Karina Gomes Giusti: A Medicalização Da Infância
Karina Gomes Giusti: A Medicalização Da Infância
Karina Gomes Giusti: A Medicalização Da Infância
A MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA:
UMA ANÁLISE SOBRE A
PSIQUIATRIZAÇÃO DA INFÂNCIA
E SUA INFLUÊNCIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
Florianópolis
2016
2
Inclui referências
A MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA:
UMA ANÁLISE SOBRE A PSIQUIATRIZAÇÃO DA INFÂNCIA
E SUA INFLUÊNCIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
_______________________
Prof. Dr. Jacques Mick
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Dr.ª Marcia da Silva Mazon
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof.ª Dr.ª Marta Inez Machado Verdi
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Profª. Drª. Sandra Noemi Cucurullo de Caponi
Universidade Federal de Santa Catarina
4
5
AGRADECIMENTOS
8
9
RESUMO
11
ABSTRACT
13
LISTA DE QUADROS
17
SUMÁRIO
19
2
Implantação do Programa de Identificação e Tratamento do Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade nas escolas públicas dos estados: Rio de Janeiro (Lei Nº 5.416
de 29 de maio de 2012 – disponível no Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro) e
Santa Catarina (Lei Nº 15.113, de 19 de janeiro de 2010 – disponível no Diário Oficial do
Estado de Santa Catarina).
23
3
Para maiores informações acessar:
<http://www.camara.gov.br/sileg/integras/757400.pdf>
<http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/legislacao/item/225-
legisla%C3%A7%C3%A3o.html>.
25
1.2 METODOLOGIA
I, II e ensino
médio com
20/25 alunos
por sala
Privada D Ensino – Professora do Ensino
infantil e Waldorf Fundamental I (PD1)
ensino
fundamental
I e II com
15/20 alunos
por sala
Privada E Ensino – Professora do Ensino
infantil e Criacionismo infantil (PE1)
ensino – Professora do ensino
fundamental fundamental II (PE2)
I e II com
20/25 alunos
por sala
Pública F Ensino Sócio- – Professora do ensino
fundamental Interacionista fundamental I (PF1)
I e II com – Professor do ensino
30/35 alunos fundamental II (PF2)
por sala
Pública G Ensino Plural – Professora do ensino
fundamental fundamental I (PG1)
I e II com – Professora do ensino
30/35 alunos fundamental II (PG2)
por sala
Privada H Berçário, Montessoriana – Professora do ensino
ensino infantil (PH1)
infantil e – Professora do ensino
ensino fundamental I (PH2)
fundamental
I e II com
20/30 alunos
por sala
4
Das quatro instituições pesquisadas, apenas uma referia-se a crianças com transtornos
mentais. As outras três instituições não faziam menção a essa classificação, preferindo
“transtornos de comportamento”.
31
5
Informações obtidas no site: <http://www.ibge.gov.br>.
33
9
Caponi (2012) mostra que o saber psiquiátrico se reorganizou para que o discurso médico
sobre as condutas pudesse ser aceito. A medicina estudava o corpo em termos de órgãos e
tecidos e estabelecia diagnósticos diferenciais que localizavam as lesões no próprio corpo.
A psiquiatria procura o corpo ‘neurológico’ e se empenha em estabelecer correlações entre
as lesões encontradas no organismo e os sintomas apresentados pelo paciente.
10
Informações obtidas no site da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar. Disponível
em: <http://www.abtb.org.br/transtorno.php.>. Acesso em: 10 mar. de 2015.
47
11
Informações obtidas no site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção. Disponível
em: <http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.html.>. Acesso em: 3 jan. de
2015.
12
Alienista francês nascido na cidade de Tolouse, precursor da psiquiatria científica
iniciada por Philippe Pinel (1745-1826) e um dos principais representantes da psiquiatra
alienista francesa do século XIX, consolidou a ideia de loucura como doença. Disponível
em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/ biografias/JeanEDEs.html>. Acesso em: 10 abr. 2015.
48
E mais adiante:
15
Caponi (2012) trata extensamente desse tema e afirma que o interrogatório procurava
despertar memórias do paciente diante do saber psiquiátrico. Durante o interrogatório, os
devaneios do paciente evidenciavam os sinais da loucura e o psiquiatra era quem iria, de
certa forma, provocar a sua confissão a respeito de sua própria loucura.
53
16
Sobre o termo “espectro”, que apresenta uma gama de comportamentos que se
manifestam em diversos graus e de diferentes maneiras, Luciano Isolan (2008) mostra que
o termo é frequentemente utilizado pela psiquiatria para definir grupos nosológicos
distintos, porém com um quadro sintomatológico semelhante.
54
representam um avanço na classificação dos seres vivos. Suas teorias anteciparam algumas
ideias evolutivas que seriam defendidas posteriormente por Lamark e Darwin. Foi
nomeado, na França, por Luis XV, Conde de Buffon em 1773. (Informações disponíveis
em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/GeorgsLo.html> Acesso em: 19 fev. 2015).
57
19
Sobre vícios de constituição, o autor apresenta uma nota que esclarece que, nas
autópsias, os indivíduos considerados idiotas ou imbecis, apresentavam vícios de
conformação cerebral, ou seja, a formação cérebro estava em desvantagem em relação aos
outros órgãos do corpo.
20
A enfermidade, em Esquirol, é vista como uma falta, algo que não teve formação normal
de desenvolvimento. A noção de desenvolvimento possibilita a definição do que é doença
e do que é considerada uma enfermidade, monstruosidade da não doença (FOUCAULT,
2006, p. 262).
21
Para Foucault (2006), a noção de desenvolvimento representa, a partir de então, uma
repartição das organizações neurológicas. O autor chama de temporal, por não ser mais
uma espécie de faculdade atribuída ao indivíduo.
64
radical, que irá buscar mais longe, que remontará mais arcaicamente
nisso tudo, mas afinal uma pedagogia”.
Foucault (2006) nos mostra que essa lentidão ou parada no
desenvolvimento se manifesta por algo denominado por Seguin22, de
“instinto” e pode ser definido como algo em estado selvagem ou não
integrado. Foucault descreve o instinto da seguinte maneira:
23
Foucault (2006) analisa que o internamento de crianças aconteceu devido a questões
econômicas, já que os pais não conseguiam trabalhar por terem que cuidar dos filhos.
24
No fim do século XVIII, Foucault nos mostra que existia a classificação da categoria
“imbecis” ocupando os espaços de internação, e que mais adiante seriam chamadas de
dementes. Nessa época, a questão da imbecilidade passa a ser colocada em termos
médicos.
66
26
Foucault (2006) afirma que a degenerescência não é uma projeção do evolucionismo
biológico sobre a psiquiatria, mas que ele se apropriou deste termo no momento que
passou a interferir no campo da psiquiatria, ampliando suas conotações.
27
Na obra de Foucault, O poder psiquiátrico, o autor faz uma distinção do que era
considerado loucura e o que era anomalia. O idiota ou o retardado que Foucault analisa nas
obras de Seguin, é aquele está situado em um patamar inferior do desenvolvimento tido
como esperado ou normal. Assim, a criança idiota ou retardada não é uma criança doente,
mas anormal, já que traz desvios em relação ao que foi estabelecido pela norma.
70
Mais uma vez podemos observar o que já foi analisado até agora
nesse estudo. A psiquiatria, em sua lógica preventiva e excludente, se
generaliza por todos os campos sociais. Sua atuação ignora os contextos
sociais em que os indivíduos estão inseridos. A esfera social, histórica e
política são excluídas de sua ingerência, e o indivíduo passa a ser o
responsável pelos riscos que “pode” oferecer à população.
77
moderna, como vimos, foi adentrando por caminhos onde a escuta dos
relatos de angústias ou sofrimentos dos pacientes foi perdendo cada vez
mais seu espaço. A teoria dos higienistas e degeneracionistas que se
fundamentava no caráter hereditário de determinadas patologias, aliado
ao caráter evolutivo dos sofrimentos psíquicos, possibilitou que a
psiquiatria passasse a diagnosticar pequenos desvios de conduta, estados
alterados de humor ou sofrimentos relacionados às mazelas da vida,
como síndromes ou transtornos mentais. Para isso, a psiquiatria valeu-se
da construção de uma classificação cada vez mais unificada a respeito
dos transtornos mentais. As classificações nosológicas conquistadas por
Pinel, Esquirol, Morel, Magnan e Kraepelin continuam sendo os
referenciais norteadores da psiquiatria até hoje (CAPONI, 2012).
Diagnosticar passou a ser a palavra-chave da psiquiatria.
Diagnosticar, no sentido literal, significa “conhecimento ou
determinação duma doença pelos seus sintomas, sinais e/ou exames
diversos” (FERREIRA, 2004, p. 316). Os diagnósticos estarão presentes
em todo e qualquer tratamento médico/psiquiátrico ainda que possam se
referir a etiologias diferentes. No caso da psiquiatria, os diagnósticos são
realizados com base em sinais que nem sempre são objetivos e sua
etiologia não é evidente.
Na década de 1970, as teses de Kraepelin são retomadas por um
grupo de cientistas denominados neokraepelinianos. Esse evento trouxe
grandes mudanças para a psiquiatria, no que tange à classificação e
definição de diagnósticos e influenciou diretamente na elaboração do
terceiro Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais
(DSM) em 1952 pela Associação Americana de Psiquiatria (APA)
(MAYES; HORWITZ, 2005).
Os neokraepelinianos adotaram as bases epistemológicas de
Kraepelin e introduziram um novo modo de pensar as patologias
psiquiátricas que se distinguiam de como elas eram abordadas nos
manuais até então. Os neokraepelinianos privilegiavam as pesquisas
psiquiátricas empíricas, focadas na biologia onde não havia espaço para
as perguntas etiológicas. Esse novo modo de abordar as patologias
tornou-se referência no campo da psiquiatria mundial. Paralelamente, o
interesse pelos estudos da genética só aumentaram na década de 1970,
aliados à introdução dos psicofármacos (CAPONI, 2011).
Dessa forma, podemos observar que a psiquiatria atual manteve
as velhas preocupações dos degeneracionistas em criar uma classificação
confiável, objetiva e universal a respeito das doenças mentais, baseadas
nos axiomas das ciências biológicas. As pesquisas buscam evidências
biológicas e excluem os estudos sociológicos. A procura pela origem das
doenças mentais continua seguindo o mesmo caminho de investigação
das lesões cerebrais ou dos desequilíbrios dos neurotransmissores,
79
excluindo tudo aquilo que não pode ser considerado biológico para a
construção diagnóstica (CAPONI, 2011).
Nessa lógica, os comportamentos que não são aceitos
socialmente, os objetivos escolares que não têm o êxito esperado, a
adequação à instituição escolar que não acontece do modo planejado e
outros eventos sociais, são vistos sob a ótica médica e suas causas
sociais e políticas são retiradas de questão. O relato abaixo nos mostra
que as questões hereditárias e biológicas estão muito imbricadas nos
discursos dos profissionais que atuam na educação como explicação
para os comportamentos considerados inapropriados e coadunam com
tudo o que analisamos até o presente momento:
29
O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM), é um documento
que define e descreve as diferentes doenças mentais. É considerado a “bíblia” dos
psiquiatras, sendo revisado periodicamente.
82
passaram a ser classificadas como anormais
(CAPONI, 2014, p. 744).
30
CID é a classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados com
a saúde, frequentemente designado por essa sigla (SPITZER et al., 1996).
83
1) Síndromes clínicas;
2) Transtorno da personalidade e do desenvolvimento;
3) Condições e transtornos físicos;
4) Gravidade dos estressores psicossociais;
5) Avaliação global do desenvolvimento.
31
Segundo Spitzer et al. (1996), o diagnóstico multiaxial fundamenta-se em cinco eixos,
essa divisão possibilita uma avaliação mais adequada e aprofundada dos pacientes. O
paciente é diagnosticado de acordo com as características de cada eixo.
84
33
A atual versão do manual reconhece as Parafilias como interesses eróticos atípicos, mas
evita rotular os comportamentos sexuais não-normativos como necessariamente
patológicos.
89
retardo psicomotor.
Transtornos Globais do - Transtorno Global do
Desenvolvimento (Autismo Infantil): Desenvolvimento
grupo de transtornos caracterizado por - Síndrome de Asperger
severas anormalidades nas interações - Síndrome de Down
sociais recíprocas, nos padrões de - Autismo
comunicação estereotipados e Comportamentos que revelam
repetitivos, além de um estreitamento deficiências intelectuais e de
nos interesses e atividades da criança. aprendizado.
Costumam se manifestar nos primeiros Principais sintomas:
cinco anos de vida. características físicas específicas,
Principais sintomas: dificuldades em dificuldades de sociabilização,
se relacionar com outras crianças, ou até gestos repetitivos, inteligência
mesmo com seus pais, atraso ou acima da média, hiperfoco,
ausência total da fala; prejuízo na irritabilidade, clausura.
capacidade de iniciar ou manter uma
conversa, movimentos repetitivos ou
complexos do corpo. Outras formas de
transtornos globais do desenvolvimento
são: Autismo atípico, Síndrome de Rett,
Transtorno desintegrativo da infância e
Síndrome de Asperger.
Transtornos de Tique: A manifestação - TOC
predominante nessas síndromes é - Mania
alguma forma de tique. Um tique é uma - Transtorno obsessivo-compulsivo
produção vocal ou movimento motor Comportamentos exagerados e
involuntário, rápido, recorrente manias repetitivas.
(repetido) e não rítmico (usualmente Principais sintomas: manias
envolvendo grupos musculares exageradas, lavar as mãos ou ir ao
circunscritos), sem propósito aparente e banheiro muitas vezes, medos
que tem um início súbito. exagerados, mania de limpeza,
Principais sintomas: piscar os olhos, acumulação de objetos, repetir
balançar a cabeça, fazer caretas, tossir, movimentos com as mãos ou
pigarrear, fungar, bater-se, saltar. pernas, bater ou balançar os pés
incessantemente, falar a mesma
coisa várias vezes, produzir sons
em momentos inapropriados.
34
Sobre técnicas de controle social médico, Conrad e Schneider (1992) mostram o uso de
psicofármacos como exemplo.
97
Sendo assim, o poder não pode ser visto emanando de um ponto central,
mas de uma rede. As próprias relações de poder devem ser
compreendidas através do conceito de rede. Foucault entende por rede
todo o corpo social e seus diferentes focos de poder: Estado, prisão,
hospital, asilo, família, escola, etc. A rede permeia todo esse corpo,
articulando e integrando esses diferentes focos. Como disse Foucault
(1979, p. 183), “o poder deve ser analisado como algo que circula, ou
melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado
aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como
uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede”.
O poder em Foucault só pode ser concebido como algo que existe
em relação, envolvendo forças que se chocam e se contrapõem. Os
mecanismos ou estruturas de poder só são concebidos onde as pessoas
exercem poder umas sobre as outras. E Foucault reitera:
35
A disciplinarização dos povos colonizados é detalhadamente observada por Foucault em
O poder psiquiátrico (2006). Os jesuítas impuseram entre os povos guaranis, através de
um sistema disciplinar, um tipo de controle e exploração. As aldeias eram
permanentemente vigiadas e existia uma espécie de individualização, onde cada um
recebia um alojamento que ficava sob o olhar da vigilância. Havia também um sistema de
punição, diferentemente do sistema penal europeu, mas que era atento às más tendências,
más propensões.
106
36
De acordo com a Constituição Federal (1988), artigo 194 e seguintes, a seguridade social
é o conjunto de ações e instrumentos por meio do qual se pretende alcançar uma sociedade
livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades
sociais e promover o bem de todos. O sistema de seguridade social, em seu conjunto, visa
a garantir que o cidadão se sinta seguro e protegido ao longo de sua existência, provendo-
lhe a assistência e recursos necessários para os momentos de infortúnios. É a segurança
social, segurança do indivíduo como parte integrante de uma sociedade.
116
37
O livro Shelley, The Hyperactive Turtle, está disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=tkTdx-U0_NE> e foi traduzido para o espanhol como
Sheli, la tortuga hiperactiva.
122
38
De acordo com as informações do Ministério das Relações Exteriores, BRICS é um
acrônimo que identifica cinco economias emergentes e se refere aos países Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul que juntos formam um grupo político de cooperação. Mais
informações, acessar:
<http://www.itamaraty.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3672&ca
tid=159&Itemid=436&lang=pt-BR>.
123
ESTRATÉGIA AÇÃO
Propaganda direta ao Meios de comunicação (mídia impressa, rádio,
consumidor televisão, internet etc.).
Propaganda Médica Visita de propagandistas de medicamentos aos
consultórios médicos, clínicas e hospitais.
Anúncios em Publicações Anúncios pagos em publicações médicas, não
médicas, revistas e jornais.
Matérias na imprensa leiga Matérias escritas por jornalistas veiculando
assuntos de interesse da indústria farmacêutica.
Merchandising Propaganda de modo ostensivo ou subliminar
de um produto (medicamentos). Muito utilizado
em filmes e novelas.
Eventos Médicos Realização de reuniões, simpósios e patrocínio
de congressos médicos.
Fonte: Hekis et al. (2014).
39
FDA é o órgão governamental dos EUA responsável pelo controle dos alimentos (tanto
humano como animal), suplementos alimentares, medicamentos (humano e animal),
cosméticos, equipamentos médicos, materiais biológicos e produtos derivados do sangue
humano.
125
40
O conceito de habitus de Bourdieu será melhor analisado mais adiante nesta pesquisa.
133
delegara à escola a parcela de sua responsabilidade
educativa concernente a uma dada cultura letrada – o
ler, o escrever, e o contar. O território da escola é o
primeiro espaço seu que a criança tem. A escola é o
tempo da juventude. Na escola, as famílias deixam de
ter o protagonismo, e a criança passará a lidar com um
outro repertório, com outros códigos e signos de saber
e de poder. A escola, em certa medida, retrata e
recompõe a vida social. Por outro lado, a escola cria e
produz essa mesma vida social mediante o descortinar
de símbolos e de valores que são, a cada nova geração,
recompostos e reatualizados. Se a escola, efetivamente,
reflete a vida coletiva, essa mesma sociabilidade
poderá ser sempre alterada por decisão do conjunto de
seus atores sociais. A escola exerce, pois, no ser
humano, o papel de adesão a valores que ele mesmo se
impõe. A sociedade escolhe seu repertório e seu script;
a escola talvez ensaie a peça (BOTO, 2002, p. 12).
41
Elias critica as análises realizadas por Ariès, pois compreende a separação das crianças
do mundo dos adultos como uma transformação que se deu na própria estrutura social que
aconteceu desde a Idade Média. Na concepção de Elias, quando Ariès lamenta o fato de
que nas sociedades modernas, as crianças já não são mais vistas como mini-adultos, ele
demonstra uma falta de compreensão justamente dessas mudanças estruturais. Para Elias,
os modelos atuais de educação escolar oferecidos às crianças e adolescentes, são
questionáveis quanto à sua eficácia preparatória para a vida concreta. Entretanto, para
poder se sustentar, enquanto adulto, numa sociedade desse tipo, Elias assegura a
incontestável necessidade de uma capacidade diferenciada de autocontrole e de regulação
afetiva. Essas capacidades são desenvolvidas ao longo de muitos anos de aprendizagem e
estão imbricadas num prolongamento da vida individual.
135
A família moderna, ressalta Elias, não deve ser vista como uma
figuração autônoma dentro de uma figuração mais ampla da sociedade-
Estado, já que esta última assume cada vez mais funções que antes
recaíam sobre a família. Nesse contexto, Elias mostra que a família
cedeu diversas funções para outras instituições, inclusive para o Estado.
Nos dias de hoje, as principais funções assumidas pelas famílias
encontram-se no campo afetivo e emocional. A família seria o lugar
social confiável, o porto de ancoragem emocional dos indivíduos.
Entretanto, Elias assegura que mesmo com o conhecimento que se tem
hoje a respeito da infância e de suas necessidades distintas em relação ao
mundo dos adultos, não se pode afirmar que os pais compreenderam a
natureza desse processo civilizador. Esse também seria um dos motivos
que levam tantos pais e instituições escolares a buscarem ajuda médica
para problemas que estão intrinsecamente ligados ao processo
civilizador? A individualização é um dos efeitos de tal processo, e Elias
acredita que as crianças que não se tornam independentes no momento
esperado são estigmatizadas no interior dessas sociedades. De acordo
com o autor, as famílias vêm experimentando profundas transformações
que são decorrentes do processo social não planejado que se encontra
repleto de problemas e, até o momento, sem soluções aparentes.
142
42
Goffman (2015) define como instituições totais aquelas que mantêm os indivíduos em
confinamento, como as prisões, manicômios, conventos e internatos. Com proibições de
saídas e contato com o mundo externo e todas, ou a grande maioria das atividades dos
indivíduos, são realizadas num mesmo local e sob a mesma autoridade.
145
sociais, pois “tratando todos os educandos, por mais desiguais que sejam
eles de fato, como iguais em direitos e deveres, o sistema escolar é
levado a dar a sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura”
(BOURDIEU, 2007, p.53).
44
De acordo com o MEC (Ministério da Educação, <http://portal.mec.gov.br/>) a faixa
etária para as etapas de ensino são as seguintes: Ensino infantil – até 3 anos; Pré-Escola: 4
e 5 anos; Ensino Fundamental I e II: de 6 a 15 anos.
155
45
A Associação Brasileira de Déficit de Atenção <www.tdah.org.br> disponibiliza
questionários baseados nos critérios do DSM-IV, que auxiliam os professores na
identificação do TDAH e outros transtornos. O Hospital das Clínicas de São Paulo,
vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HFCMUSP, oferece
cursos online para professores escolares, bem como o Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo – IPUSP, disponibiliza uma revista eletrônica que auxilia os
professores na identificação de crianças com dificuldades de interação social ou com
problemas na constituição psíquica. Tanto a revista como os cursos que são oferecidos
podem ser acessados pelos sites: <https://www.facebook.com/revistapsico.usp>,
<http://www.ip.usp.br/revistapsico.usp/>.
158
49
O maior objetivo do Projeto Genoma Humano (PGH) é o mapeamento do genoma
humano e a identificação de todos os nucleotídeos que o compõem. Segundo informações
do National Institutes of Health (NIH) – <http://www.nih.gov/> –, laboratórios de todo o
mundo se uniram à tarefa de sequenciar, um a um, os genes que codificam as proteínas do
corpo humano e também as sequências de DNA.
194
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S141498932010000100005&
script=sci_abstract>. Acesso em: 25 nov. de 2014.
Moysés, Mônica Cintrão França Ribeiro (orgs), São Paulo: Mercado das
Letras, 2013.
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X2008000600029>. Acesso em: 12 mar. 2015.
219
Prezados colegas
____________________ ____________________