Artigo e Material Complementar - Fundamentos Filosoficos e Pedago

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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS

E PEDAGÓGICOS DO ENSINO SUPERIOR


Sandro Marcos Castro de Araújo
Paulo Sergio Guimarães Pinto
Pós-graduação em Educação
Diretores
Diretoria Executiva Luiz Borges da Silveira Filho
Diretoria Operacional Marcelo Antonio Aguilar
Diretoria Acadêmica Francisco Carlos Sardo

Editora
Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona
Projeto Gráfico Evelyn Caroline Betim Araujo
Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes

Direitos desta edição reservados à Fael.


É proibida reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.

Edição 2021
Fundamentos Filosóficos e Pedagógicos do Ensino Superior

ARAÚJO, Sandro Marcos Castro de Araujo


PINTO, Paulo Sergio Guimarães

RESUMO
O presente artigo apresenta considerações teóricas acerca dos fundamentos filosóficos e pedagógicos do
ensino superior. No que concerne aos fundamentos filosóficos, são discutidas as temáticas da reflexão filosófica,
da complexidade e da racionalidade comunicativa habermasiana. Da mesma forma, quando se trata da dimensão
pedagógica dessa fase de ensino são abordados, dentre outros elementos constitutivos da práxis docente, a neces-
sidade da pesquisa e o desenvolvimento contínuo de competências e habilidades, destacando-se entre essas a
utilização das novas tecnologias e o incremento da utilização da criatividade no espaço da sala de aula.
Palavras-chave: Fundamentos. Filosofia. Pedagogia.
1 JUSTIFICATIVA vidade do mundo acadêmico e das
autoridades educacionais, em todos
A educação no Brasil atravessa um período de os níveis, proporcionou avanços
significativas mudanças. Refletir acerca dessas trans- consideráveis no processo educa-
cional de crianças, jovens e adultos,
formações, de seu alcance e das suas influências sobre
apesar das indevidas e frequentes
as concepções e práticas pedagógicas implantadas pelo interferências do Estado, nem sem-
segmento dos docentes, em todos os níveis escolares, pre de forma coerente (2007, p. 23).
bem como dos fundamentos epistemológicos presen-
E ainda,
tes nessas novas configurações da educação, é tarefa
premente, indispensável, apresentando-se como um Os avanços para a “abertura para o
novo” foram decisivos para a ins-
dever ético de todos os atores sociais envolvidos em tal
talação de novas IES2 inovadoras
constructo humano. e criativas e para o incremento de
De fato, desde a promulgação da Lei de Diretri- cursos de programas de educação
superior também inovadores, des-
zes e Bases da Educação (LDB), em 23 de dezembro tacando-se a expansão do ensino
de 1996, muitas foram as alternâncias, as regulamen- a distância, dos cursos superio-
tações e as interpretações sobre o processo educacio- res de tecnologia e da cultura da
nal efetivamente encontrado no país. Não há dúvida avaliação, como instrumento de
de que a última década do século XX apresentou à melhoria permanente das funções
universitárias e de gestão acadêmi-
sociedade brasileira, ou pelo menos, para uma parcela co-administrativa (2007, p. 29).
dela, sobretudo para aquela fração que vislumbra na
educação um poderoso instrumento de emancipação Essas considerações introdutórias apresentam
individual, social e política, uma presença avaliativa aquilo que será a tarefa central desse artigo, ou seja,
cada vez mais acentuada do Estado. analisar como essas mudanças no sistema educacio-
nal brasileiro adentram o espaço da sala de aula e as
Os processos e práticas avaliativas da educação práticas docentes. O recorte de análise será feito na
tornaram-se foco central de interesse dos órgãos res- educação superior e sua reforma3, em que se procu-
ponsáveis por essa área, sobretudo do Ministério da rará identificar quais são os fundamentos pedagógicos
Educação e Cultura. e filosóficos que estariam a orientar, ou não, as ativida-
Desses rearranjos e elaborações/avaliações é pos- des pedagógicas nessa fase da formação do estudante.
sível encontrar elementos extremamente positivos no A reflexão acerca das bases pedagógicas e filosó-
sentido de uma democratização cada vez maior do ficas do ensino superior se constitui em um instru-
acesso à educação1, isso em todas as fases do processo mento de aperfeiçoamento/construção de projetos
formativo do cidadão, destacando-se aqui o ingresso político-pedagógicos mais democráticos e compromis-
no ensino universitário, a busca da excelência das prá- sados com o desenvolvimento pleno das pessoas que
ticas pedagógicas, a valorização e o incentivo à for- ingressam no sistema educacional, assim como, con-
mação constante de professores e professoras, sensível tribui na elaboração de estratégias utilizadas em sala
aumento das verbas públicas destinadas ao financia- de aula, capazes de fortalecer a qualidade da educação
mento de projetos educacionais, etc. Evidentemente superior no país.
que, como é plausível naquilo que se apresenta como
novo, verificam-se também algumas incoerências, Além disso, como destacado anteriormente, a
alguns vícios advindos da própria história de como a reflexão acurada, crítica e fundamentada da educação
educação sempre foi tratada em nossa cultura, desa- superior, especialmente por educadores e educadoras,
certos presentes em medidas administrativas e peda- constitui-se como momento privilegiado e estratégico
gógicas implantadas. Como ilustram bem Frauches e para as pretensões de um novo projeto de nação, para
Fagundes, nessa reflexão: o desenvolvimento e amadurecimento de cidadãos éti-
A flexibilidade da LDB, num país 2 Instituições de Ensino Superior.
acostumado a leis detalhistas, e sua
3 Dependendo do alcance das mudanças propostas pela nova LDB no ensino
abertura para o novo, para a criati- universitário, é possível questionar a própria expressão reforma universitária, sendo
que, para alguns autores, a expressão mais adequada seria uma (re)fundação das
1 Destaca-se aqui o trabalho que a Educação a Distância (EaD) vem desenvol- instituições universitárias brasileiras. Além disso, é possível falar em reforma apenas
vendo, no sentido de possibilitar democraticamente o acesso à educação para naquilo que convencionamos chamar de educação superior? Não seria algo de
milhares de brasileiros. natureza mais abrangente, devendo alcançar todo o sistema educacional?

4 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


Fundamentos Filosóficos e Pedagógicos do Ensino Superior

cos, competentes e solidários. De fato, o desenvolvi- II. formar diplomados nas dife-
mento de um país está condicionado à qualidade de rentes áreas de conhecimento,
aptos para a inserção em setores
sua educação e de seu povo. profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade
brasileira, e colaborar na sua for-
2 CARACTERIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO mação contínua;
SUPERIOR E SUAS FINALIDADES III. incentivar o trabalho de pes-
quisa e investigação científica,
O capítulo IV da Lei de Diretrizes e Bases da visando ao desenvolvimento da
Educação (LDB) trata da educação superior e suas ciência e da tecnologia e da criação
especificidades. É importante destacar que por edu- e difusão da cultura, e, desse modo,
cação superior se deve entender, do ponto de vista da desenvolver o entendimento do
homem e do meio em que vive;
legislação brasileira, não apenas os conhecidos cursos
de graduação. Segundo o Art. 44, ela abrangerá os IV. promover a divulgação de
conhecimentos culturais, cientí-
seguintes cursos e programas: ficos e técnicos que constituem
I. cursos sequenciais por campo patrimônio da humanidade e
de saber, de diferentes níveis de comunicar o saber através do
abrangência, abertos a candidatos ensino, de publicações ou de
que atendam aos requisitos estabe- outras formas de comunicação;
lecidos pelas instituições de ensino4 V. suscitar o desejo permanente de
[...]; aperfeiçoamento cultural e profis-
II. de graduação, abertos a can- sional e possibilitar a correspon-
didatos que tenham concluído dente concretização, integrando
os conhecimentos que vão sendo
o ensino médio ou equivalente e
adquiridos numa estrutura inte-
tenham sido classificados em pro-
lectual sistematizadora do conheci-
cesso seletivo5;
mento de cada geração;
III. de pós-graduação, compre-
VI. estimular o conhecimento dos
endendo programas de mestrado, problemas do mundo presente, em
doutorado, cursos de especiali- particular os nacionais e regionais,
zação, aperfeiçoamento e outros, prestar serviços especializados à
abertos a candidatos diplomados comunidade e estabelecer com esta
em cursos de graduação e que aten- uma relação de reciprocidade;
dam às exigências das instituições
de ensino; VII. promover a extensão, aberta à
participação da população, visando
IV. de extensão, abertos a candi- à difusão das conquistas e benefí-
datos que atendam aos requisitos cios da criação cultural e da pes-
estabelecidos em cada caso pelas quisa científica e tecnológica gera-
instituições de ensino (BRASIL, das na instituição (BRASIL, 1996).
1996).
Merece destaque, pela natureza e objetivos deste
Além da abrangência da educação superior, a Lei artigo, evidenciar que em todas as finalidades explicita-
n. 9.394/96 estabelece, de maneira clara, em seu Art. das pelo corpo da lei fica suficientemente claro e como
43, quais são as finalidades dessa fase da formação condição sine qua non para o alcance de uma formação
escolar. São elas: plena, a importância do desenvolvimento do espírito
I. estimular a criação cultural e o científico, do pensamento reflexivo, da criação e difu-
desenvolvimento do espírito cientí- são da cultura, do desenvolvimento do homem e do
fico e do pensamento reflexivo;
meio em que está inserido, em que estabelece relações
com outros homens e seres, temas esses tão valoriza-
4 O parecer n. 968/98, da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional dos e trabalhados e que, como será verificado, são os
de Educação (CNE), transformado na resolução CES/CNE 1/99, dispõe que os principais fundamentos filosóficos e pedagógicos do
cursos sequenciais por campo de saber são um conjunto de atividades sistemáticas
de formação alternativas ou complementares aos cursos de graduação. ensino universitário.
5 A nova legislação substitui o termo vestibular, previsto na Lei n. 5.540, de 1968, Além desses aspectos, é oportuno apresentar
por “processo seletivo”, dando maior flexibilidade no que concerne aos modos
como as instituições de ensino selecionam os candidatos pretendentes ao ingresso
algumas considerações do trabalho das professoras
em cursos ofertados. Maria Auxiliadora Oliveira e Maria Virgínia Freitas.

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 5


No artigo intitulado Políticas contemporâneas para o III. consideração de que o conheci-
Ensino Superior: precarização do trabalho docente?. As mento deve ser tratado como uma
forma mais global e menos disci-
autoras destacam que a reforma do ensino superior, plinar, enfatizando a necessidade
promovida pela Lei n. 9.394/96 (nova LDB), aperfei- da utilização de modelos de ensino
çoada em um contínuo processo hermenêutico, pelo mais flexíveis, mas cada vez mais
Decreto n. 3.860/2001, possui como premissas bási- personalizados. O ensino deve ter
cas o tratamento da educação superior como política um eixo, mas precisa ser aberto para
que os alunos possam se adaptar às
de Estado e a regulamentação, por parte do Estado, rápidas transformações do conheci-
do sistema de ensino superior. Assim sendo, é notória mento e do mundo do trabalho;
a importância de políticas públicas compromissadas
IV. instauração do Ciclo Básico,
verdadeiramente com o desenvolvimento da nação que deverá ser constituído por três
como um todo, de onde se pressupõe que instâncias para propiciar aos alu-
a educação de nível superior deve nos uma formação mais ampla e
ser concebida como política de multidisciplinar. O primeiro ciclo
Estado, por um lado, para não ser dedicar-se-á à cultura humanística,
mudada segundo os interesses de o segundo contemplará a cultura
cada novo governo; por outro, por artística e o terceiro ciclo estará vol-
ter uma dimensão estratégica, na tado para a cultura científica (OLI-
medida em que não se pode pen- VEIRA; FREITAS, 2008).
sar em um projeto de desenvolvi- Fica evidenciada, portanto, pelas orientações da
mento sustentável, prescindindo
das contribuições das instituições
legislação e pelas transformações culturais por que
de ensino superior. Em outras passa a sociedade hodierna, inserindo aqui as constan-
palavras, o ensino superior, deve tes e sempre novas exigências a que são submetidos
ser reconhecido como fundamen- todos aqueles que adentram o mundo do trabalho,
tal a um projeto de nação, pois é tais como uma qualificação constante, uma habilidade
responsável tanto pela capacita-
ção de recursos humanos, quanto
crescente em desenvolver competências para a solução
pela expansão do conhecimento de dilemas no convívio socioprofissional, desenvolvi-
técnico-científico, imprescindível mento de multilinguagens, especialmente as relacio-
aos setores societário e produtivo nadas ao mundo da tecnologia da informação, e dis-
e à inserção soberana do país no cursos polissêmicos, em que os valores éticos sejam
cenário internacional (OLIVEIRA;
FREITAS, 2008, p. 49).
balizas de práticas pessoais virtuosas, que a formação
do indivíduo no Ensino Superior precisa possuir como
Do mesmo modo, dentre as mudanças propostas/ premissa básica a noção de sistema, de integração, de
sugeridas pelo Decreto n. 3.860/2001, destacam-se, complexidade, ou seja, o que se quer ao estabelecer
em função de sua íntima relação com a temática cen- um ciclo básico (cultura humanística, cultura artística
tral dessa análise, as seguintes: e cultura científica) é uma formação integral, uma pre-
I. expansão do Sistema Federal de paração que forme intelectual e tecnicamente e possi-
Ensino, consolidação de sua qua- bilite a excelência naquilo que se faz e no que se é.
lidade e preservação de seu caráter
meritocrático, sempre acompanhado Assim sendo, essas propostas e mudanças ocor-
do espírito da Lei n. 9.394/96, ou ridas no sistema educacional apontam, sobretudo,
seja, que em seu segundo artigo para novas perspectivas quanto ao futuro da educação
aponta que “a educação escolar
brasileira. Evidentemente que nesse futuro, e em qual-
deverá vincular-se ao mundo do tra-
balho e à prática social”; quer projeção que se faça do mesmo, a educação deve
merecer destaque; deve ser antecedido por debates,
II. adoção de políticas de inclusão,
que pretendam reverter uma dívida encontros, seminários, simpósios, enfim, discussões
social para com os sujeitos histori- nas quais todos os cidadãos, especialmente educadores
camente marginalizados6; e educadoras, tentem responder a indagações funda-
mentais, tais como: qual escola, qual universidade se
6 Não se deve pensar essas políticas públicas de inclusão apenas como aquelas
que habitualmente são relatadas na mídia, apesar de sua importância política e em estratégias de democratização do acesso à educação a todos os cidadãos
social, tais como, cotas para afrodescendentes, cotas para descendentes de aborígi- brasileiros. Destaca-se aqui a relevante contribuição que a Educação a Distância
nes, cotas para alunos advindos do sistema público de ensino, etc., mas, sobretudo, tem prestado nesse sentido.

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Fundamentos Filosóficos e Pedagógicos do Ensino Superior

pretende construir? Que aluno e que professor serão Sem dúvida, a reflexão pedagógica possui relevância
formados nesse contexto/ambiente? Que perspectivas social e estratégica, tomando para si a tarefa de inter-
possui o futuro da educação nesse começo de século? pretar as relações sociais de uma sociedade historica-
mente determinada para transformá-las. O papel do
educador e da educadora, quando devidamente pre-
3 FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS parados, é de extrema importância para o desenvolvi-
DO ENSINO SUPERIOR mento de uma nação.
O processo de ensino-aprendizagem requer do O magistério é construído e reconstruído no coti-
educador e da educadora, em todos os níveis em que diano da sala de aula e, especialmente, pela dialeti-
ocorra, além de uma sólida formação na sua área espe- cidade das relações estabelecidas nesse espaço social.
cífica de conhecimento (conhecimento esse que é
cumulativo ao longo do desenvolvimento da cultura De maneira didática e com o objetivo de tornar
humana), uma constante busca de aperfeiçoamento possível a análise proposta neste artigo, acredita-se
nas metodologias e técnicas utilizadas na arte de ensi- que a reflexão, ainda que de maneira introdutória,
nar e de aprender. Trata-se, portanto, do necessário das principais tendências pedagógicas presentes na
desenvolvimento de um conjunto de competências e educação brasileira, especialmente as implantadas no
habilidades para se alcançar o telos do ensino. De fato, sistema educacional do século XX e início deste novo
o magistério é construído e reconstruído no cotidiano século, será colaborativa para o alcance do que se pre-
da sala de aula e, especialmente, pela dialeticidade das tende nessa reflexão.
relações estabelecidas nesse espaço social.
É possível identificar, segundo Luckesi (1994),
Para aquelas perguntas formuladas anterior- dois grupos de tendências pedagógicas nas práticas
mente, urge o aparecimento de respostas significativas escolares no Brasil. Ressalta-se, seguindo o raciocínio
e eficazes. Tais respostas só poderão surgir dentro de desse autor, que essas tendências não são puras e nem
espaços fomentadores de reflexão e construção solidá- exclusivas, sendo mais adequado afirmar que em
ria e coletiva, geradores de instrumentos adequados à muitas situações elas se complementam e, em outras,
realidade dos acadêmicos e de toda a comunidade que divergem, sendo que, “a posição que cada tendên-
está no entorno da universidade. cia adota em relação às finalidades sociais da escola”
Dessa forma, considerar como tema relevante (LUCKESI, 1994, p. 54), seria o verdadeiro parâme-
nessa análise a identificação, discussão e crítica daque- tro para situá-las.
les que são, ou poderão ser os fundamentos pedagó- Haveria, portanto, uma pedagogia classificada de
gicos do Ensino Superior é determinante e premente. liberal, isto é, vinculada ao desenvolvimento do libera-
Se de um lado é necessário tal aprofundamento e lismo7 na sociedade moderna capitalista. Para Luckesi,
análise, também se faz explícita de maneira quase que A doutrina liberal apareceu como
imediata a dificuldade dessa tarefa. Essas dificuldades justificação do sistema capitalista
que, ao defender a predominância
se originam, especialmente, da pluralidade das práticas
da liberdade e dos interesses indi-
pedagógicas adotadas pelos docentes do Ensino Supe- viduais da sociedade, estabeleceu
rior. Haverá apenas uma forma de se manifestar o pro- uma forma de organização social
cesso de ensino-aprendizagem nesse nível escolar? Se a baseada na propriedade privada dos
resposta for afirmativa, que fundamentos pedagógicos meios de produção, também deno-
minada de sociedade de classes. A
estariam subsidiando tal prática? Por outro lado, se a
resposta conduzir para a existência de uma plêiade de 7 O surgimento de políticas e práticas liberais remontam à segunda metade do
modelos de ensino-aprendizagem, como parece ser e século XVII, tendo como marco inicial a Revolução Gloriosa na Inglaterra. De maneira
existir, seria possível encontrar elementos fundantes geral, é possível identificar na condenação de qualquer prática intervencionista por
parte do Estado, especialmente na área econômica, a bandeira central dos liberais.
nessa diversidade? Salienta-se que ao longo desses 400 anos de história, o liberalismo passou por
algumas mudanças, sempre almejando se adequar às transformações da sociedade
Evidencia-se, dessa forma, que a análise e até e seus fins. O liberalismo político de John Locke, o liberalismo econômico de Adam
mesmo a identificação dos fundamentos pedagógicos Smith, o novo liberalismo, ou utilitarismo, de John Stuart-Mill, o liberalismo social,
da educação universitária é missão complexa, porém, também, conhecido como keynesianismo advindo das ideias de John Maynard
Keynes e, finalmente, o neoliberalismo, vertente contemporânea e mais conhecida,
fundamental para o incremento qualitativo das prá- que, por sua vez, foi iniciada com a obra O caminho da servidão de Friedrich Hayek,
ticas educacionais e dos resultados de aprendizagem. constituem essas fases.

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pedagogia liberal, portanto, é uma do sujeito aprendente, constituindo uma espécie de
manifestação própria desse tipo de paidocentrismo9. Como o aprendiz ganha papel cen-
sociedade (1994, p. 54).
tral e ativo na aprendizagem, isso também alterou
Trilhando a ideologia liberal, se encontrariam qua- substancialmente a própria configuração da sala de
tro tendências pedagógicas: a tradicional, a renovada aula, transformando-a em sala de “reunião”, de pes-
progressista, a renovada não diretiva e a tecnicista. quisa e de intercâmbio interpessoal.
Na tendência tradicional é realçado o ensino A tendência liberal tecnicista, muito próxima de
humanista e universalista. Acredita-se que a trans- nosso contexto histórico-social, especialmente porque
missão dos conteúdos por parte do professor, autori- foi implantada no Brasil no final dos anos 60 do século
dade máxima e inquestionável no processo de ensino- XX e oficializada pela Lei n. 5.692/71, acompanha o
-aprendizagem, levará o educando a desenvolver suas desenvolvimento do sistema capitalista de produção.
potencialidades e se realizar plenamente como pessoa. Sem dúvida, essa visão tecnicista da educação foi a
O que se constata, nessa concepção pedagógica, é a mais explícita no sentido do alcance dos ideais liberais
existência, na maior parte das situações, de um abismo apresentados anteriormente.
separando a realidade do discente, individual e coleti-
A principal meta e papel da escola, nessa pers-
vamente, e o que se ministra em sala de aula.
pectiva, é a preparação do indivíduo para o mercado
Outro elemento extremamente de trabalho, isto é, educar é habilitar o aluno para o
valorizado nessa tendência liberal
desempenho, de maneira eficaz, de técnicas e proce-
tradicional é o da disciplina e do
esforço. Como o que predomina dimentos para a produção de bens e serviços. Como
é a autoridade do professor, cabe a afirma Luckesi,
ele manter a ordem em sala de aula, a sociedade industrial e tecnoló-
exigindo dos alunos uma atividade gica estabelece (cientificamente) as
receptiva constante, mesmo que metas econômicas, sociais e polí-
sob ameaças e imposição de casti- ticas, a educação treina (também
gos (LIBÂNEO, 1994, p. 24). cientificamente) nos alunos os
As tendências renovadas, seja a progressista ou a comportamentos de ajustamento a
essas metas (1994, p. 56).
não diretiva, continuam a valorizar um saber universal
como forma de realização do indivíduo e de sua ade- Caberia, portanto, aos educadores e educandos, a
quada inserção no mundo social. À escola é atribuída execução e recepção de projetos elaborados de forma
a tarefa de preparar indivíduos plenos e competentes arbitrária e sem qualquer vínculo com o contexto
para o desempenho de funções sociais. social a que se destinavam. A escola seria um anexo
da fábrica.
Faz-se necessário destacar que o aparecimento
dessas tendências renovadas acompanha um estágio Frisando a necessidade de aprofundamento
de desenvolvimento de pesquisas acerca da psicolo- das características dessas tendências, bem como da
gia infantil e da psicologia evolutiva8. Novas teorias e influência que elas continuam a exercer na atividade
técnicas experimentais possibilitaram um crescimento docente contemporânea, ressaltando que elas não são
sensível no que concerne ao conhecimento de como as exclusivas e se encontram na maior parte das vezes pre-
atividades cognitivas se processam na vida dos indiví- sentes de forma concomitante, o que pode obscurecer
duos ao longo de seu crescimento pessoal e social. a percepção delas nas práticas pedagógicas efetiva-
mente estabelecidas e vivenciadas em sala de aula, será
As teorias desenvolvimentistas da cognição cola-
apresentado outro grupo de tendências presentes na
boram na explicação de uma passagem radical da cen-
pedagogia brasileira. São as tendências progressistas.
tralidade da figura do professor, como observado na
tendência liberal tradicional, para a figura da criança, O progressismo dessas posturas pedagógicas
é verificado na convicção que elas possuem naquilo
8 Os trabalhos desenvolvidos pelo psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) e do
também psicólogo bielo-russo Lev S. Vygotsky (1896-1934) foram decisivos nessa 9 O paidocentrismo e seus excessos, advindo das chamadas tendências renovadas
área do conhecimento. Piaget desenvolveu a chamada Epistemologia genética e, ainda, encontrado em muitos métodos de ensino no Brasil, foi duramente criticado
ou, como é mais conhecida, a teoria construtivista do conhecimento. Por sua vez, por pedagogos e filósofos da educação. O educador Paulo Freire, por exemplo, via
Vygotsky acentua em suas análises o papel que a linguagem possui no processo com reservas essa postura, ou seja, a do aluno como centro exclusivo do processo
de desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Recomenda-se o aprofundamento do de ensino-aprendizagem. Para ele, a direção educativa (não se trata da perpetuação
estudo desses autores para uma compreensão mais apurada dos fundamentos e de posturas autoritárias) não pode ser renunciada em face de um autodeterminismo
teorias relacionadas às tendências pedagógicas liberais renovadas. do estudante.

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Fundamentos Filosóficos e Pedagógicos do Ensino Superior

que seria a finalidade principal da educação, isto é, a algo fundamental para suas lutas.
transformação da realidade social e dos atores sociais O senso comum e a opinião (doxa)
ou a experiência acumulada por
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Essa longo tempo da prática (sofia), são
práxis transformadora, oriunda da educação, especial- elementos importantes, mas insufi-
mente a desenvolvida no Ensino Superior, foco dessas cientes. A nova realidade histórica
considerações, rejeita de forma contundente demanda conhecimentos calcados
na episteme – conhecimento crí-
um modelo de universidade que tico (1998, p. 105).
não exercita a criatividade, não
identifica nem analisa problemas Uma terceira tendência progressista verificada
concretos a serem estudados, que nas práticas docentes é a crítico-social dos conteúdos.
não incentiva o hábito do estudo
Uma de suas premissas fundamentais é a valorização
crítico [...]. Não queremos uma
universidade desvinculada, alheia das ações pedagógicas enquanto, verdadeiramente,
à realidade onde está plantada, inseridas na prática social concreta. Isso significa, por
simplesmente como um parasita exemplo, que aquilo que é ministrado enquanto con-
ou um quisto (LUCKESI et al., teúdo na sala de aula deve encontrar vida nas reali-
1998, p. 39).
dades sociais de onde advêm os ingressos no sistema
No cenário da educação brasileira, três são as ten- escolar. Essa visão é explicada por Libâneo, para quem
dências progressistas: a libertadora, a libertária e a crí- em síntese, a atuação da escola con-
tico-social dos conteúdos. siste na preparação do aluno para o
mundo adulto e suas contradições,
De maneira geral, as tendências libertadora10 e fornecendo-lhe um instrumental por
libertária possuem em comum o antiautoritarismo, a meio da aquisição de conteúdos e da
valorização da experiência vivida como base da relação socialização, para uma participação
educativa e a ideia de autogestão pedagógica. O ensino organizada e ativa na democratiza-
não formal é extremamente valorizado, surgindo daí ção da sociedade (1994, p. 39).
toda uma reflexão acerca dos conteúdos de ensino a Após essa suscinta apresentação, fica evidente
serem ofertados, dos métodos de ensino utilizados, que cada educador terá no exercício de suas atividades
bem como da relação entre docentes e discentes. pedagógicas traços desta ou daquela tendência, sendo
O papel político dessas tendências é explicitado equivocado o entendimento de um purismo ideológi-
em todas as suas manifestações. Isso faz com que ocor- co-metodológico. O que se mostra com maior grau de
ram dificuldades de implantação, em termos sistemá- importância é a percepção de que a prática pedagógica
ticos, nas instituições oficiais de ensino. O que acaba está sujeita aos condicionamentos da ordem social,
acontecendo na prática é a aplicação de alguns de seus que sugere múltiplas concepções de ser humano e de
pressupostos por numerosos educadores. sociedade e, por consequência, de diferentes funda-
mentos e pressupostos sobre o papel da escola, no caso
Ficam explícitas, nessas tendências pedagógicas, específico dessa argumentação, da universidade e dos
as críticas feitas ao modelo de educação implantado processos de ensino-aprendizagem aí vivenciados.
sob o viés ideológico do capitalismo liberal, sobretudo
em sua versão atual, ou seja, neoliberal. A importância
de um conhecimento vinculado à realidade social e, 4 PROCESSO FORMATIVO NA EDUCAÇÃO
por isso, capaz de fomentar transformações nas formas SUPERIOR: O FUNDAMENTO DA PESQUISA
como todo o sistema de vida está organizado é eviden-
A tradição cultural brasileira pri-
ciada nesta reflexão de Frigotto:
vilegia a condição da universidade
Neste sentido, no plano da luta como lugar de ensino, entendido
contra-hegemônica, as organiza- e sobretudo praticado como trans-
ções políticas e sindicais que se arti- missão de conhecimentos. Mas
culam com os interesses de classe apesar da importância dessa função,
trabalhadora necessitam entender, em nenhuma circunstância pode-se
cada vez mais, que o conhecimento deixar de entender a universidade
científico e a informação crítica são igualmente como lugar priorizado da
10 A concepção libertadora também é conhecida como pedagogia Paulo Freire. produção do conhecimento e, con-
Ressalta-se que essa pedagogia foi implantada, com sucesso, em outros países da sequentemente, como lugar da pes-
América Latina e da África. quisa (SEVERINO, 2009, [s. p.]).

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 9


O entendimento da universidade como lugar pri- sentido educativo da pesquisa;
vilegiado da pesquisa aponta para um elemento fun- significa capacidade de agir como
motivador central do processo for-
damental do Ensino Superior, ou seja, o alcance e a
mativo do aluno, colaborando na
natureza dessa fase educacional. Longe de querer per- arquitetura de sua emancipação
petuar uma indevida e equivocada separação/confron- (DEMO, 1996, p. 104).
tação entre educação básica e educação superior, como
se uma fosse prioridade e outra não, até porque como
indica Demo, “uma postura mais equilibrada veria, 5 EXCELÊNCIA E COMPETÊNCIA
primeiro, o todo e, somente a seguir, destacaria possí- PROFISSIONAL NA AÇÃO DOCENTE
veis realces em cada parte” (1996, p. 101). É necessá-
rio conceber a educação na sua complexidade, isto é, Apresentar um profissional competente é situá-
no todo que se manifesta de forma única em cada uma -lo no caminho contínuo da busca da excelência.
de suas partes e que, somando-se, possibilitam uma Apresentar um professor excelente é situá-lo dentro
formação autêntica, produtiva e flexível. de um contexto de competências, em que a da pes-
quisa constante é o fator que mais se destaca. E que
O espaço da universidade caracteriza-se por ser outras competências o professor deve desenvolver e
pesquisante. Conforme Severino, “na universidade, possuir para alcançar a excelência (entendida como o
ensino, pesquisa e extensão efetivamente se articulam,
que supera o comum, o realizado ordinariamente) de
mas a partir da pesquisa, ou seja, só se aprende, só se
sua prática profissional?
ensina pesquisando” e, ainda,
o professor precisa da prática da
O trinômio excelência, competência e qualidade11
pesquisa para ensinar eficazmente; constitui algo de natureza insubstituível para qualquer
o aluno precisa dela para apren- empreendimento e, na educação superior, tais noções
der eficaz e significativamente; a adquirem um valor ainda maior.
comunidade precisa da pesquisa
para poder dispor de produtos do Como visto anteriormente, o desenvolvimento de
conhecimento; e a universidade novas competências e habilidades é preconizado na legis-
precisa da pesquisa para ser media- lação educacional brasileira. Todavia, essas expressões
dora da educação (SEVERINO,
2009, [s. p.]). (competências e habilidades) viraram uma espécie de
modismo, de lugar-comum, chavões esvaziados de sen-
Dessa epistemologia da pesquisa nasce uma ciên- tido em muitos discursos pretensamente pedagógicos.
cia comprometida com a transformação da realidade
em função da melhoria da qualidade de vida da maio- A banalização desses conceitos, assim como do
ria da população, isto é, uma ciência engajada com ensino como pesquisa, gera lacunas sensíveis e perigo-
projetos emancipadores da sociedade. sas na formação universitária e, consequentemente, na
prática profissional dos acadêmicos, sobretudo, os que
Essa é a essência da pedagogia universitária, o fun- se preparam para a docência. Resgatar a riqueza con-
damento sem o qual se descaracteriza o Ensino Supe- ceitual dessas expressões também é ação primordial do
rior. O ensino e a aprendizagem só serão motivadores educador e da educadora.
se seu processo se der como processo de pesquisa.
O próprio termo competência é polissêmico
E qual seria então o telos da ação docente nesse e engendra uma multiplicidade de entendimentos,
contexto de ensino como atividade de pesquisa? O esquemas e diferenciações. No que tange ao universo
professor Pedro Demo, analisando as características da docência, a celeuma pode ser ainda maior, sendo
do professor pesquisador, destaca: que, dado a natureza didática deste artigo, julgou-se ser
a. ocupar espaço científico próprio, mais adequado escolher uma linha de reflexão acerca
no qual realiza produção original da noção de competência. Para tanto, são importan-
e aparece como paladino de teo-
rias e práticas; significa ter projeto
próprio, uma história de evolução 11 Segundo Juliatto, em A universidade em busca da excelência: um estudo sobre
constante, nome construído pelo a qualidade da educação, o conceito de qualidade está em franca mudança. Para o
mérito reconhecido; e, autor “a qualidade deve, então, ser definida em consonância e coerência com certa
escala de valores, objetivos e exigências da sociedade em dado tempo e lugar.
b. orientar alunos a construir Cumpre estabelecer claramente que o conceito de qualidade da educação passou
conhecimento com qualidade de uma visão estática e burocrática para outra, crítica, dinâmica, de engenharia
formal e política, atingindo aí o progressiva e pronta para reagir às reivindicações da sociedade” (2005, p. 50).

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Fundamentos Filosóficos e Pedagógicos do Ensino Superior

tes as considerações de Paiva, para quem competência reinterpretação de cada situação


profissional deve ser entendida como problemática em decorrência do
confronto desta com outra expe-
mobilização de forma particular riência já vivida, a qual nunca se
pelo profissional na sua ação pro- repete. As condições de ensino
dutiva de um conjunto de saberes mudam dia a dia e não existe
de natureza diferenciados (que for- segurança do que dá “certo”. Nesta
mam as competências intelectual, perspectiva, o professor necessita
técnico-funcionais, comportamen- ser um pesquisador que questiona
tais, éticas e políticas) de maneira a o seu pensamento e sua prática,
gerar resultados reconhecidos indi- age reflexivamente no ambiente
vidual (pessoal), coletiva (profissio- dinâmico, toma decisões e cria
nal) e socialmente (comunitário). respostas mais adequadas porque
Concebe-se, então, competência construídas na própria situação
profissional como a metarreunião concreta (2007, p. 48).
de maneira singular e produtiva de
competências compostas por sabe- Para o sociólogo Philippe Perrenoud, em sua obra
res variados (PAIVA, 2007, p. 45). Dez novas competências para ensinar, dez seriam os gru-
No que diz respeito ao conjunto de habilidades e pos de competências necessárias para um ensinar efi-
competências do docente do Ensino Superior, a pro- caz, a saber,
blemática e os desafios são ainda maiores. De fato, I. organizar e dirigir situações de
para muitos autores, existe uma acentuada dificuldade aprendizagem;
em definir competência do ponto de vista pedagó- II. administrar a progressão das
gico. Para Cunha apud Paiva, por exemplo, o conceito aprendizagens;
de competência docente é muito mais uma “ideação III. conceber e fazer evoluir os dis-
de um papel socialmente localizado no tempo e no positivos de diferenciação;
espaço” (2007, p. 47). Em outros termos, IV. envolver os alunos em suas
mesmo que de forma não expressa, aprendizagens e em seu trabalho;
há uma concepção de professor V. trabalhar em equipe;
competente feita pela sociedade e,
VI. participar da administração
mais precisamente, pela comunidade
da escola;
escolar. Ela é fruto do jogo de expec-
tativas e das práticas que se aceita VII. informar e envolver os pais;
como melhores para a escola do
VIII. utilizar novas tecnologias;
nosso tempo (PAIVA, 2007, p. 47).
IX. enfrentar os deveres e os dile-
O trinômio excelência, competência e qualidade mas éticos da profissão;
constitui algo de natureza insubstituível para qual- X. administrar sua própria forma-
quer empreendimento. ção contínua (PERRENOUD,
2000, p. 14).
De qualquer modo, parece ser unânime entre os
Deve-se salientar, segundo Perrenoud, que essas
filósofos da educação que o desenvolvimento contí-
competências, quando desenvolvidas e executadas,
nuo do educador se constitui como a mais importante
não contemplam todas as relações que se estabelecem
das competências pedagógicas. Essa constante forma-
em sala de aula, sendo por isso mesmo, como mencio-
ção permite ao docente desenvolver saberes que con-
nado anteriormente, fundamental o constante aperfei-
templem a docência em si (dominar conteúdos, acom-
çoamento do educador e da educadora.
panhar alunos, trabalhar valores, etc.), a atuação na
organização e na gestão da escola (participação efetiva Portanto, destacam-se, ou reforçam-se mais
em reuniões e conselhos, cooperação, solidariedade, duas competências a serem efetivadas na prática
respeito mútuo, diálogo etc.) e a produção de conhe- pedagógica dos docentes do ensino universitário12.
cimento pedagógico (elaboração e desenvolvimento Trata-se da competência da criatividade e da com-
de projetos de investigação). Conforme Grillo apud
Paiva, existe uma singularidade da situação de ensino: 12 Fala-se em práticas pedagógicas do docente universitário em função dos obje-
tivos deste artigo, o que não significa em hipótese alguma que essas competências
O cotidiano da sala de aula é sem- sejam exclusivas dessa fase escolar. Pelo contrário, tais competências devem estar
pre instável e exige do professor a presentes em todos os níveis da formação.

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 11


petência da utilização das novas tecnologias no pro- As novas tecnologias têm um grande potencial
cesso de ensino-aprendizagem. para trazer significativas mudanças para a educação.
Sobre essa primeira é necessário refletir acerca Entretanto, percebe-se que o paradigma da educação
do tratamento que sempre foi destinado na universi- tradicional tem preponderado em grande número de
dade aos processos criativos dos acadêmicos. Consta- instituições de ensino. Na verdade, o que se verifica é
ta-se que universidades estão produzindo um grande o disfarce das velhas práticas pedagógicas encapsuladas
número de graduados, porém, a maioria deles trei- em mídias eletrônicas sofisticadas. Isso com certeza
nados simplesmente para aplicar o já conhecido de não é elemento positivo e colaborativo no sentido de
maneira convencional. Como afirma Rosas, “é no ter- se melhorar a qualidade do ensino.
ceiro grau onde menos se fala e pensa em criatividade” Portanto, não basta introduzir tecnologias, é
(1985, p. 122). Castanho, considerando sobre essa fundamental, sobretudo na modalidade do Ensino
temática e as práticas adotadas em muitas das nossas a Distância13, preparar alunos e docentes para saber
instituições de ensino superior, destaca: utilizá-las de forma eficaz e competente, atendendo
Podemos afirmar que nossas facul- aos objetivos encontrados no plano de ensino de cada
dades são, no geral, pouco ou nada área, respeitando suas especificidades.
criativas. Desenvolver a criativi-
dade parece ser um objetivo tão
simples e é uma das características 6 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS
mais raras de se encontrar na maio-
ria de nossos jovens, educados para DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
a atitude conformista e homogênea Da mesma maneira que é determinante para o
que os sistemas escolares os conde-
exercício com excelência da atividade docente que se
nam (2000, p. 77).
reconheçam, até porque assim é possível pensar em
Estabelecer espaços fomentadores da criatividade mudança dos mesmos quando necessário, os princí-
é, portanto, fundamental para se alcançar a excelência pios e teorias pedagógicas que orientam os trabalhos
e qualidade da educação superior. Isso pode ser alcan- de educadores e educadoras do Ensino Superior; é
çado através de atividades mais flexíveis no que diz res- imprescindível identificar e analisar quais são os fun-
peito à produção do conhecimento, com o incentivo à damentos filosóficos que subsidiam a forma com que
participação dos acadêmicos em trabalhos e pesquisas se enxerga a educação, suas finalidades e importância
científicas, manifestações artístico-culturais, incen- dentro de uma sociedade.
tivo e respeito a formas alternativas de se expressar e
produzir ciência, com o envolvimento mais próximo Sem dúvida, das concepções de homem, de cul-
e humanizado do docente em relação ao aluno e seu tura, de vida, de universo, é que surgem os posiciona-
universo, com a apresentação de planos de ensino mais mentos adotados pelos diversos atores sociais na con-
flexíveis e que contemplem essas vias de desenvolvi- cretude de sua existência pessoal e social. Da filosofia,
mento da criatividade, bem como, com atividades que no caso específico dos interesses desta análise, de uma
levem à reflexão e a criticidade das próprias atividades filosofia da educação, emergem respostas e possibi-
e da realidade social onde se está inserido. lidades reflexivas para aquelas indagações acerca do
Como destacado por Perrenoud, a utilização das futuro da educação brasileira, relembrando-as: qual
novas tecnologias é uma das competências a serem universidade se pretende construir? Que docente/
desenvolvidas pelo docente contemporâneo. De fato, discente será formado nesse ambiente cultural/insti-
vive-se num mundo altamente marcado pela utiliza- tucional? Que perspectivas de futuro são vislumbra-
ção da tecnologia, especialmente as da informação. das para o Ensino Superior?
Fechar os olhos a essa realidade é abrir espaço para As próprias concepções pedagógicas apresentadas
procedimentos obsoletos e desajustados a uma sempre revelam de forma singular e em grau de diferenciação
nova realidade profissional e social. entre si, uma visão de mundo, um posicionamento
Da mesma forma, é fundamental evitar uma postura filosófico perante os fatores determinantes no que con-
acrítica frente a essas novas tecnologias. Uma postura de 13 No Ensino a Distância, a utilização de tecnologias é preponderante, o que não
subserviência é tão nefasta quanto a rejeição radical das significa, necessariamente, que elas por si só mudarão concepções e métodos de
possibilidades que essas novas ferramentas tecnológicas ensino e aprendizagem. Essas tecnologias devem levar o melhor das práticas de
ensino e não simplesmente reproduzir o pior, os vícios e as deficiências do método
possibilitam para uma educação de qualidade. tradicional de ensino.

12 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


Fundamentos Filosóficos e Pedagógicos do Ensino Superior

cerne ao futuro que se pretende para um grupo social, o necessário desenvolvimento de uma razão aberta
especialmente no caso de seu desenvolvimento cultu- ao diálogo, de uma razão comunicativa, que por sua
ral. Assim, tendências e posturas pedagógicas, liberais vez, substitua uma razão instrumental tão presente no
ou progressistas, engendram dentro de sua constitui- modo moderno de se produzir ciência.
ção epistemológica e axiológica, uma visão filosófica, A educação em todas as culturas e sociedades sem-
um modo particular de pensar e fazer a educação. pre visou o homem e sua forma de viver coletivamente.
O ambiente escolar não está fora da real idade Pode-se afirmar que da relação intrínseca entre educa-
social e, consequentemente, não é concebível pen- ção e filosofia é que emergem as concepções pedagó-
sar a educação como um elemento dissociado dos gicas que norteiam, cada uma a seu modo e dentro
demais componentes da vida e da cultura de um de sua ideologia, as práticas educacionais presentes no
grupo humano. A educação não é neutra, apolítica; cotidiano da escola e da universidade. A reflexão filo-
pelo contrário, ela é fator de mudança e/ou conserva- sófica acerca dos fundamentos da educação apresen-
ção de estruturas sociais, dependendo, evidentemente, ta-se, portanto, como uma das competências a serem
de suas orientações e posicionamentos ideológicos. A desenvolvidas pelos educadores compromissados com
educação se perde quando é praticada sem consciên- um desenvolvimento pleno das potencialidades que a
cia de sua historicidade e dentro de uma pedagogia educação tem sobre o modo de ser e agir do homem.
alienada, distante da experiência com o real. Portanto, Mas como deve ser entendida essa reflexão? Em
sempre haverá dentro do processo de ensino-apren- que sentido uma reflexão de fato se torna filosófica?
dizagem um topos filosófico, uma postura pedagógica Como desenvolver essa competência? Como utilizá-la
e política decorrente da maneira como cada sujeito de forma adequada no contexto, sempre dinâmico e
concebe a educação e suas finalidades sociais. Para inédito, da sala de aula?
Luckesi, a educação é uma instância dialética que serve
a um projeto, a um ideal de sociedade, “ela medeia esse A palavra reflexão vem do verbo latino “reflectere”
projeto, ou seja, trabalha para realizar esse projeto na que significa “voltar atrás”. Entende-se reflexão como
prática. Assim, se o projeto for conservador, medeia a um repensar, como “um pensamento consciente de
conservação; contudo, se o projeto for transformador, si mesmo, capaz de se avaliar, de verificar o grau de
medeia a transformação” (1994, p. 48). adequação que mantém com os dados objetivos, de
medir-se com o real” (SAVIANI, 1996, p. 16). Quem
O mapeamento e apresentação de todos os fun- reflete busca, de maneira incessante, os significados do
damentos filosóficos da educação universitária é tarefa já pensado, analisa com paciência e cuidado os dados
extremamente complexa e não se constitui como meta do próprio pensamento, retoma e reconsidera o que,
dessas considerações. Na verdade, em tudo o que já foi em um primeiro impulso da mente, era tido como a
analisado nesse texto, é notória a presença de uma fun- realidade, a verdade.
damentação filosófica. O contrário seria inconcebível
e manifestaria uma visão equivocada acerca dos funda- No Dicionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano,
mentos da educação e da cultura. Uma visão simplista verifica-se que de maneira geral existe um entendi-
e reducionista não contribui em nada para um exercí- mento de reflexão como “ato ou processo por meio do
cio mais competente da ação pedagógica. qual o homem considera suas próprias ações” (1998, p.
837). Trata-se, portanto, de uma atividade pertinente
Por isso mesmo, almejando uma didaticidade e
ao gênero humano, em que se conclui que o homem,
clareza necessárias, serão destacados alguns daqueles
ao refletir, se dobra sobre suas ideias, examina-as,
que podem ser considerados os fundamentos filosó-
modifica-as, combina-as de maneiras diferentes, altera
ficos do Ensino Superior, a saber: a competência da
sua consciência e ciência do que o cerca. A reflexão é,
reflexão filosófica e seu papel na formação de educa-
de forma inequívoca, o fundamento do conhecimento
dores e acadêmicos mais críticos e conscientes de sua
científico-filosófico.
condição de produtores de cultura e das consequências
que esses saberes culturais tem sobre o tecido social Todavia, nem todo pensamento é reflexivo, assim
onde se inserem; a necessidade de um pensamento como nem toda reflexão se caracteriza como filosó-
complexo em relação aos fins da educação e suas mani- fica. Pensar que todos os processos reflexivos podem
festações na sociedade, buscando a superação de um ser caracterizados como filosóficos, no plano das rela-
paradigma tradicional, cujos pressupostos principais ções estabelecidas no entorno da educação e das suas
são a simplicidade, a objetividade e a estabilidade; e modalidades – Ensino Fundamental, Ensino Médio e

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 13


Ensino Superior –, é correr o risco de banalizar o pró- de modo parcial, mas numa pers-
prio entendimento da filosofia e, no caso específico, pectiva de conjunto, relacionando-
-se o aspecto em questão com os
de uma filosofia da educação. É necessário entender demais aspectos do contexto em
a filosofia como “uma forma de conhecimento pela que está inserido (1996, p. 17).
qual o ser humano toma consciência de si, do sentido
da sua história, do significado do projeto do futuro” Essas categorias não se mostram autossuficientes
(LUCKESI et al.,1998, p. 66). e nem sempre são facilmente percebidas no cotidiano
das atividades humanas. No caso da universidade, a
Também a ação consciente e reflexiva exige sem- problemática pode ser ainda mais grave, sobretudo,
pre do sujeito cognoscente o estabelecimento de pres- porque nem sempre existe por parte de dirigentes,
supostos. Esses, por sua vez, agirão sobre a realidade educadores e acadêmicos o hábito, a disposição de
multifacetada desse indivíduo, ou seja, serão pressu- refletir em profundidade, com rigor e sistematica-
postos filosóficos, políticos, científicos, econômicos, mente. É notória na tradição da educação brasileira,
psicológicos, pedagógicos etc., dos quais dependerá fruto de uma epistemologia assentada sobre outros
a visão de mundo que se terá, bem como, sua capa- fundamentos, tais como uma lógica da disjunção em
cidade de reflexão sobre o detectado. Quais são, por- que um elemento investigado sempre é separado do
tanto, dentro da discussão estabelecida nesta análise, outro, como se a concomitância dos mesmos fosse
os pressupostos que movem os educadores na busca uma heresia gnosiológica, algo do tipo “ou/ou”14, de
da excelência de suas práticas didáticas? Na constru- onde decorrem operações como as de análise e síntese,
ção da universidade do futuro, quais são os pressupos- frutos do modelo cartesiano/mecanicista de se produ-
tos filosófico-pedagógicos a embasar e solidificar essa zir conhecimento; o que obviamente dificulta a obser-
tarefa? Que papel é reservado à reflexão filosófica no vância dos fenômenos investigados na sua totalidade.
espaço universitário? No caso da educação superior, isso gera consequ-
Nem todo pensamento é reflexivo, assim como nem ências que dificultam a suplantação dos problemas his-
toda reflexão se caracteriza como filosófica. tóricos do sistema de ensino. Por exemplo, não é difí-
cil de ser percebido os altos índices de desistência ao
A reflexão filosófica, diferentemente de outras longo do processo formativo de graduação nas univer-
formas estabelecidas nos demais campos do saber, sidades e faculdades brasileiras. Tal fenômeno, longe
possui algumas condições e características que a qua- de ter uma explicação/causalidade unívoca, decorre,
lificam dessa forma. Essa adjetivação decorre funda- entre outros fatores, da falta de estrutura desses cur-
mentalmente de três requisitos, a saber: a radicalidade, sos, da necessidade do acadêmico em trabalhar para
o rigor e a globalidade. Esses elementos constituintes poder garantir condições mínimas de subsistência, o
da reflexão filosófica são apresentados por Saviani da que certamente prejudica seu desempenho escolar, de
seguinte maneira: propostas inadequadas e desmotivadoras de ensino, da
ausência de políticas públicas de inserção desse estu-
Radical: em primeiro lugar, exige-se
que o problema seja colocado em dante no mundo do trabalho, das altas mensalidades
termos radicais, entendida a palavra praticadas no sistema privado de ensino etc. A preten-
radical no seu sentido mais próprio são, portanto, de analisar o problema da desistência
e imediato. Quer dizer, é preciso que ao longo dos cursos, de maneira sintética e elegendo
se vá até as raízes da questão, até seus apenas um fator como ele se fosse a causa do mesmo,
fundamentos. Em outras palavras,
exige-se que se opere uma reflexão mostra-se inadequada, equivocada e, sem dúvida, per-
em profundidade. petuadora da problemática.
Rigorosa: em segundo e como que Assim, o desenvolvimento da reflexão filosófica
para garantir a primeira exigência, (radical, rigorosa e de conjunto) é fundamental no pro-
deve-se proceder com rigor, ou seja, cesso formativo e pedagógico de educadores e educa-
sistematicamente, segundo méto-
dos determinados, colocando-se 14 Essa concepção está de acordo com aquilo que praticou (pratica-se em alguns
em questão as conclusões da sabe- ambientes e ramos do saber) de princípios da lógica formal de Aristóteles. Desta-
doria popular e as generalizações ca-se aqui o princípio da não contradição, cuja configuração pode ser apresentada
que a ciência pode ensejar. da seguinte forma: “algo não pode ser e deixar de ser ao mesmo tempo e sobre
o mesmo aspecto”. Ressalta-se que na modernidade foram desenvolvidas outras
De Conjunto: em terceiro lugar, o formas de compreensão da lógica e de seus pressupostos, tais como a lógica dialé-
problema não pode ser examinado tica hegeliana.

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doras. Se, como apresentado anteriormente, a universi- que vem sendo imposto a boa parcela da população
dade é o lugar privilegiado da pesquisa, constituindo-se mundial nos últimos quatro séculos16.
como sua característica fundamental, também deve ser nossa educação nos ensinou a
ambiente de profunda reflexão, onde a ciência e a tecno- separar e isolar as coisas. Separa-
logia são entendidas como fenômenos sociais e, por isso mos os objetos de seus contextos,
mesmo, explicitações singulares de todos os elementos separamos a realidade em discipli-
nas compartimentadas umas das
constituintes da cultura de um povo. outras. Mas, como a realidade é
O pensamento complexo é outro fundamento feita de laços e interações, nosso
filosófico da educação superior atual. Mas o que é pen- conhecimento é incapaz de perce-
ber o complexus – o tecido que junta
samento complexo? O que é complexidade? Que rela- o todo. Ao mesmo tempo, nosso
ção a complexidade possui com o ensino universitário, sistema de educação nos ensinou, a
seus atores sociais e sua produção de conhecimento? saber: as coisas deterministas, que
obedecem a uma lógica mecânica;
Normalmente, ao se deparar com a expressão coisas das quais podemos falar com
complexo/complexidade o indivíduo é levado a ima- muita clareza e que permitem, evi-
ginar algo de natureza difícil, hermética. Nos dicioná- dentemente, a previsão e a predição
rios da língua portuguesa, usados por grande parte da (MORIN, 1997, p. 15).
população, o verbete complexo tem como um de seus Para o filósofo francês, complexidade “refere-se a um
sinônimos a ideia de algo complicado. conjunto, cujos constituintes heterogêneos estão insepa-
No entanto, não é isso a que se refere, neste texto, ravelmente associados e integrados, sendo ao mesmo
quando se menciona a complexidade; pelo contrário, tempo uno e múltiplo” (MORIN apud VASCON-
seria um contrassenso entender e encerrar a riqueza CELLOS, 2002, p. 110). A complexidade se apresenta
desse conceito e fato da vida em uma querela mera- como algo que transcende um mero conceito teórico, ela
mente semântica. se manifesta como um fato da vida e, por isso, alcança
Essas dificuldades de compreensão acerca do pen- todas as suas esferas – a biológica, a social e a mental. A
samento complexo por parte da sociedade e também experiência humana é um todo bio-psico-social que não
de muitos intelectuais em diferentes campos do saber pode, portanto, ser dividido em partes nem reduzido a
são apontadas por Edgar Morin15 no artigo Complexi- nenhuma delas. Isso é o pensar complexo.
dade e ética da solidariedade. Para ele, Do ponto de vista pedagógico, apesar de parecer o
utilizamos frequentemente a pala- contrário, a complexidade sempre foi praticada, ainda
vra complexidade, mas somos inca- que de maneira assistemática e deficitária, por parte de
pazes de separar e rejuntar os ele- alguns educadores. Por exemplo, todas as vezes que o
mentos dos quais estamos falando. docente busca contextualizar a temática de uma aula
Não conseguimos encontrar uma
explicação e uma definição. É por com os demais assuntos trabalhados ou que virão a ser
isso que a p alavra complexidade desenvolvidos, ele está pensando no processo de ensi-
torna-se uma palavra vazia, que no-aprendizagem de forma sistêmica, complexa. Da
tapa buracos” (MORIN, 1997, p. mesma forma, isso ocorre quando ele evita pensar sua
15). participação nesse processo como a de responsável por
Destaca-se ainda, acompanhando o entendi- uma disciplina estanque e separada das demais. Evitar
mento do autor, que a sociedade fica como que per- essa compartimentação do saber, a fragmentação do
plexa e desarmada perante a discussão da comple- conhecimento científico, é fundamental no sentido
xidade e seus efeitos no cotidiano das pessoas, em de desenvolver um conhecimento contextualizado,
função, sobretudo, do modelo educacional e cultural repleto de significado para o discente.
15 O nome de Edgar Morin está vinculado ao desenvolvimento/entendimento 16 Em termos científicos e filosóficos, a modernidade, especialmente após a
de um novo paradigma de ciência. Normalmente esse paradigma é conhecido Revolução Científica do século XVII, é marcada por pressupostos teóricos da filo-
como paradigma da complexidade, paradigma sistêmico, paradigma holístico ou sofia mecanicista de Galileu e Descartes, assim como pelos postulados da física
paradigma emergente. Embora existam muitas obras de Morin que tratem dessa newtoniana. Para alguns autores, como Maria José Esteves de Vasconcellos, em
temática, por exemplo, Ciência com consciência, é na obra publicada em 1990, Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência, esses pressupostos podem
Introdução ao pensamento complexo, que se encontram as bases conceituais de ser identificados no trinômio: simplicidade, objetividade e estabilidade. Ressalta-se
seu posicionamento teórico. Todavia, não se pode atribuir a Morin a descoberta que esses elementos estariam presentes em todos os fenômenos naturais e sociais,
da palavra “complexidade”, sendo mais correto identificar em Gaston Bachelard (O o que permitiria entendê-los como os últimos parâmetros no que se refere à com-
novo espírito científico) as primeiras referências a essa expressão. preensão racional dos referidos fenômenos.

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 15


Contextualizar é, portanto, realizar dimensão da atividade docente nesse nível de ensino.
operações lógicas contrárias às de Na verdade, é mais correto do ponto de vista episte-
disjunção e redução, contrárias às
operações de simplificação que pro-
mológico dizer que se trata da continuidade lógica
duzem uma simplicidade atomizada. do pensar a educação como uma atividade de refle-
As operações lógicas que constituem xão filosófica e de complexidade.
esse movimento contrário à disjun-
ção e à redução são as de distinção e Esse terceiro fundamento filosófico da educação
conjunção, que permitirão ver uma superior que passará a ser apresentado, ressaltando que
complexidade organizada (VAS- já foi destacado que muitos outros são os fundamentos
CONCELLOS, 2002, p. 113). existentes nesse nível de ensino e que juntamente a estes
Em termos didáticos, essas lógicas podem ser aqui analisados subsidiam educadores e educadoras na
verificadas em situações concretas do fazer aula. Por busca da excelência de sua ação docente, encontra, na
exemplo, ao se pensar de forma disjuntiva, usamos a crítica feita a um modelo de racionalidade, tido como
lógica do “ou/ou”, isto é, ou esse conteúdo ou outro, instrumental e coisificante do homem e dos demais seres,
ou essa metodologia ou outra, ou essa forma de ava- sua gênese. Destacam-se nessa análise as críticas feitas,
liar ou outra, ou minha disciplina ou aquela outra, principalmente a partir das primeiras décadas do século
e assim por diante. A complexidade na educação passado pelos pensadores ligados à Escola de Frankfurt17.
sugere pensar de forma conjuntiva. Essa metodologia Como analisado anteriormente, a educação é um
e a outra também, essa forma avaliativa e outra que produto histórico-social. Ela ocorre dentro de uma
se mostrar necessária e adequada à realidade do aluno determinada realidade social e, por isso, reproduz, em
também etc. Substitui-se o “ou/ou” por um “e/e”, certa medida, os pressupostos constitutivos da cultura
produtivo e democrático. de sua época.
Assim sendo, é possível pensar em um novo No caso da modernidade, pode-se afirmar, por-
papel e perfil do professor universitário, caracteri- tanto, que a educação seguiu as matrizes teórico-prá-
zado, agora, dentro do fundamento da complexidade ticas que nortearam o desenvolvimento técnico-cientí-
e de forma coadunante com a legislação educacional fico desse período e, mais do que isso, uma concepção
brasileira, como possuidor de duas outras importan- de homem, de sociedade, de universo, que se instalava
tes tarefas, a saber: como antítese do período anterior, a Idade Média, e pre-
Uma diz respeito à reconstrução de tendia ser o ápice do desenvolvimento da humanidade.
seu próprio perfil enquanto pro-
fissional da educação: a morte do Não foram poucos os autores modernos que, ao
sujeito narcisicamente investido de considerarem o papel da ciência no desenvolvimento
poder é o mínimo que se espera para das potencialidades humanas, acreditaram estar frente
reformatar-se os espaços discursivos
ao momento de maior evolução da história da humani-
do diálogo professor-aluno. Essa
tarefa amplia-se numa outra, sem dade. O exemplo de Galileu Galilei é pertinente nesse
dúvida investida de maior enver- sentido. Para o cientista italiano, a sociedade, livre do
gadura e desafio. Trata-se de exer- obscurantismo da metafísica medieval, encontraria na
citar uma verdadeira aeróbica dos ciência moderna a descrição verdadeira da realidade.
neurônios no sentido de descobrir
Outro legítimo representante dessa “crença” no poder
e desconstruir os imprintings para-
digmáticos que impedem novas redentor da educação e da ciência foi João Comênio18,
e ampliadas “sinapses cognitivas”
de alunos cada vez mais ávidos 17 A Escola de Frankfurt é responsável pela produção da chamada Teoria Crí-
em expor suas subjetividades, seus tica, que, congregando a partir do início do século XX pensadores com origens
mapas cognitivos autobiográficos e intelectuais e influências teóricas distintas, passaram a analisar os efeitos para a
de compreender o conteúdo das dis- humanidade do projeto emancipador da filosofia iluminista. De fato, o pensamento
ciplinas científicas pela via da parti- frankfurtiano se consolidou como uma das mais contundentes críticas feitas aos
lha e da coprodução (ALMEIDA, resultados da filosofia da identidade, ou, como eles mesmos identificavam, Teoria
1997, p. 42). Tradicional. Destacam-se nesse trabalho a reflexão filosófica de autores como Max
Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamim, Leo Lowenthal,
E, da mesma forma que se espera uma nova Friedrick Pollock, entre outros. Nas considerações feitas neste artigo, serão apresen-
tados alguns elementos da teoria de Jurgen Habermas, também conhecida como
fundamentação para as práticas pedagógicas execu- racionalidade comunicativa/ação comunicativa.
tadas na educação superior, advindas de forma sistê- 18 Educador do século XVII, autor de diversas obras abordando a temática da edu-
mico-complexa de percebê-la, verifica-se mais uma cação e o desenvolvimento social, sendo Didática Magna sua obra mais conhecida..

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para quem a instrução de crianças e de jovens poderia No caso da produção e difusão do conhecimento,
redimir a sociedade. foco de nossas análises, esse processo teria alcançado
Todavia, foi no movimento iluminista que se o espaço da educação de formas diversas. Uma des-
alcançou o ápice da confiança no poder emancipatório sas maneiras foi por meio do cientificismo, que pode
da razão. A razão, entenda-se aqui a ciência e a técnica, ser explicado como uma postura, dominante em boa
levaria a sociedade, inevitavelmente, ao progresso, à parcela da população, de total e irrestrita confiança na
felicidade e a um desenvolvimento moral e intelectual ciência e nos seus discursos. Associada a isso também
antes nunca visto na história da humanidade, assim se verifica a construção de novos mitos, tais como o
como uma verdadeira liberdade política. da neutralidade científica, em que elementos como
os interesses econômicos e políticos não estariam pre-
O progresso, por meio da utilização dos recursos
sentes e nem determinariam os rumos das pesquisas
técnicos, do desenvolvimento científico e da aplicação
científicas e suas utilizações. Por intermédio de postu-
cada vez maior de investimentos financeiros nessas
ras como essas acaba ocorrendo, auxiliada pelos meios
áreas, tornou-se a meta de todas as sociedades tidas
de comunicação de massa e da escola e seu papel de
como evoluídas e, consequentemente, a última finali-
reprodutora das ideologias dominantes, sobretudo a
dade de, praticamente, todos os sistemas educacionais
esclarecidos. O conhecimento operacional, pragmá- do capitalismo liberal, uma espécie de institucionali-
tico, capaz de subjugar, por intermédio de equações, zação do progresso técnico e científico.
fórmulas e instrumentos tecnológicos, a natureza, des- Outro exemplo dessa instrumentalização no sis-
mistificando-a e desencantando-a, passou a ser visto tema educacional está na hierarquização dos saberes,
como o principal objetivo da educação. em que alguns são tidos como ineficazes e, portanto,
Da subjugação e transformação da natureza em destituídos de significância para a formação dos edu-
um imenso laboratório de onde o homem deveria tirar candos, tais como o conhecimento tácito, o conheci-
o máximo de recursos para a aplicação dessa mesma mento religioso, as experiências e tradições culturais
lógica nas relações sociais, foi um passo relativamente transmitidas de forma oral etc. O próprio conheci-
tênue. O desencanto e a desmitificação passaram a mento filosófico é destituído de importância, mas
fazer parte da relação do homem consigo mesmo, com aqui por outros fatores, como o projeto de alienação
os outros e com os demais seres. e massificação intelectual. O exemplo da legislação
educacional brasileira durante o período de ditadura
Para os intelectuais da Escola de Frankfurt, o militar é clássico, pois, sob a influência da tendên-
projeto emancipatório da filosofia das luzes se trans- cia pedagógica liberal tecnicista, cursos de filosofia
formou em uma ideologia, em uma forma de instru- e sociologia foram substituídos por conteúdos tidos
mentalização do homem pelo homem. A razão, que como formadores do patriotismo nacional, isto é,
na perspectiva iluminista, era vista como luz e escla- educação moral e cívica, estudos dos problemas bra-
recimento, na ótica frankfurtiana, teria se obscure- sileiros, entre outros.
cido e se tornado ferramenta nas mãos dos detentores
do capital que, por sua vez, controlavam a ciência e O que se pode verificar é a existência de uma
a técnica. forma de racionalidade que privilegia ações estraté-
gicas de domínio e exploração, de embrutecimento e
Eventos como o imperialismo das nações euro- desumanização. A educação não está imune a isso.
peias, no final do século XIX, sobre o continente afri-
cano e asiático, as grandes guerras, a ascensão ao poder Dessa complexa realidade, portanto, advém a
de regimes totalitários em governos europeus, como necessidade do desenvolvimento de educadores e edu-
a Alemanha e Itália, a perseguição nazista aos judeus, cadoras, de uma consciência crítica sobre essas dimen-
ciganos, homossexuais, negros, e os horrores dos cam- sões da vida moderna. Essa criticidade encontra espaço
pos de concentração, bem como as crises decorrentes real de efetivação em uma sólida formação intelectual,
das formas estratégicas de dominação do poder finan- no exercício da reflexão filosófica e na consolidação de
ceiro, seriam fenômenos decorrentes desse eclipse da uma forma sistêmica de se pensar e produzir ciência.
razão19, gestado sob a ideologia iluminista. O próprio conhecimento filosófico é destituído de
importância, mas aqui por outros fatores, como o
19 Esse termo é emprestado e faz relação com a obra de Max Horkheimer, tam- projeto de alienação e massificação intelectual.
bém intitulada Eclipse da Razão. Horkheimer foi um dos mais importantes represen-
tantes da Teoria da Crítica Social.

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As contribuições do filósofo alemão Jürgen LDB estabelece, o prepara para o mundo do trabalho
Habermas parecem se mostrar adequadas nesse pro- e é nesse mundo que se processam relações sociais que
jeto, que também é um projeto educacional. Para podem ser fomentadoras de um novo espaço social.
Habermas, filósofo ligado à Teoria Crítica desenvol-
A atuação da universidade, então, é decisiva para
vida pela Escola de Frankfurt, o projeto iluminista de
a instauração de novos modelos de ações sociais e pro-
emancipação do homem por meio da razão está ina-
fissionais. A educação universitária, na perspectiva
cabado. Todavia, esse projeto deve estar calcado sobre
da racionalidade comunicativa, além da formação de
outras bases que não a razão instrumental. Para ele, no
indivíduos mais críticos e éticos, permite uma quali-
lugar de uma razão totalitária e egocêntrica, é funda-
ficação profissional não mais calcada em um mundo
mental a instalação de uma razão comunicativa ou de
sociocêntrico e no indivíduo egocêntrico, que sempre
uma teoria da ação comunicativa.
constituíram uma sociedade hierarquizada e marcada
No entendimento habermasiano, a ação comu- pela divisão do trabalho, mas em um novo espaço pro-
nicativa se caracteriza não apenas pela comunicação dutivo, dinâmico e aberto a novos conceitos de produ-
bilateral, dialógica, mas, principalmente, pelo objetivo ção e visões de mundo.
desta ação, que visa ao consenso, ao entendimento e à
emancipação. A ação comunicativa tem função essen- Nesse sentido, cabe ao educador fazer da sua ação
cialmente libertadora entre os sujeitos que interagem docente uma atividade dialógica e democrática, em
por intermédio da linguagem. que não se confundam papéis sociais, isto é, o papel
e a responsabilidade do professor não são os mesmos
Fica explícita na teoria de Habermas que a lin- que os do formando, mas, em uma parceria produtiva,
guagem é determinante para a construção de um novo podem ser estabelecidos planos pedagógicos eficazes e
paradigma de ciência e de uma nova racionalidade. profundamente humanos, no sentido de se alcançar a
É a linguagem que concretiza a excelência da educação.
ação comunicativa onde os sujeitos
são atores, dotados de capacidade
para se relacionar com o mundo 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
objetivo, social e também sub-
jetivo. Assim, dois tipos de ação
O filósofo francês Edgar Morin, atendendo a um
podem ser distintos: o agir instru- convite da Unesco20, escreveu a obra Os sete saberes
mental e o agir comunicativo. O necessários à Educação do futuro, onde sistematiza um
primeiro é dominado pelo sucesso conjunto de reflexões acerca da educação do futuro,
e resultado imediato; o segundo, do que se espera ser a educação do século XXI. Esses
pelo entendimento. Surgem, então,
dois interesses: dominar a natureza
saberes, de forma sintética, são: as cegueiras do conhe-
por fins instrumentais ou organi- cimento: o erro e a ilusão; os princípios do conheci-
zar relações entre os homens que mento pertinente; ensinar a condição humana; ensinar
se conversam e que se entendem a identidade terrena; enfrentar as incertezas; ensinar a
(BASTOS, 1997, p. 17). compreensão; e a ética do gênero humano. Da mesma
A razão comunicativa de Habermas consiste pri- forma, em 1998, é editado no Brasil o documento
meiramente na superação de uma forma de pensar Educação: um tesouro a descobrir. Relatório da Comis-
estratégico e de dominação, em que as diversas formas são Internacional sobre a educação para o século XXI,
de poder, inclui-se aqui o conhecimento, são utilizadas também conhecido como Relatório Delors21. Nesse
em um processo de reificação e instrumentalização. documento, acompanhando a reflexão de Morin, são
Em um segundo momento, ela se abre para o pressu- apresentados os quatro pilares da educação contempo-
posto da dialogicidade, do entendimento entre falan- rânea, a saber: aprender a ser, a fazer, a viver juntos e
tes que querem se fazer entender, em um processo de a conhecer.
interação produtiva. Como se conclui da análise desses documentos,
No caso da educação superior e das práticas que a educação encontra seu telos, sua dimensão verdadei-
a mesma encerra no que tange ao processo de ensi-
20 Trata-se de um órgão dentro da Organização das Nações Unidas (ONU), criado
no-aprendizagem, parece ser adequado e enriquece-
em 16 de novembro de 1945, cuja área de atuação se concentra nos temas da
dor pensar a teoria da ação comunicativa como um educação, da ciência e da cultura.
de seus fundamentos filosóficos, especialmente porque 21 Seu principal organizador é o educador francês Jacques Delors, razão pela qual
essa fase da formação escolar do indivíduo, como a esse documento tenha recebido, de forma não oficial, a alcunha de Relatório Delors.

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ramente humana, quando se dirige à totalidade do FRAUCHES, C. da C.; FAGUNDES, G. M. LDB


homem, quando é integral, quando é complexa. Um anotada e comentada e reflexões sobre a educação
saber que é perpassado pela dimensão da ética, pelo superior. 2. ed. Brasília: Ilape, 2007.
desejo da compreensão que se abre num comunicarse FRIGOTTO, G. Os delírios da Razão: crise do capi-
livre de interesses de dominação, ou como nos recorda tal e metamorfose conceitual no campo educacional.
Maturana: “o verdadeiro conhecimento não leva ao In: GENTILI, P. (Org.). Pedagogia da exclusão: crí-
controle ou à tentativa de controle, mas leva ao enten- tica ao neoliberalismo em educação. 4. ed. Petrópolis:
dimento, à compreensão, a uma forma de vida harmô- Vozes, 1998.
nica e ajustada aos outros e ao meio” (1998, p. 18).
JULIATTO, C. I. A universidade em busca da exce-
Como é sabido, a pedagogia universitária no Bra- lência: um estudo sobre a qualidade da educação.
sil é exercida por professores que não tem uma iden- Curitiba: Champagnat, 2005.
tidade única. Suas características são extremamente
complexas, como complexo e variado é o sistema de LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública:
educação superior brasileiro. Essa realidade, que passa a pedagogia críticosocial dos conteúdos. 8. ed. São
por significativas mudanças, advindas de constantes Paulo: Loyola, 1994.
reformulações pedagógicas e legais, exige, portanto, a LUCKESI, C. C. Filosofia da Educação. São Paulo:
constituição de novas posturas acadêmicas, de papéis Cortez, 1994.
sociais, por parte de educadores e educandos, mais LUCKESI, C. C. et al. Fazer universidade: uma pro-
definidos e solidários entre si. posta metodológica. 10. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
Da análise dos fundamentos pedagógicos e filosó- MATOS, O. C. F. A escola de Frankfurt: luzes e som-
ficos do ensino superior, proposta desenvolvida neste bras do iluminismo. São Paulo: Moderna, 1993.
artigo, deve restar, além do conhecimento, que com
certeza passa a fazer parte do arcabouço teóricoprático MATURANA, H. Emoções e linguagem na educa-
dos que a ele tiveram acesso, sobretudo, uma postura ção e na política. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
compromissada, um desejo sincero e produtivo de que MENDES, D. T. et al. Filosofia da Educação Brasi-
em todas as ações pedagógicas das quais for partícipe, leira. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994.
vislumbrese a excelência da educação. É a tarefa de
MORIN, E. Os setes saberes necessários à Educa-
todos os educadores e educadoras. ção do Futuro. 3. ed. São Paulo: Cortez; Brasília:
Unesco, 2001.
REFERÊNCIAS MORIN, E. Complexidade e ética da solidariedade.
ABBAGNANO. N. Dicionário de Filosofia. São In: CASTRO, G. (Org.). Ensaios de complexidade.
Paulo: Martins Fontes, 1998. Porto Alegre: Sulina, 1997.

ALMEIDA, M. da C. de. Complexidade, do casulo à OLIVEIRA, M. A. M.; FREITAS, M. V. T. Políticas


borboleta. In: CASTRO, G. (Org.). Ensaios de com- contemporâneas para o Ensino Superior: precarização
do trabalho docente? Extra Classe, Revista de Traba-
plexidade. Porto Alegre: Sulina, 1997.
lho e Educação. Belo Horizonte: Sindicato dos profes-
BASTOS, J. A. de S. L. A. Educação e tecnologia. sores do Estado de Minas Gerais, n. 1, p. 4959, 2008.
Revista Educação e Tecnologia, Curitiba, v. 1, p.
PAIVA, K. C. M. de. Gestão de competências e a
429, 1997.
profissão docente: um estudo em universidades em
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Minas Gerais. Tese (Doutorado em Administração).
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Programa de PósGraduação e Pesquisas em Adminis-
Brasília, 1996. tração, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
CASTANHO, M. E. L. M. A criatividade na sala de Horizonte, 2007.
aula universitária. In: VEIGA, I. P. A.; CASTANHO, PERRENOUD, P. Dez novas competências para
M. E. L. M.. (Org.). Pedagogia universitária: a aula ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
em foco. Campinas: Papirus, 2000.
ROSAS, A. Universidade e criatividade. In: VII SEMI-
DEMO, P. Educação e qualidade. 3. ed. Campinas: NÁRIO NACIONAL DOS SUPERDOTADOS,
Papirus, 1996. 1985. Anais..., 1985. p. 121124.

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SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consci-
ência filosófica. 12. ed. Campinas: Autores Associa-
dos, 1996.
SEVERINO, A. J. A prática da metodologia cientí-
fica no Ensino Superior e a relevância da pesquisa na
aprendizagem universitária. Disponível em: <http://
www.unicaieiras.com.br/revista1/artigos/severino/
artigoseminário.htm>. Acesso em: 15 jul. 2009.
VASCONCELLOS, M. J. E. de. Pensamento sistê-
mico: o novo paradigma da ciência. 3. ed. Campinas:
Papirus, 2002.

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Material Complementar
LEITURAS COMPLEMENTARES
Os textos a seguir, selecionados para leitura e desenvolvimento acadêmico, retratam as produções de pes-
quisadores da área. A leitura e análise desses textos contribui para o seu conhecimento.
Para acessar os sites a seguir, basta posicionar a seta sobre o link em azul e clicar.
MACEDO, A. R. de et al. Educação superior no século XXI e a reforma universitária brasileira. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v13n47/v13n47a02.pdf>. Acesso em: 02, fev. 2021.
SEVERINO, A. J. A busca do sentido da formação humana: tarefa da Filosofia da Educação. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022006000300013&script=sci_arttext&tlng=e>. Acesso em:
02, fev. 2021.

AFIRMAÇÕES
Para acessar os sites a seguir, basta posicionar a seta sobre o link em azul e clicar.
2 A formação plena do ser humano. O papel decisivo da educação nesse processo.
“Assim, a educação não poderá mais ser vista como processo mecânico de desenvolvimento de poten-
cialidades. Ela será necessariamente um processo de construção, ou seja, uma prática mediante a qual
os homens estão se construindo ao longo do tempo”.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Educação, trabalho e Cidadania: a educação brasileira e o desa-
fio da formação humana no atual cenário histórico. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/spp/
v14n2/9790.pdf>. Acesso em: 03 de mar. 2021.
2 O pressuposto da subjetividade dentro do paradigma da complexidade. A importância do docente
se ver dentro do processo de ensino-aprendizagem, assim como sentir-se aluno enquanto leciona.
“Outro princípio muito importante, indispensável nas ciências humanas e sociais, permite rejuntar
aquele que conhece ao seu conhecimento, ou seja, integrar o observador à sua observação, e o conhe-
cedor ao seu conhecimento. Por exemplo, o sociólogo, ele é a parte de um todo social, e o todo está
dentro dele. Evidentemente ele não pode ter um ponto de vista objetivo, que lhe permita dominar,
como de um trono, o conjunto da sociedade. Ele tem de fazer um trabalho de autoanálise, de autoe-
xame, para tentar se situar e saber que não é proprietário de um verdadeiro conhecimento já de início,
mas que esse conhecimento é relativo”.
MORIN, Edgar. Complexidade e ética da solidariedade. In: CASTRO, G. (Org.). Ensaios de com-
plexidade. Porto Alegre: Sulina, 1997. Disponivel em : <http://www.nuredam.com.br/files/artigos/
periodicos/2018-NEFFA_NEFFA_Educacao%20e%20complexidade_um_dialogo_possivel.pdf>
Acesso em: 03 de mar. 2021.

CASOS DE REFORÇO
2 Ao longo dessa disciplina, foram estudadas as características das principais tendências pedagógicas
presentes na formação e na prática de educadores e educadoras. Como verificado, essas tendências não
se apresentam de forma pura, exclusivista, ou seja, no processo de ensino-aprendizagem ocorre em
uma espécie de mistura de características dessa ou daquela tendência. Para reforçar esse conhecimento,
analise, em sua prática docente ou em atividades que você acompanha, quais das tendências pedagógi-
cas estão fundamentando essa prática de ensino. Existe a prevalência de uma tendência sobre a outra?
Exemplifique situações observadas e correlacione com a teoria estudada.
2 A educação, na perspectiva da tendência libertadora, também conhecida como Método Paulo Freire, é sem-
pre política – pretende ser agente de transformação da realidade dos atores sociais envolvidos nesse processo.

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Esse método é muito utilizado na educação de jovens e adultos e se caracteriza por acontecer especialmente
em associações, clubes, cooperativas, igrejas etc., ou seja, ela ocorre na maior parte das vezes fora do sistema
oficial de ensino. Todavia, isso não impede que alguns educadores utilizem de seus pressupostos em suas
atividades pedagógicas. Procure analisar e identificar em suas práticas ou nas práticas de colegas de profissão
como isso ocorre. Que benefícios esse método pode trazer ao seu exercício profissional? A ideia de educação
como agente de transformação política, preconizada por Paulo Freire, é correta em sua análise?

ESTUDOS DE CASO
2 As reformas promovidas pelo Estado brasileiro na educação, nos últimos anos, acompanham um pro-
cesso de reforma geral na sociedade. De fato, a história de nosso país revela de maneira explícita uma
série de problemas estruturais referentes ao acesso de todos os cidadãos aos seus direitos fundamentais,
como a educação e a saúde. Levando em consideração que educação é fator determinante para o desen-
volvimento individual e coletivo de uma sociedade, analise como as medidas públicas de inserção de
um número cada vez maior de brasileiros ao ensino, em todos os níveis, podem ser benéficas para a
nação como um todo. Como você analisa a participação da educação a distância (EaD) nesse contexto?
2 A cultura, de modo geral, na sociedade moderna ocidental, foi marcada profundamente pelos pressu-
postos do modelo cartesiano de se pensar a natureza e a relação do homem com ela. A educação, como
não poderia ser diferente, também se caracterizou e se fundamentou nesse paradigma, nessa forma de
se produzir ciência e tecnologia. Assim, pensar a educação de forma diferente, por exemplo, de forma
complexa, apresenta-se como um grande desafio e, em ambientes conservadores e tradicionais, como
um convite a heresias epistemológicas. Como você analisa essa questão? É possível conceber uma ciên-
cia e uma educação nos moldes da complexidade? Que benefícios isso traria para a sociedade? Trata-se
de abandonar o paradigma cartesiano? Em qual desses paradigmas você percebe a presença da EaD?

VÍDEOS
Os vídeos selecionados retratam de forma audiovisual os conceitos abordados nesta disciplina.
Para acessar os sites a seguir, basta posicionar a seta sobre o link em azul e clicar.

Aula 1
1) Sociedade dos poetas mortos (1989)
Retrata o ambiente de uma escola pautada por práticas pedagógicas tradicionais e as transformações
ocorridas em um grupo de alunos quando chega um novo professor de literatura. Deseja-se que o dis-
cente verifique como o processo de ensino-aprendizagem é dinâmico e pautado pelas posturas tradicio-
nais ou progressistas adotadas em sala de aula pelo professor. Espera-se também que o aluno relacione
tal obra com as tendências pedagógicas estudadas, bem como estabeleça relações e reflexões críticas.
2) Pink Floyd – Another Brick In The Wall (Legendado)
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=n72QD0L7AKo.
Retrata práticas pedagógicas antidemocráticas, castigos psicológicos e físicos no ambiente da sala de aula,
bem como uma postura tradicional. Deseja-se que o discente analise tal obra sob a perspectiva das tendên-
cias pedagógicas estudadas, e estabeleça relações com as teorias desenvolvimentistas de Piaget e Vygotsky.
3) Método Paulo Freire
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=YbrHsTv4QA0.

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Excelente vídeo que apresenta o método de ensino desenvolvido pelo educador brasileiro Paulo Freire.
Espera-se que o aluno perceba como se dá efetivamente a educação dentro da tendência pedagógica
progressista libertadora.
4) O que é isso, companheiro? (1997)
Obra nacional que retrata o período de ditadura vivido pelo país de 1964 a 1984. Mostra a partici-
pação dos estudantes na luta pela redemocratização da sociedade brasileira. Deseja-se que o discente
reflita sobre o papel da educação/da universidade na transformação ou não de situações concretas
enfrentadas pelos diversos atores sociais, bem como da necessidade de uma formação político-filosófica
de todos os indivíduos envolvidos com a questão da educação.
5) Tecnologia a serviço da educação
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=imZZ2LiBFQI.
Vídeo crítico que enfoca as transformações ocorridas no processo de ensino-aprendizagem a partir da
utilização de novas tecnologias de comunicação. Trata-se, portanto, de uma obra que permitirá ao dis-
cente relacionar imagens e depoimentos com a temática das competências trabalhadas no curso. O uso
racional e acertado das novas tecnologias por parte do docente constitui-se como um dos fundamentos
pedagógicos do ensino superior.

Aula 2
1) Ponto de mutação (1990)
Vídeo baseado na obra do físico Fritjof Capra, que trata da temática da emergência de um novo para-
digma na ciência e na sociedade como um todo. Apresenta características do modelo cartesiano de
ciência, de como isso alcança a sociedade e, portanto, a educação, bem como traços que se aproximam
com a teoria da complexidade estudada na disciplina. Espera-se que o aluno estabeleça relações com os
autores trabalhados, assim como desenvolva uma reflexão acurada da proposta.
2) Arquitetura da destruição (1992)
Clássico documentário que registra como o regime nazi-fascista foi gestado na Alemanha hitleriana. A
presença de uma racionalidade instrumental nesse projeto deve ser analisada pelo discente, assim como
ele deve refletir de que forma tal razão encontrou espaço de efetivação naquela sociedade. Deseja-se
também que o aluno relacione como a ciência e a tecnologia desenvolvidas nas universidades e centros
de pesquisa da Alemanha foram utilizadas como instrumento de dominação e coisificação do homem
e da natureza.
3) Grandes educadores: Edgar Morin (2006)
Apresenta algumas das ideias de Edgar Morin e sua relação com a educação. Espera-se que o aluno
possa compreender com mais profundidade as críticas feitas por Morin a um conhecimento fragmen-
tado e sua proposta de uma visão sistêmica, de complexidade.
4) Ilha das flores (1989)
Documentário brasileiro que retrata como as condições econômicas, políticas e educacionais
transformam e equiparam seres humanos a outras espécies animais, bem como revela a necessária
participação da escola na transformação da realidade social. O discente deve relacionar tal obra
com as ideias advindas das críticas feitas pelos frankfurtianos ao sistema capitalista. Deseja-se
também que o aluno perceba, na ação comunicativa de Habermas, uma possibilidade de transfor-
mação da realidade humana e das injustiças sociais apresentadas no documentário, ainda presentes
na sociedade brasileira.

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TEMAS TRANSVERSAIS
Os temas transversais são importantes para ampliar e qualificar os conhecimentos adquiridos na disciplina,
porque permitem interagir com outras temáticas.
Uma das temáticas mais recorrentes nas discussões estabelecidas no meio intelectual e, por consequência,
que atinge o tecido social é a axiológica. Sem dúvida, a ética se apresenta como elemento imprescindível na
formação e atuação de qualquer profissional e de todo cidadão.
Na formação de docentes, a ética deve encontrar lugar de relevância, constituindo-se como uma das novas
faces dessa atividade. A escola como espaço de encontro e transformação da realidade social se caracteriza por ser
um ambiente dialético, onde os diversos atores sociais envolvidos nessa instituição estão em contínuo processo
de crescimento e de evolução. Sendo assim, destacar na formação docente o aspecto da escola como espaço de
mudança é fundamental e premente.
Ao longo da história, diversos foram os autores que contribuíram na discussão da ética e de suas relações
com a vida em seus diversos segmentos, ressaltando-se, aqui, no exercício de uma atividade profissional. Des-
tacam-se as reflexões filosóficas de Aristóteles (Ética a Nicômaco), Kant (A Metafísica dos Costumes), Nietzsche
(A Genealogia da Moral) e, contemporaneamente, as ideias do filósofo alemão Habermas, na obra Consciência
Moral e Agir Comunicativo.
Sendo assim, a excelência de qualquer atividade reside em uma ação ética, em uma postura de valorização
e afirmação dos valores adotados pela comunidade em que se está inserido e, também, na transmissão dessa
perspectiva adotada.

TEMAS EMERGENTES
2 Os temas emergentes indicam temas atuais que enriquecem os conhecimentos da disciplina, pois
permitem identificar conceitos e fatos em evidência na sociedade.
A complexa relação educação-capital na sociedade hodierna
Dentro do modelo de sociedade desenvolvido no mundo ocidental nos últimos quatrocentos anos,
a educação sempre mereceu destaque no que tange às possibilidades de desenvolvimento individual
e social.
Se pensarmos, por exemplo, na perspectiva do movimento iluminista, encontraremos uma forte crença
no poder transformador da educação e no seu papel emancipador da natureza humana. O pedagogo
brasileiro Moacir Gadotti, analisando as pretensões e concepções iluministas no que concerne à esfera
da educação, afirma: “o iluminismo procurou libertar o pensamento da repressão dos monarcas terre-
nos e despotismo sobrenatural do clero. Acentuou o movimento pela liberdade individual iniciado no
período anterior e buscou refúgio na natureza” (GADOTTI, 1998, p. 88).
Sem dúvida, a confiança depositada na razão, entenda-se aqui na ciência e na técnica, encontrará no
espaço escolar oportunidade real de efetivação de algumas promessas modernas.
Da mesma forma, é possível verificar um forte interesse das chamadas classes detentoras do capital
no desenvolvimento dos sistemas educacionais, ainda que isso não signifique uma democratização
efetiva das possibilidades de crescimento de todos os cidadãos, haja vista que o que se verificou na
modernidade foi a construção ideológica de segmentos educacionais diferenciados. Se de um lado
se investiu volumosas quantias no desenvolvimento da ciência e, consequentemente, na sua utili-
zação prática, por outro viés se construiu um modelo de escola voltado à elite, destinado a dirigir e
comandar a sociedade, e outro voltado à formação básica, muitas vezes totalmente deficitária para
a maioria da população, que era constituída de trabalhadores braçais. A ideia de uma humanidade
sem distinções de classes sempre foi uma bandeira da ideologia burguesa, que obviamente escondia
seus reais interesses.

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Como analisa Gadotti,
A igualdade social seria nociva, pois provocaria a padronização. A uniformização entre os indivíduos
era considerada um desrespeito à individualidade. Com esse discurso, que defendia uma educação não
submetida a nenhuma classe, a nenhum privilégio de herança ou dinheiro, a nenhum credo religioso ou
político, que defendia que a educação de cada um deveria estar sujeita apenas ao ideal de humanidade,
do homem toral, a burguesia, como classe dominante, apresentava seus interesses como os interesses de
toda a sociedade (GADOTTI, 1998, p. 92).

Assim sendo, o ideal iluminista de uma sociedade igualitária nunca se consolidou no mundo da edu-
cação. O que se verificou foi a utilização da educação como uma poderosa ferramenta de manutenção
do status quo vigente, isto é, a escola teve seu papel desvirtuado e acabou se transformando em um apa-
relho ideológico, em um espaço de formação/adestração de indivíduos que, subjugados pelo sistema
capitalista, nada mais tinham que sua força de trabalho.
Em um cenário recente da história da educação brasileira, isso é facilmente constatado. Se analisarmos
a Lei n. 5.692/71, será vista a introdução de um modelo de educação tecnicista. De fato, ocorreu uma
espécie de profissionalização compulsória do segundo grau, o que, evidentemente, era destinado à
formação, em rápido período de treinamento, de uma mão de obra que atendesse às necessidades de
um projeto de desenvolvimento de nação. A tendência pedagógica tecnicista aprofundou um abismo
que já existia no cenário da educação brasileira, a saber, a criação de modelos escolares diferenciados
para segmentos populacionais. A escola tecnicista teria como papel preponderante formar os filhos e
filhas das camadas menos favorecidas da população e a escola “normal” destinada à formação de líderes
e gerenciadores do processo escola-empresa, obviamente, oriundos de uma camada social abastada,
detentora do capital e controladora da política nacional. Essa visão tecnicista está atrelada a uma visão
economicista da educação, e tem entre seus fundamentos teóricos a Teoria do Capital Humano1.
Destarte, é fundamental na formação da docência brasileira o resgate da história da educação nacional,
de seus arranjos e práticas pedagógicas, da identificação e análise das tendências pedagógicas e suas ide-
ologias, do papel que a educação tem na formação das individualidades e, em um momento posterior,
da construção da coletividade. Aos educadores cabe mais esta tarefa, entre as inúmeras já existentes, a
saber, de ser vanguarda na reflexão acerca dos interesses do país, de garantir por meio de seu trabalho a
formação de uma nação soberana e sujeitos autônomos.

REFERÊNCIAS
GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. 6. ed. São Paulo: ática, 1998.
LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 8. ed. São
Paulo: Loyola, 1994.
LUCKESI, C.C. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.

1 Para a sequência dessa análise, recomendase a leitura do artigo do professor Gaudêncio Frigotto, que pode ser encontrado neste link eletrônico: http://www.periodicos.
ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/10587/10116.

26 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL

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