Fonetica Fasciculo
Fonetica Fasciculo
Fonetica Fasciculo
ISBN 978-85-7856-024-9
Fonética e
Fonologia
da Língua
Portuguesa
Prof.a Maria Perpétua Teles Monteiro
Carga Horária | 60 horas
Ementa
Objeto da Fonética e da Fonologia.
Aspectos descritivos da Fonética e da Fonologia da Língua Portuguesa.
Análise Fonológica.
Traços Distintivos.
Processos morfofonológicos e estilísticos.
Variação linguística: sincronia e diacronia.
Objetivo Geral
Introduzir, numa postura reflexiva, aspectos gerais dos parâmetros teóricos
sobre a estruturação dos sistemas fonético e fonológico da Língua Portuguesa.
Apresentação da Disciplina
Prezado aluno
Aspectos
Introdutórios
da Fonética
Prof.a Maria Perpétua Teles Monteiro
Carga Horária | 15 horas
Objetivos Específicos
Apontar conceitos e fundamentos, identificando hipóteses explicativas,
relacionais e distintivas para os processos descritivos da fonética.
Realizar transcrições fonéticas do Português.
1. Introdução
Tirinha da Mônica.
Tirinha do Hagar.
8 Fascículo 1
Todos nós, como falantes de uma língua, fazemos ar ao passar pelo aparelho articulador. Com-
reflexões sobre o uso e a forma da linguagem que preende o estudo das propriedades físicas dos
utilizamos. Qualquer indivíduo pode “falar sobre” sons da fala a partir de sua transmissão do fa-
a linguagem e discutir aspectos relacionados à lín- lante ao ouvinte.
gua que conhece usando parâmetros lingüísticos e • Fonética instrumental: compreende o estudo
epilinguisticos. Essa atividade faz parte do “conhe- das propriedades físicas da fala, levando em con-
cimento comum” das pessoas. No entanto, espe- sideração o apoio de instrumentos laboratoriais.
ramos também que você realize, sobre a língua e a
linguagem, atividades metalinguísticas, pois há um Nossos estudos estarão concentrados nos aspectos
ramo da ciência cuja preocupação e objeto de estu- fisiológicos da produção do som. Estudos que con-
do é a linguagem, o que nos oferece elementos pró- siderem as demais dimensões são objeto de outras
prios e apropriados para falarmos sobre a língua. disciplinas (fonética experimental, fonética para-
métrica, entre outras).
Essa ciência é a Linguística. Ela está voltada para a
explicação de como a linguagem humana funciona Atividade | Ao realizar a leitura das tirinhas,
e como são as línguas em particular, quer fazendo fale sobre a importância da fonética e da fo-
o trabalho descritivo previsto pelas teorias, quer nologia.
usando os conhecimentos adquiridos para bene-
ficiar outras ciências e artes que usam, de algum
modo, a linguagem falada ou escrita.
SAIBA MAIS!
Nas próximas páginas, trataremos de duas áre-
A fonética pode ser:
as dentro da tradição linguística que necessitam,
• Descritiva;
como as demais, de conhecimentos linguísticos • Histórica;
específicos para a realização de reflexões sobre a • Sintática.
língua: a Fonética e a Fonologia. Esses temas serão ira de Fonética Memb
ro
tratados em tópicos separados, porque, apesar de A Sociedade Brasile so cia tio n foi fun -
eti c As
da International Phon e:
as duas áreas lidarem com os sons usados na fala , de 1983. Acess
dada em 8 de junho
ol.uol.com.br/apres.htm
e pertencerem ao nível biológico do falar condicio- http://sbfonetica.vilab
nado psicofisicamente, diferem na perspectiva com
que estudam esses sons. Enquanto a fonética tem
como unidade o som da fala ou fone (substância da 2. Descrição Fonética
expressão), trabalhando com os sons propriamente
ditos, como eles são produzidos, percebidos e que 2.1. Aparelho Articulador
aspectos físicos estão envolvidos em sua produção,
a fonologia opera com a função e organização des- O ser humano é capaz de produzir uma quantida-
ses sons em sistemas: o fonema (forma da expressão). de variada de sons vocais. Para entendermos a pro-
dução desses sons, faz-se necessário analisarmos
1.2. Áreas de Interesse da Fonética as partes do corpo humano que estão envolvidas
nessa produção:
A Fonética é a ciência que apresenta os métodos para
descrição, classificação e transcrição dos sons da • Pulmões: embora haja outras fontes de ar
fala. As principais áreas de interesse da fonética são: utilizadas na fala, os pulmões são a principal
fonte, estando conectados à traqueia por dois
• Fonética articulatória: é aquela que leva em tubos bronquiais.
conta o que se passa no aparelho fonador, du- • Traqueia: vai dos tubos bronquiais até a la-
rante a produção de sons. Compreende estu- ringe, sendo responsável pela maior fonte de
dos fisiológicos e articulatórios. energia para a produção dos sons da fala. É
• Fonética auditiva: é aquela que considera a formado por anéis cartilaginosos, que se man-
percepção do ouvinte. têm unidos por uma membrana.
• Fonética acústica: centra-se nas propriedades • Laringe: trata-se de uma válvula, cuja função
físicas da onda sonora que é produzida pelo principal é a de controlar o ar que sai e entra
nos pulmões, além de impedir que alimentos
Fascículo 1 9
s - quando o usuário
Atividades epilinguísticara se comunicar. São
pa
constrói e reconstrói do
qu e su sp en de m o desenvolvimento
aquelas as su nto )
do tema ou do
tópico discursivo (ou ra, no cu rso da
ção, pa
ou aspectos da intera re-
o co mu nic ati va , tratar dos próprios
interaçã liza do s.
e estão sendo uti
cursos linguísticos qu ão pre sen tes
guísticas est
As atividades epilin re-
çõ es, co rre ções, pausas longas,
nas hesita so s, etc . ou , por
es, lap
petições, antecipaçõ a
interlocutor question
exemplo, quando um m ou co ntr ola a
de outre
a atuação interativa nv ers aç ão , indi-
nu ma co
tomada da palavra de
não falar por meio
cando quem deve ou res po sta s, so lici -
rguntas,
recursos diversos (pe
tações, etc.).
Aparelho fonador as - quando a língua
(articuladores, cavidades e glote)
Atividades metalinguístic
assunto, o tema, o tó-
o
se torna o conteúdo, ns-
da situ ação de interação, co
pico discursivo so bre a pró pri a
ecime nto
truindo- se um conh lín gu a
em que se usa a
língua. São aquelas
1. Cavidade oral a língua.
para analisar a própri
2. Cavidade nasal
3. Cavidade nasofaringal
4. Cavidade faringal
5. Lábio superior
6. Dentes superiores
7. Alvéolos
8. Palato duro
9. Palato mole(véu palatino)
10. Úvula
Fascículo 1 11
Fonte: http://www.ze-card.com/images/renoir/renoir70.htm
egressiva é aquela em que o ar vai para fora dos
pulmões e é expelido por meio da pressão exercida
pelos músculos do diafragma, enquanto a direção
ingressiva é aquela em que o ar vai para dentro dos
pulmões. No caso dos sons do português, o meca-
nismo de produção é egressivo (sons plosivos).
Atividade
1. A partir da observação da obra de Renoir,
Aparelho fonador dos conhecimentos empíricos e científicos
apreendidos, discuta: É possível afirmar
Fonte: [adaptado de] Silva, (2008. P.24)
4.1. A Fonação
SAIBA MAIS!
Vídeos respiração: m/watch?v=Qujt9YKGzAY&featu É na laringe que se encontra o órgão que desem-
http://www.youtube.co penha papel bastante complexo na produção dos
re=related
m/watch?v=sQU4LVJr7
TI&featur sons da linguagem humana, as cordas vocais, que,
http://www.youtube.co
e=related
de acordo com sua tensão e abertura, determinam
er- os modos de fonação também conhecidos como
notam entre vozes div
As diferenças que se da s pe sso as ba- qualificadores de voz.
de s e
sas dos sexos, das ida e.
s dimensões da laring
seiam-se, em geral, na
Na respiração em repouso e na produção dos
e o
mo hotentote, zulu
Línguas africanas, co ida de s dis - chamados sons surdos ou desvozeados, as cordas
ues como un
bosquísmano, têm cliq ue s têm um us o vocais estão separadas, e a glote está aberta. O ar
ês, os cliq
tintivas. Em portugu beijo originado nos pulmões pode passar livremente,
uís tico , po r exemplo, o som do
paraling a-
cia, o muxoxo ou est o sem que haja vibrações. Estando a glote fechada,
que se lança a distân .
çar cavalos e as cordas vocais unidas, o ar tem que forçar pas-
lar da língua para ati
sagem, fazendo-as vibrar. Os sons resultantes são
Recordando um Pouco A História do
chamados sonoros ou vozeados.
Homem
ter As cordas vocais podem assumir outras posições e,
agem humana pode
Discute- se que a lingu os , ma s pe n- consequentemente, outros modos de fonação. Nos
100 mil an
surgido há cerca de en te - há cer ca sons sonoros, as cordas vocais estão juntas em toda
mais rec
semos numa época o a re-
altura, e devid a sua extensão, e a glote está igualmente fechada.
de 40 mil anos. Nesta
do po r ba se o registo arqueo- Se, porém, devido ao afastamento das aritenoides
construções ten dos
o aparelho fonador
lógico, sabe-se que ma r- houver uma pequena abertura na glote, o som re-
umas diferenças
Neandertais tinha alg ad am en te, sultante não é mais sonoro e, sim, sussurrado. Em
derno, nome
cantes do Homem mo o
en co ntr av a- se mais elevada. Iss português, ocorrem vogais sussurradas em varia-
a laringe um a mo bil ida de
a tin ha ção com vogais sonoras. Numa palavra como ‘lin-
significa que a língu ção
ssibilidade da produ
menor, limitando a po guística’, o i e o a após a sílaba tônica podem ser
de sons. pronunciados com sonoridade ou com sussurro.
Modos de fonação
Fonte: [adaptado de] Callou (2005.p.21)
4.2. A Nasalização
A Um Ausente
Na gravura abaixo, identifique e comente os Tenho razão para sentir saudade de ti,
estados da glote e os segmentos sonoros pro- de nossa convivência em falas camaradas,
duzidos em cada um deles. simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Texto Complementar
Laringe: fa/ cor po - Como podemos perceber, a nasalização é uma ca-
aof ran cis co. com .br /al
htt p:/ /w ww.co leg ios orio/laringe racterística bastante comum; ela ocorre obrigato-
irat
humano-sistema-resp
riamente em qualquer dialeto do português.
Fascículo 1 15
(Figura anterior)
[ ] vim [‘v ] cinto [‘s tʊ]
Na prática, distinguem-se os sons nasais dos sons [e] não há cento [‘setʊ]
e
nasalizados. Nos nasais, há, além do abaixamen- [ã] lã [lã] santo [‘sãtʊ]
to do véu palatino, uma obstrução na cavidade
bucal causada pela aproximação dos dois articula- [õ] tom [‘tõ] conto [‘kõtʊ]
dores. É o que acontece com as consoantes m[m], [u] jejum [ʒe’ʒum]
u assunto [a’suto]
u
n[n] e nh[ñ]. Para a pronúncia do [m], o obstáculo
é formado na cavidade bucal pelo fechamento
dos lábios; em [n] pela junção da ponta da língua Atividade
com a parte posterior dos dentes e em [ñ] pela ar- 1. A partir da leitura do poema de Drum-
ticulação da lâmina da língua com o palato duro. mond, reflita sobre a importância da na-
Não havendo obstrução total na cavidade bucal, salização na expressividade do português.
o ar escoa também pela boca, e o som é chamado
nasalizado (caso das vogais). Neste caso, o abaixa- 2. Faça a transcrição dos segmentos vocálicos
mento do véu palatino altera a configuração da das palavras:
cavidade bucal e, portanto, a qualidade vocálica a. sim
das vogais nasais torna-se diferente da qualidade b. tonta
vocálica das vogais orais correspondentes. Um til c. janta
colocado acima da vogal marca a nasalidade. Veja os d. mundo
quadros nesta página. A nasalidade ocorre quando e. vento
uma vogal tipicamente oral é seguida de uma das
consoantes nasais (m, n, ñ). É o caso das palavras 3. Coloque os dedos, fechando a cavidade
cama, tema, time, dono, rumo e sonho. A nasali- nasal e pronuncie b, p, f. Agora pronuncie
dade é mais perceptível auditivamente com a vogal m, n, ã. O que aconteceu com a corrente
a. Com as vogais médias e, o e as vogais altas i, de ar, com a cavidade bucal e com a resso-
u, às vezes, fica difícil identificar se a nasalidade nância no momento em que você pronun-
ocorre ou não. A nasalidade não causa diferença ciou os diferentes segmentos sonoros?
de significado entre as palavras (janela, j[ã] nela);
16 Fascículo 1
3. Quanto ao Papel Orais: /a/, /é/, /ê/, ve; pi-e-do-so = pie-do-so; lu-ar = luar.
das Cavidades /i/, /ó/, /ô/, /u/
Bucal e Nasal Nasais: /ã/, /e /, / /, /õ/, / u/
Baixa: /a/
5. Quanto à Elevação
Médias: /é/, /ó/, /ê/, /ô/
da Língua
Altas: /i/, /u/
Fonte: [adaptado de] Bechara (2001.p.65) Posição das vogais /a/, /u/, /i/
5.2. Os Glides
como baixa. Repita o exercício, observan- vos, sendo estes os lugares em que os articuladores
do a posição da língua durante a articula- ativos obstruem a passagem de ar. Deve-se lembrar
ção das vogais i e u. Classifique uma como que o trato vocal é um continuum que está sendo
anterior e a outra como posterior. dividido nos lugares de produção. Desse modo,
não há pontos fixos para a produção de sons. Por
2. Classifique os segmentos vocálicos i, ê (ipê), exemplo, o som [t] é produzido com a ponta da
a, ó (avó), ô (avô), u nas seguintes catego- língua contra os alvéolos. Alguns falantes podem
rias: alta, média alta, média baixa e baixa. produzir esse som, colocando a ponta da língua
um pouco mais à frente, de modo a encostar tam-
bém nos dentes superiores. São dezenove os fone-
6. Mecanismos De Produção mas consonantais do português: /p/, /b/, /t/, /d/, /k/
(cá), /g/, /f/, /v/, /s/, /z/, /x/ (chá), /j/ (já), /rr/ (carro,
De Segmentos Consonantais rei), /r/ (cara), /m/, /n/, /nh/ (banha), /l/, /lh/ (malha)
Introdução De acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasi-
leira, classificam-se as consoantes quanto ao modo
Todas as línguas naturais possuem consoantes e de articulação, à zona de articulação, ao papel das
vogais. A cavidade orofaríngea é a câmara de resso- cordas vocais e ao papel das cavidade bucal e nasal.
nância onde o fluxo de ar é modificado pela ação
dos chamados articuladores. Os diferentes modos
6.1.1. Grau da Estritura e
por que o fluxo de ar é modificado permitem o
Modo de Articulação
estabelecimento de duas grandes classes de sons:
vogais e consoantes.
A posição assumida pelo articulador ativo em re-
lação ao passivo, indicando como e em que grau a
Observando a gravura abaixo, que observações
passagem da corrente de ar, através do aparelho fo-
você faz sobre esta última classe?
nador, limita-se neste ponto. A partir da natureza
Fonte: [adaptado de] Callou (2005. p.22)
Fricativa: os sons são produzidos por uma aproxi- o articulador passivo (arcada alveolar), e a corrente
mação dos articuladores, estreitando o trato vo- de ar é obstruída na linha central do trato vocal.
cal de modo que o ar sai produzindo fricção (esfre- O ar, então, é expelido por ambos os lados desta
gaço, atrito). A aproximação dos articuladores não obstrução tendo, portanto, saída lateral. As late-
chega a causar obstrução completa e, sim, parcial rais ocorrem em português, em: lá, palha, sal (da
causando a fricção. As consoantes fricativas que maneira como é pronunciada no Sul do Brasil ou
ocorrem em português são: fé, vá, sapo, zapata, em Portugal).
chave, já, rato (são exemplos do uso do r fricativo
- o português de Belo Horizonte e Rio de Janeiro). 6.1.2. Quanto ao Lugar ou
Zona de Articulação
Africada: é formada por uma oclusiva e uma frica-
tiva que devem ter o mesmo lugar de articulação, Temos:
ou seja, serem homorgânicas. Na fase inicial da
produção de uma africada, os articuladores pro- a. Bilabial: os sons bilabiais são produzidos pelo
duzem uma obstrução completa na passagem da fechamento ou estreitamento do espaço entre
corrente de ar através da boca, e o véu palatino os lábios (/p/, /b/, /m/). O articulador ativo é o
encontra-se levantado (como nas oclusivas). Na lábio inferior, e o passivo é o lábio superior.
fase final dessa obstrução (quando se dá a soltura b. Labiodental: são os sons produzidos pela obs-
da oclusão), ocorre, então, uma fricção decorren- trução parcial da corrente de ar entre o lábio
te da passagem central da corrente de ar (como inferior (articulador ativo) e os dentes incisivos
nas fricativas). O véu palatino continua levantado superiores (articulador passivo) (/f/,/v/).
durante a produção de uma africada. As africadas c. Dental: são os sons produzidos com a ponta
são, portanto, consoantes orais. As consoantes da língua (articulador ativo) contra a parte de
africadas que ocorrem em algumas variedades do trás dos dentes incisivos superiores (articula-
português são tia, dia. Para estes exemplos, ima- dor passivo) ou com a ponta da língua entre os
gine as pronúncias “tchia” e “djia”. Para alguns dentes. É o caso do the em inglês.
falantes de Cuiabá, ocorrem consoantes africadas d. Alveolar: os sons são produzidos com a pon-
em palavras como chá e já (quando pronunciadas, ta da língua ou lâmina da língua (articulador
respectivamente, tchá e djá. Na maioria dos diale- ativo) contra a arcada alveolar (articulador pas-
tos do português brasileiro, temos uma consoante sivo). Consoantes alveolares diferem de con-
fricativa nas palavras chá e já. soantes dentais apenas quanto ao articulador
passivo.
Vibrante: som produzido quando o articulador ati- e. Alveopalatal (palato-alveolar ou pós-alveola-
vo bate várias e rápidas vezes no articulador passivo, res): são sons produzidos com a lâmina da lín-
causando vibração. Em alguns dialetos do portu- gua (articulador ativo) contra a parte anterior
guês, ocorre esta variante em expressões, como “orra do palato duro (articulador passivo), logo após
meu!” ou em palavras, como marra. Certas varian- os alvéolos.
tes do estado de São Paulo e do português europeu f. Palatal: são os sons produzidos com o centro
apresentam uma consoante vibrante nestes casos. da língua (articulador ativo) contra o palato
Tepe: som produzido pela batida rápida e única do duro (articulador passivo).
articulador ativo no articulador passivo, ocorrendo g. Velar: são os sons produzidos pelo dorso da
uma rápida obstrução da passagem da corrente de língua (articulador ativo) contra o véu palatino
ar através da boca. O tepe ocorre em português nos ou palato mole (articulador passivo).
exemplos: cara, fraca. h. Uvular: os sons uvulares são produzidos pelo
dorso da língua contra o véu palatino e a úvu-
Retroflexa: a produção de uma retroflexa geral- la. Por exemplo, o orra(de orra, meu) produzi-
mente se dá com o levantamento e encurvamento do por alguns dialetos paulistas.
da ponta da língua (articulador ativo) em direção i. Glotal: são os sons produzidos pelas cordas
ao palato duro (articulador passivo). Ocorre no dia- vocais. Ocorre quando os músculos liga-
leto “caipira” e no sotaque de norte-americanos, mentais da glote se comportam como ar-
falando português, como nas palavras: mar, carta. ticuladores. Por exemplo, em rata (na pro-
núncia típica do dialeto de Belo Horizonte)
Laterais: o articulador ativo (ponta da língua) toca j. Faringal: são os sons produzidos pela raiz da
20 Fascículo 1
• Sonoras: /b/, /v/, /d/, /z/, /j/, /g/, /m/, /n/, /nh/,
/l/, /lh/, /r/, /rr/
• Surdas: /p/, /f/, /t/, /s/, /x/, /k/.
Podem ser:
Aparelho fonador/lugar de articulação
• Nasais: /m/, /n/, /nh/
• Orais: (todas as outras)
6.2. Diacríticos
Modos deArticulação Oclusivas Oclusivas Nasais Fricativas Fricativas Retroflexas Vibrantes Laterais
e Fonação Surdas Sonoras Sonoras Surdas Sonoras Sonoras Sonoras Sonoras
Lugares de Articulação
1. Bilabiais p b m
2. Labiodentais f v
3. Dentais t d n ɹ ɾ l
4. Alveolares s z r
5. Palato-alveolares ʧ ʤ ʃ Ʒ ɹ
ɲ
y
6. Palatais
7. Velares k g ŋ x Ɣ
8. Glotais ɂ h ɦ
Fonte: [adaptado de] Cagliari (1997. p.55)
Atividade
1. Indique os articuladores ativos e passivos na produção de cada lugar de articulação:
a. bilabial
b. labiodental
c. dental
d. alveolar
e. alveopalatal
f. palatal
g. velar
[z] [ʃ]
[k] [n]
22 Fascículo 1
• Articuladores: desenhe uma seta, sain- acrescenta-se um diacrítico para marcar a posição,
do do articulador ativo para o passivo. se o intuito for uma transcrição mais detalhada.
3. Categorize os segmentos consonantais do Para cumprir este papel, tem-se a tabela fonética in-
português quanto ao modo de articulação: ternacional (IPA - Internacional Phonetic Alphabet).
Esta tabela foi organizada de acordo com os traços
a. /p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/ envolvidos na produção dos sons. A finalidade do
b. /f/, /v/, /s/, /z/, /x/, /j/, /r/, /rr/, /l/, /lh/, alfabeto fonético e de uma transcrição fonética é a
/m/, /n/, /nh/ de possibilitar a transcrição e a leitura de qualquer
som em qualquer língua por uma pessoa treinada.
Assim, o que se quer é que as convenções usadas
7. Alfabeto Fonético sejam inequívocas e estejam explicitadas. Uma
comparação entre as várias propostas de alfabetos
Por que precisamos usar, para representar os fonéticos mostra que há uma base comum advin-
sons nos estudos de fonética, um alfabeto da do alfabeto fonético internacional. E, na práti-
diferente do que usamos para escrever? ca, qualquer que seja o alfabeto adotado, ocorrem
sempre adaptações determinadas por conveniências
Vamos responder a esta questão a partir das razões ocasionais, tais como facilidade de datilografia, tipo-
apresentadas por Fiorin (2007), ao considerar que gráficas, maior legibilidade etc. Nos estudos sobre o
a fonética lida com a substância da expressão e, português, é bastante difundido o alfabeto de LA-
portanto, deve-se tentar registrá-la o mais fielmen- CERDA & HAMMARSTRÖM (1952) (CALLOU,
te possível. Em primeiro lugar, qualquer pessoa 2005). Em Silva (2008), encontramos uma tabela
pode ter se deparado com problemas ortográficos que lista os segmentos consonantais relevantes para
do tipo: emprego do x ou ch, g ou j, l ou lh. Isso a transcrição do português brasileiro. Veja abaixo.
ocorre porque, na ortografia, um som não neces- Logo após, a autora apresenta a transcrição fonéti-
sariamente corresponde a uma letra. Por outro ca, observações e exemplos de palavras que ilustram
lado, assim como temos uma letra que correspon- cada um dos segmentos da tabela apresentada.
de a mais de um som, um som pode corresponder
a mais de uma letra. Há muitos casos em que se Em Cagliari (1997), encontramos uma tabela que
usa uma combinação de letras para indicar um apresenta os símbolos do IPA, seguidos das letras usa-
determinado som (por exemplo, nh, lh.ch), em das para se escrever ortograficamente o português e
que uma letra representa mais de um som (x para de exemplos para facilitar a compreensão. Confira.
sexo) e em que se utilizam letras que não têm
Símbolos fonéticos consonantais relevantes
correspondente sonoro algum (h em hospital). para transcrição do português
Alveopalatal
Labiodental
Glotal
Bilabial
Palatal
Dental
Articulação
Velar
ou
para assinalar as principais variações (combinatórias, sociais ou individuais) de uma mesma unidade
distintiva. A consoante inicial da palavra rato será representada /r/ numa transcrição fonológica, mas,
de acordo com o sotaque regional do falante, ela poderá ser representada foneticamente [r], [R], [ ʁ ].
Atividade
1. Indique a forma ortográfica de cada uma das palavras a seguir:
a. elegante
b. carregamento
c. ajudante
d. congelados
e. amplitude
f. embrulhadinho
g. refrigerante
h. casamento
i. exílio
j. meiguice
3. Escolha um verso do poema de Drummond e faça a transcrição fonética. Considere seu idioleto.
Ausência
RESUMO
A Fonética possui áreas de interesse. Estuda a produção dos sons da linguagem humana
e os órgãos envolvidos na produção da fala.
A fonação refere-se ao processo de produção de sons por meio das cordas vocais, quando
estas vibram devido a uma explosão expiratória de ar, podendo produzir diferentes sons.
Na produção dos sons, há a distinção destes quanto ao papel das cavidades bucal e
nasal. Assim, os sons são classificados em orais e nasais. A nasalização ocorre quando
fonemas orais se opõem aos nasais.
As vogais são caracterizadas pela passagem livre do ar através da cavidade bucal, não
podendo haver para estas a classificação por ponto e modo de articulação. Classificam-
se, assim, as vogais quanto à zona de articulação, intensidade, timbre e papel das cavi-
dades bucal e nasal. As vogais se opõem às consoantes por serem acusticamente sons
periódicos complexos, por constituírem núcleo da sílaba e sobre elas poder incidir acento
de tom e/ou intensidade. Os sons que não se identificam como vogais ou consoantes são
chamados semivogais ou glides que, por fonologicamente se comportarem como conso-
antes, não assumem núcleo de sílaba e jamais são acentuados.
Glossário
Aritenoides – um par de pequenas pirâmides de cartilagem vos articulados com duas cláusuras (pontos de contacto)
que fazem parte da laringe. Nestas cartilagens, as cordas na boca, uma à frente, e outra atrás. A bolsa de ar no
vocais são anexadas. meio é rarefeita por ação sugadora da língua, ou seja, os
cliques acontecem devido ao mecanismo aéreo, ingressivo
Clique – som produzido com a língua ou os lábios sem a velárico/lingual.
ajuda dos pulmões. Tecnicamente, os cliques são obstruti-
Fascículo 1 27
Fonema – designa o som que, dentro de um sistema fônico sas. Fonética: Produção de Sons na Linguagem
determinado, tem um valor diferenciador entre vocábu- Humana. Aparelho Fonador. Alfabeto Fonético.
los. Corresponde aos sons elementares e distintivos que o
homem produz quando, pela voz, exprime seus pensamen- Fonologia: Fonema. Traços Distintivos. Arqui-
tos e emoções. fonema. Sistema Consonantal. Interpretação
da Vibrante. Sistema Vocálico. Vogais Nasais.
Idioleto – é uma variação de uma língua única a um indi- Vogais Assilábicas. Variação Fonológica. Estilís-
víduo. É manifestada por padrões de escolha de palavras e
tica Fônica. Alfabetização. Inclui nota sobre as
gramática, ou palavras, frases ou metáforas que são únicas
desse indivíduo. Cada indivíduo tem um idioleto; o arranjo autoras, bibliografia geral e comentada e índi-
de palavras e frases é único, não significando que o indi- ce de figuras, onomástico e remissivo).
víduo utiliza palavras específicas que ninguém mais usa.
Um idioleto pode evoluir facilmente para um ecoleto - uma CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguís-
variação de dialeto específica a uma família de indivíduos.
tica. São Paulo: Scipione, 1997.
Letra – sinal gráfico que, na escrita, representa o fonema.
Pode-se dizer ainda que a letra é uma realidade visual grá- (Este livro apresenta uma reflexão sobre o pa-
fica, e o fonema é uma realidade acústica. pel que a escola desempenha na sociedade,
possibilitando ao educador compreender a
Língua – é a linguagem que utiliza a palavra como sinal de
comunicação. Trata-se de um sistema de natureza gramati- natureza da escrita, suas funções e usos. É in-
cal, pertencente a um grupo de indivíduos, formado por um dispensável para quem se propõe à tarefa da
conjunto de sinais e de regras para combinação destes. É alfabetização. Nele se encontram fundamentos
uma instituição social de caráter abstrato, exterior aos in- sobre conhecimentos linguísticos úteis na busca
divíduos que a utilizam, que somente se concretiza através
da fala, que é um ato individual de vontade e inteligência.
de soluções para problemas técnicos relativos à
fala, à escrita e à leitura infantil).
Linguagem – todo sistema de sinais que nos permite realizar
atos de comunicação. FIORIN, José Luiz(org). Introdução à Linguística
II. Princípios de análise. 4 ed. 1ª reimpressão.
Protrusão – estado de um órgão que, em virtude do cres-
cimento, se acha colocado na frente de outros órgãos que São Paulo: Contexto, 2007.
ele normalmente não ultrapassa.
(Este livro expõe os princípios de análise dos
Som – movimento vibratório de um corpo sonoro. fenômenos da linguagem. Começa pelo estudo
dos sons (fonética e fonologia), passa pelo exa-
me da palavra e dos seus componentes (morfo-
REFERÊNCIAS logia), pela análise da sentença e chega até a
investigação dos sentidos (semântica), das ca-
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática por- tegorias da enunciação (pragmática) e da or-
tuguesa. 37 ed. Ver. e ampl. Rio de Janeiro: ganização do discurso. Na análise semântica,
Lucerna, 2001. apresenta dois pontos de vista diferentes, para
que o leitor perceba que, no fazer científico,
(Esta obra, revista e ampliada, oferece ao leitor princípios teóricos distintos levam ao exame de
o extraordinário universo que é a Língua Portu- fatos diferentes ou a explicações diversas para
guesa em suas múltiplas manifestações e reúne a o mesmo fenômeno. É o segundo volume de
maior coletânea de assuntos gramaticais. Atua- Introdução à Linguística.
lizada no plano teórico da descrição do idioma,
e enriquecida por trazer à discussão e à orien- SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e Fonologia do
tação normativa a maior soma possível de fatos português: roteiro de estudos e guia de exercí-
gramaticais levantados pelos melhores estudio- cios. 9 ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Contex-
sos da Língua Portuguesa, dentro e fora do país). to, 2008.
CALLOU, Dinah. Iniciação à Fonética e Fonolo- (Este livro representa uma valiosa contribuição
gia. 10 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. aos estudos fonológicos brasileiros, por pro-
porcionar o conhecimento dos pressupostos te-
(O livro apresenta os principais fundamentos órico-metodológicos fundamentais de fonética,
da Linguística, tratando sobre: Língua Portu- fonêmica e fonologia, de maneira clara e numa
guesa. Fonética. Fonologia. Estudos e Pesqui- linguagem coerente e acessível. Além de expor
28 Fascículo 1
Fonologia
e Processos
Fonológicos da
Língua Portuguesa Prof.ª Maria Perpétua Teles Monteiro
Carga Horária | 15 horas
Objetivos Específicos
Identificar os principais conceitos e fundamentos da Fonologia.
Aplicar princípios da teoria fonológica na pesquisa, na análise e no ensino da
Língua Portuguesa.
1. Fonema
Segundo Callou (2005), a distinção feita tradicionalmente entre fonética e fonologia
na linguística é a base do conceito original de fonema desenvolvido por volta de
1920. Desde o aparecimento do termo, através dos tempos, o fonema tem sido
visto de diversas maneiras: de início, igualado a som da linguagem; depois conhe-
cido sob um prisma essencialmente psíquico; como intenção de significado; mais
tarde, sob o prisma físico, funcional e abstrato.
cacaocrista.com.br/img/banner_
Fonte: http://www.comuni
alofone_sp.gif.
sivo dentro dos estudos fonológicos, contribuindo
para formular o conceito de unidade mínima, in-
divisível do fonema como unidade mais suscetível
de dissociar-se em unidades inferiores ou mais sim-
ples – os traços fônicos. Jakobson definiu o fone-
ma como um feixe de traços distintivos, chamando Alôfone
a atenção para o fato de o fonema corresponder a
um ato de atribuição de significado e jamais um
ato de plenitude de significação. O fonema é as- 2. Alofones
sim: uma subunidade carente de significado.
Como sabemos, pode acontecer de dois sons per-
O fonema é um som que, dentro de um sistema tencerem ou serem realizações do mesmo fonema.
fônico determinado, tem um valor diferenciador As diferentes realizações de um determinado fo-
entre os vocábulos. A realização fônica em si vai in- nema são denominadas seus alofones. O fonema
teressar à fonética, à fonologia interessa a oposição /a/, por exemplo, tem pelo menos três realizações
dos sons dentro do contexto de uma dada língua. diferentes em português. Em sílabas tônicas, ele
Ela se ocupa dos aspectos interpretativos dos sons, é pronunciado como [a], ou seja, com a cavidade
de sua estrutura funcional nas línguas. oral apresentando seu grau máximo de abertura. É
o que ocorre em pá, caso e ávido. Em sílabas áto-
Quando um falante diz, por exemplo, potxi, txia, nas finais, o mesmo fonema /a/ se apresenta com
tudu, tapa até, etc., a Fonética constata as pronún- um grau um pouco menor de abertura, o que é
cias diferentes tx e t, e a fonologia interpreta essa transcrito como [ɐ]. Preste atenção na pronúncia
diferença, atribuindo um valor único a esses dois de fala e casa; a vogal da sílaba tônica apresenta um
sons, uma vez que tx ocorre somente diante da grau de abertura maior do que o da sílaba átona.
vogal i, e o t diante de outro som que não seja i. Uma outra realização do fonema /a/ é a que encon-
Fato semelhante ocorre quando um falante diz ora tramos quando ele é nasalizado.Tanto em palavras
iscada, ora escada. A ocorrência de i ou de e não como lã como em palavras como cama, o /a/ tôni-
Fascículo 2 31
co é realizado com um grau de abertura menor do que ocorre em admirar, que é pronunciada como
que o do [a] tônico oral. Essa realização do fonema se houvesse um [i] entre o [d] e o [m], provocando a
/a/, embora se encontrem outras notações, pode aplicação da regra de palatização do [d], que passa
ser transcrita como [ã]. Uma transcrição feita como [dʒ]. O resultado é, portanto, a forma [adʒimi’rar].
[ɐ] [’kamɐ], com [a] oral e com abertura máxima em A principal conclusão a que devemos chegar é a de
sílaba tônica, precedendo uma consoante nasal, que onde ocorre [d], não ocorre [dʒ], e vice-versa.
no máximo produziria realizações estranhas, não Podemos dizer que esses dois fones ocorrem em
utilizadas pelos falantes. Perceba que se fez referên- distribuição complementar.
cia a três alofones distintos do fonema /a/. Se não
conseguirmos caracterizar dois segmentos suspei- Atividade | Observe as realizações dos fone-
tos como fonemas distintos, mas o caracterizamos mas na figura anterior. Apresente conclusões.
como realizações distintas de um mesmo fonema,
devemos buscar evidências para caracterizá-los
como alofones.
Texto Complementar
Dois sons diferentes podem funcionar sempre dis- Alofone: xu0oC&
.br/books?id=ivoQ6Q2
tintamente, num sistema linguístico. Nesse caso, http://books.google.com
pg=PA#PPA41,M1]
não há dúvida, eles são realizações de fonemas di-
ferentes, mas mesmo que eles sejam realizações de
um único fonema, a relação entre essas variantes
pode ser de tipos diferentes: SAIBA MAIS!
com
s – são produzidos
Os alofones estilístico en to de
2.1. Variação Livre como o alongam
intenção expressiva, a de
a vibração alongad
[e] em eeeeeu???!!! e
Em português, várias consoantes produzidas com a em burrrrro!!!
ponta da língua como articulador podem ser reali-
zadas de duas maneiras distintas, como alveolares
ou como dentais. Você pode verificar, pronuncian-
2.3. Par Suspeito, Par Mínimo e
do as palavras tom, dar, não e lá com a ponta da
língua encostada nos dentes superiores ou na ar-
Par Análogo
cada alveolar, ao produzir os sons iniciais de cada
Para que se entenda o funcionamento do sistema
uma dessas palavras. Se você disser que tem um
fonológico de uma língua, precisa-se fazer um le-
[‘gatʊ], e eu disser que tenho um [‘gat̪ ʊ], com cer-
teza temos o mesmo tipo de animal doméstico, vantamento de todos os sons que ocorrem nela
embora a pronúncia utilizada seja diferente. Não e depois passar a examiná-los para verificar quais
há qualquer possibilidade de distinguir significa- são distintivos ou não nessa língua. Como os sons
do em português através dessa posição. Podemos podem ser modificados de acordo com o contexto
dizer, então, que entre o [t] alveolar e o [t] dental, em que ocorrem, pode ser que dois sons diferentes
existe variação livre sociolinguisticamente falando. sejam apenas versões ligeiramente modificadas de
um mesmo elemento. Precisa-se, então, fazer um
2.2. Distribuição Complementar levantamento dos sons que são semelhantes na lín-
gua em estudo. Por exemplo, sons como [p] e [b] ou
[t] e [d] são bastante semelhantes, pois diferem um
Chama-se distribuição complementar a relação
entre alofones, quando um fone ocorre em deter- do outro apenas pelo fato de serem surdos e sono-
minados ambientes, e outro fone ocorre nos de- ros. Sons foneticamente semelhantes são aqueles
mais ambientes. Por exemplo, nos falares do por- que compartilham de uma ou mais propriedade fo-
tuguês do Brasil em que a palatização diante de [i], nética. Um par de sons foneticamente semelhantes
o [d] pode ser realizado de duas maneiras: como constitui um par suspeito.
[d] diante de tepe e diante de qualquer vogal que
não seja o [i]; ou como [dʒ] diante de [i]. Diante de O procedimento habitual de identificação de fo-
qualquer consoante que não o tepe, ocorre a forma nemas é buscar duas palavras com significados di-
[dʒ], mas, nesse caso, ocorre epêntese ou inserção ferentes cuja cadeia sonora seja idêntica. As duas
de um [i] entre o d e a consoante seguinte. É o palavras constituem um par mínimo. Assim, em
32 Fascículo 2
português, define-se /f/ e /v/ como fonemas dis- Em posição átona, os dois fonemas correlativos
tintos, uma vez que o par mínimo “faca” e “vaca” tornam-se intercambiáveis, sem que isso altere o
demonstra a oposição fonêmica. Assim o par mí- significado da forma. Por exemplo, em final de pa-
nimo “faca/vaca” caracteriza os fonemas /f,v/ por lavra como em bolo/bolu, não há oposição entre
contraste em ambiente idêntico. Um par de pa- os fonemas o e u. Assim, essa forma passa a ser
lavras é suficiente para caracterizar dois fonemas. escrita como /bolU/. O arquifonema passa a ser re-
Esse tipo de procedimento é chamado de teste de presentado por um símbolo, geralmente uma letra
comutação: altera-se o significante em um único maiúscula, que indica a perda do contraste entre
ponto e verifica-se se há alteração de significado. os dois fonemas, causada por uma neutralização.
O conceito de neutralização e o de arquifonema
Quando se confirma que há distinção sistemática (realização não-marcada resultante da neutraliza-
de significado entre pares desse tipo, tem-se que, ção) foi criado por Nicolai Trubertzkoy, fonólogo
nessa língua, os pares suspeitos formam pares mí- da escola de Praga (1890-1939). Algumas correntes
nimos. Basta encontrar pares mínimos para sons não aceitam a noção de neutralização e preferem
foneticamente semelhantes. Quando pares míni- tratar o fenômeno dentro da morfofonologia ou
mos não são encontrados para um grupo de sons morfofonêmica.
em uma determinada língua, pode-se se caracteri-
zar os dois segmentos em questão como fonemas 3.1. O arquifonema /S/
distintos pelo contraste em ambiente análogo.
Assim, duas palavras que ocorram em ambientes Em português, temos a oposição fonêmica entre
similares podem caracterizar o contraste em am- /s,z,ʃ,ʒ/. Os pares mínimos “assa, asa, acha, haja”
biente análogo, desde que a diferença entre os sons caracterizam o contraste fonêmico dos fonemas
não seja atribuída aos sons vizinhos, por exemplo, /s,z,ʃ,ʒ/ em posição intervocálica. Os pares mínimos
devido a processos de assimilação. Um exemplo “(ele) seca, Zeca, (ele) checa, Zeca caracterizam o
para demonstrar o contraste fonêmico em ambien- contraste fonêmico dos fonemas /s,z,ʃ,ʒ/ em início
te análogo pode ser em [s] e [z], em posição inicial, de palavra. Perceba que, caso haja a troca de um
no par de palavras “sumir/zunir”. Note que em fonema pelo outro, haverá mudança de significado
“sumir/zunir” além da diferença segmental de [s] de palavra. Note, contudo, que em oposição final
e [z], temos a diferença entre [m] e [n], precedendo de sílaba, o contraste fonêmico dos fonemas /s,z,ʃ,ʒ/
a vogal tônica. Não há razão para se supor que as desaparece. Pretende-se dizer com isso que, em po-
consoantes nasais [m] e [n] possam influenciar as sição final de sílaba qualquer, um dos segmentos
ocorrências de [s] e [z] (por assimilação, por exem- /s,z,ʃ,ʒ/ pode ocorrer sem prejuízo de significado.
plo). Portanto, o par de palavras ‘sumir/zunir” de- Observe a realização fonética que ocorre com a
monstra o contraste em ambiente análogo entre [s] consoante no final de sílaba, na palavra “mês”:
e [z], em posição inicial. [‘mes] ou [‘meʃ ]; [mezbu’nitʊ] ou [me ʒ bu’nitʊ] “ mês
bonito”. Em todos esses exemplos, podemos de-
preender o significado da palavra. Note, contudo,
Texto Complementar que a consoante final da palavra mês ocorre como
Neutralização e arq uifonema: xu0oC& qualquer um dos segmentos /s,z,ʃ,ʒ/. Este fato per-
/bo oks .go ogl e.c om .br/books?id=ivoQ6Q2
p:/
htt mite a conclusão de que houve uma neutralização
ina 66)
pg=PA#PPA66,M1( pág
dos fonemas /s,z,ʃ,ʒ/ em posição, em final de sílaba,
em português. Para neutralização, utiliza-se a no-
ção de arquifonema. O símbolo /S/ representará os
3. A Neutralização e o Arquifonema segmentos /s,z,ʃ,ʒ/ que ocorrem em final de sílaba,
contexto em que a neutralização ocorre.
O conceito de neutralização não deve ser confun-
dido com o de variação. Existe neutralização, quan- 3.2. Os arquifonemas /R/, /L/ e /N/
do há uma supressão das oposições entre dois ou
mais fonemas em determinados contextos, isto é, Em português, temos o “r” fraco e o “R” forte.
quando uma oposição é anulada ou neutralizada. Atesta-se contraste fonêmico (pares mínimos) en-
No sistema fonológico do português, em posição tre estes dois tipos de “R” somente em posição in-
pretônica, há uma neutralização entre [e] e [ɛ] e [o] tervocálica: “caro/carro; carreta/careta; sarar/sar-
e [ɔ], cuja posição é funcional em posição tônica. rar. O ‘r” fraco, que ocorre em palavra como “caro,
Fascículo 2 33
quanto ao caráter dos traços distintivos. zidos com aponta da língua como articu-
lador ativo, o que se move em direção ao
4.1. Traços Distintivos articulador passivo. São coronais, portanto,
sons como [s, t, l]. Algumas análises também
• Os denominados independentes dos articulado- consideram as vogais anteriores como coro-
res (não estão associados a um único articulador) nais. Todos os demais são não-coronais.
• [+ labial]: são labiais os sons produzidos com
• [+ consonantal]: corresponde intuitivamen- o lábio inferior como articulador ativo. Essa
te à divisão entre vogais e consoantes. Têm o classe abrange os sons bilabiais e labiodentais.
traço [+ consonantal] os sons que apresentam • [+ dorsal]: são dorsais os sons produzidos
um grande obstáculo à passagem do ar pela com a parte posterior da língua como arti-
parte central da cavidade oral, isto é, se há culadores ativo. Inclui as consoantes uvu-
neles um fechamento total (como nas oclusi- lares e velares, além das vogais posteriores.
vas, nas nasais, laterais e vibrantes) ou quase Algumas análises, no entanto, incluem
total (como fricativas). Dessa forma, as semi- todas as vogais entre os sons dorsais.
vogais ou glides ficam classificadas com o
traço [- consonantal] • Traços de modo de articulação: [+ sonoro],
• [+ vocálico]: são vocálicos os sons produzidos [+ nasal], [+ lateral].
sem impedimento à passagem de ar. Assim, • Outros traços: [+ anterior], [+ posterior], [+ ar-
como os sons [l, ʎ, r, ɾ] são produzidos com rela- redondado], [+ alto], [+ baixo].
tiva desobstrução do ar, eles são considerados • Traços não relevantes para o português: [+ aspi-
como tendo o traço [+ vocálico]. Por outro rado], [+ glotalizado].
lado, como os glides caracterizam-se por terem
o espaço da passagem do ar mais reduzido do Os traços com sinal (+) são marcados, e os com
que nas outras vogais, eles são caracterizados sinal (-) não são marcados. Em uma notação como
como [- vocálico]. [+ sonoro], não se lê a valência (o sinal +), mas
• [+ soante] ou [+ sonorante]: uma das for- se diz apenas sonoro. Na notação [- sonoro], por
mas de caracterizar essa oposição é dizer exemplo, diz-se não-sonoro ou surdo, não sendo
que têm o traço [+ soante] os sons que não costume dizer menos sonoro.
dificultam a produção das cordas vocais.
É atributo o traço [- soante] aos sons que
apresentam uma obstrução grande à pas- Texto Complementar
ços
sagem do ar, dificultando, dessa maneira, sobre o sistema de tra
Uma breve reflexão
essa vibração. Têm o traço [- soante], por- distintivos: bli cac oe s/
.br /ie l/s ite /al un os/ pu
tanto, as oclusivas, fricativas e fricadas. Os htt p:/ /w ww.un ica mp
textos/b00007.pdf.
demais sons (vogais, semivogais, nasais,
laterais e vibrantes) têm o traço [- soante]
• [+ contínuo]: os sons que têm o traço
[+ contínuo] são produzidos sem que haja Atividade | Pesquise e selecione dados do idio-
uma interrupção do fluxo de ar. Se houver leto de um falante de São Paulo e um gaúcho e
essa interrupção, considera-se que o som transcreva foneticamente esses dados, apresen-
tem o traço [- contínuo], o que abrange as tando observações sobre possíveis variantes.
oclusivas, africadas e vibrantes.
• [+ tenso]: são os sons produzidos com con-
siderável esforço muscular. A oposição 5. Aspectos Suprassegmentais
entre os chamados r fraco (o de era) e o r
ou Prosódicos
forte (o de erra) pode ser caracterizada por
esse traço, tendo eles os traços [- tenso] e
Podemos distinguir os sons uns dos outros por pro-
[+ tenso], respectivamente.
priedades que detectamos em cada um deles ou por
propriedades que só podemos detectar sintagmati-
• Os dependentes de um articulador
camente. Dentre as propriedades que detectamos
em cada um dos sons, encontra-se o modo de ar-
• [+ coronal]: são coronais os sons produ-
Fascículo 2 35
verificar o status fonológico dos sons que fica- modelo fonológico do tipo fonêmico, apresentado
ram isolados na tabela e que não participaram durante este fascículo, ilustra uma tentativa estru-
da discussão fonológica com outros sons. Não turalista de formalização do componente sonoro.
havendo dúvida, em princípio, esses sons são Correntes teóricas pós-estruturalistas, que tratam
fonemas independentes. Havendo dúvidas, es- do componente sonoro, são conhecidas como mo-
ses sons deverão ser investigados, comparados delos fonológicos aqui apresentados da fonologia
com outros sons e analisados para se saber se gerativa padrão à interface fonologia-sintaxe.
são alofones em variação ou apresentam um
valor de fonema. O Estruturalismo
• O inventário dos fonemas: neste momento, o
inventário de fonemas na tabela de fonemas Como já foi dito, o modelo fonêmico expressa
deve estar completo, e os processos fonológi- uma tentativa de formalização do componente
cos de distribuição dos fonemas e da ocorrên- sonoro. Em correntes estruturalistas, a investi-
cia de seus alofones já devem ser do conheci- gação do componente sonoro prevalecia sobre
mento do pesquisador. a análise de outras áreas (como a morfologia e
• Os processos fonológicos: um aspecto impor- a sintaxe, por exemplo). Na verdade, os proce-
tante da análise fonológica é a formulação de dimentos teóricos e metodológicos postulados
regras de distribuição dos fonemas e da reali- para a análise do componente sonoro dentro
zação de seus alofones. Todas as modificações de uma ótica estruturalista foram estendidos a
que os fonemas sofrem devem ser descritas e outras áreas da análise lingüística, contribuindo
formuladas de acordo com a tradição da fono- para o seu progresso como ciência. Dentre as
logia. Para que uma análise fonológica fique tantas discussões, temos que em uma análise fo-
mais completa, é necessário considerar não nêmica, deve-se ter um inventário fonético (que
apenas os aspectos segmentais mas também os lista os fonemas, alofones e informações sobre
fenômenos suprassegmentais, morfofonológi- a estrutura silábica ou suprassegmental). A uni-
cos, sociolinguísticos, pragmáticos etc. dade mínima de análise é o fonema. Pares míni-
• A transcrição fonológica: uma análise fono- mos caracterizam a oposição entre os fonemas;
lógica completa costuma apresentar o corpus Alofones caracterizam a variação expressa pela
transcrito com os fonemas. Desta forma, os distribuição complementar e o fonema constitui
dados aparecerão documentados com a trans- uma unidade mínima de análise, que tem um
crição dos fonemas dos itens lexicais e com papel contrastivo e concreto na investigação lin-
seus respectivos alofones. Com isto, a análise guística. É fato que os procedimentos teóricos
fonológica está concluída. e metodológicos postulados para a análise do
componente sonoro dentro de uma ótica estru-
Atividade | Identifique, em sua comunidade, turalista foram estendidos a outras áreas da aná-
um falante de quem você possa gravar uma lise linguística, contribuindo para o progresso
conversa e retirar algumas palavras que julgue desta. À linguística cabe analisar e formalizar o
interessantes para análise. Faça a análise dos supra-sistema que Saussure denominou língua.
dados selecionados. A fonte de dados para a análise linguística é a
fala que consiste da linguagem enquanto evento
físico (em termo de pronunciarem-se sequências
Texto Complementar de sons). Posteriormente, a proposta de inter-
gina 13): pretar-se o fonema como unidade mínima de
Modelos teóricos (pá m. br/ bo ok s?i d= TFz
WA q-
p:/ /bo ok s.g oo gle .co
htt análise será questionada e implicará mudanças
M1
S7I0C&pg=PA#PPA13, significativas para a teoria linguística.
Teoria da Otimização
gina 68):
Interface Fonologia-Sintaxe Fonologia métrica (pá .co m. br/ bo ok s?i d= TFz
WA q-
p:/
htt /bo ok s.g oo gle
M1
S7I0C&pg=PA#PPA68,
A descrição e formalização dos sistemas sonoros
e prosódica:
Fonologia métrica rev
tinham posição de destaque até meados da década ista/Fonologia5.html
http://www.unincor.br/
de 1960 nos estudos linguísticos. Após a proposta
de Chomsky (1965), o foco da análise linguística
passa a ser a organização do componente sintáti-
co. A descrição dos sistemas sonoros passa a fazer
parte do componente fonológico que atua após
os mecanismos sintáticos terem sido concluídos.
A interface fonologia-sintaxe pode ser pesquisada
nos trabalhos de Selkirk (1980), Pullum e Wicky
(1984), Nespor e Vogel (1986) Scarpa (1999).
Fonologia de Uso
RESUMO
Há uma discussão histórica sobre a compreensão do objeto de estudo da fonética e da
fonologia que vai encontrar maior precisão nas contribuições de Saussure, Trubetzkoy e
Jakobson, quando o fonema passa a ser entendido como um som que, dentro de um
sistema fônico determinado, tem um valor diferenciador entre os vocábulos.
Alofone: cada realização de um fonema. A relação entre as variantes pode ser: variação
livre e por distribuição complementar.
Pode-se distinguir os sons uns dos outros por propriedades presentes em cada um deles.
Essas propriedades podem ser segmentais ou suprassegmentais.
GLOSSÁRIO REFERÊNCIAS
Acentuação – modo de proferir um som ou grupo de sons
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática por-
com mais relevo que os outros. Esse relevo denomina-se
acento. tuguesa. 37. ed. Ver. e ampl. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2001.
Diz-se que o acento é de intensidade (acento de força,
acento dinâmico, acento expiratório ou icto), quando o CALLOU, Dinah. Iniciação à Fonética e Fonolo-
relevo consiste no maior esforço expiratório. Diz-se que o
acento é musical (acento de altura ou tom), quando o rele-
gia. 10 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
vo consiste em elevação ou maior altura da voz.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Análise fonológica:
Estruturalismo – corrente de pensamento nas ciências hu- introdução à teoria e à prática com especial
manas, que se inspirou no modelo da linguística e que
destaque para o modelo fonêmico. São Paulo:
apreende a realidade social como um conjunto formal
de relações. Mercado das letras, 2002.
Fascículo 2 41
Processos
Morfofonológicos
e Estilísticos
Prof.ª Maria Perpétua Teles Monteiro
Carga Horária | 15 horas
Objetivos Específicos
Apontar os principais conceitos relacionados aos processos morfofonológi-
cos e estilísticos da Língua Portuguesa.
1. Morfofonologia
Introdução
1.1. Morfologia
Podemos conceituar morfologia como o estudo da forma, da configuração, da
aparência externa da matéria. O termo morfologia foi inicialmente empregado
nas ciências da natureza, botânica e geologia. Na linguística, começou a ser
utilizado no século XIX. Nessa época, sob a influência do modelo evolucionis-
ta de Darwin, acreditava-se que o estudo da “evolução” das ‘quatrocentas ou
quinhentas’ raízes básicas do indo-europeu poderia levar à solução do velho
enigma da origem da linguagem. Hoje, essa questão está praticamente fora do
âmbito da pesquisa linguística, e o estudo da forma das palavras assume outra
abrangência e complexidade. Considerar o morfema ou a palavra como a uni-
dade central do estudo morfológico resulta em modos diferentes de se abordar
a morfologia. Pode-se dizer que a noção de morfema está relacionada com o
estruturalismo, que tinha como problema central a identificação dos morfemas
nas diferentes línguas do mundo.
44 Fascículo 3
O estudo da morfologia se subdivide em dois campos: também a partir de formas presas, como na
1. um, dedicado ao estudo dos mecanismos mor- palavra geologia (geo-logia).
fológicos por meio do qual se formam palavras
novas – domínio da morfologia lexical; O processo de composição junta uma base à
2. outro, voltado à análise dos mecanismos mor- outra, com ou sem modificação de sua estru-
fológicos que apresentam informações grama- tura fônica, aglutinando-se, em aguardente,
ticais – domínio da morfologia flexional. ou justapondo-se, em pentacampeão. Os ele-
mentos do composto apresentam uma relação
1.2. Morfologia Lexical entre um núcleo e um modificador (ou especi-
ficador), entre um determinado e um determi-
Derivação e composição são os processos mais ge- nante. Em português, o primeiro elemento do
rais de formação de palavras. O processo de deri- composto funciona como núcleo nas estrutu-
vação é o mais utilizado para formar novos itens ras formadas por:
lexicais. A derivação é o mecanismo básico da mor-
fologia lexical. • Substantivo + Substantivo. Ex: sofá-cama,
peixe-espada, mestre-sala.
• Derivação: nesta, acrescenta-se um afixo (su- • Substantivo + adjetivo. Ex: caixa-alta,
fixo ou prefixo) a uma base. A base de uma obra-prima, amor-perfeito.
forma derivada é geralmente uma forma livre, • Verbo + Substantivo. Ex: guarda-roupa,
isto é, uma forma mínima que pode constituir beija-flor.
sozinha um enunciado, como um verbo, um
adjetivo ou um advérbio. Podemos, também, Nas estruturas com adjetivo, esse é sempre o espe-
ter derivados a partir de formas presas, isto cificador, independente de sua posição: belas-artes,
é, formas que não podem ocorrer sozinhas, livre-arbítrio.
como na palavra morfológico, em que se jun-
tou o sufixo – ico, formador de adjetivos à base A composição distingue-se da derivação por seu
morfolog, composta de morfo + log, que é, próprio mecanismo de estruturação: enquanto
ao mesmo tempo, composta (dois radicais gre- pela derivação se expressam noções comuns e ge-
gos) e presa. rais, o processo de composição permite categoriza-
ções mais particulares.
Em português, raízes e radicais servem de base
para a adjunção de afixos. A raiz é o elemento • Outros mecanismos de formação de palavras
irredutível e comum às palavras derivadas. O
radical inclui a raiz e os elementos afixais, que • Derivação regressiva: diferentemente dos
servem de suporte para outros afixos, crian- processos de derivação e de composição,
do novas palavras. em que há adição de morfemas, existe, em
português, um mecanismo de criação lexi-
Os processos derivacionais são bastante produ- cal em que se observa a redução de morfe-
tivos. Tal fato pode ser explicado não só pela mas, conhecido como derivação regressiva.
possibilidade elevada de combinação de raízes Podemos observá-lo em derivados do tipo:
e afixos, mas porque, em muitos casos, mu- busca, de buscar; implante, de implantar;
dam a classe da nova palavra formada, como manejo, de manejar. Os derivados são,
a nominalização de verbos, processo altamen- na maioria, substantivos deverbais, isto
te produtivo que forma substantivos a partir é, construídos a partir de verbos.
de verbos, como pesar > pesagem e envolvem • Derivação parassintética: consiste na adição
noções bastante comuns e de grande genera- simultânea de um prefixo e um sufixo a uma
lidade, como a ideia de negação (ilegal), grau base. É um processo mais produtivo na forma-
(gatinho), designação de indivíduos (pianista), ção de verbos (en+feitiço+ar=enfeitiçar) do que
nomes abstratos (bondade). na de adjetivos (des+alma+ado=desalmado).
• Composição: esta consiste na associação de A função semântica é atribuída ao prefixo,
duas bases para formar uma palavra nova. Te- enquanto a função sintática cabe ao sufixo,
remos palavras compostas a partir de formas li- que muda a classe da palavra a que pertence
vres, como guarda-livros (guarda-livros), como a base.
Fascículo 3 45
2. O Morfema I. Pata
II. Patas
Vimos que os fonemas constituem a primeira uni- III. Patada
dade mínima da Linguística. Observamos, tam- IV. Patadas
bém, que os fonemas estão destituídos de qualquer
significado, funcionando nas línguas apenas como Nas formas apresentadas, temos as que mantêm
discriminadores de significados em potencial. Ago- inalterável uma sequência de significantes {pat-}
ra, veremos que, através dos fonemas, podemos lo- assim como mantêm inalterável um plano de con-
calizar a segunda das unidades básicas da Linguís- teúdo “extremidade”, “relativa aos membros infe-
tica, aquela que compõe a primeira articulação das riores”, “dos animais”; “-a” de I significa “gênero
línguas naturais, o morfema. Sendo o morfema um feminino”, comparando I e II, vemos uma modi-
signo mínimo, quer dizer, uma entidade compos- ficação introduzida no plano da expressão de I (re-
46 Fascículo 3
presentada pelo acréscimo de “-s”) correspondente sas palavras continuariam a possuir gênero femini-
a uma modificação introduzida no plano do con- no, o número plural, a “designar golpe desferido
teúdo de I.(representada pelo acréscimo da noção com”. Se, contudo, quiséssemos efetuar mudanças
de plural). Por seu lado III. (“patada”) que pode ser nas partes relativas à significação gramatical, não
entendido como possuindo o mesmo plano de ex- poderíamos efetuar senão um número muito res-
pressão de I. (“pat-) mais o sufixo “ada” conserva o trito de alterações: na parte 3, por exemplo, a do
mesmo plano de conteúdo de I. (relativa aos mem- gênero, não possuímos em português mais do que
bros inferiores dos animais). Assim localizamos feminino/masculino; na parte 4, a do número,
os morfemas: não temos mais que singular/ plural; na parte 2,
a do gramema, que indica o aspecto verbal, temos
I. pat ___ ___ a ___ um número maior de possibilidades de variação,
II. pat ___ ___ a ___ s mas poucas. Podemos, daí, concluir que os lexe-
III. pat ___ ad ___ a ___ mas pertencem a inventários ilimitados e, como
IV. pat ___ ad ___ a ___ s membros de uma lista aberta, eles se sujeitam a
1 2 3 4 comutações teoricamente infinitas; os gramemas,
ao contrário, pertencem a inventários limitados e,
Percebe-se que, para cada segmento isolado, temos como membros de uma lista fechada, se sujeitam a
uma significação: um número restrito de comutações.
1. “extremidade dos membros inferiores dos ani- Os morfemas são convencionalmente transcritos
mais” entre pequenas chaves: {-a} lê-se morfema “a”.
2. “modificador”
3. “gênero feminino”
4. “número plural”
Texto Complementar
logia
s afins na termino
Num primeiro exame, pode-se dizer que tais signi- Do Lexema e termo
ficações podem ser assim classificadas: gramatical: .htm )06
.br/revista/artigo/10(28
http://www.filologia.org
a. 1. (pat-) possui uma significação lexical, que diz
respeito ao vocabulário da língua, ao dicionário; Léxico:
.htm
t/edtl/verbetes/L/lexico
b. 2, 3 e 4 (-ad, -a, -s) possuem uma significação http://www2.fcsh.unl.p
gramatical , que diz respeito não ao dicionário,
mas, à gramática da língua. Lexemas: anosso.nom.br/gramatic
a/lexema.
http://www.radames.m
htm
A parte 1 responsável pela significação lexical de-
nomina-se lexema; as partes 2, 3 e 4, responsáveis
pela significação gramatical, denominam-se grame-
mas. Ambos, lexemas e gramemas são morfemas. SAIBA MAIS!
te , ao
Quando não nos importar fazer menção explícita de, aproximadamen
O lexema correspon an tem a ; os gra-
do particular sentido de cada um deles, poderemos a de sem
que Vendryés chamav z e
canos chamam de rai
nos referir a um e outro, indiferentemente, sob o máticos norte-ameri o gra me ma
título genérico de morfemas. Hjelmslev chamou de
plerema; já
Ve nd ryé s e Hje l-
ma de
corresponde ao morfe ão no rte -am eri ca-
tra diç
mslev e à não-raiz da são,
O fragmento {pat-}, que engloba a significação le- . Pa ra Me rtin et, lexemas e gramemas
na as sig nifi-
xical, pode ser substituído, em outros contextos, indiferentemente, mo
nemas (fo rm
sig nif ica do . Ne ste
as de
por uma extraordinária quantidade de outros frag- cantes mínimas dotad ota ram -
Lopes (1995), ad
mentos retirados do dicionário: pedr-, punhal-, trabalho, a partir de r Po ttie r.
propostas po
pul-, cabeç-, joelh-, que produziriam, juntamente se as denominações
com os fragmentos 2, 3 e 4, pedradas, punhaladas,
pauladas, cabeçadas, joelhadas, etc. Todas essas co-
mutações e substituições alteram, evidentemente, Atividade | Identifique, nas palavras abaixo,
o plano do conteúdo lexical, mas não alteram o os morfemas (lexemas e gramemas); isole-os e
plano do conteúdo gramatical, ou seja, todas es- aponte seus significados:
Fascículo 3 47
afixos os morfemas que se adicionam à raiz; afi- Atividade | Identifique os elementos mórfi-
xação é o processo. Dependendo da posição dos cos presentes nas palavras sublinhadas no po-
afixos em relação à base, podemos ter cinco tipos: ema e crie novas palavras a partir das palavras
em itálico.
1. Sufixação: depois da base. Ex: livro > li-
vro-s; casa > cas-eiro; Mãos Dadas
2. Prefixação: antes da base. Ex: ler > re-ler; Carlos Drummond de Andrade
certo > in-certo;
3. Infixação: dentro da base. Ex: em Kmu Não serei o poeta de um mundo caduco.
(Laos): /rkeŋ/ “esticado” > /rmkeŋ/ “esti- Também não cantarei o mundo futuro.
car” (infixo /-m-/); Estou preso à vida e olho meus companheiros.
4. Circunfixos: afixos descontínuos que Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
enquadram a base, como em Georgiano
O presente é tão grande, não nos afastemos.
(Cáucaso); Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
5. Transfixos: são descontínuos e atuam nu- Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
ma base descontínua, como no Hebraico. não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista
da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas
4.2. Reduplicação de suicida,
É um tipo especial de afixação, que repete fonemas não fugirei para as ilhas nem serei raptado por
da base, com ou sem modificações. Nas línguas serafins.
clássicas – latim, grego e sânscrito – está associado O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes,
à flexão verbal.
a vida presente.
4.3. Alternância
Quando alguns segmentos da base são substituídos
por outros, de forma não arbitrária, porque são al- 5. Noções Elementares de Estilística
guns traços que se alternam com os outros, como
em português: pus/pôs; fiz/fez; fui/. A Linguís- Introdução
tica histórica trata esses processos de alternância
de vogais no interior da raiz como apofonia ou Estilística é a parte dos estudos da linguagem que
metafonia. se preocupa com o estilo. Estuda a expressividade
da língua. Entende-se por estilo o conjunto de pro-
4.4. Subtração cessos que fazem da língua representativa um meio
Quando alguns segmentos da base são eliminados de exteriorização psíquica.
para expressar um valor gramatical como no por-
tuguês em que alguns femininos são formados por 5.1. Estilística e Gramática
subtração de morfemas do masculino. Ex: órfão/
órfã; anão/anã; campeão/campeã. O que caracteriza o estilo não é a oposição entre
o individual e o coletivo, mas o contraste entre o
Os processos morfológicos que afetam traços su- emocional e o intelectivo. É neste sentido que dife-
prassegmentais, como o acento e tom, podem ser re Estilística (que estuda a língua afetiva) e Gramá-
aditivos ou substitutivos. Algumas vezes, os proces- tica (que trabalha no campo da língua intelectiva).
sos podem aparecer combinados, como, em portu- Misturá-las de modo que a Estilística se “dissolva”
guês, no plural da palavra OVO, em que há uma na Gramática é pôr em perigo duas importantes
alternância de o /ɔ e uma sufixação {-s}, /ɔvos/. disciplinas por confundir os seus objetos de estudo.
Atividade | Na busca do seu estilo próprio, dar novos horizontes ao ensino do idioma”.
deve o autor violar a norma culta do idioma? c. o emprego expressivo dos sufixos (mormente
Argumente. os de gradação): paizinho, mãezinha, poetas-
tro, padreco, politicalha.
d. o emprego de tempos e modos verbais, como,
7. Campo da Estilística por exemplo:
O estudo da Estilística abarca, semelhante à Gramá- 1. o presente pelo futuro para indicar desejo
tica, todos os domínios do idioma. Todos os fenô- firme, fato categórico:
menos linguísticos, desde os sons até as combinações “Amanhã eu vou ao cinema”.
sintáticas mais complexas, podem revelar algum cará- 2. o imperfeito para traduzir pedido:
ter fundamental da língua estudada. Todos os fatos “Eu queria um quilo de queijo” (em vez do
linguísticos, sejam quais forem, podem manifestar al- categórico e, às vezes, ameaçador quero).
guma parcela da ida do espírito e algum movimento 3. o presente pelo pretérito para emprestar
da sensibilidade. A estilística não é o estudo de uma à narração o ar de novidade e poder co-
parte da linguagem, mas o é da linguagem inteira, ob- mover o ouvinte:
servada de um ângulo particular. Assim sendo, estuda “Aí César invade a Gália”.
a linguagem afetiva e a linguagem intelectual em suas
relações recíprocas e examina em que proporção se e. a mudança de tratamento de um período
aliam para compor este ou aquele tipo de expressão. para outro: para indicar mudança da situação
psicológica entre falante e ouvinte, ou entre
Teremos, assim, os seguintes campos da Estilística: escritor e leitor. No soneto Última Folha, Ca-
simiro de Abreu chama a Deus por Meu Pai e
1. fônica; ora o trata por tu, ora por vós.
2. morfológica;
3. sintática; 7.3. A Estilística Sintática
4. semântica.
Procura explicar o valor expressivo das construções:
7.1. A Estilística Fônica
1. na regência, como, por exemplo, o emprego
Procura indagar o emprego do valor expressivo dos do posvérbio;
sons: a harmonia imitativa, no amplo sentido do 2. na concordância, como, por exemplo, na atra-
termo. Também chamada fonética expressiva, a es- ção, na silepse, no infinitivo flexionado para
tilística fônica implica a utilização de traços que es- realce da pessoa sobre a ação mesma;
capam à sistematização das oposições e correlações 3. na colocação dos termos na oração, na coloca-
dos fonemas e grupos fônicos: acento vocabular, ção de pronomes, etc.
quantidade, altura, etc. 4. no emprego expressivo das chamadas figuras
de sintaxe.
7.2. A Estilística Morfológica
7.4. A Estilística Semântica
Sonda o uso expressivo das formas gramaticais. En-
tre os usos expressivos deste campo, lembraremos: Pesquisa:
RESUMO
A Morfologia é o estudo da palavra dentro da nossa língua. Os estudos da morfologia se
subdividem em dois: morfologia lexical e morfologia flexional.
Lexema - são morfemas de significação lexical externa, ou seja, o significado está ligado
ao mundo objetivo, indicando o significado da palavra.
Gramema - são morfemas que não constituem, por si só, palavras. São comumente di-
vididos em prefixos, infixos e sufixos, conforme se coloquem, respectivamente, antes do
lexema, no lexema ou depois do lexema ao qual se prendem.
GLOSSáRIO
Morfe - é um segmento de enunciado; uma sequência fôni-
ca a que se pode atribuir significado e que será classificado
posteriormente como morfema. Um morfema é uma classe
de morfes, isto é, cada morfe ou alternante morfêmica é um
elemento de um conjunto formador de uma unidade estru-
tural, que é o morfema. Qualquer enunciado é completa-
mente composto de morfes.
REFERÊNCIAs
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática por-
tuguesa. 37. ed. Ver. e ampl. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2001.
Variação
Linguística:
Sincronia
e Diacronia
Prof.ª Maria Perpétua Teles Monteiro
Carga Horária | 15 horas
Objetivos Específicos
Destacar a importância dos enfoques sincrônicos e diacrônicos no estudo
dos fatos da língua.
Refletir as relações entre variações linguísticas, língua, sociedade, preconceito
linguístico e ensino de língua portuguesa.
Ai! Se sêsse!...
Zé da Luz
Todos sabem que existe um grande número de nense e também as que têm “r” entre vogais: “cara,
variedades linguísticas, mas, ao mesmo tempo em cera, tora”. Também o “l” (ele), na região de Pato
que se reconhece a variação como um fato, se ob- Branco, PR, que é alveolar, mesmo antes de conso-
serva que a sociedade tem uma longa tradição em ante e no final da palavra. Na região de Pato Bran-
considerar a variação numa escala valorativa, às co, pronuncia-se o “l” de “alto” da mesma forma
vezes até moral, que leva a tachar os usos caracte- que o “l” de “alô,”. Falar o r caipira também não
rísticos de cada variedade como certos ou errados, mostra nada de bom ou de ruim do ponto de vista
aceitáveis ou inaceitáveis, pitoresco, cômicos, etc. da estrutura fonológica da língua, porém considere
este falar fora de sua região.
A esse respeito, como você se sentiu ao
ler o poema de Zé da Luz? O que pode, socialmente, ocorrer ao seu falante?
Considere como se Zé da Luz não fosse um poeta! Embora desde princípios deste século, linguistas,
como Antoine Meillet e Ferdinand Saussure, te-
O latim vulgar foi, numa certa época, considerado nham chegado a configurar a língua como um fato
dialeto das classes pobres, e por isso se despresti- social, rigorosamente enquadrado na definição
giava quem o falava. Ao longo da história, transfor- dada por Émile Durkhein, só nos últimos vinte
mou-se nas línguas românicas, e a sociedade trocou anos, com o desenvolvimento da Sociolinguística,
o latim clássico por essas línguas. Então as línguas as relações entre língua e sociedade passaram a ser
românicas (dentre elas, o português), vindas do la- caracterizadas com maior precisão.
tim vulgar, passaram a exercer a função de línguas
de prestígio na nova sociedade estabelecida. A Sociolinguística, ramo da linguística que estu-
da a língua como fenômeno social e cultural, veio
Essa breve consideração aponta que as línguas, mostrar que estas inter-relações são muito comple-
quando se transformam com o passar do tempo, xas e podem assumir diferentes formas. Na maioria
não se degeneram, não se tornam imperfeitas, es- das vezes, comprova-se uma covariação do fenôme-
tragadas, mas adquirem novos valores sociolinguís- no linguístico e social. Em alguns casos, no entan-
ticos, ligados às novas perspectivas da sociedade, to, faz mais sentido admitir a relação direcional:
que também muda. Nessas transformações, não a influência da sociedade na língua ou da língua
aparece o certo e o errado linguístico, mas o dife- na sociedade.
rente. Certo e errado são conceitos pouco hones-
tos que a sociedade usa para marcar os indivíduos É, pois, recente a concepção de língua como ins-
e classes sociais pelos modos de falar e para revelar trumento de comunicação social, maleável e di-
em que consideração os tem, se são pessoas que versificado em todos os seus aspectos, meio de
gozam de influência ou ocupam posição de prestí- expressão de indivíduos que vivem em sociedades
gio ou não, se exercem o poder instituído ou não. também diversificadas social, cultural e geografica-
Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, mente. Nesse sentido, uma língua histórica não é
pois marca as diferenças linguísticas com marcas um sistema linguístico unitário, mas um conjunto
de prestígio ou estigmas. Isto nos mostra que, se de sistemas linguísticos, isto é, um diassistema no
linguisticamente não existe o certo e o errado, mas qual se inter-relacionam diversos sistemas e subsis-
o diferente, socialmente as coisas não caminham temas. Daí o estudo de uma língua se revestir de
desse modo. Consideremos o “s” falado pelo ci- extrema complexidade, não podendo prescindir
dadão nascido no Rio de Janeiro, no “s” chiante de uma delimitação precisa dos fatos analisados
do carioca, o adjetivo não é depreciativo ao modo para controle das variáveis que atuam, em todos os
de falar e, sim, um termo usado na fonologia – ou níveis, nos diversos eixos de diferenciação. A varia-
fonética – que representa um som cujo ponto de ção sistemática está hoje incorporada à teoria e à
articulação é pré-palatal, como ocorre nas palavras descrição da língua (CUNHA, 1985. p.2-3).
“chá” e “já”. É assim que o carioca pronuncia o
“s”. Mas, essa maneira de falar (variação), como
já vimos, não é única. Destacamos aqui o “r” re- Texto Complementar
troflexo do londrinense quando pronuncia pala- :
Variação linguística
tar ino .blo gsp ot. com
/20 08/ 02/ var iao -
vras como “porta, carne, certo” e do piracicabano htt p:/ /ww w.d ilso nca
quando pronuncia as mesmas palavras do londri- lingstica.html
2. Tipos de Variedades Linguísticas língua, isso porque há uma “tendência” para maior
semelhança entre os atos verbais dos membros de
Segundo Travaglia(2002.p.42), podemos ter basi- um mesmo setor sócio-cultural da comunidade,
camente dois tipos de variedades linguísticas: os geralmente com relações bastante estreitas e inte-
dialetos e os registros. Os dialetos são variedades resses comuns. É por isso que se consideram como
que ocorrem em função das pessoas que usam a variedades dialetais de natureza social os jargões
língua (emissores). Os registros correspondem às profissionais ou de determinadas classes sociais
variedades que ocorrem em função do uso que se bem definidas como grupos.
faz da língua, ou seja, dependem do recebedor, da
mensagem ou da situação. Na variação de natureza social, há inúmeras super-
posições e matizes, o que torna os dialetos sociais
2.1. Variação Dialetal mais difíceis de definir e classificar que os dialetos
regionais. Aqui atuam fatores, como idade, sexo,
Os estudos sobre variação linguística registram, raça, profissão, posição social, grau de escolarida-
pelo menos, seis dimensões da variação dialetal de, local em que reside na comunidade etc.
(variações internas): a territorial, a social, a de ida-
de, sexo, geração e função. 2.1.3. Dialetos na Dimensão Contextual
(Variações Diafásicas)
2.1.1. Dialetos na Dimensão Territorial,
Geográfica ou Regional Constam de tudo aquilo que pode determinar di-
(Variações Diatópicas) ferenças na linguagem do locutor, por influências
alheias a ele, como, por exemplo, o assunto, o tipo
Representam a variação que acontece entre pesso- de ouvinte, o lugar em que o diálogo ocorre e as
as de diferentes regiões em que se fala a mesma relações que unem os interlocutores. Os chamados
língua. Essa variação normalmente acontece fatores contextuais dizem respeito às circunstân-
cias criadas pela própria ocasião, lugar e tempo em
a. pelas influências que cada região sofreu duran- que os atos de fala se realizam e também às relações
te sua formação; que une falante e ouvinte no momento do diálogo.
b. porque os falantes de uma dada região consti-
tuem uma comunidade linguística geografica- 2.2. Variações de Registro
mente limitada em função de estarem polariza-
dos em termos políticos e/ou econômicos e/ou As variações de registro são classificadas em três
culturais e desenvolverem então um comporta- tipos diferentes: grau de formalismo, modo e sin-
mento linguístico comum que os identifica e dis- tonia. O grau de formalismo representa uma escala
tingue. É o caso da diferença entre o português de formalidade como um maior cuidado e apuro.
do Brasil e o português de Portugal e dos países Por variação de modo, entende-se a língua falada
africanos de Língua Portuguesa. Aqui se incluem em contraposição à língua escrita. A sintonia pode
também diferentes falares que encontramos no ser descrita como o ajustamento na estruturação
Brasi, como os falares gaúcho, nordestino, cario- de seus textos feita pelo falante com base nas infor-
ca, o chamado dialeto caipira, etc. mações que se tem sobre o ouvinte.
As diferenças entre a língua em uma região e outra Todas as variedades linguísticas são estruturadas e
normalmente são, em sua grande maioria, diferen- correspondem a sistemas e subsistemas adequados
ças no plano fonético e no plano léxico. As diferen- às necessidades dos usuários. Mas o fato de estar
ças sintáticas, quando existem, normalmente não a língua fortemente ligada à estrutura social e aos
são grandes. sistemas de valores da sociedade conduz a uma ava-
liação distinta das características das suas diversas
2.1.2. Dialetos na Dimensão Social modalidades diatópicas, diastráticas e diafásicas.
(Variações Diastráticas) A língua-padrão, por exemplo, embora seja uma
entre as várias modalidades de um idioma, é sem-
Representam as variações que ocorrem de acordo pre a mais prestigiosa, porque atua como modelo,
com a classe social a que pertence os usuários da como norma, como ideal linguístico de uma comu-
nidade. Do valor normativo decorre a sua função
58 Fascículo 4
coercitiva sobre as outras variedades, com o que se 3. Estudo dos Fatos Linguísticos:
torna uma ponderável força contrária à variação. Perspectivas de Enfoque
Numa língua existe, pois, ao lado da força centrífuga Borba (1986) destaca que os fatos linguísticos po-
da inovação, a força centrípeta da conservação, que dem ser encarados ou estruturados sob três pontos
contrarregrando a primeira, garante a superior uni- de vista: quanto ao seu modo de ser geral, quanto
dade de um idioma como o português, falado por ao seu funcionamento num determinado momen-
povos que se distribuem pelos cinco continentes. to e lugar e quanto às suas transformações e ou à
evolução. No primeiro caso, são considerados em
Nos campos de estudo da variação linguística, con- si mesmos, independentemente de seu funciona-
sidera-se, pois, a variação diacrônica (do grego dia + mento real, porque o interesse está no exame de
kronos = ao longo de, através de + tempo): as diversas suas possibilidades de funcionar; no segundo,
manifestações de uma língua através dos tempos e observam-se fatos ou dados concretos em funcio-
a variação sincrônica (do grego sy’n = simultaneida- namento, e, no terceiro, procura-se detectar as al-
de): as variações num mesmo período de tempo. terações dos fatos com o decorrer do tempo. São
três atitudes que colocam o eixo do tempo como
ponto de partida para a análise. O primeiro enfo-
Texto Complementar que é chamado acrônico, porque faz abstração do
: tempo: descrevem-se ou explicam-se fatos quanto à
Variação linguísticad/tema01/variacao.html sua natureza e função; o segundo enfoque chama-
http://acd.ufrj.br/~pea
se sincrônico, porque se preocupa em descrever o
funcionamento concreto da língua em dado mo-
mento e lugar, isto é, procura conhecer um estado
SAIBA MAIS! da língua; o terceiro enfoque é diacrônico, porque
brasileiro: observa as mudanças que a língua sofre com o de-
O modo de falar do m.b r/portugues/ult1693u60
.jhtm
/ed uca cao .uo l.co
p:/
htt correr do tempo. O estudo acrônico, atendo-se ao
modo de ser dos fatos e sendo atemporal, pode
referir-se ao passado, ao presente ou mesmo prever
(ou predizer) o que acontecerá. Diz-se, então, que
Atividade | Leia o Poema de Patativa do Assa- este ponto de vista examina o mecanismo linguísti-
ré. Como o poeta se sente em relação aos seus co como potencial, como conjunto de possibilida-
versos e à sua linguagem? des ou como uma máquina lógica.
portuguesa:
Saussure e a língua.br/viisenefil/09.htm
http://www.filologia.org
60 Fascículo 4
Atividade | Amplie suas leituras sobre a do que temos chamado de linguística externa.
contribuição de Saussure para os estudos da
fonética e da fonologia e apresente em um Além disso, a limitação no tempo não é a única
texto argumentativo. dificuldade que encontramos na definição de um
estado de língua; o mesmo problema se coloca a
propósito do espaço. Em suma, a noção de estado
5. Linguística Sincrônica: de língua não pode ser senão aproximativa. Em lin-
guística estática, como na maior parte das ciências,
Generalidades nenhuma demonstração é possível sem uma sim-
plificação convencional dos dados.
O objeto da linguística sincrônica geral é estabe-
lecer os princípios fundamentais de todo sistema De um modo geral, é muito mais difícil fazer lin-
idiossincrônico, os fatores constitutivos de todo guística estática que histórica. Os fatos de evolução
sistema da língua. À sincronia pertence tudo o que são mais concretos; falam mais à imaginação; as
se chama gramática geral, pois é somente pelos es- relações que neles se observam se estabelecem em
tados de língua que se estabelecem as diferentes termos sucessivos que são percebidos sem dificul-
relações que incumbem à gramática. dade. Mas a linguística, que se ocupa de valores e
relações coexistentes, apresenta dificuldades bem
Na prática, um estado de língua não é um ponto, maiores (Saussure apud Bally, 1995).
mas um espaço de tempo mais ou menos longo,
durante o qual a soma de modificações ocorridas
é mínima. Pode ser de 10 anos, uma geração, um
século e até mais. Uma língua mudará pouco, du- Texto Complementar
MO-
rante um longo intervalo, para sofrer, em seguida, /doc/2 063971/ESTRUTURALIS
http://www.scribd.com
transformações consideráveis em alguns anos. De LINGUISTICO
duas línguas coexistentes num mesmo período,
uma pode evoluir muito e outra quase nada; neste
último caso, o estudo será necessariamente sincrô- Atividade | Defina linguística sincrônica e
nico; no outro, diacrônico. Um estado absoluto se apresente seus objetivos.
define pela ausência de transformações e como,
apesar de tudo, a língua se transforma, por pouco
que seja estudar um estado de língua vem a ser,
praticamente, desdenhar as transformações pouco 6. O Valor Linguístico:
importantes, do mesmo modo que os matemáticos A Língua como Pensamento
desprezam as quantidades infinitesimais em certas Organizado na Matéria Fônica
operações, tal como no cálculo de logaritmos.
Para compreender por que a língua não pode ser
Na história política, distingue-se a época que é um senão um sistema de valores puros, basta conside-
ponto de tempo, e o período que abarca certa du- rar os dois elementos que entram em jogo no seu
ração. No entanto, o historiador fala da época dos funcionamento: as ideias e os sons. Psicologica-
antônimos, da época das cruzadas, quando con- mente, nosso pensamento não passa de uma massa
sidera um conjunto de caracteres que permane- amorfa e indistinta. Filósofos e linguistas sempre
ceram constantes durante esse tempo. Poder-se-ia concordaram em reconhecer que, sem o recurso
dizer também que a linguística estática se ocupa de dos signos, seríamos incapazes de distinguir duas
épocas; mas estado é preferível; o começo e o fim ideias de modo claro e constante. Tomado em si,
de uma época são geralmente marcados por uma o pensamento é como uma nebulosa em que nada
revolução mais ou menos brusca, que tende a mo- está necessariamente delimitado. Não existem
dificar o estado de coisas estabelecido. A palavra ideias preestabelecidas, e nada é distinto antes da
estado evita fazer crer que ocorra algo semelhan- língua. A substância fônica não é mais fixa nem
te na língua. Ademais, o termo época, justamente mais rígida; não é um molde a cujas formas o pen-
por ser tomado à História, faz pensar menos na samento deve necessariamente acomodar-se, mas,
língua em si que nas circunstâncias que a rodeiam uma matéria plástica que se divide, por sua vez, em
e condicionam; numa palavra, evoca antes a ideia partes distintas, para fornecer os significantes dos
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quais o pensamento tem necessidade. Podemos, sincrônico, e os princípios obtidos a propósito das
então, representar o fato linguístico em seu con- palavras serão válidos para as entidades em geral
junto, isto é, a língua como uma série de subdi- (Saussure in Bally, 1995. p. 130-134).
visões contíguas marcadas simultaneamente sobre
o plano indefinido das ideias confusas e sobre o Atividade | Explique a arbitrariedade do sig-
plano não menos indeterminado dos sons. O pa- no linguístico.
pel característico da língua frente ao pensamento
não é o de criar um meio fônico material para a
expressão das ideias, mas o de servir de interme- Texto Complementar
diário entre o pensamento e o som, em condições
Linguagem – Atividbr/ ade Constitutiva: vistas/ilari.
tais que uma união conduza necessariamente a de- w.le tra s.u fpr. documentos/pdf_re
http://ww
limitações recíprocas de unidades. O pensamento, pdf
rariedade_
caótico por natureza, é forçado a precisar-se ao se t/edtl/verbetes/A/arbit
http://www2.fcsh.unl.p
decompor. Não há, pois, nem materialização de signo.htm
flexaoed
pensamento nem espiritualização de sons; trata- .br/ed39/teoriasignosre
http://www.partes.com
se de o “pensamento-som” implicar divisões e de 39.htm
a língua elaborar suas unidades, constituindo-se
entre duas massas amorfas. Imaginemos o ar em
contato com uma capa de água: se muda a pres-
são atmosférica, a superfície da água se decompõe 7. Linguística Diacrônica:
numa série de vagas divisões; são estas ondulações
que darão uma ideia da união e, por assim dizer,
Generalidades
do acoplamento do pensamento com a matéria fô-
A linguística diacrônica estuda não mais as rela-
nica. A língua é comparável a uma folha de papel:
ções entre os termos coexistentes de um estado de
o pensamento é o anverso, e o som o verso; não se
língua, mas entre termos sucessivos que se subs-
pode cortar um sem, ao mesmo tempo, cortar o
tituem uns aos outros. Toda a fonética constitui
outro; assim, tampouco na língua se poderia isolar
o primeiro objeto da linguística diacrônica; com
o som do pensamento, ou o pensamento do som;
efeito, a evolução dos sons é incompatível com a
só se chegaria a isso por uma abstração cujo resulta-
noção e o estado; comparar fonemas ou grupo de
do seria fazer Psicologia pura ou Fonologia pura. A
fonemas com o que foram anteriormente equivale
linguística trabalha, pois, no terreno limítrofe em
a estabelecer uma diacronia. A época anteceden-
que os elementos das duas ordens se combinam;
te pode ser mais ou menos próxima; mas, quando
esta combinação produz uma forma, não, uma
uma e outra se confundem, a fonética deixa de in-
substância. Não só os dois domínios ligados pelo
tervir; só resta a descrição dos sons de um estado
fato linguístico são confusos e amorfos como a es-
de língua, e compete à fonologia levá-la a cabo.
colha que se decide por tal porção acústica para tal
ideia é perfeitamente arbitrária. Se esse não fosse o
O caráter diacrônico da Fonética concorda muito
caso, a noção de valor perderia algo de seu caráter,
bem com o princípio de que nada do que seja fo-
pois conteria um elemento imposto de fora. Mas,
nético é significativo ou gramatical no sentido lato
de fato, os valores continuam a ser inteiramente
do termo. Para fazer a história dos sons de uma pa-
relativos, e eis porque o vínculo entre a ideia e o
lavra, pode-se ignorar-lhe o sentido, considerando-
som é radicalmente arbitrário.
lhe apenas o invólucro material, e cortar frações
fônicas sem perguntar se elas têm significação
A ideia de valor assim determinada nos mostra que
(SAUSSURE).
é uma grande ilusão considerar um termo simples-
mente como a união de certo som com um certo
No entanto, a língua altera-se no tempo, mas não
conceito. Não podendo captar diretamente as enti-
por causa dele. Na verdade, há fatores intrínsecos
dades concretas ou unidades da língua, trabalha-se
(fatores ligados às próprias condições de funciona-
sobre as palavras. Estas, sem recobrir exatamente
mento da língua: pressões internas, existências de
a definição da unidade linguística, dão dela uma
lacunas estruturais ou de unidades mal integradas
ideia, pelo menos, aproximada, que tem a vanta-
que possibilitam a passagem gradual de um esta-
gem de ser concreta sendo tomadas, pois, como es-
do a outro) e extrínsecos (fatores ligados ao uso: as
pécies equivalentes aos termos reais de um sistema
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vinculações estruturais, o modo como os falantes português e sua relação com a ortografia. As téc-
falam, o ambiente, os contactos culturais com ou- nicas de análise fonológica, aliadas a uma boa des-
tras línguas, o isolamento). crição fonética permitem, também, ao educador
entender de fato o que acontece com os proble-
A tarefa básica da linguística diacrônica é explicar mas de fala e escrita, como permitem ainda a ela-
estados anteriores para melhor compreender a es- boração de atividades que facilitem o processo de
truturação do sistema atual. A descrição de estados aprendizagem por parte dos alunos, que passarão
anteriores é viável, embora mais difícil. Os estudos a receber uma melhor explicação de como a fala, a
diacrônicos começam pela descrição de estados an- escrita, a leitura e a língua funcionam.
teriores, ou seja, pela sincronia. Primeiro se faz a
descrição sincrônica e depois se determina a evolu-
ção pela comparação dos estágios. Texto Complementar
ncia fonológica em
Para se descobrir por que as línguas mudam atra- Avaliação da consciê
vés do tempo, é importante estabelecer uma suces- crianças: pdf
a/revista53/Artigo%201.
vist
são cronológica de fatos capaz de colocá-los numa http://www.cefac.br/re
-
verdadeira perspectiva histórica. Isto tudo leva a perceberem fatos lin
Da relevância de se
concluir que não interessa ao historiador da língua rários:
guísticos em textos lite
a consideração de fatos isolados ou as alterações .br/revista/34/04.htm
http://www.filologia.org
ocasionais causadas pela própria instabilidade da
fala. Portanto, a linguística histórica pode ser feita
em duas direções: partir dos estudos dos fatos atu-
ais e ir recuando no tempo até a reconstrução dos Atividade | Realizar entrevista com profes-
estados mais antigos ou começar pela observação sores da Educação Fundamental sobre a im-
de dados bem recuados no tempo até chegar aos portância da fonologia para o ensino de língua
estágios mais recentes (BORBA, 1986). portuguesa e para o aprendizado dos alunos.
RESUMO
Toda língua possui um grande número de variedades. Essas variedades ocorrem devido
às transformações que as línguas sofrem, não significando para estas imperfeição ou
degeneração.
Os fatos linguísticos podem ser estruturados sob três pontos de vista: acrônico , sincrônico
e diacrônico.
A linguística estrutural clássica tem sua origem nas ideias de Saussure, que se mantêm na
fase contemporânea desta.
REFERÊNCIAS
BALLY, Charles&SECHEHAYE, Albert(org). Ferdi- uma proposta para o ensino de gramática no 1º
nand de Saussure - Curso de Linguística geral. e 2º graus. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
Tradução de Antônio Chelini, Paulo Paes e Iz-
idoro Blikstein. São Paulo: Ed. Cultrix, 1995.