Oral de Melhoria de Direito Das Sucessõe - Versão Final
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Começando pelo art.2297º/1, quando diz "de substituir aos filhos os herdeiros ou
legatários", que é claramente diferente de dizer que substitui os filhos, sendo plausível
daqui retirar que o terceiro substitui o filho, sendo então uma substituição pelo lado
passivo, já que o filho não é substituído pelo pai.
Em segundo lugar, há que atender aos arts.2297º/2 e 2300º, quando diz "substituído ",
sendo que daqui nenhuma tese consegue retirar um grande argumento, porque
interpretado isoladamente, o mesmo é neutro. Mas segundo a tese da substituição pelo
lado passivo, exigindo-se uma interpretação que atente ao conteúdo de todo o artigo, é
coerente com o nº1 do art.2297º, que se entenda que é "substituído" pelo progenitor.
Relativamente ao art.2300º, quando diz "bens que substituído haja adquirido por via do
testador", é feita uma distinção entre a pessoa do substituído (o filho) e a pessoa do
testador (que corresponde ao progenitor, pois é deste que o filho recebe bens por via
sucessória), o que para esta doutrina leva a concluir que a lei identifica o progenitor
como o testador e autor da sucessão, por isso, abandonando-se a ideia de representação,
pois se houvesse efetivamente um fenómeno de representação, a lei referia-se ao filho
como sendo o testador.
Por último, ainda no art.2300º, esta doutrina entende que o mesmo sugere que a
sucessão em causa é a do progenitor, uma vez que, fica dependente de os bens terem
sido adquiridos pelo filho por via do testador, sendo relação entre património
anteriormente pertencente ao progenitor e os bens objeto do regime, parecem abonar a
um entendimento que veja o pai como o verdadeiro autor da sucessão.
Relativamente ao argumento sistemático, a doutrina da substituição pelo lado passivo, entende
que a localização do instituto na Secção das substituições, antes da substituição direta e
fideicomissária, que são substituições pelo lado passivo, acaba por fortalecer o entendimento de
que também a substituição pupilar é uma substituição pelo lado passivo, sendo
inclusivamente entendida como uma modalidade de fideicomisso.
Rita Medina Vera-Cruz Pinto- configura como um fideicomisso irregular e condicional
Irregular: porque não consubstancia um dever de conserva dos bens por parte do
substituído, cabendo na previsão do art.2295º/1/b.
Condicional: estando sujeita à verificação de certos requisitos, nomeadamente do
testador estar no exercício das responsabilidades parentais do filho, deste morrer com
incapacidade e sem descendentes e ascendentes.
4. Consequências práticas da aplicação das duas teses
A relevância prática desta discussão, revela-se aquando da verificação do pressuposto da
capacidade sucessória, que nos termos do art.2032º tal verificação é feita relativamente ao autor
da sucessão.
No seguimento da tese da substituição pelo lado ativo, somos levados a concluir que a
capacidade terá de ser verificada face ao menor ou maior acompanhado.
Já segundo a tese da substituição pelo lado passivo, a capacidade tem de ser verificada face ao
progenitor, que é entendido como o verdadeiro autor da sucessão.
5. O problema do progenitor que utiliza o instituto para testar a favor de terceiro para o
qual não pode testar a título pessoal aos olhos das duas teses
Com a exposição da relevância prática da discussão da natureza jurídica do instituto, fica
também patente o interesse da mesma para a questão que nos preocupa, já que ambas as teses
dão resultados completamente opostos.
Sendo a tese da substituição pelo lado passivo aquela que impede que o progenitor, por via do
instituto, consiga fazer o que sem ele não conseguiria, já que a indisponibilidade relativa
continuaria a existir, ficando assim impedido de a contornar.
Solução que a tese da substituição pelo lado passivo já não oferece, porque não sendo o
progenitor o verdadeiro autor, não há porque garantir a capacidade sucessória do terceiro face a
este.
6. Conclusão
Perante a exposição feita fica claro que ambas as teses têm pelo menos a sua pré-compreensão
do instituto bem justificada face ao regime legal. Contudo, na interpretação do regime, a tese da
substituição pelo lado ativo enfrenta entraves que a substituição pelo lado ativo não enfrenta,
dificultando que me posicione do lado da tese da substituição pelo lado ativo.
Entendo que é de seguir o entendimento da Dra. Beatriz Medina Vera-Cruz Pinto, baseado nas
construções dos Professores Cunha Gonçalves e Guilherme de Oliveira, sendo de aplicar a tese
da substituição pelo lado passivo.