DPC Medicina Legal Luciana Gazzola
DPC Medicina Legal Luciana Gazzola
DPC Medicina Legal Luciana Gazzola
Sumário
CAPÍTULO 1 ......................................................................................................................... 3
CAPÍTULO 2 ....................................................................................................................... 18
CAPÍTULO 3 ....................................................................................................................... 33
CAPÍTULO 4 ....................................................................................................................... 68
CAPÍTULO 5 ....................................................................................................................... 78
TOXICOLOGIA FORENSE.................................................................................................. 78
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CAPÍTULO 1
CORPO DE DELITO
OS PERITOS
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Não podem ser peritos: (i) os que estiverem submetidos a interdição de direitos
(remissão ao art. 47, incisos I e II, do Código Penal, que dispõe sobre proibição do exercício
de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; e proibição do exercício
de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou
autorização do poder público), (ii) os que prestaram depoimento anterior no processo ou
emitiram opinião sobre objeto da perícia, (iii) os analfabetos e menores de 21 anos. Aplicam-
se aos peritos, ainda, as causas de suspeição dos juízes, nos termos do art. 280 do CPP.
O Código de Processo Penal (CPP), Decreto-lei n. 3.689, de 03 de outubro de 1941,
rege a matéria “perícias e peritos” especialmente nos Capítulos II e VI, sobretudo nos artigos
158 a 184 e artigos 275 a 281.
Ressalte-se que, nos termos do art. 6o do CPP, logo que tiver conhecimento da prática
da infração penal, a autoridade policial deve se dirigir ao local, providenciando para que não
se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; apreender
os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; bem como
determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias.
Um dos mais relevantes dispositivos do CPP para a Medicina Legal é o art. 158, que
dispõe sobre a indispensabilidade do exame de corpo de delito em crimes que deixam
vestígios, a impossibilidade de suprimento desse exame pela confissão do acusado e a
possibilidade de se construir a materialidade delitiva de duas formas: direta e indireta.
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Quando o perito examina a própria pessoa Quando, não mais existindo esses vestígios
ou coisa sobre a qual recai a conduta materiais, examina-se prova testemunhal,
delitiva, os próprios vestígios da infração. mas também prontuários médicos,
fotografias, fichas de atendimento, etc.
O próprio art. 167 do CPP dispõe que, não sendo possível o exame de corpo de delito
[direto], por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta
[trata-se, em verdade, da construção da materialidade por meio do exame de corpo de delito
indireto].
Ressalte-se que a prova testemunhal também pode suprir a eventual falta do exame
complementar realizado para fins de avaliação da lesão corporal grave por incapacidade para
as ocupações habituais por mais de 30 dias (art. 129, § 1o, I, CP). Tal exame complementar
para esse fim deve ser realizado 30 dias contados de forma corrida, desde a data do crime.
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uma perícia médico-legal, assunto que já foi abordado em provas objetivas de concursos
policiais!
1. Por que o § 2o do art. 159 do CPP apenas menciona, quando à necessidade de prestação
de compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, os peritos NÃO oficiais,
nomeados?
Porque os peritos oficiais já prestaram tal compromisso quando da assinatura de seu
termo de posse, por aprovação em concurso público de provas e títulos!
7. Há um prazo temporal mínimo após o óbito para que seja realizada uma necropsia?
Sim. O art. 162 do CPP determina que “a autópsia [ou necropsia] será feita pelo menos
seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto”.
Trata-se do chamado “período de incerteza de Tourdes”, período que circunda a morte
e que, sobretudo sem a realização de exames complementares especializados, pode
gerar alguma dúvida acerca da realidade ou apenas aparência de morte.
A morte não é um instante; ela é um processo. As funções vitais não cessam todas ao
mesmo tempo. Assim, a norma traz um período de tempo para que haja a certeza da
morte; os sinais de certeza da morte são os fenômenos cadavéricos abióticos
mediatos ou consecutivos, como os livores hipostáticos, a rigidez cadavérica, o
resfriamento e a evaporação cadavéricos.
Contudo, se o perito constatar a evidência dos citados sinais de morte (ou também no
caso de um cadáver decapitado ou em espostejamento ferroviário, em que há certeza
da realidade da morte), ele pode realizar a necropsia antes do prazo legal.
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CADEIA DE CUSTÓDIA
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Documentos médico-legais
NOTIFICAÇÃO
Não! Há três situações em que o médico pode “quebrar” o sigilo sem que isso se
configure um ilícito: se houver consentimento por escrito do paciente, por justa causa (motivo
justo) e por dever legal. A notificação compulsória é uma hipótese de dever legal! Isso porque
o próprio artigo 269 do Código Penal configura como crime a omissão de notificação de
doença cuja comunicação seja compulsória. Logo, trata-se de dever imposto por lei, o que
exclui eventual ilicitude da conduta de revelação do segredo diagnóstico.
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ATESTADOS OU CERTIFICADOS MÉDICOS
RELATÓRIO MÉDICO-LEGAL
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É o documento médico-legal por excelência, por conter a descrição minuciosa de uma
perícia, a fim de responder a autoridade policial ou judiciária.
Relatório é gênero do qual há duas espécies: o laudo e o auto.
LAUDO AUTO
Quando o documento é redigido pelo próprio Quando os achados são ditados a um
perito depois de terminada a perícia. escrivão de Polícia durante o exame,
geralmente na presença de testemunhas.
O CPP dispõe que “os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão
minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados”, no art. 160. O
prazo para elaboração do laudo pericial é de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em
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PARECER MÉDICO-LEGAL
→ Atenção! A descrição é o componente mais importante do relatório! Por outro lado, está
ausente no parecer! O componente mais importante do parecer é a discussão e,
secundariamente, a conclusão. É na discussão que o perito parecerista poderá debater e
dirimir as dúvidas e divergências havidas.
→ Obs.: parecer é também o termo atribuído pelo CPP ao documento elaborado pelo
assistente técnico das partes.
DEPOIMENTO ORAL
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DECLARAÇÃO DE ÓBITO
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Nas localidades onde existir apenas 1 (um) médico, este é o responsável pelo
fornecimento da Declaração de Óbito.
CAPÍTULO 2
TANATOLOGIA FORENSE
Parte geral, tipos de morte e de necropsia
Tópicos em Tanatologia Forense
Cronotanatognose e fenômenos cadavéricos
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A Tanatologia Forense é o estudo da morte, do cadáver e de suas repercussões nas
esferas jurídica e social. Estuda os tipos de morte, suas causas e seu diagnóstico, tipos de
necropsia e fenômenos cadavéricos.
NECROPSIA
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Causa médica da morte → mecanismo biológico que originou o óbito. Ex: choque
hipovolêmico (por hemorragia grave), sepse (infecção generalizada), etc.
Causa jurídica da morte → quando se trata de morte por causa externa, deve-se avaliar a
existência de eventual responsável por ela, por isso a obrigatoriedade da realização de
necropsia forense. A causa jurídica constitui a avaliação da existência de homicídio/crime,
suicídio ou acidente.
MORTE SUSPEITA
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estabelecimentos de recuperação de menores, internação psiquiátrica involuntária, hospitais
judiciários. Deve-se avaliar se há responsabilidade pela ocorrência da morte, já que é
atribuição do Estado proteger a integridade do preso.
3. Morte por violência oculta → não há lesões externas e podem estar ocultos
envenenamento e traumatismos internos. Também corpos em estado avançado de
decomposição são assim considerados, por não se poder afirmar a existência ou ausência de
sinais externos de violência.
4. Morte por violência indefinida → há indícios externos de violência, não se podendo
precisar sua causa.
5. Morte por infortúnio do trabalho → doença ou acidente do trabalho, sendo necessário se
avaliar se há eventual responsabilidade do empregador pela ocorrência.
6. Morte em cirurgias eletivas → é a hipótese de uma morte ocorrida em uma cirurgia eletiva
de paciente sem circunstâncias mórbidas que a justifiquem, como cirurgias plásticas
exclusivamente estéticas em pacientes saudáveis. Deve-se avaliar se há eventual má prática
médica ou ato negligente, apto a gerar responsabilização médica.
EXUMAÇÃO
Exumar é o ato de retirar os restos mortais de onde o corpo foi sepultado, desenterrar.
Pode ser feita com diferentes finalidades, o que a subdivide em suas espécies:
1. Exumação administrativa → feita para remoção e troca de urna e local de sepultura, para
retirada de restos mortais para cremação, remoção do esqueleto para ossuário, dentre outras
possibilidades.
2. Exumação judiciária → finalidade médico-legal e feita por determinação de autoridade
judiciária e/ou policial, em casos de dúvidas quanto à real causa da morte, inumação em morte
violenta ou suspeita sem necropsia prévia, dúvidas quanto à identidade do morto, etc.
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O principal documento produzido será o auto de exumação e identificação cadavérica.
A morte real, nos dias atuais e para fins médicos e jurídicos, é a morte encefálica,
que consiste na condição final, irreversível e definitiva de cessação das atividades do tronco
encefálico. O tronco encefálico é constituído de mesencéfalo, ponte e bulbo, sendo
localizados no bulbo importantes centros neurológicos de controle das funções vitais
cardiovasculares e respiratórias.
Deve-se diferenciar a morte real da morte aparente, estado de profundo embotamento
das funções vitais, em que há aparência mas não realidade da morte. Na morte aparente,
estado transitório em que as funções vitais estão aparentemente abolidas, observa-se a tríade
de Thoinot, que consiste na imobilidade, ausência aparente de respiração e de circulação.
Contudo, havendo alguma função encefálica ativa, o indivíduo não está realmente morto.
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O consentimento para a doação post mortem está descrito no art. 4o da Lei 9.434/1997
e “depende da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha
sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito
por duas testemunhas presentes à verificação da morte”.
Sendo o doador juridicamente incapaz, o consentimento deve ser dado por ambos os
pais, se vivos, ou pelos responsáveis legais.
Pessoas não identificadas não podem ser doadoras de órgãos post mortem!
DOAÇÃO EM VIDA
Pessoa juridicamente capaz pode dispor gratuitamente de tecidos e órgãos para fins
terapêuticos para doar para: (i) cônjuges ou parentes consanguíneos até o 4º grau, inclusive,
ou (ii) para qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial (exceto para medula óssea,
que segue regulamentação distinta).
Incapazes não podem, em regra, doar órgãos em vida! A exceção é para
medula óssea, desde haja consentimento dos responsáveis legais e autorização judicial.
O doador vivo, mesmo tendo emitido seu consentimento, tem direito à expressão de
sua autonomia para desistir da doação, até que se inicie o procedimento.
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✓ Abióticos, avitais ou vitais negativos:
- Imediatos
- Consecutivos ou mediatos
✓ Transformativos:
- Destrutivos
- Conservadores
✓ Ordem química:
- Autólise
- Rigidez
- Fenômenos transformativos
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- Ausência de atividade cerebral
1) EVAPORAÇÃO CADAVÉRICA
2) RESFRIAMENTO CADAVÉRICO
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Nas primeiras três horas, há uma perda média de 0,5oC por hora, que se acentua nas
próximas 12 a 15 horas para uma perda média de 1,5oC por hora, iniciando pelas
extremidades do corpo. Os órgãos internos ainda podem permanecer aquecidos por até cerca
de 24 horas.
4) RIGIDEZ CADAVÉRICA
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A rigidez muscular post mortem segue uma ordem de aparecimento: de acordo com a
Lei de Nysten, a rigidez tem progressão crânio-caudal. Ainda, a visualização da rigidez ocorre
dos menores para os maiores grupos musculares.
Os primeiros músculos a ficarem rígidos são os pequenos músculos da face e da nuca,
com cerca de 1-2 horas após a morte. O primeiro é o masseter. Na sequência, observa-se a
rigidez nos músculos dos membros superiores, com cerca de 2-4 horas de morte. Após 4 a 6
horas de morte, é visualizada nos músculos do tórax e abdome. Com 6 a 8 horas de morte,
atinge os músculos dos membros inferiores, de forma que a rigidez generalizada é percebida
com cerca de 8 horas de morte.
A rigidez inicia seu desaparecimento com a putrefação cadavérica, dando lugar à
flacidez, que ocorre na mesma progressão crânio-caudal.
O espasmo cadavérico é uma rigidez intensa, abrupta precoce e que ocorre quase em
todos os grupos musculares ao mesmo tempo. Recebe o nome de sinal de Kossu e é
fenômeno controverso e pouco explicado, relacionado por alguns a lesão do diencéfalo.
1) AUTÓLISE
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A córnea é um dos tecidos onde a autólise e consequente acidez é mais tardia, em
razão da escassez de vasos sanguíneos; por tal razão, é possível a retirada da córnea para
transplante por um período significativamente maior após a morte, em relação aos demais
órgãos transplantáveis.
2) PUTREFAÇÃO
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enquanto ele não tiver sido alimentado, seu conteúdo intestinal será livre de proliferação
bacteriana.
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FASE DE ESQUELETIZAÇÃO
Por fim, após a completa dissolução das partes moles do cadáver, resta apenas o
esqueleto, sendo muito variável o período de tempo para que ocorra a esqueletização
completa. Fala-se em períodos de 1 a 3 anos, mas as condições ambientais interferem
sobremaneira nessa evolução. Os dentes são os últimos componentes a sofrerem
decomposição.
Fonte: FRANÇA, G.V. Medicina Legal. 11a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.,
p. 487
1) MUMIFICAÇÃO
2) SAPONIFICAÇÃO OU ADIPOCERA
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Trata-se de fenômeno conservador, normalmente assimétrico e mais comum em áreas
do corpo com maior quantidade de gordura, traduzido pela transformação de partes do
cadáver em substância de consistência untuosa, mole e quebradiça, amarelo-escura, com
aspecto de cera, sabão ou parafina de vela.
Ao contrário da mumificação, é processo tardio: requer a ocorrência da putrefação e
surge após ela ter se iniciado, quando enzimas bacterianas hidrolisam gorduras e originam
ácidos graxos que reagem com elementos minerais da argila. Requer, assim, condições
ambientais também peculiares: solo argiloso, úmido e com pouco acesso ao ar atmosférico.
É mais observado em valas únicas de cemitérios públicos onde são enterrados vários corpos
ao mesmo tempo.
3) CORIFICAÇÃO
Fenômeno de etiologia pouco explicada e muito raro em nosso meio, pois a condição
que o favorece é o sepultamento em urnas metálicas de zinco, hermeticamente vedadas. As
partes moles do cadáver ficarão endurecidas e escuras, com aspecto semelhante a couro.
4) CALCIFICAÇÃO
5) CONGELAÇÃO
6) FOSSILIZAÇÃO
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CAPÍTULO 3
TRAUMATOLOGIA FORENSE
O crime de lesões corporais tipificado no art. 129 do Código Penal deve ser analisado
sob o ponto de vista médico-legal, já que os resultados que qualificam a conduta apresentam-
se, todos eles, aferíveis sob o ponto de vista médico e pericial.
A lesão corporal leve consiste em ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem
e é diagnosticada por exclusão. Sob o ponto de vista médico, consiste em pequenos danos
superficiais, com pouca repercussão orgânica e rápida recuperação.
As lesões corporais graves e gravíssimas são as mais relevantes sob o ponto de vista
pericial.
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Trata-se de incapacidade para atividades rotineiras, corriqueiras e lícitas, avaliadas
sob o aspecto funcional e não puramente econômico. Não se trata, portanto, de trabalho (que
será analisado quando da avaliação da lesão corporal gravíssima). Dessa forma, crianças,
bebês, indivíduos desempregados ou aposentados também podem ser vítimas de lesão
corporal grave sob essa qualificadora.
Para fins de comprovar a permanência da incapacidade e evidenciar o nexo causal
com o evento danoso, deverá ser realizado exame pericial complementar no prazo de 30 dias,
contados de forma contínua desde a data do crime (art. 168, § 2o, do CPP). A falta ou
impossibilidade de realização desse exame pode ser suprida pela prova testemunhal (art. 168,
§ 3o, do CPP).
2. Perigo de vida
Cada termo do dispositivo deve ser analisado sob o ponto de vista técnico:
(i) “debilidade” é a redução ou enfraquecimento da capacidade funcional;
(ii) “permanente” não é o mesmo que eterno, definitivo ou perpétuo; a mera necessidade de
recuperação cirúrgica artificial já atesta a permanência. Ou seja, trata-se de lesão que não se
recupera de forma espontânea. Assim, ainda que haja tratamento cirúrgico reparador, a
permanência não é afastada se o tratamento artificial for a única forma possível de
recuperação.
(iii) “membro” são os apêndices do tronco; os membros superiores (braços) e inferiores
(pernas). Mãos e pés não são membros; contudo, pela importância das mãos e dos pés na
função e atividade dos membros, a eles se equiparam para fins de aplicação da qualificadora.
Dedos não são membros! O pênis não é membro (pênis é órgão e não membro)!
(iv) “sentido”: os cinco sentidos humanos, quais sejam, visão, audição, olfato, tato e paladar.
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(v) “função” é a atividade específica de cada órgão ou sistema.
4. Aceleração de parto
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ser completamente desproporcional, em qualidade, espécie ou rentabilidade, quanto ao que
era antes.
Assim, a possibilidade de reabilitação e o tipo de atividade anteriormente desenvolvida
pela vítima são de fundamental relevância.
2. Enfermidade incurável
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4. Deformidade permanente
Trata-se de lesão estética de certa monta, que causa repulsa e repugnância, com
prejuízo da sociabilidade, uma vez que o dano estético tem algo de subjetividade na avaliação.
Não é necessário que ocorra em áreas expostas, mas sim em áreas potencialmente visíveis,
mesmo que possam ser ocultadas pelas vestes, pelos cabelos ou por próteses.
A correção por cirurgia plástica estética NÃO retira o caráter de permanência, já tendo
o STJ assim decidido em importante julgado:
5. Aborto
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Trata-se de resultado aferível a título de preterdolo; o agente sabe da gravidez mas
não deseja diretamente o aborto, devendo haver o conhecimento prévio da gravidez pelo autor
ou, ao menos, o desconhecimento inescusável.
Os maus tratos contra menores estão inseridos nas sevícias, assim como os maus
tratos contra idosos, a tortura e a violência contra a mulher.
Sevícias são causadas por múltiplas energias (de ordens mecânica, química, física)
causadoras de danos de caráter exclusivamente doloso.
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Lesões causadas pela ação de sacudir violentamente o bebê, segurando-o pelo
tronco, o que acarreta movimentos bruscos de aceleração e desaceleração da cabeça, que
tem uma maior proporção de peso, podendo corresponder a até 25% do peso corporal de um
bebê.
São característicos danos neurológicos graves sem lesões externas evidentes.
Quando o bebê é sacudido de forma violenta, o cérebro se movimenta dentro da
cavidade craniana, acarretando lesões de vasos sanguíneos, hematomas e edema cerebral,
que são graves e potencialmente letais.
As principais lesões encontradas são hematomas intracranianos, hemorragias
meníngeas (nas membranas que recobrem o cérebro), edema cerebral, afastamento das
suturas cranianas, aumento do perímetro cefálico do bebê e hemorragias na retina.
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Classificação dos modos de ação dos instrumentos mecânicos
Meio ou ação do instrumento Nomenclatura da lesão
Perfurante (pequeno calibre) Punctória
Cortante Incisa
Contundente Contusa
Perfurocortante Perfuroincisa
Cortocontundente Cortocontusa
Perfurocontundente Perfurocontusa
Instrumentos perfurantes são aqueles que agem por afastamento das fibras do tecido,
sem secção, como alfinetes, agulhas, espinhos, pregos, furador de gelo.
Se de pequeno calibre, produz feridas punctórias ou puntiformes. Se de médio
calibre, denominam-se lesões em botoeira ou em casa de botão.
As feridas têm abertura estreita, raro ou pouco sangramento, pouca nocividade na
superfície e maior nocividade na profundidade, menor diâmetro que o do instrumento (pela
elasticidade da pele). Podem ser superficiais, penetrantes (em grandes cavidades do corpo)
ou transfixantes (quando o instrumento perfurante atravessa um segmento do corpo de uma
face à outra).
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2. Segunda Lei de Filhós ou Lei do paralelismo → o maior eixo da ferida em botoeira será
paralelo ao sentido e direção das linhas de força da pele (que são as linhas que direcionam,
na pele humana, as fibras elásticas e musculares subcutâneas, sendo fixas essas direções
em cada segmento do corpo).
Forma da lesão
“No vivo, as feridas em botoeira apresentam direções fixas em cada parte do corpo.”
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A cauda de escoriação é uma área em que a lesão é mais superficial, apenas com
arrancamento da epiderme, pela menor força de manejo do instrumento ao final da ação. É
relevante para auxiliar no diagnóstico da direção do ferimento, fornecer indícios para
diferenciação de homicídio e suicídio, bem como da posição do agressor na cena do crime.
O sinal de Chavigny também é relevante na ação cortante, para fornecer aspectos
que sugerem a ordem das lesões, quando uma lesão incisa é produzida sobre a outra. A
primeira lesão terá formato linear; já a segunda lesão produzida sobre a primeira, já a
encontrou com as bordas afastadas pela elasticidade da pele e, assim, não terá formato
regular, mas “em Z”.
A ação pode, ainda, ser ativa, passiva ou mista, a depender do estado de repouso e
movimento do instrumento e do corpo. Na ação ativa, o instrumento está em movimento e o
corpo em repouso. Já na ação passiva, o instrumento causador do dano está em repouso e o
corpo humano em movimento (ex: pessoa que cai de determinada altura e apresenta lesões
por precipitação, sendo o chão o instrumento causador do dano). Na ação mista, ambos estão
em movimento.
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RUBEFAÇÃO
TUMEFAÇÃO
ESCORIAÇÕES
EQUIMOSES
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- Víbices: são equimoses em estrias paralelas, causadas por instrumentos alongados, como
cassetetes, bastões e bengalas. Seu formato denuncia o instrumento causador do dano, por
isso as víbices são exemplos das chamadas equimoses figuradas ou lesões com assinatura
(aquelas cujo formato permite sugerir qual é o instrumento que as causou);
- Sinal do guaxinim ou do Zorro: equimoses bilaterais e bipalpebrais, que podem sinalizar
traumatismo crânio-encefálico (TCE) com fratura da base do crânio;
- Sinal de Battle: equimoses retroauriculares (“atrás da orelha”), que também sinalizam
traumatismo crânio-encefálico (TCE) com fratura da base do crânio, juntamente com rinorreia
e otorreia (drenagem de líquido pelo nariz e pelo ouvido, respectivamente).
- Estrias pneumáticas de Simonin: equimoses com formato ondulado, causadas por marcas
de pneus em pessoas atropeladas. São também equimoses figuradas ou lesões com
assinatura, justamente pelo formato que denuncia o instrumento causador do dano.
HEMATOMAS
São também lesões hemorrágicas, mas que se diferenciam das equimoses por serem
mais localizadas, em razão da formação de uma cavidade sanguínea no tecido, uma coleção
ou “loja” sanguínea. O sangue fica depositado nessa cavidade e não se infiltra nas malhas
dos tecidos. Por isso, a lesão apresenta limites mais definidos e perceptíveis. Podem ser
cutâneos ou também em órgãos internos.
Os hematomas cerebrais são especialmente relevantes, pois há dois tipos que estão
relacionados a trauma por ação contundente: hematoma extra ou epidural e hematoma
subdural (a dura-máter é uma membrana que recobre o encéfalo e está situada abaixo dos
ossos do crânio).
O hematoma extradural é causado por fratura do osso temporal do crânio, associado
a ruptura da artéria meníngea média. Já o hematoma subdural está associado ao movimento
de aceleração e desaceleração brusca da cabeça em sentido ântero-posterior, com
estiramento e ruptura de veias cerebrais.
BOSSAS
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As bossas podem ser serosas (contendo líquido amarelado) ou sanguíneas. Estas se
diferenciam dos hematomas por se apresentarem sobre um plano ósseo, fazendo saliência
na superfície (ex: bossa no couro cabeludo após um trauma, conhecida como “galo”).
Há um tipo de bossa chamado caput succedaneum ou “tumor do parto”. Trata-se da
bossa na cabeça de um recém-nascido, no local onde a cabeça se encaixou no canal de parto,
sendo pressionada pelo colo uterino materno, nos nascimentos em apresentação cefálica. A
presença dessa bossa no recém-nascido indica que ele estava vivo no momento do parto.
Ocorre por desequilíbrio circulatório local causado pela diferença de pressão entre a área já
exteriorizada pelo canal do parto. Há aumento da pressão no local, com compressão das veias
e formação de edema. É, portanto, um importante sinal de que havia vida fetal durante o parto,
podendo ser uma das provas periciais utilizadas na avaliação médico-legal do crime de
infanticídio.
FRATURAS
São soluções de perda de continuidade óssea, na maioria das vezes por ação
traumática. Há, no entanto, a fratura patológica, aquela que ocorre espontaneamente em osso
“enfraquecido” por uma patologia ou doença prévia.
Podem ser abertas (quando o osso fraturado rompe a continuidade da pele e se projeta
na superfície) ou fechadas.
As fraturas cominutivas ocorrem quando há a divisão do osso em vários pequenos
fragmentos.
LUXAÇÕES E ENTORSES
São lesões que ocorrem nas articulações. A principal diferença entre ambas é que, na
luxação, ocorre o deslocamento de dois ossos que perdem a superfície de contato; já a
entorse é uma lesão articular restrita aos ligamentos.
Órgãos internos podem sofrer lesões causadas pelo forte impacto de um trauma
contuso fechado, como, por exemplo, em casos de atropelamento. Os principais órgãos mais
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frequentemente impactados são fígado, baço e estômago (especialmente quando o estômago
está repleto de alimentos).
Quando uma vítima sofre uma queda de altura, o instrumento causador do dano é o
solo, que age por meio passivo contundente. Caracteristicamente, as vítimas de lesões por
precipitação costumam apresentar pele intacta ou pouco afetada, com rupturas internas e
graves de vísceras maciças e fraturas ósseas.
O principal achado, portanto, é a desproporção entre as lesões cutâneas e as graves
lesões internas.
A queda “em pé” é causa de fraturar de bacia, das pernas e fratura circular da base do
crânio, em razão do impacto da coluna vertebral contra a base do crânio.
(i) Lesão por cisalhamento → quando há duas forças em sentidos opostos, sobre o mesmo
ponto. É o caso do “desenluvamento”, lesão traumática da pele do dedo em casos de retirada
rápida e violenta de um anel apertado no dedo.
(ii) Lesões por martelo → são todas lesões específicas nos ossos do crânio, descritas em
marteladas, mas também encontradas em coronhadas de revólver: Fratura em saca-bocados
de Strassmann (ação em sentido perpendicular); Sinal do mapa-múndi de Carrara e Sinal de
terraza de Hoffmann (ação em sentido tangencial do martelo).
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(iv) Empalamento → forma especial de encravamento, com penetração de objeto de grande
eixo longitudinal no ânus ou no períneo.
(i) Instrumentos de um gume (ex: faca): lesão alongada, com um ângulo agudo e outro
arredondado;
(ii) Instrumentos de 2 gumes (ex: punhal, espada): lesão em fenda ou botoeira, mas com dois
ângulos agudos;
(iii) Instrumentos de 3 gumes (ex: limas, instrumentos especiais de trabalho): ferida irregular
ou estrelada.
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Fonte: Prof. Neusa Bittar, Medicina Legal e Noções de Criminalística, 2016
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O mais clássico exemplo de instrumento perfurocontundente é o projétil de arma de
fogo. Outros instrumentos possíveis são espeto de churrasco, vergalhão e afiador de faca.
Trata-se de instrumento com ponta afilada, mas que também age com força, pressão e
compressão.
Os projéteis de arma de fogo (PAF) e o funcionamento das armas são estudados no
âmbito da Balística Forense, que é um dos ramos da Criminalística. Trata-se da Balística
interna, que estuda o funcionamento da arma e técnica do tiro, e da Balística externa,
responsável pelo estudo da trajetória e trajeto do projétil, desde sua saída da arma até seu
impacto ou parada.
A Medicina Legal é responsável especialmente pelo estudo da Balística terminal, dos
efeitos ou do ferimento, avaliando as lesões causadas pelo impacto do projétil de arma de
fogo no corpo.
A maior parte das lesões estudadas em Medicina Legal está relacionada a danos
corporais produzidos por projéteis de armas de fogo com alma do cano raiada, que utiliza
munição de projéteis únicos, podendo ser projéteis comuns (revólveres, pistolas) ou de alta
energia/velocidade (como os fuzis). Há, também, armas de fogo com alma do cano lisa, que
disparam munições compostas por projéteis múltiplos, como as espingardas. Relevante
ressaltar que as raias helicoidais presentes na alma do cano de armas raiadas imprimem aos
projéteis únicos um movimento de rotação, responsável pela estabilidade do projétil na
trajetória.
Nas lesões produzidas por ação perfurocontundente causadas por PAF, deve-se
avaliar 3 pontos principais nos ferimentos:
- Diferenciar ferimentos de entrada e de saída;
- Aferir provável distância do disparo, nos ferimentos de entrada;
- Diferenciar trajeto e trajetória:
TRAJETO TRAJETÓRIA
Caminho percorrido pelo projétil no interior Caminho percorrido pelo projétil da boca do
do corpo, consistindo nas lesões internas. cano da arma até o encontro do anteparo.
Examinado pelo médico legista nas Examinada pelo perito criminal na perícia de
necropsias. local.
→ FERIMENTOS DE ENTRADA
Nas lesões de entrada, há três sinais importantes que indicam tratar-se de orifício de
entrada, mas que nada dizem acerca da distância do disparo, pois configuram elementos
primários, produzidos pelo projétil em si:
51
Atenção! A presença de uma escoriação não é absolutamente exclusiva de
entrada, pois pode haver área de escoriação na lesão de saída, se a vítima
está amparada em um anteparo e o projétil encontra resistência nos tecidos na
saída. Trata-se do sinal de Romanesi, consistente em uma área de
escoriação da pele na SAÍDA!
3) Aréola ou orla equimótica → área de sufusão hemorrágica por rotura de pequenos vasos
ao redor do ferimento. Equimose ao redor do ferimento estar presente também na lesão de
saída.
Com alguma frequência, tiros encostados são disparados em regiões que recobrem
tábuas ósseas, como a cabeça, o esterno no tórax, a escápula, o palato. Nessas situações, a
presença da lâmina óssea por baixo do tecido subcutâneo pode produzir sinais que auxiliam
na identificação da distância, especialmente a denominada câmara de mina de Hoffmann ou
“boca de mina” e ouros sinais típicos.
52
1) Câmara de mina de Hoffmann → lesão cutânea de forma irregular, grande, denteada ou
com entalhes, com bordas evertidas, produzida pelos gases da explosão que penetram no
ferimento e refluem ao encontrar resistência no osso abaixo.
2) Sinal de Benassi → halo escurecido na lâmina externa do osso, pelo depósito de fuligem
que penetra no ferimento cutâneo.
53
do tiro. É sinal indiscutível de orifício de entrada e também pode estar presente sobre as
vestes.
1) Alteração da forma do orifício de entrada e dos halos: projétil não penetrou pela ponta
(ex: disparo para o alto); projétil sofreu deformação por encontrar superfície antes de entrar
na vítima; uso de roupas de textura muito grossa; uso de armas com compensadores de
recuo.
2) Lesão em chuleio: quando há mais de uma entrada e saída e apenas um disparo, sendo
que o mesmo projétil entra e sai em segmentos distintos do corpo.
54
3) Mais projéteis no corpo do que o número de entradas: penetração de projétil por orifício
natural do corpo ou na hipótese de dois projéteis acoplados penetrarem pelo mesmo orifício.
→ FERIMENTOS DE SAÍDA
Ferimentos de saída de PAF costuma ter forma irregular, com bordas evertidas ou
reviradas para fora; diâmetro maior que o do orifício de entrada; maior sangramento; não têm
halo de enxugo nem orla de escoriação (característicos de lesão de entrada) e também não
apresentam os efeitos secundários, também encontrados apenas nas lesões de entrada.
Serão observados:
55
- No ferimento de entrada:
lâmina externa: ferimento arredondado e regular;
lâmina interna: ferimento irregular, maior que o da lâmina externa, com bisel interno
bem definido, em forma de cone com a base voltada para dentro;
- Ferimento de saída:
exatamente o inverso;
cone com a base voltada para fora.
LESÕES DE ENTRADA
As lesões de entrada causadas por projéteis de alta energia podem não ser muito
diferentes das causadas por projéteis de uso comum. Contudo, algumas características lhes
são peculiares:
- bordas talhadas a pique com microescoriações em estrias radiadas em torno da
lesão;
- ausência de orla de escoriação é um achado frequente.
56
TRAJETO E LESÕES DE SAÍDA
A principal diferença no tocante aos projetos de alta energia diz respeito ao trajeto, ao
fenômeno da cavitação e às lesões de saída.
Conforme Hygino de Carvalho Hércules leciona, “a cavidade temporária é o resultado
do alargamento da cavidade permanente sob a influência das ondas de pressão”. Em PAF de
alta energia, que geram maiores ondas de pressão, há uma mais intensa formação de
cavidade temporária no trajeto.
O tamanho das lesões de saída depende do plano em que ela se situe no trajeto. Nos
primeiros centímetros do trajeto, pode não haver ainda uma cavidade temporária significativa.
No centro do trajeto, ela atingirá seu diâmetro máximo e depois vai novamente diminuindo.
Portanto, se o segmento do corpo for muito delgado, por exemplo o braço, pode não haver
tempo e trajeto para que forme uma cavidade temporária importante. Se o segmento
atravessado for grande, como a coxa ou a cabeça, a lesão de saída pode ser bem extensa,
pois o plano da pele na saída pode coincidir com o de maior diâmetro da cavidade temporária.
Ou seja, a lesão de saída depende do comprimento do trajeto em si e da espessura do local
acometido.
Se a saída coincide com o plano de maior diâmetro da cavidade temporária, ela pode ficar
muito grande e de aspecto explosivo.
57
As energias de ordem física são aquelas capazes de modificar o estado físico dos
corpos e de cujo resultado podem surgir ofensa corporal, dano à saúde ou morte. As principais
energias de ordem física são a temperatura, a eletricidade, a pressão atmosférica, a
radioatividade, a luz e o som.
→ TEMPERATURA
A temperatura pode causar danos corporais por meio do calor, do frio e da oscilação
de temperatura.
CALOR
O calor pode ter ação direta, causando uma queimadura, ou ação difusa, gerando uma
termonose.
58
Dentre as termonoses, a insolação é forma mais grave de síndrome clínica causada
pelo calor ambiental em locais abertos (mais frequentemente, embora também possa ocorrer
em locais confinados!).
A intermação ou exaustão térmica ocorre pelo excesso de calor em locais mal
arejados, confinados e sem adequada ventilação.
As queimaduras, contudo, são as lesões de maior relevância médico-legal, sendo a
maioria delas de origem acidental e de etiologia por quaisquer agentes físicos de temperatura
elevada, como chama, calor irradiante, gases superaquecidos, líquidos escaldantes, sólidos
quentes, raios solares.
As queimaduras podem ser graduadas de acordo com dois tipos principais de critérios,
pela profundidade e pela extensão da superfície corporal queimada.
1) Classificação de Hoffmann
(i) Queimadura de 1o grau: caracterizada pela tríade edema, rubor e dor. A área queimada
fica avermelhada, com vasodilatação, edemaciada (inchada) e dolorosa, com ardência na
pele.
(iii) Queimadura de 3o grau: caracterizada pela necrose coagulativa dos tecidos, é uma
queimadura mais profunda que pode atingir até os planos musculares. É menos dolorosa do
que a de 2o grau, pois destrói as terminações nervosas da pele, responsáveis pela sensação
de dor.
59
(iv) Queimadura de 4o grau: é a carbonização dos tecidos, que pode ser generalizada ou
localizada. Pode ser também completa ou parcial/superficial, esta última preservando, de
algum modo, tecidos internos. A identificação em carbonizados, muitas vezes, requer uso de
DNA ou identificação pela arcada dentária, se preservada.
60
No indivíduo adulto, os percentuais aproximados seriam os seguintes: 9% para a
cabeça, 9% para cada membro superior, 18% para cada membro inferior, 18% para a região
frontal do tronco, 18% para o dorso e 1% para o períneo ou região genital.
Na criança até a fase pré-escolar, a regra dos noves é modificada, com a cabeça
correspondendo a cerca de 18%, cada membro inferior a 14% e sem percentual definido para
o períneo.
Obs.: há alguma variação em tais percentuais e alguns autores consideram, para bebês e
crianças até a faixa etária pré-escolar, a “regra dos 5”.
A gravidade de uma queimadura, bem como seu prognóstico e eventual “risco de vida”,
é avaliada de acordo com a extensão, profundidade, localização, idade da vítima e agente
causal, além da região atingida. Queimaduras na face, genitália, mãos e pés são consideradas
graves. Queimaduras circunferenciais (que atingem toda a circunferência de uma região,
como pescoço e tórax) são também graves, sobretudo pela possibilidade de compressão das
estruturas internas e, no tórax e pescoço, prejuízo às funções respiratórias.
A lesão de inalação também é potencialmente grave e letal, ocorrendo normalmente
em locais fechados, com aspiração de fumaça e gases tóxicos (monóxido de carbono,
cianeto), e lesões pulmonares graves que podem levar a morte.
Scanned by CamScanner
Em um cadáver com lesões térmicas pelo calor, é extremamente relevante pesquisar
se a ação térmica ocorreu em vida ou após a morte, já que pode se tratar, por exemplo, de
uma vítima de algum crime que teve o corpo queimado/carbonizado como tentativa de
ocultação de provas.
Para tal, o médico deve lançar mão de provas de vida a seguir explicitadas.
61
Queimaduras “in vida” ou “post mortem” ?
2) Sinal de Montalti, que é a presença de fuligem nas vias aéreas. Também é um sinal vital,
de que havia respiração no ambiente de incêndio.
FRIO
O frio também pode levar a dano corporal e morte por hipotermia, muitas vezes de
forma acidental. O abandono de recém-nascido também pode estar associado a dano por
hipotermia.
A ação generalizada do frio não apresenta formas específicas ou lesões que sejam
absolutamente típicas.
Já a ação localizada é caracterizada pela geladura, que também pode ser dividida em
4 graus, de acordo com a gravidade e profundidade.
(i) Geladura de 1º grau: palidez intercaladas com áreas de rubefação local; pele anserina.
(iv) Geladura de 4º grau: gangrena ou desarticulação. A gangrena dos pés pela ação do frio
foi lesão descrita nos combatentes entrincheirados nas frentes de batalha da Primeira Guerra
Mundial, com necessidade frequente de amputação dos pés, em lesão que restou conhecida
como “pé de trincheira”.
62
Cadáveres de vítimas de hipotermia grave costumam apresentar rigidez precoce,
intensa e duradoura, manchas de hipostase e sangue de tonalidade vermelho clara e de pouca
coagulabilidade. Espuma sanguinolenta nas vias aéreas e bolhas na pele são também
encontradas.
→ ELETRICIDADE
- o dano corporal não letal por eletricidade de fonte artificial e também a morte recebem
ambos o nome de ELETROPLESSÃO
AÇÕES DA ELETRICIDADE
A eletricidade pode ter ação direta ou indireta no corpo humano. A ação direta ocorre
no funcionamento cardíaco, no sistema de condutibilidade elétrica do coração, causando
arritmia. Uma das mais graves arritmias, que pode causar a morte em caso de ação elétrica,
é a fibrilação ventricular.
63
A ação indireta ocorre em razão da produção de calor, determinada pelo efeito Joule,
abaixo descrito, com a consequente produção de queimaduras elétricas.
Podem ocorrer ainda lesões por arcos voltaicos, especialmente em altas voltagens,
quando podem se formar faíscas que causam as lesões por arcos voltaicos, com
carbonização. As faíscas saltam do condutor com alta voltagem para o corpo e escoam para
o solo. Ou seja, é possível dano elétrico sem contato direto com o condutor!
Outras lesões são a queimadura elétrica pelo calor produzido pela corrente elétrica; não
forma bolhas ou flictenas, formando escara escura; a metalização (deposição cutânea do
metal do fio condutor) e amputações de membros e até mesmo secção corporal.
64
→ Média tensão (entre 120 a 1.200 volts) → morte por mecanismo pulmonar (asfixia), em
razão de alteração do funcionamento dos músculos acessórios da respiração pela tetania e
fadiga muscular após passagem da corrente elétrica.
→ Baixa tensão (abaixo de 120 volts) → morte por mecanismo cardíaco, com
desenvolvimento de arritmia, especialmente fibrilação ventricular, e parada cardíaca.
Influência no sistema de condução elétrica do coração.
→ PRESSÃO ATMOSFÉRICA
Exemplos de pessoas sujeitas a baropatias por altas pressões: mergulhadores, pessoas que
trabalham em túneis subterrâneos e minas; que podem apresentar o “mal dos caixões”.
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BAROPATIAS POR DESCOMPRESSÃO RÁPIDA
→ Formas agudas: são a forma clássica benigna, o edema pulmonar das grandes altitudes e
o edema cerebral.
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A forma clássica benigna é comum e caracteriza-se pelos sintomas de dor de cabeça, falta
de ar, tontura, vômito, dispneia, quando se chega a um ambiente de elevadas altitudes.
Os edemas são graves e podem ser letais
→ Forma crônica ou Doença de Monge: é a forma própria de pessoas mais velhas que
habitam há muito tempo nas grandes altitudes (conhecidos como highlanders). Os indivíduos
apresentam poliglobulia, lábios escuros, dedos em baqueta de tambor, cefaleia, tonturas,
sonolência, irritabilidade, pouca aptidão a esforços.
EXPLOSÕES
1) Blast primário → decorre da onda de choque propriamente dita, lesando órgãos que
contêm ar, como ouvidos, pulmões e tubo digestivo.
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2) Blast secundário → decorre do estilhaçamento do material explosivo e de objetos
próximos ao foco de explosão. As lesões resultam de “projéteis” originados do estilhaçamento
do material explosivo ou de corpos/objetos que estejam perto do foco de explosão. Trata-se
do efeito da fragmentação.
4) Blast quaternário → nele se enquadram lesões não decorrentes das anteriores, como por
exemplo queimaduras e intoxicação por gases. Complicações tardias podem também estar
relacionadas ao blast quaternário.
CAPÍTULO 4
ASFIXIOLOGIA FORENSE
68
do sangue. Ocorrerá hipóxia (redução do oxigênio no sangue) e hipercapnia (aumento do gás
carbônico).
Há asfixias de ordem natural (doenças que cursam com hipóxia e hipercapnia) e de
ordem violenta/externa, sendo essas últimas, denominadas asfixias mecânicas, o objeto de
estudo da Medicina Legal.
Cadáveres de pessoas que morreram em situação de asfixia apresentam
características gerais, sinais externos e internos, que são muito variáveis e não são
absolutamente específicos das asfixias mecânicas, podendo acontecer em outras condições.
Os sinais mais relevantes são:
- “cianose” cadavérica → cadáver de coloração azulada, em razão das manchas de
hipóstase mais escuras, pois o sangue também é de cor escura pela hipercapnia;
- congestão da face e polivisceral;
- sangue escuro e de fluidez aumentada (sangue asfíxico);
- espuma nas vias aéreas;
- rigidez muscular precoce;
- petéquias e equimoses generalizadas, que são chamadas de manchas de Tardieu
quando localizadas nas regiões subepicárdicas (coração) e subpleurais (pulmões).
As asfixias podem ser classificadas em três grandes grupos: asfixias por sufocação,
por constrições do pescoço e por modificação do ambiente.
Há, ainda, clássica divisão adotada por Afrânio Peixoto, que subdivide as asfixias em
puras, complexas e mistas.
ASFIXIAS PURAS
ASFIXIAS COMPLEXAS
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ASFIXIA MISTA
SUFOCAÇÃO DIRETA
Trata-se de obstrução das vias aéreas em qualquer ponto, desde os orifícios naturais
(boca e narinas) até os condutos respiratórios inferiores (traqueia e brônquios), com
impedimento direto mecânico à passagem do ar.
Aspiração de corpo estranho (ex: criança que se engasga com goma de mascar e a
aspira) e de vômito, obstrução na face com almofadas, são exemplos comuns.
SUFOCAÇÃO INDIRETA
SUFOCAÇÃO POSICIONAL
70
→ ASFIXIAS POR CONSTRIÇÃO EXTRÍNSECA DO PESCOÇO
O pescoço é uma área muito nobre do corpo, por onde passam estruturas anatômicas
importantes, recobertas por escasso arcabouço muscular. Pressões exercidas sobre o
pescoço podem acarretar disfunções de vasos sanguíneos, nervos e da própria via
respiratória, acarretando asfixia.
Uma das artérias mais importantes que correm no pescoço, responsável por carrear
sangue arterial oxigenado para o encéfalo, é a artéria carótida, frequentemente comprimida e
nas constrições cervicais. Veia jugular e nervo vago são também estruturas importantes no
fenômeno.
Há três tipos de constrição cervical extrínseca: enforcamento, estrangulamento e
esganadura.
ENFORCAMENTO
Trata-se de asfixia mecânica por constrição cervical causada por um laço acionado
pelo próprio peso do corpo da vítima. Portanto, a força passiva do peso corporal da vítima é
a diferenciação conceitual entre o enforcamento e outras formas de constrição do pescoço.
O laço cervical pode ter diversas naturezas, havendo laços rígidos, semirrígidos e
macios (cordas, fios de aço, lençóis, etc.). Normalmente, o nó fica situado em uma posição
mais alta, estando o laço fixo a um ponto de apoio mais alto, que ofereça resistência ao peso
do corpo. A cabeça pende para o lado oposto ao do nó.
O enforcamento pode ser classificado em:
71
ESTRANGULAMENTO
72
A causa jurídica mais comum de morte no estrangulamento é o homicídio, havendo
também outras possibilidades, como até mesmo em casos de transtornos da sexualidade,
como asfixiofilia.
O sulco cervical no estrangulamento tem características distintas do enforcamento: a
profundidade é mais regular e uniforme (sulco completo), sem descontinuidade (por
habitualmente não ter nó) e menos acentuada que no enforcamento suicida. A localização é
mais baixa, abaixo do osso hioide e da cartilagem tireoide. A direção diferente, em sentido
horizontal. É comum que o sulco tenha uma parte dupla, com o trespassamento de uma
extremidade sobre a outra. Estrias ungueais e escoriações nas proximidades do sulco são
muito comuns e expressam tentativa de defesa da vítima.
ESGANADURA
73
Com a compressão dessa estrutura, ocorrem bradicardia e hipotensão reflexas, mediadas por
estímulos nervosos.
As principais lesões encontradas são os estigmas ungueais (marcas de arranhadura
de unha no pescoço), petéquias na face, congestão conjuntival, hemorragia subcutânea e em
músculos cervicais, lesões da laringe, fraturas de cartilagens e osso hioide; as lesões de vasos
do pescoço são raras.
São ainda descritas as marcas de França, como marcas em meia-lua das unhasdo
agressor na camada íntima da artéria carótida, pela pressão das unhas apertando o vaso
sobre a coluna cervical da vítima.
CONFINAMENTO
SOTERRAMENTO
Trata-se de tipo de asfixia mecânica causado por obstrução da via aérea por terra ou
substâncias pulverulentas, sendo esse o conceito estrito de soterramento.
Ocorre que a síndrome é mais adequadamente compreendida sob um conceito amplo,
uma vez que ocorre uma multiplicidade de fenômenos que contribuem para a morte no
soterramento.
Em sentido amplo, o soterramento compreende os quatro seguintes mecanismos:
74
- Sufocação direta, já que a própria terra aspirada promove obstrução da via aérea;
- Sufocação indireta, pela compressão do tórax por escombros ou pela terra sobre a vítima,
impedindo a devida movimentação torácica na respiração; afirma-se ser a sufocação indireta
o mecanismo mais relevante de morte no soterramento;
- Confinamento, pois a vítima pode permanecer confinada em bolsões de ar, em um primeiro
momento;
- Lesões traumáticas contusas, pela queda sobre a vítima de escombros, causando fraturas,
equimoses e hematomas.
75
A pesquisa de monóxido de carbono no sangue é feita por meio de exame de
espectroscopia e reações químicas específicas.
AFOGAMENTO
5) Afogamento secundário → a vítima está na água e se afoga por outras causas, como por
exemplo uso de drogas, álcool, convulsões, infarto, traumas.
76
- pele anserina ou “pele de galinha”: pele enrugada com pêlos eriçados, baixa temperatura e
retração dos mamilos;
- maceração asséptica, com descamação da epiderme em “dedos de luva”, por vezes
denominada “mãos de lavadeira”;
- lesões de arrasto (lesões de Simonin), que consistem em lesões post mortem pelo arraste
do corpo no leito dos rios ou fundo do mar, na fase de submersão;
- lesões post mortem causadas pela fauna aquática;
- mancha verde da putrefação no esterno/tórax ou parte inferior do pescoço;
- cogumelo de espuma, especialmente nos indivíduos que reagiram na água e cujos
cadáveres foram precocemente dela retirados;
- erosões nos dedos e corpos estranhos subungueais;
- presença de líquido e corpos estranhos nas vias respiratórias e digestivas superiores;
- lesões pulmonares mais intensas do que nos demais tipos de asfixia, como edema, enfisema
aquoso, equimoses subpleurais e manchas de Paltauf;
- congestão polivisceral;
- presença de líquidos no ouvido médio;
- hemorragia temporal e etmoidal;
- incoagulabilidade do sangue;
- hemodiluição (diluição do sangue nos afogamentos em água doce) ou hemoconcentração
(em água algada, uma vez que o aumento do sódio nos alvéolos pulmonares puxa líquido do
sangue para o interior dos alvéolos, por difusão).
→ CRIOSCOPIA DE CARRARA
77
Sabe-se que, quanto maior a concentração molecular de um líquido, mais baixa será
sua temperatura de congelamento. O ponto de congelamento ou ponto crioscópico do sangue
normal varia entre – 0,55oC e – 0,57oC.
No afogamento em água doce, a hemodiluição eleva o ponto crioscópico, enquanto
em água salgada ocorre o contrário: a hemoconcentração diminui o ponto de congelamento,
fazendo que o sangue congele a temperaturas menores que o normal. Tal variação é
observada sobretudo comparando-se o sangue presente nos diferentes lados do coração, nas
câmaras cardíacas esquerdas e direitas.
Sabendo-se que o sangue que retorna dos pulmões ao coração chega no átrio
esquerdo, é o sangue constante nessa cavidade que sofrerá as maiores variações no ponto
de congelamento.
CAPÍTULO 5
TOXICOLOGIA FORENSE
→ CÁUSTICOS
Os cáusticos ou corrosivos são substâncias químicas que causam lesão na vítima por
contato, por meio de ação EXTERNA, gerando uma necrose química (diferenciam-se dos
venenos por essa ação, já que eles têm ação interna!). Por sua natureza química, provocam
reações externas com os tecidos e lesões tegumentares/cutâneas potencialmente graves.
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Obs.: deve-se ressaltar o termo vitriolagem, utilizado para nomear lesões cáusticas
por agentes diversos, embora o nome tenha surgido do ácido sulfúrico, já chamado de
óleo de vitríolo. Potencial configuradora de deformidade permanente, a vitriolagem
pode configurar o crime de lesão corporal gravíssima.
→ VENENOS
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- Mitridatização → elevada resistência orgânica aos efeitos tóxicos dos venenos, por meio
de ingestão repetida e progressiva, muitas vezes até mesmo intencional.
São indivíduos que transportam ilegalmente drogas no corpo para fins de contrabando.
O body packer é o que realiza ingestão da droga, estando as cápsulas localizadas no
estômago e nos intestinos. Já o body pusher é aquele que introduz a droga em orifícios
naturais, especialmente ânus e vagina.
As complicações relacionam-se à ruptura das cápsulas ou obstrução intestinal. A
ruptura produz quadro agudo de febre, sudorese, agitação, convulsões, arritmias cardíacas,
náuseas e vômitos. Em casos graves, ocorre a morte por intoxicação aguda.
A suspeita de que o indivíduo está conduzindo cápsulas de droga no organismo como
body packer deve ser confirmada por meio de exames de imagem, como tomografias e
ressonâncias, que permitem a visualização das cápsulas no estômago ou nos intestinos.
→ TOXICOFILIAS OU TOXICOMANIAS
80
indivíduo e nociva à sociedade, pelo consumo repetido de determinada droga, seja ela natural
ou sintética” (OMS).
Drogas, por sua vez, são substâncias naturais, sintéticas ou semissintéticas, com
potencial de causar tolerância, dependência e crise de abstinência. Esta crise decorre da
interrupção abrupta do uso da substância e é caracterizada por sintomas como tremores,
inquietação, náuseas, vômitos, irritabilidade, anorexia e distúrbios do sono.
As substâncias psicotrópicas ou psicoativas podem ser classificadas de acordo com
os seus principais efeitos no psiquismo em substâncias psicolépticas, psicoanalépticas e
psicodislépticas. Há de se ressaltar a existência de alguma divergência doutrinária na
classificação de algumas substâncias nesses três grupos. Isso não é de se estranhar, pois a
depender da dose da substância e da reação individual, os efeitos podem mesmo sofrer
alguma variabilidade. Por exemplo, o álcool é depressor do sistema nervoso central (SNC),
mas em baixas doses pode produzir estado de liberação comportamental e excitação.
Adota-se majoritariamente a classificação de Hygino de Carvalho Hércules:
→ MACONHA e HAXIXE
81
de maconha atualmente consumidas. O denominado uso medicinal da substância tem sido
realizado em epilepsia e alguns tipos de câncer, com redução da dor.
O haxixe é retirado da resina seca de folhas de maconha. Apresenta-se na forma de
pequenas pedras que têm maior concentração de THC.
Em regra, a nocividade é relativa, sem dependência física e sem crises típicas de
abstinência.
É uma substância considerada perturbadora do SNC, com efeitos no humor e
percepção e na sensação de prazer; embora cause também lassidão, afetação da memória e
falta de orientação no tempo e no espaço. Taquicardia, boca seca e congestão conjuntival
são também sintomas descritos.
→ MORFINA
→ HEROINA
→ COCAÍNA
Alcaloide extraído das folhas da coca, uma das drogas ilícitas mais frequentemente
usadas na atualidade.
Apresenta-se na forma de um pó branco, com uso por meio de aspiração nasal, fricção
da mucosa gengival ou após diluição e injeção.
82
Com uso por aspiração nasal e devido ao seu efeito vasoconstritor local, a perfuração
do septo nasal é um efeito comum, constituindo lesão clássica para o diagnóstico.
A intoxicação aguda apresenta-se com excitação neuropsicomotora, agitação,
tremores, convulsões, aumento da pressão arterial e angina (dor no peito). Pode induzir infarto
e parada cardíaca.
→ CRACK E MERLA
→ OXI
83
1) estado de reação megalomaníaca (o usuário pode se sentir “todo-poderoso”, sendo
descritos casos de pessoas que se sentem capazes de voar e pulam de janelas);
2) depressão profunda e angústia;
3) perturbações paranoicas (delírios de perseguição e o usuário pode atacar as pessoas que
o rodeiam);
4) confusão mental grave.
→ MEDICAMENTOS
BARBITÚRICOS E BENZODIAZEPÍNICOS
Configuram medicamentos das classes dos indutores do sono, com efeitos sedativos
e ação depressora do SNC, podendo induzir coma e parada respiratória quando em altas
doses não terapêuticas.
ANFETAMINAS
Obs.: Por fim, deve-se ressaltar que novas drogas vêm sendo cada vez mais produzidas e se
tornando um novo problema social. Está sendo observado um aumento de substâncias
químicas novas que ainda não estão contempladas em portarias e outras normas, como
muitas novas drogas sintéticas, por vezes impossibilitando o enquadramento penal adequado.
Canabinoides sintéticos são as principais substâncias novas da atualidade. Fentanil e
carfentanil (medicamentos anestésicos opioides muito potentes e de uso restrito hospitalar)
também vêm se tornando um grave problema de uso e abuso ilícito.
→ EMBRIAGUEZ ALCOÓLICA
84
confunde com o alcoolismo crônico, que é doença associada multissistêmica ao uso
prolongado e imoderado de etanol, com dependência química.
O diagnóstico da embriaguez é eminentemente clínico, não sendo dependente de
exames de alcoolemia (dosagem de álcool no sangue). É possível se fazer o diagnóstico
clínico de que o periciando está embriagado, ainda que ele não permita coleta de sangue ou
não aceite usar o etilômetro.
Há diversas modalidades de embriaguez alcoólica, algumas com potencial de
influenciar a determinação da imputabilidade penal e a consequente responsabilização, caso
o indivíduo embriagado cometa um ato delituoso nessas condições. Entender as modalidades
de embriaguez e sua eventual influência na imputabilidade penal é ponto relevante na matéria.
Ocorre quando o agente ingere bebidas alcoólicas com a finalidade de atingir o estado
de ebriedade.
Aplica-se a teoria da actio libera in causa (ação livre na causa), avaliando-se a
vontade livre do agente no momento em que ele ingeriu a bebida alcoólica e não propriamente
no momento do cometimento do delito.
Assim, de acordo com o artigo 28 do CP, essa modalidade de embriaguez não exclui
a imputabilidade penal, a não ser que a prática do delito era imprevisível e o agente não queria
ou não assumiu nenhum risco de produzi-lo.
Embriaguez
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de
efeitos análogos.
85
Ocorre quando o agente fica embriagado sem sua vontade. Por caso fortuito, pode ser
por um erro compreensível ou uma situação absolutamente inesperada e imprevista; também
por desconhecimento de que a bebida é alcoólica. Força maior é quando o sujeito é forçado
a ingerir a bebida.
Ocorrendo embriaguez completa de forma acidental, exclui-se a imputabilidade se
comprovado que o agente não tinha nenhuma capacidade de entendimento ou de
autodeterminação no momento de cometer o crime. Se incompleta a embriaguez, atenua-se
a pena.
→ Embriaguez patológica
Ocorre quando o agente entra em um estado mental mórbido, caracterizado por uma
espécie de “psicose alcoólica”, após a ingestão de pequenas quantidades de bebida alcoólica,
que não teriam o condão de causar o mesmo efeito na absoluta maioria das pessoas.
Na hipótese, aplica-se o artigo 26 do CP, sendo a hipótese equiparada a um transtorno
mental, podendo o agente ser considerado inimputável (se em embriaguez completa, com
total perda do discernimento) ou ter sua pena reduzida (se embriaguez incompleta),
86
dependendo de sua capacidade de entender o caráter ilícito da conduta, no momento em que
foi cometida.
→ Embriaguez preordenada
→ Alcoolismo crônico
87
A síndrome de Wernicke-Korsakow caracteriza-se pela presença de lesões do sistema
nervoso central, que podem acarretar paralisia dos músculos da face, amnésia anterógrada
(esquecimento de fatos recentes, ocorridos após a instauração do alcoolismo crônico) e
retrógrada (para fatos passados, anteriores à doença), além de desorientação no tempo e no
espaço.
A dipsomania é condição associada ao alcoolismo crônico e consiste em crise
impulsiva e irreprimível de ingerir grandes quantidades de bebida alcoólica, a qualquer
momento.
Em regra geral e conforme debatido, a teoria da actio libera in causa (ação livre na
causa) é aplicável nas hipóteses de atos ilícitos cometidos por indivíduos em uso de álcool:
se o uso foi voluntário e de acordo com a vontade livre do agente, ele responderá pelas
consequências dos seus atos.
Há, contudo, duas exceções à aplicação da citada teoria, de acordo com Hygino de
Carvalho Hércules: o alcoolismo crônico é uma delas. Isso porque, em razão da grave
88
dependência e configuração de uma doença que retira do indivíduo a escolha e a liberdade
no momento da ingestão da bebida alcoólica, ele pode não ser responsabilizado pelos atos
ilícitos cometidos. Ainda que ele saiba e tenha consciência do caráter ilícito de seus atos, o
alcoolismo é uma doença crônica que lhe retira a vontade livre quanto, em razão da
dependência física e psíquica do álcool.
A outra exceção à aplicação da teoria é a embriaguez patológica não conhecida pelo
agente, que pode torná-lo inimputável.
89
Art. 306 - Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em
razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência:
Penas – detenção de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir.
§ 2º. A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de
alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou
outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.
Há de se ressaltar que admite-se, por meio de norma infralegal emitida pelo Contran,
pequena margem de tolerância quando a infração é aferida por meio de aparelhos de medição
como o etilômetro (bafômetro), por eventual possibilidade de erro de calibração.
Contudo, não há qualquer margem de tolerância quando a infração é apurada por meio
do exame de sangue para dosagem de alcoolemia; qualquer valor de álcool detectável no
sangue já sujeita o infrator às penalidades administrativas. Já para a aplicação da infração
penal do art. 306, há necessidade de um valor mínimo de alcoolemia (0,6 g/L ou 6,0 dg/L de
sangue), equivalente a 0,3 mg/L de ar no etilômetro. Contudo, mesmo que não haja nenhuma
dosagem em sangue ou ar expirado (quando o condutor se recusa à realização de tais
exames), é possível o diagnóstico de embriaguez para fins legais se há a constatação das
alterações clínicas neuropsicofísicas que indicam alteração da capacidade psicomotora.
90
- Hálito, se normal ou etílico;
- Motricidade: se a marcha está ebriosa e cambaleante; escrita; testes índex-nariz, índex-
índex e calcanhar-joelho; elocução;
- Teste de Romberg espontâneo e provocado, com a finalidade de avaliar o equilíbrio do
agente (não é teste específico para embriaguez, pois outras alterações de equilíbrio, como
lesões cerebelares e labirintite, também podem gerar positividade nos testes);
- Aparência geral
- Atitude: se o indivíduo está calmo ou irritado e agressivo;
- Psiquismo: avaliam-se a consciência, atenção, memória, afetividade e vontade;
- Funções vitais: pulso, reação pupilar luz, sensibilidade.
CAPÍTULO 6
SEXOLOGIA FORENSE
Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal
ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
91
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude
ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.
Importunação sexual
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
92
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes
ao exercício de emprego, cargo ou função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Parágrafo único. (VETADO)
§ 2o. A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.
Obs.: Na relação entre professor e aluno, pode haver crime de assédio sexual?
Estupro de vulnerável
93
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o. Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 2o. (VETADO)
94
Nos procedimentos de exame pericial de corpo de delito de mulheres vítimas de crimes
sexuais, para verificação de conjunção carnal, há previsão legal de atendimento policial e
pericial por servidoras preferenciamente do sexo feminino.
O laudo produzido pelo perito deve contar com todos os elementos relevantes e
componentes desse documento médico-legal, ressaltando-se os seguintes:
Histórico → o perito deve ter cautela para não revitimizar a vítima e também relatar os
fatos com as próprias palavras da vítima, contendo, se possível, informações sobre
hora, local, condições dos fatos.
O HÍMEN é uma dupla membrana mucosa com uma face externa e uma face interna voltada
para a cavidade vaginal, que apresenta uma orla (a própria espessura da membrana) e um
óstio ou orifício, por onde é drenado o sangue menstrual.
95
Com o trauma da penetração peniana, ele pode sofrer rupturas completas (da borda
livre até a borda de inserção) ou rupturas incompletas (que não atingem a borda de inserção).
O himem cribriforme é uma variação anatômica, formato diferente de hímen, que
apresenta múltiplos pequenos óstios ou orifícios.
O hímen complacente ou transigente é aquele que permite a passagem do pênis,
sem sofrer ruptura, por ser muito fino ou muito elástico. Dessa forma, é possível que ocorra
uma penetração peniana na cavidade vaginal (conjunção carnal) e o hímen permaneça
íntegro, caso a mulher tenha hímen complacente! O hímen íntegro, assim, NÃO é um
inequívoco sinal de virgindade!
As carúnculas mirtiformes são retalhos de hímen roto, formando excrescências ou
tubérculos mucosos, mais comumente observados em mulheres mais velhas que já tiveram
múltiplos partos vaginais.
96
dias de evolução). A partir de 20 dias da data da ruptura traumática, tem-se uma ruptura
cicatrizada, já fibrosada, em que não é mais possível datar sua ocorrência de forma precisa.
Fonte: Manual de Medicina Legal. Delton Croce e Delton Croce Júnior, 5a ed.
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diferenciado de uma área de ruptura ocorrida pela penetração peniana. As principais
características que os diferenciam são:
Ressalte-se que, em mulheres vítimas de crimes sexuais que já mantinham vida sexual
ativa pregressa, o exame do hímen será de menor relevância diagnóstica, já que essa
membrana habitualmente já se rompeu na(s) primeira(s) relações sexuais, não havendo
novas rupturas supervenientes (são encontradas, habitualmente, de uma a três rupturas
himenais, quando o hímen não mais se rompe).
Dessa forma, em casos de vida sexual pregressa, deve-se utilizar outros exames
periciais que possam corroborar o diagnóstico do ato violento e fornecer vestígios de
conjunção carnal. Isso se dá pela pesquisa de esperma na cavidade vaginal, de contaminação
profunda por uma infecção sexualmente transmissível ou pela presença de gravidez. Deve-
se ressaltar, contudo, que tais achados não podem ser considerados inquestionáveis e
absolutamente fidedignos, por várias razões: o esperma encontrado pode não ser oriundo da
relação sexual criminosa investigada; o esperma detectado pode não ter sido proveniente de
uma penetração peniana (vejam-se casos relatados de “inseminação artificial caseira” no
país); o agressor pode ter utilizado preservativo; pode não ter havido ejaculação ou até mesmo
penetração, dentre outras questões a serem avaliadas na análise de todo o corpo de delito e
de todas as provas do inquérito.
Exames complementares relevantes são a pesquisa de espermatozoides na cavidade
vaginal (o exame mais simples; um único espermatozoide é prova da presença de sêmen na
cavidade vaginal e, indiretamente, indício de conjunção carnal) e as dosagens de fosfatase
ácida e de glicoproteína P30. Os dois últimos devem ser discutidos.
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EXAMES COMPLEMENTARES – VESTÍGIOS DE EJACULAÇÃO
A fosfatase ácida é uma enzima presente em células epiteliais prostáticas, embora não
seja única de tal tecido. Outras células e órgãos também produzem fosfatase ácida em
condições normais, como as hemácias, as plaquetas, a medula óssea, o fígado. Logo, o
encontro de fosfatase ácida na cavidade vaginal não é confirmatório de conjunção carnal, mas
apenas um exame indicativo.
A próstata produz fosfatase ácida em quantidades muito superiores aos outros tecidos;
a titulação e dosagem quantitativa da substância pode ser útil na análise pericial, sendo
encontrados no sêmen teores cerca de 500 vezes maiores do que em outras secreções.
99
No coito anal violento, alguns achados periciais podem ser observados, como
equimoses e escoriações na região anal, hipotonia e dilatação do esfíncter anal e fissuras ou
rágades. Essas são soluções de continuidade de forma linear, radial em torno do orifício anal,
que não são patognomônicas de coito anal violento, tampouco obrigatórias, podendo não
existir mesmo com a penetração anal mediante resistência da vítima.
100
GRAVIDEZ, PARTO E PUERPÉRIO
Para que se possa avaliar com segurança as questões penais que circundam os
crimes de aborto e infanticídio, objeto também de estudo pericial, é preciso que precisar
questões médico-legais inerentes à gravidez, ao parto e ao puerpério. Datar esses períodos
é importante, muitas vezes, para se diferenciar aspectos periciais do concepto nos crimes de
aborto e de infanticídio, já que, em regra, um ocorre durante a gravidez e o outro durante ou
logo após o trabalho de parto.
Os marcos de início e fim da gravidez, do parto e do puerpério não são homogêneos
e pacíficos na doutrina, sendo ainda atual e controversa a discussão sobre o início da gravidez
e da vida humana. O Direito, a Bioética, a Medicina Legal e a Obstetrícia debatem a questão
e com frequência não adotam um consenso.
O DIAGNÓSTICO DA GRAVIDEZ
Diversos sinais observáveis ao exame físico direto da mulher são utilizados para
conferir materialidade ao diagnóstico da gravidez. Tal diagnóstico é relevante, sob o ponto de
vista jurídico, para uma multiplicidade de questões, tanto criminais como cíveis e correlatas,
por exemplo, à investigação de paternidade, à simulação de gravidez, impossibilidade de
anulação de casamento, dentre outras.
Na simulação de gravidez, a mulher, de má-fé, finge estar grávida sabendo não estar.
É diferente da suposição de gravidez, em que a mulher acredita estar grávida e, de boa-fé, se
convence de tal fato, passando até mesmo a vivenciar sintomas típicos da gestação.
Na dissimulação, a mulher nega ou esconde a gravidez, estando de boa ou de má-fé.
Por fim, na metassimulação de gravidez, a mulher não nega estar grávida, mas altera o tempo
da gestação, para mais ou para menos, por exemplo, com a finalidade de aribuir determinada
paternidade.
Ao exame físico, observam-se sinais de presunção, de probabilidade e de certeza de
gravidez.
São sinais de presunção: hiperemese gravídica (náuseas e vômitos), cloasma ou
melasma (manchas na pele da face), tonturas, sonolência, “linea nigra” ou pigmentação da
linha alba (linha hiperpigmentada na região mediana abdominal), estrias abdominais.
São sinais de probabilidade: amenorreia (ausência de menstruação), cianose vulvar
(sinal de Kluge) e vaginal (coloração mais arroxeada da mucosa pela hipervascularização),
101
rede venosa mamária evidente (sinal de Haller), aumento do volume uterino e alteração da
forma uterina (sinal de Piskacek).
São sinais de certeza: movimentos fetais, batimentos cardíacos fetais, sopro dos
vasos uterinos e exames complementares, como a ultrassonografia.
→ MARCOS TEMPORAIS
103
de substituição de recém-nascido e atribuição de parto alheio como próprio (condutas
dispostas no art. 242 do Código Penal).
Os sinais de parto e gravidez pregressos podem ser avaliados na mulher viva ou na
mulher morta, dividindo-se ainda em sinais de parto recente e de parto antigo.
Na mulher viva, são sinais de parto recente o edema da vulva e dos grandes lábios; a
ruptura do períneo (especialmente em caso de primíparas – que têm o primeiro parto); colo
uterino amolecido; aumento da cavidade vaginal; útero e mamas volumosos; presença dos
fluxos genitais ou lóquios, que são secreções provenientes do útero no período pós-parto.
Os lóquios são sanguinolentos até o 3o dia de pós-parto, tornam-se mais claros com
cerca de 5 dias e branco-amarelados em 7-8 dias.
Na mulher viva, são sinais de parto antigo os estigmas do parto, como estrias e flacidez
abdominal, a pigmentação dos mamilos, as cicatrizes himenais e carúnculas mirtiformes e a
mudança da forma do colo uterino, especialmente de seu orifício externo. Mulheres que nunca
tiveram partos vaginais têm o orifício externo do colo uterino de formato circular; já as
mulheres que já vivenciaram um parto vaginal apresentam o orifício externo do colo uterino
em forma de fenda, alongado.
Na mulher morta, em caso de uma necropsia de uma puérpera que teve um parto
recente, além do que foi visto na mulher viva – que ainda pode estar visível –, pode-se também
avaliar microscopicamente a cavidade uterina e os ovários.
No útero, podem ainda ser encontrados restos de vilosidades coriônicas e células
trofoblásticas, que são estruturas formadoras da placenta. No ovário, encontra-se o corpo
lúteo gravídico.
Pode-se encontrar embolia pulmonar de células trofoblásticas nos capilares
pulmonares, células placentárias que caíram na circulação sistêmica. Trata-se de sinal de
certeza de que houve uma gravidez pregressa recente, embora não seja um achado tão
facilmente encontrado. Toma relevância a pesquisa em casos de morte materna decorrente
de aborto clandestino.
Na mulher morta, em caso de parto antigo, além do que já foi descrito para a mulher
viva, são também avaliados a forma e a estrutura do útero e do colo uterino.
ABORTO
O aborto é a morte do concepto ou sua expulsão violenta seguida de morte, sendo que
o Direito Penal não diferencia a fase da gravidez em que a morte ocorre, seja na fase de ovo,
embrionária ou fetal. Já a Obstetrícia apenas considera abortamento a morte fetal antes de
104
sua viabilidade, antes de 20 ou 22 semanas de gestação, ou com peso fetal menor que 500
gramas. A terminologia e os limites usados pelas duas ciências são distintos.
Sob o ponto de vista etimológico, considera-se aborto o produto expelido, enquanto o
ato de expelir o produto da gestação chama-se abortamento. Contudo, como a própria
legislação penal não faz a diferenciação técnica precisa, convencionou-se nomear o ato (e
não só o produto) também de aborto.
O crime de aborto está inserido no Código Penal Brasileiro – CPB nos artigos 124, 125
e 126, que dispõem sobre as condutas do aborto provocado, consentido e sofrido.
O aborto consentido, tratado nos artigos 124 e 126 do CPB, constitui uma exceção
pluralista à teoria monista da ação, no concurso de pessoas, adotada pelo Direito Penal.
Qualifica-se a conduta se, em consequência do aborto ou dos meios adotados para
provoca-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave ou se lhe sobrevém a morte
(art. 127 do CPB).
Relevantes são causas de exclusão de ilicitude tratadas pelo art. 128 do CPB:
Trata-se de permissão ao aborto legal feito por médico, em duas circunstâncias que
consistem no aborto necessário, terapêutico ou profilático (inciso I) e no aborto humanístico,
humanitário, piedoso, ético ou sentimental (inciso II).
105
1) a mãe está em risco iminente de morte (não é simplesmente uma doença materna
grave ou um pré-natal de risco, é risco real e concreto de morte iminente!);
2) o risco está sob a dependência direta da gravidez;
3) Interromper a gravidez cessa o perigo;
4) Interromper a gravidez é o único meio capaz de salvar a vida da gestante.
Não há necessidade de prévia obtenção do consentimento da gestante ou de terceiros,
tratando-se a hipótese de um ato médico realizado em situação de urgência, para salvar a
vida da gestante.
106
A implantação do ovo/zigoto pode ocorrer fora da parede uterina, dando origem a uma
gravidez ectópica; a mais comum é a gestação tubária, quando a implantação ocorre na tuba
uterina.
A interrupção dessa forma de gravidez não é considerada crime de aborto, havendo
dois argumentos para tal: considerando-se o marco inicial da proteção jurídico-penal da
107
gravidez como a nidação uterina, pode-se argumentar que ela não ocorreu. Ainda, caso a
gravidez tubária prossiga e ocorra uma ruptura da tuba uterina, com sangramento grave
agudo e risco de morte materna, nesse caso poderá ser feita a retirada da tuba pelo médico
e a consequente interrupção da gravidez, tratando-se de hipótese prevista no inciso I do art.
128 do CPB, como excludente de ilicitude.
Em regra, o crime de aborto ocorre com a interrupção da vida fetal ainda durante a
gestação, antes do início do trabalho de parto. Contudo, caso a gestante tenha tentado
interromper a gravidez por métodos abortivos mal sucedidos, o concepto tenha nascido com
vida e morrido após o nascimento, em decorrência dos métodos abortivos, o crime ainda
assim será o de aborto. Isso porque o sistema penal brasileiro adota a teoria da atividade, que
dispõe que o crime é cometido no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado.
108
Ressalte-se que o STF apenas autorizou a interrupção da gestação dos fetos
anencéfalos. Outras anomalias congênitas fetais, ainda que graves e também incompatíveis
com a vida, não estão abarcadas pela decisão proferida no âmbito da ADPF 54. Em tais casos,
a gestante pode ajuizar pedido de interrupção, cuja decisão final dependerá da análise judicial
casuística concreta.
INFANTICÍDIO
O crime de infanticídio está tipificado no art. 123 do CPB, sendo alvo de discussões e
controvérsias entre a Medicina Legal e o Direito Penal.
109
→ Elementos temporais do tipo penal
O infanticídio configura-se com a morte, pela mãe do próprio filho, “durante o parto ou
logo após”.
O período “durante o parto” tem elementos médicos para sua caracterização: aceita-
se ser compreendido entre a ruptura da bolsa amniótica e a dequitação (expulsão da
placenta).
O período “logo após” carrega algum debate doutrinário. Majoritariamente e em razão
das críticas médico-legais ao tipo penal em questão, a Medicina Legal não admite um maior
elastecimento temporal desse período, configurando como “logo após” os momentos que vão
até os primeiros cuidados com a criança.
→ Exame pericial
110
no local de apresentação da cabeça da criança e “encaixe” no colo uterino materno e canal
de parto. É prova de que havia circulação sanguínea durante o parto, pois é formada por um
desequilíbrio da circulação da região pela pressão causada no ponto da cabeça que já
encaixou no canal de parto e exteriorizou pelo orifício do colo uterino, causando acúmulo de
líquido na área.
Há dezenas de provas de vida do concepto que podem ser usadas na análise pericial
e são descritas em manuais de Medicina Legal, especialmente as docimásias respiratórias,
que podem ser pulmonares ou extrapulmonares. As docimásias mais comuns são:
Consiste na análise dos pulmões ao microscópio óptico, podendo ser feita mesmo em
pulmões putrefeitos. Não tendo havido respiração, não haverá expansão alveolar e nem
achatamento das células epiteliais e aumento dos capilares sanguíneos.
111
3) Docimásia diafragmática de Ploquet
112
ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO
Trata-se de crime disposto no art. 134 do CPB, com resultados que o qualificam (lesão
corporal grave ou gravíssima ou morte):
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
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O inciso III menciona defeito físico que não configure deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência!). Há uma interpretação divergente na doutrina sobre o que configura o
defeito físico, para tal fim. De qualquer forma, ele tem que ser irremediável, anterior ao
casamento e desconhecido pelo outro cônjuge.
Ressalte-se que o incido IV, que mencionava doença mental grave, foi revogado em
2015 pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. Logo, tal questão não mais configura erro
essencial apto à anulação do casamento.
114
- Impotência coeundi → trata-se da disfunção sexual masculina ou disfunção erétil. Pode ter
causas psíquicas ou orgânicas.
- Acopulia ou impotência coeundi feminina → consiste na incapacidade feminina de manter o
ato sexual, por razões físicas ou psíquicas, estas associadas ao vaginismo (espasmo intenso
da musculatura vaginal, acompanhado de dispareunia, que é a dor intensa na relação sexual)
e coitofobia (aversão ao coito).
- Impotências generandi e concipiendi → estaas deveriam não se chamar impotências, mas
sim infertilidade/esterilidade, pois são incapacidades de gerar/procriar e de conceber a
criança. A generandi ocorre no homem, já a concipiendi na mulher .
115
inciso II, quando a parafilia está relacionada ao cometimento de crimes, como a necrofilia e a
pedofilia.
Uma das principais importâncias e também dificuldades atinentes às parafilias é definir
a imputabilidade de um indivíduo portador de sexualidade anômala, com cometimento de
delitos associados.
De acordo com o DSM-V – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5ª
edição, 2013:
(...) “uma parafilia deve ser diferenciada do uso não-patológico de
fantasias sexuais, comportamentos ou objetos como estímulo para a
excitação sexual em indivíduos sem parafilia. Fantasias,
comportamentos ou objetos são parafílicos apenas quando levam a
sofrimento ou prejuízo clinicamente significativos (por ex., são
obrigatórios, acarretam disfunção sexual, exigem a participação de
indivíduos sem seu consentimento, trazem complicações legais e
interferem nos relacionamentos sociais).”
Anafrodisia e frigidez
Ausência, perda ou expressiva diminuição do instinto sexual → se no homem, nomeia-se
anafrodisia. Na mulher, trata-se da frigidez.
Anorgasmia
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Impossibilidade do homem alcançar o orgasmo, mas habitualmente sem redução do desejo
sexual.
Hipererotismo
Tendência abusiva aos atos sexuais, sendo chamado de satiríase no homem e de ninfomania
na mulher.
Autoerotismo
Gozo sexual sem a presença do(a) parceiro(a), com ocorrência de orgasmo sem manipulação
genital. Também chamada de psicolagnia ou coito psíquico de Hammond.
Onanismo
Impulso obsessivo à manipulação dos órgãos sexuais, também conhecido por coito solitário
de Onan.
Erotomania
Trata-se de uma espécie de “mania amorosa”, de forma platônica e idealizada. O erotômano
idealiza o indivíduo a quem destina seu “delírio amoroso”, mas habitualmente é tímido e casto
e não apresenta desejo carnal exacerbado.
Frotteurismo
Utilização de ambientes públicos para a prática de atos libidinosos sem o consentimento do
outro, como pode ocorrer, a título de exemplo, em aglomerações em transportes coletivos,
podendo restar configurado o crime de importunação sexual do art. 215-A do Código Penal.
Hygino Hércules, de forma minoritária na doutrina, também nomeia frotteurismo como ato
homossexual feminino com mútua fricção genital, considerando que o verbo francês frotteur
significa “esfregar, atritar, friccionar”.
Voyeurismo
Também chamado de observacionismo, mixoscopia ou escopofilia, é o prazer erótico
despertado por observar atitudes sexuais de terceiros.
Fetichismo
Prazer com partes do corpo ou objetos inanimados, incluindo vestes. Quanto ao pés,
denomina-se retifismo.
117
Pigmalionismo
Atração sexual por estátuas.
Dolismo
Atração sexual por bonecas e manequins.
Pedofilia
Atração sexual por crianças ou menores pré-púberes e de qualquer sexo.
Gerontofilia
Presbiofilia ou cronoinversão, é a atração sexual obsessiva de indivíduos jovens por pessoas
de excessiva idade.
Riparofilia
Também chamada de escatofilia, é a atração sexual obsessiva por indivíduos sujos,
desasseados, de muito baixa condição higiênica.
Urolagnia
Prazer sexual envolvendo a micção.
Coprofilia
Prazer sexual envolvendo as fezes do outro ou de si mesmo.
Clismafilia
O termo vem da palavra clister; trata-se da preferência sexual pelo prazer obtido pelo indivíduo
que introduz ou faz introduzir grande quantidade de água ou líquidos no reto, sob a forma de
enema, lavagem ou clister.
Edipismo
Tendência ao incesto, com atração do filho pela própria mãe.
Electrismo
Tendência ao incesto, com atração da filha pelo próprio pai.
Bestialismo
118
Também chamado de zoofilia, zooerastia ou coitus bestiarum, é o prazer sexual envolvendo
animais.
Vampirismo
Forma rara de transtorno da sexualidade, em que a satisfação erótica ocorre apenas na
presença de sangue ou hemoderivados.
Necrofilia
Prazer sexual com cadáveres ou em locais relacionados a estes.
A conduta parafílica é grave, considerada uma perversão sexual e pode estar relacionada a
diversos crimes, como homicídio, violação de sepultura, destruição, subtração ou ocultação
de cadáver e vilipêndio a cadáver.
Sadismo
Prazer sexual com o sofrimento não consensual do parceiro; também chamado de algolagnia
ativa.
Masoquismo
Prazer sexual somente é obtido com o próprio sofrimento, físico ou moral; também chamado
de algolagnia passiva.
Asfixiofilia
Também chamada de hipoxifilia, trata-se do prazer sexual obtido por meio da privação de
oxigênio.
Pode acarretar uma morte acidental, chamada de accidental autoerotic death; morte por
acidente de masturbação em autoestrangulamento erótico.
Andromimetofilia
Atração de homem por mulheres vestidas de homem, mas que agem e se representam
sexualmente como homem, adotando ele o comportamento de mulher.
Ginemimetofilia
Atração de mulher por homens vestidos de mulher, mas que agem e se representam
sexualmente como mulher, adotando ele o comportamento de homem.
119
Penculofilia
Atração por atos sexuais em locais perigosos.
Swapping
Prática heterossexual com troca de parceiros consentida entre dois ou mais casais.
Lubricidade senil
Manifestação exagerada de sexualidade em pessoas idosas.
CAPÍTULO 7
IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO
Principais métodos de identificação humana
Identificação datiloscópica e antropológica
120
A identificação humana por meio das impressões digitais é um dos principais métodos
utilizados em todo o mundo; no Brasil, há mais de um século.
O sistema decadactilar de Vucetich é método que preenche adequadamente os
citados requisitos de um bom método de identificação, embora Genival Veloso de França
entenda que ele não preenche de forma tão adequada o requisito da perenidade.
As impressões digitais são únicas e não se repetem tampouco em gêmeos univitelinos,
são imutáveis e relativamente perenes – se formando na vida intrauterina e permanecendo
até a putrefação, perdendo-se apenas na fase coliquativa –, de coleta e obtenção prática,
baixo custo e classificáveis, em razão da existência de quatro tipos fundamentais.
Os quatro tipos fundamentais são: verticilo, presilha externa, presilha interna e arco.
A classificação desses quatro tipos fundamentais baseia-se na disposição das linhas
dermopapilares de uma impressão digital, que formam três regiões: uma região central mais
arredondada, chamada núcleo. As linhas abaixo do núcleo, na base da impressão digital:
região basal ou basilar. As linhas dispostas acima e ao lado do núcleo, região marginal. E o
ponto de encontro das três regiões, uma área triangular denominada delta. É o número de
deltas e sua localização que define o tipo fundamental da impressão digital.
121
ARCO → presença apenas das regiões basal e marginal, sem a formação do núcleo e, assim,
sem a formação do delta.
A FÓRMULA DATILOSCÓPICA
122
Analisando-se os dez tipos fundamentais de cada um dos dez dedos das mãos,
constrói-se a fórmula datiloscópica, que é classificatória e relevante para o arquivamento das
informações coletadas.
O numerador da fórmula chama-se série e consiste na mão direita, sendo o polegar o
primeiro dedo representado e indicado por uma letra. Os demais dedos são indicados na
sequência, por números.
O denominador da fórmula chama-se seção e consiste na mão esquerda, sendo o
polegar o primeiro dedo representado e indicado por uma letra. Os demais dedos são também
indicados na sequência, por números.
A letra que indica o polegar é: V de verticilo, E de presilha externa, I de presilha interna
e A de arco. Para os demais dedos, o verticilo corresponde ao número 4, presilha externa ao
número 3, presilha interna ao número 2 e arco ao número 1.
Dedos defeituosos ou com cicatrizes e marcas que impossibilitam a identificação do
tipo fundamental são representados pela letra X; dedos ou falanges amputados, pelo número
0 (zero).
DEDOS DEFEITUOSOS X X
AMPUTAÇÕES 0 0
Neste caso, por exemplo, o polegar direito apresenta o tipo verticilo (V); já o polegar
esquerdo, presilha externa (E). O dedo indicador/segundo dedo esquerdo é presilha interna
(2), assim como o dedo médio esquerdo; o dedo médio direito é presilha externa (3) e o dedo
mínimo esquerdo (0) foi amputado.
123
A forma datiloscópica, contudo, não é suficiente para identificar uma pessoa. Para tal,
é necessário pesquisar os pontos característicos! Eles são os elementos individualizadores
de uma impressão digital!
De acordo com a regra de Locard, o encontro de 12 a 20 pontos característicos
coincidentes no exame microcomparativo, sem nenhum ponto de divergência, permite a
identificação do indivíduo.
São exemplos de pontos característicos: encerro, ilha, ilhota, cortada, bifurcação,
forquilha, e diversos outros.
ANTROPOLOGIA FORENSE
→ DETERMINAÇÃO DA ESPÉCIE
124
em si. Para tal, a morfologia das hemácias é usada, embora o método mais seguro seja a
albuminorreação ou método de Uhlenhuth, realizado por meio de reação antígeno/anticorpo
com soros de diversos animais a serem pesquisados.
→ DETERMINAÇÃO DO SEXO
1) PELVE
2) CRÂNIO
O crânio feminino tem fronte verticalizada, sem glabela evidente, arcos superciliares
pouco salientes, rebordos supraorbitários finos e cortantes, processo mastoide e
protuberância mentoniana menos salientes. A mandíbula feminina é menos robusta, com
ângulo mais aberto e ramos mais largos.
Já o crânio masculino tem glabela proeminente e fronte inclinada para trás, arcos
superciliares mais salientes, rebordos supraorbitários rombos, processo mastoide e
protuberância mentoniana mais salientes. O ângulo da mandícula é mais fechado, os côndilos
mandibulares são robustos e os ramos um pouco mais estreitos.
125
→ ESTIMATIVA DA IDADE
→ ESTIMATIVA DA ESTATURA
→ ESTIMATIVA DA ETNIA
126
- Mongólico: pele amarela, face achatada de diante para trás, maxilares salientes.
- Negroide: pele negra, cabelos crespos, crânio pequeno.
- Indiano: não é tipo racial definido; alta estatura, pele amarelo-trigueira, cabelos pretos e lisos.
- Australoide: estatura alta, pele trigueira, dentes fortes, arcadas superciliares salientes.
Os elementos mais usados para a classificação do tipo étnico fundamental são a forma
do crânio, os índices cranianos, os índices tíbio-femoral e rádio-umeral, o ângulo facial e a
anatomia dentária.
A forma do crânio e medidas nele feitas são os mais importantes, especialmente o
índice craniano calculado pela fórmula de Retzius, que consiste na relação entre a largura e
o comprimento do crânio. Crânios dolicocéfalos têm índice menor ou igual a 65; braquicéfalos
têm índices superiores a 80; havendo os intermediários ou mesaticéfalos.
O ângulo facial mede o prognatismo e para tal medida são utilizados os ângulos de
Jacquart, de Cloquet e de Curvier.
A anatomia dentária do primeiro molar inferior pode ser usada como elemento de
exclusão, já que o formato mamelonado não é encontrado nos negros e o formato estrelado
não é visto nos brancos.
127
A identificação por DNA vem tomando cada vez maior relevância a partir da evolução
das pesquisas e métodos em biologia molecular e genética, embora não seja o método de
primeira escolha no Brasil, em razão do custo e da falta de um banco de dados genéticos
geral, de todos os indivíduos.
O Decreto 9817/2019 criou o BNPG (Banco Nacional de Perfis Genéticos) e instituiu a
RIBPG (Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos).
Ressalte-se que a Lei 12.654 de 2012, que alterou a Lei 12.037 de 2009, trouxe a
extração de material genético para identificação criminal e criação de bancos de dados. Veja-
se a redação do art. 3o da Lei 12.654 de 2012:
Prevê a lei, ainda, que as informações genéticas contidas nos bancos de dados de
perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas,
exceto determinação genética de gênero, consoante as normas constitucionais e
internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos.
128
- Associar ou excluir um indivíduo do crime;
- Associar dois ou mais locais de crime entre si ou a um suspeito;
- Fornecer subsídios para estabelecer a dinâmica do evento;
- Identificar uma vítima desaparecida através de seus parentes;
- Criação e alimentação de perfis de DNA armazenados em bancos de dados na ausência de
suspeitos.
Cada indivíduo representa uma combinação do DNA de seus pais e todas as células
de um indivíduo contêm a mesma informação genética, exceto hemácias e gametas.
Praticamente qualquer material biológico contém DNA (células epiteliais, sangue, sêmen,
órgãos, ossos, dentes, saliva, urina, fezes, pelos, etc) e pode ser utilizado para extração do
material.
O DNA nuclear tem material genético completo, disposto em 46 cromossomos de
origem materna e paterna. Há, contudo, o DNA circular mitocondrial, presente nas
mitocôndrias, que são organelas citoplasmáticas relevantes para a produção de energia nas
células. O DNA mitocondrial tem origem apenas materna e é um marcador de linhagem
materna, sendo relevante para identificação em amostras degradadas, com escasso
componente nuclear.
CAPÍTULO 8
A IMPUTABILIDADE PENAL
129
Não se confunde com o conceito de responsabilidade, que é a consequência atribuída
a quem tinha pleno entendimento, em concreto, para sofrer as consequências jurídico-penais.
É uma atribuição judicial, após a análise de todas as circunstâncias que envolvem o crime.
A regra, aos maiores de 18 anos, é a imputabilidade penal. Inimputabilidade é exceção
e, assim, não pode ser presumida, devendo ser necessariamente provada por meio da perícia
psiquiátrica.
A avaliação médico-legal da imputabilidade penal tem por base normativa o art. 26 do
Código Penal, que menciona os transtornos mentais (doenças mentais, perturbações da
saúde mental e desenvolvimento mental incompleto ou retardado) e as consequências a ele
atribuíveis. O caput do art. 26 do CP dispõe sobre os inimputáveis, que são isentos de pena.
Já o parágrafo único, por afirmar a redução da pena em virtude da condição mental do agente,
dispõe sobre os semi-imputáveis.
Inimputáveis
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
130
O agente imputável, portanto, é aquele capaz de realizar um ato com pleno
discernimento. Já o inimputável é incapaz de tal clareza, de tal discernimento.
Para a avaliação pericial da imputabilidade penal, utilizam-se três critérios ou sistemas
básicos, em regra geral: o critério psicológico, o critério biológico puro e o critério misto
biopsicológico. No Brasil, adota-se como regra o sistema biopsicológico e, excepcionalmente,
o critério biológico puro para o menor de 18 anos.
A correta avaliação do critério biopsicológico requer que se avalie:
- a existência de um transtorno mental;
- a capacidade de entendimento do agente;
- a capacidade de autodeterminação e
- o nexo de causalidade entre o transtorno e o fato cometido.
Idade
Surdomutismo
Hipnotismo
131
Eivado de controvérsias e questionamentos, o hipnotismo seria uma condição em que
há automatismo de ações sob controle externo.
Não é condição aceita como modificadora da imputabilidade penal e da consequente
responsabilização do agente.
Emoção e paixão
Dispõe o Código Penal, no art. 28, que a emoção e a paixão não excluem a
imputabilidade penal. Trata-se, em verdade, da aplicação da teoria da actio libera in causa
(ação livre na causa), no sentido de que a pessoa que se coloca conscientemente em
condições em que a emoção pode dominá-la, assumirá a responsabilidade pelos seus atos.
Há, contudo, a previsão das atenuantes geral do art. 65 do CP e específicas da lesão
corporal e do homicídio dolosos, quando cometidos “sob domínio de violenta emoção”.
Dessa forma, a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade ou atenuam a pena.
Sono e sonambulismo
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Doença mental
- Psicoses
- Epilepsia
133
Trata-se de grupo de condições em que o grau de entendimento e autodeterminação
podem estar comprometidos, permitindo o ato delitivo, mas de forma insuficiente para que se
enquadre a condição em “doença mental”. São quadros, assim, um pouco mais leves do que
os anteriormente descritos.
São representados principalmente pelos Transtornos da Personalidade, já nomeados
por alguns como “psicopatias”, mas que configuram quadros heterogêneos e variáveis de
transtornos mentais. Também as neuroses podem ser inseridas nesse grupo.
Os principais tipos de Transtornos da Personalidade são: paranoide, esquizoide,
antissocial, borderline ou limítrofe, histriônico, obsessivo-compulsivo e dependente.
Hygino Hércules afirma que os psicopatas costumam ter deformações de caráter,
temperamento, instintos e afetividade, embora as personalidades psicopáticas não formem
uma única entidade nosológica e também apresentam variabilidade.
Afirma-se, ainda, que, embora haja potencial conhecimento da ilicitude do fato, os
psicopatas com frequência apresentam pouca capacidade de autodeterminação, razão pela
qual não seriam considerados plenamente imputáveis.
PERÍCIA PSIQUIÁTRICA
134
135
§ 1o. O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em
manicômio judiciário ou em outro estabelecimento adequado.
§ 2o. O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o
acusado, ficando-lhe assegurada a faculdade de reinquirir as
testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença.
136
- coercitivos (com o uso de recursos violentos, sendo relevante se perquirir se houve
tortura nessas circunstâncias; trata-se, por óbvio, de meio arbitrário e ilícito);
- tóxicos (por meio da administração de substâncias químicas, tratando-se de prática
também arbitrária, por configurar meio violento por ação farmacológica);
- científicos (cardiopneumopsicograma, que é uma braçadeira para avaliar variações
da pressão arterial, hipnotismo e lie detector ou “máquina da verdade”; têm
credibilidade duvidosa e estão desacreditados).
137
consigam relatá-lo, não há porque negar tal possibilidade, sob o ponto de vista estritamente
médico. Testemunhos de crianças, por óbvio, devem ser cercados de cuidados específicos,
mas não são desqualificados do ponto de vista puramente médico e psicológico, apenas em
razão da incapacidade civil.
Não há motivos para se recusar, de forma absoluta e a priori, o testemunho de pessoas
com transtornos mentais. Contudo, especialista deve ser consultado para que se avalie a
influência do transtorno mental na formação da percepção do indivíduo. Portadores de
doenças mentais que cursam com delírios (sobretudo os persecutórios) e alucinações podem
ter seus testemunhos questionados e vistos com reserva.
São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem
dar o seu testemunho.
Quanto ao tema abordado, deve-se atentar à redação das normas contidas nos artigos
197 a 230 do Código de Processo Penal.
138
- Metassimulação → a doença e o quadro de sintomas realmente existem; contudo,
o periciando exagera os sinais e/ou sintomas da doença, afirmando quadro e consequências
superiores ao que ele é portador.
Um dos sintomas mais referidos pelo indivíduo que age em fraude é a dor,
especialmente pela subjetividade (variação do limiar de dor de cada pessoa) e, em
consequência, dificuldade de análise objetiva. Há, contudo, formas de se pesquisar a
realidade ou alegação falsa da dor, por meio dos “sinais da dor”:
INFORTUNÍSTICA
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As normas equiparam a acidentes de trabalho as doenças profissionais e as doenças
do trabalho.
Quanto aos tipos de RISCO PROFISSIONAL, entende-se que todo trabalho, por mais
simples que seja, sempre traz um risco próprio, independente de culpa do empregador ou do
empregado. A ideia traduz com um sentido humanitário e social, de amparo ao trabalhador.
Trata-se do chamado RISCO GENÉRICO, que incide sobre todas as pessoas, quaisquer que
sejam suas atividades ou ocupações (ideia geral de que todo trabalho submete o ser humano
a um risco).
Já o RISCO ESPECÍFICO é aquele risco ao qual está sujeito determinado operário
em razão da natureza em si do trabalho que ele desenvolve. A Ideia relaciona-se à doença
profissional.
Por fim, o RISCO GENÉRICO AGRAVADO ocorre em virtude das circunstâncias
especiais do trabalho ou das condições que o trabalhador o realiza. Está ligado às doenças
do trabalho.
140
Para fins de reparação cível do trabalhador que se envolve em um acidente do trabalho
(e patologias equiparadas), deve-se avaliar:
- a existência de uma lesão pessoal;
- a incapacidade para o trabalho, que pode temporária (até 1 ano) ou permanente; total
ou parcial;
- o nexo de causalidade;
- a existência de certas condições de tempo e de lugar (como, por exemplo, se o
acidente ocorreu em horário ou em local relacionados ao trabalho).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Manuais:
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2017.
HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2a ed. São Paulo: Atheneu,
2014.
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 9a ed. Salvador: Jus Podivm,
2020.
Sinopses:
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Sinopses para Concursos, v. 41, Medicina Legal. 5a ed.
Salvador: Jus Podivm, 2020.
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