Precedentes Vinculantes e Meios de Impugnação
Precedentes Vinculantes e Meios de Impugnação
Precedentes Vinculantes e Meios de Impugnação
Florianópolis
2017
LUÍS FELIPE ESPINDOLA GOUVÊA
________________________
Prof. Dr. Arno Dal Ri Junior
Coordenador do Curso
Banca examinadora:
________________________
Prof. Dr. Pedro Miranda de Oliveira
Universidade Federal de Santa Catarina
Orientador
________________________
Prof. Dr. Eduardo de Avelar Lamy
Universidade Federal de Santa Catarina
_______________________
Prof. Dr. Francisco José Rodrigues de Oliveira Neto
Universidade Federal de Santa Catarina
_______________________
Prof. Dr. Ricardo Alexandre da Silva
Universidade Federal do Paraná
Aos meus pais.
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO......................................................................... 19
1 PRECEDENTES NO CPC/15................................................ 21
1.1 PREMISSAS CONCEITUAIS ........................................ 21
1.1.1 O que é um precedente .................................................. 21
1.1.2 Separação entre texto e norma e a extensão da
atividade do intérprete na aplicação do Direito .......... 31
1.1.3 Papel dos tribunais superiores no sistema jurídico
brasileiro ......................................................................... 39
1.2 VINCULAÇÃO FORMAL DE PRECEDENTES NO
CPC/15............................................................................. 46
1.2.1 Vinculação e persuasão ................................................. 46
1.2.2 O dever de enfrentar o precedente ............................... 51
1.2.3 Os fundamentos determinantes do precedente ........... 60
1.3 ALCANCE DAS HIPÓTESES ESPECÍFICAS DOS
INCISOS DO ART. 927 (INTERPRETAÇÃO
CONJUNTA DO ART. 927 E ART. 489, § 1º, V E VI,
DO CPC/15)..................................................................... 74
1.3.1 Decisões do STF em controle concentrado de
constitucionalidade ........................................................ 75
1.3.2 Enunciados de súmula vinculante .............................. 101
1.3.3 Acórdãos em incidente de assunção de competência ou
de resolução de demandas repetitivas e em julgamento
de recursos extraordinário e especial repetitivos ...... 106
1.3.4 Enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal
em matéria constitucional e do Superior Tribunal de
Justiça em matéria infraconstitucional ...................... 112
1.3.5 Orientação do plenário ou do órgão especial dos
tribunais aos quais os julgadores estiverem
vinculados ..................................................................... 115
CONCLUSÃO..........................................................................259
REFERÊNCIAS .......................................................................265
19
INTRODUÇÃO
1 PRECEDENTES NO CPC/15
1
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. Cambridge:
Cambridge University Press, 2008.p. 1.
2
CROSS, Rupert. Precedent in english law. Oxford: Clarendon Press, 1961.p.
4.
3
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p. 1.
22
12
SCHAUER, Frederick. Thinking like a lawyer. p. 38.
13
A força dos precedentes é verificada, antes de tudo, pela adoção de uma
decisão com a qual não concordaríamos caso inexistisse o precedente. Se o
julgador concordar com as razões que levaram ao precedente, muito
facilmente a verdadeira força deste fica obscurecida. Nesse sentido, Larry
Alexander delimita seu estudo sobre a vinculação a precedentes
(Constrained by precedent): “Frequently courts use precedents as
authoritative support for decisions they would deem correct (on the basis of
political/moral principles) in the absence of those precedents. The principal
reason that I shall not address explicitly this use of precedents is that the
power of precedents to support decisions a court believes are otherwise
justifiable depends upon the power of precedents to constrain a court from
reaching decisions it believes are justifiable.” Tradução livre:
“Frequentemente, os tribunais usam precedentes como suporte de autoridade
para decisões que considerariam corretas (com base em princípios políticos /
morais) mesmo na ausência desses precedentes. A razão principal para eu
não abordar explicitamente este uso de precedentes é que o poder dos
precedentes para apoiar decisões que um tribunal considera serem de outra
forma justificáveis depende do poder dos precedentes para restringir um
tribunal de tomar decisões que acredita serem justificáveis”
(ALEXANDER, Larry. Constrained by precedent. Southern California Law
Review, v. 63, n. 1, p. 4, 1989-1990. Disponível em:
25
precedente carrega uma força em si, que apenas pela sua existência já
condiciona ou justifica a tomada de decisão compatível,
independentemente do seu conteúdo. Seguir um precedente é seguir uma
decisão apenas por esta ser uma decisão passada, não porque o tomador
da decisão foi persuadido pelas razões adotadas.14
Por isso, trabalhar com precedentes é diferente da utilização de
exemplos ou da mera experiência. Nós seguimos um exemplo (ou
evitamos um ruim) porque ele nos mostra como agir (ou não agir) para
obter o melhor resultado. O precedente, de outra forma, é seguido
independentemente do juízo positivo ou negativo que se tenha desse
evento.15 e 16
Dessa conclusão, surge uma óbvia pergunta: se se entende que a
decisão tomada no precedente foi, em última análise, equivocada, por
que então seguir precedentes?
<http://www.umiacs.umd.edu/~horty/courses/readings/alexander-1989-
constrained-precedent.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2016).
14
SCHAUER, Frederick. Thinking like a lawyer. p. 40.
15
Como aponta Frederick Shauer “Um argumento puramente baseado em um
precedente urge que o julgador alcance um resultado particular
independentemente de se o julgador acredita ser ele o correto e
independentemente de se acredita ou não que seja determinante de algum
modo para que conte com aquele resultador anterior.” No original: “A naked
argument from precedent thus urges that a decisionmaker give weight to a
particular result regardless of whether that decisionmaker believes it to be
correct and regardless of whether that decisionmaker believes it valuable in
any way to rely on that previous result” (SCHAUER, Frederick. Precedent.
In: Stanford Law Review, v. 39, n. 3, p. 576, 1986-1987).
16
Também Neil Duxbury: “Quando tomamos uma decisão com base na
experiência, estamos valorizando a experiência pelo que ela nos ensina.
Quando tomamos uma decisão com base em precedentes, consideramos
significativo o fato de que nossa situação atual já foi abordada antes, mas
não necessariamente valorizando o precedente pelo que ele nos ensina. Às
vezes, podemos até mesmo seguir precedentes que não aprovamos.“ No
original: “When we make a decision on the basis of experience, we are
valuing experience for what it teaches us. When we make a decision on the
basis of precedent, we consider significant the fact that our current
predicament has been addressed before, but we will not necessarily value
the precedent for what it teaches us. Sometimes, we might even follow
precedents of which we do not approve” (DUXBURY, Neil. The nature and
authority of precedent. p. 2-3).
26
17
SCHAUER, Frederick. Thinking like a lawyer. p. 42.
18
ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador:
Juspodivm, 2015. p. 352.
19
Explica José Rogério Cruz e Tucci que “o elemento crucial que efetivamente
justifica a recepção analógica da decisão anterior para a solução da hipótese
posterior é o princípio da universalidade, entendido como uma exigência
natural de que casos substancialmente iguais sejam tratados de modo
semelhante. É ele, com efeito o componente axiológico que sempre revestiu
a ideia de Justiça “como qualidade formal” (TUCCI, José Rogério Cruz e.
Precedente judicial como fonte do direito. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2004. p. 25).
20
BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial. São
Paulo: Noeses, 2012.p. 113.
27
21
ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. p. 353.
22
TALAMINI, Eduardo. A coisa julgada e sua revisão. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2005. p. 65-66.
23
MITIDIERO, Daniel. Precedentes: da persuasão à vinculação. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 21.
24
TALAMINI, Eduardo. A coisa julgada e sua revisão. p. 65.
28
25
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Livraria
Almedina, 1993. p. 380-381.
26
Acrescenta José Frederico Marques que: “Se o Estado estatui normas para
regular relações intersubjetivas, é imperativo da segurança jurídica, que
deve reinar na vida em sociedade, que essas normas não sejam postergadas,
e tampouco sujeitas a flutuações constantes que acabam por substituir a Lei
e o Direito pelo arbítrio e incerteza” (MARQUES, José Frederico.
Instituições de direito processual civil. vol. IV. Campinas: Millennium,
1999. p. 109).
27
CARDOZO, Benjamin N. The nature of judicial process. New Haven: Yale
University Press, 1921. p. 149.
28
TARUFFO, Michele. Precedente e jurisprudência. Revista Forense, v.108,
n.415, p. 285, jan./jun. 2012.
29
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 140.
29
30
Um exemplo marcante é o Tribunal Superior Eleitoral, composto por sete
ministros (art. 119, CF), cada qual nomeado para uma investidura de dois
anos com possibilidade de apenas uma recondução (art. 14, do Código
Eleitoral). A rotatividade na ocupação das vagas por isso é muito elevada,
vez que cada membro apenas funcionará em no máximo uma eleição geral.
O TSE é conhecido pelas frequentes e imotivadas mudanças de
entendimento jurisprudencial a cada eleição, como notado por Ruy Samuel
Espíndola quanto sustenta ser “necessário estabelecer regra processual que
impeça a mudança de jurisprudência no curso da eleição que seja prejudicial
ao direito de candidatura, por quaisquer de nossas cortes regionais eleitorais,
TSE e STF. [...] Exemplo que demonstra a necessidade dessa regra é o
julgado “in malam partem” (por tal, retrocessivo) do TSE n. RO 401-
37.2014.6.06.0000, de 26.08.14, Rel. Min. Henrique Neves, que tematizou o
julgamento de contas públicas de prefeito pelo Tribunal de Contas e seus
reflexos no plano do direito de candidatura. Esse precedente ocorreu em
26.08.14, 51 dias depois do processo eleitoral iniciado, e menos de 40 dias
antes das eleições, e após o prazo para que todos os processos de registro
tivessem sido julgados em todas as instâncias da justiça eleitoral (21.08.14).
Ele corporificou mudança jurisprudencial, injustificado “overruling” que
levou ao indeferimento de inúmeras candidaturas, cujos registros tinham
sido deferidos em primeiro grau nos tribunais eleitorais no ano de 2014. [...]
Em 2014, iniciada a propaganda eleitoral em 05 de julho, vigorava um
entendimento, e em meados de agosto mudou o TSE a sua jurisprudência de
sorte a confundir todas as previsões das candidaturas em curso, tornando
incertos a atividade defensiva e o trabalho dos operadores do direito,
mormente dos advogados e seus constituintes, assim como dos magistrados
eleitorais das instâncias ordinárias” (ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Direito
eleitoral e reforma política: sugestões para reformas legais, jurisprudenciais
e culturais à ótima concretização dos direitos fundamentais políticos de
candidatura e de voto. Revista Paraná Eleitoral, v. 4, n. 2, p. 260-263,
2015).
31
Da exposição de motivos do Anteprojeto do novo Código de Processo Civil,
datada de 8 de junho de 2010: “para que tenha eficácia a recomendação no
sentido de que seja a jurisprudência do STF e dos Tribunais superiores,
efetivamente, norte para os demais órgãos integrantes do Poder Judiciário, é
30
34
SCHAUER, Frederick. Thinking like a lawyer. p. 37-38.
35
CARRIO, Genaro R. Notas sobre derecho y linguaje. Buenos Aires: Abeledo-
perrot, 1972. p. 63.
36
Jagjit Singh escreve que “el objeto que estáis leyendo se llama libro en
español, book en inglês y kitab en indostano; sin embargo, ninguno de estos
sonidos puede justificarse lógicamente con el objeto que denota; ha sido un
nombre arbirario escogido por el grupo que usa ese lenguaje. Esta libertad
inicial de asociar cualquier sonido arbitrario con un objeto o idea, sujeto
sólo a su aceptación por los miembros del grupo, permite al hombre
organizar un campo infinitamente variado de sonidos concretizado en un
sistema que constituye de hecho el lenguaje de su tribu.” Tradução livre: “O
objeto que você está lendo é chamado libro em espanhol, book em Inglês e
kitab em Hindustani; No entanto, nenhum destes sons pode ser justificado
lógicamente com o objeto que denotam; são nomes arbitrários escolhidos
pelo grupo que usa essa linguagem. Esta liberdade inicial para associar o
som a qualquer objeto arbitrária ou ideia, sujeito apenas a sua aceitação
pelos membros do grupo, permite ao homem organizar um campo
infinitamente variado de sons concretizado em um sistema que é de fato a
língua de sua tribo” (SINGH, Jagjit. Ideas fundamentales sobre la teoría de
la información, del lenguaje y de la cibernética. Madrid: Alianza Editorial,
1972. p. 15).
32
Isto é assim não por acidente, e sim porque a função do Direito estaria
altamente comprometida se suas proposições não pudessem ser
compreendidas pelos destinatários finais das normas jurídicas.37
A linguagem natural (assim como a jurídica) padece de
inevitáveis dificuldades de comunicação condensadas nas ideias de
ambuiguidade e vagueza.38 Ambiguidade é associada à utilização das
mesmas palavras (signos) com o intento de referir-se a significados
diferentes a depender do contexto. Mas ainda que haja plena certeza
sobre o “sentido” utilizado pelo interlocutor para determinado signo – e
seja superada a ambiguidade, portanto –, não haverá um guia seguro
para classificar os casos incluídos ou excluídos desse sentido. Daí
advém a vagueza da linguagem. Pode-se ter plenamente claro o sentido
de referir-se a um homem “calvo”, mas exatamente quanto de cabelo
deve faltar ao sujeito para que seja incluído nessa categoria?
Para ilustrar o ponto, Genaro Carrio utiliza a metáfora de um foco
de luz cercado por escuridão.39 No centro do foco de luz encontram-se
os exemplos em que não há dúvida sobre o juízo de inclusão. Na
escuridão que circunda esse foco de luz estão os exemplos em que não
se tem dúvida sobre sua exclusão. Entre essas duas áreas há uma extensa
zona de penumbra sem começo nem fim claros, onde têm lugar os
efeitos da vagueza da linguagem.
A linguagem do Direito não é comparável à da geometria ou da
matemática40, cujos contornos possuem um número certo de elementos
necessários à compreensão: um sistema fechado. É certo que se utilizam
jargões técnicos no Direito com forte sentido jurídico específico (por
exemplo, as palavras “propriedade”, “posse”, “capacidade”), mas não é
possível afirmar que isto se compare à certeza de uma operação
aritmética. Fosse assim, a interpretação de toda forma seria
completamente despicienda e o juízo, de (anti) juridicidade, passaria ao
terreno de absolutos certo/errado.
37
CARRIO, Genaro R. Notas sobre derecho y linguaje. p. 37-38.
38
CARRIO, Genaro R. Notas sobre derecho y linguaje. p. 26.
39
CARRIO, Genaro R. Notas sobre derecho y linguaje. p. 31-32.
40
CARRIO, Genaro R. Notas sobre derecho y linguaje. p. 40. Também nesse
sentido, acerca da linguagem natural em comparação às linguagens
artificiais: BOUVERESSE, J. Linguagem ordinária e filosofia. In: SUMPF,
J.; BOUVERESSE, J.; GRANGER, G. e GAUVIN, J. Filosofia da
linguagem. Coimbra: Livraria Almedina, 1973. p. 118-122.
33
41
CAPELLA, Juan Ramon. El derecho como lenguaje. Barcelona: Ariel, 1968.
p. 257.
42
CAPELLA, Juan Ramon. El derecho como lenguaje. p. 258.
43
No original: “siempre quedan y quedarán zonas de indeterminación, cuyos
limites son indeterminables” (CARRIO, Genaro R. Notas sobre derecho y
linguaje. p. 47).
44
Nesse sentido, aduz J. Bouveresse: “A idea de que se poderia dispor, em
absoluto, do vocabulário adequado, nem sequer tem o valor de uma utopia
filosófica estimulante: é rigorosamente desprovida de sentido. Em quantas
categorias discretas o vocabulário das cores deveria dividir o espectro, para
se poder considerar como suficientemente preciso? Podemos introduzir, à
vontade, novas distinções – tantas quantas forem solicitadas; mas não
poderemos propor-nos, como objectivo, introduzi-las todas”
(BOUVERESSE, J. Linguagem ordinária e filosofia. In: SUMPF, J.;
34
54
COELHO, Luiz Fernando. Lógica jurídica e interpretação das leis. Rio de
Janeiro: Forense, 1979. p. 57.; GRAU, Eros Roberto. Por que tenho medo
dos juízes. p.49.
55
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. p.
1221.; e GRAU, Eros Roberto. Por que tenho medo dos juízes. p. 35.
56
Kelsen qualifica como autêntica a interpretação que crie direitos. E não a
limita à criação de normas gerais e abstratas, mas também “a interpretação
feita através de um órgão aplicador do Direito ainda quando crie Direito
apenas para um caso concreto, quer dizer, quando esse órgão apenas crie
uma norma individual ou execute uma sanção” (KELSEN, Hans. Teoria
pura do direito. 4. ed. Coimbra: Armênio Amado Editor, 1979. p. 470-471).
57
Nesse sentido Luis Ricaséns Siches: “De fato, as várias críticas contra a
concepção mecânica da jurisprudência deixaram claro que o trabalho do
juiz, ou órgão administrativo jursdiccional, sempre contém uma função
criadotra do Direito, em maior ou menor grau a depender dos diversos tipos
de casos, mas sempre e necessariamente em alguma medida, mesmo quando
a decisão se apoia em uma regra geral claramente expressa em lei, que é
certamente vigente, e cujo sentido é apresentado com clareza
inconfundível.“ No original: “En efecto, las varias críticas contra la
concepción mecânica de la jurisprudencia han hecho patente que la obra
del juez, o del órgano jursdiccional administrativo, contiene siempre una
función creadora de Derecho, en mayor o menor medida según los diversos
tipos de casos, pero siempre y necessariamente en alguma medida, incluso
cuando esa obra se apoya en una norma general claramente expresada en
una ley, que sin duda está vigente, y cuyo sentido se presenta con
37
64
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. Cambridge:
Harvard University Press, 1991. p. 5-7.
65
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 32. ed.
São Paulo: Malheiros, 2009. p. 553-554.
66
Também nesse sentido, “É importante frisar que toda decisão judicial encerra
uma operação complexa de raciocínio, não podendo ser considerada como
um fim último, mas, sim, como um destacado elemento no processo
contínuo de resolver pendências no foro do direito. O Judiciário não se
presta exclusivamente para decidir conflitos concretos, mas ainda deve
cuidar para que as suas decisões possam servir de orientação para casos
futuros” (TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente judicial como fonte do
direito. p. 25).
67
MITIDIERO, Daniel. Precedentes. p. 87.
40
68
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 6.
69
Também referidas como Cortes Supremas ou Cortes de Interpretação, por
Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero em: MITIDIERO, Daniel.
Cortes superiores e Cortes supremas. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013; e MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto Corte de
precedentes.
70
MITIDIERO, Daniel. Precedentes. p. 87.
71
”Seria necessário particularizar no art. 926 que o Supremo Tribunal Federal e
o Superior Tribunal de Justiça têm o dever de dar unidade ao direito. A
41
75
“A moderna função dos tribunais supremos há de ser um instrumento voltado
para o futuro, que vise à unidade do Direito, não à uniformidade da
jurisprudência dos respectivos tribunais” (SILVA, Ovídio Baptista da. A
função dos tribunais superiores. GÊNESIS – Revista de direito processual
civil, v. 13, p. 493, jul./set. 1999).
76
SILVA, Ricardo Alexandre da. O STJ como Corte suprema em matéria
infraconstitucional: defesa dos precedentes vinculantes. In: MENDES,
Aluisio Gonçalves de Castro; MARINONI, Luiz Guilherme; ARRUDA
ALVIM WAMBIER, Teresa. (Coords.). Direito Jurisprudencial.vol. 2. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 1074-1098.
77
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 149.
78
No mesmo sentido é a compreensão de que o princípio da legalidade não
pode ser compreendido como a “necessidade de que o juiz esteja vinculado
não apenas à lei, de conteúdo interpretável, mas sim a todo o sistema
jurídico, consoante as respostas trazidas pela lei, doutrina e jurisprudência”
(LAMY, Eduardo de Avelar. Súmula vinculante: um desafio Revista de
Processo, São Paulo, vol. 120, p. 122, jan. 2005).
43
79
MITIDIERO, Daniel. Precedentes. p. 92. Pedro Miranda de Oliveira pontua
que “o recurso extraordinário é fundado no interesse da ordem pública, que
quer ver prevalecer a autoridade e a exata aplicação da Constituição. Tanto é
assim que referido recurso não é concebido em favor da parte, mas sim em
favor da higidez do sistema de preservação do texto constitucional. É viável
quando o aresto viola o direito em tese, não quando fere apenas o direito em
espécie, ou seja, tem cabimento quando a decisão impugnada estiver
teoricamente errada e não apenas injusta” (MIRANDA DE OLIVEIRA,
Pedro. Novíssimo sistema recursal: conforme o CPC/2015. Florianópolis:
Conceito, 2015. p. 184).
44
80
Nesse sentido é muito pertinente a crítica de Dierle Nunes à concepção de que
a unidade do Direito e formulação de precedentes são tarefas exclusivas das
“Cortes Supremas”: “a proposta de que o STF e o STJ assumam o perfil de
45
85
ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. p. 341-342.
86
Conforme sustentado na doutrina de Luiz Guilherme Marinoni e Daniel
Mitidiero em: MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios;
MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto Corte de precedentes;
MITIDIERO, Daniel. Precedentes. Partindo-se da premissa de que o direito
formulado nos tribunais superiores – Cortes Supremas – seria vinculante
tendo em conta apenas o conjunto de princípios – valores da liberdade,
igualdade, hierarquia dos tribunais, função do intérprete e desses tribunais –
nada mais justo que se diferencie estes precedentes – entendidos como
razões de decidir generalizáveis – da jurisprudência antes sempre invocada.
Ocorre que, a partir de uma visão jurídico-positiva do problema
empreendida nesta pesquisa, essa distinção perde importância para as
conclusões do trabalho. Se a vinculação advém – como se sustentará aqui –
da leitura conjunta dos arts. 927 e 489, §1º, do CPC/15 – portanto,
dependente do direito positivo – é certo que não há necessidade em
distinguir o “precedente” em contraste com a “jurisprudência persuasiva”
conforme nomenclatura de Hermes Zaneti Jr.. Importa, por outro lado, saber
quando, a partir dessas regras específicas de direito positivo, tem-se uma
decisão cujos fundamentos determinantes são vinculativos e o regime
jurídico aplicável a esta obrigatoriedade. No âmbito da teoria de Zaneti, em
O valor vinculante dos precedentes, pode-se dizer que este trabalho
compreenderá apenas o estudo dos precedentes normativos formalmente
vinculantes (ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. p.
344). Marinoni e Mitidiero vão qualificar as decisões vinculantes
provenientes dos tribunais locais como hipótese de “jurisprudência
vinculante”, a qual é atribuído por via legal um regime de vinculação
(Marinoni, Luiz Guilherme; Mitidiero, Daniel. Comentários ao Código de
Processo Civil: arts. 926 a 975. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016. p. 70). Como neste trabalho parte-se da premissa da vinculação
formal, não será feita distinção nesse sentido, já que o marco legal de
48
injustice in a particular case and also unduly restrict the proper development
of the law. They propose therefore, to modify their present practice and,
while treating former decisions of this house as normally binding, to depart
from a previous decision when it appears right to do so. In this connection
they will bear in mind the danger of disturbing retrospectively the basis on
which contracts, settlement of property, and fiscal arrangements have been
entered into and also the especial need for certainty as to the criminal law.
This announcement is not intended to affect the use of precedent elsewhere
than in this House.”
93
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 112.
94
RAMIRES, Mauricio. Crítica à aplicação de precedentes no direito
brasileiro. p. 65.
95
MIRANDA DE OLIVEIRA, Pedro. A força das decisões judiciais. Revista de
Processo, São Paulo, vol. 216, p. 13-34, fev. 2013; SOUZA, Marcelo Alves
Dias de. Do precedente judicial à súmula vinculante. Curitiba: Juruá,
2013.p. 54.
50
96
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 116-118.
97
SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do precedente judicial à súmula vinculante.
p. 53.
51
98
Nesse sentido: “O §1º não é um dispositivo programático. É um comando de
aplicação obrigatória, imediata e de eficácia plena” (THEODORO JÚNIOR,
Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON,
Flávio Quinaud. Novo CPC – Fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2015. p. 356).
99
Código de Processo Civil, Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de
jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às
partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a
qual deva decidir de ofício.
52
100
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. vol. 1. p. 78.
101
Nos itens 2.1 a 2.3.
53
102
Em sentido contrário, Alexandre Freitas Câmara compreende que o art. 927
tem eficácia meramente persuasiva e que a vinculatividade decorre de outra
disposição expressa para os procedimentos específicos (CÂMARA,
Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2016. p. 436), no que é acompanhado por Morgana Galio (GALIO,
Morgana Henicka. Overruling: a superação do precedente no direito
brasileiro. Florianópolis: Empório do Direito, 2016. p. 168-169).
103
“A cognição é prevalentemente um ato de inteligência, consistente em
considerar, analisar e valorar as alegações e as provas produzidas pelas
partes, vale dizer, as questões de fato e as de direito que são deduzidas no
processo e cujo resultado é o alicerce, o fundamento do judicium, do
julgamento do objeto litigioso do processo” (WATANABE, Kazuo. Da
cognição no processo civil. Campinas: Bookseller, 2000. p. 58-59).
54
104
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. vol. 1. p. 445.
105
Necessária a advertência de que é técnicamente equivocada a afirmação de
que é vedado ao STF e STJ o conhecimento de fatos no recurso
extraordinário ou especial. Como aponta Daniel Mitidiero, a vedação é de
“reexaminar a prova dos autos a fim de outorgar nova valoração probatória
aos fatos. [...] devem receber a causa e julgá-la admitindo os fatos tal como
estimados pela decisão recorrida” (MITIDIERO, Daniel. Cortes superiores
e Cortes supremas. p. 91).
106
Ainda que sob um viés crítico, Leonard Schmitz também chega a essa
conclusão em SCHMITZ, Leonard Ziesemer. Fundamentação das decisões
judiciais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 332.
55
107
Lucas Buril de Macêdo descreve a atividade da parte de levantamento do
precedente e seu cotejo com o caso concreto como um ônus argumentativo –
entendido ônus como situação de vantagem a ser exercitado pelo sujeito a
fim de obter um resultado vantajoso – a que o juíz deve responder por meio
da fundamentação: “A argumentação no sentido do precedente é um ônus.
Isso significa que a parte, ao tecer suas razões, tem o ônus de avaliar a
aplicabilidade dos precedentes que entender relevantes” (MACÊDO, Lucas
Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual civil. 2. ed. Salvador:
Juspodivm, 2016. p. 392).
108
Ronaldo Cramer escreve que: “a força vinculante não tem relevância se o
magistrado concorda com o precedente, pois, nesse caso, a aplicação do
precedente ocorre, antes de tudo, pela vontade do juiz. Essa força se justifica
na hipótese de o magistrado discordar do precedente” (CRAMER, Ronaldo.
Precedentes judiciais. p. 139). Também Schauer diz o seguinte: “It is one
thing for a public official or lower court judge to believe that the best
understanding of the principle of freedom of speech permits the advocacy of
racial hatred. It is quite another to conclude that advocacy of racial hatred is
to be permitted in the United States because the Supreme Court said so in
Brandenburg v. Ohio. In the former the substantive reasons are doing the
work, while in the latter it is authority pure and simple. A lower court judge
must follow Brandenburg even if he thinks it mistaken and even if his own
legal analysis leads him to conclude that advocacy of racial hatred is not
constitutionally protected. The precedent is cloaked with authority, and so
the judge is obliged to obey it regardless of what he thinks of its soundness.”
(SCHAUER, Frederick. Thinking like a lawyer. p. 68).
56
109
Ambos estes assuntos são discutidos no capítulo 2 do presente estudo, itens
2.1 a 2.4.
110
Como aponta Neil Duxbury: “Precedentes muitas vezes orientam a tomada
de decisões precisamente porque eles operam como tipos de razões. Além
disso, porque eles funcionam como razões é que às vezes não orientarão a
tomada de uma decisão: um tribunal, isto é, pode determinar que a razão que
um precedente oferece para decidir um caso de uma forma particular é
derrotada por uma razão contrária mais forte. Aqui, ao que parece,
descobrimos o verdadeiro significado da "vinculação a precedentes": os
tribunais podem não estar obrigados a seguir as decisões anteriores de
tribunais (normalmente) superiores sobre os mesmos fatos, mas quando
confrontados com tais decisões, eles são obrigados a lidar com elas de
alguma forma.” No original: “Precedents often guide decision making
precisely because they operate as types of reasons. It is because they
operate as reasons, furthermore, that they sometimes will not guide
decision-making: a court, that is, might determine that the reason which a
precedent offers for deciding a case in a particular way is defeated by a
stronger contrary reason. Here, it seems, we discover the real meaning of
‘binding precedent’: courts might not be bound to follow the earlier
decisions of (usually) superior courts on the same facts but, when
confronted with such decisions, they are obliged to deal with them
somehow.” (DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p.
109).
57
111
Nesse sentido, ver: LENZA, Pedro. Reclamação constitucional:
inconstitucionalidades no Novo CPC/2015. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2015-mar-13/pedro-lenza-
inconstitucionalidades-reclamacao-cpc>. Acesso em: 14 jun. 2016; e
ABBOUD, Georges; DE ALMEIDA SANTOS, José Carlos Van Cleef. In:
ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa; DIDIER JR., Fredie; TALAMINI,
Eduardo; DANTAS, Bruno (Coord.). Breves comentários ao novo Código
de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 859;
ROSSI, Júlio César. Precede ntes à brasileira. São Paulo: Atlas, 2015.
p. 336.
112
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel; SARLET, Ingo
Wolfgang. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2012. p. 665; CRUZ E TUCCI, José Rogério. Comentários ao
Código de Processo Civil: arts. 485 a 538. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. p. 101-102.
113
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição.
p. 1215.
58
114
SCHMITZ, Leonard Ziesemer. Fundamentação das decisões judiciais. p.
212.
115
“A garantia da proteção judicial efetiva impõe que tais decisões possam ser
submetidas a um processo de controle, permitindo, inclusive, a eventual
impugnação. Daí a necessidade de que as decisões judiciais sejam
devidamente motivadas (CF, art. 93, IX). E motivar significa dar as razões
pelas quais determinada decisão há de ser adotada, expor as suas
justificações e motivos fático-jurídicos determinantes. A racionalidade e,
dessa forma, a legitimidade da decisão perante os jurisdicionados decorrem
da adequada fundamentação por meio das razões apropriadas (MENDES,
Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade:
estudos de Direito Constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 242-
243). No mesmo sentido, ver: MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria geral
do processo. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 107-
108; LUCCA, Rodrigo Ramina de. O dever de motivação das decisões
judiciais. Salvador: Juspodvim, 2016. p. 125-126; SCHMITZ, Leonard
Ziesemer. Fundamentação das decisões judiciais. p. 184-185.
116
MOREIRA, José Carlos Barbosa. A motivação das decisões judiciais como
garantia do Estado de Direito. In: Temas de direito processual: segunda
série. São Paulo: Saraiva, 1980.p. 87-88.
59
117
MOREIRA, José Carlos Barbosa. A motivação das decisões judiciais como
garantia do Estado de Direito. In: Temas de direito processual: segunda
série. p. 88.
118
“Sob o ponto de vista técnico, a alusão às razões de decidir, por outro lado,
importa permitir o controle crítico da sentença, para a exata determinação do
conteúdo da vontade do juiz e, consequentemente, para a verificação dos
limites do julgado. [...] Como é observar-se, somente tendo ciência dos
fundamentos do decidido é que o interessado poderá interpor recurso de
modo adequado. Assim também nesse caso, o órgão ad quem pode controlar
com mais rigor a legalidade e a justiça dos atos decisórios submetidos a
reexame” (CRUZ E TUCCI, José Rogério. Comentários ao Código de
Processo Civil: arts. 485 a 538. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016. p. 105-106).
119
Remete-se o leitor ao item 1.3 deste estudo, onde esse assunto será mais bem
explanado ao falar-se das específicas hipóteses de decisões vinculantes do
art. 927.
120
Como reconhecem: THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle;
BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio Quinaud. Novo CPC –
60
122
Ou em termos mais diretos: “o que vincula no precedente vinculante?”
(CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. p. 441).
123
TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente judicial como fonte do direito. p.
25.
124
São exemplos os arts. 12, §2º, II, 311, II, 927, §2º, §4º, 947, §3º, 955, II, 976,
IV, 978, parágrafo único, 979, §2º, 985, 986, 987, 1.022, parágrafo único, I,
1.039, 1.040, do novo Código de Processo Civil.
62
125
MARINONI, Luiz Guilherme. Uma nova realidade diante do projeto de
CPC: a ratio decidendi ou os fundamentos determinantes da decisão. In:
FREIRE, Alexandre; DANTAS, Bruno; NUNES, Dierle; DIDIER JR.,
Fredie; MEDINA, José Miguel Garcia; FUX, Luiz; CAMARGO, Luiz
Henrique Volpe; DE OLIVEIRA, Pedro Miranda (Orgs.). Novas tendências
do processo civil:p. 822.
126
“A ratio decidendi não tem correspondente no processo civil adotado no
Brasil, pois não se confunde com a fundamentação e com o dispositivo. A
ratio decidendi, no common law, é extraída ou elaborada a partir dos
elementos da decisão, isto é, da fundamentação do dispositivo e do relatório.
Assim, quando relacionada aos chamados ‘requisitos da sentença’, ela
certamente é ‘algo mais’. E isso simplesmente porque, na decisão do
common law, não se tem em foco somente a segurança jurídica das partes –
e, assim, não importa apenas a coisa julgada material –, mas também a
segurança dos jurisdicionados, em sua globalidade. Se o dispositivo é
acobertado pela coisa julgada, que dá segurança à parte, é a ratio decidendi
que, com o sistema do stare decisis, tem força obrigatória, vinculando a
magistratura e conferindo segurança aos jurisdicionados.” (MARINONI,
Luiz Guilherme. Uma nova realidade diante do projeto de CPC: a ratio
decidendi ou os fundamentos determinantes da decisão. In: FREIRE,
Alexandre; DANTAS, Bruno; NUNES, Dierle; DIDIER JR., Fredie;
MEDINA, José Miguel Garcia; FUX, Luiz; CAMARGO, Luiz Henrique
Volpe; DE OLIVEIRA, Pedro Miranda (Orgs.). Novas tendências do
processo civil. p. 813).
127
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. p. 441-442.
63
128
Tais como os seguintes: STF, Tribunal Pleno, Rcl 2.363, rel. min. Gilmar
Mendes, julgado em 23/10/2003, DJe 01/04/2005; STF, Tribunal Pleno, Rcl
1987, rel. Min. Maurício Corrêa, julgado em 01/10/2003, DJe 21/05/2004;
STF, Tribunal Pleno, Rcl 4906, rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em
17/12/2007, DJe 10/04/2008.
129
Mais recentemente (20/03/14), o STF concluiu o julgamento da Reclamação
4.335, onde, sobretudo no voto do Min. Teori Zavascki, é reconhecido o
efeito expansivo das decisões do STF em diversos casos, demonstrando
claramente a aproximação cada vez mais significativa a um sistema que
aceite e trabalhe com a vinculação de precedentes (STF, Tribunal Pleno, Rcl
4335, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/03/2014, DJe 21/10/2014,
voto do Min. Teori Zavascki).
130
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p. 67-68.
131
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 222; SOUZA,
Marcelo Alves Dias de. Do precedente judicial à súmula vinculante. p. 125;
e ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Precedentes e evolução do
direito, In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (Coord.). Direito
Jurisprudencial. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012. p. 43.
64
132
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 223;
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p. 78.
133
SCOFIELD, Robert G. Goodhart’s concessions: defending ratio decidendi
from logical positivism and legal realism in the first half of the twentieth
century. King’s College Law Journal, v. 16, 2005, p. 312.
134
Tradução livre do original: “general rule without which the case must have
been decised otherwise” (WAMBAUGH, Eugene. The study of cases.
Boston: Little, Brown and Company, 1894. p. 18).
135
Tradução livre do original: “opinion the formation of which is necessary for
the decision of a particular case” (GRAY, John Chipman. The nature and
the sources of law. New York: Columbia University Press, 1909. p. 246).
136
Tradução livre do original: “any rule of law expressly or impliedly treated by
the judge as a necessary step in reaching his conclusion, having regard to the
line of reasoning adopted by him” (CROSS, Rupert. Precedent in english
law. p. 75).
65
137
WAMBAUGH, Eugene. The study of cases. p. 17.
138
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 224.
139
Tradução livre: “Mas há uma constante nos casos que é susceptível de estudo
satisfatório. O elemento previsível em tudo isso é o que os tribunais fizeram
em resposta aos estímulos dos fatos dos casos concretos que lhes foram
submetidos. Não as opiniões dos juízes, mas de que maneira eles decidem os
casos, deverá ser tema dominante de qualquer estudo verdadeiramente
científico da lei.” No original: “But there is a constant in the cases which is
susceptible of sound and satisfying study. The predictable element in it all is
what courts have done in response to the stimuli of the facts of the concrete
cases before them. Not the judges’ opinions, but which way they decide
cases, will be dominant subject matter of any trully scientific study of law”
(OLIPHANT, Herman. A return to stare decisis. American Bar Association
Journal – ABAJ, v. 14, p. 159, 1928).
140
SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do precedente judicial à súmula
vinculante. p. 127.
141
GOODHART, Arthur L. Determining the ratio decidendi of a case. Yale Law
Journal, v. XL, n. 2, p. 168, dez. 1930.
66
142
Ver GOODHART, Arthur L. Determining the ratio decidendi of a case. Yale
Law Journal, v. XL, n. 2, p. 161-183, dez. 1930.
143
GOODHART, Arthur L. Determining the ratio decidendi of a case. Yale Law
Journal, v. XL, n. 2, p. 161-183, dez. 1930.
144
GOODHART, Arthur L. The ratio decidendi of a case. Modern Law Review,
v. 22, n. 2, p. 121, mar. 1959.
145
GOODHART, Arthur L. Determining the ratio decidendi of a case. Yale Law
Journal, v. XL, n. 2, p. 182, dez. 1930.
146
Nas palavras do próprio Goodhart: “Unfortunately I believe that there is a
fallacy in Professor Oliphant's argument which will prevent our following
this conveniente course. The fallacy lies in suggesting that the facts of a
case are a constant factor, that the judge's conclusion is based upon the
fixed premise of a given set of facts. We do not have to be philosophers to
67
realize that facts are not constant but relative. The crucial question is "What
facts are we talking about?" The same set of facts may look entirely different
to two different persons. The judge founds his conclusions upon a group of
facts selected by him as material from among a larger mass of facts, some of
which might seem significant to a layman, but which, to a lawyer, are
irrelevant. The judge, therefore, reaches a conclusion upon the facts as he
sees them. It is on these facts that he bases his judgment, and not on any
others. It follows that our task in analyzing a case is not to state the facts
and the conclusion, but to state the material facts as seen by the judge and
his conclusion based on them. It is by his choice of the material facts that
the judge creates law. A congeries of facts is presented to him; he chooses
those which he considers material and rejects those which are immaterial,
and then bases his conclusion upon the material ones. To ignore his choice
is to miss the whole point of the case. Our system of precedent becomes
meaningless if we say that we will accept his conclusion but not his view of
the facts. His conclusion is based on the material facts as he sees them, and
we cannot add or subtract from them by proving that other facts existed in
the case. It is, therefore, essential to know what the judge has said about his
choice of the facts, for what he does has a meaning for us only when
considered in relation to what he has said. A divorce of the conclusion from
the material facts on which that conclusion is based is illogical, and must
lead to arbitrary and unsound results." Tradução livre: “Infelizmente eu
acredito que há uma falácia no argumento do professor Oliphant que
impedirá nosso aceite a esse caminho conveniente. A falácia consiste em
sugerir que os fatos de um caso são um fator constante, que a conclusão do
juiz é baseada na premissa fixa de um dado conjunto de fatos. Nós não
temos que ser filósofos para perceber que os fatos não são constantes, mas
relativos. A questão crucial é: "De que fatos estamos falando?" O mesmo
conjunto de fatos pode parecer completamente diferente para duas pessoas
diferentes. O juiz funda suas conclusões sobre um conjunto de fatos
selecionados por ele como materiais em um conjunto maior de fatos, alguns
dos quais podem parecer significativos para um leigo, mas que, para um
advogado, são irrelevantes. O juiz, portanto, chega a uma conclusão sobre
os fatos como ele os vê. É nesses fatos que ele baseia seu julgamento, e não
em qualquer outro. Segue-se que nossa tarefa na análise de um caso não é
declarar os fatos e a conclusão, mas declarar os fatos materiais tal como
vistos pelo juiz e sua conclusão baseada neles. É por sua escolha dos fatos
materiais que o juiz cria a lei. Uma coleção de fatos é apresentada a ele; Ele
escolhe aqueles que considera materiais e rejeita aqueles que são imateriais,
e depois baseia sua conclusão sobre os fatos considerados materiais. Ignorar
sua escolha é não entender todo o ponto do caso. Nosso sistema de
precedentes se torna sem sentido se dizemos que aceitaremos sua conclusão,
mas não sua visão dos fatos. Sua conclusão é baseada nos fatos materiais
como vistos, e não podemos somar ou subtrair desses fatos provando que
68
outros existiam no caso. É, portanto, essencial saber o que o juiz disse sobre
sua escolha dos fatos, pois o que ele faz tem um significado para nós
somente quando considerado em relação ao que ele disse. O divórcio da
conclusão com os fatos materiais em que se baseia esta conclusão é ilógico e
deve conduzir a resultados arbitrários e incorretos” (GOODHART, Arthur
L. Determining the ratio decidendi of a case. Yale Law Journal, v. XL, n. 2,
p. 168, dez. 1930).
147
GOODHART, Arthur L. The ratio decidendi of a case. Modern Law Review,
v. 22, n. 2, p. 119, mar.1959; DUXBURY, Neil.The nature and authority of
precedent. p. 82-83.
148
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 52.
69
149
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 54-56.
70
150
Ver subitem 1.1.3 deste estudo.
71
151
Conforme relatado por Barroso e Mello em: BARROSO, Luis Roberto;
MELLO, Patrícia Perrone Campos. Trabalhando com uma nova lógica: a
ascenção dos precedentes no direito brasileiro. Revista da AGU, Brasília-
DF, v. 15, n. 3, p. 27, jul./set. 2016. O julgamento foi finalizado em
06/10/16, nos termos do voto do relator Min. Edson Fachin cujo acórdão
ainda pende de publicação.
152
Veja-se a parte dispositiva do julgamento de mérito da ADI 5.081/DF, onde
em meio ao juízo de inconstitucionalidade de dispositivos de Resolução do
TSE, decidiu-se “conferir interpretação conforme à Constituição ao termo
“suplente”, constante do art. 10, com a finalidade de excluir do seu alcance
os cargos do sistema majoritário. Fixada a tese com o seguinte teor: “A
perda do mandato em razão da mudança de partido não se aplica aos
candidatos eleitos pelo sistema majoritário, sob pena de violação da
soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor”, nos termos do voto do
Relator” (STF, Tribunal Pleno, ADI 5081, rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 27/05/2015, DJe 18/08/2015).
153
“[…] in the overwhelming majority of cases the precedent court not only
gives us facts and the outcome, or conclusion, butalso tells us why it reached
the conclusion it did. In other words, the question is not so much one of
extracting the ratio decidendi from a case as of simply reading what the
court said the ratio decidendi was.” Tradução livre: “Na esmagadora maioria
dos casos, a Corte precedente não só nos dá fatos e o resultado, ou
conclusão, mas também nos diz por que chegou à conclusão alcançada. Em
outras palavras, a questão não é tanto extrair a ratio decidendi de um caso
como de simplesmente ler o que o tribunal disse que a ratio decidendi foi”
(SCHAUER, Frederick. Thinking like a lawyer. p. 52-53).
154
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 55.
72
155
Esse ponto de partida comum é associado por Melvin Eisenberg à redução da
própria discricionariedade judicial e à maior possibilidade de replicabilidade
do precedente (EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law.
p. 63).
156
RAMIRES, Mauricio. Crítica à aplicação de precedentes no direito
brasileiro. p. 149.
157
Nesse sentido, a crítica de Dierle Nunes e outros contra a aplicação mecânica
dos precedentes exposta em: THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES,
Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio Quinaud. Novo
CPC – fundamentos e sistematização. p. 314-337.
158
Sob outra perspectiva, Ronaldo Cramer adverte sobre os riscos da Corte
precedente “criar a norma jurídica para além dos limites do caso concreto”:
e como a parte prejudicada “pode interpor os recursos cabíveis para corrigir
os excessos na formação e no uso de qualquer precedentes” (CRAMER,
Ronaldo. Precedentes judiciais. p. 81).
159
Nesse sentido, por exemplo, o art. 926, §2º, CPC/15, prescreve que “ao editar
enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas
dos precedentes que motivaram sua criação.” Caso o enunciado de súmula
destoe dos casos julgados, é dever da Corte presente, por meio de
fundamentação no enfrentamento do caso presente, estabelecer essa releitura
da regra anunciada na súmula.
73
160
“But despite its predominance the announcement approach does not describe
all judicial practice. Many cases do deal with precedents in part by using
moderate versions of the minimalist or result-centered approaches to
reformulate the rule announced by the precedent court. More important,
some cases, including a number of our most important cases, employ
rigorous versions of these approaches to radically reconstruct the precedents
and overturn the rule the precedents announce, while purporting to follow
the precedents – a use of minimalist and result-centered approaches that I
shall refer to as transformation.” Tradução livre: “Mas, apesar de sua
predominância, a abordagem de anúncio não descreve toda a prática
judicial. Muitos casos lidam com precedentes, em parte, usando versões
moderadas das abordagens minimalistas ou centradas em resultados para
reformular a regra anunciada pelo tribunal precedente. Mais importante
ainda, alguns casos, incluindo alguns de nossos casos mais importantes,
empregam versões rigorosas dessas abordagens para reconstruir
radicalmente os precedentes e anular a regra anunciada, mesmo pretendendo
seguir esses precedentes - um uso de abordagens minimalistas e centradas
em resultados que chamarei de transformação” (EISENBERG, Melvin
Aron. The nature of the common law. p. 55-56).
161
MARINONI, Luiz Guilherme. Uma nova realidade diante do projeto de
CPC: a ratio decidendi ou os fundamentos determinantes da decisão. In:
FREIRE, Alexandre; DANTAS, Bruno; NUNES, Dierle; DIDIER JR.,
Fredie; MEDINA, José Miguel Garcia; FUX, Luiz; CAMARGO, Luiz
Henrique Volpe; DE OLIVEIRA, Pedro Miranda (Orgs.). Novas tendências
do processo civil. p. 819.
74
164
Levando em conta também posicionamentos acadêmicos no sentido de que
os incisos I e II do art. 927 “não trazem nenhuma novidade para o sistema
processual” (MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito
processual civil. p. 338); Ou que “o Código de Processo Civil de 2015, ao
afirmar no artigo 927 que devem ser observadas as decisões em controle
concentrado de constitucionalidade, apenas inseriu no ordenamento
processual civil uma norma já prevista na Lei Maior desde a Emenda
Constitucional 45 de 2004.” (GALIO, Morgana Henicka. Overruling. p.
171).
165
Aqui o recorte é feito com relação ao controle jurisdicional de
constitucionalidade, considerando as limitações de objeto do trabalho.
166
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 10. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012. p. 252
76
167
O controle concentrado foi primeiramente adotado na Constituição Austríaca
de 1920, por contribuição de Hans Kelsen, onde pela primeira vez foi criado
um órgão específico – inclusive apartado da estrutura do Judiciário – com a
específica função de retirar normas inconstitucionais do sistema jurídico. Já
o controle difuso é bastante mais antigo, remontando à própria primeira
concepção de um controle judicial de constitucionalidade, inaugurado pelo
julgamento do caso Marbury v. Madison, em 1803 pela Suprema Corte dos
Estados Unidos da América (BARROSO, Luis Roberto. O controle
concentrado de constitucionalidade no direito brasileiro. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 46).
168
Conforme sustentam: TUCCI, Rogério Lauria; TUCCI, José Rogério Cruz e.
Constituição de 1988 e processo: regramentos e garantias constitucionais do
processo. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 103; BARROSO, Luis Roberto. O
controle concentrado de constitucionalidade no direito brasileiro. p. 64-67.
169
Como descrito por: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Jurisdição constitucional
estadual: notas para compreender a problemática no âmbito da federação
brasileira. Revista de Direito Constitucional e Internacional - Cadernos de
Direito Constitucional e Ciência Política – IBDC, São Paulo, ano 12, n. 49,
p. 50-98, out./dez. 2004.
77
170
RAMOS, Elival da Silva. Controle de constitucionalidade no Brasil:
perspectivas de evolução. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 245-250.
171
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel; SARLET, Ingo
Wolfgang. Curso de Direito Constitucional. p. 775; e RAMOS, Elival da
Silva. Controle de constitucionalidade no Brasil. p. 250.
172
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. p. 248.
173
RAMOS, Elival da Silva. Controle de constitucionalidade no Brasil. p. 68.
78
174
RAMOS, Elival da Silva. Controle de constitucionalidade no Brasil. p. 259;
BARROSO, Luis Roberto. O controle concentrado de constitucionalidade
no direito brasileiro. p. 46.
175
Competências essas tidas como de controle abstrato e concentrado,
conforme: PACHECO, José da Silva. Mandado de segurança e outras ações
constitucionais típicas. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2008. p. 382-383.
176
“O ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade, perante o Supremo
Tribunal Federal, faz instaurar processo objetivo, sem partes, no qual
inexiste litigio referente a situações concretas ou individuais” (STF,
Tribunal Pleno, Rcl 397 MC-QO, rel. Min. Celso de Mello, julgado em
25/11/1992, DJ 21/05/1993).
177
Nesse sentido, conferir: CLÈVE, Clèmerson Merlin. A fiscalização abstrata
da constitucionalidade no direito brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2000. p. 142; e TAVARES, André Ramos. Curso de
Direito Constitucional. p. 268.
79
178
“O princípio da indisponibilidade, que rege o processo de controle
concentrado de constitucionalidade, impede a desistência da ação direta já
ajuizada. O art. 169, § 1º, do RISTF/80, que veda ao Procurador-Geral da
República essa desistência, aplica-se, extensivamente, a todas as autoridades
e órgãos legitimados pela Constituição de 1988 para a instauração do
controle concentrado de constitucionalidade (art. 103)” (STF, Tribunal
Pleno, ADI 387 MC, re. Min. Celso de Mello, julgado em 01/03/1991, DJ
11/10/1991).
179
“Não se cogita, propriamente, da defesa de interesse do Requerente
(Rechtsschutzbedürfnis), que pressupõe a defesa de situações subjetivas.
Nesse sentido, assentou o Bundesverfassungsgericht que, no controle
abstrato de normas, cuida-se fundamentalmente, de um processo unilateral,
não-contraditório, isto é, de um processo sem partes, no qual existe um
requerente, mas inexiste requerido” (MENDES, Gilmar Ferreira. Controle
de constitucionalidade - aspectos políticos e jurídicos. São Paulo: Saraiva,
1990. p. 250-251).
180
RI/STF, art. 170, § 3º: “Se, ao receber os autos, ou no curso do processo, o
Relator entender que a decisão é urgente, em face do relevante interesse de
ordem pública que envolve, poderá, com prévia ciência das partes, submetê-
lo ao conhecimento do Tribunal, que terá a faculdade de julgá-lo com os
elementos de que dispuser.”.
181
“O Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, embora prestando informações
no processo, não está impedido de participar do julgamento de ação direta
na qual tenha sido questionada a constitucionalidade, "in abstracto", de atos
ou de resoluções emanados daquela Egrégia Corte judiciária. Também não
incidem nessa situação de incompatibilidade processual, considerando o
perfil objetivo que tipifica o controle normativo abstrato, os Ministros do
Supremo Tribunal Federal que hajam participado, como integrantes do
Tribunal Superior Eleitoral, da formulação e edição, por este, de atos ou
resoluções que tenham sido contestados, quanto à sua validade jurídica, em
sede de fiscalização concentrada de constitucionalidade, instaurada perante
a Suprema Corte. Precedentes do STF: - Os institutos do impedimento e da
suspeição restringem-se ao plano exclusivo dos processos subjetivos (em
cujo âmbito discutem-se situações individuais e interesses concretos), não se
80
de pedir posta pela parte187 (apenas pelo pedido, que mesmo assim pode
ser estendido em decorrência da inconstitucionalidade “por
arrastamento”188), podendo analisar violações à Constituição não
suscitadas pela parte proponente da ação.
Dada a abstratividade das ações constitucionais de controle
concentrado e as peculiaridades do processo objetivo, da decisão final
também decorrem efeitos próprios.
Em primeiro lugar, sob o ângulo dos limites subjetivos, a decisão
de inconstitucionalidade por via principal (abstrata) possui eficácia erga
omnes. Isto é dizer que uma lei julgada inconstitucional, o é em todo
território nacional, independentemente da participação de quaisquer
sujeitos no processo judicial que motivou este julgamento. Este efeito é
ínsito à apreciação da ação, uma vez que o próprio objeto do processo é
a compatibilidade da lei com a Constituição.189
Basta a legitimidade ativa para instaurar o procedimento perante
o STF, e a decisão tomada vale para todos. Isto difere substancialmente
da decisão tomada em controle por via incidental, que se limita a surtir
efeitos entre as partes do processo em que é produzida (eficácia inter
partes).190
Essa eficácia erga omnes é limitada à parte dispositiva da
decisão191, onde é dada a resposta sobre a (in)constitucionalidade do
187
“A despeito da necessidade legal da indicação dos fundamentos jurídicos na
petição inicial, não fica o STF adstrito a eles na apreciação que faz da
constitucionalidade dos dispositivos questionados. É dominante no âmbito
do Tribunal que na ADI (e na ADC) prevalece o princípio da causa petendi
aberta” (MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional.
Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco. 11. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 1210-1211).
188
“Extensão de inconstitucionalidade a dispositivos não impugnados
expressamente na inicial. Inconstitucionalidade por arrastamento” (STF,
Tribunal Pleno, ADI 2982 ED, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
02/08/2006, DJ 22/09/2006).
189
RAMOS, Elival da Silva. Controle de constitucionalidade no Brasil. p. 84-
85.
190
QUEIROZ, Paulo Guilherme Gorski de. A amplitude objetiva do efeito
vinculante no controle concentrado de constitucionalidade perante o STF.
Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, São Paulo, n. 73-
74, p. 286, jan./dez. 2011.
191
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. p. 1369.
82
192
Nesse sentido, os arts. 22 a 24 da Lei Federal 9.868/99 e o julgamento da
Reclamação 1.880, pelo STF, que, dentre outros assuntos, consolidou a
doutrina da natureza dúplice das ações constitucionais.
193
Não se pode conceber a eficácia erga omnes como consequência da coisa
julgada erga omnes, uma vez que a coisa julgada nada mais é que a
qualidade de imutabilidade e indiscutibilidade associada a um provimento
judicial. Isto é, não é propriamente a coisa julgada que torna a decisão
eficaz, não é a propriedade da coisa julgada que retira a lei inconstitucional
do ordenamento. A coisa julgada apenas torna a questão indiscutível e
imutável, obrigando quaisquer juízes de casos posteriores a tomarem a lei
como constitucional ou inconstitucional em casos futuros que demandem
aplicação do dispositivo.
194
RAMOS, Elival da Silva. Controle de constitucionalidade no Brasil. p. 275.
195
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. p. 1373-1374.
83
196
Sobre a caracterização dessas técnicas de decisão do STF ver: MENDES,
Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. p. 1344.
197
CLÈVE, Clèmerson Merlin. A fiscalização abstrata da constitucionalidade
no direito brasileiro. p. 240.
198
Remete-se o leitor ao item 3.2 deste estudo, onde será discutida a função da
reclamação constitucional, inclusive como um meio de reavaliação de
precedentes vinculantes.
199
Lembre-se do §1º, do art. 927: os juízes e os tribunais observarão o disposto
no art. 10 e no art. 489, § 1o, quando decidirem com fundamento nesse
artigo.
84
208
Como também observou: SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do precedente
judicial à súmula vinculante. p. 220.
209
Aqui vale enfatizar a restrição a atos do Judiciário ou Executivo. Tanto
porque o art. 102, §2º, é expresso nesse sentido (relativamente aos demais
88
215
Ver: STF, Tribunal Pleno, Rcl 224, rel. Min. Celio Borja, julgado em
01/07/1987, DJ 18/09/1987; STF, Tribunal Pleno, Rcl 354 AgR, rel. Min.
Celso de Mello, julgado em 16/05/1991, DJ 28/06/1991; STF, Tribunal
Pleno, Rcl 385 QO, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 26/03/1992, DJ
18/06/1993; STF, Tribunal Pleno, Rcl 397 MC-QO, rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 25/11/1992, DJ 21/05/1993.
216
Na esteira de uma decisão isolada tomada ainda em 1986 (STF, Tribunal
Pleno, Rcl 173, rel. Min. Oscar Correa, julgado em 19/03/1986, DJ
23/02/1990), onde julgou-se procedente reclamação interposta pelo
Procurador-Geral da República em face de descumprimento pelo Tribunal
Regional do Trabalho da 1ª região de acórdão do STF que tinha invalidado
uma resolução do Tribunal Superior do Trabalho.
217
Ver: STF, Tribunal Pleno, Rcl 389 e Rcl 390, rel. Min. Néri da Silveira,
julgado em 23/06/1993, DJ 09/11/2001; STF, Tribunal Pleno, Rcl 399, rel.
Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 07/10/1993, DJ 24/03/1995; STF,
Tribunal Pleno, Rcl 479, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/08/1994,
DJ 24/08/2001.
91
218
Mesmo com a extensão do rol de legitimados aos mesmos da ação direta de
inconstitucionalidade em 2004 (EC 45/04), segundo estatísticas
disponibilizadas pelo STF (Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?s ervico=estatistica>.
Acesso em: 25 dez. 2016), até hoje não se alcançou a marca de 50 ADCs.
Enquanto isso, desde 1988 já foram distribuídas mais de 4.000 ADIs.
219
Proposta em 05/06/1997, a Ação Declaratória de Constitucionalidade 2 (STF,
Tribunal Pleno, ADC 2 AgR, rel. Min. Carlos Velloso, julgado em
07/08/1997, DJ 26/09/1997).
220
O julgamento ocorreu anteriormente à aprovação da Lei Federal 9.868/99, e
o deferimento da cautelar deu-se com base no poder geral de cautela. Dessa
forma, desde 1993 o assunto do efeito vinculante naturalmente entrou em
dormência no Supremo Tribunal Federal.
221
Lei Federal 9.494/97: “Art. 1º Aplica-se à tutela antecipada prevista nos arts.
273 e 461 do Código de Processo Civil o disposto nos arts. 5º e seu
parágrafo único e 7º da Lei nº 4.348, de 26 de junho de 1964, no art. 1º e seu
§ 4º da Lei nº 5.021, de 9 de junho de 1966, e nos arts. 1º, 3º e 4º da Lei nº
8.437, de 30 de junho de 1992.”.
92
222
STF, Tribunal Pleno, ADC 4 MC, rel. Min. Sydney Sanches, julgado em
11/02/1998, DJ 21/05/1999.
223
Pet 1402/MS e medida cautelar, julgadas monocraticamente em 04/03/1998,
pelo Min. Presidente Celso de Mello, decisão publicada no DJ de
16/03/1998.
93
Essa linha de raciocínio de fato foi seguida pelo STF, quando este
julgou procedentes inúmeras reclamações movidas por pessoas jurídicas
de direito público, questionando a concessão de liminares concedidas
em 1º grau, em violação à autoridade da decisão do STF na Medida
Cautelar da ADC 4 (exemplos: Rcl. 846/SP, j. em 19/04/2001, Rcl. 739,
j. 07/08/2002 e Rcl. 1.628, j. em 02/10/2002).
Pela primeira vez, o STF reconheceu legitimidade ampla na
reclamação para outorga de garantia à autoridade de decisão em controle
concentrado de constitucionalidade. E o fizera justamente por meio da
interpretação do efeito vinculante atribuído às decisões em ADC pela
EC 3/93.
Essa diretriz seria confirmada no julgamento da Reclamação
1.880/SP224, em que o STF enfrentou o tema da constitucionalidade do
art. 28, parágrafo único, da recém aprovada Lei Federal 9.868/99, a lei
que dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade no
Supremo.
O parágrafo único do art. 28 prescreve que:
224
STF, Tribunal Pleno, Rcl 1880 AgR, rel. Min. Maurício Corrêa, julgado em
07/11/2002, DJ 19/03/2004.
94
225
Extrato do voto do Min. Carlos Velloso, compondo a maioria pela rejeição
da prejudicial de inconstitucionalidade: “Pelo menos nos casos em que é
cabível a ação declaratória de constitucionalidade, as decisões proferidas na
ação direta de inconstitucionalidade deverão ter efeito vinculante. Não é
possível raciocinar de outra forma. Nos reunimos nesta sala, decidimos que
uma lei é constitucional em uma ação declaratória de constitucionalidade,
que é irmã gêmea da ação direta, e afirmamos que a decisão tem efeito
vinculante. Nesta mesma sala, no dia seguinte, decidimos, em uma ação
direta de inconstitucionalidade, pela sua improcedência, assim pela
constitucionalidade da lei e não vamos afirmar que essa decisão não tem
efeito vinculante? Ora, não teria sentido tal modo de proceder” (STF,
Tribunal Pleno, Rcl 1880 AgR, rel. Min. Maurício Corrêa, julgado em
07/11/2002, DJ 19/03/2004, p. 1-2 do voto do Min. Carlos Velloso).
226
Como já era o entendimento de Moraes: “Com o advento da Lei nº 9.868/99
e a previsão de efeitos vinculantes, conforme já analisado, entendemos que
haverá ampliação da legitimidade para ajuizamento de reclamações, na
hipótese de desrespeito dos demais órgãos do Poder Judiciário às decisões
proferidas em sede de ação direta de inconstitucionalidade pelo STF,
permitindo-se ao interessado, no caso concreto, que se utilize desse
instrumento para a concretização dos efeitos vinculantes” (MORAES,
Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada. São Paulo: Atlas, 2002.
p. 2380).
95
227
STF, Tribunal Pleno, Rcl 4381 AgR, rel. Min. Celso de Mello, julgado em
22/06/2011, DJe 04/08/2011 e mais recentemente STF, Tribunal Pleno, Rcl
11235 AgR, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/12/2013, DJe
18/02/2014.
228
Nas palavras de Gilmar Ferreira Mendes a reclamação “constitui-se como
ação voltada à proteção da ordem constitucional como um todo” (MENDES,
Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. p. 1396).
229
Sobre a Reclamação no CPC/15, ver o Capítulo 3 deste estudo.
230
Nesse sentido, ver: LEONEL, Ricardo de Barros. Reclamação
Constitucional. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 192-198.
96
231
“Admissibilidade da reclamação contra qualquer ato, administrativo ou
judicial, que desafie a exegese constitucional consagrada pelo Supremo
Tribunal Federal em sede de controle concentrado de constitucionalidade,
ainda que a ofensa se dê de forma oblíqua” (STF, Tribunal Pleno, Rcl 1987,
rel. Min. Maurício Corrêa, julgado em 01/10/2003, DJ 21/05/2004).
232
“O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 2.868, examinou a validade
constitucional da Lei piauiense 5.250/02. Diploma legislativo que fixa, no
âmbito da Fazenda estadual, o quantum da obrigação de pequeno valor. Por
se tratar, no caso, de lei do Município de Indaiatuba/SP, o acolhimento do
pedido da reclamação demandaria a atribuição de efeitos irradiantes aos
motivos determinantes da decisão tomada no controle abstrato de normas.
Tese rejeitada pela maioria do Tribunal” (STF, Tribunal Pleno, Rcl 3014,
rel. Min. Carlos Britto, julgado em 10/03/2010, DJe 20/05/2010).
233
Nada obstante haja exemplos de pontos fora da curva posteriores à Rcl.
3.014 que veladamente aplicaram a teoria da transcendência dos motivos
determinantes: Rcl. 3.219/CE, Rcl. 2.640/RJ, além de outros exemplos
como explora: MAGALHÃES, Breno Baía. A trajetória da transcendência
dos motivos determinantes: o fim da história? Revista de Informação
Legislativa, ano 52, n. 205, p. 161-188, jan./mar. 2015.
234
STF, Primeira Turma, Rcl 4454 AgR, rel: Min. Roberto Barroso, julgado em
03/03/2015, DJe 16/03/2015.
235
Nesse sentido, ver: STF, Segunda Turma, Rcl 18401 AgR, rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 10/02/2015, DJe 02/03/2015; STF, Primeira Truma,
Rcl 7706 AgR, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 10/06/2014, DJe
13/08/2014; e STF, Segunda Turma, Rcl 7280 AgR, rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 10/06/2014, DJe 31/07/2014.
97
236
No mesmo sentido CRAMER, Ronaldo. Precedentes judiciais. p. 192-194.
237
TAKOI, Sérgio Massaru. Reclamação constitucional. São Paulo: Saraiva,
2013. p. 113.
238
Nesse sentido: “No caso brasileiro, porque o Constituinte reformador referiu-
se à “decisão definitiva de mérito”, o efeito vinculante restringe-se
exclusivamente à sua (dela: a decisão) parte dispositiva, não alcançando os
seus fundamentos determinantes” (CLÈVE, Clèmerson Merlin. A
fiscalização abstrata da constitucionalidade no direito brasileiro. p. 307-
308); “Por diversas razões, é insatisfatória essa explicação [da extensão do
efeito vinculante aos fundamentos ou motivos determinantes da decisão].
Primeiro, não é admissível que a interpretação de um instituto inserido na
Constituição brasileira só se possa fazer recorrendo a uma lei de outro
estado soberano. Segundo, a lei brasileira dispõe em sentido diametralmente
oposto, afirmando que os motivos, ainda que importantes para determinar o
enlace da parte dispositiva da sentença, não fazem coisa julgada; e não há
nenhuma razão jurídica que obrigue o juiz brasileiro a aplicar o direito
alemão para a interpretação da Constituição Federal, com exclusão da lei
nacional em sentido contrário. Terceiro, se julgada procedente a ADIN ou
ADCON, a extensão do efeito vinculante aos motivos da decisão nada
acrescentaria à aludida ‘força vinculante da parte dispositiva da decisão’; o
efeito vinculante da motivação só teria utilidade no caso de ser negada a
declaração pretendida pelo requerente, caso em que é na fundamentação que
se situaria a conclusão oposta à demandada. Quarto, essa utilidade, no
98
241
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. p. 436.
242
Ver subitem 1.2.3 deste estudo.
100
243
STF, Tribunal Pleno, ADI 5081, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
27/05/2015, DJe 18/08/2015.
244
Muito embora destaque Gilmar Ferreira Mendes que esse nem sempre foi o
caso (MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. p. 1347-
1348).
101
245
“Esse sentido [da interpretação conforme à Constituição], evidenciado na
fundamentação, é delineado no dispositivo, de modo a se fixar regra que
evidencie a constitucionalidade da norma”. (MARINONI, Luiz Guilherme;
MITIDIERO, Daniel; SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de Direito
Constitucional. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012. p. 1057.
246
Constituição Federal: “Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de
ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus
membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar
súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma
estabelecida em lei. § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a
interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração
pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre questão idêntica. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser
estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá
102
249
Desde a aprovação da Lei Federal 9.868/99 até a promulgação da EC
45/2004, a previsão do efeito vinculante para a ADI encontrava-se apenas
em legislação ordinária, julgada constitucional pelo STF com a Rcl. 1.880,
discutida no último tópico. Até hoje não há igual constitucional prevista
para a ADPF, que permanece tendo a Lei Federal 9.882/99 como marco
legal isolado do efeito vinculante.
250
“Cada enunciado é um verdadeiro extrato de conteúdo eminentemente
jurídico (consistente unicamente na interpretação de questão de direito), de
várias decisões anteriores no mesmo sentido, não possuindo afirmações a
latere conhecidas, na teoria do stare decisis, como obiter dicta) e sendo todo
o seu conteúdo considerado essencial. Essa tese jurídica, ou enunciado, é
norma abstrata e genérica quanto às suas condições de aplicação e, assim,
enseja que um indeterminado número de casos possa ser subsumido dentro
da generalidade dos seus termos, desde que a tese jurídica neles discutida
seja a mesma” (SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do precedente judicial à
súmula vinculante. p. 270).
251
“A súmula com força vinculante tem, portanto, eficácia normativa; é uma
fonte de direito resultante de interpretação constitucional procedida pelo
104
254
Inclusive mediante a realização de controle de constitucionalidade se for o
caso, como também destaca Leonard Schmitz: “Se for estabelecido que ao
julgador é dado não seguir um dispositivo de lei apenas quando sua
interpretação ao caso concreto reconduzir a uma inconstitucionalidade (ou
seja, quando fizer controle difuso de constitucionalidade dessa lei), nada
diferente poderia ser dito em relação a um enunciado de súmula vinculante.
Embora majoritariamente a doutrina diga que esse controle não é possível,
por esvaziar o conteúdo do próprio instituto, essa posição acaba por ir contra
a mais básica necessidade hermenêutica do direito. Quer dizer, em relação à
lei e a outros textos normativos, é dado ao julgador interpretar. É, aliás,
impositivo que ocorra a interpretação. Já em relação às súmulas vinculantes,
essa interpretação não só não é dada, como seria proibida?” (SCHMITZ,
Leonard Ziesemer. Fundamentação das decisões judiciais. p. 319-320).
255
Lucas Buril de Macêdo vai trabalhar um raciocínio assemelhado, ao dizer
que a correspondência entre o enunciado e a ratio decidendi dos precedentes
que a geraram é um requisito de validade do próprio enunciado, o que
justifica sua declaração de invalidade no caso concreto para aplicar os
fundamentos determinantes do precedente (MACÊDO, Lucas Buril de.
Precedentes judiciais e o direito processual civil. p. 337).
106
256
Em sentido contrário, Ronaldo Cramer sustenta que “a partir do novo CPC,
que introduziu um sistema de precedentes em nosso ordenamento, a súmula
vinculante não deve ser empregada a partir de seu texto, mas nos termos de
seu precedente originário, pois nele se encontra a norma jurídica criada pelo
Supremo Tribunal Federal” (CRAMER, Ronaldo. Precedentes judiciais. p.
195).
107
dispositivo já tinha eco no antigo art. 555, §1º, do CPC/73257, mas sem a
possibilidade de utilização em qualquer procedimento e o elemento
vinculante instituído pelo novo diploma. Também o regimento interno
do STF prevê, desde 1940, disposição semelhante para afetação ao
plenário de julgamentos de especial relevância jurídica.258
Todas as demais hipóteses de incidência do inciso III do art. 927
estão associadas à litigiosidade repetitiva (ou de massa259), e adotam a
257
Código de Processo Civil de 1973: “Art. 555. No julgamento de apelação ou
de agravo, a decisão será tomada, na câmara ou turma, pelo voto de 3 (três)
juízes. § 1o Ocorrendo relevante questão de direito, que faça conveniente
prevenir ou compor divergência entre câmaras ou turmas do tribunal, poderá
o relator propor seja o recurso julgado pelo órgão colegiado que o regimento
indicar; reconhecendo o interesse público na assunção de competência, esse
órgão colegiado julgará o recurso” (Incluído pela Lei nº 10.352, de 2001).
258
Regimento Interno do STF de 1940: “Art. 24. Compete a cada uma das
Turmas: [...] II - promover, por proposta de qualquer um de seus membros, a
remessa do processo para definitivo pronunciamento do Tribunal Pleno, nos
casos de divergência de jurisprudência entre as Turmas”; Regimento Interno
do STF de 1970, “Art. 12 – A Turma remeterá o feito ao julgamento do
Plenário (arts. 80, § 1°, II e 89, parágrafo único): I – quando houver
relevante arguição de inconstitucionalidade não decidida pelo Tribunal
Pleno (art. 97); II – quando algum dos Ministros propuser revisão da
jurisprudência predominante (art. 99). Parágrafo único – Poderá a Turma
proceder na forma deste artigo: a) quando houver matéria em que divirjam
as Turmas entre si ou alguma delas em relação ao Plenário; b) quando
convier pronunciamento do Plenário em razão da relevância da questão
jurídica, de mudança operada na composição do Tribunal, ou da necessidade
de prevenir divergência entre as Turmas.”; Regimento Interno atual do STF:
“Art. 22. O Relator submeterá o feito ao julgamento do Plenário, quando
houver relevante arguição de inconstitucionalidade ainda não decidida.
Parágrafo único. Poderá o Relator proceder na forma deste artigo: a) quando
houver matérias em que divirjam as Turmas entre si ou alguma delas em
relação ao Plenário. b) quando em razão da relevância da questão jurídica ou
da necessidade de prevenir divergência entre as Turmas, convier
pronunciamento do Plenário.”
259
Litigiosidade associada a conflitos homogêneos, individuais ou coletivos,
com causas de pedir e pedidos similares ou conflitos heterogêneos que
possuem questões comuns, conforme: TEMER, Sofia. Incidente de
resolução de demandas repetitivas. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 32.
108
260
No sentido descrito no subitem 1.1.1 deste estudo, já que se tem a ideia de
que poderá ser utilizado como guia para outros casos assemelhados.
261
MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto Corte de precedentes. p. 226.
262
Em sentido contrário: “O legislador usa a expressão ‘em regime de
repercussão geral', que não tem sentido técnico específico, estabelecido pela
doutrina. Se, de fato, o legislador quis referir-se apenas a um recurso
extraordinário, individual ou avulso, parece ter ido longe demais:
determinou que ao recurso seja negado seguimento, se o acórdão estiver de
109
–, fato é que o regime jurídico do IRDR arma os tribunais locais 267 com
mecanismos bastante semelhantes aos disponíveis às cortes superiores.
Há a (1) admissão do incidente vinculado a um processo268 – art. 978,
parágrafo único – do qual provenha controvérsia repetitiva (art. 976, I);
a (2) suspensão dos processos abrangidos pela mesma controvérsia (art.
982, I) e; a (3) irradiação da tese (art. 985).
A introdução do IRDR mais uma vez demonstra como os
Tribunais Regionais e de Justiça também exercem parcela de função
interpretativa: de aumento do suprimento das regras jurídicas. É claro
que caberá recurso ao STJ e STF e também eventual admissão de
recurso repetitivo nesses tribunais, o que irá travar a via do IRDR269,
mas até esse momento a interpretação tomada pelo Tribunal local em
sede de IRDR será vinculante e possivelmente definitiva (caso não seja
interposto recurso especial/extraordinário em face da decisão em IRDR).
No que tange à irradiação da tese fixada, o IRDR vai mais longe
do que o regime ordinário da repercussão geral ou dos recursos
repetitivos do STJ, pois já prevê o alcance aos “casos futuros que
versem idêntica questão de direito e que venham a tramitar no território
de competência do tribunal, salvo revisão na forma do art. 986” (art.
985, II, CPC/15).
O regime jurídico dos julgamentos repetitivos, até o advento do
CPC/15, era primordialmente voltado para os recursos suspensos
(retratação do tribunal de origem ou inadmissão do recurso). A
sistemática pura da repercussão geral ou dos recursos especiais
repetitivos apenas alcançava processos futuros pelo posterior
267
A compreensão predominante é no sentido de que o IRDR apenas poderá ser
instaurado nos tribunais locais e regionais federais. Nesse sentido, ver:
MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual
civil. p. 447; e Enunciado 343 do Fórum Permanente de Processualistas
Civis: “O incidente de resolução de demandas repetitivas compete a tribunal
de justiça ou tribunal regional.”
268
Código de Processo Civil, Art. 978: “Parágrafo único. O órgão colegiado
incumbido de julgar o incidente e de fixar a tese jurídica julgará igualmente
o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária de
onde se originou o incidente.”
269
Código de Processo Civil, Art. 976: “§ 4º É incabível o incidente de
resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais superiores, no
âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para
definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.”.
111
270
CRAMER, Ronaldo. Precedentes judiciais. p. 195-196.
112
271
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. p. 436.
113
272
Indagação nesse sentido em: THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES,
Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio Quinaud. Novo
CPC – Fundamentos e sistematização. p. 359.
273
Como explica Macêdo em: MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais
e o direito processual civil. p. 526.
114
274
ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. p. 343-345.
275
LEAL, Victor Nunes. Passado e futuro da súmula do STF. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, v. 145, p. 1-20, jul./set. 1981.
115
276
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Comentários ao Código
de Processo Civil: arts. 926 a 975. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. p. 70.
116
277
A expressão permanece nos arts. 926, 927, §3º e 1.042, §4º, do CPC/15,
contudo com bem menos espaço que na codificação anterior.
278
Conforme lição de Pedro Miranda de Oliveira: “O CPC/15 andou bem ao
retirar do relator o poder de julgar monocraticamente o mérito do recurso
com base na jurisprudência dominante. A verdade é que em mais de 15 anos
(a redação do art. 557 do CPC/1973 é de 1998) doutrina e jurisprudência
não conseguiram preencher o referido conceito vago de forma satisfatória.
Não se tem dados suficientes para dizer se determinado entendimento é
dominante ou não nos tribunais. Assim, diante do mau uso da expressão por
parte da magistratura – que a utiliza para julgar boa parte dos recursos sem
levá-los ao órgão colegiado – melhor retirá-la do sistema” (MIRANDA DE
OLIVEIRA, Pedro. Novíssimo sistema recursal: conforme o CPC/2015. p.
78-79).
279
Aqui vale a lembrança e remissão ao subitem 1.3.1 deste estudo, em que se
discutiu a evolução da reclamação em paralelo ao efeito vinculante em
controle concentrado de constitucionalidade e como esse remédio
constitucional funcionou como um laboratório para discussão do assunto.
117
280
Traz-se esta observação apenas em caráter descritivo, sobretudo pela posição
sustentada adiante acerca da própria inconstitucionalidade da extensão das
hipóteses de cabimento da reclamação para além daquelas dispostas na
Constituição, como está explicado no capítulo 3, subitem 3.2.3.
281
Nova redação do art. 11, XXVI, do RI/STJ, de acordo com a Emenda
Regimental 24/2016.
282
Ou “entre Turmas de Seções diversas, entre Seções, entre Turma e Seção que
não integre ou entre Turma e Seção com a própria Corte Especial” (art. 11,
XIII, do RI/STJ).
118
283
Regimento Interno do STJ: “Art. 14. As Turmas remeterão os feitos de sua
competência à Seção de que são integrantes: I - quando algum dos Ministros
propuser revisão da jurisprudência assentada em Súmula pela Seção; II -
quando convier pronunciamento da Seção, em razão da relevância da
questão, e para prevenir divergência entre as Turmas da mesma Seção; III -
nos incidentes de assunção de competência” (o último inciso foi acrescido
pela Emenda Regimental 24, de 2016).
284
Regimento Interno do STJ: “Art. 12 Compete às Seções processar e julgar:
IX - o incidente de assunção de competência quando a matéria for restrita a
uma Seção” (Redação dada pela Emenda Regimental 24, de 2016).
285
Por competência do Pleno do TST, art. 68, VII e 162 do RI/TST.
119
286
Também comparando a força vinculativa dos precedentes e da coisa julgada,
ver: DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Curso de direito processual civil. vol. 2. p. 486.
287
Aqui é crucial a distinção entre autoridade (imperatividade) da sentença e sua
imutabilidade, discutida por Francesco Carnelutti (CARNELUTTI,
Francesco. Estudios de derecho procesal. vol. II - lits. proceso. - prueba. -
sentencia. cosa juzgada. recursos. - estudios sobre el arbitraje. Buenos Aires:
Ediciones Jurídica Europa - América, 1952. p. 365-376) e depois adotada
por Enrico Tullio Liebman: “Não se pode, pois, duvidar de que a eficácia
jurídica da sentença se possa e deva distinguir da autoridade da coisa
julgada; e nesse sentido é certamente de acolher a distinção formulada por
Carnelutti entre imperatividade e imutabilidade da sentença; porque é esta
imperativa e produz todos os seus efeitos ainda antes e independentemente
do fato da sua passagem em julgado” (LIEBMAN, Enrico Tullio. Eficácia e
autoridade da sentença. Rio de Janeiro: Forense, 1984. p. 39-40).
288
TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão. p. 130-131; ARAÚJO
CINTRA, Antonio Carlos de. Comentários ao Código de Processo Civil.
vol. IV. arts. 332 a 475. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 306-308;
CRAMER, Ronaldo. Ação rescisória por violação da norma jurídica.
Salvador: Juspodivm, 2012. p. 89. Também chamados de “efeitos da coisa
120
292
Nesse sentido, Luiz Guilherme Marinoni afirma que: “As funções da coisa
julgada e do precedente vinculante à luz da segurança jurídica e da tutela da
confiança são distintas. O respeito aos precedentes garante a previsibilidade
em relação às decisões judiciais, assim como a continuidade da afirmação da
ordem jurídica. A coisa julgada, por sua vez, garante que nenhuma decisão
estatal interferirá de modo a inutilizar o resultado obtido pela parte com a
decisão acobertada pela coisa julgada, assim como a estabilidade das
decisões judiciais” (MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes
obrigatórios. p. 138).
293
STRECK, Lenio; ABBOUD, Georges. O que é isto – o precedente judicial e
as súmulas vinculantes? Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013. p. 63.
294
Nas palavras de Schauer: “No two events are exactly alike. For a decision to
be precedent for another decision does not require that the facts of the
earlier and the later cases be absolutely identical. Were that required,
nothing would be a precedent for anything else. We must therefore leave the
realm of absolute identity.” Tradução livre: “Não há dois eventos
exatamente iguais. Para que uma decisão seja precedente de uma outra
decisão, não se exige que os fatos do processo anterior e posterior sejam
absolutamente idênticos. Se isso fosse exigido, nada seria precedente para
qualquer outra coisa. Temos, portanto, de deixar o âmbito da Identidade
absoluta” (SCHAUER, Frederick. Precedent. Stanford Law Review, v. 39, n.
3, p. 577, 1986-1987).
122
295
MARINONI, Luiz Guilherme. Uma nova realidade diante do projeto de
CPC: a ratio decidendi ou os fundamentos determinantes da decisão. In:
FREIRE, Alexandre; DANTAS, Bruno; NUNES, Dierle; DIDIER JR.,
Fredie; MEDINA, José Miguel Garcia; FUX, Luiz; CAMARGO, Luiz
Henrique Volpe; DE OLIVEIRA, Pedro Miranda (Orgs.). Novas tendências
do processo civil. p. 836-837.
123
296
Ronald Dworkin fala nesse sentido em “força gravitacional” do precedente:
“Os juízes e os juristas não pensam que a força dos precedentes se esgota,
como aconteceria no caso de uma lei, devido aos limites linguísticos de uma
determinada formulação. Se o Spartan Steel fosse um caso nova-iorquino, o
advogado do autor da ação imaginaria que a decisão anterior de Cardozo, no
caso Macpherson vs. Buick, no qual uma mulher obteve reparação por
perdas e danos devido à negligência na fabricação de um automóvel,
contaria a favor do direito de seu cliente à indenização, apesar de o fato da
decisão anterior não conter nenhuma formulação verbal que pudesse, de
modo plausível, ser interpretada como uma promulgação desse direito. Ele
insistiria em que a decisão anterior exerce uma força gravitacional sobre as
decisões posteriores, mesmo quando se situam fora de sua órbita particular”
(DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins
Fontes, 2010. p. 174). Em um sentido assemelhado, Mauricio Ramires fala
em “campo gravitacional” do precedente (RAMIRES, Mauricio. Crítica à
aplicação de precedentes no direito brasileiro. p. 130).
297
Como esclarece Rupert Cross: “The fact that words such as 'case',
'judgement', or 'decision' may all be used to mean the ratio decidendi of a
case sometimes leads to the confusion of ratio decidendi with res judicata,
124
i.e. the confusion between the effect of a decision from the point of view of
subsequent litigation involving different parties, and its effect on the parties
to the dispute. They are generally estopped from raising the same issue at a
later date. A court is sometimes said to be bound by the 'judgement' in a
case although it is not bound to follow the ratio decidendi. The House of
Lords may be bound by the judgement of a judge of first instance in the
sense that the House must apply the principles of res judicata which the
judgement brings into play should subsequent litigation between the same
parties involve the same issue, although there is no sense in which the
House of Lords is bound by the ratio decidendi of a case decided by a judge
of first instance." Tradução livre: “O fato de palavras como ‘caso’,
‘julgamento’ ou ‘decisão’ poderem ser utilizadas para significar a ratio
decidendi de um caso leva, por vezes, à confusão de ratio decidendi com res
judicata, ou seja, a confusão entre o efeito de uma decisão do ponto de vista
de litígios subsequentes envolvendo partes diferentes, e o seu efeito sobre as
partes na disputa original. Elas são geralmente impedidas de levantar o
mesmo problema em data posterior. Ao tribunal, por vezes, diz-se estar
vinculado pelo ‘julgamento’ de um caso, embora não esteja obrigado a
seguir a ratio decidendi. A Câmara dos Lordes pode estar vinculada pelo
julgamento de um juiz de primeira instância no sentido de que a Câmara
deve aplicar os princípios de res judicata em litígios subsequentes entre as
mesmas partes que envolvam a mesma questão, embora não haja nenhum
sentido em que a Câmara dos Lordes esteja vinculada pela ratio decidendi
de um caso decidido por um juiz de primeira instância” (CROSS, Rupert.
Precedent in english law. p. 103).
125
298
Nesse sentido, ver: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Precedentes e
evolução do Direito. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (Coord.).
Direito Jurisprudencial. p. 57-64; e CRAMER, Ronaldo. Precedentes
judiciais. p. 143-145.
299
Sobre esse assunto, ver subitem 1.2.3.
300
Aqui, analogia no Direito é compreendida no sentido de “atribuir a situações
parcialmente idênticas (uma prevista e outra não prevista na lei), as
consequências jurídicas indicadas pela regra aplicável ao caso previsto”
(MORAES, Oswaldo de. A analogia no Direito Tributário brasileiro. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1965. p. 57).
301
Hermes Zaneti Jr., ao assentar a equivalência entre a interpretação e
aplicação da lei ou do precedente reconhece que: “não há diferença
metodológica na aplicação entre norma-lei e norma-precedente. Ambas
aplicam-se de forma distinta somente quando se trata de aplicar a norma por
126
306
Essa escolha prima facie dos precedentes aplicáveis é comparável à
descrição de Karl Larenz sobre a “escolha das proposições jurídicas a
aplicar”, que antecede propriamente o juízo de subsunção dos fatos a essas
proposições jurídicas. Larenz explica que: “com a escolha dos fatos tem,
portanto, de se levar a cabo uma escolha das proposições jurídicas que são
de considerar na aplicação. Sobre o modo como esta escolha propriamente
decorre, praticamente nada se encontra na literatura metodológica. É certo
que o aplicador “experimentará” uma após outra toda uma série de
proposições jurídicas, logo excluindo umas, reconhecendo outras como de
facto aplicáveis, e assim como que se aproximará, “tateando”, da solução”
(LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do Direito. p. 307-308).
307
Nesse sentido, ver: CROSS, Rupert. Precedent in english law. p. 208.
128
308
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p. 113.
309
Nesse sentido, ver: MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o
direito processual civil. p. 253; DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno;
OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. vol. 2.
Salvador: Juspodivm, 2016. p. 506; também o enunciado 174 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis (FPPC): “(art. 521, § 5º) A realização
da distinção compete a qualquer órgão jurisdicional, independentemente da
origem do precedente invocado.”
129
310
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p. 115-116.
311
Thomas da Rosa Bustamante identifica duas hipóteses diferentes de
distinguishing: (1) o estabelecimento de uma exceção antes não reconhecida
(quando entende-se que os fatos do caso concreto estariam abrangidos pela
ratio decidendi); e (2) a utilização de um argumento a contrario sensu para
fixar uma interpretação restritiva da ratio decidendi e deixar de subsumir os
fatos do caso concreto ao precedente (BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de.
Teoria do precedente judicial. p. 473).
312
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p. 115-116.
130
313
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 333.
314
Nesse sentido, Lucas Buril de Macêdo fala em distinções ampliativas e
distinções restritivas (MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o
direito processual civil. p. 270-271).
315
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 329.
316
Neste caso, principalmente quando observadas distinções inconsistentes com
as razões que motivaram a formação do precedente (“the drawing of
inconsistent distinctions”, como descrito por Melvin Eisenberg. A técnica
do distinguishing pode ser vista como um passo provisório para a superação
do precedente, assunto tratado no próximo tópico (EISENBERG, Melvin
Aron. The nature of the common law. p. 136 e seguintes). Também nesse
sentido, ver: PEIXOTO, Ravi. Superação do precedente e segurança
jurídica. p. 217.
131
317
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p. 4.
318
“An argument from precedent seems at first to look backward. The
traditional perspective on precedent, both inside and outside of law, has
therefore focused on the use of yesterday's precedents in today's decisions.
But in an equally if not more important way, an argument from precedent
looks forward as well, asking us to view today's decision as a precedent for
tomorrow's decisionmakers. Today is not only yesterday's tomorrow; it is
also tomorrow's yesterday. A system of precedent therefore involves the
special responsibility accompanying the power to commit the future before
we get there.” Tradução livre: “Argumentar com base em precedentes
aparenta de início ser um olhar para trás. A perspectiva tradicional sobre o
precedente, tanto dentro como fora do Direito, enfocou, portanto, o uso dos
precedentes de ontem nas decisões de hoje. Mas, de maneira tão ou até mais
importante um argumento do precedente também olha para a frente,
desafiando-nos a ver as decisões de hoje como precedentes para os
julgadores de amanhã. Hoje não é só o amanhã de ontem; É também o
ontem de amanhã. Um sistema de precedentes envolve, portanto, a especial
responsabilidade que acompanha o poder de comprometer o futuro antes de
chegarmos lá” (SCHAUER, Frederick. Precedent. Stanford Law Review, v.
39, n. 3, p. 572-573, 1986-1987).
319
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 331.
132
320
CROSS, Rupert. Precedent in english law. p. 130-131.
137
321
Remete-se o leitor ao subitem 1.1.1, onde discutiu-se a distinção de Schauer
sobre aprender com o passado e seguir o passado.
322
Nesse sentido, Hermes Zaneti Jr. explica que o modelo de precedentes
depende da observância dos próprios precedentes pelos tribunais que os
estabelecem (ZANETI JR., Hermes. Comentários ao art. 927, do CPC/15.
In: CABRAL, Antônio do Passo; CRAMER, Ronaldo (Coords.).
Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense,
2016. p. 1335; e também o Enunciado 169 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis: “Os órgãos do Poder Judiciário devem
obrigatoriamente seguir os seus próprios precedentes, sem prejuízo do
disposto nos § 9º do art. 1.037 e §4º do art. 927.”
323
Enunciado 322 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, art. 927, §4º:
“A modificação de precedente vinculante poderá fundar-se, entre outros
motivos, na revogação ou modificação da lei em que ele se baseou, ou em
alteração econômica, política, cultural ou social referente à matéria
decidida.”
139
324
Nas palavras de Antônio Cabral: “a busca pela correção e o aprimoramento
das decisões deve permitir alterações de conteúdo em julgamentos futuros.
Da mesma forma que todos prezamos que um entendimento consolidado
tenha estabilidade, deve ser natural ao sistema jurídico a sua alteração pela
percepção de que este mesmo entendimento está equivocado ou que a
modificação da própria sociedade revela sua obsolescência. Em nome da
evolução e desenvolvimento do direito, a jurisprudência deve estar aberta à
mudança.” (CABRAL, Antonio do Passo. A técnica do julgamento alerta na
mudança de jurisprudência consolidada. Revista de Processo, v. 221, p. 3-4,
jul. 2013.
325
SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do precedente judicial à súmula
vinculante. p. 148-149.
326
Expressão utilizada por Marinoni por exemplo, em: MARINONI, Luiz
Guilherme. Precedentes obrigatórios.
140
327
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de Direito Administrativo.
São Paulo: Malheiros, 2010. p. 449: “revogação é a extinção de um ato
administrativo ou de seus efeitos por outro ato administrativo, efetuada por
razões de conviência e oportunidade, respeitando-se os efeitos precedentes”.
328
Nesse sentido, Luiz Guilherme Marinoni diz o seguinte: “Como é óbvio, não
se quer dizer com isso que o Supremo Tribunal Federal não possa, diante da
alteração da realidade social, da evolução da tecnologia ou da própria
transformação da compreensão do direito (o que não se confunde com o
mero repensar o direito), entender que os fundamentos das suas decisões
perderam consistência, e que, assim, os seus precedentes devem ser
revogados. Isto é plenamente viável no common law. Aliás, isso sempre foi
praticado nos Estado Unidos. No common law, os precedentes são
revogados fundamentalmente mediante o que se denomina de overruling.
Não há dúvida que o Supremo Tribunal Federal pode revogar os seus
precedentes. Pode revogar, note-se bem, as rationes decidendi das suas
decisões. Para tanto, contudo, tem de se desincumbir de pesado ônus
argumentativo, demonstrando que as razões que levaram à elaboração do
precedente que se quer revogar não são mais sustentáveis em virtude de
motivos novos, que devem ser mostrados presentes Tais “motivos novos”, é
evidente, estão muito longe de novos entendimentos pessoais acerca da
questão já debatida” (MARINONI, Luiz Guilherme. Uma nova realidade
diante do projeto de CPC: a ratio decidendi ou os fundamentos
determinantes da decisão. In: FREIRE, Alexandre; DANTAS, Bruno;
NUNES, Dierle; DIDIER JR., Fredie; MEDINA, José Miguel Garcia; FUX,
Luiz; CAMARGO, Luiz Henrique Volpe; DE OLIVEIRA, Pedro Miranda
(Orgs.). Novas tendências do processo civil. p. 859).
141
333
PEIXOTO, Ravi. Superação do precedente e segurança jurídica. p. 203.
334
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 44-47.
335
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 46.
143
apenas dizem que ele não é aplicável ao caso analisado336 (na expressão
de Duxbury, “good but inapplicable law” ao invés de “bad law”337).
Por outro lado, ocorre a quebra da congruência quando aplica-se
o precedente de forma a formular uma distinção – ou negar a existência
de uma – baseado em razões incompatíveis com as proposições sociais
que dão sustento ao precedente. Dessa forma, os fundamentos
determinantes do precedente deixam de guardar coerência com outras
decisões. E essas distinções são qualificadas por isso como
inconsistentes, porque são incompatíveis com as razões que dão sustento
ao precedente.338
Por exemplo, seria evidentemente uma decisão inconsistente
excepcionar a aplicação de uma norma jurídica sobre responsabilidade
civil por acidente de trânsito com base na naturalidade do motorista. As
distinções inconsistentes são facilmente desmascaradas como
formulações não universalizáveis, associadas a uma aplicação
parcializada do precedente.
Para aclarar o ponto, pode-se erigir um paralelo entre a teoria de
Celso Antônio Bandeira de Mello acerca das violações ao princípio da
isonomia e a formulação de distinções inconsistentes. Segundo o autor,
quando a lei empreende diferenciação entre indivíduos – determinado
benefício para determinado grupo, por exemplo – deve haver uma
correlação lógica entre o fator de discriminação (critério utilizado) e a
diferenciação empreendida (efeitos jurídicos).339
Um exemplo dado pelo autor é a concessão de licença
remunerada a funcionários gordos para frequentarem congresso
religioso. O critério de diferenciação (fator de discrímen) escolhido –
compleição corporal – não é em si insuscetível de fundamentar
diferenciações pela lei. O que o torna inadmissível é que não guarda
qualquer correlação lógica com os efeitos jurídicos atribuídos – licença
remunerada para frequentar congresso religioso.
Para Bandeira de Mello, portanto, “a discriminação não pode ser
gratuita ou fortuita. Impende que exista uma adequação racional entre o
336
BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial. p. 470.
337
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p. 113.
338
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 136-138.
339
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. O conteúdo jurídico do princípio
da igualdade. São Paulo: Malheiros, 1993. p. 37-40.
144
340
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. O conteúdo jurídico do princípio
da igualdade. p. 39.
341
Luiz Guilherme Marinoni destaca a aptidão da formulação das distinções
inconsistentes como um passo provisório para a superação do precedente
(MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. p. 334).
145
342
“The very fact that a judge explicitly departs from a precedent might be
considered evidence that the precedent has some authority, for explicit
departure from a precedent invariably entails an explanation; judicial
precedents would only be devoid of authority if judges felt no need to offer
reasons for their actions in those instances when they choose not to follow
them.” Tradução livre: “O próprio fato de um juiz se afastar explicitamente
de um precedente pode ser considerado evidência de que o precedente tem
alguma autoridade, pois o explícito afastamento de um precedente
invariavelmente demanda uma explicação; Os precedentes judiciais só
estariam desprovidos de autoridade se os juízes não sentissem necessidade
de oferecer razões para justificar porque optaram por não segui-los”
(DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. p. 112).
343
Nesse sentido ver subitens 2.3.1 e 2.3.2.
344
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 137-138.
345
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 103-105.
146
346
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. p. 104.
347
“É claro que essas situações também podem ser evidenciadas pelos tribunais
mediante distinções inconsistentes. Essas distinções, especialmente quando
fundadas em proposições sociais inconsistentes com as que embasam o
147
350
Lei Federal 9.868/99: “Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por
maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em
julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.”.
351
Como bem destacam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, em
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Comentários ao
Código de Processo Civil: arts. 926 a 975. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. p. 178.
352
Como Bustamante destaca, a proposição de efeitos apenas para uma data
futura demonstra normalmente que o tribunal “pretende dar uma chance ao
legislador para que faça as alterações no Direito necessárias para a aplicação
tranquila e adequada desse novo precedente judicial” (BUSTAMANTE,
Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial. p. 421).
353
STF, Tribunal Pleno, ADI 4425 QO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em
25/03/2015, DJe 03/08/2015.
354
STF, Tribunal Pleno, ADI 4270, rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em
14/03/2012, DJe 24/09/2012.
149
357
CF/88, Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data
de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data
de sua vigência (Redação dada pela Emenda Constitucional 4, de 1993).
358
Nesse sentido, ver: CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil
brasileiro. p. 441; MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o
direito processual civil. p. 259.
359
Victor Nunes Leal explica que: “a Súmula pode modificar-se, ou perder sua
eficácia, total ou parcialmente, quando se altera a norma de direito cuja
interpretação nela se traduz. Com o evolver das reformas constituintes e
legislativas, alguns enunciados ficam prejudicados, no todo ou em parte,
sem direta interferência do Supremo Tribunal, que apenas registra ou
divulga tais consequências. Assim, por exemplo, quando se reduziu aos
casos de ofensa à Constituição o recurso extraordinário em matéria
trabalhista, uma série de súmulas - salvo para fins retrospectivos – deixou de
ter utilidade. O mesmo aconteceu em casos de modificações de leis ou
decretos” (LEAL, Victor Nunes. Passado e futuro da súmula do STF.
Revista de Direito Administrativo, n. 145, p. 6, jul.-set. 1981).
151
360
Morgana Galio sustenta que a alteração do texto legislativo importa
superação automática, independente da manifestação do Judiciário (GALIO,
Morgana Henicka. Overruling. p. 237). Não não se pode concordar com a
referida posição porque não há como conceber superação automática, já que
o modo como a legislação se relacionará com o precedente anterior deverá
necessariamente ser objeto de interpretação.
361
Além disso, “A correção legislativa pode ainda cumprir a importante tarefa
de rediscutir um tema decidido pelo Judiciário sem as considerações
sistêmicas que múltiplas decisões judiciais podem acarretar. Ou seja, a
correção legislativa pode funcionar como instrumento legítimo de nova
discussão de temas decididos por meio de entendimentos jurisprudenciais
decorrentes da típica "visão de túnel" dos processos judiciais, nos quais
geralmente os aspectos particulares do caso em exame acabam prevalecendo
em relação à visão panorâmica e sistêmica do assunto” (OLIVEIRA,
Gustavo da Gama Vital de. Estado legislativo e correção legislativa da
jurisprudência. Revista de Direito Constitucional e Internacional, v. 73,
2010, p. 13).
362
ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. p. 345.
152
363
Conforme analisado por Margaret Kniffen no sistema jurídico americano em
KNIFFEN, Margaret N. Overruling supreme court precedents: antecipatory
actions by United States Court of Appeals. In: Fordham Law Review, vol.
51, issue 1, article 2, p. 53-89.
364
Nada obstante, Morgana Henicka Galio em GALIO, Morgana Henicka.
Overruling. p. 251-257 trouxe o exemplo dos casos de prisão do depositário
infiel, pois mesmo antes do STF formalmente cancelar a súmula 619 (“A
prisão do depositário judicial pode ser decretada no próprio processo em que
se constituiu o encargo, independentemente da propositura de ação de
depósito.”) e concluir o julgamento do RE 466.343 – onde a matéria era
debatida – já foram concedidos habeas corpus de ofício no STF e outra
cortes para sustar prisões baseadas na condição de depositário infiel (nesse
sentido ver no STF: HC 93.435, HC 90.354 e HC 88.173).
365
Sobre a superação de enunciado de súmula, Ronaldo Cramer sustenta que:
“os únicos precedentes que são modificados de forma abstrata são as
súmulas. Esse tipo de precedente – que, como visto, é um precedente lato
153
367
DINAMARCO, Cândido Rangel. Capítulos de sentença. São Paulo: Saraiva,
2014.
368
CRAMER, Ronaldo. Precedentes judiciais. p. 198.
155
369
Como também destacam: PINHO, Humberto Dall Bernardina de;
RODRIGUES, Roberto de Araguão Ribeiro. O microssistema de formação
de precedentes vinculantes previsto no novo CPC. Revista de Processo, São
Paulo, ano 41, v. 259, p. 414, set. 2016; e CAMBI, Eduardo; ALMEIDA,
Vinicius Gonçalves. Segurança jurídica e isonomia como vetores
argumentativos para a aplicação dos precedentes judiciais. Revista de
Processo, São Paulo, ano 41, v. 260, p. 277-304, out. 2016.
156
370
“Quando o autor propõe uma demanda em juízo, forma-se uma relação
jurídica entre ele e o juiz; com a citação do réu, esta relação jurídica se
completa, ligando o réu ao juiz; e todos são, enquanto sujeitos processuais
titulares de direitos, poderes e faculdades, e os correspondentes, deveres
sujeições e ônus.” (ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria geral do
processo. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 170.
371
Aluísio Gonçalves de Castro Mendes e Larissa Clare Pochmann da Silva
compreendem que nos casos de coincidência entre as previsões do art. 927 e
art. 332 há um dever do magistrado, e não mera faculdade, de julgar
liminarmente improcedente o pedido (MENDES, Aluisio Gonçalves de
Castro; SILVA, Larissa Clare Pochmann. O julgamento liminar de
improcedência do pedido: a previsão do CPC/2015 comparada à do
CPC/1973. Revista de Processo, São Paulo, ano 41, v. 261, p. 150, nov.
2016. Daniel Amorim Assumpção Neves também vê um dever do juiz,
argumentando que essa conclusão “não depende de expressão legal, mas sim
da eficácia vinculante dos entendimentos consolidados pelos tribunais que
admitem essa espécie de julgamento liminar” (NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Novo Código de Processo Civil comentado. Salvador:
JusPodivm, 2016. p. 568). No mesmo sentido Ezair Meurer observa que o
dispositivo impõe dever ao magistrado quando utiliza-se da forma verbal
imperativa “julgará” , diferentemente da hipótese de reconhecimento de
prescrição e decadência (§1º, do art. 332, CPC/15) onde o legislador utiliza
157
à época, Min. Cezar Peluso, entendeu aplicável o rito especial do art. 12,
da Lei Federal 9.868/99, que prevê o julgamento de mérito definitivo
após informações e pareceres da AGU e PGJ em face à “relevância da
matéria e de seu especial significado para a ordem social e a segurança
jurídica”. Chegou a haver pedido de pauta, mas o julgamento nunca
ocorreu, e é provável que o mérito não seja mais analisado em face da
revogação pelo CPC/15 e da substancial alteração pela qual passou o
dispositivo.376
Em comparação com o regime do art. 285-A do Código
revogado, primeiro ponto que chama atenção é a substituição do
requisito da “sentença de total improcedência” do mesmo juízo, pelo rol
de decisões e enunciados de súmula do novo art. 332. Esta alteração vai
na linha do que a doutrina já sustentava no sentido de ser insuficiente
apenas a sentença do próprio juízo para autorizar o julgamento
liminar377, o que já era acatado pela jurisprudência.378
376
Sobretudo, considerando o entendimento há muito consagrado no STF de
que “Diante da revogação das normas impugnadas, o objeto da pretensão
inicial não mais subsiste, revelando-se inviável o exame de sua
compatibilidade com a Carta Maior por meio do controle abstrato de
constitucionalidade. 3. A jurisprudência dessa Suprema Corte é pacífica
quanto à prejudicialidade da ação direta de inconstitucionalidade, por perda
superveniente de objeto, quando sobrevém a revogação ou alteração
substancial da norma questionada em sua constitucionalidade” (STF,
Tribunal Pleno, ADI 4061 ED, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/08/2015,
DJe- 16/09/2015).
377
Nesse sentido: NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de
Processo Civil comentado. p. 567; FREIRE, Alexandre; RAMOS NETO,
Newton Pereira. In: STRECK, Lênio Luiz; NUNES, Dierle; CUNHA,
Leonardo. (Orgs.). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 481; TEIXEIRA, Guilherme Freire. In: CUNHA, José
Sebastião Fagundes; BOCHENEK, Antonio César; CAMBI, Eduardo
(Coords.). Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016. p. 590
378
Como já decidia o Superior Tribunal de Justiça: “Deve ser afastada a
aplicação do artigo 285-A do Código de Processo Civil quando o
entendimento do juízo de Primeira Instância estiver em desconformidade
com orientação pacífica de Tribunal Superior ou do Tribunal local a que se
encontra vinculado” (STJ, Segunda Turma, REsp 1279570/MG, rel. Min.
Mauro Campbell Marques, julgado em 08/11/2011, DJe 17/11/2011).
Também: “É necessário, para que o objetivo visado pelo legislador seja
alcançado, que o entendimento do Juiz de 1º grau esteja em consonância
159
380
Em sentido contrário, considerando por si só a falta de homogeneidade como
um entrave: PINHO, Humberto Dall Bernardina de; RODRIGUES, Roberto
de Araguão Ribeiro. O microssistema de formação de precedentes
vinculantes previsto no novo CPC. Revista de Processo, São Paulo, ano 41,
v. 259, p. 422, set. 2016.
381
A presença da súmula de direito local no art. 332 enquanto ausente no art.
927 também é notada por Fredie Didier Jr. O autor justifica a desarmonia
apontando que até a votação de projeto substitutivo na Câmara dos
Deputados em 26/11/13, havia projeção para um sexto inciso no atual art.
927 que tomaria por vinculantes também as súmulas de direito local
(DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. vol. 1. p. 598).
382
Caso houvesse desrespeito à parte dispositiva da decisão em controle
concentrado (art. 103, §2º, CF), seria causa para extinguir-se a ação sem
resolução de mérito por falta de interesse processual, o que não provocaria
coisa julgada material apesar do efeito obstativo à nova demanda do art.
486, §1º, CPC/15.
161
383
Como as liminares em “ações possessórias de força nova” (art. 562, do
CPC/15 e art. 928 do CPC/73) e a fixação de aluguel provisório nas ações
revisionais de aluguel (art. 68, II, da Lei Federal 8.245/91, como lembram
Câmara, Pedron e Tolentino (CÂMARA, Alexandre Freitas; PEDRON,
Flávio Quinaud; TOLENTINO, Fernando Lage. Tutelas provisórias no CPC
1973 e no CPC 2015: o quanto o novo tem de inovador? Revista de
Processo, São Paulo, ano 41, v. 262, p. 180, dez. 2016). Yuri Gross
Magadan também elenca os exemplos das liminares concedidas em
embargos de terceiro e mandado de segurana, que ex lege não demandam
demonstração do perigo de dano (MAGADAN, Yuri Grossi. Hipóteses de
antecipação de tutela. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editora, 2009. p.
93).
384
Enquanto meio processual de atingimento da tutela jurisdicional de urgência
(LAMY, Eduardo de Avelar. Flexibilização da tutela de urgência. Curitiba:
Juruá, 2007. p. 43).
385
Nesse sentido, Nelson Nery Junior fala em “altíssimo grau de certeza quanto
ao direito deduzido” (NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de
Andrade. Código de processo civil comentado. p. 948).
386
Luiz Guilherme Marinon aponta que “em qualquer processo civil há uma
situação concreta, uma luta por um bem da vida, que incide de modo
radicalmente oposto sobre as posições das partes. A disputa pelo bem da
vida perseguido em juízo, justamente porque demanda tempo, somente pode
prejudicar o autor que tem razão e beneficar o réu que não a tem. No
processo civil, a demora na obtenção do bem significa a sua preservação no
patrimônio do réu. Quanto maior for a demora do processo maior será o
162
388
Nesse sentido ver: DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,
Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. vol. 2. p. 638;
DOTTI, Rogéria Fagundes. In: CUNHA, José Sebastião Fagundes;
BOCHENEK, Antonio César; CAMBI, Eduardo (Coords.). Código de
Processo Civil comentado. p. 557; MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes
judiciais e o direito processual civil. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 488;
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil
comentado. p. 510-511.
389
Vide crítica, no item anterior, à não menção à decisão em controle
concentrado de constitucionalidade que, enquanto enunciado da súmula
local, pode promover a improcedência liminar.
390
Como explica Luiz Guilherme Marinoni: “quando o direito do autor está
evidenciado (prova dos fatos constituvos, por exemplo) e há uma defesa
provavelmente infundada, a tutela antecipatória pode se basear no art. 273,
II. Atua, como é óbvio, a técnica da cognição sumária” (MARINONI, Luiz
164
393
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito
processual civil. v. 3. Salvador: Juspodivm, 2010. p. 483.
394
Reforma do CPC/73, empreendida pela Lei Federal 10.352/01.
395
Código de Processo Civil de 1973, “Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de
jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal,
a sentença: I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o
Município, e as respectivas autarquias e fundações de direito público; II -
que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de
dívida ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI). § 1 Nos casos previstos neste
artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, haja ou não apelação;
não o fazendo, deverá o presidente do tribunal avocá-los. § 2 Não se aplica o
disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito controvertido,
for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem
como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de
dívida ativa do mesmo valor. § 3 Também não se aplica o disposto neste
artigo quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do
Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal
superior competente.”
166
396
Já que o julgamento da remessa necessária apenas poderia melhorar a
situação da Fazenda Pública conforme enunciado da Súmula 45, do STJ:
“No reexame necessário, é defeso, ao tribunal, agravar a condenação
imposta à Fazenda Pública” (STJ, Primeira Seção, Súmula 45, aprovada em
16/06/92, DJ 26/06/92).
397
À exceção da previsão à súmula do tribunal respectivo em direito local (art.
332, IV, CPC/15).
167
398
Pedro Miranda de Oliveira explica que “em termos de ciência processual,
negar seguimento simplesmente não existe. Em sede recursal há apenas as
fases de admissibilidade e de mérito, em que primeiramente admite-se
(conhece-se) ou não o recurso; depois, conhecendo-o, o órgão judicante
deve dar-lhe ou negar-lhe provimento (no mérito). Nada mais” (MIRANDA
DE OLIVEIRA, Pedro. Novíssimo sistema recursal: conforme o CPC/2015.
p. 138). No entanto, a Lei Federal 13.256/16, na nova redação do art. 1.030,
I, CPC/15, reavivou a expressão “negar seguimento” para as hipóteses de
admissibilidade dos recursos excepcionais.
168
399
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil:
arts. 476 a 565. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 685.
400
MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual civil.
p. 509.
169
401
MIRANDA DE OLIVEIRA, Pedro. Agravo interno e agravo regimental.
São Paulo: RT, 2009. p. 134-135; e MOREIRA, José Carlos Barbosa.
Comentários ao código de processo civil, Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de
1973, vol. V: arts. 476 a 565. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 680.
402
“O art. 932, inciso VIII do Novo Código de Processo Civil dispõe incumbir
ao relator exercer outras atribuições estabelecidas no regimento interno do
tribunal. Por sua vez, o art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal, ao enumerar as atribuições do relator, faculta a ele negar
seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente ou
contrário à jurisprudência dominante ou a Súmula do Tribunal. Essa é
exatamente a hipótese dos autos” (STF, Segunda Turma, ARE 952829 AgR,
rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/09/2016, DJe 19/10/2016).
170
Dessa forma, vê-se que tanto STF quanto STJ, baseados no inciso
VIII, art. 932, do CPC/15, atribuem competência unipessoal mais ampla
ao relator para julgamento dos recursos e procedimentos do que os
incisos IV e V, art. 932, CPC/15.
De maneira geral, estando o precedente vinculante (ou ainda a
“jurisprudência dominante”) em prol ou contra o recorrente, haverá de
possibilitar-se julgamento monocrático, abreviando-se o procedimento
aplicável, sobretudo se o sucumbente deixar de interpor o agravo interno
cabível, o que fará transitar em julgado a decisão monocrática.
403
Redação original do Código de Processo Civil de 2015, “Art. 1.030.
Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o
qual os autos serão remetidos ao respectivo tribunal superior. Parágrafo
único. A remessa de que trata o caput dar-se-á independentemente de juízo
de admissibilidade.”.
404
Que agora é exclusivo dos recursos excepcionais, já que a apelação não é
mais recebida em 1º grau (art. 1.010, §3º, CPC/15).
173
405
Esta é a regra geral, como descreve Araken de Assis, de acordo com as
competências distribuídas pelas Constituições Federal e Estaduais. O autor
explica que o juízo de admissibilidade é conferido também ao órgão a quo
justamente por razões de economia processual, a fim de possivelmente
evitar o processamento de um recurso fadado a não ser conhecido. Explica
que “idênticas razões, tomadas no seu inverso, indicam a inconveniência de
atribuir o julgamento, de meritis, do recurso ao mesmo órgão que proferiu a
decisão. O breve espaço de tempo decorrido entre a prolação do ato e a
interposição não enseja, salvo em situações excepcionais, clima propício à
mudança do entendimento externado. É preciso, nesta contingência,
configurar-se situação peculiar para, expressis verbis, atribuir competência
para o órgão a quo julgar o recurso” (ASSIS, Araken de. Manual dos
recursos. 6. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 138-
139).
174
406
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil:
arts. 476 a 565. p. 263;
407
ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa; DANTAS, Bruno. Recurso
especial, recurso extraordinário e a nova função dos tribunais superiores
no Direito brasileiro. p. 408.
408
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil:
arts. 476 a 565. p. 589; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Recurso
especial, recurso extraordinário e ação rescisória. 2. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2008. p. 252; NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral
dos recursos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 243;
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso extraordinário e recurso
especial. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 250-
252. MEDINA, José Miguel Garcia. Prequestionamento e repercussão
geral. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 63-65.
409
Como destaca MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de
Processo Civil: arts. 476 a 565. p. 632-635.
175
410
Código de Processo Civil de 1973, “Art. 544. Não admitido o recurso
extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo nos próprios autos, no
prazo de 10 (dez) dias. [...] § 2° A petição de agravo será dirigida à
presidência do tribunal de origem, não dependendo do pagamento de custas
e despesas postais. O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de
10 (dez) dias oferecer resposta, podendo instruí-la com cópias das peças que
entender conveniente. Em seguida, subirá o agravo ao tribunal superior,
onde será processado na forma regimental” (Redação dada pelas Leis
Federais 10.352/01 e 12.322/10).
411
Nesse sentido, ver STF, Tribunal Pleno, AI 760358 QO, rel. Min. Gilmar
Mendes (Presidente), julgado em 19/11/2009, DJe 11/02/2010.
177
415
Consta do voto condutor, da Min. Presidente Ellen Gracie, que: “também
para as situações em que o acórdão recorrido seja contrário ao entendimento
consolidado no Plenário, devem-se estender os efeitos da repercussão geral.
A circunstância de ser presumido o pressuposto de admissibilidade em casos
tais (§3º do art. 543-A, do CPC) e a possibilidade de julgamentos
monocráticos dos correspondentes recursos extraordinários e agravos de
instrumento, não devem subtrair do instituto da repercussão geral a
totalidade dos seus efeitos, em especial a possibilidade de retratação, pelos
Tribunais e Turmas Recursais de origem, das decisões que forem contrárias
ao entendimento aqui consolidado“; Depois complementa que “a adoção
deste procedimento permitirá, quando for o caso, a própria revisão de tese
por esta Corte, evitando-se que os órgãos de origem apliquem
indistintamente os efeitos da repercussão geral aos casos em que há mera
presunção legal, com os riscos da posterior modificação do entendimento
nesta Casa” (STF, Tribunal Pleno, RE 579431 QO, Rel. Min. Ellen Gracie
(Presidente), julgado em 13/03/2008, DJe 23/10/2008).
179
416
Da ementa da questão de ordem no RE 579431: “Fica, nesse sentido,
aprovada a proposta de adoção de procedimento específico que autorize a
Presidência da Corte a trazer ao Plenário, antes da distribuição do RE,
questão de ordem na qual poderá ser reconhecida a repercussão geral da
matéria tratada, caso atendidos os pressupostos de relevância. Em seguida, o
Tribunal poderá, quanto ao mérito, (a) manifestar-se pela subsistência do
entendimento já consolidado ou (b) deliberar pela renovação da discussão
do tema. Na primeira hipótese, fica a Presidência autorizada a negar
distribuição e a devolver à origem todos os feitos idênticos que chegarem ao
STF, para a adoção, pelos órgãos judiciários a quo, dos procedimentos
previstos no art. 543-B, § 3º, do CPC. Na segunda situação, o feito deverá
ser encaminhado à normal distribuição para que, futuramente, tenha o seu
mérito submetido ao crivo do Plenário” (STF, Tribunal Pleno, RE 579431
QO, Rel. Min. Ellen Gracie (Presidente), julgado em 13/03/2008, DJe
23/10/2008).
417
RI/STF “Art. 323-A. O julgamento de mérito de questões com repercussão
geral, nos casos de reafirmação de jurisprudência dominante da Corte,
também poderá ser realizado por meio eletrônico” (Incluído pela Emenda
Regimental 42/2010).
418
Muito embora a doutrina posicione-se no sentido de que o julgamento via
Plenário Virtual deve restringir-se à verificação da existência ou não de
repercussão geral (ROSA, Sandro Luiz de Oliveira. Repercussão geral no
recurso extraordinário. Curitiba: Juruá, 2013. p. 164).
419
Sustentou o Ministro: “Aqui há presunção de repercussão geral. Ora,
podemos interpretar esse dispositivo para nele ver incluída norma a revelar
180
421
Sobre esses critérios ver item 2.4 retro.
183
422
ALEXANDER, Larry. Constrained by precedent. Southern California Law
Review, v. 63, n. 1, p. 4, 1989-1990. Disponível em:
<http://www.umiacs.umd.edu/~horty/courses/readings/alexander-1989-
constrained-precedent.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2016.
423
KELSEN, Hans. Jurisdição constitucional. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
p. 50-51.
184
424
Nesse sentido, a clássica citação de Blackstone: “where there is a legal right,
there is also a legal remedy” (BLACKSTONE, William. Commentaries on
the laws of England in four books. v. 3. Philadelphia: J. B. Lippincott
Company, 1893. p. 23).
425
U.S. SUPREME COURT. Marbury v. Madison, 5 U.S. 1 Cranch 137 137
(1803). Disponível em:
<https://supreme.justia.com/cases/federal/us/5/137/case.html>. Acesso em:
19 jan. 2016.
426
ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. p. 337.
185
427
Esta dualidade de atribuições do Poder Judiciário foi discutida no item 1.1.3;
428
Rogério Lauria Cruz e Tucci e José Rogério Cruz e Tucci aduzem que: o
direito que se exerce mediante a ação (ação da parte) é o direito à jurisdição,
que é conferido à toda coletividade de maneira abstrata genérica e
incondicionalmente. Daí porque “se torna óbvia a admissibilidade de
controle de ato administrativo, pelo Poder Judiciário, através do exercício do
direito à jurisdição, [...], pela ação adequada ao reconhecimento e/ou à
satisfação do direito subjetivo material lesado ou ameaçado de lesão”
(TUCCI, Rogério Lauria; TUCCI, José Rogério Cruz e. Constituição de
1988 e process. p. 91).
429
Conforme explorado em: OLIVEIRA, Weber Luiz de. Precedentes judiciais
na administração pública. Salvador: Juspodivm, 2017 e LAMY, Eduardo de
Avelar; SCHMITZ, Leonard Ziesemer. A administração pública federal e os
precedentes do STF. Revista de Processo, v. 214, p. 208-213, dez. 2012.
186
430
Entendido aqui sinônimo de remédio processual no sentido dos “mecanismos
de que podem se valer as partes para impugnar uma decisão judicial”
(ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Recurso especial, recurso
extraordinário e ação rescisória. p. 463).
187
431
BARIONI, Rodrigo. Ação rescisória e recursos para os tribunais superiores.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. p. 23.
188
437
"Nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, em sede de
controle abstrato de constitucionalidade, a eficácia vinculante dos acórdãos
abrange apenas o objeto examinado pela Corte. Dessa forma, o que vincula
os demais órgãos não é a fundamentação dos julgados, mas apenas seu
dispositivo, afastando-se a chamada “teoria da transcendência dos motivos
determinantes” (STF, Primeira Turma, Rcl 4454 AgR, rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 03/03/2015, DJe 16/03/2015). Também conferir nesse
sentido: Rcl 3.108 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio; Rcl 10.125 AgR, Rel.
Min. Dias Toffoli; Rcl 13.300 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia).
438
Nesse sentido, ver no STF: Rcl 2.475-AgR/MG, rel. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgamento em 02/08/07, DJe de 31/01/08;
Rcl 3.014/SP, Rel. Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, DJe de 20/05/10; Rcl
6.204-AgR/AL, Rel. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, DJe de 27/05/10; Rcl
6.319-AgR/SC, Rel. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, DJe de 05/08/10; Rcl
9.778-AgR/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, DJe de
10/11/11; Rcl 11.831-AgR/CE, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno,
DJe de 14/11/11. E no STJ: AgRg na Rcl 14.234/RS, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Primeira Seção, DJe de 21/08/2014; AgRg na Rcl 16.032/RJ,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe de 21/05/2014;
AgRg na Rcl 10.298/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda
Seção, DJe de 15/04/2013.
191
439
Tal como sustenta DAL MONTE, Douglas Anderson. Reclamação no
CPC/15. p. 108-111. Essa temática será retomada no item 3.6.
192
440
Nessa linha é a conclusão de: LEONEL, Ricardo de Barros. Reclamação
constitucional. p. 306-308, ao comentar uma versão anterior do então
projeto do novo Código de Processo Civil.
441
O leading case apontado pela doutrina é o julgamento Rcl 141, de
25/01/1952. Segundo Marcelo Navarro Ribeiro Dantas: ”Não que tenha sido
a primeira (aliás, já era a 141.ª reclamação julgada), e no próprio teor de
seus votos foram referidos pronunciamentos anteriores a respeito. Mas nela,
a questão dos fundamentos para a criação dessa medida, sua destinação,
alcance e objetivos foram debatidos – e é possível perceber que, embora
ainda se confundissem com os da reclamação correicional, começaram,
decididamente, a tomar rumo bastante distinto” (DANTAS, Marcelo
Navarro Ribeiro. Reclamação constitucional no direito brasileiro. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2000. p. 175).
442
Nesse sentido, ver subitem 1.3.1.
443
Ver STF, Primeira Turma, Rcl 4454 AgR, rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 03/03/2015, DJe 16/03/2015.
444
Nesse sentido, ver: STF, Segunda Turma, Rcl 19608 AgR, rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 05/05/2015, DJe 02/03/2015; STF, Primeira Turma,
Rcl 7706 AgR, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 10/06/2014; DJe 14/08/14
e STF, Segunda Turma, Rcl 7280 AgR, rel. Min. Celso de Mello, julgado
em 10/06/2014, DJe 31/07/2014.
193
445
Parágrafos acrescentados ao art. 84, do CPP: “§ 1° A competência especial
por prerrogativa de função, relativa a atos administrativos do agente,
prevalece ainda que o inquérito ou a ação judicial sejam iniciados após a
cessação do exercício da função pública. § 2° A ação de improbidade, de
que trata a Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, será proposta perante o
tribunal competente para processar e julgar criminalmente o funcionário ou
autoridade na hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício de
função pública, observado o disposto no § 1°.”
446
Súmula 394 do STF (Cancelada): “Cometido o crime durante o exercício
funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função,
ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação
daquele exercício.”
194
447
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. p. 676-679.
195
448
A esse respeito conferir o art. 59 da Constituição Republicana de 1891, art.
76 da Constituição de 1934, art. 101 da Constituição de 1937, art. 101, da
Constituição de 1946, art. 114, da Constituição de 1967 e 119 da EC 1/69.
449
Cf. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada. p. 1368; e
ACCIOLI, Wilson. Instituições de Direito Constitucional. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1981. p. 498.
450
U.S. SUPREME COURT. Marbury v. Madison, 5 U.S. 1 Cranch 137 (1803).
Disponível em:
<https://supreme.justia.com/cases/federal/us/5/137/case.html>. Acesso em:
19 jan. 2016.
451
Constituição dos Estados Unidos, Artigo III, Seção 2, Cláusula 2: “In all
Cases affecting Ambassadors, other public Ministers and Consuls, and those
in which a State shall be a Party, the supreme Court shall have original
Jurisdiction. In all the other Cases before mentioned [within the judicial
power of the United States], the supreme Court shall have appellate
Jurisdiction, both as to Law and Fact, with such Exceptions, and under such
Regulations as the Congress shall make.” Tradução livre: “Em todos os
casos que envolvam embaixadores, outros ministros públicos e cônsules, e
aqueles em que um Estado for Parte, a Suprema Corte terá jurisdição
originária. Em todos os outros casos antes mencionados [dentro do Poder
Judiciário dos Estados Unidos], a Suprema Corte terá jurisdição de
apelação, tanto em Direito como em Fato, com exceções e sob os
regulamentos que o Congresso aprovar.”
196
452
Judiciary Act of 1789, § 13: “The Supreme Court shall also have appellate
jurisdiction from the circuit courts and courts of the several states, in the
cases herein after provided for; and shall have power to issue writs of
prohibition to the district courts [...] and writs of mandamus [...] to any
courts appointed, or persons holding office, under the authority of the
United States.” Tradução livre: A Suprema Corte terá também jurisdição de
apelação dos tribunais de circuito e tribunais dos vários Estados, nos casos
aqui previstos; E terá poder para emitir mandados de proibição aos tribunais
distritais [...] e writs of mandamus [...] a quaisquer tribunais apontados, ou
pessoas ocupando cargos, sob a autoridade dos Estados Unidos.”
453
Nesse sentido, conferir RTJ 39/56, RTJ 43/129, RTJ 44/563, RTJ 50/72 e
RTJ 53/776.
197
454
Carlos Maximiliano escreve descreve esta ideia: “Verba cum effectu, sunt
accipienda: “Não se presumem, na lei, palavras inúteis.” Literalmente:
“Devem-se compreender as palavras como tendo alguma eficácia.” As
expressões do Direito interpretam-se de modo que não resultem frases sem
significação real, vocábulos supérfluos, ociosos, inúteis. Pode uma palavra
ter mais de um sentido e ser apurado o adaptável à espécie, por meio do
exame do contexto ou por outro processo; porém a verdade é que sempre se
deve atribuir a cada uma a sua razão de ser, o seu papel, o seu significado, a
sua contribuição para precisar o alcance da regra positiva”
(MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do Direito. 20. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 204).
198
455
MONTEIRO, Samuel. Recurso especial e extraordinário. São Paulo:
Hemus, 1992. p. 293; TUCCI, Rogério Lauria; TUCCI, José Rogério Cruz
e. Constituição de 1988 e processo. p. 118; MANCUSO, Rodolfo de
Camargo. Recurso extraordinário e recurso especial. p. 177; ASSIS,
Araken de. Manual dos recursos. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013. p. 737. Sérgio Bermudes, criticando o art. 541 do CPC/73,
pontua que “o artigo fala em caberá recurso extraordinário. O dispositivo é
ocioso. O Código não pode dizer que o recurso extraordinário se admite. Di-
lo a Lei Maior. Logo, não há lugar para o dispositivo. Deveria o legislador
ordinário furtar-se à declaração de que o recurso extraordinário caberá das
decisões proferidas por outros tribunais, nos casos previstos na Constituição.
Admitido esse recurso, no próprio texto constitucional, não poderia o
Código estender sua incidência, nem limitá-la. [...] É preciso atentar para o
fato de que o recurso extraordinário, instituído pela Constituição, não é
suscetível de sofrer limitação de qualquer natureza pelo legislador
ordinário” (BERMUDES, Sérgio. Comentários ao Código de Processo
Civil. vol. 7. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1975. p. 232-233).
199
456
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários à Constituição de
1967; com a Emenda nº 1 de 1969. 3. ed., tomo IV. Rio de Janeiro: Forense,
1987. p. 123.
457
Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, ainda em 2000, aventando a possibilidade
da reclamação ser prevista por lei ordinária para cabimento a outros
tribunais que não STF e STJ, diz que: “Ora, isso [a vedação ao legislador
ordinário disciplinar diversamente a regulação do recurso extraordinário e
especial na CF] se aplica também à reclamação – cuja competência também
foi especificada constitucionalmente” (DANTAS, Marcelo Navarro Ribeiro.
Reclamação constitucional no Direito brasileiro. p. 275).
458
NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo na Constituição Federal.
10. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. p. 41: “O direito
processual, ramo do direito público, é regido por normas que se encontram
na Constituição Federal e na legislação infraconstitucional. Existem,
também, institutos processuais cujo âmbito de incidência e procedimento
para sua aplicação se encontram na própria Constituição. Naturalmente, o
direito processual se compõe de um sistema uniforme, que lhe dá
homogeneidade, de sorte a facilitar sua compreensão e aplicação para a
solução das ameaças e lesões a direito. Mesmo que se reconheça essa
unidade processual, é comum dizer-se didaticamente que existe um direito
constitucional processual, para significar o conjunto das normas de direito
200
462
STF, Tribunal Pleno, ADI 3772, rel. Min. Carlos Britto, Relator p/ Acórdão
Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/10/2008, DJe 26/03/2009.
463
Constituição Federal, Art. 40, “§ 5º - Os requisitos de idade e de tempo de
contribuição serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no § 1º,
III, "a", para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo
exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino
fundamental e médio.”
464
Constituição Federal, Art. 201, “§ 8º Os requisitos a que se refere o inciso I
do parágrafo anterior serão reduzidos em cinco anos, para o professor que
comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de
magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.”
465
Súmula 726, do STF: “Para efeito de aposentadoria especial de professores,
não se computa o tempo de serviço prestado fora da sala de aula.”
202
466
Como explica Rodrigo Brandão: “O STF, em vez de afirmar a
inconstitucionalidade da lei apenas pelo fato de ela ter revertido a sua
interpretação constitucional (como o fez no caso do foro por prerrogativa de
função), aproveitou o ensejo da nova lei para reinterpretar os arts. 40, §5º, e
20, §8º, da CF/1988, tendo concordado parcialmente com o legislador. Com
efeito, a Corte abandonou a tese que restringia o alcance da expressão
“funções de magistério” a atividades estritamente docentes, para abranger as
funções de direção, coordenação e assessoramento pedagógico
desempenhadas por professor” (BRANDÃO, Rodrigo. Mecanismos de
diálogos constitucionais nos EUA e no Brasil. In: SARMENTO, Daniel
(Coord.). Jurisdição constitucional e política. Rio de Janeiro: Forense,
2015. p. 378).
467
Gustavo da Gama Vital de Oliveira, sustentando contrariedade entre os
julgamentos da ADI 2.797 (prerrogativa de foro) e a ADI 3.772
(aposentadoria dos professores), afirma com relação à última que “a simples
circunstância de a lei editada contrariar entendimento jurisprudencial
consolidado pelo STF não funcionou como espécie de questão preliminar
que impedia a análise do mérito. Ao contrário, diante da lei de correção
legislativa da jurisprudência, o STF admitiu rediscutir a questão e acabou
atingindo resultado final diverso daquele preconizado no entendimento
jurisprudencial precedente” (OLIVEIRA, Gustavo da Gama Vital de.
Direito Tributário e diálogo constitucional. Niterói, RJ: Impetus, 2013. p.
87).
203
468
Conferir subitem 1.1.1 e SCHAUER, Frederick. Thinking like a lawyer. p.
38.
469
STF, Tribunal Pleno, ADI 5105, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 01/10/2015,
DJe 15/03/2016.
204
470
Tal como concebido por Peter W. Hogg e Allison Bushell em: HOGG, Peter
W; BUSHELL, Allison. The charter dialogue between courts and
legislatures: or perhaps the charters isn’t such a bad thing after all. Osgoode
Hall Journal, Toronto: Osgoode Law School, v. 35, n. 1, p. 75-124, 1997.
471
CLÈVE, Clèmerson Merlin. Diálogos institucionais: estrutura e legitimidade.
In: Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional, v. 7. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015. p. 5.
205
472
SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito
Constitucional: teoria, história e métodos de trabalho. 2. ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2016. p. 405.
473
A prerrogativa da “última palavra” é frequentemente levantada pelo STF,
como no MS 26603, da seguinte forma: “O exercício da jurisdição
constitucional, que tem por objetivo preservar a supremacia da Constituição,
põe em evidência a dimensão essencialmente política em que se projeta a
atividade institucional do Supremo Tribunal Federal, pois, no processo de
indagação constitucional, assenta-se a magna prerrogativa de decidir, em
última análise, sobre a própria substância do poder. - No poder de interpretar
a Lei Fundamental, reside a prerrogativa extraordinária de (re)formulá-la,
eis que a interpretação judicial acha-se compreendida entre os processos
informais de mutação constitucional, a significar, portanto, que ‘A
Constituição está em elaboração permanente nos Tribunais incumbidos de
aplicá-la’. Doutrina. Precedentes. - A interpretação constitucional derivada
das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal - a quem se atribuiu
a função eminente de ‘guarda da Constituição’ (CF, art. 102, ‘caput’) -
assume papel de fundamental importância na organização institucional do
Estado brasileiro, a justificar o reconhecimento de que o modelo político-
jurídico vigente em nosso País conferiu, à Suprema Corte, a singular
prerrogativa de dispor do monopólio da última palavra em tema de exegese
das normas inscritas no texto da Lei Fundamental” (STF, Tribunal Pleno,
MS 26603, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 04/10/2007, DJe
18/12/2008).
474
CLÈVE, Clèmerson Merlin. Diálogos institucionais: estrutura e legitimidade.
In: Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional, v. 7. p. 5.
206
475
VICTOR, Sérgio Antônio Ferreira. Diálogo institucional e controle de
constitucionalidade: debate entre o STF e o Congresso Nacional. São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 226.
476
O autor cita os seguintes casos em: Estado legislativo e correção legislativa
da jurisprudência. Revista de Direito Constitucional e Internacional, v. 73,
p. 160-191, 2010: “a) a EC 19/1998 (LGL\1998\67) deu nova redação ao
inc. XI do art. 37 da CF/1988, para estabelecer que "as vantagens pessoais e
de qualquer natureza" deveriam ser consideradas para o fim de fixação do
teto remuneratório dos servidores públicos, com o claro propósito de
corrigir o entendimento do STF na ADIn 14 ( RTJ 130, p. 475-484), de que
as vantagens pessoais não estariam abraçadas pelo teto remuneratório; b) a
EC 20/1998 (LGL\1998\68) conferiu nova redação ao art. 195, I, da
CF/1988, para estabelecer, na alínea a, que a contribuição social exigida dos
empregadores seria incidente sobre a ‘folha de salários e demais
rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa
física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício’. A alteração
teve o intuito de superar o entendimento jurisprudencial do STF, que,
analisando o texto anterior, no qual havia referência apenas à expressão
‘folha de salários’, entendeu ser inconstitucional a cobrança de contribuição
previdenciária relativa aos trabalhadores autônomos segundo a Lei
7.787/1989 (LGL\1989\23)RE 166.772-9 (JRP\1994\1183) , DJ
207
477
OLIVEIRA, Gustavo da Gama Vital de. Direito Tributário e diálogo
constitucional. p. 138-139.
478
VICTOR, Sérgio Antônio Ferreira. Diálogo institucional e controle de
constitucionalidade. p. 232-233.
479
VICTOR, Sérgio Antônio Ferreira. Diálogo institucional e controle de
constitucionalidade. p. 226.
480
Constituição Federal, Art. 60, “§ 2º A proposta será discutida e votada em
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se
aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos
membros.”
481
Constituição Federal, “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada
mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos
Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de
mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação,
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.”
209
482
Constituição dos Estados Unidos, Article V. Disponível em:
<http://constitutionus.com/>. Acesso em 08 fev. 2017.
210
483
Conforme sustentado no item 3.1: 1) O precedente pode ter sua autoridade
negada pelo julgador, tanto expressamente, quando fundamentadamente o
julgador nega razão aos fundamentos determinantes do precedente (negando
eficácia à própria regra jurídica disposta no precedente), quanto
implicitamente, quando o julgador ignora precedente vinculante aplicável ao
caso. 2) O precedente deve ser superado e já não tem autoridade vinculativa
diante da falta de confiança na aplicabilidade do precedente; 3) Ocorrer uma
falsa inclusão no campo de influência do precedente, onde o precedente é
aplicado para solucionar determinada questão jurídica a despeito de
distinção relevante suscitada pela parte; 4) Ocorrer uma falsa exclusão do
campo de influência, onde um precedente é afastado a despeito de alegação
da parte de que o caso é substancialmente igual.
484
Lei Federal 11.417/06, “Art. 3° São legitimados a propor a edição, a revisão
ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante: I - o Presidente da
República; II - a Mesa do Senado Federal; III – a Mesa da Câmara dos
Deputados; IV – o Procurador-Geral da República; V - o Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil; VI - o Defensor Público-Geral da
União; VII – partido político com representação no Congresso Nacional;
VIII – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional; IX –
a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal; X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; XI - os
Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito
Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais
211
487
STF, Tribunal Pleno, Súmula Vinculante 10, aprovada em 18/06/08, DJe
27/06/08, DOU 27/06/08.
488
STF, Primeira Turma, Rcl 13752 AgR, rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 09/11/2016, DJe 21/11/2016.
213
489
STF, Tribunal Pleno, Rcl 4374, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
18/04/2013, DJe 03/09/2013.
490
Constituição Federal, “Art. 203. A assistência social será prestada a quem
dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e
tem por objetivos: [...] V - a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, conforme dispuser a lei.”
214
491
Por exemplo, o julgamento da ADI 1194/DF acerca do Estatuto da OAB (Lei
Federal 8.906/94), que declarou a inconstitucionalidade do §3º do art. 24 e
fixou interpretação conforme à Constituição para o art. 21 no sentido da
“preservação da liberdade contratual quanto à destinação dos honorários de
sucumbência fixados judicialmente” (STF, Tribunal Pleno, ADI 1194, rel. p/
Acórdão, Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 20/05/2009, DJe
10/09/2009). O dispositivo descreve que “Nas causas em que for parte o
empregador, ou pessoa por este representada, os honorários de sucumbência
são devidos aos advogados empregados.” Na Rcl 21.045/SP, a Primeira
Turma do STF decidiu que “viola o referido julgado decisão que, sem
declarar a nulidade de acordo, afasta disposição acerca de honorários
firmada entre escritório e advogado a ele associado”, julgando procedente a
reclamação e conferindo, por isso, plena aptidão ao instituto para garantir a
autoridade da interpretação conforme estabelecida.
492
Embora o CPC/73 associa-se à utilização da rescisória apenas à
desconstituição de sentenças, a normativa do novo código já fala em decisão
216
504
Nesse sentido, Ronaldo Cramer, em comentário à disposição do art. 485, V,
CPC/73, já argumentava que “a expressão literal disposição de lei”,
constante do inciso V, significa norma jurídica (regra ou princípio), explícita
ou implícita, de direito material ou processual, de direito interno ou
estrangeiro, pertencer a qualquer diploma legal e abranger vício de juízo ou
de atividade” (CRAMER, Ronaldo. Ação rescisória por violação da norma
jurídica. p. 195). Vale o esclarecimento de que, segundo o autor, a
possibilidade de utilização de lei estrangeira só tem lugar quando o direito
de outro país incidir no caso.
505
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. p. 468.
506
Rodrigo Barioni apontava, ainda quando a disposição previa violação à ‘lei’,
que deveria ser interpretada extensivamente, “abrangendo qualquer espécie
de ato normativo emanado por Poder Público” (BARIONI, Rodrigo. Ação
rescisória e recursos para os tribunais superiores. p. 102).
219
507
Nesse sentido, ver: NUNES, Dierle. Processualismo constitucional
democrático e o dimensionamento de técnicas para a litigiosidade repetitiva.
A litigância de interesse público e as tendências “não compreendidas” de
padronização decisória. Revista de Processo, v. 189, p. 38, set. 2011.
508
CRAMER, Ronaldo. In: CABRAL, Antônio do Passo; CRAMER, Ronaldo
(Coord.). Comentários ao novo Código de Processo Civil. p. 1425.
220
509
Daniel Mitidiero e Luiz Guilherme Marinoni, nesse sentido, lembram que os
§§ 5º e 6º do art. 966, foram inseridos quase um ano depois da publicação
do Código e que “claramente enfatizam a possibilidade de ação rescisória
em caso de decisão que se pauta equivocadamente em súmula ou
precedente” (MARINONI, Luiz Guiherme; MITIDIERO, Daniel.
Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 926 a 975. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 406).
510
Luiz Guilherme Marinoni, antes mesmo da aprovação do CPC/15, sustentava
que: “a ação rescisória em face de decisão que negou norma jurídica
expressa em precedente do STJ pode ser proposta com base na regra
processual que diz caber ação rescisória contra violação de literal disposição
de lei” (MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto Corte de
precedentes. p. 254).
511
Caso não se adote a construção de que as menções legislativas a recurso
extraordinário repetitivo devem abranger qualquer julgamento pela
sistemática da repercussão geral.
221
512
Como apontam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidero: “O §5º alude a
decisão que ‘não tenha considerado a existência de distinção’. Porém, é
certo que a rescindibilidade também se apresenta viável quando se entende,
de modo manifestamente equivocado, que o caso deveria ser regulado pelo
precedente, decisão ou súmula” (MARINONI, Luiz Guiherme;
MITIDIERO, Daniel. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 926 a
975. p. 407).
513
Por essa razão, Ronaldo Cramer sustenta que “apesar de se referir apenas à
súmula ou acórdão de julgamento de casos repetitivos, o § 5º deve ser
compreendido como aplicável à decisão que emprega qualquer precedente
[vinculante]” (CRAMER, Ronaldo. Precedentes judiciais. p. 175).
514
“É o ataque à coisa julgada, no todo ou em parte, formada em qualquer grau
de jurisdição, irrecorrível até extraordinariamente, embora pendente de
execução, forçada ou voluntária” (COSTA, Coqueijo. Ação rescisória. p.
14).
222
515
Daí sua qualificação como meio de impugnação de caráter excepcional:
“Remédio amargo e extremo, a ação rescisória é garantia constitucional de
exceção, como meio de ataque à coisa julgada, viciada e imperfeita, a
confirmar a regra de que, com essa ressalva, nem a lei pode prejudicar a
coisa julgada” (MARTINS NETTO, Modestino. Da ação rescisória cível e
trabalhista. Rio de Janeiro: Edições Trabalhista S.A., 1978. p. 20).
516
Nesse sentido, Coqueijo Costa reconhecia que “são acordes os doutores em
que a rescisória fundada em violação de literal disposição de lei não tem a
finalidade de manter a unidade do direito federal, nem uniformizar a
jurisprudência dos tribunais tanto que não distingue direito federal de
direitos locais e o texto de interpretação controvertida nas Cortes não
autoriza o aforamento da ação rescisória (Súmula 343, do STF)” (COSTA,
Coqueijo. Ação rescisória. p. 148-149).
517
SANTOS, Ulderico Pires dos. Teoria e prática da ação rescisória. p. 12;
ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Recurso especial, recurso
extraordinário e ação rescisória. p. 487-488; SOUZA, Bernardo Pimentel.
Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. 10. ed. São Paulo:
Saraiva, 2014. p. 869; COSTA, Coqueijo. Ação rescisória. p. 134-135;
MARQUES, José Frederico. Instituições de direito processual civil. vol. IV.
p. 418.
223
518
Ver subitem 1.1.3.
519
“A rescisória tem por escopo fazer com que o interesse de justiça prevaleça
sobre o interesse de segurança. Se a sentença, imutável embora, mostra-se
tisnada por vícios fundamentais, justifica-se que o ordenamento jurídico
preveja um remédio específico para repará-la” (COSTA, Coqueijo. Ação
rescisória. p. 11-16).
224
520
Tal conclusão é rejeitada pelo Min. Luiz Fux quando consigna em decisões
que “a inadmissibilidade de reclamação perante esta Corte com o fim de
questionar a aplicação de precedente de repercussão geral não significa, por
outro lado, que os tribunais inferiores poderão interpretar a Constituição
Federal cada qual ao seu modo, em desrespeito à função precípua do
Supremo Tribunal Federal, de guardião da Carta Política e intérprete
derradeiro das suas normas. Deveras, tendo o Plenário do Supremo Tribunal
Federal fixado o sentido e o alcance de uma determinada norma jurídica à
luz da Constituição Federal, não pode a instância a quo divergir do
entendimento firmado, máxime em se tratando de decisão proferida no
julgamento de questão dotada de repercussão geral. Consectariamente, a
decisão de tribunal inferior que afronte tal paradigma, incide em error in
judicando, produzindo decisão passível de desconstituição por meio do
ajuizamento de ação rescisória perante o tribunal de origem, a teor do art.
966, § 5º, do CPC/2015” (STF, decisão monocrática do rel. Min. Luiz Fux,
Rcl 25890, Segunda Turma, julgado em 14/12/2016, DJe 15/12/2016).
521
Constituição Federal, “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,
precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar,
originariamente: [...] j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus
julgados;”.
522
Constituição Federal, “Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I -
processar e julgar, originariamente: [...]e) as revisões criminais e as ações
rescisórias de seus julgados;”.
225
523
Constituição Federal, “Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:
I - processar e julgar, originariamente: [...] b) as revisões criminais e as
ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região;”
524
Como exemplos nesse sentido veja-se art. 83, XI, ‘e’, da CE de Santa
Catarina; art. 101, VII, ‘e’, da CE do Paraná; art. 93, V, ‘e’, e VIII, ‘d’, da
CE do Rio Grande do Sul.
525
Pontes de Miranda aponta que “não há princípio a priori que subordina a
ação rescisória à competência do juiz superior, nem à competência do
mesmo juiz. O princípio, se o queremos extrair, é o da par maiorve potestas
(do juízo igual ou superior)” (MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de.
Tratado da ação rescisória. Campinas: Bookseller, 1998. p. 95). Por isso,
trata-se de uma opção de direito positivo, tomada muito claramente no
direito brasileiro.
526
CÂMARA, Alexandre Freitas. Ação rescisória. p. 27-28.
527
COSTA, Coqueijo. Ação rescisória. p. 11-16.
528
Modestino Martins Netto explica que, no período inicial do regime
republicano brasileiro, “legisladores e justiça federais foram responsáveis
por invasões na competência legislativa dos Estados-membros da
Federação, a ponto de o Supremo Tribunal Federal ter assumido o judicium
rescindens (juízo rescindente ou o que rescinde) e anulado julgado de justiça
local. Esse estado de coisas cessaria com a jurisprudência, a fixar que a
sentença só poderia ser rescindida na própria Justiça que a proferira,
princípio que a Constituição de 1934 consagraria” (MARTINS NETTO,
Modestino. Da ação rescisória cível e trabalhista. p. 38).
226
529
LESSA, Pedro. Do Poder Judiciario. Rio de Janeiro: Livraria Francisco
Alves, 1915. p. 104.
228
531
STF, Tribunal Pleno, Súmula 734, aprovada em 26/11/03, DJ 09/12/03.
532
Código de Processo Civil, Art. 988, “§ 5º É inadmissível a reclamação: I –
proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada;”.
230
533
STF, Primeira Turma, Rcl 19132 AgR, rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 30/06/2015, DJe 10/08/2015. Também nessa linha: STF, Tribunal Pleno,
Rcl 11022 ED, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/03/2011, DJe
06/04/2011; STF, Tribunal Pleno, Rcl 4803, rel. Min. Dias Toffoli, julgado
em 02/06/2010, DJe 21/10/2010; STF, Tribunal Pleno, Rcl 9127 AgR, rel.
Min. Carlos Britto, julgado em 23/06/2010, DJe 19/08/2010; STF, Tribunal
Pleno, Rcl 6078 AgR, rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 08/04/2010,
DJe 29/04/2010.
534
LEONEL, Ricardo de Barros. Reclamação constitucional. p. 272; TAKOI,
Sérgio Massaru. Reclamação constitucional. p. 58-59. Nesse sentido
também STF, Tribunal Pleno, Rcl 329, rel. Min. Sepúlveda Pertence,
julgado em 30/05/1990, DJ 29/06/1990: “A reclamação cabe contra decisões
judiciais, quaisquer que sejam elas, se se alega que invadiram a competência
ou desrespeitaram a autoridade da decisão do Supremo Tribunal Federal. A
231
jogando fora todos os frutos que vêm sendo colhidos com as recentes
técnicas de uniformização de jurisprudência” (KREBS, Hélio Ricardo Diniz.
Sistema de precedentes e direitos fundamentais. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2015. p. 183).
538
Como explica Leonardo L. Morato: “No caso de reclamação proposta para
garantir a autoridade de um julgado, a sentença que vier a ser proferida não
reexaminará a matéria já decidida no julgado desacatado. Não o alterará,
nem o substituirá. Nada tem, pois, a inovar a esse respeito. Seu objeto é
decidir sobre o desacato, que, caso constatado, deverá ser repelido e, por
conseguinte, ser determinado o cumprimento do julgado desacatado – e, se
necessário for, imposto o cumprimento” (MORATO, Leonardo L.
Reclamação e sua aplicação para o respeito da súmula vinculante. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 236-237).
539
Sobretudo porque a alegação de má aplicação do precedente necessariamente
impõe a necessidade de substituir-se a decisão dita equivocada por outra,
que adote a interpretação compreendida como adequada.
233
3.5.1 Violação aos incisos V e VI do §1º do art. 489 c/c art. 927 do
CPC/15
540
Como descreve: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código
de Processo Civil, Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. vol. V: arts. 476 a
565. p. 582-583.
541
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso extraordinário e recurso
especial. p. 120.
234
542
MITIDIERO, Daniel. Cortes Superiores e Cortes Supremas. p. 92. No
mesmo sentido Ricardo Alexandre da Silva aponta que “a função
desempenhada pelo STJ conduz à necessária conclusão de que seus
precedentes em matéria infraconstitucional devem ser atendidos até mesmo
pelo STF quando a questão não envolver controle de constitucionalidade.
Por outro lado, ao controlar a constitucionalidade, pode o STF, a quem cabe
guarda precípua da Constituição, atribuir à norma federal infraconstitucional
sentido diferente daquele conferido pelo STJ” (SILVA, Ricardo Alexandre
da. O STJ como Corte Suprema em matéria infraconstitucional: defesa dos
precedentes vinculantes. In: MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro;
MARINONI, Luiz Guilherme; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa
(Coords.). Direito Jurisprudencial. vol II. p. 1092).
543
A alínea ‘a’ do art. 105, III, da CF prevê o cabimento do recurso especial em
face de decisão que “contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes
vigência”. Atualmente entende-se que ambas decorrem sempre de uma
violação ao direito federal, sendo despiciendo distinguir gradações desta
violação. Sobre o ponto, Teresa Arruda Alvim Wambier e Bruno Dantas
ensinam que “para efeito de cabimento dos recursos especial e
extraordinário, ofender o direito, contrariar-se o direito, negar vigência ao
direito são hoje expressões equivalentes. Interpretar mal o texto de lei é
contrariá-lo, é negar-lhe vigência, é ofendê-lo. Tanto faz o ‘grau’ de ofensa
ao texto do direito positivo: da interpretação ‘obviamente’ incorreta à
interpretação ‘possível’, pela qual, todavia, não optaram o STJ ou o STF,
todas ensejam o cabimento do recurso especial e do recurso extraordinário
pela alínea a” (ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. DANTAS, Bruno.
Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos tribunais
Superiores no Direito brasileiro. p. 333).
544
MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto Corte de precedentes. p. 114-
115.
235
545
Tal como empreendeu-se com a reforma legislativa dos dispositivos
referentes ao cabimento da ação rescisória, do art. 485, V, CPC/73 (“violar
literal disposição de lei”) ao art. 966, V, CPC/15 (“violar manifestamente
norma jurídica”).
546
Como o STJ tem reconhecido, ainda que negando provimento aos recursos:
AgInt no REsp 1584831/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, julgado em 14/06/2016, DJe 21/06/2016; EDcl no AgRg no REsp
1302132/DF, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
01/09/2016, DJe 06/09/2016; AgInt no AREsp 801.104/DF, Rel. Ministro
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 04/10/2016, DJe
13/10/2016; REsp 1622386/MT, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, julgado em 20/10/2016, DJe 25/10/2016; AgInt no REsp
1630265/RS, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em
22/11/2016, DJe 06/12/2016
547
Importante pontuar que em MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto
Corte de precedentes. p. 173-190, o autor também desenvolve um
diagnóstico assemelhado para o cabimento do recurso especial associado a
precedentes. A diferença é que no estudo de Luiz Guilherme Marinoni o
236
548
ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Recurso especial, recurso
extraordinário e ação rescisória. p. 257; ASSIS, Araken de. Manual dos
recursos. p. 838-839; MENDES, Leonardo Castanho. O recurso especial e o
controle difuso de constitucionalidade. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2006. p. 107-108.
549
“O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará
a causa, aplicando o direito à espécie” (STF, Tribunal Pleno, Súmula 456,
aprovada em 01/10/64, DJ 08/10/64).
238
550
Como escreve Teresa Arruda Alvim Wambier: “como os tribunais superiores
não são Cortes de Cassação, admitidos os recursos de estrito direito, haverá,
de acordo com o que consta da Súmula 456 do STF, rejulgamento da causa,
respeitados os limites decorrentes da natureza dos recursos especial e
extraordinário, que, como regra geral, impedem o reexame das provas
constantes dos autos. Estes, pensamos, são efetivamente os limites a que se
devem ater os tribunais superiores ao rejulgar a causa (ARRUDA ALVIM
WAMBIER, Teresa. Recurso especial, recurso extraordinário e ação
rescisória. p. 385).
551
Em embargos de declaração no RE 346736, a Segunda Turma, decidiu que o
“julgamento da causa” da Súmula 456, do STF, “consiste na apreciação de
outros fundamentos que, invocados nas instâncias ordinárias, não
compuseram o objeto do recurso extraordinário, mas que, “conhecido” o
recurso (vale dizer, acolhido o fundamento constitucional nele invocado
239
552
MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto Corte de precedentes. p. 178.
553
Sobre os pressupostos para essa superação ver especialmente o item 2.4
retro.
554
Como autorizado pelo art. 927, §3º, CPC/15 e explorado no item 2.4.
555
Luiz Guilherme Marinoni trata desta situação como de “decisão que se
baseia em precedente não aplicável ao caso” (MARINONI, Luiz Guilherme.
O STJ enquanto Corte de precedentes. p. 179-180).
241
556
Compreendida aqui na acepção de Pedro Miranda de Oliveira como
atividade judicial de pronunciar-se sobre as questões federais ou
constitucionais, em contraste ao “prequestionamento” como atividade das
partes de previamente discutir a questão (MIRANDA DE OLIVEIRA,
Pedro. Recurso extraordinário e o requisito da repercussão geral. p. 172).
242
557
Lucas Buril de Macêdo qualifica a invocação dos precedentes aplicáveis
como um ônus das partes, que deverão identificar sua ratio decidendi e
explicar o preciso por quê desses fundamentos serem aplicáveis ao seu caso
(tal como se espera do julgador e foi explicado no item 2.2). Para o autor
“caso a parte não realize a invocação do precedente conforme esse
parâmetro mínimo, não se desincumbe do ônus argumentativo próprio do
uso de precedentes. E qual a consequência disso? Ocorrendo uma invocação
de precedente que não atenda aos requisitos mínimos, o juiz fica
desobrigado a avaliar a argumentação da parte, bastando apontar o
descumprimento do ônus de alegar típico da aplicação de precedentes”
(MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual
civil. p. 392).
558
Código de Processo Civil, “Art. 1.022. Cabem embargos de declaração
contra qualquer decisão judicial para: [...] II - suprir omissão de ponto ou
questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento;
[...] Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I - deixe de se
manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em
incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; II -
incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1°.”
243
559
Tal encaminhamento infringiria a ditstribuição de competências dos recursos
excepcionais e seria também contrário ao próprio entendimento do STJ
acerca da extensão de sua cognição em recurso especial no sentido de que
“A pretendida análise de violação a dispositivo constitucional não encontra
guarida, uma vez que a apreciação de suposta ofensa a preceitos
245
561
Ver STF, Primeira Turma, RE 18863, rel. Min. Macedo Ludolf (convocado),
julgado em 18/06/1951, DJ 30/08/1951; STF, Primeira Turma, RE 37471,
rel. Min. Luiz Gallotti, julgado em 26/12/1957, DJ 10/04/1958; STF,
Segunda Turma, RE 50381, rel. Min. Antonio Villas Boas, julgado em
28/08/1962, DJ 06/09/1962; STF, Segunda Turma, RE 456673, rel. Min.
Cezar Peluso, julgado em 31/03/2009, DJe 21/05/2009;
562
Tal como explicitado em STF, Primeira Truma, RE 158314 ED, rel. Min.
Celso de Mello, julgado em 23/03/1993, DJ 16/04/1993: “Temas de direito
processual, ordinariamente vinculados ao plano do direito federal comum -
como os referentes aos pressupostos processuais e as condições da ação -,
refogem ao domínio jurídico que a Carta Politica reservou, com
exclusividade, ao recurso extraordinário. O mero conflito indireto com o
texto da Constituição não enseja a interposição de recurso extraordinário. A
ofensa a preceito constitucional, para que viabilize o trânsito do recurso
extraordinário, há de ser direta e frontal.” Nessa linha também ver STF,
Segunda Turma, RE 220517 AgR, rel. Min. Celso de Mello, julgado em
10/04/2001, DJ 10/08/2001 STF, Segunda Turma, AI 476879 AgR, rel. Min.
Celso de Mello, julgado em 23/03/2004, DJ 10/08/2006; bem como a
Súmula 636 do STF: “Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao
princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha
rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão
recorrida.” (STF, Tribunal Pleno, Súmula 636, aprovada em 24/09/03, DJ
09/10/03.
248
563
Em qualquer caso aplica-se o art. 1.032 do CPC/15 para remeter o recurso ao
tribunal competente a conhecer da violação ao direito constitucional ou
infracionstitucional.
249
565
MACÊDO, Lucas Buril de. Precedentes judiciais e o direito processual civil.
p. 432-437.
566
Código de Processo Civil, Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão de
presidente ou de vice-presidente do tribunal que: [...] III - inadmitir recurso
extraordinário, com base no art. 1.035, § 8º, ou no art. 1.039, parágrafo
único, sob o fundamento de que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a
inexistência de repercussão geral da questão constitucional discutida. § 1º
Sob pena de não conhecimento do agravo, incumbirá ao agravante
demonstrar, de forma expressa: [...] II - a existência de distinção entre o
caso em análise e o precedente invocado, quando a inadmissão do recurso:
a) especial ou extraordinário fundar-se em entendimento firmado em
julgamento de recurso repetitivo por tribunal superior; b) extraordinário
fundar-se em decisão anterior do Supremo Tribunal Federal de inexistência
253
568
Nesse sentido, o STF, ainda em 1992, decidiu pela imprescindibilidade de
interposição do agravo de instrumento para contestar a decisão que
inadmitiu recurso extraordinário (Tribunal Pleno, Rcl 391 AgR, rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 29/06/1992, DJ 14/08/1992). Consta da ementa
que: “Interposto o recurso, cumpre ao Juízo primeiro de admissibilidade
proceder ao exame dos pressupostos de recorribilidade. [...] Este
procedimento longe fica de implicar a usurpação da competência de
qualquer dos Tribunais referidos. Frente a organicidade e a dinâmica que
norteiam o Direito, especialmente o instrumental, a decisão que se mostre
negativa ao processamento do recurso interposto desafia agravo de
instrumento e não reclamação. [...] A tramitação menos célere do agravo e o
fato de não encerrar, em si, a possibilidade de obtenção de liminar são
inidôneos ao respaldo da alternativa quanto à via a ser trilhada. A medida
excepcional da reclamação pressupõe a invasão de competência ou a
inobservância da autoridade de provimento da Corte e nenhuma das duas
hipóteses ocorre quando o Órgão reclamado atua no âmbito que lhe é
reservado pela ordem jurídica em vigor. Ao Supremo Tribunal Federal não e
dado assentar, pela vez primeira, o enquadramento, ou não, do
extraordinário em um dos permissivos constitucionais. Descabe, assim,
enveredar pela via dupla da interposição do agravo de instrumento e da
apresentação da reclamação.” No mesmo sentido STF, Segunda Turma, AI
148591 AgR, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/05/1993, DJ
20/08/1993.
569
STF, Tribunal Pleno, AI 760358 QO, rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente),
julgado em 19/11/2009, DJe 11/02/2010.
255
570
STF, Decisão Monocrática, Rcl 23304, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
29/11/2016, DJe 01/12/2016; STF, Decisão Monocrática, Rcl 25920, rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 14/12/2016, DJe 15/12/2016; STF, Decisão
Monocrática, Rcl 25890, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/12/2016, DJe
15/12/2016. Em sentido contrário, ao menos indiretamente analisando o
mérito da reclamação, ainda que concluindo pela negativa de seguimento da
ação: STF, Decisão Monocrática, Rcl 25681 MC, rel. Min. Celso de Mello,
julgado em 21/11/2016, DJe 23/11/2016; STF, Decisão Monocrática, Rcl
25474, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 24/10/2016, DJe 26/10/2016.
571
Em um dos poucos julgamentos colegiados até o momento, a Segunda
Turma do STF, ao negar provimento a agravo regimental na Rcl 24323, de
relatoria do Min. Gilmar Mendes, consignou-se que: “o Novo Código de
Processo Civil, que entrou em vigor em 18.3.2016, previu expressamente a
inadmissibilidade da reclamação nesses caso, na linha da jurisprudência
anteriormente firmada por esta Corte, com a ressalva da possibilidade da
propositura quando esgotadas as instâncias ordinárias (art. 988, § 5º, do
NCPC). Além disso, estabeleceu que o recurso cabível contra a aplicação da
sistemática da repercussão geral pelo Tribunal de origem é o agravo interno
(art. 1.030, § 2º). Assim, tendo em vista que, na espécie, ainda seria cabível
a interposição de agravo interno contra a decisão reclamada para questionar
a aplicação do paradigma ao caso concreto, inadmissível a reclamação”
(STF, Segunda Turma, Rcl 24323 AgR, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 30/09/2016, DJe 18/10/2016). Ao menos é um início de reflexão com a
possibilidade em tese de discutir o cabimento da reclamação caso esgotadas
as vias ordinárias. Em decisão monocrática o Min. Celso de Mello também
já referiu obiter dicta que “com o advento do novo estatuto processual civil
(CPC/15), vigente e eficaz a partir de 18/03/2016, inclusive, passou-se a
admitir o instituto da reclamação na hipótese em que o ato reclamado deixa
de observar acórdão do Supremo Tribunal Federal proferido em sede “de
recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida”, desde que
esgotadas as instâncias meramente ordinárias (CPC/15, art. 988, § 5º, II, na
redação dada pela Lei nº 13.256/2016)” (STF, Decisão Monocrática, Rcl
25092, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 24/11/2016, DJe 29/11/2016).
256
572
Ver subitens 1.3.1 e 3.2.3.
257
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ASSIS, Araken de, Manual dos recursos. 6. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014.
______. Manual dos recursos. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013.
______. Processo civil brasileiro, volume II, tomo 2. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015.
______. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
GRAU, Eros Roberto. Por que tenho medo dos juízes. 7. ed. São Paulo:
Malheiros, 2016.
GRAY, John Chipman. The nature and the sources of law. New York:
Columbia University Press, 1909.
______. Antecipação de tutela. 11ª ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009.
______. Teoria geral do processo. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2008.
______. Teoria geral dos recursos. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2014.
SOUZA, Artur César de. Tutela provisória. São Paulo: Almedina, 2016.