Aulas Teoricas Contratos I Prof Pedro de Albuquerque
Aulas Teoricas Contratos I Prof Pedro de Albuquerque
Aulas Teoricas Contratos I Prof Pedro de Albuquerque
PARTE I
I. CONTRATO DE COMPRA E VENDA
Caso prático modelo para as seguintes aulas:
Imaginando que um fã da cantora dua lipa, António, pretende comprar a Bento uma
coleção de discos e composições da autoria da cantora de que Bento é proprietário e, com isso,
celebram um contrato de compra e venda. Todavia, o preço não é pago se não 15 dias depois.
- A questão é, quem é o proprietário destes discos e destas composições?
1Esta última parte do artigo tem sido entendida por vários autores como: tornando lícito
que num contrato de compra e venda se subordine a transferência da propriedade da coisa
à tradição ou a um modo.
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Com isto terminamos a matéria referente aos efeitos essências da compra e venda.
Vamos agora iniciar uma matéria que tem que ver com as modalidades típicas da compra e
venda que iremos agora somente anunciar para termos uma noção de quais são os temas
que iremos abordar adiante mais pormenorizadamente. As modalidades típicas da
compra e venda são, então:
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▪ Quanto ao artigo 934.º, do CC: este preceito também se afasta do regime regra
consagrado no art. 781.º, ao vir dizer que especificamente para os casos de falta de
pagamento de uma das prestações que a falta de uma das parcelas da prestação que
é liquidada em várias parcelas nem sempre importa o vencimento antecipado
das demais. Olhando para o 934.º, do CC vermos que ele parece consagrar as
seguintes situações:
1. Vendida uma coisa a prestações com reserva de propriedade, e feita a sua
entrega ao comprador a omissão de uma prestação cujo valor exceda a
oitava parte do preço ou de duas ou mais independentemente do seu
valor, confere ao vendedor o direito de resolver o contrato de compra e
venda;
2. Assim, o mesmo é dizer que em qualquer dos casos, com ou sem reserva
de propriedade a falta de pagamento de uma prestação de montante
inferior a um oitavo do preço não implica a perda do beneficio do
prazo;
Estas soluções necessitam, contudo de alguns esclarecimentos
complementares:
a.) na expressão “preço” estão normativamente compreendidas
todas as quantias a pagar pelo comprador ao vendedor como
consequência da alienação que foi realizada, mesmo se se tratar
apenas de despesas, juros, ou outras importâncias;
b.) apesar de o 934.º se parecer à primeira vista mostrar
absolutamente categórico, no sentido de a limitação, seja da
resolução pelo vendedor, seja da perda de o beneficio do prazo
concedida ao adquirente, depender sempre da entrega da coisa, não
obstante essa aparente solução que parece resultar da letra do art.
934.º, a solução não pode ser aceite na medida em que o
desapossamento do comprador poderia trazer-lhe
consequências particularmente penosas, nos casos em que o
vendedor não pretende destruir imediatamente o contrato mas
pretende impor ao vendedor o vencimento antecipado de todas as
prestações.
c.) tem-se ainda discutido se verificados os pressupostos do art.
781.º e perante a aplicação desse preceito, se se está perante um
verdadeiro caso de vencimento antecipado ou só perante uma
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8. A locação-venda:
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convertível realizada com consumidores finais está sujeita ao regime das vendas a
prestações celebradas com consumidores.
Não há unanimidade relativamente à natureza jurídica da locação-venda. São
três as orientações principais a este respeito:
REGENTE 2. Uma outra tese sustenta estar-se diante de uma união alternativa de
DISCORDA contratos.
Mas também esta orientação não parece poder ser aceite por a própria
locação já compreender aspetos ligados à venda como se constata pelo facto de o
valor das prestações estipuladas tomar em conta a futura transmissão da coisa e não
apenas o seu gozo.
3. Parece, pois, com MENEZES LEITÃO dever entender-se estar-se
REGENTE diante de uma modalidade específica e típica de compra e venda
CONCORDA onde, sendo diferida a transmissão da propriedade até ao pagamento
do preço, o vendedor se obriga a proporcionar ao comprador o gozo
da coisa, como locatário desta.
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Se alguém pretende vender como própria uma coisa alheia que não está fora do
comércio, e que é específica, que é vendida como presente, e não se tratar de um contrato
comercial, se nessa eventualidade o contrato-promessa de compra e venda de coisa alheia
se é atingido pelo regime da compra e venda de bens alheios. A questão que aqui se coloca
é a de saber se não sendo possível vender uma coisa alheia é possível prometer
vender uma coisa alheia?
A posição maioritária vai no sentido da admissibilidade do
contrato-promessa de coisa alheia, mesmo que se prometa vender uma
coisa alheia como própria se trata de uma coisa que não está fora do
comércio, que é específica e de uma coisa que não é vendida como coisa
REGENTE futura mas como coisa presente. Isto porque o contrato promessa de compra
CONCORDA e venda não tem efeito translativo imediato – semelhante com a compra e
venda de bem futuro, em que não se aplica o regime da compra e venda de
bens alheios por força do que dispõe o artigo 408.º e do diferimento desse
efeito translativo até que haja especificação da coisa, pois só a partir desse
momento é que tem aplicação o regime da compra e venda de bens alheios.
Ora, no caso do contrato-promessa de compra e venda de uma coisa alheio, o efeito
que este contrato tem é um efeito meramente obrigacional, não tem efeito translativo, pelo
que o que pode acontecer se o promitente vendedor ainda não tiver adquirido a coisa no
momento de celebração do contrato definitivo é ele não estar em condições de celebrar o
contrato por esse motivo, e nessa eventualidade ele incorre em incumprimento sendo a
consequência meramente obrigacional, faz sentido apenas no plano obrigacional e
creditício – daí que se entenda que é admissível a celebração de um contrato-promessa de
coisa alheia.
MAS COM UMA PARTICULARIDADE: Alguns autores entendem que
não será assim se o contrato-promessa estiver dotado de execução
específica, o efeito translativo poder-se-ia dar e então estaríamos perante
REGENTE uma situação em tudo equivalente à da compra e venda de bens alheios – a
CONCORDA pretensão do efeito translativo estaria lá mas não poderia acontecer.
Estando perante um contrato promessa de compra e venda de um bem alheio,
dotado esse contrato de execução específica então deve aplicar-se logo o regime da compra
e venda de bens alheios e esse contrato deve ser considerado nulo.
O art. 892.º refere ser nula a compra e venda de bens alheios quando
o vendedor, para além de vender como própria a coisa, careca de
legitimidade para o fazer, e neste caso, se A é representante de B ele tem
legitimidade para atura em nome de B, e por isso há quem diga que nós não
REGENTE estaríamos na presença de uma compra e venda de bens alheios se
DISCORDA porventura o vendedor tivesse poderes para particular o ato de disposição
como sucederia com o representante dotado de faculdades ou poderes
representativos ou com o credor penhoratício.
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Mas nada impede o comprador de optar por qualquer das pretensões sem
nenhuma dependência entre elas.
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Redução do preço:
O artigo 911.° admite ainda a possibilidade de redução do preço. Para isso é
necessário mostrarem as circunstâncias ter o comprador adquirido o bem mesmo sem erro
ou dolo, mas por um preço inferior em harmonia com a desvalorização dos ónus ou
limitações.
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A indemnização:
O Código Civil estabelece um subsistema indemnizatório em matéria de compra e
venda de bens onerados nos artigos 908.º, 909.º, 910º, e 911.º/1 (na parte onde se refere a
indemnização cumulável com a redução do preço).
O artigo 908.º, tem uma redação um tanto estranha, dada a dupla negativa:
«Em caso de dolo, o vendedor deve indemnizar o comprador do prejuízo que este não
sofreria se a compra não tivesse sido celebrada.»
Esta repetição sugere estar-se perante uma indemnização apenas pelo interesse
contratual negativo.
A expressão dolo deve ser aproximada, não do artigo 253.8 do Código Civil, mas, sim,
dos artigos 892.°, 898.° e 903.º, do CC – ela exprime, por isso, a má-fé e não a existência
de subterfúgios ou silêncios intencionais do vendedor para enganar o comprador –
portanto, haverá dolo (má fé) se o vendedor souber ou dever saber da existência do ónus.
A negligência está assim, igualmente, abrangida pelo artigo 908.º, do CC.
O Regente inclui a negligencia no dolo do artigo 908.º do Código Civil.
Além disso, se o bem vendido apresenta um ónus há incumprimento. Logo, a
presunção de culpa (e também de dolo, mesmo entendido este em sentido próprio no
âmbito da culpa). Tudo os termos do art. 799.º/1.
No artigo 909.º prevê-se uma situação de responsabilidade na ausência de culpa do
vendedor. Trata-se, pois, de uma situação de responsabilidade objetiva. A indemnização
será ,nessa eventualidade, mais limitada , apenas abrangerá os danos emergentes do
contrato (estamos perante uma responsabilidade contratual).
O estabelecimento da responsabilidade pelo risco afigura-se perfeitamente
apropriada dado o vendedor receber a devida contraprestação: o preço.
Além das indemnizações previstas nos artigos 908.º e 909.º, o artigo 910.°
estabelece uma indemnização pela falta de convalescença do contrato – trata-se de uma
situação paralela à resultante do artigo 900.9 para a compra e venda de bens alheios. Não
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4 ATENDA-SE QUE: o que for dito aquivale também para a empreitada de bens de consumo.
Em amos os casos, o problema que passa em saber o que é um consumidor é igual tanto na
empreitada de bens de consumo como na compra e venda de bens de consumo.
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Com isto terminámos a matéria da compra e venda e iremos dar agora inicio ao
estudo da matéria da empreitada.
PARTE II
1. CONTRATO DE EMPREITADA:
Vamos imaginar um caso que subjacente a ele estava a determinação do que
é que se deve entender por obra para efeitos de empreitada, porque o nosso
Ordenamento jurídico vem sujeitar o ao regime da empreitada os contratos que
tenham por objeto a realização de uma obra.
Assim, o problema que se coloca é saber o que é uma “obra” para efeitos
de contrato de empreitada. Ora, este problema colocou-se no caso que vamos
analisar em que se pôs concretamente a questão de saber que obra, para efeito de
contrato de empreitada pode ser uma obra intelectual ou se rem que ser de outro
tipo, uma obra que envolvia a alteração física de uma coisa. Nesse caso que foi objeto
de decisão pelas várias instâncias, todos eles se pronunciaram sobre isto e tinha que
ver com:
HIPÓTESE 1: “uma situação em que a RTP encomendou a um ator brasileiro, que
tinha um nome artístico de Badaró e que vivia em Portugal, a realização de um
conjunto de programas cómicos a realizar por este. A meio do processo de feitura e
exibição a RPT e a produtora desentenderam-se. Portanto a questão que se suscita
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material, e portanto, à partida não parece que haja uma razão que leve
ao afastamento da aplicabilidade deste regime às obras intelectuais.
Então porque é que não se tem aplicado este regime se não há nada que
impeça?
→ Por causa de um preconceito filosófico e cultural que
subsiste do direito romano. Por um lado temos um regime do
contrato de empreitada onde não há uma única palavra ou letra
que impeça, nem no sistema, que afaste a aplicação do contrato
de empreitada às obras intelectuais, é por causa deste
preconceito que subsiste que se tem negado a aplicação do
regime do contrato de empreitada às obras intelectuais.
- Prof. Antunes Varela: não concordava com a
qualificação de um ator como empreiteiro (Badaró)
justamente pela presença (inconsciente) deste
preconceito de que não devemos aplicar o regime do
contrato de empreitada.
→ Estes preconceitos são inconscientes, na generalidade dos
casos.
Vamos agora dar por fechada a questão que tem que ver com o conceito de
obra, e vamos agora abordar a matéria dos efeitos do contrato de empreitada, e
para isso imaginemos que:
HIPÓTESE 1: “A, empreiteiro, celebra com B, um contrato de empreitada para
a escavação e construção de uma garagem no subsolo da casa de B. O projeto é da
responsabilidade de C, engenheiro civil, e de D, arquiteto. C e D eram antigos amigos e
quando se encontraram por ocasião neste projeto/contrato foram celebrar e à noite é
que resolveram ir trabalhar, todavia devido às celebrações encontravam-se ambos
com uma tacha de alcoolémia que era superior à que deveriam ter para realizar a sua
atividade de forma correta pelo que cometeram erros evidentes na concessão da
garagem. B sem conhecimentos para avaliar o projeto entrega-o ao empreiteiro, A, que
se apercebe imediatamente que existem falhas que levaram à ruina do edifico, porém
por entender que o assunto diz respeito a C e D, nada diz.”
HIPÓTESE 2: “supondo que A não se tinha apercebido do defeito de concessão
mas um empreiteiro de formação média tinha notado esse problema.” A resposta iria
ser diferente?
HIPÓTESE 3: “Vamos ainda admitir que o defeito devido não era do projeto
mas dos matérias fornecidos pelo dono da obra, haveria responsabilidade do
empreiteiro?”
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Nos termos do artigo 1208.º, do CC a obra deve ser realizada de acordo com
o convencionado e sem vícios que reduzam ou excluam o seu valor ou a sua aptidão
para o fim convencionado. O problema que temos nestas hipóteses está em que o
vício se deve a fatores externos ao empreiteiro, e nessa medida, podemos dizer que
ele cumpriu o objeto da obra sem vícios da sua responsabilidade – estando na
situação do art. 1201.º. Contudo, o direito à entrega de uma obra sem vícios, ou
faltas de qualidade implica não apenas o cumprimento do projeto
convencionado mas igualmente o cumprimento de todas as regras da arte
aplicáveis à atividade do empreitado, e não apenas um cumprimento
meramente formal e cego do que foi pedido – esse cumprimento esta integrado
no dever de cumprir pontualmente a obrigação, que é imposto pelo art 762.º, do CC.
Podemos então dizer que, sem prejuízo da eventualidade de uma responsabilidade
dos dois projetistas, a boa-fé obriga ao empreiteiro a dar conta ao dono de obra de
existência de problemas com o projeto desde que os detete, e portanto, o
comportamento exigível é um cumprimento correspondente ao interesse do
dono da obra (isto para observar o que o 1208.º + 762.º, do CC), numa obra isenta
de vícios e não cumprimento cego do projeto se esse estiver errado.
O empreiteiro mesmo diante de certas duvidas, quando há probabilidade de
existirem certos vícios ou relativamente à adequação ou viabilidade do projeto, se
não der conta ao dono de obra de problemas no projeto ou em geral de outras
situações que possa prejudicar a execução da obra responderá por cumprimento
defeituoso, eventualmente de forma conjunta com restantes responsáveis. Haverá
responsabilidade do empreiteiro nas três hipóteses que vimos.
Contudo, poderá haver aplicação (pelo artigo 570.º, do CC), relativamente ao
concurso de culpa que, nomeadamente no caso da HIPÓTESE 3, a especial
intensidade da culpa do dono da obra possa levar à atenuação ou afastamento da
responsabilidade do empreiteiro – contudo essa decisão terá que ser sempre objeto
de uma valoração/ponderação feita pelo juiz, porque a partida o empreiteiro tem
responsabilidade de ele próprio, controlar/verificar se a obra tem ou não condições
de viabilidade.
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HIPÓTESE 4: “O dono da obra é arquiteto, e além disso é ele que realiza o projeto,
quem contrata o empreiteiro para executar esse projeto e quem fiscaliza a obra.
Durante a construção, o dono de obra verifica que o empreiteiro não está a executar a
obra de acordo com as regras da arte, por ex: por estar a usar cimento quando no caso
concreto, tendo em conta do peso da estrutura e do local, ser necessário uma estrutura
em betão em vez de tijolo e cimento simples”.
Tendo o dono da obra, conhecimento do desrespeito das regras da arte, como
é que podemos vir a aceitar que na hora da verificação da obra e da aceitação, ele
venha, posteriormente à fiscalização, direitos perante aquela má execução?
- Uma coisa é admitir que em situações excecionais e segundo regras gerais,
o funcionamento da regra geral do abuso de direito impedido o dono da obra de
exercer os direitos decorrentes do cumprimento defeituoso; e outra diferente é
aceitar que aconteça isso em regra se o dono fiscalizou a obra.
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Vamos agora ver um outro aspeto que tem que ver com os deveres do dono
da obra.
1. Pagamento do Preço
O preço é o principal dever do dono de obra. A regra geral vigente nesta
matéria é a mesma que vigora para a generalidade dos contratos: uma vez
estabelecido o preço não pode ser alterado, e o empreiteiro não pode, em princípio,
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solicitar aumentos de preço mesmo que os seus custos tenham aumentado. Este
regime pode, no entanto, ser alterado por cláusula contratual (nomeadamente de
atualização do preço).
- Regente remete esta matéria para as lições.
Vamos abordar outra matéria que tem que ver com a verificação,
comunicação e aceitação da obra.
HIPOTESE 1: “Vamos imaginar que A, empreiteiro, celebra um negócio com B, dono de
obra, pelo qual o primeiro se obriga a construir no terreno do segundo, uma casa de
habitação. Uma vez terminada a obra, A informa B da respetiva conclusão e diz a B
para proceder à verificação da obra com vista à sua aceitação. Entretanto B, a quem
tinha saído o Euromilhões resolve ir passar férias para os Trópicos e fica durante um
mês. A, casando de esperar pretende responsabilizar B pelo atraso, sendo que B, tendo
gasto todo o dinheiro recusa-se a pagar qualquer quantia adicional ao preço a titulo
de indeminização pela mora na verificação, comunicação e aceitação da obra.”
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Artigo 1228.º n.º 1 “Se, por causa não imputável a qualquer das partes, a coisa
perecer ou se deteriorar, o risco corre por conta do proprietário.”
n.º 2: "Se, porém, o dono da obra estiver em mora, quanto à verificação ou aceitação
da coisa, o risco corre por conta dele”
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Portanto, se a aceitação não for feita com reserva, havendo aceitação sem
reserva essa aceitação determina a irresponsabilidade do empreiteiro pelos vícios
conhecidos pelo dono de obra e não ressalvados pelos vícios aparentes que se
presumem conhecidos, nos termos do artigo 1219.º n.º 1 e 2.
É ainda a aceitação da obra com reserva, se a aceitação for feita com reserva,
é essa aceitação com reserva que inicia o prazo de garantia legal ou convencional
sob os efeitos ressalvados (o prazo de garantia legal ou convencional sob os defeitos
ressalvados inicia-se por força da aceitação da obra com reservas) de acordo com o
artigo 1224.º n.º 1
Mas, a aceitação da obra pode porém não importar sempre todos estes efeitos
porque a aceitação da obra pode ser feita com ou sem reserva.
Por exemplo: artigo 1219.º n.º 1 onde se refere a aceitação sem reserva e o artigo
1224.º onde se alude à aceitação com reserva. Portanto, temos esta possibilidade de
aceitação ser feita com ou sem reserva.
A aceitação com reserva é aquela que se verifica se a obra tiver defeitos e ainda
assim, o dono aceitar a obra mas declarando que não prescinde dos direitos que lhe
assiste. Portanto, o dono de obra na aceitação assina-la os vícios ou defeitos, aceita
a obra mas declara que pretende a reparação, substituição da coisa, pretende fazer
valer os direitos que lhe assistem por força dos defeitos.
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Os direitos do empreiteiro:
1. o primeiro dos direitos do empreiteiro tem a ver com a receção do preço:
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empreitada a divida que costuma ser paga em curto prazo e de cujo pagamento
não é costume exigir quitação.
Ora o artigo 317.º segundo esta jurisprudência diria respeito a dívida que
costuma ser paga em prazo curto e de cujo pagamento não é habitual exigir quitação,
precisamente, estas dividas seriam solvidas em tempo breve e sem quitação: base
de consagração dos prazos previstos quer no artigo 317.º, quer no artigo 316.º do
CC.
- Por outro lado, tem se entendido que estes créditos a que se reporta o artigo 316.º
e 317.º seriam créditos essenciais à subsistência do credor ou contraídos por
ocasião de necessidades urgentes do devedor.
Acresce que não parece ao regente, que os créditos constantes dos artigos
316.º e 317.º correspondam necessariamente ou mesmo normalmente, a créditos
essenciais à subsistência do credor ou contraídos por força ou por ocasião de
necessidades urgentes do devedor. E isto, porque por um lado este requisito não
surge expressamente enunciado em parte alguma dos artigos 316.º e 317.º do CC (é
um requisito inexistente quando se olha para estes preceitos), nem da
teleologia/intencionalidade normativa destes artigos se consegue extrair essa
solução.
Mas admitindo, a beneficio de argumentação, considerando o sentido
normativo e o contexto: poder considerar-se em função de algumas das hipóteses
contempladas nestes preceitos estarem algumas das situações ai referidas, ao
tempo da entrada em vigor do CC ligadas a créditos essenciais à subsistência do
credor, ou contraídas por ocasião de necessidades urgentes do devedor.
Admitindo tal; o que vemos quando olhamos para o artigo 317.º:
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Direitos do empreiteiro:
- Direito à receção do preço (pode haver estipulação no contrato que estabeleça
quando o preço é devido; não sendo assim ele em principio será devido com a
aceitação). O prazo de prescrição do dever de pagamento do preço
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Mas se o empreiteiro tem de cumprir com essas regras da arte, tem que as
conhecer (mesmo que não as conheça tem de as conhecer), se não tem maneira de
as implementar, tem que se assegurar que as conseguirá implementar se isto é
verdade, também é verdade que o empreiteiro não é em regra obrigado a dominar
técnicas de ponta, ele é obrigado a dominar as regras da arte exigíveis para a
realização de uma obra (as regras de arte normalmente praticadas, não é obrigado
a dominar as técnicas de ponta)- isso em regra, mas no entanto, a própria natureza
das condições do contrato pode suscitar padrões mais exigentes na qualidade de
construção, e será o caso por exemplo, da construção de imóvel em local onde se
verifica condições de solo e de clima de especial exigência (por exemplo, em
Portugal dadas as características sísmicas todas as construções para habitação e
para utilização pelos seres humanos têm que obedecer a características de
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Vamos continuar a resolver a HIPOTESE que tinha que ver com a realização
de uma casa num terreno pantanoso, sem que tivesse sido fixado prazo para a
realização da obra, mas decorridos dois anos o dono da obra impacientava-se com o
empreiteiro que nunca mais concluía a obra dizendo que não tinha prazo fixado.
Em inúmeras situações em que o contrato de empreitada é celebrado é
estipulado um prazo e muitas vezes é também estipulado um termo inicial e final
para a execução do contrato de empreitada, contudo, noutros casos isso não sucede,
não sendo fixado um prazo.
Atendendo à natureza das coisas, pode dizer-se que no contrato de
empreitada o cumprimento não se encontra na total disponibilidade do dono da
obra, isto porque é necessário algum tempo pela própria natureza das coisas para a
execução do contrato e por isso, se as partes não fixaram um prazo de cumprimento,
não estamos diante uma obrigação pura. No caso do contrato de empreitada, pela
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natureza das coisas, é necessário algum prazo mínimo que corresponde à execução
natural do contrato de empreitada, mesmo que não haja mora ou incumprimento
por parte do empreiteiro, e por isso, não estamos perante uma obrigação pura com
a consequência de que o empreiteiro não entre em mora logo após a interpolação –
a obrigação de realizar uma obra é um exemplo clássico das chamadas
obrigações de prazo natural, que estão previstas no art. 777.º, n.º 2, do CC.
Nos termos do 777.º, n.º2 resulta que se for necessário fixar um prazo para o
cumprimento, e não havendo acordo das partes pode a fixação do prazo ser deferida
ao tribunal.
Regente: considera que se deve perguntar se o problema no caso do contrato
de empreitada deve ser sempre resolvido através do processo de fixação judicial do
prazo, isto porque:
1. Não ser o deferimento ao tribunal da fixação do prazo, justificado se o dono
de obra quando exige o cumprimento da empreitada, para a qual não foi
fixada um prazo inicial de execução, portanto, se quando o dono de obra faz
isso ele fixar um prazo tecnicamente razoável para a realização da obra.
- Na nossa HIPÓTESE: se o dono da obra fixar um prazo tecnicamente razoável
para a realização da obra, não parece ao regente necessário remeter-se para a
fixação judicial do prazo. O empreiteiro pode sempre discutir em juízo a
razoabilidade do prazo fixado, mas se o dono de obra vier a ganhar a disputa judicial
(o tribunal entende que o prazo fixado pelo dono de obra é ponderado e sensato), os
efeitos da mora reportar-se-ão ao momento do cumprimento do prazo inicialmente
fixado pelo dono da obra.
- Na perspetiva do Regente: não faz sentido considerar que se o dono da obra
fixar um prazo razoável e o tribunal considera-lo como tal, que ele não pode
ser considerado para efeitos de verificação de ora, e portanto o tribunal vir
declarar que a mora se deu no momento da verificação do prazo.
A solução postulada pela opinião comum está em frontal desagonia com a que
é defendida a propósito de uma obrigação em tudo idêntica: não lhe parece (ao
regente) haver diferença entre as hipóteses de falta do prazo para termo da obra e
a fixação de um outro limite temporal para a eliminação dos defeitos ou realização
de obra nova nas hipóteses previstas nos 1221.º e 1225.º:
- nas hipóteses previstas nos 1221.º e 1225.º, a opinião comum entende não
ser necessário o deferimento ao tribunal para a fixação do prazo de eliminação dos
defeitos o realização de obra nova.
→ Não se percebe portanto porque é que num caso esse deferimento
seria sempre necessário e no outro não.
A nossa HIPOTESE está assim resolvida: na aula passada já vimos se o
empreiteiro tinha ou não que dominar as técnicas necessárias à construção de uma
casa num terreno pantanoso e vimos agora como é que se resolve a questão do
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Agora vamos analisar uma questão que se prende com a entrega da coisa e
com a transferência da propriedade da obra e do risco de deterioração e
perecimento da obra.
HIPOTESE 1: “A, empreiteiro, construiu uma coisa móvel usando materiais totalmente
fornecidos pelo dono da obra B. B aceita a obra mas não exige de imediato a sua
entrega. No entanto, no lapso de tempo que medeia a aceitação da obra e a sua
entrega, a coisa vem a perecer por facto furtuito, e B considera então que A lhe deveria
ter entregue a coisa no momento da coisa e que portanto A está um mora, o que
significaria a inversão do risco relativamente ao deterioramento ou perecimento da
coisa – o risco correria por conta do empreiteiro A.” Terá B razão ou não?
Nesta HIPÓTESE os materiais eram fornecidos pelo dono da obra pelo que
não se aplica o artigo visto anteriormente, aplicar-se-ia, sim o artigo 1212.º, n.º1, 2ª
parte, do CC: se os materiais foram fornecidos por este (dono da obra), continuam a
ser propriedade dele, assim como é propriedade sua a coisa logo que seja concluída.
O artigo 1228.º, n.º1, do CC estabelece que o risco corre se por causa não
imputável a qualquer das partes a coisa parecer ou se deteriorar, o risco corre por
conta do proprietário.
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Sabemos, todavia que o n.º2 deste artigo inverte o risco se o dono de obra
estiver em mora quanto à verificação ou aceitação da coisa – nesse caso o risco corre
por conta dele.
O artigo 807.º, do CC inverte o risco no caso de mora do devedor, portanto
por força deste artigo, se houver mora do empreiteiro dá-se também inversão do
risco. O n.º2 do artigo 1228.º diz respeito à mora do dono de obra na verificação ou
aceitação, e o 807.º, norma geral, aplica-se à mora do empreiteiro.
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- RECORDANDO:
1. O que nós vimos a propósito da compra e venda foi que os artigos 905.º e
ss., do CC se aplicavam à compra e venda de bens onerados – vícios de direito;
e a compra e venda de coisas defeituosas (930.º e ss.) – vícios do bem
propriamente dito.
2. No caso do contrato de empreitada nós temos uma regulamentação que
consta dos arts. 1218.º e ss. que não diferencia (como faz a compra e venda)
entre vícios de direito e vícios do bem.
→ Ainda assim, os arts. 1218.º e ss. que não distinguem consoante
o tipo de vícios, mas parecem estar notoriamente mais direcionados
! para as hipóteses de vícios do bem e portanto aquela que parece ser a
melhor solução passa por aplicar os artigos 905.º e ss., ao caso da
nossa hipótese, por estarmos perante vícios de direito.
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Quanto à nossa HIPÓTESE: uma vez que nós já analisamos o regime dos
artigos 905.º e ss. não vale a pena resolver esta hipótese das janelas porque basta
dizer que o regime aplicável é o regime da compra e venda dos arts. 905.º e ss., que
já falámos em aulas anteriores a propósito da compra e venda de bens onerados. O
que importa agora sublinhar é que é esse o regime aplicável (arts. 905.º e ss.) e não
o dos arts. 1218.º e ss., do CC, neste caso em que estamos perante vícios de direito,
em que alguém fornecem bens que tinham sido dados em garantia a terceiro.
HIPÓTESE 3: “A, empreiteiro, foi contratado para fazer um muro numa casa situada
no parque natural da ria formosa. Vamos admitir que o parque apenas autorizava a
realização de muros com dois metros dentro do parque. No plano de execução da obra
isso mesmo é estabelecido, porem o empreiteiro resolve fazer um muro com 2,50
metros.”
Esta hipótese não convoca uma solução diferente da anteriormente
analisada, também aqui nós temos um vício de direito.
Vamos agora analisar uma matéria diferente que se prende com a denúncia
dos defeitos da obra.
HIPÓTESE 1: “A, empreiteiro, realiza uma obra na casa de B, dono da obra, que é
diplomata, e dada a crise económica que se vive A começa a ter dificuldades para
cumprir com as regras técnicas necessárias à execução da obra e para a utilização de
matérias de qualidade exigível, portanto usa materiais de qualidade inferior e tudo
isto acaba por originar defeitos vários na obra. B aceita a obra sem reservas dado que
A ocultou propositadamente os defeitos. Passados 6 meses apos a conclusão da obra,
quando B regressa de África, onde estava colocado pelo Ministério dos Negócios
Estrangeiros, onde desempenhava funções diplomáticas, os defeitos vem se
manifestando, e B pretende saber quais são os direitos que dispõe sendo que A afirma
que já não tem quaisquer deveres ou obrigações por já terem passados todos os prazos
para o exercício dos direitos por parte do dono da obra, B.”
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Apesar de não existir ressalva expressa nesse sentido, deve entender-se que
é extensível à empreitada o regime vigente em matéria de defeitos do bem vendido
que consta do artigo 916.º n.º 1, ao dispor que se o vendedor tiver usado de dolo
para esconder o defeito ou para manter em erro o comprador sobre os defeitos não
existe ónus de denuncia do defeito. Portanto, este preceito deve estender-se à
empreitada por força da identidade material se verifica entre a situação a situação
regulada pelo artigo 916.º e pelas situações em que o empreiteiro utiliza dolo para
esconder o vicio ou defeito.
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Portanto, o dono da obra tem 1 ano para exercer judicialmente os seus direitos, ano
esse contado a partir do conhecimento, do defeito e apenas disso.
Em geral, quando se exige a boa fé subjectiva deve entender-se que essa boa
fé deve ser ética e portanto, nessa medida o conhecimento e o dever de
conhecimento em regra equiparam-se. Mas havendo dolo, isso não sucede porque
quem atua dolosamente causando danos numa esfera jurídica alheia não pode exigir
da outra parte uma atitude implicada na exigência de uma atuação de boa fé
subjetiva- ética.
Quanto ao prazo para a eliminação dos defeitos: o dono da obra pode fixar
um prazo razoável. O dono de obra pode fixar um prazo razoável (não existe um
prazo fixado na empreitada para a realização da obra) e quanto ao prazo para a
eliminação dos defeitos o dono de obra pode fixar um prazo razoável para essa
indemnização. Mas se o empreiteiro se recusar a eliminar os defeitos ou realizar
uma nova obra sem razão para isso e o dono da obra mantiver o interesse na
realização dessa prestação, na realização de uma obra nova ou na eliminação dos
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defeitos ele deve exigir em juízo o respetivo cumprimento nos termos do artigo
817.º do CC.
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Outro direito previsto em caso de vicio ou de defeito e que tem a ver e que
tem a ver com a indemnização:
Esta indemnização é subsidiária face aos demais remédios que o dono de obra
dispõe.
- Tem natureza subsidiária, servindo para ressarcir os prejuízos que não forem
integralmente eliminados, ou que não forem eliminados de todo pelo exercício
dos demais direitos de que o dono de obra dispõe, isto é: o direito à eliminação
dos defeitos, à construção de obra nova, e por fim, direito à redução do preço. Se
o exercício de todos estes direitos, ainda assim, não eliminar integralmente os
prejuízos do dono de obra nesse caso e apenas nesse caso funciona a
indemnização prevista no artigo 1223.º
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• Caducidade dos direitos do donos de obra: remete para o que foi falado na
denuncia, nos defeitos e nos prazos que o dono de obra deve observar para exercer
os seus direitos. Existem aspetos especiais para a empreitada de consumo,
constantes do DL n.º 67/2003 no que diz respeito à caducidade dos direitos do
dono de obra.
Nota: o prazo de dois anos constante do artigo 1224.º n.º 2 2.º parte é apenas um
prazo de manifestação de um defeito para empreiteiro ainda poder ser
responsabilizado por esse mesmo defeito, isto significa, que por exemplo existindo
uma empreitada e se verificando um defeito se o dono de obra fizer a denuncia no
segundo dia após o final do termo do prazo de dois anos a contar após a entrega, ele
fez a denuncia a tempo porque temos aqui que contar com o prazo de 30 dias
constante do artigo 1221.º, ele tem portanto, um ano a partir dessa data para colocar
a respetiva ação- ele tem 30 dias para proceder à denuncia do defeito (se o defeito
se manifesta no último dia do prazo de 2 anos, e o dono de cobra faz a denuncia no
segundo dia após o final do termo dos 2 anos- o prazo do artigo 1224.º n.º2 2.º parte
é de 2 anos, o defeito manifesta-se no último dia de 2 anos e o dono de obra faz a
denúncia dois dias após esse prazo de 2 anos. Fez a denuncia a tempo porque tem
30 dias para proceder à denuncia após a manifestação do defeito).
Portanto, se o defeito se manifestou dentro do prazo de dois anos ele tem 30
dias e após isso, após a denuncia ele tem 1 ano para colocar a ação nos termos do
artigo 1224.º n.º 2 1.º parte.
No que diz respeito ao regime especifico dos imóveis de longa duração, tem
se perguntado se os efeitos suscetíveis de darem lugar a aplicação deste artigo
carecem de especial gravidade.
- Professor Pedro Romano Martinez diz que não, referindo a hipótese, por exemplo,
de uma empreitada de construção de um imóvel de longa duração haver um
defeito numa fechadura. O professor Pedro Romano Martinez pergunta se nesta
eventualidade, se devemos aplicar o prazo do artigo 1225.º (o prazo de 5 ano) ou
não aplicar e ele diz que não, porque considera que o prazo do artigo 1225.º
apenas se aplica a defeitos com uma especial gravidade
- Não é esse o entendimento que o regente advoga, nem é o entendimento
advogado pelo Menezes Cordeiro. Para o regente a resposta é negativa, não existe
nada na intencionalidade normativa do artigo 1225.º que permita concluir no
sentido de que a aplicação do prazo de 5 anos depende da verificação de um
defeito de especial gravidade. Aquilo que o artigo 1225.º pressupõe e aquilo que
está subjacente à sua intencionalidade normativa é apenas que nos imóveis de
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Podemos imaginar, por exemplo, o caso de uma parede que se deteta uma
infiltração que não é de especial gravidade, mas ainda assim, é uma infiltração que
prejudica o efeito estético da parede dando um ar degradado a essa parece. Será que,
por se tratar de uma pequena infiltração se deve considerar que não se aplica o
prazo do artigo 1225.º, mas sim, o prazo mais curto existente para outro tipo de
empreitadas que não sejam imóveis de longa duração.
A resposta é negativa, porque aquilo que esta subjacente no artigo 1225.º
(para o regente) é que nos imóveis de longa duração os materiais devem ter uma
resistência de longa duração.
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“Se a execução da obra se tornar impossível por causa não imputável a qualquer
das partes, é aplicável o disposto no artigo 790.º; “- remissão para as regras
gerais “ porém, havido começo de execução, o dono da obra é obrigado a
indemnizar o empreiteiro do trabalho executado e das despesas realizadas”-
havendo impossibilidade de execução da obra o regime geral é o do artigo 790.º
aplicável por força da remissão constante do artigo 1227.º 1.º parte; mas se tiver
já existido começo de execução da obra o dono de obra tem que indemnizar o
empreiteiro
- Existe um regime especifico em matéria de desistência do dono de obra que
consta do artigo 1229.º: “O dono da obra pode desistir da empreitada a todo o
tempo”- portanto, alguém que contrate uma empreitada pode desistir dela a todo
o tempo “ainda que tenha sido iniciada a sua execução, contanto que indemnize
o empreiteiro dos seus gastos e trabalho e do proveito que poderia tirar da obra.”-
na eventualidade da obra ter sido começada é necessário o dono de obra
indemnizar nos termos do artigo 1229.º o empreiteiro dos seus gastos e trabalho,
assim, como do proveito que ele poderia tirar da obra. Relativamente ao proveito,
nem sequer é necessário que a obra tenha sido iniciada/executada. Essa
indemnização, do proveito que o empreiteiro poderia retirar será sempre devida
a partir do momento em que foi celebrado o contrato, como é possível também
que o dono de obra tenha que indemnizar o empreiteiro dos seus gastos ainda
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que a obra não tenha sido iniciada se o empreiteiro tiver procedido à realização
de despesas em vista da empreitada contratada.
- Especificidades relativamente à morte, incapacidade ou extinção ou insolvência
do empreiteiro constam do artigo 1230.º do CC : “1. O contrato de empreitada não
se extingue por morte do dono da obra, nem por morte ou incapacidade do
empreiteiro, a não ser que, neste último caso, tenham sido tomadas em conta, no
ato da celebração, as qualidades pessoais deste.”
“2. Extinto o contrato por morte ou incapacidade do empreiteiro, considera-se a
execução da obra como impossível por causa não imputável a qualquer das
partes.”
- Regime especifico em matéria de insolvência do empreiteiro que consta do
artigo 102.º n.º 1 do CIRE e 111.º e seguintes do CIRE .
- Em matéria de regime de empreitada existe também um regime especifico para
extinção do dono de obra e morte, que costa 1230.º n.º 1 1.º parte (paralelo ao
que se verifica relativamente à morte do empreiteiro)
- Regime especifico para a insolvência do dono de obra que consta do artigo 111.º
do CIRE e um regime também para a desistência do dono de obra
Aplicado isto à empreitada, significa que o empreiteiro pode fazer-se substituir por
um subempreiteiro, se o dono de obra o permitir ou se a faculdade de substituição
resultar do conteúdo do contrato de empreitada ou da relação jurídica que a
determina - o empreiteiro só se pode substituir por outrem se existir autorização do
dono de obra ou se a faculdade de substituição resultar do conteúdo do contrato de
empreitada ou da relação que a determina
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para o regente é possível admitir essa possibilidade por um lado, por motivos de
equilíbrio da relação uma vez que o regente admite a possibilidade de uma ligação
direta entre o dono de obra e o empreiteiro no sentido de o dono de obra poder
exigir o resultado que na verdade é exigido pelo subempreiteiro, porque o
subempreiteiro deve aquele resultado, mas deve esse resultado ao empreiteiro e
este por sua vez, deve esse mesmo resultado ao dono da obra. Mas o facto é que o
resultado é devido pelo subempreiteiro e se esse resultado é para satisfazer uma
necessidade do dono da obra, porque não admitir a possibilidade de o dono de obra
exigir o cumprimento daquilo a que o subempreiteiro está obrigado. Se o resultado
é devido pelo subempreiteiro e o beneficiário é o dono da obra então parece
materialmente adequado permitir-se ao dono de obra exigir aquilo que é devido
pelo subempreiteiro.
Mas se é assim, no que diz respeito à relação entre dono de obra e empreiteiro
por uma razão de equilíbrio na direção subempreiteiro- dono de obra parece dever-
se aceitar por motivo de equilíbrio e pelo facto de o dono de obra beneficiar do
trabalho realizado pelo empreiteiro a possibilidade de não tendo havido pagamento
por parte do comitente/empreiteiro ao subempreiteiro, pode-se admitir a
possibilidade de o subempreiteiro demandar diretamente o dono de obra.
Existe aqui, um facto de extrema importância é que o subempreiteiro tem
direito de retenção sobre a coisa objeto da suba subempreitada, portanto, pode
exercer esse direito de retenção contra qualquer pessoa e portanto, pode reter a
obra ( não liberta a obra) enquanto não for pago e se o dono da obra quiser
beneficiar dela, quiser fazer com que o subempreiteiro não exerce o seu direito de
retenção tem de pagar o trabalho e despesas do subempreiteiro.
Uma das características da empreitada é que haja um plano, o plano pode ser
meramente implícito, pode ser algo expresso, pode ser tácito; mas o plano tem de
estar quanto mais não seja determinado pelas regras da arte de execução da obra.
Pode haver alterações a esse plano convencionado.
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degradação é superior aquilo que estava previsto)- estas alterações são alterações
necessárias, são alterações que se verificam após a celebração do contrato e após a
definição do plano. E quando se constata exigirem as regras técnicas ou a
salvaguarda de direitos de terceiro, a introdução de modificações ao plano
convencionado. E quanto a estas o artigo 1215.º tem um regime próprio.
“1.O dono da obra pode exigir que sejam feitas alterações ao plano
convencionado, desde que o seu valor não exceda a quinta parte do preço estipulado
e não haja modificação da natureza da obra.”
Portanto dois tipos de limite:
- Não haja alteração da natureza da obra
- Não se ultrapasse a quinta parte do preço estipulado
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