Direito Empresarial - Notas

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SUMARIO

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO EMPRESARIAL________________________________________3


1.1 Direito Empresarial e sua historia_______________________________________________________3
1.1.1 Atividades Economicas_______________________________________________________________________4
1.1.2 Pessoas Impedidas de Exercer a Atividade Empresarial__________________________________________5
1.1.3 Abertura de Empresa_________________________________________________________________________5
1.2 Fontes do Direito Empresarial__________________________________________________________5
1.2.1 Principios Gerais do Direito___________________________________________________________________6
1.3 Atividade empresarial__________________________________________________________________7
1.3.1 Classificações e Requisitos para composição da Empresa________________________________________7
1.3.2 A Sociedade Limitada e Sociedade Anonima___________________________________________________10
1.4 Capacidade civil e responsabilidade___________________________________________________10
2. TÍTULOS DE CREDITO E AS PESSOAS JURIDICAS________________________________12
2.1 Conhecendo os Títulos de Credito_____________________________________________________12
2.2 Tipos de Títulos de Credito – Parte I___________________________________________________15
2.2.1 Execução Judicial de Título de Credito_________________________________________________________15
Letra de Câmbio_________________________________________________________________________________15
2.3 Tipos de Títulos de Credito – Parte II___________________________________________________16
Nota Promissoria________________________________________________________________________________16
Duplicata Mercantil_______________________________________________________________________________16

Ciências Contábeis Direito


Unopar – Universidade Norte do
Empresarial
Paraná

Cédula de Crédito Bancario_______________________________________________________________________17


Cheque_________________________________________________________________________________________17
2.4 Direito Bancario______________________________________________________________________18
2.4.1 Quanto as operaçoes bancarias______________________________________________________________19
3. DIREITO DO CONSUMIDOR E SEUS REFLEXOS NAS RELAÇOES COMERCIAIS
FISICAS E VIRTUAIS_______________________________________________________________20
3.1 Compreendendo a propriedade industrial e seus reflexos_______________________________20
3.1.1 Patente de Invenção________________________________________________________________________20
3.1.2 Patente de Modelo de Utilidade_______________________________________________________________20
3.1.3 Registro de Desenho Industrial_______________________________________________________________21
3.1.4 Marca_____________________________________________________________________________________21
3.2 Conhecendo o consumidor, seus direitos e deveres____________________________________22
3.2.1 Sujeitos do Direito do Consumidor____________________________________________________________22
3.2.2 Objeto do Direito do Consumidor______________________________________________________________22
3.2.3 Direitos do Consumidor______________________________________________________________________23
3.3 As relações de consumo e as práticas abusivas________________________________________24
3.3.1 Práticas Abusivas___________________________________________________________________________25
3.4 Sistemas de responsabilidade_________________________________________________________25
4. A FALENCIA E A RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA EMPRESA________________________27
4.1 A Falencia e seus Reflexos – Parte I___________________________________________________29
4.2 A Falencia e seus Reflexos – Parte II___________________________________________________32
4.3 Recuperação Judicial e Extrajudicial___________________________________________________34
4.3.1 Falência___________________________________________________________________________________34
4.3.2 Recuperação Judicial________________________________________________________________________35
4.3.3 Recuperação Extra Judicial__________________________________________________________________36
4.3.4 Crimes Falimentares________________________________________________________________________36
4.4 Desconsideração da personalidade jurídica____________________________________________37

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO EMPRESARIAL


1.1 Direito Empresarial e sua historia

Na Idade Antiga
Há apontamentos quanto ao exercício de atividades econômicas em alguns códigos da
Antiguidade. Pode-se destacar o Código do Rei Manu, na Índia e O Código de Hamurabi. Com mais de
três mil anos, expressavam em seu conteúdo procedimentos e costumes quanto ao cotidiano da vida
social, embora de forma mais explícita tenha o direito comercial seu surgimento na Idade Média.

Na Idade Média
Há o surgimento do direito comercial como um direito autônomo, sendo a Itália o seu berço, já
que era o centro do tráfego do comércio mundial. Destacavam-se as cidades de Florença, que era a
maior praça bancária e cambiária, de Bolonha e Florença, as mais importantes cidades comerciais e
industriais.
Nesse momento, temos a preocupação da Igreja, que via com desconfiança a atividade
comercial, a geração de lucros de forma fácil e rápida, em especial devido à cobrança de juros, o que a
Igreja classificava como usura. As corporações de mercadores na Idade Média podem ser
consideradas o primeiro órgão de desenvolvimento do direito comercial, como sendo um direito
especial e autônomo.

No Brasil
O direito comercial está presente desde a colonização portuguesa. Assim, com a chegada da
família imperial, houve a abertura ao comércio dos povos com a Lei de Abertura dos Portos, a criação
da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação e a criação do Banco do Brasil, por
meio de alvará de 12 de outubro de 1808.
Em 1850, Dom Pedro II aprova o Código Comercial Brasileiro, que se fundamentava na teoria
dos atos do comércio. Por essa teoria, era considerado comerciante aquele que preenchesse os
requisitos do dispositivo 4º do Código Comercial, isto é, só poderia ser comerciante quem estivesse
inscrito em um dos Tribunais do Comércio.
Havia cinco categorias de comércio: a compra e venda ou troca de móveis e semoventes, as
operações de câmbio, de banco e corretagem, e as empresas de fábrica, de comissões, de depósitos,
de expedição, consignação, transporte de mercadorias e seguros.
Em 2002, com a adoção do novo Código Civil, a teoria dos atos do comércio foi substituída pela
teoria da empresa, fruto do Código Civil italiano de 1942. Essa teoria, da empresa, está contida no
Código Civil em seus artigos 966 a 1.195.

1.1.1 Atividades Economicas


Quanto às atividades econômicas, podem ser classificadas em:
• atividades não empresariais: as quais, mesmo sendo econômicas, não podem ser
classificadas como empresariais. Pertencentes a essa categoria, temos>
* os profissionais liberais, que prestam serviços de forma direta;
* os profissionais intelectuais previstos no artigo 966, parágrafo único do Código Civil de
2002;

ARTIGO 966, PARAGRAFO UNICO


Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou
artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa.

* as cooperativas previstas nos artigos 982, parágrafo único, 1.093 a 1.096 do mesmo
código;

ARTIGO 982, PARAGRAFO UNICO


Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a
cooperativa.

ARTIGOS 1093 A 1096


Art. 1.093. A sociedade cooperativa reger-se-á pelo disposto no presente Capítulo, ressalvada a legislação especial.
Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:
I - variabilidade, ou dispensa do capital social;
II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de número
máximo;
III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio poderá tomar;
IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança;
V - quorum , para a assembléia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no
capital social representado;
VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de
sua participação;
VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade,
podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado;
VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade.
Art. 1.095. Na sociedade cooperativa, a responsabilidade dos sócios pode ser limitada ou ilimitada.
§ 1 o É limitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde somente pelo valor de suas quotas e pelo
prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a proporção de sua participação nas mesmas operações.
§ 2 o É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais.
Art. 1.096. No que a lei for omissa, aplicam-se as disposições referentes à sociedade simples, resguardadas as
características estabelecidas no art. 1.094.

• atividades profissionais: abrangem os empresários individuais ou a sociedade


empresarial (FERNANDES, 2007).

1.1.2 Pessoas Impedidas de Exercer a Atividade Empresarial


As pessoas que são impedidas de exercer a atividade empresarial são:
• os falidos, durante suas obrigações com a massa falida (artigo 158 da Lei nº
11.101/2005);
• leiloeiros e corretores;
• servidores públicos no exercício da atividade pública;
• deputados e senadores não podem ser proprietários, controladores ou diretores de
empresa ou exercer em empresa função remunerada;
• estrangeiros e sociedade sem sede no Brasil, no caso de algumas atividades (como,
por exemplo: empresa jornalística e de radiodifusão ou exploração e aproveitamento de
jazidas e outros recursos minerais, entre outras);
• médico, no exercício simultâneo de farmácia (FERNANDES, 2007).

EXEMPLO:
Um médico, advogado e dentista são exemplos de profissionais liberais, os quais têm formação superior ou até
mesmo técnica, podendo escolher entre serem empregados em uma empresa ou exercerem sua atividade por
conta própria, recebendo o nome de profissional liberal. O que os diferencia dos autônomos, categoria
composta por profissionais com ou sem qualificação, com independência financeira, é que trabalham por conta
própria. Como exemplo, temos pintores, pedreiros, eletricistas, entre outros.

1.1.3 Abertura de Empresa


Quanto à abertura da empresa e sua legalização, temos os seguintes passos:
1. Junta Comercial, que realiza o registro da microempresa (ME) e empresa de pequeno porte
(EPP), assunto de que trataremos em nosso próximo encontro.
2. Receita Federal, que emitirá o número de CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídica.
3. Secretaria de Fazenda e Estado, se a empresa exercer atividade industrial ou comercial,
momento em que teremos a incidência do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias.
4. Prefeitura Municipal, responsável pela emissão do Alvará de Funcionamento e fiscalização
quanto ao cumprimento da legislação local, zoneamento, higiene sanitária, meio ambiente, etc.
1.2 Fontes do Direito Empresarial
O caminho que temos a trilhar baseia-se, então, em:
• compreender as fontes do direito empresarial;
• conhecer a aplicação dos princípios do direito empresarial quanto à atividade
empresarial;
• conhecer a conceituação e caracterização do direito empresarial.
Vimos que o direito empresarial teve seu início na Itália, que era o berço comercial da Europa e
do mundo. Inicialmente, era chamado de direito comercial, pois baseava-se na teoria dos atos
comerciais, isto é, poderia ser considerado comerciante quem praticasse atos comerciais e estivesse
devidamente registrado em uma das corporações.
Em 2002, no Brasil, adota-se, por influência do direito italiano, a teoria da empresa. Assim,
passa a ser considerado empresário aquele que praticar atos empresariais, de acordo com a
classificação que analisamos. Neste momento, é essencial compreender mais o direito empresarial
conhecendo as suas fontes.
Podemos conceituar como fonte de direito todos os modos pelos quais se estabelecem as
regras jurídicas, podendo, assim, serem divididas em:
Fontes Materiais, as quais os elementos concorrem para a criação de leis; e
Fontes Formais, que compreendem as fontes externas que se manifestam em direito. No caso
do direito comercial, as fontes externas estão presentes de forma mais expressiva, já que se procura
uma norma para a aplicação ao caso específico.
Ainda, podemos dividir as fontes de direito em:
Primárias ou Diretas são as leis comerciais, que podem ser modificadas, revogadas ou até
mesmo podem ampliar as normas existentes no Código Comercial. Como vimos, o Código Comercial
no Brasil foi criado em 1850, sendo que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1851, revogando a
legislação comercial presente antes dele, sendo oficialmente o corpo básico das normas jurídicas
aplicadas à matéria comercial (MARTINS, 2013).
Secundárias ou Indiretas são as leis que o influenciam e que são necessárias para a sua
manutenção; são elas: a lei civil (utilizada quanto assuntos de responsabilidade e maioridade), os usos
e costumes, a jurisprudência, a analogia e os princípios gerais do direito (MARTINS, 2013).

1.2.1 Principios Gerais do Direito


Os princípios gerais do direito, em um julgamento, consistem na igualdade entre as partes ou a
isonomia das partes de acordo com o artigo 125, inciso I do Código de Processo Civil, possibilitando,
assim, as partes serem tratadas de forma idêntica, e com ampla possibilidade de fazer valer em juízo
as suas alegações.
Quantos aos princípios jurídicos do direito comercial, temos:
A livre iniciativa, consiste na busca por vantagem e na obtenção de lucro, o qual pode ser
compreendido como a remuneração do capital aplicado na atividade empresarial. Tal princípio se
dividem na Livre Movimentação Interna de capitais, pela qual o empresário tem a garantia de que os
investimentos lícitos podem ocorrer sem a necessidade de uma autorização estatal. Já o Livre
Empreendimento possibilita ao empresário a liberdade de ação econômica, desde que por meio de atos
lícitos, e que os objetivos sociais da empresa sejam cumpridos. Falaremos dos objetivos sociais da
empresa logo a seguir (MAMEDE, 2011).
A liberdade de contratar, consiste em que ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer
senão em virtude de lei, devendo o empresário buscar constantemente novas estratégias para atender
às demandas do mercado (MAMEDE,2011).
O Regime Jurídico Privado, o direito comercial é ramo do direito privado, portanto o Estado deve
respeitar o interesse e o regime da empresa, sendo o reconhecimento de sua condição de patrimônio
jurídico específico, bem jurídico passível de titularidade e de transferência (cessão, onerosa ou gratuita,
total ou parcial, ou sucessão causa mortis) (MAMEDE, 2011).
A Livre Concorrência, consiste no estímulo do estabelecimento de um ambiente de concorrência
dos agentes privados a bem do mercado e da ordem econômica. Constitui infração à ordem econômica
e a livre concorrência:
• limitar, falsear ou de qualquer forma vir a prejudicar a livre concorrência ou iniciativa;
• dominar o mercado de bens ou serviços;
• aumentar os lucros de forma arbitrária;
• exercer de forma abusiva posição dominante, controlando, assim, grande parte
do mercado em forma monopólio (MAMEDE, 2011).
A Função Social da Empresa, consiste no elemento de compreensão e adequação aos fins
sociais e econômicos da empresa, a sua razão de ser na sociedade, preservando, de acordo com a lei
específica, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitando a poluição do ar e das águas (BRASIL, 2011).
A Preservação da Empresa, visa-se o fomento da atividade empresária, para que possa cumprir
o seu papel social.

Vistos os princípios do direito comercial, podemos analisar suas características, as quais são:
• simplicidade: diferente de outros segmentos do direito, o direito comercial busca
soluções para as diversas relações jurídicas de forma simples, visando atender de forma
pronta as necessidades econômicas do comércio;

• internacionalidade: voltado para a internacionalização o Direito Comercial constitui um


laço com outros países e nações, o que traz à tona a necessidade de regras aplicáveis a
todos os povos;

• rapidez: dinâmico, busca simplificar as relações a fim de atender, de forma ágil, às


necessidades das questões empresariais;

• elasticidade: renova-se de forma constante ao aceitar e absorver regras e usos trazidos


pelas relações comerciais ocorridas no cotidiano do âmbito empresarial;

• onerosidade: o direito comercial é oneroso, visto que as relações comerciais visam ao


lucro (MAMEDE, 2011).

Codigo Comercial
de 1850

Normas Código Civil de


Empresariais 2002

Fontes do Direito
Leis Esparsas
Empresarial

Usos e Costumes Artigo 8. da Lei


Comerciais 8934/1994

A função social da empresa, consolidada no direito brasileiro pela Constituição de 1988, diz que
as faculdades individuais são limitadas pelo interesse público. Dessa forma, a empresa deve atender e
compreender seus fins econômico e social.
Assim, a empresa deve ser protegida pelos Poderes e órgãos. Deve a empresa atender os
valores do trabalho, preservação e obtenção da dignidade da pessoa humana.

1.3 Atividade empresarial


Ao utilizarmos o termo empresário, estamos nos referindo àquele que exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços, de acordo com o
Código Civil em seu artigo 966.
Assim, deve a pessoa física cumprir as seguintes exigências de acordo com a definição:
a) ser profissional,
b) desenvolver atividade econômica,
c) forma organizada e
d) produção ou circulação de bens ou serviços (RAMOS, 2010).

1.3.1 Classificações e Requisitos para composição da Empresa


1. Empresario Individual, que, se cumprir os requisitos quanto à capacidade e não tiver
nenhum impedimento irá exercer a atividade empresarial. Caso seja casado, o que muda? Se for
casado, aplicam-se os artigos 978 e 979 do Código Civil; vamos a eles: de acordo com o Código Civil, a
empresa é uma atividade, que pode ser exercida pela pessoa natural (física) ou jurídica. Dessa forma,
não se casa; quem se casa é a pessoa física. Desse modo, o empresário que é casado pode sem a
autorização da cônjuge, independentemente do regime de casamento, alienar os imóveis que constem
do patrimônio da empresa (artigo 978 do CC).
O Registro Civil deverá ser arquivado e averbado no Registro Público de Empresa Mercantis, os
pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança ou legado, de bens
clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade (artigo 979 do CC). Assim, deverão ser
registrados quais bens não podem ser alienados e que não se comunicarão no momento da
constituição da empresa. Havendo a separação ou divórcio do casal, essa também deverá ser
averbada no Registro Público de Empresas Mercantis (artigo 980 do CC).
Quanto às questões de registro dessa empresa, deve ser feita sua inscrição no Registro Público
de Empresas Mercantis, por meio da Junta Comercial, obedecendo às formalidades do artigo 968 do
Código Civil quanto ao preenchimento do requerimento. Tal deverá conter:
1. Nome, nacionalidade. Domicílio, estado civil, e, caso seja casado, o regime de bens.
2. A firma, com a respectiva assinatura autografada.
3. O capital.
4. O objetivo e a sede da empresa.

A exigência do registro dá garantia, publicidade e eficácia aos atos jurídicos da empresa, além
de possibilitar conhecer as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento, de acordo com a Lei
8.934/1994, que trata do Registro Público de Empresas Mercantis.
Quanto aos livros empresários de caráter obrigatório, cabe ao empresário individual manter um
livro diário, o qual deverá conter o registro das operações diárias de todas as operações quanto ao
exercício da empresa (artigo 1.184, caput e parágrafo 1º do Código Civil). Há alguns livros específicos
que são exigidos a alguns empresários, tal como o livro de Registro de Duplicatas, exigido da empresa
que emite duplicatas, caso das sociedades anônimas (RAMOS, 2010).
Já os microempresários e empresários de pequeno porte são empresários com tratamento
simplificado (artigo 179 da Constituição Federal de 1988) e são diferenciais quanto ao faturamento
bruto anual. Assim, a microempresa é aquela que apresenta faturamento anual de até R$ 360.000,00.
Já a empresa de pequeno porte (EPP) possui um faturamento bruto de R$ 360.000,00 até R$
3.600.000,00 (VIDO, 2013).
Legalmente, são amparados pelo Estatuto Nacional da Microempresa e Empresa de Pequeno
Porte (EPP), Lei Complementar 123/2006, a qual estabelece as normas gerais no que se refere ao
tratamento diferenciado quanto aos poderes de União, Estados, Distrito Federal e dos Municípios,
relativo à/ao:
a) apuração e ao recolhimento dos impostos e contribuições da União, Estados, Distrito Federal
e de Municípios mediante um regime único de arrecadação e obrigações acessórias;
b) cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias;
c) acesso a crédito e mercado.
Os benefícios trazidos pela Lei Complementar 123/2006 foram:
a) abertura e encerramento facilitado da empresa (arts. 8º, 9ºe 10º);
b) incentivo às associações (art. 56);
c) existência de fiscalização orientadora (art. 55);
d) pagamento facilitado no protesto de títulos por meio de cheque sem que seja administrativo
ou visado (art. 73) (VIDO, 2013).
As microempresas e empresas de pequeno porte (EPP) são enquadradas no regime tributário
simples, constituindo-se uma forma simplificada e unificada para o recolhimento dos tributos, sendo
aplicados percentuais favorecidos e progressivos que incidem em uma única base de cálculo, isto é, a
receita bruta. O Simples foi instituído pela Medida Provisória n° 1.526, de 1996, posteriormente
convertida na Lei no 9.317, de 1996.

2. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), por fim, o MEI –


microempreendedor individual consiste na pessoa que trabalha por conta própria e, visando sua
legalização, enquadra-se na Lei Complementar n° 128/2008. Por essa, o microempreendedor individual
deve faturar no máximo até R$ 81.000,00 por ano e não pode participar em outra empresa como sócio
ou titular. Ainda possibilita que tenha um empregado contratado que receberá o salário mínimo ou o
piso da categoria.

3. Sociedades Empresárias, essa pode ser compreendida como a pessoa de direito privado
que tem por objetivo social a exploração de atividade econômica. É constituída por meio de contrato
entre duas ou mais pessoas que se obrigam a combinar esforços e recursos para atingir fins comuns,
de acordo com o art. 981 do Código Civil. Deve-se levar em conta que se constitui obrigação de cada
sócio contribuir para a formação do patrimônio social
O contrato firmado entre as partes em uma sociedade simples, limitada, em nome coletivo ou
em comandita simples, chama-se contrato social. Já na sociedade anônima, na comandita por ações e
na cooperativa, o contrato social tem o nome de estatuto social.
As características gerais das sociedades empresariais são:
a) origem por contrato entre duas ou mais pessoas, com exceção da sociedade anônima;
b) nascimento com o registro do contrato social ou do estatuto social;
c) sua extinção ocorre por meio da dissolução, expiração do prazo de duração, iniciativa
dos sócios, ato de autoridade, etc;
d) pessoa jurídica com personalidade distinta da dos sócios, com titularidade negocial e
processual e responsabilidade dos sócios, em alguns casos, sempre subsidiária em
relação à sociedade (artigo 1.024 do Código Civil);
e) representação por pessoa designada no contrato social ou estatuto social;
f) podem ser uma sociedade de pessoas ou sociedade de capital. A primeira, sociedade
de pessoas, baseia-se no affectio societatis, isto é, baseia-se na confiança e cooperação
frente ao fim social da empresa. Já na sociedade de capital existe a livre circulação dos
sócios, tais como na sociedade anônima, na sociedade em comandita por ações e na
sociedade limitada;
g) proibição da sociedade entre cônjuges, casados sob o regime de comunhão universal
ou separação obrigatória de bens (artigo 977 do Código Civil);
h) podem ser estrangeiras ou brasileiras; no caso da estrangeira, depende de
autorização do representante do Poder Executivo Federal;
i) têm nome empresarial: regido pelos princípios da veracidade, novidade e
exclusividade. O primeiro, veracidade, refere-se ao fato de que o nome deve expressar o
ramo da atividade, a responsabilidade dos sócios. Quanto à novidade, o nome escolhido
deve ser diverso dos já registrados na Junta Comercial. Por fim, o princípio da
exclusividade afirma que o primeiro a registrar o nome tem seu uso exclusivo.
Constituído por meio da firma (razão social) ou denominação: a firma é composta pelo
nome dos sócios que respondem de forma ilimitada, e a denominação tem o seu nome
inventado e a responsabilidade dos sócios é limitada (VIDO, 2013).

As espécies societárias podem ser classificadas em:


a) sociedades não personificadas;
a. sociedade em comum, irregular ou de fato;

ARTIGO 986 a 990, Codigo Civil


Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo
disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade
simples.
Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade,
mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.
Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum.
Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso
limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer.
Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem,
previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.

b. sociedade em conta de participação.

ARTIGO 991 a 996, Codigo Civil


Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio
ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados
correspondentes.
Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio
participante, nos termos do contrato social.
Art. 992. A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por
todos os meios de direito.
Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer
registro não confere personalidade jurídica à sociedade.
Parágrafo único. Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio participante não pode tomar
parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas obrigações em
que intervier.
Art. 994. A contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo, patrimônio especial, objeto da conta de
participação relativa aos negócios sociais.
§ 1º A especialização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios.
§ 2º A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo saldo
constituirá crédito quirografário.
§ 3º Falindo o sócio participante, o contrato social fica sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos
bilaterais do falido.
Art. 995. Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos
demais.
Art. 996. Aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no que com ela for compatível, o disposto
para a sociedade simples, e a sua liquidação rege-se pelas normas relativas à prestação de contas, na forma da lei
processual.
Parágrafo único. Havendo mais de um sócio ostensivo, as respectivas contas serão prestadas e julgadas no mesmo
processo.

b) sociedades personificadas;
a. sociedades simples – Artigos 997 a 1038 do Codigo Civil;
b. sociedade em nome coletivo – Artigos 1039 a 1044 do Codigo Civil;
c. sociedade em comandita simples – Artigos 1045 a 1051 do Codigo Civil;
d. sociedade limitada – Artigos 1052 a 1087 do Codigo Civil;
e. sociedade anônima ou companhia – Artigos 1088 a 1089 do Codigo Civil;

1.3.2 A Sociedade Limitada e Sociedade Anonima


A Sociedade Limitada, consiste em uma sociedade contratual regida pelo Código Civil em seus
artigos 1.052 a 1.087. Composta por um Contrato Social, o que lhe dá objetivo e fim, tem como base a
confiança entre os sócios e a cooperação mútua (Affectio societatis).
Quanto ao seu nome empresarial, pode ser utilizada a firma ou denominação. Caso se escolha
a firma, utiliza-se o nome de um ou mais sócios e a terminação limitada ou a sua abreviação LTDA. Se
optarem por utilizar a denominação, o nome inventado pelos sócios é seguido da terminação limitada
ou a sua abreviação (artigo 1.158 do Código Civil).
O capital social é constituído pela somatória dos recursos trazidos à sociedade pelos seus
integrantes, que podem ser integralizados no ato ou futuramente.
Será administrada por um dos sócios ou até mesmo um não sócio, como permite o artigo 1.060
do Código Civil. Sua dissolução pode ser total ou parcial, de acordo com a vontade e morte dos sócios.
Já a exclusão de um sócio ocorre por meio da não integralização do capital, prática de falta grave ou
exclusão judicial (VIDO, 2013).
A Sociedade Anonima são regidas pelo instrumento Civil e pela Lei no 6.404/1976 – Lei das
Sociedades por Ações. Têm o seu capital dividido em ações, as quais são livremente negociáveis, ou
até mesmo penhoradas. Essa negociação pode ser aberta ou fechada, isto é, se a empresa tem seu
capital aberto na bolsa, as negociações ocorrem nessa; já as fechadas, não. Adota a denominação
como nome seguida por S.A. – sociedade anônima ou Cia. – Companhia com o artigo 6.404/1976. A
responsabilidade dos acionistas é limitada à integralização das ações (VIDO, 2013).
Quanto às sociedades anônimas, temos a CVM – Comissão de Valores Mobiliários
(http://www.cvm.gov.br/), a qual, entre suas funções, é responsável pela observância do cumprimento
das formalidades para que as sociedades anônimas possam abrir o seu capital e, assim, emitir ações
ao mercado.

1.4 Capacidade civil e responsabilidade


De forma assertiva, podemos compreender a responsabilidade como a proteção de um lado e a
obrigação de uma pessoa com outra quanto ao prejuízo causado, por meio da aplicação de medidas
jurídicas.
Podemos dizer que a responsabilidade civil acarreta dois deveres. O primeiro refere-se ao
cumprimento de determinado dever, como o cumprimento do pactuado com o cliente, e o segundo
refere-se à indenização pecuniária, caso o primeiro dever não tenha sido executado de acordo com o
estabelecido e a conduta tenha gerado um dano ao cliente (NADER 2013).
Assim, pode-se dividir a responsabilidade em> subjetiva e objetiva; contratual e extracontratual.
A Responsabilidade Subjetiva e Objetiva: A responsabilidade subjetiva está associada ao ato
culposo ou danoso, o qual não tem a intenção de causar o dano. Já a objetiva o ato praticado pelo
agente está diretamente relacionado ao dano causado. Assim, é nítido o dever de indenizar. No artigo
927 do Código Civil brasileiro, está clara a presença da responsabilidade civil objetiva ao afirmar que
independentemente da culpa, quando a lei especificar, ou quando a atividade normal desenvolvida pelo
agente do dano causar risco a outros, existirá a obrigação de indenização, reparação ao dano causado.
Isso ocorre porque a responsabilidade objetiva baseia-se na teoria do risco, concepção que afirma que
aquele que exerce uma atividade cria um risco de dano a terceiros; sendo assim, deverá reparar o dano
causado, mesmo que não seja culpado pelo resultado final.
Essa espécie de responsabilidade também está presente no Código de Defesa do Consumidor
ao estabelecer a responsabilidade objetiva quanto ao fornecedor e ao fabricante em seus artigos 12 e
14, assunto que estudaremos em um momento específico de nossa unidade curricular.
A Responsabilidade Contratual e Extracontratual: A primeira, contratual, está associada à
existência de um contrato celebrado entre as partes, sendo a reparação fruto do descumprimento das
exigências legais do contrato. Já a extracontratual consiste na reparação de dano clássica sem a
existência de um contrato prévio, como, por exemplo, um acidente envolvendo a colisão de veículos.
Dessa definição, podemos elencar os seguintes elementos que devem estar presentes para a
configuração da responsabilidade:
a) conduta: elemento primário é a conduta humana, comportamento voluntário do agente
materializada por meio da sua ação ou omissão;
b) dano: o resultado da ação voluntária resultante em motivação para a reparação;
c) nexo causal: consiste no estabelecimento da relação entre a conduta do agente e o
resultado. Assim, além da relação entre conduta e dano, esse último deve ter causado
um dano à outra que necessite de ser reparado via pena pecuniária;
d) culpa: apesar de não definida de modo claro em nossa legislação, consiste na ação do
agente que, mesmo inconsciente, cause dano a outra pessoa. Quando estamos falando
da intenção do resultado final, ação consciente e responsabilização quanto ao resultado
final, também deve ser reparado.

Em suma, podemos dizer que a responsabilidade civil tem três dimensões a atender; são elas:
a) Reparação: a finalidade máxima da responsabilidade consiste no ressarcimento do
dano sofrido pela parte, buscando a reconstituição do status quo ante.
b) Prevenção do dano: todos os contratos e relações devem se basear no princípio de
não lesar a outra parte, sendo que cabe ao judiciário, de acordo com seus instrumentos e
medidas, prevenir qualquer dano de forma prévia. Um exemplo consiste em uma medida
liminar que resguarda o direito à indenização a um agente, bloqueando os bens do
responsável pela reparação.
c) Punição e os punitives damages: aquele que deu causa a um dano deverá repará-lo,
sendo que a medida da indenização equivale à medida da ofensa, o que consiste na
punição. Já os punitives damages têm origem na doutrina norte-americana, e consistem
em uma parcela adicional de condenação, visando a um desestímulo à infração civil
(NADER, 2013).

Atrelada à responsabilidade civil, temos a capacidade civil, que consiste na capacidade plena
para que uma pessoa possa reger a sua vida, bens, e realizar os atos da vida civil, assim como possa
ser responsabilizada civilmente.
O Código Civil também previu aqueles que apresentam uma capacidade de forma limitada e,
dessa forma, não possuem de fato as características para o gozo da vida civil, sendo chamados de
incapazes. Abaixo, elencam-se:
1. Menores de 16 anos.
2. Aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não possuem discernimento para
a prática dos atos da vida civil.
3. Aqueles que mesmo por causa transitória não puderem exprimir sua vontade (artigo 3º
do Código Civil).
Vale ressaltar que há os que chamamos de relativamente incapazes, visto que necessitam de
um instrumento corretivo que pode ser a presença de um responsável que o represente ou o assista
legalmente; são eles:
1. Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
2. Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham
discernimento reduzido.
3. Excepcionais, sem o desenvolvimento mental completo.
4. Pródigos (artigo 4º do Código Civil).
2. TÍTULOS DE CREDITO E AS PESSOAS JURIDICAS
2.1 Conhecendo os Títulos de Credito
A importância destes títulos traz à tona a confiabilidade e exigibilidade das relações comerciais,
visto que a maior parte dessas negociações são pagas por meio desses títulos de crédito.
No Brasil, o assunto referente aos títulos de crédito é tratado:
• o Código Civil, no Título VIII da primeira parte especial no livro chamado “Do Direito das
Obrigações”,
• o Decreto-lei n° 57.663/1996, que aborda sobre a letra de câmbio e a nota promissória;
• a Lei n° 5.474/1986, que fala sobre a duplicata;
• e a Lei n° 7.357/1985, que se refere ao cheque.
Podemos conceituar o título de crédito de acordo com o Código Civil em seus artigos 887 a 903,
como sendo um documento necessário para o exercício literal e autônomo que nele está contido,
devendo este apresentar os seguintes requisitos:
• Data de Emissão.
• Indicação precisa dos direitos que confere.
• Assinatura do emitente.
O não cumprimento de tais exigências poderá modificar alguns fatores do título de crédito,
como:
• se não conter a data de vencimento, o título torna-se à vista;
• não havendo local de emissão e de pagamento, considera-se como local o domicílio do
emitente, fator importante quanto a questões jurídicas que serão abordadas nas demais unidades.

ARTIGO 887 A 903, CODIGO CIVIL:


Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz
efeito quando preencha os requisitos da lei.
Art. 888. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a
invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.
Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do
emitente.
§ 1º É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento.
§ 2º Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente.
§ 3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem
da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.
Art. 890. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a excludente de
responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de termos e formalidade prescritas, e a
que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações.
Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes
realizados.
Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participaram, não constitui motivo
de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.
Art. 892. Aquele que, sem ter poderes, ou excedendo os que tem, lança a sua assinatura em título de crédito, como
mandatário ou representante de outrem, fica pessoalmente obrigado, e, pagando o título, tem ele os mesmos direitos que
teria o suposto mandante ou representado.
Art. 893. A transferência do título de crédito implica a de todos os direitos que lhe são inerentes.
Art. 894. O portador de título representativo de mercadoria tem o direito de transferi-lo, de conformidade com as normas
que regulam a sua circulação, ou de receber aquela independentemente de quaisquer formalidades, além da entrega do
título devidamente quitado.
Art. 895. Enquanto o título de crédito estiver em circulação, só ele poderá ser dado em garantia, ou ser objeto de medidas
judiciais, e não, separadamente, os direitos ou mercadorias que representa.
Art. 896. O título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas
que disciplinam a sua circulação.
Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por
aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.
Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título.
§ 1º Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista.
§ 2º Considera-se não escrito o aval cancelado.
Art. 899. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de indicação, ao emitente ou devedor final.
§ 1° Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados anteriores.
§ 2º Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação daquele a quem se equipara, a menos que a
nulidade decorra de vício de forma.
Art. 900. O aval posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado.
Art. 901. Fica validamente desonerado o devedor que paga título de crédito ao legítimo portador, no vencimento, sem
oposição, salvo se agiu de má-fé.
Parágrafo único. Pagando, pode o devedor exigir do credor, além da entrega do título, quitação regular.
Art. 902. Não é o credor obrigado a receber o pagamento antes do vencimento do título, e aquele que o paga, antes do
vencimento, fica responsável pela validade do pagamento.
§ 1º  No vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial.
§ 2º No caso de pagamento parcial, em que se não opera a tradição do título, além da quitação em separado, outra deverá
ser firmada no próprio título.
Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código.

Diante da definição, podemos conceituar e compreender os princípios que constituem os títulos


de crédito, os quais são:
• Cartularidade ou Incorporação: constitui a posse do documento original para que tenha
o exercício do direito ao crédito, por meio da apresentação deste título para o credor
recebe a quantia nele especificada. Já o devedor, tendo a posse do título, tem a dívida
prescrita no título consignado quitada.
• Literalidade: consiste na expressão do valor contido no título e origem de dívida, assim
um credor não poderá cobrar mais do que o valor impresso nele, podendo ser
completado por um terceiro de boa-fé.
• Autonomia: refere-se à criação do direito novo que foi impresso no título,
desvinculando-o da obrigação anterior que o gerou.
• Abstração: trata da circulação do título sem que esteja vinculado ao que lhe criou,
embora necessite que a obrigação anterior a ele deve ser legítima, caso não o seja, o
título de crédito torna-se inexigível.
Quanto à classificação dos títulos de crédito, temos:
• Modelo: o título de crédito pode apresentar um modelo livre, o qual não necessita de um
padrão previamente estabelecido nas normas (por exemplo, a nota promissória), ou ter um modelo
vinculado, o qual deverá seguir um padrão estipulado em lei para que possa ter eficácia jurídica (por
exemplo, o cheque).
• Estrutura: esta pode basear-se em ordem de pagamento, constituído por três figuras: o que dá
a ordem, o que paga e o que recebe. Nesta categoria, temos como exemplo a letra de câmbio, o
cheque e a duplicata, ou em promessa de pagamento é composta por duas figuras, o que paga e o que
recebe, tendo como exemplo a nota promissória.
• Hipóteses de emissão: são casuais, nas quais os títulos são emitidos por meio de uma origem
específica e legal, por exemplo, a duplicata mercantil e não casuais ou abstratos; os quais podem
nascer a partir de qualquer causa, como o cheque.
• Circulação: podem ser ao portador: neste não há a indicação do credor, sendo transmitido pela
simples entrega a outra pessoa; ou nominativo: neste há a identificação do credor, necessitando para a
sua transmissão de um endosso ou cessão civil.
Quanto ao endosso, compreende-se a transmissão dos títulos de crédito, à ordem, materializado
por meio de uma assinatura no verso ou dorso do documento, formalizando assim um negócio
unilateral e a passagem do título a um terceiro.
O endosso pode ser das seguintes formas:
1. Endosso em branco ou incompleto: neste há a assinatura do endossante, mas não do
beneficiário, que é conhecido como endossatário, assim o título torna-se ao portador, recaindo sobre
ele a proibição já indicada pela Lei n° 8.021/1990.
2. Endosso em preto ou completo: há a assinatura do endossante e a identificação do
beneficiário ou endossatário.
3. Endosso mandato: neste caso, o endossante autoriza ao endossatário-mandatário realizar a
cobrança do título; ao fazer, deverá restituir o valor recebido ao endossante.
4. Endosso caução: utilizado como garantia de uma obrigação que foi assumida pelo
endossante, para utilizar-se desta modalidade deve anotar “valor em garantia” ou outra inserção do
tipo.
Quanto ao Aval, consiste em uma garantia dada por um terceiro a um título de crédito, prevista
nos artigos 897 e 898 do Código Civil. Ao se tornar avalista, a pessoa traz para si a obrigação pelo que
avaliou, devendo assim satisfazê-la junto ao devedor, é o que chamamos de solidariedade.

ARTIGO 897 E 898, CODIGO CIVIL:


Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por
aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.
Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título.
§ 1º Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista.
§ 2º Considera-se não escrito o aval cancelado.

Quanto a Fiança, sendo esta última uma garantia a um outro contrato, principal diferencial.

2.2 Tipos de Títulos de Credito – Parte I


Caminhando no assunto, devemos conhecer e compreender quanto às características e
propriedades dos títulos, quais as exigências legais para que possam se tornar exigíveis, por meio de
sua apresentação.
Além das responsabilidades de terceiros quanto à dívida por meio do endosso e aval, e a
materialização jurídica quanto à exigibilidade por meio do protesto e da ação cambial.
Como apresenta uma data de emissão, há também o momento no qual o título deverá ser
liquidado, isto é, pago, momento que chamamos juridicamente de Apresentação, sendo o ato de
submeter uma ordem de pagamento ao reconhecimento do devedor principal, visando obter o seu
pagamento.

2.2.1 Execução Judicial de Título de Credito


Conheceremos os institutos do Aceite, Protesto e Ação Cambial, procedimento jurídico que visa
a execução judicial de um título de crédito.
O Aceite, consiste no ato no qual o devedor principal que não assinou o título de crédito no ato
de sua emissão reconhece a sua validade e a dívida, por meio da assinatura no título, o que passa a
ser conhecido juridicamente como aceite. O aceite pode ser parcial ou total, como o aval. Caso não
ocorra nos títulos nos quais ele é requisito obrigatório, pode ser provado por meio do protesto.
O Protesto, consiste na apresentação pública do título ao devedor, visando ao seu pagamento,
é feito por meio do Tabelião de Protesto de Títulos. Deve ser realizado visando suprir o aceite nos
títulos em que é obrigatório, em caso de falência no caso de impontualidade, como também na
execução contra devedores e para provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada
em título. Podem ser protestadas, ainda, as certidões de dívida ativa da União, dos estados, do Distrito
Federal, dos municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas, assim como outros
documentos de dívida.
Quanto ao prazo do protesto, divide-se em:
• e quanto por falta de aceite é o prazo fixado no título para a sua apresentação
• e por falta de pagamento já quanto ao pagamento, deve ser feito no primeiro dia útil
seguinte ao vencimento, no caso da letra de câmbio. Quanto ao cheque, o prazo do
protesto é o da apresentação, de 30 dias, contados da emissão no caso de mesma
praça, ou de 60 dias para o caso de praças diferentes, de acordo com o artigo 33 da Lei
n° 7.357/1985.
Caso os prazos fixados na legislação não sejam cumpridos, o portador do título perderá o direito
contra os demais devedores responsáveis pelo título. O cancelamento do protesto ocorre pelo
pagamento posterior do título, feito no Tabelionato no qual o título se encontra protestado, obtendo
assim o título. Outra forma é, se não houver como apresentar o título, o cancelamento ocorrerá por
meio de anuência do credor ou endosso (artigo 26, Lei n° 9.492/1997).
A Ação Cambial consiste no ajuizamento de execução caso o credor não receber o título de
crédito que lhe é devido, desde que o protesto tenha sido executado de forma correta. Como os demais
institutos, a ação cambial também tem um prazo para ser exercida pelo credor de acordo com o artigo
70, da Lei Uniforme, a saber:
• Em três anos, a contar do vencimento, para o exercício do direito de crédito contra o
devedor principal e seu avalista.
• Em um ano, a contar do protesto para o exercício do direito de crédito contra os
coobrigados (endossantes, sacador e avalistas).
• Em seis meses, a contar do pagamento ou ajuizamento da execução cambial quanto ao
direito de regresso por qualquer um dos coobrigados (COELHO, 2012).

Os principais tipos de títulos de créditos presentes no direito brasileiro são:


1. Letra de Câmbio.
2. Nota Promissória.
3. Cheque.
4. Duplicata.

Necessário, agora, começarmos a estudar cada um dos títulos de crédito e suas peculiaridades.

Letra de Câmbio
A legislação que compreende a Letra de Câmbio consiste no Decreto n° 2.044/1908 e no
Decreto n° 57.663/1966 – Lei Uniforme.
A Letra de Câmbio compreende-se como uma ordem de pagamento em que o sacador (pessoa
que emite o título de crédito) emite ao sacado, visando que este pague a importância contida no título a
um terceiro, o qual juridicamente é designado como tomador ou sacador, de acordo com o artigo 1º, do
Decreto n° 2.044/1908.
Assim, podemos resumir as figuras presentes na Letra de Câmbio da seguinte forma:
• Sacador: o que dá a ordem de pagamento, materializada pela emissão do título (Letra
de Câmbio), se não for o credor será considerado também como coobrigado.
• Sacado: a quem a ordem do título se destina, devendo assim realizar o pagamento
dele.
• Tomador: consiste no beneficiário da ordem de pagamento, isto é, o credor do devido
valor apresentado no título, que pode ser um terceiro ou até mesmo o próprio sacador
(VIDO, 2013).
O sacado não é obrigado a aceitar a Letra de Câmbio, entretanto, a sua recusa causa ao título
de crédito o vencimento antecipado, o que possibilita ao tomador a cobrança imediata ao sacado por
meio do protesto, ferramenta que acabamos de estudar.
Sendo a Letra de Câmbio à vista e o seu prazo de apresentação de um ano, contado da emissão do
título.
Os requisitos legais quanto à composição da Letra de Câmbio são:
a) Denominação Letra de Câmbio.
b) Quantia que deva ser paga.
c) Nome do tomador.
d) Data e lugar de saque.
e) Época de vencimento.
f) Assinatura do sacador.
Embora no momento da emissão ou do aceite poderá um terceiro de boa-fé completar o que
estiver faltando no título ou em branco, como já falado anteriormente no instituto do aceite.

2.3 Tipos de Títulos de Credito – Parte II


Em nosso momento anterior, verificamos alguns conceitos, entre eles a apresentação
(apresentação do título para pagamento), o protesto (apresentação pública do título a fim de obter o
aceite e/ou pagamento e requisito para a ação cambial) e a ação cambial (processo de execução
judicial do título de crédito).
Vimos, também, o primeiro título de crédito; a letra de câmbio (utilizada por instituições
financeiras) é essencial conhecermos os demais títulos de crédito que estão previstos em nossa
legislação.

Nota Promissoria
É regida pelo Decreto-lei no 2.044/1908, e também pelo Decreto-lei n° 57.663/1966 – Lei
Uniforme. Consiste a Nota Promissória em uma promessa de pagamento que uma pessoa, intitulada
aqui como sacador, faz a outra, intitulada de sacado. Assim, as pessoas que configuram neste tipo de
título de forma objetiva são:
• Sacador: pessoa que emite e que se compromete a honrar com o pagamento da
quantia determinada no título, é o devedor principal.
• Sacado: é o credor do título, o seu beneficiário (VIDO, 2013).
Quanto aos requisitos essenciais para a Nota Promissória, temos:
a) Expressão “Nota Promissória”.
b) Promessa incondicional de pagamento da quantia determinada.
c) Nome do credor da promessa.
d) Assinatura do emitente.
e) Data e local do saque ou emissão.
f) Data e local do pagamento.
Um fator essencial para a existência da Nota Promissória é a assinatura, visto que, de acordo
com a legislação brasileira, não é possível o aceite ou o vencimento antecipado fruto da ausência da
assinatura (VIDO, 2013).
Existem diversas formas de vencimento, podemos tomar como exemplo a de vencimento a
termo certo da vista, tal terá o prazo de apresentação de um ano. Outro fator que devemos verificar
quanto à composição da Nota Promissória é o seu vínculo a um contrato (VIDO, 2013).

Duplicata Mercantil
Está fundamentada na Lei no 5.474/1968, consiste em um título de crédito causal originado de
uma compra e venda mercantil ou até mesmo de uma prestação de serviço. Está sempre vinculada a
uma nota fiscal fatura.
Em uma venda pode-se extrair uma duplicata, de acordo com o artigo 2º da Lei da Duplicata (Lei
n° 5.474/1968), devendo ser apresentada ao devedor em 30 dias, contados de sua emissão. O devedor
tem 10 dias para assinar o aceite ou a declaração da recusa ao aceite (artigo 7º, da Lei da Duplicata -
Lei n° 5.474/1968).
Os sujeitos da duplicata são:
• Sacador: emitente do título, que é o empresário e credor da duplicata.
• Sacado: o devedor da duplicata.
Quanto aos requisitos essenciais temos:
a) Denominação “duplicata”.
b) Data de sua emissão e número de ordem.
c) Número da fatura da qual foi extraída.
d) Data do vencimento ou declaração de ser paga à vista.
e) Nome e domicílio do credor e do devedor.
f) Importância a ser paga.
g) Local de pagamento.
h) Declaração da concordância do devedor assinada (aceite).
i) Cláusula a ordem (VIDO, 2013).

A recusa da duplicata pode ocorrer nos seguintes casos:


a) Quando o sacado não receber a mercadoria ou esta vier avariada, se acordado que o
transporte não for de responsabilidade do sacado.
b) Vícios da mercadoria ou diferença em sua quantidade e qualidade, divergência no
preço ou prazos acordados (VIDO, 2013).

O protesto da duplicata pode ocorrer por falta de pagamento, devolução ou falta de aceite,
sendo que deve ser feito em 30 dias contados do vencimento, para que não perca o direito de crédito
em face aos coobrigados (endossantes e avalistas) (VIDO, 2013).
O prazo prescricional é de três anos contados do vencimento do título quanto à execução do
sacado e avalistas. Já a ação regressiva será de um ano a contar do pagamento em face aos demais
coobrigados.

Cédula de Crédito Bancario


Consiste em uma promessa de pagamento em favor da instituição financeira a partir de uma
transação financeira, de acordo com o artigo 26 e seguintes da Lei n° 10.931/2004. Consiste em um
título executivo extrajudicial, originado de um contrato, podendo ser executada pelo valor integral do
limite, de acordo com o extrato do saldo devedor (VIDO, 2013).

Cheque
Baseia-se na Lei n° 7.357/1985, consiste em uma ordem de pagamento à vista em face a um
banco, tendo como base a suficiente provisão de fundos pelo sacador em mãos do sacado ou em conta
corrente (artigo 4º). Pode ser passado em favor próprio ou a terceiros. A lei exige um modelo vinculado
a este título padronizado (artigo 1º da Lei de Cheque - Lei n° 7.357/1985), embora não necessite de um
documento anterior para que tenha existência, caso da Duplicata.
Os sujeitos presentes neste título são:
• Sacador: emitente do cheque e devedor principal.
• Sacado: é o banco.
• Beneficiário: é o credor do cheque (VIDO, 2013).
Quanto aos requisitos do cheque, temos:
a) Denominação “cheque” no próprio título.
b) Ordem incondicional de pagamento a quantia nele determinada.
c) Identificação do banco sacado.
d) Local de pagamento.
e) Data e local de emissão.
f) Assinatura do sacador ou mandatário com poderes para isso.
As modalidades de cheque de acordo com a nossa legislação são:
1. Cheque cruzado: título que apresenta traços transversais próximos, só podendo ser paga por meio
de depósito em conta (artigo 44, da Lei do Cheque - Lei n° 7.357/1985).
2. Cheque para se levar em conta: neste o emitente ou o portador proíbem o pagamento do título em
dinheiro.
3. Cheque visado: neste, o banco sacado, a pedido do emitente ou do portador legítimo, lança e assina,
no verso, declaração confirmando a existência de fundos suficientes para a liquidação do título (LC, art.
7º, Lei n° 7.357/1985).
4. Cheque administrativo: neste, o banco é o próprio sacado, tendo a execução da liquidação ele
mesmo (VIDO, 2013).
O prazo para a apresentação do cheque é de 30 dias, contados de sua emissão para a mesma
praça, e 60 dias no caso de praças diferentes, de acordo com o artigo 33, da Lei do Cheque, Lei nº
7.357/1985. Não havendo a apresentação no prazo legal, o portador perderá o direito ao crédito, devido
à decadência do direito, contra os coobrigados. Quanto ao prazo prescricional, é de seis meses
contados a partir de sua apresentação (artigo 59) (VIDO, 2013).
Pode haver a sustação ou a revogação do pagamento do cheque. Quanto a sustação, os efeitos
são imediatos, sendo requerida pelo emitente do cheque ou pelo portador legítimo, desde que
apresente razões relevantes, tais como: furto, roubo, extravio, entre outros. Quanto à revogação,
também chamada de contraordem, ocorre somente após a expiração do prazo de apresentação, de
acordo com os artigos 35 e 36, da Lei do Cheque (Lei n° 7.357/1985).
O banco, sacado, pode recusar-se a pagar o cheque nos seguintes casos:
1. Falta de fundos do emitente.
2. Falsidade comprovada.
3. Ilegitimidade do portador.
4. Falta dos requisitos essenciais já apresentados (VIDO, 2013).

2.4 Direito Bancario


Conheceremos o Direito Bancário a fim de ter uma noção sobre o Sistema Financeiro Nacional,
as operações realizadas e o sigilo bancário, a fim de termos uma visão holística quanto ao Direito
Comercial aplicado à área cambial.
Direito Bancário como o ramo do Direito Empresarial que regulamenta as operações bancárias e
as atividades daqueles que praticam tais atividade em caráter profissional (ABRÃO, 2010).
Compreende-se como atividade bancária, de forma jurídica, a coleta, intermediação ou
aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, tanto em moeda nacional quanto
estrangeira, de acordo com o artigo 17, da Lei n° 4.595, de 31 de dezembro de 1964.
Para que uma entidade possa exercer a atividade bancária é necessária autorização
governamental, sendo o órgão competente para expedir esta autorização o Banco Central do Brasil,
que integra o Sistema Financeiro Nacional, que estudaremos nesta seção. Caso o solicitante, para o
exercício de atividade bancária, seja um estrangeiro, a autorização cabe ao Presidente da República.
Surge, em 1808, a primeira instituição financeira no Brasil, o Banco do Brasil, desenvolvendo as
atividades de desconto de letras de câmbio, depósito em prata, ouro, diamante ou dinheiro, saques,
cobrança e emissão de letras (ASSAF NETO, 2012).
O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (SFN) é calcado na Lei n. 4.595/64, que criou o
Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central do Brasil (BCB).
Segundo o art. 192 da Constituição Federal o Sistema Financeiro Nacional é estruturado de
forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em
todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por Leis
Complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições
que o integram.
De acordo com Lagioia (2011), o Sistema Nacional Financeiro é composto por diversas
instituições que podem ser divididas em três segmentos: o normativo, o supervisor e o operativo, a
saber:
• Normativo: com a função de elaborar as normas do Sistema Financeiro Nacional, composto pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN), o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e o Conselho
de Gestão de Previdência Complementar (CGPC).
• Supervisor: com a função de fiscalizar e controlar as normas elaboradas pelas autoridades
monetárias; é composto pelo Banco Central do Brasil, pela Comissão de Valores Mobiliários, pela
Superintendência de Seguros Privados e pela Secretaria de Previdência Complementar.
• Operativo: aplica as normas e cria as condições operacionais para implementá-las. É composto pelas
instituições financeiras públicas e privadas que atuam no sistema financeiro, que por sua vez são
agrupadas em três grandes grupos:
As que são normatizadas pelo Conselho Monetário Nacional:
• Instituições financeiras captadoras de depósito à vista.
• Bolsa de valores, bolsa de mercados futuros e sociedades corretoras.
• Demais intermediários financeiros administradores de recursos de terceiros (agências
de fomento, banco de investimentos e cooperativas de crédito).

As que são normatizadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados:


• Sociedades seguradoras e resseguradoras.
• Sociedade de capitalização e demais entidades abertas de previdência complementar.
As que são normatizadas pelo Conselho de Gestão de Previdência Complementar:
• Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão).
O CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL (CMN) é o órgão responsável pelas normas de
regulação do Sistema Financeiro Nacional, o qual não desempenha funções executivas, tem como
missão definir as diretrizes de funcionamento do Sistema Financeiro Nacional, bem como formular toda
a política de moeda e políticas econômicas, visando atender a seus interesses econômicos e sociais.
Para isso, conta com o Banco Central do Brasil (BACEN) como seu principal braço operacional.
Vinculados ao Conselho Monetário Nacional (CMN) estão o Banco Central do Brasil (Bacen) e a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O conjunto de tais instituições unidas forma o subsistema
normativo do SFN, sendo responsável pelo funcionamento do mercado e de suas instituições (ASSAF
NETO, 2011).
O BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), tem o objetivo de garantir a estabilidade do poder
de compra da moeda e a solidez do Sistema Financeiro. O papel estratégico do Banco Central decorre
de suas funções institucionais e dos impactos cruciais que seus instrumentos de política e de ação
exercem sobre a trajetória de desenvolvimento da economia.

Composição do Sistema Financeiro Nacional

2.4.1 Quanto as operaçoes bancarias


Consistem nas atividades realizadas pelo banco em relação aos seus correntistas e clientes.
Podem ser classificadas como:
• essenciais enquadram-se os depósitos, a conta corrente, os empréstimos, descontos, abertura e
concessão de crédito
• acessórias estão a custódia de valores, a prestação de serviços de cofres, a cobrança de títulos, entre
outras (ABRÃO, 2010).
Como características das operações bancárias podemos extrair:
• Pecuniaridade: o objetivo de sua operação é o crédito, materializado no dinheiro.
• Grande escala: feita de maneira homogênea, o que possibilita aos bancos o lucro.
• Atividade em série: tem um número indeterminado de pessoas atendidos de forma padronizada,
segundo as regras e legislação.
• Complexidade: mudanças constantes de legislação e cenários econômicos e políticos.
• Profissionalidade: atuação voltado no mercado de crédito apenas.
• Empresariedade: destinação e gestão do crédito a quem necessita, de acordo com as normas de
cada instituição.
Por fim, o sigilo bancário é fruto da própria atividade bancária, visto que sempre houve a
necessidade de se manter sigilo quanto às operações de seus clientes, acessível a terceiros em caso
excepcionais e por meio judicial.

3. DIREITO DO CONSUMIDOR E SEUS REFLEXOS NAS


RELAÇOES COMERCIAIS FISICAS E VIRTUAIS
Dividimos esta unidade em alguns momentos essenciais:
 Primeiro momento, abordaremos sobre a questão da propriedade industrial, a qual protege a
exploração de bens imateriais.
 Segundo momento, conheceremos quem a lei legalmente define como consumidor e seus
direitos básicos.
 Terceiro momento analisaremos quanto às relações de consumo e seus defeitos, correlatos aos
vícios.
 Quarto momento abordaremos a questão da responsabilidade presentes nas relações de
consumo. Como você pode ver, temos uma longa e produtiva caminhada ao conhecimento que
nos trará fundamentos para o desenvolvimento de nossos diferenciais competitivos dentro e fora
da empresa.

Para que possamos auxiliar o seu João e aperfeiçoar-nos quanto ao Direito de


Propriedade Industrial, estudaremos:
• Definição de propriedade intelectual.
• Entidade reguladoras.
• Patentes e registro industrial.
• Crimes contra a propriedade industrial.

3.1 Compreendendo a propriedade industrial e seus reflexos


Entende-se como propriedade industrial um conjunto de direitos do autor. Visa proteger as
invenções, criações estéticas (design) e dos sinais que são utilizados para distinguir os produtos e as
empresas no segmento que atuam.
Assim, a propriedade industrial relaciona-se com a detenção da titularidade materializada na
forma de patente ou de registro, sendo o direito de realizar sua exploração de forma econômica com
exclusividade. Creio que você deve já estar se perguntando se o símbolo ® faz parte da propriedade
industrial, e a resposta é sim, e trata-se do registro que verificaremos logo mais.
O empresário que tenha a sua marca registrada pode impedir que a concorrência utilize da
mesma marca ou algo semelhante. Para que o empresário explore economicamente o bem industrial
que foi patenteado ou registrado, necessita de autorização ou licença do titular do bem.
Vamos analisar cada um dos bens imateriais que são protegidos por meio do Direito Industrial,
são elas:

3.1.1 Patente de Invenção


Refere-se ao ato original do gênio humano, assim, é ato original. O prazo de duração
determinado é de 20 anos, visando possibilitar ao inventor um tempo de exploração razoável, o prazo
de duração do direito industrial não poderá ser inferior a 10 anos para as invenções.

3.1.2 Patente de Modelo de Utilidade


Consiste no objeto de uso prático suscetível à aplicação industrial, com novo formato que resulta
melhores condições de uso ou fabricação. O prazo de duração determinado é de 15 anos, visando
possibilitar ao inventor um tempo de exploração razoável, o prazo de duração do direito industrial não
poderá ser inferior a 7 anos para os modelos contados do momento da expedição da patente.
Além da caducidade pelo prazo, há previsões legais, são elas:
• Renúncia dos direitos industriais, a qual somente poderá ser feita se não acarretar
prejuízo a terceiros, como um licenciado da patente.
• Falta de pagamento da taxa devida ao INPI, qual tem o nome de retribuição anual.
• Falta de representante no Brasil, em caso de titular com domicílio estabelecido no
exterior.
Os requisitos que devem ser cumpridos quanto à invenção e aos modelos de utilidade são:
Novidade: deve não apenas ser uma novidade, mas desconhecida pela comunidade científica,
técnica ou industrial (artigo 11, da Lei de Patentes Industriais - Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996).
Atividade inventiva: deve, a invenção, despertar nos técnicos da área o sentido de um progresso
real (artigos 13 e 14, da Lei de Patentes Industriais - Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996).
Aplicação industrial: só pode ser patenteada a invenção ou o modelo suscetível de
aproveitamento industrial (artigo 15, da Lei de Patentes Industriais - Lei n° 9.279, de 14 de maio de
1996).
Não impedimento: é vedada por lei a patenteabilidade de determinadas invenções ou modelos,
como os que afrontam a moral, os bons costumes, a segurança, a ordem e a saúde pública, entre
outros fatores (artigo 18, da Lei de Patentes Industriais).
O órgão que realiza o devido procedimento administrativo que expedirá a respectiva patente é o
INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial –, que é o órgão estatal que concede a exploração
exclusiva do objeto da patente ou do registro a partir do ano concessivo correspondente. Nenhuma
pessoa ou empresa poderá reivindicar o direito de exploração econômica com exclusividade de
qualquer invenção, modelo de utilidade, desenho industrial ou marca se não obteve por meio do INPI a
concessão correspondente.

3.1.3 Registro de Desenho Industrial


Abrange a marca e o desenho industrial, que são registráveis, também, no INPI, a fim de
concessão do direito de exploração exclusiva, sendo que devem ser devidamente registrados para que
possam garantir o direito de exploração. Trata-se de dar forma a objetos, conferindo-lhes um
ornamento harmonioso e até mesmo a sua distinção a outros do mesmo gênero.
Os requisitos para seu registro são:
• Novidade: deve o desenho ser novo, isto é, não ser conhecido pela comunidade técnica, de acordo
com o artigo 96, da LPI - Lei de Patentes Industriais - Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996. O designer
deve merecer a proteção do direito industrial, possibilitar um visual inédito e, como já dito, ser
desconhecido pelos técnicos do setor.
• Originalidade: deve ser original, apresentando configuração própria, que não seja encontrada em
outros objetos (artigo 97, da LPI - Lei de Patentes Industriais - Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996).
• Desimpedimento: o registro não deve ser impedido pela legislação, conforme o artigo 100, da LPI,
assim:
 Desenhos contrários à moral e aos bons costumes.
 Ofensas à honra ou à imagem de pessoas, ou que atentem à liberdade de consciência.
 Formas comuns, vulgares ou necessárias.

O prazo de duração do registro do desenho industrial é de 10 anos, contados também da data


do depósito, sendo possível a sua prorrogação por até três períodos sucessivos de cinco anos cada
(artigo 108, da LPI). A taxa que é devida ao INPI, neste caso, chama-se retribuição, com incidência
quinquenal, de acordo com o artigo 120, da LPI - Lei de Patentes Industriais - Lei n° 9.279, de 14 de
maio de 1996.

3.1.4 Marca
Consiste no símbolo que identifica seus produtos ou serviços.
Quanto à marca, esta deverá cumprir algumas exigências para que possa ser registrada, são
elas:
• Novidade relativa: o símbolo, a expressão linguística ou o signo utilizado não precisam ser criados
pelo empresário. A forma, o signo ou símbolo devem ser novos e o seu emprego quanto à identificação
dos produtos industrializados ou comercializados.
• Não coincidência com marcas notórias: mesmo que uma marca notória não seja registrada no INPI,
tem ela tutela do direito industrial em razão da Convenção de Paris, na qual o Brasil é um dos países
signatários (artigo 26, da LPI - Lei de Patentes Industriais - Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996).
• Não impedimento: o registro do signo ou símbolo não deve estar impedido por lei, como as armas
oficiais do Estado, nome civil, entre outros.

Quanto ao registro da marca, tem duração de 10 anos, contados de sua concessão, de acordo
com o artigo 133, da LPI - Lei de Patentes Industriais - Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996, sendo
prorrogável por um período igual e sucessivo, cabendo ao interessado solicitar a prorrogação,
procedimento que deve ser feito no último ano da vigência do registro.

A Lei no 9.279, de 14 de maio de 1996, prevê a aplicação de penas quanto aos crimes
cometidos contra a propriedade industrial, são eles:
• Crimes contra as patentes: constitui o uso da invenção sem a devida autorização.
• Crimes contra desenhos industriais: constitui a fabricação sem a devida autorização,
bem como a comercialização ou imitação.
• Crimes contra as marcas: reprodução sem a devida autorização ou a sua alteração.
• Crimes cometidos por meio de marca, título de estabelecimento e sinal de propaganda:
consiste na imitação ou reprodução que leve o consumidor ao erro, bem como a venda
de reproduções ou produtos similares.
• Crimes contra indicações geográficas e demais indicações: consiste na fabricação,
exportação, venda ou exposição de um produto com uma indicação geográfica falsa.
• Crimes de concorrência desleal: utilização de práticas ilícitas para aumentar os
consumidores em sua empresa prejudicando os concorrentes, utilizando para isso de
meios desleais.

3.2 Conhecendo o consumidor, seus direitos e deveres


Neste momento deve-se compreender as relações de consumo, o conceito e a aplicação dos
termos consumidor e fornecedor, bem como o entendimento de quais são os direitos básicos de
consumidor previstos no Código de Defesa do Consumidor – CDC – e os deveres também.
Direito do Consumidor, estamos abordando o conjunto de regras jurídicas que buscam equilibrar
as relações que decorrem do consumo de bens e serviços, com a finalidade da preservação dos
interesses do consumidor.

3.2.1 Sujeitos do Direito do Consumidor


Aqui, conheceremos conceitos fundamentais ao estudo das relações de consumo e do Código
de Defesa do Consumidor, são elas:
• Definição de consumidor: compreende-se como consumidor toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza um produto ou serviço, sendo seu destinatário final, de acordo com o artigo 2º, do Código de
Defesa do Consumidor. Há um outro tipo de consumidor presente no CDC, que é o consumidor por
equiparação, previsto no parágrafo único, do artigo 2º, e nos artigos 17 e 29, ambos do CDC,
abrangendo, de forma ampla, terceiros à relação de consumo. Assim, o consumidor pode ser uma
pessoa física, jurídica ou a coletividade de pessoas.
• Definição de fornecedor: pode ser conceituado como aquele que desenvolve as atividades de
produção, importação, exportação, distribuição, comercialização de produtos ou prestação de serviços
de acordo com o artigo 3º, do Código de Defesa do Consumidor.

A transação entre o consumidor com o fornecedor constitui a relação de consumo, visto que o
consumidor é o agente do consumo e o segundo, fornecedor, é o que atende, por meio de seus
produtos ou serviços, às necessidades e aos desejos dos primeiros.
3.2.2 Objeto do Direito do Consumidor
Podemos definir como produto toda a mercadoria que é colocada à venda ao consumidor, por
exemplo: uma roupa, um computador, um telefone, e assim por diante. Podem ser classificados em:
• Produtos duráveis: enquadram-se nesta categoria os que não desaparecem com o uso, como
geladeira, carro, apartamento, entre outros.
• Produtos não duráveis: ao inverso dos primeiros, são os que, assim que usados, desaparecem, por
exemplo: chocolate, pasta de dentes, sabonete, e assim por diante.

Quanto ao serviço, pode ser definido como tudo aquilo que, para que seja realizado, precisa de
uma prestação pecuniária, por exemplo, para que possamos cortar o nosso cabelo, consertar o carro,
passar o final de semana em um hotel, devemos pagar para obter a contrapartida, a prestação do
serviço. Assim como os produtos, os serviços podem ser classificados em:
• Durável: neste enquadram-se os serviços que demoram a desaparecer com o uso, como a pintura de
uma casa, a construção de um apartamento, etc.
• Não durável: como o próprio nome diz, são que serviços que não duram, como a lavagem de um
carro, de uma roupa, a limpeza de uma casa, assim que passam a ser consumidos já se consome, pois
a roupa, a casa e o carro sujam quase que imediatamente.

Além de estabelecer um objetivo para a politica nacional das relações de consumo.


Estabeleceu, também, alguns princípios que devem ser atendidos, tais como o princípio da
vulnerabilidade, da boa-fé objetiva, do equilíbrio contratual absoluto, da educação, da informação, entre
outros, que estão dispostos no art. 4º, incisos I a VIII.

3.2.3 Direitos do Consumidor


Já quanto aos direitos que o consumidor possui e estão catalogados no artigo 6º, CDC, são
eles:
• Proteção quanto a prejuízos à saúde e segurança: consiste no dever do fornecedor do produto
ou serviço quanto ao aviso ao consumidor quanto aos possíveis riscos, saúde ou segurança, que esteja
sujeito.
• Acesso a informações quanto ao consumo correto, com a liberdade de escolha: o consumidor
deve receber informações quanto ao consumo do produto ou serviço que está adquirindo, bem como a
escolha do produto que achar mais conveniente ou melhor.
• Prestação de informações ao consumidor de forma adequada e clara quanto aos produtos, sua
composição, especificação, características e qualidades: o consumidor deverá ter todas as informações
necessárias quanto às características do produto e à forma de utilização, a fim de não o induzir ao erro.
• Proteção contra publicidade enganosa e abusiva: ao realizar um anúncio, o que está vinculado
deve ser cumprido e cabe ao consumidor exigir. Caso não o seja, o consumidor poderá solicitar o
cancelamento do contrato e receber a quantia paga. Quanto à propaganda enganosa, constitui crime e
está contida no artigo 67, do Código de Defesa do Consumidor, e será analisada em nossa próxima
seção.
• Possibilidade de modificação de cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou excessivamente onerosas: o Código de Defesa do Consumidor protege o
consumidor quanto a cláusulas que não forem devidamente cumpridas, ou se até mesmo forem
prejudiciais ao consumidor. Podem tais cláusulas serem anuladas ou modificados por meio judicial.
• Prevenção e reparação de forma efetiva quanto aos danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos: se o consumidor for prejudicado, deverá ser indenizado pelo fornecedor do produto
ou serviço, inclusive por danos morais.
• Acesso ao judiciário para a busca quanto à reparação de danos: tendo seus direitos violados,
deverá recorrer à justiça para pleitear que seus direitos sejam cumpridos. O órgão que representa é o
Procon, sobre o qual trataremos há pouco.
• Facilitação de sua defesa, com a inversão do ônus da prova, observada a verossimilhança e
hipossuficiência: o Código de Defesa do Consumidor facilitou a defesa dos direitos do consumidor por
meio da possibilidade da inversão do ônus da prova. Para que haja tal inversão, é necessário que
sejam preenchidos dois fatores, são eles:
 o Verossimilhança: assenta-se num juízo de probabilidade, resultante da análise dos motivos
que lhe são favoráveis (convergentes) e dos que lhe são desfavoráveis (divergentes). Sendo
que os motivos convergentes são inferiores aos divergentes, o juízo de probabilidade cresce;
caso ocorra ao contrário, os motivos divergentes são superiores aos convergentes, a
probabilidade diminui.
 o Hipossuficiência: relaciona-se com a vulnerabilidade do consumidor quanto à relação de
consumo, sendo ele a parte mais fraca (MOREIRA, 1997).
• Adequada prestação dos serviços públicos de forma geral: os serviços públicos devem ser de
qualidade, zelando os órgãos públicos e as empresas concessionárias de um bom atendimento ao
consumidor.

• Deveres do consumidor.
• Agir com boa-fé: a honestidade e a transparência nas relações são fruto do artigo 170, da
Constituição Federal, já que tal artigo embasa-se na harmonização dos interesses dos participantes nas
relações de consumo e a proteção do consumidor, tendo como base a boa-fé e o equilíbrio entre
consumidores e fornecedores. Assim, cabe ao consumidor não omitir no momento da contratação tanto
de um produto quanto de um serviço as informações solicitadas, nem se aproveitar do fornecedor para
seu enriquecimento de forma ilícita.
• Utilizar o produto de forma adequada: deve o consumidor utilizar o produto de acordo com o
estabelecido no manual deste, visto que defeitos que são provados por mau uso não são de
responsabilidade do fornecedor do produto.
• Planejar-se financeiramente: visto a obrigação do cumprimento do contrato, cabe ao
consumidor o correto pagamento do contratado ou do serviço prestado, já que a inadimplência do
consumidor não pode ser suportada e nem é de responsabilidade do fornecedor. Caso o consumidor
não cumpra com a sua parte contratual, estará sujeito às consequências legais e seu nome pode ser
inserido nos órgãos de proteção ao consumidor, caso o contrato celebrado assim prever tal inserção,
como o SERASA.
• Atentar aos prazos: o Código de Defesa do Consumidor apresenta os prazos quanto a
possíveis reclamações, são eles de 30 a 90 dias para que se reclame quanto aos defeitos aparentes do
produto e de cinco anos quanto uma possível ação de danos morais ou materiais em face ao
fornecedor, de acordo com os artigos 26 e 27. Caso não cumpra esses prazos, o consumidor perde o
direito de exercer seu direito.

Procon – Programa de Proteção e Defesa do Consumidor – está presente em diversos


municípios, revestido de personalidade jurídica de direito público, vinculado à Secretaria da Justiça e da
Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo. O objetivo de tal instituição consiste no estabelecimento
do equilíbrio e harmonia das relações entre consumidores e fornecedores, visando à proteção e à
defesa dos consumidores.

3.3 As relações de consumo e as práticas abusivas


Assim, caminhando quanto à legislação referente ao Direito do Consumidor, veremos:

• Definição de vício e defeito do produto e do serviço.


• Práticas Abusivas.
• Publicidade enganosa.
• Compras pela internet.

Compreendido quanto aos direitos e deveres do consumidor, bem como a aplicabilidade dos
conceitos de consumidor e a sua abrangência, consumidor por extensão e dos fornecedores, é
importante compreender quanto aos vícios e defeitos dos produtos e dos serviços.
De acordo com a legislação em relação ao consumidor, cabe ao fabricante, produtor, construtor
e importador responder, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos que
podem causar ao consumidor por possíveis defeitos quanto ao projeto, à fabricação, à construção, à
montagem, às fórmulas, à manipulação, à apresentação ou até mesmo ao acondicionamento de seus
produtos. Acrescido a este, temos a responsabilização do fornecedor pelas informações insuficientes
ou até mesmo inadequadas sobre a utilização ou possíveis riscos ao consumidor.
Pode-se compreender o vício como fator que atinja a estética, o funcionamento ou a qualidade
de um bem, fruto da decorrência de erro ou acidente do controle de qualidade no processo de
confecção do produto, ou erro quanto ao acondicionamento e transporte, o que acaba atingindo um
produto de forma individual
Os dois tipos previstos do Código de Defesa do Consumidor quanto ao vício dos produtos
referem-se à qualidade (artigo 18, do CDC) e à quantidade (artigo19, do CDC).
Quanto ao vício relacionado à qualidade, trata o CDC dos produtos que estão impróprios ou
inadequados para consumo, o que diminui o valor do produto, e os produtos que se apresentam em
desacordo com as informações presentes na oferta, conforme o gráfico a seguir (artigo 18, CDC, § 6º).
Se o fornecedor não sanar o vício em um prazo de 30 dias, no máximo, cabe ao consumidor
exigir os seguintes direitos, alternativamente ou à sua escolha (artigo 18, do Código de Defesa do
Consumidor):
i. Substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso: cabe a
substituição do produto que apresentou um vício por outro da mesma marca e modelo, e caso não haja
mais o produto, o fornecedor pode oferecer um produto de qualidade e modelo superior, devendo o
consumidor pagar a diferença na aquisição de um produto melhor.
ii. Restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos: Cabe ao consumidor, caso não deseje o pagamento complementar, solicitar ao
fornecedor a devolução da quantia paga pelo produto.
iii. Abatimento proporcional do preço pago: o consumidor pode escolher ficar com o produto que
apresentou o vício e solicitar ao fornecedor um abatimento na quantia paga, visto que o produto
apresenta um vício, como uma geladeira que tem um pequeno amassado na lateral e funcionamento
em perfeito estado, pode o consumidor adquirir o produto por um preço diferenciado, o menor, visto que
apresenta um vício, o amassado lateral.

Quanto ao vício relacionado à quantidade, relacionam-se a inadequação quanto aos limites


quantitativos, sendo que apresenta o produto disparidade em relação a qualquer unidade de medida.
Cabe ao consumidor (artigo 19, do Código de Defesa do Consumidor):
i. Abatimento proporcional do preço.
ii. Solicitar a complementação do peso ou medida.
iii. Substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem a presença dos
vícios.
iv. Restituição da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízos das perdas e danos.

3.3.1 Práticas Abusivas


Como abusivo, compreende-se o comportamento em desconformidade com os padrões de
mercado de boa conduta quanto às relações de consumo (PALAIA, 2005). Algumas práticas estão
previstas no Código de Defesa do Consumidor nos seguintes momentos:
a) Colocar no mercado produto ou serviço com alto grau de nocividade ou periculosidade (artigo
10 do CDC).
b) Comercializar produtos ou serviços impróprios (art. 18, § 6º; art. 20, § 2º, do CDC).
c) Não empregar peças de reposição adequadas (artigo 21, do CDC).
d) Não dispor de peças de reposição (artigo 32, do CDC).
e) Veicular publicidade clandestina e abusiva (artigos 36 e 37, § 2º, do CDC).

Outros pontos vedados pelo Código de Defesa do Consumidor são:


a) Prevalecer-se da ignorância do consumidor para impingir-lhe seus produtos.
b) Executar serviço sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do
consumidor.
c) Colocar no mercado qualquer produto em desacordo com as normas dos órgãos oficiais
respectivos.
d) Elevar o preço sem justa causa (PALAIA, 2005).

Ainda quanto à proteção ao consumidor o Código de Defesa do Consumidor abrange sobre


publicidade enganosa, em seu artigo 37. O CDC conceitua como enganosa qualquer modalidade de
informação ou comunicação publicitária que é inteira ou parcialmente falsa, capaz de levar o
consumidor ao erro, mesmo no caso de omissão de informações, quanto a características de produto,
qualidade, quantidade, propriedade, origem, preço e outros dados sobre o serviço ou o produto.
Assim, podemos dividir a publicidade enganosa em:
a) Publicidade enganosa por comissão: refere-se à indução ao erro por meio de uma afirmação
que não é real ou demonstra-se uma situação que não condiz com a realidade.
b) Publicidade enganosa por omissão: consiste na ausência de informação essencial ao produto
ou serviço, que podem influenciar no comportamento do consumidor.
Os principais diferenciais quanto à relação de consumo entre a forma tradicional e a virtual, via
internet, são:
a) Não estabelece um contato pessoal entre o consumidor e o fornecedor.
b) A apuração da idoneidade e honestidade do fornecedor do produto ou serviço fica mais difícil
de ser analisada.
c) Não há a certeza de que a prestação contratual, fruto da relação de consumo, será cumprida
de acordo com o estipulado entre as partes.
d) Há dificuldade quanto à comprovação que o negócio jurídico foi firmado por um clique sem a
existência de um contrato firmado entre as partes.

3.4 Sistemas de responsabilidade


De acordo com o que conversamos sobre o conceito de fornecedor e sua abrangência,
verificamos que neste enquadram-se as pessoas que comercializam, distribuem, produzem, fornecem,
importam, exportam, criam ou constroem, tal extensão permite a aplicação quanto à responsabilidade
do fornecedor e o Código de Defesa do Consumidor.

Já a responsabilidade no Código de Defesa do Consumidor é objetiva, não havendo a


necessidade da existência da culpa, visto que se fundamenta na Teoria do Risco, na qual, aquele que
obtém lucro no desenvolvimento da atividade empresarial deve suportar seus ônus.
A única exceção a esta regra nas relações de consumo encontra-se disposta quanto aos
profissionais liberais que, neste caso, para a sua responsabilização, há a necessidade de comprovação
de dolo ou culpa (artigo 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor). Exceção a tal regra encontram-
se os profissionais liberais, que têm obrigação pelo resultado, como o cirurgião plástico.
O artigo aborda sobre a garantia dos direitos dos consumidores presente no artigo 6º, do Código
de Defesa do Consumidor, e a responsabilização tanto do fornecedor quanto do fabricante pelos
produtos colocados no mercado.
Há três modalidades de defeitos do produto, são eles:
• Defeito de concepção ou criação: consiste em defeitos no projeto, formulação ou até mesmo
quanto ao design dos produtos.
• Defeito de produção ou fabricação: relacionam-se com defeitos de fabricação, construção,
montagem, manipulação e acondicionamento dos produtos.
• Defeito de informação ou comercialização: são os defeitos na apresentação, informação
insuficiente ou inadequada, inclusive a publicidade.
A responsabilização do comerciante pelo fato do produto encontra-se prevista no artigo 13 do
Código de Defesa do Consumidor e ocorre quando:
• Não puder o fabricante, construtor, produtor ou importador serem identificados, o que se
conceitua como um produto anônimo.
• Produto seja fornecido sem uma identificação clara de seu fabricante, produtor, construtor ou
importador.
• Não conservar de forma adequada os produtos perecíveis.
É certo que, como no Direito Civil, o Código de Defesa do Consumidor previu no artigo 13,
parágrafo único, quanto ao direito de regresso, possibilitando àquele que efetivar o pagamento a quem
for prejudicado que poderá exercer o direito de regresso frente aos demais responsáveis.
No início de nossa discussão, compreendemos que o Código de Defesa do Consumidor adotou
a responsabilidade objetiva, embora admitiu causas excludentes da responsabilização de acordo com o
artigo 12, § 3º.

A responsabilidade pelo fato do serviço está prevista no artigo 14, do CDC, ao afirmar que o
fornecedor de serviços deverá responder pela reparação de danos causados aos consumidores quanto
a defeitos relativos à prestação de serviços, por informações insuficientes ou inadequadas sobre o uso
e os riscos.
Pode-se compreender como um serviço defeituoso, de acordo com o CDC, aquele que não
fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando em consideração as circunstâncias
relevantes, são elas:
a) Modo do fornecimento do serviço.
b) Resultado e riscos que razoavelmente dele se esperam.
c) Época em que o serviço foi fornecido.
Está contemplado quanto aos fatores excludentes da responsabilidade do fornecedor por um
serviço as causas presentes no artigo 14, § 3º, a saber.

4. A FALENCIA E A RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA EMPRESA


Dividimos esta unidade em alguns momentos essenciais:
Primeiro momento, abordaremos a definição da falência, verificando os fatores que levam à sua
aplicabilidade. Conheceremos ainda a figura do Administrador Judicial, que é o responsável por garantir
o perfeito andamento do processo falimentar.
Segundo momento, estudaremos a legitimidade para a solicitação da falência e sobre a habilitação dos
credores e de seus créditos, a fim de garantir o pagamento
Terceiro momento, trataremos da recuperação no âmbito judicial e extrajudicial, analisando quais os
possíveis meios utilizados pelas empresas a fim de buscar a sua recuperação.
Quarto momento, trataremos a desconsideração da personalidade jurídica, analisando suas teorias e
quais os requisitos para a sua desconsideração.

Recapitulando o conteúdo:
 Conhecemos e conversamos desde as pessoas que podem exercer uma atividade empresarial,
e assim constituir uma empresa de acordo com as exigências e possibilidades consagradas na
legislação brasileira
 Analisamos quanto ao exercício de um direito materializado nos Títulos de Crédito, analisando e
compreendido cada um dos títulos presentes em nossa legislação (Letra de Câmbio, Nota
Promissória, Cheque e Duplicata).
 Verificamos sobre o Direito do Consumidor consagrado no Código de Defesa do Consumidor
(CDC), momento que vislumbramos o conceito de consumidor, seus direitos e deveres bem
como o fornecedor, conhecendo a abrangência deste conceito, analisando as possíveis práticas
abusivas por eles praticadas e também, a comunicação que algumas empresas utilizam sendo
que tais levam o consumidor ao erro, prejudicando-o de forma econômica, por exemplo, que são
as publicidades enganosas ou, levando o consumidor a colocar a sua vida em risco ou até a
tentar contra o meio ambiente, por exemplo, como ocorre na publicidade abusiva.

No Brasil, o assunto referente a Falencia e Recuperação Judicial é tratado:


• Lei n°. 11.101/2005

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º ao Art. 4º
CAPÍTULO II
DISPOSIÇÕES COMUNS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E À FALÊNCIA
Seção I
Disposições Gerais
Art. 5º ao Art. 6º-C
Seção II
Da Verificação e da Habilitação de Créditos
Art. 7º ao Art. 20
Seção II-A
Das Conciliações e das Mediações Antecedentes ou Incidentais aos Processos de Recuperação Judicial’ 
Art. 20-A. ao Art. 20-D
Seção III
Do Administrador Judicial e do Comitê de Credores
Art. 21 ao Art. 34
Seção IV
Da Assembléia-Geral de Credores
Art. 35. ao Art. 46.

CAPÍTULO III
DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Seção I
Disposições Gerais
Art. 47 ao Art. 50-A. 
Seção II
Do Pedido e do Processamento da Recuperação Judicial
Art. 51 ao Art. 52
Seção III
Do Plano de Recuperação Judicial
Art. 53 ao Art. 54
Seção IV
Do Procedimento de Recuperação Judicial
Art. 55 ao Art. 69
Seção IV-A
Do Financiamento do Devedor e do Grupo Devedor durante a Recuperação Judicial’ 
Art. 69-A ao Art. 69-F
Seção IV-B
Da Consolidação Processual e da Consolidação Substancial’ 
Art. 69-G ao Art. 69-L
Seção V
Do Plano de Recuperação Judicial para Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
Art. 70 ao Art. 72
CAPÍTULO IV
DA CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA
Art. 73 ao Art. 74
CAPÍTULO V
DA FALÊNCIA
Seção I
Disposições Gerais
Art. 75 ao Art. 82-A
Seção II
Da Classificação dos Créditos
Art. 83 ao Art. 84
Seção III
Do Pedido de Restituição
Art. 85 ao Art. 93
Seção IV
Do Procedimento para a Decretação da Falência
Art. 94 ao Art. 101
Seção V
Da Inabilitação Empresarial, dos Direitos e Deveres do Falido
Art. 102 ao Art. 104
Seção VI
Da Falência Requerida pelo Próprio Devedor
Art. 105 ao Art. 107
Seção VII
Da Arrecadação e da Custódia dos Bens
Art. 108 ao Art. 114-A
Seção VIII
Dos Efeitos da Decretação da Falência sobre as Obrigações do Devedor
Art. 115 ao Art. 128
Seção IX
Da Ineficácia e da Revogação de Atos Praticados antes da Falência
Art. 129 ao Art. 138
Seção X
Da Realização do Ativo
Art. 139 ao Art. 148
Seção XI
Do Pagamento aos Credores
Art. 149 ao Art. 153
Seção XII
Do Encerramento da Falência e da Extinção das Obrigações do Falido
Art. 154 ao Art. 160
CAPÍTULO VI
DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL
Art. 161 ao Art. 167
CAPÍTULO VI-A
DA INSOLVÊNCIA TRANSNACIONAL 
Seção I
Disposições Gerais 
Art. 167-A ao Art. 167-E
Seção II
Do Acesso à Jurisdição Brasileira 
Art. 167-F ao Art. 167-G
Seção III
Do Reconhecimento de Processos Estrangeiros 
Art. 167-H ao Art. 167-O
Seção IV
Da Cooperação com Autoridades e Representantes Estrangeiros 
Art. 167-P ao Art. 167-Q
Seção V
Dos Processos Concorrentes 
Art. 167-R ao Art. 167-Y
CAPÍTULO VII
DISPOSIÇÕES PENAIS
Seção I
Dos Crimes em Espécie
Fraude a Credores
Art. 168 ao Art. 178
Seção II
Disposições Comuns
Art. 179 ao Art. 182
Seção III
Do Procedimento Penal
Art. 183 ao Art. 188
CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 189 ao Art. 201

4.1 A Falencia e seus Reflexos – Parte I


Conheceremos outro ramo do direito que se preocupa com a proteção do credor em face ao
devedor, visando garantir que no caso de insolvência ou manobra duvidosa, possa receber, mesmo que
de forma porcentual, o que lhe é devido.
O Instituto da Falência consagrado na Lei n°. 11.101/2005 tem como objetivo evitar que os
credores tenham prejuízo, possibilitando a todos estes receberem do devedor insolvente uma quantia
proporcional ao seu crédito, após o pagamento dos créditos elencados pela lei como prioritários e
privilegiados.
Assim, ao falarmos de falência, compreendemos que a empresa está no que chamamos de
processo falimentar, que tem por finalidade a liquidação do passivo, compreendido pelas dívidas da
empresa, por meio da realização da venda do patrimônio da empresa, ativo. No processo falimentar
estão reunidos todos os credores, que devem ser pagos por meio de uma ordem predeterminada no
ordenamento, utilizando-se para tal a categoria de crédito a que pertencem.
Teve o legislador a intenção de preservar não apenas a empresa, mas como também a relação
empregatícia e com os fornecedores da empresa (cadeia produtiva).
A simples insolvência do devedor não caracteriza por si só a instauração da falência, deve esta
estar associada aos seguintes fatores:
1. Impontualidade Injustificada (art. 94, I da Lei n°. 11.101/2005): consiste no não pagamento, de forma
injustificada, na data de vencimento de uma obrigação líquida ou de títulos executivos, cuja soma não
ultrapasse 40 salários mínimos.

2. Execução frustrada (art. 94, II da Lei n°. 11.101/2005): trata dos casos em que o credor executa um
título, direito garantido, contra um devedor, sendo que este último se omite do pagamento. Nesse caso,
pressupõe-se que não pode fazer o pagamento por situação de insolvência.
3. Atos de Falência (art. 94, III da Lei n°. 11.101/2005): pratica o devedor comportamentos que revelam
a sua insolvência, tais como:
a. Liquidação Precipitada
b. Negócio Simulado
c. Transferência de Estabelecimento
d. Transferência Simulada do Principal Estabelecimento
e. Garantia Real
f. Abandono
g. Descumprimento de Obrigação Assumida no Plano de Recuperação Judicial

ARTIGO 94, da Lei n. 11.101/2005


Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos
protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do
prazo legal;
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio
simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens
suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para
prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados
suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona
estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial.
§ 1º Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo para o pedido de falência com base no
inciso I do caput deste artigo.
§ 2º Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que nela não se possam reclamar.
§ 3º Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com os títulos executivos na forma do
parágrafo único do art. 9º desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos respectivos instrumentos de protesto para fim
falimentar nos termos da legislação específica.
§ 4º Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com certidão expedida pelo juízo em
que se processa a execução.
§ 5º Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência descreverá os fatos que a caracterizam, juntando-
se as provas que houver e especificando-se as que serão produzidas.

Apenas será objeto de falência e recuperação de empresas o devedor que exercer atividade
empresarial
Desta forma, não podem ser atingidos por este estatuto a cooperativa, os profissionais
intelectuais e os profissionais liberais, visto que não são consideradas atividades empresariais (artigo
966 do Código Civil).
Também de acordo com o artigo 2º da Lei n°. 11.101/2005, não podem solicitar falência ou
recuperação judicial à empresa pública e à sociedade de economia mista.

ARTIGO 2, da Lei n. 11.101/2005


Art. 2º Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar,
sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras
entidades legalmente equiparadas às anteriores.
Referindo-se ainda à Lei n°. 11.101/2005, há atividades que são parcialmente excluídas do
instituto da falência e a recuperação judicial, visto que são abrangidas por leis especiais relativas à sua
liquidação. É o caso, por exemplo, das seguintes empresas:
• Instituições financeiras, sociedades arrendadoras e administradoras de consórcio, que sofrem
intervenção e a liquidação extrajudicial sob a responsabilidade do Banco Central (Lei n°. 6.024/1974,
Lei n°. 5.768/1971 e Res. Bacen 2.309/1996);
• Companhias de seguros, sociedades de previdência privada aberta e as de capitalização, as
quais sofreram intervenção e liquidação extrajudicial sob a responsabilidade da Susep –
Superintendência de Seguros Privados (Lei n°. 10.190/2001, Dec.-lei n°. 73/1996 e Dec.-lei n°.
261/1967);
• Operadoras de planos de assistência médica, que sofreram a liquidação extrajudicial sob a
responsabilidade da ANS – Agência Nacional de Saúde (Lei n°. 9.656/1998).

Estão totalmente excluídos do regime falimentar:


• As empresas públicas e sociedades de economia mista (artigo 2º, I da Lei n°. 11.101/2005),
que são sociedades que exercem atividades econômicas controladas direta ou indiretamente por
pessoas jurídicas de direito público (União, Estados, Distrito Federal, Territórios ou Municípios). Nesse
caso, os credores têm sua garantia representada pela disposição dos controladores em mantê-las
solventes;
• As Câmaras ou prestadoras de serviços de compensação e de liquidação financeira, sujeitos
de direito cujas obrigações são sempre ultimadas e liquidadas de acordo com os respectivos
regulamentos, aprovados pelo Banco do Brasil; nesse caso as garantias conferidas pelas câmaras ou
prestadores de serviços de compensação e liquidação financeira destinam-se, de acordo com a lei,
prioritariamente, à satisfação assumida no serviço típica de tais entidades (artigo 193 da Lei n°.
11.101/2005); e
• As entidades fechadas de previdência complementar (artigo 47 da Lei Complementar n°.
109/2001) (COELHO, 2014).
O juízo competente para a decretação da falência e o processo de recuperação será o do local
do principal estabelecimento econômico do devedor, e caso a empresa tenha sede no exterior o local
será da filial no Brasil, de acordo com o artigo 3º da Lei n°. 11.101/2005.
Quanto à prevenção, será definida pela primeira distribuição validada de acordo com o artigo 6º,
§ 8º. da Lei n°. 11.101/2005.
Uma vez decretada a falência ou até mesmo com a decretação da recuperação judicial, há a
suspensão do prazo prescricional. No caso da recuperação, a suspensão não poderá exceder 180 dias,
momento que será restabelecida a contagem do prazo independentemente do pronunciamento judicial
(artigo 6º, caput e § 4º da Lei n° 11.101/2005). Vale ressaltar que a suspensão não atinge as
execuções de natureza fiscal, as quais não serão suspensas (artigo 6º, § 7º da Lei n° 11.101/2005).
No processo de falência, temos a figura do administrador judicial, profissional idôneo,
preferencialmente um advogado, economista, administrador de empresas, contador ou uma pessoa
jurídica especializada, de acordo com o artigo 21 da Lei n° 11.101/2005. Os honorários do
administrador são determinados pelo juiz, embora a sua remuneração não possa exceder 5% do valor
devido aos credores na recuperação judicial ou a do valor dos bens na falência (artigo 24 da Lei n°
11.101/2005). O administrador judicial substituído não será remunerado se renunciar sem relevante
razão ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações
fixadas na lei. As atribuições que cabem ao administrador judicial são:
a) Na falência e na recuperação judicial: enviar a correspondência aos credores; prestar
informações; elaborar a relação dos credores e consolidar a respectiva classificação; convocar a
assembleia geral de credores e contratar profissionais especializados, mediante autorização judicial,
para auxiliá-lo na continuação da atividade empresarial;
b) Na recuperação judicial: fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de
recuperação; requerer a falência no caso de descumprimento da recuperação; apresentar relatório
sobre a execução do pedido de recuperação;
c) Na falência: examinar a escrituração do devedor, representar a massa falida, receber e abrir a
correspondência do devedor, apresentar relatórios sobre a responsabilidade civil e penal do devedor,
em um prazo de 40 dias após o termo de compromisso, arrecadar os bens e os documentos, avaliar os
bens ou contratar avaliadores especiais, requerer a venda antecipada de bens, prestar contas, requerer
todas as diligências que forem necessárias.
Devemos conhecer e compreender também a assembleia de credores, composto por titulares
de créditos derivados da legislação trabalhista ou de acidente do trabalho, por titulares de créditos com
garantias reais e por titulares de crédito quirografários ou de privilégios especiais. A qual constitui um
órgão que delibera sobre as questões de interesse dos credores.
As atribuições da assembleia geral de credores de acordo com o artigo 35 da Lei n°
11.101/2005, são:
a) Na recuperação judicial: aprovar, rejeitar ou modificar o plano de recuperação judicial
apresentado pelo devedor; constituir o Comitê de Credores, bem como escolher seus membros e sua
substituição. Deliberar sobre o pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4º do artigo 52 da
Lei n° 11.101/2005; indicar o nome
do gestor judicial, quando do afastamento do devedor; tratar de qualquer outra matéria que venha a
afetar os interesses dos credores; e,
b) Na falência: constituir o Comitê de Credores, bem como escolher seus membros e sua
substituição; adotar outras modalidades de realização do ativo, de acordo com o artigo 145 da Lei n°
11.101/2005, bem como deliberar sobre qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos
credores (VIDO, 2013).
O Comitê de credores é um órgão facultativo que tem por objetivo fiscalizar as atividades do
administrador judicial e zelar pelo bom andamento do processo e dos procedimentos judiciais. É
composto por um representante da classe dos trabalhadores, um representante da classe dos credores
de direito real e de privilégios especiais e um representante dos credores quirografários e de privilégios
gerais (artigo 26 da Lei n° 11.101/2005).

4.2 A Falencia e seus Reflexos – Parte II


Conhecemos que o ramo do Direito Empresarial que visa proteger o direito do credor em face do
devedor, diante da inadimplência do devedor quanto a uma obrigação contraída, mas não liquidada.
Conhecemos também alguns atos do devedor que podem configurar a intenção do não
cumprimento da obrigação, ofertando ao credor risco ao exercício do seu direito. Assim, cabe ao
processo falimentar proteger o credor em face ao devedor, por meio do Poder Judiciário, recaindo
sobre os bens do patrimônio do devedor.
Agora, conheceremos quais as pessoas têm legitimidade para solicitar a falência do devedor,
bem como sobre a classificação dos créditos, o que influencia diretamente na ordem de recebimento do
direito do credor. Por fim, analisaremos quais os efeitos da falência e obrigações em relação à pessoa
do falido.
É crucial, neste momento, compreendermos as etapas e procedimentos do processo falimentar,
a fim de podermos analisar os reflexos da falência na vivência profissional e sua abrangência no âmbito
empresarial.
A falência visa à preservação e a otimização da utilização produtiva dos bens e recursos
produtivos do devedor, por meio de seu afastamento das atividades empresariais, de acordo com o
artigo 75 da Lei n°. 11.101/2005. Assim que esta é decretada, há a antecipação dos vencimentos das
dívidas do devedor bem como dos demais sócios responsáveis de forma ilimitada e solidária.
Um dos fatores que podem possibilitar o requerimento da falência consiste:
> na impontualidade do devedor: quantia certa não paga, nem depositada, a não ocorrência de bens à
penhora dentro de um prazo legal. A situação de insolvência é demonstrada com a apresentação da
certidão que é expedida pelo juízo no qual a execução está sendo processada

> aos atos de falência: ocorrem quando o devedor:


• Liquidar bens antecipadamente;
• Vender bens com a utilização de meios fraudulentos;
• Utilizar de mecanismos visando retardar pagamentos;
• Transferir o estabelecimento comercial, sem a ciência dos credores, ficando assim sem
bens suficientes para saldar suas dívidas;
• Ausentar-se do estabelecimento ou tentar se ocultar sem deixar representante
habilitado e com recursos suficientes para o pagamento dos credores;
• Deixar de cumprir o que foi estabelecido na recuperação judicial (artigo 94 da Lei
11.101/2005).

As pessoas que possuem legitimidades para requerer a falência de acordo com o artigo 97 da
Lei 11.101/2005 são:
• O próprio devedor (artigo 105 da Lei 11.101/2005);
• O cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
• O cotista ou acionista do devedor;
• Qualquer dos credores que esteja regularmente registrado na Junta Comercial.

O procedimento para a habilitação dos credores ocorre da seguinte forma:


1. Publicado o edital da falência, os credores têm 15 dias para se habilitarem;
2. Após tal habilitação, que tem o prazo de 45 dias, caberá ao administrador publicar o
novo edital, contendo a relação de credores;
3. Nos 10 dias que segue a publicação do novo edital, os credores têm para impugnar o
elenco dos credores. Vale ressaltar que a impugnação poderá ser feita por qualquer
credor, pelo Comitê de Credores ou até mesmo pelo Ministério Público (VIDO, 2013).

Após o prazo definido pelo artigo 7º, § 1º da Lei 11.101/2005, ainda pode ocorrer a habilitação
que é considerada retardatária. A consequência da habilitação retardatária é que o credor não terá
direito a voto nas deliberações da assembleia geral, de acordo com o artigo 10 da Lei 11.101/2005,
perdendo o direito a rateios eventualmente realizados. Relembre as funções e objetivos da Assembleia
Geral em nossa seção 4.1.
Outro ponto importante, uma vez resolvidas as habilitações dos credores e suas respectivas
impugnações, será publicada a lista de classificação, em um prazo de cinco dias, contados da sentença
que julgou as impugnações (artigo 18, parágrafo único, da Lei 11.101/2005).
Após requerida a falência, o devedor será citado para que possa apresentar a sua contestação
em 10 dias, se a motivação da requisição da falência for a impontualidade, cabe ao devedor depositar a
quantia devida juntamente com a correção monetária, juros e honorários advocatícios (artigo 98 da Lei
n°. 11.101/2005).
De acordo com o artigo 99 da Lei n°. 11.101/2005, além da decretação da falência, há outras
determinações nelas implícitas, são elas:
• Fixação do termo legal da falência, que é um período máximo de 90 dias anteriores ao pedido
de falência, ou ao pedido de recuperação judicial, ou ao primeiro protesto por falta de pagamento;
• Ordenará ao falido a apresentação, no prazo de cinco dias, da relação de credores;
• Explicitação do prazo para a habilitação dos credores;
• Ordenará a suspensão de todas as ações de execução em nome do falido;
• Nomeação do administrador judicial;
• Determinação, em momento conveniente, da convocação da assembleia geral dos credores,
visando constituir o Comitê de Credores (VIDO, 2013).
Quanto à classificação dos créditos, a falência divide-se em dois grandes grupos:

> os dos créditos concursais: compreendem aqueles que deram origem ao processo de falência
obedecem à seguinte ordem (artigo 83 da Lei n°. 11.101/2005):
• Créditos trabalhistas limitados a 150 salários mínimos por credor e créditos surgidos de
acidentes de trabalho;
• Créditos com garantia real até o limite do valor do bem agregado;
• Créditos tributários, exceto multas tributárias;
• Créditos com privilégios especiais, como exemplo deste: a) o credor por benfeitorias
necessárias ou úteis sobre a coisa beneficiada (CC, art. 964, III); b) o autor da obra, pelos
direitos do contrato de edição, sobre os exemplares dela na massa do editor (CC, art. 964, VII);
c) os credores titulares de direito de retenção sobre a coisa retida (LF, art. 83, IV, C); d) os
subscritores ou candidatos à aquisição de unidade condominial sobre as quantias pagas ao
incorporador falido (Lei n° 4.591/1964, art. 43, III); e) o credor titular de nota de crédito industrial
sobre os bens referidos pelo art. 17 do Dec.-lei n° 413/1969; f) crédito do comissário (CC, art.
707) e outros;
• Créditos com privilégio geral, como exemplo de crédito com privilégio geral, além dos
mencionados no art. 965 do CC, tem-se o decorrente de debêntures (art. 58, parágrafo 1º, da
LSA), e os honorários de advogado, na falência do seu devedor;
• Créditos quirografários, inclusive os créditos trabalhistas que excederem o limite de 150
salários mínimos. Como quirografários enquadram-se indenização por ato ilícito (salvo acidente
de trabalho), contratos mercantis em geral, etc. Após o pagamento desses créditos, restando
ainda recursos na massa, deve o administrador judicial atender às multas contratuais e penas
pecuniárias por infração à lei, inclusive multas tributárias;
• Multas contratuais, penas pecuniárias, incluindo multas tributárias;
• Créditos subordinados (VIDO, 2013).

> os extraconcursais: surgem da declaração da falência, consistem assim nos gastos


provenientes da declaração da falência.
• Remuneração devida ao administrador judicial e seus auxiliares;
• As verbas trabalhistas e de acidentes de trabalho que tenham surgido após a
decretação da falência;
• As quantias fornecidas à massa pelos credores;
• As despesas com a arrecadação, administração e realização do ativo, bem
como as custas do processo de falência;
• As custas judiciais relativas às ações e execuções nas quais a massa falida
tenha sido vencida;
• As obrigações resultantes de atos jurídicos praticados durante a recuperação
judicial (artigo 84 da Lei n°. 11.101/2005).

A partir do momento da decretação da falência, não pode mais o devedor, que passa a ser
chamado de falido, exercer qualquer atividade empresarial, até que seja habilitado novamente pelo
juízo da falência, cabendo a ela apenas fiscalizar a administração da falência (artigos 102 e 103 da Lei
n°. 11.101/2005).
Diante ao artigo 104 da Lei n°. 11.101/2005, tem o falido os seguintes deveres, entre os quais
podemos citar alguns:
• Prestar informações ao administrador;
• Apresentar os livros obrigatórios, bem como todos os papéis e documentos ao administrador
judicial;
• Não se ausentar do local no qual se processa a falência sem motivo justo e com comunicação
expressa ao juiz;
• Comparecer em todos os atos da falência, nos quais for indispensável a sua presença.
Quanto às obrigações do devedor, com a decretação da falência, ficam suspensos o exercício
do direito de retenção sobre os bens que serão objetos de arrecadação, bem como o direito de retirada
por parte do sócio da sociedade falida (artigo 116 da Lei n°. 11.101/2005).

4.3 Recuperação Judicial e Extrajudicial


O objetivo da falência consiste na declaração pública da insolvência de uma empresa que tem a
sua administração regida por um terceiro, o administrador judicial, nomeado pelo juiz, a fim de auxiliar
na gestão do processo falimentar, habilitação dos credores e seus créditos, visando ao pagamento,
mesmo que de forma rateada, a todos os envolvidos.
Aqui trataremos de outro assunto abrangido pela mesma lei de falência (Lei n°.11.101/2005) que
é a recuperação judicial e extrajudicial.
Como veremos, a recuperação judicial consiste em uma medida judicial que possibilita ao
devedor, antes de decretada a sua falência, organizar a vida financeira da empresa, diante da análise
do ativo e passivo, mantendo-se na gestão e administração de sua empresa.
O Direito Falimentar abrange o ramo do direito que lida com a falência e a recuperação judicial e
extrajudicial, sendo que:

4.3.1 Falência
Consiste no exercício do direito do credor, por meio judicial, na busca de sua proteção em face
ao atraso injustificado do devedor e a prática de atos de falência. O objetivo da falência, como vimos,
consiste na preservação e otimização da utilização produtiva dos bens e recursos produtivos da
empresa (VIDO, 2013). Vale lembrar que os créditos são classificados e elencados de acordo com a
sua natureza para ordem de pagamento.

4.3.2 Recuperação Judicial


Temos a viabilização da superação de uma situação de crise econômico-financeira do devedor,
visando permitir a manutenção da fonte produtora, dos empregos por ele gerado e os interesses dos
credores, preservando assim a empresa, sua função social e o estimulo à atividade econômica (artigo
47 da Lei n°. 11.101/2005).

ARTIGO 47, da Lei n. 11.101/2005


Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do
devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

Quanto aos requisitos que o devedor deve apresentar para que possa obter a recuperação
judicial, temos:
• Exercer atividade empresária de forma regular há mais de dois anos;
• Não ter sofrido falência, mas, se tal tiver ocorrido, possuir a declaração da extinção das
obrigações de acordo com o artigo 48, inciso I da Lei n°. 11.101/2005;
• Não ter obtido a concessão da recuperação judicial nos últimos cinco anos;
• Não ter obtido a recuperação judicial com plano especial nos últimos oito anos de
acordo com os artigos 70 e 71 da Lei n°. 11.101/2005;
• Não apresentar condenação por crime falimentar, de acordo com o artigo 48.

Quanto aos créditos não sujeitos à recuperação judicial, podemos elencar:


• Crédito que confere o direito de propriedade do bem;
• Crédito decorrente de aditamento a contrato de câmbio para exportação de acordo com
os artigos 49 § 3º e 86, II da Lei n°. 11.101/2005;
• Crédito tributário de acordo com o artigo 187 do Código Tributário Nacional.

Para que o devedor possa requerer a recuperação judicial, deverá apresentar uma proposta, a
qual deverá ter a anuência dos credores.
Os meios para a recuperação judicial são:
• Concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações;
• Cisão, fusão, incorporação, transformação, cessão de quotas ou ações;
• Alteração do controle societário;
• Substituição total ou parcial dos administradores ou modificação dos seus órgãos
administrativos;
• Aumento de capital social;
• Trespasse ou arrendamento do estabelecimento;
• Redução salarial, compensação de horários e redução de jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva;
• Dação em pagamento ou novação das dívidas;
• Venda parcial de bens;
• Equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo
como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se
inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação
específica;
• Emissão de valores mobiliários;
• Administração compartilhada;
• Constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos
créditos, os ativos do devedor;
• Usufruto entre outros (artigo 50 da Lei n°. 11.101/2005).
Apesar do artigo 50 da Lei n°. 11.101/2005 (é enumerativo, assim, permite-se que o plano de
recuperação judicial indique outros meios de recuperação da empresa, desde que seja aprovado pelos
credores), tratar das possíveis propostas que podem ser utilizadas pelo devedor, o artigo 54 apresenta
algumas limitações que devem ser reconhecidas pelo devedor, em um momento de recuperação, tais
consistem em:
• Não é possível a previsão de pagamento no prazo superior a um ano para os créditos
trabalhistas e os provenientes de acidentes de trabalho;
• Não é possível a previsão de pagamento no prazo superior a 30 dias quanto aos
créditos trabalhistas com valor de até cinco salários mínimos vencidos nos três meses
anteriores ao pedido da recuperação judicial.
Quanto aos efeitos da recuperação, temos que todos os créditos existentes no momento do
pedido de recuperação judicial estão sujeitos a ela, mesmo que ainda não estejam vencidos, de acordo
com o artigo 49 da Lei n°. 11.101/2005.
No caso da recuperação judicial, o administrador da empresa, após a homologação do plano de
recuperação permanecerá na gestão da empresa. Entretanto, não poderá alienar, onerar bens ou
direitos, com exceção de concessão judicial que reconheça a utilidade da negociação de tal bem,
acrescido da manifestação do comitê de credores (artigo 66 da Lei n°. 11.101/2005).
Continuando, para que o processo de recuperação judicial ocorra, o devedor deverá peticionar
apresentando a sua situação, contendo as demonstrações contábeis dos últimos três anos, a relação
nominal dos credores com o vencimento de suas obrigações, a relação de empregados com seus
devidos vencimentos e funções, as ações judiciais em andamento, certidões de protesto, relação de
bens dos sócios controladores e administradores, extratos bancários e a certidão da regularidade da
atividade e protestos, de acordo com o artigo 51 da Lei n°. 11.101/2005.
O juiz fará a análise da situação da empresa e definirá a recuperação judicial, nomeando o
administrador judicial, havendo a suspensão das ações de execução, salvo as de demanda ainda não
determinadas, chamadas ilíquidas, as trabalhistas e de natureza fiscal.
O plano de recuperação judicial deverá ser apresentado 60 dias, a partir da sentença de
deferimento da recuperação judicial, com a avaliação completa do ativo e passivo (artigo 52, caput da
Lei n°. 11.101/2005).
A partir deste momento, o procedimento ocorre de forma semelhante ao da falência, com a
publicação de edital, habilitação dos créditos, oposição de acordo com que determina o artigo 52 da Lei
n°. 11.101/2005.
A transformação da recuperação judicial em falência pelo juiz poderá ocorrer nos seguintes
casos:
• Por deliberação da assembleia geral de credores;
• Pela não apresentação do plano de recuperação no prazo de 60 dias, contados da
publicação da decisão que proferiu o processamento do plano de recuperação judicial;
• Quando houver sido rejeitado o plano de recuperação judicial pela assembleia dos
credores;
• Descumprimento de qualquer obrigação assumida pelo plano de recuperação.

4.3.3 Recuperação Extra Judicial


Segue os mesmos requisitos de recuperação judicial, tendo como fundamento os artigos 48 e
161 da Lei n°. 11.101/2005.
O plano de recuperação extrajudicial, diferente do judicial, não abrange as obrigações
trabalhistas, acidente de trabalho nem as tributárias. Outro ponto de diferenciação entre o judicial e o
extrajudicial é que este não contempla o pagamento antecipado das dívidas nem um tratamento
desfavorável a alguns credores (artigo 161, §§ 1º e 2º da Lei n°. 11.101/2005).
O plano deverá ser submetido à homologação judicial, sendo que não será possível se já houver
um pedido de recuperação extrajudicial nos últimos dois anos (artigo 161, § 3º da Lei n°. 11.101/2005).
Vale ressaltar que a homologação do plano de recuperação extrajudicial não acarreta a
suspensão de direitos, ações ou execuções, nem impedirá a decretação da falência a pedidos dos
credores que não foram subordinados ao plano.

4.3.4 Crimes Falimentares


Consistem em condutas que podem ser realizadas pelo administrador da sociedade ou o
contador, tais atos poderão eventualmente ocasionar a prisão dos responsáveis. Tais condutas destes
agentes referem-se a ações relacionadas com a escrituração, como, por exemplo, a falta de
apresentação de documentos contábeis fiscais, ou até mesmo a apresentação parcial de tais
documentos. Outra conduta refere-se à fraude aos credores, como, por exemplo, o desvio ou a venda
de bens. Por fim, outro crime falimentar refere-se à falsidade no curso do processo. Tais crimes se
aplicam a empresários em processo de recuperação Judicial ou Extrajudicial.

4.4 Desconsideração da personalidade jurídica

Para relembrarmos, ao falarmos em recuperação judicial e extrajudicial, abordamos um remédio


jurídico que possibilita ao empresário a possibilidade de tomar um fôlego para que possa se
reestruturar a fim de analisar os direitos e deveres e, com isso, voltar à atividade sem que,
necessariamente, incida na falência. Vale ressaltar que as regras da recuperação judicial e extrajudicial
seguem as regras da falência contidas na lei, como, por exemplo, a habilitação dos credores. O que
difere refere-se à solicitação da recuperação que parte do devedor que apresenta a sua situação
contábil financeira a fim de ter a concessão da recuperação.

Neste último momento de nossos estudos, vamos conhecer:


• Conceito de Desconsideração de Personalidade Jurídica.
• Teorias da desconsideração.
• Requisitos da desconsideração da personalidade jurídica.

Na legislação brasileira, a desconsideração está presente, exemplificadamente, nos seguintes


artigos:
• Artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor;
• Artigo 50 do Código Civil de 2002.
O artigo 50 do Código Civil tem como base a fraude, bem como o desvio da finalidade e a
confusão patrimonial, o desvio da finalidade pode ser compreendido como a prática de alguns
administradores, que se desvirtuam de seus objetivos ou finalidades, o que deles é esperado pela lei e
também pelo interesse social. Pode ser compreendido como uma violação ideológica ao bem comum,
por meio do emprego de meios imorais, mas de uma forma que aparentemente seja legal.
Quanto à função social da empresa, consiste na finalidade da empresa frente à coletividade de
pessoas e com as instituições que fazem parte da comunidade. Na visão de Comparato (1983), a
função social da empresa relaciona-se com o seu fim.
Assim, o abuso da personalidade jurídica é caracterizado pelo desvio de finalidade, não apenas
prevista em seu objeto social, mas também no que tange à função social da empresa, prevista
legalmente na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º XXIII e artigo 170, III.
É fundamental que você compreenda que a desconsideração da pessoa jurídica não atinge a
validade de um ato jurídico, mas sim a sua eficácia. Podemos compreender assim que a teoria da
desconsideração preserva a empresa, a qual não necessariamente será atingida pela fraude cometida
por seus gestores e sócios, o que possibilita a preservação do interesse dos demais sujeitos da
empresa, como, por exemplo, seus colaboradores, demais sócios, comunidade, fornecedores, dentre
outros (COELHO, 2012).

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