralidade infantil, descobriu que
o desenvolvimento das crianças mostra duas tendências basicamente opostas de
moral: “ a moral do dever ”, ou heteronomia, onde uma criança segue as regras fixadas
pelas autoridades que a rodeiam (pais, irmãos mais velhos, etc.) e as obedece por
temor à perda de afeto ou ao castigo; é uma moral fruto de um tipo de relação social
em que predomina o respeito unilateral e que Piaget chamou de coação; e a “moral
do bem”, ou autonomia, resultado da formação na qual a criança pode se ver cada
vez mais livre de autoridades e capaz de construir normas entre iguais. É necessário
e inevitável que a criança passe pela fase da heteronomia, de obediência à autoridade,
para que, depois, o espírito de cooperação possa ser construído, através do respeito
mútuo e da reciprocidade. O objetivo da educação moral, portanto, é a de auxiliar a
criança em construir sua autonomia.
Conforme MEHANNA A; (2002), a educação moral, para Piaget, não constitui
uma matéria especial de ensino, mas um aspecto particular da totalidade do sistema,
dessa maneira, as crianças e os jovens não devem ter “aulas” de educação moral,
mas vivenciar a moralidade em todos os aspectos e ambientes presentes na escola.
Nesse sentido, os trabalhos em grupo são uma atividade facilitadora para a
construção da autonomia, pois as crianças, ao trabalharem juntas, podem trocar
pontos de vista, discutir, ganhar em algumas ideias e perder em outras, enfim, podem
exercer a democracia. Do ponto de vista de Piaget, educar moralmente, é
proporcionar à criança situações onde ela possa vivenciar a cooperação, a
reciprocidade e o respeito mútuo e assim, construir a sua moralidade.
Piaget (1994 apud PRANDI D; 2013) divide os estágios da prática de regras em
quatro: motor, egocêntrico, cooperação nascente e consciência das regras:

 Estágios quanto à prática das regras:


Como aponta LEONARDI E; (2008) para o 1º Estágio - Estágio das regras
motoras: este estágio é denominado por Piaget, como puramente motor e individual,
referindo-se as primeiras regras motoras da criança (0 a 2 anos). Essas regras estão

23
relacionadas ao contato da criança com os objetos em função de seus próprios
desejos e hábitos motores. Assim, a criança primeiramente busca conhecer os objetos
e acomodar seus esquemas motores a essa realidade nova para ela. Piaget
caracteriza esse estágio pela ausência de sequência e de direção na sucessão de
comportamentos (há regras permanentes), embora exista uma ritualização de
comportamentos. O autor também destaca o aparecimento de simbolismos, assim, os
comportamentos são muito mais “jogados” do que pensados, mas implicam uma
participação da imaginação.
De acordo com LEONARDI E; (2008), 2º Estágio - Egocentrismo: esse estágio
inicia quando a criança recebe do exterior o exemplo das regras codificadas, em média
entre os dois e cinco anos. Mesmo imitando as regras do outro, a criança as pratica
como deseja. Quando jogam juntas, cada criança joga para si (todas podem ganhar)
e sem se preocupar com a “codificação” das regras. Esse duplo caráter de imitação e
utilização individual dos exemplos recebidos, Piaget denominou de egocentrismo.
Este surge como um comportamento intermediário entre os comportamentos
socializados e os puramente individuais. A socialização da criança inicia desde que
existam trocas verbais através da linguagem, da imitação. O pensamento adulto
predomina sob o pensamento da criança.

(...) a própria natureza da relação entre a criança e o adulto coloca a criança


numa situação a parte de tal forma que seu pensamento permanece isolado,
e, mesmo acreditando partilhar do ponto de vista de todos, ela fica, de fato,
fechada em seu próprio ponto de vista. (PIAGET, 1977, p. 32 apud
LEONARDI E; 2008).

Portanto, nesse estágio, por seguir um conjunto de regras e exemplos vindos


do exterior, a criança ainda não consegue igualar-se aos mais velhos, utilizando para
si própria, mesmo sem se dar conta de seu isolamento, o que aprendeu da realidade
social ambiente. Piaget observou que não há contato real entre as crianças que jogam,
pois elas não se importam com os pormenores das regras. Sintetizando essa ideia,
Piaget (1977, p. 29 apud LEONARDI E; 2008) afirma que “cada um por si e todos em
comunhão com o mais velho, poderia ser a fórmula do jogo egocêntrico”.

24
No dizer de LEONARDI E; (2008) 3º Estágio - Cooperação nascente: nesse
estágio, por volta dos seis, sete anos surge a necessidade do desenvolvimento mútuo
do jogo. Assim, a criança começa a observar as regras comuns do jogo, ao tentar
vencer, fica atenta às ações dos outros jogadores. O jogo então, deixa de ser muscular
e egocêntrico para tornar- se social. Há um interesse crescente em conhecer as regras
do jogo e seus detalhes. Entretanto, mesmo conhecendo as regras comuns a todos
os jogadores, se forem questionadas, separadamente, as crianças darão respostas
diferenciadas sobre as explicações do jogo. Isto, segundo Piaget explica-se pelo fato
de que, nesse estágio, a criança joga como raciocina. Essas novas maneiras de
pensar conduzem às deduções, que derivam das experiências da criança, entretanto,
ainda são incapazes de levar a criança a raciocinar formalmente.
Para LEONARDI E; (2008) 4º Estágio- Codificação das regras: nesse
estágio, o código das regras a seguir é conhecido por todos os jogadores. As crianças
empenham-se em cooperar ou combinar, mostrando prazer em codificar e prever
todos os possíveis casos do jogo. Também, aplicam adequadamente, as regras do
jogo dominando-o em todo o seu rigor. Nesse estágio o interesse dominante é pela
regra, tal como ela é, o que se evidencia nas ações das crianças/adolescentes quando
se interessam em discutir, decidir, prever e fixar as regras que serão aplicadas no
jogo.
Para Piaget (1977, p. 41 apud LEONARDI E; 2008) a consciência das regras:
nesse estágio é possível que a criança/adolescente “tome consciência das regras do
raciocínio a ponto de aplicá-las não importa em que caso, também naqueles
puramente hipotéticos (simples assunções) ”. Assim, pode aplicar conscientemente
as regras do jogo, chegando a raciocinar formalmente. Para o autor, a aquisição e a
prática das regras de jogo obedecem a leis simples e naturais, cujas etapas podem
ser definidas da seguinte maneira: 1) simples práticas regulares individuais; 2)
imitação dos maiores com egocentrismo; 3) cooperação; 4) interesse pela regra em si
mesma (PIAGET, 1977 apud LEONARDI E; 2008).
Piaget (1932 apud LEONARDI E; 2008) salienta que a prática das regras está
intimamente ligada à consciência que as crianças possuem sobre elas. Para conhecer
a que consciência da regra corresponde os esquemas individuais (rituais), o autor
lembra que, desde o nascimento da criança, tudo exerce pressão sobre ela para lhe

25
impor a noção de regularidade. Os conhecimentos físicos (sucessão de dias e noites)
favorecem o aparecimento de esquemas motores de previsão. Unidas às
regularidades exteriores, os pais impõem a criança certas obrigações morais que
originam outras regularidades: refeição, sono, asseio, etc.

Portanto, a criança está mergulhada desde os primeiros meses numa


atmosfera de regras, e torna-se, desde então, extremamente difícil discernir
o que vem dela própria nos rituais que respeita, e o que resulta da pressão
das coisas ou da imposição do círculo social. No conteúdo de cada ritual,
certamente, é possível saber o que foi inventado pela criança, descoberto na
natureza ou imposto pelo adulto (PIAGET, 1977, p. 45 apud LEONARDI E;
2008).

De acordo com LEONARDI E; (2008) Piaget faz essa distinção, quando suas
observações mostram que as regras motoras impostas para si pela própria criança,
sem que exista intervenção nenhuma, não originam um sentimento de obrigação
propriamente dita. Observou também que, quando as regras são inventadas, imitadas
ou recebidas do exterior e sancionadas pelo ambiente, elas estão acompanhadas de
um sentimento de obrigação, ou seja, constitui a regra como ela é.
Bovet (sem data apud PIAGET, 1977, p. 46 apud LEONARDI E; 2008) em sua
tese sobre a gênese da obrigação consciente afirma que “o sentimento de obrigação
surge quando a criança aceita as imposições de pessoas pelas quais demonstra
respeito”.
Piaget (1977 apud LEONARDI E; 2008) amplia essa tese, distinguindo, ao lado
do respeito unilateral, aquele do maior pelo menor, um respeito mútuo de igualdade
entre eles. Afirma que a regra coletiva surgirá como resultado desses dois tipos de
respeito. Assim, Piaget descreve três estágios que expressam a progressão da
consciência das regras:

 Estágios quanto à consciência das regras:

No primeiro estágio da consciência das regras, Piaget (1994 apud ZANE V;


2004) salienta que a regra, nesta fase, para a criança tem atribuição a criação divina
e são encaradas como exemplos, interessantes, e não como realidade. As crianças
não as praticam por não possuírem respeito intelectual por elas.

26
No segundo estágio da consciência da regra, marcado pelo egocentrismo e
primeira metade do estágio da cooperação, a regra é sagrada e sua origem adulta é
de essência eterna. Considerada obrigatória, sujeita à intervenção do ambiente que a
sanciona e a estabelece. Toda modificação, nesta fase, será considerada uma
transgressão (PIAGET, 1994 apud ZANE V; 2004).
O terceiro estágio da consciência da regra compreende o quarto estágio da
prática das regras. Segundo Piaget (1994 apud ZANE V; 2004) a origem da regra é
devido à convenção social. Ela é considerada lei e deve ser mantida e respeitada por
consentimento mútuo. Qualquer mudança só poderá ocorrer por consenso geral.
Nesta fase a criança tem consciência do seu caráter arbitrário.

A correlação que Piaget (1994 apud ZANE V; 2004) faz entre a prática e a
consciência da regra é apenas estatística, isto é, quantitativa, no entanto,
afirma haver uma relação qualitativa, porque, inicialmente, a regra é sagrada,
coletiva e exterior ao indivíduo e, posteriormente, vai se interiorizando como
resultado do consentimento mútuo e da consciência autônoma.

Conforme Diaz-Aguado e Medrano (1999 apud ZANE V; 2004) para Piaget a


moralidade está relacionada com o tipo de relação social que o indivíduo mantém, e
existem, portanto, tantos tipos de moral como de relações sociais. Esta hipótese
distingue duas formas diferentes de moralidade, a moral heterônoma, baseada na
obediência, na coerção e punição e a moral autônoma, baseada na igualdade, no
respeito mútuo e na cooperação (PIAGET, 1994 apud ZANE V; 2004).
Piaget (1994 apud ZANE V; 2004) define estas fases como um processo que
se repete a propósito de cada novo conjunto de regras ou de cada novo plano de
consciência ou de reflexão, porque para ele o desenvolvimento do juízo moral, na
criança, passa por uma moral heterônoma, baseada em relações unilaterais, mas que
não se limita a ela. Para Piaget é necessário construir uma moral autônoma, fundada
em relações de reciprocidade e respeito mútuo. Portanto, o sujeito autônomo é aquele
que leva em consideração o outro e tem consciência da sua importância no
estabelecimento e no significado das regras, e não, simplesmente, aquele que faz o
que acha certo ou o que está de acordo com suas próprias ideias.

27
5 A PERSPECTIVA SOBRE A ADOLESCÊNCIA

Na perspectiva sócia histórica, a adolescência é considerada, segundo Bock


(2007 apud ALVES A; et al., 2017), uma construção social com repercussões
na subjetividade e no desenvolvimento do homem e da mulher modernos,
sendo uma etapa da vida significada, interpretada e construída pelos
indivíduos em sociedade. Não é um fenômeno ‘natural’, mas sim social, “[...]
construídas as significações sociais, os jovens têm então a referência para a
construção de sua identidade e os elementos para a conversão do social em
individual. ” (BOCK, 2007, p. 68 apud ALVES A; et al., 2017).

Para Piaget, segundo Wadsworth (1997 apud PALUDO K; et al., 2011), a


característica fundamental da adolescência é a sua integração na sociedade dos
adultos, e esta integração varia de sociedade para sociedade, e até mesmo em
diferentes ambientes sociais. Portanto, não é possível considerar o pensamento do
adolescente sem considerar o ambiente que este está inserido (ELKIND, 1962;
KOHLBERG, MAYER, 1972; SCHWEBEL, 1975; KUHN et al, 1977 apud PALUDO
K;2011).
Para Piaget o que ajuda nesse processo de formação do adolescente seria a
grande importância da funcionalidade do pensamento formal, para que o adolescente
se integre ao mundo adulto, e é através desse pensamento que irá influenciar na
formação da personalidade. Piaget alega que os aspectos intelectual e afetivo devem
ser valorizados como processos fundamentais e interdependentes. Segundo Piaget
(1993 apud PALUDO K; et al., 2011), desenvolve-se a personalidade a partir do
momento que se forma um “programa de vida”, que funciona, ao mesmo tempo, como
fonte de disciplina para a vontade e como instrumento de cooperação. Mas este plano
de vida supõe a intervenção do pensamento e da livre reflexão, e é por isso que só se
elabora quando certas condições intelectuais e afetivas são estabelecidas.

Para Inhelder e Piaget (1976 apud PALUDO K; et al., 2011), a afetividade do


adolescente é entendida como o fator de energia das condutas, e propiciará
o desempenho de papéis sociais a partir das regras e valores construídos de
forma autônoma, o que caracterizado o que se denomina personalidade.

De acordo com apud SILVA T; (2009), quando é conceituado sobre a


adolescência é importante enfatizarmos a adolescência, enquanto construção
histórica e biopsicossocial, porque são fatores que irão fazer parte do
desenvolvimento humano. É um momento importante na formação do indivíduo que,

28
por suas características nas diferentes dimensões do desenvolvimento humano,
envolvendo as questões como : (psicológicas, cognitivas, orgânicas, políticas,
emocionais, espirituais, sociais) é capaz de elevar o sujeito de uma situação de
heteronomia para uma autonomia relativa até atingir a autonomia propriamente dita,
possibilitando assim o exercício de sua cidadania de forma ativa nos diferentes
sistemas ecológicos em que convive (a escola, a família e a comunidade).
Para o protagonismo, portanto, a autonomia não é o ponto de partida, mas o
ponto de chegada. A autonomia, como finalidade da educação, conforme expressava
Piaget (1977/1932 apud SILVA T; 2009), depende da experiência socializada da
pessoa e, portanto, de sua racionalidade enquanto sujeito (PARRAT-DAYAN;
TRYPHON, 1998 apud SILVA T; 2009).
Portanto, pode- se dizer que o ponto de partida para a construção do conceito
de adolescência é a sua abordagem como uma fase específica do desenvolvimento
humano, caracterizado por mudanças e transformações múltiplas e fundamentais para
que o ser humano possa atingir a maturidade e se inserir na sociedade no papel
adulto. Um primeiro aspecto a ser considerado, nesse debate conceitual sobre
adolescência no Brasil, é a de que não se pode abordá-la como uma realidade
homogênea em todas as regiões e camadas sociais do país marcadas por grandes
diversidades e desigualdades, em seus aspectos naturais, sociais e culturais.
(UNICEF, 2002, p. 09 apud SILVA T; 2009).

6 CONCEITO DE INTELIGÊNCIA

A palavra inteligência vem do latim intellegere, que, por sua vez, é oriunda do
grego legein, verbo composto de inter (=entre) + legere, que significa: "escolher" ou
"ler". E, além disso, as palavras mencionadas têm origem na palavra grega "logos"
que origina diversos vocábulos como: 'palavra', 'lógica', 'pensamento', 'razão', 'ler', e
todos estes conceitos estão ligados ao conceito de inteligência, direta ou
indiretamente (ZIMERMAN, 2012 apud MARÇON S; 2014).
Conforme MARÇON S; (2014), o conceito de inteligência tem sido debatido
desde a época dos filósofos pré-socráticos que buscaram várias explicações para
defini-lo. Heráclito acreditava que o homem consiste no corpo e em uma alma

29
universal que permeia o homem através da respiração e o torna racional. Pitágoras
também acreditava na dicotomia corpo e alma, uma vez que o intelecto estava
associado à alma imortal em um corpo mortal.
Platão acreditava que existem três tipos de inteligência ou estados mentais
associados a diferentes classes sociais. O primeiro é a alma apaixonada que precisa
de reflexão e memória e está ligada à classe média. O segundo é capaz lidar com
fenômenos físicos e era uma característica dos militares; e a terceira, definida como
alma ou pensamento racional, era uma característica inerente de reis e filósofos e
incluía a capacidade de abstração. (SILVA, 2003 apud MARÇON S; 2014).
De acordo com MARÇON S; (2014), o conceito de inteligência é complexo e
abrangente. Na perspectiva de Augusto Cury, o autor aborda o conceito global de
inteligência em “O Código da Inteligência” e o divide em três níveis. Dentro desses
estágios, os dois primeiros são classificados como estágios inconscientes. E o último,
a consciência. O primeiro nível refere-se aos processos inconscientes que recuperam
e organizam as informações na memória e, consequentemente, constroem
pensamentos e emoções.
Para MARÇON S; (2014), o segundo estágio são os fatores que influenciam a
leitura da memória e formam pensamentos, imagens mentais, ideias e fantasias. Um
fato relevante na segunda fase é a indagação que o autor faz sobre a falta de domínio
do processo de construção de pensamentos, ideias e imagens mentais.
Cury afirma que o homem comanda o funcionamento de máquinas complexas,
mas, seu próprio cérebro é a máquina menos dominável e de mais difícil assimilação
e compreensão a fins de controle, principalmente, quando tratamos de processos do
inconsciente (CURY, 2008 apud MARÇON S; 2014). A terceira área da inteligência é
o produto das duas primeiras áreas e neste nível encontramos os comportamentos
conscientes que podem ser analisados e mensurados.

Nessa área se evidencia a rapidez de raciocínio, o grau de memorização, a


capacidade de assimilação de informações, o nível de maturidade nos focos
de tensão, bem como os patamares de tolerância, inclusão, solidariedade,
generosidade, altruísmo, segurança, timidez e empreendedorismo. (CURY,
2008, p. 22 apud MARÇON S; 2014).

30
Como aponta MARÇON S; (2014), a partir de 1884, Francis Galton projetou os
primeiros testes para medir a inteligência, seguido por Alfred Binet no século XX em
1905. Um ano depois, Lewis Madison Terman da Universidade de Stanford publicou
uma versão aprimorada dos testes de Binet, que foi considerada a melhor bateria de
testes de inteligência da época. Em 1916, por sugestão de William Stern, o conceito
de "Quociente de Inteligência" (QI) foi introduzido. A psicometria era muito difundida
na época, considerada a era dos testes de inteligência e abrangeu os anos entre 1910
e 1930.
Pelo fato de a inteligência ser um conceito amplo e complexo, parece não haver
uma definição universalmente aceita. Discutindo os conceitos acerca da inteligência,
cabe destacar os estudos de Guilherme R. A. Focchi e Cláudia Inês Sheuer no artigo
“O conceito de inteligência e sua importância para a psiquiatria” (2006), onde foram
pontuados diversos autores e consequente definição adotada sobre o assunto. Para
Stern (1914 apud MARÇON S; 2014), a inteligência é definida como a capacidade do
indivíduo para adaptar-se às situações novas.
Para Binet e Simon (1916 apud MARÇON S; 2014), a inteligência é conceituada
como vários processos de pensamentos que compõem a adaptação mental. Wells
(1917 apud MARÇON S; 2014) conceitua a inteligência como a capacidade de
combinar as normas de conduta visando a obter uma melhor atuação em situações
novas. Já Thorndike (1921 apud MARÇON S; 2014) define a inteligência como a
faculdade de produzir reações satisfatórias do ponto de vista de verdade e realidade.
Goddard (1945 apud MARÇON S; 2014) define a inteligência como o grau de eficácia
adquirido pela experiência para solucionar problemas atuais e prevenir os futuros.
Para Awechsler (1958 apud MARÇON S; 2014), a inteligência é a capacidade
agregada ou global que o indivíduo possui para pensar racionalmente, agir
intencionalmente, e interagir de maneira eficaz com o meio. Sordi (2005 apud
MARÇON S; 2014) relata que a inteligência pode ser definida como a capacidade de
adaptação do indivíduo ao meio, que se constitui das seguintes dimensões, física,
social, simbólico e histórico-cultural.

31
A definição de inteligência continuou sendo foco de pesquisa e discussão,
surgindo, ao longo do tempo, novas teorias e conceitos cada vez mais amplos. Ricardo
Primi (2006 apud MARÇON S; 2014), em seu artigo "Inteligência: Avanços nos
Modelos Teóricos e nos Instrumentos de Medida" enfatiza a condição de que a
inteligência é a habilidade que o indivíduo possui de se adaptar ao meio.
Para MARÇON S; (2014) outros autores também veem o conceito de
inteligência como integrado e o analisam de forma interdependente. Em "As
inteligências múltiplas e seus estímulos", Celso Antunes afirma que a inteligência não
aparece como um fenômeno neurológico isolado e não pode ser avaliada como um
fenômeno independente. Para o autor, o meio que se diz respeito ao ambiente
desempenha um papel fundamental na construção do intelecto, visto que o meio no
qual o indivíduo está inserido é o repertório para o desenvolvimento de sua
inteligência.

(...) Todas as nossas inteligências nada mais são do que segmentos


componentes de uma ecologia cognitiva que nos engloba. O indivíduo,
portanto, não seria inteligente sem sua língua, sua herança cultural, sua
ideologia, sua crença, sua escrita, seus métodos intelectuais e outros meios
do ambiente. (ANTUNES, 2008, p. 12 apud MARÇON S; 2014).

Deve-se, portanto, enfatizar que o conceito de inteligência pode variar de


acordo com parâmetros socioculturais. Existem culturas que valorizam mais os
aspectos lógicos da inteligência e outras que atribuem maior importância aos aspectos
emocionais. No artigo "A Função Adverbial da" Inteligência ": Definições e Usos em
Psicologia" Jorge M. Oliveira Castro e Karina M. Oliveira Castro discutem intervenções
culturais no conceito de inteligência. (...) sua definição também parece ser influenciada
por diferenças culturais, visto que as ideias ocidentais sobre o fenômeno nem sempre
são compartilhadas por outras culturas. Enquanto a cultura norte-americana enfatiza
principalmente os aspectos cognitivos da inteligência, algumas subculturas africanas,
por exemplo, colocam mais ênfase nas habilidades sociais. (OLIVEIRA-CASTRO,
2001 apud MARÇON S; 2014).
De acordo com MARÇON S; (2014), dadas as variadas definições de
inteligência e as diferentes perspectivas sobre o assunto, é importante destacar que
a inteligência é hoje um campo de estudo da psicologia que abre perspectivas para

32
novos estudos e pesquisas. A Inteligência Universal mostra que o assunto irá evoluir
e melhorar constantemente. Com sua evolução e aprimoramento.

6.1 As inteligências múltiplas

Howard Gardner, em (1983 apud MELO F; 2003), apoiando-se nas novas


descobertas neurológicas procedidas em Harvard, defendeu a ideia de uma visão
pluralista da cognição, sugerindo que a mente está organizada em domínios
relativamente distintos de funcionamento. Desafiando o que se conhecia sobre
inteligências, apontou a existência de sete tipos de inteligências: linguística, lógico-
matemática, musical, espacial, corporal cinestésica, interpessoal, intrapessoal, que de
acordo com seus estudos, podem ser consideradas um grande avanço na forma de
verificar o nível intelectual de cada pessoa, mudando assim muitos tabus da
sociedade.
Para MELO F; (2003) segundo Gardner, as pessoas são frequentemente
avaliadas e rotuladas por avaliações que já não tem sentido algum, pois nem todos
precisam ser um “expert” em tudo o que fazem, mas nem por isso deixa de ter
condições e inteligência para se sobressair em alguma (s) área(s) diferente do que
até então estava estabelecido, isto é, aquela pessoa que tem dificuldade em
expressar-se verbalmente ou escrevendo alguma redação seja ela de qualquer tipo
ou sobre qualquer assunto, pode ser um excelente jogador de basquete por exemplo.
A teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner, salienta exatamente esta questão,
conseguir identificar no indivíduo aquilo que ele tem de melhor, pois todos podem ser
bons em alguma área determinada ou em várias áreas ao mesmo tempo, mas que
este não precise saber sobre tudo.

Segundo GARDNER (1995, p.20 apud MELO F; 2003), conforme o nome


indica, acreditamos que a competência cognitiva humana é melhor descrita
em termos de um conjunto de capacidades, talentos ou habilidades mentais
que chamamos de “inteligência””. Todos os indivíduos normais possuem cada
uma dessas capacidades em certa medida, os indivíduos diferem no grau de
capacidade e na natureza de sua combinação. Acreditamos que esta teoria
da inteligência é mais humana e mais verídica que as visões alternativas da
inteligência e reflete mais adequadamente os dados do comportamento
humano ‘inteligente’. Essa teoria tem importantes implicações educacionais,
inclusive para o desenvolvimento de currículos.

33
Como caracteriza MELO F; (2003), a teoria das Inteligência Múltiplas mostra
um modo pluralizado de entender o intelecto. Avanços recentes na ciência indicam
que a inteligência de cada pessoa é formada por faculdades autônomas as quais
podem trabalhar separadamente ou em conjunto com outras faculdades, e que estas
variam de indivíduo para indivíduo.
Como aponta MELO F; (2003), então, cada pessoa pode ter um grupo
diferenciado de inteligências, que não obrigatoriamente são formadas pelo mesmo
grupo, como por exemplo: lógico-matemática, cinestésico corporal e interpessoal
sempre estarão interligados ou da mesma forma que linguística, intrapessoal e
espacial estarão sempre juntas nas pessoas que as tiverem como inteligência. Não
existe uma regra pronta para a verificação destas inteligências, as pessoas de modo
geral, apresentam uma mistura de várias inteligências, isto é, dentro de uma gama
muito grande de opções individuais cada pessoa de acordo com as suas habilidades
tem um espectro de opções referentes a sua inteligência.
De acordo com MELO F; (2003), a princípio Howard Gardner identificou sete
faculdades, as quais ele chama de “inteligências”. Mas no decorrer de seus estudos e
pesquisas foi detectado uma nova inteligência que recebeu por batismo o nome de
Inteligência Naturalista. Vale também ressaltar, que nos estudos realizados nunca se
pensou em uma quantidade exata e imutável de inteligências, podendo estas, de
acordo com estudos que continuam sendo realizados aumentar ou quem sabe fundir-
se, isto é, esta lista pode ser reorganizada ou subdividida, com outras para melhor
determinar a capacidade intelectual do indivíduo. Mas o que deve ficar claro neste
caso é a pluralidade do intelecto.
Outros estudiosos e pesquisadores sobre o assunto, como Nilson José
Machado, professor da Universidade de São Paulo desde (1972 apud MELO F; 2003)
aceitam ainda a existência da inteligência pictórica ou pictográfica, que de certa forma
parece estar sendo estudada e avaliada por Gardner, como parte integrante da
inteligência cinestésico-corporal, englobando-se também, de forma intrínseca, em
todas as outras inteligências por ele estudadas.
Conforme MELO F; (2003) acredita-se que cada inteligência é extremamente
importante e que nem uma delas pode ser considerada mais ou menos importante do
que a outra pelo fato de ser mais comum ou mais usável, ou ainda pelo fato de trazer

34
mais poder econômico as pessoas que delas estão impregnadas. Por isso a ordem
que serão descritas ou elencadas no texto não tem nada a ver com importância ou
valor de cada uma delas, sendo que as oito primeiras elencadas abaixo são
inteligências estudadas e descobertas por Gardner, já a última delas é uma
consideração de inteligência estudada e defendida por Machado.

 Inteligência Corporal – Cinestésico

Nesta inteligência é desenvolvida a capacidade de controlar os movimentos do


próprio corpo, habilidades físicas específicas, como: equilíbrio, destreza, força,
flexibilidade e velocidade. (ARMSTRONG, 2001, p. 16 apud ARAUJO V; 2006).

Como a inteligência corporal é observada no mundo ocidental, e explicada


por Antunes (2000, p, 35 apud ARAUJO V; 2006) é infelizmente, muito
prejudicado na cultura ocidental pela preconceituosa visão de que coisas da
cabeça valem bem mais de que coisas do corpo, mas abstraindo dessa faceta
cultural, o uso hábil do corpo foi importantíssima para a humanidade durante
milhares de anos.

Esse autor relata que os gregos reverenciavam a beleza da forma humana e


desenvolviam atividades artísticas e atléticas fazendo integração da beleza entre
corpo e cabeça. A dança apresenta-se como uma das formas maduras de expressão
corporal. A dança é uma das atividades humanas mais antigas, ela serve para
diversão social, religiosa ou atividade recreativa, como meio de dar vazão a
sentimentos, como afirmação de valores estéticos. (GARDNER, 2002 apud ARAUJO
V; 2006).
Outra forma de expressão corporal é o teatro que tem servido como um método
de aprendizagem e recordação. Como exemplo, as peças da antiga Grécia que
serviam não só para diversão, mas para educar, e as peças do tempo medieval que
educavam ensinando a moral e a história da religião. O teatro de hoje, como a
televisão também é forças educacionais poderosas na nossa sociedade. (CAMPBELL;
DICKINSON, 2000, p. 80 apud ARAUJO V; 2006). Pessoas que se destacam nessa
habilidade são atletas, dançarinos, escultor, cirurgiões e cientistas.

35
 Inteligência Musical

Esta inteligência envolve a capacidade de perceber, discriminar, transformar e


expressar formas musicais. Incluem-se, portanto, neste tipo de inteligência,
sensibilidade ao ritmo, tom ou melodia, e timbre de uma peça musical. Pode-se ter um
entendimento geral da música (global, intuitivo), um entendimento formal ou detalhado
(analítico, técnico), ou ambos (ARMSTRONG, 2001, p.14 apud SABINO M; et al.,
2005). Sendo assim, essa inteligência encerra um potencial que fornece ao indivíduo
a capacidade de aprender sons, ritmos, de interpretá-los e até de reconstruir novos
contornos melódicos com arranjos musicais (BRENNAND e VASCONCELOS, 2005
apud SABINO M; et al., 2005).
Segundo Gardner, o canto dos pássaros proporciona um vínculo com outras
espécies. Evidências de várias culturas apoiam a noção de que a música é uma
faculdade universal. Os estudos sobre o desenvolvimento dos bebês sugerem que
existe uma capacidade computacional “pura” no início da infância. Finalmente, a
notação musical oferece um sistema simbólico acessível e lúdico. (1995, p. 23 apud
SABINO M; et al., 2005).
No caso da criação da música (composição), a inteligência musical
desenvolve-se numa interação ambiental (natural e social) que atinge as emoções,
tanto do indivíduo que compõe ou executa a música, quanto de qualquer ser vivo que
a escuta (BRENNAND e VASCONCELOS, 2005, p.31 apud SABINO M; et al., 2005).

 Inteligência Intrapessoal

A inteligência intrapessoal consiste no autoconhecimento e a capacidade de


agir adaptivamente com base neste conhecimento. Sendo assim, ela pressupõe
possuir uma imagem precisa de si mesmo (das próprias forças e limitações);
consciência dos estados de humor, intenções, motivações, temperamento e desejos;
e a capacidade de autodisciplina, auto entendimento e autoestima (ARMSTRONG,
2001, p.14-15 apud SABINO M; et al., 2005). Uma citação extraída da obra A Sketch
of the Past, escrita por Virginia Woolf em 1976, ilustra bem o que seria a inteligência
intrapessoal. A autora descreve emoções que, segundo Gardner, caracterizam:

36
O conhecimento dos aspectos internos de uma pessoa: o acesso ao
sentimento da própria vida, à gama das próprias emoções, à capacidade de
discriminar essas emoções e eventualmente rotulá-las e utilizá-las como uma
maneira de entender e orientar o próprio comportamento. A pessoa com boa
inteligência intrapessoal possui um modelo viável e efetivo de si mesma. Uma
vez que esta inteligência é a mais privada, ela requer a evidência a partir da
linguagem, da música ou de alguma forma mais expressiva de inteligência
para que o observador a perceba funcionando. (GARDNER, 1995, p. 28 apud
SABINO M; et al., 2005).

Quando alguém tem esta inteligência desenvolvida, percebe-se, em seus


comportamentos, o desejo de conhecer a si próprio, de refletir sobre seus erros e de
aprender com eles, mudando até seus comportamentos em benefício das pessoas
com as quais convive ou se relaciona. Desse modo, indivíduos autistas ou
esquizofrênicos são exemplos de pessoas que possuem a inteligência intrapessoal
prejudicada (BRENNAND e VASCONCELOS, 2005 apud SABINO M; et al., 2005).

 Inteligência Interpessoal

De acordo com ZUNA A; (2012), a inteligência interpessoal irá manifestar


através de habilidades para responder adequadamente aos diferentes estados de
humor, às motivações e aos desejos das outras pessoas. Nesta inteligência o sujeito
possui a capacidade de ter um bom relacionamento com outras pessoas, obtendo a
capacidade de compreender e perceber as motivações e inibições dos outros, ou seja,
inteligência manifestam habilidade para entender as intenções e desejos das outras
pessoas e a capacidade de reagir apropriadamente a partir dessa percepção.

 Inteligência Naturalista

A Inteligência Naturalística nada mais é do que a capacidade de reconhecer e


classificar espécies, tanto da fauna e da flora na natureza (BARBIERI et al., 2008 apud
ALMEIDA R; et al., 2017); é a habilidade conforme a vivência do ser humano com a
natureza, permitindo-o reconhecer as várias divisões desta, como por exemplos:
animais, plantas, minerais (MELO, 2003; TEIXEIRA et al., 2012 apud ALMEIDA R; et
al., 2017), ao mesmo tempo em que se reconhece como participante dessa natureza.

37
Esse tipo de inteligência é comumente visto em biólogos e indivíduos que trabalham
no campo, que necessitam desenvolvê-la para que possam executar suas atividades
(GAMA, 2014 apud ALMEIDA R; et al., 2017).

 Inteligência Linguística

A Inteligência Linguística é a sensibilidade que o indivíduo possui para a língua


falada e escrita, facilidade do indivíduo com relação às variações e nuances dos
significados de cada palavra (FERREIRA, 2015 apud ALMEIDA R; et al., 2017);
habilidade para aprender línguas e a capacidade de usar a língua para atingir certos
objetivos (BARBIERI et al., 2008; FLECK, 2008; RODRIGUES, 2014 apud ALMEIDA
R; et al., 2017), como convencer, agradar, estimular ou transmitir ideias (MATIAS,
2010); conseguindo pensar, usando palavras, empregando a linguagem para pensar
e avaliar significados complexos (MUNDIM, 2014 apud ALMEIDA R; et al., 2017).
Além disso, a manifestação dessa inteligência nem sempre se faz por meio da forma
escrita, sendo tipicamente encontrada em poetas e escritores, oradores, advogados e
locutores, que sensibilizam o ouvinte pela clareza com que usam as palavras
(GARDNER, 1995; BUGAY, 2006; PEREIRA; FRAGOSO, 2016 apud ALMEIDA R; et
al., 2017). Portanto, é considerada a inteligência mais abrangente e mais
democraticamente compartilhada entre os seres humanos (TEIXEIRA, 2015 apud
ALMEIDA R; et al., 2017).

 Inteligência Lógico – Matemática

De acordo com SILVA L; (2016) é através do raciocínio lógico-matemático o ser


humano será visto como o ser que pensa, planeja e compreende os modelos que o
são socialmente exposto, e é a partir da vivência de aventura é que ele pode provar
sua existência de manter esse modelo que lhe foi imposto ou transformá-lo. O
indivíduo com essa inteligência resolve um problema de forma rápida. A solução é
encontrada antes mesmo de ser verbalizada. Sua área cerebral é o Centro de Broca.

38
A criança com aptidão particular nesta inteligência mostra facilidade para contar e
fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio.

7 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

De acordo com SILVA E; (2016), pessoas emocionalmente inteligentes são


mais felizes em sua vida profissional e pessoal, tendem a tomar decisões mais
adequadas para cada situação, lidam bem com suas emoções, lidam com conflitos,
são mais confiantes, são capazes de trabalhar juntos para encorajar os outros, eles
são persistentes em um objetivo, portanto, tendem a ser mais produtivos. O
autoconhecimento é a principal característica da inteligência emocional. Quanto mais
desenvolvido o autoconhecimento, mais fácil será para o indivíduo utilizar esses
recursos nas relações sociais.
Goleman (2012 apud SILVA E; 2016) relata que o ser humano possui duas
mentes, uma que é racional, capaz de avaliar uma situação antes de tomar uma
decisão e da qual se tem consciência e outra que é a mente emocional sendo esta
impulsiva, a qual trabalha de forma associativa fazendo que com que meios simbólicos
de uma realidade ou que lembrem essa realidade se tornem reais para o sujeito.
No dizer de SILVA E; (2016) para o autor, quando é manifestado as emoções
negativas, o indivíduo apresenta uma gama de respostas fisiológicas, como rosto
pálido e maior concentração de sangue nos músculos no caso de medo, para facilitar
a evasão. Estas respostas fisiológicas das emoções são apontadas por ele como parte
do processo de evolução da espécie humana, que em épocas distantes tinha a
necessidade de dar respostas rápidas a ameaças constantes. A memória emocional
também induz a repetição de uma resposta a um problema já experimentado ou
melhor dizendo vivenciado.
Como caracteriza SILVA E; (2016), no cenário atual da humanidade, nem
sempre essas respostas serão proporcionais ou apropriadas, por isso a importância
de saber identificá-las para decidir racionalmente qual a melhor atitude a ser tomada.
Por outro lado, a mente emocional pode ser de extrema valia se bem utilizada. Ela
permite identificar rapidamente nos outros sentimentos e emoções, o que auxilia um

39
indivíduo a escolher suas ações mediante a constatação da situação apresentada, ou
diante de situações de perigo de vida, pode induzir a ações que evitem que o pior
aconteça.
SILVA E; (2016) alega que a maturidade emocional pode se desenvolver em
qualquer pessoa que a deseje e pode ser aprendida desde a idade adulta. Para atingir
esse objetivo, é necessário primeiro aprofundar o autoconhecimento para reconhecer
os desencadeadores das atitudes e, então, ser capaz de agir racionalmente.
Considerar e medir as consequências de tal ação e mudar esses esquemas mentais,
se necessário.
Segundo SILVA E; (2016), o autoconhecimento é a base para o
desenvolvimento da inteligência emocional e para alcançá-la é preciso ser
introspectivo, ou seja, olhar para dentro de si mesmo e observar suas emoções,
sentimentos, o que o motiva, o que também o leva a um objetivo que o desmotiva. E
o deixa triste. Olhar para dentro de si mesmo não é tarefa fácil, porque é assim que o
homem encara o mais belo e o mais escuro. E o difícil é enfrentar essa sombra que
vive em todos. A inteligência emocional pode ser aprendida, desenvolvida e
aperfeiçoada ao longo da vida com as experiências acumuladas, diferentemente do
QI que não muda muito após a adolescência.
Goleman (1995 apud ROSIAK S; 2013) diz que ao se tomar consciência do
quão importante são as emoções em nossas vidas, é possível obter grandes
benefícios para si e para o próximo e pode-se com isso desenvolver aptidões que nos
serão úteis em qualquer situação. Ele elenca as principais como sendo:
Autoconsciência Emocional: Um melhor reconhecimento das próprias emoções,
entendendo as causas desses sentimentos. Controle das Emoções: Desenvolver uma
maior tolerância à frustração controlando a raiva de modo a diminuir possíveis
comportamentos agressivos; aumentar o sentimento positivo sobre si mesmo; diminuir
a solidão com menos ansiedade social. - Canalizar Produtivamente as Emoções: Ser
mais comunicativo e menos impulsivo desenvolvendo o autocontrole. Empatia:
Conseguir Visualizar como importante a perspectiva do outro melhorando sua forma
de ouvir e desenvolvendo a sensibilidade aos sentimentos do próximo. Lidar com
Relacionamentos: Conseguir analisar melhor como ocorre cada relacionamento;

40
procurar ser mais aberto e amistoso em sua forma de se relacionar com mais atenção
e harmonia.
Goleman (1995 apud ROSIAK S; 2013) ressalta o caráter como sendo a palavra
que melhor define o conjunto de aptidões que a Inteligência Emocional representa.
“Se o desenvolvimento do caráter é uma das bases das sociedades democráticas,
pensem em algumas das maneiras como a inteligência emocional reforça essa base.
O princípio fundamental do caráter é a autodisciplina; a vida virtuosa, como têm
observado os filósofos desde Aristóteles, se baseia no autocontrole. Uma pedra de
toque afim do caráter é a capacidade de motivar-se e orientar-se, seja no fazer um
dever de casa, concluir um trabalho ou levantar-se pela manhã. Precisamos estar no
controle de nós mesmos, para agir direito com o outro. ” (GOLEMAN, 1995 p. 302
apud ROSIAK S; 2013).

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