Desafios Do Estágio Obrigatório

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Desafios do Estágio Obrigatório

em tempos de pandemia:
análise com estudantes de
Pedagogia da UFPR
Leia de Cássia Fernandes Hegeto
Débora Cristina Lopes

01
Resumo: A pesquisa tem por objetivo analisar os desafios do estágio supervisionado realizado
durante a pandemia do COVID-19 na formação e prática dos estudantes do curso de Pedagogia
da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A pesquisa bibliográfica baseia-se em autores como:
Tardif (2014), Pimenta e Lima (2004; 2006), e Souza e Ferreira (2020). Como metodologia optou-se
pela pesquisa qualitativa de caráter exploratório, utilizando como ferramentas a revisão de literatura
e a realização de questionário com 26 (vinte e seis) estudantes do curso de Pedagogia da UFPR,
realizadas no mês de setembro de 2020, via formulário do Google. A pesquisa de campo contou
com questões semiestruturadas buscando contemplar o papel do estágio na formação docente e
as dificuldades encontradas na realização das disciplinas de estágio na Educação Infantil, Ensino
Fundamental I e Organização do Trabalho Pedagógico Escolar durante a Pandemia.

Palavras-chave: COVID-19, Estágio Supervisionado, Ensino Remoto, Pedagogia.

Introdução

O início da docência é um período importantíssimo para a vida profissional, repleto de ex-


pectativas e de incertezas. Este período, por sua vez, tem início nas atividades de estágio e na
prática de ensino durante o curso de formação inicial e compreende os primeiros anos na profissão,
nos quais os professores fazem a transição de estudantes a docentes.
Nos cursos de licenciatura, os estágios constituem-se em um momento ímpar, no qual o estudante
tem a oportunidade de experienciar, sob orientação, situações reais de sala de aula, assim como
a organização do trabalho pedagógico, como o planejamento e a organização das atividades em
sala de aula e o relacionamento com os alunos da escola e com os próprios colegas, professores,
gestores e familiares.
O ano de 2020 ficará marcado, para todos, como um ano atípico; vivemos uma crise mundial
no campo sanitário, com grandes consequências no campo econômico. Em dezembro de 2019,
a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a ocorrência de uma doença respiratória, de
causas desconhecidas, na província de Wuhan, na China. Em janeiro de 2020, foi declarada Emer-
gência de Saúde Pública em todos os continentes.
No Brasil, em fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde declara Emergência Nacional de
Saúde (ESPIN), em decorrência da Infecção Humana pelo novo Coronavírus (BRASIL, 2020a). E,
em março, rigorosas medidas passaram a ser adotadas, com destaque para o distanciamento so-
cial. As diretrizes propostas passaram a organizar a vida em sociedade e nas instituições de ensino
que tiveram que se adaptar às novas exigências.
Nesse contexto, no dia 17 de março de 2020, foi publicado, no Diário Oficial da União, por
meio da portaria nº 343, a substituição das aulas presenciais por um período de 30 dias ou enquan-
to durasse a pandemia. De acordo com o Art. 1º, o MEC resolve:
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Autorizar, em caráter excepcional, a substituição das disciplinas presenciais, em andamento,
por aulas que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação, nos limites
estabelecidos pela legislação em vigor, por instituição de educação superior integrante do
sistema federal de ensino, de que trata o art. 2º do Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro de
2017 (BRASIL, 2020b, p.01).

Na mesma data, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) suspendeu os calendários aca-


dêmicos dos cursos de graduação, de pós-graduação e de educação profissional e tecnológica
(UFPR, 2020a). Em 04 de maio de 2020, a Resolução 44/2020 regulamentou a oferta remota das
disciplinas de estágio (UFPR, 2020b).
Assim, a presente pesquisa tem por objetivo analisar os desafios do estágio supervisionado,
realizado durante a pandemia do COVID-19, para a formação e a prática dos estudantes do curso
de Pedagogia da UFPR. Buscou-se analisar as dificuldades encontradas pelos estudantes em for-
mação em sua prática docente, bem como o papel da Universidade como instituição formadora.
A partir das análises realizadas a pesquisa buscou responder a seguinte questão: Qual a
contribuição dos estágios supervisionados na formação do professor e as principais dificuldades
encontradas em sua realização no contexto da Pandemia?

O papel do estágio supervisionado na formação de professores

Entende-se a formação de professores como um processo contínuo de desenvolvimento;


sendo assim, as possibilidades de aprendizagem ocorrem em todas as etapas da vida profissional
docente. Neste estudo, atentamos para o período de inserção do professor na carreira docente, ou
seja, este item busca identificar o papel do estágio supervisionado na formação de professores.
O início da docência é compreendido como sendo um processo de construção de saberes
práticos da profissão, um momento em que o professor verifica que “[...] muita coisa da profissão
se aprende com a prática, pela experiência, tateando e descobrindo, em suma, no próprio trabalho”
(TARDIF, 2014, p. 86).
As características deste período apontam para um momento de aprendizagem, isto é, do
“aprender a ensinar”, que se dá no espaço da organização escolar. A aprendizagem contínua deve
ser vista como um lugar propício ao desenvolvimento profissional do professor iniciante, ajudando-
-o a superar as dificuldades sentidas no exercício de sua atividade como docente.
Pimenta e Lima reconhecem que:

[...] o estágio se constitui como um campo de conhecimento, o que significa atribuir-lhe um


estatuto epistemológico que supera sua tradicional redução à atividade prática instrumental.
Enquanto campo de conhecimento, o estágio se produz na interação dos cursos de formação
com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas (PIMENTA; LIMA, 2006,
p. 06).

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As vivências durante o estágio têm um papel de extrema importância para a constituição da
carreira do professor, pois o contato com a sala de aula, via observação, coparticipação e regên-
cias, na maioria das vezes, possibilita um movimento de reflexão sobre a atuação em contextos
específicos da futura atuação, desde que gerido de forma orgânica, no sentido dos significados
desse primeiro momento com a prática escolar (PIMENTA; LIMA, 2006).
A Resolução nº 2, de 20 de dezembro de 2019, do CNE, que define as Diretrizes Curricu-
lares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica, em seu artigo 7º
destaca:

[...] VII - integração entre a teoria e a prática, tanto no que se refere aos conhecimentos
pedagógicos e didáticos, quanto aos conhecimentos específicos da área do conhecimento
ou do componente curricular a ser ministrado;
VIII - centralidade da prática por meio de estágios que enfoquem o planejamento, a regência
e a avaliação de aula, sob a mentoria de professores ou coordenadores experientes da escola
campo do estágio, de acordo com o Projeto Pedagógico do Curso (PPC).
IX - Reconhecimento e respeito às instituições de Educação Básica como parceiras
imprescindíveis à formação de professores, em especial as das redes públicas de ensino;
X - Engajamento de toda a equipe docente do curso no planejamento e no acompanhamento
das atividades de estágio obrigatório;
XI - estabelecimento de parcerias formalizadas entre as escolas, as redes ou os sistemas de
ensino e as instituições locais para o planejamento, a execução e a avaliação conjunta das
atividades práticas previstas na formação do licenciando; [...] (BRASIL/CNE, 2019).

O estágio curricular obrigatório deve aliar teoria e prática, buscando atender às necessida-
des reais apresentadas pelo cotidiano escolar.

Desafios e estratégias de implementação do estágio obrigatório em tempos de


Pandemia

A pandemia provocou grandes mudanças em várias áreas da sociedade, em especial, na


área educacional. Para dar continuidade ao ano letivo, as redes de ensino passaram a adotar, no
início do ano de 2020, o Ensino Remoto, como alternativa emergencial. Coelho (2020) aponta que
o Ensino Remoto se aproxima da Educação a Distância (EAD) no que se refere ao uso de tecnolo-
gias, porém, difere-se na qualificação profissional para o uso das tecnologias e para a compreen-
são das especificidades da modalidade. Assim, o Ensino Remoto:

Assemelha-se com a educação a distância (EAD), uma vez que também é mediada por
tecnologias, mas sua prática consiste em distribuição de materiais didáticos pelas escolas,
em formato digital ou impresso, para que os estudantes possam estudar de casa e pela
veiculação de vídeo aulas em plataformas digitais de ensino e aprendizagem, em aplicativos
de conversa e/ou em redes sociais, entre outros (COELHO, 2020, p. 03).

Na UFPR foi implementado o Ensino Remoto Emergencial (ERE), que consiste em: “uma
ação emergencial que busca, em tempos de crise, seguir promovendo a formação por meio de

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atividades pedagógicas totalmente remotas, tendo no seu horizonte a expectativa de retomada das
atividades tais como estavam previstas” (UFPR, 2020c, p. 05).
Assim, com o distanciamento social e com a implementação do Ensino Remoto, alunos e
professores, em todos os níveis de ensino, tiveram que adaptar e modificar suas rotinas, transfor-
mando suas residências em locais de estudo e de atividades profissionais.
Muitos são os desafios para implementar o Ensino Remoto no Brasil. Dentre eles, pode-
mos destacar as realidades diversas vivenciadas tanto pelos estudantes quanto pelos professores.
Muitos apresentam dificuldades na utilização de plataformas online de ensino, seja por falta de
conhecimentos, por falta de equipamentos compatíveis ou por dificuldades de acesso à internet.
Já os professores necessitam de formação técnica para orientar os processos pedagógicos de
aprendizagem em ambientes virtuais, por meio de videoaulas, transmissões ao vivo, entre outros
mecanismos de ensino.
Souza e Ferreira (2020) apontam as novas configurações e os novos desafios inerentes à
realização do estágio na pandemia. Assim:

Não podíamos imaginar que seríamos tão violentamente atingidos pelo Coronavírus. O
espaço público de nossas vidas, e em especial, das escolas foi abortado de nosso cotidiano.
Enquanto profissionais e estudantes, a vida nas escolas teve que se reconfigurar perante
um uma tela de computador ou outro equipamento. Como professores e estudantes somos
incumbidos a remodelar as práticas para a continuidade da oferta escolar por meio do ensino
remoto. As universidades enfrentaram os problemas decorrentes da desigualdade de acesso
e condições para a inclusão digital, a ausência de formação para o domínio das diferentes
práticas digitais, além de aspectos estruturais e de gestão do conhecimento (SOUZA;
FERREIRA, 2020, p. 10).

A suspensão das atividades letivas presenciais, gerou a necessidade dos professores e


estudantes migrarem para a realidade online, transpondo metodologias e práticas presenciais para
esse novo espaço. Para este momento cada instituição de ensino superior precisou se adaptar à
realidade posta.
Souza e Ferreira (2020) apontam em seu estudo a necessidade de formação docente para
o uso de ambientes digitais, tanto para licenciandos, como para docentes, bem como a adaptação
do plano de estágio visando o planejamento e execução de atividades voltadas para aplicação com
alunos da educação básica em ambientes virtuais e/ou on-line.
Para possibilitar a participação dos alunos nas atividades remotas, a UFPR lançou editais
para empréstimo de notebook e serviços de internet para alunos que necessitavam de tal auxílio
(UFPR, 2020d). No que tange à capacitação de professores, a universidade, por meio da Coor-
denação de Integração de Políticas de Educação a Distância (CIPEAD), tem realizado cursos de
formação emergencial para os professores.
Quanto à realização dos estágios no curso de Pedagogia, objeto desta pesquisa, outros
desafios apresentaram-se, por exemplo, o fechamento das escolas. Dessa forma, sem o funciona-
mento presencial das escolas, a relação entre a teoria e a prática na formação inicial, para que não
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fosse ainda mais prejudicada, precisou ser adaptada ao Ensino Remoto e online.
A estratégia adotada pela coordenação do curso de Pedagogia da UFPR, em conjunto com
os departamentos que ofertam as disciplinas de estágio, foi, em um primeiro momento, consultar os
alunos sobre o interesse em realizar o estágio de maneira remota, o que, nesse caso, foi positivo
por grande parte dos alunos. Em um segundo momento, foi preciso planejar, de maneira conjunta
entre as pró-reitorias, setores, departamentos, coordenadores de cursos e professores, os encami-
nhamentos para essa realização.
Até o momento da paralisação das atividades presenciais, os estudantes haviam realizado,
no máximo, três visitas às escolas onde seriam realizadas as atividades de estágio. Assim, não
haviam estabelecido vínculos com a instituição. Portanto, optou-se pela realização do estágio sem
relação com a escola.
Os estágios em docência na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, ofertados pelo
Departamento de Teoria e Prática de Ensino (DTPEN), adotaram, como metodologia, a realização
de aulas síncronas, via plataformas digitais e atividades assíncronas.
As atividades assíncronas buscavam fundamentação teórica com leituras de textos da área
e análise de documentos, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Referencial Nacio-
nal Curricular e as Diretrizes da Rede Municipal de Ensino de Curitiba. Também foram disponibili-
zados documentários e vídeos produzidos pelas escolas e pela rede municipal de Curitiba.
Já as aulas síncronas buscavam discutir os elementos presentes nos momentos assíncronos, bem
como os encaminhamentos para a elaboração de Planos de Aula (organizados no momento assín-
crono).
O estágio supervisionado na Organização Escolar, ofertado pelo Departamento de Admi-
nistração e Planejamento Escolar (DEPLAE), adotou como metodologia, assim como os demais
estágios, a realização de aulas síncronas, via plataformas digitais, e atividades assíncronas, com
entregas obrigatórias de atividades via plataforma virtual.
As atividades assíncronas buscaram fornecer embasamento teórico referente a temas emer-
gentes na organização do trabalho pedagógico escolar, como a função social da escola, os tempos
e espaços escolares, os sujeitos da escola e a gestão democrática.
As aulas síncronas possibilitaram aprofundar as discussões sobre as temáticas abordadas através
de leituras e atividades, tais como entrevistas e pesquisas em documentos digitalizados e dispo-
níveis nos sites das escolas.
Para possibilitar um maior contato com a realidade do trabalho pedagógico escolar, foram
organizadas, também, lives transmitidas pelo YouTube que, por sua vez, contaram com a partici-
pação de egressos do curso, de professores das redes de ensino, de pedagogos e de diretores de
escola.
COELHO (2020, p. 02) aponta que as lives “tornaram-se, nestes tempos de pandemia do
Covid-19, uma ferramenta importante não só como uma possibilidade segura de entretenimen-
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to, mas também como um canal eficaz para a discussão de temas relevantes para área da educa-
ção”.
As principais temáticas abordadas nas lives referem-se ao relato de experiência na realiza-
ção do estágio por egressos, aos desafios do trabalho pedagógico frente à diversidade e às dife-
rentes juventudes existentes, às funções exercidas pelo Pedagogo e ao trabalho pedagógico em
tempos de pandemia.

Pesquisa de campo: O que pensam os estudantes do Curso de Pedagogia da


UFPR sobre o estágio em tempo de Pandemia

No encaminhamento metodológico, optou-se pela pesquisa qualitativa de caráter explora-


tório que, de acordo com Gil (2008), busca proporcionar maior familiaridade com o problema. Tal
metodologia envolve levantamento bibliográfico e entrevistas com pessoas que tiveram experiência
no problema pesquisado.
Nesta pesquisa, optou-se, como instrumento de pesquisa pelo questionário elaborado uti-
lizando o Google Formulário e encaminhado por e-mail para o grupo de estudantes do curso de
Pedagogia da UFPR. Este envio foi feito pela coordenação do curso de Pedagogia, a pedido da
pesquisadora do trabalho e solicitado a colaboração no preenchimento da pesquisa aos estudantes
que estavam realizando uma das disciplinas de Estágio (Educação Infantil, Ensino Fundamental I
e Organização do Trabalho Pedagógico Escolar – total: 450 alunos). O formulário enviado continha
questões de múltipla-escolha e questões abertas dissertativas que, por sua vez, abordam o papel
do estágio na formação docente e as dificuldades encontradas na realização das disciplinas de
estágio no Curso de Pedagogia da UFPR.
Ainda na etapa da construção da fundamentação teórica, foram definidas as categorias de
análise que nortearam a construção do questionário, a partir da Análise de Conteúdo (BARDIN,
2011). A pré-análise das respostas foi realizada com a intenção de reconhecer características
gerais do material a ser analisado e, nesse caso, as respostas presentes nos formulários. A partir
dessa primeira leitura delimitou-se um corpus de análise e as categorias relacionadas à contribui-
ção do estágio na formação docente, apresentadas a seguir: importância dos Estágios Supervisio-
nados na formação docente e dificuldades encontradas na realização dos estágios.
A pesquisa foi enviada no dia 21 de setembro de 2020 e respondida, voluntariamente, por 26
(vinte e seis) acadêmicos do curso de Pedagogia, de diferentes períodos, até a data de 28 de se-
tembro de 2020. Para manter a confidencialidade dos dados, os entrevistados foram identificados
como E1 a E26.
Na tentativa de analisar a visão dos alunos, referente à importância do Estágio Supervisio-
nado na formação docente, os estudantes foram questionados se os estágios contribuíram para
a sua atuação como docente. Do total, 90,9% apontaram que sim, 6,1% acreditam que contribui
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parcialmente e 3% apontam não perceberem contribuição em sua atuação. Tal dado revela que
a grande maioria dos estudantes entende o estágio como um momento fundamental em sua for-
mação. Foi possível verificar que os estudantes enxergam o estágio como uma possibilidade de
colocar em prática o que foi aprendido durante a graduação, podendo assim, vivenciar os limites,
dificuldades e possibilidades da atuação docente.
As principais contribuições apontadas pelos entrevistados, por sua vez, referem-se à pos-
sibilidade de aliar teoria e prática, de observar e planejar a aula, de conhecer a organização da
escola e de agir em sala de aula.
Neste sentido, Pimenta e Lima (2006) apontam que o estágio é uma atividade teórica, instru-
mentalizadora da práxis docente, entendida esta como a atividade de transformação da realidade.
Assim, [...] “o trabalho docente do contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da
sociedade que a práxis se dá” (PIMENTA; LIMA, 2006, p.14).
Tais contribuições podem ser observadas na fala da estudante 3 que destaca: “A partir do
estágio pude vivenciar a teoria com a prática e aplicar algumas coisas e outras vi que não serviam”
(E 3).
Nesta mesma perspectiva, a estudante 26 destaca a reflexão sobre a prática possibilitada
pelo estágio, assim: “Toda experiência é válida, sei que me ajudou a melhorar em minhas ações
com as crianças, passei a ter um olhar mais crítico voltado a minha prática e a prática dos profis-
sionais que atuam junto a mim” (E26).
A estudante 19 aponta que a experiência na realização do estágio possibilitou: “Em como
agir com as crianças e principalmente como não agir, mostraram os limites e possibilidades de
atuação” (E 19).
As falas supracitadas apontam para uma característica analisada por Souza e Guarnieri
(2016) quando se referem aos estágios de observação, que, por vezes, trazem ao estagiário a vi-
são do que não fazer. Porém, tal prática permite ao futuro docente conhecer, analisar e refletir sobre
seu ambiente de trabalho, bem como as possibilidades de utilização de diferentes metodologias
para que se atinja os objetivos almejados.
As disciplinas de estágio têm o papel de desenvolver atividades que permitam a análise, o
conhecimento e a reflexão do trabalho docente, como destacam Pimenta e Lima:

Esse conhecimento envolve o estudo, a análise, a problematização, a reflexão e a proposição


de soluções às situações de ensinar e aprender. Envolve experimentar situações de ensinar,
aprender a elaborar, executar e avaliar projetos de ensino não apenas nas salas de aula, mas
também nos diferentes espaços da escola (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 55).

Um estudante apontou não perceber contribuição efetiva do estágio, por não ter acesso à
parte burocrática e à parte de planejamento, inerente à profissão. O acadêmico aponta que: “O
estágio mostra uma realidade muito diferente, apenas vemos a prática docente, mas todo o pla-

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nejamento e as imposições sobre o professor ficam escondidas, só me dei conta disso quando fui
trabalhar em uma escola e pude observar o dia a dia” (E 10).
Dentre os alunos, dois deles apontaram a contribuição parcial do estágio, relacionando este
fato ao pouco preparo para a prática docente. A Estudante 12 aponta que os estágios: “Trouxeram
o mínimo de inserção no campo profissional. Por outro lado, acredito que meu trabalho, que não é
docente, me dá uma ideia muito mais próxima da realidade escolar do que os estágios (E 12).
O estudante 15 destacou o papel do estágio em instrumentalizar a prática, fornecendo su-
porte para a elaboração do planejamento, porém, não conseguiu relacioná-lo com a prática: “Me
ajudaram com relação à elaboração dos planos de aula, com a prática em si não” (E 15).
Quando questionados sobre a realização do estágio em tempos de pandemia, os acadêmi-
cos relataram encontrar pontos positivos e negativos. Como pontos positivos, a possibilidade de
aprofundamento teórico de diversas temáticas referentes à docência e o trabalho pedagógico. Foi
destacado o esforço dos professores em aproximar os estudantes da realidade da escola nesse
período de atividades on-line.
Professores, Pedagogos, Diretores e estudantes das redes de ensino foram convidados
para participar das aulas síncronas e puderam conversar e tirar dúvidas, via plataforma, sobre as
principais atribuições em período de pandemia e em período presencial e as principais dificuldades
nesse período remoto.
Nos questionários foram destacados o esforço e dedicação de todos durante as aulas remo-
tas, como aponta a estudante 2: “O Estágio em OTP, tem sido bacana, todo mundo está dando seu
máximo, não é a mesma coisa que presencial claro, mas os esforços e dedicação dos professores
têm feito ser algo leve (E2).
Outro ponto levantado se refere à possibilidade de reflexão durante as atividades e aulas:
“Mesmo com aulas remotas, estão sendo oportunizadas reflexões importantes e, sobretudo, ne-
cessárias. As aulas remotas estão sendo produtivas e os temas bem explorados - na medida do
possível (E23).
Também foram destacadas as trocas de experiências possibilitadas durante as aulas e lives:
“A interação com a turma e a professora, as trocas de experiências, os diálogos, as Lives muito
interessantes, os materiais, os textos, as atividades, a dedicação e o foco da professora, a atenção
dela para com todos/as” (E26).
Como ponto negativo, foram apontadas a impossibilidade de estar, de forma presencial, na
escola e a dificuldade de pôr em prática tudo que é discutido na universidade.

O estágio [na educação infantil] está sendo muito bem orientado, acredito que a maior
dificuldade é pensar em crianças fictícias, pois não temos uma turma realmente para observar
e interagir, para quem já possui experiência na escola fica mais fácil, mas para quem não tem
este contato acredito que fica um pouco mais complexo refletir sobre estas dinâmicas (E11).

Negativo é que escola só vi por foto. Pedagoga só ouvi em lives. Acho que isso vai marcar
nossa formação... Não ter contato real com os estudantes e equipe docente. Sempre serei

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lembrado como o Pedagogo que não fez estágio em Pedagogia (E12).

Estou realizando o Estágio de Ensino Fundamental a distância, e essa experiência em si


tem sido muito negativa em relação a possível prática. Nunca atuei no ensino fundamental e
estava bastante ansiosa para a prática (E24).

Nos relatos acima é compreensível um certo desapontamento por parte dos estudantes em
relação ao estágio remoto, visto que estes criaram expectativas em relação ao que poderia ocorrer
no acompanhamento das aulas de professores e das ações das pedagogas que atuam em escolas
da rede pública de ensino.
Outro aspecto levantado refere-se às dificuldades de acesso e de permanência nas aulas,
impostas pelo momento atual, na realização do estágio de forma remota. O estudante trabalhador
precisou “dar conta” das novas exigências e das atribuições inerentes ao trabalho/estudo remoto.

Na verdade, o estágio tem sido um peso para mim, todas as leituras, pois estou trabalhando
mais do que se estivesse tudo normal. Além de faltar a experiência no campo, visto que
estudamos MUITO POUCO sobre a faixa etária compreendida no estágio, durante o curso,
no caso da OTP (E1).

Os relatos nos mostram que mesmo diante das dificuldades impostas pela pandemia, estu-
dantes e professores têm se reinventado para conseguir continuar os estudos, nesse caso, realizar
o estágio, tendo em vista a importância dessa disciplina na formação dos futuros professores e a
reorganização e oferta dessa disciplina nesse período remoto, isso pois:

[...] considera-se que o estágio na imersão da sala de aula da educação básica é um direito
do licenciando, pois as tarefas de planejar, aplicar e avaliar atividades de ensino em turmas
previamente designadas ao professor em formação inicial é o que lhe faculta a experiência
da profissionalização. O estagiário é parte da configuração escolar (SOUZA; FERREIRA,
2020, p. 07).

A possibilidade de um maior aprofundamento teórico foi apontada como um ponto positivo,


do mesmo modo que a impossibilidade de se estar presencialmente no campo de estágio foi apon-
tada como um ponto negativo.

Considerações Finais

A presente pesquisa teve por objetivo analisar os desafios do estágio supervisionado du-
rante a pandemia de COVID-19 na formação e na prática dos estudantes do curso de Pedagogia
da UFPR. Buscou-se analisar as dificuldades encontradas pelos estudantes em formação em sua
prática docente e o papel da Universidade como instituição formadora.
Para atingir os objetivos supracitados, optou-se, como encaminhamento metodológico, pela
pesquisa qualitativa de caráter exploratório. Tal metodologia envolve levantamento bibliográfico e

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questionário via Google formulário.
Nas análises, buscou-se responder quanto à contribuição dos estágios supervisionados na
formação dos professores e as principais dificuldades encontradas em sua realização, no contexto
da pandemia. Foi possível observar, com base na revisão de literatura e análise dos formulários
que os cursos de formação inicial mesmo no período da pandemia, têm buscado formar profissio-
nais qualificados e atentos à realidade dos alunos, além de buscar eleger as estratégias mais ade-
quadas de ensino-aprendizagem, considerando-se a diversidade dos alunos, as diferentes faixas
etárias e suas especificidades.
Na análise das entrevistas, foi possível perceber que os estágios supervisionados têm con-
tribuído para a prática docente na medida em que possibilitam ao estudante interagir em situações
reais de ensino, assim como planejar suas ações, mesmo com as dificuldades impostas pelo ensi-
no remoto.
Defende-se, portanto, nessa pesquisa, a formação inicial e continuada para uma atuação
competente e comprometida. O acompanhamento do trabalho desses docentes deve ter como foco
central o desenvolvimento profissional, tendo em vista a complexidade de demandas impostas à
carreira docente na atualidade.

Referências

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Cadernos de Estágio Vol. 3 n.1 - 2021


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