TEXTO 02 ALVES - Concepção de Trabalho-Manuscrito I
TEXTO 02 ALVES - Concepção de Trabalho-Manuscrito I
TEXTO 02 ALVES - Concepção de Trabalho-Manuscrito I
UNIDADE I
GÊNESE HISTÓRICA E CONCEITUAL DO
TRABALHO, DA EDUCAÇÃO E DA ESCOLA
ITEM 01:
CONCEPÇÃO DE TRABALHO
Bem, agora, depois de fazer este exercício, vamos tentar explicar o que a
literatura, ou seja, o que algumas teorias nos dizem sobre o que podemos entender por
trabalho ou processo de trabalho. A ideia é que durante este estudo você possa comparar
a sua noção inicial de trabalho, manifesta em suas respostas às perguntas do parágrafo
anterior, problematizando-as com base em outros pontos de vista que iremos conhecer
através da literatura sobre este assunto que estudaremos nesta Disciplina.
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em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou
o próprio homem (ENGELS, 1999, p. 04)).
É neste sentido que Saviani (1994, 1995, 2007) irá dizer que ao contrário dos
animais, que se adaptam à natureza, os seres humanos adaptam a natureza a si. E isto só
foi possível à espécie humana devido ao processo de trabalho.
E esta “atividade” é uma ação criativa, própria dos seres humanos, de fazer existir
o que não existia, de criar o novo. Essa ação de trans-forma-ação nada mais é do que esta
capacidade humana de, pela sua “ação” direta, poder “transcender”, “ir além” da “forma”
natural dada e atribuir-lhe outro formato, mais adequado aos interesses e necessidades
humanas. Pense, por exemplo, na árvore, que na natureza em estado bruto, in natura, é
derrubada pelo homem e dela ele faz uma mesa, uma canoa, madeiramento para
construção de abrigos etc. A matéria continua sendo a árvore, mas, na forma, ela foi trans-
formada em outra coisa, distinta e imprevista pela natureza, porém, mais adequada aos
seres humanos. Imprevista pela natureza, pois não se pode contar com a geração
espontânea destes produtos pela natureza. Trata-se de algo que para existir precisou da
intervenção humana, do trabalho humano e que sem isto ele não existiria.
Faça um exercício e olhe a sua volta, neste momento, e de tudo que você pode
observar o que aí é totalmente natural, espontâneo, gerado pela natureza, sem intervenção
humana alguma? A água é encanada, a luz é artificial, até o ar é condicionado, se possuir
aparelho de ar-condicionado ou ventilador etc. Por isto tudo se percebe o quanto os seres
humanos rompem com o padrão natural das coisas (NETTO e BRAZ, 2010, p. 30),
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impondo o seu padrão: humano. É bom que se diga que “artificial” significa, em linhas
gerais, o que se faz por arte ou indústria; produzido pelo homem; que não é natural.
Neste caso podemos afirmar que o mundo artificial é o mundo propriamente humano,
criado por ele e é o que o diferencia dos demais seres da natureza, porém, vale lembrar
que nunca o ser humano irá se desligar totalmente da natureza, pois sempre ele será parte
dela também. Os seres humanos são sim diferentes, mas não completamente
independentes da natureza.
E mais ainda:
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Para saber mais sobre o período em que o homem na pré-história aprendeu a dominar o fogo, assistir ao
clássico: “A Guerra do Fogo (1981)”. Este filme é bom também para discussões acerca do desenvolvimento
da linguagem humana articulada. Disponível: ANNAUD, Jean-Jacques. A guerra do fogo. Filme, 1981.
Disponível em: https://drive.google.com/open?id=1jtcxIgRioZMh6BOQLH2JcSBaTvP66gWm Acesso:
19.03.2019.
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Em outros termos, o homem nasce inacabado e somente se faz Ser Humano pela
cultura. Por cultura entendemos tudo aquilo que é feito pelos seres humanos, que não
deriva de geração espontânea, natural. Por exemplo, uma árvore na floresta é natureza,
uma árvore no jardim é cultura, está ali para atender a uma necessidade humana, seja ela
estética ou qualquer outra.
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E tem mais:
Esses homens que viveram num período de quinhentos mil e vinte mil
anos atrás dependiam inteiramente da natureza, dos ambientes que os
cercavam. Sua vida era uma luta diária contra a fome, o frio e a fúria de
outros animais.
Os grupos humanos que viviam próximo ao mar acabaram
desenvolvendo técnicas e instrumentos específicos para pesca. Grupos
que viviam na floresta desenvolveram melhor utensílios para a caça.
Sendo totalmente dependentes do ambiente que os cercavam, os
homens foram desenvolvendo técnicas e culturas bastante
diversificadas.
Hoje, homens de diferentes civilizações sabem que num solo seco e
duro uma semente não pode germinar e crescer, mas para os primeiros
homens que viveram na face da terra a milhares de anos atrás este era
um fato novo.
Foi muito lentamente, observando, experimentando, aprimorando
suas técnicas e ferramentas que os homens aprenderam a plantar e
a produzir o seu próprio alimento. (TELECURSO SEGUNDO
GRAU, s/d [b]).
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Segundo Marx,
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Qual é afinal a diferença entre os homens e os animais? Por que não podemos
denominar de “trabalho” a atividade de sobrevivência dos animais?
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mais uma vez (em última análise), resulta do trabalho. (ENGELS, 1999,
p. 22).
Contudo, ele se apressa para explicar que isto não é sem consequências em relação a
natureza e sua vingança:
(...) não nos deixemos dominar pelo entusiasmo em face de nossas
vitórias sobre a natureza. Após cada uma dessas vitórias a natureza
adota sua vingança. É verdade que as primeiras consequências dessas
vitórias são as previstas por nós, mas em segundo e em terceiro lugar
aparecem consequências muito diversas, totalmente imprevistas e que,
com frequência, anulam as primeiras. [...] Assim, a cada passo, os fatos
recordam que nosso domínio sobre a natureza não se parece em nada
com o domínio de um conquistador sobre o povo conquistado, que não
é o domínio de alguém situado fora da natureza, mas que nós, por nossa
carne, nosso sangue e nosso cérebro, pertencemos à natureza,
encontramo-nos em seu seio, e todo o nosso domínio sobre ela consiste
em que, diferentemente dos demais seres, somos capazes de
conhecer suas leis e aplicá-las de maneira adequada. (ENGELS,
1999, p. 22).
Nesta linha citamos mais uma vez Engels, que resume a importância histórica do
trabalho no processo de humanização, nos seguintes termos:
Graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do cérebro,
não só em cada indivíduo, mas também na sociedade, os homens foram
aprendendo a executar operações cada vez mais complexas, a propor-
se e alcançar objetivos cada vez mais elevados. O trabalho mesmo se
diversificava e aperfeiçoava de geração em geração, estendendo-se cada
vez a novas atividades. À caça e à pesca veio juntar-se a agricultura, e
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Devemos recordar o que diz Marx de que o trabalho é humano, pois implica
intencionalidade e consciência dos seus objetivos ao figurar primeiro na mente um plano
antes de executá-lo. Isto implica “liberdade”, por isto os animais não trabalham, pois
realizam suas ações por um condicionamento genético que os obriga a garantir a sua
sobrevivência de um modo determinado e invariável. Por isto não é possível termos um
“joão-de-barro” decidido a garantir o seu abrigo construindo uma toca no chão ou um
castor construindo uma casinha de barro na árvore. Para o ser humano isto já é possível,
pois ele se serve com liberdade do que o ambiente dispõe.
Isto implica refletir sobre o tipo de trabalho que se exerce hoje, na sociedade atual,
capitalista. E podemos adiantar a afirmação de que o trabalhador na sociedade capitalista
exerce um trabalho alienado, estranhado. O qual pode ser tudo, menos criativo, livre e
emancipado. Não é criativo porque se faz o que é determinado pela empresa; não é livre
porque o trabalhador não tem ingerência alguma ou quase nenhuma sobre a forma de
organização do processo produtivo, a jornada de trabalho também não; e não é
emancipador porque o produto do seu trabalho não é seu, mas de um outro. Até o seu
metabolismo (hora de beber, de comer, ir ao banheiro, dormir, acordar) é controlado por
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esse outro. E por ele exercer o seu trabalho, na maior parte dos casos, por necessidade e
não por opção, trabalha-se no que for possível, no que aparecer, o negócio é estar
empregado etc.
Veremos no próximo item dessa Unidade, que nesta acepção a noção de trabalho
aqui apresentada, de trabalho ontocriativo, ontológico, como atividade de produção da
existência humana, o processo de trabalho assim reconhecido foi reduzido a atividade de
produção de mercadorias, ou de venda, transporte, estoque, segurança de mercadorias etc.
As formas e as percepções atuais e imediatas que temos do trabalho, do processo de
trabalho, reduziu-se a noção simplista e vulgar de “EMPREGO”, não importando mais o
trabalho que se realiza, e sim, só interessa o salário que esta atividade irá render ao final
do mês.
FREIRE, Paulo. Política e educação: ensaios. 5ª. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
FRIGOTTO, Gaudêncio. “Trabalho” (p.399-404). In: PEREIRA, Isabel Brasil; LIMA, Júlio
César França. Dicionário da educação profissional em saúde. Rio de Janeiro: EPSJV, 2008.
Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/index.php?Area=Material&Tipo=8&Num=43>.
Acesso em: 18.07.2014.
KANT, Immanuel. Sobre a pedagogia. 2ª. ed. Piracicaba, SP: Editora UNIMEP, 1999.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I, vol. 01. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.
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NETTO e BRAZ. “Trabalho, sociedade e valor”. In: NETTO e BRAZ. Economia Política: uma
introdução crítica. 6ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2010, p. 30).
SAVIANI, Dermeval. “O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias”. In:
FERRETTI, Celso [et ali]. Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate
multidisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. Disponível em:
<http://www.forumeja.org.br/go/files/demerval%20saviani.pdf>. Acesso em: 20.jul.2018.