Integração Regional Na África: Síntese
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Overview
Prefácio
As nações da África são confrontadas não tanto pelo impacto da globalização mas pela sua
exclusão dela. Ainda assim, apesar dos riscos dos quais temos ouvido muito, uma África
desligada da economia mundial é um continente condenado à marginalização e estagnação.
Alguns países individuais do continente tentaram engajar-se mais ativamente na economia
mundial e eles obtiveram algum sucesso; outros, contudo, aparentam não ter poderes para isto.
Em particular, a reforma dos mercados é uma necessidade imperiosa para os países africanos.
Ela implica na melhoria do acesso aos mercados intra-regionais, bem como na abertura
internacional. Onde os mercados domésticos estão distorcidos, os mecanismos regionais
podem ajudar a reduzir essa distorção através de pressão dos pares e reformas políticas
coordenadas internacionalmente. Estas mesmas políticas podem demonstrar a maturidade e
estabilidade aos investidores externos, encorajando desta forma, influxos de investimento
estrangeiro direto (FDI), o que é um dos objetivos das iniciativas de integração regional na
África. Ao mesmo tempo, a necessidade para as reformas fiscais e a maximização das receitas
fiscais é uma necessidade absoluta para os países africanos, se eles forem capazes de
implementar com sucesso os níveis de abertura do mercado necessários para a integração na
economia mundial.
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países africanos. Com toda a cautela que nos poderíamos aconselhar, a concertação regional
oferece parte da solução da exclusão da África da economia mundial. Ela pode ser muito bem
um catalisador para reformas econômicas e políticas em todo o continente, tão necessárias
para o desenvolvimento econômico sustentado.
Abril de 2002.
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Introdução
Andrea Goldstein
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percepção de que o setor público deva se envolver na criação de um ambiente auspicioso para
iniciativas regionais florescerem e tornarem-se sustentáveis.
Adrian Wood, em um discurso proferido em nome de Clare Short, argumentou que não
existe a necessidade para a África de escolher entre multilateralismo e regionalismo. Elas não
são estratégias conflitantes. Pelo contrário, para fazer frente aos desafios da globalização, a
integração regional e a cooperação são complementos vitais para o multilateralismo. Em
outras palavras, a África deve praticar “regionalismo aberto”. Claramente, nas palavras de
Michael Spicer, a abertura funciona parcialmente, pois ela envia um sinal sobre qual tipo de
economia deseja ter o estado que liberaliza – um que é aberto não apenas ao comércio, mas
também para idéias, pessoas, habilidades e investimento; um que quer competir no cenário
mundial; e um que luta por valores políticos e práticas sociais internacionalmente aceitáveis.
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de quebrar o impasse, foi citada por Jorge Braga de Macedo, como foram os benefícios
potenciais derivados da supervisão multilateral em agrupamentos regionais.
Entretanto, o motivo em fazer a comparação entre estes dois continentes diferentes não é tanto
de estabelecer a América Latina como modelo, mas como chamar antecipadamente a atenção
dos formuladores de política africanos, para os desafios que a maioria dos agrupamentos
avançados estão enfrentando agora e quais destes a África irá também enfrentar no futuro
próximo. Em particular, na medida em que as medidas implementadas na Argentina por
ocasião deste fórum poderiam colocar em risco a própria existência do Mercosul, vários
participantes, incluindo Marie-Christine Crosnies, observou que os países africanos devem
encontrar mecanismos de coordenar políticas econômicas e reduzir a vulnerabilidade para
choques externos. Paul Isenman também enfatizou que o Mercosul foi bem sucedido onde
outros esforços falharam pois seus membros tinham uma mentalidade em comum: a visão que
eles compartilharam era “aberta”. Se um agrupamento regional tiver um visível objetivo de
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abertura, mas seus membros de fato não estão tão comprometidos e possuem visões muito
divergentes entre e dentro dos países, as chances para o sucesso são altamente limitadas. A
falta de retornos aparentemente rápidos, um compreensível sentimento de injustiça vis-à-vis o
sistema de comércio mundial, e a dependência da ajuda podem piorar estes problemas. Rolf J.
Langhammer também enfatizou que a América Latina teve, até agora, um sucesso apenas
limitado em melhorar a qualidade da infraestrutura física de modo a remover as barreiras ao
comércio. As reformas e o regionalismo aberto não foram ainda capazes de propiciar altas
taxas de crescimento de modo a frear a “fuga de cérebros”, um fenômeno que é comum à
África e América Latina. Ao mesmo tempo, deve ser levado em conta que as lutas e a fome
não são tão prevalentes na América Latina como são na África, de modo que a prevenção de
crises e sua resolução é uma questão menos importante para os latinos.
A infraestrutura africana é afligida por muitos problemas que foram bem sumarizados por
Hilde F Johnson. As decisões sobre o que e onde construir foram tomadas durante o período
colonial, com o objetivo de extrair um ou dois produtos primários para o mercado,
transportados aos portos onde eles poderiam ser exportados. Não surpreendentemente, muitos
países africanos permanecem dependentes em um único produto de exportação e produtos
complementares são poucos e muito espaçados. A infraestrutura permanece concentrada nas
áreas urbanas, refletindo as prioridades das elites urbanas, a despeito do fato de que os pobres
que vivem na zona rural constituem 80% da população. A infraestrutura africana é também
deficientemente mantida e custosa para operar, ela sofre da falta de participação e
investimentos do setor privado, e novos investimentos são muitas vezes incentivados por
financiamento de concessões, ou de instituições financeiras internacionais ou de países
doadores. Desta maneira, sem nenhuma surpresa, o insuficiente investimento em infraestrutura
pode gerar pesadas externalidades ao crescimento, especialmente no turismo, construção e na
agricultura – setores que, de acordo com Nazir Alli, podem contribuir com 90% dos empregos
que se espera sejam criados na África do Sul nos próximos sete anos.
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outras regiões emergentes como a Europa Oriental e a América Latina recebem maiores
investimentos que a África, apesar dos riscos de corrupção não serem menores. É também
importante usar o desenvolvimento da infraestrutura para ajudar o setor informal a participar e
beneficiar-se do processo de globalização e liberalização. Na base de sua própria experiência,
Hilde F.Johnson enfatizou que a sociedade civil pode exercer uma vigilância extremamente
efetiva, acompanhando as ações dos formuladores de políticas e assegurando que eles ajam no
interesse de todas as partes interessadas, melhorando, desta forma, a credibilidade de todo o
processo.
Em todas essas áreas existem alguns grandes obstáculos a serem superados. Ao mesmo tempo
em que o investimento é a chave na promoção da integração, a África é conectada
financeiramente ao resto do mundo com vários canais negativos, incluindo endividamento,
lavagem de dinheiro e fuga de capitais. A solução da crise da dívida através de estratégias
inovadoras, tais como a Iniciativa para os Países Altamente Endividados, é, desta forma, uma
prioridade, especialmente em vista da criação de mercados de bônus para financiar projetos de
infraestrutura de longo-prazo. Em segundo lugar, a crescente integração global dos mercados
financeiros reduz a necessidade de praças financeiras nacionais, especialmente em países que
são pobres e pequenos demais para alcançar uma escala mínima eficiente em termos de
faturamento e liquidez. Ainda assim, mostram Keith Jefferis e Kennedy Mbekeani, o viés
dos investidores contra o risco, que excluem todas, com a exceção de algumas corporações
africanas de primeira linha, dos principais mercados financeiros da OCDE. Os mercados
regionais podem, desta forma obter um nicho para si, se eles aumentarem a competição entre
as diferentes formas de intermediação financeira, que é um vetor importante no
desenvolvimento do mercado. Foi apresentada, em particular, por Jean-Paul Gillet, a
experiência da Bolsa Regional de Valores da África Ocidental em Abidjã. Além disso, o
levantamento de recursos em nível doméstico permanece uma necessidade para as companhias
emitirem ações nas bolsas de valores da OCDE. Outro grande problema deriva da falta de
know-how em muitos países africanos. A elevada dependência de consultores, técnicos e
empresas de contratação estrangeiras, enfraquece o sentido de propriedade dos projetos e pode
perpetuar a dependência de ajuda. Em uma nota mais positiva, foi mencionado que a forte
vontade política poderá criar pelo menos alguns pré-requisitos para uma maior integração
regional (mesmo antes de todas as reformas estruturais necessárias na África) que servirão de
ferramentas para aprofundar seus mercados de capital, do mesmo modo que aconteceu com
alguns países da América Latina.
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para todos os aspectos da economia internacional. Jorge Braga de Macedo citou a pesquisa
do Centro de Desenvolvimento mostrando que, entre outras coisas, um saudável investimento
estrangeiro direto de longo prazo é desencorajado pela corrupção; que o investimento em
carteira é fraco onde as empresas governamentais são pobres; que o crescimento sustentado é
comprometido pelas estruturas não-democráticas; que a relação entre governança e
crescimento é uma mão de via dupla.
Acima de tudo, todos concordaram que seria um engano pensarmos que somente as políticas
sociais podem combater a pobreza, pois enquanto as políticas macroeconômicas estimulam o
crescimento econômico e o desenvolvimento da infraestrutura, por exemplo, elas devem ser
consideradas no contexto dos objetivos internacionais de desenvolvimento em cortar pela
metade a pobreza absoluta no mundo até 2015. Neste contexto Omar Kabbaj observou que as
obrigações do serviço da dívida são presentemente o dobro dos dispêndios de assistência ao
desenvolvimento, de modo que a abertura dos mercados globais aos mercados africanos – pela
remoção das barreiras ao comércio e todas as formas de subsídios, em particular nos setores
têxtil e agrícola – devem proceder em paralelo com os esforços para a melhoria do
funcionamento dos mercados africanos.
Finalmente, na África mais do que em qualquer outro lugar, as guerras e doenças infecciosas,
particularmente o HIV/AIDS, colocam uma ameaça importante ao desenvolvimento do capital
humano, crescimento sustentável e redução da pobreza. A imagem do continente, contudo, é
muito pior que a realidade. Existe a necessidade de apresentarmos uma visão balanceada dos
êxitos e as dificuldades nas economias africanas, e de diferenciar entre os países, para
contrabalançar a imagem formada pela mídia que mostra somente fotografias negativas do
continente. Omar Kabbaj e Jorge Braga de Macedo aproveitaram o ensejo para apresentar o
trabalho conjunto das duas instituições, em parceria com a União Européia e os pesquisadores
africanos, no fornecimento deste tipo de análise baseada em fatos. A primeira edição das
Perspectivas Econômicas Africanas foi subseqüentemente publicada em fevereiro de 2002 no
Terceiro Fórum Internacional sobre as Perspectivas Africanas.
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Esta Síntese é uma tradução dos excertos de: As Sínteses são disponíveis
livremente na Biblioteca On-
line da OCDE no website
Regional Integration in Africa www.oecd.org.
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A reprodução desta Síntese é
permitida desde que sejam
mencionados o copyright da
OCDE e o título original.
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