Curriculo Do Ensino Primario em Mocambique
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Curriculo Do Ensino Primario em Mocambique
mocambique
quarta-feira, 27 de maio de 2015
Introdução
Este trabalho está baseado para o estudo reflexivo da Implementação do currículo local do
ensino Básico com a seguinte abordagem: Currículo local: Um olhar para a sua implementação
no ensino Básico. O estudo permite compreender o processo de construção do currículo local e
sua implementação. Este ensaio tem duas partes a considerar: a primeira discute de forma breve
os conceitos de currículo e do currículo local e na segunda parte trás uma breve narração
histórica da educação em Moçambique e faz um enquadramento do currículo segundo as teorias
do currículo e discute as questões de recolha, sistematização, legitimação e implementação dos
conteúdos do currículo local.
INDE (2003: 82), entende o currículo local como sendo “o complemento do currículo oficial,
nacional, definido centralmente, que incorpora matérias diversas de vida ou de interesse da
comunidade local nas mais variadas disciplinas contempladas no Plano de Estudos”.
Este conceito mostra o vazio que existia ao abordarmos apenas os conteúdos centralmente
definidos e com a inclusão dos saber local torna o ensino mais relevante e pode reforçar a
interacção entre a escola e a comunidade, ou seja, aquilo que era a cultura local ela já é
valorizada e discutida nos meandros da escola, e Basílio (2006:22) na sua dissertação argumenta
esta posição que o interesse da escola pela comunidade tem como objectivo estabelecer as
relações de diálogo entre a própria comunidade e a escola, entre os saberes locais das
comunidades e os saberes universais para o desenvolvimento da prática educativa.
O currículo local não pode ser um submundo em relação aos conceitos universais que são
mediadas na escola. Hoje ganharam um espaço privilegiado nos processos de construção da
nossa identidade e por isso mesmo, não raras vezes ouvimos as expressões: “temos que voltar
para as nossas raízes; temos que resgatar a nossa identidade” querendo manifestar o sentimento
de que estamos ficando demasiado “alienados” pelos valores ocidentais esquecendo a nossa
cultura. Aqui chamo submundo, os saberes locais que são considerados marginais aos processos
educativos na escola.
Durante muito tempo e, talvez, por razões históricas, o sistema nacional de educação em
Moçambique os nunca de forma nítida os saberes locais foram constituintes do currículo.
Recordo-me que na década 80, eu estava numa escola rural, lá éramos proibidos de falar a nossa
língua materna e hoje essa língua é veiculo de ensino-aprendizagem das crianças.
Apesar da inclusão dos conteúdos locais na escola existem inúmeras vicissitudes para a
implementação. Umas estão ligados a questões estruturais do sector (Formação inicial e
capacitação de professores em exercício nos primeiros ano da introdução do currículo) e a outra
tem que ver com o próprio processo de implementação do currículo local pelas direcções das
escolas. De forma especifica, estas dificuldades estavam ligadas a recolha, a selecção e
sistematização dos conteúdos, a gestão dos 20% do tempo lectivo, a fraca participação da
comunidade, a validação dos conteúdos do currículo local e a avaliação ( cf. Básilio, 2006: 46).
Durante as minhas visitas de supervisão pedagógica as escolas fui confrontado com problemas e
perguntava aos professores se implementavam os conteúdos do currículo local na sala de aula ,
eles diziam :
O segundo professor diz: “Implemento o currículo local, por exemplo quando mando os meus
alunos fazer cestos, tecer capim,esteiras estou a implementar o currículo local”.
Um dos objectivos do currículo local é de desenvolver nos alunos saberes locais, dotando-lhes
conhecimentos, habilidades, valores e atitudes que lhe permitam ter uma participação plena no
conhecimento social, cultural e econômica na sua comunidade (INDE, 2011: 11). Ora, se se quer
que os alunos tenham conhecimentos locais e participem na vida cotidiana da comunidade deve-
se trazer os conhecimentos para a escola e discutir com os alunos porque “a escola é o único
lugar privilegiado para a construção de conhecimento sistemático” ( MINED/DNGGQ, 2013 ).
A resposta a estas questões é-nos dada pela revisão bibliográfica e das experiências vividas
como profissional de educação e interessado ao estudo do currículo local.
O interesse pelo tema deste estudo tem a ver com a contribuição que vai emprestar para os
professores na leccionação dos saberes locais; também está relacionada com experiências vividas
no dia-a-dia do meu trabalho de apoio as escolas no desenvolvimento Profissional continuo aos
professores.Nós aprendemos através e a fazer experiências. É com base nesta experiência e como
pessoa interessada em estudar fenômenos relacionados a educação, utilizarei estas experiências
como ponto de partida do estudo.
Julgo ser um trabalho que em futuras situações poderá servir para o conhecimento da grande
contribuição dos saberes locais poderá dar na vida dos alunos. Esta dissertação proporcionará
conhecimentos válidos para os professores comecem a tomar atenção sobre o que os alunos
perdem quando não abordam os conteúdos do currículo local.
Como hipótese destacamos as seguintes: Os professores integram conteúdos do currículo local
no processo de ensino-aprendiazgem envolvendo a participação da comunidade.
Para isso, a observação dos procedimentos, dos planos de aula, da conversa com alguns membros
da comunidade formam o objecto de observação do estudo.
Torna difícil delimitar o conceito de currículo porque ele não é acabado depende do contexto e
das condições em que ele se insere. É um conceito que pela definição precisa de consenso de
quem os define. Para este estudo trouxemos a ideia do Pacheco (1996:17) que considera o
currículo como “um plano que apresenta um conjunto de experiências educativas vividas pelos
alunos dentro do contexto escolar, como um propósito bastante flexível que permanece aberto e
dependente das condições da sua aplicação”.
INDE (2011: 10) define o currículo local como uma componente do currículo nacional
correspondente a 20% do total do tempo lectivo previsto para a leccionação das diversas
disciplinas do plano de estudo”. Esta componente é constituída por conteúdos definidos
localmente como sendo relevantes para a integração da criança na sua comunidade.
Para Basilio( 2006: 16) “os conteúdos locais são provenientes da realidade da zona a onde a
escola se inscreve e são diferentes de região para região são saberes locais porque se prendem
com o material de interesse local que emociona as crianças”.
Essa ideia pode entrar em dissonância com a que fundamenta que “o espaço não pode ser
determinado apenas geograficamente, mas sim compreende o espaço onde se situa a escola que
pode ser alargado à ZIP, distrito e até mesmo a Província, comportando consigo vivências e
anseios da comunidade em que está inserida, cabendo a mesma comunidade definir o que
gostaria que os seus filhos aprendessem” (INDE, 2011: 12).
Por exemplo, no manual distrital de currículo local da Maxixe estão reflectidos conteúdos
ligados a timbila como conteúdo local mas ela não é um elemento cultural que identifica o
distrito da Maxixe. Assim, reforçando a ideia do alargamento do que é local, os conteúdos locais
podem não ser necessariamente da zona, mas de outra, desde que se revista de uma grande
importância e de interesse da comunidade.
Em Moçambique, a educação passou por várias fases do seu desenvolvimento, desde a educação
da era colonial e pôs-independência e talvez outra fase que merece uma leitura atenta é da
globalização, das novas tecnologias de comunicação e de informação e das descobertas dos
recursos naturais, como é que a educação se pode posicionar perante essas realidades?
Na era colonial, a educação estava reservada aos filhos colonos branca e aos “assimilados” que
frequentavam o ensino liceal e ensino técnico- Profissional para os indígenas, eram educados
com o objectivo de civilizar e nacionalizar o indígena por meio da língua portuguesa e gradual
apreensão da doutrina e moral cristã ( Castiano P, at al, 2005: 26- 27).
No pôs independência, o objetivo central atribuído ao SNE era o de formar o Homem Novo
Revolucionário: "um homem livre do obscurantismo, da superstição e da mentalidade burguesa e
colonial, um homem que assume os valores da sociedade socialista" (Moçambique, 1985, p.
113).
Essa lei foi revista em 2002 visava fundamentalmente adequar as políticas da educação para a
realidade de modo a responder as exigências da sociedade. O Plano estratégico de Educação
orienta que o currículo deve responder a três pilares:
O novo currículo do ensino Básico prevê as três teorias do currículo: tradicional, critica e Pôs-
crítica, mas com ênfase as teorias críticas que permitam uma aprendizagem ligada ao contexto
social e aos saberes culturais, ou seja, o aluno é centro da aprendizagem, construindo o seu
próprio conhecimento.
FREIRE (1987: 33) argumenta que os alunos eram objecto pacientes, simples ouvintes, o
educador é o verdadeiro agente, como seu real sujeito, com o objectivo de encher de conteúdos
da sua narração e, quanto mais vai enchendo os seus recipientes com seus depósitos tanto melhor
educador será. Quanto mais se deixem docilmente encher, tanto melhores educandos serão.
A educação era um instrumento de perpetuação das ideologias do regime, das elites com
intenções de servir apenas as minorias na época.
Este critério limita tendências que possam pôr em causa os valores supremos da sociedade
moçambicana, por exemplo, a tolerância, solidariedade, a autoestima, a unidade nacional referido
acima, a Paz.
O processo de selecção dos conteúdos locais foi muito sinuoso e lento, devido provavelmente de
ser algo novo na escola, da falta conhecimento e da descrença por parte dos professores da
finalidade desta inovação embora se preveja nos programas de ensino 20% do tempo lectivo de
cada disciplina para o tratamento dos conteúdos locais relevantes na escola. Mas também foi
acompanhado por não fortalecimento em termos de conhecimentos sólidos dos técnicos do nível
Provincial e distrital que pudessem capacitar e supervisionar as escolas.
O processo de recolha e selecção foram lentos, devido às fases que deveriam ser seguidas para se
chegar ao produto final da existência de uma brochura ou manual de abordagem de conteúdos do
currículo local. Embora tenha levado tanto tempo, pode se afirmar que os distritos de Inhambane
têm manuais distritais do currículo local, talvez se possa questionar pelo nível de
aprofundamento dos temas, consensos e da sua implementação na sala de aula.
Numa das fases de encontro com a comunidade de Pande, distrito de Govuro, propunham
afincadamente que pudessem incluir nos manuais as cerimónias fúnebres.Entendia que fosse um
aspecto relevante para os seus educandos. A escola devia discutir e mostrar a função da escola e
os valores que almeja para a formação da personalidade do individuo.Como assevera
Nguenha(Junho,2014) numa palestra organizada pela UP-sagrada Familia aos mestrandos que a
“escola deve criar sensos, dissensos e consensos”, ou seja a escola deve negociar e trazer esses
conhecimentos para discutir e criar consensos.
O processo de selecção dos conteúdos locais iniciou pela entrevista aos “informantes locais”,
aqueles que detêm um conhecimento sobre a cultura local em que se encontra a escola. Com as
informações recolhidas na comunidade que a escola organizou uma brochura para se incluir no
manual distrital do currículo local da Maxixe.
Durante o processo de recolha e selecção dos conteúdos do currículo local os professores foram
capacitados como deveriam recolher a informação na comunidade, a preparação dos
instrumentos, como o guião de entrevistas a comunidade, a o tratamento dos mesmos na sala de
aula e também a questão da transposição da informação em textos didácticos.
Muitas escolas traziam muitas informações não muito “trabalhadas didacticamente”. As escolas
recolhiam muitas informações e agrupavam em temas. Mas a informação recolhida para passar
para a sala de aula e ser percebida pelos alunos deveriam passar par um processo de tratamento
didático dos conteúdos locais.
Não basta seleccionar o que pode ser ensinado, mas também saber como tornar o conteúdo viável
e compreensível através da transposição didáctica dos conteúdos que “um processo de
transformação do que é complexo para simples, sem perder de vista toda a sua cientificidade e a
qualidade da informação. Trata-se de tornar o difícil em facilmente digerível, tendo sempre em conta o
grupo a que se destina a mensagem”( Barreto at al, 2010,12).
No nível das ZIP houve fraco envolvimento dos “informantes” chegando muitas vezes a
questionar a intenção da escola de querer sistematizar esses conteúdos. No entender de alguns
informantes que eram detentores de conhecimentos de artesanato, olaria, sapataria, alfaiataria,
conhecimentos ligados à medicina tradicional, não forneciam, ou seja, não aprofundavam os
temas.
O currículo como sendo um campo vasto e apetecível para as classes dominantes, as decisões
sobre ele são tomadas em diversos contextos, político, administrativo, gestão e de realização e a
que correspondem as fases do currículo prescrito, apresentado, programado, planificado, de
acção e avaliado (Pacheco, 1996; Gimeno, 1988).
Ao nível das intenções, encontram-se as políticas educativas que definem não só as orientações
globais mas também os instrumentos que dão forma à prática curricular. No plano intermédio ou
da escola, reajustam-se as orientações e reconstroem-se os instrumentos curriculares e, por
último, ao nível da aprendizagem, são tomadas pelos professores e alunos as mais importantes
decisões curriculares.
Nesta percepção quem legitima o quê? Parece ser compreensível que se trata de um território
descentralizado em que o administrador tem poder pleno sobre ele e tratando-se de conteúdos
locais, vivência local parece ser compreensiva também que haja um consenso e sejam
legitimados pelo poder local em colaboração acérrima dos gestores de educação.
2.4.A Implementação dos conteúdos do currículo local no processo de ensino-
aprendizagem
Essa visão é uma pretensão que está longe de ser alcançada se consideradas as práxis actuais nas
escolas e principalmente na escola que fomos observar ( embora não seja de forma profunda) o
envolvimento e a aplicabilidade dos saberes locais na escola. Esta mostra dificuldades de
articulação dos conteúdos do currículo local no processo de ensino- Aprendizagem.
Os factores que registamos estão directamente ligados a questões da fraca recolha dos conteúdos
do currículo local e no envolvimento da comunidade na sua abordagem. Por exemplo, a brochura
existente na escola não contemplam conteúdos relacionados a matemática e também não
exploram muito a pesca, o comércio,o plantio e o valor económico do coqueiro. Essas
actividades, muitas vezes sustentam os habitantes da Maxixe..
A implementação é também influenciada, na percepção da escola, pela fraca articulação com a
comunidade no processo de recolha e da mediação dos conteúdos do currículo local na escola.
Conclusão
Em dois capítulos, procurámos discutir e trazer elementos que pudessem explicar a questão da
implementação dos conteúdos do currículo local do ensino Básico. Assim, registamos que os
saberes locais constituem uma intenção que precisam ser concretizadas ao nível das escolas do
ensino Básico.
O estudo que fizemos a EPC da Maxixe Sede denota uma vontade de implementar os conteúdos
do currículo local mas ainda precisa de desenvolver mais a brochura do currículo local e que não
se baseie apenas em algumas disciplinas do ensino Básico.
Constatamos que a brochura do currículo local da escola é limitada e os professores ainda que
não implementem mas não têm conteúdos abrangentes para todas as disciplinas que lhes
permitam planificar e posteriormente facilitar no processo de ensino-aprendizagem. Constatamos
também , em conversa com o director pedagógico da escola, que implementam mas que a
comunidade não colabora efectivamente na abordagem desses conteúdos. Castiano (2005:74),
“o processo de introdução e sistematização dos conteúdos/saberes locais nas escolas, até mesmo
ZIP’s depara-se também com outras dificuldades que segundo devem ser tomadas a sério para
não perigar a própria intenção de tornar a escola relevante”.
Bibliografia
CASTIANO,José P., at al. A longa Marcha duma Educação para todos em Moçambique,
Maputo: Imprensa Universitária, 2005.
FREIRE,Paulo. Pedagogia do Oprimido,17ª edição, Editora Terra e Paz S/A, S.P. 1994.
INDE, Manual de Apoio ao Professor: Sugestões Para A bordagem do Curriculo Local ( Uma
alternativa para a Redução da Vulnerabilidade),2ª edição, Maputo, INDE-MINED,2011.