Nzinga Mbandi - Selma Pantoja
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1. A HISTORIOGRAFIA E O
UNIVERSO NEGRO-
AFRICANO
Questões preliminares
É importante serem elucidadas questões pertinentes aos
Estudos Africanos, quando se fala em História da África e
principalmente em África Pré-Colonial. Uma discussão de
algumas décadas anteriores: nomenclaturas que servem
para o Ocidente denominar as estruturas de poder e suas
hierarquias como rei, rainha, príncipe, duque, reino, estado
que estão, na verdade, vinculadas à história européia (1).
Como cunhar o termo rei para estruturas de poder tão
distantes, se pensarmos em forma de poder, como as
africanas? A situação que trouxe aos meios acadêmicos dos
Estudos Africanos essa polêmica, situa-se na década de
setenta. Como definir estado para a maioria das formações
sociais africanas, que como se sabe, são muitas as
dificuldades de se encaixarem nesse padrão do estado
moderno europeu (2). Diante dessa discussão é de suma
importância deslindar aqui o uso do termo rei, reino e o seu
enquadramento em situações em que um determinado
poder possa ser similar às unidades políticas ocidentais
assim denominadas. Mas cabe argumentar ainda, como o
historiador africano Ki-Zerbo já assinalou, que com todas as
especificidades da África Negra, ela não é um caso à parte
na História Universal e, por isso mesmo, imperceptível para
a análise histórica ou social. As suas peculiaridades não
inviabilizam seu estudo, muito pelo contrário, são seus
grandes desafios que vêm permitindo sua avançada
participação na atual transformação da Historiografia
Internacional.
A escravidão africana
São conhecidas desde o século XI referências ao escravismo
africano pelos testemunhos dos viajantes árabes. Nos
séculos XVI e XVII são numerosos, em algumas áreas, os
relatos dos viajantes, missionários e funcionários europeus a
respeito da presença da escravidão no seio das populações
africanas. Já nos séculos XVII e XIX os testemunhos
confirmam a importância desta instituição, chegando os
escravos, às vezes, a constituírem mais de 50% da
população.
Revisão: Autor
ISBN 85-7062-199-X
Todos os direitos em língua portuguesa, no Brasil,
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informação computadorizada, sem permissão por escrito do
autor.
APRESENTAÇÃO
Não lhe conto a vida, porque é isto o que faz Selma Pantoja
neste livro. E não só lhe narra a existência corporal e
terrena, como explica o mundo que lhe foi dado e como
procurou obstinadamente preservá-lo e protegê-lo da
expansão da Luanda portuguesa, usando em sua resistência
tanto a violência dos exércitos quanto a diplomacia do
adiamento e da conformidade. Se seus dotes de
negociadora e sua habilidade impiedosa no uso da força
impressionaram os europeus, não causaram menor impacto
entre seus súditos e seus adversários africanos, a quem deu
guerra e escravizou.
Os Bantu e os não-Bantu
Os povos situados ao norte do rio Zambeze, ao sul da
floresta equatorial e ao centro da região de savanas são
predominantemente população de língua Bantu. Sabe-se,
através das peças arqueológicas, gravuras e pinturas
rupestres, que os primeiros habitantes desta região foram os
bosquímanos, povos caçadores e coletores. A partir do
primeiro milênio da nossa era, os bosquímanos foram
deslocados pelas migrações Bantu, dispersando-se para o
sul de Angola. Os Bantu, poderíamos assinalar, introduziram
a agricultura e a metalurgia na região da África Central.
Caçadores e agricultores
Angola é parte da África Central Ocidental, região que
compreende os seguintes países: os Camarões, O Gabão, a
República Democrática do Congo, República Popular do
Congo e a Zâmbia.
Os Mbundu e as linhagens
A complexidade do sistema político de alguns grupos levou à
construção de estados organizados em confederações de
linhagens.
O Kongo
O Ndongo, onde nasceu Nzinga, era tributário de um grande
estado ao norte, o Kongo dotado de uma complexa
organização administrativa, o Kongo estava dividido em seis
unidades, cada uma com um titular nomeado pelo soberano
africano, o Manikongo. A principal função administrativa do
Manikongo e dos chefes locais era a coleta das taxas em
diferentes níveis da sociedade. Além das unidades
administrativas, alguns estados independentes pagavam
tributo ao Manikongo, como era o caso do Ndongo.
Os Lunda
O reino Lunda foi outro importante estado situado na região
do planalto de Katanga, a leste dos Mbundu. Formavam- se
pequenas famílias que, inicialmente, viviam em aldeias
dispersas. A sua economia era basicamente de subsistência,
mas conheciam a maneira de fabricar instrumentos 66 de
ferro e cerâmica. Durante o século XV o seu território foi
invadido pelos luba, originários da bacia do Lualaba. Esses
invasores, detentores de técnicas metalúrgicas superiores,
formaram vários pequenos estados luba. No século XV,
porém, já existiam os estados Lunda (Oliver e Atmore, 1981,
p. 7-10), (mapa 6 e 8). Mais para norte do Kongo estava o
reino do Loango. Parece ter sido fundado antes do Kongo,
com um soberano que gozava de poder centralizado e que,
além disto, desempenhava a função mágica de fazer chover.
A região conhecia grandes estiagens, o que levava a
população a trazer presentes ao soberano, na esperança do
fim da seca. O Loango estava dividido em províncias e a
língua, o vili, não tem relação com as outras línguas da
África Central Ocidental, tratando-se provavelmente de
idioma originário dos Bantu do leste (Oliver e Atmore, 1981,
p. 10) (mapa 8).
Os livres e os não-livres
Toda a população, aparentemente, estava submetida ao
Ngola, mas havia diferenças na forma de submissão. Por
exemplo, os prisioneiros de guerra eram considerados
cativos e assim trabalhavam um pouco mais do que os não-
escravos. Nem só os prisioneiros de guerra eram escravos.
Existiam os escravos perpétuos, os escravos por dívidas e
aqueles que eram punidos por crimes, adultério e,
principalmente, bruxaria. Os órfãos, quando cresciam, eram
vendidos como escravos. Comumente os filhos de escravos
já não precisavam trabalhar tanto e os filhos destes últimos
deixavam a condição de escravos (Cadornega, 1940, p. 30-
31).
A produção
O Ndongo era uma sociedade agrária e utilizava
instrumentos de ferro no cultivo da terra. A prática agrícola
desta região era o cultivo do solo de forma primitiva. Com o
esgotamento da terra, o agricultor procurava nova área para
se instalar. Havia a irrigação natural das terras, pois era
região relativamente privilegiada em bacias hidrográficas.
Apesar disto, era pouca a quantidade de terras férteis
propícias á atividade agrícola. Fatores como as secas
periódicas, os parasitas e as guerras contribuíam para a
desorganização da colheita e para longos períodos de fome.
Onde e como?
No século XVII não havia uma região ‘angolana’: Angola era
como os portugueses chamavam as sociedades africanas
situadas ao sul do rio Zaire, e isto porque um dos chefes
dessas sociedades tinha o título de Ngola.
Por mais tentador que seja, temos que ter o cuidado de não
constituir a imagem de uma África homogênea, sem as
variantes locais e regionais, que são numerosas.
Principalmente para esses casos das relações
homem/mulher, embora, no caso de síntese, as
generalizações sejam tão perigosas como necessárias, como
nas reflexões acima mencionadas.
5. AFRICANOS E
PORTUCUESES NO
COMÉRCIO E NA
ESCRAVIDÃO
1. FONTES PRIMÁRIAS
Brásio, Antônio. História e Missiologia. Inéditos e Esparsos.
Luanda, Instituto de Investigação Colonial, 1973.
2. BIBLIOGRAFIA
Almeida, Pedro Ramos. História da Colonização em África.
Cronologia Séculos XV- XVIII. Lisboa, Estampa, 1978.
OS REIS DO NDONGO
Ngola Ngobe
Segundo Cavazzi, G.
Ndambe Ngola
Ngola Kiluanji
Nzinga Ngola
1. A HISTORIOGRAFIA E O UNIVERSO
NEGRO-AFRICANO
(1) A questão ortográfica de como escrever os nomes
africanos foi e tem sido objeto de imensas discussões.
Dentro dessas polêmicas há um entendimento sobre a
versão fonética mais próxima a pronúncia. Procurei uma
aproximação do que tem sido escrito pelos historiadores
africanistas da região.
Ã
2. POVOS E SOCIEDADES DA REGIÃO
DA ÁFRICA CENTRAL OCIDENTAL
(9) Antigas idéias de difusão da agricultura a partir de um
berço no crescente fértil do Oriente Médio, tiveram que ser
modificadas, pois botânicos afirmaram que muitos dos
grãos alimentícios africanos evoluíram a partir de plantas
indígenas” ( J.R. Harlan et al, Origins of African Plant
domestication, 1976). Citado por Birmingham em History in
África. 1994, p. 33.
4. OS MBUNDU
(14) Mas existe toda uma discussão sobre a unidade do
Kongo que não seria assim tão centralizado como os
cronistas de época descreveram. Por não ser de nosso
interesse imediato não entramos nesses debates. Acho
importante frisar que para a história do Kongo a
documentação é muito mais numerosa do que para a região
dos Mbundu. A bibliografia, portanto, é bem extensa,
principalmente, em inglês e francês.
6. NZINGAMBANDI NO PODER
(30) Exército sob o controle dos portugueses constituído de
africanos (Cadornega). A maior parte das tropas
portuguesas na região era de guerra preta.