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Resumos de filosofia- A filosofia da arte

A arte é um modo de produção de beleza ou, pelo menos, de algo que possa
fixar a nossa atenção e a nossa sensibilidade estética, seja isso considerado
belo ou não.
Mas o que é a arte?
Teorias filosóficas da arte:
→ Teorias essencialistas: Defendem a existência de propriedades
essenciais ou intrínsecas comuns a todas as obras de arte. Pretende-se
encontrar uma definição explicita de arte, ou seja, estabelecer as
condições necessárias e suficientes para que algo possa ser considerado
arte. Ex: Teorias mimética, representacionista, expressivista e
formalista.
→ Teorias não essencialistas: Defendem a impossibilidade de definir a arte
a partir de um conjunto de propriedades essenciais ou intrínsecas,
apresentando definições que assentam em propriedades extrínsecas e
relacionais. Ex: Teorias institucional e histórica
Não é possível estabelecer de forma segura um conjunto de propriedades
intrínsecas que todas as obras de arte, e apenas elas, possuem em comum.
Mas isso não implica necessariamente que não se pode encontrar qualquer
tipo de definição de obra de arte, apenas indica que em vez de nos focarmos
nas propriedades intrínsecas dos objetos artísticos devemos focar-nos nos seus
aspetos relacionais, processuais e contextuais, isto é, nas relações que estes
estabelecem nos processos por que passam e no contexto histórico e social
que os envolve.

Teorias essencialistas
Teoria da arte como imitação ou teoria mimética da arte
Algo é uma obra de arte só se algo é uma imitação.
A imitação da realidade é uma condição necessária, mas não suficiente para
algo ser considerado arte.
A arte tem como propósito imitar a natureza, sendo um critério seguro para a
definir.
Objeções:
→ Contraexemplos: muitos dos objetos e das criações humanas
reconhecidos como arte não são imitações. Há quadros, peças musicais,
poemas que não copiam ou imitam o real; por isso, ou os excluímos da
arte ou recusamos a teoria da arte como imitação;

Teoria da arte como representação ou Teoria representacionista


Numa tentativa de melhorar a teoria anterior, alguns filósofos consideram que
a arte, mais do que imitação, é representação.
Toda a imitação é representação mas nem toda a representação é imitação.
Objeções:
→ É demasiado restritiva; existem obras de arte que não são consideradas
representações; Muitas vezes, o objetivo das obras é provocar
determinadas experiências visuais ou auditivas e não representar seja o
que for.

Teoria da arte como expressão ou teoria expressivista


Algo é arte se, e só se, algo é expressão imaginativa de emoções.
A função do artista é exprimir sentimentos/ emoções e não representar
objetivamente a realidade.
A arte desencadeia uma emoção estética; se, por um lado, a criação traduz o
sentimento do artista, a contemplação da obra desencadeia emoção no
espectador.
Objeções:
→ Esta teoria parece estabelecer a priori que a produção artística tem
origem na experiência emocional, quando talvez existam outros fatores
e outras condições causais a presidir à criação de obras de arte, sendo
certo que alguns artistas, inclusive, negaram que a emoção comandasse
os seus trabalhos criativos;
→ Mesmo que a emoção esteja na base da criação, o momento em que o
artista cria a obra não coincide, em geral, com o do estado emocional
que a motivou;
→ Esta teoria parece admitir que a qualidade das obras decorre das
condições emocionais que as originam, quando afinal o mérito da obra
assenta sobretudo na sua harmonia interna;
→ Pode levantar-se a dúvida a respeito do conteúdo emocional de certas
obras: a arquitetura e muitas obras de pintura (p.e pintura abstrata) não
parecem ser exemplos de expressão emocional. Também as obras que
têm, sobretudo, o propósito de divertir teriam de ser excluídas do
âmbito da arte.

Teoria da arte como forma ou Teoria formalista


Para o crítico de arte Clive Bell (1881-1964), a emoção estética desencadeada
no espectador pelas verdadeiras obras de arte decorre de uma qualidade que
tais obras possuem:
A arte provoca uma emoção estética no espectador, resultante de uma
propriedade da obra (forma significante).
Forma significante: Combinação/Relação que existe entre determinadas
características da obra (cores, formas, linhas, sons, etc)
A forma significante consiste num conjunto de relações e combinações de
linhas, formas e cores.
Isto significa que aquilo que é representado e o objetivo e/ou função com que
a obra foi feita são irrelevantes para a apreciação da obra de arte.
A forma significante desperta o interesse do espectador, tendo as obras de
arte sido concebidas com o propósito principal de exibirem essa forma
significante, o que lhes confere um determinado estatuto.
Apesar do que já dissemos sobre ela, esta propriedade das obras de arte (a
forma significante) é indefinível. Ela pode, no entanto, ser reconhecida, de
modo intuitivo, pelos críticos mais sensíveis. Isso não será possível se os
críticos forem insensíveis.
Assim, algo é arte se, e somente se, provocar emoção estética, com origem na
forma significante.
Objeções:
→ Esta teoria parece ser viciosamente circular, pois refere que a emoção
estética resulta de uma propriedade (a forma significante) destinada
precisamente a desencadear essa emoção no espectador.
Aquilo que se pretende explicar (a emoção estética sentida pelo espectador)
faz parte da própria explicação: a emoção estética resulta de algo que produz
emoção estética e do qual nada mais se pode afirmar.
Bell define a noção de forma significante como uma configuração de linhas,
cores, formas e espaços que tem a capacidade de provocar uma emoção
estética no espectador, mas simultaneamente define emoção estética como o
tipo de emoção que sentimos quando estamos perante certas configurações
de linhas, cores e formas, ou seja, quando estamos perante uma forma
significante. Ora, como se pode perceber esta definição é viciosamente circular
e pouco informativa.
→ Esta teoria pressupõe a existência da emoção estética (o que alguns
criticos negam), e estabelece que ela só pode ser provocada por obras
de arte. Mas talvez a emoção estética também possa ser provocada por
outras coisas, p.e uma paisagem. Assim, a forma significante deixa de ser
uma condição suficiente para algo ser considerado arte.

→ Esta teoria acaba por ser posta em causa pelo facto de existirem objetos
considerados arte (p.e, um pente exposto numa galeria de arte) que não
se distinguem visualmente de outros que o não são (um pente igual, no
seu uso quotidiano). Não sendo distintos pela forma, não se percebe que
um seja arte e outro não, tal como não se percebe como se pode
distinguir uma obra de arte genuína de uma falsificação (que é
formalmente semelhante ao original)

→ No âmbito desta teoria, aquilo que é representado na obra de arte é


esteticamente irrelevante. Mas há muitos casos em que a apreciação
artística da obra depende do conteúdo e não apenas da forma;

→ Esta teoria tem como consequência o facto de não existir um método


óbvio para decidir entre afirmações incompatíveis em relação às obras
de arte: se houver discordância entre 2 críticos, aparentemente
sensíveis, acerca da forma significante que as obras manifestam ou não,
um deles tem de estar errado; mas não há maneira de saber qual.
→ Esta teoria não pode ser refutada (visto ser sempre confirmada em
qualquer situação). Ora uma teoria assim é, de acordo com vários
filósofos, desprovida de significado. Vejamos em que medida ela não
pode ser refutada:
1) Se alguém afirmar ter desfrutado genuinamente de uma obra de arte e
disser que não sentiu emoção estética perante ela, os defensores da
teoria dirão que essa pessoa está enganada, já que a obra desencadeia
tal emoção. Mas isto equivale a pressupor o que se quer demonstrar,
isto é, a existência de uma emoção estética produzida pelas obras de
arte genuínas.
2) Se algum objeto a que chamamos obra de arte não desperta emoção
estética ao crítico sensível, dir-se- á que esse objeto não constitui uma
obra de arte genuína. Ora, nada existe que nos permita refutar uma
perspetiva desse género, já que estamos no pleno domínio da
subjetividade do crítico.

Teorias não essencialistas


Teoria institucional da arte
George Dickie
A obra de arte depende do contexto em que está inserida.
Existem 2 aspetos comuns a todos as obras de arte (2 condições necessárias e
conjuntamente suficientes).:
1) Todas as obras de arte são artefacto
Artefacto é utilizado para designar um objeto constituído ou transformado por
mãos humanas. Mas para Dickie é muito mais que isso.
Os objetos que não foram manufaturados ou cujas propriedades formais não
foram alteradas pela intervenção direta de um ser humano podem, em
determinados contextos, adquirir o estatuto de artefacto, por serem utilizados
de certa maneira por alguém.
«Suponhamos que se recolhe um pedaço de madeira flutuante e, sem o alterar
de forma alguma, o usamos para cavar um buraco ou brandi lo perante um cão
ameaçador. O pedaço de madeira inalterado foi convertido em ferramenta ou
arma pelo uso que lhe foi dado. [...] Em nenhum dos casos [...] o pedaço de
madeira é por si só um artefacto. O artefacto, em ambos os casos, é o pedaço
de madeira manipulado e usado de um certo modo.»
Deste modo, um simples pedaço de madeira pode ser considerado um
artefacto, se o usarmos para nos defendermos de um cão, ainda que as suas
propriedades formais não sejam alteradas. Algo de semelhante pode ocorrer
no contexto da arte. Se o pedaço de madeira tivesse sido recolhido e exibido
numa exposição como uma escultura, também se teria convertido num
artefacto. Assim. Dickie considera que sem um artefacto, entendido neste
sentido lato, nem sequer se pode dizer que tenha havido lugar a qualquer tipo
de criação, portanto, a existência de um artefacto é uma condição necessária
para a própria criatividade.
Assim, a simples exposição intencional de um qualquer objeto (uma pedra, um
vaso, um sinal de trânsito) numa galeria de arte é já um passo para que esse
objeto seja tido como um artefacto e venha a ser considerado uma obra de
arte.
2) Toda a obra de arte possui o estatuto de obra de arte que lhe foi
atribuído por alguém
Toda a obra de arte possui o estatuto de obra de arte porque este lhe é
conferido por uma ou várias pessoas, ligadas à instituição social que é o mundo
da arte, que detêm autoridade para o fazer.
Tais pessoas transformam objetos artefactos em obras de arte, através de
processos como a exibição, a representação e a publicação dessas obras, e até
o simples facto de lhes chamarem arte.
Objeções
→ Esta teoria é muitas vezes acusada de elitismo, uma vez que considera
que apenas um grupo de privilegiados, formado pelos membros do
mundo da arte, têm o poder de conferir o estatuto de obra de arte aos
artefactos;
→ De acordo com esta teoria, quase tudo – ou mesmo tudo – se pode
transformar numa obra de arte, bastando para tal o parecer de pessoas
avalizadas nessa matéria. Assim, esta teoria não permite distinguir a boa
da má arte: dizer que algo é arte é apenas classificá-lo como tal, sem
avançar qualquer apreciação valorativa a respeito do facto de essa obra
ser boa, má ou indiferente;
→ Esta teoria inviabiliza a possibilidade de se falar numa arte primitiva,
visto que é muito implausível que nos tempos primitivos existisse o
mundo da arte, pondo igualmente em causa a existência da arte criada
por artistas solitários, isto é, criada à margem da instituição social que é
o mundo da arte;
→ Esta teoria é viciosamente circular: uma obra de arte é um artefacto a
que o mundo da arte conferiu estatuto, sendo o mundo da arte um
conjunto de pessoas com poder de conferir a um artefacto o estatuto de
obra de arte;
A teoria institucional parece ser viciosamente circular, visto que sustenta que o
estatuto de obra de arte é atribuído por representantes do mundo da arte e,
por sua vez, o mundo da arte é definido como o conjunto daqueles que têm o
poder de fazer essas atribuições. Ora, dado que para saber o que é uma obra
de arte temos de saber o que é o mundo da arte e para saber o que é o mundo
da arte temos de saber o que são obras de arte, a definição parece andar em
círculos sem nunca esclarecer devidamente o significado dos seus termos.
→ No caso do mundo da arte, ao invés do que acontece com outras
instituições sociais, não existe uma organização suficiente nem
procedimentos reconhecidos para conferir a algo o estatuto de obra de
arte, havendo, muitas vezes, grandes discordâncias quando se trata de o
fazer;
→ Ainda que se admita que as pessoas ligadas ao mundo da arte têm o
dom de converter qualquer artefacto numa obra de arte, deve haver
razões para escolherem uns e não outros:
→ Se há razões, então são essas a fixar o que é arte e o que não é,
tornando-se desnecessária a teoria institucional.
→ Se não há razões, se isso é feito de forma extravagante e
arbitrária, então a arte também será vista como arbitrária, não
possuindo propriamente interesse.

Teoria histórica da arte


A arte é totalmente dependente da sua história.- Levinson
A teoria histórica pretende, à semelhança da teoria institucional, definir arte
apelando a propriedades extrínsecas e relacionais/contextuais e não a
propriedades intrínsecas e manifestas dos objetos. Contudo, Levinson
procurou desenvolver uma teoria da arte que possibilitasse a existência de arte
solitária, isto é, de arte fora do contexto institucional do mundo da arte.
Levinson pretende dar uma definição de arte suficientemente ampla para
englobar tudo o que seja considerado obra de arte.
Levinson destaca não o «mundo da arte» mas sim as intenções de quem cria a
arte.
De acordo com este autor, são as seguintes as condições – condições
necessárias e conjuntamente suficientes – para que algo seja considerado uma
obra de arte, aplicando-se a toda a arte possível:
1) O direito de propriedade sobre o objeto – o objeto é nosso ou temos o
direito de o usar como tal. Assim, o artista não pode transformar em
arte qualquer coisa que queira.
De acordo com este requisito, não se pode dizer que alguém produziu uma
determinada obra de arte se, logo à partida, essa pessoa não tinha sequer o
direito de usar esse objeto fosse de que maneira fosse.
2) A intenção séria ou não passageira de que o objeto seja visto ou
perspetivado como uma obra de arte, isto é, que seja visto como
corretamente foram ou são vistas as obras de arte do passado. Assim, as
obras de arte têm um tipo especial de relação com as práticas do
presente e do passado, tanto de artistas como de observadores, sendo
caracterizadas pela historicidade.
Um desses requisitos é o de que a intenção em causa seja uma intenção séria.
Isto quer dizer que, qualquer que seja a intenção por detrás da criação, ela não
pode ser momentânea, passageira ou meramente ilustrativa.
Por exemplo, para ilustrar esta teoria um professor poderia sugerir aos seus
alunos que tinha a intenção de que a sua caneta fosse encarada como um
ready-made, isto é, como um objeto do quotidiano ao qual foi atribuído o
estatuto de obra de arte com o intuito de desafiar a compreensão do conceito
de arte. Ora, como os ready-made são obras de arte e alguns deles foram
concebidos com essa mesma intenção, isso significa que existem bons
precedentes históricos e, por conseguinte, pode parecer que a teoria histórica
está condenada a considerar que o professor acabou de criar uma obra de
arte. Contudo, uma vez que a intenção do professor era meramente ilustrativa,
e não uma intenção séria, não se pode dizer que o professor tenha
efetivamente criado uma obra de arte.
Objeções
→ É discutível que a condição do direito de propriedade seja uma condição
necessária, se admitirmos, por exemplo, que um artista consagrado
pintou um quadro usando uma tela e tintas que não pagou mas devia ter
pagado. Será que não estamos perante uma obra de arte?
→ A condição relativa à intenção também pode não ser necessária. Basta
pensarmos, por exemplo, nos artistas que não tiveram a intenção de que
as suas obras fossem vistas como obras de arte, sendo que só após a sua
morte elas foram publicadas e consideradas como tal;
→ Se admitirmos que o que faz de algo uma obra de arte é a sua relação
com a arte anterior, então levanta-se um problema ao considerar-se a
primeira obra de arte a surgir no mundo. Esta não pode ser arte, por não
haver arte anterior. Nesse caso, as obras seguintes também não o
podem ser. Embora Levinson estivesse ciente deste problema, não o
solucionou de modo convincente;
Levison afirma que Algo é uma obra de arte se, e só se, alguém com direitos de
propriedade sobre isso tem a intenção séria de que seja encarado da mesma
forma como foram corretamente encarados outros objetos abrangidos pelo
conceito de obra de arte. Mas como surgiu a 1 obra de arte?
Esta (hipotética) obra não tem bons precedentes aos quais possamos apelar.
Ora, na impossibilidade de recorrer a casos precedentes, a teoria histórica
revela-se incapaz de explicar por que razão a primeira obra de arte é
considerada arte.
→ Esta teoria não responde à questão de saber o que muda no objeto
propriamente dito quando este se transforma em obra de arte, deixando
por explicar o que uma obra de arte é em si mesma.

Assim, o conceito de arte é um conceito aberto, o que está em sintonia com a


própria criatividade artística e com o surgimento de novas formas de arte.

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