Mulheres Da Floresta Outras Tantas Histo
Mulheres Da Floresta Outras Tantas Histo
Mulheres Da Floresta Outras Tantas Histo
Abstract: In this article I tell in first person the research path of the
book Mulheres da Floresta: uma história (São Paulo: Hucitec,
1999) about women‟s history in the region of Alto Juruá,
Acre, Brazil, between 1890 and 1945. The research used oral
sources, judicial processes, traveler‟s reports and other
documents to show the existence of women in the region and
their importance in the process of constitution of
“seringueiros”(rubber tappers) as a traditional population.
De primeiro…
Onde hoje se localiza a Reserva Extrativista (RESEX) do Alto Juruá,
no extremo Oeste do Brasil, há cem anos atrás era território indígena.
Grupos de língua Pano e Aruaque viviam por lá, e vez por outra
trocavam com os brancos que se aventuravam até próximo da fronteira
atual entre os estados do Amazonas e do Acre, cacau [Theobroma cacaoL. e
o Theobroma leiocarpaBern.], óleo de copaíba [Copaifera langsdorffii Desf.],
borracha [Hévea Brasiliensis], manteiga de ovos de tartaruga (tracajá)
[Podocnemis unifilis], salsaparrilha [Smilax officinalis], “escravos” (índios
geralmente obtidos em guerras intertribais), por miçangas, espelhos,
facas e utensílios de metal, e outras mercadorias. O viajante William
Chandless, que explorou a região em 1867, chegando até a Foz do
Liberdade, comenta que: “Cacau, óleo de copaíba e salsaparrilha são os
principais produtos naturais e parecem ser abundantes; durante os
últimos anos, entretanto, a borracha também tem sido procurada”12 Já o
Novos tempos…
A “Batalha da Borracha”, que deslocou milhares de nordestinos,
novamente, em direção à Amazônia na tentativa de prover os Estados
Unidos e os “Aliados” da necessária borracha no esforço de guerra da
Tantas histórias
A história das mulheres da floresta merece muito mais livros, muito
mais textos, muito mais narrativas. Nesses 11 anos, desde que publiquei
o livro, é claro que muita coisa já foi escrita, sobre várias partes da
Amazônia, sobre seringueiras, índias, ribeirinhas, mulheres das cidades,
quebradeiras de coco, castanheiras, pescadoras, suas histórias e sua vida
atual. Mas ainda resta muito o que contar, analisar e interpretar.
Em um tempo em que a Amazônia é vista pelo mundo a um só
tempo como uma possibilidade de salvação e uma ameaça, aos
historiadores e historiadoras cabe contar e preservar na história o que a
memória dos diversos povos da floresta ainda tem para narrar e inventar.
A salvação e a ameaça estão ambas na corda bamba da constante e
implacável destruição de conhecimentos, biodiversidades, histórias.
Umas não sobrevivem sem as outras, e, portanto, cabe continuar esse
trabalho, que não pode ser feito só de dentro dos arquivos. Mas talvez
aqueles que se aventuraram ou sempre viveram na Amazônia, possam
agora entrar nos arquivos com seu olhar armado com o cheiro de manga,
graviola, castanha, com sua pele refrescada pelo banho de igarapé, e
quente do sol¸ e picada de mosquito, e interpretar os dados ali estocados
de outras maneiras, para contar essas outras tantas histórias.
1978.
4Tratava-se do projeto de Pesquisa e Monitoramento da Reserva Extrativista do
Alto Juruá, coordenado pelos Profs. Maria Manuela Carneiro da Cunha (USP),
Mauro William Barbosa de Almeida (UNICAMP) e Keith Brown (UNICAMP)
e financiado pela Fundação John D. e Catherine T. Mac Arthur, para o período
de 1993 a 1996.
5 SCOTT, Joan. “Experiência”. In: SILVA, Alcione da; LAGO, Mara Coelho de
Souza; RAMOS, Tânia Regina Oliveira (Orgs). Falas de Gênero: teorias, análises,
leituras. Florianópolis: Editora Mulheres, 1999, pp. 21-55.
6 LEITE, Miriam L. Moreira (org). A condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX: