Literatura Brasileira 01 Trovadorismo

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LITERATURA PORTUGUESA – TROVADORISMO

SINVAS

Iluminura medieval, disponível em: http://www.fundacao-aljubarrota.pt/?idc=45


castelo medieval, Santarém – Portugal, disponível em:
http://www.portugaltravel.pt/distrito-santarem.php

A partir do século XII, após a reconquista do território, ocupado pelos árabes no


século VIII, a Poesia em Portugal se configura como tal. A tranquilidade pós-guerra e a
reconstrução das cidades favoreceram o desenvolvimento das Artes. O momento
propiciava festas, sociais e religiosas, em que a música, a dança, o teatro eram
obrigatórios.
O nome Trovadorismo origina-se de trova, poema feito em apenas uma estrofe em
redondilhas maior (sete sílabas) e menor (cinco sílabas poéticas), feito para ser cantado
pelo trovador. A trova mais tarde passou a denominar-se Cantiga, gênero mais cultuado
até o fim da Idade Média. Havia no período também o jogral, manifestação mais ampla,
por abranger dança e representação. O trovador era, via de regra, de origem nobre; e o
jogral, um vilão de origem popular. Ambos animavam as festas. A partir do século XV,
a poesia começou a dissociar-se da música, tornando-se produções para serem lidas, mais
elaboradas, eruditas. E o Teatro tornou-se o entretenimento preferido, e as Cantigas
ficaram em segundo plano.
As Cantigas são a primeira manifestação da Literatura em Portugal e a primeira
fonte da Cultura portuguesa. Contribuíram também para a formação da Língua
Portuguesa, pois, apesar de serem feitas em galego-português, os textos foram o impulso
inicial para a consolidação da Língua em Portugal, o que se concretizará com Camões no
século XVI. As Cantigas permaneceram nas manifestações populares em todos os
períodos posteriores. A poesia medieval tem grande influência no Brasil, chegando aqui
com os colonizadores. Na contemporaneidade, sua presença percebe-se nas músicas
românticas, na MPB, nos ritmos nordestinos: o repente, a embolada e o cordel.

CANTIGAS LÍRICAS
As Cantigas líricas se dividem em Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo

- Cantiga de Amor

Cantiga da Ribeirinha Paráfrase

No mundo non me sei parelha, No mundo ninguém se assemelha a mim


mentre me for’ como me vai, enquanto a minha vida continuar como vai
ca já moiro por vós – e ai porque morro por vós, e ai
mia senhor branca e vermelha, minha senhora de pele alva e rosada,
queredes que vos retraia quereis que vos retrate
quando vos eu vi en saia! quando vos eu vi sem manto
Mao dia me levantei, Maldito dia me levantei
que vos enton non vi fea! que não vos vi feia
E, mia senhor, des aquel di’, ai! E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
me foi a mi muin mal, tudo me foi muito mal
e vós, filha de don Paai e vós, filha de don Pais
Moniz, e bem vos semelha Moniz, e bem vos parece
d’aver eu por vós guarvaia, de ter eu por vós manto luxuoso
pois eu, mia senhor, d’alfaia pois eu, minha senhora, como mimo
nunca de vós ouve nem ei de vós nunca recebi algo,
valia d’ua correa. mesmo que sem valor

Paio Soares de Taveirós


- Análise estrutural e discursiva da Cantiga:

- Linguagem: as cantigas eram compostas em galego-português, língua falada durante a


Idade Média nas regiões de Portugal e da Galícia.
- Métrica em octossílabos – No/mun/do/non/me/sei/pa/re/lha – normalmente para ser
declamada.
- Eu-lírico masculino: o cavalheiro se dirige à amada, idealizada, em um pedestal, por
não pertencer ao mesmo grupo social, ou por ser comprometida. Canta as qualidades da
amada, no ambiente da Corte, de forma gentil – o Amor cortês – dispondo-se a servir a
ela – vassalagem amorosa.
- Essas características definem a Cantiga de Amor.

- Cantigas Líricas: Cantiga de Amigo

Ai, flores, ai, flores do verde pino


Vós me preguntades polo vosso amigo?
Ai, flores, ai, flores do verde pino, E eu ben vos digo que é sano e vivo.
se sabedes novas do meu amigo? Ai, Deus, e u é?
Ai, Deus, e u é?
Vós me preguntades polo vosso amado?
Ai, flores, ai, flores do verde ramo, E eu ben vos digo que é vivo e sano.
se sabedes novas do meu amado? Ai, Deus, e u é?
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é sano e vivo
Se sabedes novas do meu amigo, e seerá vosco ante o prazo saído.
aquel que mentiu do que pôs comigo? Ai, Deus, e u é?
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é vivo e sano
Se sabedes novas do meu amado, e seerá vosco ante o prazo passado.
aquel que mentiu do que mi à jurado? Ai, Deus, e u é?
Ai, Deus, e u é?
El-Rei D. Dinis
- Análise estrutural e discursiva da Cantiga:

- A Língua é o galego-português.
- Denomina-se Cantiga de Amigo, porque o eu-lírico, o sujeito da voz enunciadora, é
feminino. O Trovador, um homem, canta o sentimento de uma mulher. Cantam o Amor
da mulher por seu amigo/o amado.
- Para cantar e dançar, as Cantigas de Amigo são feitas quase sempre em versos de 7
sílabas poéticas/redondilha maior/heptassílabo e/ou 5 sílabas poéticas/redondilha menor,
utilizando recursos de repetição como:
Paralelismo: as duas estrofes são construídas com a mesma estrutura sintática:
Ai, flores, ai, flores do verde pino, Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amigo? se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é? Ai, Deus, e u é?

E refrão: Ai, Deus, e u è?


- Ao contrário das Cantigas de Amor, as Cantigas de Amigo têm origem popular e
cantam o Amor da mulher por seu amigo/o amado, o sentimento de saudade por um Amor
que se desfez, tendo o Amado partido, normalmente, para as Cruzadas.
- Apresentam o diálogo com a natureza, cúmplice da relação, vivida na fonte ou na
praia.
As características das Cantigas Líricas são retomadas por Camões, pela Poesia
Romântica, pelo Simbolismo, que resgata a relação da poesia com a música, e por poetas
modernistas, como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, bem como
em quase todos os gêneros da Música tanto portuguesa como brasileira.

CANTIGAS SATÍRICAS
As Cantigas Satíricas dividem-se em Cantigas de Escárnio e Cantigas de Maldizer.

As Cantigas Satíricas inauguram o humor ibérico, de mau gosto, politicamente


incorreto, sustentado pela ambiguidade da linguagem. As Cantigas de Escárnio e de
Maldizer se confundem, mas a diferença principal consiste na crítica direta feita na
Cantiga de Maldizer. Nesta, mesmo que não nomine a pessoa objeto da cantiga, todos
percebem a circunstância e a pessoa quem ela se dirige.
- Cantiga de Escárnio

Senhora Dona Fea

Ai dona fea! Foste-vos queixar


Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!

Ai dona fea! Se Deus mi pardon!


E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei


En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!

Joan Garcia de Guilhade

- Análise estrutural e discursiva da Cantiga:


- A Cantiga de Escárnio não nomina a pessoa objeto da cantiga, embora o público perceba
a circunstância e a quem ela se dirige.
- Linguagem mais sutil, ambígua.
- As Cantigas de Maldizer são diretas, a crítica é reconhecida.
A influência das Cantigas Satíricas já se percebe na poesia barroca de Gregório
de Matos, o Boca do Inferno, e em toda a tradição de humor popular ibérico e latino-
americano, até o stand up contemporâneo. Trata-se de um humor escrachado, muitas
vezes de mau gosto, politicamente incorreto a maioria das vezes.

TROVADORISMO RELAÇÕES DE INTERTEXTUALIDADE

A permanência das Cantigas Medievais na Música e na Poesia brasileira

No Brasil, a presença das cantigas em nossa tradição se deve ao fato de os


portugueses que para cá vieram incorporaram-nas em nosso imaginário. A tradição dos
trovadores perpassa a cultura nordestina do cordel, do repente, da embolada, assim como
a poesia dita erudita de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade.
A presença do Trovadorismo em nosso cancioneiro se observa tanto na
abordagem temática como na estrutura musical. As Cantigas de Amigo, que eram feitas
para cantar e dançar, tinham em sua estrutura o paralelismo e o refrão, marcas do nosso
xote, como se observa na conhecidíssima Esperando na Janela, do pernambucano
Targino Gondim. Das Cantigas de Amigo, permanecem também a presença do eu-lírico
feminino – a mulher como voz enunciadora – que lamenta a perda do amado que se foi e
provavelmente não voltará.
Das Cantigas de Amor, a nossa música guarda o Amor cortês, da Vassalagem
amorosa, do sentimento declarado e não correspondido, são temas recorrentes na poesia
romântica de Gonçalves Dias, nas composições de Roberto Carlos, Chico Buarque, assim
como na música romântica, vulgarmente chamada de brega, nas várias fases do Sertanejo.
Característica das Cantigas Satíricas, o deboche escrachado, de mau gosto, é
comum do século XVII, na poesia de Gregório de Matos, não sem propósito apelidado de
Boca do Inferno, no humor de Bussunda, dos sambistas do Rio de Janeiro e do stand up.
A seguir apresentamos textos em que nota-se a permanência das marcas do Trovadorismo
em nossa poesia e música.
- TEXTOS PARA LEITURA

Brás pastor inda donzelo,


querendo descabaçar-se,
viu Betica a recrear-se
vinda ao prado de amarelo:
e tendo duro o pinguelo,
foi lho metendo já nu,
fossando como Tatu:
gritou Brites, inda bem,
que tudo sofre, quem tem
rachadura junto ao cu.

Gregório de Matos – poeta barroco do século XVII, usou os recursos do humor, para
retratar a contemporaneidade, por isso o apelido de Boca do Inferno.

Reunião de Bacana

Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão


Se gritar pega ladrão, não fica um

Você me chamou para esse pagode,


E me avisou: "aqui não tem pobre!"
Até me pediu pra pisar de mansinho, porque sou da cor,
Eu sou escurinho...
Aqui realmente está toda a nata: doutores, senhores,
Até magnata
Com a bebedeira e a discussão, tirei a minha
Conclusão:

Se gritar pega ladrão ...

Lugar meu amigo é a minha baixada,


Que ando tranquilo e ninguém me diz nada
E lá camburão não vai com a justiça, pois não há
Ladrão e é boa a polícia
Lá até parece a Suécia, bacana, se leva o bagulho e se
Deixa a grana,
Não é como esse ambiente pesado, que você me trouxe
Para ser roubado....

Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão


Se gritar pega ladrão, não fica um

Composição de Ary do Cavaco e Bebeto de São João, disponivel em:


https://www.letras.mus.br/bezerra-da-silva/1929977/

- A letra de música, um samba, Reunião de Bacana/1980, apresenta pontos de contato


com a poesia trovadoresca, pois retoma o deboche, o humor, o sarcasmo das Cantigas
Satíricas, atitude comum nos sambas cariocas e no forró nordestino. É a permanência da
tradição medieval portuguesa em nossa memória coletiva, renovando-a a cada geração de
nossa produção cultural.

Ai Que Saudade D'Ocê

Não se admire se um dia


Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir

Fui eu que mandei o beijo


Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade d'ocê

Se um dia ocê se lembrar


Escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio
Com a frase dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo

Quero matar meu desejo


Te mando um monte de beijo
Ai que saudade sem fim

E se quiser recordar
Aquele nosso namoro
Quando eu ia viajar
Você caía no choro
Eu chorando pela estrada
Mas o que que eu posso fazer
Trabalhar é minha sina
Eu gosto mesmo é d'ocê

Composição de Vital Farias, disponível em https://www.letras.mus.br/geraldo-


azevedo/277398/

- A composição de Vital Farias, dialoga com as Cantigas de Amor e de Amigo. Das


primeiras, além da voz enunciadora masculina, representa o Amor cortês, a Vassalagem
amorosa. Das Cantigas de Amigo, traz a mulher que lamenta a partida do Amado e anseia
por sua volta. Ai que saudade docê é uma das mais conhecidas músicas populares do
Brasil, e foi consagrada no trabalho Cantorias, de Geraldo Azevedo, Xangai e Elomar,.

Queixa

Um amor assim delicado


Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou


Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim violento


Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água

Ondas, desejos de vingança


Nessa desnatureza
Batem forte sem esperança
Contra a tua dureza

Princesa, surpresa, você me arrasou


Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim delicado


Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo


E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Amiga, me diga...

Composição de Caetano Veloso, disponível em http://www.letras.com.br/caetano-


veloso/queixa

- Na letra da canção Queixa, há mais evidências do Trovadorismo, especificamente das


Cantigas de Amor. A voz enunciadora é a de um eu-lírico masculino, o homem que faz a
declaração do Amor cortês – amor assim delicado – revela a Vassalagem Amorosa –
Princesa, Senhora – o sentimento declarado e não correspondido – Você pega e despreza,
E vazio me deixa, você me arrasou. Caetano Veloso dialoga com a Poesia medieval,
relendo-a, conforme uma das principais marcas de suas produções, interagir com todas as
manifestações culturais, sem preconceito.

Olhos nos Olhos

Quando você me deixou, meu bem


Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever


Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando


Me pego cantando
Sem mas nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

Chico Buarque, disponível em: https://www.vagalume.com.br/chico-


buarque/olhos-nos-olhos.html

- A letra de Chico Buarque apresenta uma marca fundamental das Cantigas de Amigo, o
eu-lírico feminino que tematiza a partida do Amado. Ao contrário das Cantigas
medievais, ela não lamenta o homem que não mais terá, pois, depois de chorar,
desesperar, deu a volta por cima e viveu outros amores. A voz enunciadora feminina
encontra-se em outras composições de Chico Buarque de Holanda, é uma de suas
características.

Amigo Apaixonado

Pensando bem, eu gosto mesmo de você


Pensando bem, quero dizer
Que amo ter te conhecido
Nada melhor que eu deixar você saber
Pois é tão triste esconder
Um sentimento tão bonito
Hoje mesmo vou te procurar
Falar de mim
Sei que nem chegou a imaginar
Que eu pudesse te amar tanto assim
Sempre fui um grande amigo seu
Só que não sei mais se assim vai ser
Sempre te contei segredos meus
Estou apaixonado por você
Esse amor entrou no coração
Agora diz o que é que a gente faz
Pode dizer sim ou dizer não
Ser só seu amigo não dá mais

Vitor e Leo, composição de Vítor Chaves, disponível em:


https://www.vagalume.com.br/victor-leo/amigo-apaixonado.html

- Amigo Apaixonado, letra de Vitor Chaves, conhecida composição do Sertanejo


Universitário, incorpora elementos das Cantigas de Amor, como a vassalagem amorosa
e o amor cortês.

- ATIVIDADES:

- Leia o texto para as questões

Ronda

De noite eu rondo a cidade


A te procurar sem encontrar
No meio de olhares espio em todos os bares
Você não está
Volto pra casa abatida
Desencantada da vida
O sonho alegria me dá
Nele você está

Ah, se eu tivesse quem bem me quisesse


Esse alguém me diria
Desiste, esta busca é inútil
Eu não desistia

Porém, com perfeita paciência


Volto a te buscar
Hei de encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando um dadinho
Jogando bilhar
E neste dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar
Da avenida São João

Paulo Vanzolini

01- A composição de Paulo Vanzolini (São Paulo, 25 de abril de 1924 — São Paulo, 28
de abril de 2013, zoólogo, professor e compositor, autor de consagradas canções como
Volta por Cima e Ronda) remete às cantigas líricas do Trovadorismo, resgatando uma
característica constante nas canções populares, identificada em:

A) amor paradoxal, oscilando entre o desejo de possuir e o medo de pecar.


B) frustração pela ausência do amado, cantada pelo eu-lírico feminino.
C) amor distante, não correspondido, expresso na vassalagem amorosa.
D) platonização do amor, que leva à frustração do eu-lírico masculino.
E) metaforização do amor impossível, típico das cantigas de amor.

02- A composição de Paulo Vanzolini, Ronda, reflete conquistas da poesia modernista


de 1922, incorporadas à música popular nos anos 1930 por Noel Rosa. Representam essas
conquistas:

A) temática cotidiana, lirismo amoroso, versos livres.


B) versos livres e brancos, poesia intimista e reflexiva.
C) linguagem popular, versos assimétricos e prosaísmo.
D) busca de síntese, linguagem oral e versos livres.
E) retrato do cotidiano de maneira trágica e sombria.

03- A canção anterior faz parte da memória cultural da música paulistana, é o relato de
uma mulher que vaga pela agitada noite da Avenida São João em busca de seu homem
que está ausente. Essa é uma canção muito recente se comparada com a literatura
medieval, mas traz características semelhantes a um tipo de cantiga trovadoresca. A que
tipo de cantiga podemos comparar essa canção:

A) cantiga de amor
B) cantiga de amigo
C) cantiga de escárnio
D) cantiga de maldizer
E) cantiga de amizade

04- As características da canção Ronda que justificam sua resposta anterior:

A) eu-lírico feminino e ambiente campestre.


B) eu-lírico feminino e diálogo com elementos da natureza.
C) eu-lírico feminino e o sofrimento pela ausência do homem amado.
D) eu-lírico masculino e ambiente urbano.
E) eu-lírico feminino e ridicularização do outro

UNESP As questões 05 e 06 tomam por base uma cantiga do trovador galego Airas
Nunes, de Santiago (século XIII), e o poema Confessor medieval, de Cecília Meireles
(1901-1964).

Cantiga
"Bailemos nós já todas três, ai amigas,
So aquestas avelaneiras frolidas,
E quem for velida, como nós, velidas,
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.

Bailemos nós já todas três, ai irmanas,


So aqueste ramo destas avelanas,
E quem for louçana, como nós, louçanas,
Se amigo amar,
So aqueste ramo destas avelanas
Verrá bailar.

Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos,


So aqueste ramo frolido bailemos,
E quem bem parecer, como nós parecemos
Se amigo amar,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Verrá bailar."

Airas Nunes, In: SPINA, Segismundo. Presença da literatura portuguesa: I. Era


medieval. 2. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966.

Confessor medieval (1960)


"Irias à bailia com teu amigo,
Se ele não te dera saia de sirgo?

Se te dera apenas um anel de vidro


Irias com ele por sombra e perigo?

Irias à bailia sem teu amigo,


Se ele não pudesse ir bailar contigo?

Irias com ele se te houvessem dito


Que o amigo que amavas é teu inimigo?

Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,


Irias sem ele, e sem anel de vidro?

Irias à bailia, já sem teu amigo,


E sem nenhum suspiro?"

Cecília Meireles. Poesias completas de Cecília Meireles. v. 8. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 1974.
As cantigas que focalizam temas amorosos apresentam-se em dois gêneros na poesia
trovadoresca: as “cantigas de amor”, em que o eu-poemático representa a figura do
namorado (o “amigo”), e as “cantigas de amigo”, em que o eu-poemático representa a
figura da mulher amada (a “amiga”) falando de seu amor ao “amigo”, por vezes dirigindo-
se a ele ou dialogando com ele, com outras “amigas” ou, mesmo, com um confidente (a
mãe, a irmã, etc.). De posse desta informação:

05- Classifique a cantiga de Airas Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a


justificativa dessa resposta:

R: trata-se de uma cantiga de amigo, pois o eu-lírico é feminino: ‘nós já todas três, ai
amigas’.

06- Identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu-poemático do


poema de Cecília Meireles representa.

R: a figura que o eu-poemático representa é a do confessor da dama, a quem ela revelou


segredos amorosos e questiona-a da segurança do amor.

07- UFPA: Leia atentamente o texto abaixo, considerando a sua temática e forma:

Ondas do mar de Vigo,


se vistes meu amigo!
e ai Deus, se verrá cedo!

Ondas do mar levado,


se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amigo,


o por que eu sospiro!
e ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amado,


por que ei gram cuidado!
e ai Deus, se verrá cedo!
Martim Codax – In: NUNES, José Joaquim. Cantigas [...]. Lisboa: Centro do Livro
Brasileiro, 1973. v. 2, p. 441.)

Acerca do poema, é CORRETO afirmar:


A) O uso de refrão e o paralelismo justificam a classificação como cantiga de amor.
B) A referência à natureza é meramente convencional, não expressando intimidade
afetiva.
C) A expressão do sofrimento amoroso — “por que ei gram cuidado!” — está de acordo
com os padrões da cantiga de amor.
D) A enamorada, saudosa, dirige-se às ondas em busca de notícias do amigo que tarda.
E) Versos como “se vistes meu amado!” traduzem uma atitude de vassalagem amorosa.

05- UEPA: Leia a Cantiga reproduzida abaixo e, em seguida, responda à questão proposta
no comando.

Cantiga

Dizia la fremosinha:
“ai, Deus, vai!
Com’estou d’amor ferida!
ai, Deus, vai!

Dizia la bem talhada:


“ai, Deus, vai!
Com’estou d’amor coitada!
ai, Deus, vai!

Com’estou d’amor ferida!


ai, Deus, vai!
Nom vem o que bem queria!
ai, Deus, vai!

Com’estou d’amor coitada!


ai, Deus, vai!
Nom vem o que muit’amava!
ai, Deus, vai!”
D. Afonso Sanches – In Elsa Gonçalves. A lírica galego-portuguesa. Lisboa. Editorial
Comunicação, 1983.
Sobre a cantiga acima, de D. Afonso Sanches, é correto afirmar:
A) A voz que fala na cantiga é do homem apaixonado que sofre por amor e dirige-se a
Deus.
B) A fremosinha (formosinha) lamenta seu sofrimento pela ausência do amado.
C) O paralelismo “ai, Deus, vai! (ai, valha-me Deus!) é muito comum nas cantigas de
amor medievais.
D) O homem sente-se muito ferido pela não correspondência amorosa da fremosinha
(formosinha).

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