Fichamento - CANÇADO, M - Manual de Semântica

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 20

Paula Ramos Ghiraldelli

Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

PARTE 1: O QUE É SEMÂNTICA (p.15 – 23)

–CAPÍTULO 1: A Investigação do Significado –

 A investigação linguística:
 Investigação da linguística = conhecimento específico do falante sobre a língua
(conhecimento de léxico, fonológico, morfológico, sintático e semântico)
 Gramática: sistema de regras e princípios que governam os signos
 Semântica: estudo dos significados das palavras e das sentenças
 Pragmática: área de descrição da linguagem
(maneira pela qual a gramática pode ser usada em situações concretas)

 A semântica e a pragmática:
 Semântica: ramo da linguística voltado para o estudo dos significados das
palavras e das sentenças
(descrição de do conhecimento de língua que o falante tem)

a investigação linguística do significado interage com a estudo


de outras processos cognitivos, além dos processos
especificamente linguísticos
 Pragmática: estuda os usos situados da língua e lida com certos tipos de efeitos
intencionais
 Nem sempre é tão clara essa divisão sobre o que está no domínio da
semântica e o que pertence à pragmática:
nem sempre o sistema semântico é o único responsável pelo significado; ao
contrário, em várias situações, o sistema semântico tem seu significado alterado
por outros sistemas cognitivos para uma compreensão final do significado
(para certos tipos de contexto, é necessário mais de um conhecimento)

alguns aspectos do significado são explicados em termos de


teorias da ação, ou seja, dentro do domínio de uma teoria da
pragmática. Ex: teoria de atos de fala
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

(o que. as pessoas fazem quando. produzem


sentenças)

explicar como as pessoas fazem para significar mais do que está


simplesmente dito, através da investigação das aç6es
intencionais dos falantes

 o objeto de estudo da semântica é a menção das sentenças e das palavras


(isoladas de seu contexto); e o objeto de estudo da pragmática é o uso das
palavras e das sentenças (inseridas em determinado contexto).

 O objeto de estudo da Semântica:


 Composicionalidade e Expressividade da língua:
A teoria semântica deve, em relação a qualquer língua, ser capaz de atribuir a
cada palavra e a cada sentença o significado(s) que lhe(s) é/são associado(s) nessa
língua. (cada palavra e cada sentença está ligado/a um significado)

 Propriedades Semânticas:
A teoria semântica deve não só apreender a natureza exata da relação entre o
significado de palavras e o significado de sentenças, mas deve ser capaz de
enunciar de que modo essa relação depende da ordem das palavras ou de outros
aspectos da estrutura gramatical da sentença

(teoria semântica também deve abordar o processo em que a combinação desses


significados leva a um significado da sentença, as propriedades semânticas)

 Natureza do significado: estudo do significado pode ser feito tendo por base o
significado como referência (língua e mundo) ou representação mental
(linguagem e constructos mentais)

 Propriedades semânticas:
 Hiponímia, acarretamento, pressuposição e implicatura conversacional
 Paráfrase e sinonímias
 Contradição e Antonímias
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 Relações de ambiguidade e vagueza


 Protótipos e metáforas
 Atos de fala

 Natureza do significado:
 Significado como Referência (semântica formal/referencial):
Significado associado à ligação entre as expressões linguísticas e o mundo
(relação entre língua e mundo, o significado externo da língua, relação entre
expressões e objetos extra linguísticos)

 Significado como Representação Mental (Semântica Mentalista):


Significado proveniente da ligação entre linguagem e constructos mentais que
representam ou codificam o conhecimento semântico do falante.

temos maneiras de representar mentalmente o que é significado


por nós e pelos outros quando falamos. As pessoas se entendem
porque são capazes de reconstruir as representações mentais
nas quais os outras se baseiam para falar, ou seja, o sucesso da
comunicação depende apenas em partilhar representações e não
fazer a mesma ligação entre as situações do mundo

:. a Semântica Mentalista entender o que os ouvintes podem inferir sobre os


estados e os processos cognitivos, as representações mentais, dos falantes.
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

PARTE 2: ALGUNS FENÔMENOS SEMÂNTICOS SOB A ÓTICA DE UMA


ABORDAGEM REFERENCIAL (p.25 – 40)
(propriedades semânticas estudadas pela Semântica Referencial)

– CAPÍTULO 2: Implicações –

 Instrumentos de DEDUÇÃO da verdade (propriedade utilizada para se deduzir a


verdade das sentenças). Inferência=dedução=implicação

 É uma gradação de conceitos, do mais ao menos semântico, se ramificando em:

 Hiponímia:
 relação estabelecida entre palavras, quando o sentido de uma está incluído no
sentido de outra
(relação que estrutura o léxico em classes)
 o item lexical mais específico, que contém todas as outras propriedades da cadeia,
é chamado de hipônimo; o item lexical que está contido nos outros itens lexicais,
mas não contém nenhuma das outras propriedades da cadeia, o termo mais geral,
é chamado de hiperônimo

Exemplo: pastor alemão < cachorro < animal


(“pastor alemão” é hipônimo e “animal” hiperônimo)

 hipônimo contém o seu hiperônimo, mas o hiperônimo não contém a seu


hipônimo
(todo pastor alemão é um animal, mas nem todo animal é um pastor alemão)

 Acarretamento:
 relação existente entre duas ou mais sentenças, quando o sentido de uma
sentença está incluído no sentido de outra
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

Exemplo:
a) Jane comeu uma fruta no café da manhã.
b) Jane comeu uma fruta.
Sentença “a” acarreta “b”

 noção estritamente semântica, que se relaciona somente com o que está contido
na sentença, independentemente do uso da mesma.

ao estabelecer os acarretamentos de uma sentença é


tiramos lhe todas as informações que acrescentamos, a
partir do nosso conhecimento de mundo, e deixamos
somente o que está explicito nas relações expressas pelos
itens lexicais dessa sentença, ou seja, o sentido
exclusivamente literal.

Essa é a dificuldade, pois estamos habituados a entender


sentenças com todas as outras informações
extralinguísticas que possam também estar associadas a
essa sentença

Exemplo:
(a) Joao é alto e é um jogador de basquete.
(b) Joao é um jogador de basquete alto.
(a) Não acarreta (b) porque não se, sabe se entre os
jogadores de basquete, João é alto. Na verdade, ele
pode ser o mais baixo do time

 Duas sentenças estabelecem uma relação de acarretamento se:

a sentença (a) for verdadeira, a sentença (b) também é verdadeira;


a informação da sentença (b) está contida na informação da sentença (a);
a sentença (a) e a negação da sentença (b) são sentenças contraditórias.
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 A noção de acarretamento não se aplica à interrogativas ou condicionais:


(NÃO há acarretamento se as sentenças são interrogativas ou condicionais)

 NÃO há acarretamento se as duas sentenças em si se contradizem


(não é que as sentenças se neguem, mas que se contradizem)

 Pressuposição:
 noção de pressuposição relaciona-se com a sentido de expressões lexicais
contidas na sentença, mas também se refere a um conhecimento prévio,
extralinguístico, que a falante e o ouvinte têm em comum
(a pressuposição é uma noção semântico-pragmática)

 serão tratadas aqui apenas o caráter referencial das pressuposições

 diante de um grupo de sentenças, existe um conteúdo partilhado por todas, que as


pressupõe.

Exemplo:
(a) Joao parou de fazer caminhadas.
(b) Joao não parou de fazer caminhadas.
(c) Se a Joao parou de fazer caminhadas...
(d) João parou de fazer caminhadas?
Avaliando as 4 sentenças, observa-se um conteúdo comum, uma
ideia pressuposta:
(e) João fazia caminhadas.
 A pressuposição envolve uma família de implicações:
Para estabelecer se existe ou não a relação de pressuposição, primeiramente
temos que explicitar a família da sentença (a negação da oração principal, a
condicional, a interrogativa e inclusive a própria afirmativa), e verificar se a
família de uma sentença toma a outra como verdade:

Exemplo:
(a) Maria sabe que Pedro tem o costume de dormir na aula.
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

(a') Maria não sabe que Pedro tem o costume de dormir na aula.
(a") Maria sabe que Pedro tem o costume de dormir na aula?
(a'") Se Maria sabe que Pedro tem o costume de dormir na aula...
(b) Pedro tem o costume de dormir na aula.
Avaliando as 4 sentenças do grupo (a), observa-se que elas tomam (b)
como verdade, portanto, (a) pressupõe (b)

 O acarretamento não é uma condição necessária para que exista uma


pressuposição; mesmo porque, como se define o acarretamento, não é possível
que todas as sentenças da família (a) sejam acarretamentos umas das outras (por
exemplo, a interrogativa e a condição não podem ser verdades inferidas, só
podem sugerir alguma coisa).

 Existem inúmeras expressões que desencadeiam pressuposições:


como as do tipo sintático (como as orações subordinadas temporais, as
comparativas);
do tipo lexical: como verbos factivos (saber, esquecer, adivinhar, parar...)
que pressupõe a verdade do seu complemento; ou expressões que denotam
mudança de estado, que pressupõe o estado anterior da mudança
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

– CAPÍTULO 3: Outras Relações –

1. Sinonímias e Paráfrases
1.1. Sinonímias

 Sinonímia é identidade de significados


 Além de terem a mesma referência, é necessário, também, que as expressões
tenham o mesmo sentido, para haver sinonímia.

 Duas sentenças que têm o mesmo sentido, quando se referem ao mesmo conjunto de
fatos no mundo, têm de ser ambas verdadeiras, ou ambas falsas.

 Palavras são sinônimas sempre que podem ser substituídas no contexto de qualquer
frase sem que a frase passe de falsa a verdadeira

 Não é passível pensar em sinonímia de palavras fora do contexto em que essas são
empregadas. Ainda, na maioria dos casos, pode-se dizer apenas que existe uma
sinonímia baseada somente no significado conceitual da palavra, sem se levar em
conta o estilo, as associações sociais ou dialetais, ou mesmo os registras.
 Exemplo:
As palavras gorda e obesa, por exemplo, podem ser intercambiáveis em
determinados contextos, porém, provavelmente, a segunda ocorrência será mais
usada por um endocrinologista e a primeira tem um usa corrente
 sinonímia é gradual: as palavras, mesmo consideradas sinônimas, sempre sofrem
um tipo de especialização de sentido ou de uso

1.2. Paráfrase:
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 sinonímia entre sentenças

 paráfrases vêm do acarretamento: uma sentença é sinonímia de conteúdo a outra


quando a primeira acarretar a segunda
 Uma sinonímia de conteúdo requer somente que as sentenças (a) e (b) sejam
verdadeiras, exatamente nas mesmas circunstâncias.

 a sinonímia perfeita não existe:


 A escolha de uma sentença implica em passar alguma informação importante
sobre atitudes em relação à situação e sobre os envolvidos nela. Essas diferenças
são tradicionalmente conhecidas coma conotação
 Exemplo:
Maria é procurada pela polícia
A polícia procurou Maria
(a primeira sentença conota o sentido que Maria é criminosa, e a segunda, apenas
que Maria desapareceu)

 A proposta é que tomemos o acarretamento mutuo, ou seja, somente o conteúdo


SEMÂNTICO das sentenças, como sendo essa noção básica, para o que quer que seja
a relação de sinonímia.

 É o acarretamento mutuo que garante a possibilidade de se fazer traduções de uma


língua para outra, ou para se recontar histórias, etc.

2. Antonímias e Contradições
2.1 Antonímia:
 oposição de sentidos entre as palavras.
 Definição insuficiente, visto que os sentidos das palavras podem se opor de várias
formas, ou mesmo, que existem palavras que nem têm um oposto verdadeiro.

 Três tipos básicos de antonímia: antonímia binária, inversa e gradativa

 Antonímia Binária ou Complementar: relação entre pares de palavras que, quando


uma é aplicada, a outra necessariamente não pode ser também aplicada.
 Exemplo: morto/vivo
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 Antonímia Inverso: quando uma palavra descreve a relação entre duas coisas ou
pessoas e uma outra palavra descreve essa mesma relação, mas em uma ordem
inversa, tem-se, então, o antônimo inverso.
 Exemplo: pai/filho; menor que/maior que; homem/menino
 Bem delimitadas no texto (vem com outros elementos, q a marcam como “maior”
ou “menor” que)

 Antonímia gradativa: palavras que estão nos terminais opostos de uma escala
continua de valores
 Exemplo: quente/frio; alto/baixo
 a negação de um termo não implica a afirmação do outro.
 Note que uma escala geralmente varia de acordo com a contexto usado.
 para percebermos a gradatividade nas palavras: verificar se essas palavras
combinam com expressões do tipo meio, um pouco, muito, etc.
(Ex.: meio quente)

2.2. Contradição

 Contradição: a oposição de sentidos para as sentenças

 Intimamente ligada à noção de acarretamento.

 A sentença é contraditória, quando:


 nunca puder ser verdadeira; ou
 quando não existir uma situação possível no mundo descrita por ela.

 Duas sentenças são contraditórias entre si quando:


 não puderem ser verdadeiras ao mesmo tempo
 quando uma é verdadeira, a outra é falsa e vice e versa
 A situação descrita pela sentença (a) não pode ser a mesma situação descrita pela
sentença (b)

 Além de ser desencadeada na antonímia, a contradição também é expressa quando:


 Quando ocorre negação de uma afirmação anterior.
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

(Ex.: maria viajou, mas não viajou)


 Quando há negação uma das propriedades semânticas contidas em um item
lexical.
(Ex: meu irmão mora em paris, mas nunca esteve em pais)
(quem mora já esteve)

 Não é sempre que ocorre a antonímia que teremos sentenças contraditórias


 Exemplo:
Eu encontrei um rato morto no banheiro e encontrei um rato vivo no banheiro.
Algumas pessoas amam o Brasil, mas algumas pessoas detestam o Brasil.

 A contradição, apesar de exprimir situações impossíveis de ocorrer simultaneamente


no mundo, é multo utilizada na linguagem como um instrumento do discurso: o que é
contraditório serve para passar alguma informação extra sentencial
 Exemplo:
- Esse aluno é inteligente?
- Ele é e não é.

3. Anomalia

 Sentenças boas sintaticamente, mas clara mente incoerentes ou total mente sem
sentido, que não geram nenhum tipo de acarretamento, são chamadas, pelos
linguistas, de anomalias
 Exemplo:
A raiz quadrada da mesa de Mila bebe humanidade.
As não coloridas ideias verdes dormem furiosamente.

 Não há como gerar nenhum tipo de acarretamento, isto é, uma verdade necessária, a
partir de uma sentença anômala.

 São as sentenças agramaticais de Chomsky: quando a sentença não é considerada


uma sentença integrante da língua pelos falantes nativos da Língua em questão.

 Anomalias são graduais, ou seja, há sentenças com um grau menor de anomalia,


facilmente transformáveis em sentenças aceitas semanticamente e interpretáveis de
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

uma única maneira. Em outras sentenças, altamente anômalas, por mais que
alteremos os traços selecionais, não conseguimos chegar a uma interpretação única,
ou mesmo coerente.

 as restrições selecionais são somente uma primeira fonte de restrições, que não
conseguem limitar todas as possíveis ocorrências anômalas de uma sentença
 vamos tomar as restrições selecionais de um item lexical apenas como um ponto
de partida, uma estratégia mais geral que o falante adquire, juntamente com
outras informações lexicais, para evitar as construç6es de sentenças anômalas,
ou mesmo para construí-las intencionalmente.

4. Dêixis e Anáfora

4.1. Dêixis
 Dêixis: do grego, apontar, mostrar
 Os elementos dêiticos permitem identificar pessoas, coisas, momentos e lugares a
partir da situação da fala, ou seja, a partir do contexto.
 pronomes demonstrativos, aos pronomes pessoais, aos tempos de verbos e aos
advérbios de lugar e de tempo.

 dependemos do contexto para encontrar os referentes desses elementos, ou seja,


a referência varia de acordo com a situação de fala.

 O sentido não varia, permanece o mesmo.

Exemplo:
Este gato é muito bonito
(O sentido dessa sentença não varia, e será: existe um determinado animal,
mamífero, felino, que tem como qualidade ser bonito, em qualquer contexto.
O que vai variar é o referente do gato no mundo)

 Elementos dêiticos são elementos cujas interpretações dependem de informações


contextuais, embora não possamos classificá-los como elementos pragmáticos.
(Isso se deve ao fato de existir um caráter sistemático para a interpretação desses
elementos)
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 O fenômeno da dêixis é um dos traços que distinguem a linguagem humana das


linguagens artificiais, tornando-a ágil e apropriada para o uso em situações correntes.
 Segundo Benveniste (1976), a dêixis é um fenômeno que demonstra a presença do
homem na língua, colocando em discussão algumas visões que limitam o estudo
da significação.

4.2. Anáfora
 A anáfora também consiste em identificar objetos, pessoas, momentos, lugares e
ações, entretanto, isso se dá por uma referência a outras objetos, pessoas, etc.,
anteriormente mencionados no discurso ou na sentença
(quando um elemento é retomado, recapitulado)
 Ex.: Tem uma mulher aí fora. Ela quer vender livros.

 Elementos anafóricos: correferenciais


 As expressões são interpretadas anaforicamente, quando sua interpretação é
derivada da expressão antecedente.

 Algumas sentenças se tornam gramaticais se elas forem interpretadas com a


correferencialidade marcada
 Ex.: Ele insistiu que o técnico não achou nada
(a sentença é agramatical de “ele” e “técnico” forem correferentes)
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

– CAPÍTULO 4: Ambiguidade e Vagueza –


(dentro da perspectiva referencial)

1. Ambiguidade vs. Vagueza

 ambiguidade é um fenômeno semântico que aparece quando uma simples palavra ou


um grupo de palavras é associado a mais de um significado.

 fenômeno semântico “vagueza” está associado a expressões que fazem referências


apenas de uma maneira aproximada, deixando a contexto acrescentar as informações
não especificadas nas expressões vagas

 A ambiguidade e a vagueza são fenômenos semânticos que só podem ser resolvidos


no contexto:
 para a ambiguidade, contexto tem a função de selecionar quais dos possíveis
sentidos será utilizado
(contexto especificará qual o sentido)

 para a vagueza, o contexto pode apenas acrescentar alguma especificidade que


não está contida na própria expressão
(o contexto pode acrescentar informações que não estão especificadas no sentido)

 a indicialidade pode ser confundido com o fenômeno da vagueza.:


 indicialidade está em expressões cujas referências variam de contexto para
contexto, mas seus sentidos permanecem constantes, sem serem vagos, como às
vezes podem ser interpretados por alguns; ou seja, a indicialidade está associada
às palavras dêiticas.
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 Exemplos de indicialidade: pronomes, expressões temporais como aqui e agora,


nas quais o sentido não muda, mas sua referência depende do contexto

2. Testes para se diferenciar ambiguidade de vagueza:

 no uso da palavra também como uma forma reduzida de sentença, sendo uma maneira
de se evitar a repetição da sentença anterior:
 as duas sentenças devem estar relacionadas ao mesmo sentido 3 3 3 33 v
(a segunda sentença tem que ser uma paráfrase da primeira)

 Exemplo: João adora aquele canto. Maria também


(a palavra canto nesse caso só pode se referir a uma coisa nos dois
casos.
Se estiver falando de “música”, a segunda sentença também falará de
música. Se estiver falando de “lugar”, a segunda sentença também falar
de lugar)
 se tivermos sentenças em que exista só vagueza dos termos, os aspectos
inespecíficos do sentido são invisíveis ao também.

Exemplo: Joao beijou a Maria; a Paulo também


a palavra beijo é uma palavra que pode ser considerada
vaga (beijo na mão, no rosto, na boca, mas não ambígua)

Nesse caso, não se sabe onde João beijou Maria, e a


segunda sentença conserva esse mistério

 quando a sentença é vaga, a interpretação da especificidade da segunda sentença


também não fica restrita à interpretação da mesma especificidade da primeira
sentença

exemplo: Joao beijou a Maria; a Paulo também


(É possível que num mesmo contexto, João tenha beijado
no rosto, e Paulo, na boca)
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 cada uma das possíveis interpretações de uma ambiguidade, estará associada uma
rede de sentidos especifica. Essa relação semântica especifica não pode ser transferida
de um sentido para a outra.
 Exemplo: Paulo quebrou a promessa

Paulo quebrou o vaso


(“quebrar” enquanto “descumprir” está associado ao campo semântico
de “promessa”; e está associado a “vaso” quando significa “estilhaçar.)

Se eu associar “quebrar” a “vaso” estarei sempre dizendo estilhaçar, e se


associar a promessa, estarei sempre significando “descumprir”

 Não se pode trocar essas associações e permanecer com o mesmo sentido, ou seja,
ser ambíguo.
(no caso do exemplo, não é possível associar “quebrar” a “vaso” e permanecer
com sentido de “descumprir” de quando “quebrar” se associa a “promessa”)

3. Tipos de ambiguidade
(a ambiguidade pode ser gerada por vários fenômenos da língua, ou até mesmo de
seu uso)

3.1 Ambiguidade Lexical:

 dupla interpretação incide somente sobre o item lexical.


 Exemplo: Em “estou indo para o banco”, por exemplo, a ambiguidade incide
somente sobre o item lexical, no caso, “banco”

 Pode ser gerada por 2 fenômenos distintos: homonímia e polissemia

 Homonímia
 os sentidos da palavra ambígua não são relacionados.
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 existem palavras homógrafas com sentidos totalmente diferentes para a mesma


grafia e mesmo som (exemplo: “manga” de camisa e “manga” fruta); e as
homófonas, com sentidos totalmente diferentes para a mesmo som de grafias
diferentes (sela e cela, por exemplo)

 nem todos os falantes possuem o mesmo grupo de homonímias. Por exemplo, no


dialeto caipira, a palavra “calma”, pronunciada como “carma”, pode ser
homônima da palavra “carma” (castigo)

 as palavras homônimas terão duas (ou mais) entradas lexicais

 Polissemia
 Tanto homonímia como polissemia lidam com os vários sentidos para uma
mesma palavra fonológica, entretanto, polissemia ocorre quando os possíveis
sentidos da palavra ambígua têm alguma relação entre si

 Exemplo:
(a) rede: rede elétrica, de deitar, de internet
(todos os significados se referem a algo entrelaçado)

(b) Pé: pé de mesa, de fruta...


(todos remetem a algo q está em baixo e sustenta o resto)

 Palavras polissêmicas serão listadas como tende uma mesma entrada lexical,
com algumas características diferentes

 Em muitos casos, a mesma palavra pode ser considerada uma homonímia em


relação a determinado sentido e ser polissêmica em relação a outras.

Exemplo:
pasta (1) = pasta de dente, pasta de comer (sentido
“massa”)
pasta (2) = pasta de couro, pasta ministerial (sentido de
“lugar especifico”)
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

pasta (1) polissêmica de pasta de dente, de comer, etc, e é


homônima de pasta (2)

 Ambiguidade ou vagueza com preposições?


 exemplos com preposição são apresentados como casos de vagueza, uma vez que
“vaguidade é a indeterminação do significado de um item ou sintagma, cuja
própria interpretação parece intangível e indeterminada”

 A autora assume, que sentenças envolvendo preposições que levam a duas ou


mais interpretações são, em realidade, exemplos de ambiguidade lexical:

preposições têm associadas a elas determinados sentidos, que


devem estar listados no léxico

o contexto, nesse caso, não apenas especifica algum dado não


explicito, como no caso de vagueza, mas funciona como o
selecionador do sentido desejado, como no caso de ambiguidade.
3.2. Ambiguidade Sintática

 esse tipo de ambiguidade é atribuído às distintas estruturas sintáticas que originam as


distintas interpretações

 uma sequência de palavras pode ser analisada (subdividida) em um grupo de palavras


– sintagma – de vários modos. O que gera a ambiguidade são as diferentes
possibilidades de reorganizar as sentenças, ou seja, a possibilidade de ocorrência de
diferentes estruturas sintéticas na mesma sentença

3.3. Ambiguidade de Escopo

 A ambiguidade de escopo não decorre de um item lexical ambíguo; também não


podemos reorganizar a sentença em duas estruturas sintéticas possíveis

 relacionada à estrutura da sentença.

 é a maneira de organizar a relação de distribuição entre as palavras que expressam


uma quantificação que gera a ambiguidade.
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 Difere da sintática no sentido que não têm duas formas lineares de organizar a
sentença

 Exemplo:
 Os alunos dessa sala falam duas línguas.
 Carlos e José são ricos.
 Todo mundo ama uma pessoa.

3.4 Ambiguidade Semântica

 A ambiguidade sistemática que não tem sua origem nem nos itens lexicais, nem na
estrutura sintática e nem no escopo da sentença.

 A ambiguidade é gerada pelo fato de os pronomes poderem ter diversos antecedentes.


(relacionada a correferencialidade)

 Exemplo:
(a) O ladrão roubou a casa de José com [sua] própria arma.
(a arma do ladrão ou do interlocutor?)

(b)José falou com [seu] irmão?


(irmão de José ou do interlocutor?)

3.5 Atribuição de Papéis Semânticos

 Papel temático do verbo: função semântica, papel q o verbo estabelece dentro da


sentença com seus argumentos (sujeito e complemento) a partir da sua relação de
sentido

 Um mesmo verbo pode atribuir diferentes papéis temáticos para um mesmo


argumento, em interpretações distintas, gerando ambiguidade
Paula Ramos Ghiraldelli
Semântica
Letras – português
UFT – semestre 2020/1

FICHAMENTO:
CANSADO, Márcia. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2008. 2ª ed.

 Parece ocorrer com uma classe específica de verbos, em q existe a possibilidade do


sujeito fazer a ação ou de alguém fazer a ação pelo sujeito

 Exemplos:
(a) Dr. Joao operou o nariz
(b) Joao cortou o cabelo.
(João pode ser agente ou beneficiário: pode ser cabelereiro, e cortou o cabelo, ou teve
seu cabelo cortado por um cabelereiro)

3.6. Construções com gerúndio

 Segundo alguns, sentenças contendo gerúndios, como as acima, podem gerar uma
dupla interpretação: existe uma leitura temporal ou uma leitura causativa passiveis.

 Exemplo:
Estando atrasado aquele dia, Joao não entrou na sala

Podem-se parafrasear as sentenças acima, respectivamente


Joao não entrou na sala, quando estava atrasado.
Joao não entrou na sala, porque estava atrasado

Você também pode gostar