217O Despertar Da Consciencia Mistica

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JO E L S.

G O LD SM ITH

O
DESPERTAR
DA
CONSCIÊNCIA
MÍSTICA

Pensamento
O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA MÍSTICA
Joel S. Goldsmith

O DESPERTAR DA
CONSCIÊNCIA MÍSTICA
Tradução de
Luiz C arlos Rocha

EDITORA PENSAMENTO
São Paulo
Título do original:
AWAKENING MYSTICAL CONSCIOUSNESS
Copyright © 1980 by Emma A. Goldsmith
Publicado nos E.E.U.U. por Harper & Row, Publishers

Edição O primeiro número à esquerda indica a edição, ou


reedição, dcsla obra. A primeira dezena à direita indica
Ano
o ano em que esta edição, ou reedição, foi publicada.
7-8-9-10-1I-12-I3-14
00-01-02-03-04-05-06

Direitos de tradução para a língua portuguesa


adquiridos com exclusividade pela
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que se reserva a propriedade literária desta tradução.

Impresso em nossas oficinas gráficas.


Se o Senhor não edificar a casa, em
vão trabalham os que a edificam.

Salmo 127

A Iluminação dissolve todos os laços materiais, liga os homens


às correntes douradas da compreensão espiritual; admite apenas a
liderança do Cristo; não possui rituais ou regras, mas o divino e im­
pessoal Amor universal; nem outra crença a não ser a Chama inte­
rior que está sempre acesa no santuário do Espírito. Essa união é
o estado livre de fraternidade espiritual. A única restrição é a disci­
plina da Alma; portanto, conhecemos a liberdade sem licenciosidade;
somos um universo unido sem limites físicos, um préstimo celeste a
Deus sem solenidade ou credo. O caminho iluminado sem temor
pela Graça.

O Caminho Infinito
índice

Prefácio, 9
I A NATUREZA DO PODER ESPIRITUAL
1. O A teísmo do Poder Material, 11; Ser um Discípulo de
Cristo, 12; Viver Fora do Princípio da Natureza Pessoal, 13;
Viver Pela Palavra, 15; Orando ao Espírito de Deus Para
que Transforme o Universo Material, 17; O Silêncio, 20
2. A Libertação do Poder Espiritual, 24; A Quantidade Desco­
nhecida, 25; A Descoberta da Natureza do Poder Espiritual,
26; Elevando-se Acima do Nível do Problema, 28; A Natureza
da Individualidade Espiritual, 29; A Evidência do Poder Espi­
ritual, 31; A Compreensão da Presença de Deus Como Oni­
presença, 32; A Finalidade Suprema da Revelação do Poder
Espiritual, 34; A Purificação de Nosso Estado de Consciên­
cia, 35
3. Poder Espiritual Revelado, 38; Um Mundo Perseguido Pelo
Medo, 39; A Natureza do Poder Espiritual, 40; A Insensatez
da Luta Pelo Poder Temporal, 41; A Prova de que o Poder
Espiritual é o Poder Absoluto, 43; O Abre-te Sésamo, 44; A
Conquista do Mundo, 46; Função de Cristo, 48

II O VERBO FEITO CARNE


4. Carne e Carne, 51; A Palavra Invisível Torna-se Tangível, 52;
A Carne que Enfraquece, 54; A Revelação da Palavra, 54;
Não se Orgulhe com a Aparência, 56; O Conhecimento das
Pessoas Pela Espiritualidade, 57; Usando um Novo Conceito
de Corpo, 58; Um Estado de Consciência, 59
5. Nossa Identidade Real, 61; A Invisibilidade da Identidade Es­
piritual, 62; Mantendo o Crescimento Espiritual da Consciên­
cia, 64; Unidade, um Relacionamento Eterno, 66; Oração, um
Estado de Receptividade, 68; Sem Tempo ou Espaço em
Deus, 70; A Criação Individual do Reino de Deus, 71; O
Cristo Incriado e Imortal, 72

7
6. A Palavra e as Palavras, 73; O Conhecimento da Verdade na
Meditação Contemplativa, 74; Crença Versus Experiência, 76;
O Conhecimento da Verdade Sobre o que Existe, 76; Tratan­
do Daquilo que Aparece Como Crença, 77; Esperando Pela
Palavra, 78; O Homem Material, um Recebedor; o Homem
Espiritual, um Doador, 79; A Verdade Relacionada com a
Mente, 80; O Período de Escuta no Tratamento, 81; O Es­
pírito do Senhor, 83; A Palavra, não Palavras, Gera Fruto
Espiritual, 84

III ALCANÇANDO O DOMÍNIO CONSCIENTE


7. Conceitos ou Verdade?, 87; Só Deus é Poder, 89; Julgamen­
to Correto, 90; O Domínio de Seus Conceitos Pessoais, 92; O
Poder em Causa, não o Efeito, 94; Não Tente Tornar-se Li­
vre de Pessoas ou Condições, 95; Não Tente Mudar o Mal em
Bem, 96; Deixando o que Existe Revelar-se, 97
8. Alcançando o Domínio Pelo Eu, 99; O Corpo, um Instru­
mento de Consciência, 100; A Consciência Desenvolvida, 101;
A Percepção da Natureza Infinita do Ser Individual, 102;
Elevando o Poder Acima dos órgãos e Funções Para o
Eu, 104; A Consciência, 106
9. O Místico e a Cura, 108; A Carência da Cura Espiritual, 109;
Limitação, o Fruto dos Pares de Opostos, 111; A Auto-sufi­
ciência do Poder do Amor, 112; A Verdade do EU SOU, 114;
A Pessoa e a Enfermidade não Devem Ser Partes de Sua Me­
ditação Para a Cura, 115; Não o Poder, Mas a Graça, 117 -
10. O Domínio Através da Compreensão Diária, 119; A Liber­
tação Pessoal da Má Prática Universal, 120; A Natureza do
Trabalho Protetor, 121; Tornar-se uma Transparência Para
o Poder do Espírito, 124; A Importância do Silêncio, 125
11. Despertando Para as Faculdades da Alma, 127; O Vazio Com­
pleto, 128; Descobrindo Nosso Lugar no Esquema da Vi­
da, 129; Despertando o Centro da Alma, 131; O Espírito Di­
rige-nos Para Ele Mesmo, 133; Abrindo Caminho Para o
Propósito de Deus Ser Revelado, 135; Deixando o Propósito
de Deus Revelar-se em Nós, 136
12. A Revelação da Consciência Como a Harmonia de Nossa Ex­
periência, 137; Tomando-se uma Comunidade de Amigos e
Vizinhos, 139; A Consciência Mística da Unidade, o Segredo
da Fraternidade, 141; Ordenação Pelo Espírito, 143; A Fun­
ção da Graça Como Amor, 146

8
PREFÁCIO

Frequentemente, um leitor que descobre os trabalhos de Joel


Goldsmith comenta: “Não é como ler um livro. É como se o autor
estivesse ao nosso lado, conversando conosco”. É absolutamente
natural tal reação pelo modo como seus livros são escritos. Nunca,
exceto em algumas partes de O Caminho Infinito, Joel Goldsmith
realmente se sentou para escrever um livro. Sempre esteve ocupado
demais. Consumiu seu tempo atendendo aos chamados para cura
que vinham noite e dia do mundo todo, e ensinando àqueles que
queriam aprender mais sobre a cura e como alcançar a consciência
mística.
Em 1946, Joel Goldsmith passou por uma iniciação nos mis­
térios ocultos da vida, por uma profunda experiência espiritual que
o elevou, do reino metafísico, à união mística da unidade consciente
com a Fonte da vida. Com essa experiência veio a necessidade de
ensinar àqueles que vinham até ele, apesar de nunca procurar um
aluno.
Daí por diante, foi fortalecido pelo Espírito dentro dele, que
o instruía e conduzia ao trabalho de cada dia — trabalho que in­
cluiu o atendimento de grande volume de correspondência daqueles
que tinham descoberto sua mensagem e o procuravam. No rápido
período de dezessete anos, deu centenas de aulas em todas as partes
do mundo. Com o advento do gravador de fita, essas conferências
e aulas foram registradas para a posteridade. Além disso muitas
delas foram redigidas e publicadas em forma de livro.
Quando Joel dava uma conferência ou aula, falava de impro­
viso, sem mesmo uma simples anotação. Não que ele não se pre­
parasse; sua preparação consistia em longas horas de meditação
antes de cada aula. Ele não meditava num assunto ou lição espe­
cífica, mas sim para que pudesse mergulhar completamente no Es­
pírito e ser tão transparente que Ele emanasse dele como a men­
sagem apropriada. Sua mensagem, portanto, é sempre nova e pura;
ela saiu diretamente da consciência e foi libertada de maneira na­

9
tural, simples, direta e poderosa, com a autoridade de quem de­
monstrou por suas ações a verdade da mensagem que ensinava.
O Despertar da Consciência Mística foi originalmente publicado
na forma de Cartas enviadas todo mês aos alunos de O Caminho
Infinito. O material usado para essas Cartas foi extraído de gra­
vações de aulas.
Joel Goldsmith estava admiravelmente qualificado para falar e
escrever sobre a consciência mística. Seu conhecimento intelectual
não foi compilado de leituras de filosofia especulativa sobre o
significado da vida; veio da experiência. Ele foi capaz de revestir
a mensagem de uma simplicidade que só podería vir através da
consciência perceptiva da unidade que não admitiu dualidade.
Para ele, a vida mística significava viver no mundo, mas não
pertencer a ele, participar de muitas atividades da vida normal, re­
servando, todavia, sempre uma área da consciência para penetrar,
além dos limites do mundo exterior de efeito, na realidade espi­
ritual básica. Ele viu, além do vísivel, a Origem invisível de toda
vida e energia.
Um dos princípios fundamentais de O Caminho Infinito é que
a experiência mística, que é realmente O Caminho Infinito, nunca
pode ser limitada ou confinada dentro das fronteiras de uma orga­
nização. Por essa razão, não há nada a que alguém possa pertencer;
não há regras ou regulamentos, exceto “a disciplina da Alma”, que
governa qualquer pessoa que adote seus princípios. Cada um é livre
para vir e ir ou permanecer como parte desse movimento de cons­
ciência, destinado ao despertar da consciência mística em toda pes­
soa e, finalmente, a revelar o aqui e agora do reino do céu.

L orra in e Sin k l e r

Palm Beach, Flórida

10
I

A Natureza do Poder Espiritual

1
O Ateísmo do Poder Material

O medo domina a humanidade, pois, incutido na mente huma­


na, faz o homem esquecer-se de que Deus é a sua própria vida
e que a vida não pode ser destruída nem por uma bomba nem
pela vontade dos tiranos. A sugestão de um mundo hipnótico faz
com que o homem pense ter vida própria e que ela pode se perder.
Em termos humanos, isso é verdade. Espiritualmente, sob a prote­
ção de Cristo, não o é. O Mestre entregou sua vida humana e pro­
vou então que nem sua vida, nem seu corpo poderiam ser des­
truídos. Nem nossa vida individual, nem nosso corpo podem ser
destruídos pela vontade ou pela ação humanas, quando conhecemos
a verdade sobre a vida.
No ataque a Londres durante a Segunda Guerra Mundial, um
casal concordou com o fato de que, por ter aceito Deus como a
sua vida, segurança e proteção, não construiríam, como seus vizinhos,
um abrigo antiaéreo. À noite, quando começava a blitz e os vizinhos
iam para seus abrigos, eles se ofereciam para observar sinais de in­
cêndio e patrulhavam as ruas. Nem eles nem a sua casa foram atin­
gidos, ainda que houvesse muita destruição ao redor. Nada atingia
a moradia deles pela simples razão de que a sua moradia não era
Londres, uma casa, ou um abrigo antiaéreo. A sua moradia era Deus;
eles viviam, moviam-se e existiam em Deus.
“O Senhor é meu rochedo, e o meu lugar forte”.1 Muitas pes­
soas acreditam que isso significa que Deus lhes enviará uma for­
taleza de tijolos e cimento.

1. II Samuel, 22:2.

11
Não c esse, ahsolutnmente, o significado. Ouer dizer literal­
mente t|ue é em Deus que “vivemos, nos movemos e existimos”.2
Mas o gênero humano tem-se separado dessa fortaleza, de Deus,
buscando segurança e proteção em coisas materiais.

Ser Um Discípulo de Cristo

E lançaram mão dos apóstolos e os puseram na prisão pública,


mas de noite um anjo do Senhor abriu as portas, tirando-os para
fora”.3 O discípulo do Cristo, que não acredita que segurança, pro­
teção, saúde e harmonia devem ser encontradas nas coisas mate­
riais, é crucificado e ressuscitará. Esse indivíduo, renascido do Es­
pírito, vive na Quarta Dimensão da vida. Ele ainda está no mundo,
mas não pertence a ele. O discípulo de Cristo caminha pelo mundo
e labuta nas mesmas tarefas diárias como os outros, quer seja nos
negócios, nos serviços domésticos, nas artes ou em qualquer outra
profissão; porém, não está sujeito às suas crenças, seus temores ou
seus poderes. O Mestre disse: “Não peço que os tires do mundo,
mas que os livres do mal”.4
“No mundo tereis aflições”.5 Essa aflição existe porque o
mundo crê em todas as formas de poder: o poder da hereditarie­
dade, o poder do pecado, o poder da enfermidade, o poder das
bombas, o poder das guerras, o poder dos falsos desejos e o poder
da temperatura e do clima. Mas, quando o Mestre disse que seus
discípulos ficariam no mundo, mas não estariam sujeitos aos seus
poderes, deu um exemplo para seguirmos.
Nossa súplica é que sejamos deixados no mundo e que possa­
mos ser uma luz para as pessoas que ainda temem morrer, como
se a experiência da morte pudesse ser o fim da vida. Não importa
quão perto de Deus uma pessoa possa estar, cada um, mais cedo ou
mais tarde, deixa este plano; mas, a menos que ele tema a extin­
ção, não há nada a temer nessa experiência transitória. Como a luz
do mundo, aqueles que alcançam a consciência mística estão reve­
lando a este mundo que não há necessidade de temer os seus po­
deres.

2. Atos, 17:28.
3. Atos 5:18, 19.
4. João 17:15.
5. João 16:33.

12
Eu posso lhe dizer como avaliar seu progresso espiritual. En­
quanto você acreditar que a destruição de uma outra vida para
salvar a sua própria é justificável, você permanece naquele estado
da condição humana de preocupar-se apenas com o seu próprio eu,
em vez de preocupar-se com o Si mesmo. Enquanto você tiver
desejo de destruir outra vida para salvar a sua, não compreenderá
a mensagem de Jesus Cristo quando diz: “Ninguém tem maior amor
do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos”.*

Viver Fora do Princípio da Natureza Pessoal

Na Primeira Guerra Mundial, servi como voluntário na Ma­


rinha dos Estados Unidos e, embora naquele tempo eu fosse um
jovem estudante de Metafísica, aprendi que é possível me proteger
dos poderes deste mundo refugiando-me em Cristo, de quem nenhum
poder do mal pode se aproximar. Orei desse modo durante se­
manas, até que um dia fiquei impressionado; fui tomado com a
idéia de que Deus devia ser horrível se, ao dizer abracadabra, eu
pudesse ser protegido, ao passo que todas as pessoas que não a
conhecessem, seriam mortas ao saírem. Lá estaria eu com minha
arma, matando a torto e a direito sem ser tocado. Mas, os pobres
companheiros que não conhecessem esta fórmula mágica, poderíam
morrer. Eu não podia acreditar que existisse tal Deus e percebi que
havia algo errado com essa forma de oração. Por não conhecer
outra decidi não orar novamente até que tivesse aprendido a fazê-lo
corretamente.
Os dias passaram, e recusei me ocupar com qualquer oração
protetora desse tipo, até que um dia, aparentemente por ocaso, der­
rubei minha Bíblia no chão. Ela caiu aberta nesta passagem: “Eu
não rogo somente por estes”.67 Senti o coração e os ombros aliviados
de um peso que os oprimia, e disse: “Obrigado, Pai. Nunca rezarei
ncvamente para mim ou para os meus somente. Agora, porém, mi­
nha prece é que a graça de Deus envolva a humanidade, que a
graça de Deus toque todo ser vivo para a vida espiritual”.
Quanto a mim, aconteceu um milagre. Fui transferido de um
local para outro, de uma obrigação para outra, mas nunca mais,
durante a guerra, fui sequer mandado para perto de qualquer sítio,
de onde pudesse atingir alguém ou mesmo ser atingido. Vi então

6. João 15:13.
7. João 17:20.

13
que não só havia proteção para mim, como também havia proteção
a partir de mim. Desde então, aprendi uma grande lição, que narrei
no capítulo “Ame teu Próximo”, no livro Exercitando a Presença.*
O princípio é que há somente um Eu, e que é o Próprio-Deus.
A vida de Deus é a minha e a sua vida; a alma de Deus é
a minha e a sua alma; o Espírito de Deus é o meu e o seu espírito;
a verdadeira individualidade de Deus é a minha e a sua individua­
lidade; e isso significa que nós somos unos em filiação espiritual.
Qualquer coisa que me beneficie, deve beneficiar você; qualquer
coisa que me prejudique, deve prejudicar você, pois nós somos um
só. Tudo o que for uma bênção para mim, deve ser também para
você; e tudo o que é graça divina para você, deve ser também para
mim, pois nós somos um só.
Se eu fizer algo danoso para você, estarei fazendo a mim
mesmo, pois só existe um. Se eu fizer algo de natureza oculta, não
estou ocultando de você; estou ocultando de mim. Se eu fizer algo
destrutivo, não estou prejudicando você; estou prejudicando a mim
mesmo, pois nós somos um só. Freqüentemente queremos saber por
que estamos pagando as penas da enfermidade, do pecado ou da
pobreza, sem compreender o que fizemos à humanidade.
Para o mundo, há um, apenas um único meio de ação: é através
de obras. O mundo realiza seu bem e seu mal pelas obras, mas
essa não é a sua ou a minha verdade. Mesmo se nos abstivéssemos
das más ações, ainda assim não seria suficiente. Mesmo se realizásse­
mos boas obras, não seria suficiente. Paulo disse que: “ainda que dis­
tribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade,
nada disso me aproveitaria”.8 E o Mestre disse-nos que, se não co­
metéssemos nenhum desses pecados, mas permitíssemos que eles
ocupassem o nosso pensamento, ainda assim seríamos pecadores:
“Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para
a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”.9
Assim é que as boas obras não são suficientes para nós. Abster-
se das más obras não é o bastante. Devemos avançar um passo
além e não prestar falso testemunho contra o próximo.

* Joel Goldsmith, Practising the Presence (Nova York, Harper and


Row, 1958).
8. I Coríntios 13:3.
9. Mateus 5:28.

14
Silenciosa e secretamente, devemos compreender que Deus é
a vida de todo indivíduo, quer o saiba ou não, quer viva ou não
para Ele.
No exato momento em que começarmos a conhecer a verdade
de que Deus é a vida de todo mundo, que a graça divina é sufi-
ciente para todas as pessoas em todo lugar, quando começarmos a
orar por aqueles que estão arruinando este mundo — oremos para
que a graça de Deus abra a alma e a consciência deles para a ver­
dade do ser, oremos para que todo mundo seja um instrumento
pelo qual Deus possa agir livremente, oremos para que a luz de
Deus toque a consciência obscurecida deles — então e somente
então começaremos a “morrer a cada dia” 101para os meios humanos
de vida e renasceremos como filhos de Deus que já não têm de
dirigir o pensamento para a vida, mas que agora vivem pela Graça.

Viver Pela Palavra

Nossa vida no caminho espiritual é em parte uma experiência


iluminada, sempre acompanhada por uma viva demonstração prá­
tica da harmonia com Deus. Tudo o que lemos na Escritura e que
vem com o poder e com a força da revelação, torna-se o princípio
de ação de toda a nossa vida para chegar à união consciente com
a origem.
Fundamental para isso é a afirmação mística: “E o Verbo se
fez carne, e habitou entre nós”.11 Tentamos, na medida do possível,
não só basear toda nossa experiência em Deus, mas também viver
nEle, através do verbo, de modo que nossa atividade diária se torne o
próprio Deus em ação. A palavra de Deus torna-se tangível em
nossa experiência. Nós não vivemos uma vida individual e separada
de Deus. Pelo contrário, qualquer fase de nossa vida que tenha seu
fundamento em nossa volição e desejo humanos, descobriremos, no
final das contas, ter sido uma experiência infeliz e inútil.
Suponha que acordemos esta manhã, sabendo que teremos pela
frente um dia cheio de atividades, um dia que exigirá muito de nós,
exigências provavelmente de natureza extraordinária, algumas das
quais não seremos capazes de satisfazer. Pode ser um desses dias
em que sabemos que não depende de nós o que o dia vai gerar; por­

10. I Coríntios 15:31.


11. João 1:14.

15
tanto, vivendo de acordo com o Verbo e permitindo que o Verbo
viva em nós, voltamo-nos para nossa consciência interior em busca
de alguma explicação, alguma revelação, alguma mensagem, que
virá do reino de Deus dentro de nosso próprio ser.
Se formos pacientes e compreendermos sinceramente que há
um reino de Deus dentro de nós e que o Verbo pode revelar-Se a
nós da nossa própria interioridade, finalmente ele virá, não tão
facilmente, a princípio, de forma mais imediata, com a prática.
Então podemos sentir ou ouvir dentro de nós mesmos: “O Senhor
aperfeiçoará o que me concerne”.1- Imediatamente, uma sensação
de alívio nos vem, a responsabilidade desaparece, porque agora
temos a certeza de que o fardo não está somente sobre os nossos
ombros. Com isso, provavelmente nos lembraremos também de que
“maior é o que está em vós do que o que está no mundo”.1213 O
que está dentro de mim é maior do que qualquer problema que eu
possa enfrentar neste dia. O que está dentro de mim é maior do que
qualquer exigência que me possa ser feita. Agora temos a verdadeira
palavra de Deus habitando nossa consciência e já não mais enfren­
tamos o dia sozinhos, mas com Deus.
Não há problema de trabalho de qualquer tipo que não possa
ser resolvido dessa maneira. As pessoas que tentam dirigir uma ati­
vidade sozinhas podem ter sucesso real, podem falhar ou podem ter
apenas um sucesso nominal, mas esse trabalho estará sempre sujeito
às condições do dia. As pessoas que vivem em contato com a Chama
interior, que habitam no Verbo e permitem que o Verbo habite
nelas, não têm, porém, preocupação de qualquer tipo, a não ser rea­
lizar o que lhes cabe a cada dia. Acham que, nos bons ou maus tem­
pos, a providência sempre se incumbe de garantir a sua sobrevi­
vência com sucesso.
Quando um indivíduo começa a entregar-se a Deus, procurando
sempre conhecer a Sua vontade e ser instrumento para o Seu de­
sempenho, a palavra de Deus se torna o verdadeiro Cristo nele,
que o habilita a ser uma luz para este mundo e um servo de todos.
Quando mantemos nossa consciência ocupada com a palavra
de Deus, atraímos a harmonia, a paz, a prosperidade, a saúde e a
graça que fluem d’Ele. Na medida em que vivemos nossa vida se­
parados da palavra de Deus, causamos a experiência mundana da
carência, da limitação, da guerra, da discórdia ou desarmonia a nós
mesmos.

12. Salmos 138:8.


13. I João 4:4.

16
Quando deixarmos o Verbo habitar em nós, o Verbo se tor­
nará carne e morará entre nós; e a paz e a prosperidade serão a
lei para nossa família. Se deixarmos de nos firmar na Presença do
Senhor — levantando pela manhã, tomando banho, vestindo-nos,
indo para o trabalho, dirigindo a família — e não preenchermos
nossa consciência com a palavra de Deus, provavelmente estaremos
nos tornando vítimas de tudo o que acontece no mundo. Então,
retornamos às nossas velhas idéias pagãs de culpar a Deus. Deus
nunca nos abandona, nós o abandonamos. Não há melhor modo
de abandoná-lo do que acreditar que a influência divina não é maior
do que a influência de uma bomba, de um germe ou de um tirano.
No momento em que começamos a temer qualquer poder, seja
ele o poder de uma pessoa, de uma coisa, ou de uma ideologia,
abandonamos a Deus. Quando permitimos que o medo de nosso
corpo ou o medo da enfermidade entre em nosso pensamento, aban­
donamos a Deus, pois abandonamos a percepção interior e o co­
nhecimento que cada um de nós deve ter de que Deus é maior do
que essas coisas. Nós tememos apenas porque acreditamos que o que
tememos tem mais poder do que o Deus que adoramos.

Orando ao Espírito de Deus Para que Transforme o Universo


Material
Deus é Espírito. E se Deus é o princípio criativo do universo,
então este universo é uma criação espiritual e não física ou corpó-
rea. Se isso é verdade, é tolice orar ao espírito de Deus, para que
faça algo pelo universo físico que não tem qualquer existência
verdadeira.
Estamos enganados quando oramos ao Espírito de Deus para
que mude alguma espécie de matéria ou estrutura física. Deus não
estará presente. A oração correta seria: “Desperta, tu que dormes,
e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”.14 Então, tudo
o que é necessário que se desperte em nós da ilusão do universo
físico ou mecânico despertará e começaremos a tomar consciência
da herança a nós legada como filhos de Deus, fruto do Espírito,
eterno e imortal.
Necessitamos de mais pessoas para que possamos socorrer os
que estão acomodados, àqueles que não tentam diminuir uma febre,

14. Efésios 5:14.

17
remover um tumor e que ficam paralisados em deter a insanidade.
Para que eles compreendam que Deus é Espírito, que o fruto de
Deus é espiritual e que naquilo que foi criado “nada que o conta­
mine, abomine ou seja mentira penetrará”.15
Alunos de O Camiiiho Infinito, não dividam o corpo do ponto
de vista orgânico. Este é um universo espiritual e somente Deus
é poder. Seria ateísmo temer qualquer forma de matéria. É sabido
que nem tudo é espiritual. Tentar mudar o universo material ou
tentar interferir humanamente naquilo que vem ao mundo não nos
levará a parte alguma. Não haverá paz permanente ao combater os
males do mundo com as armas do mundo. O meio não é “nem por
força nem por violência, mas pelo meu Espírito”,16 “neste encontro
não tereis de pelejar; tomai posição, ficai parados e vede o salva­
mento que o Senhor vos dará”.1718 Nem as armas mentais nem as
armas físicas deste mundo constituem poderes. Se fossem ou se não
houvesse ninguém para provar que elas não são, o mundo estaria
perdido.
Mas de quem é a responsabilidade? Ela não é daqueles que
conhecem a verdade e estão despertos para mostrar que os males
do mundo não constituem poder? Mas estes males não podem ser
detidos, exceto pela compreensão da inutilidade ou impotência da­
quilo que se declara como a grande força. Nós não podemos espe­
rar para fazer isso, a não ser que estejamos dispostos a nos anular­
mos no tempo e ficarmos sentados a observar os nossos pecados e
as enfermidades — olhar bem e reconhecer que:
Você não é força: você é o espírito carnal ou o nada; você é
o “braço de carne>>18 ou o nada. Você não podería ter força a me­
nos que ela viesse de Deus, pois não há força, mas Deus. Deus é
a vida de todo ser, a imortalidade e a eternidade. Deus é a única
lei, o único legislador. Não há lei da matéria; não há lei da enfer­
midade.' Força material não é força: é uma declaração de força.
Deus, Espírito, é força; e o Espírito é infinito, toda a força.*
15. Apocalipse 21:27.
16. Zacarias 4:6.
17. II Crônicas 20:17.
18. II Crônicas 32:8.
* Os trechos escritos em tipos itálicos neste livro são meditações espon­
tâneas que se revelaram no autor durante períodos de elevação de consciên­
cia. Eles não têm, de forma alguma, a pretensão de terem sido usados como
afirmações, negações ou fórmulas. Foram inseridos para servir como exem­
plos de fluição livre do Espírito. Como os leitores praticam a Presença, eles
também, em seus momentos de exaltação, receberão sempre inspiração nova
e recente como a expansão do Espírito.

18
A menos que sejamos específicos em nosso conhecimento da
verdade, específicos em nossa compreensão de que somos seres em
confronto com as sugestões de forças mentais e físicas, que não são
forças, elas continuarão a ser forças até que tenhamos a compre­
ensão de suas impotências.
Na maior parte de nosso trabalho, as curas vêm rápidas e ale­
gremente. O princípio envolvido é a compreensão de que acreditar
que a força material é força, nada é, senão ateísmo. Deus é Espírito
e força espiritual é a única força verdadeira. Qualquer outra decla­
ração de força pode ser invertida ou anulada. Testemunhamos isso
na cura de cada tipo de problema. As formas de matéria, as formas
de corpo físico se transformam onde é necessário e, onde é neces­
sário, novas partes do corpo crescem porque o Espírito é a subs­
tância fundamental e a realidade de todo efeito.
Na presença da realização espiritual, a materialidade não é
força. Se ela aparece como infecção ou contágio, se aparece como
hipnotismo ou o produto do hipnotismo, é o espírito carnal ou o
“braço de carne”. Portanto, não é nada, pois o Espírito é tudo e
o real e o eterno. O Espírito é a lei.
Por causa da ação do Caminho Infinito pelo mundo todo e
sobretudo por causa do próprio mundo em seu estado presente, é
importante que todo aluno do Caminho Infinito sente-se e comece
a fazer alguma ação saudável para provar que o pecado, a enfer­
midade e a morte não são a lei ou a realidade da vida. Provar que
as leis mentais e físicas não são força, tornará possível um trabalho
maior de anulação de todas as formas de hipnotismo, que parecem
emanar dos indivíduos em altas posições e manter as pessoas na
servidão. Devemos anular toda declaração de força mental ou física
onde quer que a encontremos. Devemos aceitá-la como um com­
promisso de que, aonde quer que nossa atenção for atraída, por
força física ou mental, nos sentaremos calma e pacificamente e
compreenderemos que “nem por força, nem por violência”, mas
pelo Espírito de Deus tudo isso se tornará nulo e vazio.
Em qualquer lugar que possamos estar, esse será solo sagrado,
o lugar que Deus nos concede para nosso culto. Nosso culto con­
siste na concepção do Espírito invisível como a lei e a causa de
tudo o que existe. Através dessa concepção, sem usar poder men­
tal ou força física, toda declaração de natureza ateística pode ser
descoberta e destruída. Ela é destruída, não pela luta, não pelo con­
flito, não por pedir a Deus para fazer alguma coisa, mas pela con­

19
cepção calma, pacífica e suave: “Obrigado, Pai, este é Seu universo
espiritual, completo e total”.
Algo mais que possa ser necessário conhecermos sera dado de
dentro de nós mesmos. Uma vez que alcancemos ou consigamos
estar calmos e quietos, teremos apenas que começar o fluxo com
algumas dessas verdades que conhecemos. Mas a força real e o tra­
tamento verdadeiro virão de dentro de nós para nós mesmos. O
que nos é comunicado de dentro é o Verbo vivo, nítido e poderoso.

O Silêncio

Sem levar em conta como podemos nos sentir quando entramos


no estado de meditação, finalmente nos instalamos em uma paz inte­
rior e, quando isso ocorre, estamos em uma fase importante de nossa
meditação porque o poder de Deus torna-se manifesto nesse período
em que o espírito humano não está pensando. Sabemos que a ver­
dade não é aquilo que cura, é o que acontece quando acabamos
conhecendo ou pensando nela conscientemente. Então, nesse perío­
do de tranqüilidade, a palavra de Deus vem diretamente.
Declarando que a verdade é apenas um processo de se preparar
para uma imobilidade e atenção interiores, então, ou algum pensa­
mento vem a nós ou há apenas um sentimento, às vezes, mais im­
portante do que quaisquer palavras. Ouando esse sentimento, que
pode ser como um alívio ou um respirar profundo, vem, o Próprio
Espírito* começa a conduzir a nossa experiência. Maiores os tra­
balhos de restabelecimento, maiores as obras de restauração e re­
forma, e maiores são as obras de força espiritual realizadas, quan­
do não há nem palavra nem pensamento, quando há tranqüilidade
completa. Então, algo, a revelação do Espírito e Sua força, ocorre
no interior.
A iluminação espiritual e a força espiritual vêm através de um
completo silêncio do pensamento humano, da vontade e do desejo
humanos. Nessa ausência completa do eu, quando há apenas uma
paz interior, uma expectativa, lá vem aquele pequeno sobressalto,
aquele leve respirar profundo, aquele pequeno suspiro, aquele pe­

* Na literatura espiritual do mundo, os variados conceitos de Deus são


indicados pelo uso de palavras como Pai, Mãe, Alma, Espírito, Princípio,
Amor e Vida. Portanto, neste livro, o autor usa alternadamente, os pronomes
Ele e Si (mesmo) ao se referir a Deus.

20
queno alívio. É quando sabemos que o Espírito está em campo e
a obra está sendo realizada.
É egoísmo acreditar que nossa compreensão sempre realiza o
trabalho de restabelecimento. É uma excitação interna que realiza
o trabalho, uma Presença e uma Força que Se revelam em estado
de imobilidade, tranqüilidade e serenidade.
Deus nos alcança no silêncio. Dizem-nos que não há força na
tempestade, no relâmpago, no trovão, mas somente na “voz mansa
e delicada”.19 Eis onde está o poder de Deus, na “voz mansa e
delicada” que fala dentro de nós quando estamos calmos e atentos,
pacíf;cos, quietos e confiantes. O reino de Deus está dentro de nós
e Ele revela a Si Mesmo. Ele pode revelar-Se na fala; Ele pode
revelar-Se como uma luz; Ele pode revelar-Se meramente como
um arder íntimo. Mas, quando Ele Se revela, alguma coisa acontece.
Quando entramos em meditação, temos apenas uma obrigação,
que é esquecer cada uma e todas as pessoas neste mundo, voltar­
mos para dentro de nós mesmos e compreendermos que o reino de
Deus está dentro de nós. Na tranqüilidade e confiança da medita­
ção, ninguém, ou o problema de ninguém, entra em nossa mente.
Tudo o que pertence ao Pai será libertado através da “voz mansa
e delicada”.
Em tal meditação, eu não estou pensando em ninguém; não
estou pensando no problema de ninguém; não estou pensando em
mim mesmo. Estou apenas existindo silenciosamente e esperando
algum sinal de dentro que me diga que Deus está em campo. E
eu espero até que ele venha — uma pausa para respirar, um sen­
timento de paz, uma sensação de libertação íntima. Então, sei que
algo aconteceu porque a palavra de Deus, a presença de Deus, a
respiração saiu de mim.
Jesus disse: “Eu bem conheci que de mim saiu virtude”20 e
a mulher foi curada. Ele sentiu libertação de alguma coisa estranha
dentro do mundo, que os receptivos e os sensíveis apreenderam.
Dizem que multidões foram curadas, quando estavam sentadas ou­
vindo-o. Podemos ter certeza de que Ele não sabia seus nomes ou
pecados, enfermidades ou problemas. Ele não estava pensando ne­
las. Todo o seu pensamento estava voltado para um assunto: Deus.
E quando estava sentado em silenciosa comunhão com Deus, ou

19. Reis 19:12.


20. Lucas 8:46.

21
mesmo quando estava ministrando ensinamentos, ainda mantinha
aquele silêncio interior. Alguns tiveram curas imediatas e outros
sentiram o Espírito tão poderosamente neles, que tiveram regenera­
ção espiritual.
Desde o começo da história, o bem e o mal estão em guerra.
Para nós, a batalha entre o bem e o mal só vai terminar quando
compreendermos a natureza do poder espiritual e nos retirarmos
para este silencioso e tranqüilo centro de nosso próprio ser e ficar­
mos em paz até que o Espírito de Deus esteja em nós. Nesse si­
lêncio, o Espírito Santo desce e podem-se realizar curas de todos
os tipos: reformação, cura do corpo ou do conflito.
O Espírito Santo não pode descer em nós enquanto formos
um espírito dividido contra si mesmo. O Espírito Santo só pode
descer onde o espírito que estava em Cristo Jesus está presente, o
espírito que nunca condena ou julga. Só quando nosso espírito es­
tabelecer-se em uma paz interior na qual não há julgamento, não
há condenação, na qual não há nem bem nem mal porque tudo
emana de Deus, pode o Espírito Santo descer e a influência sau­
dável fluir para o exterior. Nós não devemos entrar no Eu interior
volúvel, conhecendo o bem e o mal.
Externamente, podemos entender que estamos tratando da
aparência do bem e do mal. Certamente, se não compreendéssemos
isso, seríamos cegos e teríamos, até certo ponto, a atitude daqueles
que apenas dão voltas dizendo: “Não há mal. Tudo é Deus”. Aí,
então, de repente encontram-se lançados ao mar.
Todo conceito finito é do espírito carnal, um sentido de indi­
vidualidade ou poder separado de Deus; mas, com o reconheci­
mento, participamos do silêncio para compreender que o que apa­
rece como o espírito do homem ou o “braço de carne” não é poder,
não é presença, não é lei.
Não devemos ter medo de olhar para palavras como “infecção”
e “contágio”. Podemos olhar para elas e compreender:
Você é o demônio de seu pai ou nada, um produto do espírito
carnal, que não é espírito e que não tem lei. Você é um nada, por­
que tudo que Deus realizou é bom e qualquer coisa que Deus não
fez não foi feita.

Quando voltarmos à unidade, não condenando e não julgando,


o Espírito Santo descerá em nós. Se alguns de nós pudermos ficar
de pé, estar alerta para todo homem, mulher, criança e coisa em

22
qualquer parte do globo e dizer: “Força material? Isso é ateísmo.
Isso é reivindicar uma força separada de Deus. Só há uma força,
a força do Espírito”, milagres da Graça podem acontecer.
Grupos pertencentes ao Caminho Infinito poderiam unir-se e
decidir que todo dia da semana dispensariam um minuto pela causa
da paz, um minuto para cerrar seus olhos, sorrir e agradecer a
Deus que o poder material é ateísmo, mas que a confiança no Es­
pírito de Deus, a presença de Deus, o poder de Deus, a palavra
de Deus, tudo isso é a verdadeira força. A força material é a im­
potência, o “braço de carne”. Certamente, então, a paz viria rapi­
damente.
Em uma visão, eu vi toda a força de armamentos como ma­
téria morta, e vi que ela não podería mover-se porque não havia
ninguém para movê-la. Como alguém pode mover alguma coisa, se
esse alguém está de pé diante dela com a palavra de Deus como
sua consciência?
A maioria de nós conhece por experiência que a matéria não
é força e também sabe que a palavra de Deus, que está na cons­
ciência do praticante, é a força. A matéria reage e volta-se da ma­
téria doente para a matéria saudável não pela aplicação material,
não pelo poder da força material, mas pelo poder do Verbo aco­
lhido na consciência.
Esta prova diária de que a palavra de Deus na consciência
individual é suficiente para deter o curso da matéria e transformar
a matéria doente em matéria saudável, corpos doentes em corpos
sadios, bolsos vazios em bolsos cheios, pessoas desempregadas em
empregadas e reunir harmoniosamente capital e trabalho, está ocor­
rendo há anos.
Tudo que representa forma material ou força material — bom­
bas, germes ou infecções — é inativo, é um nada. É preciso um
indíviduo para movê-lo. Mas um indivíduo é livre para fazer o bem
ou o mal, exceto quando está diante da força do Verbo. Então,
perde-se toda a força que faz o mal. Isso porque as reformas
ocorrem através do despertar da consciência de um indivíduo. Isso
porque a cura dos falsos desejos, do alcoolismo e do vício em
drogas foi realizada. A matéria morta — o álcool e as drogas —
provou estar extinta em face de um indivíduo que mantém a pala­
vra de Deus dentro dele, em sua consciência.
A palavra de Deus afasta o medo porque traz à luz a verdade
de que na presença daquela Palavra não há força. Nada é força e
ninguém é poder na presença da compreendida palavra de Deus.
Se nós, seres humanos, só pensamos em nossos negócios particula­

23
res e não pensamos ou só ligamos um pouquinho para a Palavra,
então não se pode dizer que temos o Senhor Deus, porque nós
não temos.
O mundo inteiro estaria salvo e seguro e em paz, se as pessoas
mantivessem viva a palavra de Deus em suas consciências. Não é
lendo-a ou ouvindo-a que seremos salvos. Mantendo a palavra de
Deus, a promessa de Deus em nossa consciência produziría har­
monia, paz e saúde em-forma de manifestação em nossa experiên­
cia. Então, já não estamos mais no túmulo da humanidade. Nós
nos levantamos para a consciência mística da Unidade.

2
A Libertação do Poder Espiritual

No Caminho Infinito, deixamos para trás a crença teológica


em um Poder divino que faz as coisas por engano ou por mal,
um Poder divino que combate o mal, o pecado ou a enfermidade,
e aceitamos como verdade o princípio místico de que o Espírito é
onisciente, onipotente e onipresente, além do que não há mais
nada. O que temos que demonstrar, portanto, é que na presença
da força espiritual não há os poderes do pecado, enfermidade, ne­
cessidade, acidente, infelicidade ou qualquer outro tipo de miséria
humana. Estas coisas negativas podem existir apenas na ausência da
força espiritual.
As trevas só podem existir na ausência da luz. A força espi­
ritual é freqüentemente descrita como Luz: a Luz do mundo, a
Luz que ilumina o caminho, a Luz que ilumina nossos passos. Em
toda literatura mística de qualquer parte, a Luz tem sido o símbolo
da presença e da força espiritual. Esta Luz nunca combate as tre­
vas. A Luz, que é o Cristo, nunca luta contra qualquer forma de
discórdia.
Jesus nunca lutou contra o pecado, perdoou-o. Ele nunca
combateu a doença, debateu com ela ou contra ela. Disse: “Levan-
ta-te, e toma o teu leito, e anda”.1 Só há um registro, na Bíblia, de
sua resistência ao mal e que é quando ele expulsou os “cambistas”
do templo.'12 Minha crença pessoal é que foi essa a sua maneira de
dizer a seus discípulos que nós temos que expulsar de nossa cons­
1. Marcos, 2:9.
2. Mateus, 21:12.

24
ciência todas as qualidades negativas e destrutivas. A consciência
é o templo. As crenças negativas, supersticiosas, más, sensuais ou
luxuriosas são os cambistas. Elas representam o sentido materialista
que devemos banir de nossa consciência.
Afora o encontro de Jesus com os cambistas, o Mestre ensinou:
“Não resistais ao mal”.3 “Mete no seu lugar a tua espada; porque
todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão”.4 A Luz
do mundo não debate com as trevas, não luta ou tenta de qualquer
modo afastar as trevas.
A Luz, sendo a Luz, não pode ser extinta por qualquer tipo
de trevas.
“Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade”.5 Não diz:
onde está o Espírito do Senhor, “há uma batalha”, ou onde o Es­
pírito do Senhor está, “há uma luta contra o pecado”. Pelo contrá­
rio, onde o Espírito do Senhor está, há paz, há liberdade. “Na tua
presença há abundância de alegrias”.6 Certamente, isso não indica
batalhar ou lutar ou qualquer sentido de conquista. Antes, indica
que onde Deus é compreendido, há paz porque não há nada a com­
bater. A Luz não combate as trevas e na presença dela não há
trevas, pecado, enfermidade, morte, necessidade, limitação, relacio­
namentos humanos infelizes. Se nós aceitamos isso como um prin­
cípio, demonstraremos força espiritual, a presença de Deus, e isso
é tudo. Mas a elaboração deste princípio, em nossa experiência
diária, é um assunto individual. Não há fórmulas, não há possibili­
dade de formular um meio específico de demonstrar isso.
O Mestre deu-nos o princípio da não-resistência, mas não nos
mostrou como é feito. Depois que tivermos o princípio, cabe-nos
ver como criá-lo na experiência diária e provar que na presença
dessa força espiritual concebida, poder temporal, quer de natureza
material, mental, moral ou financeira, não é uma força. De fato,
nem mesmo existe na presença dessa Luz espiritual que somos.

A Quantidade Desconhecida

“Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”.7


Essa comida pode ser relacionada como força espiritual: Eu tenho
3. Mateus, 5:39.
4. Mateus, 26:52.
5. II Coríntios 3:17.
6. Salmos 16:11.
7. João 4:32.

25
força espiritual. Disso segue-se que temos domínio porque Deus
nos deu este poder espiritual, que é o domínio. Assim, temos do­
mínio, temos poder espiritual que o mundo não conhece. O mundo
não tem, absolutamente, meios de saber mesmo se há tal coisa
como poder espiritual ou o que o poder espiritual pode realizar.
O sujeito do poder espiritual é uma quantidade desconhecida para
a mente humana. É por isso que Charles Steinmetz, o grande cien­
tista e perito em eletricidade, disse que a maior descoberta do sé­
culo XX seria a descoberta do poder espiritual. O mundo humano
está confiando no poder temporal. Está confiando em bombas e
mísseis, está depositando sua fé em uma forma ou outra de poder
mental ou físico, sendo que todos esses são poderes temporais.
Mas disseram-nos para embainhar a espada e não resistir ao mal.
O Mestre disse mais: “Não temais”.8 O Mestre nos teria dito
para não temer, se ele soubesse a respeito do poder atômico? Eu
tenho certeza de que teria, porque Ele demonstrou que tinha desco­
berto o segredo do poder espiritual. Nós sabemos que na presença
do poder espiritual, os poderes temporais não são poderes. Estamos
provando isso, em alguma medida, na cura da enfermidade, na
superação dos apetites e desejos pecaminosos, da necessidade, da
limitação, dos acidentes e dos resultados dos acidentes; mas isso
tem sido efetuado apenas em pequeno grau.

A Descoberta da Natureza do Poder Espiritual

Quando nos lembramos de que o princípio do poder espiritual


foi dado ao mundo há quase vinte séculos, não podemos ser tão
orgulhosos daquilo que foi realizado espiritualmente neste século.
Na verdade, muito mais foi demonstrado durante os últimos setenta
e cinco anos, do que nos mil e novecentos anos anteriores, e nos
dá esperança e coragem de prosseguir e compreender que, mesmo
não tendo alcançado plenamente, pelo menos estamos no caminho
que leva à realização da natureza do poder espiritual.
Quando individualmente chegarmos a compreender isso, cada
um de nós estará fazendo uma avaliação do trabalho de cura de
nós mesmos e dos outros. Estaremos levando uma norma de paz,
saúde e felicidade para a vida de outros, mas somente na medida
que individualmente resolvermos o mistério do poder espiritual. Se
um indivíduo compreende a natureza do poder espiritual, pode le­

8. Mateus 14:27.

26
var um pouco de harmonia a milhares de outros, mas será apenas
um pouco de harmonia. Ninguém pode levar harmonia completa a
outro. Isso é algo que cada um de nós deve fazer ao expulsar os
cambistas de nossa própria consciência.
Todos nós temos cambistas em nossa consciência, no sentido
em que todos nós temos alguma crença arraigada em duas forças:
na enfermidade física e na saúde física, na enfermidade moral e
saúde moral, ou na enfermidade financeira e saúde financeira.
Essas são os cambistas que expulsamos, não combatendo, “não por
força nem por violência”,9 mas pela compreensão. Essa compreen­
são vem ao nos perguntarmos como podemos levar poder espiri­
tual à nossa experiência, à experiência do mundo, à nossa família,
à nossa comunidade, aos nossos negócios ou atividade profissional
e ao nosso governo.
A verdadeira pergunta que temos que fazer a nós mesmos é
qual a intensidade de nosso desejo de conhecer Deus, de conhecer
a força e a presença espirituais. Qual a medida de nossa fome e
sede de realização espiritual? Poderiamos formulá-la deste modo:
Que importância tem nosso problema? Para aqueles que ainda têm
um bom comportamento físico e financeiro, a questão de conhecer
a Deus pode provavelmente esperar até o próximo ano, o ano se­
guinte, daqui a cinco anos ou até que comecem a envelhecer. Mas,
para aqueles que têm problemas de natureza suficientemente pro­
funda ou séria, agora é a vez de buscar uma compreensão da na­
tureza da força e da presença espiritual.
Quando compreendemos a natureza do Espírito, nós não te­
mos que saber o que fazer com Ele. Não temos, absolutamente
nada a fazer com Ele. Ele realiza Seu próprio trabalho. Uma vez
que alcançamos a presença de Deus, essa Presença estabelece har­
monia. Uma vez que atingimos a compreensão da natureza da força
espiritual, somos a Luz e não há trevas a dispersar.
Mas como manifestamos ou expressamos a Luz espiritual e
compreendemos a força espiritual? Qual a natureza da Luz espiri­
tual? Qual é a natureza da sabedoria espiritual? Alcançando essa
sabedoria, nada mais temos a fazer. Não temos que empregar a
sabedoria espiritual quando a possuímos. “Na tua presença há
abundância de alegrias”, abundância de Luz e, nessa Luz, não há
trevas. Nunca precisamos nos preocupar com a cura das doenças

9. Zacarias 4:6.

27
ou como vencer o pecado ou a necessidade. Temos apenas uma
preocupação: conhecer a Deus, conhecer a natureza da presença e
da força espirituais, transformar esta Luz do mundo em manifes­
tação. Além disso, nada temos a fazer a respeito do pecado, en­
fermidade, necessidade ou limitação, porque na consciência da for­
ça espiritual esses problemas não existem.

Elevando-se Acima do Nível do Problema

Recentemente recebi uma carta contando-ine sobre uma parle


dos bens imóveis que o proprietário queria vender, explicando-me
como esta venda faria feliz e beneficiaria alguém. Imediatamente
ocorreu-me que no reino de Deus não há bens imóveis. Não pode­
mos levar um problema de bens imóveis a Deus, porque não há
bens imóveis ou problemas de bens imóveis em Deus. Um bem
imóvel não pode ser vendido pensando-se nele. Não podemos en­
contrar o problema no nível do problema. Devemos reconhecer
que, se Deus não sabe nada sobre bem imóvel, isso não é da nossa
conta. Tudo que somos obrigados a fazer é conhecer a Deus, trazer
à luz a força espiritual em nossa consciência.
Quando as pessoas me escrevem sobre emprego, conscientizo-
me de que no reino de Deus não há emprego; não há patrão e não
há empregado. Às vezes, de um ponto de vista metafísico, diz-se
que Deus é tanto patrão como empregado; mas, em Deus, só há
Espírito. O que estão fazendo é tentar remendar nosso conceito de
paraíso, e no paraíso não há patrão nem empregados.
“O Meu* reino não é deste mundo”.10 “Meu reino” não inclui
bens imóveis ou emprego. “Meu reino” contém a graça de Deus.
Então, o que é “Meu reino” que não é deste mundo? Eis uma per­
gunta a ser respondida no âmago da consciência. Tudo o que sabemos
sobre o reino de Deus é o que o Novo Testamento diz que não é
deste mundo. Tudo o que sabemos sobre paz espiritual é que este
mundo não pode oferecê-la. Se pensamos que vamos resolver nosso
problema e encontrar paz vendendo os bens imóveis ou conseguindo
emprego, tudo que estamos fazendo é nos perpetuar no sentido hu­
mano da vida, ao passo que, se pudermos descobrir dentro de nós

* As palavras “me”, “meu” “a mim” e "o meu”, escritas com letras


maiusculas, referem-se a Deus.
10. loão 18:36.

28
mesmos a natureza do poder espiritual, descobrimos o grande se­
gredo da vida.
Sempre houve diferentes formas e diferentes graus de força
material no mundo, desde o arco e flecha até a bomba atômica.
No século passado, também se levantou a questão da força mental
e de como fazer uso dela: como praticá-la para ganhar amigos,
influenciar e controlar outras pessoas. Mas em relação à força es­
piritual, estamos lidando com uma força desconhecida do espírito
humano, porque este último não pode compreender ou receber a
sabedoria espiritual. “O homem natural”,11 o espírito carnal, “não
está sujeito à lei de Deus, nem, em verdade, pode estar”.1112
A mente humana não pode conhecer a lei de Deus. Como,
então, eu e você havemos de conhecê-la? Primeiro, temos que parar
de pensar em termos de bens imóveis, empregos, febres ou germes,
necessidade ou abundância, enfermidade ou saúde, pureza ou pecado
e todas as coisas que dizem respeito a este mundo e ao ser humano,
à “criatura”.13 Temos que nos voltar para o nosso interior: Qual
é a natureza da minha identidade com Cristo? Qual é a natureza
do meu Eu criado à imagem e à semelhança do Deus?

A Natureza da Individualidade Espiritual

Ninguém duvida por um instante de que alguma parte de nós


foi feita à imagem e semelhança de Deus. Alguma parte de nós
deve ser divina; alguma parte de nós deve ser a filha espiritual de
Deus que recebe as coisas d’Ele e conhece o Pai face a face. Há
alguma parte de nós que pode dizer: “Eu vivo, não mais eu”, —
eu tenho presença e força espirituais — “mas Cristo vive em
mim”.14
A tarefa de cada um de nós é voltar-se para dentro da questão:
Qual é a natureza da minha individualidade espiritual? Qual é a
natureza de minha filiação, minha filiação espiritual, minha filiação
divina? Qual é a natureza do “mim” que Deus criou à Sua própria
imagem e semelhança? Qual é a natureza do filho de Deus, a quem
o Pai diz: “Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas

11. I Coríntios 2:14.


12. Romanos 8:7.
13. Romanos 8:20.
14. Gálatas 2:20.

29
são tuas”?15 Deus não o está dizendo a mim como um ser humano,
porque na condição de homem eu não tenho todas as graças, ofe­
rendas, saúde e harmonia de Deus.
Mas há uma parte de mim que recebe as graças divinas de
eternidade a eternidade. O amor de Deus não muda; as dádivas
de Deus são eternas. Assim, sondamos profundamente nosso inte­
rior para o mistério da vida, e cada um de nós deveria mergulhar
dentro de si e perguntar: “Quem sou? O que sou? Quem sou à
imagem e semelhança de Deus? O que sou à imagem e semelhança
de Deus? O que sou como o filho de Deus? No que me concerne
o que está recebendo a graça de Deus de eternidade a eternidade,
e que nunca esteve e nunca estará sem ela? Que parte de mim é
a individualidade espiritual, que é herdeira de Deus, que vive “não
por força nem por violência”, mas pelo Espírito de Deus que está
em mim? Essa é a natureza de nossa busca e o que ela deve ser.
Na presença da soberania com que Deus nos dotou, não há
problemas, pecados, necessidade ou doença a superar. “Nem a
morte, nem a vida. .. poderá nos separar do amor de Deus”.16
Do ponto de vista de nossa condição humana, estamos todos sepa­
rados do amor de Deus. Então, o que é esta pessoalidade de Cristo
em nós que nunca pode ser separada do amor de Deus, da vida
de Deus, da imortalidade de Deus, do ser infinito de Deus? Vamos
começar a descobrir a natureza da pessoalidade de Cristo e da so­
berania que Deus nos deu no princípio, que nunca foi tirada de
nós e que ainda temos em nossa identidade espiritual.
Qualquer que seja a medida da qualidade messiânica que tra­
zemos à luz, torna-se uma lei de restabelecimento para as pessoas
que se voltam para nós. Qualquer que seja a medida de autonomia
espiritual que podemos alcançar, resolve e dissolve os problemas
dessas pessoas. Qualquer que seja a medida da sabedoria ou graça
divina que pode ser revelada em nós, torna-se uma lei de harmonia
e paz para elas. Na medida da realização da sua qualidade messiâ­
nica, elas, por sua vez, se tornam uma lei de harmonia na família
e na comunidade. Finalmente, sua influência propaga-se mais longe
no mundo na razão da medida de realização da natureza de sua
individualidade espiritual, da natureza de sua autonomia espiritual
e da natureza da Luz espiritual que são.

15. Lucas 15:31.


16. Romanos 8:38-39.

30
Se pudermos trazer à luz alguma medida de realização de
nossa natureza cristã, de nossa individualidade cristã, e alguma me­
dida de realização da autonomia espiritual com a qual fomos dota­
dos no princípio, teremos uma enorme influência em nossa comu­
nidade e no mundo inteiro.
Somos pioneiros na tarefa de levar a natureza do poder espi­
ritual a incidir sobre os eventos humanos. Como alunos do Caminho
Infinito, nossa função principal é apreender a natureza do poder
espiritual e então levá-lo para efetiva experiência na terra. Quando
inicialmente chegamos a um meio de vida espiritual ou metafísico,
nosso principal objetivo foi encontrar soluções para nossos próprios
problemas. Não há nada de errado nisso. Era assim que tinha de
ser, porque ao encontrar um meio de resolver nossos próprios pro­
blemas, aprendemos que recebemos suficiente força espiritual para
auxiliar os outros a resolver os seus.

A Evidência do Poder Espiritual

Ocorre um fato estranho neste estágio de nosso desenvolvi­


mento. Começamos a ver que já não é necessário estar trabalhando
em nossos próprios problemas porque, primeiro, temos tão pouco
deles e, segundo, nossos problemas têm um modo de desaparecer
sem qualquer reflexão pessoal sobre eles; assim, nossa vida final­
mente é gasta em função dos outros. Abandonando nossos próprios
problemas e devotando-nos aos outros, já não temos problemas e
os poucos que aparecem são resolvidos rapidamente. Este é um
princípio de vida.
Podemos dar um passo além e descobrir que atrás desse prin­
cípio há um ainda maior: nossas necessidades são encontradas na
proporção de nossas dádivas. Nossas dádivas espirituais constituem
a verdadeira substância e atividade de nossas provisões. Quanto
mais damos, mais temos; quanto mais exercemos nossa autonomia,
mais autonomia temos. Este princípio espiritual age em cada nível
de nossa existência.
Entra nisso um princípio ainda maior: quanto mais consciência
da dádiva tivermos, menos evidência há do eu. Logo aprendemos
também que a eliminação total de nossos problemas vem com a
eliminação de nosso pequeno eu, essa individualidade separada de
Deus, essa individualidade pessoal. Abandonando isso, alcançamos
o estado de consciência de nosso verdadeiro Eu.

31
Se você me pedisse ajuda, eu estaria pensando em termos de
presença espiritual, força espiritual, sabedoria divina e vida divina.
À minha consciência, chegaria a verdade de que Deus constitui ser
individual: Deus constitui seu espírito, sua vida, sua alma; Deus
é a lei para seu ser. Deus é o legislador. Deus é a atividade para
sua experiência. E, porque Deus é infinito, nenhuma outra força
pode permanecer como força. Todas as outras forças se dissolvem
na luz da Luz.
Pela verdadeira natureza do filho de Deus, deve haver uma
ausência de pecado, morte, necessidade e limitação. O filho de
Deus ressuscitado é a Luz do mundo. Portanto, se o filho de Deus
é concebido aqui e agora, a Luz do mundo é reconhecida aqui e
agora. E neste reconhecimento da Luz, os gritos de socorro seriam
ouvidos e a liberdade se manifestaria. Mesmo que não tivéssemos
dado atenção a nós mesmos em qualquer parte desta oração, me­
ditação ou tratamento, se o Cristo é compreendido, nossos próprios
problemas teriam que desaparecer no mesmo instante que os deles,
porque incluiriamos ambos naquela Luz. Não poderiamos manifes­
tar a Luz e estamos nós mesmos separados dela.

A Compreensão da Presença de Deus Como Onipresença

Assim como nós reconhecemos a Onipresença, isto é, a pre­


sença de toda a sabedoria e conhecimento espiritual, reconhecemos
que ela não pode ser confinada em uma sala ou lugar. Nosso Cristo
concebido tem um modo de penetrar pelas fendas, entrando pela
parede assim como o Mestre. Quando anunciamos a Onipresença,
isto é, a sabedoria espiritual infinita, não estamos falando simples­
mente sobre a sua ou a minha sabedoria. Estamos falando sobre
Onisciência, toda a Sabedoria, e que teria que ser a sabedoria de
todas as pessoas em toda parte de nossa cidade, comunidade, nação
e mesmo do mundo.
Quando estamos em oração ou meditação, não estamos sen­
tindo a presença de Deus em nós, mas a Onipresença, toda a Pre­
sença, em toda parte, igualmente. Desse modo, não podemos per­
der de vista nossa individualidade pessoal no reconhecimento de
nossa Individualidade divina, que é a Individualidade de cada indi­
víduo. E, assim, podemos trazer a Individualidade divina para perto
de nós. Então, em toda parte, há maior evidência de uma Sabedoria
divina, um Poder divino, uma Presença divina, mesmo que a maio­
ria das pessoas não saiba por que, como ou para quê.

32
Há uma razão espiritual para isso, que é importante compreen­
der. Todo mundo na face na terra, sem exceção, está buscando
a Deus ou um conhecimento de Deus. Não faz diferença como a
pessoa falaria dessa busca, mesmo que ela fosse negativa por afir­
mar que não existe Deus. Mas isso seria como algumas pessoas que
assobiam, quando andam pelo cemitério. Elas assobiam porque
estão tentando se convencer de que não há fantasmas. Entretanto,
com o assobio elas estão evidenciando o seu medo ou sua crença
neles. Uma razão pela qual os ateístas negam a existência de Deus
é que eles acreditam que há um Deus que não querem encarar,
sem levar em conta nossos amigos ateístas por enquanto, se uma
pessoa é católica, protestante, judaica, vedantista ou um seguidor
de qualquer outra religião, há uma busca, uma ânsia, um impulso,
interior para conhecer e encontrar a Deus. Se não houver nada
mais, há a esperança de que Deus pode revelar-Se ou fazer-Se
evidente. É esse desejo secreto do coração que torna todo indivíduo
receptivo à oração e meditação, onde quer que vá. No íntimo, ele
está desejando alguma orientação divina no sentido de saber o que
é direito, o que é necessário ou o que há no futuro. Todo mundo
deseja ardentemente conhecimento maior do que o seu próprio,
sabedoria maior do que sua educação ou experiência têm dado.
Enquanto este impulso estiver dentro do indivíduo, ele está orando
e, enquanto ele estiver orando, haverá uma resposta à sua súplica.
Nossa oração pela paz é uma súplica de orientação espiritual.
Enquanto estivermos conseguindo algo maior do que nós mesmos,
receberemos orientação. Mas enquanto estamos recebendo orienta­
ção, nossos próprios problemas terão desaparecido porque a natu­
reza deles foi, antes de tudo, uma ilusão. E nossa habilidade para
ignorá-los e voltar para a realidade espiritual deu a essa inexistên­
cia uma oportunidade para dissolver-se no nada que é. É só en­
quanto estamos tratando de problemas que os perpetuamos. É este
o motivo pelo qual em nosso trabalho nos desviamos do problema,
para a realização do estado de consciência espiritual, isto é, a rea­
lização interior da identidade, da lei e da vida espirituais. Então,
quando abrimos os olhos, o problema foi embora ou está de saída.
Neste estágio de nosso desenvolvimento espiritual, enquanto
ainda queremos ver nossos pecados individuais, doenças e necessi­
dades desaparecerem, sabemos, pelo menos, que eles desaparecerão
apenas na proporção em que pudermos afastar nossa atenção deles
e começarmos a compreender a onipresença da Graça infinita. Não
há uma Graça divina que trabalha para você e para mim. A Graça

33
divina é infinita em sua natureza e age em favor dos filhos de Deus,
universalmente. Quando uma pessoa pergunta por que esta Graça
sonega alguma coisa dela, é porque não está afinada com ela e não
compreende a natureza universal da Graça.

A Finalidade Suprema da Revelação do Poder Espiritual

Quando começamos a orar por nossos filhos, nossa família,


nossos vizinhos, quando ouvimos, vemos ou lemos sobre homens
e mulheres reunidos para algum propósito nacional ou internacional,
ou quando oramos pela realização da Onipresença, Onipotência e
Onisciência, estamos orando pela liberdade deste mundo. Mas, por­
que estamos no mundo, nossas orações trarão nossa liberdade tam­
bém. Não vamos pensar que podemos orar pela nossa liberdade,
omitir o mundo e ter nossas preces atendidas. Não podemos pedir
para a luz divina brilhar só em nosso jardim. Devemos orar para
que o sol brilhe e deixá-lo brilhar nos jardins de nossos amigos e
de nossos inimigos. Não podemos pedir a Deus a solução para
nossos problemas e abandonar o resto. Não há Deus que ouça tais
pedidos.
Deus é amor. Deus não ama ninguém isolado e separado do
resto. Quando compreendemos o amor de Deus, nós compreende­
mos um ao outro. Mesmo que pudéssemos curar uma ou outra
pessoa aqui e ali do mal do câncer, de que serve isso afinal se,
através da revelação do poder espiritual, podemos fazer o câncer
desaparecer da face da terra? Como seria insignificante a vida de
um indivíduo, se ele pudesse conseguir completa harmonia sem
se importar com o resto da humanidade!
Que grandeza tem a vida individual dedicada à compreensão
da Onipotência, Onisciência e Onipresença! Com essa compreensão,
as tempestades poderíam desaparecer e não se manifestarem mais,
porque elas não são um fenômeno da natureza como se acredita
cientificamente. As tempestades são fenômenos da consciência hu­
mana. Onde a consciência humana está em paz, as tempestades não
acontecem. Podemos provar isso em nossos lares. Se encontramos
a paz interior, as tempestades no lar e na família desaparecem. É
necessário apenas que um indivíduo em família encontre a paz in­
terior para transformar completamente a família.
Finalmente, a doença desaparecerá da face da terra. Até ago­
ra, quando a cura de uma doença é descoberta pela medicina, uma

34
outra enfermidade geralmente surge para tomar o seu lugar. Isto
é porque a doença não pode ser eliminada da consciência humana,
visto que a consciência humana crê em duas forças e deve sempre
demonstrar sua crença. Enquanto acreditarmos no bem e no mal,
teremos períodos positivos e períodos negativos. Enquanto a cons­
ciência humana for indulgente ao ódio, ao ciúme ou à animosidade,
eles se manifestam em alguma forma de doença. Se o mal for sa­
nado de uma forma, ficará arruinado de outra, porque a causa é
a consciência humana e sua crença nas duas forças.

A Purificação de Nosso Estado de Consciência

À doença é sanada, quando a consciência é purificada e isso


é verdade individual e coletivamente. Quando permitimos que nossa
consciência esteja em harmonia ou alinhada com o poder espiritual,
a doença, o pecado, o medo e a necessidade são eliminados dela.
Não podemos rogar a Deus para nos dar força espiritual a fim de
afastar nosso problema, enquanto a causa dele permanecer e a causa
é sempre a consciência humana. Portanto, devemos elevar nossa
consciência a Deus. “E Eu, quando for levantado da terra, todos
atrairei a Mim*”,*17 se nós elevarmos nossa consciência para a filia­
ção divina e deixarmos a Luz espiritual tocar nossa consciência e
libertar-nos do ódio, da animosidade, do temor e do ciúme, não
encontraremos doença, necessidade e medo. Então, todo nosso tra­
balho será harmonizar nossa consciência com o divino, franquean­
do-nos para a realização da Onipresença, Onipotência e Onisciên-
cia, orando com o coração: “Tua vontade seja feita em mim, não
a minha”.
Então, devemos abandonar qualquer um dos conceitos que
foram recebidos: conceitos intersubjetivos, conceitos do mundo,
conceitos de toda a humanidade. Por exemplo, eu e você, como
seres humanos, temos recebido idéias de outras pessoas, de outras
raças, de outras nações, todas falsas. Nós não sabíamos disso na
ocasião, mas a maioria de nós o sabe agora. O preconceito foi des­
medido antes da Primeira Guerra Mundial. Houve preconceito de
cor e preconceito religioso e ideologias políticas que induziram as
pessoas a lutar umas com as outras. Essas ideologias não eram
necessariamente certas ou erradas, mas preconceito resultante dos
motivos que atribuímos àqueles que os defendiam.
* Mim com maiuscula, porque se refere a Deus.
17. João 12:32.

35
Devemos eliminar de nossa consciência o ódio, o medo e a
desconfiança, através do conhecimento de que eles representam
simplesmente nossos falsos conceitos uns dos outros. Quando nos
dispusermos a renunciar a estes e reconhecer que na essência do
ser de cada um de nós reside o mesmo filho de Deus, nos afinare­
mos com os princípios espirituais e começarão a resultar as curas.
Não temos que pedir a Deus para curar-nos. Houve milhões de
pessoas que morreram enquanto oravam, pedindo a Deus para
curá-las. Tudo o que precisamos fazer é começar a amar nosso
semelhante como a nós mesmos e, desse modo, colocarmos nós
mesmos em harmonia com as leis de Deus para que elas possam
atuar.
As leis de Deus não podem atuar em uma consciência cheia
de falsos conceitos. Devemos nos harmonizar com o divino. Se
olharmos para as pessoas e virmos todas as suas diferenças huma­
nas, em breve gostaremos de algumas e não gostaremos de outras;
vamos confiar em algumas e desconfiar de outras. Teremos tantas
diferenças, que nossa própria cabeça ficará confusa.
Se, contudo, pudermos reconhecer que, apesar das aparências,
a Divindade é a natureza do ser de cada pessoa e que Deus nos
fez à Sua própria imagem e semelhança, estamos conhecendo a
verdade sobre todas as pessoas. Se alguém está representando ou
não aqui na terra, não é da nossa conta; e se estivermos cientes de
qualquer pecado em outra pessoa, ao invés de participar do julga­
mento, deveriamos praticar, no íntimo, o princípio do Novo Tes­
tamento: “Não julgueis para que não sejais julgados”.18
Portanto, não julgaremos; tomaremos a atitude: “Pai, per­
doa-lhes, porque não sabem o que fazem”.19 Estamos percebendo
que toda pessoa é um ramo da mesma árvore, a Árvore da Vida.
Nisso não há julgamento, não há crítica. Há perdão “setenta vezes
sete”,20 perdão e uma oração para que seus olhos estejam abertos.
Isso é nossa própria harmonia com o Divino, tornando-nos recep­
tivos à cura, à Graça e à proteção divinas, porque eliminamos
nossos conceitos humanos das pessoas e as estamos vendo como
imagem e semelhança de Deus, vendo-as espiritualmente como o
verdadeiro Cristo de Deus. Nós não estamos usando nosso julga­
mento humano; estamos usando nossa intuição espiritual para reco­

18. Mateus 7:1.


19. Lucas 23:34.
20. Mateus 18:22.

36
nhecer que Deus fez todos nós à sua própria imagem e semelhança,
considerou-nos e achou-nos bons.
Não há nada em nós de crítica, condenação, julgamento e,
portanto, nossa consciência está aberta para receber a graça de
Deus. Se nós acreditamos que há duas forças, estamos levantando
uma barreira em nossa própria consciência. Se, contudo, estamos
compreendendo a Onipotência, a Onisciência e a Onipresença, es­
tamos novamente em harmonia com o exercício do poder espiritual,
com a sabedoria espiritual.
Na proporção em que nos identificamos com princípios reve­
lados nos ensinamento do Mestre, nossa consciência está imbuída
de poder espiritual do Alto. Acreditamos em Jesus Cristo como
sendo a alma mais iluminada que já passou pela terra, porque
nunca ouvimos ou lemos sobre qualquer mau sentimento em sua
natureza. Ele foi dotado lá das alturas com poder espiritual, porque
tinha esse grau de consciência preparado para recebê-lo. Ele não
alimentou dentro de si mesmo crítica, julgamento, antagonismo ou
desejo de beneficiar-se com o poder temporal. Ele não tinha den­
tro de si qualquer desejo de ver alguém punido, não obstante o
pecado. Em outras palavras, sua consciência era pura. Portanto,
ela poderia ser a transparência para a presença e o poder de Deus.
O Mestre mandou-nos ser e agir à sua semelhança, mas não
podemos ser dotados de poder espiritual, enquanto nos apresen­
tarmos a este mundo com uma disposição carnal. Apenas na me­
dida em que podemos orar um para o outro, amigo ou inimigo;
apenas na medida em que podemos compreender a Onipotência, a
Onisciência e a Onipresença universalmente, é que nossos proble­
mas são desfeitos e nossa consciência se torna uma transparência
para o poder espiritual que nos habilita a curar, regenerar, perdoar
e satisfazer os outros.
Até que possamos nos transportar àquele lugar onde estamos
dispostos não só a curar, mas a alimentar e vestir multidões, até
que estejamos dispostos a ser usados para espalhar este suprimento
de dólares ou coisa que o valha, não estaremos abrindo nossa cons­
ciência para o dom espiritual, porque o espiritualmente dotado não
recebe: eles são os meios pelos quais é dada a graça divina. En­
quanto estamos orando para receber, estamos obstruindo a força
espiritual.
Quando estamos orando, “Pai, eu estou'desejoso de curar e
alimentar as multidões. Deixe apenas Sua graça fluir”, nós a encon­

37
traremos fluindo. Que engano é a crença de que nós podemos orar
para obter algo para nós mesmos, quando realmente podemos re­
ceber somente quando estamos orando a fim de dar, compartilhar
e multiplicar. O resultado dessa oração egoísta é que formamos um
ego, um sentimento pessoal e então procuramos Deus para aumen­
tá-lo. Deus não amplia a sua ou a minha fortuna pessoal, por mais
que queiramos que Ele faça isso. Só quando começamos a derra­
mar até mesmo o pouco que temos, é que a nossa própria fortuna
aumenta além de qualquer medida possível de nossas próprias neces­
sidades.
Nessa idade, a força espiritual e a natureza de sua tarefa são
descobertas. À medida que continuamos a aprender cada vez mais
sobre a força espiritual, nos prepararemos para ser instrumentos
dignos de seu fluxo — não tanto para seu bem ou o meu, mas
para que o mundo inteiro possa estar envolvido pelo amor divino.
Então você e eu partilharemos dele porque somos partes desse
mundo.

3
Poder Espiritual Revelado

Quando as pessoas chegam ao desespero, seus ouvidos mais


uma vez estão sintonizados para ouvir a Palavra do interior e seus
olhos estão abertos ao poder espiritual. Em período de prosperidade
temporal e poder temporal, isso é esquecido. Dá-se muito pouca
atenção ao fato de que em toda época a fé foi identificada nos po­
deres material ou temporal. Deve ser surpreendente àqueles que con­
fiam totalmente no poder material ler a história dos faraós e com­
preender que os hebreus, sem armas, munição, exército ou recursos
financeiros, escaparam de seus soberanos, que tinham ouro e prata,
soldados, cavalos e armamentos. Sem armas, tesouros, celeiros ou
qualquer tipo de poder temporal, o Mestre elevou seu povo acima
da autoridade dos Césares e lhe revelou a natureza da verdadeira
liberdade e abundância.
Desde aqueles tempos, temos visto a ascensão de desapiedados
ditadores e o aperfeiçoamento de poderosos exércitos e marinhas.
Houve grandes concentrações de força e riqueza em alguns países.
Certamente, com tudo isso, parecería que não havería fim para esses
reinos poderosos, mas nós temos que aprender história somente para
ver como todo esse poder tombou e tomou-se nada. Sempre chega a
hora de o poder temporal fracassar, quando os mais poderosos caem

38
e quando aqueles dos quais tudo parecería indicar que nunca esca­
paríamos demonstram sua fraqueza. Quem teria acreditado que os
russos poderíam se livrar de seus czares? Tal façanha deve ter sido
inimaginável com todos os exércitos, poder e riqueza com que os
czares contavam. E, no entanto, em pouco tempo o poder extin-
guiu-se.

Um Mundo Perseguido Pelo Medo

Hoje parece termos esquecido a história. Nós nos permitimos


experimentar o medo e a dúvida, dúvida de que sobreviveremos ou
de que a liberdade sobreviverá. Por mais que tenhamos poder tem­
poral, temos medo de confiar e por mais poder temporal que al­
guém tenha, estamos sendo preparados para temer. Isso é porque
esquecemos que o poder temporal nunca é um poder, quando o
poder espiritual está em cena. Nós nos esquecemos completamente
dos três anos de ministério de Jesus Cristo, no qual enfrentou todo
tipo de tentação, todo tipo de poder e provou sua inutilidade. Pro­
vou que o pecado não significava nada em sua presença, assim
como a doença; a própria morte foi dominada. Ele quase riu quan­
do Pôncio Pilatos disse: “Não sabes tu que tenho poder para te cru­
cificar e tenho poder para te soltar?” Jesus respondeu: “Nenhum po­
der terias contra mim, se de cima te não fosse dado.” 1
As pessoas hoje no mundo inteiro estão cheias de aflição. Eu
não estou me referindo apenas à ameaça das ditaduras alienígenas.
Isso é apenas uma faceta do perigo hoje. Para alguns, a ameaça
principal é a paz, porque nos períodos de paz surgem questões de
como manter as pessoas empregadas, de como conservar o cresci­
mento da economia e de como satisfazer as folhas de pagamento.
Tudo isso gera o medo de uma depressão, porque a paz tem pro­
blemas também com os bilhões de dólares não gastos em armamen­
tos e bilhões de dólares em folhas de pagamento não existentes.
Além disso, há sempre alguma nova doença fatal para preocupar.
De todo lado, nós somos ameaçados ou pelo poder temporal ou
por sua deficiência; mas, quando todas essas forças temporais estão
ameaçando nos tragar, é hora de lembrar-se não só que o poder es­
piritual age, mas como age.
Desde o tempo de Cristo, houve pouca evidência de que al­
guém tivesse qualquer conhecimento do poder espiritual. De fato,
1. João 19:10-11.

39
desde aqueles tempos, o poder espiritual, para todos os intentos e
propósitos, não tem estado em ação em nosso mundo. Seu segredo
se perdeu alguns séculos depois do Mestre. O nosso, contudo, é
o século em que o poder espiritual deve ser revelado.

A Natureza do Poder Espiritual

Para conhecer a natureza do poder espiritual, devemos prati­


cá-lo. Se falarmos de água, não extinguiremos a sede; devemos
bebê-la. Se falarmos de alimentos, nunca satisfaremos nosso estô­
mago; devemos comê-los. Assim ocorre com o poder espiritual. Pode
ser descrito para nós, mas isso não o fará agir em nossa experiên­
cia. Para apreender sua natureza e processo, devemos incorporá-lo,
praticá-lo e trazê-lo para nossa experiência.
No estado materialista da consciência, conhecemos e compre­
endemos a matéria e os valores materiais, as forças e os poderes
materiais, mas Jesus Cristo, que trouxe para o mundo a mensagem
cristã, provou que há uma outra dimensão. Quando ele disse: “Dei­
xo-vos a paz, a minha paz vos dou: não vo-Ia dou como o mundo
a dá”,2 ele estava falando da paz que vem de uma outra dimen­
são. Em sua afirmação: “O meu reino não é deste mundo”,3 é
claro que o reino de Cristo não consiste de mais carros de batalha,
mais cavalos, mais aviões, mais armamentos, mais ouro e mais pra­
ta. “Meu reino não é deste mundo” e, ainda, “Meu reino” domi­
na “este mundo”, sem couraçados, sem bombas e sem as armas de
guerra do poder temporal.
O mundo religioso esteve tentando durante séculos obter o po­
der do Espírito para fazer alguma coisa pelo poder da matéria. Mas
não trouxe paz à terra; não eliminou os armamentos do mundo
e os transformou em “foices”.4 Nós cometemos um erro: o poder
espiritual não é para ser usado para vencer o poder material. O
poder de Deus não é para ser usado para vencer os pecados e do­
enças do mundo.
A natureza do poder espiritual é onipotência e o único meio
de que dispomos para atrair o poder espiritual para nossa vida é
observar qualquer fase do poder material — discórdia, desarmonia,

2. João 14:27.
3. João 18:36.
4. Isaías 2:4.

40
necessidade ou doença — e conceber: “Não tens poder! Nenhum
poder terias contra mim, se de cima te não fosse dado!”
O Mestre não invocou o poder do Espírito para acalmar uma
tempestade, ele simplesmente disse: “Cala-te, aquieta-te.” 5 Deus
está no furacão; Deus não está na matéria; Deus não está na força
ou nos poderes materiais; Deus não está na temporalidade. Deus é Es­
pírito e, além d’Ele, não há poderes.
Provamos isso em muitas fases de nossa vida. Dezenas de mi­
lhares têm sido curados neste século, não pelo uso do poder de
Deus de eliminar uma doença, não recorrendo ao Espírito para
poder vencer as condições materiais, mas compreendendo silencio­
samente que além de Deus não há poder. Temos testemunhado isso
em nossas relações comerciais — nunca pela disputa, nunca pela
pressão de uma campanha, mas sempre do mesmo modo, isto é,
silenciosamente, pacificamente compreendendo: “Além de Deus não
há nada mais.”
Nós tentamos chegar a Deus para conseguir que Deus faça
algo para alguma coisa que não tenha poder. Tentamos fazer uso
da Verdade. Isso não pode ocorrer. Não fazemos uso da Verdade;
não fazemos uso de Deus. Isso seria fazer de Deus um servo. Deus
não é nosso servo. Deus não é para ser usado. Deus é para ser
compreendido. A Verdade não é para ser usada. A Verdade é
para ser compreendida. j

A Insensatez da Luta Pelo Poder Temporal

O Mestre eliminou a doença, a morte e o pecado. É vontade


de Deus que sejamos integrais, completos, perfeitos, eternos, imor­
tais, inocentes e puros. Não somos porque, em vez de compreen­
der que a verdadeira natureza de Deus é onipresença e onipotên­
cia e permanecer silenciosa e pacificamente nessa verdade, nós
vivemos à procura de Deus para que faça algo, como se Deus
pudesse fazer algo hoje ou amanhã, que ele deixou de fazer on­
tem. Se Deus pudesse ter superado nossos problemas particulares,
ele o teria feito, porque é vontade de Deus que vivamos. “Porque
eu não tomo prazer na morte do que morre, diz o Senhor Jeová:
convertei-vos, pois, e vivei.” 6 “Porque eu desci do céu, não para
fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.” 7
5. Marcos 4:59.
6. Ezequiel 18:32.
7. João 6:38.

41
Deus foi o mesmo ontem, é hoje e será para sempre, de eter­
nidade em eternidade. Não podemos induzir a Deus a fazer algo
amanhã. Dois vezes dois sempre foi quatro: mesmo Deus não pode
mudar isso amanhã. Isso tem sido de eternidade em eternidade e
assim será para sempre.
Nunca houve tempo em que Cristo não foi entronizado em
nossa consciência: “Antes que Abraão existisse eu sou.” 8 “Eu es­
tou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.” 9 Nós
buscamos um poder, um poder divino, um poder de Cristo e ei-lo
aqui. O segredo do poder espiritual é simples. Ao dizer: “Não
resistais ao mal”,101 Jesus não quis dizer para sermos devo­
rados por ele. Ele estava reconhecendo a verdade de que o mal
não é o poder que parece ser. Quando ele disse: “Mete no seu
lugar a tua espada... porque todos os que lançarem mão da es­
pada à espada morrerão”,11 ele não quis dizer: “Mete no seu lugar
a tua espada até 1980 e então saque-a.” Ele falou da espada no
sentido de poder temporal. Não faz diferença se é uma espada
ou uma bomba, se é uma grande quantidade de ouro ou muito
pouco. Ele está falando sobre abandonar o poder temporal, sem
resistir ao mal, parando de combater o gênio do mal e aprendendo
que o mal não é poder. Por que combater o espírito carnal ou
mortal? Eles não constituem poderes. Deus é Espírito e Deus é
onipresença; portanto, o Espírito é onipotência, todo poderoso.
Podemos provar isso. Podemos levar um dia, uma semana ou
um mês, porque estamos acostumados a procurar forças com as
quais fazer algo. Antes deste século, existiu poder material. Em­
bora ainda procuremos poder material, neste século estamos procu­
rando também poderes mentais e espirituais. Há poder espiritual,
mas ele não age porque: “Como as aves voam, assim o Senhor dos
Exércitos amparará a Jerusalém: ele a amparará e a livrará, e, pas­
sando, a salvará.” 12
Este poder espiritual cria, permanece e conforta, mas se pu­
dermos ser motivados a aceitar a crença em dois poderes, começa
a dificuldade. Começou assim para Adão. Ele realmente conhecia
a verdade de que só há um único poder e era muito feliz com
esse conhecimento; mas, então, comeu o fruto da árvore do co­

8. João 8:58.
9. Mateus 28:20.
10. Mateus 5:39.
11. Mateus 26:52.
12. Isaías 31:5.

42
nhecimento do bem e do mal, isto é, dois poderes. O momento em
que assim procedeu, ele tinha que procurar um Deus para fazer
algo quanto à força do mal. Nós estamos procedendo assim desde
então, vivendo uma vida adâmica, sempre buscando uma força para
fazer algo quanto aos males que nos importunam, mesmo que esses
males não sejam poder, exceto em nossa aceitação deles como po­
der.
Nós tememos os mortais e tudo o que eles nos poderíam fa­
zer. Depositamos nossa fé em tudo, desde o machadinho de guer­
ra até a bomba atômica. Quando a bomba atômica foi inventada
e usada, parecia que tínhamos descoberto a derradeira força e
nunca mais havería dificuldades na terra. Mas quanto mais poder
nos empenhamos para obter, mais poder é necessário para domi­
ná-lo; e então mais poder será necessário para dominar aquele.
É semelhante às drogas. Uma pessoa começa a fazer uso de uma
pequena quantidade, mas essa quantidade é continuamente aumen­
tada porque, quanto mais se usa, tanto mais se necessita da
próxima vez.

A Prova de que o Poder Espiritual é o Poder Absoluto

Pelofato de temermos, há séculos, diferentes tipos de forças,


até mesmo o poder da prata e do ouro, pode levar uma, duas, três
ou quatro semanas para corrigir a nós mesmos até podermos estar
alertas a todo e qualquer tipo de erro que tememos — o pecado,
a doença ou as bombas — e compreender: “Pai, perdoai-me, pois
eu não sabia o que estava fazendo.” Com o completo ministério
de Jesus Cristo, com dois mil anos neste mundo, como pode ser
que não acreditamos que temos o Senhor Deus Todo-Poderoso?
Por mais que procuramos usar o poder espiritual em algo ou
alguém, nunca poderemos provar sua verdade. O segredo dele está
na compreensão de que ele é o poder máximo e não há outros. Va­
mos iniciar com coisas simples, alguma coisa que não nos ame­
dronte, que nos conduza gradualmente às questões mais sérias da
vida e possa provar, nos abstendo do uso da força, mesmo da ten­
tativa de usar o poder divino, que não há poderes aqui fora.
Esta é a revelação da natureza do poder espiritual, como me
foi dada, baseado em trinta anos de demonstração e prova de
que o mal não é um poder. É um poder apenas enquanto um in­
divíduo aceita dois poderes. Quando um indivíduo aceita a men­

43
sagem de Cristo: “Não resistais ao mal”, a nulidade do erro fica
provada, não obstante a forma que toma. Permanece conosco como
indivíduos.
Nós não podemos passar nossa vida inteira vivendo da ma­
nifestação de quem quer que seja. Mais cedo ou mais tarde, nossa
falta de compreensão, se continuar, nos apanhará. Devemos conti­
nuamente trazer à memória: “de agora em diante, eu estou acei­
tando a Deus dentro de mim, para que “se subir ao céu” ou “se
fizer no inferno a minha cama”,13 este Deus estará comigo. Se eu
passar pelo “vale da sombra da morte”,14 este Deus irá comigo
porque Ele está dentro de mim. Todo reino de Deus está dentro
de mim. Devemos fazer isso conscientemente.
O próximo passo é admitir conscientemente que Deus é todo-
poderoso — o todo-poderoso, o todo-poder, o Espírito. Não po­
demos ver o Espírito, ouvi-Lo, prová-Lo, tocá-Lo ou sentir Seu
odor. Temos que compreender que Ele existe, mesmo que não te­
nhamos prova material d’Ele. Temos que ter suficiente discerni­
mento espiritual para sentir dentro de nós mesmos que isso é ver­
dade e, então, temos que aprender a estar alerta às coisas que te­
memos e começarmos a compreender conscientemente: “Que ab­
surdo. O Todo-Poderoso está dentro de mim. O Espírito é o to­
do-poderoso e eu tenho medo do ‘homem cujo fôlego está no seu
nariz.’ 15 Eu tenho medo do álcool, eu tenho medo das enfermi­
dades, eu tenho medo do falso apetite, eu tenho medo do ateísmo,
eu tenho medo do comunismo e eu tenho medo do capitalismo.”
Que diferença faz o que nós tememos? Qualquer coisa que
seja, quando tememos, nós estamos reconhecendo uma outra força
que não a divina. Estamos considerando duas forças e, quando
temos duas, somos expulsos do Jardim do Éden e temos que ga­
nhar a nossa vida com o suor de nosso rosto, criar os filhos no
sofrimento e aprender como ser agressivos, porque, com duas for­
ças, nós estamos sempre procurando uma para socorrer a outra.
Mas, quando reconhecemos Deus como Espírito e Espírito como
o infinito todo-poderoso, já não procuramos uma força.

O Abre-te Sésamo

“Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades: os teus olhos


verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será derribada,
13. Salmos 139:8.
14. Salmos 23:4.
15. Isaías 2:22.

44
cujas estacas nunca serão arrancadas, e das suas cordas nenhuma
se quebrará... E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque
o povo que habitar nela será absolvido da sua iniqüidade.” 16 Os
males são perdoados para aqueles que habitarem na consciência
da presença de um Espírito todo-poderoso, perdoados no sentido
de serem apagados e esquecidos. Em outras palavras, o restabele­
cimento, de fato, significa ser perdoado. Ser curado de nossos ma­
les é realmente ser perdoado do pecado de dualidade, perdoado do
pecado de crer que há duas forças e que Deus não é força todo-
poderosa. Estamos sendo realmente perdoados da aceitação da cren­
ça de que há uma outra força que não a divina. O modo de sentir
esse restabelecimento é deixar de combater as circunstâncias, parar
de temer o “homem cujo fôlego está no seu nariz”, parar de te­
mer o orgulhoso, o fanfarrão, parar de temer o ruído das armas.
Eles se destinam apenas a amedrontar-nos, mas não podemos nos
preocupar, se tivermos um Deus todo-poderoso.
Como é possível a um povo, amante de Deus, constantemente
temer o ateísmo ou qualquer obra dele? O ateísmo não é uma força.
Não adianta simular que há um Deus em quem acreditamos, se
acreditamos também que o ateísmo é uma força.
Ninguém nunca tem chance de derrotar a Deus ou ao religioso.
Nós moraremos em habitações quietas e pacíficas, quando apren­
dermos, como disse Ralph Waldo Emerson, que os dados de Deus
estão sempre chumbados. Ninguém tem chance contra Deus, contra
o Espírito, contra o amor, a liberdade e a justiça. Ninguém tem
chance contra o disposto espiritualmente. Mesmo a doença não pode
deitar raízes no espiritualmente disposto. Ela pode aproximar-se
dele e ameaçá-lo, mas tudo que ele precisa fazer é estar atento e
compreender que: “Nós temos o Senhor Deus Todo-Poderoso”, vi-
rar-se e ir dormir, deixar que haja luz, deixar que haja liberdade,
deixar que seja revelado na Terra que Deus existe. Então, mesmo
o irreligioso observará as palavras de Deus e verá que Deus, e só
Deus, é poderoso.
Entre nós, Deus já sabe o que deve ser feito e é Seu grande
prazer dar-nos o reino, dar-nos liberdade, dar-nos alegria, dar-nos
abundância. Dar, dar! A palavra é sempre “dar”, mas temos que
ficar bastante quietos e confiantes para receber.
Uma vez que tenhamos tal vislumbre de Deus, teremos cap­
tado o significado do poder espiritual. Deixemo-lo ser nossa con­

16. Isaías 33:20-24.

45
tra-senha, nosso abre-te sésamo. Deixemo-lo ser o que abre todas
as portas para nós — poder espiritual. Não tentemos obtê-lo; não
tentemos fazer uso dele. Tentemos empregá-lo: apenas o compre­
endemos e relaxamos a tensão nele. Não estamos resistindo ao mal;
todavia, o mal desaparecerá. Ele se dissolverá. De um modo normal,
natural, a harmonia começará a existir.

A Conquista do Mundo

O tipo de hostilidade que poderia envolver o mundo hoje,


nunca poderia resultar em vitória para ninguém. Portanto, ninguém
em seu juízo perfeito vai dar início a quaisquer conflitos que nos
ameacem. A proteção necessária não são mais ou melhores bombas.
Eu não sou um pacifista e não estou tentando impedir ninguém
de fabricar bombas. Mas o mundo só será salvo pelo poder espiri­
tual, e ele vem apenas através da consciência dos indivíduos. Sem­
pre houve poder espiritual, mas até que chegasse através de um
Moisés, de um Elias, de um Jesus, de um Paulo ou de alguém
mais que alcançasse essa compreensão, não ficaria em evidência.
O poder espiritual governará esta terra através de nossa consciên­
cia individual, na medida em que não temermos o erro nem em­
pregarmos o poder espiritual contra ele, somente manifestando “o
poder espiritual” dentro de nós mesmos.
Algum dia teremos um corpo de pessoa deste mundo tocado
pelo Espírito. Eles se encontrarão e haverá paz. A paz virá pela
atividade do Espírito que está agora a circular pelo mundo, to­
cando pessoas de todos os países. Os que foram tocados pelo Espí­
rito estão auxiliando e podem auxiliar mais a despertar a humani­
dade para esse toque do Espírito por suas orações, pelo desempe­
nho das ações de Graça — absolvição, oração para o inimigo —
mas, acima de tudo, pela compreensão da natureza do Messias. O
Messias ensinou: “O meu reino não é deste mundo.” 17 “Mete no
seu lugar a tua espada; porque todos os que lançarem mão da es­
pada à espada morrerão.” 18
A maior parte das pessoas pensa em Deus como um Rei ab­
soluto. Elas até cantam hinos em louvor do Rei absoluto, o Rei
que sai à frente delas para matar os inimigos, o Rei que conquista
terras para elas. O resultado é que, quando os conquistadores saem

17. João 18:36.


18. Mateus 26:52.
com suas armadas, há sempre um sacerdote ou um padre para
abençoá-los, como se Deus sancionasse ou pudesse abençoar o con­
quistador de outros povos. Exércitos e armadas saem para matar,
e sempre se pode encontrar alguém para fazer uma oração para eles.
Tudo isso baseia-se nos errôneos ensinamentos dos antigos
hebreus de que Deus é um Rei todo-poderoso e que Sua atividade
é providenciar para que nossos inimigos sejam mortos e para que
sejamos vitoriosos. Devemos ser sempre vitoriosos, o que seria ver­
dadeiro se apenas pudéssemos ser vitoriosos como o Mestre ensi­
nou: “Eu venci o mundo.” 19 Ele não venceu o mundo de César
nem o mundo exterior. O que ele realmente quis dizer foi: “Eu
venci o mundo dentro de mim; eu venci a avidez, a luxúria, a am­
bição louca; eu venci a sensualidade, os falsos desejos, os falsos
apetites. Eu venci ‘este mundo’ dentro de mim.”
Mesmo quando vencemos espiritualmente o mundo, um ditador
desumano pode estar ocupando o trono do poder ou a bomba pode
ainda estar lá fora. Contudo, será verdade que vencemos o mundo,
porque não temeremos a bomba ou o ditador; não teremos medo
do pecado, da enfermidade, da tentação, da necessidade ou da li­
mitação. Vencemos o mundo porque fomos tocados pelo Messias,
e o filho de Deus foi despertado em nós. Depois de termos sido
assim tocados, podemos dizer: “Eu vivo, não mais eu, mas Cristo
vive em mim.” 20 “Posso todas as coisas naquele que me fortale­
ce.” 21 Quando o Cristo que habita em nós tiver ressuscitado, não
haverá necessidade de se preocupar com nossa vida, porque este
filho de Deus, em nós ressuscitado, irá, antes de nós, realizar cada
atividade de nossa existência.
Deus é Espírito e deve ser cultuado em espírito e na verdade.
Deus é Espírito e governa pelo amor, não pela destruição das coi­
sas, mas pela revelação mística da inexistência de qualquer outra coisa
que não a presença de Deus. Quando orarmos, não peçamos que Deus
faça algo, mas que o filho de Deus seja despertado em nós e governe
nossa experiência. Não peçamos ao Messias para derrotar nossos
inimigos ou nossos competidores. Oremos para que o Messias res­
suscite em nós como um espírito de amor, e assim será para nós.
Quanto mais nos estendermos na compreensão de Deus e de Cristo
como Espírito, maior será a manifestação de Cristo em nossa pró­
pria experiência.
19. João 16:33.
20. Gálatas 2:20.
21. Filipenses 4:13.

47
O perigo consiste no retorno às crenças antigas de que Deus
ou Cristo é alguma forma de poder e que uma vez que nos agar­
remos a Ele, poderemos até fazer desaparecer Houdini *. Podem
estar certos de que não conseguiremos. Não dominaremos quaisquer
inimigos. Não dominaremos quaisquer competidores. Apenas vive­
mos, nos movemos e existimos em uma paz alegre, em abundância
e benevolência. Viveremos pela Graça, em vez de viver pelo po­
der ou pela força. Todas as coisas são realizadas pelo Espírito, não
pelo poder ou pela força. É um Espírito nobre. Deus não está no
furacão, no pecado, na doença, nos falsos apetites. Deus não está
na pobreza. Deus está na “voz mansa e delicada”.22 Conduzir-nos a
uma vida sob a proteção de Deus, quer dizer levar-nos a uma vida
por meio da qual possamos ser tão silenciosos intimamente, que,
quando a voz mansa e delicada nos falar, será como se estivesse
trovejando.

Função de Cristo

Cristo não é algo fora de nós que tem que ser procurado.
Cristo é algo que já está dentro de nós, esperando atrair a nossa
atenção.
O que é o Cristo? O que é o Espírito de Deus no homem?
Qual o propósito de Deus em minha vida? Qual é a natureza da
Presença que segue à minha frente para guiar o meu caminho?
Qual é a natureza do Poder que apareceu para Moisés como Uuma
nuvem”, “uma coluna de fogo” 2324 e o “maná” 2h caindo do céu?
Qual é a natureza do Pai dentro de mim, que curou as doenças
para o Mestre? Qual é a natureza deste Cristo que está dentro de
mim e que me habilita a perdoar os pecadores? Qual é a natureza
deste Cristo que é o pão, a carne, o vinho e a água para mim,
a mulher na fonte e alguém que deseje vir até a mim?

Nesse plano de meditação, a resposta virá de dentro de nosso


ser, mas devemos abrir o caminho.
Este Cristo, este Messias, está dentro de nós. O Messias não
é um homem que vai chegar ou um homem que vai chegar uma

* Harry Houdini (1874-1926), mágico americano de teatro.


22. I Reis 19:12.
23. Êxodo 13:21.
24. Êxodo 16:15.

48
segunda vez. Este Cristo, este Messias, é o Espírito de Deus que
foi plantado em nós no princípio — não no princípio de nosso
intervalo sobre a terra, mas no princípio, quando éramos unos com
Deus, no princípio, quando éramos formados à Sua imagem e se­
melhança. Seu propósito é viver nossa vida, elevar-nos, redimir-nos,
preparar o caminho para nós, preparar mansões para nós. Foi-nos
dado no princípio. Ele agora está trancado debaixo de chave e
devemos abrir caminho para que Ele possa fluir para nossa expe­
riência.
Quando o Espírito de Deus estiver em nós, despertaremos para
a consciência mística. Estamos determinados a nos tornar cientes de
que o filho de Deus está entre nós:
Dentro de mim habita Algo, uma Presença, uma Glória. Não
está aqui para glorificar-me. Sua atividade é glorificar a Deus, pro­
var o que é a vida quando é dirigida, mantida e sustentada por
Deus.
Então nos tornamos testemunhas da graça de Deus, da pre­
sença de Cristo dentro de nós.
Só tenhamos o cuidado de não fazer de Cristo algum tipo
de poder temporal para nos ajudar a adquirir coisas temporais.
Vamos nos satisfazer com o fato de que Cristo é o Espírito em
nós e que podemos fazer tudo através cFEle, com amor, sabedoria,
com bom senso, eqüidade, misericórdia, igualdade e paz. A com­
preensão disto, e só disto, realiza “a paz que excede todo o enten­
dimento”.25 Não há meios de se obter paz neste mundo. Podemos
conseguir fama e riqueza e ter mais dificuldade do que esperamos.
Mas o Messias mostra a diferença: “Deixo-vos a paz, a minha paz
vos dou: não como o mundo a dá.”
Em termos humanos, não sabemos, e ninguém pode nos dizer,
qual é a natureza da paz. Minha paz é um estado de paz que nos
invade, não porque alguma coisa boa ocorreu no mundo exterior,
mas porque algo maravilhoso realizou-se dentro de nós. É como
se fosse uma garantia: “E m estou com você. Eu nunca o abando­
narei. Eu estarei com você até o fim do mundo.” Nós quase pode­
riamos cantar esse refrão, pela vida afora, uma vez que nos tor­
nemos cientes de que Cristo habita em nós. Agora, não há neces­
sidade de se preocupar, nem de temer. Há uma Presença invisível
guiando nosso caminho.
A paz na terra não será alcançada só pelos esforços humanos.
A paz na terra é uma dádiva de Deus que deve ser recebida pelas
pessoas dentro do templo de seu próprio ser.
25. Filipenses 4:7.

49
Não podemos saber por nossa própria índole pacífica, por
nossa própria inabilidade de batalhar um com o outro, até que
ponto Cristo penetrou na nossa Alma, até que ponto recebemos a
dádiva de Deus, seu filho. Cristo ressuscitado entre nós é uma
dádiva de Deus. Se ainda não O recebemos em grau suficiente,
ainda é possível. O caminho está dentro de nós. O caminho é a
introspecção, a meditação, a comunicação interior, o reconhecimento
de que o filho de Deus habita em nós e está sempre pronto a nos
dirigir a palavra. De fato, Ele está se dirigindo a nós mesmo quan­
do não O ouvimos. Ele tem estado clamando a nós através dos
tempos.
Vivemos pela palavra de Deus, não pelo pão nem pelo di­
nheiro. É pela palavra de Deus, que se transforma em carne, que
somos alimentados, vestidos e abrigados. É pela palavra de Deus
que uma Graça divina nos leva a viver em paz. É esta dádiva de
Deus dentro do templo de nosso próprio ser que estabelece nossa
paz com nosso semelhante: amigos ou inimigos, próximos ou dis­
tantes. É a graça de Deus em nosso coração, o Cristo que entra
em nossa Alma, que é a paz entre nós. Nada mais pode dá-lo a
nós; nada mais pode mantê-lo. Nunca podemos encontrar amparo
ou nossa imortalidade por qualquer outro meio que não seja essa
comunhão interior, por meio da qual ouvimos a voz mansa e de­
licada proferindo a palavra de Deus.
“Como pássaros voando”, deixaremos o Espírito realizar sua
obra. Deixemo-lO realizar Sua obra. Deixemos Deus. Deixemos que
haja luz e observemos que há luz. Deixemos que haja firmamento
e notemos que há um firmamento. Deixemos Deus agir e resista­
mos à tentação de procurar uma força para empregar, procurar a
verdade ou qualquer coisa para empregar. Em vez de nos acomo­
darmos com a certeza de que Deus é Espírito e de que este Espí­
rito tenha prometido que Ele nunca nos deixará ou nos abando­
nará. Ele sempre esteve conosco, mas nós O negligenciamos. Não
só O negligenciamos, mas não sabíamos que Sua natureza era Oni­
potência; assim, tentamos fazer uso d’EIe contra alguma coisa. Não
há nada contra o que empregá-Lo. Tudo quanto parece mal para
nós é uma aparência e não temos o direito de julgar pelas apa­
rências. Devemos deixar de combater o erro, deixar de tentar do­
miná-lo, deixar de buscar a Deus para dominá-Lo e admitir que:
“Deus está comigo e é todo-poderoso.” Então, veremos a natureza
do poder espiritual, à medida que o silêncio revelar o Verbo feito
carne.

50
II

O Verbo Feito Carne

4
Carne e Carne

Há pouquíssimas citações ou passagens de sabedoria espiritual


nas escrituras que não têm um duplo significado, o literal e o in­
tuitivo, espiritual ou místico. Muitas palavras e afirmações na Bí­
blia parecem contraditórias, embora eu duvide que haja uma con­
tradição verdadeira na Bíblia inteira. Pode parecer que haja con­
tradições, se as afirmações são interpretadas a partir do conceito
que uma pessoa tem da palavra ou mesmo a partir da definição da
palavra que o dicionário registra, mas eu não encontrei nenhuma.
Provavelmente, a palavra mais controvertida da Escritura é a
palavra carne, porque, na Bíblia, ela é empregada de dois modos
completamente diferentes. Espírito, que é a substância original, é
uma forma. É a idéia. E quando ela vem à nossa consciência, é
o Verbo feito carne. Quando ele se torna visível, é a carne que
definha, a carne com a qual podemos ter prazer hoje. Mas não vamos
nos prender à forma amanhã. Vamos mudar nosso conceito de
ser, de corpo ou provisão todo dia. Isaías disse: “Toda a carne é
erva.” 1 Jesus disse: “A carne para nada aproveita.”12 No primeiro
capítulo de João, diz-se: “E o Verbo se fez carne.” 3
“O Verbo se fez carne” pode ser considerado uma das prin­
cipais premissas do ensinamento do Mestre, tal como é uma pre­
missa maior no ensinamento do Caminho Infinito. A palavra de Deus
dentro de nós torna-se visível ou tangível como expressão: O Verbo
torna-se o filho de Deus. Nesse sentido, a carne deve ser consi-

1. Isaías 40:6.
2. João 6:63.
3. João 1:14.

51
derada como significando forma espiritual, atividade e realidade.
“O Verbo se fez carne e habita entre nós” : Deus se tomou visível
como o homem. Deus-Pai tornou-se visível como o filho, mas ninguém
jamais verá esse homem com seus olhos. Esse homem só pode ser
visto no ápice da consciência espiritual.

A Palavra Invisível Toma-se Tangível

Os médiuns espirituais apresentam a cura apenas no momento


em que notam o homem espiritual: o Verbo feito carne. Até esse
momento de percepção, meditação ou tratamento está apenas os
conduzindo para onde o Verbo torna-se carne como homem espi­
ritual.
Uma pessoa pode empenhar-se em meditações saudáveis desde
a manhã até à noite, mas se a meditação não culmina num mo­
mento de distensão — liberdade, alegria e paz — não adianta
esperar cura ou restauração da harmonia daquela meditação, porque
não são os pensamentos de uma pessoa que apresentam a cura. Eles
apenas conduzem a um estado de consciência acima da percepção
humana da vida, em que, em um momento de plena consciência,
é como se alguma coisa reluzisse diante dos olhos e dissesse: “Ha­
vendo eu sido cego, agora vejo.” 4 E, naturalmente, ele pode não
ter visto ou ouvido alguma coisa e, no entanto, sabe, concebe e
pressente.
Quando uma pessoa afirma a verdade na sua consciência, pon­
dera-a e finalmente pára de ponderar e apenas senta-se quietamen­
te com a atenção em expectativa de que algo se revela a partir do
seu interior, aquele momento de iluminação vem — um clarão,
uma liberação, uma sensação de paz — e é como se a pessoa fosse
libertada de seu próprio corpo. Há uma sensação de leveza, um
sentimento de alegria, um sentimento de realização. É naquele mo­
mento que ele se torna ciente da Realidade, o Deus invisível tor­
na-se tangível, mesmo que ele não possa vê-Lo ou ouvi-Lo.
Depois disso, a febre pode baixar, o tumor pode ser remo­
vido, o suprimento pode ser mostrado, um trabalho pode ser ofe­
recido ou um novo lar pode ser encontrado. Todos são os resul­
tados, na experiência humana, do Verbo invisível que se torna tan­
gível como um sentimento invisível. Primeiro vem o Verbo invisí­

4. João 9:25.

52
vel, Deus, o Próprio Infinito Invisível, que sabemos que está aqui
e agora preenchendo todo espaço dentro e fora de nós. Então, se­
gue-se a percepção consciente daquele Verbo que se evidencia em
captar um instantâneo do Divino e finalmente aqui fora, naquilo
que chamamos de cura ou uma mudança na aparência. Mas nenhu­
ma aparência pode mudar a menos que algo tenha ocorrido na
consciência.
Não cuide das aparências. Não busque as aparências para
qualquer mudança. “Ainda em minha carne verei a Deus.” 5 Bem
aqui e agora na terra, podemos ver a Deus. Eu não quero dizer
que vemos com os olhos físicos, mas podemos discernir Deus ou
ficar consciente d’Ele. Isso é o que significa ver a Deus ou senti-
Lo: ser tocado por Deus ou tocar na orla do manto.
Cada praticante espiritual recebe iluminação direta, se não de
outra forma, pelo menos na cura da qual ele foi o instrumento.
Do contrário, a cura não poderia ter sido realizada. Não há nin­
guém na terra hoje que realize quaisquer obras maiores do que
o Mestre, Jesus Cristo. Ele disse: “Eu não posso de mim mesmo
fazer coisa alguma.” 6 Tenho certeza de que não podemos fazer
mais o que ele podia. O Pai dentro de nós faz a obra, mas só
naquele momento de contato, de iluminação. Daí para a frente, de­
pois que se conseguiu a iluminação, aquele fluxo continua sem
esforço consciente. Mas deve ser renovado dia a dia. Todo dia é
necessário penetrar no silêncio, em certas ocasiões, doze vezes, para
sentir novamente o Impulso divino.
Depois que se está neste caminho há vários anos, não é ne­
cessário voltar e estabelecer aquele contato em cada meditação ou
tratamento dado. Chega o tempo em que “vivemos, e nos move­
mos, e existimos” 7 em Deus, e raramente estamos fora daquele
estado de consciência. É só sob tensão de alguma grande emoção ou
de alguma grande tragédia, dura • experiência ou impacto, que a
pessoa que vive deste modo há muitos anos pode estar tempora­
riamente fora do reino de Deus. Isso pode acontecer e acontece
mesmo para aqueles bem adiantados no caminho, mas eles têm
pouca dificuldade de refazer seus contatos. Nos primeiros anos de
nosso trabalho, contudo, isto não é assim. Fazemos contato e então
parecemos perdê-lo por alguns dias na oportunidade e encontrá-lo
novamente somente com esforço e luta.
5. Jó 19:26.
6. João 5:30.
7. Atos 17:28.

53
A C arn e q u e E n fraq u ec e

A palavra carne é usada com um sentido realmente diferente


da afirmação: “Toda a carne é erva”. Carne, nesse sentido, signi­
fica o que nós observamos através dos sentidos, o que vemos, ou­
vimos, saboreamos, tocamos ou cheiramos. Se estivermos num es­
tado de consciência, no qual nossa manifestação é de pessoas, coisas
ou circunstâncias, não poderemos entrar no reino de Deus, no do­
mínio do Espírito.
A posse de um bilhão de dólares não tornará possível a uma
pessoa herdar o reino de Deus, nem a crença de que a carne tem
poder para nos dar prazer ou dor. Enquanto nossa fé e confiança
estiverem nos bens materiais, nunca conheceremos a realidade das
coisas; só conheceremos as formas aqui fora. Quando, porém, com
estudo e meditação, nossos interesses começarem a transcender as
pessoas, as coisas e as circunstâncias, estamos sendo levados para
um reino mais elevado da consciência e nele, finalmente, O vemos
tal como Ele é e ficamos satisfeitos com essa semelhança.
Isso também ocorre quando começamos a compreender por que
é possível amar aos nossos semelhantes. Uma vez que ficamos cien­
tes um do outro através desta visão mística interior, somos amigos.
Na verdade, quando vemos a nós mesmos aqui fora, somos mortais,
materiais e finitos. Nós somos a carne que definha como a erva,
mas, quando nos observamos com visão espiritual, em nossa ver­
dadeira identidade, somos os filhos de Deus. Quando despertamos
deste sonho de materialidade, observamos as pessoas como elas são
e ficamos satisfeitos com essa semelhança.
Quando você se apresenta a um mestre espiritual com um pro­
blema físico, monetário ou de relacionamento familiar, você é da
terra. Seu mestre, vendo-o assim, nunca o ajudará a resolver seus
problemas. Mas a capacidade de estar quieto, até que esse pe­
queno instantâneo venha de dentro, capacita o médium espiritual
a vê-lo como você é, o que revela o Verbo feito carne, o que reve­
la o filho de Deus.

A Revelação da Palavra

“O Verbo se fez carne”, a Palavra — não as palavras em um


livro, não as palavras em uma afirmação, mas a Palavra interior.
O Verbo que é Deus, na essência torna-se carne, significando que

54
o Verbo se torna aparente, visível, audível e conscientemente tangí­
vel em nossa experiência.
Essa é a razão por que no Caminho Infinito é recomendado
que esses alunos principiantes não tenham menos de três períodos
de meditação por dia. Esses períodos podem durar de um a três
ou quatro minutos. Não é aconselhável ir além, a princípio, por­
que depois de alguns minutos é provável que a meditação se torne
um exercício mental; então, naturalmente, ela perde sua força.
À medida que a gente prossegue neste estudo, esses períodos
aumentam para seis, oito, dez ou doze em um dia e de um a cinco
minutos cada vez. Daí para a frente, os próprios períodos podem
crescer e uma pessoa pode meditar em qualquer lugar, de dois . . .
três até vinte ou trinta minutos. Mas, quando a meditação se torna
uma prática mental, já não é meditação. No momento em que
sentir uma libertação interior, . . . deverá parar de meditar. Se
não puder obter a libertação, volta à meditação uma ou duas ho­
ras mais tarde. Não se sente até que o espírito comece a traba­
lhar, porque isso não é meditação; é apenas prática mental. E a
prática mental não tem poder.
Isso não quer dizer que . .. deve abandonar a prática de pon­
derar, de pensar ou de meditar sobre a verdade. Essa é uma coisa
completamente diferente da prática mental. Quando . . . se senta
para meditar, pode achar que a mente é berrante, ruidosa, caótica
e não sossegará, pelo menos até um nível de tranquilidade, de onde
pode ouvir a “voz mansa e delicada”.8 Nesse estágio, é prudente
tomar alguma passagem da Escritura ou alguma afirmação do saber
espiritual e ponderá-la, não repeti-la como se esperasse ganhar pela
repetição, mas considerá-la por seu significado interior.
Essa expressão da verdade que você está lendo é uma semente
dentro de você que se desenvolverá e aparecerá como um estado
de consciência. Depois disso, aparecerá externamente como a saúde
do corpo, a suficiência econômica, um novo livro ou maior su­
primento. Esse é o modo como a carne deve ser compreendida. Logo
que a carne está aqui fora, nos apegamos a ela. Ele definha como
a erva. Não confie nela. Agir assim é como confiar “em príncipes”.9
Quando você aprender a voltar-se para dentro e deixar a pa­
lavra da verdade adquirir expressão, você encontrará a consciência
invisível ou o estado de consciência da verdade no seu íntimo se
8. I Reis 19:12.
9. Salmos 146:3.

55
exterioriza como forma. Então, você pode fazer qualquer coisa que
queira com a forma.

Não se Orgulhe com a Aparência

Assim que tiver consciência do Espírito, você poderá fazer


qualquer coisa que precise fazer, porque você não a estará fazendo;
será o espírito da Verdade da qual você se tornou ciente. Ele to­
mará forma. Mas, quando isso ocorre, não se orgulhe dessa apa­
rência. Tenha muito cuidado para não se sentir satisfeito com
abundância de suprimento, saúde física ou felicidade diária. Não fique
satisfeito com qualquer coisa no reino da carne, dos bens materiais
ou da forma. Não quero dizer que você não deva apreciar as coi­
sas. Quero dizer que você não deve ficar satisfeito com elas.
Quando você se sentir satisfeito com suprimento, nunca se ale­
gre com isso, como se fosse a manifestação. Alegre-se com o espí­
rito invisível que está gerando esse suprimento. Quando uma pessoa
lhe diz: “eu estou me sentindo melhor”, observe que você não
se sente muito feliz com isso porque, se você estiver observando
as aparências, lembre-se de que elas podem mudar amanhã. Olhe
o que está por trás do indivíduo e sinta-se agradecido de que a
percepção consciente do Espírito realizou-se, porque esse é a razão
por que a pessoa agora está bem, empregada, alegre ou coisa que
o valha.
Observe que você não se orgulha da carne, na forma da ma­
nifestação, mas se orgulha com esse outro sentido da carne: o
Verbo feito carne. Essa carne é a carne invisível. Repetidas vezes
os metafísicos perdem suas completas manifestações de harmonia
porque no momento em que seu salário dobra, pensam que reali­
zaram uma manifestação. Eles realizaram, mas a manifestação não
foi o salário dobrado; a manifestação foi a presença do Espírito
que apareceu como o salário dobrado.
Os hebreus que estiveram com o Mestre, pensavam ter reali­
zado uma manifestação, quando os pães e os peixes foram multi­
plicados. Não realizaram uma manifestação absolutamente. No dia
seguinte eles estavam com fome novamente. Mas o Mestre rea­
lizara uma manifestação da consciência da presença de Deus e,
assim, podia multiplicar pães e peixes todo e qualquer dia da
semana. Podia sair e descobrir ouro na boca dos peixes. Ele
não estava tentando multiplicar pães e peixes; tudo que estava fa­
zendo era elevar seus olhos na compreensão de que o Espírito de

56
Deus era sua manifestação. Permanecer em plena consciência da
Presença foi sua manifestação e quando ele realizou essa manifes­
tação, o cadáver tinha que se levantar, os pães e os peixes tinham
que ser multiplicados e o ouro tinha que estar na boca dos peixes,
porque Deus é a substância de toda forma. Mas se você não tiver
a presença de Deus, você não pode ter a forma.
Não se orgulhe em curar. Nunca afirme uma cura a não ser
para ilustrar o princípio ou a idéia espiritual que a realizou. É re­
lativamente sem importância se você tem saúde ou riqueza hoje.
O que é importante é se você obtém a convicção espiritual que lhe
dará saúde e riqueza eternas. Não se orgulhe de qualquer tipo de
manifestação, mas jacte-se e alegre-se de que viu a face de Deus,
de que testemunhou a presença do Espírito, que por sua vez se
tornou evidente como a cura ou o suprimento.

O Conhecimento das Pessoas Pela Espiritualidade

“Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo


a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo
a carne, contudo, agora já o não conhecemos deste modo.” 101 An­
tes você me conhecia na carne como um homem. Daqui em diante,
você não vai mais me conhecer daquele modo, mas vai me co­
nhecer como um mestre espiritual e não juiz da carne. Antes eu
conhecia vocês como seres humanos e alunos, mas daqui por di­
ante não devo conhecê-los jamais desse modo, porém apenas como
o Cristo, como Espírito, como fruto de Deus. Antes você conhe­
cia seus amigos, seus parentes, seus pacientes e seus alunos como
seres humanos; alguns bons e outros maus. Daqui em diante, você
não deve conhecê-los nem como bons nem como maus, mas como
seres espirituais. É um erro tanto avaliar uma pessoa como boa,
como avaliá-la como má. É um erro tanto avaliar uma pessoa como
rica, como avaliá-la como pobre. Você não deve avaliar qualquer
pessoa segundo a carne, quer seja boa ou má. Daqui em diante,
você deve avaliar uma pessoa apenas como o Cristo.
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” 11 No momento
em que você deixar de considerar-se a si e aos outros como conde­
nados a ser bons ou maus, doentes ou sãos e avaliá-los apenas se­
10. II Coríntios 5:16.
11. II Coríntios 5:17.

57
gundo o Espírito, as coisas velhas passarão. Velhos hábitos, velhas
formas da carne, velhos apetites carnais, cobiça, luxúria, ambição,
desejo de saúde, riqueza e fama — todas essas coisas passarão e
se renovarão.
é nesse ponto que a mensagem do Caminho Infinito se man­
tém firme. Não devemos considerar uma pessoa como carne ou
como um ser humano. Não devemos glorificá-la como homem, bom
ou mau, mas é melhor agora conhecê-lo não segundo a carne, mas
segundo o Espírito. Portanto, se alguém estiver em Cristo, se al­
guém estiver consciente de sua qualidade messiânica, todas as coi­
sas velhas desaparecerão. Mesmo os velhos conceitos sairão de sua
vida. Ele pode ficar triste ao ver alguns deles desaparecerem porque
gostava deles, mas eles não permanecerão porque deixarão de fazer
parte de sua experiência.
Uma vez que estejamos fundados no Cristo, toda a nossa fa­
mília, todas as nossas relações pessoais e toda a nossa esfera de
ação mudam. Podemos até nos mudar para um outro estado ou sair
do país de uma vez, porque todas as coisas se renovaram neste
estado elevado de consciência, no qual “nós vivemos, nos move­
mos e existimos”. Achamos que não há limitações; não estamos
confinados a um apartamento ou a uma casa; não estamos ligados
a uma família. Nós as temos, mas chegamos e partimos e nos sen­
timos livres.
Quando a consciência muda e quando a substância do Espí­
rito é revelada na consciência, não necessariamente revelada na sua
totalidade, mas mesmo quando revelada em parte, o Templo Sa­
grado, o corpo verdadeiro, surge em nossa consciência. Outros ainda
podem vê-lo como esta forma, mas saberemos que não é isso. Este
corpo é o templo do Deus vivo. Se nós subirmos numa balança,
ela pode ainda mostrar um certo número de quilos; mas não te­
remos sensação alguma de peso, do estado sólido, do corpo.

Usando um Novo Conceito de Corpo

“Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste taber-


náculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita
por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, dese­
jando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu ( . . . ) Por­
que também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos car­
regados: não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para

58
que o mortal seja absorvido pela vida.” 12 Nossa tarefa não é li-
vrarmo-nos negando ou ignorando, do corpo. Nossa tarefa é ser­
mos revestidos com outra consciência do corpo, esse corpo que é
“não feito pelas mãos, eterno, nos céus”. Este corpo verdadeiro é
aquele corpo. É eterno nos céus, imortal. Mas não podemos ver
este corpo. Nós todos recebemos conceitos diferentes de todo corpo
que vemos, se estamos apenas julgando pelas aparências, baseados
em nossa experiência.
Este corpo, que é invisível, é eterno e imortal e estará co­
nosco para todo o sempre. Este corpo, como eu o vejo, mudará de
dia para dia, porque, quanto mais elevado meu conceito de Deus
ou do Espírito, tanto melhor em aparência e em sentimentos meu
corpo fica. O conceito muda, mas o próprio corpo é imortal; por­
tanto, não nos livramos do corpo mesmo na morte. Nós nos li­
vramos de nossos conceitos de corpo. Mais cedo ou mais tarde,
portanto, desenvolveremos a consciência de que nosso conceito de
corpo mudará enquanto estivermos na terra.

Um Estado de Consciência

O Verbo feito carne não é uma idéia; não é um estado de


consciência sem um pensamento consciente e, no entanto, às vezes
aparece externamente como pensamento consciente. Primeiro vem
o Verbo, Deus, e Ele se faz carne. Ele se torna um estado de cons­
ciência, mas sem forma. Não é uma idéia e também não é uma
coisa. Mas, então, com isso vem o pensamento, a palavra falada,
a palavra escrita, o dólar palpável, um peixe ou um pão. Primeiro
é a compreensão de Deus como Substância. Depois, o Verbo, a
Substância, torna-se carne. Ela se torna um estado de consciência,
mas não toma, necessariamente, a forma de um pensamento.
Estudiosos lhe dirão que, quando aquele momento de inspira­
ção vem, aquela liberação, eles nem sempre trazem consigo um
pensamento específico e, contudo, obtêm resultado como se o pen­
samento ali estivesse. Às vezes, segue-se que pode vir um pensa­
mento específico. Por exemplo, esta manhã sentado em meu quarto
em meditação, o estado de consciência veio, mas não havia pala­
vra ou qualquer pensamento com ele. Foi somente a compreensão
de que a lição hoje me fora dada e então, de repente, a palavra
^carne” veio. O estado de consciência alcançado em meditação
12. II Coríntios 5:1, 2, 4.

59
apareceu como a palavra carne, e eu sabia que a lição devia estar
na carne. Simultaneamente, com aquela palavra veio seu duplo sig­
nificado e, por causa daquele significado, veio tudo aquilo que está
escrito aqui.
Nunca fique preocupado e nunca tente formular um pensa­
mento sobre qualquer coisa. Nunca tente conhecer algo sobre Deus
através da mente, porque não há verdade que você possa conhecer
conscientemente que seja verdade; assim, não se preocupe em ter
uma visão ou ouvir palavras. Mas também não fique perturbado,
quando tiver visões ou ouvir palavras, porque muito freqüentemen-
te elas são uma parte necessária de seu desenvolvimento.
Assim, foi na Califórnia, em 1945, que a Voz falou para mim
e disse que o próximo ano seria meu ano de transição. Por um
momento, eu me entreguei a tratamentos muito eficazes, porque eu
não sentia que estava preparado para continuar. Então, a Voz se
manifestou novamente e disse: “Não, não é esse tipo de transição.
Essa é uma transição para um outro estado de consciência.”
Em julho de 1946, começou essa mudança de consciência e a
transição durou dois meses. No fim desse período, tudo estava
preparado para esse trabalho. A instrução final que me foi dada
nessa experiência interior era a seguinte: você ensinará, mas não
buscará alunos. Você ensinará àqueles que estão sendo enviados a
você e ensinará o que lhe for dado para ensinar.
Esse trabalho do Caminho Infinito foi realmente iniciado com
aqueles dois meses de visão real e audição perceptível, e mesmo
aquelas experiências foram raras. Geralmente, a mensagem vem co­
mo essa lição veio, com apenas um sentimento, uma palavra, ou
uma passagem da Escritura. Primeiro vem a inspiração, depois o
pensamento específico ou idéia e, então, por causa disso, todo o
resto. Na consciência espiritual, as coisas revelam que mais tarde
se tornam carne na consciência, carne invisível, isto é, elas tomam
forma como um estado de consciência e depois aparecem externa­
mente como palavras, escritos e gravações.
Esse tipo de carne — palavras, escritos e gravações — deve
definhar como a erva. Mas a carne, como está agora em minha
consciência, nunca morrerá e o que você absorve deste capítulo em
sua consciência nunca morrerá. O que você registra no papel, po­
de-se apagar amanhã, porque se você tentasse viver dele, estaria vi­
vendo do maná de ontem. O que eu estou lhe dando agora é a
semente da verdade que me veio do fundo de meu testemunho

60
como revelação e está agora sendo plantada em sua consciência.
Amanhã você pode fechar seus olhos e descobrir que a verdade
fluirá de volta para você. “E o Verbo foi feito carne e habita en­
tre nós.”

5
Nossa Identidade Real

Hoje, com todos os conflitos, guerras e tumultos, parece que


o mundo está inclinado a destruir-se. Nessa desordem, as pessoas,
por si mesmas, não têm força, inteligência ou amor. “Porque o
homem não prevalecerá pela força.” 1 Esta destruição ou crucifi­
cação, que ocorre em toda a parte do mundo, é na realidade a cru­
cificação da crença em poder pessoal, vontade pessoal e sentido de
uma identidade isolada e separada da Unidade. É tudo isso que
está sendo crucificado. Qualquer um que se agarre à crença de que
tem uma vida pessoal para salvar ou perder, fortuna pessoal para
proteger ou uma vontade ou autoridade pessoal pode ser crucifi­
cado, porque essas crenças devem ser extirpadas para que a glória
de Deus encha a terra e para que o homem se mostre na plenitude
da condição de Cristo.
O que posso desejar além de Ti? Se eu tivesse toda a terra
e Ti, eu não teria mais do que se eu só tivesse a Ti. Mas se eu
tivesse toda a terra e não tivesse a Ti, então eu não teria nada
além de um vazio ainda à espera de ser preenchido.
Compreendo claramente a inutilidade da cobiça, do desejo e
da esperança, porque no silêncio eu sei que Tu estás comigo. Tu
és a luz de meu ser.

Nunca posso sentir a presença de Deus até que eu esteja em


silêncio. Mas depois de ter alcançado a tranqüilidade e o silêncio,
posso pô-la em prática no mundo por algumas horas, quando no­
vamente eu devo recolher-me para renovação da confiança. Não é
que Deus não seja onipresente, mas no tumulto do mundo e ati­
vidade da mente humana, eu estou apto a desenvolver um senti­
mento de separação, um sentimento de estar à parte. Assim, volto
para este silêncio por um momento, para renovar a confiança e
sentir aquela Presença divina.

1. I Samuel 2:9.

61
A Invisibilidade da Identidade Espiritual

Esta vida que estou experimentando não é a minha vida, mas


a vida de Deus: infinita, eterna, imortal. Este corpo, que é meu veí­
culo de expressão, é o corpo de Deus. Se fosse meu, seria iso­
lado e separado de Deus; e como eu o preservaria? Mas este não
é meu corpo, é o corpo de Deus em uma de Suas infinitas formas
e expressões. O controle está em seu ombro para manter e sus­
tentar este corpo e sua individualidade até a eternidade. Ele nos
prometeu que nunca abandonará Seu universo: Ele nunca me dei­
xará ou me abandonará. Isso não quer dizer que Ele não deixará
minha alma apenas. Quer dizer que Ele não abandonará meu corpo
também. Deus não abandona minha alma ou meu corpo, porque
eles são um só. A alma é a essência e o corpo é a forma.
“Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte”,2 você
andaria nele comigo e eu me encontraria com a mesma individuali­
dade e o mesmo corpo. À medida que minha compreensão disso
aumenta, todavia, minha sensação física de corpo tomará uma apa­
rência sempre melhor, não porque o corpo mude, mas porque meu
conceito de corpo muda. Meu corpo é sempre o mesmo: infinito,
imortal, útil, vigoroso, essencial e eternamente jovem. Meu conceito
dele pode variar. Eu posso aceitar um conceito de envelhecimento
e mostrá-lo, porque tudo o que eu aceito em minha consciência
está visível na aparência. Mas, se eu aceito em minha consciência
a verdade de que este corpo é o templo de Deus, formado, mantido
e sustentado por Deus, então tenho um conceito de imortalidade
mais perto da verdade do ser. Assim, meu corpo manterá sua apa­
rência amadurecida, sua força amadurecida e sua harmonia ama­
durecida. Meu corpo é eterno, apenas meu conceito dele muda.
Cada ano nosso conceito de corpo melhora à medida que per­
manecemos na identidade de toda vida e, à medida que nosso
conceito melhora, nossa aparência também. Deus é o princípio de
tudo o que existe; portanto, tudo o que existe é eterno. Apesar de
passarmos pela experiência de que o mundo clama a morte, ainda
estaremos intatos, perfeitos, integrais, completos e espirituais, ma­
nifestando-nos como forma, porque não pode haver Eu oscilando
aqui fora no espaço. O Eu é sempre criado.
Quando você olha para uma árvore, você acredita realmente
que está vendo uma árvore. Assim, quando as folhas caem ou os

2. Salmos 23:4.

62
ramos morrem, você pode pensar que a vida não é eterna porque
as flores, os frutos, os ramos estão mortos e você os viu secos
e sem vida. Mas você nunca viu uma árvore. De fato, em toda a
sua vida, você realmente nunca viu uma árvore. Você viu o efeito
ou a forma de uma árvore, mas a própria árvore é tão invisível
quanto eu e você somos.
Se eu quiser vê-lo, é apenas na verdadeira elevação de meus
momentos iluminados que posso entrar em contato com a realidade
do você que é você, o que você entende quando diz “Eu”. Se você
fechasse os olhos já e dissesse “Eu, Maria”, “Eu, Jorge”, ou qual­
quer outro nome que fosse, você sabería imediatamente que eu não
podería vê-lo, porque essa Maria ou esse Jorge não estão em lugar
nenhum visível. O corpo não é você: a cabeça, o pescoço, os braços
são seus; todo o corpo, da cabeça aos pés, é seu, mas ele nunca
é você.
Quem o conhece? Quem me conhece? Quem já o viu ou já
me viu? Cada um de vocês tem um conceito sobre mim e há tantos
conceitos diferentes sobre minha pessoa, quanto há pessoas que
acolhem esses conceitos. Eu não reconhecería nenhum deles como
sendo Joel, porque eu me conheço por dentro e você não. Você
simplesmente formou uma opinião a meu respeito, uma idéia às
vezes boa, às vezes má, mas nunca correta, porque tudo o que sou,
eu sou. Essa é a minha verdadeira individualidade, que não exibo
a ninguém. Eu não permito que ninguém saiba como eu sou em
meus piores momentos, mas os bons eu oculto também. Meu ser
está oculto no meu interior, completamente isolado, seguro, com
Deus. Assim, eu divulgo apenas certas qualidades, sobre as quais
você forma um conceito ou uma opinião.
Eu também formo conceitos ou opiniões sobre você. Às vezes,
afirmo erroneamente que não penso que esse ou aquele aluno nunca
chegará a qualquer lugar espiritualmente e, então, ele me confunde
como sendo um dos melhores. Além disso, os Judas, os Peter e
os hesitantes Thomas mostram-nos o quanto nossos conceitos po­
dem estar errados, quando os vestimos com todas as glórias da pura
espiritualidade e então eles deixam de corresponder a essa convic­
ção e confiança.
Muitos de vocês têm sido ensinados, em Metafísica, que toda
pessoa é uma idéia espiritual, o filho de Deus e que aqueles gatos,
cães e flores são idéias espirituais. Isso não é verdade e nunca foi.
Uma idéia espiritual é perfeita e eterna nos céus. Uma idéia espi­
ritual nunca muda, nunca falha, nunca tem um sentido de separa­

63
ção de Deus, nunca envelhece e nunca morre. Ela nunca pode ser
vista com os olhos. Nunca! Assim como você não pode me ver,
porque esse “eu” é uma idéia espiritual, do mesmo modo você
não pode ver um gato, um cão, uma flor ou uma árvore. Você só
pode ver a forma. A idéia espiritual é a própria entidade, que é
a identidade espiritual, mas o que você viu é seu conceito daquela
identidade espiritual.
Você não pode ver a minha mão. Você nem mesmo1 sabe o
que é u’a mão. Olhe para a sua e então procure compreender que
você não a está vendo. Você está vendo sua idéia dela aparecer
como forma. A própria mão é uma idéia espiritual permanente e
nunca muda, nunca envelhece e nunca morre. É um instrumento
para seu uso, preparado para você no princípio e ficará com você
eternamente.
O propósito dos ensinamentos de O Caminho Infinito é con­
duzi-lo àquele estado de consciência em que, quando você vê uma
pessoa, uma coisa ou uma condição contraditória, você não tenta
mudá-la. Não tente manipular nada externamente. Perceba que você
não está examinando algo, mas um conceito que em si e por si
mesmo não tem poder, presença ou realidade. A realidade que
você está testemunhando é eterna nos céus, perfeita. Quando você
olhar para um corpo harmonioso, um corpo jovem ou fisicamente
perfeito, lembre-se de que você não está vendo uma idéia espiri­
tual. Você está olhando o seu conceito de uma idéia espiritual.
Quando você compreender isso, começará a livrar-se de qualquer
mal e o restabelecimento virá rapidamente.

Mantendo o Crescimento Espiritual da Consciência

A cura é uma atividade da consciência individual. Ela não


se realiza em razão de algum Deus misterioso. Quanto a Deus, Deus
existe e está eternamente onipresente como indivíduo em você e eu.
Para Deus, não pode haver tal coisa como uma cura.
Algumas pessoas empenhadas em trabalho espiritual têm uma
saudável consciência; outras não atingiram esse estado de consciên­
cia e outras ainda estão a caminho para atingi-lo. Ninguém empe­
nhado em trabalho e cura vive, do ponto de vista da consciência
espiritual completa, todo momento dado ou em todas as oportu­
nidades no auge do estado de consciência espiritual. Quando está,
os restabelecimentos são magníficos e rápidos, mas quando não está,
ocorre uma verdadeira luta.

64
Muito freqüentemente médiuns e mestres não estão no nível
mais alto, porque pacientes e alunos não permitirão que eles gas­
tem os quarenta dias necessários para escalar as montanhas e ha­
bitar lá. Eles não lhes darão fins-de-semana ou qualquer tempo
exigido e, gradualmente, eles os fazem baixar ao próprio nível de­
les. Então, vem a luta e os médicos espirituais têm que se afastar
por longos períodos de tempo.
É uma coisa impossível conseguir consciência espiritual e pre­
servá-la para sempre sem continuidade de esforço. Ninguém pode
saltar para o céu nesta vida e permanecer lá. A atração hipnótica
do mundo humano é tal, que uma pessoa está em contínuo estado
de flutuação: bem hoje e mal amanhã, ou bem por uma semana e
mal por um dia. Aqueles médiuns que sabem como afastar-se do
mundo seis horas por dia para onde nem mesmo possam ouvir
o telefone tocar, com muita freqüência são capazes de preservar
o mais alto estado de consciência. Médiuns ou mestres que man­
têm seus espíritos mais intimamente repletos da vontade divina, co­
mo a única vontade, e da lei divina, como a única lei, mantêm
suas consciências num nível tão alto, que todo contato com eles
resulta em elevação espiritual em algum grau.
Não há nada misterioso sobre a cura; ela nada tem a ver com
Deus porque, no reino divino, a perfeição existe. É uma questão
de capacidade de cada um de nós manter-nos em elevação espiri-
:ual. Um meio é encontrar a particular literatura inspiracional que
ijuda a manter a consciência naquele nível. Não faz diferença se
3Stá na forma de livros de prosa inspiracional, poesia ou Escritura.
Deve ser algo que nos mantenha, não em um nível emocional, mas
lum nível espiritual de alto grau.
Um nível espiritual de alto grau nada tem a ver com a emo­
ção. Nada tem a ver com a sua sensação de que está andando nas
nuvens. A consciência espiritual é um estado de consciência que
não teme nem as pessoas nem as condições. Olha para este mundo
e diz: “Eu o amo, quer você seja bom ou mau, na dor ou sem
dor.” Entende que Deus é o centro do poder, da vida, do amor
e da atividade. Não olha para o “homem cujo fôlego está no seu
nariz”.3 Não deposita sua fé em “príncipes”,4 em notas de dólares,
em frascos de remédios, climas ou temperatura. Sua fé integral está
no reino de Deus estabelecido dentro dele.

3. Isaías 2:22.
4. Salmos 118:9.

65
Unidade, um Relacionamento Eterno

Diariamente somos tentados a acreditar em uma separação de


Deus. Uma pessoa pode ter um pecado grande ou pequeno na sua
vida e estar certa de que é o bastante para afastá-la de Deus. Uma
outra sente que cometeu um erro de um certo tipo, algum ato de
ação ou omissão, que vai afastá-la. Uma outra pessoa ainda tor­
na-se vítima de uma grave enfermidade e pensa que isso é um sinal
do afastamento de Deus. Outra pessoa também atravessa um pe­
ríodo de carência ou limitação e aceita isso como evidência de
que está isolada e separada de Deus e, nessa aceitação, reside a
continuidade de sua dificuldade. A identidade com o Pai é um re­
lacionamento eterno. Tudo que você pode manter é a sensação de
afastamento de Deus, nunca um afastamento de Deus. A sensação
de afastamento de Deus pode ser superada pelo conhecimento da
verdade.
Eu nunca estou afastado de Deus. Todos os pecados que eu fá
cometi ou que possa cometer nunca me afastarão do amor de
Deus. Nem toda a necessidade ou limitação me convencerão de que
eu me separei do Pai ou de que estamos à parte um do outro. E
nem todas as enfermidades, até mesmo a morte, me farão acreditar
que Deus se afastou de mim. Apesar do fato de que neste momento
eu estou mantendo uma sensação de afastamento de Deus, Deus
existe e habito em Sua existência.

Rompa essa sensação de afastamento não tentando fazer uma


demonstração no espaço ou no tempo, mas recolhendo-se para
aquele santuário interior, tornando-se muito calmo e começando no­
vamente com tudo que você aprendeu, para se reassegurar da na­
tureza permanente de seu ser e verdadeira identidade.
“Antes que Abraão existisse eu sou.” 5 Eu viverei até a eterni­
dade. Eu nunca serei abandonado ou esquecido. Eu nunca estarei
sem a vida e o amor de Deus, o Espírito e a alma de Deus. Se,
por qualquer razão, eu'tenha manchado ou estou manchando o tem­
plo de Deus, há muito sabão e muita água. Eu limparei isso com
a compreensão de que a verdadeira natureza de meu ser é Deus.

“Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero
esse faço.” 6 Parte da natureza humana está expressa naquela afir­
5. João 8:58.
6. Romanos ^:\9

66
mação de São Paulo, mas “esquecendo-me das coisas que atrás
ficam”,7 procurando no futuro, avançando, agora, neste momento de
consciência, começamos a nos elevar de novo. Se pudermos ser ge­
nerosos o bastante para perdoar nosso semelhante “setenta vezes
sete”,89 certamente podemos ser tão generosos com nós mesmos e
perdoar-nos, sabendo que nas profundezas de nosso ser somos puros,
bem como os nossos motivos. Nas profundezas de nosso ser, somos
limpos e qualquer impureza que houver em nós representa apenas
aquele efeito hipnótico do mundo dos homens que não superamos
completamente e que mesmo o Mestre não superou até próximo do
fim de seu grande ministério, quando disse: “Eu venci o mundo”.0
Quando somos ressuscitados, isto é, quando “morremos dia­
riamente” em tal grau, que nos apossamos da compreensão cons­
ciente de nosso verdadeiro ser, então nós também seremos capazes
de dizer: “eu venci o mundo”. Vencemos o mundo quando já não
odiamos, tememos, amamos, cremos ou confiamos em alguém ou
alguma coisa no mundo e mesmo no amor, porque vemos o Espí­
rito de Deus no centro de todo ser. Então, podemos olhar para toda
pessoa na carne e reconhecer que não a estamos vendo, porque ela
é invisível.
É difícil para alguém ver Jesus em seu verdadeiro ser. Só
Pedro o reconheceu como o Cristo. Assim, você também se mantém
olhando 'para a pessoa e dizendo que “há James, John ou Eliza-
beth”, até que um dia você examinará aquela aparência e dirá “não,
há o Cristo”. Todo médium ou mestre olha para a aparência hu­
mana e; a rejeita: “Não, não, não, você não é James, John ou
Elizabeth. Você é o Cristo. Você não vê que com meus olhos eu
o vejo, com meus olhos interiores. Eu reconheço você; eu saúdo o
Cristo de Deus.”
O conceito do mundo sobre você é visível, mas você mesmo
está brilhando para fora, por detrás de seus olhos. Assim você é
o Cristo invisível ou o filbo de Deus. E, agora, assim como você
está dirigindo seu olhar para fora através de olhos adultos, lem­
bre-se de que houve um tempo que você esteve olhando para fora
através de olhos juvenis e um outro tempo em que você esteve
olhando para fora através dos olhos de uma criança. Mas sempre
foi você olhando para fora através daqueles olhos, você invisível.

7. Filipenses 3:13.
8. Mateus 18:22.
9. João 16:33.

67
Eu estou oculto com Cristo em Deus. Sou invisível ao mundo.
Ê por isso que as armas do mundo não me podem atingir, pois
eu não estou no mundo. Sou invisível.

Quando você chega a esse ponto, sua consciência se enriquece


espiritualmente com a graça de Deus, além de qualquer coisa que
você realizou com seu pensamento e conhecimento corretos, com
suas leituras e meditações bem orientadas. Em outras palavras, você
se conduz a um certo grau de esclarecimento pelo conhecimento da
verdade correta sobre Deus, sobre os homens e sobre o universo.
Você enriquece sua consciência com qualquer mensagem espiritual
que você lê, estuda, pondera e sobre a qual medita. Mas, além e
acima disso, está o instrumento adicional, dado a você pela graça
de Deus, que realiza a verdadeira espiritualização de seu ser. O
que você faz é apenas uma preparação para aquilo que recebe.

Oração, um Estado de Receptividade

A oração atendida é o resultado de um Impulso divino sentido


ou percebido dentro de nós. Não tem a ver com alguma coisa que
você faz, mas é algo do qual você se torna ciente. Seus pensamen­
tos ou afirmações não são senão preparações para o recebimento
da oração e de seu atendimento. Toda esta verdade que está sendo
dita aqui não é oração. É uma preparação da consciência para re­
ceber a palavra de Deus, e é a palavra de Deus que é oração. Ê
a palavra de Deus que é poder. É a palavra de Deus que cura —
não a sua palavra ou a minha, mas os seus pensamentos ou os meus.
“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos.”10
O que eu declaro em silêncio não é oração. É uma prepara­
ção para a oração e meditação. Então, quando eu tiver acabado
com tudo isso, mesmo que tenham sido pensamentos ou afirmações
belas, eu me torno quieto e Deus ora em mim, isto é, Deus ex­
prime sua palavra em mim. O de que eu me torno ciente é da pa­
lavra de Deus e, quando eu olho aqui fora, vejo o que eu recebi
interiormente, rompido o Mar Vermelho externamente.
A Palavra que recebi em silêncio, em sigilo e santidade foi
adiante de mim para curar ou iluminar o paciente ou o aluno. Eu
não emiti um bom pensamento para ele. Não o instruí nem o curei.
Por meio do silêncio e de uma calma confiança, abri minha cons­
10. Isaías 55:8.

68
ciência a uma receptividade à palavra de Deus, ao Impulso di­
vino. Quando Ele veio e O senti, eu sabia que Ele estava aqui
fora, fazendo os desertos florirem, os doentes ficarem bons e os
desempregados arranjarem emprego. Estava fazendo isso. Eu es­
tava simplesmente em estado de receptividade, recebendo a pala­
vra de Deus em minha consciência e então deixando que Ela
fluísse.
Nunca tenha um período de oração, comunhão ou meditação,
no qual você realiza todo o ritual e então acha que efetuou alguma
coisa. Não se coloque na posição de esperar que Deus ouça suas
palavras ou pensamentos a maior parte do tempo. A atitude cor­
reta é você ficar esperando que Deus fale com você.
Nós usamos palavras e pensamentos na oração e meditação
apenas para nos elevar, até que alcancemos altura suficiente para
entender a Palavra. Ela não será compreendida pela mente huma­
na. Ela não virá a nós através do tumulto de nosso pensamento, a
menos que, em casos raros, haja algum grande impacto e por causa
disso algo se quebre. Mas Deus é ouvido na quietude e placidez do
silêncio, e é só neles que nós nos tornamos sintonizados com Deus.
Deus é onipresença, Deus é aqui e agora. Deus está no meio de
cada e de todo tumulto, mas não ficamos cientes dessa Presença,
exceto na quietude de nossa alma e no silêncio da nossa mente.
Quando a mente humana está silenciosa, há integralidade, reali­
zação e percepção da identidade espiritual. É apenas na mente hu­
mana que o tumulto da vida continua. Uma vez que você se eleva
acima disso, não há tumulto, não há problemas, não há nada fora
do que os problemas pudessem surgir, porque tudo que envolve o
seu bem-estar é suprido pela Fonte do infinito. No momento em
que você estiver completamente liberado das preocupações huma­
nas, as coisas boas começam a fluir e você as encontra sempre ali
bem antes de precisar delas.
Enquanto a mente humana estiver ativa, nós sentiremos ne­
cessidade e limitação e desejaremos ter esse vazio preenchido. En­
tão, sairemos e lutaremos para preenchê-lo, ao passo que, após ter­
mos chegado a um lugar em nossa meditação, onde podemos nos
sentar e nos mover diretamente no ritmo do universo, o desejo
desaparece. Não há desejo: há apenas um ser em harmonia com o
ritmo de perfeita simetria.
Quando eu estou concentrado desse modo, a vida flui sem es­
forço consciente. Não estou fazendo as estrelas aparecerem nem a

69
lua surgir ou o sol se pôr. Não estou tentando fazer as flores cres­
cerem. Eu estou apenas repousando do trabalho. Estou apenas
descansando do cansaço de pensar e totalmente contente em deixar
Deus governar o universo.

Sem Tempo ou Espaço em Deus

A verdadeira natureza de Deus torna a imensidade uma ver­


dade certa. Aquilo que Deus cria nunca é extinto. Se Deus nos deu
nossa individualidade, se Deus nos deu nosso ser e nosso corpo,
então devemos tê-lo eternamente, porque a obra de Deus é eterna.
Não há coisas como tempo e espaço, em Deus. Deus existe, e isso é
tudo que sabemos. Deus não age no tempo e espaço, Deus age na
atualidade infinita. O tempo não existe em Deus, da mesma forma
que não existe tempo em sua vida. O tempo é apenas algo com
que você mede os eventos externos, mas você não vive dentro do
tempo; você vive na natureza infinita de seu ser.
Alguns de vocês podem se lembrar da história do homem em
um barco a remos, na correnteza. O lugar e o tempo onde ele ini­
ciou sua viagem era aqui e agora, mas o lugar para onde ele ia
era ali e depois. Em outras palavras, era no futuro e era no espaço;
mas, quando ele chegou lá, achou que era aqui e agora. O lugar
que tinha sido aqui e agora era lá e depois, e o lugar para o qual
ele ia era lá, mais tarde. Tudo estava mudado; mas, quando ele
chegou ao último lugar, tudo atrás dele estava lá e naquele tempo
e todo o seu aqui e agora tinha passado, exceto aquilo que ele
carregou consigo para onde foi. Quanto ao que lhe dizia respeito,
estava ainda aqui e agora. Mais tarde, ele teve oportunidade de
subir em um balão. Quando o fez, ele descobriu que esses lugares
estão todos aqui e todos agora. Ele podia vê-los e senti-los e tomar
consciência deles das alturas, como a mesma atualidade e realidade.
Não havia nem tempo nem espaço naqueles três.
Quando você cerra seus olhos, você está menos ciente do tem­
po e espaço; mas, quando você medita e finalmente alcança o cen­
tro de seu ser, toda a sensação de tempo, espaço e corpo desapa­
rece: peso, preocupação, passado e futuro. Todas essas coisas de­
saparecem e você se acha apenas vivendo. Não há sensação do
passado nem do futuro. Não há sensação de um desejo, porque
nessa consciência mística profunda de estar aqui e agora há ape­
nas realização.

70
A C riaçã o In d iv id u a l d o R e in o de Deus

Deus me criou, assim é de Sua responsabilidade manter-me e


sustentar-me, alimentar-me, alojar-me e agasalhar-me. Se eu devo re­
ceber justiça, reconhecimento, recompensa ou compensação, é respon­
sabilidade de Deus.
O governo de minha vida está sobre Teus ombros. Eu habito
em Ti e eu sei que Tu habitas em mim, pois nós somos um só. Tu
habitas em meu companheiro e, assim, eu e meu companheiro so­
mos um só. Tu habita nos animais, nos vegetais, nos minerais, como
habitas em mim; assim, eu sou uno com eles. Nós não somos ini­
migos. Somos amigos; somos irmãos em Cristo.
Eu estou em Ti e Tu estás em mim, eu em Você e Você em
mim, uma infinita Unidade de ser, o único amor permeando toda
a criação, a única vida permeando todo ser, a única substância
dando forma a toda criação, a única lei mantendo-nos todos em
nosso relacionamento com ela e um com o outro.
O governo repousa sobre Teus ombros para manter-me à Tua
imagem e semelhança e manter eternamente meu relacionamento
com as espécies humanas, animais, minerais e vegetais. Se eu esti­
vesse no fundo do mar, Tu ainda estarias comigo. Quando eu voar
alto nos céus, Tu estás comigo. Há o mesmo influxo sustentador
sob os mares, sobre a terra e nos espaços.
Tua graça não está afastada de mim, mesmo que eu viaje sob
as ondas, sobre as ondas, na superfície da terra ou no ar. Tua
graça é a mesma. A segurança está em Ti, assim eu não me preo­
cupo com os meios, porque a segurança não está neles. Eu estou
sempre perfeitamente ciente de que minha preocupação é apenas
ser uno Contigo. Nesse estado de consciência, eu sei que Tu nunca
me abandonarás. Nós somos um só. “Porque teu é o reino, e o
poder e a glória ” 11
Não há poder à parte de Ti. Não há domínio ou reino à parte
do Teu. Se nós o olharmos como terra, mar ou ar, é tudo Teu
reino. Teu é o reino: o reino da terra, o reino da água, o reino
do ar. Teu é o reino.
Tua lei governa. Tua luz, tua sabedoria, tua iluminação estão
brilhando eternamente. Teu é o reino. Ê tanto Teu reino a Rússia
como os Estados Unidos, porque nem a Rússia nem os Estados

11. Mateus 6:13.

71
Unidos são verdadeiramente Teu reino, mas nosso conceito de Teu
reino. Mas Teu reino está estabelecido lá. Não faz diferença se o
chamamos Vietnã, Indonésia, Reino Unido ou União Sul-Africana.
A verdade do ser é que estes são Teus reinos. Tua presença está
tanto na terra como no céu. “Teu é o reino, e o poder, e a glória!'

O Cristo Incriado e Imortal

Relaxe e descanse na certeza de que Deus está com você. O


Pai que habita em você nunca o abandona. “Eis que estou à porta,
e bato.” 12 Este é o Cristo, o filho de Deus, falando a você. “Eis
que estou à porta e bato.” Cada vez mais incessantemente, Cristo
fica batendo à sua porta, quando você está pecando, quando você
está morrendo e mesmo quando você está morto. Cristo não pára
de bater à sua porta, até que nesta vida ou na vida futura você
abra essa porta.
A porta não fica do lado de fora de você, e o Cristo não
está do lado de fora, batendo para entrar. O Cristo está dentro de
você e a porta está dentro de você. É a porta de sua consciência
e o Cristo está tentando ser libertado em sua experiência, pelo seu
reconhecimento e aceitação Dele. O modo como você admite o
Cristo não é acreditar que Ele viveu há dois mil anos, morreu,
ressuscitou e voltará novamente. Se você acredita nisso, você nunca
abrirá a porta para Ele.
O Cristo nunca nasceu e nunca morrerá. Ele estava com você
“antes de Abraão” e estará com você até o fim do mundo. Não
houve nascimento de Cristo e não haverá um renascimento. O Cristo
está dentro de você e é sua verdadeira identidade; Ele está à porta
de sua consciência e bate.
“Antes de Abraão existir”, Cristo estava em mim. O Cristo es­
tará comigo até o fim do mundo, e agora eu O aceito em mim e
reconheço que o Cristo é a palavra de Deus, que se torna carne em
minha vida. Eu reconheço o Cristo em mim.
Agora eu abro a porta de minha consciência para receber o
Cristo que pode assumir, ser minha vida, ser meu salvador, ser a
divina Presença em mim. DaqUi para a frente, eu olho para Ti, o
Cristo dentro de mim, em vez de olhar para o “homem cujo fôlego
está no meu nariz!' e para as forças aqui fora.
12. Apocalipse 3:20.

72
O Cristo vive em mim eternamente. O Cristo é minha vida. O
Cristo é meu pão, meu vinho, minha água. O Cristo é a ressurrei­
ção de meu corpo, de meus negócios, de meu lar. O Cristo é a
ressurreição de todos os meus afazeres.
O Cristo não é um homem. O Cristo é o Espírito de Deus no
homem, O Espírito que Deus colocou em mim ‘‘antes de Abraão
existir”. No princípio, Deus colocou Seu Espírito, Seu filho, Sua
vida dentro de mim e isso habilitou-me a dizer: “Uma comida eu
tenho para comer, que vós não conheceis” 13
Que comida é essa que eu tenho? O Cristo dentro de mim, o
todo-poderoso, o único poder. Eu não temerei nada ou ninguém no
reino exterior.

Quando você tiver aceitado o Cristo em você, seu mundo in­


teiro começará a mudar, porque você não está no mundo sozinho.
Agora você tem a Presença divina, o Poder divino, o Todo infi­
nito; e Ela vai à sua frente para “endireitar os caminhos tortos”.14
Ela desfaz aparências errôneas “não por força nem por violência”,15
mas pelo bondoso Espírito do Cristo. “Estai quieto e vede o livra­
mento do Senhor”16 que está dentro de você, o Poder, a Presença,
a Graça divina que está dentro de você. Abra a porta de sua consci­
ência e reconheça que no princípio Deus plantou Seu filho em você,
Seu verdadeiro EspTito. Deus soprou Sua própria vida dentro de
você como sua vida. “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”.17
Cada vez que você ouvir a palavra de Deus, o Mundo se tornará
carne nova. Cada vez que você repousar no Espírito de Deus, você
descobrirá que alguma parte de seu corpo está sendo renovada, re­
construída, renascida e ressuscitada, porque o Verbo se transforma
em carne.

6
A Palavra e as Palajvras

Muitos crêem que o que está nas Escrituras e nos livros de


Metafísica seja Verdade, o Verbo. Mas realmente não é nada disso.
13. João 4:32.
14. Isaías 45:2.
15. Zacarias 4:6.
16. Êxodo 14:13.
17. Gálatas 2:20.

73
É simplesmente uma coleção de afirmações sobre a Verdade. Não
é a própria Verdade. A Verdade é sua consciência da Verdade; é
seu estado de consciência da Verdade. Essa é a única Verdade que
existe e isso é o Verbo.
O Verbo nunca é um efeito; é causa. Quando a palavra de
Deus chega a você, não vinda de fora, mas de dentro, então se
você tem um mar Vermelho para atravessar, Ela o abrirá. Se você
estiver no deserto, o deserto florescerá. Se você precisar de chuva,
a chuva cairá. Se você clamar pelo sol, o sol brilhará. Se você
precisar de alimentos, eles aparecerão. Se você necessitar de di­
nheiro, o dinheiro virá. Estas coisas acontecerão, porque a palavra
de Deus é a substância da vida e fora desta Palavra vem a carne
ou a forma: seu corpo, seus negócios, seu lar, sua profissão, sua
capacidade, seus fregueses, seus clientes ou seu suprimento.
Mesmo que você leia estas palavras, elas ainda não são po­
der, na medida em que lhe diz respeito. Mesmo se elas lhe parece­
rem razoáveis e você puder aceitar a mensagem intelectualmente,
ela ainda não é poder com você. Ela se torna poder apenas quando
você a tiver sepultado em sua consciência e meditar nela, até que
das profundezas de seu ser a resposta e a aceitação dela, que po­
deríam ser chamadas de convicção ou compreensão, venham. As
afirmações em um livro — as palavras, as orações e os parágrafos
— representam a verdade sobre a Verdade, levando-o de volta às
profundezas de sua própria interioridade, onde você abre espaço
para o Verbo manifestar-se.

O Conhecimento da Verdade na Meditação Contemplativa

Se você estivesse a ponto de realizar um tratamento ou ter uma


meditação contemplativa, você traria à consciência todo pensamento
e idéia que pudesse sobre Deus e o espírito da criação — não sobre
o homem, sobre um paciente, sobre uma enfermidade, pecado ou
necessidade. Não há verdade que você possa saber sobre o homem,
exceto a de que ele não é nada de si mesmo.
Mas você pode saber a verdade sobre Deus e é isso que cons­
titui seu tratamento ou meditação. Assim, você podería sentar-se
calmamente e lembrar-se de que:
Deus existe e porque Ele é único, é infinito e é tudo que existe.
Deus está presente onde eu estou.

IA
Deus é a única lei, porque Ele é o legislador. Pelo jato d’Ele
ser a única lei, não há lei de enfermidade, de necessidade, de limi­
tação. Deus é a lei, a lei da abundância. Ele é a força onipotente,
a lei todo-poderosa. Assim, não há lei que se oponha à lei de Deus
e Ele é a lei para meu ser individual.
Deus é amor, assim não há poder que se oponha ao amor de
Deus.
Deus é vida, portanto, não há enfermidade na vida e não há
morte na vida.
Deus é consciência infinita, imortal, Consciência divina; assim,
não há inconsciência.
Deus é inteligência infinita e, portanto, não há coisa como insa­
nidade, falta de inteligência ou qualquer crença mortal de retarda­
mento. Não há verdade para elas. Não há poder nelas pois Deus
é o poder único. Não há poder na aparência do pecado, da morte,
da necessidade ou da limitação. Assim, se eles quiserem se manter
existindo, deixe-os seguir em frente e existir, mas não há poder nele.
Não há poder à parte de Deus.
Essa é a verdade sobre a Verdade. Mas, quando você declarar
toda a verdade sobre Deus e sobre a criação divina que conhece,
acomode-se em uma atitude atenciosa e cuidadosa e então o Verbo
— o V-E-R-B-O — virá a você. Você pode ouvi-Lo dentro de
você, como se estivesse ouvindo uma voz. Você pode ver um cla­
rão de luz ou ter apenas uma sensação, um repouso profundo e
depois uma libertação, como se um peso tivesse saído de seus om­
bros. Nós chamamos isto de ouvir o Verbo, mesmo que você não
tenha ouvido palavra audível.
Quando você faz uso da linguagem da religião e da Escritura,
pode ceder um tanto à licença poética. Quando você diz que ouve
a “voz mansa e delicada”,1 não significa necessariamente que você
ouve alguma coisa. Às vezes significa apenas que você respirou pro­
fundamente, um sorriso se estampou na sua face e você quer saber
com o que você poderia ter sido perturbado. Todas as aparências
podem ser as mesmas, mas agora você está aliviado e libertado
delas. É como se você olhasse para um vaso de flores, e as visse
como serpentes e por um minuto ficasse muito assustado. Então,
quando olhou novamente e percebeu que eram flores apenas, você
ficou aliviado — sem mais temor. A mesma coisa houve que o

1. I Reis 19:12.

75
fez temer antes, mas agora não causa temor, porque você se li­
bertou do falso conceito dela.

Crença Versus Experiência

Se você imagina uma enfermidade como sendo algo a temer,


perigosa e danosa, ou se imagina a necessidade como algo de que
deve se livrar, naturalmente você vai temer tudo isso. Na medida
em que você teme alguma coisa, é escravizado por ela. Mas, num
período de iluminação, você diz a si mesmo: “Por que devo temer
a doença? Deus é a única força; desse modo, que poder a doença
pode ter? Por que devo temer a necessidade?
Que diferença faz, se eu tiver muito ou pouco dinheiro em
meu bolso? Deus ainda está em ação. Isso é tudo com que tenho
de me preocupar. Se há um Deus, estou feliz e seguro. Se não
há, tenho de estar temeroso sobre alguma coisa. Mas temer apenas
a falta de dinheiro ou a falta de um lar é um despropósito quanto
à existência de Deus.”
Comece a ter medo se você descobrir que não há Deus, porque
então você está em dificuldades. Mas, na medida em que possa
ter certeza de que Deus existe, não tema uma limitação, uma
pessoa, uma bomba. A decisão é sua. Você acredita que existe um
Deus? Eu não quero dizer acreditar como a maioria das pessoas
são ensinadas a fazê-lo, mas você acredita em Deus?
“Oh! sim”, você pode responder. “Eu creio em Deus.” “O
que é que você crê a respeito de Deus?” “Eu não sei.” Tal pessoa,
na verdade, não crê em Deus. Intimamente, ela questiona a exis­
tência de Deus. Ninguém deveria ter esse tipo de crença em Deus.
A verdadeira crença em Deus surge quando uma pessoa descobre
Deus pela própria experiência. Ela descobre Deus pela própria ex­
periência quando descobre o Verbo, que significa a consciência ou
o sentimento da Presença. Ela começa com a afirmação da verdade,
mas no momento em que sente o Verbo, seu mar Vermelho come­
ça a se abrir, seu deserto começa a florir, suas provisões começam
a fluir e sua saúde começa a ser restabelecida.

O Conhecimento da Verdade Sobre o que Existe

Não há verdade a ser conhecida sobre o homem; assim, não


desperdice tempo sabendo a verdade sobre Jones, Brown ou Smith.

76
“Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verda­
deiro.”2 Assim, se você fala de Jones, Brown, Smith ou de si mes­
mo, você está falando uma mentira. Não conheça a verdade sobre
o homem e não tente conhecer a verdade sobre o pecado, a doença
e a morte. Não há nenhuma; elas são ilusões.
Se você estivesse no deserto e visse a miragem da água diante
de você, tentaria saber a verdade sobre a água? Você não pode
fazer isso, porque não há verdade a saber sobre a água. A água
é uma ilusão. Você teria que saber a verdade sobre o deserto e o
deserto é formado de muitas coisas — sol, areia e ar. Essa é a
verdade. O que acontece à miragem? Você a reconhece bem. Ainda
pode ver a imagem da água lá, mas agora ela não tem poder sobre
você. Você não a teme, você não tenta ir para junto dela, não
apela para o corpo de bombéiros retirá-la para longe. Você a atra­
vessa diretamente, porque não está indo através da água; você
está indo através de uma miragem. O que você compreende como
inexistência não tem poder para limitá-lo.
Vamos supor que você declare que a doença não tem poder
nem lei e então você olha para ver se a doença ainda está lá.
Isso não é diferente de declarar que não há água no deserto, por­
que é uma miragem, e ainda aceitar a miragem como verdadeira
e como um obstáculo. Enquanto você achasse que a água que
você viu no deserto era água, você seria um verdadeiro servo dela.
Você não pode passar por ela. Você estaria procurando por um
desvio ou por um meio de se livrar dela. Mas no momento em
que soube que a água era uma miragem e que não tinha poder,
você daria partida no seu carro e passaria por ela. Ela não tem
poder para detê-lo, uma vez que você saiba que o que chamava
água era apenas uma miragem.

Tratando Daquilo que Aparece Como Crença

Enquanto você pensar na doença, sabendo que seu resultado é


a dor, a morte ou dissolução, não pode evitar temê-la, odiá-la e
desejar livrar-se dela. No momento em que diz: “oh, você não
é doença, mas uma miragem, uma ilusão, uma mentira sobre Deus”,
não importa se você ainda a vê. Ela perdeu seu poder sobre você,
quando você puder ver que não há poder divino nela, nem poder

2. João 5:31.

77
de qualquer natureza. Porque ela perdeu sua força sobre você;
mesmo que a aparência possa ainda continuar por um dia, uma se­
mana ou um mês, esteja certo de que ela desaparecerá gradualmente
de sua consciência, uma vez que está liberto do ódio, do temor ou
do desejo de livrar-se dela.
Essa é uma questão muito profunda, porque neste estado de
consciência você não precisa fazer esforço para livrar-se do pecado,
da doença, da morte; você não poderia fazer nada mais do que o
alcoólatra para livrar-se de suas serpentes. Se ele está vendo ser­
pentes em seus sonhos etílicos, elas vão ficar com ele, enquanto
for escravo do álcool. O efeito do álcool pode ser tal, que ele
acredita que vê serpentes e, enquanto sofrer os efeitos de um exage­
rado vício no álcool, continuará a ver serpentes.
O pecado, a doença e a morte representam a crença em uma
individualidade à parte de Deus, em um poder e em uma presença
separados de Deus. Assim, enquanto você conservar a crença em
uma individualidade, em uma presença e em uma força à parte de
Deus, a substância dessa crença estará presente na forma de doença,
necessidade, limitação ou pecado. Não adianta nada tentar livrar-se
dela. O que você deve fazer é tentar mudar sua idéia sobre ela ou
alcançar a consciência ou o estado de consciência da verdade.

Esperando Pela Palavra

Nos ensinamentos espirituais, as palavras se referem a qual­


quer coisa e a tudo que você sabe sobre Deus, as leis divinas, a
presença de Deus, o poder de Deus, o princípio divino, o homem
de Deus, o universo de Deus e o reino de Deus. Essa é a palavra
sobre Deus ou a Verdade; mas, quando você fica calmo e sente
um alívio, isso é o Verbo, isso é a consciência ou estado de cons­
ciência da presença de Deus. Isso é a presença de Deus, anuncian-
do-Se dentro de você. A palavra de Deus é poder, grande poder,
poder infinito, o poder único: vivo e nítido.
Se as palavras que eu e você pronunciamos fossem a palavra
de Deus, também seriam vivas, nítidas e poderosas. Teríamos ape­
nas que pensar ou exprimir as palavras e todo erro desaparecería.
Mas nossas palavras — o que lemos, afirmamos ou pensamos —
não são a palavra de Deus. As palavras que conhecemos, pensa­
mos, lemos, afirmamos, declaramos sobre Deus e sobre o universo

78
divino constituem a verdade sobre a Verdade, a palavra sobre a
Verdade. Então, depois de conhecer a verdade, podemos meditar:
“Pai, eu tenho me elevado em Vossa consciência. Manifestai-Vos
e declarai-Vos.”
Tome uma atitude auditiva. Você pode ter que se preparar por
uma semana, um mês ou um ano, antes que realmente entenda
onde você pode estabelecer-se em uma atmosfera de receptividade
e esperar até que essa magnífica libertação venha de dentro de você.
Se você buscá-la e desejá-la, pode possuí-la. Você tem o reino com­
pleto de Deus em sua posse, mas, por causa de séculos de huma­
nidade, perdeu a habilidade de comunicar-se com ele. Se você de­
seja muito o reino de Deus, aprenderá a sentar-se duas ou três
vezes por dia, lembrar-se você mesmo de toda a verdade que puder
a respeito de Deus, do reino divino, do universo divino e da criação
de Deus e então descansar.
Agora, Pai, fale. Eu estou ouvindo a Sua voz. Sou receptivo
à Sua presença. Tenho somente um desejo — não é daqui de fora.
Não estou interessado em conseguir emprego, posição, riqueza, fa­
ma, fortuna ou felicidade — nem mesmo paz, nem mesmo segu­
rança. Tenho somente um único desejo na vida: conhecê-Lo. Esse
é meu único desejo. Entrego este mundo inteiro a você, Pai. De­
volverei a você todos e todas as coisas que estão nele. Apenas
deixe-me tê-Lo. Já não peço graças para mim mesmo ou qualquer
pessoa. Apenas deixe-me conhecê-Lo.

O Homem Material, um Recebedor; o Homem Espiritual,


um Doador

O homem mortal e material é um ambicioso pelo êxito, eter­


namente ambicioso por conseguir algo, mas nunca alcançando, nun­
ca satisfeito. Mesmo quando é bem sucedido em conseguir milhões
— a presidência, o nome, a fama —, sempre há mais um passo a
dar. E ele nunca alcança a paz, a harmonia, o abrigo, a satisfação
ou a alegria.
O homem espiritual é o oposto disso. Ele nunca precisa de
nada. Ele tem tudo aquilo que o Pai tem e está, portanto, sempre
buscando os meios de deixar tudo fluir. Em outras palavras, tudo
está sempre se derramando através dele. Qualquer coisa que tenha
nunca é sua posse pessoal.

79
O homem, uma vez que adquira consciência de seu ser ver­
dadeiro, não é um recebedor ou comprador. Nas aparências, ele é
um doador, ainda que não o seja verdadeiramente. Ele é como a
vidraça através da qual o sol brilha. Ele é apenas um instrumento,
um meio, porque nunca dá alguma coisa de si próprio. Ele não tem
nada mais a dar do que eu que tenho estas palavras de verdade a
oferecer. Elas não são minhas, mas estão somente vindo através
de mim. Se eu tentasse armazená-las, eu as esquecería. Assim, a
melhor coisa que tenho a fazer é deixá-las fluir enquanto estão fluin­
do, perdê-las e deixá-las ir. Eis a verdade de tudo na vida. É a
verdade da cooperação, da benevolência, da participação, quer se
trate de dinheiro ou idéias. Em qualquer plano da vida, o homem
espiritual nunca está buscando.
No momento em que houver em sua mente um pensamento de
obter ou receber, mesmo de Deus, você está de volta, mais uma
vez, ao estado de mortalidade. Apenas quando você estiver com­
preendendo o “eu tenho”, e deixando-o perder-se é que você esta­
rá em estado de consciência. Você está mergulhado no estado de
consciência espiritual enquanto estiver consciente de que o bem
está fluindo através de você para o mundo. No momento em que
o pensamento de obter ou receber entra, mesmo sendo digno ou
merecedor, então você se afasta da luz espiritual.

A Verdade Relacionada com a Mente

Atualmente, não há verdade que você conheça que seja real­


mente a Verdade. A Verdade real é algo não relacionado com a
mente. É algo que Se concede à alma. A verdade que conhecemos
com a mente é apenas nossa preparação para receber o próprio
Verbo na alma.
Afirmações e negações da verdade não são usadas em O Ca­
minho Infinito. As passagens da Escritura ou literatura espiritual
são usadas para inspiração. Mas há uma diferença entre repetir a
citação: “Porque ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito”,3
algumas centenas de vezes, aproximadamente, e levar a afirmação
para a meditação, ponderando-a até que seja revelado quem é “ele”,
a quem se refere e o que está “ordenado” para você. Aprenda a
voltar-se para dentro de si mesmo e deixe que o Pai lhe dê o ca­

3. Jó 23:14.

80
minho que deve ser o seu maná para o dia. Falando sobre Deus,
lendo sobre Deus ou indo a aulas para aprender a respeito de Deus
não será a sua salvação. Mas a prática desses atos o conduzirá à
salvação, se você for constante. Sua salvação só virá quando você
conceber e reconhecer o Espírito de Deus em sua experiência, quan­
do tiver uma experiência divina real.
Você pode ter muitas curas. Você pode testemunhar muitas
coisas através da provisão e felicidade, que vêm até você pela cons­
ciência iluminada de um médium ou mestre, mas isso não serve
para harmonia permanente. Isso não ocorre até que você habite
na Palavra da verdade e deixe que essa Palavra habite em você,
até que a experiência de Deus se tome sua.
Quando você escutar a “voz mansa e delicada” em seu ser
interior, um dia desses ainda vai ouvi-la dizer: “Tu és meu filho;
tu és meu filho querido; tu és o Cristo de Deus; eu estou muito
agradecido a ti.” Mas é a “boca do Senhor” que dirá isso a você,
não um médium, um mestre, um diploma ou um título. Será a
“boca do Senhor” que proferirá essas palavras em sua consciência
e, então, você saberá que o Espírito do Senhor Deus está junto de
você. “E chamar-lhe-ão: Povo santo, remidos do Senhor; e tu
serás chamada a Procurada, a cidade não desamparada.” 4
Pois é assim que o chamarão naquele momento em que você
conceber o Espírito do Senhor Deus junto de você. É por isso que
eu digo que você não deveria perder o seu tempo realizando tra­
balho mental ou gastar todo o seu tempo em leituras. Dê tempo
de sobra à contemplação e meditação. Contemple e medite sobre
Deus e todas as coisas de Deus, até que o verdadeiro Espírito do
próprio Deus proclame Sua presença dentro de sua consciência.

O Período de Escuta no Tratamento

Quando você for convocado para socorrer alguém, mesmo que,


a princípio, você possa fazer uso do tratamento, certifique-se de
que seu tratamento consiste da palavra de Deus e, por conseguinte,
um lembrete para si mesmo de tudo o que sabe e compreende a
respeito de Deus e do reino divino. Quando esse período chegou
ao fim, não pense que você terminou. A sensação de estar termi­
nado vem apenas quando a segunda metade foi completada e você

4. Isaías 62:12.

81
pode sentar-se em silêncio e escutar até que o Espírito de Deus
esteja junto de você e saiba que Ele existe. Você O sente, você
tem a resposta dentro de si mesmo.
Cada vez mais tenho salientado o fato de que não há verdade
que você conheça com a mente que seja realmente verdade. Não há
verdade que você declare ou leia num livro que seja realmente
verdade. Essas são apenas afirmações ou pensamentos sobre a Ver­
dade: palavras, não o Verbo. Não há nada exterior que possa ser
denominado Verdade.
Talvez seja este o ponto mais importante em toda a prática da
cura: não tenha muita fé no que você ouve ou no que lê. Tenha
fé verdadeira e confiança em sua capacidade de sentar-se calma­
mente e escutar. Faça silêncio. Não exige pensamentos nem palavras
o ato de induzir o Espírito de Deus a apossar-se de você. Exige
tranquilidade, quietude e confiança. Sente-se na quietude e deixe
“a minha paz” 5 chegar até você. É uma paz além de todo conheci­
mento, uma paz que ninguém sabe descrever e que ninguém pode
lhe oferecer. Essa paz é de Deus. E mesmo que ela possa parecer
vir até você através de alguma pessoa, ela vem de Deus.
Seu relacionamento com Deus é unidade, filiação divina. É o
seu relacionamento, a despeito de algo ou alguém mais no mundo.
Você pode sempre realizar essa unidade ao retirar-se para um lugar
calmo em sua casa, uma biblioteca pública ou uma igreja onde não
esteja se realizando qualquer cerimônia religiosa — qualquer lugar
em que possa estar em silêncio, quieto e em paz — e ser envolvido
por uma atmosfera divina. Em qualquer lugar em que se encontre,
nesse estado de quietude, a graça de Deus é acessível a você por
causa de sua filiação divina, por causa de sua identidade com o Pai
e não porque você a mereça como ser humano. Não há seres hu­
manos no mundo que possam sempre ser bons o bastante para
merecer a graça de Deus.
Mesmo mergulhado nos pecados mais profundos, a graça de
Deus pode vir para você. Com essa graça, os pecados desaparecerão,
as enfermidades se afastarão — nem sempre instantaneamente, por­
que às vezes a evidência exterior da graça de Deus vem vagarosa­
mente. Portanto, eu o estimulo a ser paciente consigo mesmo e,
desse modo, aprender a ser paciente com os outros que se encon­
tram em variadas formas de doença, pecado, necessidade ou limi­

5. João 14:27.

82
tação. Nunca seja impaciente com o seu desenvolvimento ou com
o dos outros.
A graça de Deus vem vagarosamente para a maior parte de
nós, não por causa de Deus, mas por causa da densidade de nossa
condição humana. Se todos os nossos pecados não desaparecem
em um segundo, nós não julgamos, criticamos ou condenamos. Se
nossas vidas exteriores não atestam imediatamente a plenitude de
sua mensagem, não pensamos que haja algo errado com a mensa­
gem. Cada um de nós, neste trabalho, está tentando viver de acordo
com o seu mais elevado estado de consciência de Cristo já demons­
trado, e o fato de que nós estamos prosseguindo neste trabalho
mostra a nossa luta para alcançar até os mais elevados reinos da
consciência espiritual, as visões mais profundas do Cristo. Assim,
seja muito gentil e generoso em sua opinião a respeito do grau de
compreensão que você e outros já alcançaram.

O Espírito do Senhor

Quando se ama outras pessoas — membros da família, amigos,


pacientes ou alunos — que apelam para você por socorro, não
permita que os problemas delas o perturbem. Force a si mesmo
a sentar-se em silêncio e receber o Espírito de Deus dentro de você.
À medida que você recebe este Espírito do Senhor, seu amigo, seu
parente ou seu aluno, ascenderá a um estado de consciência mais ele­
vado e terá também a sensação de harmonia, graça e paz.
Não é alguma preocupação mundana que o capacitará a auxi­
liar o mundo. Não é o fato de ser um benfeitor ou de ter um fervor
para fazer prosélitos que resultará na cura, conforto ou suprimento.
Só uma coisa o capacitará a ser uma luz para este mundo: é a
capacidade de sentar-se em quietude e paz e sentir o Espírito do
Senhor Deus em você. Então, esse Espírito do Senhor, que você
sente interiormente, será a Graça salvadora e regeneradora para
todos aqueles dentro do alcance de sua consciência.
No momento em que o Espírito do Senhor Deus estiver em
você, toda palavra que disser ou escrever a seus parentes, amigos,
pacientes ou alunos sai para o mundo todo. Você não conhece o
limite de sua capacidade, uma vez que sente o Espírito do Senhor
dentro de sua consciência. Cada carta que você escrever, que leve
uma mensagem da verdade, é uma expansão do estado de consciên­

83
cia do Espírito do Senhor dentro de você, alcançando o coração,
a alma, a consciência e o corpo daqueles para quem você escreve.
Esse Espírito em você é uma expansão da consciência espiritual
que circunda o globo terrestre.

A Palavra, não Palavras, Gera Fruto Espiritual

A Verdade é infinita e toda a verdade está em sua consciência


neste momento. Portanto, você não precisa aprender qualquer ver­
dade. A única razão por que você está estudando este livro é levar
essa verdade de dentro para sua compreensão consciente. Porquanto
Deus é a sua consciência, sua consciência já está íntegra e completa.
Há nela agora toda a verdade que você sempre necessitará até o
fim dos tempos. Mesmo a Bíblia não pode acrescentar nada a isso.
Você tem apenas que se voltar para o Pai dentro de você para ter
revelada a você qualquer verdade que necessite neste momento.
Será a Palavra, não palavras.
Se você tivesse tido a sensação de ser o instrumento através
do qual uma centena de casos de reumatismo fossem curados, pode­
ría considerar que, para o centésimo primeiro caso, seria necessário
simplesmente lembrar a verdade usada ao tratar dos cem casos
anteriores. Mas não adiantaria nada. Para cada problema, é neces­
sário voltar-se no íntimo para o Pai, para sua própria Consciência
divina, para a verdade do momento. Isso revela claramente por que
é impossível desenvolver uma fórmula para a cura, porque ela não
é fruto das palavras, mas vem quando a Palavra é ouvida.
Qualquer verdade externa, existente no mundo, em qualquer
aparência, é um efeito, não uma causa. A única verdade que é uma
causa é a verdade que se desenvolve de dentro de seu próprio ser.
Mas, quando a palavra de Deus tem êxito, ela “é viva e eficaz, e mais
penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à
divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e intenções do coração”.*5
Quando encararmos um problema, sentemo-nos em silêncio.
A fim de poder fazer isso, comecemos com a compreensão cons­
ciente de Deus e com quaisquer afirmações que possamos nos lem­
brar a respeito de Deus, mas não o propósito de curar alguém ou
algo. É com a finalidade de nos tornarmos quietos e receptivos

6. Hebreus 4:12.

84
numa atitude de segurança. Então, nós nos reclinamos e dizemos:
“Pai, é a sua vez”, e permanecemos em paz, quietos, até que alguma
coisa venha. A palavra de Deus pode vir como uma afirmação ou
apenas como um sentimento de libertação. Se a cura não aparece,
pode ser preciso realizar este processo duas ou duzentas vezes. É
claro que isso não depende de palavras, não importa quão verda­
deiras e autorizadas possam ser. É uma confiança completa na
Palavra.
As afirmações são levadas para a meditação contemplativa,
ponderadas, refletidas, de modo que seu significado interior se revele.
Quando você recebe seu significado interior, está sendo espiritual­
mente alimentado. A meditação não é um ritual, dividido e árido.
Umas vezes, pode ser completada quase num piscar de olhos e,
outras vezes, pode ser necessário permanecer sentado a noite inteira
ou continuar com as meditações periódicas durante muitas semanas.
A cura não vem até que você tenha sido removido da crença de que
o problema tem poder. Chegar àquele estado de consciência, que
é a liberdade, pode levar muitas meditações. Afirmações da verdade
não trazem liberdade. A liberdade é um estado de consciência inte­
rior e traz a libertação a você ou a alguém voltado para você.
O objetivo de nosso trabalho é a revelação da consciência
mística até o ponto em que possamos aprender espiritualmente a
verdade sobre nós mesmos e em relação uns com os outros. Isso
ocorre somente quando o Espírito do Senhor Deus está conosco e
“a boca do Senhor” nos dá nosso novo nome, que é Filho, Filho da
Honradez, o Cristo. É da boca do Senhor que nós recebemos o novo
nome de Cristo, Amado, o amado de Israel, Meu filho. Isso nós
ouvimos na quietude e no silêncio e é o Espírito do Senhor Deus
que desce sobre nós.

85
III

Alcançando o Domínio Consciente

7
Conceitos ou Verdade?

Se eu tivesse que perguntar a você o que pensa da Bíblia, sua


opinião provavelmente seria bastante diferente de qualquer outra
pessoa que tivesse lido esse livro. Parece haver muito pouco enten­
dimento sobre o assunto da Bíblia. Mas não importa o que você
ou qualquer outra pessoa pensa, pois ela é o que é e o que é nin­
guém realmente sabe. Se há um ano tivessem lhe perguntado
sobre ela e então hoje novamente e daí a um ano a partir de agora,
provavelmente nenhuma das três respostas estaria de acordo, porque
seu conceito da Bíblia muda com o desenvolvimento de sua
consciência.
Assim, também, tudo o que você possa estar pensando de uma
pessoa é errado. Eu não me preocupo com o que você está pen­
sando. O que quer que seja está errado, porque o que você está
pensando representa seu conceito da pessoa no momento, e esse
conceito muda de momento em momento e de ano para ano.
Você deve aprender a não odiar ou temer seu conceito de
vida, seja ele um conceito de humanidade, de pecado ou de doença,
porque é apenas um conceito. Não há poder real nos conceitos. O
que você está considerando como pessoa não é pessoa: é um con­
ceito de pessoa. Mas esse conceito não tem poder. Todo poder está
em Deus. Por exemplo, qualquer que seja seu conceito de mim, não
há poder nele que possa tocar-me. Se você pensar que eu sou bom,
isso não faz diferença para mim. Se você pensar que eu sou mau,
também não faz diferença. Seu pensamento não tem poder sobre
mim. Deus me mantém e me assiste e eu não estou sujeito a nada
senão a Deus. Não há vida em seu conceito sobre mim. A vida está
em mim, não em seu conceito sobre mim.

87
Também ocorre o mesmo com tudo que você vê, ouve, toca,
saboreia ou cheira: você realmente nunca sabe o que é. Um diaman­
te pode ser bonito e de muito valor. Qualquer beleza e valor, que
houver, estão no diamante, não em sua opinião sobre ele. Você
pode pensar que, no entanto, seja uma imitação, mas o que você
pensa não altera o valor do diamante. Você não mudou seu valor
nem sua qualidade. Você pode pensar que é perfeito e ele pode
ser imperfeito. Você pode pensar que é imperfeito quando ele é
perfeito. Mas, ele é o que é e o valor está nele, não em seu conceito
sobre ele. Lá fora pode fazer sol ou chuva. Tudo o que você pensa
sobre o sol ou a chuva não surte efeito sobre nenhum deles.
A utilização dessa verdade para a obra da cura é importante.
Você não sabe o que uma enfermidade ou um pecado são. Você
apenas faz um conceito deles e não há poder verdadeiro nesse con­
ceito. Além disso, você não conhece a pessoa que está se dirigindo
a você para ajudá-lo. Você apenas tem uma concepção dela. Não
há poder real em seu conceito; o poder está dentro de você mesmo
e é o poder de Deus, porque não há outro.
Recorde a afirmação do Mestre para Pilatos: “Nenhum poder
terias contra mim, se de cima te não fosse dado.” 1 Agora, vamos
encarar os fatos. Pilatos era o governador, dotado de autoridade
total conferida pelo César. Ele era tanto o juiz como os jurados.
Isso era a aparência. Assim, o Mestre negou que Pilatos tivesse
qualquer poder, exceto o que veio do Pai. Isso é exatamente o que
eu‘estou dizendo aqui. O homem não tem poder para ser justo ou
injusto, bom ou mau, pecador ou puro, doente ou são, porque todo
poder está em Deus e se exterioriza, a partir de dentro do Pai.
No momento em que você começa a perceber esse fato, começa
a retirar poder dos conceitos de formas, pessoas e condições. Você
faz isso conscientemente. Não há poder fora de você que possa
substituí-lo. É você, você mesmo, que deve aprender a olhar para
uma pessoa como o Mestre olhou para Pilatos e reconheceu: “Oh,
não, vejo agora que o que eu estou vendo como você é um con­
ceito, uma imagem, um efeito, mas o poder está em Deus, que o
criou. Mesmo seus pensamentos não têm poder. Deus que elabora
seus pensamentos, é que tem poder. Você não tem poder. Todo
poder está em Deus.”

1. João 19:11.

88

p-
Você aprende a fazer o mesmo com a enfermidade, com o
pecado ou com a necessidade. Você não fecha apenas seus olhos e
diz: “Não existe tal coisa” ou “Não há realidade nela.” Isso é fazer
como o avestruz que enterra sua cabeça na areia. Ignorando um
fato, você não pode mudar a si mesmo ou uma coisa. Você tem
que estar disposto para olhar de frente qualquer tipo de erro —
qualquer forma, não importa sua aparência horrorosa e torpe.
Olhe bem para ela com a convicção: “Você não tem poder. O
poder está em Deus que o governa, que o move, que é sua mente,
sua Alma, seu Espírito, que lhe deu a vida, que lhe deu a alma.”
Desse modo, você depara com uma situação e pergunta: “De onde
você veio? Você é um efeito; você não é uma causa. Alguma coisa
o gerou. Quem quer que o tenha gerado é o poder. E o que poderia
ter gerado você, se Deus fez tudo que foi feito e nada foi feito,
exceto o que Deus fez?”

Só Deus é Poder

Como pode haver um Deus infinito, bom, e uma enfermidade?


Tudo é feito à imagem e semelhança de Deus; assim, mesmo quando
você está olhando para aquilo que o mundo chama enfermidade,
você não está olhando para ela mais do que está olhando para a
água, quando a vê no deserto: você está vendo uma imagem, uma
miragem, uma ilusão, uma aparência que não tem poder. É nessa
percepção que a cura se realiza — não a negando, desviando-se
dela ou tentando se elevar acima dela, mas olhando-a bem e dizen­
do: “Deus fez tudo que foi feito e tudo que Deus fez é bom.
Alguma coisa que Deus não fez não foi feita. Assim quem quer que
você seja não tem poder.”
Nos capítulos segundo e terceiro do Gênese está o relato do
conceito do homem sobre a criação, não a criação de Deus. O
homem olha para a criação com sua visão limitada e dota-a de
qualidades de acordo com seu conceito dela. Ele diz: “Você é uma
serpente e eu a temo.” Daí para a frente, vive com medo de uma
serpente. Mas algumas raras pessoas no mundo se lembram de que
Deus deve ter feito a serpente também. A serpente nunca é enve­
nenada pelo seu próprio veneno. Ela está cheia dele, mas não é
envenenada por ele; desse modo, evidentemente, é veneno apenas
quando aceitamos o conceito dele como veneno. De fato, o veneno
da serpente é extraído e utilizado para propósitos medicinais. É um

89
mundo estranho: tememos uma picada de cobra, mas o médico
toma a substância considerada venenosa, injeta-a em uma pessoa e
ajuda ou cura certas doenças físicas.
Tudo é uma questão de conceito. O que você vê, saboreia,
toca, ouve e cheira não é criação de Deus, é um conceito sobre a
criação de Deus. Não há poder nele, exceto o poder que a crença
lhe confere. Na realidade, não há poder em nada sobre que você
possa pensar, ver, ouvir, saborear, tocar ou cheirar. Todo poder
está em Deus. À medida que você persiste nisso, como uma ativi­
dade da consciência todos os dias, torna-se um assunto de convicção.

Julgamento Correto

O Mestre ensinou seus discípulos a evitar o julgamento de pes­


soas e coisas quando disse: “Por que me chamas bom? Não há
bom senão um só, que é Deus.” 2 Se você não deve chamar Jesus
de bom, então não chame de boa nenhuma pessoa ou coisa. Não
chame a saúde de boa, nem a riqueza, nem a felicidade. Chame ape­
nas Deus de bom. Nunca chame de bom qualquer efeito, porque
o bom está na causa.
É também falso olhar para alguma coisa e chamá-la má. Ela
não é boa nem má. Não tem poder positivo nem poder negativo,
porque todo poder está em Deus. No momento em que você puder
tirar poder positivo e poder negativo de um efeito, você obedeceu
ao ensinamento de Jesus em dois pontos. Você não está chamando
de boa uma pessoa, mas está chamando bom a Deus. E não está
temendo o mal de Pilatos, porque está reconhecendo Deus como o
único poder. Assim, você afastou o bem e o mal do efeito e agora
tem todo poder em Deus.
Não há meios de se fazer um julgamento justo pelas aparências.
Não olhe para o que parece ser uma boa condição, julgando-a boa
porque não é. Sua única bondade está em Deus. Não olhe para
qualquer mal, chamando-o de mal, porque isso é julgar apenas pelas
aparências. Você não tem conhecimento do que jaz atrás das apa­
rências, de modo que é uma questão de exercitar-se a si mesmo,
ser capaz de olhar para as aparências humanas tanto do bem como
do mal e dizer: “Nem eu o julgo. Nem declaro que você é bom

2. Mateus 19:17.

90
ou mau. Direi que você deve ser espiritual, porque Deus criou tudo
que existe e Deus é Espírito.” Este último ponto é muito importante,
porque a cura do Caminho Infinito é praticada nessa base.
É possível alguém ser aprovado em um exame médico para
efeito de seguro e morrer do coração na semana seguinte. O médico
tinha julgado pelas aparências. De acordo com todos os testes,
houve funcionamento normal e nenhum dos instrumentos detectou
qualquer problema. Os médicos dizem para muitas pessoas que elas
vão morrer logo, apesar disso, elas continuam vivas e o médico
já está morto. Um diagnóstico do médico pode dizer que uma pes­
soa tem apenas mais uma semana ou um mês de vida, mas o médico
não sabe o que se passa na consciência do paciente que está fun­
cionando para derrotar o seu diagnóstico. Há forças em ação sobre as
quais os médicos nada sabem a respeito. Há forças em ação que eu e
você nada ou muito pouco sabemos a respeito. Assim, é inútil julgar
pelas aparências.
Uma pessoa pode estar morrendo de determinada doença hoje
e ter uma vida inteira pela frente amanhã. Não se trata da conclusão
a que eu e você chegamos, quando só julgamos pelas aparências.
Se quisermos julgar com justiça, eis a verdade: Deus é a vida e a
vida é eterna. Eis a verdade. Mas se hoje eu fosse dizer a você que
está bem ou mal de saúde, que tem integridade ou não, eu estaria
julgando pelas aparências. Eu não conheço a realidade sobre você;
conheço apenas a aparência que você está apresentando.
Recusando o julgamento, nem condenando nem julgando-o,
percebo que nada conheço sobre você, exceto que você é Deus
que aparece como um ser individual. Eu não sei se você é bom
ou mau, se está doente ou com saúde, mas que você é Deus apa­
recendo, e nisso insisto. Tudo que Deus é, você é. Tudo que Deus
possui, você possui. Deus constitui seu ser. Eu não posso ver isso
com meus olhos. Com meus olhos, posso apenas julgar pelas apa­
rências. Eu podia até julgar que idade você tem e há quantos anos
você deixou de caminhar sobre a terra, mas eu podia fazer isso
apenas com meu julgamento humano. Depois você podería voltar e
zombar de mim.
Não é possível fazer um julgamento correto, olhando apenas
as aparências, porque você é o que é e o que você é está mani­
festo em Deus, expresso em Deus, é o ser divino, messiânico. Você
é Espírito, mas eu não sei o que o Espírito é, de modo que não

91
estou empenhado em qualquer julgamento. Eu estou apenas decla­
rando o que é.
Eu não sei o que o Espírito é; assim, ainda não tenho opinião
do que você é. Você também não sabe o que o Espírito é. Você
não sabe o que a Alma é; não sabe o que a Consciência é. Assim,
na hora em que eu digo: “Você é Alma”, estou dizendo que você
é o que é e eu não sei o que é, mesmo que a aparência expresse
que você é bom ou mau, que está doente ou são, que é alto ou
baixo. Eu só sei que você é Alma, Espírito e Vida. Isso não é
condenar, criticar, julgar, elogiar ou adular. É apenas estabelecer
a verdade. No momento em que qualifico isso e digo que você é
bom, mau, rico, pobre, saudável, doente, jovem ou velho, estou no
reino do julgamento, dos conceitos e das aparências e assim não
farei progressos.
Não tente compreender o que Deus é com a mente, porque
não há maneira de se fazer isso. Uma vez que você chegar àquele
lugar silencioso, no centro de seu ser, Deus se revelará; mas você
nunca poderá transformá-Lo em palavras, mesmo depois de O re­
ceber. Assim, é inútil tentar pensar n’Ele com a mente. Não
tente pensar no que o homem é, porque você também nunca con­
seguirá imaginá-lo. O homem é o filho de Deus e você não sabe
o que o filho de Deus é. O homem em sua verdadeira identidade
é o Cristo e você não sabe o que o Cristo é, porque a filiação espi­
ritual do homem nunca se revela para a identidade do homem.

O Domínio de Seus Conceitos Pessoais


Deus deu autoridade ao homem no primeiro capítulo do Gê­
nese. Ele foi feito à sua imagem e semelhança. Nunca foi dada
autoridade a um ser humano, mas o homem feito à imagem e
semelhança de Deus é o homem que você é, quando deixa de aceitar
as aparências. Você é a imagem e semelhança de Deus apenas
quando deixa de ter conceitos, quando deixa de ter opiniões ou
crenças sobre este universo, em lugar de ouvir a comunicação
espiritual. Então, sua mente fica inteiramente livre de quaisquer
opiniões ou julgamentos e você é o filho de Deus. Tudo o que o
Pai tem flui através de você.
Deus não Se concede aos seres humanos. Se o fizesse, não
havería um doente ou um pecador, não havería um acidente, não
havería guerra. A humanidade é algo separada e afastada de Deus

92
ou não estaria em dificuldades. Ao aparecer como homem, Deus
não está em dificuldades, não está morrendo, não é pobre nem
está em um campo de batalha. Você é esse homem espiritual só
quando tiver deixado de pensar em termos de bem e de mal. Ou
seja, quando você for o próprio Deus em expressão. Quando não
estiver rotulando ninguém e nenhuma condição como o bem e o
mal, você é o filho de Deus e tem domínio sobre todas as coisas.
Tudo é conceito. Tudo que existe sobre a terra é um conceito.
Porque você realmente é Deus que aparece como ser individual, não
tenho nenhum controle sobre você. Se eu estiver acolhendo um
conceito humano sobre você, como sendo jovem ou velho, rico ou
pobre, doente ou saudável, posso dominar esse conceito de você e,
no momento em que eu tiver alcançado o controle do meu conceito
sobre você, eu o observo como você é e fico satisfeito com essa
semelhança. Você não mudou porque era o filho de Deus o tempo
todo. Tudo o que mudou foi meu conceito sobre você e é isso o
que constitui a cura.
Espiritualmente, nenhuma pessoa tem domínio sobre qualquer
outra. Deus nunca deu a uma pessoa poder sobre outra, mesmo
para o bem. Fazer um julgamento justo dá a você domínio sobre
seus conceitos. O julgamento justo é a compreensão de que Deus
é a realidade do ser individual. Sabendo disso, você não se tornou
um indivíduo. Você mudou seu conceito do indivíduo; você se abs­
teve de julgamento. Agora você sabe quem é o indivíduo: Cristo,
o filho de Deus. Isso é ter domínio sobre seu conceito.
O conceito de doença é que mesmo os males insignificantes
podem se tornar sérios ou fatais. O conceito de vírus é que eles
são os portadores de infecção ou contágio. Agora exercite seu do­
mínio e diga: “Espere um momento! Vamos olhar para todos estes
pequenos companheiros. Quem os criou? Se vocês, de qualquer
modo, foram criados, Deus os criou. Se vocês têm, de qualquer
modo, uma vida, é a vida de Deus. Se vocês, de qualquer modo,
têm qualquer forma de inteligência, é a inteligência de Deus. Vocês
não têm poder, vocês são um efeito, vocês são um conceito. Eu
não vou julgar pelas aparências. Eu vou fazer o julgamento justo.
E o que é o julgamento justo? Todo poder está em Deus.”
Você não fez nada para o vírus. Você exercitou seu controle
sobre o conceito de vírus. Esse vírus prossegue alegremente, mas não
causa dano a ninguém. Todos aqueles que fizeram o trabalho de cura
testemunharam a eliminação de infecções e de doenças contagiosas.

93
Alguns ajudaram mesmo a deter o surto de infecção e contágio du­
rante as epidemias e provaram que a idéia de infecção ou contágio
é apenas um conceito.

O Poder em Causa, não o Efeito

Não julgue nem condene. “Julgai segundo a reta justiça.” 3 Exa­


mine a situação: “Bem, aqui está você, efeitos. Isso fixa bem esse
ponto. Se você é um efeito, não pode ser uma causa. E se você é
um efeito, não pode ter poder.”
Seu corpo é um efeito. Sabendo disso, você deixará de acreditar
que seu corpo pode ficar doente ou envelhecer. Por iniciativa própria,
ele tem que permanecer como é para sempre. Não pode mover-se, não
tem inteligência, não tem vontade de ir para a direita, esquerda, para
cima ou para baixo. Permanece onde está eternamente até que você
o mova.
Se, contudo, você aceitar a crença de que seu corpo está sujeito
ao seu controle — seus caprichos ou desejos pessoais — você terá,
às vezes, um corpo puro e, outras vezes, um corpo cheio de pecados;
às vezes terá saúde, outras vezes estará doente; às vezes será jovem
e, outras vezes, velho. Mas se você reconhecer que todo o poder é
poder divino em ação na sua consciência, seu corpo apenas estará
sujeito a Deus, inteligência divina, e será governado e mantido por
Deus.
Lembre-se de seu coração. Ele não pode parar ou funcionar por
si mesmo. Há Algo que age sobre ele e o faz funcionar. Esse Algo
nós chamamos Deus. No momento em que você acreditar que tem
poder para fazer seu coração funcionar ou parar, seu coração osci­
lará de acordo com seus desejos de qualquer momento dado. Em
vez de acreditar nisso, devolva seu coração a Deus e faça a mesma
coisa com o resto de seus órgãos e funções de seu corpo. Compreen­
da que Deus o criou à Sua imagem e semelhança e que seu corpo
é o templo do Deus vivo. É governado e controlado por Deus.
Você pode conseguir curas por meio de um médium ou mestre,
mas chegará finalmente o dia de você assumir a responsabilidade de
manter uma percepção consciente do governo de Deus. O único meio
de você fazer isso é ver que tudo que existe, como forma visível,

3. João 7:24.

94
existe do ponto de vista do efeito. Tudo mais é Deus, que é invisível.
Qualquer coisa visível — se você puder vê-la, prová-la, ouvi-la, tocá-
la ou cheirá-la — existe como efeito e não há poder no efeito. Todo
poder está na Causa. Não odeie o efeito, não o tema e não o ame
sem razão. Se ele for alguma coisa em seu nível de bondade, deleite-
se com ele. Não o ame, mas lembre-se que a parte que você está des­
frutando é de Deus.
Nunca se alegre demais com a cura física ou com o indício do
suprimento. Alegre-se com a percepção do Espírito que Se manifesta
como cura ou suprimento. Conserve sua alegria em Deus e não no
efeito. Do contrário, você será como o milionário excêntrico, que
possuía três milhões de dólares e ainda tinha medo de gastar quinze
centavos no almoço. É isso o que ocorre quando depositamos poder
no efeito. A vida está em Deus; o amor está em Deus; a satisfação
está em Deus; a paz está em Deus; a felicidade está em Deus; o
suprimento está em Deus. É somente quando saímos e tentamos des­
cobrir estas coisas nas pessoas, nos dólares ou nas mansões, que elas
perdem seu verdadeiro caminho.

Não Tente Tornar-se Livre de Pessoas ou Condições


A cura está toda baseada em não julgar pelas aparências, não
estabelecer falsos conceitos, mas conceber cada caso: “Você é um
efeito e não tem poder.” Nunca tente livrar-se de alguém ou de
alguma coisa. Nenhuma pesssoa, na verdade, tem qualquer forma de
poder e esta verdade será sua liberdade. Você não estará livre de
alguma coisa ou de alguém, mas estará livre no momento exato em
que souber que nunca houve poder em uma condição, em uma cir­
cunstância ou em uma pessoa. Então, você se achará tão livre quanto
está livre da água no deserto, uma vez que você saiba que não é
água, mas apenas uma miragem.
Quando você estiver livre da miragem no deserto, você não se
livrará da água, porque não havia água lá. Assim é quando você
descobrir que está livre de uma pessoa ou condição, não é realmente
verdade porque nunca houve uma ameaçadora ou perigosa pessoa
em condição ali. Agora você está livre da miragem, da crença de
que há um poder, uma pessoa ou uma presença fora de Deus. Toda
pessoa é a presença de Deus, porque Deus está presente como pessoa,
como você e eu na qualidade de indivíduos.
Você não está separado e afastado de Deus e, através deste
trabalho, está voltando a Deus. Através deste trabalho, você está des­

95
pertando do sonho de que pode haver qualquer separação. Se você
está sonhando que está se afogando no oceano, o ato de despertar
não desvia a água de você e não o resgata do oceano. Revela-lhe que
você está na cama. Assim, este trabalho nunca o tira do pecado,
nunca o livra da doença ou da necessidade. Ele o desperta e depois
você olha em redor e compreende que está nos céus. Você esteve lá
o tempo todo, sonhando que estava no inferno.
Quanto mais você estiver vendo uma pessoa ou uma .condição,
como tendo poder, e estiver julgando o bem e o mal, mais mergulhado
estará no sonho. No momento em que puder afastar seu julgamento
e perceber: “você não é bom nem mau; você não está morto nem
vivo; você não é rico nem pobre: você é Espírito”, você estará des­
pertando, saindo do sonho, para a consciência mística da identidade.
Quando essa compreensão chega, o sonho já não mais existe. Isso é
algo que deve ser feito individualmente e também coletivamente.
Esta verdade que estou lhe fornecendo tem sido revelada em
todos os tempos, muitas vezes e de modos diversos, e é uma verdade
que tornará os homens livres. Podemos nos libertar dos pecados, das
doenças, das guerras, das necessidades e limitações agora mesmo, se
pudermos ser moldados para aceitar esta verdade.

Não Tente Mudar o Mal em Bem

As coisas da terra sobre as quais temos domínio são conceitos


e nós não temos domínio aqui fora. Não tente fazer chover ou com
que o sol brilhe aqui fora; não tente fazer o bem a alguém aqui fora;
não tente manter o emprego de alguém aqui fora. Tudo que acon­
tecer deve acontecer dentro de seu próprio ser e esta mudança é
realizada pelo fato de você ter domínio sobre seus conceitos. No
momento em que você tiver um conceito e, em algum lugar nele,
você encontrar algo bom ou mau, você deve agir para chegar a um
ponto no qual você se afaste dos seus conceitos de bem e de mal.
Não tente mudar o mal em bem, porque você apenas terá um
conceito diferente; e amanhã, na semana ou no mês seguinte, ele
voltará sobre o lado mau novamente. Não fique feliz com uma boa
aparência, porque algum dia ela o enganará e mudará para uma
má aparência. Se você olhar para um objeto e considerá-lo como
mau, sua reação natural é querer vê-lo como bom. O que você
deve fazer'é olhar para ele e não vê-lo como bom, mas vê-lo como
Espírito: nem bom nem mau.

96
Ninguém sabe o que é o Espírito. O que quer que você pense
que sabe, não é verdade e, quanto mais cedo você começar a com­
preender isso, em melhor situação estará. Você não compreende e
nunca compreenderá. É Deus que tem compreensão infinita; volte-se
para dentro de si e deixe a compreensão divina revelar-se a você.
Satisfaça-se com isso e, acima de tudo, aprenda que é simplesmente
errôneo rotular uma coisa como boa como rotulá-la como má.

Deixando o que Existe Revelar-se

Seria um assunto muito simples para mim julgar o que você é


em termos humanos, quem você é ou como você é. Mas isso seria
errado, porque seria meu conceito sobre você e ainda não seria você.
Isso tudo começou a se revelar a mim, quando eu estava tomando
o café da manhã com um aluno. Nós estávamos discutindo o fato de
não se pedir a Deus, porque não há meio de se obter algo de Deus,
nem de se conseguir que Deus altere alguma coisa, assim, pedir a
Deus alguma, coisa é muito fútil. Neste ponto, eu vi uma pequena
vasilha de melado e disse: “O que é isso?”
Sua resposta foi: “melado”.
“Como você sabe?”
“É uma associação de idéias. Eles servem bolos quentes e por
isso sempre têm melado junto.”
Pela sua resposta, era claro que ele estava julgando que era
melado. Eu disse: “Essa é sua opinião. É seu conceito. Mas vamos
supor que nós a abrimos e descobrimos que não era melado, mas
alguma outra calda qualquer. Talvez não seja mesmo melado. O que
acha disso?”
“Bem, isso pode ser verdade também. Eu estava apenas julgando
pelo fato de que isso é o que você esperaria que fosse.”
Continuei: “Agora, que tal retirarmos nossa opinião sobre o
fato de ser melado ou mesmo se se trata de alguma coisa boa ou
má e declararmos que apenas é, não o que é, mas que apenas existe.
Algo existe, isso é evidente. Alguma coisa está lá, mas eu não sei
se é boa ou má. Eu posso julgar pelas aparências e dizer que é
melado e' que, portanto, é bom; mas alguém mais podia dizer que
é melado e que não gosta dele. Assim, para ele seria ainda melado,
mas do lado do mal. Por outro lado, quando você o provasse, pode­
ría não ser absolutamente melado. Assim, poderiamos estar errados

97
em todo resultado. Uma coisa podemos dizer com certeza: existe. Algo
está lá.”
É exatamente isso o que eu faço com o trabalho de cura. Você
se apresenta e apresenta sua condição a mim e, francamente, eu
nada sei sobre você ou sobre ela. Tenho certeza de que sei menos
sobre anatomia do que quase todos no mundo e certamente sei menos
a respeito de todas aquelas coisas que compõem o que o mundo cha­
ma seus males. Mas você se apresenta para mim com seu problema
e me volto para dentro de mim e tudo o que sei é que EXISTE.
“Alguma coisa está aqui. Agora, Pai, Você a define.”
Geralmente ocorre um estado de consciência, que é como se se
dissesse: “ ‘Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo’ 4
Não cuide mal dele.” No momento em que tiver a convicção inte­
rior de que você é o filho de Deus, que não há nada presente aqui
senão a presença de Deus, e que não há poder aqui senão o poder
de Deus, a cura se realizará.
A cura espiritual consiste em ser capaz de encarar o mundo sem
uma opinião do bem ou do mal, retraindo-se para dentro de nós
mesmos e indagando: “Pai, o que é isso?” Então, o Pai pode fazer
lembrá-lo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
Ou o Pai dirá: “Esta é a presença de Deus”; “este é o poder de
Deus”; ou “isto não é nada separado e afastado de Deus”. Nem
sempre vem em palavras assim, mas vem na- convicção ou percepção
da onipresença de Deus e só Deus.
Você encontra as pessoas de quem gosta. Não há troca de pa­
lavras; você não diz: “eu gosto de você” ou “você gosta de mim”.
Você apenas tem consciência da reciprocidade. Raramente alguém
exprime tais pensamentos, mas há reciprocidade e compreensão sem
quaisquer palavras. Assim é no estado de cura. Deus pode ocasional­
mente falar com você em voz audível, mas é raro. A maior parte do
tempo, ele vem como uma convicção e você permanece na convic­
ção de que tudo está bem. Isso acontece com sua capacidade de
não rotular tanto o bem quanto o mal. Você não pode fazer o julga­
mento correto porque ele vem de Deus e pode vir apenas na me­
dida em que você estiver ouvindo. No seu silêncio interior, você deve
estar ouvindo a Deus e escutará claramente, sentirá, compreenderá
ou ficará ciente de Deus e isso é tudo o que é necessário.
Apenas tome cuidado para não prejulgar alguma coisa como mal
e depois voltar-se para Deus em busca de ajuda. Deus é onipresente;

4. Mateus 3:17.

98
assim, é inútil ir à presença d’Ele para pedir-lhe que esteja presente.
é inútil ir a Deus para pedir-lhe que seja bom para você. É inútil ir
u Deus para obter o Seu poder, porque Deus está bem aqui com
todo o seu poder. Deus está presente onde você estiver. Deus é
o onipresente poder do bem. A graça de Deus é suficiente; não é algo
que você possa obter; é algo que existe. Deus governa este universo
pela graça, não pela lei, pelo desejo ou pela vontade, mas pela graça.
A graça divina está onipresente em sua consciência.
Um princípio básico do Caminho Infinito é encontrado na pala­
vra existe. Deus existe, a harmoniá existe, a vida existe, o amor, a
paz, a alegria, o poder existem. O domínio existe porque Deus existe.
Deus é infinito, onipresente, onipotente e onisciente. Não se dirija a
Deus para nada. Fique calmo e deixe Deus revelar-Se dentro de
você, porque Deus já está esperando impacientemente para revelar-
Se. É inútil buscar a Deus. Tudo que você tem a fazer é recebê-Lo.
Você não trabalha para Ele, você não O merece, você não dá o suor
de seu rosto para Ele. Deus já existe. Deus já é realização. Deus já é
perfeição. Por que você desejaria algo mais?

8
Alcançando o Domínio Pelo Eu

O segredo da existência harmoniosa está no alcançar um estado


de consciência dessa- Graça dentro de cada pessoa que espera o
reconhecimento. Se a gente a reconhece e a demonstra ou não nesta
vida, na próxima ou na seguinte, é um assunto individual, que de­
pende do crescimento espiritual da gente ou da sua falta.
Alguns podem ficar aborrecidos com a repetição a respeito do
início. Em lugar de dizer: “Oh, eu sei isso, eu faço aquilo”, esqueça
sua experiência passada. Comece como se fosse algo completamente
novo e o faça com sinceridade, não com desatenção, como se você
já soubesse o que estava por vir. Faça-o com completa atenção,
porque este é o único meio de divulgar os princípios do Caminho
Infinito para você.
Olhe para seus pés com muita atenção e se pergunte: “Eu
estou lá embaixo naqueles pés? Aqueles pés fazem parte de mim
ou são meus?” Faça isso muito vagarosamente, porque do contrário
você não terá a sensação. Você está lá embaixo naqueles pés? Você
acredita que mora lá ou aqueles pés são seus, seus para comandar,
seus para ordenar, seus para dirigir?

99
Agora suba até seus joelhos, olhe para seu corpo desde os
joelhos até as unhas dos artelhos, fazendo a mesma pergunta: “Eu
devo ser encontrado lá embaixo? Este sou eu ou isto é meu?” Suba
até a cintura. Você está lá, ou tudo isso é seu? Você não pode
movê-lo de acordo com sua vontade? A partir daí, suba até o pes­
coço, mas seja um pouquinho mais completo e examine aquela área
do corpo entre o pescoço e a cintura, a parte da frente e a de trás,
o interior e o exterior. Olhe para dentro e se pergunte: “Este sou
eu? Este é o que eu vejo no espelho, mas este sou eu ou isto é
meu? Este corpo não foi dado a mim para muitos usos?”
A partir do pescoço, continue direto para cima até a ponta do
cabelo e esteja certo de olhar em torno de sua cabeça e notar seu
cérebro e suas orelhas. Olhe para baixo através de sua garganta e
veja se você pode se encontrar em qualquer lugar de seu corpo.
Olhe atrás de seus olhos, porque, às vezes, nós pensamos que esta­
mos atrás deles, olhando para fora, e veja se você pode encontrar-se
lá. Finalmente, se você fizer isso sinceramente, deve concluir que
não está em lugar nenhum dentro de seu corpo.
Se, durante esse exercício, você não ficar completamente con­
vencido, se não estiver completamente claro para você que não há
lugar dentro de seu corpo onde você esteja, faça isso novamente e,
se necessário, uma terceira ou quarta vez, até que você já não
precise de minhas palavras para isso, mas possa testemunhar o fato
de que você se buscou completamente e sabe que não está dentro
daquela moldura. Você não fará progresso espiritual até alcançar
essa percepção, porque até que isso fique claro para você, você
nunca saberá quem você é, o que é, onde está, por que está ou
como você age.

O Corpo, um Instrumento de Consciência

Depois de ter realizado essa prática, eu gostaria que você en­


trasse cerca de seis polegadas atrás de você mesmo e seis pole­
gadas acima de sua cabeça e se examinasse. O modo para se fazer
isso é fechar os olhos, elevar-se e dizer: “Eu, eu.” Levante-se, exa­
mine através do topo de sua cabeça e perceba: “Eu.”
Eu não estou nesse corpo. Portanto, eu devo estar do lado de
fora dele. Se eu estiver do lado de fora dele, posso localizar-me.
Posso estar aqui, ali ou em qualquer lugar. Mas eu escolho agora

100
estar bem atrás de meu corpo e acima dele. Assim, eu posso des­
prezar este corpo, eu, atrás e acima dele, desprezando-o. Eu, que
não estou no corpo, me localizei agora e quando olhar para este
corpo, eu me perguntarei: Como este corpo pode agir sem mim?
Como este corpo pode mover-se para frente e para trás? Como
//odem os braços se levantar e abaixar? Este corpo fará isso por si só?
Este corpo pode por si mesmo digerir ou sou eu a ação dos
órgãos da digestão, da mesma forma como eu sou a ação de minhas
mãos e pés, de meus braços e pernas? Eu sei que sou a ação de
minhas mãos e pés. Eu sei que minhas mãos não podem oferecer
ou aceitar uma dádiva. Sou eu quem aceita e sou eu quem dá, fa­
zendo uso de minhas mãos como um instrumento. Meus pés podem
andar, minhas pernas ou meu corpo inteiro? Eu sei que, se eu me
levantar de minha cadeira, é porque eu, eu que sou EU, decido le­
vantar-me da cadeira, e meu corpo deve obedecer. Ele não tem
escolha e não pode recusar. Quando eu estou pronto para levantar,
o corpo deve se levantar e quando eu estou pronto para andar, o
corpo deve andar, porque me foi dado o domínio sobre este corpo.
Tome diversos períodos para ajustar-se a esta atitude de se
desprezar e testemunhar o abandono de seus braços e pernas, de
suas mãos e pés, exceto quando você os dirige e os move. Se você
colocar seu corpo diante da mais farta refeição, ele não a comerá,
a menos que você decida dotar o corpo com impulsos de obter o
alimento e bebida. Lembre-se de que é você que está fazendo tudo
isso e o está fazendo para você mesmo, porque lhe foi dado por
Deus o domínio sobre sua vida e sobre seu corpo. Você pode esco­
lher se semeará para a carne ou para o espírito. A escolha é sua.

A Consciência Desenvolvida

Embora você chame a si mesmo de “eu”, isto não o identifica


completamente, porque você pode não conhecer a natureza do eu que
você é. A fim de obter alguma idéia do que você é, imagine por
um momento que você nunca aprendeu a ler. Tente lembrar-se do que
sua vida seria sem a capacidade de ler. Você não sabería nada do
que está nos jornais e nos livros de viagens; não sabería nada de
qualquer parte do mundo, exceto onde você está ou o que você
pode ver na televisão ou ouvir no rádio. Você não podería ler a
Bíblia ou livros de filosofia; assim, você nada sabería sobre as filo­

101
sofias do ou sobre as religiões do mundo. Com esta limitação, sua
mente seria um tanto limitada. Seu panorama da vida seria exces­
sivamente estreito. Lembre-se de todas as coisas que você não
conhecería, tudo que você não sabería que não soube. Quanto a
você, sua pequena vizinhança seria tudo que há.
Você pode ver árvores e flores, de modo que as conhece. Mas,
porque você compreende que pelo menos reconhece árvores, relva,
flores e alimentos e que reconhece florestas, ruas e cidades, você
agora compreende que o “eu” com o qual você se identificou deve
ser um estado de consciência, pois, pelo menos, esse eu está ciente.
Ele pode não estar ciente de muita coisa, mas esse eu está ciente.
Assim, esse eu que você é realmente é um estado de consciência.
Uma palavra melhor seria consciência. Eu sou consciente, nesse
estado humano, uma partícula muito insignificante de consciência,
mas consciência apesar de tudo.
Prosseguindo com este exemplo, alguém diz a você o que quer
dizer ser capaz de ler. Desse modo, você decide aprender a ler. Você
se torna ciente de palavras como “bonito”, “magnífico”, “inspira­
dor” e “grandeza”, à medida que continua aprendendo a ler. Você
lê no jornal o que está acontecendo na cidade ou no estado vizinho.
Finalmente, você aprende o que está ocorrendo no exterior. Eis a
expansão de sua consciência. Não, não é isso absolutamente. Sua
consciência é infinita; assim, mesmo neste estado de ignorância ou
inconsciência, você pode agora começar a ler e se tornar ciente
de um horizonte mais amplo.
Sua consciência é infinita e você está absorvendo cada vez mais
da grande existência, do grande universo. Algum dia esse estado de
consciência se expandirá. Assim, mesmo que você possa ver somen­
te o horizonte, você saberá que o horizonte não está lá, apesar das
limitações da visão.

A Percepção da Natureza Infinita do Ser Individual

De agora em diante, tantas coisas acontecem a você, que você


não pode ficar em paz com elas. E você está se tornando ciente
cada vez mais da natureza infinita de seu ser. Logo você aprende
que tem controle sobre seu corpo inteiro. E, finalmente, cada vez
mais, a natureza de seu domínio sobre tudo entre o céu e a terra
se torna aparente para você.

102
Mas você não estará crescendo. Você nunca será mais ou me­
nos do que o eu que você é. Você é consciência e é infinito, mas
es á emergindo agora do estado pródigo e se tornando cada vez
mais ciente da natureza infinita de seu próprio ser e domínio, porque
esse eu que você se declara que é, é realmente consciência e a na­
tureza de sua consciência é infinita. Algum dia você saberá por quê.
“Eu e o Pai somos um.” 1 Portanto, tudo que Deus é eu sou.
Tudo que o Pai tem é meu, tudo dentro da minha consciência.
Assim, dia a dia, eu estou me tornando mais ciente daquilo que já
está dentro de minha consciência e que sempre esteve lá esperando
pelo meu reconhecimento. No Monte da Transfiguração, o Mestre
mostrou a três de seus discípulos que os antigos profetas hebreus,
que haviam morrido séculos antes, ainda estavam vivos, que eles
estavam bem ali onde ele estava. A verdade é que eles estão aqui
onde nós estamos. E onde estamos? Na consciência. Onde você
está? Em minha consciência. Onde eu estou? Em sua consciência.
O único lugar em que você pode conservar a mensagem do
Caminho Infinito é na sua consciência. Esta mensagem está na sua
consciência há milhares de anos, “antes que Abraão existisse”.12 Mas
você agora está apenas se tornando ciente disso, assim como nosso
não leitor se torna ciente da leitura e, através dela, toma conheci­
mento do mundo da arte, da literatura, da música, da filosofia e
da religião. Se ele não fosse consciência infinita, como poderia ter-se
tornado ciente do universo infinito e da infinidade de estrelas e
planetas? Esta consciência, a consciência que ele é, é tão infinita
que, se ele decidisse aprender todas as línguas do mundo, ele pode­
ria. Se ele decidisse abraçar a todas as religiões e todas as filosofias,
ele poderia. Não há nada que ele decidisse fazer que não pudesse
realizar, porque não há limitações para a consciência que ele é, para
o EU SOU.
Agora volte para lá, seis polegadas atrás de seu corpo e seis
polegadas acima de sua cabeça e olhe para o seu corpo novamente.
Perceba que você não está neste corpo: este corpo está dentro de
sua consciência. Do mesmo modo que a Bíblia ou os livros do Ca­
minho Infinito estão dentro de sua consciência, assim este corpo
também está. Com essa compreensão, tente ver o motivo pelo qual

1. João 10:30.
2. João 8:58.

103
o Mestre podia dizer ao paralítico: “Toma a tua cama”.3 Eu não
sei se ele disse “cama” ou “corpo”. Creio que seja mais provável
que ele disse “corpo”. Talvez ele dissesse: “Toma teu corpo e anda.
Você não está nesse corpo e ele não o está submetendo à servidão.
O corpo está dentro de você, mas você não conhece seu domínio”.
Com todo o seu estudo, prática e meditação, você chegaria ao
ponto de reconhecer: “Eu não estou neste corpo. Ele não tem do­
mínio sobre mim. Eu tenho domínio sobre este corpo.” Não pode
haver limitação se você reconhecer que, como eu, como esta Cons­
ciência Infinita, você tem domínio.

Elevando o Poder Acima dos Órgãos e Funções para o Eu

Disseram-lhe que, quando você come, os órgãos digestivos


trabalham e começam a digerir, assimilar, transformar e eliminar.
Observe dentro de seus órgãos digestivos e prove a si mesmo que
não é verdade. Seus órgãos digestivos não podem realizar uma ação
até que o eu, dentro de você, comece a digerir. Eu digiro meu
alimento, eu o assimilo — não os órgãos digestivos, mas eu.
Você não vai a um médico e diz: “Meu aparelho digestivo
não funciona.” Você diz: “Eu não estou fazendo a digestão de meus
alimentos.” Essa é a verdade sobre esse assunto. Você não está
propriamente fazendo a digestão, porque você transfere o domínio
da digestão para seus órgãos digestivos em lugar de aprender a sen­
tar-se atrás de si mesmo, considerar e dizer: “Foi-me dado domí­
nio sobre meu corpo. Este corpo não tem domínio sobre mim.”
Disseram-nos que o coração é um órgão bombeador para todo
o sistema circulatório. Ele traz e leva o sangue. Mas agora examine
de onde você está e veja se isso é verdade. Veja se não é o eu
e veja se o coração podería funcionar sem o eu. Um cadáver não
pode fazer isso, porque o eu foi embora. O coração não pode fazer
isso por si só, nele deve haver consciência. Deus deu ao homem
domínio sobre o coração, o fígado e os pulmões.
Pelo fato de nada poder acontecer senão através de uma ativi­
dade de sua consciência, retire conscientemente qualquer poder que
você tem por ignorância dado até agora a seu corpo e eleve-o para

3. Mateus 9:6.

104
o eu que você é. Deixe-se ser governado por esse “EU SOU O
OUE SOU”.4
Deixe seu corpo ser governado por esse eu e pare de admitir
que você é fraco: o eu nunca é fraco. Se o corpo é, é porque você
(ícsistiu do domínio sobre ele.
“E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.” 5
Quando eu levantar o eu de mim, eu posso levantar todo órgão e
função do corpo para esse eu. A consciência tem formas e ativida­
des infinitas e eu devo fazer uso consciente de algumas dessas. Por
exemplo, devo conscientemente decidir andar, correr, levantar, sen­
tar, comer ou não comer. Mas há uma outra atividade da consciên­
cia para a qual as funções do corpo foram dadas; assim, você não
tem que dizer a seus órgãos digestivos: “Digiram.” Você não pre­
cisa dizer aos órgãos excretores: “Eliminem.” Nem precisa dizer ao
coração: “Funcione.” Tudo que você deve fazer é saber que estas ati­
vidades do corpo realmente não são atividades do corpo. Elas são
atividades da consciência; portanto, deixe-as realizar seu trabalho.
Nós todos somos escravos porque permitimos que os órgãos e
as funções do corpo aceitem a crença médica de que eles podem
fazer o que querem e controlar-nos, em lugar de compreendermos
que os órgãos e as funções do corpo são realmente animados e mo­
tivados pela consciência. Portanto, eu posso restituir ao eu minha
consciência individual, a atividade de meu corpo e daquelas funções
de meu corpo que não são conscientemente controladas.
Em lugar de perguntar: “Como o coração está batendo? Como
estão os órgãos digestivos funcionando? Como está funcionando o
fígado?”, eleve toda a atividade dos órgãos do corpo para a cons­
ciência e restaure o domínio paTa a consciência. Então, diga: “Ago­
ra, consciência, ação.” Sempre que for necessário e enquanto o
corpo não estiver respondendo completamente, repita isso. Eleve as
atividades dos órgãos para a consciência e diga: “Agora, consciên­
cia, assuma.” Não demorará que você descubra que seu corpo desti­
na-se a funcionar através de sua consciência. À sua consciência foi
ilado o domínio sobre estes órgão internos, funções e músculos, mas
nós deixamos de exercitar esse domínio, principalmente porque nós
pensamos que estivéssemos no corpo e que não tivéssemos domínio
sobre ele.

4. Êxodo 3:14.
5. João 12:32.

105
A Consciência

Quando estou fazendo uma exposição, o corpo é usado apenas


como uma ilustração ou símbolo de uma coisa maior. Se você com­
preender bem isso, o resto se tornará claro para você. Aqui estou,
sou consciência e a consciência é infinita. Há uma área da consciên­
cia com domínio sobre qualquer aspecto de minha vida. Meu supri­
mento não está à mercê do “homem cujo fôlego está no seu
nariz”.6 Deus quis que eu tenha suprimentos infinitos, tudo que
eu necessite e doze cestos cheios para o futuro. Mas Ele não me
deixou à disposição do capricho ou desejo de ninguém, generosidade
ou falta dela. Ele preparou uma atividade de minha consciência para
me abastecer de suprimentos ou para se revelar como meu supri­
mento. Assim como há uma área de minha consciência que governa
os órgãos e as funções de meu corpo, também há uma área de
minha consciência que governa meu suprimento. Portanto, eu posso
reconhecer: “eu escondo o maná. Eu tenho alimento que o mundo
não sabe”, porque há uma atividade de minha consciência que tem
domínio sobre meus suprimentos.
Há uma atividade ou função de sua consciência que é destinada
a levá-lo para seu próprio ser. Há palavras no poema Wcáting de
John Burroughs que poderíam confundir os próprios eleitos, se eles
não fossem espiritualmente sábios: “Meu ser virá a mim.” Se você
pensar nisso, provavelmente dirá para si mesmo: “O sr. Burroughs
deve estar enganado. Sei de milhões de pessoas no mundo, cujo ser
não está se aproximando delas, talvez dois ou três milhões. Entre­
tanto, seu poema parece tão lindo.” É lindo e é verdadeiro, se
você souber o que John Burroughs sabia, que há uma área de sua
consciência, um maná oculto dentro de você, que está à sua frente
e conduz seu ser a você: suas companhias, assuntos de sua própria
casa, de sua família espiritual, coisas com as quais você pode co­
mungar em vários níveis da existência humana e espiritual. Sua
consciência é infinita. Tem faculdades infinitas, atividades infinitas,
funções infinitas. Uma delas é levar até você aqueles que você pode
abençoar e que, por sua vez, podem abençoá-lo.
Se olhar para si mesmo no espelho e acreditar que você está
vendo seu próprio Eu, você vai ser como a pessoa que não sabe
ler. Todo você estará ciente de sua limitação. Em vez disso, diga:

6. Isaías 2:22.

106
“Eu”, e se levante além de si mesmo. Olhe para baixo e diga:
“Mãos, vocês não podem se mover, se eu não movê-las. Pés, vocês
não podem se mover, se eu não movê-los. Dentes, vocês não podem
mastigar, se eu não mastigar”. Você tem que se tornar ciente do
eu. Levante o eu de seu próprio ser: “Eu, que eu me levante.”
Levante esse eu em você.
Levante o filho de Deus em você com a palavra eu. Levante-se
c deixe seus ombros baixarem à medida que você olhar para baixo
e compreender.
Eu e o Pai somos um e o Pai deu-me o domínio sobre
este corpo e sobre meus negócios. Eu não preciso hipnotizar nin­
guém para que compre o meu produto. Eu não preciso pensar sobre
como arranjar um emprego. Eu preciso saber a verdade! Há uma
atividade de minha consciência que está indo à minha frente agora,
cuidando de meu emprego ou de alguma coisa mais que possa ser
necessário para minhas atividades.
O único meio que você tem para concordar com isso é acredi­
tar que há um Princípio Infinito, divino e criativo, que é ao mesmo
tempo Inteligência infinita. Todas as coisas e todo mundo criado
por esse Princípio o foram com um propósito específico. Se você
não acredita nisso, você não pode ser ajudado. Se você acredita
nisso, você não pode ficar desempregado, porque Deus não pode
ter uma ação, idéia, pensamento ou projeção desperdiçadas.
Se houver uma idéia divina, veio de Deus e Deus cuidará para
que se realize. Portanto, você nunca deve tentar dominar ninguém.
Nunca deixe seu pensamento se estender para fora de si mesmo,
como se fosse para governar, controlar ou influenciar, ainda mais
agora que você compreende que não pode influenciar a Deus. Sua
vida é vivida dentro das fronteiras infinitas de sua própria consciên­
cia e seu meio de vida é conhecer a verdade.
Quando eu me sento aqui sabendo dessa verdade — e real­
mente eu não estou sentado em uma cadeira, estou de pé ali onde
cu disse para você ficar — eu não estou dizendo para meu coração,
meu fígado, meus pulmões ou para meu sangue o que fazer. Estou
sabendo a verdade de que a atividade ou o funcionamento de cada
órgão de meu corpo está na consciência, a consciência que governa
cada parte dele. Porque eu, a Consciência, sou infinito, há uma área
ou atividade de minha consciência responsável pelo sucesso de mi­
nha'! «tívidades comerciais, por seus frutos espirituais, por sua recei­
ta e despesa.

107
Todo você sabe as limitações e as dificuldades da vida familiar,
ainda mais quando todo mundo não está unido pelo pensamento
espiritual. Mas há uma área de sua consciência que governa sua
vida familiar. Você tem apenas que se lembrar da regra dada pelo
Mestre: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos fa­
çam, fazei-lho também vós.” 7 Tudo o que você pode fazer para
realizar relacionamentos harmoniosos é amar seus amigos, seus
parentes e seus inimigos.
Há uma área da consciência, uma atividade e uma função de
sua consciência que vai à sua frente e que facilita seu relaciona­
mento com a família. Há uma área, uma atividade e uma função
de sua consciência, uma Presença divina espiritual que vai à sua
frente para endireitar “o que está torcido” 8, para preparar as “mo­
radas” 9 para você e para ser o cimento de seu relacionamento
humano.
Se você deve dirigir na estrada, há uma atividade de sua
consciência que vai à sua frente para manter todo mundo em sua
pista certa, para providenciar que todo mundo esteja funcionando
de acordo com a lei e mandamento divino. Você não tem que pensar
nisso. Você apenas deve saber a verdade de que o controle dos
automóveis na rodovia não está a cargo do departamento de polí­
cia, que freqüentemente não está lá: está a cargo da Consciência
infinita, que você é.
Em cada aspecto de sua vida, em cada ângulo de sua experiên­
cia humana, você tem um segredo e a verdadeira palavra sagrada
dentro de você: “Eu tenho alimento que o mundo não sabe. Eu
ocultei o maná”. Tudo que você faz é descansar novamente e deixar
que isso vá à sua frente. A única coisa necessária para mantê-lo
em atividade é viver uma vida de integridade.

9
O Místico e a Cura

Muitas pessoas querem saber se o fato de se alcançar a per­


cepção de Deus torna alguém um instrumento da cura. Não há res­
posta categórica para essa pergunta. O alcance da percepção pode

7. Mateus 7:12.
8. Isaías 40:4.
9. João 14:2.

108
gerar uma consciência regeneradora, mas isso não ocorre necessa­
riamente. Se a percepção alcançada é bastante profunda, pode ser
uma experiência mística, que significa união consciente ou recon­
ciliação consciente com Deus. Mas isso, certamente, nem sempre
habilita uma pessoa a realizar o trabalho de cura.
A consciência regeneradora é a consciência que tem o discer­
nimento espiritual de enxergar, através “deste mundo”, a “Meu rei­
no” além. Este discernimento ou habilidade de perceber a Reali­
dade não está reservado àqueles que tiveram iluminação mística. É
possível para quase todo mundo, que está desejoso de se tornar
aluno da verdade espiritual, atingir uma medida de discernimento
espiritual. Há aqueles que o alcançam em um dia. Há os que o al­
cançam em poucas semanas ou alguns meses e há outros que tra­
balham durante anos para alcançá-lo. Um fator decisivo na extensão
do tempo leva a desenvolver esse estado de consciência: o desejo
de realizar isso.
O discernimento espiritual não é para ser obtido nas horas
vagas. Ele exige uma devoção maior do que seria necessário ao es­
forço de se aprender uma nova linguagem ou tocar um instrumento
musical. Deve haver o desejo do coração. Dado isso e a disposição
de estudar e praticar, levará apenas pouco tempo até que uma pes­
soa possa alcançar alguma medida de consciência espiritual e mos­
trá-la em trabalho real.

A Carência da Cura Espiritual

Surpreendería todo mundo que mais líderes religiosos não estão


fazendo o trabalho de cura espiritual, pois não pode haver dúvida
de que, na sua grande maioria, são honestos e amantes sinceros de
Deus, os que buscam a Deus, que passam a vida próximos de Deus,
pelo menos tão pertos de Deus quanto a compreensão deles permita,
o que, na maior parte dos casos, tem grande extensão. Se Deus,
como geralmente é compreendido, fosse um curador de doenças, por
que nestas centenas de anos desde que a Bíblia existe, esses dedi­
cados líderes religiosos não obtiveram o monopólio da cura espiri­
tual? A vida deles é junto a Deus e dedicada ao serviço de Deus
e do homem. Eles são severos, honestos e sinceros. Eles não estão
realizando mais trabalho de cura espiritual, porque, a despeito do
reconhecimento da onipotência de Deus, o poder ainda está sendo

109
atribuído ao pecado, à enfermidade, à morte, à necessidade e à li­
mitação. Eles crêem que a doença é permanente e real e aceitam
a premissa de que podem suplicar a Deus para afastá-la.
Se Deus pudesse afastar a doença, ninguém teria que orar para
pedir a cura. A cura não se baseia na premissa de que há uma
doença, um Deus que pode curá-la e um determinado homem ou
mulher ou mesmo grupo de homens ou mulheres que devem obter
a boa vontade divina. No reino de Deus, não há enfermidade. Deus
sustenta e conserva Seu reino intacto, harmonioso, saudável, com­
pleto, perfeito, espiritual e integral.
Jesus Cristo e outros como Ele foram instrumentos de Deus
ao revelarem para o mundo que a doença, o pecado e a morte não
fazem parte do reino de Deus, não são reais e não podem perma­
necer em virtude dessa compreensão. Quando você tocar nas bordas
do manto espiritual, você compreenderá que em todo o reino de
Deus não há um pecador ou uma pessoa enferma.
A cura tem a ver com seu estado individual de consciência,
um estado de consciência que apreende a idéia de Deus como Es­
pírito infinito e, portanto, de um universo, incluindo o homem, in­
finita e eternamente espiritual. O que aparece para este mundo co­
mo pecado, doença, necessidade e limitação não compartilha da na­
tureza do real e não tem lei, causa, efeito, substância ou realidade.
Então, com seus pensamentos concentrados em Deus e na Reali­
dade, ouvindo e estando sempre alerta aos Impulsos divinos, que
lhe asseguram’ que Deus está no campo de luta, as curas se reali­
zarão.
Houve muitos místicos na história do mundo e, ainda que al­
guns deles alcançassem a percepção da verdade de que o que deno­
minamos existência material, representa apenas a ilusão dos cinco
sentidos, a crença no bem e no mal foi profundamente enraizada
na maior parte deles. Quando foi revelado a Gautama, o Buda, que
“este mundo” é maya, ou ilusão, sua iluminação espiritual foi tão
grande, que ele imediatamente soube que há uma criação espiritual
divina aqui e agora, mas que o conceito universal dela é ilusório.
Com esta compreensão, ele realizou um grande trabalho de cura.
Finalmente, a revelação de Buda foi corrompida e a palavra
maya passou a significar o oposto de Deus. Seus últimos prosélitos
foram deixados mais uma vez com dois poderes: o poder da Reali­
dade para vencer o poder da ilusão. Mas a ilusão não pode ser ven­
cida. Quando você compreender que uma coisa é ilusão, você ter­

110
mina com ela. Ela não tem mais existência. Ela tinha existência
apenas enquanto você pensava que ela existia, mas, quando você a
viu como ilusão, foi o fim dela.
Hoje o termo “espírito mortal” ou “espírito carnal” é usado
para significar a inutilidade deste mundo de aparências. Mas outra
vez veio a ser estabelecido como um poder oposto a Deus e a luta
continuou. Você não pode realizar o trabalho de cura, se você acre­
ditar que há entidades com as quais Deus tem que se bater, lutar
ou dominar. Isso é estabelecido como um poder separado de Deus.
É necessário receber de volta a revelação original dos grandes mís­
ticos de que há apenas um poder e que tudo englobado pelo termo
ilusão é uma inutilidade. Quando você perceber isso, você terá uma
consciência regeneradora.
A crença no bem e no mal é o que mantém a humanidade.
Contudo, na medida em que você perde sua crença no bem e no
mal, você já não é humano: você é espiritual. Isso acontece quando
você tem uma consciência saudável. Então, você não está sujeito aos
erros humanos ou às limitações da vida, como você esteve, quando
estava preocupado tanto com o bem quanto com o mal. Em certa
medida, você se tornou imune aos clamores do mundo, mas não
cem por cento. Quando você alcança esses cem por cento, você já
não pode se misturar com os outros e a vida se torna um fardo pe­
sado demais para carregar. Ê então que os místicos, que alcançaram
a percepção verdadeira e completa de que não há bem nem mal,
retiram-se do mundo. Eles já não querem ser uma parte dele.

Limitação, o Fruto dos Pares de Opostos


Não há necessidade no reino de Deus. A única necessidade está
no reino do homem, e isso porque ele tem abundância e carência:
ele tem o bem e o mal, o em cima e o embaixo, o dentro e o fora,
o preto e o branco. É por isso que ele tem a sensação de limitação.
No momento em que um indivíduo começa a perceber que há so­
mente Deus e que a grandeza de Deus impede qualquer mal, ele
não tem mais problemas de necessidade.
A partir do momento em que uma pessoa compreende, mesmo
em certa medida: “Obrigado, Pai, eu sou único com Você e tudo
que Você possui é meu. Eu não dependo do hcmem cujo fôlego• es­
tá no seu nariz.1 Eu não preciso ganhar a vida com o suor de meu

1. Isaías 2:22.

111
rosto”, ela começa a ser assimilada por uma Presença invisível. O
suprimento começa com os meios mais naturais e normais, sem arre­
batar o pensamento, sem lutar, sem discutir, sem pedir.
Você pode ter uma experiência mística e pode estar muito
doente e pobre, mas se isso ocorrer é apenas porque você ainda está
aceitando a idéia de Deus como um poder sobre o mal. Ao fazer
isso, você está se mantendo no sonho. Se você se descontrair e dei­
xar tudo correr, parar de pensar e apenas desfrutar dessa comunhão
interior com Deus, concordando com o fato de que não há poder
separado de Deus, você será assimilado por esse Ser interior cha­
mado Cristo, o Espírito de Deus no homem, ou o Espírito Santo.
E você compreenderá o motivo pelo qual Paulo pôde dizer: “Vivo,
não mais eu, mas Cristo vive em mim.” 23...“Posso todas as coisas
naquele que me fortalece.” 8
Ninguém jamais precisou temer prosseguir, enquanto está se
devotando a uma atividade espiritual, porque a única coisa para a
qual se pode prosseguir é glória cada vez maior. Isso que o leva
através desta sensação leva-o para o próximo plano, para o seguinte
e para todos aqueles que virão até que não haja mais renascimentos.

A Auto-suficiência do Poder do Amor

O que é chamado poder de Deus não é realmente poder. Por


exemplo, eu não preciso de qualquer poder neste momento. Estou
sentado aqui em uma atmosfera de amor; logo, por que preciso de
poder? Estou sentado aqui em uma atmosfera de vida; logo, para
que precisaria eu de poder? Estou sentado aqui em uma atmosfera
de alegria. Não preciso de poder para nada. Estou contente e com­
pleto. Mas há um Poder aqui. Há um Poder que criou esta atmos­
fera que nos criou à Sua imagem e que nos mantém e nos sustenta.
Mas eu não preciso de poder. Deus está aqui. Ele é poder. Deus é
o poder da atmosfera que me circunda e manterá essa atmosfera
até a eternidade, se eu ficar junto dele.
Poucos místicos souberam alguma coisa sobre o trabalho da cura
ou jamais realizaram alguma. Como é sabido até agora, afora a reali­
zação do eu, eles não conheciam a natureza de Deus. Exceto para
o Mestre, a maior parte dos místicos considera Deus como um

2. Gálatas 2:20.
3. Filipenses 4:13.

112
grande Poder, combatendo com outros poderes ou os vencendo.
Ninguém pode curar espiritualmente até que ele ou ela cheguem à
compreensão não só de que o eu é Deus, mas que, além desse eu,
não há outros poderes. Os poucos místicos que tiveram uma com­
preensão total da natureza real e infinita de Deus podiam curar. Po­
diam dizer a qualquer Pilatos que encontrassem: “Nenhum poder
terias contra mim, se de cima te não fosse dado”.4 A razão é que,
na consciência do místico com poderes de cura, há não só a com­
preensão de que o eu é Deus, mas também que além desse eu não há
outros poderes — físico, mental, moral ou financeiro. Nenhum outro
poder pode agir nele, sobre ele ou através dele.
Isaías deve ter tido a dádiva da cura, porque ele disse: “O Es­
pírito do Senhor Jeová está sobre mim; porque o Senhor me ungiu,
para pregar boas novas aos mansos: enviou-me a restaurar os con­
tritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos”.5 Ele sabia
que não houve outros deuses antes de Mim. O eu de seu ser foi a
infinidade de ser e não houve outros poderes.
Um místico desse talento não dirá: “Oh, o poder de Deus age
através de mim para curá-lo” ou “Deus o curará”. Ele sabe que
Deus nunca curou ninguém ou coisa alguma. O que você pensaria
de um Deus que curasse algumas pessoas e não todas? Os pecado­
res geralmente têm os melhores recordes de cura, enquanto pare­
cería que Deus não curou um sem-número de homens bons e mulhe­
res na terra.
É uma percepção da pessoa que a doença não é um poder
responsável pela cura. É por isso que Jesus não disse: “Deus o
curará”. Ele disse: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos liber­
tará”.6 Ele não disse: “Deus o perdoará”. Ele disse: “Nem eu tam­
bém te condeno: vai-te e não peques mais”.7
Os místicos mais modernos como Whitman e Tennyson não fo­
ram doutores na cura, porque eles não tiveram a visão de Deus como
o Ünico e o Infinito. Eles consideravam Deus e o erro também,
eles levavam em conta Deus e alguma coisa, a partir da qual Deus
podia proteger ou salvar as pessoas. Eles tinham em conta Deus e
alguma coisa, da qual Deus podia curá-los, mas isso não é a per­
cepção mística completa de Jesus Cristo.

4. João 19:11.
5. Isaías 61:1.
6. João 8:32.
7. João 8:11.

113
A V erdade d o E U SOU

Jesus Cristo sabia: “Eu sou o pão da vida”.8 Ele também


sabia que eu sou seu pão. Eu sou suas provisões. Ele podia alimen­
tar multidões, porque não fazia distinção entre seus recursos e os
deles. Ele não fazia distinção entre sua saúde e a deles. Ele só
reconhecia uma pessoa e essa era eu. Moisés compreendeu: “Eu sou
o que sou”,9 e pôde curar. Jesus compreendeu eu sou e pôde curar.
Isaías O viu e pôde curar. Quando você tiver a consciência do
eu sou, você pode curar. Esse é o mistério e o milagre do ensina­
mento do Caminho Infinito. Ele não se baseia em Deus como um
grande Poder, mas na verdade universal de que “Eu e o Pai so­
mos um”.101
Quando você me pede socorro, você notará que eu escrevo ou
digo a você: “Eu estou imediatamente com você”. Quando eu digo
que eu estarei com você, não estou dizendo que Joel vai estar com
você. Que bom seria isso para você, se ele estivesse com você? Estou
dizendo que eu estarei com você. Tudo que você tem a fazer é di­
zer: “Eu”. Diga isso a você mesmo agora. Não é verdade que eu
estou com você? Você acabou de declarar isso.
Esse eu que você acabou de expressar é Deus. Não é uma pes­
soa, não é um homem nem uma mulher. Não é ninguém com o
nome de Jones, Brown ou Smith. Esse eu é Deus e esse eu nunca
o deixará, nunca o abandonará. Esse eu é um eu universal. Ele é o
mesmo eu, se você o exprimir ou se Joel o exprimir. Há apenas
um único eu em todo este mundo, um Ego. Quando eu digo “eu
estou imediatamente com você”, tudo que você tem a fazer, para
descobrir se eu estou dizendo a verdade, é dizer: “E m”. Diga:
“eu sou”. Que oportunidade teria Ele de ficar mais perto de você
do que essa? Esse é Deus. Esse não é um ser humano conversando.
Esse é Deus. Essa é a vida de seu ser.
Não faz diferença, de acordo com o Salmista, se você “andas­
se pelo vale da sombra da morte”.11 Eu estou lá. Não faz diferença
se eu ascendo aos céus ou desço aos infernos. Eu estou lá. Não há
lugar que você possa ir onde eu não esteja. Tudo que você tem a
fazer é dizer: “eu” ou “eu sou”. E você encontrará Eu Sou bem aí
com você.

8. João 6:35.
9. Êxodo 3:14.
10. João 10:30.
11. Salmos 23:4.

114
Se você conhecesse as palavras Eu Sou, você podería viajar para
qualquer parte do mundo e sempre viveria em paz, harmonia e
prosperidade. Mantenha o Eu Sou trancado dentro de você. Comece
sua jornada e você o alcançará, quer ela consista no trajeto de
sua casa ao escritório, dentro de cidades vizinhas ou pelo mundo
todo.
Eu sou aquele lugar onde Deus se torna manifesto como um
eu individual. Eu, o filho de Deus, estou bem aqui onde estou,
co-herdeiro de todas as riquezas celestes.
Tudo que eu tenho a fazer é manter esse estado de consciên­
cia de minha verdadeira identidade e então deixar de acreditar que
ela me dá poder sobre o erro. Eis o ponto em que somos privados
da cura, acreditando que temos poder divino sobre o erro. O erro
não é um poder. Eu sou é o único poder.
Obrigado, Pai, Eu sou. Não há poder do pecado, da doença,
da carência ou da limitação. Não há leis da doença, do pecado,
da carência. Não há leis da abundância ou da limitação. Todas
essas supostas leis da necessidade e limitação são criações feitas
pelo homem.
Há graus da compreensão divina. Não há medidas de Deus. É
por isso que em nossos primeiros dias no trabalho de cura nós
podemos ser capazes de curar os males menores que vêm até nós,
mas não temos sucesso com os maiores. Nós ainda não tivemos
uma percepção bastante profunda de que esse erro não é algo a
ser combatido, vencido, levantado ou destruído. O erro é algo para
ser reconhecido como inexistência. Ele não é uma coisa nem é
uma pessoa.

A Pessoa e a Enfermidade não Devem Ser Partes de Sua


Meditação Para a Cura

Quando você compreender a natureza impessoal do erro, você


inicia o trabalho da cura porque se você quiser curar, deve primeiro
livrar-se de um paciente. Enquanto você tiver um paciente em sua
mente, você nunca produzirá a cura. Enquanto você tiver o nome
de uma doença em sua mente, você não realizará a cura, pelo menos
em termos espirituais. O paciente podería ser curado mentalmente
ou pela força da vontade, mas isso não é diferente do uso de um
emplastro ou um comprimido.

115
Para curar espiritualmente, você imediatamente afasta de sua
mente a pessoa que lhe pede auxílio: seu nome, identidade e mal.
A razão é porque a pessoa não é o mal e a determinada doença
não é o mal. 6 mal é uma crença universal da individualidade à
parte de Deus, de uma atividade à parte de Deus e de uma lei
à parte de Deus. É disso que você realmente está tratando.
Quando alguém chamado Sue Jones chega e diz: “eu estou
doente”, você tem que deixar de lado Sue Jones e compreender:
“Não, essa não é uma pessoa. Esse é o espírito carnal. Mas o
espírito carnal não é espírito. Ele não tem lei que o sustente. Não
tem substância, causa e realidade”. Sem pensar na pessoa ou em
seu clamor especial, você realizou a cura, por conhecer a inexistên­
cia do próprio mal. O mal é o espírito carnal, a crença em dois po­
deres. Você não está tratando com “ele” ou com “ela”, nem com
um problema; você está tratando com o espírito carnal, que está
tentando convencê-lo de uma vida separada e afastada de Deus. O
Mestre disse: “Quem dentre vós me convence do pecado?” 12 Assim,
o que o convence de uma pessoa ou uma condição à parte de Deus?
Com seus olhos finitos, você pode ver o masculino e o femi­
nino, o velho e o jovem. Mas, em meus anos neste trabalho,
aprendi a não olhar muito para as pessoas, mas olhar através delas.
Desse modo, com frequência, eu não estou realmente consciente de
quem está diante de mim e por quê. Isso liberta a identidade da
pessoa em meu pensamento, porque eu não estou interessado na
pessoa, no problema particular dele ou dela, a não ser quando me
apresenta uma oportunidade de revelar outra vez que Deus é a
única individualidade e que não há leis, com exceção das leis feitas
por Deus.
Enquanto eu não considerar ninguém que venha até a mim
como um doente a ser curado, um pecador a ser reformado ou
um desempregado a arrumar trabalho, estou no terreno seguro de
um verdadeiro médium espiritual. Se alguma vez eu tomar uma
pessoa em minha consciência como um doente que devia ser cura­
do, como um pecador que devia ser reformado, como um pobre
que devia ter abundância ou como um desempregado que devia
estar trabalhando, eu volto ao nível do sonho mortal e já não sou
de qualquer utilidade para a pessoa e não serei de qualquer utilida­
de para este mundo. Meu auxílio está apenas na proporção em que
eu possa impersonalizar a situação inteira.

12. João 8:46.

116
Há pedidos que têm a ver com pessoas de oitenta ou noventa
anos de idade. Alguns de vocês estão próximos demais disso para
acreditar que tais números significam idade avançada. Não deixe
ninguém convencê-lo disso também. Essa sugestão é adequada da
mesma forma que a saúde, a força do corpo e da mente são pre­
servadas: não aceitando ninguém que necessite de cura, reforma ou
suprimento. Você deve reconhecer que a única identidade é o Eu.
“A minha glória a outrem não darei”.13 Se você disser que
Deus não concede Sua glória à doença, à idade, ao pecado ou à
carência, onde então o pecado e a carência conseguem qualquer gló­
ria ou poder se Deus é infinito? Eles não têm nada. Não têm glória,
lei, beleza. Eles não têm continuidade porque, se não receberem
essas coisas de Deus, não as recebem.

Não o Poder, Mas a Graça

Quando você se senta para realizar o trabalho de cura, tudo


que você precisa é a habilidade de ficar quieto e comungar com
seu Pai dentro de si, percebendo que a graça de Deus é infinita.
Você não precisa de qualquer poder. Você não vai curar ninguém
nem algo. É uma ilusão acreditar que haja algo ou alguém a ser
curado.
Toda cura espiritual é uma prova de que o pecado, a doença
e a morte não têm poder. Desse modo, não é preciso poder para
vencê-los. Quando falamos de Deus como o único Poder, não pen­
samos nisso como um Poder que você usa. Pense nEle como o
Poder que criou o universo, que o mantém e o sustenta e deixe-o
fazer isso, enquanto comunga com Ele interiormente.
É quase como se você estivesse sentado silenciosamente con­
versando com sua mãe. Você não tem necessidade de qualquer po­
der. Deus é o único poder e Ele criou este universo pelo poder
do eu. Deus o mantém e o sustenta. Você não precisa de qualquer
poder. Você precisa ser capaz de comungar com seu eu interior e
estar em paz com Ele. Então, você descobrirá que Deus está man­
tendo e sustentando Sua própria criação sem qualquer auxílio seu
ou meu.
Não seria triste se Deus precisasse de seu auxílio ou do meu?
Eu temo que O deixaríamos bastante humilhado. Nós estaríamos

13. Isaías 42:8.

117
dormindo ou em férias. Eu sentiría muita pena de Deus, se Ele
dependesse de nós para auxiliá-Lo. Apenas alguns poderíam viver
de acordo com isso. Mas Deus não depende de mim ou de você.
Ele não precisa de nosso auxílio, nem mesmo de um para o outro.
Tudo o que precisamos é da mesma garantia que Davi teve no
vigésimo terceiro Salmo: “O Senhor é o meu pastor: nada me fal­
tará”.14 Ele não pediu qualquer poder divino. Ele simplesmente re­
conheceu: “Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a
águas tranquilas”.15 Não diz uma palavra sobre minha parte ou
a parte de meu médium. Apenas diz: “Deitar-me faz em verdes
pastos”. O que o Salmista estava fazendo era contemplar a bondade
de Deus dentro de si mesmo. Isso é o que você está fazendo à
medida que vai lendo este livro. Você está contemplando Deus en­
quanto Ele está agindo no universo.
Você não pediu qualquer ajuda a Deus e certamente não aceita
qualquer crença de que Ele precisa de sua ajuda. Você acabou de
sentar-se aqui, contemplando a existência de Deus e a Sua criação.
Você não faz afirmações para tornar verdadeira a existência de
Deus. Uma afirmação é uma declaração do que existe, mas em
qualquer oportunidade que você usar uma afirmação na esperança
de. fazê-la realizar-se, você não conseguirá chegar espiritualmente a
parte alguma. Você pode realizar alguma coisa mentalmente, mas
isso é diferente da cura espiritual.
Na cura espiritual, você não se dirige à consciência de um
paciente. Você não formula uma declaração da verdade para fazê-la
realizar-se. Se o fizer, você se impede de fazer o trabalho de cura.
Você devia apenas fazer declarações da verdade daquilo que você
já sabe que é verdade e então permanecer naquela verdade. Muitas
pessoas estão tentando fazer isso com o poder da mente, assim e
então chamando-o de cura divina, cura espiritual ou cura de Cristo.
Não é nada disso absolutamente. A cura espiritual é a compreensão
do que existe. Pela visão de seu olho e pela audição de seu ouvido,
nada disto jamais pode ser verdadeiro, porque com seus olhos e
com seus ouvidos você verá e ouvirá muitas dificuldades no mundo.
Só pelo discernimento espiritual você verá o governo de Deus,
aquilo que o Mestre chamou de ver e ouvir.

14. Salmo 23:1.


15. Salmo 23:2.

118
Para realizar uma cura espiritual, você precisa ter o discerni­
mento interior que vê eu como a vida do ser individual e então
sabe que eu não tem idade. Este eu era o mesmo quando eu nasci
e será o mesmo quando eu morrer. Juventude ou velhice, o eu é
sempre o mesmo. Você tem que observar esse eu como ser indivi­
dual: eu sou você, você é eu. Nós somos um só em Jesus Cristo,
o que quer dizer que somos únicos na filiação espiritual. Há apenas
um só de nós e eu sou esse um só. “Antes que Abraão existisse
eu sou”.16 Você não pode descobrir isso com sua visão física ou com
sua audição física. Isso é uma questão de discernimento interior e
a consciência da cura mística.
10
O Domínio Através da Compreensão Diária
As limitações de nossa sensação são impostas a nós não por
algo que fazemos ou deixamos de fazer, ou por alguma coisa que
pensamos ou deixamos de pensar, mas pela crença universal. Cren­
ças materiais têm baixado até nós, não porque conscientemente as
aceitamos, não porque conscientemente decidimos que seríamos
como somos, mas porque subliminarmente estas coisas foram intro­
duzidas em nossa consciência. Em outras palavras, ocorreram coi­
sas em nossa casa, das quais como crianças não tivemos conheci­
mento de ver ou de ouvir, e que ficaram registradas em nossa
consciência. Na escola, coisas que não tínhamos consciência de
estarem circulando à nossa volta, contribuíram para criar padrões
dentro de nós. Influência pré-natal, ambiente, sensações são as for­
ças que limitam nossa experiência de vida. E todas elas estão enrai­
zadas na crença universal dos tempos. Tudo isso junto nos faz o
ser humano que somos. Temos o mundo que temos, por causa dessas
crenças universais, que criaram um estado materialista da consci­
ência.
Nós não escolhemos ser materialistas. Pelo fato de termos
nascido numa era materialista, assumimos o caráter de consciência
material. Toda doença, pecado, temor e a própria morte são im­
postos a nós. Todo erro tem sua base na crença universal que
surge da aceitação de dois poderes. No nível material da existência,
há dois poderes e um é usado para dominar o outro. No nível
mental, o poder do pensamento ou o poder do raciocínio correto
é usado para vencer o erro. Mas isso não é verdade no nível espi­
ritual. Nele, há apenas um poder. Portanto, você deve reconhecer
16. João 8:58.

119
que o que se está apresentando a você não é nem presença nem po­
der: não tem lei, nem substância, nem atividade, nem realidade.
Portanto, é necessário não resistir a ele. “Estai quietos e vede o
livramento do Senhor, que hoje vos fará”.1 Não há batalhas no
nível espiritual, porque a visão espiritual reconhece que, o que quer
que o poder possa parecer ser, é apenas poder temporal. Qualquer
que seja o problema, não importa o seu tamanho, não tem poder.
Não obstante sua importância, profundidade ou amplitude, ele não
é nada. Permaneça quieto na percepção disso, porque Deus é in­
finito, o que está aparecendo não é nada. É sem lei, substância
ou causa. Não haveria erros de qualquer natureza na terra, se não
houvesse a crença universal em dois poderes, que age hipnotica-
mente em sua consciência.
Como um ser humano, você nasceu com a experiência da acei­
tação inconsciente do bem e do mal. Assim, torna-se necessário,
se você deve aparecer e ficar separado, aceitar conscientemente e
demonstrar seu bem. Você não pode esperar que Deus faça algo,
porque Deus já o está fazendo. Deus já existe.

A Libertação Pessoal da Má Prática Universal

Na primeira meia hora depois de acordar de manhã, instale-se


no reino de Deus. Decida-se como viver no “esconderijo do Altís­
simo”,12 enquadrando-se na lei de Deus. Agradeça a Deus nas ora­
ções pelos seus inimigos, ao aprender a não praticar o mal, isto é,
ao aprender a não ver os erros que abundam nos seres humanos a seu
redor, mas antes abstendo-se de praticar o mal olhando através da
aparência humana para a divindade que está bem aqui.
Trabalho verdadeiramente protetor é a percepção de que so­
mente Deus é poder e que o que aparece para nós — quer seja
uma crença na infecção ou contágio, uma crença em doença heredi­
tária ou traços hereditários, uma crença em astrologia ou uma crença
de qualquer natureza — existe apenas como crença universal. Imper-
sonalize estas crenças. Não culpe qualquer pessoa, grupo de pessoas,
raça, nacionalidade ou religião por elas. O que você personaliza, de
algum modo voltará para você mesmo, porque em última análise há
apenas um eu. Aquilo que você atribui a outra pessoa, você está atri­
buindo a si mesmo até que se tome seu próprio arauto.

1. Êxodo 14:13.
2. Salmo 91:1.

120
Milagres ocorrem quando você já não mantém as pessoas em
servidão a qualquer crença que as esteja obrigando. O ver pessoas
de mau temperamento simplesmente como vítimas da crença uni­
versal tende a libertá-las, porque você não a está personalizando e
praticando o mal. Seus conceitos errôneos constituem uma forma
de malversação. Cada mentira a respeito do alheio em que você
acreditar é realmente uma forma de malversação.
Compreenda que tudo o que você ouve no rádio, vê na tele­
visão ou lê nos jornais é o “braço da carne”.3 Não tem poder e
você não precisa temer o que o homem mortal pode fazer, porque
ele tem apenas poder temporal, que não é poder diante de Deus.
Você tem o Senhor Deus Onipotente, o Todo-Poderoso, o único
Poder. Portanto, não há poder em todos os rumores de infecção,
contágio, guerras e acidentes. Se você rejeita essas informações do
mal no mundo, quando alguém diz “eu estou com gripe” ou “estou
com pneumonia” ou ainda “estou com câncer”, você saberá mais
do que isso. Você responderá prontamente: “Oh, isso não tem
poder. Isso não é de Deus. Portanto, não pode durar”.
Em vez de esperar que alguém lhe conte algum erro pessoal,
você podia livrá-lo dessa experiência, gastando a primeira meia
hora da manhã na compreensão de que toda desarmonia humana
pertence à atividade do espírito carnal ou mortal, que não é um
espírito. Não tem a lei de Deus. Não tem poder, porque não é
determinado por Deus. Imediatamente, impersonalize e reduza-o a
nada.

A Natureza do Trabalho Protetor


Quando há rumor de uma epidemia no ar, mesmo que você
não tenha ouvido nada sobre ela, mesmo se seu rádio e sua tele­
visão estiverem desligados e você tiver deixado de ler os jornais,
ela conseguiría se transmitir a você sem seu conhecimento conscien­
te. Muitas pessoas dizem: “Isso me aconteceu inesperadamente” ou
“Eu não estava pensando nisso e no entanto aconteceu”. O mal
de toda e qualquer natureza age invisivelmente como uma crença
em dois poderes e, porque é uma crença universal, age universal­
mente na consciência humana. Quando você não a rejeita mais cons­
cientemente, acaba se tornando uma vítima dela.

3. II Crônicas 32:8.

121
É necessário começar todo dia com uma forma de compre­
ensão espiritual que foi chamada trabalho protetor. Este trabalho
é provavelmente a parte mais importante de todo o seu trabalho no
Caminho Infinito. Se você se proteger suficientemente, terá muito
menos necessidade de ajuda espiritual para vencer algo, porque
evitará aquelas coisas que a maioria das pessoas comumente tem
que vencer. O trabalho protetor não é uma proteção de alguma
coisa ou de alguém. E trabalho protetor no sentidõ~"cTe'proteger a
gente da ação da crença universal.
Qualquer que seja o pecado, a doença, a necessidade, a limi­
tação, a tempestade, a guerra, a infecção ou o contágio que possa
ocorrer durante todo este dia, é na verdade a ação da crença uni­
versal, o espírito carnal, o disfarce da ilusão. Porque esta crença
universal em uma individualidade e em um poder à parte de Deus
não é ordenada por Deus, não tem ninguém em quem, sobre quem
ou através de quem operar. Não tem poder nem lei. Em verdade,
não é um “ele”. Ê uma aparência, uma ilusão. Ê simplesmente uma
crença que deriva seu poder aparente da aceitação e eu, por isso,
a rejeito.
Eu rejeito conscientemente a crença de que haja qualquer po­
der, exceto o de Deus, do Espírito. Eu rejeito conscientemente a crença
de que haja uma lei material ou mental, porque Deus é Espírito e
Deus é a única lei e o único legislador. Portanto, toda lei deve ser
espiritual.
Pelo fato de que tudo que opera tem que operar como lei,
você anulou tudo, exceto a lei espiritual de Deus, a bondade, a
harmonia, a justiça, a eqüidade, a igualdade, a paz e o domínio.
Você tem que escolher, quando desperta de manhã, se você
vai se permitir servir à crença universal em dois poderes ou se vai
ser governado por Deus. Você pode ser governado por Deus apenas
por um ato de sua própria consciência porque, sem isso, você, as­
sim como qualquer outro ser humano no mundo, está sujeito aos
poderes deste mundo, os assim chamados poderes do espírito carnal.
Você deve escapar ao domínio da crença universal em dois pode­
res, instalar-se na graça de Deus e compreender:
Não há poderes para operar em, sobre ou através de mim ou
de qualquer outra pessoa mais, exceto o poder da graça de Deus.
O reconhecimento dessa verdade transforma o inferno em céu,
a doença em saúde, o pecado em pureza e a necessidade em
abundância.

122
Sua consciência é o templo de Deus, porque Deus habita lá.
Seu corpo é o templo de Deus, porque a sua consciência é a ver­
dadeira fonte, essência e substância de seu corpo. Seu corpo não
é algo separado e afastado de sua consciência. Ela é formada como
seu corpo; portanto, seu corpo é um templo sagrado. Não deve ser
despreocupadamente discutida ou tratada. Seu corpo é a sagrada
residência de Deus, porque Deus é sua consciência. Ele habita em
você e eu sou é Seu nome.
Nada é mais importante do que a primeira meia hora de seu
dia. Nela, você estabelece o modelo do dia. Negligenciando isso,
você se torna uma parte da crença universal, permitindo qualquer
uma ou toda a infinita variedade das crenças universais tocá-lo.
Pela firme adesão à sua compreensão de um Poder, você se separa
da crença universal, coloca-se sob a orientação do Espírito e so­
brevive a partir desse princípio maior da vida.
A consciência não pode ser espiritualizada a ponto de ser uma
consciência regeneradora, até que você tenha suficientemente co­
nhecido e praticado o trabalho protetor, a fim de começar seu dia
na firme compreensão de um Poder infinito. Então, para o resto do
dia, apesar das aparências que o tocam, você está na posição de
rejeitá-las como não tendo poder, porque você se fixou nessa cons­
ciência.
Você não tem que esperar o telefone tocar para trazer-lhe no­
tícias do pecado e da doença. Você não tem que aguardar que o
rádio anuncie isso a você. Você não tem que esperar que o medo
caia sobre você, antes de começar sua meditação contemplativa.
Você pode se impedir de ser dominado por essas aparências, in­
dividuais ou coletivas, se tiver se estabelecido na Presença de ma­
nhã e tiver se livrado completamente da crença em dois poderes,
em duas leis.
A questão da lei é importante. Toda forma de mal vem sob
a máscara da lei. Há uma lei de economia que diz que há épocas
de explosão dos negócios e épocas de fracasso. Há leis econômicas
de abundância e de carência, boas e más estações, ascensão e queda.
Há leis atrás das tempestades, das marés e de todos esses fenôme­
nos naturais. Estas pseudoleis não são leis, a não ser quando você
as aceita como lei. A única lei que pode haver é a de Deus e não
há outra, porque Deus é infinito. Leis materiais — leis da matéria,
tempo, idade, infecção, contágio, pecado e doença — agem apenas
nos níveis físico e mental da vida. Quando você alcança um nível

123
espiritual, no qual reconhece Deus como Ser infinito, você anula
a crença de que há leis da matéria ou leis da mente.
Todas as leis materiais e mentais podem ser usadas tanto para
o bem como para o mal. Portanto, não podem ser de Deus. As que
são de Deus não podem ser boas nem más. Podem ser apenas es­
pirituais, eternas, infinitas e perfeitas. Não há coisas como o mal
na vida e na lei de Deus. Onde quer que você encontre os pares
de opostos, o bem e o mal, ou você está tratando com a matéria
ou com a mente. No exato momento em que você se elevar acima
delas, você encontrará um nível de consciência no qual não há bem
e mal. Há apenas ser espiritual puro, infinito, eterno, harmonioso.
Essa é a vida como havia no Jardim do Éden, antes que a crença
em dois poderes fosse aceita.

Tornar-se uma Transparência Para o Poder do Espírito

Quer você esteja praticando a verdade espiritual em seu círculo


familiar ou em uma escala mais ampla, você não terá sucesso se
não criar o hábito de começar seu dia mergulhado na verdade.
Então, se você vive, move-se, existe na consciência de Deus e se
instala na compreensão de um Poder, nenhum dos males do mundo
chegará perto de sua morada.
Seu trabalho protetor é completo quando você dá o próximo
passo e compreende que o poder do bem, o poder do Espírito, age
de dentro de seu ser. Ele não age sobre você. Ele age fora de você
e sobre este mundo. Você é a transparência através da qual a lei
e a vida de Deus operam a partir de dentro de você e para fora
de você.
Do mesmo modo que a mulher que tocou no manto do Mestre
foi curada, porque ela era a transparência através da qual a pre­
sença e o poder de Deus estavam fluindo, sua consciência se torna a
transparência ou o instrumento através do qual a lei de Deus flui
para fora neste mundo. Não levará seis dias desta prática antes que
você note que você mudou e sinta algo dentro de si. Contudo, isso
não pode acontecer, se você pensar em Deus como separado e afas­
tado de você mesmo e agindo sobre você. Só acontece quando você
aceita o ensinamento do Mestre de que o reino de Deus está dentro
de você e que essa presença e o poder de Deus está fluindo para,
através e a partir de você e agindo sobre este mundo. Ela age sobre
os animados e inanimados. A presença e o poder de Deus dentro

124
de você traz tudo o que você precisa em seu dia, agindo invisi­
velmente, através de você, no exterior deste mundo.
O tema examinado em União Consciente com Deus é: “Minha
identidade com Deus constitui minha identidade com todo ser es­
piritual e com todas as coisas.” * Quando você permanece nessa
identidade, você é uno com todas as pessoas do mundo que fazem
parte de sua vida. Toda pessoa que você puder abençoar ou que
puder abençoá-lo é atraída para a sua experiência. Toda circunstân­
cia ou coisa fluirá para sua experiência sem você pensar nela. O
único pensamento de que você precisa é a constante lembrança de
seu relacionamento com Deus, do estabelecimento do reino de Deus
dentro de você, da verdade de que tudo que Deus é, você é e tudo
o que Ele tem é seu.
Esse é seu trabalho matutino, antes que seu dia tenha começado.
É po.r isso que você tem que acordar muito antes de sua família. Não
é necessário levantar-se da cama se for mais confortável permanecer lá,
só que você não deve dormir ou cochilar quando estiver fazendo
este exercício. Ele deve ser um conhecimento consciente da verdade.
Quando você começa seu dia livre da crença em dois poderes,
fixado na compreensão de que o poder não age sobre você, mas
flui para fora de você e que é o poder de Deus, o bem, o Espírito
e a vida, você está tão fixado na identidade, que o resto do dia,
quando aparências negativas o tocarem quer seja em sua própria
experiência ou na da família, dos amigos, pacientes ou alunos —,
você estará preparado para elas. Quando você reconhecer que são
apenas aparências sem fundamento ou ordenação, sem qualquer au­
torização de Deus, sem qualquer lei divina para suportá-las ou
mantê-las, rapidamente você alcançará as profundezas da contem­
plação em sua meditação para a cura. Não se trata então de longa
rotina, porque você preparou sua consciência. Você a espiritualizou,
assim, ela reconhece imediatamente uma aparência negativa como
uma inexistência, uma ilusão, poder temporal que não conta com a
lei de Deus.

A Importância do Silêncio

Muito poucas pessoas reconhecem o poder no silêncio e no se­


gredo. Quando você realizar esta prática de manhã, não fale sobre

* Joel S. Goldsmith, Conscious Union with God (Nova Iorque: Julian


Press, 1962), p. 223.

125
ela a ninguém. Nem mesmo se convença de falar à sua família sobre
ela. Conserve-a trancada dentro de si mesmo. É sua oração e você
quer que essa oração responda não só para si mesmo, mas também
para todos aqueles com quem você entra em contato. O que você
faz, revelando-a, é assegurar que ela não agirá. Você garante sua
própria falha falando sobre ela. Você precisa manter esses princípios
trancados dentro de si mesmo e nunca discuti-los, a não ser quando
os ensina. Se um membro da família se mostra receptivo ao traba­
lho espiritual e deseja segui-lo nesse caminho, torna-se sua função
instruí-lo e trabalhar com ele até que ele se torne tão adepto dele
como você. Mas, exprimindo-o em outras oportunidades, você garan­
tirá a perda dele. 1
Deus é sua verdadeira consciência e Ele conhece as intenções
e os propósitos de seu coração. Ele conhece sua natureza mais
secreta. Nunca é enganado pela falsidade, assim, toda declaração
de verdade que você faça não engana sua consciência. Sua cons­
ciência conhece as profundezas e o grau de sua integridade.
Tentar mostrar quanto você sabe, dizendo isso aos outros, não
enganará sua consciência. Ela sabe que você está sendo um propa­
gador. Ela sabe que você está tentando glorificar seu ego ou ten­
tando dizer a verdade para alguém que não a deseja. Sua consciên­
cia sabe que você não tem um propósito nobre nisso. Você pode
acreditar que está praticando o bem ou que deseja fazer o bem,
mas sua consciência sabe que não é verdade. Ela tem conhecimento
profundo de que você já sabe que ninguém deseja a verdade, exceto
aqueles que estão dispostos a trabalhar, sacrificar, doar, viver e
morrer por ela.
Trabalhe com esse princípio de trabalho protetor toda manhã
solitária de sua vida, mas mantenha-o trancado dentro de si mesmo
e anuncie pelos resultados o que está ocorrendo dentro de você.
Quando alguém disser: “Como você faz isso?” ou “O que você está
fazendo?”, não se apresse a contar a ele. Lembre-se de que você
encontrou a “pérola de grande valor”.4 Deixe aqueles que desejam
isso mostrar, pela sua sinceridade, seu estudo e sua devoção, que
eles querem isso. E então compartilhe isso. Seja tão liberal quanto
quiser ser com isso, mas primeiro esteja certo. Todos que vêm di­
zendo “Cristo, Cristo” não desejam Cristo. A grande maioria da­
queles que vêm não estão interessados na verdade. Eles estão in-

4. Mateus 13:46.

126
teressados apenas no que podem ganhar da verdade, ao realizar al­
guma demonstração que está próxima de seu coração. Ajude-os
através de suas orações e conhecimentos secretos, mas não comece
a dividi-lo até que saiba que aquele com quem você está compar­
tilhando é um devotado a ela como você, tão profundamente dese­
joso da percepção divina como você, não simplesmente por de­
monstração.
Deus, a Consciência divina, que é sua consciência individual,
está onde você se encontra. Porque Ele é onipotente, Ele tem todo
o poder para fazer por você. Porque Ele é amor divino, é Seu
grande prazer dar a você o reino. Você precisa apenas permane­
cer na compreensão da presença de Deus, entendê-LO como aqui
e agora. Então você terá a percepção mística de que nunca pode
estar em qualquer lugar onde Deus não está.
Eu, no cerne de meu ser, é Deus. A única coisa mais próxima
de mim do que a respiração é o eu que eu sou. Esse eu, mantido
secreta e sagradamente em minha consciência, é meu alimento. Eu,
esse eu dentro de mim, tenho alimento de que o mundo não sabe.
Esse eu que eu sou, esse eu, dentro de mim, é meu suprimento de
toda a espécie: de companheiros, de lar, de saúde, de dinheiro, de
transporte. Eu, dentro de mim, é o alimento, o vinho e a água.
Eu nunca preciso olhar para o “homem cujo fôlego está no
seu nariz”,56 ou procurar o favor dos “príncipes”,6 porque o eu
dentro de mim é a encarnação de meu bem.
Tudo que Deus é, eu sou. Este exato lugar em que permaneço,
céu ou inferno, ê solo sagrado.

11
Despertando Para as Faculdades da Alma

Quando vivemos como seres humanos, só contando com nossas


faculdades humanas, apresentamos ao mundo e uns aos outros uma
individualidade humana: qualidades humanas e percepção humana.
Esta individualidade humana é sempre limitada, sempre finita, con­
sistindo, na sua maior parte, daquilo que aprendemos através da
educação, da experiência pessoal, do ambiente e das influências here­

5. Isaías 2:22.
6. Salmos 146:3.

127
ditárias. Oculto atrás deste eu pessoal, contudo, está nosso eu verda­
deiro. Há um outro Ser, Algo além da pessoa física e mental. Paulo
denominou esse Algo de Cristo, que realmente quer dizer o filho
de Deus, a identidade espiritual de nosso ser, a nossa realidade.
O sentimento de separação de Deus que surgiu daquilo que é
chamado o Pecado Original do Homem resultou em nossa condição
humana limitada, em que temos apenas nossos próprios dotes ou a
falta deles para viver, nossa educação ou a falta dela, nossa expe­
riência familiar ou a falta dela e um bom ambiente ou a falta dele.
Há as coisas que governam o ser humano e, no entanto, o tempo todo
está aí oculta dentro de cada pessoa essa individualidade espiritual
chamada Cristo, consciência espiritual ou consciência de Cristo.
Em algum ponto da história da humanidade, uma agitação come­
çou dentro do homem e um aqui, ou outro ali, se viu desperto inte­
riormente através da contemplação do milagre da vida. Ele se achou
de posse de uma outra dimensão da vida e viu algo maior do que
seus arredores, maior do que seu próprio espírito ou cérebro, maior
do que sua própria sabedoria. Assim, ele adquiriu a percepção da
verdade de que havia dentro dele uma Presença ou faculdade espi­
ritual que, quando despertada, iluminava-lhe as coisas que ele não
poderia conhecer simplesmente pela educação ou através do conhe­
cimento humano.
Esta faculdade espiritual é despertada pela meditação. A con­
templação interior conduz a uma experiência na consciência onde
a contemplação cessa, onde já não pensamos — nem mesmo em
coisas espirituais — e o pensamento parece instalar-se em uma quie­
tude, em uma atitude de atenção, em uma atitude de escuta.

O Vazio Completo
Alcançar este silêncio e estado de atenção interior não é fácil,
mas pode ser feito através do exercício de contemplação, isto é,
contemplar e meditar em alguma fase da Realidade espiritual ou em
alguma fase da verdade — por exemplo, O que é Deus? Se sou­
béssemos o que Ele é, estaríamos vivendo em paz, em harmonia
e em fraternidade espiritual. Já que não sabemos, nós marcamos e
abrimos nosso caminho na vida.
Devemos nos libertar de nossas velhas convicções, crenças e
teorias sobre Deus, antes que cheguemos à percepção do que Deus
é realmente. Devemos estar completamente vazios; é por isso que

128
temos períodos de contemplação dia após dia, mês após mês, sempre
descobrindo alguma coisa que Deus não é.
Antes que cheguemos a essa compreensão, estamos quase tão
completamente vazios, que por pouco não nos convencemos de que
Deus não existe e a única razão pela qual não estamos completa­
mente convencidos disso é que estamos vivos. O próprio fato de
estarmos vivos prova que há vida. E o próprio fato de que há vida
prova que deve haver um Criador ou um Princípio criativo. Com
isso, nós chegamos pela primeira vez a perceber de relance que
Deus existe.
Quando começa a manifestar-se em nós o fato de que há uma
grande Fonte original e que tudo o que é criado deve ser a mani­
festação ou emanação dela, começamos a olhar ao redor, primeiro,
talvez, para a natureza: árvores, rios, oceanos ou montanhas. Nós
nos cientificamos de que o mundo da natureza é governado pela lei.
Há leis verdadeiras tais como as que fazem as marés subirem até certo
ponto e nada mais além disso; há aquelas que fazem as marés bai­
xarem até certo ponto e nada mais além disso. Pela contemplação,
nos tornamos cientes de que as estrelas, o sol e a lua estão sempre
em órbita, sempre sob alguma ordem ou lei divina. À medida que
prosseguimos, compreendemos que tudo que está ocorrendo na natu­
reza da criação ou desenvolvimento, governado pela lei, está-se rea­
lizando sem que qualquer pessoa suplique a ela, sem que qualquer
pessoa diga a Deus o que fazer a respeito disso ou quando fazê-lo.
Uma estação se segue a outra em uma ordem regular e ninguém está
dizendo a Deus o que fazer a esse respeito.

Descobrindo Nosso Lugar no Esquema da Vida

Com contemplação cada vez mais freqüente, começamos a per­


ceber a verdadeira natureza de Deus e ver como estivemos errados
ao tentar influenciá-Lo ou tentar convencê-Lo a realizar nossos de­
sejos. Finalmente, através da contemplação, encontramos nosso lugar
no esquema da vida.
Deus me deu expressão e depois me libertou? Ou Ele ainda
está comigo e eu O ignoro? Ê possível que o Deus que me deu ex­
pressão ainda esteja aqui, governando-me como Ele está governando
as marés, o sol, a lua e as estrelas? Ê possível que haja um Deus
que me conduz, me guia, me dirige e eu tenha fechado meus olhos e

129
ouvidos a Ele, me trancado dentro de mim mesmo e pensado que eu
podería ser um empreendedor e fazer tudo isso?
Há um Deus; há aquilo que me deu expressão e manifestação,
que foi a causa de eu ter nascido. Deus não me disse que Ele estava
comigo “antes que Abraão existisse”,1 que Ele estaria comigo até o
fim do mundo e que Ele nunca me deixaria ou abandonaria?
Gradualmente, começamos a compreender que os antigos sábios
e os profetas espirituais sabiam que essa Presença está dentro deles
e dentro de todo mundo e que nunca os abandonaria. Eles podiam
repousar n’Ela, descansar n’Ela, deixá-la assimilá-los, deixá-la guiá-
los, dirigi-los. Desse modo, através dessa contemplação, a sabedoria
está sendo revelada a nós a partir de uma Fonte dentro de nós
mesmos, que não conhecemos e.não recebemos através da educação.
Assim, somos conduzidos, através das perguntas, às respostas.
Estamos procedendo ao interrogatório, mas as respostas estão vindo
de uma Fonte interior que não é humana, de Algo maior do que nós
mesmos. Formulamos as perguntas em nossa ignorância e as res­
postas se revelam a nós a partir de nosso interior. Só devemos ter
coragem; não devemos ter medo de formular perguntas, pertinentes
ou mesmo impertinentes. Não tenhamos medo de dizer: “Eu quero
saber se existe um Deus”, começar com essa premissa e depois
voltar e ver para onde ela nos conduz. Ou podemos começar com:
“Bem, eu devo aceitar que há um Deus a partir de tudo que eu vi
neste mundo. Desse modo, eu iniciarei com a suposição de que há
um Deus e que não sei o que Ele é, nem ninguém sabe algo mais a
respeito que eu”, e ver se não podemos encontrar uma solução.
Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Elias, Jesus, João, Paulo, Buda
e Lao-Tsé, todos tinham íntimo relacionamento com Deus. Nós tam­
bém podemos ter. Na verdade, eles se tomaram mais importantes
para este mundo pela visão e sabedoria que nos transmitiram. Eles
são mais importantes para este mundo do que milhares de nós, mas
não são mais importantes para Deus do que qualquer um de nós.
Aos olhos de Deus, Seu filho é nossa verdadeira identidade. Nós
somos fruto de Deus. “E a ninguém na terra chameis vosso pai, por­
que um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.” 21 Isso quer dizer seu
Pai é meu Pai, o Pai de Jesus, de João, de Lao-Tsé e de Buda. Há
só um Pai, uma Fonte da vida, um Fluxo de vida. Ele está Se

1. João 8:58.
2. Mateus 23:9.

130
emanando com nossa identidade individual e nunca perdemos essa
identidade individual. Tudo o que acontece é que nos tornamos mais
sábios, mais espirituais em expressão e mais significativos para o mun­
do, em proporção ao nosso reconhecimento de que a Fonte do ser
está dentro de nós mesmos.
Essa contemplação, que começa como uma atividade simples­
mente humana ou mental, gradualmente nos faz voltar passo a passo
a um lugar no interior de nossa própria consciência, onde a resposta
se extingue em nós, a resposta certa, a resposta que sempre esteve
disponível, se tivéssemos parado de crer cegamente no que os outros
dizem. Se devemos ter a autoridade de alguém para isso, vamos
tomar apenas a palavra daqueles que têm permanecido através dos
séculos como reconhecidas luzes espirituais. Todos eles concordam
que o reino de Deus está dentro de nós e também concordam com
o fato de que o nome de Deus é eu:
“EU SOU O QUE SO U ” 8 Eu junto a ti sou poderoso. Eu é
que estava contigo no principio. A substância da Vida — a Essência,
o Fluxo de Vida, a Fonte, o Princípio criador — é eu.
Tudo isso começa a se esclarecer em nosso interior, quando nos
interrogamos a nós mesmos, contemplando, estando dispostos a nos
desfazer das crenças preconcebidas e nos abrindo para uma sabe­
doria interior, na certeza de que: “A minha graça te basta”.34 A
graça de Deus nos dará a resposta a qualquer problema, se nos lem­
brarmos que a graça de Deus está dentro de nós.
Se reconhecermos que o lugar em que estamos é terreno sagrado,
então podemos nos dirigir ao Pai dentro de nós a qualquer hora do
dia ou da noite. Se não recebemos nossa resposta imediatamente,
vamos nos lembrar quantos séculos estivemos inconscientes de nossa
Fonte. Agora, nós estamos despertando essa faculdade interior, le­
vando esse Pai interior para a percepção consciente, trazendo à luz
o maná que está oculto em nós.

Despertando o Centro da Alma

A forma contemplativa de meditação desperta-nos para o Cristo,


esse Centro espiritual, essa faculdade da Alma. E então uma sensa­

3. Êxodo 3:14.
4. II Coríntios 12:9.

131
ção totalmente nova começa para nós. Nunca mais estaremos sozi­
nhos. Nunca mais viveremos nossa própria vida baseados em nosso
poder exclusivamente. Depois que formos despertados para essa facul­
dade adormecida, estaremos abertos à Presença dentro de nós. Às
vezes, estamos de fato conscientes dela como Presença; mas mesmo
quando não estamos, sabemos que ela está lá pelo modo como nossa
vida está sendo vivida, pelos frutos. É uma Presença que caminha à
nossa frente para arranjar as coisas para nós, fazer por nós e prepa­
rar para nós, preparar aquelas ‘ muitas moradas”.5 Talvez alguma fase
de nossos negócios que estava bloqueada se abra, rppentinamente.
Alguma idéia escondida de nós de repente se manifesta e adquire
expressão, ou surge alguma orientação interior.
Ocorre um milagre em nossa experiência, quando começamos
a entender que Deus é o espírito do homem. Se Deus é o espírito
do homem, todos nós estamos nesse espírito único e temos esse espí­
rito único. Somos um só e nossos interesses são únicos. Se Deus é
nosso espírito, tudo que é conhecido para Deus é conhecido para
cada um de nós igualmente. Porque Deus é no:so espírito, se conhe­
cermos nossa própria integridade, todos os outros que sempre podem
fazer parte de nosso círculo também terão esse autoconhecimento.' é
por isso que nos disseram para ficarmos quietos. Não precisamos sair
gritando, porque tudo o que é conhecido em silêncio e segredo Deus
revela abertamente. Essa é a Graça, mas essa Graça não pode nos
tocar até que tenhamos a percepção consciente de que Deus é o
espírito de toda a humanidade.
Se alguma coisa pode representar parte importante de nossas vi­
das — um livro, um ensinamento, um professor ou um talento —,
através de nosso conhecimento de que Deus é o espírito do homem,
atraímos essa coisa para nós. Pode estar no outro lado do mundo;
mas imediatamente ela começará a percorrer seu caminho em nossa
direção. Um desses dias, acordaremos e descobriremos que temos a
própria coisa que era tão necessária a nós e que humanamente não
fizemos nada a respeito dela, a não ser conhecer a verdade de Deus
como o espírito de toda a humanidade. Conhecer a verdade nos li­
berta da sensação de limitação. Quando residimos na verdade de que
Deus é o espírito, a vida e o amor do homem, permitimos que o
bem e o amor cheguem a nós através de cada um e de todos.
A sabedoria espiritual age nos nossos assuntos mais mundanos,
mesmo em se tratando de investimento para compra e venda. Não

5. João 14:2.

132
porque Deus tenha qualquer conhecimento do fato de o mercado
estar em alta ou em baixa, mas porque uma faculdade interior de
discernimento, que somos capazes de utilizar em conexão com toda
e qualquer forma de atividade, é despertada em nós.
Estamos preocupados não que Deus saiba o que devemos com­
prar ou vender, para quem devemos trabalhar ou que ramo de mer­
cadoria devíamos representar, mas que despertemos para essa facul­
dade da Alma. Ele sabe exatamente o que vamos fazer e encaminha-
nos para isso, mesmo que seja algo que ordinariamente não teria cha­
mado nossa atenção. Por conseguinte, não estamos preocupados agora
com o que está aqui fora, mas com a realização dessa sensação des­
pertada da faculdade de Cristo.

O Espírito Dirige-nos Para Ele Mesmo

O primeiro passo nesse despertar é um passo que não demos,


ele foi dado por nós. Alguma coisa nos indicou a direção do ensina­
mento espiritual e esse foi o primeiro fator verdadeiro de nosso des­
pertar. Isso devia ser uma prova de que há Algo maior do que nós
mesmos agindo em nosso interior. Há Algo agindo em nossa cons­
ciência, guiando-nos, suprindo-nos e sustentando-nos, Algo agindo em
nossa consciência, do qual podemos não ter tido conhecimento.
Ao ser vendido como escravo, José afastou-se de sua família e
de sua casa, para se tornar a segunda autoridade de uma nação.
Ixvado para o Egito, foi possível para ele ser a segunda autoridade
do governo e se tornar o grande espírito do Egito. Sem isso, ele teria
permanecido em casa, o filho mal acostumado de um homem rico.
Ele provavelmente teria significado muito pouco. Muitos de nós che­
gamos a qualquer que seja o estado de percepção que temos, apenas
porque alguma enfermidade, algum pecado, alguma infelicidade ou
deficiência compeliu-nos a descobrir esse maná oculto, esse eu que
é nosso alimento, nosso vinho, nossa água, esse eú que está dentro
de nós e que é poderoso, esse eu que caminha diante de nós.
A Alma que é Deus é a Alma do homem e essa Alma do homem
tem uma função a realizar em nossa experiência. A Alma é realmente
a Fonte de luz do homem, do bem, das habilidades e integridade.
Quando confiamos em nossa* Alma, em vez de confiar nas formas
exteriorizadas de matéria ou pessoa, estamos cumprindo a intenção
original da Escritura e da oração. O verdadeiro pregador destina-se a
destruir nossa fé em qualquer coisa e em tudo que possa ser visto,

133
ouvido, saboreado, tocado ou cheirado. Ele remove nossa fé do
efeito.
O que quer que acreditemos, pode, em muitos casos, sucumbir.
Ele nos deixa sem esperanças, sem confiança ou substância em nossa
experiência. Muito frequentemente, somos levados a Deus através de
tais sensações e quando somos guiados para Deus, somos realmente
guiados para a confiança naquela parte invisível de nós que é a
Alma.
Quando aprendemos a deixar de prestar atenção no reino das
coisas externas e nos voltamos para a Alma do homem em nosso
íntimo, começamos a trazer as glórias de Deus para nossa experiên­
cia. Nós podemos nos retirar do mundo para o templo de nosso
ser, o que quer dizer que podemos nos retirar para dentro de nossa
Alma, que está em nosso centro.
Há apenas uma Alma e esta ê a minha e a de qualquer pessoa.
Ela está conosco individualmente e coletivamente, como uma fonte
de luz, graça e paz. A Alma é minha confiança. A Alma é meu
esconderijo e minha morada permanente. A Alma é o templo de
Deus. Ela é a fonte das chuvas. A Alma tem dentro de Si a capaci­
dade de minha ressurreição, redenção e regeneração.
Esta Alma é imaterial, espiritual, infinita e, portanto, onipre­
sente. Ela está bem aqui onde estamos, mas exige a tranqüilidade
do espírito para fazermos contato com Ela. É da Alma que a Voz
procede e diz: “Minha Graça é tua suficiência; Minha vida é tua
vida; Minha paz é tua paz”. É da Alma que fluem a segurança e a
proteção. A Alma é a fonte da vida eterna, harmonia da vida, alegria
da vida. Na Alma estão todas as decisões, todas as oportunidades de
trabalho e os frutos de todos os tipos.
Nenhum dos horrores durante a noite ou durante o dia, nenhu­
ma das ciladas, nenhum dos alçapões se aproxima das vivendas da­
queles que moram na Alma, que vivem, movem-se, e existem em
sua Alma, cuja esperança, confiança, expectativa estão Nela, que
olham para sua Alma sempre em busca de alimento, Graça, paz,
ressurreição e regeneração.
Quando conhecemos e reconhecemos nossa Alma como a Fonte
de nossa vida, como nossa continuidade e frutos, vivemos nossa vida
exterior normal e alegremente, assistindo à sua chegada e partida sem
temor e sem esmorecimento, por causa da renovação que começa ime­
diatamente a ocorrer dentro da Alma. Em nossa Alma, encontramos
nosso descanso e nosso refrigério.

134
Quando abrimos nossa consciência que pode ser preenchida com
o Espírito de Deus, mas não com razão, objetivo, propósito, essa
consciência que somente pode ser preenchida com esse Espírito, Ele
nos ordena. Alguns são mandados para curar doenças; outros são
mandados para atender de outros modos aos doentes; outros ainda
são mandados para realizar obras de arte, literatura ou música. Em
qualquer parte que o Espírito de Deus toque a consciência do indiví­
duo, ele é mandado e se mostra útil em alguma atividade ou lhe é
dada alguma nova atividade.

Abrindo Caminho Para o Propósito de Deus Ser Revelado

A vida espiritual tem suas bases na compreensão de que “Eu e


o Pai somos um”.6 Portanto, tudo que Deus é, é nosso. Nós repou­
samos na compreensão de que já estamos realizados, assim, agora
não temos direito de desejar qualquer trabalho especial, mesmo de
natureza espiritual, porque isso seria reconhecer uma deficiência.
Nossa atitude na vida espiritual é sempre a de viver, mover-se,
existir na percepção de Deus, abrindo-nos para a compreensão espi­
ritual e desenvolvimento, ouvindo a “voz mansa e delicada”.7 Isso
c tudo. Então, quando nos levantamos de manhã, tudo quanto nos
for dado para fazer, devemos fazer. Se a gente estiver fazendo negó­
cios ou com alguma ocupação, a gente deve sair e dirigir-se àquele
trabalho. Se a gente ficar em casa, deve cuidar das tarefas da casa.
Não deve haver outro desejo que não o de fazer o que está à mão,
fazê-lo com o máximo de nossa compreensão e com a vantagem
de receber a graça de Deus.
Assim, realizando nossa atividade e sem outros desejos, esperan­
ças ou ambições, estamos constantemente iluminando e enriquecendo
a consciência. Então, chegará o dia em que alguma atividade espiri­
tual será exigida de nós. Ê possível que, à medida que continuamos
nosso desenvolvimento espiritual, estudo e meditação, possamos ser
conduzidos para alguma atividade que o mundo chama de espiritual.
Mas isso não ocorrerá necessariamente. Muitas pessoas são conside­
radas mais úteis em sua atividade atual do que possivelmente seriam,
se mudadas para outra qualquer. Alguns se desenvolvem pelo seu

6. João 10:30.
7. T Reis 19:12.

135
estudo e preparação espiritual de um modo tal que nunca imaginaram
que fosse possível. Se alguém se tornasse um médium ou mestre
espiritual, deixaria todas as nossas pontes sem construir e todos os
outros trabalhos necessários por fazer. Ninguém jamais deveria desejar
ser um médium ou um mestre, porque é realmente um desejo errado.
Elias e Eliseu estavam, certo dia, conversando sobre esse assun­
to. Elias perguntou a Eliseu o que ele podia fazer por ele antes que
ele fosse levado embora. Disse Eliseu: “Peço-te que haja porção
dobrada de teu espírito sobre mim”.8 Quando Elias “subiu ao céu
num redemoinho”,910Eliseu tomou “a capa de Elias, que lhe caíra”,1'
porque ele tinha testemunhado a ascensão dele. Se uma pessoa tem í
percepção espiritual para testemunhar a ascensão, ela tem discerni
mento espiritual, que será seu manto ou consciência espiritual parí
levá-lo para frente.

Deixando o Propósito de Deus Revelar-se em Nós

A meditação está nos abrindo para a graça, direção e orientação


de Deus. Está colocando nossa individualidade pessoal de lado e
reconhecendo Deus em tudo que fazemos. Não está repousando em
nossa própria compreensão e pedindo a Deus para abençoar o que
desejamos. Está realmente anunciando a vontade de Deus, o caminho
de Deus, a glória de Deus. Nós não pedimos nada para nós mesmos.
Nós abrimos o caminho para a Graça assumir, renunciando a nossa
vontade, a nosso plano, a nossas esperanças e a nossas ambições —
mesmo quando eles são bons e nobres. Esses devem ser postos de
lado a fim de nos tornarmos transparências para Deus e isso só pode
ser efetuado através da oração e meditação.
Muitos de nós nos perguntamos: por que estamos na terra, por
que nascemos, por que continuamos a ocupar espaço na terra, qual
nosso propósito e que função realizamos aqui? Se tentarmos respon­
der a essas perguntas a partir de qualquer ponto de vista humano,
nós estaremos errados. Nós não estamos aqui para ser esposa, marido,
mãe ou pai. Não estamos aqui para ter sucesso nos negócios, nas artes
riu numa profissão. Não estamos aqui para praticar o bem na terra.
Èstamos aqui só para um propósito que é o de realizar o propósito de

8. II Reis 2:9.
9. II Reis 2:11.
10. II Reis 2:14.

136
Deus em nós — náo nosso propósito. Não obstante nosso propósito
possa ser bom ou nobre, se ele for nosso propósito, estamos errados.
Em vez disso, vamos nos pôr de lado e perceber claramente:
Deus me criou e me criou para Seu propósito, não para o meu.
Deus me criou para realizar Sua vontade na terra, não para eu deci­
dir o que eu quero ser, o que eu quero jazer ou onde quero jazer.
Isso seria ter um espírito e uma vontade à parte de Deus. Não deixe
meu desejo ser realizado, mas “seja jeita a tua vontade, assim na
terra como no céu”.11
O reino de Deus nunca pode vir à terra para mim, enquanto eu
estiver tentando realizar minha própria vontade, meu próprio desejo,
porque estou impedindo que Deus entre na minha vida.
Permita-me conhecer a Sua vontade e eu a obedecerei. Torne
Sua vontade evidente em mim. Conduza-me para onde quer que eu
vá. Deixe-me ser na terra uma realização de Seu plano. Deixe-me
ser na terra a demonstração de Sua glória para que, onde quer que
eu jor, seja anunciada a presença de Deus. Não deixe que minha
realização pessoal chame a atenção.
Deus sente e compreende nossos motivos. Muito freqüentemên-
te, nossas palavras mentem nossos motivos ou nossos motivos men­
tem nossas palavras. Estamos orando para uma coisa com os lábios
e a mente, e o coração está realmente voltado para uma outra dire­
ção. Mas não estamos tapeando Deus; estamos tapeando a nós mes­
mos. Tem que haver uma pureza de motivo, e parte dessa pureza está
na rendição de qualquer vontade pessoal.
Permita que Sua vontade se realize em mim. Permita-me conhe­
cê-la. Inconjundivelmente, permita-me conhecer Sua vontade e eu a
seguirei. Permita-me conhecer Seu caminho, o caminho que eu se­
guirei.

12
A Revelação da Consciência Como a Harmonia de Nossa
Experiência

Há algum tempo realizou-se uma sondagem nos Estados Unidos


sobre a questão do que mais contribuiría para a paz. Trinta e oito

11. Mateus 6:10.

137
por cento dos entrevistados sentiram que a unidade sob um único
Deus faria mais para assegurar a paz do que um maior arsenal de
bombas, mais armamentos ou o desarmamento. Isso indica o come­
ço de uma mudança de consciência e é sobre isso que podem ser
feitas válidas profecias. Com um grupo representativo de trinta e oito
por cento da população concordando que valores espirituais farão
mais pela paz do que bombas atômicas, podemos ter certeza de que
uma mudança de consciência, que assegurará a paz definitiva, está
em evolução.
Quase toda guerra que não se originou de rivalidades comer­
ciais resultou de diferenças religiosas. Entre grupos religiosos, há
aqueles que afirmam que os hebreus são o povo eleito por Deus, os
católicos têm o único Deus verdadeiro e os protestantes têm o ca­
minho certo. Sempre há a crença de que há um Deus para cada
religião e que é o único e verdadeiro Deus. Mas quando trinta e
oito por cento das pessoas entrevistadas concordam que há apenas um
Deus, preconceitos, fanatismo e diferenças religiosas estão sendo
eliminados. A coisa importante é o reconhecimento do fato de que,
quer sejamos ocidentais ou orientais, brancos ou negros, judeus ou
pagãos, estamos cultuando o mesmo Deus. Então, temos universali­
dade.
A compreensão de que há apenas um Deus muda a natureza do
indivíduo. Muda a natureza de nosso relacionamento com outras pes­
soas, porque a maior diferença foi afastada: a crença de que há um
Deus para você e um outro Deus para mim.
No começo de cada ano, são feitos todos os tipos de profecias:
profecias sobre se os negócios irão bem ou mal, sobre as possibilida­
des da paz, sobre como os dirigentes atuarão. Naturalmente, há aque­
les que tentam adivinhar ou profetizar, baseados nos mapas astroló­
gicos. Como uma regra, algumas dessas acontecem, talvez dez, doze
ou quinze por cento, mesmo que muito poucas dessas profecias es­
tejam baseadas em alguma coisa que lhes conferiría validade.
Para que uma profecia seja de confiança, deve se basear em
uma mudança de consciência. Se não houver mudança de consciência,
não pode haver mudança nas condições interiores. Se, na entrada do
ano novo, nossa consciência é a mesma com que entramos no ano
anterior, podemos estar certos de repetir a experiência do ano ante­
rior. Mas, se nossa consciência se aprofundou mais e se enriqueceu,
o novo ano ficará enriquecido.
Nada acontece senão como uma projeção da consciência. Nem
o tempo nem o espaço têm qualquer ação sobre ela. A ação é pro

138
jetada pela consciência, individual e coletivamente. Somos afetados
por nossa consciência, que nos devolve a experiência que ocorrer. Por
exemplo, o que acontece se eu aceito a revelação metafísica e mís­
tica de Deus como consciência individual, constituindo Deus minha
consciência, que é equivalente à declaração do Mestre: “O reino de
Deus está entre vós” ?*. Imediatamente, eu começo a perder a fé,
a confiança ou a dependência em alguma coisa ou em alguém fora de
mim. Começo a compreender que, qualquer que seja o poder que
deve ser exercido em mim e em benefício de minha vida, deve fluir
de meu íntimo.
Meu olhar está agora afastado do mundo e centrado no reino
de Deus, o poder, o amor e a Graça dentro de mim. Ao mesmo tem­
po, meu temor do mundo do exterior — micróbios, pensamento errado
e poderes externos de qualquer gênero — é reduzido. Mesmo no
meio de uma batalha, eu me sentiria seguro porque o reino de Deus,
o reino do verdadeiro poder, está dentro de mim. Ainda que mil
devessem tombar à minha esquerda e dez mil à minha direita, eu
sei que o mal não poderia se aproximar de minha vivenda, porque
tenho confiança na compreensão de Deus — Onipresença, Onipotên­
cia, Onisciência — aqui onde estou. Na guerra ou na paz, doente
ou são, indiferente às circunstâncias externas, eu estaria ancorado na
presença e no poder de Deus que constitui meu verdadeiro ser.
Fixado nessa consciência, eu profetizaria que meu ano novo te-
ria menos desacordos com meus vizinhos, menos pecados ou falsos
apetites e menos enfermidades, porque nessa consciência da presença
e do poder de Deus o mal não pode agir. Portanto, meu estado de
consciência determinaria a natureza de meu ano — não cem por
cento, porque eu ainda não alcancei cem por cento da consciência
de Deus, mas até onde alcancei qualquer medida da percepção de
Deus, seria agir pela harmonia e paz em minha vida individual.

Tomando-se uma Comunidade de Amigos e Vizinhos

No relacionamento de todos aqueles que aceitaram um Deus,


onipresente, onisciente e onipotente, haveria paz. Haveria harmonia,
haveria o amor de seus vizinhos para com eles mesmos. Qualquer dis­
córdia e desarmonia que penetrasse em suas consciências seria ainda
uma crença universal que eles não superaram completamente.

1. Lucas 17:21.

139
Eu posso profetizar o bem para mim mesmo apenas na medida
em que minha consciência estiver enriquecida e arraigada na com­
preensão de Deus, onipresente, onisciente e onipotente. O que eu
distribuo voltará para mim. O pão que joguei na água retornará a
mim. Portanto, quando eu individualmente compreendo que Deus
constitui a consciência da humanidade, do amigo e inimigo, do judeu
e pagão, do branco e negro, do oriental e ocidental, até o ponto em
que eu possa ver a unidade da consciência, estou amando meu pró­
ximo como a mim mesmo. Estou reconhecendo que tudo que Deus
é para mim, Deus é para meu próximo. E estou, portanto, doando
amor, verdade e boa vizinhança. Em certa medida, é isso o que vol­
tará para mim.
Por causa dos anos de ignorância sobre essa verdade, é preciso
renovar dia a dia esta consciência de Deus como a natureza da vida
e do ser no gênero humano. Quando começamos a adotar isto como
nosso modo de vida, tornamo-nos uma comunidade de amigos e vi­
zinhos, uma comunidade de indivíduos cônscios de Deus, amantes
de Deus. Quando um grupo representativo de trinta e oito por cento
da população concorda que há um Deus, deve ser óbvio que essa
consciência está se difundindo, ê certo profetizar que estamos che­
gando mais perto de uma paz permanente na terra, porque estamos
chegando mais perto de uma consciência unânime de um único Deus.
Nos últimos dez anos, houve um interesse sempre crescente pelo
assunto de cura espiritual. Este é um outro exemplo de uma iden­
tidade de consciência que está se formando. Faz pouca diferença se
a cura espiritual é concebida a partir do ponto de vista de um ensi­
namento meticuloso ou de outro. O ponto importante é que a cons­
ciência está se unificando em torno da verdade de Deus como Poder
na existência humana.
Até este século, Deus foi apresentado principalmente como um
poder no mundo futuro. Há um sentimento de que o que o bom Deus
não dá a uma pessoa aqui, será dado indubitavelmente no próximo
mundo. Mas trazer Deus especificamente para os nossos problemas
de saúde do dia-a-dia, alimentação, relacionamentos com vizinhos ou
com outros povos tem acontecido muito recentemente. Essa é uma
outra evidência de unidade de consciência e de acordo de que há
Deus na terra como há Deus no céu.
Quanto mais reconhecemos que não há tal coisa como um Deus
batista, um Deus anglicano, um Deus presbiteriano, um Deus meta­
físico ou um Deus ortodoxo, mas que há um único Deus, mais per­

140
to, chegaremos de uma unidade de consciência, e maior quantidade de
consciência divina será libertada na terra.
O ministério do Mestre não foi simplesmente o de curar os doen­
tes. Foi também destinado a perdoar os pecadores, não depois de
séculos de punição no inferno ou em alguma ante-sala do inferno, não
depois de séculos de sofrimento sob a lei cármica, mas no exato mo­
mento de sua procura. O ministério completo de Cristo foi mostrar
que, no momento da volta, no reconhecimento do Cristo, da Graça
espiritual, nós somos salvos. Essa é a parte mais difícil da ação de al­
cançar a nova consciência, porque foi arraigada em nós a idéia de
que devemos sofrer por nossos pecados. Essa é a parte do erro que
existe hoje em nosso mundo legal, um erro que pode ser superado
apenas pela espiritualização da consciência. Pessoas são presas como
punição por ofensas e depois soltas para cometerem os mesmos cri­
mes outra vez, sem qualquer consideração sobre se houve ou não
uma mudança de consciência. Ê muito evidente que a pessoa liber­
tada da prisão no mesmo estado de consciência em que entrou, é a
mesma pessoa e ela provavelmente vai cometer os mesmos crimes
novamente.
Algum dia prisioneiros não serão libertados até que tenham de­
monstrado uma mudança no estado de consciência. Então, será se­
guro libertá-los. Não se sabe quantos crimes um criminoso vai cometer.
Ele vai cometer crimes e mais crimes novamente, até que sua cons­
ciência tenha sido mudada. Quando sua consciência estiver mudada,
ele não cometerá mais crimes.
Nosso estado de consciência determina nossa experiência e aque­
les que alcançaram o estado de consciência de um Deus estão agora
estabelecendo as bases para a paz no futuro.

A Consciência Mística da Unidade, o Segredo da Fraternidade

Quando eu e você, sem consideração para com qualquer mem­


bro da família, amigo ou vizinho, nos preocuparmos com o ato de
alcançar a consciência divina, mesmo se A alcançarmos apenas em
certa medida, nós estamos determinando a harmonia de nossa expe­
riência. Então, à medida que nossa própria consciência se aprofunda
e se aprimora, ela começa a se tornar uma lei para nossos parentes,
amigos e vizinhos. Começamos a atraí-los para essa mesma consciên­
cia e finalmente descobrimos que o que era originalmente nossa cons­
ciência divina agora se tornou a consciência divina de muitos.

141

i
Um indivíduo — seja um teólogo, um ministro, um rabi ou um
sacerdote — torna-se uma lei para todos aqueles levados para a órbi­
ta de sua consciência, a princípio em um grau muito pequeno, mas
aos poucos em um grau maior, até que repentinamente haja uma co­
munidade de consciência divina.
Uma vez que podemos admitir um Deus, admitiremos uma ver­
dade; então, não pode haver diferenças que nos dividam. Seremos o
que o Mestre revelou que somos: irmãos. Nós todos temos um Pai,
o Pai. Diferenças de grupos desaparecem na consciência desse Deus
único, dessa Verdade única.
O mundo está à procura de paz na terra e eu não tenho dúvi­
das de que ele finalmente vai obtê-la. Mas nem eu tenho qualquer
dúvida em profetizar que ela não vai acontecer enquanto os discí­
pulos da verdade, os protestantes e os católicos não se unirem em
orações recíprocas. Nós não podemos ter paz na terra, enquanto fac­
ções cristãs não conseguirem orar em comunhão ou estar de comum
acordo.
O caminho místico da vida não conhece seitas religiosas. O espí­
rito do Senhor Deus ou está sobre nós ou não está.’ Se ele estiver,
Ele está, sejamos católicos, protestantes, judeus ou muçulmanos.
Eu tenho um amigo no Cairo, Egito, que é um muçulmano mui­
to devoto. Certa vez, ele me enviou uma linda coleção de contas de
âmbar que tinham sido santificadas em Meca. Um muçulmano não
gosta de nada, tanto quanto de dividir as contas que receberam a
bênção sagrada. Eu tinha seu endereço comercial, mas não tinha o
da sua residência. Cheguei ao Cairo num domingo, às três horas da
manhã. Num daqueles dias lindos e famosos do Cairo, eu estava de
pé, às oito horas. Não sabendo o endereço da casa de meu amigo,
eu não podia encontrá-lo. Sem nada a fazer o dia inteiro, caminhei
sem destino e fui levado a um grande círculo, de onde as ruas par­
tiam em todas as direções. Eu caminhei por uma e dobrei uma outra
e lá estava meu amigo de pé diante de um edifício, com um conjun­
to de contas nas mãos, orando. Caminhei na sua direção. “Abdul!”
“Goldsmith! Eu estou rezando por você.” “O que você quer dizer
com estar rezando por mim?” “Eu disse à minha mulher esta ma­
nhã que eu não posso esperar mais. Você precisa vir. Eu preciso de
você. Assim, eu vou sair por aí e apenas orar para que você chegue
ao Cairo.” Eu tinha chegado bem no lugar em que ele estava rezan­
do e tenho uma sensação de que meu desejo de ser levado aonde
quer que Deus me levasse — o desejo do Caminho Infinito — foi
realizado por seu pregador muçulmano.

142
Essa é a natureza da identidade da consciência mística. O mis­
ticismo é união consciente com Deus, a habilidade de receber co­
municações diretamente de Deus. Ele não faz menção sobre manifes­
tações, raça, religião, cor, clima ou credo. Mas não podemos rea­
lizar a missão e a mensagem do Mestre de trazer vida e mais abun­
dância ou levar cura, suprimento ou iluminação espiritual para qual­
quer um, a menos que nós mesmos tenhamos esse Cristo. Ele cura.
Ele redime. Ele salva. Ele faz ressurgir da morte. Ele alimenta.
A missão do Cristo deve ser compreendida primeiro por nós e
depois, por nosso exemplo, revelada a outros, de modo que o mun­
do pergunte: “Como isso é realizado? Nem mesmo o mais religioso
dos homens e mulheres é capaz de realizar esse trabalho.” E nossa
resposta será: “Quando o Espírito do Senhor está em nós, nós pode­
mos realizar esses trabalhos através do Espírito, porque então esse
Espírito trabalha através de nós”.

Ordenação Pelo Espírito

Muitos têm utilizado para seu trabalho apenas o conhecimento


intelectual que adquiriram nos livros. Tudo o que sabem são decla­
rações da verdade. Eles ainda não estão preparados para receber a
ordenação, para receber o Espírito de Deus dentro deles. A leitura
disso em um livro, não servirá. Amá-lo e ter zelo por ele não servirá.
Desejar salvar o mundo não servirá. Só uma coisa servirá: retire-se
e estude; seja solitário, seja religioso. Não deixe ninguém saber o que
você está fazendo. Estude até que o dedo de Deus toque em você
e você se encontre ordenado. Então, você não terá que sair para en­
contrar seu trabalho. Também o mundo abrirá um caminho até sua
porta. Esse Espírito do Senhor Deus é a melhor ratoeira que você
pode ter.
Você sentirá esse Algo dentro de você, mais perto do que a sua
respiração, Algo pousado em seu ombro, caminhando bem atrás de
você, ou de pé, ali. Você reconhecerá essa Presença e conhecerá Seu
poder — você O sentirá e até ouvirá a “voz mansa e delicada”.2 De­
pois você pode dizer:
O Espírito do Senhor Jeová está sobre mim ” 3 Agora eu estou
ordenado: não através de meu intelecto, de minha sabedoria, de mi­

2. I Reis 19:12.
3. -Isaias 61:1.
nha força, de meu conhecimento. Agora eu sou um soldado sob or­
dens. Eu tenho a armadura do Espírito do Senhor em mim — que é
a palavra de Deus — não as palavras em um livro, mas a palavra
de Deus, que é vida e amor.
Então, você pode se dirigir para o habitat do doente, do mise­
rável, do agonizante ou do morto e levar consolo, cura, ressurreição,
suprimento, enfim, todas as coisas.
Nunca cometa o crime de acreditar que a dor ou qualquer cir­
cunstância sejam um obstáculo para a busca de Deus. Quando você
tiver alcançado a percepção de Deus, a dor, a discórdia e a doença
desaparecerão. Quanto mais pobre você for e maior a sua carência,
tanto maior é a sua necessidade de Deus. Busque Deus primeiro e
você se encontrará livre. Se você tentar obter sua liberdade primeiro,
você nunca alcançará a Deus.
Há aqueles que não renunciarão a uma ou duas horas de sono.
Há aqueles que não gastarão dez minutos para o estudo e a medi­
tação. Mas isso não quer dizer que haja alguém neste mundo seria­
mente aplicado na aventura espiritual que não possa tê-la. Na ver­
dade, ele não pode ter tudo isso em um dia. Ele não pode ter tudo isso
em cinco ou dez anos. Custa devoção, dedicação e seriedade. 0 obje­
tivo não é o nome ou a fama, porque mesmo que você a tivesse, es­
taria por demais ocupado para fazer muito uso dela. O objetivo é a
realização desse Espírito do Senhor Deus, a realização dessa percep­
ção. Esse é o objetivo total da vida espiritual.
O que ele faz com você, depois que você O alcança, é assunto
d’Ele. Tudo o que você fizer, com o Espírito do Senhor agindo em
você, você fará bem. Tudo o que você fizer, quando o Espírito do
Senhor Deus estiver em você, você fará melhor do que qualquer ou­
tro poderia fazer sem esse Espírito. Você não pode saber qual vai
ser o seu campo de atividades. Você não pode ter ambição de ser
algo especial. Se você tiver, você deve estar preparado para mudar a
qualquer momento, porque você não pode ter idéia do que o Espírito
do Senhor Deus vai lhe fazer quando descer sobre você.
Há apenas uma prova para aqueles que querem ser discípulos:
demonstre a Presença; sinta a Presença dentro de você, sobre você,
ou perto de você. Então, quando você A tiver, “não estejais apreen­
sivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre
o que vestireis”. 4 Não se preocupe com a sua vida — não se preo­

4. Lucas 12:22.

144
cupe com coisa alguma. O Espírito age e se torna o pão nosso de cada
dia. Ele age e se torna sua oportunidade de negócios. Ele se torna
seu talento, habilidade, capacidade e força física. Há apenas Ele e
esse Ele é sua prova. Esse é seu objetivo.
Esse Cristo, que é a Essência ou Substância de toda forma, de­
monstra-se a Si mesmo como tudo que é necessário à sua experiência.
Isso é misticismo. É a autoperfeição em Deus. O Cristo de Deus,
o Espírito de Deus está no seu interior e o Espírito Santo está ligado
entre o Pai e o Filho.
A vida mística é uma vida edificada sobre o Espírito de Deus. A
vida do aspirante é devotada ao estudo, à meditação e à comunhão
com aqueles que passaram além dele neste caminho e através de queni
èle pode receber iluminação, até que o Espírito do Senhor entre
nele e ele se encontre ordenado. Daí em diante, cada um é indepen­
dente.
Tomando isso como base, nós estamos construindo a consciência
que nos habilitará a viver vinte e quatro horas por dia e sete dias
por semana, na percepção da divindade: Poder divino, Graça divina
dentro de nosso próprio ser. Isso libertará definitivamente o mundo.
Se algum mestre pudesse pôr o mundo em liberdade, Buda ou Jesus
Cristo teriam-no feito há muito tempo. Ninguém pôs o mundo em
liberdade e mestre algum jamais o fará.
Apenas uma coisa libertará o mundo: a consciência da Graça
divina dentro de você, de mim e de toda a humanidade. Quando
começarmos a ver provas disso em nossa experiência e tivermos sen­
sações que nos mostram que a Graça está agindo, olharemos com
atenção e cuidado para todo mundo em nossa comunidade, dizendo:
“Isso não é maravilhoso? Eu posso libertar você pela compreensão
de que o reino da Graça está agindo dentro de você. Ele não per­
mitirá que o mal se aproxime de sua morada. Ele não deixará o
pecado, o falso apetite, a doença ou a crueldade do ser humano se
aproximar de você”.
Em lugar de nos sentirmos responsáveis pelas pessoas como ben­
feitores, olharemos para este mundo com um sorriso, dizendo: “Obri­
gado, Pai, por me ter revelado que o reino da Graça está agindo na
consciência de todo indivíduo”. Quando cada um se torna ciente do
reino da Graça agindo dentro dele, um ano de realização está asse­
gurado. Nada mais pode garanti-lo.
A paz na terra nunca virá através das armas ou das guerras; a
naz na terra nunca virá através de acordos entre nações, porque tem

145
navido acordos entre as nações desde muito “antes que Abraão exis­
tisse”. 5 Nenhum deles jamais foi honrado mais tempo do que serviu
aos propósitos da nação que o firmou. Toda e qualquer nação que­
brou os acordos que assinou, quando convinha *a seus propósitos.
Portanto, a paz nunca virá com acordos. Virá quando houver paz
no coração dos homens. Apenas uma coisa trará essa paz: a com­
preensão da Graça divina dentro de nós.
A gratidão não a trará. Nenhuma nação vai ser grata pelo au­
xílio que uma outra nação tem dado a ela. As nações nunca foram
nem serão gratas, assim como muito raramente há um verdadeiro
sentimento de gratidão naqueles que nós ajudamos humanamente, e
nenhum na certa dura muito tempo. Só uma coisa traz a paz: a com­
preensão de uma Graça divina agindo dentro da consciência de cada
um e de todos nós. Compreendendo completamente essa Graça den­
tro de nóã, Ela traz a paz para nós. À medida que começamos a per­
ceber essa Graça agindo na consciência da humanidade, nessa pro­
porção o Espírito de Cristo será despertado na humanidade.

A Função da Graça Como Amor

Não é uma questão do intelecto; é uma questão de sensibili­


dade. Ninguém pode compreender a Graça divina com a mente, por­
que ninguém pode ver prova suficiente dela com a mente. A Graça
é-uma atividade de Deus da qual nós nos tornamos cientes através
de uma percepção interior. É a Graça que liberta o pecador, que li­
berta aqueles com carência e limitação e que liberta os enfermos.
Não há nenhum outro poder senão essa Graça divina que age den­
tro de nós e que funciona-através do amor. Então, nós* estamos per­
mitindo que o amor, não o nosso amor, mas o amor de Deus, flua
através de nós na forma de perdão “setenta vezes sete”, 6 na forma
de oração por nossos inimigos e por aqueles que nos perseguem.
O amor é exemplificado por uma visita aos enfermos. Nós vi­
sitamos os enfermos, nem sempre indo a suas casas e sentando-nos
lá, segurando-lhes as mãos e tendo piedade deles, mas através de
nossa consciência despertada, compreendendo que a Graça divina
os põe em liberdade. Nós visitamos aqueles que estão na prisão, às
vezes fisicamente, mas sempre espiritualmente. Por causa da natureza
incorpórea de nosso ser, nem sempre temos que fazer fisicamente

5. João 8:58.
6. Mateus 18:22.

146
coisas que as pessoas parecem achar necessárias. Só conhecendo a
si mesmos como seres físicos, cies podem visitar aqueles que estão
presos ou aqueles que estão doentes apenas realizando essa visita pes­
soalmente. Tendo compreendido a natureza da Graça, contudo, pode­
mos visitar o pecador, o enfermo ou o prisioneiro e libertá-los sem
nunca sair de nossa casa. A natureza incorpórea ou espiritual de
nosso ser nos torna possível estarmos presentes em espírito com o
enfermo, com o pecador e com o prisioneiro. E é o Espírito que os
liberta, não nosso corpo físico.
Levar nosso corpo físico ao enfermo ou ao prisioneiro não os
liberta. É o que está incorporado em nossa consciência que os li­
berta. É por isso que a verdadeira visita física é mínima. A visita
espiritual é uma ocupação de vinte e quatro horas por dia.
A consciência determina a natureza de nossa experiência e de
nossa idade: o que temos na consciência, o que conhecemos na cons­
ciência, o que estamos mantendo na consciência, o que estamos li­
bertando na consciência. A Verdade que conhecemos torna-se uma
lei para a nossa experiência. A Verdade que conhecemos torna-se
uma lei para nosso próximo. Todo esse conhecimento da verdade é
um aprofundamento e enriquecimento da nossa consciência indivi­
dual.
À medida que nossa consciência se enriquece, o mundo tam­
bém é enriquecido, porque “eu, quando eu for levantado” 7 levarei
para cima, de certa forma, o mundo inteiro. Eu, como indivíduo,
posso levantá-lo apenas um milímetro, mas quando somos uma cen­
tena de indivíduos, nós o erguemos a uma altura incomensurável e
provavelmente até a multiplicamos por causa de nossa unidade e
identidade de consciência.
Na medida em que formos levados a acreditar que alguém nes­
te mundo pode nos dar ou tirar de nós, ou somos dependentes dele
ou o tememos. No momento em que compreendermos que só a Gra­
ça divina nos alimenta, nos cura, nos supre e nos perdoa, alcançamos
nossa liberdade em Cristo. A Graça divina garante-nos que temos
alimento que o mundo não conhece. A Graça divina garante-nos nos­
so pão. Nós não precisamos pensar em nossa vida, quando cami­
nhamos nesta terra. Se necessário, podemos caminhar por certo tem­
po na pobreza, no pecado ou na doença. Mas sempre ainda quando
estamos no pecado, doença ou pobreza, há o filho de Deus, há a
Graça divina dentro de nós. Um dia Ela romperá livremente.
7. João 12:32.

147
Permaneça neste mundo, permaneça nele, viva nele: “Uma co­
mida tenho para comer, que vós não conheceis”. 8 Esta é a mensa­
gem de Cristo; nós temos alimento, vinho, água e ressurreição. Te­
mos dentro de nós uma Presença lá plantada por Deus, que poderia
frutificar em nós cada vez mais com abundância. Se nós vivermos
nesse estado de consciência dia e noite e noite e dia, a crosta de ma­
nifestação humana se quebrará e a manifestação espiritual passará
através dela. Somente assim podemos estar seguros de uma perma­
nente e gloriosa sensação.

8. João 4:32.

148
Leia também

EQUILÍBRIO E RECOMPENSA

Lourenço Prado

É fato que existe no mundo muita injustiça e também é verdade


que muitos dentre os fortes se aproveitam das fraquezas da multidão;
porém, existe um meio pacífico para obterdes o que vos pertence, o qual
dependerá inteiramente de vós mesmo.
Os leitores de Lourenço Prado (e são tantos!), de imediato, irão
reconhecer o tom amigo dessas palavras. E as palavras de Lourenço
Prado repercutem de tal modo no nosso coração, que logo nos aquie­
tamos; nossa agitação se anula; em nós, a esperança se renova como a
semente que explode aos primeiros sinais da primavera.
Não é somente o vosso trabalho que vale, mas também a vida que
o envolve. Não é somente a idéia que expressardes que levará à con­
vicção, mas também as palavras pelas quais as apresentardes. Não é
somente a vossa capacidade que chama a atenção do mundo, mas tam­
bém o modo de apresentá-la.
Por serem simples, as coisas ditas por Lourenço Prado tornam-se
absolutamente necessárias. Como dissemos, muitos são os leitores de
Lourenço Prado. E quem o lê, volta sempre a fazê-lo. Com a relei-
tura, suas palavras mais iluminam a noite escura dos homens que bus­
cam mas não encontram. Você irá sentir: as palavras de Lourenço
Prado reduzirão ao grau mais ínfimo o que de negativo existir em
seu. coração!
O poder da simpatia é um dos maiores poderes de atração exis­
tentes; portanto, se vos simpatizardes apenas com o lado superior das
coisas, isso mudará persistentemente o vosso ambiente para melhor.
Dessa forma, produzindo mudança em vosso mundo mental, podereis
revolucionar o mundo.
O leitor, que muitas vezes se encantou com a força de Alegria e
Triunfo, a partir desse momento terá bem à mão um par de livros que
vale por um tesouro! A verdade é que Equilíbrio e Recompensa é um
livro que ensina como vencer as pequenas contrariedades da vida diá­
ria, responsáveis pelo esgotamento físico e moral, a fim de o indivíduo
poder alcançar o equilíbrio interior do qual decorrem o bem-estar, a
serenidade de espírito e o êxito nos empreendimentos.
Se observardes inteligente e cuidadosamente as mudanças e alte­
rações que se darão em vosso ambiente pelo efeito de vossa atitude,
encontrareis a prova evidente de que vossos atos determinarão o que
serão as vossas condições externas e as circunstâncias da vossa vida.
E como cada ato vosso é causado pela vossa ação mental, toda mu­
dança de vosso ambiente deverá ser precedida pela mudança mental.

ED ITO R A PENSAM ENTO


ENCONTROS EXTRAORDINÁRIOS

George Chapman

'Encontros Extraordinários é um livro que trata da cura mc-


diúnica. O volume narra o local e a ocasião em que George Chap­
man se deu conta de que a sua rotina diária transformara-se numa
atividade muito mais viva e luminosa. A partir daquele momento,
diz Chapman, deixei “o espírito de William Lang servir-se de meu
corpo.”
O livro registra o testemunho agradecido de Anna, rainha da
Romênia, è traz uma série de depoimentos: de Jack Smalley, a
respeito da esposa gravemente enferma; do Dr. Robert Laidlaw,
Doutor em Medicina, a quem o Dr. Lang falou de sua decisão de
trabalhar com o perispírito; de Gail Manners, cantora e atriz de
musicais da Broadway e da Nova York City Opera; de Chet Trou-
teri, apresentador de televisão; de uma jóquei, Ailsa van Heerden;
do barítono Walter Cassell; de Evelyn Barbirolli, esposa do fa­
moso regente, Sir John Barbirolli, e de muitos outros. São teste­
munhos carregados de simplicidade e da força do convencimento.
Ainda nas palavras de George Chapman, “Este livro trata de um
único terapeuta, ou, antes, de uma equipe que procura curar. Eu
sou a metade desta equipe. Meu companheiro é um cirurgião que
morreu em 1937. Meu papel é passivo, isto é, no estado de transe,
deixo o espírito de William Lang servir-se do meu corpo. Ele
recebe os pacientes, faz o diagnóstico e procura tratar deles tia
mèlhor maneira possível, realizando a cirurgia em seus perispíritos.
Sendo eu o associado terreno, um outro trabalho meu consiste cm
ocupar-me dos pedidos de tratamento que vêm de todas as partes
do mundo, e acompanhar o progresso de cada doente.”

ED ITO RA PENSA M ENTO


O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA MÍSTICA

Joel S. Goldsmith

Cem freqüência, comenta o leitor que descobre os traba­


lhos de Joel Goldsmith: “Não é como ler um livro, mas como
se o Autor estivesse ao nosso lado conversando conosco”. No
entanto, Goldsmith sempre esteve ao nosso lado, demasiada­
mente ocupado. Consumiu seu tempo atendendo aos chama­
dos de cura que vinham à noite ou durante o dia, do mundo
todo, e ensinando às pessoas que queriam aprender mais so­
bre a cura e o modo de alcançar a consciência mística. Em
1946, o Autor passou por uma iniciação nos mistérios ocultos
da vida — profunda experiência espiritual que o elevou, do
reino metafísico, à união mística da unidade consciente com
a Fonte da vida. Com essa experiência veio a necessidade de
ensinar àqueles que vinham até ele. Daí por diante, Goldsmith
foi fortalecido pelo Espírito, que o instruía e conduzia ao tra­
balho de cada dia —, trabalho que incluiu o atendimento de
grande volume de correspondência daqueles que descobriram
a sua mensagem e que o procuravam. A mensagem desse Au­
tor é sempre nova e pura; ela saiu diretamente da consciência
e foi libertada de maneira natural, simples, direta e poderosa,
com a autoridade de quem demonstrou por suas ações a ver­
dade da mensagem que ensinava.
Joel Goldsmith achava-se qualificado para falar e escre­
ver sobre a consciência mística. Seu conhecimento intelectual
não resultou de leituras de filosofia especulativa sobre o signi­
ficado da vida, mas unica e exclusivamente da experiência. Ele
foi capaz de revestir sua mensagem de tal simplicidade que
só podería ter advindo da consciência perceptiva da unidade
que não admite a dualidade. Para ele, a vida mística signifi­
cava viver no mundo, mas não pertencer a ele,- participar de
muitas atividades da vida normal reservando-se, todavia, uma
área da consciência para descobrir, para além dos limites do
mundo objetivo, a realidade espiritual oculta. Ele viu, além do
visível, a Origem invisível de toda vida e energia.
ISBN 85-315-0165-P

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