Livro Amazônia em Tempo - 2017
Livro Amazônia em Tempo - 2017
Livro Amazônia em Tempo - 2017
zônia
em
TempO
impactos do uso da
terra em diferentes escalas
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
COORDENADORA
Aline Maria Meiguins de Lima
VICE-COORDENADORA
Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo
CONSELHO EDITORIAL
Belém
2017
Projeto Editorial
Ima Celia Guimarães Vieira
Iraneide Silva
Produção Editorial
Osimar Rodrigues Araújo
Aline Maria Meiguins de Lima
Foto da Capa
Imagens Google Earth: Paragominas,
Altamira e Santarém/Pará;
Rio Amazonas (AM); Boa Vista (RO);
e Porto Velho (RO)
Revisão
Steel Silva Vasconcelos
Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo
Aline Maria Meiguins de Lima
CDD 338.9811
CAPÍTULO 1
As Ciências Ambientais e os impactos do uso da terra em diferentes
escalas
Steel Silva Vasconcelos, Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo & Aline
Maria Meiguins de Lima.................................................................................................................15
CAPÍTULO 2
Antropoceno – o desafio de um novo campo científico
interdisciplinar
Peter Mann de Toledo & Ima Célia Guimarães Vieira .......................................................35
CAPÍTULO 3
Vulnerabilidade e integridade de padrões de uso e cobertura da
terra na área de endemismo do Tapajós entre 2004 a 2012
Afonso Henrique Moraes Oliveira, Marcos Adami, Alessandra Rodrigues Gomes,
Silvana Amaral, Lucieta Guerreiro Martorano, Igor da Silva Narvaes, Márcia Nazaré
Rodrigues Barros & Maria de Nazaré Martins Maciel .......................................................57
CAPÍTULO 4
Mudanças de usos da terra e fragmentação da paisagem em
áreas associadas à expansão da palma de óleo no município de
Bonito, Pará
Jéssica Adrian Lima Farias, Arlete Silva de Almeida, João Silva Barbosa Júnior & Ima
Célia Guimarães Vieira ...................................................................................................................75
CAPÍTULO 5
Dinâmica espaço - temporal do uso da terra na vila de Cuiarana,
Salinópolis, Pará
Joyse Tatiane Souza dos Santos, Adriano Marlisom Leão de Sousa, Maria Isabel
Vitorino & Hildo Giuseppe Garcia Caldas Nunes.................................................................93
CAPÍTULO 6
Zonas ripárias e modelo de ocupação em bacias hidrográficas
costeiras - rio Caripi, Pará
Priscilla Flores Leão Ferreira Tamasauskas, Aline Maria Meiguins de Lima, Mário
Augusto Gonçalves Jardim & Edson José Paulino da Rocha....................................... 109
CAPÍTULO 7
Efeitos de intervenções técnico-produtivas para a sustentabilidade
do uso da terra em agroecossistemas familiares no território do
Baixo Tocantins, Pará
Lourdes Henchen Ritter Simões, Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo & Arlete Silva de
Almeida............................................................................................................................................. 133
CAPÍTULO 8
O Uso e Ocupação do Litoral Amazônico: os efeitos socioeconômicos
e ambientais
Adrielson Furtado Almeida & Mário Augusto Gonçalves Jardim ............................. 167
CAPÍTULO 9
Impacto do uso da terra sobre a soberania alimentar dos quilombolas
no Vale do Guaporé, na fronteira dos biomas Amazônico e Cerrado
Iris Gomes Viana, Marcos Silveira & Carolina Joana da Silva ..................................... 185
CAPÍTULO 10
Relação entre as condições de infraestrutura urbana e as ocorrências
de criminalidade em duas áreas de Belém, Pará (2012-2014
Helena Lucia Damasceno Ferreira & Roberto Araújo Oliveira dos Santos
Júnior...................................................................................................................................................215
CAPÍTULO 11
A exploração sustentável do uso da terra frente ao potencial
biotecnológico da Amazônia e a evolução do marco legal da
biodiversidade
Caroline Bastos do Amarante, Cristine Bastos do Amarante & Maria de Lourdes
Pinheiro Ruivo..................................................................................................................................237
CAPÍTULO 12
Malária na Amazônia Legal: uma análise ambiental e espacial
Andressa Tavares Parente, Everaldo Barreiros de Souza, Joaquim Carlos Barbosa
Queiroz, Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo & Rosana Maria Feio Libonati ..........263
CAPÍTULO 13
Estudos analíticos de carbono pirogênico em solos de Terra Preta
Arqueológica
Milena Carvalho de Moraes, Vanda Porpino Lemos, Dirse Clara Kern & José Francisco
Bêrredo da Silva ............................................................................................................................287
CAPÍTULO 14
Dinâmica do carbono orgânico dissolvido na solução do solo sob
diferentes coberturas vegetais na Amazônia Central
Vania Neu, Alex Vladimir Krusche & João B. S. Ferraz ...................................................313
CAPÍTULO 15
Impactos de diferentes usos da terra sobre os recursos hídricos em
microbacias no Nordeste Paraense na Amazônia Oriental
Daniel Fernandes Rodrigues Barroso, Ricardo de Oliveira Figueiredo, Camila da Silva
Pires & Fabíola Fernandes Costa ............................................................................................ 337
CAPÍTULO 16
Variabilidade do Regime Hidrológico da Calha do Rio Amazonas
Eliane de Castro Coutinho, Edson José Paulino da Rocha, Aline Maria Meiguins Lima,
Lucy Anne Cardoso Lobão Gutierrez, Hebe Morganne Campos Ribeiro, Ana Júlia
Soares Barbosa, Gleicy Karen Abdon Alves Paes & Carlos José Capela Bispo .... 369
CAPÍTULO 17
Padrões climáticos de precipitação e a produção de soja na Amazônia
Maurício N. Moura & Isabel Vitorino .....................................................................................389
CAPÍTULO 18
Hidroquímica dos lagos Bolonha e Água Preta, mananciais de
Belém, Pará
Silvana do Socorro Veloso Sodré, Edson José Paulino da Rocha & Maria de Lourdes
Souza Santos ....................................................................................................................................411
CAPÍTULO 19
Seleção de pontos de amostragem para monitoramento de qualida-
de de água em escala de microbacia na Amazônia
Cristiane Formigosa Gadelha da Costa, Ricardo de Oliveira Figueiredo, Izabela Penha
de Oliveira Santos, Pedro Gerhard, Camila da Silva Pires, Daniel Fernandes Rodrigues
Barroso, Fabíola Fernandes Costa & Gabriel Lourenço Brejão.......................................467
RESUMO
A diversidade das formas de cobertura da terra e seus usos decorren-
tes, da expansão do setor produtivo e da ocupação humana, resultam
em mudanças (de curto, médio e longo prazo) que podem ser avaliadas
em diversos contextos biofísicos e socioeconômicos. Estas podem ser
consideradas como responsáveis pelas tendências, positivas ou nega-
tivas, observadas na qualidade dos ambientes antropizados e no grau
de conservação/preservação dos ambientais naturais. A discussão em
torno dos impactos do uso da terra em diferentes escalas visa uma
abordagem interdisciplinar que avalie as forças motrizes, fatores de es-
tado, pressão e impactos decorrentes. Os resultados obtidos no estudo
desta temática podem ser utilizados na identificação de prioridades e
fatores-chave necessários para sustentabilidade ambiental e socioeco-
nômica na Amazônia.
Palavras-chaves: Amazônia, sustentabilidade ambiental, ambientais na-
turais.
Introdução
A discussão em torno dos processos de uso da terra e suas consequên-
cias sociais, econômicas e ecológicas é característica da abordagem in-
terdisciplinar das Ciências Ambientais. Na região Amazônica este tema
é relevante dada às transformações ocorridas, em função da expan-
são do setor produtivo e da ampliação do seu potencial energético
(LAWRENCE; VANDECAR, 2014; FEARNSIDE, 2016; NOBRE et al, 2016).
Onde são discutidos vários cenários de risco à manutenção do poten-
cial hídrico da bacia Amazônica e de sua biodiversidade, quanto ecos-
sistema Amazônico (DAVIDSON et al, 2012).
16 | Amazônia em tempo
Considerações finais
No contexto das Ciências Ambientais na Amazônia, faz-se necessário
ampliar as discussões que abordam as diferentes consequências das
alterações de cobertura da terra em função das formas de uso e ocupa-
ção. Observa-se que são vários os contextos que traduzem os impactos
decorrentes (positivos ou negativos) nos mais diversos ambientes (rural,
urbano, costeiro, ribeirinho). A maior amplitude deste debate somente
é possível no ambiente da pesquisa interdisciplinar, uma vez que pou-
cas áreas do conhecimento podem enfrentar a região Amazônia sem
considerar os desafios da interdisciplinaridade. Estes tornam-se com-
plexos por cruzarem múltiplos saberes, onde o processo para alcançar
uma comunicação efetiva é aplicação de conceitos teóricos e metodo-
lógicos oriundos de contribuições de várias disciplinas. A análise das
formas de uso e cobertura da terra não envolve apenas a observação
de pequenas e grandes unidades espaciais, mas também de diferentes
escalas temporais, que necessitam de esforços de monitoramento. Este
modelo oferece uma flexibilidade meios de abordagem nos contextos
biofísico, social e econômico, pois permite a análise em múltiplas esca-
las e a avaliação de seus efeitos.
30 | Amazônia em tempo
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Antropoceno – o desafio de um novo
campo científico interdisciplinar
RESUMO
O Antropoceno é caracterizado como uma época em que a influência
humana começou a alterar radicalmente muitos aspectos do sistema
terrestre e dos biomas do planeta. Neste artigo, destacamos a importância
de se compreender as escalas de análise dos fenômenos naturais e as
tendências ambientais atuais sob a influência da Humanidade, assim
como destacamos as bases científicas em torno do estabelecimento
do Antropoceno. Introduzimos, de forma sintética, alguns aspectos
interdisciplinares importantes para a compreensão dessa nova época
geológica, apontando algumas questões prioritárias que devem ser
abordadas em programas de pesquisa e de pós-graduação no Brasil.
Palavras-chave: Sistema terrestre, interdisciplinaridade, ciências
ambientais
Introdução
O planeta Terra é um sistema dinâmico e com uma superfície em
constante transformação nestes 4,5 bilhões de anos. As mudanças
evolutivas desde a origem da vida têm sido acompanhadas por extensas
modificações nas condições ambientais terrestres e marinhas. Com
o surgimento da nossa espécie, há aproximadamente 350 mil anos,
a humanidade tem controlado uma parcela significativa dos recursos
naturais do planeta.
36 | Amazônia em tempo
Considerações finais
O mundo acadêmico vem acumulando um grande volume de
informações ambientais, visando a entender os fenômenos naturais
nas escalas de tempo e espaço e a definir o papel das atividades
humanas nos ciclos da biosfera e suas marcas na geosfera e atmosfera.
A compreensão da dimensão dessas pressões antrópicas é importante
para a gestão de recursos naturais e ocupação territorial. A humanidade,
com o uso da tecnologia, tomou para si o controle da superfície da
Terra e as decisões de interferir nas dinâmicas ecológicas.
A compreensão de mudanças regionais através da reconstrução dos
respectivos processos de perturbação contribui para a avaliação
crítica da magnitude das influências das atividades humanas nos
sistemas naturais. O papel dos padrões de mudanças de cobertura
vegetal e uso da terra nos ecossistemas e no clima está cada vez mais
comprovado. Percebe-se que as mudanças nos regimes de diferentes
fatores físicos como a hidrologia e a geomorfologia, que influenciam o
funcionamento dos ecossistemas, estão cada vez mais frequentes. Estes
padrões começam a afetar o bem-estar de várias populações ao redor
do mundo.
O ponto central deste trabalho foi o de argumentar em favor de um
processo de pesquisa científica que conecte os diferentes fenômenos
observados pelas ciências naturais com as interferências e opções
realizadas pelas sociedades humanas. Identificar as relações de causa
e efeito e seus impactos no meio ambiente será de importância
na percepção da dimensão de nossas atividades e seus níveis de
interferência nestas dinâmicas.
Amazônia em tempo | 53
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Vulnerabilidade e integridade de padrões
de uso e cobertura da terra na área de endemismo
do Tapajós entre 2004 a 2012
RESUMO
Este trabalho analisa o processo de transição das classes de uso e
cobertura da terra na área de endemismo (AE) Tapajós de 2004 a 2012,
utilizando dados do projeto TerraClass. Com a matriz de transição
detalhada foram calculadas as mudanças líquidas (net change), os
ganhos (gain), as perdas (loss), as persistências e assim, pôde-se
identificar a vulnerabilidade e a integridade das classes. A classe
Floresta foi a mais sensível a mudanças e a mais frágil e susceptível
às transições. A classe Vegetação Secundária apresentou elevados
valores de persistência líquida e a classe Agricultura Anual apresentou
elevada persistência, enquanto que a classe Pastagem apresentou
elevada susceptibilidade à perda de área para outras classes. Já a classe
Floresta mostrou-se como a mais vulnerável à perda e mudança de uso
e cobertura, com persistência líquida negativa de 0,05. A Vegetação
Secundária caracterizou-se como uma classe estável e crescente, com
grande potencial de estabilização e permanência, apesar de sofrer com
processos de migração, apresentou crescimento positivo de 1,63%,
indicando a presença de sítios sucessionais e indícios de recuperação de
áreas desmatadas. A Agricultura Anual apresentou ganhos significativos,
principalmente das áreas de pastagem, com 1,43% de persistência,
configurando-se como a classe de maior integridade e tendência de
ampliar sua extensão. A conversão para Pastagem configurou-se como
um dos principais elementos associados ao desmatamento na região,
tendo sido também considerada uma classe vulnerável aos processos
de mudança, atingindo 0,15% de persistência.
Palavras-chave: Amazônia, sensoriamento remoto, uso e cobertura da
terra, matriz de transição.
58 | Amazônia em tempo
Introdução
O ambiente Amazônico, nas últimas décadas, tem sofrido intensos
processos de mudanças em sua cobertura e, consequentemente
alterando a paisagem pelo processo de ocupação que promove a
conversão da floresta em áreas antrópicas cuja principal finalidade são
as atividades agropecuárias (FEARNSIDE, 2008; AGUIAR et al, 2012).
Essa conversão de floresta desencadeia mudanças como alterações em
ciclos biogeoquímicos, aumento da emissão de CO2 para atmosfera,
poluição dos rios, redução na biodiversidade (MORTON et al, 2011;
SCHIESARI et al, 2013; CARREIRAS et al, 2014; GIBBS et al, 2015), entre
outras consequências ambientais, sociais e econômicas.
A Amazônia possui a maior floresta tropical do planeta, esta bacia
abrange 7 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 5 milhões
e meio são cobertos pela floresta tropical. A região também abriga
enorme diversidade de fauna e flora, o que a torna singular em termos
de biodiversidade. As aproximadamente 30 mil espécies de plantas
vasculares, 2,5 milhões de espécies de insetos, 3 mil espécies de
peixes, mais de 1,5 mil espécies de aves, 400 espécies de répteis e 500
espécies de mamíferos, faz com que a área seja um dos maiores e mais
importantes sítios endêmicos no mundo, contemplando um enorme
potencial genético e de reserva biológica (SILVA et al., 2005).
Devido à diversidade ambiental e sua dimensão continental, a Amazônia
possui áreas com padrões específicos, como nas Áreas de Endemismos
(AE), que são consideradas a menor unidade geográfica para o estudo
de biogeografia histórica, delimitadas pelos principais rios amazônicos.
Essas áreas servem de base para formulação de hipóteses sobre os
processos chaves na formação da biota regional (SILVA et al., 2005).
Desta forma, as AE abrigam um conjunto de espécies, comunidades
e ecossistemas únicos e insubstituíveis que não são encontrados em
outros lugares (MORRONE; CRISCI, 1995; SILVA et al., 2005), o que
torna este recorte espacial útil para orientar políticas de conservação
ambiental.
Amazônia em tempo | 59
Metodologia
Área de estudo
A AE Tapajós está localizada ao Oeste do Pará e ao Norte do Mato
Grosso e representa cerca de 13% de toda Amazônia Legal com área de
656.150,10 km². Esta AE é composta por 56 municípios, 17 no estado do
Pará e 39 no estado do Mato Grosso, e abriga 35 terras indígenas (TI),
sendo que três delas estão nos limites entre os dois estados, 14 estão
no estado do Mato Grosso e 18 no estado do Pará, somando 25,58%
de toda a área de endemismo. Nela também existem 18 unidades de
conservação (UC), incluindo Florestas Nacionais, Reservas Biológicas,
Reservas Extrativistas, Parques Nacionais, e outras UC que compreendem
23,97% da área total (Figura 1). Desta maneira, aproximadamente 50%
da área de endemismo estão sob alguma forma de proteção, seja por
UC ou TI. Ao todo, na AE Tapajós aproximadamente 73% das áreas são
cobertas por florestas nativas, 20% já se encontram desmatados, além
de 6% de áreas de formações não florestais e 1% de hidrografia (INPE,
2015).
Amazônia em tempo | 61
Material
Neste trabalho foram utilizados dados de uso e cobertura da terra do
Projeto TerraClass (ALMEIDA et al, 2016) dos mapeamentos referentes a
2004 e 2012. As classes temáticas originais foram agregadas, conforme
apresentado na Tabela 1, para que fosse possível focar a análise
considerando os sistemas de produção em larga escala da área, como
pecuária e agricultura mecanizada, que são os sistemas mais relevantes
para a AE Tapajós.
Método
Após a agregação das classes originais, os mapeamentos TerraClass
referentes aos anos de 2004 e 2012 foram analisadas de forma integrada
para contabilizar as áreas de intersecção entre as classes, com auxílio do
software TerraAmazon 4.6.2. Estes dados permitiram a criação da matriz
de transição para calcular aos ganhos, as perdas e as persistências entre
as classes, e por conseguinte, apontar a vulnerabilidade e a integridade
das classes (PONTIUS et al, 2004).
62 | Amazônia em tempo
outras classes do que perder área, indica também que pouca área
desta classe foi convertida para outras classes. Valores negativos de
Persistência Líquida (Np) indicam que a classe tem maior tendência a
perder área do que ganhar.
O procedimento adotado para o cálculo das mudanças líquidas (net
change), ganho (gain), perda (loss) e vulnerabilidade das classes segue
a metodologia recomendada por Pontius et al (2004), e também
sintetizadas na Tabela 3.
Tabela 3. Equações, abreviação e interpretação.
. Abreviação Nome Equação Interpretação
Resultados e Discussão
Da área total da região de endemismo Tapajós, 656.150,10 km², em
2004 foram mapeados 505.161,33 km², ou cerca de 77%, de Floresta.
Em 2012 o total de área com Floresta diminuiu para 481.943,35 km², ou
seja, aproximadamente 73%, indicando perda aproximadamente 23 mil
km2 de floresta, 4% do total de florestas sofreu corte raso neste período.
Essa diminuição nas áreas de floresta pode estar associada às políticas
governamentais aplicadas na região nas últimas décadas, que
promoveram a pavimentação e manutenção das rodovias federais, a
BR 163 Santarém-Cuiabá, por exemplo, como aponta Fearnside (2007)
e Ahmed et al (2013). É possível analisar dentro dos 8 anos de estudo,
mudanças significativas e preocupantes. A proporção das mudanças
das classes analisadas bem como todos os outros resultados são
apresentados na Tabela 4. O aumento do desflorestamento foi mais
intenso na porção norte da área de endemismo, o que pode ser
atribuído à introdução da agricultura mecanizada e de larga escala no
baixo Amazonas (Figura 2).
Tabela 4. Mudança de uso da terra (km²) na Área de Endemismo Tapajós entre 2004 e
2012.
2012
Agricultura Outros Vegetação Total Perda
2004 Floresta Pastagem
Anual Usos Secundária 2004 total
Agricultura
8236 0 35 181 163 8614 379
Anual
Floresta 1940 481943 2446 10709 8123 505161 23218
Outros
2913 0 48098 6814 4512 62337 14239
Usos
Pastagem 5885 0 2237 43315 8364 59801 16486
Vegetação
1077 0 917 5302 12940 20236 7296
Secundária
Total 2012 20050 481943 53733 66321 34102 656150 61618
Ganho total 11815 0 5634 23006 21163 61618
66 | Amazônia em tempo
Figura 3. Área (em km2) das classes de usos da terra e de cobertura vegetal na Área de
Endemismo Tapajós em 2004 e 2012.
68 | Amazônia em tempo
Tabela 5. Mudança de uso da terra (%) na Área de Endemismo Tapajós entre 2004 e
2012, em relação as perdas e ganhos totais e líquidos e persistências.
Valor
Total Total Ganho Perda Permuta
Classes Abs. de Persistência Perda Ganho
2004 2012 total total (swap)
mudança
Agricultura
1,32 3,06 1,8
Anual 0,06 1,86 1,26 0,12 - 1,74
Floresta 76,99 73,45 0 3,54 3,54 73,45 0 3,54 -
Outros
9,5 8,19 0,86 2,17 3,03 7,33 1,72 1,31 -
Usos
Pastagem 9,11 10,11 3,51 2,51 6,02 6,6 5,02 - 1
Vegetação
3,08 5,19 3,22
Secundária 1,11 4,33 1,97 2,22 - 2,11
Amazônia em tempo | 69
Tabela 6. Matriz de transição e resultados do Ganho para Persistência (Gp), Perda para
Persistência (Lp) e Mudança Líquida para Persistência (Np) em relação as classes de
cobertura na Área de Endemismo, de 2004 a 2012.
Agricultura
Anual 1,26 1,8 0,06 1,43 0,05 1,38
Floresta 73,45 0 3,54 0,00 0,05 -0,05
Outros
7,33 0,86 2,17 0,12 0,30 -0,18
Usos
Vegetação
Secundária 1,97 3,22 1,11 1,63 0,56 1,07
Conclusões
Na AE Tapajós, a classe Floresta foi a classe mais vulnerável à perda e
mudança de área de uso e cobertura. Vegetação Secundária mostrou-se
uma classe estável e crescente, com grande potencial de estabilização e
permanência. A Agricultura Anual apresentou com os maiores valores de
integridade e menor suscetibilidade, tendo aumentos significativos de
área em detrimento principalmente das áreas de Pastagem. A Pastagem
configurou-se como um dos principais mecanismos de desmatamento
na região, ocupando considerável parte da área perdida pela Floresta e
impulsionando a perda de integridade dos ecossistemas naturais com
seus elevados valores de realocação.
Projetos envolvendo sensoriamento remoto por satélite, tais como
TerraClass, DETER-B e PRODES são fundamentais ao monitoramento
e mapeamento da dinâmica de uso de cobertura de AE, bem como de
toda a Amazônia, pois as avaliações de áreas vulneráveis e com maior
capacidade de manutenção de suas integridades, sobretudo para as
classes de floresta e vegetação secundária, apontam indicadores de
desenvolvimento sustentável em áreas endêmicas na Amazônia como
é o caso da Área de Endemismo Tapajós.
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74 | Amazônia em tempo
RESUMO
O estudo em questão visa identificar a variabilidade espaço-temporal
nas mudanças da cobertura vegetal e uso da terra, no período de
2008 a 2015, em áreas produtoras de óleo de palma (Elaeis guineensis
Jacq.) e avaliar o nível de fragmentação a partir das mudanças na
paisagem no município de Bonito, Pará. Foram aplicadas técnicas de
geoprocessamento para interpretação e classificação das imagens de
satélite Spot 5 para o ano de 2008 e Landsat 8 para o ano de 2015.
A análise da fragmentação foi realizada com o programa Fragstats
v. 4.1. A classe floresta primária reduziu de 12,11% em 2008 para
11,39% em 2015, como também a classe agropecuária, que passou de
39,93% (2008) para 35,57% (2015). A dominância da palma de óleo é
expressiva, com área ocupada de 114,27 km² (19,48% da área total do
município). Quanto à fragmentação, foram encontradas 559 manchas
florestais ocupando uma área de 6679,57 ha, sendo que 411 manchas
equivalem a 73,52% do total. Esses resultados demonstram o alto
nível de fragmentação florestal no município. Em 2015, apenas 25%
de florestas eram originais, sendo que 14% dessas florestas tem baixa
qualidade e estão degradadas por queimadas e atividade madeireira
predatória. Esse dado é preocupante visto que o Código Florestal
brasileiro preconiza que pelo menos 50% deve ser preservado em áreas
de ocupação consolidada. É preciso fortalecer a gestão ambiental do
município, juntamente com programas socioambientais e educacionais
que promovam a recomposição e conservação dos recursos naturais
que estejam ameaçados.
Palavras-chave: Fragmentação, geoprocessamento, cobertura da terra.
76 | Amazônia em tempo
Introdução
A cultura da palma de óleo (Elaeis guineensis Jacq.) e a crescente evolução
do processo de produção do óleo do dendezeiro em várias regiões,
tornou-se um ramo do agronegócio muito atraente na atualidade
(SILVA et al., 2011). Um conjunto de ações governamentais, tais como,
o Plano Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) e o Programa
de Produção de Óleo de Palma no Brasil, resultou na demarcação de
um período geográfico do cultivo da palma de óleo em grande escala
no estado do Pará, onde a produção de biocombustível se territorializa
no nordeste do estado (LAMEIRA et al, 2015), alcançando 90% da
produção nacional (IOS, 2013).
Assim, a atual dinâmica socioespacial do nordeste paraense é marcada
pela expansão da dendeicultura e um conjunto de ações políticas
estatais e empresariais que permitiram a formação dos territórios da
palma (NAHUM, SANTOS, 2015), atingindo 33 municípios, sendo que
nove deles (Acará, Bonito, Castanhal, Igarapé-Açu, Tailândia, Tomé-
Açu, Santa Izabel do Pará e Santo Antônio do Tauá); concentram cerca
de 96% da produção total de óleo de palma. A região vem passando
por diversas transformações tanto socioeconômicas como também
ambientais, devido à instalação de empresas que passam a determinar
o grau de ocupação e uso da terra na região (IGAWA et al, 2015;
CARVALHO, 2015; LAMEIRA et al, 2015).
Nesse contexto, intensificam-se as mudanças estabelecidas e
implantadas a partir de políticas públicas para incentivar o monocultivo
da palma de óleo, ocasionando transformações na paisagem (IGAWA
et al, 2015). O resultado gerado a partir dessas mudanças influencia
diretamente na cobertura florestal e reconfigura uma paisagem bastante
alterada. A conversão de florestas em usos agropecuários contribui
para o aumento da degradação ambiental e causa fragmentação de
remanescentes florestais e perda de biodiversidade (DECIAN et al, 2016).
Entender a forma e a velocidade dessas transformações associadas à
ocupação do território é um desafio que demanda o aprofundamento
de estudos que analisem as consequências dos impactos gerados.
Amazônia em tempo | 77
Material e Métodos
Caracterização da área de estudo
O município de Bonito (Figura 1); está localizado na mesorregião
do nordeste Paraense, na microrregião Bragantina, com sede nas
coordenadas de 01º 21’48” S e 47º 18’21” W. O município ocupa
586,73 km², com população de 15.282 habitantes estimadas para o ano
de 2015 (IBGE, 2016).
78 | Amazônia em tempo
Análise da Fragmentação
Os fragmentos foram selecionados a partir do mapeamento da cobertura
vegetal passando a compor um mapa específico da fragmentação da
área de estudo. O arquivo originário em raster foi convertido para
polígono gerando uma tabela com tamanhos dos fragmentos o que
permitiu os cálculos de: número de manchas, área total ocupada pelas
manchas, e tamanho máximo e mínimo das mesmas. Esse processo foi
realizado através com os programas Arcgis v. 10.1 e Fragstats v. 4.1.
Resultados e Discussão
Mudanças de Cobertura e Uso da Terra
Nove classes de cobertura vegetal e uso da terra foram identificadas
na classificação realizada no município de Bonito, distribuídas entre
floresta primária, floresta degradada, floresta secundária, agropecuária,
palma de óleo, reflorestamento, solo exposto, nuvem + sombra e água.
A Tabela 1 apresenta as características das classes mais expressivas
na região, conforme também descritas por Almeida e Vieira (2014) e
Almeida (2015) na região do nordeste paraense.
A validação dessa classificação foi realizada por meio da matriz
de confusão que é um indicativo da qualidade da classificação. O
desempenho geral da classificação foi 0,84% para o índice de kappa para
o mapeamento de 2015, indicando que a classificação foi satisfatória
(LANDS, KOCH, 1977).
82 | Amazônia em tempo
Tabela 1. Descrição das classes mais expressivas de cobertura vegetal e uso da terra,
Bonito-PA.
Classe Contexto
Floresta Primária
Esta classe agrupa tipologia florestal como floresta
ombrófila densa e floresta ombrófila aberta, que
são caracterizadas por fanerófitos, lianas lenhosas e
epífitas em abundância, que o diferenciam das outras
classes de formação. Apresenta árvores grossas com
altura de 30 a 40 m e dossel emergente. Ocorrem
pouquíssimas áreas com essas características no
município.
Floresta Degradada
Esta classe é descrita como área que sofreu
intervenção humana com objetivo de extração
seletiva de madeira, abertura de estradas e pátios de
estocagem, ou ainda áreas que foram alteradas pelo
fogo provocando danos ao dossel e/ou sub-bosque.
Floresta Secundária
Conhecida também como floresta sucessional, é uma
vegetação de origem antropogênica, resultante do
processo natural de regeneração da vegetação, em
área em que houve corte raso da floresta primária
ou degradação por atividades como corte-e-queima,
abandono de área de pastagens degradadas e
cultivos agrícolas. Tipo de vegetação predominante
no município.
Agropecuária
Esta classificação inclui grandes extensões de áreas
de pasto limpo, pasto sujo e áreas de culturas de
ciclo curto e ciclo longo, estas em menor quantidade.
Inclui também terrenos em pousio de cultivos
recentes.
Palma de Óleo
Esta classe se caracteriza por grandes extensões de áreas
de plantio de dendê, decorrente da instalação de empresas
para a exploração dessa cultura na região.
Reflorestamento
Caracterizado por cultivos de espécies destinadas a
reflorestamento, para fins de produtos florestais e
não florestais, e matéria prima para fins energéticos.
Consórcio de Mogno com Eucalipto.
Fragmentos Florestais
Foram encontrados 559 fragmentos florestais, com tamanhos variando
de 1 a 217 hectares (Tabela 3), sendo que 411 manchas equivalem a
73,52% do total, demonstrando o alto nível de fragmentação florestal,
com áreas menores que 10 hectares. Em geral, fragmentos pequenos
contêm não apenas uma menor riqueza de espécies como um todo,
mas também, muitas vezes, uma menor densidade de espécies (número
de espécies por unidade de área), implicando processo acelerado de
degradação do fragmento e consequente perda de biodiversidade,
pois a forma e o tamanho desses fragmentos são fatores essenciais
para a preservação e manutenção dos serviços ambientais (LAURANCE,
VASCONCELOS, 2009).
86 | Amazônia em tempo
Situação
Área
Denominação (%) (ha) 2015
Área total do Município 100 58.600
Área segundo a Lei nº 12.651 80 46.880
Área de Floresta (primária e degradada) 25,59 15.013 Atual
Limiar crítico segundo Andrén (1994) 30 17.580 Ideal
Conclusão
A paisagem do município de Bonito apresentou mudanças expressivas
ao longo do tempo, principalmente quanto às áreas de florestas, que
vem sendo suprimidas ou mesmo substituídas por outros tipos de uso
da terra, acarretando degradação e exploração dos recursos naturais,
interferindo diretamente na biodiversidade e serviços ambientais do
município. A classe agropecuária apresenta maior extensão em área,
seu grau de ocupação caracteriza o município através de suas atividades
econômicas com tendências a pecuarização, consistente com a situação
da região do nordeste paraense como um todo.
Na classificação é perceptível a expansão da palma de óleo na direção
oeste do município com o surgimento de diversas áreas de plantio
Amazônia em tempo | 89
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Dinâmica espaço - temporal do uso da terra
na vila de Cuiarana, Salinópolis, Pará
Joyse Tatiane Souza dos Santos, Adriano Marlisom Leão de Sousa, Maria
Isabel Vitorino & Hildo Giuseppe Garcia Caldas Nunes
RESUMO
Mapear e monitorar a dinâmica do uso da terra é de suma importância
para quem busca melhor compreensão sobre as mudanças ocorridas
em um espaço e tempo, bem como entender os impactos ambientais
negativos. O objetivo deste trabalho foi identificar e quantificar o uso da
terra na vila de Cuiarana, Salinópolis/PA, nos anos de 2004 a 2014, para
verificar as possíveis mudanças ocorridas durante este período. Para
isso, utilizou-se a órbita-ponto 223-060, referente à base de dados do
projeto TerraClass, dos anos em estudo. Os resultados mostraram que o
TerraClass foi uma ferramenta eficaz para identificação e quantificação
do uso da terra. Foram identificados 11 tipos de classes no período de 10
anos sendo a área urbana aquela que mais cresceu, devido à construção
da imagem da vila como ponto turístico. Essa imagem vem sendo
construída desde a década de 90, no município de Salinópolis como
representatividade do município. Pode-se concluir que o TerraClass
conseguiu demonstrar muito bem a dinâmica temporal das classes,
dentro do limite espacial da vila, ampliando a compreensão sobre os
principais fenômenos e processos condicionantes das transformações
da paisagem na Amazônia.
Palavras-chave: TerraClass, uso da terra, dinâmica espacial,
temporalidade.
Introdução
O uso desenfreado dos recursos naturais, a poluição atmosférica e da
água, o desflorestamento, a degradação dos recursos hídricos e o uso
incorreto da terra, são apenas alguns dos problemas ambientais mais
graves do planeta na atualidade (JÚNIOR; SOUZA, 2012). As ações
antrópicas estão progressivamente se tornando a principal causa de
94 | Amazônia em tempo
Material e Métodos
Área de Estudo
A vila de Cuiarana fica localizada no município de Salinópolis, na região
nordeste do Estado do Pará, a uma distância de 15 km da área central
do município de Salinópolis e tem como via principal de acesso a PA-
124. Banhada pelo oceano Atlântico, ela faz parte da Microrregião do
Salgado; originou-se de uma pequena vila de pescadores, e hoje vem
assumindo uma grande importância na área turística, principalmente
pela sua paisagem e bela praia que compõem o conjunto de praias,
ilhas, dunas, mangues, rios e igarapés do município de Salinópolis,
atraindo cada vez mais, maiores números de turistas à vila.
Vale ressaltar que o recorte limítrofe da vila de Cuiarana foi traçado
de acordo com os limites: ao norte com as localidades Agrisal e
Itapeua, a leste com o oceano atlântico, ao sudeste e sul com o rio
Arapepó, município de são João de Pirabas e a localidade Corema,
respectivamente, e a oeste com a PA-124, constituindo uma área de
4,23 km² aproximadamente (Figura 1).
96 | Amazônia em tempo
Metodologia
Foram utilizadas, como base de dados, as informações do projeto
TerraClass referentes aos anos de 2004, 2008, 2010, 2012 e 2014. Este
projeto foi criado com o intuito de entender a dinâmica de uso e
cobertura da Amazônia Legal Brasileira. Foi desenvolvido pelo INPE, em
parceria com a EMBRAPA, e atualmente é disponibilizado online e de
livre acesso para diferentes estudos dentro da Amazônia, não apenas
com relação ao objetivo inicial, mas atualmente é disponibilizado para
outros focos de estudo.
O projeto utiliza cenas Landsat-5/TM, divididas em órbitas-ponto, no
Sistema de Projeção Lat/Long e Sistema Geodésico de Referência SAD
69. Ele combina diferentes técnicas de classificação e produtos de
sensoriamento remoto para a produção de mapas de uso e cobertura
da terra. São doze as principais classes mapeadas: Agricultura anual;
Regeneração; Regeneração com pasto; Pasto sujo; Pasto limpo; Pasto
com solo exposto; Mineração; Reflorestamento; Área Urbana; Mosaico
de Ocupações; Desflorestamento e Área não observada. A classe
Reflorestamento só esteve presente no ano de 2010.
Neste estudo foi utilizada a órbita-ponto 223-060 do projeto TerraClass,
a qual foi inserida no software ArcGis 10.3, em conjunto com dados
vetoriais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os
dados foram espacializados e tratados de acordo com a delimitação
da área estudada, onde foram produzidos mapas temáticos capazes de
possibilitar uma melhor visualização das mudanças espaciais ocorridas
na vila de Cuiarana.
Para um melhor entendimento e análise destes resultados foram criados
mapas e tabelas auxiliando na discussão sobre as mudanças espaciais
ocorridas na vila, e para uma melhor quantificação destas mudanças.
Por final foi discutido o principal motivo destas mudanças e como elas
impactaram na área de estudo.
98 | Amazônia em tempo
Resultados e Discussão
A espacialidade das informações do TerraClass, na área de estudo,
proporcionou uma visão, tanto de um conjunto estático, como de
uma análise dinâmica multitemporal do uso da terra em Cuiarana/PA,
durante 10 anos (2004, 2008, 2010, 2012 e 2014). Nesse período, foram
identificadas 11 classes do uso do solo, definidas a partir dos dados do
TerraClass (Tabela 1).
A área urbana foi a que mais aumentou no decorrer dos 10 anos, pois,
em 2004, ocupava 3,6%, e, em 2014, passou a ocupar 46,97%. No
entanto, as áreas de florestas fizeram o caminho inverso: de 65,7% em
2004 para 1,91% em 2014 (Tabela 2). Um dos fatores responsáveis por
essa mudança significativa nos valores é o crescimento populacional
ligado ao turismo. Brito (2008) coloca que o turismo na cidade litorânea
do nordeste do Estado do Pará, se intensifica a partir da década de
1990. Com o foco na apropriação e consumo de seus espaços, os
atores sociais envolvidos (especulação imobiliária, Estado e agência
de turismo) tem tido papel importante na transformação de lugares,
aonde a valoração de seu território através da atividade turística vem
modificando o espaço.
O turismo chama a atenção para os pontos mais remotos do município
de Salinópolis, gerando divisas para a vila de Cuiarana, pela exploração
de seus recursos naturais, e constitui-se no elemento fundamental que
favorece o desenvolvimento urbano da vila. É o principal responsável
pelas modificações das relações sócio espaciais e das atividades que
anteriormente mantinham a economia da vila, a exemplo da pesca
(NUNES, 2012).
Amazônia em tempo | 99
Área não
0,40 9,4 1,63 38,5 1,77 41,88 1,43 33,8 1,29 30,50
observada
Área Urbana 0,15 3,6 0,73 17,2 0,73 17,22 1,24 29,2 1,99 46,97
Desflorestamento 0,47 11,1 0,28 6,6 0,33 7,79 0,00 0,0 0,00 0,00
Floresta 2,78 65,7 0,82 19,4 0,49 11,66 0,17 4,0 0,08 1,91
Hidrografia 0,29 6,8 0,29 6,8 0,29 6,85 0,37 8,8 0,29 6,85
Mosaico de
0,12 2,8 0,00 0,0 0,00 0,09 0,31 7,3 0,10 2,31
Ocupações
Outros 0,01 0,2 0,00 0,0 0,00 0,00 0,46 10,8 0,00 0,00
Pasto Limpo 0,01 0,3 0,15 3,5 0,33 7,82 0,26 6,1 0,05 1,27
Pasto sujo 0,00 0,0 0,26 6,2 0,00 0,00 0,00 0,0 0,19 4,53
Regeneração
0,00 0,0 0,07 1,7 0,00 0,00 0,00 0,0 0,03 0,70
com Pasto
Vegetação
0,00 0,0 0,00 0,0 0,28 6,69 0,00 0,0 0,21 4,96
Secundária
Total 4,23 100,0 4,23 100,0 4,23 100,0 4,23 100,0 4,23 100,0
102 | Amazônia em tempo
Conclusão
A análise espacial-temporal do uso da terra, com informações do
TerraClass, na vila de Cuiarana, foi uma ferramenta eficaz a identificação
e quantificação do uso da terra, possibilitando identificar 11 tipos de
classes e verificar as mudanças no período de 10 anos. Das avaliações
das diferentes classes, foi possível perceber que a área urbana foi a
que mais cresceu, isso ocorreu devido à construção da imagem da vila
como ponto turístico.
Apesar do elevado valor da classe área não observada, devido a má
visibilidade que as nuvens causam, o projeto TerraClass conseguiu
demonstrar muito bem a dinâmica temporal das classes, dentro do limite
espacial da vila, cumprindo o objetivo que é ampliar a compreensão
sobre os principais fenômenos e processos condicionantes das
transformações da paisagem na Amazônia.
Essa expansão na classe urbana em Cuiarana tem trazido algumas
preocupações, pois a falta do planejamento urbano e o uso dos recursos
naturais inadequados podem gerar futuros impactos ambientais
negativos ao meio ambiente.
Ao se tratar de assuntos que envolvem o binômio “crescimento
urbano e meio ambiente” o conflito se torna evidente, ou seja, não há
crescimento urbano sem danos ao meio ambiente, por mais sustentável
que seja a prática envolvida.
Uma vez instalado o ambiente urbano, as transformações sobre o meio
físico ficam mais evidentes. À medida que se intensificam as concentrações
antrópicas, ocorre um aumento nos desmatamentos, erosão, assoreamento
nos rios, entre outros. Isso ocorre devido a alguns fatores, tais como a falta
de planejamento, controle e gerenciamento urbano.
Portanto, considera-se de suma importância a aplicação de pesquisas
que contemplem uma melhor gestão e planejamento do território da
vila de Cuiarana, para que sejam formuladas medidas de minimização
dos impactos ambientais. Essas medidas auxiliarão as populações
locais, a entender os riscos ocorridos com o mau gerenciamento dos
recursos naturais.
106 | Amazônia em tempo
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Amazônia em tempo | 107
RESUMO
O processo de uso e ocupação da região nordeste do estado do Pará
ocasionou grandes mudanças sobre a cobertura vegetal desta região,
as quais indicam a existência de impactos tanto sobre a floresta
remanescente como sobre o comportamento hidrológico das bacias
hidrográficas da região. Este trabalho tem como objetivo mapear as
mudanças de uso e cobertura da terra ocorridas na bacia hidrográfica
do rio Caripi e, em seguida, analisar a fragmentação da cobertura
florestal, principalmente das zonas ripárias. Como procedimentos
metodológicos foram realizados a análise multitemporal das classes de
uso e cobertura da terra a partir de imagens dos satélites Landsat 5
para os anos de 1984, 1994, 2004 e Landsat 8, para 2013; caracterização
in loco das principais unidades componentes com reconhecimento dos
principais sistemas ambientais associados; identificação e delimitação
das zonas ripárias; e aplicação de métricas de paisagem. Os resultados
obtidos indicam que a bacia apresenta um estado de fragmentação
avançado no médio e alto curso do rio principal e que, pela simulação
e observações de campo, há impactos sobre o regime hídrico da bacia
com uma considerável alteração do escoamento segundo as classes de
uso e cobertura da terra existentes.
Palavras-chave: Uso e cobertura da terra, fragmentação florestal,
escoamento superficial.
Introdução
No ambiente da bacia hidrográfica se desenvolvem as mais diversas
formas de uso e ocupação da terra, que podem ou não ser compatíveis
com a manutenção dos parâmetros de qualidade e quantidade das
águas (MILOVANOVIC, 2007; POCEWICZ et al., 2008). As categorias
110 | Amazônia em tempo
Área de Estudo
A bacia hidrográfica do Rio Caripi (Figura 1) abrange os municípios
de Maracanã ao norte e Igarapé-Açu ao Sul, os quais pertencem à
mesorregião Nordeste Paraense e às microrregiões do Salgado e
Brangantina, respectivamente. O Quadro 1 descreve as principais
características dos municípios componentes da bacia.
O clima dos municípios de Igarapé-Açu e Maracanã inserem-se na
categoria de megatérmico úmido, do tipo Am da classificação de
Köppen, temperatura média, durante todo o ano, em torno de 25ºC e
27ºC, respectivamente; a precipitação média anual de 2.344 mm, com
forte concentração entre os meses de janeiro a maio (ALBUQUERQUE
et al., 2010). O comportamento da precipitação na região Amazônica
(SOUZA et al., 2009) indica a influência da atividade convectiva da
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), como um dos principais
mecanismos reguladores da variabilidade da precipitação que se
estende da costa do Pará até o Amapá (SOUZA; ROCHA, 2006).
Amazônia em tempo | 113
Materiais e Métodos
Os dados vetoriais são oriundos de 04 cartas topográficas na escala
1:100.000 que abrangem a área de estudo (Cartas SA-23-V-A-IV, SA-
23-V-A-V, SA-23-V-C-I e SA-23-V-C-II) e os dados matriciais dizem
respeito às seguintes imagens: RAPIDEYE (cenas 2338502, 2338503,
2338602, 2338603 e 2338703 imageadas em 13/09/2012), LANDSAT 5
(cenas 223/061 imageadas em 27/07/1984, 21/06/1994 e 04/09/2004),
LANDSAT 8 (cena 223/061 de 27/07/2013) e SRTM (cenas S01_
W048_1arc_v3 e S02_W048_1arc_v3).
A delimitação da bacia hidrográfica do rio Caripi e da zona ripária foi
realizada conforme os procedimentos descritos em Tamasauskas et
al. (2016). Para o mapeamento das mudanças no uso e cobertura da
terra na área que compreende a bacia hidrográfica do Rio Caripi nos
últimos 30 (trinta) anos foi necessário proceder com o mapeamento
multitemporal, o qual utilizou como dados primários as imagens dos
satélites Landsat 5/Sensor TM, imagens tomadas nos anos de 1984,
1994 e 2004, e Landsat 8/Sensor OLI, imagem tomada no ano de 2013.
Para o processamento digital das imagens selecionadas foi utilizado o
software ENVI 5. O pré-processamento incluiu a calibração radiométrica,
a correção atmosférica e a correção geométrica da imagem. Ressalta-
se que a correção geométrica foi aplicada apenas para as imagens do
satélite LANDSAT 5/TM, já que a imagem do satélite LANDSAT 8/OLI
é disponibilizada ortorretificada, ou seja, já se encontra com correção
geométrica a partir de um modelo digital de elevação.
Dessa forma, após a correção de todas as possíveis distorções,
prosseguiu-se para a etapa de classificação das imagens. A classificação
consiste no processo de extração de informações em imagens para
reconhecer padrões e objetos homogêneos que são utilizados para
mapear áreas da superfície terrestre. A classificação das imagens
no presente trabalho seguiu a metodologia de classificação semi-
automatizada, a qual consiste da aplicação de um classificador que
analisa e determina os pixels que fazem parte de uma mesma classe com
116 | Amazônia em tempo
Resultados e Discussões
As áreas da bacia hidrográfica e da zona ripária do rio Caripi foram
respectivamente, 47.849,45 ha e 27.386,12 ha (Figura 2a); a zona
ripária delimitada representa 57,23% da área da bacia hidrográfica, o
que lhe confere um importante papel nos processos hidrológicos que
ocorrem nesta bacia. As Figuras 2b, 3 a 4 representam as classes de uso
e cobertura da terra da área de estudo obtidas pela classificação das
imagens e verificação de campo.
120 | Amazônia em tempo
Figura 2. (a) Delimitação da Bacia Hidrográfica e de sua Zona Ripária. (b) Classes de
Cobertura e Uso da Terra - Anos de 1984, 1994, 2004 e 2013.
Amazônia em tempo | 121
Figura 3. (a) Mapa de Uso e Cobertura da Terra - 1984. (b) Mapa de Uso e
Cobertura da Terra - 1994.
Figura 4. (a) Mapa de Uso e Cobertura da Terra - 2004. (b) Mapa de Uso e
Cobertura da Terra - 2013.
122 | Amazônia em tempo
Tabela 2. Valores de área e percentuais das classes de uso e cobertura da terra na zona
ripária.
Classes de Uso 1984 1994 2004 2013
e Cobertura
área (ha) / % área (ha) / % área (ha) / % área (ha) / %
da Terra
Agricultura 333,21 / 1,26 1200,99 / 4,54 314,47 / 1,18 200,79 / 0,75
Campo Natural 560,00 / 2,11 564,57 / 2,13 545,19/ 2,06 528,45 / 1,99
Floresta 3381,00 /
Secundária 2536,91 / 9,59 5420,25 / 20,5 12,79 3030,16 / 11,46
Mangue 1879,47 / 7,11 1630,42 / 6,16 1711,81 / 6,47 1599,36 / 6,05
Mosaico de
Ocupações 1299,24 / 4,91 988,80 / 3,74 1048,27 / 3,96 990,84 / 3,74
Pastagem 776,81 / 2,93 172,80 / 0,65 963,13 / 3,64 1966,17 / 7,43
Vegetação 19047,87 / 16362,78 / 17854,1 /
Secundária 72,09 61,9 67,39 15298,2 / 57,85
Tabela 3. Métricas de manchas para o referente ao: BHRC - total na bacia hidrográfica
do rio Caripi; AZP - inserido na faixa de zona ripária.
Conclusões
A bacia hidrográfica do rio Caripi apresenta avançado grau de
fragmentação florestal no médio e alto curso, em especial nas áreas
de nascentes, devido à intensa dinâmica de uso e ocupação da região,
marcada, historicamente, por alterações e remoções da cobertura
vegetal, que no caso em específico da área de estudo, afeta diretamente
as áreas de florestas ripárias, as quais exercem uma contribuição positiva
para a manutenção do potencial hídrico de uma bacia hidrográfica.
Observou-se que a tendência de mudança dos elementos de maior
influência na paisagem existe há no mínimo três décadas, em que as
perdas no potencial de abastecimento hídrico são observadas pelos
registros de campo. Logo, é de grande importância a manutenção de
cada ambiente componente da paisagem, tanto representativo das
formas de cobertura quanto de uso, para garantia das condições de
escoamento e para a conversão deste em vazão ou recarga subterrânea.
A análise da fragmentação florestal em áreas sensíveis como as zonas
ripárias e a relação de tal processo de fragmentação com as classes de
uso e cobertura da terra podem fornecer elementos importantes na
elaboração de uma concepção da proteção dos recursos hídricos nas
bacias, bem como focalizar bacias mais sujeitas à degradação, onde as
calhas dos rios estariam vulneráveis a processos erosivos, por exemplo.
Assim, tal metodologia permite identificar áreas onde existe grande
potencial de risco ambiental, podendo assim ser utilizada como medida
de planejamento ambiental de bacias hidrográficas rurais e urbanas.
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130 | Amazônia em tempo
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Efeitos de intervenções técnico-produtivas para a
sustentabilidade do uso da terra em agroecossistemas
familiares no território do Baixo Tocantins, Pará
RESUMO
O estudo aborda o tema da sustentabilidade do uso da terra em
agroecossistemas familiares localizados nos municípios de Cametá
(comunidades de Ajó e Inacha) e Moju (Projeto de Assentamento
Calmaria II, comunidades de São José e Água Preta), pertencentes ao
Território do Baixo Tocantins, estado do PA, comparando os principais
efeitos, decorrentes de dois modos de intervenções em sistemas
técnico-produtivos. As duas intervenções propuseram inovações
para o desenvolvimento sustentável, sendo a primeira em Cametá
promovida pela Associação Paraense de Apoio a Comunidades Carentes
(APACC), através da constituição e atuação de redes de agricultores/
multiplicadores, com propostas de uso e manejo agroecológicas e
a segunda em Moju, referente ao Programa Nacional de Produção
do Biodiesel (PNPB), atuando como um programa de incentivo à
dendeicultura. Os procedimentos metodológicos utilizados foram
enquetes com formulários semiestruturados e coleta de solo para análises
de carbono e nitrogênio da biomassa microbiana, carbono orgânico e
nitrogênio total em quatro sistemas de manejo. Os resultados obtidos
a partir de indicadores de dimensões da sustentabilidade mostraram
que as intervenções tiveram diferentes efeitos, ou intensidades destes.
Nas comunidades de Ajó e Inacha, os motivos mais determinantes,
que causaram diferenças entre si foram a assiduidade e a intensidade
da assistência técnica promovida em Ajó e a disponibilidade de um
meio biofísico diversificado (terra firme e várzea), possibilitando maior
variabilidade dos sistemas de produção e, consequentemente, redução
do uso do fogo. Nas comunidades São José e Água Preta as variações
foram devido ao fato de São José ter maior renda do que Água Preta,
134 | Amazônia em tempo
Introdução
Na dinâmica regional do Território do Baixo Tocantins observam-se
principalmente duas das fases de “desenvolvimento da Amazônia”
resumidas por Araújo e Léna (2011): o modelo desenvolvimentista,
iniciado por volta dos anos 70, que adotou e difundiu a ideia de progresso,
basicamente valorado pelo aspecto econômico (investimentos estatais
em infraestrutura e subvenção para empreendimento do setor privado)
e caracterizado pela expansão territorial nas fronteiras agrícolas.
Segundo os autores, nessa fase ocorre uma destruição do capital natural
Amazônia em tempo | 135
(RAMALHO FILHO et. al., 2010) como aptas a essa atividade avaliou
como positivas as condições edafoclimáticas do Território do Baixo
Tocantins e a possibilidade de uso de áreas antropizadas, alteradas ou
“degradadas” de agroecossistemas familiares locais. Essas condições
atraíram agroindústrias nacionais e multinacionais, que estão em
busca do lucro eminente associado à produção e ao uso do biodiesel
no país. Promovidas por programas governamentais, dentre os quais
o PNPB, mas necessariamente executado por empresas privadas, as
ações relacionadas à cadeia produtiva do dendê produzem efeitos
multidimensionais, que embora se justifiquem na ideia de ajudar
a resolver dificuldades socioeconômicas e ambientais (geração de
emprego e renda familiar, valorização da propriedade, recuperação
ambiental, etc.) refletem uma relação que ainda não conseguiu superar
a concepção de “transmissão de conhecimento e tecnologia” e de
imposição de “pacote tecnológico”, que têm a pretensão de promover
o desenvolvimento sustentável à agricultura familiar.
O governo federal instituiu o Grupo de Trabalho Interministerial pelo
Decreto de 2 de julho de 2003, para que ficasse “encarregado de
apresentar estudos sobre a viabilidade de utilização de óleo vegetal-
biodiesel como fonte alternativa de energia, propondo, caso necessário,
as ações necessárias para o uso do biodiesel” (BRASIL, 2003a). Segundo
Biodiesel BR (2006) as considerações foram que o biodiesel pode
contribuir de maneira favorável em questões como: geração de emprego
e renda, inclusão social, redução das emissões de poluentes, redução das
disparidades regionais e da dependência de importações de petróleo. O
referido estudo considerou importante também a relação das Parcerias
Público Privadas (PPP’s) no desenvolvimento do tema. Dentre outras
recomendações, o estudo sugere que o biodiesel seja incorporado à
agenda oficial do governo; que sejam adotados a abrangência social
e o desenvolvimento regional, como princípios orientadores básicos,
visando geração de emprego e renda, principalmente nas regiões
Norte e Nordeste; que a agricultura familiar seja inclusa nas cadeias
produtivas do biodiesel, por meio de financiamentos e assistência
técnica para cultivo do dendê.
Em seguida foi instituída, através do Decreto de 23 de dezembro de 2003,
a Comissão Executiva Interministerial “encarregada da implantação das
ações direcionadas à produção e ao uso de óleo vegetal - biodiesel
Amazônia em tempo | 137
Material e Métodos
A área de estudo se localiza na mesorregião nordeste paraense, sendo
assim denominada: município de Moju (Projeto de Assentamento
Calmaria II), comunidade São José (S02°26’26.1” W048°47’44.8”) e Água
Preta (S02°27’07.0” W048°46’14.0”); município de Cametá, comunidade
Ajó (S02°16’54.91” W049°30’58.43”) e Inacha (S02°18’29” W049º33’24.3”).
Esses recortes se basearam nas seguintes características: 1) sistemas
produtivos representativos dos usos da terra e 2) desenvolvidos em
área de terra firme (Figura 1).
As características fisiográficas compreendem relevo com compartimentação
discreta: platôs baixos (tabuleiros), terraços fluviais e várzeas. Os tabuleiros
apresentam-se aplainados e recobertos por depósitos inconsolidados.
O clima característico é o quente e úmido, com temperaturas médias
mensais de 25°C a 27°C. A precipitação pluviométrica varia entre 2000 a
3000 mm/ano, sendo o período de janeiro a junho a época mais chuvosa.
A vegetação é composta de floresta densa de planície aluvial nas áreas
de várzea, floresta secundária latifoliada de terra firme e floresta densa de
baixos platôs e terraços (IDESP, 2013).
Em Calmaria II acontece uma importante transição entre as atividades da
agricultura de subsistência (roçados para plantio de mandioca, criação
de pequenos animais, etc.) para uma ampliação da dendecultura (em
2006 a área foi de 6 ha, todavia, a esta foi acrescido um projeto de 4 ha em
2013). Na pesquisa de campo foram utilizadas enquetes com formulários
semiestruturados, aplicados individualmente em 16 agroecossistemas
familiares escolhidos aleatoriamente dentre as unidades produtivas
com dendê, sendo 8 em cada comunidade. Em uma área de 6 ha, com
cultivo de dendezeiro (AD) com idade de dez anos foram coletadas
amostras de solo nas profundidades de 0-5, 5-10 e 10-20 cm, que foram
obtidas em 9 repetições, pela abertura de minitrincheiras. Esse plantio
tem espaçamento de 4 metros entre as palmeiras, sendo o controle
de invasoras atualmente realizado pela roçagem manual. Todavia, nos
primeiros 5 anos foram utilizados herbicidas, devido à alta incidência de
gramíneas. O mesmo procedimento de coleta foi adotado em uma área
de floresta nativa (AF), que segundo o agricultores tem tamanho de
aproximadamente 5 ha. As amostras foram analisadas em laboratório
para obtenção dos valores de C e N microbiano, C orgânico e N total.
Amazônia em tempo | 139
1
SILVA, Francisco de A. S. Programa computacional Assistat. UFCG, Brasil. Disponível em: www.assistat.com.
Atualizada 01/08/2016.
Amazônia em tempo | 141
Resultados e Discussão
Os efeitos dos modos de intervenção sobre a sustentabilidade
As principais variações observadas a partir dos indicadores de
sustentabilidade foram entre as comunidades Ajó e Inacha (Figura
2), nas quais os agroecossistemas de Inacha apresentaram menor
expressividade e efeito de mudanças após a intervenção, sobretudo
no indicador 8, que se refere as percepções das mudanças ligadas ao
desenvolvimento sustentável e nível de satisfação das populações, e
Amazônia em tempo | 147
2
Informação verbal.
152 | Amazônia em tempo
Os agricultores multiplicadores
Ao se comparar as dimensões dos agroecossistemas familiares das
comunidades que participaram das ações propostas pelos agricultores
multiplicadores, foi possível identificar alguns comportamentos que
ajudam a diferenciar os efeitos dessa intervenção, no que se refere aos
critérios adotados para avaliar a sustentabilidade. Na Figura 4 estão
sistematizados os resultados dessas dimensões. Em condições de vida,
os indicadores 2 e 4 sugerem que a comunidade de Inacha estava mais
fragilizada nos aspectos de patrimônio e infraestrutura, assim como,
de educação e acesso a escolaridade, em relação aos indicadores 1 e
3, referentes a situação financeira e saúde. Todavia, Ajó demonstrou
apenas maior fragilidade no critério 4, que se refere a educação e
acesso a escolaridade.
Amazônia em tempo | 153
Profundidade (cm)
Sistema de 0-5 5 - 10 10 - 20 0-5 5 - 10 10 - 20
manejo C N Total
g kg-¹
AF 7,1aC 6,55aB 5,81aB 0,95aC 0,90aB 0,76aB
SAF 15,93aAB 12,18abA 7,36bAB 1,45aA 1,27aA 1,07bA
AR 19,54aA 14,77abA 12,04bA 1,47aA 1,24bA 1,12bA
AD 11,15aBC 5,49bB 6,42abB 1,17aB 1,01aB 0,78bB
Profundidade (cm)
0-5 5 - 10 10 - 20 0-5 5 - 10 10 - 20
Sistema de Cmic:C Nmic:N
manejo
%
AF 8,04aA 11,42aAB 14,67aAB 0,84aA 1,51aA 1,66aAB
SAF 6,26abA 4,45bB 18,25aA 1,46bA 1,57bA 2,82aA
AR 3,52aA 5,12aAB 2,95aB 0,93aA 0,71aA 0,81aB
AD 11,38aA 18.55aA 18,31aA 1,61aA 1,23aA 1,34aB
Cmic:C – relação C da biomassa microbiana: C orgânico; Nmic:N – relação N da biomassa
microbiana: N total. AF – área de floresta; SAF – sistema agroflorestal; AR – área de roça;
AD – área de dendê.
Médias seguidas por letras iguais, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não
diferem estatisticamente pelo teste t a 5% de probabilidade.
Considerações Finais
As quatro comunidades apresentaram aspectos semelhantes no que
se refere à disponibilidade de vegetação primária e secundária, pois
todos os seus agroecossistemas familiares ainda dispõem desse recurso
natural. Esse fator favorece a permanência dos jovens nas comunidades,
em função da maior margem de possibilidade de desenvolvimento
de atividades do sistema produtivo. Todavia, Inacha mostrou maior
pressão sobre as áreas de floresta e capoeira, devido à prática de corte
e queima para fazer roçados, perceptível quando observadas as baixas
expectativas referentes às perspectivas de trabalho para os jovens. Nessa
comunidade, houve médio impacto da intervenção, principalmente
nos aspectos da gestão técnico-produtiva e no nível de satisfação da
população com melhoria nos relacionamentos intercomunitários.
As comunidades também tiveram importantes variações entre si
associadas ao tipo de intervenção. Dentre as que mais se destacaram
em Ajó estão as relacionadas à dimensão proteção do ambiente, porque
Amazônia em tempo | 161
Agradecimentos
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES, pela concessão de bolsa de estudo, por ocasião de Estágio de
Doutorado Sanduíche no Exterior e ao Programa de Pós-Graduação de
Ciências Ambientais, da Universidade Federal do Pará, pela oportunidade
de realização do doutorado da primeira autora.
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Amazônia em tempo | 163
RESUMO
Compreender a formação sócio-espacial da zona costeira do NE
paraense a partir dos usos e ocupações, torna-se fundamental
para o entendimento dos atuais impactos que afetam e ameaçam
o desenvolvimento socioeconômico da região. Este estudo foi
desenvolvido a partir da construção de uma linha do tempo, baseada
na revisão bibliográfica dos principais acontecimentos históricos que
determinam o cenário atual do litoral paraense. Os acontecimentos
são analisados de forma horizontal sem aprofundamento, trata-se de
uma opção necessária para o entendimento deste estudo. A discussão
a partir da escala temporal, objetiva descrever o processo de uso e
ocupação da zona costeira do NE paraense, que resultaram nos efeitos
socioeconômicos e ambientais nas praias do Crispim (Marapanim),
Atalaia (Salinópolis) e Ajuruteua (Bragança). Conclui-se que os efeitos
negativos são decorrentes da forma como foram planejados o uso e
ocupação deste espaço costeiro.
Palavras-chave: Formação sócio-espacial, zona costeira, planejamento.
Introdução
No litoral Norte do Brasil, encontra-se a Zona Costeira Amazônica
Brasileira (ZCAB), trecho de aproximadamente 2.250 km de extensão
entre o Cabo Orange no Amapá até a Ponta do Tubarão no Maranhão
(SOUZA FILHO et al., 2005). Dentre os compartimentos geomorfológicos
da ZCAB, tem-se a Costa de Reentrâncias do Pará e Maranhão, onde
localiza-se a zona costeira do Estado do Pará entre as baías de Marajó, a
oeste (0°30`S e 48°00`W. Gr.), e a de Gurupi, a leste (0°30`S e 46°00`W. Gr.),
com 598 km de extensão (79.795 km²) (SENNA; MELLO; FURTADO, 2002).
168 | Amazônia em tempo
3
As terras do rio Amazonas eram pertencentes à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas; mas a unificação das
monarquias, pela União Ibérica (1580-1640), autorizava os portugueses na sua conquista (AMARAL, 2010).
Amazônia em tempo | 171
Getúlio Vargas Projeto de Criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Criação da Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia (SPVEA). Atendendo
(1951-1954) Industrialização Desenvolvimento Econômico - CMBEU (1951). o Art. 19 da Constituinte 1946, que institui que não menos que 3% da renda tributária
Nacional. da União deveria ser remetida a investimento na Amazônia por 20 anos. Dá-se início ao
planejamento regional, vinculado diretamente à Presidência da República (1953).
Juscelino Kubistchek Desenvolver a Plano Nacional da Indústria Automobilística (1956). Criação da rodovia Bernardo Sayão BR-010 (Belém-Brasília).
(1956-1961)/Plano economia, através Criação de Rodovias. Abertura de estradas no nordeste paraense até o novo eixo rodoviário.
NACIONAL
de Metas da industrialização Investimentos em infraestrutura urbana.
(1956-1960). de bens de consumo
DESENVOLVIMENTISTA
duráveis.
João Goulart Desenvolver a Conselho de Desenvolvimento da Pesca (CODEPE) (1961) Inicia a elaboração e execução de planos plurianuais de desenvolvimento da pesca
(1961-1964). economia e orientar a Lei 10/1962 – Cria a Superintendência de Desenvolvimento visando à industrialização do setor.
política brasileira. da Pesca (SUDEPE)
A “Operação Amazônia” - Definiu o novo papel a Amazônia deveria assumir na economia
Regime Militar Retomar os objetivos Lei 4.771/1965 - Novo Código Florestal. nacional. Com 50 projetos no campo da agropecuária (produção de açúcar, juta, arroz,
(1964) desenvolvimentistas, Lei n° 5.173/1966 – Extingue a SPVEA e a substitui pela oleaginosas e carne bovina) e produção madeira.
Humberto A. combater a situação Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia - Extinção da Estrada de Ferro de Bragança (1964).
Castelo Branco inflacionária e déficit SUDAM. SUDAM passa a coordenar e supervisionar a ação federal na região.
(1964-1967)/ público do país do
Plano de Ação período 1962-1963.
Econômica– PAEG
DISCURSIVA
(1964-1966).
Lei 3.786/66 – Torna o município de Salinópolis em Estância Hidromineral.
Arthur da Costa e Promover a Início do ciclo do “Milagre econômico”. Construção da ponte de acesso a ilha do Atalaia.
Silva (1967-1969)/ recuperação econômica Altas taxas do PIB e controle da inflação. Doação de terras pelo estado para viabilizar o uso e ocupação turística em Salinópolis.
Plano Estratégico de do País, com Criação da EMBRATUR e a definição do Plano Nacional de Instalação das primeiras indústrias de pesca em Belém/PA (1968).
Desenvolvimento- metas econômicas Turismo (Dec.-Lei 55/66).
Emílio Garrastazu Metas e bases para Dec.-Lei n° 1.106/70 - Programa de Integração Nacional (PIN). Conexões e redes de circulação rodoviária.
Médici (1969-1974)/ ação do governo Conexão rodoviária intrarregional no país. Plano de abastecimento agrícola da Amazônia para o Centro-Sul.
I Plano Nacional de no período de 1972 Fim do Ciclo do “Milagre econômico”. Projeto Agroindústria de Salinópolis S/A – AGRISAL (1970).
Desenvolvimento-I a 1974. Criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (1973). Lei 4.368/1971 – Cria a Companhia Paraense de Turismo (PARATUR).
PLANEJAMENTO
PND (1970). Criação da Comissão Interministerial dos Recursos do Mar- Transamazônica – BR230 (1974).
CIR (1974). Pavimentação da PA-444 (Salinópolis-Atalaia)/1973.
Ernesto Geisel Ações para os anos de 6.513/1977 - Dispõe sobre a criação de áreas especiais e de Programa Polos da Amazônia (15 áreas prioritárias de investimento), visando reorganizar
(1974-1979)/ II 1975-1979. locais de interesse turístico. o ingresso do grande capital.
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Desenvolvimento-II Construção da PA-458 (Bragança-Ajuruteua)/1975.
PND (1974).
João Figueiredo Redemocratização Lei 6.938/1981 – Cria a Politica Nacional de Meio Ambiente. Primeiros pacotes de viagens para Amazônia (1979).
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Regime Militar. (1987).
Lei 7.661/1988 - Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro- Lei 5.457/1988 - Cria a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente
José Sarney Plano econômico para PNGC. (SECTAM)- Pará.
NEOLIBERAL
(1985-1990). diminuir a inflação. 1988 - Constituição Federal legitima o turismo como força Constituição do Estado do Pará (1989).
NOVA REPÚBLICA
Fernando Collor Plano Collor. motriz de desenvolvimento socioeconômico (Art.180). Inauguração da PA-318 (Marudá-Crispim)/1991.
(1990-1992). Lei 7.735/1989 - Cria o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente Conclusão e pavimentação da PA-458/1991.
e dos Recursos Renováveis (IBAMA).
Figura 1. Mapa das Rodovias Federais e Estaduais de acesso às principais praias na zona
costeira paraense.
Fonte: Elaborado pelos autores.
176 | Amazônia em tempo
Considerações finais
Ao longo dos séculos, a zona costeira paraense foi ocupada visando o
uso dos recursos naturais disponíveis. A biodiversidade dos recursos
marinhos possibilitou a fixação de grupos humanos na fase pré-colonial,
dos colonizadores portugueses no período colonial e, das populações
recreativas do turismo balnear a partir da década de 1960. Neste
ultimo, verifica-se uma série de efeitos negativos que se sobrepõem
aos positivos, resultantes da ausência de um planejamento adequado
para o uso e ocupação deste espaço costeiro.
A descrição do processo de formação sócio-espacial, que compõe
o cenário atual das praias em estudo, permitem entender os fatores
que contribuíram para a geração dos efeitos negativos. Estes exigem
na atualidade o poder público, setor privado e comunidade local
ações mitigadoras resultantes de políticas públicas, que atendam as
necessidades das populações residentes e dos visitantes.
Torna-se fundamental a gestão costeira integrada entre o poder
público, o setor privado e a comunidade local, descentralizando o
processo político-administrativo, melhorando o seu planejamento,
execução, avaliação e transparência, em consonância com a legislação
ambiental vigente. Do contrário, os efeitos atuais produzidos nas
180 | Amazônia em tempo
Referências
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Amazônia em tempo | 183
RESUMO
Este artigo descreve o uso alimentar da biodiversidade, os macrohabitats
onde ocorre, bem como as ameaças para a sua integridade, a partir do
conhecimento ecológico tradicional de comunidades quilombolas, em
Vila Bela da Santíssima Trindade-Mato Grosso, Amazônia Meridional. A
pesquisa pautou-se na abordagem qualitativa com o uso da observação
participante, entrevista semiestruturada e levantamentos da flora e da
fauna. A trajetória de vida das famílias quilombolas, ligada às atividades
de subsistência, permitiu conhecer os macrohabitats da região. A
convivência cotidiana nesses espaços foi expressa no conhecimento de
94 espécies de plantas e 59 de animais de uso alimentar encontradas
nos macrohabitats manejados, como roças e quintais; e naturais,
como a Floresta Amazônica, o Cerrado e a área úmida do Guaporé.
Os processos associados à conversão desses ambientes para pecuária
e agricultura estão modificando as interações dos quilombolas com o
uso tradicional de seus territórios.
Palavras-chave: Etnobiologia, Amazônia Meridional, macrohabitats.
Introdução
O conhecimento tradicional pode ser definido como o saber-fazer,
a respeito do mundo natural e sobrenatural, gerados no âmbito da
sociedade não urbano/industrial e transmitidos oralmente de geração
em geração (DIEGUES, 2000).
A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais3; traz em seu artigo 3, a definição de povos
e comunidades tradicionais como grupos culturalmente diferenciados
3
BRASIL. Decreto n. 6.040, de 07 de fevereiro de 2007. Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável
dos Povos e Comunidades Tradicionais. 2007.
186 | Amazônia em tempo
Metodologia
Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade do Estado de Mato Grosso, CEP-UNEMAT,
com o parecer número 801.438, de 22 de setembro de 2014, e realizada
de acordo com o Termo de Anuência Prévia e do Consentimento Livre
e Esclarecido-TCLE dos sujeitos envolvidos neste estudo, conforme as
orientações da Resolução 466 de 2012 e a Norma Operacional 001 de
2013 do CNS do CEP-UNEMAT.
O estudo foi realizado durante o período de 2014 a 2016, por meio da
abordagem qualitativa (MARTINS, 2004; SANTOS et al, 2005) com o uso
de técnicas como a observação participante, entrevista semiestruturada
e levantamentos da flora e fauna conhecidas para a alimentação.
As atividades cotidianas desenvolvidas por mulheres e homens
nas comunidades quilombolas foram acompanhadas por meio da
observação participante, atividades estas relacionadas aos cuidados
com os espaços da casa, do quintal, das roças e criações de animais,
coletas de elementos da biodiversidade, o cotidiano das cozinhas, em
sua maioria, espaços femininos, onde os alimentos são preparados no
fogão à lenha, espaços repletos de cores, cheiros e sabores.
A observação participante, de acordo com os pressupostos de Bernard
(2002) e Gil (2005), permitiu ainda acompanhar discussões e reflexões
sobre aspectos políticos, sociais, de saúde, a realização de festas,
Amazônia em tempo | 193
5
www.ipni.org
194 | Amazônia em tempo
Resultados e Discussão
Os quilombolas de Retiro e Boqueirão
Os quilombolas vivem nos espaços chamados de sítios, compostos por
29 famílias, 19 em Retiro e 10 em Boqueirão, as quais são representadas
nos locais de moradia, geralmente por três membros, na maioria das
vezes, o casal, o filho ou o parente, com idades entre 25 a 81 anos. Entre
os treze interlocutores, 10 têm sua origem em Vila Bela da Santíssima
Trindade, dois nascidos na cidade e oito nas comunidades de Boqueirão,
Casalvasco e Alegre. Outros três interlocutores nasceram em Cáceres
(MT), Guajará-Mirim (RO) e Iporá (GO) e residem nas comunidades há
mais de 17 anos, um desde o primeiro ano de vida e duas desde o
casamento. Os sítios são compostos por locais de moradia - a casa, e as
unidades produtivas como quintais e pequenas roças no entorno, e por
pastagens e áreas naturais.
Os quilombos pesquisados possuem em termos de infraestrutura,
estrada de acesso à sede do município, rede de energia elétrica,
água encanada oriunda de sistemas de poços convencionais e semi-
artesianos. O tratamento de esgoto e a coleta de resíduos sólidos
inexistem, imperando as fossas. A maioria das casas é feita de alvenaria
e algumas ainda apresentam estruturas construídas com recursos da
biodiversidade, como madeira e cobertura de palhas de palmeiras, em
especial, do babaçu (Figura 2). Estudos focados nos usos de palmeiras
em quatro quilombos na região (ARRUDA et al, 2014) e na arquitetura da
casa pantaneira em comunidades tradicionais no Pantanal (GALDINO;
DA SILVA, 2009) também mostraram que esta estratégia de cobrir casas
com palhas está em processo de transição.
Amazônia em tempo | 195
Considerações
O conhecimento ecológico tradicional e sua prática no manejo da caça,
da coleta de vegetais e dos sistemas agroflorestais, garantiram até hoje a
permanência biocultural dos quilombolas neste espaço, desenhado por
serras, planícies cobertas por florestas, cerrados e campos, recortados
pelas águas do Guaporé. O levantamento e adensamento de dados de
153 espécies da flora e fauna, usadas na alimentação pelos quilombolas
das comunidades de Boqueirão e Retiro, corroboraram para dar mais
visibilidade às práticas dos quilombolas na conservação ambiental,
manutenção e enriquecimento da biodiversidade para a segurança
alimentar na região.
Os quilombolas percebem a importância da manutenção e conservação
desses macrohabitats para a garantia de seus estoques alimentares e
destacam a influência da degradação ambiental causada pela conversão
desses sistemas naturais em pastagem, e mais recentemente para a
Amazônia em tempo | 209
Referências
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210 | Amazônia em tempo
Agradecimentos
Esta pesquisa faz parte do projeto Conhecimento, Uso Sustentável e
Bioprospecção da Biodiversidade na Amazônia Meridional, no âmbito da
Rede Bionorte, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico-CNPq, Ministério de Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações, Fundação de Amparo Pesquisa do Estado
de Mato Grosso-FAPEMAT e Universidade do Estado de Mato Grosso.
Relação entre as condições de infraestrutura urbana
e as ocorrências de criminalidade em duas áreas de
Belém, Pará (2012-2014)
RESUMO
Os estudos sobre a violência e criminalidade no espaço urbano vêm
ganhando outros enfoques, além das variáveis socioeconômicas de
renda, educação e desigualdade social, apontadas quase sempre,
como suas principais causas. Dentre essas perspectivas, estão as que
as relacionam com as questões urbanas e ambientais, considerando
que Belém possui uma população superior a 1.400.000 habitantes e
sua expansão urbana vem sendo processada sem se atentar para
essas características, seja pelas ocupações desordenadas seja pela
deficiência do Estado, comprometendo o processo de planejamento
urbano e facilitando a ocorrência de criminalidade, tanto nos bairros
já consolidados como nas áreas de expansão. Dessa forma, este artigo
tem como objetivo analisar as implicações das condições ambientais de
infraestrutura urbana para a prática da criminalidade contra a pessoa
e o patrimônio em Belém, Pará, a partir de duas áreas, a 1ª Légua
Patrimonial e a Área de Expansão da Augusto Montenegro, adotando
como marco temporal o período compreendido entre 2012-2014.
A metodologia iniciou pelo levantamento bibliográfico, seguido da
caracterização da área e das variáveis, ambientais e de criminalidade.
Para os dados ambientais se utilizou entrevista, observação “in loco”
e documentos oficiais; os dados de criminalidade, foram dispostos
conforme o bairro de ocorrência, o horário e a natureza do evento. Os
resultados foram dispostos em tabelas, gráficos e mapas, possibilitando
a análise fundamentada na triangulação das informações, a qual, ao
evidenciar a necessidade de melhorar a gestão urbana de Belém,
permitiu que se fizessem recomendações em relação às alternativas
para a possibilidade de redução de oportunidades para o cometimento
de crimes, podendo-se destacar: a melhoria das condições de vigilância
natural, como a iluminação pública; os “olhos para a rua”; o cuidado com
216 | Amazônia em tempo
Introdução
A crescente urbanização acirrou as atitudes agressivas entre as pessoas
fazendo com que a violência urbana venha experimentando um avanço
expressivo nas últimas décadas, conforme estatísticas dos órgãos
de segurança, saúde pública e institutos de pesquisa, instigando à
investigação, na qual diversas interfaces podem ser adotadas, como a
relação entre tais eventos e as condições ambientais, considerando-se
que o aumento de espaços “invadidos” ou “ocupados” são elementos
favoráveis tanto à degradação do ambiente como à prática da
criminalidade (BEATO FILHO; PEIXOTO; ANDRADE, 2004; OLIVEIRA,
2005; IBGE, 2014).
A expansão populacional a partir do século XIX evidencia dois
importantes fatores relacionados aos graves problemas de ordem
socioambiental: o uso indiscriminado dos recursos naturais e a acentuada
industrialização, os quais, combinados, concorrem para a alteração
da composição da atmosfera e do meio ambiente, trazendo impactos
que refletem no uso e na ocupação inadequados do solo nas cidades,
devido ao modo como são construídos tais espaços urbanos (GUERRA;
CUNHA, 2001). As alterações imprimidas pela urbanização aos sistemas
naturais afetam suas características climáticas (temperatura, ventilação,
precipitação pluviométrica e umidade do ar), de solo (formas e usos),
água (precipitação, escoamento, infiltração e evaporação), vegetação,
saneamento básico e ecossistemas (elementos bióticos e abióticos),
trazendo sérias consequências à relação entre o ambiente urbano e
esses sistemas, podendo-se apontar, dentre outras, o desequilíbrio
demográfico; o crescimento das cidades sem adequação das condições
de infraestrutura; aumento do desemprego; carência habitacional;
violência urbana e impactos ambientais. As mudanças vêm acontecendo
de forma tão intensa que é possível se pensar na irreversibilidade de
recuperação do ambiente, caso não sejam tomadas medidas saneadoras
(MARICATO, 1994; CAVALCANTI, 2012; CARLOS, 2015).
Amazônia em tempo | 217
Material e Métodos
O estudo foi realizado no Município de Belém, o qual está situado
no delta do Rio Amazonas, na confluência dos rios Pará e Guamá, às
margens do Rio Guamá e da Baía do Guajará, localizada a 01° 27’ S, 48°
30’ W. Conforme Oliveira et al (2016, p. 812) possui um “regime térmico
estável, com pequenas variações no decorrer dos meses, proporcionando
uma maior incidência de radiação solar e consequentemente, um maior
aumento nas temperaturas do ar”, deixando-o quente e úmido e com
pluviosidade elevada.
Seu território corresponde a 1.059,458 km2, distribuídos pela parte
continental (34,6%) e insular (65,4%), divididos em oito distritos,
comportando 71 bairros, com uma população estimada de 1.432.844
habitantes, em 2014, tendo a densidade demográfica de 1.315,26 hab/
Km2 (IBGE, 2014). A maior parte dessa população está concentrada
em áreas conhecidas como “baixadas”, que devido à baixa altitude,
em torno de quatro metros, e à influência das 14 bacias hidrográficas
existentes no Município, estão sujeitas a inundações periódicas.
A análise se deu em duas áreas do município (IBGE, 2014): a) na 1ª
Légua Patrimonial onde estão os bairros do Barreiro, Batista Campos,
Campina, Canudos, Cidade Velha, Condor, Cremação, Fátima, Guamá,
Jurunas, Maracangalha, Marco, Miramar, Nazaré, Pedreira, Reduto,
Sacramenta, São Brás, Telégrafo, Terra Firme e Umarizal, representando
48,3% da população total do município; e b) na Área de Expansão da
Augusto Montenegro, onde estão os bairros do Bengui, Cabanagem,
Coqueiro, Mangueirão, Parque Guajará, Parque Verde, Tapanã e Tenoné,
representando 22,0 % da população total do município (Figura 1).
Amazônia em tempo | 219
Resultados e Discussão
Infraestrutura e Serviços urbanos
Em Belém, os serviços urbanos de abastecimento de água, esgotamento
sanitário, limpeza pública e manejo de resíduos sólidos e drenagem de
águas pluviais urbanas, estão sob a responsabilidade da COSANPA –
Companhia de Saneamento do Pará (estadual) e dos órgãos municipais
SAAEB - Serviço Autônomo de Abastecimento de Água e Esgoto e
SESAN- Secretaria de Saneamento. No entanto, quando se analisa
o comportamento do setor, percebe-se a precariedade do serviço
prestado, principalmente no que se refere ao tratamento de esgoto.
Em relação ao abastecimento de água, o serviço é prestado pela
COSANPA e SAAEB, sendo a primeira, responsável pela maior parte
das ligações - 188.154, incluindo ligações residenciais, comerciais,
industriais e públicas. Destas, 75,49% estão ligadas à Rede Geral.
Embora todos os respondentes tenham dito que são atendidos com
água encanada, reclamaram o fato de ser bastante comum a suspensão
do abastecimento, principalmente nos bairros localizados na Área de
Expansão, os quais ficam até quatro dias sem água nas torneiras.
No que se refere ao esgotamento sanitário, segundo a Prefeitura de
Belém (2014), são atendidos 37,63% dos domicílios, através da rede
geral de esgoto ou pluvial, dos quais apenas 1,9% recebe tratamento
(OLIVEIRA et al, 2013). Para tentar, pelo menos minimizar esta defasagem,
desde 1987, vêm se elaborando planos, como o Plano Diretor do
Sistema de Esgoto Sanitário, da RMB, dividindo a região conforme
as bacias hidrográficas. Na década de 1990, criou-se o Programa de
Recuperação da Bacia do Una (de 1999 a 2002), Programa de Ação
222 | Amazônia em tempo
Tempo de moradia
Em relação ao tempo de moradia no local, 49% das pessoas que residem
na 1ª Légua Patrimonial têm entre 13 e 34 anos no local, enquanto que
na Área de Expansão, esse quadro praticamente se inverte, considerando
que 55% têm até 12 anos de moradia, reforçando o fato de que grande
parte dessas pessoas está residindo nesses locais há pouco tempo (26%
têm até dois anos), estando a maioria em áreas de invasão ou ocupação
desordenada, carente de infraestrutura e serviços urbanos (Figura 2).
Durante a aplicação dos formulários, chamou a atenção a ausência de
um “sentimento de pertencimento” dessas pessoas pelo local onde
estão residindo, inclusive alguns dos entrevistados declararam que, por
não se sentirem “donos” do local e pela Prefeitura os abandonar, não
sentem a obrigação de cuidar do espaço, por isso, a maioria joga os
resíduos sólidos diretamente na via pública.
Segurança
Em relação à segurança, no que se refere à existência de sistema de
proteção nas residências, as respostas são semelhantes nas duas áreas,
ressaltando que quando o imóvel possui algum sistema de segurança,
este é composto apenas por grades ou a combinação de grade com
cerca elétrica/concertina ou câmeras. Dentre as residências que não
possuem são 7% na 1ª Légua Patrimonial (Canudos, Guamá, Jurunas,
Pedreira, Sacramenta, São Brás, Telégrafo e Terra Firme) e 6% na Área
de Expansão (em todos os bairros, exceto Bengui); as que possuem
apenas grade são 57,5% na 1ª Légua Patrimonial e 49,8% na Área de
Expansão; com grade, cerca elétrica e câmera são 23,5% na 1ª Légua
Patrimonial (distribuídos por todos os bairros, exceto Barreiro, Campina
e Canudos) e 24,1% na Expansão (prevalecendo Coqueiro e Tapanã); as
que possuem grade e cerca ou grade e câmera são 12% na 1ª Légua
Patrimonial e 20,1% na Área de Expansão (Figura 3).
Amazônia em tempo | 227
Mobilidade urbana
Em relação à mobilidade, considerando-se que os moradores precisam
realizar diariamente variados deslocamentos entre casa-trabalho-
escola-lazer-igreja, etc., o problema recorrente é a carência de transporte
público e as dificuldades de acesso às áreas centrais da cidade, onde está
a maior parte de seus locais de trabalho e estudo. Importante ressaltar
que mais de uma década após a pesquisa realizada por Lima (2004), as
respostas continuam as mesmas quando se pergunta sobre a facilidade
de deslocamento dos moradores, principalmente os residentes nas
áreas de expansão.
Percebe-se que quanto ao modo de deslocamento, nas duas áreas há a
prevalência do veículo particular, 35,3% na 1ª Légua Patrimonial e 19,5%
na Área de Expansão, confirmando a carência do transporte público em
Belém e a baixa conectividade entre as principais vias de acesso. Jacobs
(2011, p.99) ressalta “que as grandes distâncias urbanas implicam um
tráfego intenso de automóveis, e este, por sua vez, contribui com cerca
de dois terços dos poluentes atmosféricos”, contribuindo, portanto,
para o agravamento das condições atmosféricas (Figura 5).
Amazônia em tempo | 229
Figura 6. Em quanto tempo (em minutos) faz o percurso casa - trabalho (%).
230 | Amazônia em tempo
Violência e criminalidade
Os problemas elencados pelos entrevistados em relação ao motivo
de considerarem perigosos o bairro e a cidade são, em sua maioria,
relacionados às condições ambientais de infraestrutura e serviços
urbanos, como inadequação de vias e iluminação pública; carência
de transporte público; deficiência na manutenção de logradouros
públicos como as praças e ausência de vigilantes nesses locais, além
do fato de que grande parte dessas vielas estreitas são utilizadas na
Amazônia em tempo | 231
Considerações Finais
O estudo evidenciou a forte fragmentação apresentada pelo desenho
do espaço urbano de Belém, com alterações bastante visíveis, não
só nas áreas de expansão, como no interior da 1ª Légua Patrimonial,
principalmente nos bairros mais afastados do centro principal e
também mais populosos, os quais vão se amoldando com enorme
heterogeneidade, ressaltado nas questões analisadas, quando se
observou que a maior parte dos problemas decorre da forma como
o espaço foi se configurando em consequência de uma ocupação
desordenada e da ausência do Estado. Assim, à medida em que o
Estado não se fazia presente, esses problemas foram se avolumando
resultando no comprometimento da legibilidade do espaço, cujos
atributos de acessibilidade e mobilidade, estruturação, segurança e
vigilância, territorialidade, não conseguem ser “vistos” pelas pessoas.
234 | Amazônia em tempo
Referências
ACIOLY, C.; DAVIDSON, F. Densidade urbana: um instrumento de planejamento e
gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
AMARO, M. Arquitetura contra o crime: PCAAA - prevenção do crime através da
arquitetura ambiental. Rio de Janeiro - RJ: Edição do Autor, 2005.
AZEVEDO, C.E.F.; OLIVEIRA, L.G.L.; GONZALEZ, R.K.; ABDALLA, M.M. A Estratégia de
Triangulação: Objetivos, Possibilidades, Limitações e Proximidades com o Pragmatismo.
In: ENCONTRO DE ENSINO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE, 4,
2013, Brasília-DF.
BEATO FILHO, C.; PEIXOTO, B. T., ANDRADE, M. V. Crime, oportunidade e vitimização.
Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 19, n. 55, jun 2004.
BELÉM. Prefeitura Municipal De Belém. Plano Municipal de Saneamento Básico de
Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário do Município de Belém do Pará
- PMSB. Belém, 2014.
Amazônia em tempo | 235
RESUMO
O Brasil é detentor de vasta diversidade biológica, destaque esse
atribuído especialmente aos recursos naturais encontrados na região
amazônica, de há muito alvo das preocupações globais relativas à sua
preservação, uso sustentável e potencialidades que a região oferece
como campo de investigação científica e geração de riqueza. A
globalização e a nova configuração econômica mundial propiciaram
o avanço no campo do desenvolvimento da ciência, da pesquisa e
da inovação tecnológica, trazendo à tona novos desafios no tocante
à regulação e proteção jurídica da propriedade intelectual sobre o
uso da biodiversidade amazônica e dos conhecimentos tradicionais
associados, em especial quando há a geração de patentes. O objetivo
deste trabalho foi avaliar se o novo marco legal da biodiversidade traz
potenciais efeitos sobre a promoção do uso sustentável da terra, no que
se refere à exploração de seus recursos naturais, sobretudo pela indústria
farmacêutica. O novo marco nacional da biodiversidade, apesar de
recente no ordenamento jurídico apresenta perspectivas para se tornar
uma norma coadjuvante nas ações em benefício do meio ambiente
do país, em especial no tocante ao uso e exploração sustentável dos
recursos oriundos da biodiversidade, haja vista que procura agregar o
aspecto social ao econômico dessa exploração, uma vez que garante
direitos às populações tradicionais, indígenas e agricultores sobre
seus conhecimentos associados à biodiversidade. Nesse contexto, o
impacto sobre os usos da terra decorrentes do acesso ao patrimônio
genético e da exploração dos recursos vegetais pode ser minimizado,
ou mesmo evitado, em razão de medidas protetivas e sancionatórias
238 | Amazônia em tempo
Introdução
O Brasil é considerado o primeiro em megadiversidade em termos
mundiais, tanto em número de espécies quanto em níveis de
endemismo - espécies presentes apenas ou quase somente em
determinados locais. Ao se falar, em particular, da Amazônia, suscita-
se, à primeira vista, a preocupação global em torno de sua necessária
preservação e uso sustentável de seus recursos naturais. Nenhuma
região do mundo foi objeto de tanta preocupação mundial, sendo os
fatores-chave de todo esse interesse os seus estoques incomparáveis
de biodiversidade, recursos naturais inexplorados e potencialidades
que a região oferece como campo de investigação científica e geração
de riqueza, a exemplo dos fármacos derivados de plantas, animais
e micro-organismos (ALBAGLI, 2001; VIEIRA; SILVA; TOLEDO, 2005;
BECKER, 2005; MARCOVITCH, 2006; BANERJEE, 2006; HOERNER, 2008).
Neste contexto, a Amazônia constitui-se num cenário territorial de
suma importância no que se refere aos desdobramentos práticos dos
desafios e impasses hoje colocados em termos do direito de propriedade
intelectual e sua regulação jurídica em face do desenvolvimento
econômico e científico (pesquisa e inovação tecnológica), notadamente
no que diz respeito ao trato da biodiversidade e ao conhecimento
tradicional associado a esse conhecimento (STEFANELLO; DANTAS,
2007).
As profundas mudanças no panorama econômico mundial,
especialmente a partir dos anos de 1980, grandemente impulsionadas
pelo fenômeno da globalização, levaram a uma nova configuração
espacial da economia global, no qual os bens comercializáveis passam
Amazônia em tempo | 239
10
Referências históricas sobre plantas medicinais apontam seu uso em praticamente todas as antigas civilizações. A primeira refe-
rência escrita sobre o uso de plantas como remédios é encontrada na obra chinesa Pen Ts’ao (“A Grande Fitoterapia”) que remon-
ta a 2800 a.C., de Shen Nung, imperador chinês que catalogou 365 ervas medicinais e venenos que eram usados sob inspiração
taoísta de Pan Ku, considerado deus da criação. Esse primeiro herbário dependia da ordenação de dois pólos opostos: yang - luz,
céu, calor, esquerdo; e oyin - trevas, terra, frio, direito. (TOMAZZONI et al, 2006; FRANCA et al, 2008).
Amazônia em tempo | 247
12
A história do Ver-o-Peso está diretamente ligada à da cidade de Belém do Grão-Pará [...]. Em 1687, o governador Francisco
Coelho de Carvalho teve a iniciativa de endereçar ao rei de Portugal uma representação, pedindo-lhe a concessão do tributo de
Ver-o-Peso. Em 1688, uma Provisão-Régia criava o Ver-o-Peso, “por ser conveniente ao serviço de V. Magte. para que se não embarquem
sem despacho as drogas que saem daquella Conquista, e se concedeu aos Officiaes da Câmara da ditta Capitania o rendimento do dito Ver-o-Peso
para os usos necessarios della e bem público da Cidade”. Criado com objetivos fiscais, foi a partir de então que o porto do Piri entrou
para a “economia formal”, passando a se chamar o “lugar de ver o peso”, nome que a tradição oral há mais de 300 anos soube
preservar. [...]. Disponível em: http://www.ufpa.br/cma/verosite/historico.html. Acesso em: 30 abr 2015.
13
Comunidades tradicionais são compostas por integrantes de povos indígenas, povos tribais, minoria étnicas, linguísticas ou
religiosas e de outros grupos portadores de culturas, modos de viver diferenciados em relação àqueles vigentes na sociedade
envolvente, ainda que não estejam dela totalmente abarcados. No Brasil pode-se mencionar os povos indígenas, os quilombolas,
os ribeirinhos e caiçaras como grupos representativos de comunidades tradicionais (RODRIGUES JÚNIOR, 2010).
Amazônia em tempo | 249
20
Art. 8º
256 | Amazônia em tempo
21
OLei nº 13.123/2015
Art. 10. Às populações indígenas, às comunidades tradicionais e aos agricultores tradicionais que criam, desenvolvem, detêm
ou conservam conhecimento tradicional associado são garantidos os direitos de: I - ter reconhecida sua contribuição para o
desenvolvimento e conservação de patrimônio genético, em qualquer forma de publicação, utilização, exploração e divulgação
[...]
III - perceber benefícios pela exploração econômica por terceiros, direta ou indiretamente, de conhecimento tradicional associa-
do, nos termos desta Lei;
[...]
V - usar ou vender livremente produtos que contenham patrimônio genético ou conhecimento tradicional associado, observados
os dispositivos das Leis nos 9.456, de 25 de abril de 1997, e 10.711, de 5 de agosto de 2003; [...]
22
§ 1º, art. 9º.
23
Art. 33 da Lei 12.123; art. 100, Decreto nº 8.772.
Amazônia em tempo | 257
AÇÕES
BIODIVERSIDADE SOCIAIS/ECONÔMICAS/INOVAÇÃO
Conservação da diversidade biológica e Fomento a pesquisa e desenvolvi-
conservação das plantas silvestres. mento tecnológico associado ao
patrimônio genético e ao conheci-
mento tradicional associado.
Levantamento e inventário do patrimô-
Implantação e desenvolvimento de
nio genético, considerando a situação
atividades relacionadas ao uso sus-
e o grau de variação das populações
tentável da diversidade biológica,
existentes, incluindo aquelas de uso
sua conservação e repartição de be-
potencial e, quando viável, avaliando
nefícios.
qualquer ameaça a elas.
Desenvolvimento de um sistema Apoio aos esforços das populações
eficiente e sustentável de conserva- indígenas, das comunidades tradicio-
ção ex situ e in situ e desenvolvimento nais e dos agricultores tradicionais
e transferência de tecnologias no manejo sustentável e na conser-
apropriadas para essa finalidade com vação de patrimônio genético.
vistas a melhorar o uso sustentável do
patrimônio genético.
Desenvolvimento e manutenção dos diver- Elaboração e execução dos Planos de
sos sistemas de cultivo que favoreçam o Desenvolvimento Sustentável de Popula-
uso sustentável do patrimônio genético. ções ou Comunidades Tradicionais.
258 | Amazônia em tempo
Considerações
O novo marco nacional da biodiversidade, apesar de recente no
ordenamento jurídico apresenta perspectivas para se tornar uma
norma coadjuvante nas ações em benefício do meio ambiente do
país, em especial no tocante ao uso e exploração sustentável dos
recursos oriundos da biodiversidade, haja vista que procura agregar o
aspecto social ao econômico dessa exploração, uma vez que garante
direitos às populações tradicionais, indígenas e agricultores sobre seus
conhecimentos associados à biodiversidade.
Nesse contexto, o impacto sobre os usos da terra decorrentes do acesso
ao patrimônio genético e da exploração dos recursos vegetais pode
ser minimizado, ou mesmo evitado, em razão de medidas protetivas e
sancionatórias trazidas pela lei, que em cotejo com as demais normas de
proteção ambiental nacionais, alcançam força inibitória, especialmente
às ações das grandes empresas biotecnológicas.
Referências
ALBAGLI, S. Amazônia: fronteira geopolítica da biodiversidade. Parcerias Estratégicas:
Brasília, n. 12, vol. 6, p: 5-19, 2001.
ALBUQUERQUE, E. M; SIMÕES, R. BAESSA, A. CAMPOLINA, B. SILVA, L. A distribuição
espacial da produção científica e tecnológica brasileira: uma descrição de estatísticas
de produção local de patentes e artigos científicos. Revista Brasileira de Inovação, n.
2, v. 1, p: 225-251, 2002.
ALTIERI, M. A. Biotecnologia Agrícola: Mitos, Riscos Ambientais e Alternativas. Editora
Vozes, 2004.
AMOROZO, M. C. M. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do
Leverger, MT, Brasil. Acta Bot. Bras., n.2, v. 16, p: 189-203, 2002.
ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 14, de 31 de março de 2010.
Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial da União, nº 63,
2010.
BARBIERI, J. C.; CHAMAS, C. I. O Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual
Relacionados ao Comércio (TRIPS) e as Políticas Públicas de Saúde e de Defesa da
Biodiversidade. Revista Eletrônica de Administração, n. 1, v. 14, p: 25-49, 2013.
BECKER, B. K. Ciência, tecnologia e inovação para conhecimento e uso do patrimônio
natural da Amazônia. Parcerias Estratégicas (Seminários Temáticos para a 3ª
Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação), n. 20, p: 583-613, 2005.
Amazônia em tempo | 259
RESUMO
Este estudo analisou a dinâmica espacial da incidência de malária na
Amazônia Legal, de 2003 a 2012, e sua associação com o desmatamento
e precipitação. Foi realizado um estudo epidemiológico do tipo
ecológico, utilizando o Índice Parasitário Anual (IPA), desmatamento
e precipitação, para os quais calculou-se o índice de Moran global e
local. A série apresentou uma tendência de redução na incidência de
malária na região, mais acentuada na porção leste da Amazônia Legal.
O índice global de Moran entre as variáveis confirmou a dependência
espacial para IPA, precipitação e desmatamento entre os Estados.
Foram identificados os Estados que apresentaram alta prioridade (Acre,
Amazonas e Roraima) e baixa prioridade (Maranhão, Tocantins e Pará)
para as políticas de intervenção da malária. O IPA do ano de 2007
apresentou influência defasada da precipitação e desmatamento de
2006. Mesmo frente a redução do número de casos, é necessário pensar
novas estratégias e abordagens que norteiem as ações de controle da
malária, pois os números envolvidos ainda são altos.
Palavras-chave: Fatores epidemiológicos, ecossistema amazônico,
análise espacial.
Introdução
A malária é uma doença endêmica comum em regiões tropicais e
subtropicais, incluindo parte da América, Ásia e África. Existem várias
espécies do parasita da malária, porém, apenas quatro rotineiramente
infectam os seres humanos: Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax,
Plasmodium malariae e Plasmodium ovale, sendo o P. falciparum e P. vivax as
duas espécies mais comuns. São transmitidos de uma pessoa para
264 | Amazônia em tempo
Metodologia
Foi realizado um estudo epidemiológico do tipo ecológico sobre a
ocorrência de malária, desmatamento e precipitação nos Estados que
compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão) através de análise espacial de
dados secundários no período de 2003 a 2012. Optou-se por esta área
de trabalho pela característica endêmica da malária nesta região.
A opção por estudos epidemiológicos do tipo ecológico é adequada
para o entendimento da variação do risco de adoecer entre diferentes
grupos populacionais. A correta compreensão das dimensões envolvidas
nos estudos de nível ecológico possibilita explorar o potencial da
abordagem ecológica em saúde pública, mediante o emprego de
ferramentas de análise apropriadas que permitam controlar possíveis
fatores de confusão e evitar vieses de análise (BRASIL, 2007).
266 | Amazônia em tempo
(1)
De acordo com valor do IPA, temos um critério de classificação
epidemiológica da malária conforme estabelecido pela FUNASA (2001):
Área de alto risco (IPA ≥ 50), Área de médio risco (10 < IPA < 50), Área
de baixo risco (1 < IPA < 10), Área sem risco (IPA < 1).
Os dados de precipitação sobre a Amazônia Legal são provenientes do
Centro de Previsão Climática (CPC) do National Centers for Environmental
Prediction (NCEP) dos EUA. Estes dados foram gerados pela interpolação
espacial dos pontos observados nas estações meteorológicas de
superfície, através de dados de estações meteorológicas proveniente
da rede nacional e estadual. Os dados de desmatamento são oriundos
da base de dados do Programa de Cálculo do Desflorestamento da
Amazônia-PRODES24, que vem produzindo estimativas anuais das taxas
de desflorestamento da Amazônia Legal desde 1988.
A análise dos dados, buscando o nível de autocorrelação espacial entre
áreas e a elaboração de imagens e mapas, foi realizada em etapas,
utilizando o programa GeoDa. A dependência entre áreas pode ser
medida pelo índice global de Moran (I) que indica a existência de
autocorrelação espacial como uma covariância a partir do produto
dos desvios em relação à média (PRADO et al, 2010): quanto o valor
observado do IPA de um Estado é correlacionado com o conjunto de
dados. Esse índice fornece um valor único, sendo útil para estudos de
uma região como um todo.
24
www.obt.inpe.br/prodes.
Amazônia em tempo | 267
(2)
Em que é a variável em estudo padronizada (com
média, e desvio padrão, ) em uma localização particular
ke é, da mesma forma, a variável em outra localização l
(onde k ≠ l).
A variável de ponderação W é uma matriz de continuidade. Se a zona k
é adjacente (toca) à zona l, a interação recebe um peso igual a 1. Caso
contrário, a interação recebe um peso igual a zero. E n é o número de
observações. Semelhante ao coeficiente de correlação, que varia entre
– 1 e +1, quando pontos próximos têm valores similares, o produto
cruzado é alto. Ao contrário, quando pontos próximos têm valores
dissimilares, o produto cruzado é baixo. Consequentemente, um alto
valor de I indica maior autocorrelção espacial do que um I que seja
baixo.
Uma indicação de autocorrelação espacial positiva revela que há uma
similaridade entre os valores do atributo estudado e da localização
espacial do atributo. Uma indicação de autocorrelação espacial negativa
revela, por sua vez que há uma dissimilaridade entre os valores do atributo
estudado e da localização espacial do atributo. Entretanto, ao contrário
do coeficiente de correlação, o valor teórico do índice I não é igual a
zero para a falta de dependência espacial, mas é, por outro lado, um
número negativo muito próximo de zero, dado por:
(3)
A hipótese nula testada (H ) pelo índice global de Moran foi de
0
independência espacial entre os Estados em relação as variáveis em
estudo (IPA, precipitação e desmatamento).
O cálculo do índice local de Moran consiste na decomposição do índice
global. O índice local de Moran produz um valor local para cada área,
através de valores normalizados para cada Estado, gerando também,
a média ponderada da variável para os respectivos Estados vizinhos,
268 | Amazônia em tempo
Resultados
Análise Descritiva
A incidência de malária na Amazônia Legal é dinâmica e os Estados que
compõem a área contribuem diferenciadamente com a manutenção da
endemia. A média do IPA apresenta-se decrescente no período (2003
a 2012). Entre os nove Estados que compõe a Região Amazônica, seis
deles concentram as maiores incidências: Acre (AC), Rondônia (RO),
Amazonas (AM), Roraima (RR), Amapá (AP) e o Pará (PA), em ordem
decrescente de contribuição no número de casos. Mato Grosso (MT),
Maranhão (MA) e Tocantins (TO), em decorrência da implantação e
impacto satisfatório do Plano de Intensificação das Ações de Controle
de Malária (PIACM) em 2000, apresentaram queda no registro da
endemia.
O valor médio do IPA representativo para todo período na Amazônia
Legal foi de 25,3 Casos/1000 hab na região (Tabela 1), configurando-se
um IPA de médio risco. A maior média do IPA no período em análise foi
270 | Amazônia em tempo
Tabela 1. Valores registrados por variável analisada no estudo para Amazônia Legal
(2003 a 2012).
Variável
Média Registrada Maior Registro Menor Registro
analisada
IPA (Amazônia 25,3 Casos/1000 43,1C asos/1000 13,3 Casos/1000
Legal) hab hab hab
Precipitação 1845 mm ano-1 2078,28 mm ano-1 1584 mm ano-1
Desmatamento 1.516,5 km2 ano-1 3.085,8 km2 ano-1 507,9 km2 ano-1
Amazônia em tempo | 271
Análise Espacial
O Índice de Moran (I) foi calculado para cada uma das três séries de
variáveis (IPA, precipitação e desmatamento) em dez anos de dados,
além do cálculo do nível de significância para cada valor de I, através
da reamostragem com 999 permutações, para avaliar se a distribuição
dessas variáveis na área da Amazônia Legal não ocorre de forma
aleatória, ou seja, se existe uma autocorrelação espacial na região,
considerando um nível de significância de 5%. Em relação ao IPA, nove
dos dez anos de observação apresentaram valor I maior que zero
(evidenciando autocorrelação espacial positiva) e significativa (p-valor
entre 0,001 e 0,05).
Os valores do I para série de precipitação também foram significativos,
com autocorrelação espacial positiva nos anos de 2007, 2010, 2011
e 2012 (p-valor entre 0,02 e 0,05). Em relação ao desmatamento, os
valores do I são negativos e significativos no período de 2006 a 2012.
Esses valores indicam que o desmatamento está caracterizado como
um regime de transição, ou seja, observa-se ocorrências de regiões
com baixo desmatamento e no seu entorno, alto desmatamento e,
vice-versa (Tabela 2).
A significância dos valores de I indicam a rejeição da hipótese
nula de independência espacial, apontando que nesse período as
variáveis analisadas estão espacialmente associadas a outros Estados,
demonstrando que houve tendência de similaridade entre as áreas
(Estados) em relação a variável, como exemplo: o valor do IPA elevado
em um determinado Estado, este estará circundado por outros Estados
na mesma situação, sendo que anos de maior intensidade de correlação
espacial na série estão entre 2005 e 2009, conforme Tabela 2. O ano
de 2003 é o único a apresentar-se como exceção a este contexto
(não é significativos para nenhuma das três variáveis do estudo). Em
contrapartida, os anos de 2007, 2010, 2011 e 2012 foram significativo
para todas as variáveis analisadas.
272 | Amazônia em tempo
Tabela 2. Índice Global de Moran para o Índice Parasitário Anual (IPA), precipitação e
desmatamento na Amazônia Legal (2003-2012).
Regressão Espacial
Para a compreensão da dependência espacial do IPA em relação a
precipitação e desmatamento, foi proposto o modelo de regressão
espacial para análise dos dados da série, sendo utilizada a equação
(6) que representa o modelo lag espacial, em que se estabeleceu
como variável resposta, yt o IPA para cada ano da série histórica, de
2003 a 2012, tendo, como variáveis explicativas, a precipitação e o
desmatamento para o mesmo período da série, ou seja:
(6)
Amazônia em tempo | 275
Discussão
O ambiente amazônico está mudando rapidamente, devido ao
desmatamento, e entre os fatores, está o avanço da fronteira agrícola,
desencadeando as mudanças climáticas decorrente dessas modificações
na cobertura florestal. Práticas de uso da terra estão mudando o
perfil epidemiológico das doenças parasitárias na região, afetando
a abundância do vetor e seu comportamento, contribuindo para a
transmissão da malária em diversas áreas da Bacia Amazônica (SILVA-
NUNES et al, 2012; CONFALONIERI et al, 2014). Este cenário contribui
para tornar a região suscetível ao incremento de riscos para malária,
manifestando uma situação epidemiológica de caráter heterogêneo
entre os Estados, com dados anuais oscilantes, conforme observado na
Tabela 1.
Mesmo apresentando oscilações, a incidência de malária apresenta
avanços sobre seu controle. A partir de 2000, o Ministério da Saúde
desencadeou a descentralização das ações em saúde na gestão de
Estados e municípios e, entre os objetivos, encontram-se o controle da
endemia. A melhoria dos serviços de saúde refletiu na ampliação do
atendimento dos doentes. Todos os Estados da região apresentaram
redução no número de casos, entre 2000 e 2011, com exceção do Acre,
que apresentou incremento de 4,8% (BRASIL, 2013). Para Lapouble et
al (2015), as intervenções que tiveram maior impacto sobre a redução
da malária foram o aumento da rede de diagnóstico, mudança nos
esquemas terapêuticos e utilização de mosquiteiros impregnados.
280 | Amazônia em tempo
Conclusão
Esta análise confirmou a ocorrência de dependência espacial da
incidência de malária nos Estados que compõem a Amazônia Legal. O
método de investigação aplicado à série de dados demonstrou que a
combinação dos fatores envolvidos no agravo da malária na Amazônia
Legal (desmatamento e precipitação) e a análise espacial das variáveis
contextualizam-se diferentemente em cada Estado.
Observou-se que a transmissão da malária ainda é um desafio na saúde
pública, pois mesmo com parte da Amazônia Legal apresentando
baixa incidência, ainda existem alguns Estados com alta incidência,
principalmente próximos à fronteira com outros países endêmicos
na América Sul, apontando a necessidade de novas abordagens
e tecnologias para auxiliar o controle da endemia nessas regiões,
principalmente na porção oeste Amazônia Legal.
Os resultados obtidos podem auxiliar nas estratégias de
acompanhamento, prevenção e controle da endemia pelos serviços
de saúde, sendo esta conduta já adotada por outros países. Outras
investigações, trabalhando as variáveis deste estudo em diferentes
escalas de tempo (mensais, semanais), territórios (municípios, regiões
fronteiriças e aglomerados especiais) são necessárias para esclarecer e
pontuar com maior precisão a ocorrência de malária na região estudada,
além da inclusão de informações sociais, sanitárias e de investimentos
no agravo em questão.
Amazônia em tempo | 285
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286 | Amazônia em tempo
Resumo
O carbono pirogênico cuja origem está relacionada a processos
de queimadas ocorridas no passado, apresenta baixa reatividade
química e, por isso, é avaliado como um sumidouro no ciclo global de
carbono. É considerado como um dos fatores que contribui para alta
estabilidade da matéria orgânica de solos de Terra Preta Arqueológica,
que são relevantes por apresentarem características de fertilidade e
estabilidade superiores de outros tipos de solos, sobretudo da região
amazônica. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a
aplicação das técnicas analíticas na caracterização e quantificação do
carbono pirogênico. Apesar de ainda não haver uma metodologia
específica para analisar as diversas formas de carbono presentes nos
solos de Terra Preta, a aplicação de técnicas combinadas pode fornecer
informações relacionadas a fontes, composição e quantificação das
formas carbonáceas contidas no solo.
Palavras-chave: Microscopia em solos amazônicos, estudo de carbono,
técnicas analíticas.
Introdução
De acordo com inúmeras definições (KUHLBUSCH, 1998; ELMQUIST;
GUSTAFSSON; ANDERSSON, 2004; BIRD et al., 2015; MORAES et
al., 2015; JAUSS et al., 2017) atribuídas ao carbono pirogênico (CPy),
entende-se que esse resulta de processos de queima de biomassa
em diferentes temperaturas, contendo compostos orgânicos com
ampla variação química, indicadores dos distintos tipos de materiais
de origem. Os primeiros estudos definem que os materiais contendo
CPy são caracterizados por apresentarem vegetais parcialmente
carbonizados com variação química contínua e com estrutura física de
288 | Amazônia em tempo
O Carbono Pirogênico
O CPy representa entre 1 e 6% do carbono orgânico total do solo, pode
chegar a 35% como, por exemplo, em Terra Preta do tipo Latossolo
(Amazônia brasileira) (GLASER et al., 1998, 2000), até 45% em alguns
solos chernozêmicos (solos de coloração escura e férteis) da Alemanha
(SCHMIDT et al., 1999) e até 60% em solos chernozêmicos do Canadá
(Saskatchewan) (GONZÁLEZ-PÉREZ et al., 2004).
Cope e Chaloner (1980) consideram que a combustão de materiais
derivados de plantas levaria à formação de dois produtos, o carvão
e o carbono pirogênico, sendo o carvão formado em temperaturas
superiores a 600 ºC e o carbono pirogênico em temperaturas inferiores
a 600 ºC. A partir de estudos posteriores realizados por Smernik e Oades
(2000) foi usado o termo carbono pirogênico (CPy) para descrever o
mais inerte componente da matéria orgânica e o termo carvão passou
a ser utilizado para descrever uma grande variedade de materiais
Amazônia em tempo | 291
que provoca o escurecimento de sua cor (KNICKER et al., 2006) que tem
consequências na temperatura do solo (KNICKER, 2011).
Anteriormente, uma explicação comum para a cor castanho escuro e
negro dos horizontes A de chernozem (solos terra preta alemães) era que
os ácidos húmicos cobririam os minerais de argila ou estariam ligados
entre as camadas dos mesmos (SCHMIDT et al., 1999). Outros estudos
apontam uma relação entre o grau de escurecimento e o conteúdo de
CPy, constatada a partir de uma sequencia de cores em chernozems
alemães e manchas escuras em escavações neolíticas localizadas no Sul
da Alemanha (SCHMIDT et al., 2002).
A proteção da MOS por meio de isolamento da ação de microorganismos
é conhecida (ELLIOTT; CAMBARDELLA, 1991). Dada a sua natureza
porosa e de alta afinidade com a matéria orgânica natural pode-se
supor que CPy sequestra a matéria orgânica do solo (não pirogênica)
dentro de sua rede de poros, protegendo-a da degradação tanto por
enzimas produzidas pela atividade microbiana quanto por oxidantes
abióticos (ZIMMERMAN; GAO; AHN, 2011). De acordo com Zavalloni et
al. (2011), este mecanismo pode ser baseado, no fato, da colonização
microbiana na superfície da matéria orgânica do solo ser diferenciada
por causa da presença de compostos voláteis pós pirólise no solo.
Segundo Vasilyeva et al. (2011) o CPy pode persistir em solos Terra
Preta através de três formas: (i) o char existente poderia ter sido pré-
envelhecido durante três séculos e, provavelmente, os componentes
mais facilmente decomponíveis do CPy já teriam sido perdidos, quando
o manejo de pousio com extrema depleção de matéria orgânica
teria começado; (ii) nos seguintes 55 anos o lote em pousio perderia
somente um pouco de seu estoque de CPy (nos 62 centímetros da
camada de massa equivalente a 80 cm da camada de solo de estepe)
e; (iii) a fração leve perderia um pouco do CPy, porém mais ainda da
matéria orgânica do solo; assim, a matéria orgânica residual do solo
seria altamente enriquecida em CPy, o que poderia explicar a extrema
repelência de água, observada macroscopicamente, na fração leve em
solos Chernozem. A coexistência entre argila e CPy indica estabilização
através microagregação (BRODOWSKI et al., 2006).
Amazônia em tempo | 297
Quantificação
Método (Abreviação) Raciocínio Analítico Referencia
de CPy
Oxidação Oxidação a 375 ºC
termoquímica com circulação de ar Análise Gustafsson et al.
após pré-tratamento Elementar (1997)
(CTO-375) ácido
Formação de ácidos Oxidação com ácido
Glaser et al
benzeno policarboxíli- nítrico após pré-tra- CG/FID
(1998)
cos (BPCA) tamento ácido
Oxidação com di-
Oxidação com
cromato ácido de Análise Wolbach e
dicromato ácido
potássio após pré- Elementar Anders (1989)
(K2Cr2O7)
-tratamento ácido
Laser de
Transmitância térmica/ Aquecimento gra-
refletância ou
óptica e Refletância dual até 900 ºC na Chow et al. (1993)
transmitância
(TOT/R) presença de He/O2
mais FID
Termogravimetria
Aquecimento a 990 Diferença de
– Calorimetria Explo- Lopez-Capel et al.
ºC na presença de massa durante
ratória Diferencial (2005)
He/O2 o aquecimento
(TG-DSC)
Oxidação com hipo- Oxidação com Na- 13
C RMN e Aná- Simpson e Hat-
clorito de sódio (Na- ClO após pré-trata-
lise Elementar cher (2004a)
ClO) mento ácido
Fotoxidação em 13
C RMN e Aná- Skjemstad et al.
UV-Fotoxidação (UV) água oxigenada após
lise Elementar (1996)
pré-tratamento ácido
Aquecimento a 800
Análise térmica de ºC na presença de
CPy determina- Hsieh e Bugna
escaneamento multi- He/O2 com produtos
do a 550 ºC (2008)
-elemento (MESTA) de combustão em
1100 ºC
Remoção da matéria
orgânica lábil por Análise Meredith et al.
Hidropirólise (Hypy)
hidrogênio em alta Elementar (2012)
pressão
Considerações Finais
A escolha criteriosa de métodos é fundamental para caracterizar de
forma correta os solos de Terra Preta Arqueológica, tendo em vista, a
peculiaridade da composição química dos mesmos, pois são constituídos
de formas de carbono altamente resistentes a ataques termoquímicos.
Técnicas frequentemente empregadas em análises de solos devem
ser adaptadas para que haja reprodutibilidade e confiabilidade nos
resultados, aliado ao fato de determinadas metodologias não serem
aplicáveis nas referidas matrizes. A aplicação de técnicas combinadas
de caracterização e quantificação é fundamental para determinar as
fontes do carbono pirogênico, assim como, expressar resultados mais
completos e concisos.
Amazônia em tempo | 303
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Dinâmica do carbono orgânico dissolvido
na solução do solo sob diferentes coberturas
vegetais na Amazônia Central
RESUMO
Na avaliação dos fatores que influenciam as concentrações de carbono
orgânico dissolvido (COD) no solo, sob a influência de diferentes
coberturas vegetais, foram realizadas amostragens semanais em
Manaus e Presidente Figueiredo, durante o período de abril a agosto, e
mensais de setembro a dezembro de 2003. A solução foi coletada por
meio de extratores de tensão, e as concentrações foram determinadas
em analisador de Carbono Orgânico Total (Shimadzu, TOC 5000A).
Observou-se correlação entre as concentrações de COD e a textura do
solo. Em solos muito argilosos as concentrações foram menores, fato
explicado pela adsorção do COD às partículas de argila. As maiores
concentrações foram observadas nos solos arenosos, devido à alta
permeabilidade combinada à baixa capacidade de adsorção destes
solos. A elevação na concentração de COD a 1 m de profundidade
sugere um caminho de exportação de carbono dos sistemas terrestres
para os aquáticos. Na floresta secundária e reflorestamento foram
observadas concentrações mais elevadas de COD, quando comparado
com a área degradada. Não somente a cobertura vegetal apresentou
influência sobre os teores de COD, mas também a textura do solo, a
profundidade do solo, a precipitação pluviométrica e os teores de ferro
e alumínio.
Palavras-chave: Coberturas vegetais, textura do solo, Manaus, Presidente
Figueiredo.
314 | Amazônia em tempo
Introdução
O início da revolução industrial trouxe muitas mudanças ao meio
ambiente, dentre elas podemos citar o aumento das concentrações dos
gases de efeito estufa na atmosfera, provenientes das mudanças de uso
e cobertura do solo. Na Amazônia, ainda é comum a utilização do fogo,
para converter florestas em áreas destinadas à produção agropecuária.
Esta conversão leva a perdas de nutrientes por volatilização e mudanças
no ciclo do carbono. Nessa mudança, os estoques que estariam na
biomassa ou solo, são transferidos para a atmosfera. A transferência
de carbono pode ocorrer através de vários mecanismos, desde a
combustão da biomassa, oxidação mais rápida da matéria orgânica, e
a perda de carbono via fluxo gasoso. Estas mudanças podem trazer
como consequências alterações nos padrões de distribuição de chuvas,
taxa de recarga do lençol freático, e das exportações de carbono,
redução dos estoques de carbono e dos nutrientes do solo, afetando a
produtividade dos sistemas.
De forma geral, o bioma Amazônico apresenta solos altamente
intemperizados, com baixa capacidade de troca catiônica (CTC). A
paisagem heterogênea é formada por um grande mosaico, com distintas
formações geológicas, formas de relevo, tipos de solo, microclimas e
tipologias vegetais. Quanto à topografia, a Amazônia central apresenta
de forma bem definida dois pólos de diferenciação pedológica
(BOULET et al., 1984). Um pólo caracterizado por solos argilosos, os
Latossolos, associados às áreas de platô, que dominam a paisagem, ou
seja, cerca de 72% da área da bacia (IPEAN, 1969; CIAT, 1985). E outro
formado por solos arenosos, os Espodossolos, encontrados nas áreas
de baixio próximo ao leito dos rios. Estes solos têm como característica
uma espessa e profunda camada de areia, de textura mais grosseira, e
representam apenas 1,5% dos solos da área central da bacia Amazônica
(RANZINI, 1980; BOULET et al., 1984; CIAT, 1985). Ligando os dois pólos,
argiloso e arenoso, existe uma área intermediária, a encosta, formada
por solos do tipo Argissolos (BOULET et al., 1984).
Amazônia em tempo | 315
Materiais e Métodos
Área de Estudo
O trabalho foi desenvolvido nos Municípios de Manaus e de Presidente
Figueiredo (AM) (Figura 1). Em Presidente Figueiredo, o estudo comparou
duas áreas de Latossolos, com diferentes coberturas vegetais: (a) uma
área degradada (AD), (02° 01’ 31.0” S, 60° 01’23.6” W), localizada às
margens da Rodovia BR-174, no km 108 (Fazenda Santa Cláudia), com
cobertura vegetal composta apenas por gramíneas crescendo sobre solo
compactado, com pouca matéria orgânica e inexistência de horizonte
316 | Amazônia em tempo
O; e (b) uma área de floresta primária (FP) (01° 56’ 20.0” S, 60° 01’47.6”
W), localizada no km 120, da Rodovia BR-174, na Serraria Teixeira. A
floresta se assemelha em termos de porte e espécies à floresta da área
de platô da Zona Experimental (ZF-2) do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (INPA), no km 50, da BR- 174.
No município de Manaus na área da Cooperativa Agrícola Mista
Efigênio de Sales (CAMES) Rodovia AM-010, km 41, foram comparadas
outras duas áreas de Latossolos. Uma área de floresta secundária (FS)
e uma área degradada e reflorestada (DR). A floresta secundária é uma
regeneração de aproximadamente 30 anos, na qual ainda se observavam
plantas de início de sucessão como a Cecropia sp. em meio às plantas
de estágio intermediário de sucessão. Antes da regeneração da floresta,
a área era destinada à fruticultura, com cultivo de citros, atividade que
foi abandonada (02° 48’ 42.5” S, 59° 56’18.5” W). A área degradada e
reflorestada recebeu fertilizantes químicos e adição de calcário, antes da
implantação do reflorestamento com mogno (Swietenia macrophylla)
(02° 48’ 42.3” S, 59° 56’16.5” W). Esta área foi designada de degradada
e reflorestada, devido ao manejo que recebeu antes da instalação do
experimento.
Ainda no município de Manaus, o estudo avaliou a influência da textura
e o tipo de solo nas concentrações de COD em solução do solo, em área
de floresta primária. Na Zona Experimental (ZF-2) do INPA (02° 36’ 44.9”
S, 60° 11’46.9” W), as amostragem foram realizadas ao longo de um
gradiente topográfico (Figura 2). A área mais elevada e plana do relevo,
denominada de platô, é caracterizada por solos muito argilosos, os
Latossolos Amarelos; já na área de encosta, com relevo extremamente
íngreme, encontram-se os solos argilosos, do tipo Argissolos; e o
baixio, com relevo plano, próximo ao leito de rio, é formado por solos
arenosos do tipo Espodossolos.
Amazônia em tempo | 317
Figura 3. Precipitação mensal (2003) e média da série histórica (1961 – 1990, dados
INEMET) da região de Manaus.
Resultados e Discussão
Caracterização físico- química do solo
Na floresta primária da ZF2, os solos apresentaram uma variabilidade
na textura, acompanhando o gradiente topográfico. As áreas sobre
platô são caracterizadas pela presença de solos bem drenados, de
textura muito argilosa (teor de argila > 70 %) do tipo Latossolos. Na
encosta, a textura é argilosa (teor de argila aproximadamente 50%),
com boa drenagem, e solos do tipo Argissolos. Na área do baixio foram
identificados os Espodossolos, arenosos (teor de argila < 5 %), com
fraca capacidade de retenção de água e nutrientes (Figura 4).
Figura 5. Composição granulométrica dos solos (%) das áreas de Presidente Figueiredo
de uma Floresta Primária (FP) e uma Área Degradada (AD); e CAMES Degradada e
reflorestada (DR) e Floresta Secundária (FS).
Solução do Solo
O tipo de solo, juntamente com fatores como a temperatura e, umidade
do solo e qualidade da serrapilheira, são os fatores determinantes
da taxa de decomposição da M.O. Essa decomposição ocorre via
oxidação em Latossolos, dando origem a águas claras (SIOLI, 1991).
Nos Espodossolos, a menor capacidade de adsorção do COD ao solo,
textura arenosa, deixam a solução do solo enriquecida em carbono
dissolvido, atingindo o lençol freático, para depois aflorar em igarapés
de água preta (McCLAIN et al., 1997.)
O COD, encontrado na solução do solo, em parte é originário da água
da chuva que chega pela lavagem do dossel da floresta. À medida
que a água da chuva passa pelos compartimentos da floresta ela é
enriquecida e chega ao solo, com concentrações elevadas de COD
(NEU et al., 2016). Outra parte do COD é proveniente da lixiviação
da serapilheira, metabolismo de decomposição de plantas, animais e
microorganismos, sendo constituído basicamente de ácidos fúlvicos e
húmicos, dentre outros compostos orgânicos (ARZHANOVA; VERTEL,
1981). Observamos que as concentrações do COD estão relacionadas
não somente com fatores bióticos como atividade de microrganismos e
cobertura vegetal, mas também com variáveis abióticas, como a textura
do solo, pH, sazonalidade pluviométrica, relevo (MARQUES et al., 2012),
e as concentrações de ferro e alumínio do solo.
De forma geral, a solução do solo foi caracterizada como ácida, com pH
variando entre 3,5 a 5,3. No baixio, foram registradas as concentrações
mais elevadas de COD e os menores valores de pH, o que se deve a
Amazônia em tempo | 325
Conclusão
A regeneração natural se mostrou eficiente para a recuperação dos
teores de carbono do solo e do carbono orgânico dissolvido na solução
do solo, apresentando também uma melhoria considerável na relação
C/N do solo. O reflorestamento apresentou sinais de recuperação
com níveis mais elevados de carbono quando comparado à área que
permaneceu degradada.
As concentrações de COD na solução do solo foram fortemente
influenciadas pela textura do solo e sazonalidade pluviométrica. Os
Latossolos muito argilosos, sobre as áreas de platô, funcionam como
332 | Amazônia em tempo
Referências
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Amazônia em tempo | 333
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Impactos de diferentes usos da terra sobre os
recursos hídricos em microbacias no Nordeste
Paraense na Amazônia Oriental
RESUMO
Este estudo avaliou os impactos de diferentes usos da terra sobre os
recursos hídricos em 18 microbacias do Nordeste Paraense a partir da
análise da concentração de cátions e ânions inorgânicos dissolvidos:
cálcio, magnésio, sódio, potássio, cloreto, sulfato, fosfato, nitrato e
amônio. O estudo foi realizado no Nordeste Paraense, em dezoito
microbacias com diferentes usos da terra situadas nos municípios de
Marapanim e Igarapé-Açu, pertencentes a bacia do rio Marapanim, e
em Mãe do Rio e Irituia, pertencentes na Bacia do Rio Guamá. Quatro
dessas microbacias situam-se em fragmentos florestais em bom estado
de conservação, sendo então definidas como bacias de referência
para comparação com as demais bacias mais antropizadas. O estudo
demonstrou a forte influência dos sistemas agropecuários sobre os
recursos hídricos, especialmente do sistema de corte e queima e das
pastagens no aporte de cálcio, magnésio e potássio. Tais influências
foram confirmadas pelas análise estatísticas que mostraram fortes
correlações diretas entre o percentual de cultura agrícola e pastagem
e as concentrações de cálcio, magnésio e potássio. Da mesma forma,
as pastagens também influenciaram na dinâmica de nitrogênio,
especialmente a forma orgânica (nitrogênio amoniacal), que ocorreu em
maiores concentrações nas microbacias de pastagens, enquanto que na
microbacia com uso de sistemas de irrigação e uso de defensivos a base
de nitrogênio, o nitrato foi mais elevado. Por outro lado, as florestas
são muito importantes para o aporte de nitrato, cloreto e sódio para
os recursos hídricos. Assim, a mudança de uso da terra em escala de
microbacia causa impactos na dinâmica de nutrientes, pois altera a
composição química das águas naturais, podendo assim interferir na
qualidade das águas dessas microbacias para os diferentes usos.
Palavras-chave: Bacias antropizadas, conservação, rio Marapanim.
338 | Amazônia em tempo
Introdução
O bioma amazônico é caracterizado por uma densa floresta tropical
úmida que possui uma enorme biodiversidade, abundância de águas
fluviais e muitas riquezas minerais no seu subsolo. Grande parte da
floresta amazônica brasileira permaneceu praticamente intacta até o
início da era “moderna” do desmatamento, que foi intensificado com a
inauguração da rodovia Transamazônica, em 1970 (FEARNSIDE, 2005).
Atualmente a cobertura do solo na Amazônia é dominada por três
tipos de paisagem: floresta primária, floresta secundária (capoeiras em
diversos estágios de sucessão) e pastagem (SALIMON, 2003). Localizada
na Amazônia oriental, a mesorregião Nordeste Paraense representa um
importante pólo agropecuário da economia paraense (REBELLO et al.,
2011), principalmente a agricultura itinerante de derruba e queima da
vegetação secundária ou de pousio (localmente denominada como
capoeira) e o estabelecimento de amplas pastagens. Por exemplo, em três
microbacias hidrográficas no Nordeste Paraense avaliadas por Watrin et
al. (2009), áreas de floresta secundária em estágios sucessionais iniciais
foram mais representativas em duas das três microbacias, e pastagens
representaram o padrão dominante de uso da terra em todas as três
microbacias, com predominâncias da classe pasto sujo.
As atividades agropecuárias podem causar vários impactos sobre o
meio ambiente e para os recursos hídricos. Os impactos ambientais de
atividades agropecuárias decorrem principalmente de fatores, segundo
Sambuichi et al. (2012): da mudança do uso do solo, resultante do
desmatamento e da conversão de ecossistemas naturais em áreas
cultivadas, e da degradação das áreas cultivadas, causada por práticas
de manejo inadequadas. Vários autores citam diferentes impactos
sobre os recursos hídricos provenientes de atividades agropecuárias.
Markewitz et al. (2001) citam que o desmatamento, a queima da floresta
e as atividades agropecuárias alteram os fluxos de nutrientes nos
ecossistemas amazônicos, refletindo em impactos sobre a qualidade
das águas superficiais e subterrâneas. Os efeitos das mudanças de
usos da terra para a implantação de atividades agropecuárias são
Amazônia em tempo | 339
Material e métodos
Caracterização das mesobacias
A localização da área de estudo no Nordeste Paraense está apresentada
na Figura 1. A Área 1 é a mesobacia dos igarapés contíguos Buiúna
e Timboteua e pertence a Bacia Hidrográfica do Rio Marapanim. A
mesobacia fica localizada nos municípios de Marapanim e Igarapé-
Açu. Já a Área 3 é a mesobacia do Igarapé Peripindeua, que pertence
a Bacia Hidrográfica do Rio Guamá, localizada nos municípios de
Mãe do Rio e Irituia. Nas Áreas 2 e 4, localizadas em São Francisco e
Capitão Poço, respectivamente, predominam remanescentes florestais,
que representam área superior a 85% da área de cada uma dessas
microbacias, sendo assim escolhidas como microbacias de referência
para o presente estudo. A Área 2 pertence a Bacia de Marapanim e a
Área 4 pertence a Bacia do Guamá.
340 | Amazônia em tempo
Figura 1. Localização das quatro áreas alvos deste estudo: 1 (Mesobacia dos igarapés
contíguos Buiúna e Timboteua); 2 (Área de referência que contém duas microbacias
contribuintes do Rio Inhaga); 3 (Mesobacia do Igarapé Peripindeua); e 4 (Área de
referência que contém duas microbacias contribuintes do Rio Arauaí).
Amazônia em tempo | 341
Resultados e discussão
Concentração de cátions: Cálcio, Magnésio, Sódio e Potássio
As concentrações de cátions e ânions estão apresentados na Tabela 2:
Cálcio
Na Bacia de Marapanim, as maiores concentrações médias de
cálcio (Ca2+) ocorreram nos igarapés das microbacias M6, M4 e M5
(Figura 2a). Na M6 e na M5 (ambas com influência da agricultura de
derruba e queima), as concentrações médias (± erro padrão) foram
respectivamente de 41,92 (±3,97) µE L-1 e 33,92 (±1,36) µE L-1. Na M4
(com ampla área de pastagem) a concentração de Ca2+ foi de 37,27
(±2,38) µE L-1. Essas concentrações estão acima das concentrações
encontradas nas referências (MR1 e MR2), que apresentaram valores de
13,82 (±0,61) µE L-1 e 13,29 (±0,67) µE L-1.
Amazônia em tempo | 345
Tabela 2. Médias e erros-padrão das concentrações de cátions e ânions nas águas das
microbacias avaliadas.
Parâmetros CÁTIONS
Parâmetros ÂNIONS
Cl- SO42- N_NO3- P_PO43- N_NH4+
Microbacia
(µE L-1) (µE L-1) (µE L-1) (µE L-1) (µE L-1)
84,32 (± 17,74 (±
M1 11,03 (±0,41) 0,055 (±0,017) 1,71 (±0,61)
4,52) 0,26)
83,41 31,02 (±
M2 1,56 (±0,31) 0,075 (±0,017) 2,11 (±0,44)
(±2,61) 1,06)
79,50 16,03 (±
M3 6,31 (±0,29) 0,096 (±0,031) 1,88 (±0,72)
(±0,82) 0,28)
86,83 13,61 (±
M4 1,11 (±0,25) 0,054 (±0,017) 9,23 (±1,45)
(±1,99) 0,92)
79,22 16,78 (±
M5 1,72 (±0,27) 0,055 (±0,016) 2,80 (±0,78)
(±1,28) 0,54)
79,14 7,12 (±
M6 21,90 (±1,13) 0,160 (±0,090) 1,12 (±0,30)
(±0,72) 0,24)
81,61 10,99 (±
M7 2,55 (±0,18) 0,064 (±0,017) 2,28 (±0,64)
(±1,11) 0,43)
109,78 10,88 (±
MR1 17,22 (±0,54) 0,088 (±0,020) 1,73 (±0,44)
(±6,73) 0,25)
106,05 13,28 (±
MR2 7,56 (±0,51) 0,049 (±0,011) 2,35 (±0,74)
(±2,39) 0,27)
101,88 10,84 (±
G1 1,45 (±0,41) 0,092 (±0,041) 0,93 (±0,42)
(±5,06) 1,22)
98,30 7,55 (±
G2 0,83 (±0,24) 0,091 (±0,033) 1,82 (±0,46)
(±10,20) 1,14)
93,47 16,19 (±
G3 0,85 (±0,24) 0,039 (±0,010) 1,59 (±0,47)
(±9,81) 4,96)
85,62 16,43 (±
G4 3,81 (±0,42) 0,048 (±0,011) 0,86 (±0,18)
(±5,90) 1,33)
84,70 8,62 (±
G5 1,06 (±0,43) 0,033 (±0,013) 2,84 (±0,76)
(±11,50) 1,44)
90,85 15,53 (±
G6 0,51 (±0,11) 0,625 (±0,524) 4,60 (±1,52)
(±5,60) 0,77)
88,91 18,25 (±
G7 2,88 (±0,33) 0,291 (±0,144) 1,74 (±0,73)
(±9,36) 2,10)
102,55 11,59 (±
GR1 5,11 (±0,24) 0,039 (±0,013) 1,73 (±0,46)
(±5,46) 0,73)
118,95 14,53 (±
GR2 7,09 (±2,29) 0,105 (±0,038) 3,86 (±1,51)
(±7,92) 2,79)
348 | Amazônia em tempo
Figura 2. Gráficos do tipo boxplot dos valores de Ca2+ das microbacias de Marapanim
(a) e Guamá (b), contendo mediana (linha que corta a caixa), média (triângulo),
interquartis com intervalo de confiança de 95% (caixas em tom de cinza), máximos e
mínimos (barras verticais) e valores extremos (outliers, representados por asterisco),
n=12, exceto na G6 (n=11).
Magnésio
As concentrações de magnésio (Mg2+) nos igarapés das microbacias da
bacia do Marapanim (a) da bacia do Guamá (b) estão apresentadas na
Figura 3. As maiores concentrações de Mg2+ ocorreram em M6, M4 e
M5, assemelhando-se ao cálcio. Na M6, a concentração média (± erro
padrão) foi de 54,23 (±0,89) µE L-1, enquanto que na M4 foi de 37,96
(±1,74) µE L-1 e na M5 foi de 35,88 (±0,91) µE L-1. Enquanto que nas
microbacias de referências, os valores médios foram de 29,95 (±0,45) e
23,52 (±0,72) µE L-1 em MR1 e MR2, respectivamente.
Outra razão que pode explicar as altas concentrações de magnésio e
de cálcio nas águas fluviais dos igarapés sob influência de pastagem
de gado bovino (M4 e G5) é a imobilização desses elementos no
solo. Freitas et al. (2007) relataram que o esterco bovino provoca a
imobilização desses nutrientes nas camadas mais superficiais do solo,
o que os tornam mais suscetíveis a maiores perdas pelos diferentes
caminhos hidrológicos.
Figura 3. Gráficos do tipo boxplot dos valores de Mg2+ das microbacias de Marapanim (a) e
Guamá (b), contendo mediana (linha que corta a caixa), da média (triângulo), interquartis
com intervalo de confiança de 95% (caixas em tom de cinza), máximos e mínimos (barras
verticais) e valores extremos (asterístico- outliers), n=12, exceto na G6 (n=11).
350 | Amazônia em tempo
Sódio
Dentre as microbacias de Marapanim, a maior concentração média
(± erro padrão) sódio (Na+) ocorreu na M7 com 78,85 (±0,99) µE L-1,
enquanto que M6 apresentou a menor concentração com 64,82 (±1,19)
µE L-1 (Figura 4a). Essas concentrações de Na+ são menores que as das
microbacias de referência, cujos valores foram 95,32 (±1,45) µE L-1
e 82,93(±2,56) µE L-1 em MR1 e MR2, respectivamente. Também em
Guamá, há indicativo que as microbacias florestadas apresentaram
maiores concentrações médias de sódio (Figura 4b), sugerindo que os
ecossistemas florestais são importantes fontes desse nutriente para
os rios e que, com a mudança de uso da terra para a implantação de
atividades agropecuárias, esse elemento é transferido em menores
taxas para os rios.
As florestas parecem ser, portanto, determinantes para as concentrações
de sódio nas águas fluviais da região. Tal fato decorre da lavagem da
parte aérea das árvores pela água da chuva, que assim contribuem
decisivamente para o conteúdo de sódio na composição química das
águas de igarapés. Melo e Sá (2002) estudaram a água do “throughfall”
em floresta primária no Nordeste Paraense e concluíram que o sódio
foi o segundo elemento em termos de contribuição do dossel para a
química da água. Isto ocorre porque a deposição seca concentra este
elemento no dossel da floresta e a água da chuva, ao passar pelo dossel
florestal, é enriquecida com este elemento. Wickel (2004), estudando a
química de água de chuva na bacia do igarapé Cumarú, no município
de Igarapé-Açu (PA), verificou que o sódio é o cátion mais abundante
na chuva, o que indica que a principal fonte de sódio nas águas dos
igarapés pode decorrer da interação da água da precipitação com o
dossel florestal.
352 | Amazônia em tempo
Figura 4. Gráficos do tipo boxplot dos valores de Na+ das microbacias de Marapanim (a) e
Guamá (b), contendo mediana (linha que corta a caixa), da média (triângulo), interquartis
com intervalo de confiança de 95% (caixas em tom de cinza), máximos e mínimos (barras
verticais) e valores extremos (asterístico- outliers), n=12, exceto na G6 (n=11).
Potássio
A Figura 5 apresenta as concentrações de potássio (K+) nos igarapés
das microbacias da bacia do Marapanim (a) e Guamá (b). A maior
concentração média de K+ ocorreu na M4, que possui alto percentual
de área de pastagem, seguida da M6, onde a prática de derruba e
queima na agricultura foi observada, as quais apresentaram valores de
17,89 (±2,42) µE L-1 e 10,63 (±0,65) µE L-1, respectivamente. Destaca-se
Amazônia em tempo | 353
Figura 5. Gráficos do tipo boxplot dos valores de K+ das microbacias de Marapanim (a) e
Guamá (b), contendo mediana (linha que corta a caixa), da média (triângulo), interquartis
com intervalo de confiança de 95% (caixas em tom de cinza), máximos e mínimos (barras
verticais) e valores extremos (asterístico- outliers), n=12, exceto na G6 (n=11).
Figura 6. Gráficos do tipo boxplot dos valores de Cl- das microbacias do Marapanim
(a) e Guamá (b), contendo mediana (linha que corta a caixa), da média (triângulo),
Interquartis com intervalo de confiança de 95% (caixas em tom de cinza), máximos e
mínimos (barras verticais), valores extremos (asterístico- outliers), n=12.
Sulfato
Nas microbacias de Marapanim, a maior concentração média de sulfato
(SO42-) ocorreu na M2, com 31,01 µE L-1 (Figura 7a). As microbacias de
referência (MR1 e MR2) apresentaram concentrações médias (± erros
356 | Amazônia em tempo
Figura 7. Gráficos do tipo boxplot dos valores de SO42- das microbacias do Marapanim
(a) e Guamá (b), contendo mediana (linha que corta a caixa), da média (triângulo),
interquartis com intervalo de confiança de 95% (caixas em tom de cinza), máximos e
mínimos (barras verticais) e valores extremos (asterístico- outliers), n=12.
Nitrato
Em Marapanim, a maior concentração média de nitrato (N-NO3-) ocorreu
em M6 (21,89 ±1,13 µE L-1), ficando próxima da MR1, que apresentou
valores de 17,22 (±0,54) µE L-1 (Figura 8a). Já o igarapé na microbacia
M1 apresentou a segunda maior concentração de N-NO3- (11,03 (±0,41)
µE L-1), ficando próximo da concentração em MR2 (7,53 (±0,51) µE L-1).
Por outro lado, as menores concentrações de N-NO3- ocorreram nas
microbacias M2 e M4, essa última com predominância de pastagem.
Nas águas fluviais das microbacias com uso agropecuário no Guamá
(Figura 8b), os maiores valores de nitrato (N-NO3-) ocorreram na G4
(3,81 (±0,42) µE L-1) e na G7 (2,88 (±0,33) µE L-1. Essas concentrações
foram menores do que as das microbacias de referência (GR1 e
GR2), as quais, em consequência de aportes do ecossistema florestal,
tiveram as maiores concentrações de N-NO3- (5,11 µE L-1 e 7,08 µE L-1,
respectivamente).
Figura 8. Gráficos do tipo boxplot dos valores de N-NO3- das microbacias do Marapanim
(a) e Guamá (b), contendo mediana (linha que corta a caixa), da média (triângulo),
interquartis com intervalo de confiança de 95% (caixas em tom de cinza), máximos e
mínimos (barras verticais), valores extremos (asterístico- outliers), n=12.
358 | Amazônia em tempo
Fosfato
No igarapé Ubim (microbacia M6) ocorreram os maiores valores de
concentração média de fosfato (P-PO43-) (0,16 ±0,09 µE L-1) (Figura
9a). Este igarapé também apresentou valores mais altos de nitrato e
potássio, nutrientes estes que promovem crescimento excessivo de
macrófitas aquáticas, conforme já reportado anteriormente. Nas demais
microbacias, as concentrações estão na mesma faixa das microbacias
de referência, as quais apresentaram concentrações de P-PO43- de 0,08
(±0,02) µE L-1 e 0,04 (±0,01) µE L-1 em MR1 e MR2, respectivamente.
Para os igarapés da microbacia do Guamá (Figura 9b), as concentrações
mais altas de P-PO43- foram observadas em G6 e G7: 0,625 (±0,524) µE
L-1 e 0,291 (± 0,144) µE L-1, respectivamente. Essas concentrações foram
maiores que as das microbacias de referência (GR1: 0,039 (±0,013) µE
L-1; GR2: 0,105 (±0,038) µE L-1).
Na bacia do rio Marapanim, o fosfato não apresentou correlação com
nenhuma das classes de uso e cobertura da terra. Porém, na bacia do
rio Guamá, houve correlação direta entre as concentrações de fosfato
com floresta (rs=0,746 e ρ=0,000) e correlação inversa com mata de
várzea (rs= -0,627 e ρ=0,000), pastagem (rs= -0,600 e ρ=0,000), capoeira
baixa (rs= -0,569 e ρ=0,000), capoeira alta (rs= -0,512 e ρ=0,000), cultura
agrícola (rs= -0,435 e ρ=0,000) e solo exposto (rs= -0,450 e ρ=0,000).
A baixa mobilidade de fosfato na solução do solo e sua rápida absorção
pelas plantas podem ser a causa das baixas concentrações nas águas
superficiais dessas microbacias (Rezende, 2002). O maior problema
ecológico do excesso de fósforo, juntamente com o de nitrogênio, nos
ambientes aquáticos é a eutrofização, que consiste no crescimento
excessivo de algas, e que pode acarretar mortandade de peixes devido
a redução do OD em águas eutrofizadas (ESTEVES, 1998; BRAGA et al.,
2002; TELES; DOMINGUES, 2006; MILLER-JUNIOR, 2008).
Amazônia em tempo | 361
Amônio
Dentre as microbacias de uso agropecuário, aquela com maior percentual
de pastagem (M4) apresentou a concentração mais alta de amônio (N-
NH4+) (9,23 (±1,45) µE L-1) (Figura 10a). Por outro lado, M6 apresentou a
menor concentração (1,12 (±0,30) µE L-1), enquanto que nos igarapés das
microbacias de referência, as concentrações foram 1,73 (±0,44) µE L-1 na
MR1 e 2,35 (±0,74) µE L-1 na MR2. As maiores concentrações de amônio
em microbacia de pastagem estão de acordo com Neill et al. (2011),
362 | Amazônia em tempo
Figura 10. Gráficos do tipo boxplot dos valores de N-NH4+ das microbacias do
Marapanim (a) e Guamá (b), contendo mediana (linha que corta a caixa), da média
(triângulo), interquartis com intervalo de confiança de 95% (caixas em tom de cinza),
máximos e mínimos (barras verticais) e valores extremos (asterístico- outliers), com
n=12.
Amazônia em tempo | 363
Conclusões
Este estudo revela que a composição química das águas fluviais de
pequenos igarapés nas regiões estudadas está sendo influenciada
pelas práticas agrícolas adotadas em suas áreas de drenagem. Isto ficou
demonstrado pelos sinais hidrogeoquímicos diferenciados ocasionados
por prática agrícola de derruba e queima, fertirrigação, utilização de
fertilizantes químicos, conversão de florestas em pastagem e uso das
águas fluviais pelos bovinos.
Tais respostas hidrogeoquímicas nas águas fluviais das microbacias
avaliadas foram mais claras no tocante ao aumento nas concentrações
de cálcio, magnésio e potássio nas microbacias cujas áreas estavam mais
ocupadas por sistemas agrícolas de corte-e-queima da vegetação e por
pastagens. Ainda nas microbacias de pastagem observou-se também
aumento de amônio, enquanto que nas microbacias com influência
de agricultura de fertirrigação observou-se aumento de nitrato. Além
disso, detectou-se a importância das florestas como fonte de nitrato,
cloreto e sódio para os ecossistemas fluviais.
364 | Amazônia em tempo
Agradecimentos
Agradecemos a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária pelo
apoio financeiro do Projeto “Gestabacias”. Ao CNPq/CT-Hidro pelo
financiamento do Projeto “Agricultura familiar e qualidade de água
no Nordeste Paraense: Conservação de serviços agro-ecossistêmicos
em escala de bacia hidrográfica”. A Vale/FAPESPA pela concessão de
bolsa de mestrado. A CAPES pela concessão de bolsa de mestrado e
doutorado. Ao Reginaldo Frazão, técnico da EMBRAPA, pelo apoio ao
trabalho de campo.
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Variabilidade do Regime Hidrológico
da Calha do Rio Amazonas
RESUMO
A Bacia Amazônica é afetada por episódios de secas e enchentes, como El
Niño (EN), La Niña (LN), Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e Zona
de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), causando graves alterações
nos fluxos dos rios. Assim, o objetivo deste estudo é analisar como os
recursos hídricos em nossa bacia hidrográfica contribuem para o fluxo
do rio principal da bacia amazônica, bem como o seu comportamento
em face de adversidades climáticas, temporais e espaciais, de 1982 a
2012, a partir de 20 postos ao longo do principal canal da Bacia. Esse
fluxo depende das variações de seus afluentes, nas margens direita e
esquerda, e foi verificado que a tendência de aumento da vazão média
no canal coincidiu com os afluentes da margem esquerda, bacia do Rio
Negro, Trombetas e Jari. A magnitude do fluxo, depende dos afluentes
da margem direita, a bacia do rio Purus, Madeira, Tapajós e Xingu. A
sazonalidade da bacia amazônica mostra 65% do fluxo total na época
das cheias e 35% na seca e os postos ao longo do canal têm uma
tendência crescente na amplitude do fluxo médio anual, medida que se
aproxima da entrada.
Palavras chave: Vazão, eventos extremos, Amazônia.
Introdução
O Brasil detém 11,6% de toda água doce do mundo e a região Amazônica
contribui com cerca de 70% (ROCHA, 2004). Marengo (2006) afirma
que a disponibilidade de água no Brasil depende em grande parte do
clima e do tipo de cobertura do solo, logo se é alterado o uso do solo
o clima pode se modificar e consequentemente todo o balanço e a
disponibilidade de água da bacia hidrográfica. A grande disponibilidade
370 | Amazônia em tempo
Tal como em 2005, a falta de água em 2010 foi mais importante nos
afluentes tropicais do sul do alto Solimões do que nos afluentes do
norte. Entretanto segundo Aragão et al (2007), a seca de 2005 foi
causada apenas devido à Oscilação Multidecadal do Atlântico (AMO);
e a seca de 1998 por um forte EN juntamente com a AMO positivo.
Frappart et al (2012) também estudaram a seca de 2005 na Amazônia,
utilizando dados do Gravity Recovery and Climate Experiment (GRACE)
e chegaram à conclusão que a quantidade de água armazenada no
rio foi 70% menor do que a média. A seca de 2010 teve o mesmo
padrão, pois na Amazônia Central e Ocidental ouve TSM mais quente
no Atlântico Norte induzindo um deslocamento para o norte da ZCIT
(MARENGO et al, 2008; ZENG et al, 2008; MOLINIER et al, 2009; YOON;
ZENG, 2010; ESPINOZA et al, 2011). Mudanças como essas na circulação
geral da atmosfera mostram que a dinâmica do sistema oceano-terra-
atmosfera na região interage com a variabilidade da TSM (LINAGE et
al, 2014).
Na Amazônia os extremos pluvio e fluviométricos não acontecem no
mesmo espaço, no mesmo período e nem na mesma intensidade, como
comprovado por Marengo et al (2008). Por exemplo em 2005, grandes
partes da Amazônia ocidental experimentaram uma seca que afetou
a população ao longo do Rio Amazonas, do Solimões e do Madeira,
porém não afetou o centro e o leste da Amazônia; esse padrão foi
diferente do padrão das secas relacionadas ao EN dos anos em 1926,
1983 e 1998.
Vários estudos, como Zeng (2008), Yoon e Zeng (2010), Marengo et
al (2012), entre outros, mostraram que a variabilidade das chuvas na
Amazônia não é devida, somente, ao aquecimento e resfriamento da
superfície do Pacífico Leste, mas também ao Oceano Atlântico Norte
e Sul durante o período de transição entre a estação chuvosa e a seca.
Aragão et al (2007) indicam que as secas na Amazônia são causadas
por vários fenômenos meteorológicos (EN e AMO); causam impactos
diferentes em diferentes regiões da Bacia Amazônica, ou seja, as
secas associadas ao El Niño Oscilação Sul (ENSO) causam anomalias
pluviométricas e, consequentemente, anomalias na vazão, no Norte,
Centro e Leste da Amazônia; quando as secas estão associadas a AMO
as anomalias ocorrem principalmente no oeste da Amazônia. Zeng et
al (2008) também constataram as diferentes influências, na Amazônia,
Amazônia em tempo | 373
Material e Métodos
Neste estudo foram utilizados 4 postos fluviométricos, com 31 anos de
dados de vazão (m3s-1), de 1982 a 2012, da Agência Nacional de Águas
(ANA), localizados na calha do Rio Amazonas, conforme mostrado na
Tabela 1.
376 | Amazônia em tempo
Período Área de
Cod Nome Siglas Bacia Rio Latitude Longitude
de Dados Drenagem
17050001 Óbidos OB Tapajós Amazonas 1982-2012 4.670.000 -01:55:09 -55:30:47
15030000 Jatuarana JA Madeira Amazonas 1982-2012 2.930.000 -03:03:48 -59:38:52
14100000 Manacapuru MN Negro Amazonas 1982-2012 2.200.000 -03:18:38 -60:36:34
13150000 Itapéua IT Purus Amazonas 1982-2012 1.780.000 -04:03:28 -63:01:40
Resultados e Discussão
De acordo com a Figura 1, quanto mais próximo da foz (Óbidos),
maior é a vazão, com máximo de 260.000 m3s-1 e mínimo de 95.000
m3s-1 em maio e novembro, respectivamente. Já nos outros postos o
máximo ocorre em junho, com 200.000 m3s-1 em Jatuarana, 150.000
m3s-1 em Manucaturu e 110.000 m3s-1 em Itapéua; já os pontos mínimos
ocorreram em novembro, para os postos de Jatuarana (75.000 m3s-1)
e Manacapuru (60.000 m3s-1), porém em Itapéua ocorreu em outubro,
com 55.000 m3s-1.
Amazônia em tempo | 379
Figura 1. Média climatológica da vazão das estações na calha do Amazonas, entre 1982
e 2012.
380 | Amazônia em tempo
Figura 2. Distribuição sazonal das vazões das estações de Controle do Rio Amazonas
no período de 1982 e 2012.
Os anos de 1989, 2009 e 2012 foram de extrema cheia (Figura 3), pois
a vazão ficou acima do ponto de cheia, coincidindo com os anos de LN
de intensidade forte (1989 e 2009) e intensidade fraca (2012). Já para
Amazônia em tempo | 381
Figura 3. Vazões médias mensais das estações de Controle do Rio Amazonas entre de
1982 a 2012
Em 1989, que foi um ano de LN, a calha do Rio Amazonas foi afetada por
cheias com 14% acima da média em Manacapuru, 13% em Óbidos, 12%
em Jatuarana e 9% em Itapéua (Tabela 4). Já em 2012 que também foi
ano de LN, Itapéua apresentou maior vazão, com 20% acima da média,
12% em Jatuarana, 10% em Óbidos e 9% em Manacapuru. Já em 1995 e
parte do ano de 1998 ocorreu La Niña e na outra parte do ano EN, mas
o que prevaleceu foram as secas. Em 1992 a vazão foi abaixo da média
em 20, 17, 17 e 16% em Óbidos, Jatuarana, Manacapuru e Itapéua,
respectivamente; já em 1995 a vazão foi abaixo da média em 12, 11, 11
e 10% em Itapéua, Manacapuru, Óbidos e Jatuarana, respectivamente.
O ano de 2009 também apresentou parte LN e parte EN, porém ocorreu
cheia e não seca, com vazão acima da média em 18, 18, 13 e 9% em
Óbidos, Jatuarana, Manacapuru e Itapéua, respectivamente. Já 1994,
que foi ano de EN, provocou cheia em toda a calha, diferente do que
aconteceu nas sub-bacias, pois somente Canutana apresentou cheia,
com 14% de vazão acima da média. Por fim tem-se o ano de 1993,
que não foi um ano que apresentou evento de EN nem LN, porém em
Jatuarana, Manacapuru e Itapéua a vazão ultrapassou a média em 10,
09 e 11%, respectivamente.
Amazônia em tempo | 383
Estações de Controle
ESTAÇÕES 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
Óbidos -17 +13 -10 -20 +15 -11 -14 +18 +10
Jatuarana -14 -20 +14 -17 +10 +14 -10 -10 +18 +12
384 | Amazônia em tempo
Manacapu-
+12 +12 -09 -17 +09 +15 -11 -18 +13 -10 +09
ru
Itapéua +09 -16 +11 +13 -12 -08 +09 -10 +20
Conclusões
Óbidos contribui significativamente para a manutenção da vazão do
rio Amazonas, pois tem uma regularização natural alta durante o ano e
sua climatologia nos últimos 31 anos não teve variações marcantes. Os
postos ao longo da calha principal possuem uma tendência de aumento
na amplitude da vazão média anual conforme se aproxima da foz. As
maiores variações da vazão entre os postos da calha ocorreram nos
períodos de cheia, já nos períodos de seca as vazões foram próximas
umas das outras.
A sazonalidade da bacia Amazônica apresenta 65% do total da vazão
na época cheia e 35% na época seca, porém a variação da sazonalidade
também ocorre espacialmente nos afluentes da margem esquerda,
a época chuvosa ocorre de outubro a março e a época seca de abril
a setembro. Nos afluentes da margem direita a época chuvosa vai
de fevereiro a junho e a época seca de julho a janeiro, pois há uma
compensação da vazão entre os afluentes. Através das análises feitas as
secas mais severas ocorridas influenciaram pouco a vazão dos postos
da calha central e leste do Rio Amazonas, comparando com a parte
ocidental, influenciando mais os postos dos afluentes mais próximos
do Solimões.
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Padrões climáticos de precipitação
e a produção de soja na Amazônia
RESUMO
Nesta pesquisa estudou-se a modulação da precipitação através de
fenômenos oceano-atmosfera de grande escala atuantes nos oceanos
adjacentes à região amazônica e que tiveram suas intensidades
representadas por indicadores numéricos conhecidos como índices
climáticos (IOS - Índice de Oscilação Sul, ODP - Oscilação Decadal do
Pacífico, OAN - Oscilação do Atlântico Norte). A partir de uma série
de 32 anos de dados de precipitação do GPCP (Global Precipitation
Climatology Project). Aplicou-se a EOF (Funções Ortogonais Empíricas)
para a escala mensal onde foram obtidos padrões espaciais e temporais
da precipitação. A EOF1 (58%) apresentou um padrão meridional de
precipitação associado em maior parte, à atuação de fenômenos de
escala sinótica. A EOF2 (21%) também apresenta o mesmo padrão de
precipitação porém contrário ao primeiro, refletindo os efeitos da fase
fria da OAN. No entanto, na EOF3 (5%) o padrão espacial é representado
por um padrão zonal de precipitação, refletindo o efeito do ENOS
(El Niño-Oscilação Sul) e ODP. Os três índices climáticos estudados
mostraram-se presentes na modulação da precipitação da Região
Amazônica. Paragominas mostrou tendência positiva de crescimento
das chuvas, com alta correlação entre a precipitação local e a série do
IOS, com defasagem de 1 mês e de 2 meses.
Palavras-chave: Modulação, EOF, clima, Paragominas.
Introdução
A complexa interação entre as variáveis climáticas na bacia Amazônica
tem importantes implicações no potencial climático, tanto globalmente
como localmente. Isso ocorre porque a Amazônia é uma região escassa
de dados, o que gera nocivas consequências como uma má quantificação
das variáveis climáticas. Segundo Santos de Oliveira e Nobre (1986), a
390 | Amazônia em tempo
Material e Métodos
A região amazônica foi selecionada para ser a área de estudo deste
trabalho, por apresentar grande variabilidade de precipitação climática
espacial e temporal em associação a mecanismos de acoplamento
oceano-atmosfera. A Figura 1 mostra as regiões oceânicas de atuação
da OAN, da ODP e do ENOS, e a área da Amazônia legal para análise
da precipitação.
Onde, COV representa a covariância; X,Y as variáveis em questão; σX, σY
o desvio padrão da variável.
Valores próximos de +1 indicam forte correlação direta entre as séries,
ou seja, à medida que uma determinada grandeza física cresce ou
diminui em sua magnitude, a outra apresenta a mesma tendência,
enquanto que valores próximos de -1 indicam forte correlação inversa,
ou seja, as grandezas físicas apresentam comportamentos contrários.
Valores em torno de zero indicam ausência de correlação.
A correlação foi calculada entre o Índice de Oscilação Sul e a precipitação
no munícipio de Paragominas, no leste da região. Foram escolhidos os
anos considerados extremos em relação às fases do ENOS, representadas
por valores altos e baixos do IOS. Para os anos de eventos em que
se caracterizou a fase quente do ENOS (El Niño), em cada um destes
anos, foram extraídos períodos com defasagem de seis meses, ou seja,
quando se observa um decréscimo bem acentuado no valor do índice
(novembro-abril). Em relação aos anos em que se caracterizou a fase
fria do fenômeno (La Niña), foram extraídos períodos com defasagens
de um mês e dois meses, quando se observa um aumento no valor do
índice.
Cohen (1988) fez uma classificação hierárquica de acordo com o nível
dos scores calculados na correlação linear de Pearson, e os classificou
como pequenos, médios e grandes. Porém, anos mais tarde, Dancey e
Reidy (2005) apontaram para uma classificação mais ampla, onde: r =
Amazônia em tempo | 395
0,10 até 0,30 (fraco); r = 0,40 até 0,60 (moderado); r = 0,70 até 1 (forte).
A partir das regiões homogêneas obtidas dos padrões climáticos de
precipitação, foram usadas às séries temporais de precipitação mensal
das respectivas regiões, aplicada a correlação de Pearson à série do
Índice de Oscilação Sul (IOS), a fim de se obter o entendimento dos
mecanismos moduladores de precipitação na Amazônia. Com isso,
buscou-se fazer correlações com defasagem de tempo para o IOS, em
relação à precipitação do município de Paragominas no Pará.
Este município foi escolhido por estar localizado na porção leste da
Amazônia, onde estudos apontam significativos efeitos do ENOS nas
chuvas desta região, e também por este município ter apresentado
nos últimos anos expressivo aumento na produção de soja, segundo
o IBGE. A precipitação de Paragominas também foi relacionada com a
climatologia de 30 anos, a partir de dados da ANA.
Os episódios de El Niño e La Niña, considerados nesta pesquisa, seguem
o critério utilizado por Ropelewisky e Halper (1987). Estes autores
determinam como anos de manifestações quentes, os que apresentam
cinco meses consecutivos de Índice de Oscilação Sul (IOS) menor ou
igual a 0,5, e os que apresentam anos de manifestações frias aqueles
com cinco meses consecutivos com IOS maior ou igual a 0,5.
Na tentativa de se fazer uma abordagem mais detalhada do efeito dos
oceanos na região de estudo, foram selecionados estudos de caso em
que eventos extremos de clima favoreceram ou desfavoreceram as
chuvas da região, como o El Niño de 1982/1983, a La Niña de 1984/1985
e a seca severa de 2005.
Resultados e Discussões
Os três primeiros modos explicam 84% da variância total dos dados
mensais de precipitação. A Figura 2a mostra o primeiro modo (autovetor)
da EOF, que explica 58% da variância total dos dados de precipitação. De
acordo com os resultados obtidos, os padrões espaciais dos autovetores
extraídos da EOF1 e EOF2 são opostos, portanto ortogonais.
396 | Amazônia em tempo
Para o terceiro modo da EOF mensal (Figura 4a), o sinal positivo cobre
toda a parte ocidental da área de estudo, ficando a parte oriental
com sinais negativos, áreas significativas ao nível de 95%. Portanto,
este modo exibe um padrão zonal de precipitação, o qual explica 5%
da variância total. O score temporal (Figura 4b) apresenta tendência
negativa nos valores, a qual é significativa ao nível de confiança de
95%, ou seja, o padrão espacial apresenta uma tendência de inversão
ao longo da série, com valores positivos na parte leste da região e
negativos na parte oeste, também se assemelha à série do IOS no que
diz respeito aos anos de 1982-1983, 1984-1985, durante eventos da
fase quente e fria do fenômeno ENOS, respectivamente. Este padrão
zonal é semelhante ao encontrado por Matsuyama et al. (2002) os quais
relacionaram em maior dominância às condições oceano-atmosféricas
do Pacífico, associadas à atuação do ENOS.
A apresentação destes resultados foi feita com base na relação entre
índices climáticos (IOS, ODP, OAN) e a precipitação para o município
de Paragominas-PA, localizado no leste da Amazônia. As análises foram
feitas a partir de correlações defasadas para diferentes lags de tempo
de 1 mês e 2 meses entre as séries.
A Figura 5 abc mostra acumulados mensais de precipitação dos
dados do GPCP e a média climatológica mensal calculada com dados
da Agência Nacional de Águas (ANA), com o intuito de observar o
comportamento das chuvas no extremo leste da Amazônia, em relação à
média climatológica e ao Índice de Oscilação Sul (IOS). Essa observação
é feita a partir de anos de eventos extremos do ENOS, os quais são
mostrados na Tabela 1 de acordo com sua intensidade (ROPELEWISKY;
HALPER, 1987).
400 | Amazônia em tempo
Tabela 1. Ocorrências de ENOS para as fases, positiva (32% de El Niño) e negativa (32%
de La Niña), 36% Neutro, de acordo com as intensidades forte, fraca e moderada.
Conclusões
O objetivo deste trabalho foi estudar os padrões de variabilidade
climática representada pela precipitação nas escalas das oscilações
interanuais e decadais, e seus aspectos produtivos de soja na presença
de eventos extremos de precipitação em Paragominas, no leste da
Amazônia.
Para a escala mensal, a EOF1 (58%) mostra que as chuvas na Amazônia
apresentam um padrão meridional (Norte-Sul), e estão mais concentradas
na parte norte. Apesar da influência do Pacífico sobre esta região, estas
chuvas estão associadas, em maior parte, com a atuação de fenômenos
atmosféricos de escala sinótica. A EOF2 (21%) também apresenta um
padrão de precipitação no sentido norte-sul, porém oposto ao primeiro,
com chuvas mais concentradas na parte sul, refletindo o efeito da fase
negativa da OAN. Na EOF3 (5%), a espacialidade das chuvas apresenta
um padrão zonal (Leste-Oeste), que reflete as condições anômalas do
Pacífico, mediante as fases do ENOS e da ODP.
A precipitação na porção leste da Amazônia, representada nesta
pesquisa pelo município de Paragominas, foi bem correlacionada com
a série do IOS, em anos de eventos extremos, com defasagem de 1 mês
Amazônia em tempo | 407
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408 | Amazônia em tempo
RESUMO
A Região Metropolitana de Belém é abastecida com água potável
pela Companhia de Saneamento do Pará (COSANPA), que utiliza os
mananciais do Utinga, lagos Bolonha e Água Preta, considerados os
mais importantes da região, responsáveis pelo abastecimento de 75%
dessa população. Os mananciais recebem diuturnamente contribuição
das águas do rio Guamá, para manter seus níveis de água. A amostragem
das águas (superficiais e fundo) foi feita em 12 pontos, 11 no lago
Água Preta e 1 no lago Bolonha. Todas as coletas foram realizadas com
o auxílio de uma garrafa hidrológica (Niskin). O trabalho teve como
objetivo estudar os parâmetros abióticos como temperatura, turbidez,
cor aparente, condutividade elétrica, pH, oxigênio dissolvido, nitrato,
N-amoniacal, fosfato, sólidos suspensos e transparência da água, para
avaliar seu comportamento frente a sazonalidade e hidrologia nos
lagos. As variáveis hidrológicas estudadas foram vazões de entrada
e saída dos lagos, precipitação pluviométrica, variação dos níveis de
água e variação dos volumes de água. A batimetria no lago Água Preta
foi realizada para obter dados atuais de profundidades médias. Aos
resultados foi aplicado um tratamento estatístico a fim de avaliar as
relações entre os parâmetros estudados. Os parâmetros turbidez, cor
aparente e sólidos suspensos tiveram concentrações mais elevadas
no período de menor precipitação pluviométrica e apresentaram
valores variando entre 4 e 59 UNT; 15 a 550 mg L-1 Pt Co e 1 a 57
mg L-1, respectivamente. A condutividade elétrica mostrou distribuição
semelhante à dos parâmetros físicos analisados, com maiores
concentrações no período de menor precipitação pluviométrica, e
variou de 35,40 µS/cm-1 a 149,70 µS/cm-1. Os nutrientes estudados
(nitrato, N-amoniacal e fosfato) apresentaram valores máximos de 1,4
mg L-1, 1,34 mg L-1 e 1,6 mg L-1, respectivamente.
Palavras-chave: Hidroquímica, batimetria, Região Metropolitana de Belém.
412 | Amazônia em tempo
Introdução
Rebouças (2004) comenta que parece paradoxal que apesar de a água ser
tão familiar e reconhecidamente um componente essencial da estrutura
e do metabolismo de todos os seres vivos, ela não seja o elemento
melhor conhecido no planeta. As propriedades deste líquido permitem
usos e funções múltiplas, essenciais para o modelo de desenvolvimento
das sociedades humanas, destacando-se: abastecimento (consumo),
irrigação, regulação térmica, produção de energia, navegação, diluição,
meio para reações, pesca, aquicultura, transporte e tratamento de
rejeitos (ANDREOLI; CARNEIRO, 2005).
O homem tem utilizado em suas atividades aproximadamente 2,5
vezes mais água que o volume disponível nos rios do planeta; esse fato
tem obrigado a uma crescente necessidade de exploração de novas
fontes hídricas em quase todas as regiões do planeta, como lençóis
subterrâneos e criação de lagos para conservação e regularização
da disponibilidade (PEGORINI et al, 2005). Numerosos são os casos
de ações voltadas para corrigir ou prevenir os impactos negativos
resultantes da visão equivocada de que a água é um bem abundante
e inesgotável, além da ausência de medidas conservacionistas e o uso
inadequado dos recursos hídricos, que trazem como consequência a
contaminação dos mananciais e a escassez de água para abastecimento
de cidades (CUNHA, 2003).
No Brasil, muitos ecossistemas lacustres e lagunas foram afetados com
a dinâmica da urbanização em suas bacias de drenagem. As lagoas
Rodrigo de Freitas, Araruama e Saquarema, no Rio de Janeiro, a lagoa
da Conceição, em Florianópolis, as lagoas de Mundáu e Manguaba, em
Maceió, as lagoas de Vargem das Flores e Pampulha, em Belo Horizonte
e o lago Paranoá, em Brasília, são alguns exemplos, dentre muitos
outro de ecossitemas aquáticos continentais, que sofrem a pressão da
ocupação urbana (RIBEIRO, 1992). Em Belém, os lagos Água Preta e
Bolonha constituem os principais mananciais de água superficial para
o abastecimento público da Região Metropolitana, composta ainda
pelos municípios de Ananindeua, Santa Bárbara, Benevides e Marituba,
atendendo a aproximadamente 75% da população.
Amazônia em tempo | 413
Material e Métodos
Os pontos de amostragem foram distribuídos espacialmente em 10
(dez) pontos no lago Água Preta; 01 (um) ponto no canal de ligação
entre os dois lagos e 01 (um) ponto no lago Bolonha. Os pontos
foram escolhidos de forma que fosse possível avaliar as influências
das dinâmicas de fluxo de água nos lagos, que se dá pela contribuição
do sistema de adução de água do rio Guamá e pela precipitação
pluviométrica, que juntos determinam os níveis de água nos lagos e
que seguramente contribuem para o quimismo do ambiente (Figura 1).
As coletas foram iniciadas no mês de fevereiro de 2006 e realizadas
mensalmente até janeiro de 2007, de maneira a se obter dados do
período de maior precipitação pluviométrica (dezembro a maio) e do
período de menor precipitação pluviométrica ( junho a novembro). As
amostras foram coletadas na superfície (isóbata de 30 cm) e a 40 cm
acima da camada superficial do sedimento do fundo do lagos. Para a
realização das coletas foi utilizada uma garrafa de Niskin.
Os parâmetros abióticos investigados no estudo foram pH, temperatura,
oxigênio dissolvido, transparência (sendo que para os quatro primeiros
as medidas foram feitas em campo e os demais parâmetros foram
determinados em laboratório); turbidez, cor aparente, condutividade
elétrica, nitrato, N-amoniacal, fosfato, e sólidos suspensos totais,
totalizando 3.456 análises no decorrer do trabalho. Para as leituras dos
valores de pH das amostras foi utilizado um pH-metro portátil da marca
PHTEK.
Amazônia em tempo | 415
Figura 1. Localização dos pontos de coleta nos lagos Bolonha e Água Preta (© 2017
Google, CNES/Airbus).
Variáveis hidrológicas
As vazões de entrada foram obtidas do cálculo baseado em planilhas
operacionais, das horas diárias trabalhadas das 04 bombas modelo
24QL19 com vazão de 5.400 m³/h, 550 CV de potência e 24 MCA,
que realizam o bombeamento das águas do rio Guamá para o lago
Água Preta o qual mantém o nível do lago Bolonha por gravidade
através de um canal de ligação. Assim, de certa forma, a variação
sazonal é também regulada por este abastecimento artificial. Todas as
informações hidráulicas foram obtidas na Companhia de Saneamento
do Pará (COSANPA).
Para esse trabalho as variáveis hidrológicas estudadas foram: precipitação
pluviométrica, vazão de entrada (I) e de saída (Q) do sistema Bolonha
Água Preta e variação dos níveis de água nos lagos. Os dados mensais
de precipitação pluviométrica foram obtidos da estação meteorológica
de Belém localizada a -1,4350° S e -48,4377° W, operada pelo Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET). Os cálculos de área e volume
foram realizados no software Arc GIS 9.1, utilizando as ferramentas da
Amazônia em tempo | 417
Onde:
Evap = evaporação;
Inf = infiltração;
Esc = Escoamento (drenagens e estrangulamentos).
418 | Amazônia em tempo
Resultados e Discussões
A precipitação pluviométrica total registrada nos lagos no período de
fevereiro de 2006 à janeiro de 2007 foi de 3.578,8 mm. Os maiores valores
registrados foram no período chuvoso (dezembro-maio). Observou-se
nos meses de março e dezembro valores de 685,6 mm e 519,8 mm,
respectivamente. No período de menor precipitação pluviométrica
foram registrados valores mínimos e máximos de 106 mm ( julho/2006)
e 240,9 mm (novembro/2006) (Figura 2).
Tabela 3. Valores médios, máximos e mínimos e desvio padrão (DP) de temperatura (ºC)
nos lagos Bolonha e Água Preta.
Tabela 4. Valores médios, máximos, mínimos e desvio padrão (DP) da turbidez (UNT)
nos lagos Bolonha e Água Preta.
Tabela 5. Valores médios, máximos, mínimos e desvio padrão da cor aparente (mg L-1P
t Co) nos lagos Bolonha e Água Preta.
pH
O pH oscilou entre 5,7 (superfície) no mês de dezembro a 7,06 (fundo)
no mês de fevereiro. Com relação à distribuição da média de pH durante
o período estudado, menor valor (5,98), ocorreu no mês de dezembro
e o maior (6,93) no mês de junho (Tabela 7).
434 | Amazônia em tempo
Tabela 7. Valores médios, máximos, mínimos e desvio padrão (DP) de pH nos lagos
Bolonha e Água Preta.
Figura 12. Distribuição superficial do pH com base na média obtida em cada ponto.
Antes da entrada para o lago Água Preta a água passa por um processo
de aeração no momento que sai da tubulação de adução e passa para
uma calha que leva essa água até o lago, o que favorece a distribuição
desse gás. A diminuição desse gás ocorre pela oxidação da matéria
orgânica, respiração dos organismos, oxidação dos íons metálicos,
além da perda para atmosfera. Conforme é apresentado na Figura
14, verificou-se que as maiores concentrações de oxigênio dissolvido
438 | Amazônia em tempo
Figura 14. Distribuição superficial do oxigênio dissolvido (mg L-1) com base
na média obtida em cada ponto.
Figura 18. Distribuição vertical da média de nitrato (mg L-1) nos pontos
de amostragem.
Tabela 10. Valores médios, máximos, mínimos e desvio padrão (DP) de N-amoniacal nos
lagos Bolonha e Água Preta.
Tabela 11. Valores médios, máximos, mínimos e desvio padrão de fosfato nos lagos
Bolonha e Água Preta.
Figura 24. Distribuição vertical do teor de fosfato (mg L-1) nos pontos de
amostragem.
Tabela 12. Valores médios, máximos e mínimos e desvio padrão (DP) de sólidos
suspensos nos lagos Bolonha e Água Preta.
Tabela 13. Valores médios, máximos e mínimos e desvio padrão (DP) da transparência
nos lagos Bolonha e Água Preta.
Mês da Coleta Média Mensal DP Mínimo Máximo
Fevereiro/2006 1,05 0,29 0,40 1,40
Março/2006 1,00 0,20 0,75 1,50
Abril/2006 1,11 0,15 0,95 1,40
Maio/2006 0,81 0,12 0,70 1,00
Junho/2006 0,77 0,14 0,60 1,10
Julho/2006 0,74 0,24 0,50 1,30
Agosto/2006 0,64 0,22 0,35 1,10
Setembro/2006 0,78 0,30 0,45 1,20
Outubro/2006 0,65 0,18 0,40 1,00
Novembro/2006 0,89 0,27 0,55 1,45
Dezembro/2006 1,03 0,23 0,70 1,40
Janeiro/2007 1,05 0,23 0,70 1,40
Conclusões
O ciclo hidrológico dos lagos, apesar de ter forte contribuição mecânica
(bombas adutoras de água para os lagos), sofre influência da precipitação
pluviométrica em quantidade e qualidade das suas águas. Pela análise
dos resultados dos parâmetros abióticos estudados, observa-se que os
lagos apresentam certa capacidade de assimilação da carga orgânica
autóctone ou alóctone em seu ecossistema. As características físicas
dos lagos favorecem a sedimentação de partículas em suspensão, que
faz com que os lagos funcionem como um pré-tratamento (decantação)
antes da entrada da água para a ETA.
A maioria dos parâmetros abióticos estudados tem suas variações de
concentrações com tendências definidas em relação à precipitação
pluviométrica e à variação dos níveis de água no período estudado.
A transparência de Secchi foi maior nos meses mais chuvosos com a
diluição das águas captadas do rio Guamá. A temperatura da água
sofreu variações referentes aos períodos de maior e menor precipitação
pluviométrica; os valores de temperatura do ar ficaram um pouco
abaixo dos valores registrados na água.
Os valores médios mensais de pH foram típicos da região amazônica; o
oxigênio dissolvido não apresentou variações médias acentuadas nos
períodos de maior e menor precipitação pluviométrica. Os valores de
turbidez, cor aparente e sólidos suspensos (parâmetros físicos) tiveram
variações semelhantes durante o período estudado, maiores valores
nos períodos de menor precipitação pluviométrica, e concentrações
mais elevadas em pontos próximo a entrada do rio Guamá.
A condutividade elétrica registrou valores mais elevados no período
de menor precipitação pluviométrica, seguindo uma distribuição
semelhante à dos parâmetros físicos analisados. De maneira geral
456 | Amazônia em tempo
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Seleção de pontos de amostragem para
monitoramento de qualidade de água em
escala de microbacia na Amazônia
RESUMO
Nas mesobacias dos igarapés contíguos Timboteua e Buiuna e do
igarapé Peripindeua, foram amostradas 96 microbacias, com o objetivo
de selecionar as mais adequadas para a realização de estudos dos efeitos
do uso da terra sobre a qualidade da água em pequenos igarapés. Para
a seleção das microbacias foram adotadas duas estratégias: a primeira
relaciona-se a medições “in situ” de parâmetros físico-químicos como
oxigênio dissolvido, pH, condutividade elétrica e temperatura da água;
e a segunda relaciona-se à consideração de fatores ambientais como
área da microbacia, presença de uma classe predominante de uso da
terra, possibilidade de pareamento de microbacias de características
biofísicas similares, porém com usos da terra diferentes, e aspectos de
logística relativos ao acesso aos locais de coleta de amostras e medidas
hidrológicas e de qualidade de água. A seleção permitiu a escolha de 19
microbacias, sendo oito microbacias na chamada Área 1 (Igarapé-Açu
e Marapanim) e sete na Área 2 (Mãe do Rio e Irituia). Adicionalmente,
foram selecionadas duas microbacias em duas áreas de referência,
ocupadas por floresta primária, com as mesmas condições climáticas
e pedológicas das Áreas 1 e 2, respectivamente. A condutividade
elétrica e o oxigênio dissolvido foram as variáveis mais sensíveis como
indicadores dos impactos do uso da terra ocorrendo inter-relação
desses parâmetros físico-químicos com o uso da terra nas microbacias
avaliadas.
Palavras-chave: Uso da terra, nordeste paraense, microbacias
hidrográficas.
468 | Amazônia em tempo
Introdução
A avaliação e a classificação da qualidade das águas superficiais
dependem da utilização e aperfeiçoamento dos procedimentos de
monitoramento ambiental. Como a evolução da sociedade humana
tem uma relação direta com a disponibilidade dos recursos hídricos
(TELLES, 2013), os avanços nas técnicas de monitoramento ambiental
promovem demandas cada vez maiores em todos os setores produtivos
da sociedade atual, principalmente nas atividades agrícolas, que fazem
o maior uso global dos recursos hídricos.
Para implementação de atividades de monitoramento de qualidade
de água, faz-se necessário a realização de um estudo prévio de
caracterização da área a ser monitorada, associado a um levantamento
das informações disponíveis em literatura, e a elaboração daquelas
que precisam ser coletadas. Mediante isso, elabora-se um plano de
amostragem a ser executado (BARTRAM; BALANCE, 1996).
Esse plano faz parte de uma das etapas para a caracterização da área
de estudo e não tem um protocolo definido, pois deve ser baseado nas
peculiaridades do local que será observado e mensurado. No entanto,
o sucesso das etapas posteriores como, coleta de dados, análises
de laboratório, interpretação e publicação dos dados e tomadas de
decisão, é condicionado a ele (BRASIL, 2011).
O monitoramento ambiental de qualidade de água é um conjunto
de procedimentos que abrange desde medições e observações
uniformizadas ao longo do tempo do ambiente aquático, até
diagnósticos para definição das condições dos recursos hídricos em
um determinado momento. Os estudos são realizados a fim de definir
status e tendências de variáveis ambientais qualitativas e quantitativas
(CHAPMAN, 1996; BRASIL, 2011).
Tais procedimentos de medições, observações e diagnósticos têm sido
realizados não somente para avaliar como a qualidade de água é afetada
por contaminantes, mas também para estimar fluxos de nutrientes ou
poluentes descarregados por rios ou águas subterrâneas para lagos e
Amazônia em tempo | 469
Material e Métodos
Área de Estudo
Nas bacias hidrográficas do rio Marapanim (Área 1) e do rio Guamá
(Área 2), localizadas na mesorregião do nordeste paraense (Figura 1),
foram escolhidas duas áreas para estudo, as mesobacias dos igarapés
contíguos Timboteua e Buiuna (8.750 ha) e do igarapé Peripindeua
(15.000 ha), em que foram percorridas e avaliadas 96 microbacias.
O clima predominante é do tipo climático Ami e do sub-tipo climático
Am2 (Kôppen), com temperatura média anual de aproximadamente
26,5°C, precipitações pluviométricas elevadas com cerca de 2500-3000
mm, concentrando-se entre os meses de janeiro a junho, e umidade
relativa do ar entre 80-85% (média anual) (MARTORANO et al., 1993;
PACHÊCO; BASTOS, 2006). Entre os meses de julho a dezembro, ocorre
um período de estiagem caracterizado por precipitações inferiores a 60
mm (SUDAM, 1984).
Amazônia em tempo | 471
Delineamento experimental
A escolha prévia dos pontos de medição nos cursos dos rios Marapanim
e Guamá foi feita através das imagens de satélite. Buscou-se microbacias
com potencial para monitoramento de qualidade de água de pequenos
igarapés, para avaliação de impactos relacionados ao uso da terra.
Para definição da escala adotada nesse estudo, optou-se pela
classificação proposta por Richey et al. (1997) para as bacias hidrográficas
da Amazônia: microbacias (áreas menores que 10 km2); mesobacia (área
de aproximadamente 10.000 km2); e a Bacia do rio Amazonas (com
aproximadamente 7 x 106 km2).
Amazônia em tempo | 473
Procedimentos de campo
Para a caracterização dos parâmetros físico-químicos dos cursos d’água,
foram realizadas medidas de campo, a partir de métodos baseados
em protocolos recomendados pela APHA (1995) e CETESB (1978), de
acordo com a tabela abaixo:
Análise estatística
Classificou-se por nível de antropização do ambiente, a partir dos
parâmetros físico-químicos, utilizando uma análise de agrupamento
hierárquico (cluster) calculados através da distância euclidiana para
cada mesobacia, de acordo com a fórmula:
Amazônia em tempo | 477
Resultados e Discussão
A partir da hidrografia digitalizada de cartas topográficas em escala
1:100.000, utilizada para escolha prévia das microbacias, o primeiro
passo para a seleção foi a confirmação desses pontos no campo e a
eliminação de pontos com poluição pontual, como: poluição por causa
de lavagem de mandioca e lavagem de roupa, assoreamento, nível de
água insuficiente e desmatamento total da vegetação ripária. Dessa
forma, nas Áreas 1 e 2 foram eliminados, 6 e 3% dos pontos visitados,
respectivamente.
Com a ajuda do mapa de classificação de uso e cobertura da terra (ano
base 2008; escala 1:50.000), fotografias e imagens do google Earth, as
microbacias restantes foram agrupadas a partir das classificações de uso
e cobertura da terra, definida neste estudo. Após esse procedimento,
analisaram-se os conjuntos de microbacias de cada área, por categoria
de uso da terra (Figura 3).
Na mesobacia Timboteua e Buiuna, 44% das microbacias
corresponderam a categoria de agricultura de derruba-e-queima
(Figura 3), demonstrando uma predominância desse tipo de manejo na
região, com uma ocorrência bastante representativa em Igarapé-Açu
e Marapanim (SILVA et al., 1999). A agricultura tradicional de derruba-
e-queima, amplamente difundida não apenas na Amazônia, mas em
outras regiões dos trópicos úmidos, como Indonésia (TOMICH et al.,
1998) e África, acelera o empobrecimento dos solos, devido ao uso do
fogo após curtos períodos de pousio (HÖLSCHER et al., 1997; METZGER,
2002).
A categoria de pastagem abrangeu 37% dos pontos visitados e,
segundo a classificação de uso e cobertura da terra, representou 30%
do total da bacia estudada. Na Amazônia a mudança de uso da terra de
floresta nativa para pastagem foi acelerada a partir de 1970 (FEARNSIDE,
1996). No nordeste paraense, o padrão de início de estabelecimento
da pecuária é baseado no processo sucessivo de derruba-e-queima
da floresta secundária (capoeira), com práticas degradantes como
superpastejo (SARMENTO et al., 2010).
478 | Amazônia em tempo
Figura 7. Microbacias selecionadas na Áreas 1 e 2 (Fonte: Google Earth, 2009), com suas
respectivas áreas de referência destacadas.
Conclusão
As duas estratégias adotadas, medições de parâmetros físico-químicos
em campo e análise de fatores ambientais, permitiram a seleção das
melhores opções dentre as microbacias analisadas para facilitar a
avaliação das relações entre o uso da terra e a qualidade da água de
pequenos igarapés, no meio rural do Nordeste Paraense. Observou-
se que, as áreas de agricultura com derruba-e-queima e de pastagem
apresentaram qualidade de água inferior a dos demais usos e cobertura
da terra nas duas mesobacias avaliadas.
Todos os parâmetros físico-químicos avaliados (pH, oxigênio dissolvido,
condutividade elétrica e temperatura) nas microbacias apresentaram
inter-relação com o uso da terra, pois suas medidas sofreram sensíveis
alterações. No entanto, a condutividade elétrica e o oxigênio dissolvido
foram os parâmetros de melhor eficiência para classificação e seleção
das microbacias.
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Conselho Editorial,
Organizadores e Autores
Organizadores
Conselho Editorial
Diógenes Salas Alves
Pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Serviu no
Grupo de Trabalho I do IPCC e nos Comites Científicos Internacionais do
Experimento de Grande-Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) e do
projeto LUCC do IGBP/IHDP.
Milton Kanashiro
Atua como Pesquisador A, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa Amazônia Oriental, Belém-PA). Membro do Comitê Gestor do
Projeto Internacional “Identification of Timber Species and Origins” (Bioversity
Internacional/CGIAR, 2012-2014). Presidente do GT Portifólio Recursos
Florestais Nativos, Embrapa desde mai.2013 e Presidente da Comissão de
Cooperação Internacional da Embrapa Amazônia Oriental, a partir de abril
2015.
Autores
Agricultura, 15, 25, 28, 31, 52, 55, 60, 62, 70, 71, 9, 10, 36, 42, 43, 47,
49, 50, 52, 70, 98, 102, 105, 107, 110, 111, 112, 113, 115, 116, 129,
182, 214, 215, 218, 219, 225
Agroecossistemas familiares, 69
Áreas de Endemismos, 23
Biodiversidade, 5, 11, 12, 13, 15, 18, 19, 23, 24, 35, 40, 41, 42, 43, 44,
66, 69, 75, 8, 36, 37, 40, 41, 42, 43, 45, 46, 48, 49, 67, 68, 69, 70, 71,
73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 98, 116, 121, 155, 228
Biotecnologia, 67, 68, 69, 70, 71, 74, 75, 79, 80, 82
Carbono pirogênico, 6, 181, 182, 183, 185, 186, 188, 189, 232
Caxiuanã, 143, 144, 146, 147, 148, 149, 150, 187, 192, 193, 194, 195,
196
Hidroquímica, 152
502 | Amazônia em tempo
Malária, 83, 84, 86, 89, 90, 92, 93, 94, 95, 96, 97
Nordeste Paraense, 6, 44, 56, 98, 99, 102, 105, 106, 110, 114, 115,
116, 217, 225, 227
Palma de óleo, 5, 35, 37, 38, 40, 43, 44, 5
Pastagens, 28, 36, 39, 40, 59, 63, 41, 42, 48, 98, 99, 102, 107, 110,
111, 112, 113, 215, 219, 222
Práticas tradicionais, 36, 42, 51, 73
Qualidade de água, 6, 114, 213, 214, 216, 217, 218, 219, 225
Quilombolas, 5, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49,
50, 51, 72, 73
Recursos hídricos, 6, 9, 42, 46, 66, 68, 74, 75, 32, 98, 99, 110, 113,
114, 117, 118, 152, 179, 213, 214, 225, 228, 230, 232
Rio Caripi, 5, 55, 56, 57, 58, 60, 63, 64, 66
Sazonalidade, 118, 123, 126, 134, 152, 163, 178, 201, 205, 206, 210
Segurança,, 53, 59, 60
Solos amazônicos, 181, 232
Sustentabilidade, 5, 17, 19, 66, 68, 69, 71, 73, 76, 78, 80, 1, 4, 65, 114,
116, 219, 233
Vila de Cuiarana, 5, 46, 47, 48, 50, 52, 53
Zona costeira, 7, 33
Zonas ripárias, 55, 56, 66, 208