A Meliponicultura, Ou Criação de Abelhas Sem Ferrão, Vem Se Firmando Como Uma Importante ... (PDFDrive)

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Sumário

2 Editorial Informativo técnico


3 Lançamentos editoriais Métodos alternativos para o controle de
33 fitopatógenos habitantes do solo: parte II –
Registro controle biológico

Epagri desenvolve técnica para transformar


5 Identificação, bioecologia e estratégias de
casca de coco em fertilizante
37 monitoramento da mosca-da-grama-bermuda:
uma espécie-praga exótica invasora no Brasil

Epagri assume Campo Experimental de


6 Piscicultura na Serra Nota Científica
Avaliação físico-química e sensorial de geleias de
7
Sistemas da Epagri viram modelo de agricultura 41 goiaba-serrana (Acca sellowiana)
sustentável em plataforma da FAO/ONU

Germoplasma
Epagri amplia em quase 30% sua rede de
8 monitoramento ambiental SCS374 Litorânea: novo cultivar de alface lisa
45 selecionado no sistema orgânico de produção
Santa Catarina e Inglaterra firmam acordo de
10 cooperação científica em agricultura orgânica e 50 Novo cultivar de tomate: SCS375 Kaiçara
homeopatia
Artigo científico
Epagri desenvolve sistema inédito para apoiar
11 apicultura 55
Índices de maturação para o ponto ideal de
colheita de maçãs ‘SCS425 Luiza’

Identificado gene que possibilita a ausência de


12 sementes na uva 61 Aplicação de formulações de cálcio e boro na
cultura do tomateiro tutorado

Opinião
Avaliação de áreas produtoras de vinhos finos
13 Um caminho para prosperar 67 de altitude de acordo com a sua aptidão ou
potencial agrícola das terras
Conjuntura
Espécies forrageiras mais utilizadas em
15 pastagens na Região Oeste de Santa Catarina Manejo da adubação nitrogenada e
desempenho agronômico do arroz irrigado
72 cultivado em zonas de altitude no estado de
Vida rural Santa Catarina

Hortaliça chama a atenção pela quantidade de


19 nutrientes
Variações na produtividade e matéria seca de
Reportagem 79 raízes de mandioca em função da época de
colheita
21 Sem ferrão e com lucro
27 Mais eficiência na produção de leite 84 Normas para publicação
EDITORIAL

Bem-vindos à 100ª edição da Revista Agropecuária Catarinense, onde


você vai conhecer um pouco da meliponicultura, ou criação de abelhas
sem ferrão. Temos também uma reportagem sobre o sistema de cria-
ISSN 0103-0779 (impresso)
ção de terneiras desenvolvido pela Epagri e muitas novidades nas seções
ISSN 2525-6076 (online) Vida Rural e Registro.
A reportagem de capa apresenta a meliponocultura em Santa Cata-
INDEXAÇÃO: Agrobase, CAB International e PKP Index
rina. Essa atividade, de grande valor econômico, social e ambiental, se
AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação da caracteriza pela criação racional de abelhas nativas sem ferrão. Elas reali-
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de zam com esmero e organização as funções de polinizar plantas e produzir
Santa Catarina (Epagri), Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, mel com propriedades medicinais e cosméticas. A multiplicação e a ven-
Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901 Florianópolis, da de colmeias vêm se firmando como uma importante fonte de renda
Santa Catarina, Brasil, fone: (48) 3665-5000, fax: (48) no meio rural catarinense, ao mesmo tempo que preservam as colônias.
3665-5010, site: www.epagri.sc.gov.br.
Outra reportagem revela um dos segredos do sucesso da pecuária
A RAC tem por missão divulgar trabalhos de pesquisa leiteira catarinense: o cuidado com as terneiras. Em 2017 Santa Catarina
e extensão rural de interesse do setor agropecuário ficou entre os cinco maiores produtores de leite do País, isso porque a
nacional. atividade vem se profissionalizando e incorporando novas tecnologias.
Editor-chefe: Gabriel Berenhauser Leite Na seção Vida Rural conheça a Moringa oleifera, uma árvore origi-
nária da Índia e da África Tropical que tem chamado a atenção, prin-
EditorES técnicoS: Lucia Morais Kinceler cipalmente de pesquisadores e nutricionistas, por apresentar uma rica
Luiz Augusto Martins Peruch lista de nutrientes. Para a redução de custos e maior proteção ambien-
Márcia Cunha Varaschin
tal, a Epagri desenvolve pesquisas na área da sustentabilidade. Na seção
Paulo Sergio Tagliari
técnico-científica destaca-se o lançamento de dois novos cultivares de
Contatos com a Editoria: [email protected], hortaliças para cultivo orgânico. A alface SCS374 Litorânea foi avaliada
fone: (48) 3665-5449, 3665-5367. em áreas de pesquisa e em propriedades de tradicionais produtores em
sistema orgânico do Litoral e Alto Vale do Itajaí e apresenta característi-
EDITORA JORNALÍSTICA: Gisele Dias (MTb SC 00571) cas de rusticidade, boa produtividade e qualidade comercial. Já o tomate
SCS375 Kaiçara é oriundo de longa avaliação de 57 acessos de tomate
JORNALISTAS: Gisele Dias (MTb SC 00571) de polinização aberta, o que evita que o produtor tenha que comprar
Isabela Schwengber (MTb MS 167)
sementes híbridas todo o ano, como acontece com os materiais conven-
CAPA, DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Victor Berretta
cionais. E apresenta características desejáveis de mercado, boa produ-
tividade, qualidade de frutos e baixa suscetibilidade a doenças foliares.
FOTO DA CAPA: Rafael Censi Borges/Epagri – Abelha
Nesta mesma trilha da sustentabilidade ambiental, um Informativo
nativa Bugia
técnico revela que muitas doenças oriundas de fungos de solo podem
REVISÃO: Abel Viana ser combatidas através de controle biológico. Pesquisadores da Epagri
Laertes Rebelo mostram que o uso de biofertilizantes, método prático e viável ao pro-
dutor rural, aliado a formulados comerciais com agentes de biocontrole,
DOCUMENTAÇÃO: José Carlos Gelsleuster reduzem drasticamente os inóculos de fitopatógenos no solo, inibindo a
chance de causar doença.
EXPEDIÇÃO: DEMC/Epagri, C.P. 502, 88034-901
Florianópolis, SC, fone: (48) 3665-5357, 3665-5361, e-mail: Outro Informativo descreve, de forma pioneira em Santa Catarina,
[email protected] a presença da mosca-da-grama-bermuda, novo inseto-praga que causa
danos à produtividade de pastagens, espécie de ocorrência não docu-
Ficha catalográfica mentada na América do Sul. No artigo são reunidas informações sobre a
Agropecuária Catarinense – v.1 (1988) – Florianópolis:
origem, formas de detecção e identificação, aspectos da bioecologia do
Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 -
inseto, bem como são discutidas estratégias para o seu monitoramento
1991)
Editada pela Epagri (1991 – )
em pastagens.
Trimestral Santa Catarina está produzindo vinhos de qualidade, os chamados
A partir de março/2000 a periodicidade passou a ser vinhos finos de altitude. Para dar apoio a dezenas de produtores catari-
quadrimestral.
nenses que estão investindo nesse setor, um estudo avalia e compara a
1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I. Empresa
aptidão agrícola das terras de vinhedos através de quatro metodologias.
Catarinense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis,
SC. II. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão
O artigo, publicado nesta edição, mostrou que as áreas onde são produ-
Rural de Santa Catarina, Florianópolis, SC. zidos os vinhos possuem baixa aptidão agrícola para culturas anuais, com
CDD 630.5 fatores limitantes como a fertilidade do solo e a declividade. Concluiu
ainda que os vinhedos altomontanos necessitam desenvolver metodolo-
gia de avaliação de aptidão mais específica.
Tiragem: 1.500 exemplares
Impressão: Dioesc Boa leitura e bom proveito !
LANÇAMENTOS EDITORIAIS

Desempenho produtivo da piscicultura catarinense em 2015 (on-line). 2017. 17p.


Doc. nº 268.

O documento reúne informações das principais espécies produzidas e sua


distribuição pelo Estado, relacionando-as com fatores climáticos e geográficos.
Mostra ainda a evolução da piscicultura catarinense ao longo do tempo e os índices
dos últimos anos de produção, da área alagada, dos produtores e da produtividade.
A obra enumera também as regiões e os municípios com maior produção, além de
descrever o destino destes pescados e as características de mercado.

Contato: [email protected].

Sistema de Alimentação com Pastagens para Produção de Queijo Artesanal


Serrano – Norma Técnica Nº 1. 2017. 32p. Doc. nº 272.

A obra detalha as principais pastagens, naturais e cultivadas, que poderão ser


adotadas pelos produtores interessados em se enquadrar na Indicação Geográfica
(IG) Campos de Cima da Serra para Queijo Artesanal Serrano (QAS). Enumera os
tipos de alimentação permitidos e não permitidos para produção de queijo artesanal
serrano com objetivo de fornecer subsídios para análise e compreensão das
principais fontes de alimentação que influenciam diretamente nas características
de sabor, cor, odor e textura do produto.

Contato: [email protected].

Metodologia de avaliação de danos em maçã. 2017. 36p. Doc nº 273.

A obra descreve metodologia testada a campo para realização de perícias em


pomares de maçã danificados por intempéries climáticas para efeito do Programa
de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). A intenção é dar segurança
aos técnicos da Epagri e da iniciativa privada em suas perícias. Para tanto, o livro
dispõe sobre procedimentos para estimar de maneira coerente e segura os danos
na produção de maçãs decorrentes dos principais eventos climáticos que trazem
prejuízos recorrentes nos pomares.

Contato: [email protected].

I Workshop sobre Frutificação e Adubação de Pereiras (on-line). 2017. 120p. Doc


nº 276.

Esta publicação foi elaborada a partir de evento realizado no município catarinense


de São Joaquim em agosto de 2017. Reúne informações como estabelecimento de
cultivares e porta-enxertos mais adaptados a condições de clima e solo, além de
práticas de manejo mais adequadas, entre outros temas. No workshop que deu
origem ao documento foram apresentados resultados de vários experimentos de
média duração realizados no Planalto Serrano catarinense pela Epagri e outras
instituições de pesquisa.

Contato: [email protected].

3
LANÇAMENTOS EDITORIAIS

Carne ovina: produto nobre, receita de sucesso. 2017. 68p. BD nº 108.

Pesquisa de mercado realizada em Santa Catarina mostrou que mais de 40% dos
consumidores utilizam a carne ovina para fazer churrasco. Mas existem inúmeras
outras receitas para preparar essa proteína, que foram reunidas nesta obra com
objetivo de incentivar seu consumo. A carne de cordeiro é considerada uma das
mais nutritivas, pois é grande fonte de proteínas, ferro e vitaminas do complexo B,
e pode ser servida recheada, com tempero agridoce, à napolitana, ao molho e de
diversas outras maneiras que vão encantar diferentes paladares.

Contato: [email protected].

Receitas da culinária alemã do município de São Carlos. 2017. 45p. BD nº 137.

Em 2014 a Epagri promoveu o IV Concurso de Culinária Alemã de São Carlos, cujas


receitas estão reunidas nesta obra. O objetivo foi promover a discussão sobre
receitas antigas, hábitos ligados ao uso dos alimentos da região e a influência
desses hábitos no desenvolvimento da agricultura local. São 19 receitas salgadas
e 15 doces, de delícias como biscoitos, pães, refogados, bolos, cucas e tortas, que
promovem uma imersão na cultura alimentar dos colonizadores alemães que se
instalaram no município a partir de 1927.

Contato: [email protected].

Produção e processamento de pólen apícola. 2017. 28p. BD nº 140.

Na apicultura, o pólen tem valor agregado de produção maior que o mel, tornando-
se uma boa opção de renda nas pequenas propriedades rurais. Pensando nisso, a
Epagri produziu este boletim, com o intuito servir de guia prático para apicultores
que pretendem produzir pólen apícola com eficiência e qualidade, seja para
consumo familiar ou para produção comercial. A obra reúne informações teóricas –
como a composição do produto e seus requisitos físico-químicos – e práticas, entre
elas instalações, materiais e equipamentos necessários para a atividade.

Contato: [email protected].

Avaliação de cultivares para o estado de Santa Catarina 2017-2018 (on-line). 2017.


78p. BT nº 176.

As avaliações do desempenho dos cultivares das diferentes culturas apresentadas


neste Boletim Técnico são realizadas anualmente em diferentes regiões
edafoclimáticas de Santa Catarina. Nessas avaliações se identificam aqueles com
melhor sanidade, maior potencial de produtividade, boa adaptação regional
e tolerância ou resistência às principais doenças. O uso de cultivares com essas
características é o início de uma boa colheita.

Contato: [email protected].

4 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


REGISTRO

Epagri desenvolve técnica para transformar casca de coco em fertilizante

A
Epagri se uniu à Fundação do para uso na fruticultura e também como te na jardinagem dentro do perímetro
Meio Ambiente de Itajaí (Famai) substrato, trabalho que deve estar con- urbano de Itajaí, em hortas escolares e
para encontrar uma solução sus- cluído até a metade de 2018. Mas as de instituições beneficentes. Ele tam-
tentável para o destino das cascas de perspectivas são boas, revela Cantú, bém poderá ser distribuído a agriculto-
coco verdes geradas pela comercializa- que aponta ainda como fator positivo res para utilização nos diversos cultivos
ção da água da fruta no município. Os a inexistência de mau cheiro, produção de plantas.
pesquisadores da Estação Experimental de chorume e atração de moscas, con- Cantú revela que o fertilizante tam-
de Itajaí (Epagri/EEI) estudaram três dições presentes em muitos adubos or- bém poderá ser produzido por produ-
maneiras de transformar as casas em gânicos. “Por não ter mau cheiro, já po- tores rurais ou associações deles, pois a
adubo orgânico para ser usado em hor- demos afirmar que esse composto seria máquina e o sistema de compostagem
tas comunitárias e escolares, jardins da adequado ao uso em meio urbano, em têm custo baixo, acessível a pequenos
cidade ou qualquer outro cultivo rural hortas caseiras em vasos com plantas agricultores. “O processo pode até mes-
ou urbano. para ambientes internos”, adianta ele. mo gerar renda, pois a casca apresenta
A casca de coco verde é um proble-
Enquanto os testes vão sendo rea- um elevado custo para as prefeituras e
ma para o sistema de lixo da cidade. Du-
lizados, diversos grupos de produtores empresas de reciclagem, que poderão
rante a temporada de verão, esse mate-
rurais ficaram interessados. Entre eles, disponibilizar gratuitamente o material
rial pode representar mais de 60% dos
destacam-se produtores de orquídeas e ou até mesmo pagar para os agriculto-
dejetos recolhidos nas praias, envolven-
até empresas que trabalham com com- res reciclarem”, prevê o pesquisador,
do um grande esforço do sistema de co-
postagem que têm procurado a Epagri/ que conta que a mesma técnica já foi
leta e reciclagem dos resíduos urbanos.
Atualmente esse material é destinado a EEI para conhecer a técnica. A Famai usada com outros resíduos.
aterros sanitários, mas, como é muito também está divulgando os resultados A pesquisa tem apoio financeiro do
volumoso, diminui a vida útil desses es- positivos entre seu público. CNPq, da Fapesc e da Prefeitura Muni-
paços. “Devido aos importantes custos A Famai pretende utilizar o fertilizan- cipal de Itajaí.
econômicos e ambientais ocasionados
pela geração dos resíduos das cascas de
Foto: Banco de imagens

coco, esse aspecto vem sendo tratado


com preocupação pela sociedade local”,
conta Rafael Ricardo Cantú, pesquisa-
dor da Epagri/EEI.
Em abril Cantú iniciou os testes para
descobrir a forma mais eficiente de
transformar o que era lixo em adubo
orgânico. Foram comparados três mé-
todos de compostagem. As três meto-
dologias usam a casca de coco já moída
por um equipamento que a Famai dis-
ponibilizou à Epagri para a pesquisa.
Num dos métodos, a casca de coco
moída foi revolvida automaticamen-
te por uma máquina, para promover a
aeração do material. Na segunda forma
testada, o ar foi inserido no resíduo or-
gânico com um compressor de ar. E o
terceiro método testou a oxigenação
natural da casca moída, sem nenhum
tipo de intervenção. Esse último manejo
mostrou-se o mais adequado, exigindo
pouco esforço na sua produção. Depois
de três messes em repouso, o material
moído está pronto para ir para a horta
Agora adubo da casca de coco está
sendo testado pelas Estações Experi-
Cascas de coco podem representar mais de 60% do lixo recolhido nas praias de Itajaí no verão
mentais da Epagri de Itajaí e de Caçador
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 5
REGISTRO

Epagri assume Campo Experimental de Piscicultura na Serra

A
Epagri assumiu um dos Superintendência de Desenvolvimento trabalhadas no local, bem como a
espaços mais privilegiados da Pesca (Sudepe), órgão vinculado ao quantidade de produção.
para estudos sobre a natureza Ministério da Agricultura. A partir do próximo outono, no
e desenvolvimento de produção rural Ao longo do tempo, foi utilizada segundo trimestre de 2018, quando
no Brasil. Trata-se da Base Avançada também para outras funções, como sede começar a reprodução natural dos
de Pesquisa do Instituto Brasileiro da Polícia Militar Ambiental de Lages, peixes, a Serra Catarinense contará
do Meio Ambiente e dos Recursos entre 1998 e 2006. Posteriormente, com um dos mais completos centros de
Naturais Renováveis (Ibama), situada no abrigou a Base Avançada de Pesquisa piscicultura do País.
município de Painel, que estava parada do Ibama, que realizou atividades de “A cadeia produtiva vem crescendo,
há três anos. repovoamento alevino de espécies e a indústria está carente. Esse novo
A cerimônia de transferência do nativas, proteção a animais silvestres e espaço contará com doutores e
patrimônio aconteceu no dia 1o de programas de educação ambiental até especialistas que, por meio de pesquisa
agosto, com a presença do governador 2014, quando entrou em desuso. e extensão rural, proporcionarão uma
Raimundo Colombo e de outras Segundo o presidente da Epagri, nova e importante alternativa de
autoridades estaduais e regionais. Luiz Hessmann, o local serviu durante renda aos produtores da região”, diz
A estrutura recebida pela Epagri muitos anos como uma fonte de criação o responsável técnico pela unidade e
passou a funcionar como o Campo e distribuição de alevinos para toda a pesquisador da Epagri, Vilmar Francisco
Experimental de Piscicultura da Serra região, fomentando a cadeia produtiva Zardo.
Catarinense, subordinado ao Centro de truta e de outras espécies. Os integrantes da Associação dos
de Desenvolvimento em Aquicultura e Município da Região Serrana (Amures)
Pesca (Epagri/Cedap). Investimento produzem, a cada ano, 250 toneladas
Localizado no Km 242 da SC-114, de truta. Segundo Vilso Isidoro,
às margens da rodovia, a área de 19 O investimento inicial, de R$284 presidente da Associação Catarinense
hectares – o equivalente a 190 mil mil está sendo aplicado nas reformas de Truticultores (Acatruta), os maiores
metros quadrados – foi inaugurada e adequações na infraestrutura. produtores da Serra Catarinense são
há 32 anos, em março de 1985, como Paralelamente, os técnicos da Epagri Painel, Bocaina do Sul, Urupema,
Estação Nacional de Truticultura da estudam as espécies que serão Urubici e Bom Jardim da Serra.
Foto: Pablo Gomes/Prefeitura de Lages

Estão sendo investidos R$284 mil em reformas e adequações da infraestrutura

6
Sistemas da Epagri viram modelo de agricultura sustentável
em plataforma da FAO/ONU

O
Sistema de Plantio Direto de

Foto: Carlos Koerich/Epagri


Hortaliças (SPDH) e a produção
de morangos em sistema
semi-hidropônico suspenso  são as
duas tecnologias da Epagri incluídas
recentemente na Plataforma de Boas
Práticas da Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação
(FAO/ONU). A plataforma é um espaço
de disseminação e compartilhamento
de boas iniciativas replicáveis
desenvolvidas na Região Sul do Brasil e
já conta com nove tecnologias da Epagri
descritas.
O SPDH se baseia na redução
dos custos sociais, econômicos e
ambientais das lavouras e no estímulo
ao protagonismo dos agricultores. Tem
como objetivo central a transição
da agricultura convencional para a
agricultura agroecológica, respeitando
três elementos básicos: o revolvimento
localizado do solo, a diversificação de
espécies pela rotação de culturas e a
cobertura permanente do solo.
As primeiras experiências em SPDH
foram realizadas em 1998, na Estação
Experimental de Caçador (Epagri/EECd).
Atualmente o sistema é utilizado em mais
de 3 mil hectares espalhados por todas
as regiões do território catarinense. Cobertura permanente do solo é um dos princípios do SPDH
São mais de 1,2 mil agricultores que
utilizam o plantio direto para produzir
principalmente tomate, cebola, chuchu, problemas com erosão e melhorando a das épocas tradicionais. Outro grande
brássicas (couve, repolho e brócolis), disponibilidade de água para as plantas, diferencial é a produção de morangos
melancia e moranga. o que leva, entre outros resultados, à com maior qualidade e menor risco de
A rápida disseminação e aceitação redução média de 80% no uso de água contaminação. 
da tecnologia deve-se sobretudo aos para irrigação. Os alimentos produzidos
bons resultados alcançados. O SPDH A prática tem boa produtividade e
no sistema são mais limpos, pois rápido retorno econômico. Cada R$1,00
proporciona melhoria na qualidade podem ser cultivados com pouco ou até
e na uniformidade das plantas, com empregado na atividade dá retorno de
nenhum agrotóxico.
diminuição média de 35% nas perdas R$1,04 no primeiro ano e R$3,44 no
por questões de padrão de qualidade e segundo. A produtividade, considerada
produção. Reduz, ou até pode zerar, o Morangos suspensos boa, fica na média de 1kg por planta/
uso de insumos e, consequentemente, ciclo.
o custo das hortas. A produção de morangos em sistema
O sistema também se destaca pelo
Outra grande vantagem do SPDH semi-hidropônico suspenso  tem várias
vantagens, como a melhor utilização uso criterioso e menos intenso de
é a sua sustentabilidade. O uso da
do espaço na pequena propriedade insumos químicos, o que resulta na
palhada protege e enriquece a terra
cultivada. As taxas de infiltração de com bons resultados econômicos, obtenção de morangos limpos e de
água no solo cultivado em SPDH a adaptação à realidade da mão de qualidade. 
chegam a ser três vezes maiores que obra disponível na propriedade e a Conheça a plataforma da FAO:
no sistema convencional, eliminando produção em períodos diferenciados http://boaspraticas.org.br.
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 7
REGISTRO

Epagri amplia em quase 30% sua rede de monitoramento ambiental

A
rede de monitoramento ambiental da
Epagri vem se firmando como um das

Foto: Matias Boll/Epagri


mais adensadas e importantes do País e da
América do Sul. Só entre os anos de 2016 e 2017
foram instaladas 37 novas estações meteorológicas,
agrometeorológicas e hidrológicas em Santa
Catarina, num crescimento de 28,2%. A ampliação
foi financiada por recursos do Programa SC Rural,
repassados à Epagri via Secretaria de Estado do
Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS).
Todos os novos equipamentos são automáticos
e telemétricos, ou seja, medem automaticamente
as variáveis ambientais e as enviam
imediatamente, via sinal de celular, ao banco de
dados da Epagri, em Florianópolis. As medições
incluem temperatura, chuva, vento, radiação
solar, níveis de rio ou de mar, molhamento foliar
e outras condições ambientais do local. Os dados
são medidos a cada hora, ou, em casos específicos,
a cada 15 minutos. Antes de entrar no banco da
Epagri eles passam por uma qualificação, por isso
há um pequeno intervalo de tempo entre o envio
e a disponibilização.
Em agosto de 2017 a rede de monitoramento
ambiental da Epagri somava 168 estações.
Mas a rede gerenciada pela Epagri é maior que
isso. Naquela data eram 292 equipamentos
em funcionamento, número que reúne, além
das estações de propriedade da Epagri, outras
operadas por diversas instituições, como Agência
Nacional de Águas (ANA), Celesc, Casan e Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet), entre outras.
Esse conjunto de quase 300 estações abastece
o banco de dados agro-hidrometeorológicos
da Epagri, que até a metade de 2017 contava
com nada menos que 233 milhões de dados
armazenados. A cada dia, 96 mil novos dados
medidos e qualificados entram no banco,
formando um patrimônio de valor incalculável
para catarinenses e brasileiros.
Além de apoiar o trabalho de previsão do
tempo, os dados são muito usados em pesquisas
desenvolvidas pela Epagri e por outras instituições.
Pesquisas climáticas, por exemplo, requerem um
período mínimo de 30 anos de dados coletados,
o que explica parte da importância desse trabalho
desenvolvido pela Epagri.
Os dados também são disponibilizados quase
em tempo real para consulta da população pelo
site da Epagri/Ciram (http://ciram.epagri.sc.gov.
br) ou pelo sistema Agroconnect (http://www.
ciram.sc.gov.br/agroconnect/), direcionado espe-
cialmente aos agricultores catarinenses, fornecen- Estações maregráficas, como a instalada em Laguna, fazem
do informações que auxiliam o manejo das cultu- parte da rede da Epagri
ras.

8 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


Manutenção Novas estações instaladas em 2016 e 2017
Mas tamanho crescimento da rede
de estações nos últimos dois anos Tipos de estação Quantidade
veio acompanhado de um detalhado Meteorológica, que mede vento e radiação 2
trabalho de planejamento. Íria Sartor
Araújo, pesquisadora da Epagri na área Hidrológicas, que mede chuva e nível de rio 5
de monitoramento ambiental e uma
das coordenadoras da rede, explica Agrometeorológica, que mede chuva, temperatura, umidade
15
que foi preciso investir principalmente relativa do ar e molhamento foliar
na capacidade de manutenção
para garantir que os equipamentos Maregráfica, que mede nível do mar e, em alguns casos,
continuassem funcionando em perfeito 3
chuva
estado após a instalação.
Para tanto a Epagri treinou sete
Estação de pesquisa, para monitoramento da apicultura,
profissionais de seus quadros, que se 3
cujos dados são usados somente internamente
dividem em quatro equipes que percor-
rem periodicamente o Estado fazendo
a manutenção preventiva dos equipa- Estações que foram modernizadas para substituir
mentos. Assim é possível evitar ou mini- equipamentos convencionais, aqueles que não têm 9
mizar a interrupção no envio dos dados capacidade de enviar dados automaticamente
ou, ainda, o envio de dados incorretos,
causados pela falta de calibragem dos
sensores ou outros problemas. Esses
profissionais também realizam a manu-
tenção corretiva quando necessário, já
que é possível identificar remotamente
qualquer falha na operação da rede.
Para viabilizar o trabalho de
manutenção, a Epagri realiza, a cada 12
meses, uma nova licitação para compra
de peças de reposição. Iria revela que
a placa de molhamento foliar e os
sensores de temperatura e umidade são
os que costumam dar mais defeito.
A Epagri também conta em
seu estoque com cinco estações
agrometeorológicas completas, prontas
Foto: Arquivo/Epagri

para atender demandas urgentes


encaminhadas por entidades ligadas
à agropecuária catarinense, como
sindicatos rurais, cooperativas ou
instituições de pesquisa. Quatro equipes estão capacitadas para instalar e dar manutenção aos equipamentos

Mais em 2018
receberá pelo menos uma estação nes- nomia local. Há também as limitações
A ampliação da rede de monitora- sa nova etapa de ampliação. Com recur- físicas, já que uma estação não pode ser
mento ambiental da Epagri deve seguir sos da SDS, a Epagri vai instalar, ainda instalada em áreas próximas a prédios,
nos próximos anos. Já está prevista para ao longo de 2018, seis estações voltadas pois precisa estar em um local com sinal
2018 a instalação de pelo menos 10 para pesquisa em apicultura e distribuí- de celular e outras condições. Existem
novas estações, com recursos do PAC das nas diferentes regiões catarinenses. também as estações de pesquisa, que
Embrapa. Esses equipamentos, que Íria explica que os critérios para são instaladas atendendo pedidos de
já foram adquiridos, fazem parte de definição dos locais são extremamen- pesquisadores e cujos dados não se so-
um projeto coordenado por Íria Sartor te técnicos. Normalmente atendem mam ao conjunto, pois algumas vezes o
Araújo e serão instalados em terrenos demandas agropecuárias, como o for- local não tem as condições exigidas nor-
de propriedade da Epagri. A pesquisa- necimento de informações para algum malmente, o que influencia nos valores
dora garante que cada região do Estado cultivo que tenha importância na eco- medidos.
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 9
REGISTRO

Santa Catarina e Inglaterra firmam acordo de cooperação científica


em agricultura orgânica e homeopatia
A
redução, substituição ou elimina- de comercializar o leite. Isto obriga os mento possui 9,5ha e produz hortaliças,
ção de produtos químicos preju- pecuaristas a usar antibióticos para frutas e leite. Apesar da pouca mão de
diciais à saúde do ser humano e combater a infecção. Mas essas subs- obra disponível, Airton consegue en-
dos animais é a proposta que a Estação tâncias podem provocar resistência dos tregar cestas com produtos livres de
Experimental da Epagri de Lages, está agentes infecciosos, forçando os produ- agrotóxicos para 40 clientes. “Os meus
apresentando aos agricultores familia- tores a buscar outras formas de comba- vizinhos produtores duvidavam que eu
res catarinenses do Planalto Serrano. te. A homeopatia, além de reduzir con- iria controlar as doenças com os prepa-
Mas este objetivo pode chegar a mais sideravelmente o preço do tratamento, rados homeopáticos, mas hoje eles en-
produtores rurais do Estado”, afirma o promove um pronto restabelecimento tendem que a técnica é eficiente e veio
engenheiro-agrônomo Pedro Boff, pes- dos animais infectados, sem deixar re- para ficar”, descreve o agricultor.
quisador e coordenador do Laboratório síduos tóxicos no leite, preservando a O sucesso que os produtores catari-
de Homeopatia e Saúde Vegetal, que saúde da população. nenses vêm obtendo com a homeopatia
funciona junto à Estação Experimental O engenheiro-agrônomo e extensio- estende-se à Região Sul do Estado, onde
de Lages (Epagri/EEL). nista da Epagri Gilmar Espanhol repassa conta com apoio dos médicos-veteriná-
Situada na Serra Catarinense, a uni- seu entusiasmo com a agroecologia aos rios Marcelo Pedroso e Lucio de Souza,
dade da Epagri foi palco do Workshop produtores. Um exemplo disso é o que ambos da Epagri, além da colaboração
Internacional de Agricultura Quântica, acontece com a família do Airton e Fáti- de colegas de cooperativas e prefeituras
realizado de 16 a 27 de julho de 2017 ma Kroth, de Ponte Alta. O estabeleci- municipais.
pela Epagri, Udesc e Uniplac, em parce-
ria com a Universidade de Coventry, da
Foto: Paulo Tagliari/Epagri

Inglaterra. Além de palestras científicas,


o evento propiciou visitas em proprie-
dades rurais que estão utilizando a ho-
meopatia para tratamento de doenças
em animais e vegetais. Também houve
visita ao Laboratório de Homeopatia,
onde são realizadas pesquisas com a
participação de estudantes de mestrado
e doutorado.
“O workshop serviu para dar início a
uma parceria entre as diversas entida-
des envolvidas e tem por meta aproxi-
mar professores, técnicos e agriculto-
res brasileiros e ingleses, com vistas a
desenvolver técnicas e estratégias na
área da homeopatia animal e vegetal
aplicadas aos agricultores familiares”,
explicou Boff. A professora Julia Wright,
representante da Inglaterra, revelou
que “a consciência da população britâ-
nica em relação a uma agricultura mais
sustentável e ecológica vem crescendo
e esta parceria técnico-científica será
útil para todos”.

Adesão
Médicos-veterinários catarinenses
vêm utilizando a homeopatia com com-
provada eficiência no tratamento de do-
enças em animais. É o caso da mamite
ou mastite, que infecciona os tetos das Produtor Airton Kroth e seu parreiral onde utiliza homeopatia
vacas, impossibilitando os produtores

10 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


Epagri desenvolve sistema inédito para apoiar apicultura

A Monitoramento
Epagri vem desenvolvendo operação da rede são custeadas com
desde setembro de 2017 o verba da Epagri.
APIS on-line, um sistema de O grande diferencial da plataforma A Epagri firmou convênio com o
monitoramento apícola que reúne é o link Monitoramento, onde estarão curso de graduação em engenharia
tecnologias destinadas a coletar dados disponíveis as informações coletadas em telecomunicação do Instituto
ambientais e gerar informações para nas colmeias conectadas a estações Federal de Santa Catarina (IFSC) para
apoiar a produção de mel no território agrometeorológicas que medem desenvolvimento de unidades de
catarinense. Esse é o primeiro sistema chuva, molhamento foliar, temperatura monitoramento apícola de baixo custo,
desta natureza no Brasil. e umidade relativa do ar. Sensores que serão usadas para adensar a rede.
O APIS on-line é desenvolvido pelo instalados dentro da colmeia também Segundo Blainski, será preciso coletar
Centro de Informações de Recursos medem temperatura e umidade do dados durante pelo menos um ano para
Ambientais e de Hidrometeorologia de ar interna. Ainda dentro da colmeia é que seja possível avaliar quais condições
Santa Catarina (Epagri/Ciram) com o medida a quantidade de mel produzido. meteorológicas influenciam a produção
apoio de outras unidades da Empresa. Esses dados são transmitidos de mel.
Ele é composto por uma plataforma automaticamente e em tempo real para Após esse ano de avaliação, a Epagri/
digital (http://ciram.epagri.sc.gov.br/ a Epagri/Ciram, em Florianópolis, e Ciram poderá emitir avisos específicos
apicultura/) que reúne informações inseridos no sistema. Com base nesses aos apicultores. Com base na previsão
relacionadas ao setor, como publicações dados, pesquisadores vão observar do tempo eles serão alertados sobre
e links úteis, entre outros dados. quais condições meteorológicas que providências tomar para evitar
A plataforma é colaborativa. Cabe a influenciam na produção de mel. queda na produção. A plataforma
cada produtor cadastrar os dados de seu Éverton Blainski, pesquisador também vai formar um banco de dados
apiário, informando nome, localização da Epagri/Ciram e coordenador históricos com informações das épocas
e os seus produtos. Disponibilizados do projeto, explica que foram de floradas e os dados coletados pelas
em forma de mapa, esses dados são instaladas nas diferentes regiões unidades de monitoramento apícola.
acessados com um clique. Assim, de agroclimáticas do Estado seis unidades O sistema se completará com o
modo quase instantâneo, o consumidor de monitoramento apícola, formadas desenvolvimento de um aplicativo para
pode saber onde comprar o produto pelo conjunto de colmeia monitorada dispositivo móveis a ser usado pelos
que deseja, na região de seu interesse. e a estação agrometeorológica. Esses apicultores. A Epagri já submeteu às
Também estão cadastradas na equipamentos foram adquiridos com entidades financiadoras projeto para
plataforma todas as associações de recursos do Programa SC Rural, num buscar a verba necessária para execução
apicultores catarinenses. total de R$300 mil. A instalação e a da proposta.
Foto: Aires Mariga/Epagri

Sistema vai emitir avisos aos produtores para evitar queda na produção de mel

11
REGISTRO

Identificado gene que possibilita a ausência de sementes na uva

O
s mecanismos genéticos e ce- durante a formação da semente.  Para novos cultivares, facilitando o trabalho
lulares que levam à formação isso, o gene foi estudado nos cultivares e reduzindo o tempo. “A expectativa é
ou ausência da semente na Chardonnay (com semente) e Sultanina de transformar esse conhecimento em
uva (apirenia) foram desvendados pela (sem semente), utilizando sequencia- uma ferramenta de modo a que, antes
equipe do Laboratório de Genética Mo- mento alelo-específico, hibridização in mesmo de produzir a fruta, com testes
lecular Vegetal da Embrapa Uva e Vinho, situ, análise de expressão por RT-qPCR e de DNA, possa-se saber se a uva irá ter
em Bento Gonçalves (RS), em conjunto complementação de fenótipo na planta sementes ou não”, disse o pesquisador.
com cientistas da Universidade Fede- modelo Arabidopsis thaliana. A equipe continua trabalhando e o pró-
ral do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da “Com isso, identificamos que os ní- ximo desafio é avaliar a utilização desse
Universidade Estadual de Campinas veis de transcritos de VviAGL11 aumen- gene em videiras adultas. “Com isso,
(Unicamp). A descoberta tem potencial taram significativamente na segunda e a intenção é modificar o tamanho das
de acelerar e subsidiar pesquisas para na quarta semanas após a floração em sementes, tornando-as menores, por
desenvolver uvas sem sementes usando sementes de ‘Chardonnay’, especifi-
exemplo, por meio do silenciamento do
técnicas de biotecnologia. camente na camada dupla do integu-
gene VviAGL11”, antecipa.
Apesar da apreciação das uvas de mento médio da semente, sendo essa
O chefe-geral da Embrapa Uva e
mesa sem sementes ampliar-se ano a camada responsável por formar a casca
Vinho, Mauro Zanus, relembra que
ano, pouco se sabia sobre os mecanis- das sementes, o que sugeriu a relação
faz quase 20 anos que a instituição de
mos celulares e genéticos responsáveis desse gene com a formação das semen-
pelo desenvolvimento delas. Os brasilei- tes”, informa Jaiana. Ela complementa pesquisa passou a desenvolver novas
ros identificaram o papel do gene VviA- que no cultivar ‘Sultanina’ o gene não variedades de uva sem semente, em-
GL11 no desenvolvimento de sementes é expresso durante o desenvolvimento pregando técnicas de resgate de em-
nas uvas. A descoberta foi registrada do fruto e da semente, o que resultaria briões e de melhoramento clássico de
em artigo publicado no Journal of Expe- na ausência de semente nesse cultivar, plantas. “Agora, com estes estudos que
rimental Botany, editado pela Universi- hipótese que foi comprovada. identificam os genes responsáveis pelo
dade de Oxford, Inglaterra. O grupo foi Segundo Revers, o trabalho repre- caráter sem semente, avançamos na
liderado pelo pesquisador da Embrapa senta um avanço para auxiliar os pro- base científica que regula essa impor-
Luís Fernando Revers. gramas de melhoramento genético no tante tecnologia, abrindo as portas para
Segundo Jaiana Malabarba, uma das planejamento de cruzamentos e na aperfeiçoarmos o melhoramento gené-
autoras do estudo cuja tese de douto- seleção de uvas apirênicas. A aplicação tico da videira, reduzindo seus custos e
rado foi a base do artigo, o objetivo era do conhecimento a longo prazo tem po- acelerando o desenvolvimento de novas
compreender o papel do gene VviAGL11 tencial de ajudar o desenvolvimento de variedades”, avalia.
Foto: Aires Mariga/Epagri

A ideia é que testes de DNA permitam saber se a uva terá ou não sementes antes de ser produzida

12
OPINIÃO

Um caminho para prosperar


Luis Augusto Araujo¹

O Heterogeneidade do
contexto atual dos agronegó- na Figura 2. Um olhar mais atento aos
cios familiares de Santa Catari- números revela que alguns agronegó-
agronegócio familiar
na e a proximidade do final da cios experimentaram perdas de ren-
segunda década do século 21 estimulam da naquele período, enquanto outros
A pergunta decisiva para os agro-
algumas reflexões sobre a prática de sua apresentaram resultados positivos, com
negócios familiares catarinenses é: es-
gestão. Nesta perspectiva, apontam-se mais de 100% de aumento.
tamos modificando tão rápido como
dois grandes desafios a serem enfren- Vale refletir mais um pouco, a res-
o mundo ao nosso redor? A resposta
tados na continuidade deste século: peito dos números de cada agronegócio
pode deixar de ser positiva para muitos
Como ter agronegócios familiares, mar- familiar, para ver o outro lado da ques-
agricultores.
cadamente heterogêneos, que sejam tão. Para exemplificar, o agronegócio
Nos últimos dez anos, veja o que
tão ágeis quanto a própria mudança? E familiar (10) aumentou apenas 26%
aconteceu com a renda da operação
como criar um agronegócio familiar al- sua renda nesse período, mas obteve a
agrícola por pessoa adulta de 24 agro-
tamente envolvente, que inspire todos renda mais alta do grupo, R$40.302,00
negócios familiares de Santa Catari-
dar o melhor de si? por pessoa adulta, em 2015/16. Por
na que estão sendo acompanhados
Antes de prosseguir nessas refle- outro lado, o agronegócio familiar (12)
pelo programa Contagri. A renda pu-
xões, vamos rever o que é gestão. A ges- lou de R$19.429,00, em 2007/08, para aumentou 248% sua renda, mas obteve
tão não é uma ciência, nem tampouco R$24.693,00, em 2015/16, o que repre- R$24.838,00 de renda por pessoa adul-
uma profissão, mas uma prática apren- sentou um aumento médio de 27%, em ta no último ano do período, 2015/16.
dida com a experiência e enraizada no valores nominais. Nem mesmo, os agronegócios fa-
Note que estamos falando da renda miliares considerados de “boa gestão”
contexto de cada agronegócio familiar.
média de um conjunto de agronegócios estão protegidos do embate existente
Nesse segmento, a gestão pode ser vis-
familiares, com suas fortalezas e fra- entre o que fazem hoje e as mudanças
ta como um triângulo onde a habilida-
quezas individuais. O acréscimo de ren- da economia, dos mercados, da socie-
de prática (experiência e aprendizagem
da por pessoa adulta entre o primeiro dade e da tecnologia. Como vimos an-
prática), a arte (discernimento criativo)
ano (2007/08) e o último ano agrícola teriormente, a heterogeneidade dos
e a utilização da ciência (evidências sis-
(2015/16) do período, marcadamente agronegócios familiares revela uma ren-
temáticas) se encontram (MINTZBERG,
diverso, é a informação que se destaca da que apresenta grande variabilidade,
2010).
em decorrência das características de
orientação de cada negócio agrícola e
da disponibilidade dos recursos espe-
cíficos. Aqui reside o primeiro desafio
da gestão: como construir agronegócios
familiares que podem transformar-se,
respeitando sua singularidade? Este é o
desafio da adaptabilidade.

Como inspirar a dar o


melhor de si
O agricultor na prática de sua gestão
enfrenta duas preocupações principais
ao atuar no plano das pessoas: Como
ampliar as capacidades humanas para
Fonte: Mintzberg (2010, p.24).
criar as condições que inspiram as pes-
Figura 1. A gestão como arte, habilidade prática, ciência soas a dar o melhor de si? E como agre-

¹ Eng.-agrônomo, M.Sc., Epagri/Cepa, Rod. Admar Gonzaga, 1486, Itacorubi, e-mail: [email protected]

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 13


Fonte: Programa Propriedade Sustentável (2017).

Figura 2. Acréscimo de renda por pessoa adulta de agronegócios familiares catarinenses entre o ano agrícola (2007/08) e o último ano
agrícola (2015/16)

gar as capacidades humanas para que vação vem dos seguintes pontos: (1) quando se criaram conceitos de ges-
elas possam fazer coletivamente o que entender os primeiros sinais de alerta tão visando responder a uma questão
não poderiam fazer individualmente? de grandes mudanças na demografia, central: “como tornar as pessoas em
(HAMEL, 2007). na tecnologia, na economia, na regula- robôs semiprogramáveis?” De lá para
Um depoimento feito por uma agri- mentação ou qualquer coisa em que a cá, surgiram novas questões e o “dilema
cultora de Canguçu/RS pode nos ajudar maioria dos agricultores simplesmente da inovação” passou a se aplicar tanto à
a exemplificar as duas preocupações an- não está prestando atenção; (2) ter uma
tecnologia quanto à gestão.
teriores ao comentar sua participação profunda empatia com as necessidades
A inovação em gestão se relaciona
num grupo de 20 propriedades rurais dos seus clientes que demandam seus
às novas maneiras de organizar recur-
daquele município. Ela chama aquele produtos (essas necessidades são aque-
sos, reunir as pessoas e formular estra-
grupo de “família dos 20, por que pas- las ocultas ou pouco claras); (3) desafiar
dogmas da agricultura. Nesse sentido, tégias, estimulando a prosperidade de
samos a conhecer as propriedades dos
um bom exemplo vem da história re- longo prazo. A inovação em gestão é um
outros e os projetos de cada um. Essa
troca de conhecimento é muito posi- cente da própria agricultura brasileira, atributo fundamental para a busca da
tiva”. Esse sentimento de “família dos a qual, no tempo recorde de quatro dé- prosperidade dos agronegócios familia-
20”, por certo, tem contribuído para cadas, projetou o País como importante res.
ampliar e agregar as capacidades huma- provedor de alimentos para mais de um Pode-se admitir que a inovação em
nas de seus membros. Este é o desafio bilhão de pessoas ao redor do mundo; gestão dependa da cultura e do clima
da inovação e do engajamento. (4) pensar o agronegócio familiar em propício ao desenvolvimento das pesso-
Ainda no âmbito das preocupações, termos do que ele possui e conhece, ou as, entre outros fatores. Mas num am-
as vantagens advindas de se saber lidar seja, seus recursos estratégicos. Em se- biente de mudanças e de forte concor-
com a informação e a gestão do conhe- guida, o agricultor deve se perguntar: o rência, como observado no mundo rural
cimento se dissipam cada vez mais rá- que mais poderíamos fazer com nossos
catarinense, a inovação em gestão é o
pido. A questão, hoje em dia, não mais recursos? (HAMEL, 2007).
único meio para o agricultor sobreviver
reside nas vantagens de informação e Os agricultores e as pessoas que fa-
no longo prazo; é o único meio de um
conhecimento possuídas pelo agricul- zem a gestão precisam inovar e ser cria-
agronegócio familiar renovar o seu con-
tor, mas em quão rápido ele mesmo é tivas e, para isso, precisam ter desen-
volvidas as habilidades anteriormente trato com a prosperidade.
capaz de produzir conhecimento novo.
Assim, a própria atuação do agricultor citadas. Na falta desses atributos e ha-
no plano das informações depende fun- bilidades, os agronegócios familiares Referências
damentalmente da sua capacidade em param de inovar e tornam-se reféns de
processar e lidar com a informação, ge- uma definição muito limitada de quem HAMEL, G. O Futuro da administração.
rando conhecimento. eles são. Rio de janeiro: Editora Campus, 2007.
As habilidades e competências que 272p.
os agricultores precisam ter para ser A importância da inovação
inovadores dependem do entendimen- em gestão MINTZBERG, H. Managing: desvendan-
to sobre a origem da inovação na ges- do o dia a dia da gestão. São Paulo:
tão de agronegócios familiares. A ino- No começo do século passado, foi Bookman Editora, 2010. 304p.

14 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


CONJUNTURA

Espécies forrageiras mais utilizadas em pastagens


na Região Oeste de Santa Catarina
Felipe Jochims¹, Antonio Waldimir Leopoldino da Silva² e Vagner Miranda Portes³

A
produção animal em Santa sanidade, combustíveis, mão de obra, condições climáticas e de solo tendem a
Catarina está alicerçada em além dos menores investimentos com se destacar quanto a sua produtividade
diferentes sistemas produtivos, instalações, máquinas e equipamentos de matéria seca e seu elevado valor
os quais apresentam custos e lucros (MATOS, 2002), porém devem respeitar nutritivo. Em última instância, essa
distintos principalmente devido aos alguns conceitos relacionados às maior qualidade e maior produtividade
valores relacionados à alimentação dos plantas, ao clima, à fertilidade do solo se observa na maior capacidade de
animais e à produtividade obtida. A e à interação desses fatores com os suporte dessas pastagens, reduzindo os
escolha do sistema produtivo que será animais. custos com alimentação, aumentando
adotado pelo produtor se dá de acordo Sabidamente, o item mais o índice da intensidade de uso da área
com as características de mercado e importante que define o sucesso ou rural e a renda dos produtores.
pelas condições de cada região. insucesso de um sistema produtivo à Com o objetivo de compreender
Usualmente, a escolha do sistema pasto é o controle da lotação animal melhor os sistemas locais, as espécies
produtivo a ser adotado é norteada na pastagem. Isoladamente, esse é forrageiras utilizadas e, com isso,
pelo valor recebido por unidade de o fato de decisão que mais afeta a desenvolver manejos visando otimizar
produto que será comercializado. No produtividade e a eficiência de uma a produção, aplicou-se um questionário
Oeste Catarinense, o principal produto propriedade leiteira, sendo possível para os extensionistas rurais da Epagri
é o leite. Nesse contexto, o sistema direcionar o manejo visando aumentar que atuam com pecuária na região
adotado deve ser compatível com o a produtividade por animal ou por Oeste de SC (UGTs 1, 2 e 9). O trabalho
valor recebido pelo produtor por litro área dentro dos limites de cada fonte consistiu de um levantamento realizado
de leite comercializado. Como o valor forrageira. Outra condição essencial junto a agentes vinculados às Gerências
que o produtor recebe pelo leite pode para que um sistema produtivo com Regionais de São Miguel do Oeste,
não justificar a adoção de um sistema base em pastagens obtenha êxito é a Palmitos, Chapecó, São Lourenço do
produtivo “intensivo” (que tem alto escolha por espécies forrageiras com Oeste, Xanxerê e Concórdia, abrangendo
impacto financeiro e que emprega alto um alto potencial de produção de um total de 91 municípios. A pesquisa
grau tecnológico) e, localmente, as matéria seca, elevada qualidade e com envolveu apenas os técnicos que atuam
propriedades têm tamanhos pequenos, uma estrutura (física e química) que a campo na área da produção animal
o sistema de produção adotado na não tenha fatores que possam se tornar com base em pastagens. O caráter
propriedade deve ser um sistema limitantes (ou limitadores) de consumo de participação foi voluntário, sendo
sustentável e competitivo, produzindo para os animais, além de suportar cargas mantido o anonimato dos técnicos que
leite com os menores custos de animais elevadas (SILVA & CARVALHO, responderam. Na ocasião, os técnicos
produção possíveis e visando à máxima 2005). assinaram um “termo de consentimento
produtividade por área, em detrimento livre e esclarecido”, permitindo a
de uma alta produtividade por animal. Espécies forrageiras mais utilização dos resultados. No total,
As características da região 69 técnicos aderiram ao trabalho,
Oeste (tamanho das propriedades, importantes na região respondendo o questionário. Essa
relevo, clima) permitem a utilização Oeste amostra representa 60% do universo
de pastagens com longa estação de de extensionistas da Epagri atuando no
pastoreio, indicando ser esse o sistema Espécies de forrageiras adaptadas Oeste de SC.
produtivo mais adequado para a região. regionalmente são uma ferramenta A questão utilizada foi a seguinte:
Esse sistema é a alternativa mais viável indispensável para sistemas de Quais são as espécies forrageiras mais
economicamente em função do menor produção de leite eficientes. utilizadas nas pastagens existentes
gasto com alimentos concentrados, Sabidamente, plantas adaptadas às em sua área de atuação? Esta foi uma

¹ Zootecnista, Dr., Epagri / Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), 89803-904 Chapecó, SC, fone: (49) 2049-7510, e-mail: felipejochims@epagri.
gov.sc.br.
² Engenheiro-agrônomo, Dr., Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc/CEO), e-mail: [email protected].
³ Médico-veterinário, Dr., Epagri / Cepaf, e-mail: [email protected].

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 15


questão aberta, sem a menção de apontando a existência desse material frios” podem apresentar uma produção
alternativas prévias. O respondente nas áreas em que atuam. O Pioneiro, reduzida. Além disso, essa elevada ocor-
deveria escrever o nome da(s) espécie(s) cultivar de capim elefante mais utilizado, rência observada para o Capim Sudão
que desejasse informar. Os resultados é uma das espécies mais importantes justifica o baixo valor observado para o
foram tabulados considerando em todas regiões produtoras de milheto, que foi 18,8%. Ao que parece,
o número total de questionários leite, apesar de existirem diversos os produtores substituíram as pasta-
preenchidos e a porcentagem de cultivares. Isso provavelmente deve-se gens de milheto por Sudão ao longo dos
vezes que cada espécie de forrageira à alta aceitabilidade pelos animais e à últimos anos, o que se deve à maior re-
foi mencionada. Observou-se que a adaptação ao clima do Estado (produção siliência do Sudão ao pastejo (ou corte)
resposta fornecida não consistia em de mais de 20t de matéria seca). e à maior rusticidade dessas pastagens
apenas uma forrageira. Sendo assim, Grande destaque também pode ser a fatores climáticos, apesar de ambas
o somatório das porcentagens das dado para a grama Catarina-Gigante cv. terem exigência de fertilidade e altas
espécies forrageiras pode ultrapassar SCS315 (missioneira-gigante; Axonopus produtividades.
100%. Dentro de cada espécie, o valor catharinensis) e para a Hemártria As braquiárias tiveram uma
percentual apresentado é referente (Hemarthria altíssima), com 43,5 e percentagem abaixo do que
ao número de vezes que a mesma foi 31,9% de técnicos que as mencionaram, era esperado para este gênero,
citada nos questionários, e não na área respectivamente. A Catarina-Gigante, considerando a quantidade de
plantada dessa pastagem. Os valores cultivar que se originou em Santa sementes negociadas anualmente
indicam a importância das espécies Catarina, é muito adaptada às condições pelas cooperativas. Ainda assim, a
na região e não em propriedades edafoclimáticas do Estado, resistente menção às braquiárias foi expressiva,
específicas. a pragas e doenças, fácil de manejar, aparecendo em 30,4% do total de
tem boa qualidade e alta aceitabilidade questionários respondidos (23 de 69).
pelos animais, além de apresentar boa Destes, em 73,9% (17 de 23) foram
Espécies forrageiras de produtividade à sombra. Já a Hemártria é apenas citadas como “braquiárias”; em
maior importância uma forrageira com um grande histórico 21,7% (5 de 23) como o cultivar Convert
nos sistemas produtivos, com grande e em 4,4% (1 de 23) como ‘MG-5’. A
A espécie mais citada nas respostas importância na década de 1990. Ainda importância das braquiárias na região
(e, provavelmente, mais difundida hoje tem bastante representatividade, só não é maior, provavelmente, devido à
em todos os sistemas de produção de principalmente por ser uma forrageira suscetibilidade dessas plantas a insetos,
leite no sul do Brasil) foi o Cynodon muito adaptada a solos úmidos e por pouca resistência a baixas temperaturas
dactylon cv. Tifton 85, presente em suportar temperaturas mais baixas que e à estrutura que se forma no dossel
98,6% das respostas sobre as espécies as outras forrageiras estivais (SILVA da pastagem ao longo do tempo
formadoras de pastagens na região de et al., 2005). Em anos frios, é uma (baraços), dificultando a apreensão de
atuação dos técnicos (Tabela 1). Além das primeiras a “verdejar” após o frio pasto pelos animais. A “vantagem” das
do Tifton 85, outra espécie do gênero (rebrote), juntamente com a Catarina- braquiárias é o relativo baixo custo da
Cynodon foi mencionada na pesquisa Gigante. semente (apesar do alto custo para
como uma importante forrageira para a Também apareceram nas respostas a implantação) e a possibilidade da
região Oeste: o cv. Jiggs. Essa bermuda as espécies de clima quente classifica- perenização, dependendo do clima
(Cynodon sp.) apresenta características das como anuais, como o Capim Sudão e do manejo, mesmo com qualidade
semelhantes ao Tifton 85 (CORRIHER & (Sorghum sudanense), milheto (Penni- questionável (regular).
REDMON, 2011), no entanto com colmos setum americanum), e também as pere- Além das braquiárias, outra pasta-
mais finos e tenros, formando menos nes, como as braquiárias (Urochloa sp.) gem que vem aparecendo em níveis
“baraços” na pastagem (estolões), e o Capim Áries (Panicum maximum). crescentes é o Capim Áries (Panicum
o que, hipoteticamente, facilitaria a O destaque das anuais fica por conta maximum), sendo citado por 11,6% dos
apreensão de pasto pelos animais e do Capim Sudão, aparecendo em qua- extensionistas pesquisados. O aumento
facilitaria o manejo da pastagem. O se metade dos questionários respondi- do interesse pelos produtores se deve
Jiggs apareceu com uma participação dos (47,8%). Esse valor indica que essa a que esse cultivar apresenta boa qua-
de 52,2% nos questionários. Essa alta forrageira é utilizada amplamente na lidade, possibilidade de perenização e
participação nas propriedades indica região Oeste de Santa Catarina, princi- boas taxas de crescimento. No entanto,
a adoção dessa grama bermuda, palmente devido a suas características cabe ressaltar que os custos para a sua
juntamente com o Tifton 85. de resistência à seca, alta capacidade de implantação são elevados (preço da se-
Outra espécie em destaque foi o rebrota e elevados valores nutricionais. mente e necessidade de bom preparo
capim elefante cv. Pioneiro (Pennisetum No entanto, como são plantas sensíveis do solo) e, além disso, a estrutura das
purpureum), com 66,7% dos técnicos a baixas temperaturas, em anos “mais plantas pode favorecer a germinação

16 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


de plantas espontâneas na pastagem Tabela 1 – Frequência de menções a espécies forrageiras formadoras de pastagens na
(ex. guanxuma (Sida sp.)), demandando macrorregião Oeste de Santa Catarina de acordo com levantamento realizado por meio de
controle químico. questionário aplicado a agentes de ATER da Epagri
Além das gramíneas em destaque, Frequência
uma leguminosa perene de estação Espécie Nome científico Ciclo
(%)
quente apareceu nos questionários
em um nível destacável (11,6%): Espécies estivais
o amendoim forrageiro (Arachis
pintoi). O amendoim forrageiro é Tifton 85 98,6 Cynodon sp. Perene
uma leguminosa perene tropical com
elevados índices qualitativos (alta Jiggs 52,2 Cynodon sp. Perene
proteína, relativamente baixo nível de
fibra e alta digestibilidade) e é utilizado Capim Pioneiro 66,7 Pennisetum purpureum Perene
principalmente em consórcio com
gramíneas, pois além de elevarem a Capim Sudão 47,8 Sorghum sudanense L. Anual
qualidade da dieta dos animais, tem
a capacidade de fixar nitrogênio no Hemártria 31,9 Hemarthria altissima Perene
solo, melhorando a produtividade da
Missioneira gigante 43,5 Axonopus catharinensis Perene
pastagem. Eventualmente, aparece em
cultivo monoespecífico, podendo ser Braquiárias1 30,4 Urochloa sp. Perene
utilizado como “banco de proteína” para
os animais, principalmente pela baixa Milheto 18,8 Pennisetum americanum Anual
possibilidade de ocorrer timpanismo
(empanzinamento). Amendoim 11,6 Arachis sp. Perene

Capim Aries 11,6 Panicum maximum Perene


Espécies forrageiras
hibernais de maior Espécies hibernais
importância Aveias2 71,0 Avena sp. Anual

Em sistemas produtivos que Azevém 62,3 Lolium multiflorum Pereniza


priorizam as pastagens como principal
fonte de alimento aos animais, faz-se Trevos3 11,6 Trifolium sp. Perene-Anual
necessário o suprimento da demanda
nos períodos em que as pastagens de Redução na participação – em desuso
clima quente reduzem (ou cessam)
a sua produção. Para suprir essa Estrela Africana 20,3 Cynodon sp. Perene
lacuna, usualmente são implantadas
(e/ou sobressemeadas) pastagens Sorgo forrageiro 8,0 Sorghum bicolor Anual
anuais de inverno. A espécie que
Quicuio 2,8 Pennisetum clandestinum Perene
tem maior relevância na região são
as aveias (Avena sp.), as quais foram
Campo naturalizado4 21,7 Várias espécies herbáceas Perene
mencionadas por 71% dos técnicos
(Tabela 1). As aveias apresentam elevada Capim Aruana 1,4 Panicum maximum Perene
produtividade e alto perfilhamento,
com boas qualidades nutricionais. Ausência
Tradicionalmente apresentam ciclo
curto a médio, ao contrário da outra Capim Kurumi 0,0 Pennisetum purpureum Perene
espécie fortemente utilizada, o azevém 1
Citadas no questionário somente como “braquiárias”: 17 aparecimentos. Convert: 5; MG-5: 1
(Lolium multiflorum), que apareceu em 2
Aveias preta e branca (Avena strigosa e Avena sativa)
62,3% das respostas ao questionário. O 3
Citado somente como “trevo”. Pode englobar trevo branco (T. repens), vermelho (T. pratense),
azevém apresenta qualidade nutricional subterrâneo (T. subterraneum) e vesiculoso (T. vesiculosum)
4
Citado nos questionários como invernadas, campo nativo, naturalizado, com grama missioneira/
semelhante às aveias, ciclo longo e jesuítica (Axonopus jesuiticus), grama forquilha (Paspalum notatum) e outras espécies herbáceas de
apresenta a vantagem de poder ser baixo porte

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 17


diferido para realizar ressemeadura pelos Capim Áries e Sudão, que condição básica para o desenvolvimento
natural da área. A desvantagem dessa aparentemente são mais adaptados ao sustentável de um sistema pecuário. Um
espécie é a sua resistência a herbicidas. clima da região e têm maior resistência dos primeiros passos é o conhecimento
Além das gramíneas, a pesquisa a cargas mais altas de animais. de quais fontes de forragem vêm sendo
verificou menção aos trevos (Trifolium Finalmente, uma espécie que se utilizadas. Posteriormente, devem-
sp), leguminosas que foram lembradas esperava nos questionários, pela grande se adequar os outros problemas
por 11,6% dos extensionistas. Assim procura por informações e mudas nas usualmente observados na cadeia
como o amendoim forrageiro, os trevos unidades da Epagri, não apareceu: produtiva: manejo incorreto das
melhoram a dieta dos animais e podem o capim elefante anão cultivar pastagens (usualmente por excesso
fixar nitrogênio no solo. Os trevos Kurumi. Os capins elefante anões de carga animal) e solos com baixa
são mais indicados para misturas em são forrageiras de alta produtividade fertilidade. O presente trabalho
pastagens de gramíneas pois, quando e elevada qualidade bromatológica colabora no primeiro aspecto apontado,
em cultivo estreme, a possibilidade de e não apresentam alongamento de ou seja, a identificação das espécies
ocorrer timpanismo nos animais é alta. entrenós. Além disso, tiveram algumas mais utilizadas na região. A partir
características melhoradas, como a deste ponto, faz-se necessário corrigir
maciez e pilosidade das folhas, no caso as demais questões, para alcançar a
Espécies em desuso – do cultivar Kurumi. Esse cultivar é uma sustentabilidade na produção (social,
perdendo importância alternativa promissora para sistemas econômica e ambiental) e seguir
produtivos com base em pasto, tendo mantendo ou aumentando o lugar de
Com o passar do tempo, as empresas como vantagem a facilidade de manejo. destaque que Santa Catarina já possui
lançam novos materiais e novos A ausência de menções talvez se deva no mercado nacional.
cultivares, sejam eles mais resistentes a ao fato de ser um material novo e,
doenças e pragas, com mais qualidade apesar de os técnicos e produtores já
e produtivos ou até mais adaptados às terem conhecimento dele (e o desejo de Referências
condições de clima e solo. Com isso, utilizá-lo para formação de pastagens),
é normal que espécies que já foram a baixa disponibilidade de mudas CORRIHER, V.A; REDMON, L.A. Bermuda
consagradas em sistemas produtivos ainda faz com que o material não seja grass Varieties, Hybrids, and Blends for
caiam em desuso. cultivado nas propriedades. Texas. 2011. Disponível em: <https://
Entre as fontes forrageiras que a g r i l i fe b o o k s t o r e . o r g / t m p p d f s /
os resultados da pesquisa apontam Considerações finais viewpdf_2935_7171.pdf>. Acesso em:
estar entrando (ou já estar) em desuso 22 nov. 2016.
estão o campo naturalizado (mistura Em sistemas de produção animal com
de espécies nativas), com 20,3% de base em pastagens, o conhecimento das MATOS L.L. Estratégia para a redução do
menções; a estrela africana (Cynodon características das plantas forrageiras, custo de produção de leite e garantia de
nlemfluensis), com 20,3%; o sorgo como sua qualidade, curva de produção, sustentabilidade da atividade leiteira. In:
forrageiro (Sorghum bicolor), com 8%; adaptação ao clima, entre outros, aliado SIMPÓSIO SOBRE SUSTENTABILIDADE
o Quicuio (Pennisetum clandestinum), a um planejamento forrageiro com base DA PECUÁRIA LEITEIRA NA REGIÃO SUL
com 2,8%; e o Capim Aruana (Panicum no consumo dos animais, é fundamental DO BRASIL. Anais... Maringá, PR: UEM/
maximum), mencionado em apenas para o sucesso técnico e econômico CCA/DZO – NUPEL, 2002. p.156-183.
1,4% dos questionários. São vários da atividade. Esses sistemas lidam SILVA, M.M.P.; VASQUEZ, H.M.;
os motivos para substituição destes com complexos processos biológicos, BRESSAN-SMITH, R.E.; SILVA, J.F.C.;
materiais. Por exemplo, as pastagens relacionados à produção e utilização de ERBESDOBLER, E.D.; JÚNIOR, P.S.C.A.
naturais já foram taxadas como pouco pastagens, que por sua vez interagem Respostas morfogênicas de gramíneas
produtivas e de baixa qualidade e, em com o solo, clima e, por fim, com os forrageiras tropicais sob diferentes
regiões de bacias leiteiras, tendem a animais. Essas interações nem sempre condições hídricas do solo. Revista
ser substituídas. No entanto, ainda são fáceis de entender, principalmente Brasileira de Zootecnia, v.34, n.5, 2005,
se mantêm por sua alta resiliência e devido à grande variedade de espécies p.1493-1504.
capacidade de “voltar” em áreas que forrageiras existentes (com cada uma
receberam pastagens cultivadas, mas respondendo de forma diferente a essa SILVA, S.C.; CARVALHO, P.C.F. Foraging
foram degradadas pelo mal manejo. interação dos fatores) e, além disso, behavior and intake in the favorable
O Capim Aruana e o sorgo forrageiro ao desconhecimento de quais são as tropics/sub-tropics. In: McGILLOWAY,
historicamente não apresentaram espécies mais importantes e para quais D.A. (Ed). Grassland: a global resource.
uma contribuição grande na região. se devem direcionar as pesquisas. Wageningen: Academic Publishers,
Ao que tudo indica, foram substituídas O entendimento desses fatores é a 2005. p.81-95.

18 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


VIDA RURAL

Hortaliça chama a atenção pela quantidade de nutrientes

U
ma árvore originária da Índia e O principal uso é como farinha da na África e na Guatemala e utilizada no
da África Tropical tem chamado folha, acrescentada em preparações Brasil. Trituradas e adicionadas à água
a atenção dos catarinenses, de pães, bolos, bolachas e macarrão. O barrenta, podem deixar a água limpa
principalmente de pesquisadores e Centro de Treinamento de Itajaí (Epagri/ em poucas horas, pois as sementes
nutricionistas, por apresentar uma rica Cetrei) vem testando uma série de contêm uma propriedade que atrai
lista de nutrientes em quantidades receitas na panificação: ao final desse argila, bactérias e sedimentos. Outro
excepcionais. É a Moringa oleifera, texto, disponibilizamos uma delas aos benefício da planta que está sendo
que apresenta, nas folhas desidratadas, nossos leitores. A única restrição é para estudado é o elevado potencial
27% de proteína (quase o mesmo que a
as gestantes, pois não existem estudos biológico, principalmente de capacidade
carne), 16 vezes mais cálcio que o leite,
que garantam a segurança no consumo antioxidante. As pesquisas sobre
12 vezes mais vitamina A que a cenoura,
e alguns apontam que a planta pode ter isso são conduzidas na Universidade
três vezes mais potássio que a banana e
efeito abortivo. Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR),
10 vezes mais ferro que o espinafre.
“No Nordeste ela já é usada na As sementes da moringa podem em Pato Branco.
alimentação escolar exatamente por ainda ser usadas para tratamento Em Santa Catarina, a moringa é
conta dessas propriedades, mas em caseiro da água, tecnologia desenvolvida cultivada comercialmente em Porto
Santa Catarina ainda é novidade”,
explica a nutricionista Cristina Ramos
Foto: Aires Mariga/Epagri

Callegari, extensionista social da Epagri


em Florianópolis. A planta faz parte das
pesquisas da Estação Experimental da
Itajaí, de onde Cristina trouxe sementes
para cultivar na Unidade de Referência
Tecnológica da Empresa, na capital.
Moringa, quiabo-de-quina e acácia
branca são alguns nomes populares da
planta, que pode chegar a 15 metros de
altura. Ela é considerada uma hortaliça
arbórea e, segundo Kinupp e Lorenzi,
que publicaram um livro sobre as plan-
tas alimentícias não convencionais no
Brasil, a moringa pode ser usada para
o consumo humano em sua totalidade:
folhas (folíolos), flores, frutos jovens
(vagens imaturas), raízes, cascas das ra-
ízes e sementes. Suas folhas são peque-
nas e as flores possuem coloração entre
branca e creme. Os frutos lembram uma
vagem de cor amarronzada.
Cristina explica que as folhas podem
ser usadas como a maioria das verduras
e o gosto lembra couve e até agrião,
levemente picante. De acordo com
Kinupp e Lorenzi, as flores podem ser
consumidas cruas ou cozidas. Os frutos
jovens poder ser raspados e cozidos
como vagem de feijão e, se estiverem
verdes, podem ser preparados de forma
similar à ervilha verde (os frutos verdes
têm sabor próximo dos aspargos,
segundo Cristina). Já as raízes podem ser
raladas para condimento semelhante à
raiz-forte. Por fim, as sementes podem
ser esmagadas para obter óleo para a Moringa, quiabo-de-quina e acácia branca são alguns nomes populares da planta
salada ou tostadas.

19
Belo, município do Vale do Itajaí. A
empresária e enfermeira Noeli Pinheiro
trouxe as sementes de Minas Gerais e
hoje tem mais de 400 pés no Sítio Flora
Bioativas. Ela comercializa todos os
produtos da planta, principalmente a
farinha da folha, que é processada na
propriedade e custa cerca de R$130,00
o quilo. Mas o produto pode também
ser encontrado em casas de produtos
naturais.
Desde 2015 a Estação Experimental
de Itajaí tem uma parceria com
Noeli para avaliação da produção da
moringa. A pesquisa, coordenada pelo
engenheiro-agrônomo Rafael Morales,
estuda a melhor época de corte e
a densidade de plantio visando ao
aumento de produtividade de folhas.
Para quem se interessa em cultivar
a moringa em casa, a orientação Pão de Moringa  açúcar, sal, moringa e ou a farinha
do pesquisador é fazer o plantio na do vegetal que optar. Misture tudo e
primavera, para que no verão a planta Receita desenvolvida pelo Centro de acrescente o óleo e a água. Amasse
possa se estabelecer plenamente. Treinamento de Itajaí (Epagri/Cetrei) bem, dando o ponto com o restante do
“Ela é de fácil cultivo e tem melhor trigo. Modele os pães colocando em
produtividade em solos com boa Ingredientes: forma untada, deixe crescer e asse em
drenagem. O plantio domiciliar deve ser 1kg de farinha de trigo forno pré-aquecido.
em área que não pegue muita sombra, 600ml de água morna
pois a moringa precisa de pelo menos 50ml de óleo vegetal Contato do Sítio Flora
oito horas de sol por dia”, explica Rafael. 2 colheres sopa de açúcar Bioativas para interessados
O espaçamento recomendado entre 1 colher sopa de sal
uma planta e outra é de meio metro. 2 colheres de sopa de fermento em adquirir os produtos da
Rafael também orienta que a poda seja biológico moringa:
anual e feita sempre no inverno, para 2 colheres de sopa de farinha de
garantir que a árvore fique mais vistosa moringa https://sitioflorabioativas.com.br/
e com uma altura que facilite a colheita   Facebook: sitio.florabioativas
das folhas, que pode ser feita em Modo de fazer:
qualquer época do ano. “Um tamanho Numa bacia coloque o trigo
bom para a poda é quando a planta reservando um pouco para dar o ponto, Referências das obras
estiver entre 1,7 e 1,8 metro”, diz. junte os ingredientes secos: fermento, citadas na matéria:
MERLIN, Nathalie. Isolamento
Nutrientes e vitaminas encontrados na farinha da bioguiado de compostos com atividade
moringa em comparação com outros alimentos (em 100g) antioxidante das folhas de Moringa
oleifera. Dissertação, UTFPR, 2017.
Disponível em: <http://www.utfpr.edu.
Moringa Leite Espinafre Banana Cenoura br/patobranco/estrutura-universitaria/
diretorias/dirppg /pos-graduacao/
Cálcio 2003mg 120mg m e st ra d o s / p p gt p / d i s c e nte s / P B _
PPGTP_M_MerlinNathalie_2017.pdf>
Ferro 28,2mg 2,7mg
KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas
Alimentícias não Convencionais (PANC)
Potássio 1324mg 358mg no Brasil: guia de identificação, aspectos
nutricionais e receitas ilustradas. São
Vitamina A 16,3mg 1,3mg Paulo, Instituto Plantarum de Estudos
da Flora, 2014.

20 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


Foto: Silvia Liebert

REPORTAGEM

Sem ferrão e com lucro


A meliponicultura, ou criação de abelhas sem ferrão, vem se firmando
como uma importante atividade econômica para agricultura catarinense e
promove ganhos ambientais, além de ajudar na produção de alimentos

Gisele Dias – [email protected]

21
Foto: Aires Mariga/Epagri
O
s meliponíneos, conhecidos se dedicam a multiplicam
como Abelhas Sem Ferrão (ASF), colônias para iniciar ou
abelhas nativas ou indígenas, ampliar meliponários. “As
habitam o planeta há pelo menos abelhas nativas e as matas
60 milhões de anos. Nessa trajetória possuem estreitas relações
enfrentaram e superaram todos os ecológicas, o que as torna
tipos de desafios, para finalmente dependentes umas das
encontrarem o ser humano moderno outras”, justifica.
que, com a sua ganância extrativista A meliponicultura vem
que destrói matas, quase conseguiu ganhando impulso no Brasil
extinguir esses pequenos animais. Mas nos últimos 25 anos, graças
a história não acaba aí. Como numa à evolução da tecnologia
novela, o enredo deu uma reviravolta que permitiu aprimorar
surpreendente e agora os humanos, os manejos e também aos
antigos inimigos, vêm se tornando resultados de estudos que
protetores desses seres. Além de revelaram a qualidade do
apaixonante, a meliponicultura, que é a mel. Em Santa Catarina
criação racional de abelhas sem ferrão, ocorrem naturalmente
se firma cada vez mais como uma aproximadamente 35
atividade rentável para a agricultura espécies de abelhas
familiar catarinense. sem ferrão, muitas delas
É fácil justificar tanta admiração encontradas somente em
por esses bichos. Elas são dóceis, algumas regiões do Estado.
não costumam atacar seus criadores. As Mirins, Mandaçaia,
Abelhas nativas constroem discos de crias dentro das
Produzem cera, própolis e mel com Jataí, Canudo, Guaraipo
colmeias
propriedades medicinais e cosméticas e Bugia estão entre as
surpreendentes. A multiplicação mais comuns no território
racional e venda de suas colônias é uma catarinense, as duas
polinizadora das abelhas nativas é ainda
ótima alternativa de renda no campo. últimas tendo sido salvas da extinção
mais importante. Thaisa Francielle
E, o melhor, são animais admiráveis graças às técnicas de criação racional.
Topolski Pavan Batiston, zootecnista e
por sua organização e capacidade Estima-se que no Brasil existam mais
mestranda na área pela Universidade do
produtiva. “Elas são tão perfeitas e de 400 espécies, sendo que mais de
Estado de Santa Catarina (Udesc), conta
fazem um trabalho tão bonito”, resume 40 já são largamente criadas. Elas se
que um estudo realizado no Estado
Eduardo Dellangelo, meliponicultor de caracterizam por viver em colônias mostrou que a flor de macieira, devido a
Biguaçu, que com singeleza justifica o e apresentar o aparelho ferroador características de seu pólen, é polinizada
amor que tem pelas diversas espécies atrofiado. basicamente por abelhas, entre elas as
que cria nas 120 colmeias que mantém
sem ferrão. Segundo dados do Centro
em sua propriedade. Polinização de Socioeconomia e Planejamento
Essa atividade que ganha cada vez
mais adeptos em Santa Catarina tem Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa), em
Entre os diversos “serviços” que as 2017 Santa Catarina respondeu por
esse nome complexo, meliponicultura, abelhas nativas prestam ao ser humano,
mas é simples e prazerosa. A Epagri 50,2% da produção brasileira de maçã.
talvez a polinização seja o menos visível Foram 523,5 mil toneladas colhidas da
vem trabalhando de forma crescente
e de maior valor social, ambiental e fruta, num valor bruto da produção de
para disseminar a prática, que já é
econômico. As abelhas constituem o R$ 891,4 milhões, uma atividade que
responsável por ajudar a compor a
grupo mais importante de polinizadores envolve 2.992 produtores
renda de milhares de famílias rurais no
do mundo. Estudos indicam que 87,5% Joyce Caroline da Silva Teixeira,
Estado.
“O produtor tem que ter consciência dos vegetais com flores dependem da engenheira-agrônoma e mestre em
ambiental, não pode querer criar polinização realizada por algum tipo ciência animal pela Universidade
abelhas nativas só por dinheiro” de animal. Pesquisadores estimam que Federal do Pará (UFPA) diz que o cultivo
alega Ivanir Cella, chefe da divisão 35% da produção mundial de alimentos de tomate também está intimamente
de estudos apícolas da Epagri. Ele depende de polinizadores e as abelhas ligado ao trabalho das abelhas sem
explica que o meliponicultor atendido atuam como agentes de polinização em ferrão. Segundo ela, a flor do tomateiro
pela Epagri é orientado a manter o cerca de 75% das espécies cultivadas no precisa de vibração em suas anteras
foco conservacionista, mantendo e planeta. Elas podem aumentar em até para liberar os grãos de pólen. Como
reestabelecendo populações dessas 96% a produtividade em culturas que a Apis mellifera – que é a abelha com
abelhas em seu habitat natural e dependem de animais para polinização. ferrão que conhecemos – não vibra,
comprando colmeias de pessoas que Para Santa Catarina, a função resta às nativas cumprir essa importante

22 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


função. “O morango é outra fruta que

Foto: Silvia Liebert


é beneficiada pelas abelhas nativas”
destaca ela, explicando que as Jataí,
Mandaguari, entre outras, cumprem
com esmero esse trabalho na flor do
morangueiro.
“A busca das abelhas por diferentes
fontes alimentares é o que as torna
eficientes e indispensáveis para o serviço
de polinização”, descreve a mestranda
Thaisa. Segundo ela, as abelhas nativas
têm maior eficiência para polinização
de muitas culturas, o que se explica
por características específicas destes
animais, como comportamento e
morfologia.

Mel Polinização é um trabalho das abelhas fundamental para a produção de alimentos

Não é só na polinização que as abelhas nativas se diferem


de suas parentes com ferrão. O mel também é singular, mais Foto: Rafael Censi/Epagri

líquido, tem “sabor cítrico e odor inigualável”, descreve


Gisele de Campos Ferreira, bacharel em ciência e tecnologia
de alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e estudiosa do tema.
Contudo, não é seu sabor peculiar que torna esse mel tão
especial, mas sim suas qualidades terapêuticas. Populações
indígenas que habitavam o Brasil antes da ocupação
europeia já usavam esse bálsamo para combater doenças da
pele e do sistema respiratório, curar feridas e até tratar males
oftalmológicos.
A forma de armazenamento do mel das abelhas sem
ferrão, em potes de cerume feitos com cera e própolis, faz
dele um produto diferente, já que a Apis armazena sua
produção em favos compostos apenas por cera. De acordo
com a zootecnista Thaisa, muitos estudiosos acreditam que
existe grande probabilidade de que os elementos fitoquímicos
da própolis sejam difundidos no mel das nativas durante
o período de armazenamento nos potes, conferindo-lhes
propriedades antibacterianas, antifúngicas e antivirais. “A
fonte de coleta do néctar também pode alterar a capacidade
antimicrobiana do mel”, revela a pesquisadora.
Todas essas propriedades medicinais ganham ainda mais
repercussão nesses tempos em que se proliferam bactérias
resistentes a antibióticos sintéticos e semissintéticos. “O mel
atualmente vem tendo destaque por ter sido identificado
como uma alternativa para sensibilizar microrganismos
resistentes a antibióticos, frente à preocupação generalizada
pela crescente emergência de bactérias resistentes”, alerta
Thaisa.
O biólogo Harold Brand é consultor da Associação
Paranaense e Apicultura (APA) e meliponicultor com mais de
30 anos de experiência. Em seus estudos, “ainda incipientes”,
relata que já conseguiu desenvolver produtos de beleza
capazes de tirar manchas e rugas da pele. Ele relata o uso do
mel até para fins veterinários, principalmente no tratamento Colônias de abelhas nativas são em geral menores que as de Apis
da catarata, um mal que causa opacidade parcial ou total do
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 23
cristalino do olho ou de sua cápsula,
Foto: Aires Mariga/Epagri

podendo levar à cegueira. Relatos


já revelavam o uso desse mel para
combate da catarata entre os indígenas
brasileiros.
O biólogo conta ainda que
análises químicas da própolis da Jataí
assinalam a presença de quatro grupos
de substâncias: terpenos, fenóis,
alcaloides e os derivados como os
glicosídeos. “Pelas propriedades da
própolis de Jataí, fica evidente que
elas podem entrar na composição de
vários produtos, principalmente nos
da indústria de cosméticos”, avalia
Harold. Ele acredita em potencial
para produção de pomadas, xampus,
O belo ninho das abelhas Mirim-Guaçu sabonetes líquidos, cremes, protetores
solares, cicatrizantes, conservantes de
alimentos, bactericidas, anestésicos,
entre outros.
Foto: Rafael Censi/Epagri

Contudo, a baixa oferta de mel e


de própolis produzidos por abelhas
nativas ainda é um empecilho para
a produção de medicamentos ou
cosméticos em larga escala, lamenta
Harold. Uma colmeia de Apis produz
em média 10kg de mel por safra no
Brasil. Em Santa Catarina essa produção
ficou em 25Kg por colmeia na safra
2016/2017, comercializada ao preço
médio de R$13,00 o quilo. Já as abelhas
nativas têm uma produção menor,
em alguns casos de apenas 1 litro por
safra, dependendo da espécie. Isso faz
do produto uma raridade, alcançando
altos preços. Segundo Joyce, um litro
Bugias protegendo a entrada da colmeia de mel de abelha sem ferrão custa
entre R$120,00 e R$300,00 no mercado
nacional.
Foto: Aires Mariga/Epagri

Colmeias
Nem só da comercialização do
mel e derivados vivem aqueles que
buscam retorno financeiro com as
abelhas nativas. A venda de colônias
multiplicadas responde pela maior
parte da formação da renda dos
meliponicultores de Santa Catarina. É
um nicho de negócio que, além de dar
lucro ao meliponicultor, evita a retirada
de ninhos da natureza.
É o que faz Eduardo Dellangelo,
que há cinco anos cria abelhas nativas
no Meliponário Biguaçu, na Grande
O meliponicultor Eduardo já passa seus conhecimentos para o filho Nicolas Florianópolis, e se dedica a vender

24 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


enxames para quem quer começar ou

Foto: Rafael Censi/Epagri


expandir uma criação. Eduardo vende
de 10 a 30 colmeias por mês e os
valores vão de R$120,00 a R$600,00
cada, dependendo da espécie.
Na propriedade de 14 hectares
do agricultor familiar Valério Laureth
Defrein, em Armazém, a venda de
colônias de abelhas nativas responde
por cerca de 60% da renda anual.
Ele, que também cultiva eucaliptos
e cria gado leiteiro, não esconde a
preferência por essa atividade com que
convive desde criança. Há 17 anos ele
resolveu lagar a fumicultura por causa
do uso excessivo de agrotóxicos, e
passou a investir profissionalmente na
meliponicultura. Rainha em um ninho de Guaraipo
“Hoje a procura (por enxames)
é maior que a oferta”, revela o
meliponicultor, que vende entre 300
e 350 por ano, num valor que pode
sem ferrão encanta crianças e adultos. Futuro
Eduardo é um desses que não retira
variar entre R$ 80,00 e R$ 350,00, de mel ou outro produto dos enxames, Apesar de suas vantagens
acordo com a espécie de abelha. Seu seu prazer é observar a atividade diária econômicas e ambientais, o futuro da
objetivo é que em alguns anos possa desses pequenos animais que prezam meliponicultura ainda está ameaçado
sobreviver exclusivamente da atividade,
tanto pela organização. Harold conta pela falta de uma legislação adequada
como fazem alguns de seus colegas
a história de um homem de Blumenau para a prática da atividade no Brasil,
da Associação de Meliponicultores da
que foi presentado com uma colmeia segundo afirmam pesquisadores como
Encosta da Serra Geral (Amesg, SC).
“Está bem forte a atividade na região”, de nativas. Ao observar o balé dos Harold e Joyce. Mas esta barreira é
avalia, satisfeito com os lucros, para pequenos insetos na rotina do enxame apenas mais um capítulo a ser superado
finalizar dizendo que “não dá nem ele teria conseguido superar os sintomas por nossas pequenas heroínas. Depois
saudade do tempo do fumo”. de psicose maníaco depressiva. “Um de reviravoltas emocionantes, essa
As colmeias de abelhas nativas pequeno manejo com abelhas elimina novela parece caminhar para um final
são em geral menores que as de o estresse que a sociedade nos impõe”, feliz. A história chega a sua reta final com
Apis. Enquanto estas últimas formam afirma o biólogo. um desafio reservado a uma geração de
comunidades que chegam a ter 80 mil
indivíduos, enxames de nativas têm
Foto: Aires Mariga/Epagri

entre 200 e 7 mil indivíduos. A Irapuã


é uma abelha nativa que foge desta
característica, com colmeias que podem
chegar a 80 mil membros.
Como são menores, as colmeias de
abelhas nativas são também mais frágeis,
podendo ser extintas rapidamente
por uma doença ou ataque inimigo.
Por isso, seu manejo exige atenção
e cuidados, porém demanda menos
esforço físico quando comparado à Apis.
O maior investimento é com a compra
dos enxames, já que os equipamentos
para manejo podem ser adaptados de
ferramentas usadas no dia a dia. Com
conhecimento e orientação técnica
adequada é possível manter colmeias
de abelhas nativas sadias e produtivas Espécies como a Droryana constroem na natureza ninhos em ocos de árvores
sem muito esforço ou dinheiro.
A rotina da colmeia de abelhas

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 25


Foto: Rafael Censi/Epagri

A pequena mancha branca é um ovo em um ninho de Bugia

homens e mulheres capazes de conciliar


formação de renda e cuidados com o Pronto-socorro
meio ambiente. Mas é indispensável
Há 63 anos Abrelino Parizotto tem uma relação de extremo
que haja um engajamento cada vez companheirismo com a abelhas sem ferrão. Essa história teve início quando
maior de universitários, pesquisadores ele tinha apenas 10 anos e começou uma criação na fazenda do pai, no Rio
e técnicos que atuam na assistência Grande do Sul.
técnica e extensão rural. Aos 15 foi estudar num colégio interno em outra cidade e precisou se
afastar das amigas. Ficava triste quando retornava para casa e seu irmão
Contudo, a esperança de um tinha chupado o delicioso mel das colmeias. Foi por isso que, três anos
futuro mais seguro para as abelhas depois, ao mudar novamente de endereço, resolveu levar suas colmeias,
nativas está mesmo nas mãos de gente que foram com ele para o exército e para outras residências, até chegar em
como Victor, de 20 anos, que sente Chapecó, em 1966. “Na mudança trouxe as minhas Mirins em duas caixas
apodrecendo e até com vergonha do tipo de caixas”, conta.
prazer em ajudar seu pai Eduardo nos
Nessa cidade do Oeste Catarinense Abrelino se estabeleceu como
afazeres do Meliponário Biguaçu. Ou contador, mas nunca largou as companheiras de jornada e foi expandindo
ainda do pequeno Nicolas, também sua criação por terrenos que adquiriu ou lhes foram emprestados. Com a
filho do Eduardo, que com apenas prática, foi aprendendo a identificar sintomas de problemas nas colmeias
sete anos já tem suas três colmeias e desenvolvendo métodos para recuperar enxames, evitando a morte dos
animais. Observando a rotina de suas amigas ele tornou-se um expert no
de abelhas nativas, pelas quais é o assunto, capaz de identificar até um ritual de luto realizado pelas abelhas
único responsável. Tem também o quando a rainha morre.
Carlos, o Gabriel e a Franciele, filhos Os meliponicultores são colaborativos por natureza, talvez tenham
do agricultor Valério. Apesar de ainda aprendido isso com as abelhas. Mas o fato é que Abrelino não se contentou
em ficar com seu conhecimento só pra si e fez questão de compartilhá-lo
crianças, já possuem suas próprias
com os colegas de atividade. Hoje ele é considerado um “pronto-socorro”
colmeias e cuidam delas com esmero. para a abelhas nativas da região, está sempre disponível para identificar um
Eles e todos os que se interessam pela mal que atinge alguma colmeia, apontando o manejo adequado para salvar
meliponicultura podem continuar as debilitadas.
contando com a Epagri que, apesar de Ele faz esse trabalho nas suas horas de folga e não cobra nada pela
“consulta”. Faz pelo amor que nutre pelos animais, pelo mero prazer de ver
não ser protagonista, vem fazendo seu
uma colmeia saudável e produtiva. “Cada louco com sua mania”, resume
papel para garantir um final feliz para com o bom humor típico de quem está de bem com a vida.
essa história de superação.

26 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


Foto: Aires Carmem Mariga/Epagri

REPORTAGEM

Mais eficiência
na produção de leite
Sistema de criação de terneiras da Epagri vem provando que manejos
simples e de baixo custo humanizam o trabalho no campo e resultam em
vacas mais produtivas e com leite de melhor qualidade e valor no mercado

Isabela Schwengber – [email protected]

S
anta Catarina ocupa a quarta de filhas mais longevas e rentáveis nos criadas em um sistema adequado,
posição no País em produção de rebanhos leiteiros. Esse deve ser um dos com atenção ao local de criação, à
leite: de acordo com a Epagri/ principais objetivos dos produtores de nutrição e à sanidade, serão vacas mais
Cepa, em 2016 foram produzidos 3,1 leite”, explica o  engenheiro-agrônomo produtivas”, salienta o extensionista.
bilhões de litros. Desse número, cerca Carlos Mader Fernandes, extensionista O sistema de criação de terneiras
de 75% vem do Oeste Catarinense, rural da Epagri na região de Concórdia, preconizado pela Epagri é adaptado
considerado a grande bacia leiteira do no Oeste Catarinense, coordenador do à proposta da Empresa para o
Estado. Desde 2010, um novo sistema programa Pecuária. desenvolvimento sustentável da
de produção na região está resultando Ele esclarece que é considerada uma pecuária, baseada no uso de pastagens
em vacas ainda mais produtivas, o boa vaca aquele animal que apresenta
perenes de alto potencial produtivo.
que deve levar o Estado a subir nesse alto rendimento de leite com alta
Atualmente, mais de 6,2 mil famílias
ranking. A tecnologia traz resultados porcentagem de gordura e proteína,
catarinenses conhecem esse sistema,
que vão além da produtividade: os eficiência na transformação de pasto em
que demanda um manejo simples
animais são mais saudáveis, o produtor sólidos de leite e longa vida produtiva
é melhor remunerado e o leite é de com alta eficiência reprodutiva, além de e com pouca mão de obra, reduz o
melhor qualidade. resistência a doenças e à mastite. custo de produção e a mortalidade
O segredo do sucesso está no Para que o animal adulto tenha dos animais, melhora a sanidade dos
cuidado com as terneiras, que serão essas características, os cuidados no animais e a qualidade do leite e faz
as vacas do futuro. “A criação de início da vida são determinantes. Não com que as fêmeas atinjam maturidade
terneiras deve ser encarada como um basta que o animal tenha boa genética para cobertura já com 15 meses. Esse
investimento financeiro futuro, onde se outros fatores de ordem ambiental e sistema está sendo implantado como
o incremento da lucratividade está nutricional não colaboram para que ele piloto no Oeste Catarinense e em breve
condicionado principalmente à geração desenvolva suas qualidades. “Terneiras será levado para outras regiões.
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 27
Qualidade do leite
e melhor preço no

Foto: Aires Carmem Mariga/Epagri


mercado
No novo sistema, o cuidado começa
antes do parto. Na propriedade da
família Voloszyn, em Concórdia, 21
dias antes de parir as vacas ficam em
piquete separado com alimentação
especial, à base de pastagens, silagem,
feno e ração pré-parto. “Acompanhar o
parto é prioridade aqui em casa”, diz o
filho Matheus, que atualmente cria 64
animais da raça Jersey na propriedade
de 28 hectares, juntamente com os pais.
A família Voloszyn aderiu ao sistema
de criação de terneiras em 2009 e
dobrou a produção de leite por hectare.
Mas aumentar a produção não é o fator Até 90 dias, as terneiras ficam em piquetes individuais e se alimentam de leite e de ração
mais importante para eles: o diferencial
é produzir com menor custo e colocar
um leite com mais qualidade e mais
competitivo no mercado, apresentando
maior porcentagem de gordura e
Foto: José Luiz Fontanella/Epagri

proteína, com menor contagem de


células somáticas e bacterianas. “Até
2009, para cada real recebido pelo leite,
nosso custo era de R$0,78. Hoje está em
R$0,54. Nossa meta é chegar a R$0,40”,
afirma Matheus. O jovem produtor
segue à risca as recomendações
da Epagri e hoje sua propriedade é
referência para as demais propriedades
leiteiras da região.
Lá a criação passa por três fases
distintas: a primeira vai até 90 dias,
quando as terneiras ficam em piquetes
individuais de 70m², que contêm água
e um abrigo (casinha) com ração e sal
mineral específicos para a idade. Elas
são amamentadas no período, mas a
quantidade diária vai diminuindo com
o tempo, começando com cinco litros
e terminando com três. “O objetivo é Dos 90 aos 150 dias, os animais recebem feno à vontade e ração limitada
que os animais comam mais ração nos
últimos dias, pois a proteína dela é mais
importante para o crescimento”. Nessa quatro piquetes, onde são fornecidos terneiras passam a dividir piquetes
fase os animais ocupam a área nobre da feno à vontade, sal mineral e ração com coletivos, mas com cochos individuais,
propriedade, que é ao lado da sala de 18 a 20% de proteína. A ração é limitada: onde recebem de 0,5kg a 1,5kg de
ordenha. são oferecidos 1,0kg de manhã e 1,0kg ração. Nessa fase são 14 piquetes,
A segunda fase vai dos 90 aos 150 à tarde, pois o objetivo é que o animal onde elas ficam dois dias em cada um,
dias. As terneiras continuam em piquetes não engorde muito. “Nessa fase, é retornando após 28 dias. O feno e a
individuais, que agora aumentam para importante que o animal se alimente de água são à vontade. Com esse método,
180m², com abrigos dimensionados e feno para desenvolver o rúmen. Como os animais da propriedade dos Voloszyn
planejados de forma diferenciada, que o feno não tem água, fornece mais estão prontos para a inseminação
podem ser divididos em dois ou em energia que o pasto”, reforça Matheus. artificial aos 15 meses. “Nossas vacas
quatro partes para atender de dois a Ao completar cinco meses, as criam com dois anos, quatro meses

28 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


antes de quando não usávamos esse diarreias intensas ou outros problemas produtivos à base de pastos, mais
sistema”, diz. digestivos, doenças relacionadas com o resistentes e com alta sanidade.
Confirmada a prenhez, os animais ambiente e o manejo”, explica Mader Na propriedade de Matheus isso é
passam a ocupar o mesmo piquete O sistema de criação incentivado visível: a produtividade passou de 6 mil
das vacas secas. Eles são manejados pela Epagri está provando, com sucesso, litros anuais por hectare para 13 mil.
num sistema de piquetes próprios, com que a mortalidade de terneiras está “Não melhoramos apenas a forma de
mudança de área a cada dois dias. Para caindo, as taxas de crescimento estão criar as terneiras. Hoje conseguimos
as vacas em lactação, Matheus separa melhorando, há maior eficiência na aumentar o número de animais por
dois piquetes para o dia (uma para a transformação de pasto em leite, os hectare porque aumentou a quantidade
manhã e um para a tarde) e outro para a
animais apresentam maior eficiência de pasto, já que começamos a cultivar
noite. Neles o produtor cultiva pastagem
produtiva e reprodutiva, estão mais variedades produtivas. Nossa meta
jiggs, capim pioneiro e missioneira-
adaptados às condições dos sistemas é chegar a 18 mil litros por hectare
gigante consorciada com amendoim
forrageiro, todas sobressemeadas com
aveia no inverno. Foto: José Luiz Fontanella/Epagri

Os piquetes são planejados de


acordo com o potencial produtivo e
conforme o período: os de dia são de
1,2 mil m² e os da noite são de 900m².
“O objetivo é que o animal se alimente
bem nessa fase e caminhe pouco para
não perder energia, principalmente à
noite. Nos piquetes da noite usamos o
capim pioneiro, que produz mais massa
verde e dessa forma alimenta mais”.
Os animais retornam ao piquete em 28
dias, quando o pasto está em condições
ideais para o pastejo.

Terneiras mais saudáveis,


vacas mais produtivas
Antes de conhecer esse sistema, Ao completar cinco meses, os animais ocupam piquetes coletivos,
Matheus criava as terneiras separadas mas a alimentação é individual
até os 90 dias, quando tudo ia bem.
O problema começava quando elas
Foto: José Luiz Fontanella/Epagri

passavam a compartilhar o mesmo


piquete. “Elas competiam por comida,
umas dominavam as outras, umas
ganhavam peso, outras não”.
Outra diferença que o produtor
percebeu no novo sistema é o aumento
da imunidade. A diarreia nos primeiros
dias de vida também deixou de ser
problema. Segundo uma pesquisa
realizada pelo Sistema Nacional de
Monitoramento da Saúde Animal dos
Estados Unidos, em 2007, estima-
se que 75% das perdas até um ano
de idade ocorram durante o período
neonatal, ou seja, até 28 dias de idade.
Os estudos concluíram que a taxa
média de mortalidade de terneiras
até o desmame foi de 8% em fazendas
leiteiras naquele ano, quando a meta é
que seja menor que 3%. “Desse total Família de Concórdia produz leite com custo menor e com preço melhor no mercado
de mortes, 56,5% foram devidas a
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 29
por ano. Isso não é tão difícil, pois a Antes os animais eram criados até 90 ganho de peso nesses 150 dias.
propriedade já está estruturada. Outro dias em galpão fechado, todos juntos, O dimensionamento dos piquetes
plano para o futuro é fazer irrigação em sem contato com o pasto, alimentando- é determinado pela espécie forrageira
uma área de 4,5ha, o que vai aumentar se de leite e de ração superproteica. utilizada e pela raça da terneira.
ainda mais a produtividade do pasto”, Depois desse período se juntavam aos Para a grande maioria das regiões do
relata Matheus. demais no pasto e logo começavam Estado recomendam-se gramíneas
Esse sistema de criação de terneiras a perder peso. Hoje eles nascem e consorciadas com leguminosas de alto
tem mudado não apenas a realidade da já vão para piquetes individuais até potencial produtivo. Os irmãos cultivam
propriedade de Matheus. Para os jovens completar cinco meses, com abrigo tífton e missioneira-gigante no verão,
irmãos do município de Arvoredo, para se proteger do sol e da chuva como sobressemeadas com aveia, azevém e
Vinícius e Eduardo Dedonatti, ambos também faz o Matheus, de Concórdia. trevo no inverno. A propriedade conta
de 26 anos, foi fundamental para que A ração permanece nesse período, atualmente com 48 vacas das raças
permanecessem no campo. E com alta mas com uma porcentagem menor de Jersey, Holandesa e cruzamento de
lucratividade. proteína, além do feno. ambas.
O piquete das terneiras em
Alimentação recomendada de acordo com a fase da amamentação (até 90 dias) é de 70m².
criação As que estão com idade de 90 a 150 dias
ficam em uma área de 400m² e recebem
ração e feno, como na propriedade
Idade do animal Piquete Alimentação de Matheus. “Nessa segunda fase é
Até 90 dias Individual, de 70m² Leite e ração pré-inicial muito importante que a terneira tenha
Pasto, feno à vontade e ração um consumo de cerca de 2,5kg de
De 90 a 150 dias Individual, de 180m² ração com 18% de proteína. Também é
limitada
importante realizar uma desverminação
Pasto, feno à vontade e ração no período”, explica Vinícius.
De 6 a 16 meses Coletivo
limitada “Nesse novo sistema, como
Pasto de boa qualidade e sal as terneiras já sabem pastar, elas
17 a 24 meses Coletivo
mineral à vontade continuam com ganho de peso, ao
contrário da nossa antiga experiência.
Pasto de baixa qualidade em
Antes elas demoravam três anos para
21 dias antes do proteína e alto teor de fibra, feno,
Grupo específico parir; agora levam dois”, comemora
parto silagem e ração com sal mineral
Vinícius. Segundo Mader, a meta
pré-parto.
principal do sistema já foi alcançada
pelos irmãos: fazer com que o animal
Mudar para permanecer na Segundo Carlos Mader, o antigo atinja o peso ideal para cobertura com
sistema adotado na propriedade 15 meses: 250kg para a Jersey e de
propriedade demandava um maior investimento 350 a 360Kg para a Holandesa. “Atingir
inicial e grande necessidade de mão essa meta também tem relação com a
Mudar a forma de produzir leite foi de obra. “A sanidade das terneiras qualidade da ração consumida. Após o
decisivo para os irmãos Dedonatti. Uma também ficava comprometida: elas desmame das terneiras, o consumo de
crise na gestão da propriedade, em apresentavam alta incidência de pasto é limitado porque não atende
2010, fez a dupla pensar em migrar para diarreia e de problemas respiratórios, as exigências nutricionais dos animais,
outra atividade e até mesmo a desistir o que aumentava os custos sanitários, sendo importante o fornecimento
do campo. “Foi quando o extensionista tanto na fase de aleitamento como na de ração concentrada”, afirma o
local da Epagri nos convidou para uma puberdade. A individualização diminui extensionista.
palestra sobre bovinocultura de leite. a disseminação de doenças porque A próxima fase na criação também
Aquele evento foi um divisor de águas reduz o contato das terneiras com os é importante para os resultados
para a família”, relata Vinícius. patógenos. Além de permitir o controle alcançados pelos irmãos Dedonatti.
A mudança começou com o manejo do instinto das terneiras mamarem Nessas etapas, as terneiras e as novilhas
dos animais, que antes ficavam todos umas nas outras, o que pode causar são criadas em grupo e divididas por
juntos no pasto. Com orientação da perdas de tetas funcionais provocadas idade: um grupo é formado por animais
Epagri, a área de 12,4 hectares foi por mastites adquiridas nessa fase”. de seis a 16 meses e o outro de 17 aos
dividida em 75 piquetes, a pastagem foi Isso é confirmado pelos produtores. 24 meses.
melhorada e os animais começaram a Segundo eles, a diarreia era muito Dos seis aos 16 meses de idade as
ganhar mais peso. terneiras têm acesso a um sistema de
comum e a transmissão de um para o
Mas os maiores resultados vieram piquetes, com água e sombra, bem
outro era rápida. “Hoje, quando ocorre,
a partir de 2016, com a implantação do como a um estábulo, onde recebem
é individualizado e de fácil tratamento”.
novo sistema de criação de terneiras. ração concentrada e feno de forma
Os irmãos também perceberam maior

30 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


individualizada. O tempo que os animais
permanecem no piquete vai depender

Foto: Aires Carmem Mariga


da altura da pastagem: eles devem
entrar quando as plantas atingirem no
máximo 25cm e sair quando a pastagem
chegar a 7cm. “Isso leva de dois a três
dias, pois depende da época do ano e
da fertilidade do solo”, explica Vinícius.
Já as vacas e novilhas na fase de
pré-parto recebem pasto com baixa
qualidade de proteína e alto teor
de fibra, feno, silagem e sal mineral
pré-parto (sem sódio). As vacas em
lactação recebem a melhor pastagem
da propriedade, silagem (quando
necessário), feno e ração.
Mader reforça que o produtor tem
que ser especialista em produção de
terneiras, porque animais adquiridos de
fora da propriedade costumam trazer
problemas dos locais de origem. Essa No novo sistema, tudo é registrado para alimentar uma planilha de custos
recomendação os irmãos Dedonatti
seguem direitinho, pois eles passaram
por uma experiência muito negativa
em 2010: dos sete animais adquiridos, do lucro, por isso nos endividávamos. a produção de leite, os planos atuais
seis morreram de amarelão (estresse da A gestão financeira da propriedade é são bem ambiciosos: o sonho é
mudança). fundamental”, diz o jovem agricultor, adquirir mais área para chegar a 300
que afirma ter hoje um trabalho com animais, mais do que quatro vezes o
menos esforço físico e muito mais número atual. Enquanto isso, a dupla
Profissionalização, gestão planejamento. “Às vezes me pergunto segue se profissionalizando: Eduardo é
financeira e planos para por que não começamos a usar esse engenheiro-agrônomo recém-formado
aumentar a produção sistema antes. Hoje temos uma vida pela Universidade Federal da Fronteira
diferente, não trabalhamos apenas em Sul, em Chapecó, e Vinícius pretende
Com todas as mudanças, a produção função das contas pra pagar”. investir em algum curso na área de
de leite na propriedade dos irmãos Para quem pensou em abandonar veterinária.
saltou de 400 litros/dia para 700,
alcançando uma média de 12,6 mil
litros por hectare por ano, bem perto
Foto: Aires Carmem Mariga

da meta da Epagri, que é de 15 mil.


“Considerando que a propriedade
implantou este sistema de criação
de terneiras no ano passado, esses
números são excelentes”, comemora o
extensionista.
Vinícius aponta outras mudanças
além da produtividade. “Uma
melhora que percebemos se refere
ao desenvolvimento dos animais: dá
para dizer que melhorou cerca de 50%.
Eles estão atingindo a puberdade mais
jovens e mais pesados, apresentando
melhores índices de reprodução.
Também temos menor taxa de descarte
ou perda de animais”.
O produtor acompanha essas
transformações na ponta do lápis: tudo
é registrado para alimentar uma planilha
Em um ano, a produção de leite dos irmãos Dedonatti saltou de 400 litros/dia para 700
de custos. “Antes não tínhamos noção

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017 31


SEÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA

Informativo técnico
Métodos alternativos para o controle de fitopatógenos habitantes do solo: parte II –
controle biológico
33 Alternative methods for the control of soilborne plant pathogens. Part II - biological control
Alexandre Visconti, Fábio Martinho Zambonim, Keny Henrique Mariguele, Alessandro Borini Lone

Identificação, bioecologia e estratégias de monitoramento da mosca-da-grama-bermuda:


uma espécie-praga exótica invasora no Brasil
37 Identification, bioecological aspects and monitoring strategies of Bermudagrass stem maggot: an invasive exotic
pest species in Brazil
Leandro Prado Ribeiro, Alexandre Carlos Menezes Netto

Nota Científica
Avaliação físico-química e sensorial de geleias de goiaba-serrana (Acca sellowiana)
41 Physico-chemical and sensory evaluation of Feijoa’s jelly (Acca sellowiana)
Karine Louise dos Santos, Dilma Budziak, Gustavo Eduardo Pereira, Beatriz Mendes Borda, Elenice Bernardina Coelho de Almeida

Germoplasma
SCS374 Litorânea: novo cultivar de alface lisa selecionado no sistema orgânico de produção
45 SCS374 Litorânea: new looseleaf lettuce cultivar selected in the organic production system
Rafael Gustavo Ferreira Morales, Euclides Schallenberger, Rafael Ricardo Cantú, Alexandre Visconti, Marcelo Mendes De Haro

Novo cultivar de tomate: SCS375 Kaiçara


New tomato cultivar: SCS375 Kaiçara
50 Euclides Schallenberger, Rafael Ricardo Cantú, Rafael Gustavo Ferreira Morales, José Angelo Rebelo, Alexandre Visconti,
Marcelo Mendes de Haro
Artigo científico
Índices de maturação para o ponto ideal de colheita de maçãs ‘SCS425 Luiza’
Maturation indexes for optimum harvest of ‘SCS425 Luiza’ apple fruit
55 Fernanda Pelizzari Magrin, Luiz Carlos Argenta, Cassandro Vidal Talamini do Amarante, Aquidauana Miqueloto, Maraisa
Crestani Hawerroth, Charle Kramer Borges de Macedo, Frederico Denardi, Marcus Vinicius Kvitschal

Aplicação de formulações de cálcio e boro na cultura do tomateiro tutorado


61 Calcium and boron application in staked tomato
Leandro Hahn, Atsuo Suzuki, Anderson Luiz Feltrim, Anderson Fernando Wamser, Sigfried Mueller, Janice Valmorbida

Avaliação de áreas produtoras de vinhos finos de altitude de acordo com a sua aptidão ou
potencial agrícola das terras
67 Evaluation of altitude fine wines producing areas according to its aptitude or agricultural potential of the land
Denilson Dortzbach, Marcos Gervasio Pereira, Lúcia Helena Cunha dos Anjos, Antonio Paz González

Manejo da Adubação Nitrogenada e Desempenho Agronômico do Arroz Irrigado Cultivado


em Zonas de Altitude no estado de Santa Catarina
72 Management of Nitrogen Fertilization and Agronomic Performance of Irrigated Rice Cultivated in Altitude Zones
in the State of Santa Catarina
Fabiana Schmidt, Marcos Lima Campos do Vale, Ronaldir Knoblauch, Ricieri Verdi, Dirceu Schwartz

Variações na produtividade e matéria seca de raízes de mandioca em função da época de


colheita
79 Variations in productivity and dry matter of cassava roots as a function of the harvest season
Augusto Carlos Pola, Alexsander Luís Moreto, Eduardo da Costa Nunes, Luiz Augusto Martins Peruch, Enilto de Oliveira
Neubert

32 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017


INFORMATIVO TÉCNICO

Métodos alternativos para o controle de fitopatógenos habitantes do solo:


parte II – controle biológico
Alexandre Visconti¹, Fábio Martinho Zambonim¹, Keny Henrique Mariguele¹ e Alessandro Borini Lone¹
Resumo – As doenças causadas por fitopatógenos habitantes do solo são de difícil controle, pois seus agentes causadores
apresentam, geralmente, mais de uma forma de sobrevivência. Além disso, os métodos químicos não dispõem de produtos
registrados para a maioria das culturas e, quando disponíveis, não possuem equipamentos eficientes para sua aplicação,
tornando baixa a efetividade de controle. O controle biológico pode ser considerado uma importante ferramenta contra
doenças de solo, principalmente quando associado aos métodos físicos. A incorporação de formulados comerciais de agentes
de biocontrole e a produção de bioferitilizantes são métodos práticos e viáveis ao produtor rural para introdução de agentes
de biocontrole na lavoura.

Termos para indexação: biofertilizantes, agentes de biocontrole, supressividade.

Alternative methods for the control of soilborne plant pathogens. Part II - biological control

Abstract – The diseases caused by soil phytopathogens are difficult to control, because their causing agents, usually have more
than one form of survival. Furthermore, the chemical methods have few registered products for most crops and few efficient
available equipment for application which results in low control effectiveness. The biological control is an important tool
against soilborne plant diseases especially when associated with physical methods. Commercial formulated biocontrol agents
and biofetilizers are practical and viable methods to farmers for introducing biocontrol agents in the field.

Index terms: biofertilizers, biocontrol agents, suppressiveness.

Introdução sejáveis no sistema agrícola (BEDENDO Mecanismos de ação


et al., 2011). dos microrganismos
O solo é considerado o ecossistema Define-se como controle biológico
mais complexo e dinâmico do planeta, de doenças a redução da soma de inó- antagônicos a
cuja heterogeneidade de micro e macro culo ou das atividades determinantes fitopatógenos
habitats abriga enorme biodiversidade da doença provocada por um patóge-
que desempenha papel essencial para no, realizada por meio de um ou mais Os mecanismos das interações anta-
a continuidade dos processos da biosfe- organismos que não o homem (COOK gônicas entre microrganismos presen-
ra e para a existência da vida (MOREI- & BAKER, 1983). Simplificadamente, tes nos agentes de controle biológico
RA et al., 2008), dentre eles a ciclagem Bettiol (1991) o define como o controle são: antibiose – metabólitos produzidos
de nutrientes, ocorrência de doenças de um microrganismo através de outro por um microrganismo inibem ou inter-
do sistema radicular, controle biológi- microrganismo. ferem em outro (Figura 1); competição
co de patógenos e pragas, absorção de Especificamente, segundo Home- – por espaço, alimento e oxigênio no sí-
nutrientes via simbiose (LOBO JÚNIOR, chin (1991) a efetividade do controle tio de infecção do patógeno, impedindo
2016). biológico sobre os fitopatógenos habi- o seu desenvolvimento; parasitismo –
Neste contexto, os microrganismos tantes de solo se dará pela ação de me- refere-se à ação direta de um microrga-
antagônicos desempenham importante didas que atuam destruindo as estrutu- nismo vivendo e alimentando-se de ou-
papel no equilíbrio populacional de or- ras reprodutivas e propagativas ou pela tro, denominado hiperparasita (Figura
ganismos patogênicos. O controle bio- exaustão das reservas do patógeno, 2); hipovirulência – também chamada
lógico busca explorar e manejar estes principalmente através do parasitismo e de premunização ou proteção cruzada,
antagonistas para obter resultados de- da predação. consiste na colonização antecipada da

Recebido em 29/3/2016. Aceito para publicação em 1/8/2017.


¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí (EEI), C.P. 277, 88318-112 Itajaí, SC, e-mail: [email protected], zambonim@epagri.
sc.gov.br, [email protected], [email protected].

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.33-36, set./dez. 2017 33


gônica presente no solo e a introdução
de antagonistas. Entre as características
abióticas de um solo ou substrato, po-
dem ser manejados, principalmente, a
introdução de resíduos orgânicos, do
pH, concentrações de macro e micronu-
trientes, condutividade elétrica, altera-
ções nas condições de aeração, estrutu-
ra e textura dos solos (TEMORSHUIZEN
et al., 2006).
A supressividade tem despertado
crescente interesse, pois, em muitos
casos, tem se tornado alternativa única,
Figura 1. (A) Mecanismo de ação de antibiose in vitro de uma bactéria antagonista principalmente no controle de pató-
(deasafiante) sobre o crescimento micelial do fungo Sclerotium rolfsii (fitopatógeno); (B) genos habitantes do solo em sistemas
Microrganismo desafiante sem o efeito de antibiose sobre o fitopatógeno. I - região de intensivos, devido à inexistência de pro-
antibiose
dutos registrados ou à inviabilidade na
aplicação dos agrotóxicos.

O uso de biofertilizantes
para a introdução de
comunidades microbianas
com atividade antagonista
a fitopatógenos habitantes
do solo
Biofertilizantes são fermentações
oriundas de digestão aeróbica ou ana-
eróbica de materiais orgânicos de ori-
gem animal ou vegetal em meio líquido,
Figura 2. (A) Mecanismo de ação de hiperparasitismo in vitro do crescimento micelial
do fungo antagonista Trichoderma sp. (Trich) sobre o crescimento micelial do fungo contendo nutrientes, estimulantes e
fitopatógênico Sclerotium rolfsii (Sr); (B) Crescimento micelial de S. rolfsii sem o alta comunidade microbiana capazes de
antagonista. I - região parasitada promover o desenvolvimento das plan-
tas e auxiliar na sua proteção a fitopató-
genos (BETTIOL, 2003).
planta por uma linhagem do patógeno A supressividade como A composição química do biofer-
menos agressiva ou não patogênica; e
a indução de defesa do hospedeiro –
mecanismo de controle de tilizante varia conforme o método de
preparo e o material utilizado. O con-
uma ação indireta de controle, pois se doenças de solo trole de doenças pode ser por meio dos
manifesta na planta, quando microrga- metabólitos produzidos pelos microrga-
nismos ou metabólitos expressam ge- A supressividade é a inospitabilida- nismos presentes no biofertilizante ou
nes latentes de resistência presentes no de do solo aos fitopatógenos. Solos com pela ação direta destes microrganismos
hospedeiro (BETTIOL, 1991; BEDENDO essas características são denominados sobre o patógeno ou sobre o hospedei-
et al., 2011). solos supressivos, o oposto de solos ro. Ainda existe a ação direta ou indireta
Um antagonista pode agir através de conducentes. A supressividade em so- dos nutrientes presentes no biofertili-
um ou mais mecanismos. Inclusive, uma los pode ser uma característica natural zante sobre os patógenos (BETTIOL &
característica adequada para um anta- ou não, induzida por fatores bióticos e GHINI, 2004).
gonista é apresentar mais de um me- abióticos (COOK & BAKER, 1983). As principais vantagens desta téc-
canismo, pois as chances de sucesso do Dentre os fatores bióticos, são des- nica são o custo, a disponibilidade do
controle biológico serão aumentadas. tacadas a promoção da microbiota anta- produto e a possibilidade de aplicação

34 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.33-36, set./dez. 2017


por sistemas de irrigação. O custo é ba-
sicamente o relacionado ao preparo do
material pelo próprio agricultor. Como
existem relatos da eficiência de biofer-
tilizantes produzidos com diferentes
fontes de matéria orgânica, o agricultor
não depende da compra deste material,
mas apenas do aproveitamento de ma-
terial disponível na propriedade.
Na Epagri/EEI tem-se desenvolvido
trabalhos com o uso de biofertilizantes
formulados com resíduos marinhos,
casca de camarão ou farinha de peixe,
com objetivo de estimular o processo
de fermentação de comunidades micro-
bianas com atividade quitinolítica, para
o controle de fitopatógenos habitantes
do solo, com resultados preliminares
promissores.
Figura 3. Biofermentadores na unidade didática de produção de biofertilizantes na Epagri/
Unidade de produção de EEI: (A) fermentador aeróbico; (B) fermentador anaeróbico

biofertilizantes da Epagri/
EEI há fermentação, mas putrefação, com a comercializados no Brasil e na América
formação de componentes voláteis tóxi- do Sul são produtos à base de Trichoder-
Apesar de relativamente simples, cos e formas nitrogenadas indisponíveis ma sp. e Bacillus sp. Para o Trichoder-
a produção de biofertilizantes requer para as plantas, tornando um produto ma, as formulações disponíveis no mer-
alguns cuidados. O produtor necessita, impróprio para o uso na agricultura. cado incluem: pó-molhável; grânulos
em primeiro caso, escolher o tipo de A Epagri, na Estação Experimental dispersíveis; suspensão concentrada;
biofertilizante, aeróbico ou anaeróbi- de Itajaí (EEI), através do Projeto Flora óleo emulsionável; grãos colonizados e
co, para decidir o tipo de aparelho a ser Catarinense, construiu a Unidade de esporos secos. Trichoderma asperellum,
utilizado. A produção de biofertilizante Pesquisa e Didática de Fitossanidade, Trichoderma harzianum, Trichoder-
aeróbico requer a injeção de ar no meio onde são demonstradas a produção de ma stromaticum e Trichoderma viride
líquido; para o anaeróbio o equipamen- biofertilizantes através das fermenta- são as principais espécies do agente
to deve estar lacrado, evitando-se a oxi- ções aeróbica e anaeróbica, em estrutu- de biocontrole comercializadas para o
genação e desenvolvendo-se, em cada ras de baixo custo de construção e ma- controle de Fusarium, Pythium, Rhizoc-
ambiente, comunidades microbianas nutenção, construídas com recipientes tonia, Macrophomina, Sclerotinia, Scle-
específicas que atuarão na fermenta- plásticos de 200 litros (Figura 3). rotium, Botrytis e Crinipellis (MORANDI
ção. & BETTIOL, 2009). Para Bacillus as for-
A elaboração correta de um bio- Introdução de antagonistas mulações incluem as espécies Bacillus
fertilizante prevê a utilização de ma- subtillis, Bacillus amyloliquefaciens e
térias-primas balanceadas, o controle Os formulados microbianos são pro- Bacillus pumilus para o controle de Al-
das variáveis de fermentação (tempo, duzidos, principalmente, através de fer- ternaria, Botrytis, Colletotrichum, Cryp-
temperatura e oxigenação) e o moni- mentação sólida em arroz autoclavado tosporiopsis, Hemileia, Mycosphaerella,
toramento da dinâmica populacional para fungos e fermentação líquida para Phyllosticta, Pythium, Rhizoctonia, Scle-
dos microrganismos no fermentado. bactérias, inoculados com a cepa sele- rotinia e Xanthomonas, comercializadas
Comumente encontram-se situações cionada do agente de biocontrole, se- como fungicidas microbiológicos.
em que misturas de resíduos em água, guido de incubação em ambiente con- Formulados microbianos para o con-
geralmente cama de aves, em tanques trolado para a colonização. Na sequên- trole de nematoides também estão re-
ou recipientes, são deixadas em repou- cia, são processados e comercializados gistrados no Ministério da Agricultura,
so por sete a 10 dias para aplicação na em formulações sólidas e líquidas. Pecuária e Abastecimento. Encontram-
lavoura ou em pomares, associando isto Os agentes de controle biológico de se disponíveis no mercado formulados
a um biofertilizante. Nesta condição não doenças de plantas mais estudados e bacterianos à base de Bacillus firmus,

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.33-36, set./dez. 2017 35


B. amyloliquefaciens, misturas de B. Considerações finais STADNICK, M.J.; TALAMINI, V. (Ed.). Ma-
subtillis com Bacillus liqueniformis e os nejo ecológico de doenças de plantas.
fungos Pochonia chlamydosporia e Pae- Os microrganismos exercem impor- Florianópolis: CCA/UFSC, 2004. p.143-
cilomyces lilacinus para os gêneros Me- tante função no controle biológico de 157.
loidogyne e Pratylenchus. doenças de solo. Estimular as práticas
No site Agrofit, do Ministério da que promovam o aumento da diversi- COOK, R.J.; BAKER, K.F. The nature and
Agricultura (http://agrofit.agricultura. dade microbiana ou a introdução de practice of biological control of plant
gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_ microrganismos benéficos, como o uso
pathogens. Saint Paul: The American
cons) atualmente encontram-se regis- dos biofertilizantes ou de agentes de
trados 11 produtos classificados como Phytopathological Society, 1983. 539p.
controle biológico, respectivamente,
fungicida microbiológico e oito como reduzem drasticamente o inóculo do fi-
nematicida microbiológico. topatógeno no solo, inibindo a chance HOMECHIN, M. Controle biológico de
Há no mercado diversos produtos de causar doença. O uso destas práticas, patógenos de solo. In: BETTIOL, W.
descrevendo em seu rótulo a presença combinadas a outros métodos, como (Org.). Controle biológico de doenças
de agentes microbianos, porém muitos físicos e culturais, potencializam o con- de plantas. Brasília: Embrapa-CNPDA,
não são comercializados como agentes trole das doenças. 1991. p.7-23.
para o biocontrole de doenças, mas
como promotores de crescimento de Agradecimentos LOBO JÚNIOR, M. Controle biológico de
plantas. Nestes casos, não se recomen-
patógenos de solo. In: HALFELD-VIEIRA,
da o uso, devido à inexistência de sua À Fundação de Amparo à Pesquisa
B.A.; MARINHO-PRADO, J.S.; NECHET,
qualificação como agente de biocontro- e Inovação do Estado de Santa Catarina
le. K.L.; MORANDI, M.A.B.; BETTIOL, W.
(Fapesc), pelos recursos através da de-
Recomenda-se a aquisição de produ- Defensivos agrícolas naturais: uso e
manda expontânea TO2012TR309.
tos de empresas associadas à Associa- perspectivas. Brasília: Embrapa, 2016.
ção Brasileira das Empresas de Controle Referências p.81-100.
Biológico (ABCBIO), que se comprome-
tem na produção e comercialização de BEDENDO, I.P.; MASSOLA JR., N.; AMO- MOREIRA, F.M.S.; SIQUEIRA, J.O.; BRUS-
produtos registrados e de comprovada RIM, L. Controles cultural, físico, biológi- SAARD, L. Biodiversidade do solo em
eficácia. co de doenças de plantas. In: AMORIM, ecossistemas brasileiros. Lavras, MG:
Os formulados comerciais de agen- L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, Ed. UFLA, 2008. 768p. il.
tes microbianos requerem alguns cui- A. (Eds.). Manual de fitopatologia:
dados para manter a sua efetividade, princípios e conceitos. 4.ed. São Paulo:
MORANDI, M.A.B.; BETTIOL, W. Con-
como: transporte e manutenção do Agronômica Ceres, 2011. v.1, p.367-388.
trole Biológico de Doenças de Plantas
produto em ambientes frescos, prefe-
rencialmente refrigerados; e aplicação BETTIOL, W. Componentes do contro- no Brasil. In: BETTIOL, W.; MORANDI,
sob baixa pressão. Em muitos casos le biológico de doenças de plantas. In: M.A.B. (Eds.). Biocontrole de doenças
estes detalhes não são observados, re- BETTIOL, W. (Org.). Controle biológico de plantas: uso e perspectivas. Jagua-
duzindo drasticamente a vida útil ou de doenças de plantas. Brasília: Embra- riúna, SP: Embrapa Meio Ambiente,
inativando o produto, o que se atribui, pa-CNPDA, 1991. p.1-5. 2009. p.7-14.
muitas vezes, a uma suposta ineficácia
do produto. BETTIOL, W. Controle de doenças de TEMORSHUIZEN, A.J.; VAN RIJN, E.;
Em 23 de janeiro de 2014, o Ministé- plantas com agentes de controle bioló- VAN DER GAAG, D.J.; ALABOUVETTE, C.;
rio da Agricultura / Secretaria de Defesa gico e outras tecnologias alternativas. CHEN, Y.; LAGERLOF, J.; MALANDRAKIS,
Agropecuária publicou o Ato n. 6, que In: CAMPANHOLA, C.; BETTIOL, W. (Eds).
A.A.; PAPLOMATAS, E.J.; RAMERT, B.;
dispensa o registro dos Agentes Micro- Métodos alternativos de controle fi-
RYCKEBOER, J.; STEINBERG, C.; ZMORA-
biológicos de Controle para as culturas, tossanitário. Jaguariúna, SP: Embrapa
autorizando o uso nos alvos biológicos Meio Ambiente, 2003. p.191-215. NAHUM, S. Suppressiveness of 18 com-
indicados e eliminando a exigência da posts against 7 pathosystems: variabili-
impressão da caveira e das tíbias cruza- BETTIOL, W.; GHINI, R. Métodos alterna- ty in pathogen response. Soil Biology &
das em embalagens de produtos micro- tivos usados com sucesso no Brasil para Biochemistry, Amsterdan, v.38, p.2461-
biológicos Classe III e IV. o controle de doenças de plantas. In: 2477, 2006.

36 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.33-36, set./dez. 2017


INFORMATIVO TÉCNICO

Identificação, bioecologia e estratégias de monitoramento da mosca-da-


grama-bermuda: uma espécie-praga exótica invasora no Brasil
Leandro do Prado Ribeiro¹ e Alexandre Carlos Menezes Netto²

Resumo – A mosca-da-grama-bermuda, Atherigona (Atherigona) reversura Villeneuve (Diptera: Muscidae), espécie até então
não documentada na América do Sul, foi identificada no início de 2015 em pastagens de Cynodon dactylon (L.) Pers. cv. Jiggs
em municípios da mesorregião do Oeste Catarinense, Brasil. Em face do potencial impacto de espécies-praga exóticas na
produtividade dos cultivos agrícolas e dos significativos danos causados por A. reversura em outros países, nesse informativo
são reunidas informações sobre a origem, as formas de detecção e identificação, aspectos da bioecologia da mosca-da-grama-
bermuda, bem como são discutidas estratégias para o seu monitoramento em pastagens.

Termos para indexação: Diptera, Atherigona reversura, Cynodon dactylon, manejo integrado de pragas.

Identification, bioecological aspects and monitoring strategies of Bermudagrass stem maggot: an


invasive exotic pest species in Brazil
Abstract – Bermudagrass stem maggot, Atherigona (Atherigona) reversura Villeneuve (Diptera: Muscidae), which is a species
not previously documented in South America, was reported for the first time in early 2015 damaging pastures of Cynodon
dactylon (L.) Pers. cv. Jiggs located in municipalities of the West region of Santa Catarina State, Brazil. In light of the potential
impact of exotic pest species on crop yields and significant damage caused by A. reversura in other countries, this manuscript
congregate some information about origin, methods of detection and identification, and bioecological aspects of Bermudagrass
stem maggot, as well as it will be discussed strategies for their monitoring in pastures.

Index terms: Diptera, Atherigona reversura, Cynodon dactylon, integrated pest management.

Introdução moleculares baseadas na amplificação o sudeste da Ásia, sendo de ocorrên-


do gene mitocondrial citocromo oxida- cia abundante em países das regiões
Em Santa Catarina, cultivares de gra- se I (COI), verificou-se que se tratava da Afrotropical e Australásia (BAXTER et
mas-bermuda (Cynodon dactylon), es- mosca-da-grama-bermuda, Atherigona al., 2014). Em 2010, esta espécie foi in-
pecialmente Tifton 85 e Jiggs, têm sido (Atherigona) reversura Villeneuve (Dip- troduzida na América do Norte (sul da
amplamente cultivados em sistemas de tera: Muscidae), espécie de ocorrência Geórgia, EUA) e, em 2013, constatada
produção de leite em virtude de suas até então não documentada na Améri- no sul do México (BAXTER et al., 2014).
produtividades e adaptabilidades às ca do Sul (RIBEIRO et al., 2016). Nesse Além do Brasil, a ocorrência da mosca-
condições edafoclimáticas locais. Até o informativo são reunidas informações da-grama-bermuda também foi notifi-
momento, espécies de cigarrinhas-das- sobre a origem, formas de detecção e cada recentemente em três províncias
pastagens, de lagartas e de percevejos- identificação, aspectos da bioecologia da Argentina (Buenos Aires, Chaco e
raspadores (“percequito”) têm causado da mosca-da-grama-bermuda, bem Santa Fé) (PATITUCCI et al., 2016).
danos às gramas-bermuda e exigido a como são discutidas estratégias para o
adoção de estratégias de manejo. No seu monitoramento em pastagens. Danos, formas de detecção
entanto, no início de 2015 foi detecta- e identificação
da uma nova espécie-praga infestando Origem e distribuição
pastagens localizadas em municípios da geográfica A. reversura provoca a senescência
mesorregião Oeste Catarinense. seguida de necrose da parte superior
Com base em caracteres morfológi- Acredita-se que a mosca-da-grama- dos perfilhos em decorrência da alimen-
cos (genitálias de machos) e de análises bermuda tem como centro de origem tação das larvas que se inicia apicalmen-

Recebido em 2/12/2016. Aceito para publicação em 17/8/2017.


¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/ Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar, C.P. 791, 89803-904 Chapecó, SC, e-mail: [email protected].
² Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/ Estação Experimental de Videira (EEV), e-mail: [email protected].

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te a partir do nó terminal, acarretando muda pode ser facilmente confundi- moscas (fase adulta) e análises molecu-
danos no tecido vascular (Figura 1). Tal da com outros estresses de origem lares complementares. Um aspecto que
injúria reduz significativamente o cres- biótica e abiótica, tais como sintomas pode auxiliar na identificação é o há-
cimento das plantas, em especial quan- de deficiência hídrica e nutricional ou bito alimentar das larvas: em geral, as
do ocorre no início do ciclo vegetativo, mesmo incidência de doenças folia- de Acritochaeta são predadoras ou sa-
com redução da produção de biomassa res (por exemplo, Bipolaris cynodontis prófitas de vários tipos de material em
de forragem em áreas já estabelecidas (Marignoni) e Puccinia cynodontis Lacr. decomposição, enquanto as larvas de
e dificuldade no estabelecimento de ex Desmaz.), que causam descoloração Atherigona (s.s.) são fitófagas e pragas-
novas áreas. A rebrota dos pastos infes- foliar e aspecto de senescência similar chave de várias espécies de plantas da
tados também é retardada, pois exige a ao que ocorre quando da infestação da família Poaceae, ocorrendo em regiões
emissão de novos perfilhos a partir do mosca-da-grama-bermuda. No entanto, tropicais e subtropicais do Velho Mundo
nó basal. essa possível confusão pode ser evita- (PONT & MAGPAYO, 1995; GRZYWACZ
Embora a percentagem de perfilhos da ao se observar o local da clorose e/ et al., 2013).
danificados seja variável de acordo com ou necrose que, quando causada pela Atualmente, no Brasil, há registro
o cultivar, o ataque dessa praga tem mosca-da-grama-bermuda, somente de duas espécies que podem ser con-
causado reduções de até 60% na produ- ocorre nas duas ou três folhas superio- fundidas devido ao compartilhamento
tividade de cultivares suscetíveis de gra- res do perfilho (Figura 1) como resulta- do mesmo habitat: A. (Acritochaeta)
mas-bermuda nos Estados Unidos (Den- do da alimentação das larvas, enquanto orientalis Schiner, 1868 e A. (Atherigo-
nis Hancock, informação pessoal3), além as folhas inferiores permanecem sadias na) reversura. Ribeiro et al. (2016) pro-
de significativas perdas na qualidade da (BAXTER et al., 2014). videnciaram uma descrição ilustrada
biomassa produzida. A praga tem prefe- O gênero Atherigona contém, atual- (Figura 2) dos caracteres morfológicos
rência pelo cultivar Jiggs em virtude de mente, mais de 220 espécies e é dividi- que distinguem as duas espécies, sendo
características morfológicas estruturais do em dois subgêneros: Acritochaeta e os principais detalhados abaixo:
da planta (perfilhos mais tenros e dos- Atherigona (stricto sensu). Deste modo, Atherigona (Acritochaeta) orien-
sel mais denso), que favorecem o seu uma correta identificação das espécies talis: asa com nervura radial-mediana
desenvolvimento. necessariamente envolve avaliações transversal (rm) para além da metade
A injúria da mosca-da-grama-ber- cuidadosas da morfologia externa das da célula mediana discal (dm) e para

(A) (B) (C)

(D)

Figura 1. Sintomas do ataque da mosca-da-grama-bermuda, Atherigona (Atherigona) reversura (Diptera: Muscidae), em Cynodon dactylon
cv. Jiggs (A e B) e detalhes das larvas no interior dos perfilhos (C e D)
3
Professor associado do Crop and Soil Sciences Department, University of Georgia, Athens, Georgia, EUA.

38 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.37-40, set./dez. 2017


das folhas (BAXTER et al., 2014). Após a
eclosão, que ocorre 2,5 dias depois da
oviposição, em média a 25oC, as larvas
se deslocam até o cartucho da planta
(disposição imbricada das folhas mais
novas, típica de gramíneas), onde perfu-
ram, penetram e iniciam a alimentação.
Essa introdução das larvas no perfilho
central é crítica para o desenvolvimento
da planta, sendo os danos visíveis entre
um e três dias após o início da alimen-
tação.
A larva de 3o ínstar é de cor esbran-
quiçada, cilíndrica, e tem cerca de 3mm
de comprimento (Figura 3). Antes da
pupariação, a larva fica com coloração
escurecida, sai do colmo e se desloca
para o solo, onde permanece enterrada
durante a fase de pupa. O pupário é de
coloração laranja a vermelho escuro (Fi-
gura 3).
Por sua vez, as moscas adultas (~
7mm de comprimento do corpo) pos-
suem asas transparentes, tórax acinzen-
tado e abdômen de cor amarela, com
pelo menos um par de manchas escuras
(Figura 3). O ciclo de vida da mosca-da-
grama-bermuda (ovo a adulto) se com-
pleta em aproximadamente três sema-
nas (BAXTER et al., 2014).
Além da grama-bermuda, outras es-
Figura 2. Atherigona (Acritochaeta) orientalis: (A) palpo do macho; (B) mesonoto do macho,
pécies de gramíneas (Poaceae) têm sido
vista dorsal e (C) asa. Atherigona (Atherigona) reversura: (D) palpo do macho; (E) mesonoto
do macho, vista dorsal e (F) asa. Abreviações: b sctl s, seta basal escutelar; dm cell, célula reportadas como hospedeiras da pra-
mediana discal; Plp, palpo; R1, nervura radial 1; rm, nervura radial-mediana transversal; Sc, ga, incluindo capim-arroz (Echinochloa
nervura subcostal; sctl, escutelo. Fonte: Ribeiro et al. (2016) colona (L.) Link), capim-pé-de-galinha
(Eleusine coracana Gaerth.), capim-
além da intersecção da nervura subcos- radamente longas no tarsômero 1; geni- urocloa (Eriochloa procera (Retz.) C.E.
tal com a nervura costal; macho com tália com processo trifoliado presente. Hubb.), sorgo (Sorghum bicolor L.) Mo-
palpo alongado; seta lateral basal do es- ench) e milho (Zea mays L.). Em geral,
cutelo quase que metade do tamanho Aspectos bioecológicos a mosca-da-grama-bermuda prefere
da seta lateral sub-basal; tarso anterior locais quentes e úmidos, uma vez que
revestido com setas curtas; genitália Apesar da importância econômica, a umidade aumenta a fecundidade das
com o processo trifoliado ausente. aspectos da biologia (desenvolvimento) fêmeas e a viabilidade dos ovos (BAX-
Atherigona (Atherigona) reversura: da mosca-da-grama-bermuda ainda são TER et al., 2014).
asa com nervura radial-mediana trans- pouco conhecidos. Por não haver lite- Os adultos de A. reversura tendem
versal (rm) sempre na metade da célula ratura específica a respeito, parte das a ficar na parte inferior do dossel ve-
mediana discal (dm) e antes da intersec- informações sobre o ciclo de vida dessa getativo, alimentando-se de exsudados
ção da nervura subcostal com a nervu- espécie são extrapolações da biologia açucarados eliminados pela própria
ra costal; macho com palpo com ponta da espécie relacionada Atherigona soc- planta (gutação). Em geral, a fertilização
alargada; seta lateral basal do escutelo cata (sorghum shoot fly). com altas doses de nitrogênio aumenta
no máximo 1/3 do tamanho da seta la- Em geral, os ovos dessa espécie- a taxa de gutação da planta, favorecen-
teral sub-basal; tarso anterior com setas praga são pequenos (1mm de compri- do a sobrevivência e a longevidade dos
anteroventrais e posteroventrais mode- mento) e depositados na parte inferior adultos (BAXTER et al., 2014).
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.37-40, set./dez. 2017 39
(A) (B) (C)

Figura 3. Detalhes da larva (A), pupário (B) e adulto (C) (macho) de Atherigona (Atherigona) reversura (Diptera: Muscidae). Nota: cada
intervalo da régua dentro das figuras equivale a 1mm

Estratégias de das pela ausência de inimigos naturais e Grazinlands, Madison, p.1-8, 2014.
abundância de alimentos. Dessa forma,
monitoramento o monitoramento sistemático de A. re- GRZYWACZ, A.; PAPE, T.; HUDSON, W.G.;
versura torna-se uma prática impres- GOMEZ, S. Morphology of immature
O monitoramento da mosca-da- cindível para avaliar sua ocorrência em stages of Atherigona reversura (Diptera:
grama-bermuda em áreas de cultivo de novas áreas, o estabelecimento em áre- Muscidae), with notes on the recent
grama-bermuda poderá ser realizado as onde já foi detectada, seu compor- invasion of North America. Journal of
por meio da verificação da ocorrência tamento e o potencial impacto sobre Natural History, London, v.47, p.1055-
de perfilhos danificados contendo, em a produtividade das pastagens perenes 1067, 2013.
seu interior, larvas ou vestígios de sua estabelecidas no sul do Brasil, espe-
alimentação. Além disso, a captura de cialmente em áreas onde as pastagens PATITUCCI, L.D.; DUFEK, M.I.; MULIERI,
adultos poderá ser realizada com rede nativas ou nativizadas têm sido substi- P. First reports of the invasive pest Ber-
de varredura, através de movimentos tuídas rotineiramente por espécies for- mudagrass Stem Maggot, Atherigona
pendulares rentes ao chão. A quanti- rageiras melhoradas e mais suscetíveis reversura Villeneuve, 1936 (Diptera:
ficação da porcentagem de perfilhos ao ataque de pragas (ex.: C. dactylon cv. Muscidae) in South America. Check List,
danificados pode ser realizada pela con- Jiggs). Nesse sentido, programas de pes- Campinas, v.12, n.4, p.1-5, 2016.
tagem de perfilhos em quadrados de quisa deverão ser estabelecidos visando
0,25m2 (50 x 50cm) arremessados alea- quantificar o dano dessa espécie-praga PONT, A.C.; MAGPAYO, F.R. Muscid
toriamente na área a ser amostrada. sobre a produtividade e a qualidade das shoot-flies of the Philippine Islands
Por se tratar de uma espécie exótica pastagens constituídas por gramas-ber- (Diptera: Muscidae, genus Atherigona
no Brasil, os métodos de controle ainda muda e avaliar as características bioeco- Rondani). Bulletin of Entomological
não foram estabelecidos; até o momen- lógicas e comportamentais de A. rever- Research, Farnham Royal, Series 3 (Sup-
to não houve a liberação do registro de sura sobre diferentes cultivares e condi- pl.), p.1-123, 1995.
inseticidas de forma emergencial para ções climáticas. Trata-se de informações
supressão ou manejo de A. reversura essenciais para o estabelecimento de RIBEIRO, L.P.; MENEZES-NETTO, A.C.;
em pastagens. um programa de manejo integrado apli- JOCHIMS, F.; HASEYAMA, K.L.F.; CARV-
cável às condições do sul do Brasil. ALHO, C.J.B. First record of Atherigona
Considerações finais reversura Villeneuve (Diptera: Musci-
Referências dae) feeding on Bermudagrass (Cyn-
A introdução de uma praga exóti- odon dactylon cv. Jiggs, Poaceae) in Bra-
ca apresenta, geralmente, um impacto BAXTER, L.L.; HANCOCK, D.W.; HUDSON, zil: morphological and molecular tools
pronunciado sobre os sistemas agríco- W.G. The bermudagrass stem maggot for identification. Revista Brasileira de
las em virtude das vantagens competi- (Atherigona reversura Villeneuve): a re- Entomologia, Curitiba, v.60, n.3, p.270-
tivas dessas espécies, que são favoreci- view of current knowledge. Forage and 274, 2016.

40 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.37-40, set./dez. 2017


NOTA CIENTÍFICA

Avaliação físico-química e sensorial de geleias de goiaba-serrana


(Acca sellowiana)
Karine Louise dos Santos1 , Dilma Budziak2, Gustavo Eduardo Pereira3, Beatriz Mendes Borba4 e
Elenice Bernardina Coelho de Almeida5

RESUMO - A Região Sul do Brasil dispõe de espécies nativas de elevado potencial de uso, e entre elas, destaca-se a goiabeira-
serrana (Acca sellowiana). Com vistas a estimular o processamento de frutos, o trabalho objetivou elaborar, caracterizar e
verificar a aceitabilidade de cinco diferentes formulações de geleia de goiaba-serrana. As geleias foram analisadas quanto
às características sensoriais (teste de aceitação e preferência) e físico-químicas. No teste de aceitação, realizado por 15
consumidores, foram avaliados os seguintes atributos: aparência, aroma, textura, sabor e avaliação geral, sendo que apenas
uma formulação apresentou menor aceitação. Como resultado da caracterização físico-química, observou-se que a acidez
variou de 0,65 a 1,70%; a umidade, de 14,76 a 34,08%; e o teor de açúcares totais, de 53,8 a 69,1%. Concluiu-se que a maioria
das formulações permitiram a manutenção do aroma e do sabor da fruta, resultando em geleias com boa aceitação.

Palavras-chave: Feijoa sellowiana, fruta nativa, biodiversidade.

Physico-chemical and sensory evaluation of Feijoa’s jelly (Acca sellowiana)

Abstract - Southern Brazil has native species with high use potential, including feijoa (Acca sellowiana). In order to stimulate
fruit processing, this study aimed to prepare, characterize and verify the acceptability of five different formulations of jelly
made from feijoa fruits. Jellies were analyzed by sensory and physicochemical characteristics. Sensorial analyses were carried
out by 15 consumers who evaluated the following attributes: appearance, aroma, texture, flavor and overall aspects. As a
result of physico-chemical characterization, acidity ranged from 0.65 to 1.70%, moisture from 14.76 to 34.08% and total sugar
content from 53.8 to 69.1% It was concluded that most of the formulations allowed the maintenance of the aroma and flavor
of the fruit, allowing the obtaining of jellies with good acceptance.

Key-words: Feijoa sellowiana, native fruit, biodiversity.

A goiabeira-serrana ou feijoa (Acca objetivo de promover o uso dos frutos Eles foram selecionados e coletados
sellowiana), apesar de nativa no Sul do desta espécie. apenas após o desprendimento da plan-
Brasil, é uma fruta pouco conhecida. Para que a transformação de ma- ta mãe. Foram priorizados frutos per-
Mesmo assim, apresenta potencial co- téria-prima em produtos comerciais tencentes aos cultivares Alcântara, He-
mercial em função da adaptação da es- tenha aceitação, é necessário observar lena, Mattos e Nonante. Posteriormen-
pécie às características edafoclimáticas testes preliminares, tais como análise te foram transportados ao Centro de
regionais e de seu potencial organolép- sensorial e análises físico-químicas. As- Treinamento de São Joaquim (Epagri/
tico (SANTOS et al., 2011). sim sendo, o objetivo do estudo foi ve- Cetrejo), onde foram processados com
Nesse sentido, sendo a produção de rificar a aceitabilidade de diferentes for- base nas informações disponíveis no
geleias uma das atividades possíveis no mulações de geleia de goiaba-serrana, Boletim Didático n. 53 (EPAGRI, 2006)
que tange à goiaba-serrana, e ainda le- bem como avaliar suas características e submetidas a análise sensorial. Amos-
vando em consideração a possível valo- físicas e químicas. tras das geleias foram enviadas ao Labo-
rização e incentivo ao trabalho das famí- Os frutos foram coletados na Epagri/ ratório de Química Analítica do Centro
lias de pequenos agricultores da região Estação Experimental de São Joaquim de Curitibanos/UFSC para a realização
Sul do País, justificaram-se ações com nos meses de março a maio de 2013. das análises físico-químicas.

Recebido em 8/2/2017. Aceito para publicação em 1/9/2017.


1
Engenheira-agrônoma, Dra. em Ciências (Área de concentração em Recursos Genéticos Vegetais), Programa de Pós-Graduação em Ecossistemas Agrícolas e
Naturais, UFSC/ Centro de Curitibanos, C.P. 101, 89520-000 Curitibanos, SC, e-mail: [email protected].
2
Química, Dra. em Química Analítica, UFSC/ Centro de Curitibanos, C.P. 101, 89520-000 Curitibanos, SC, e-mail: [email protected].
3
Engenheiro-agrônomo, Mestre em Ciência do Solo, CAV/Udesc, Av. Luiz de Camões, 2090, Conta Dinheiro, 88520-000 Lages, SC, e-mail: gustavopereira5000@
gmail.com.
4
Doutora em Química, UFSC/ Centro de Ciências da Saúde, 88040-970 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected].
5
Pedagoga, Especialista em Desenvolvimento Rural Sustentável. Epagri/Cetrejo, Rod. SC 114, Km 70, S/N, 88600-000 São Joaquim, SC, e-mail: elenice@epagri.
sc.gov.br.

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.41-44, set./dez. 2017 41


Para atingir o ponto de geleia, a fogo baixo até o ponto de geleia. Os provadores apresentaram idade
massa deve apresentar pH 3,2, a fruta Para todas as formulações proce- média de 36,8 anos, sendo seis homens
tem que ser rica em pectina (o que é o deu-se o envase ainda quente (85 a e nove mulheres. Quanto aos atributos
caso da goiaba-serrana) e apresentar 90°C). Não foi necessária a adição de avaliados, as formulações A, B, D e E não
concentração de açúcar entre 65 a 67,5 pectina ou ajuste de pH da polpa utiliza- apresentaram diferenças significativas;
ºBrix. Podem ser usadas fitas para veri- da. Após o resfriamento, foi efetuada a sendo que apenas a formulação C apre-
ficação do pH e refratrômetro para veri- identificação, armazenamento e fracio- sentou média estatisticamente inferior
ficação do açúcar (EPAGRI, 2006). namento das amostras para posterior (Tabela 1). Adicionalmente, as formu-
As geleias foram preparadas seguin- análises iniciadas em 8/2013. lações A e B foram classificadas como
do as etapas de seleção e higienização A análise sensorial foi conduzida demasiadamente doces, descaracte-
dos frutos; descascamento; extração com a participação de 15 provadores rizando o sabor original da fruta. Para
do suco/trituração da polpa; adição de não-treinados, conhecedores da fruta a amostra C os atributos receberam
açúcar e água; e cocção, de acordo com in natura, sendo possível, assim, a per- notas inferiores, destacando a textura
as formulações abaixo: cepção da manutenção do sabor carac- considerada muito “mole” e a desca-
- Formulação A: 1L de polpa tritu- terístico da fruta. Cada provador avaliou racterização do sabor original da fruta.
rada, 3L de água e 2,4kg de açúcar. Em os atributos: aparência, aroma, textura, A formulação D recebeu boa avaliação
uma panela, foram misturadas a pol- sabor e avaliação geral, utilizando es- com relação à textura, porém sem des-
pa, a água e metade do açúcar, man- cala hedônica de cinco pontos para os taque para sabor ou aroma. A amostra E
tendo-se em fervura por 30 minutos. atributos: 1 (desagradou muito), 2 (de- apresentou bom desempenho entre os
Acrescentou-se o restante do açúcar, e sagradou), 3 (indiferente), 4 (agradou) e atributos avaliados, recebendo comen-
manteve-se fogo brando sob agitação 5 (agradou muito). Além disso, os pro- tários adicionais por ter mantido o sa-
até dar ponto de geleia; vadores deixaram comentários gerais bor e aroma originais da fruta.
- Formulação B: 1L de polpa tritura- em relação às formulações. As amostras Quanto aos resultados da análise
da, 1L de água e 800g de açúcar. Foram foram analisadas seguindo as orienta- físico-química, os valores de pH encon-
misturadas a polpa, a água e metade do ções preconizadas pelo Instituto Adolfo trados variaram de 4,44 a 3,68 (Tabela
açúcar, mantendo-se em fervura por 30 Lutz (2008). As médias dos atributos fo- 2). Outros autores também observa-
minutos. Depois acrescentou-se o res- ram categorizadas conforme o gênero e ram valores de pH semelhantes, tais
tante do açúcar, mantendo-se sob fogo a idade dos provadores e submetidas ao como 3,87 para a geleia de gabiroba
brando e agitação até dar ponto de ge- teste não paramétrico Kruskal-Wallis ao (FREITAS et al., 2008); 3,41 (LAGO et al.,
leia; nível de 5% de probabilidade, conside- 2006) e de 3,56 a 3,72 (LAGO-VANZELA
- Formulação C: 1/2L de polpa tritu- rando como variáveis gênero e idade dos et al., 2011) para geleias de jambolão.
rada e coada, 1/2L de água e 640g de provadores e as diferentes formulações Ademais, a acidez, que variou de 0,65
açúcar. Foram misturadas a polpa, a de geleias. Salienta-se que o projeto so- a 1,70%, aparentemente não afetou o
água e metade do açúcar, mantendo- bre as atividades de uso de Acca sello- sabor das diferentes formulações. O va-
se em fervura por 20 minutos. Então foi wiana recebeu aprovação do comitê de lor de pH está diretamente associado à
acrescido o restante do açúcar, mexen- ética CAAE n. 16989113.5.0000.0121. estrutura do produto, assim pH baixo e
do até dar ponto de geleia; As geleias foram submetidas a aná- acidez elevada podem causar desidrata-
- Formulação D: 1L de suco de goia- lises de pH, acidez, teor de umidade, ção e hidrólise da pectina.
ba-serrana, acrescido de 560g de açú- e açúcares redutores e não redutores, Informações acerca da umidade
car. Foram misturados em uma panela de acordo com o Instituto Adolfo Lutz são importantes no processamento e
o suco e metade do açúcar e mantidos (2005). As determinações dos açúcares, armazenamento de alimentos (PARK et
em fervura por 15 minutos. Depois foi redutores em glicose e açúcares não re- al., 2001). Entre as geleias avaliadas,
acrescido o restante do açúcar, manten- dutores em sacarose foram realizadas verificou-se uma variação de 14,76%
do-se em fogo brando e sob agitação por meio de métodos titulométricos. Os a 34,08% entre os valores de umida-
até dar ponto de geleia; resultados foram submetidos à análise de para as amostras A e D (com CV de
- Formulação E: 5kg de frutos cujo de variância (ANOVA) e as médias com- 7,6%), porém sem observações diretas
suco foi retirado em panela extratora a paradas pelo teste de Tukey ao nível de quanto à durabilidade. Ressalta-se que
vapor de inox com capacidade para 5kg 5% de probabilidade. Todas as análises a legislação brasileira vigente estabele-
por duas horas, com rendimento médio estatísticas foram realizadas pelo pro- cida pela Anvisa para produtos e frutas
de 2L de suco. Foram acrescidos 1kg de grama Assistat 7.7 (SILVA & AZEVEDO, não define valor limite para a umidade
açúcar e 1L de água, mantendo-se em 2016). de geleias de frutas (ANVISA, 2005).

42 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.41-44, set./dez. 2017


Tabela 1 – Atributos de avaliação utilizados em painel degustativo de cinco diferentes formulações de geleia de Acca sellowiana.

Provadores
Formulações Atributos Gênero(1) Idade(1) Média
Feminino Masculino 18 – 30 31-43 44-57 Geral(2)

Aparência 4,3 4,3 4,0 4,0 4,5 4,3


Aroma 3,6 3,8 4,0 3,0 4,0 3,7
Textura 4,3 4,0 4,0 4,0 4,0 4,1
A
Sabor 3,6 4,2 5,0 3,3 4,2 4,0
Geral 3,9 3,8 5,0 3,3 4,0 3,9
Média 4,0a 4,0a 4,1a 3,5a 4,1a 4,0A
Aparência 4,4 4,3 4,0 4,0 5,0 4,4
Aroma 3,6 3,7 4,0 3,3 4,2 3,6
Textura 3,8 4,2 3,0 3,7 4,7 3,9
B
Sabor 4,0 4,7 4,0 3,7 4,3 4,3
Geral 4,0 4,2 4,0 3,3 4,3 4,1
Média 4,0a 4,2a 3,8b 3,3c 4,3a 4,1A
Aparência 3,3 3,4 4,0 2,7 3,1 3,4
Aroma 3,2 2,5 3,0 2,7 3,2 2,9
Textura 2,8 3,5 2,0 2,7 3,0 3,1
C
Sabor 2,6 2,7 2,0 2,0 2,8 2,6
Geral 2,4 2,8 2,0 2,0 2,8 2,6
Média 2,9a 3,0a 3,1a 2,4a 3,0a 2,9B
Aparência 4,0 4,2 4,0 3,3 4,2 4,1
Aroma 3,4 3,7 3,0 3,0 3,7 3,5
Textura 4,0 4,3 4,0 3,3 4,3 4,1
D
Sabor 3,9 4,2 4,0 3,3 4,0 4,0
Geral 4,0 3,8 4,0 3,3 3,8 3,9
Média 3,9a 4,0a 4,2a 3,3a 4,0a 3,9A
Aparência 4,1 4,7 4,0 3,3 4,5 4,3
Aroma 4,0 4,0 4,0 4,0 4,2 4,0
Textura 4,0 4,5 3,0 3,3 4,5 4,2
E
Sabor 3,9 4,5 4,0 4,0 4,0 4,2
Geral 4,1 4,5 4,0 3,7 4,3 4,3
Média 4,0a 4,4a 4,1a 3,7a 4,3a 4,2A
(1)
Categoria, Gênero e Idade: Letras minúsculas diferentes nas linhas indicam diferença estatística pelo teste de Kruskal-Wallis ao nível de 5% de
probabilidade. (2) Média Geral: Letras maiúsculas diferentes na coluna indicam diferença estatística pelo teste de Kruskal-Wallis ao nível de 5% de
probabilidade

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Tabela 2 - Características físico-químicas de cinco diferentes formulações de geleia de Acca sellowiana(1)
Açúcares (%)
Umidade Acidez CV* CV*
Amostras pH
(%) (%) (%) (%) CV* CV* Não CV*
Totais Redutores
(%) (%) redutores (%)

A 14,76 0,65d ± 0,02 2,89 4,40a ± 0,01 0,23 69,1a ± 0,6 0,94 56,3a ± 0,7 1,27 12,8b ± 1,3 10,45

B 24,89 0,84c ± 0,02 2,93 4,20b ± 0,03 0,60 58,8b ± 0,8 1,32 51,6b ± 3,0 5,77 7,2c ± 3,7 51,08

C 30,07 1,54ab ± 0,08 5,32 3,90c ± 0,02 0,39 55,9c ± 0,4 0,63 51,6b ± 0,5 0,89 4,4c ± 0,1 2,97

D 34,08 1,50b ± 0,05 3,13 3,91c ± 0,01 0,15 57,0c ± 0,4 0,70 52,2b ± 1,0 1,97 4,8c ± 1,4 28,84

E 20,70 1,70a ± 0,11 6,55 3,68d ± 0,01 0,27 53,8d ± 0,6 1,11 32,2c ± 0,3 0,95 21,6a ± 0,5 2,37
(1)
Dados apresentados como média ± desvio-padrão de três sub amostras/amostra. Em uma mesma coluna, médias com letras iguais não diferem,
significativamente, entre si, pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.* CV: Coeficiente de variação

É desejável a presença de açúcares dressa Dias. ção de geleia de jambolão (Syzygium


redutores, tendo em vista que estes cumini Lamarck): processamento, pa-
conferem aspecto brilhante, evitando a Referências râmetros físicos-químicos e avaliação
cristalização da sacarose, impedindo a sensorial. Ciência e Tecnologia de Ali-
exsudação e reduzindo o grau de doçura ANVISA. Agência Nacional de Vigilância mentos, Campinas, v.26, n.4, p.847-852,
das geleias (JACKIX, 1988). Os açúcares Sanitária. Resolução - RDC n. 272 de 22 2006.
totais variaram de 69,1% (amostra A) a de setembro de 2005. Aprova o Regu-
53,8% (amostra D). Menores teores de lamento técnico para produtos de ve- LAGO-VANZELA, E.S.; SANTOS, G.V.;
açúcares apresentam efeitos positivos getais, produtos de frutas e cogumelos LIMA, F.A.; GOMES, E.; DA-SILVA, R. Phy-
sobre a qualidade química e sensorial comestíveis. Brasília, 2005. sical-chemical, caloric and sensory cha-
da geleia, uma vez que evitam o sabor racterizationof light jambolan (Syzygium
extremamente doce (LAGO, 2006). EPAGRI. Curso Profissionalizante de cumini Lamarck) jelly. Ciência e Tecno-
De uma forma geral não foram ob- processamento de frutas: informações logia de Alimentos, Campinas, v.31, n.3,
servadas diferenças na análise sensorial técnicas. Florianópolis: Epagri, 2006. p.666-673, 2011.
das formulações de geleias, exceto para 58p. (Epagri. Boletim Didático, 53).
PARK, K.J.; BIN, A.; BROD, F.P.R. Obten-
formulação C, que se destacou negati-
FREITAS, J.B.; CÂNDIDO, T.L.N.; SILVA, ção das isotermas de sorção e mode-
vamente. Isto permite afirmar que a
M.R. Geleia de gabiroba: avaliação da lagem matemática para pêra bartlett
metodologia de preparo para a maioria
aceitabilidade e características físicas e (Pyrus sp.) com e sem desidratação os-
das formulações permitiu a manuten-
químicas. Pesquisa Agropecuária Tro- mótica. Ciência e Tecnologia de Alimen-
ção do aroma e sabor da fruta, além de
pical, Goiania, v.38, n.2, p.87-94, 2008. tos, Campinas, v.1, n.1, p.73-77, 2001.
um produto equilibrado e de boa acei-
tação INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físi- SANTOS, K.L.; SIMINSKI, A.; DUCRO-
Concluiu-se que as diferentes for- co-químicos para análise de alimentos. QUET, J.P.H.J.; GUERRA, M.P.; PERO-
mulações de geleia para goiaba-serrana Brasília, 2005. NI, N.; NODARI, R.O. Acca sellowiana
influenciam na aceitação e nas caracte- (goiabeira-serrana). In: CORADIN. L.;
rísticas físicas e químicas dos produtos, INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos
SIMINSKI, A.; REIS, A. Espécies Nativas
sugerindo atenção a essa etapa crucial físico-químicos para análise de alimen-
da Flora Brasileira de valor econômico
de transformação do produto. tos. 4.ed.; 1.ed. digital. São Paulo, 2008.
atual ou potencial: plantas para o fu-
Disponível em: <http://www.crq4.org.
turo região sul. Brasília: MMA, 2011.
Agradecimentos br/sms/files/file/analisedealimento-
p.111-129.
sial_2008.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2013.
A toda equipe da Epagri/Cetrejo, SILVA, F.A.S.; AZEVEDO, C.A.V. The Assis-
JACKIX, M.H. Doces, geleias e frutas em
em especial a Madilva Rodrigues Costa tat Software Version 7.7 and its use in
calda: teórico e prático. Campinas: Ico-
e Mariléia Vitória Mattos. A Humberto the analysis of experimental data. Afri-
ne, 1988. 172p.
Nunes Ribeiro, Lohanna Baltar, Jefferson can Journal of Agricultural Research,
de Oliveira, Jessiane Jastrombeck e An- LAGO, E.S.; GOMES, E.; SILVA, R. Produ- v.11, n.39, p.3733-3740, 2016.

44 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.41-44, set./dez. 2017


GERMOPLASMA

SCS374 Litorânea: novo cultivar de alface lisa selecionado no sistema


orgânico de produção
Rafael Gustavo Ferreira Morales1, Euclides Schallenberger1, Rafael Ricardo Cantu1, Alexandre Visconti1 e
Marcelo Mendes de Haro1
Resumo – O cultivar de alface SCS374 Litorânea é resultante de um prolongado trabalho de seleção de plantas de alface do
cultivar Empasc 357 (Litoral), realizado dentro do sistema orgânico de cultivo. O trabalho de seleção iniciou em 2008 com o
objetivo de obter plantas mais produtivas, pendoamento tardio e menor suscetibilidade às doenças foliares. O trabalho de
avaliação foi realizado na área de pesquisa em hortaliças da Epagri de Itajaí e também em propriedades rurais de tradicionais
produtores de alface em sistema orgânico de produção do Litoral e Vale do Itajaí, em Santa Catarina. O cultivar SCS374 Litorânea
destacou-se por apresentar peso médio e diâmetro da cabeça de 312g e 40cm, respectivamente, número médio de 44 folhas
por planta, sete dias a mais para iniciar o pendoamento e menor suscetibilidade ao míldio, distinguindo-se em praticamente
todas as características avaliadas, sendo por esse motivo inscrito no Registro Nacional de Cultivares, junto ao MAPA, sob a
inscrição n. 36084.

Termos para indexação: Lactuca sativa L., pendoamento tardio, Bremia lactucae.

SCS374 Litorânea: new looseleaf lettuce cultivar selected in the organic production system

The lettuce cultivar SC374 Litorânea results from a long study of the cultivar Empasc 357 Litoral. Since 2008, under organic
management system, researchers from Epagri assessed and selected lettuce strains presenting higher yield, flavor, physiological
quality, early bolting, and diseases tolerance. Experiments were conducted in the Itajaí Experimental Station of Epagri.
Additionally, representative farmers and vegetable producers were selected to evaluate promissory strains. Concluding the
study, the cultivar SCS374 Litorânea was selected, presenting in average plants with 40cm of diameter, 312 grams of weight,
44 leaves per plant and 7 days of early bolting tolerance and less susceptibility to downy mildew, when compared with other
cultivars. SCS374 Litorânea has been registered (RNC 36084) in the Brazilian Ministry of Agriculture, Livestock and Food Supply
(MAPA).

Index terms: Lactuca sativa L., later-bolting, Bremia lactucae.

Introdução fibras, que auxiliam na digestão e no mento, o que reduz a qualidade do pro-
bom funcionamento do intestino, além duto colhido (CONTI & TAVARES, 2000).
A alface (Lactuca sativa L.) é uma de minerais como ferro, cálcio e fósforo Assim, o cultivo de alface em regiões de
das hortaliças mais populares e consu- (ABREU et al., 2010). Como o período clima quente, como é o caso do litoral
midas no Brasil (SEDIYAMA et al., 2016). pós-colheita da planta é curto, normal- Norte catarinense, é limitado pela baixa
É uma planta anual, herbácea e de cau- mente as zonas produtoras concen- oferta de cultivares que se adaptam a
le diminuto. As folhas, parte comestível tram-se perto de grandes regiões de essas condições de cultivo. Nesse con-
da planta, podem ser lisas ou crespas, consumo. texto, a busca por cultivares com pen-
fechadas no formato de uma cabeça ou A alface tem como centro de origem doamento tardio pode ser considerada
não. A coloração pode variar do verde a Ásia, em regiões com temperaturas uma importante estratégia para a ex-
amarelado até o verde escuro, roxo ou amenas, fato que leva a cultura a produ- pansão do cultivo nessas regiões, prin-
variegato, dependendo do cultivar. De zir melhor nas épocas mais frias do ano cipalmente nos cultivos de verão e no
valor energético baixo, o seu conteúdo (OLIVEIRA et al., 2004). A ocorrência de cultivo em abrigos.
em água representa aproximadamen- temperaturas mais elevadas acelera o O melhoramento para obtenção de
te 96% do peso total. A alface contém ciclo cultural, antecipando o pendoa- cultivares de alface adaptados ao cul-

Recebido em 8/6/2017. Aceito para publicação em 1/9/2017


1
Eng.-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (047) 3398 6358, e-mails: [email protected],
[email protected], [email protected], [email protected], [email protected].

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.45-49, set./dez. 2017 45


tivo em épocas quentes é objetivo de Itajaí (EEI), coordenadas 26°56’34.3”S recomendação de um cultivar de alface
diversos trabalhos pelo mundo (SALA & e 48°45’30.8”W e altitude de 5m. De lisa, tanto para cultivo em sistema or-
COSTA, 2012; SALA & COSTA, 2008; DA- acordo com Köeppen (1948), o clima gânico de produção como para cultivo
MARANY, 1992; GONG, 1998). Lihong & do lugar é subtropical, com chuvas bem convencional.
Shijun (1994) estudaram a base fisioló- distribuídas e verão quente e úmido, do O trabalho de avaliação foi realizado
gica da resistência ao calor em cultiva- tipo Cfa. na área de pesquisa em hortaliças da
res de alface, tendo verificado que essa Nos anos que antecederam o início EEI e também em propriedades rurais
característica está relacionada à menor do trabalho, foi observado que o culti- de tradicionais produtores de alface do
temperatura foliar e a altas taxas de var Empasc 357 apresentava segregação Litoral e Vale do Itajaí, em Santa Catari-
transpiração em épocas quentes. Po- quanto ao início do pendoamento flo- na. O cultivo para avaliação das plantas
rém, outras características morfológicas ral. Assim, num campo de produção de foi realizado tanto em abrigos de cultivo
e fisiológicas também estão associadas, sementes, era possível observar plantas como em campo aberto. Na EEI todas
como o aumento no número de estô- pendoando precocemente e plantas avaliações foram realizadas com cultivo
matos na folha e espessamento foliar que demoravam de 7 a 10 dias a mais em sistema orgânico de produção. O tra-
(CONTI & TAVARES, 2000). para iniciar o pendoamento. Para a pro- balho consistiu no plantio das mudas de
Se por um lado a tolerância ao pen- dução de sementes esse fato não tem alface em canteiros de 1,20m de largura
doamento precoce é uma característi- maiores implicações. Contudo, pensan- com espaçamento de plantio de 0,30m
ca importante para o cultivo de verão, do em produção vegetal, um cultivar x 0,30m, irrigação por gotejamento e
a maior tolerância ao míldio, doença que demora 7 dias a mais para pendoar adubação com composto orgânico na
causada pelo oomiceto do reino Stra- pode trazer vantagens agronômicas in- dose oficial recomendada (SOCIEDA-
menopila, Bremia lactucae Regel, é teressantes ao produtor rural. DE..., 2004). Em cada cultivo foram uti-
considerada decisiva para o sucesso no
O trabalho de seleção iniciou em lizadas 2.000 plantas. Na medida em
cultivo nas demais épocas do ano. Em
2008 com o objetivo de selecionar plan- que as plantas se desenvolviam, eram
um cenário econômico difícil para os
tas com maior resistência ao pendoa- retiradas aquelas em desconformidade
produtores de alface, o míldio é um pro-
mento precoce e com maior tolerância e as que iniciavam o pendoamento. Em
blema grave, pois aumenta os custos de
ao míldio, visando ao lançamento e à cada plantio restaram apenas cerca de
produção justamente quando os preços
praticados são menores devido à maior
oferta e ao menor consumo (SOUZA et
(A)
al., 2011).
Em virtude desses problemas, a
equipe de pesquisadores em olericultu-
ra da Epagri de Itajaí trabalhou no de-
senvolvimento de um cultivar de alface
lisa para o sistema orgânico de produ-
ção, que apresentasse pendoamento
mais tardio quando comparado com
cultivares de alface lisa tradicionalmen-
te cultivados na região, e com maior to-
lerância ao míldio, que é uma das princi-
pais doenças que ocorrem na alface no
estado de Santa Catarina.
(B) (C)
Origem e histórico de
obtenção do SCS374
Litorânea
O cultivar SCS374 Litorânea é re-
sultante de um prolongado trabalho
de seleção de plantas de alface do cul-
tivar Empasc 357 (Litoral) realizado Figura 1. Avaliação de campo com diferentes cultivares de alface lisa (A), aspecto visual da
pela Epagri/Estação Experimental de alface SCS374 Litorânea (B) e da folha (C). Itajaí, Santa Catarina, 2016

46 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.45-49, set./dez. 2017


5% das plantas que apresentaram me- Tabela 1. Principais características do cultivar SCS 374 Litorânea. Itajaí, Santa Catarina, 2016
nor incidência de doenças e com pen- Ano
doamento mais tardio, as quais foram
deixadas para produção de sementes   2010 2011 2012 2013 2014
(Tabela 1). Este trabalho foi realizado
Número de plantas eliminadas por avaliações
na EEI nos anos de 2008, 2010, 2011, 250 199 168 145 80
fitossanitárias
2012, 2013 e 2014, sempre no período
de verão, entre os meses de novembro Número de plantas avaliadas quanto ao
1750 1801 1832 1855 1920
e fevereiro. pendoamento
Em 2015 o melhor acesso, denomi-
Número de plantas selecionadas (5%) 88 90 92 93 96
nado cultivar Litorânea, passou a ser
comparado com cultivares comerciais, Número médio de dias para pendoamento da
49 51 50 52 51
visando à avaliação das suas caracterís- seleção
ticas agronômicas com as demais culti-
vares de alface lisa existentes no mer- Número médio de dias para pendoamento da
47 48 46 46 44
cado. Empasc 357

Diferença entre o tempo médio para


2 3 4 6 7
Avaliações experimentais pendoamento (dias)

do SCS374 Litorânea
Tabela 2. Comparação agronômica do cultivar SCS 374 Litorânea com outros cinco cultivares
comerciais de alface lisa. Itajaí, Santa Catarina, 2016
A linhagem Litorânea foi compara-
da com os cultivares Gamboa (Isla), Lí- Peso Peso Peso
Aspecto
via (Topseed), Regiane (Sakata), Regina Cultivares (gramas) (gramas) Médio SPP Sabor SM
visual
(Feltrin), Regina 500 (Topseed), todas 2015 2016 (gramas)
comerciais, na EEI em abrigos de culti-
Litorânea 300,00 b 346,00 b 323,00 Baixa Bom Bom Baixa
vo, no verão dos anos de 2015 e 2016.
Os ensaios foram conduzidos no deline- Regina 500 267,00 b 355,00 b 311,00 Alta Bom Médio Baixa
amento experimental de blocos ao aca-
Regina 337,00 a 398,00 a 367,50 Alta Bom Médio Baixa
so, com quatro repetições e parcelas de
24 plantas. Os parâmetros de avaliação Lívia 285,00 b 301,00 c 293,00 Média Médio Ruim Baixa
foram pendoamento precoce, produti-
Gamboa 322,00 a 346,00 b 334,00 Alta Bom Bom Baixa
vidade comercial, suscetibilidade a do-
enças foliares, qualidade comercial das Regiane 331,00 a 351,00 b 341,00 Alta Bom Médio Baixa
plantas, número de folhas, sabor, aspec- Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). SPP-
to visual e vigor das plantas. Suscetibilidade ao pendoamento precoce; SM- Suscetibilidade ao míldio.
A linhagem Litorânea destacou-se
dos cultivares comerciais por apresentar com envolvimento do extensionista mu- Descrições morfológicas e
baixa suscetibilidade ao pendoamento nicipal da Epagri, lideranças municipais
precoce (Tabela 2), boa produtividade e técnicos da cadeia produtiva. Em cada
desempenho agronômico
comercial, boa qualidade comercial das local de avaliação utilizou-se o deline-
O cultivar Litorânea apresenta folhas
plantas, maior número de folhas, bom amento experimental de blocos com-
lisas, de formato elíptico alargado e sem
sabor, bom aspecto visual, resistência pletamente casualizados, com quatro
à desfolha causada por coleópteros e divisão do limbo foliar, não formando
repetições em parcelas de 24 plantas. cabeça, e com hábito de crescimento
bom vigor das plantas.
Nos quatro locais de avaliação o cultivar semiereto, de coloração verde-clara,
Em 2015 a alface Litorânea foi ava-
Litorânea manteve estável a caracterís- sem a presença de pigmentação anto-
liado em três municípios de Santa Ca-
tica de pendoamento tardio para qual ciânica (antocianínica), com presença
tarina (Itajaí, Timbó e Santo Amaro da
Imperatriz), em cultivo de verão (entre foi selecionada (Tabela 3), mantendo marcante de bolhas de tamanho médio
novembro e fevereiro), em proprieda- as qualidades agronômicas, com bom em todas as folhas (Tabela 4).
des de tradicionais produtores de alfa- aspecto visual das folhas e bom sabor, Tanto nas avaliações experimentais,
ce, pelo processo de pesquisa partici- sendo por este motivo recomendado como nas pesquisas participativas, o
pativa (SCHALLENBERGER et al., 2011), para seu registro no MAPA. cultivar Litorânea se destacou agrono-

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.45-49, set./dez. 2017 47


Tabela 3. Avaliação do cultivar SCS 374 Litorânea em diferentes localidades do estado de micamente por apresentar peso médio
Santa Catarina, 2016 da cabeça no momento da colheita de
Peso 312g, com diâmetro de cabeça de 40cm
Nº Aspecto e número médio de 44 folhas por planta
Local planta DIP Sabor SM
folhas visual (Tabela 4). A principal característica que
(gramas) 
foi fixada no cultivar Litorânea é o pen-
Itajaí - Produtor 263,30 d 50,00 35,08 Bom Bom Baixa doamento tardio, demorando em mé-
Timbó 367,00 a 49,00 43,00 Bom Bom Baixa dia sete dias a mais para iniciar o pen-
doamento no verão quando comparado
Itajaí-Epagri 323,00 b 51,00 42,00 Bom Médio Baixa aos principais cultivares de alface lisa
Santo Amaro da cultivados na região. O pendoamento
294,50 c 50,00 38,00 Médio Bom Baixa precoce, que é identificado num primei-
Imperatriz
ro momento pelo alongamento do cau-
Média 311,95  50 39,52 Bom Bom Baixa le, reduz o número de folhas e estimula
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). DIP- Dias para a produção de látex, o que torna a folha
o início do pendoamento; SM- Suscetibilidade ao míldio.
amarga ao paladar humano (CONTI &
TAVARES, 2000). Além disso, pode resul-
Tabela 4. Principais características do cultivar SCS 374 Litorânea. Itajaí, Santa Catarina, 2016 tar na colheita de plantas menores que
Peso médio da planta comercial (gramas) (1) 312 o padrão comercial, não expressando o
seu máximo potencial genético, com-
Diâmetro médio da planta (cm) 40
prometendo a produção.
Número médio de folhas 44 Outra característica agronômica re-
Suscetibilidade ao míldio (Bremia lactucae Regel) Baixa levante em comparação aos cultivares
comerciais é a baixa suscetibilidade ao
Cor da semente Branca míldio, que é uma doença comum no
Antocianina na plântula Ausente inverno catarinense.
Hábito de crescimento da folha (10 a 12 folhas) Semiereto
Perspectivas futuras
Hábito de crescimento da folha (colheita) Semiereto
Divisão do limbo foliar Inteiro O cultivar SCS374 Litorânea tem po-
tencial para ser cultivado além do limí-
Formação de cabeça Não forma
trofe do litoral norte do estado de Santa
Forma da folha Elíptica alargada Catarina, principalmente em regiões
Espessura da folha Média tropicais e no cultivo de verão, condição
na qual poucos cultivares apresentam
Cor das folhas externas Verde bom desempenho agronômico. O ma-
Intensidade da cor das folhas Clara terial se adaptou muito bem no culti-
vo orgânico, sendo recomendado para
Coloração pela antocianina na folha Ausente
esse sistema. Além disso, proporcionou
Brilho da face superior da folha Fraco resultados promissores em cultivos ex-
Perfil das folhas externas Côncavo perimentais em hidroponia NFT, pos-
sibilitando o seu cultivo em ambos os
Embolhamento foliar Forte
sistemas de produção.
Tamanho das bolhas foliares Médio
Grau de ondulação da margem foliar Fraco Disponibilidade de material
Brotação axilar (colheita) Ausente ou fraca O cultivar SCS374 Litorânea está ins-
Ciclo até a colheita Médio crito no Registro Nacional de Cultivares
(RNC), sob a inscrição n. 36084. As se-
Início da emissão do pendão floral sob dias longos Tardio
mentes podem ser obtidas diretamente
Todas as características a partir da cor da semente foram levantadas conforme critérios para
(1)
na Estação Experimental da Epagri de
ensaios de distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade de cultivares de alface (Lactuca sativa L.),
disponibilizado pelo Serviço Nacional de Proteção de cultivares (SNPC/MAPA). Itajaí, SC.

48 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.45-49, set./dez. 2017


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Leve a
Epagri
com você

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.45-49, set./dez. 2017 49


GERMOPLASMA

Novo cultivar de tomate: SCS375 Kaiçara


Euclides Schallenberger1, Rafael Ricardo Cantu1, Rafael Gustavo Ferreira Morales1, José Angelo Rebelo2, Alexandre
Visconti1 e Marcelo Mendes de Haro1
Resumo – O tomate é uma das hortaliças mais produzidas e consumidas no Brasil e no mundo. O Brasil é o oitavo produtor
mundial e Santa Catarina, o sétimo produtor nacional, o que torna a cultura uma atividade de grande importância econômica
e social. Nas últimas décadas, a produção de tomates está passando por transformações. As sementes de cultivares de
polinização aberta estão sendo substituídas por sementes híbridas, o que inviabiliza a retirada das próprias sementes pelos
produtores, tornando-os dependentes de compra externa. A legislação nacional para produção em sistema orgânico orienta
que as sementes utilizadas no processo de produção sejam oriundas de sistemas orgânicos de produção e de cultivares de
polinização aberta. Para atender essa demanda, pesquisadores do Programa de Pesquisa em Hortaliças da Epagri iniciaram no
ano de 2003 a avaliação de 57 acessos de tomate de polinização aberta, obtidos de produtores de tomate, fazendo avaliações
de produtividade, incidência de pragas e doenças e de qualidade dos frutos. Concluído o processo, foi selecionado o cultivar
SCS375 Kaiçara, que apresenta as características desejáveis pelo mercado.
Termos para indexação: Solanum lycopersicum, cultivar, produção de sementes, solanaceae, polinização aberta.

New tomato cultivar: SCS375 Kaiçara

Abstract – Tomato is one of the most produced and consumed vegetables in Brazil and in the world. Brazil is the eighth
largest producer in the world and Santa Catarina is the seventh national producer, making the culture an activity of great
economic and social importance. In the last decades, the production of tomatoes is going through transformations. The seeds
of open pollinated cultivars are being replaced by hybrid seeds, which makes it impossible for producers to obtain their own
seeds, making them dependent on external purchase. The national legislation for organic production guides the seeds used in
the production process to come from organic production systems and from open pollinated cultivars. To meet this demand,
researchers from the Epagri Vegetable Research Program began evaluating 57 open-pollinated tomato accessions obtained
from tomato producers in 2003, evaluating productivity, pest and disease incidence, and fruit quality. After completing the
process, the cultivar SCS375 Kaiçara was selected, presenting the desirable characteristics of the market.

Index terms: Solanum lycopersicum, cultivar, seed production, solanaceae, open pollination.

Introdução A primeira descrição botânica do to- fruto, têm forma de rim ou de pera. São
mateiro foi feita por Pier Andrea Mattio- pilosas, de cor cinza a castanho-clara,
O tomateiro Solanum lycopersicum li, do Jardim Botânico de Pádua (Itália), com 3-5mm de comprimento e 2-4mm
pertence à família botânica das solaná- que a publicou em 1554 (NUEZ, 2001). de largura. Em um grama há cerca
ceas. É originário da região andina, do A planta do tomateiro é herbácea, de 300 sementes. Segundo Espinoza
norte do Chile até o Peru. O tomateiro podendo ter crescimento determinado (1991), prorroga-se por mais de quatro
foi introduzido no México no século XV, e indeterminado (ALVARENGA, 2004). anos o poder germinativo e o vigor de
em Puebla e Vera Cruz, de onde, depois As flores do tomateiro são hipóginas e sementes de tomate, se forem armaze-
de domesticado, foi difundido pelos hermafroditas e em inflorescência agru- nadas em embalagem hermética com
portugueses e espanhóis pelo mundo. pada (cacho), com 5-12 flores. Na maio- baixo nível de umidade. A semente não
Trazido para o Brasil durante a coloniza- ria dos casos há autopolinização, mas está sujeita a período de dormência, po-
ção do País, teve a expansão do cultivo pode haver polinização cruzada (5%) dendo germinar logo após sua retirada
com o fluxo dos imigrantes para o sul e quando o estilete se alonga expondo-se, do interior do fruto.
sudeste. A partir de 1970 o cultivo de o que ocorre sob condição de alta tem- O tomate é atualmente uma das hor-
tomateiro já era comum em todo o Bra- peratura (ESPINOZA, 1991). taliças mais produzidas e consumidas no
sil (MAKISHIMA, 2003). As sementes do tomate, até 200 por Brasil e no mundo, sendo cultivado em

Recebido em 13/3/2017. Aceito para publicação em 18/8/2017.


1
Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88318-112 Itajaí, e-mails: [email protected], rrcantu@epagri.
sc.gov.br, [email protected], [email protected], [email protected].
2
Engenheiro-agrônomo, Dr., pesquisador aposentado, fone: (047) 3366 0201, e-mail: [email protected].

50 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.50-54, set./dez. 2017


todas as regiões tropicais e subtropicais. cas agronômicas e sensoriais, a equipe tividade, qualidade comercial dos frutos
O fruto do tomateiro e seus produtos de pesquisa em olericultura da Epagri/ e resistência a doenças foliares.
representam uma das mais importan- Estação Experimental de Itajaí (EEI) ini- A partir do ano de 2008 iniciou na
tes fontes de vitamina C, pró-vitamina A ciou trabalhos de seleção e avaliação de EEI o trabalho de avaliação dos oito
(beta-caroteno) e antioxidantes (licope- cultivares de tomate, visando disponi- melhores acessos de tomate. Em cada
no e outros carotenoides) na dieta hu- bilizar cultivares de polinização aberta acesso houve seleção das melhores
mana (CARVALHO et al., 2014). O Brasil aos produtores que queiram produzir a plantas. A partir de então, as avaliações
é o oitavo produtor mundial, sendo a própria semente. Todo processo de se- dos acessos de tomateiro foram sem-
China o principal. A produção no Brasil leção e avaliação dos cultivares foi reali- pre realizadas em abrigo de cultivo tipo
é de 3.519 mil toneladas cultivadas em zado em sistema orgânico de produção, pampeano com pé direito de 3m de al-
55 mil ha. Em Santa Catarina a cultura atendendo a recomendação da legisla- tura e cumeeira de 4,5m, coberto com
do tomate é uma atividade de grande ção, que orienta que as sementes para polietileno e revestido nas laterais com
importância econômica e social. O Esta- produção orgânica sejam oriundas de tela anti-insetos. O delineamento foi o
do é o 7o produtor nacional de tomates, sistema orgânico de produção. de blocos ao acaso com quatro repeti-
com 171,4 mil toneladas produzidas em Concluído o processo de prospec- ções e 20 plantas por parcela. No cultivo
2,8 mil ha (ANATER, 2016). ção, seleção e avaliação dos cultivares, a foram utilizados apenas produtos (com-
A produção de tomates está pas- equipe de pesquisas em Olericultura da posto orgânico e calda bordalesa) per-
sando por profunda transformação nas Epagri/EEI selecionou diversos cultiva- mitidos para sistema orgânico de produ-
últimas décadas. As sementes de culti- res (dentre eles o cultivar SCS375 Kaiça- ção, conforme normas oficiais (BRASIL,
vares de polinização aberta estão sendo ra, tido como o melhor), registrando no 2003).
substituídas por sementes híbridas, o Registro Nacional de Cultivares (RCN) As avaliações foram realizadas pelo
que impede a retirada das próprias se- do Ministério da Agricultura, Pecuária e sistema de pesquisa participativa, onde
mentes pelos produtores, tornando-os Abastecimento (MAPA). produtores de tomate indicaram e ava-
dependentes de compra externa. Outro liaram os parâmetros com objetivo de
aspecto é que poucos cultivares híbridos
dominam o mercado, o que representa
Origem, histórico e escolher o melhor acesso. Os parâme-
tros de avaliação foram produtividade
estreitamento da base genética e deixa avaliações comercial, suscetibilidade a doenças fo-
o produtor com poucas opções. Além liares, qualidade comercial dos frutos e
disso, as sementes híbridas são relativa- O cultivar SCS375 Kaiçara é resul- vigor das plantas. Concluída a avaliação
mente caras para os pequenos produto- tante de um prolongado trabalho de dos cultivares na EEI (onde se destacou
res (ANDREUCCETTI et al., 2005). seleção de materiais de tomate realiza- o cultivar SCS375 Kaiçara com estabili-
A legislação nacional para produ- do pela Epagri/EEI. dade na produtividade), os melhores
ção de hortaliças em sistema orgânico O trabalho de seleção iniciou em acessos foram levados para avaliação
recomenda que as sementes utilizadas 2003 com o objetivo de formar um ban- em municípios do litoral Centro Norte
no processo sejam oriundas de sistemas co de germoplasma de tomate para as de Santa Catarina (Massaranduba, Blu-
orgânicos de produção e que não sejam condições do litoral catarinense e Vale menau e Camboriú). Esta etapa foi reali-
utilizadas sementes híbridas nem gene- do Itajaí, visando ao lançamento e à re- zada em propriedades de produtores de
ticamente modificadas (BRASIL, 2003). comendação de cultivares para cultivo tomate, pelo processo de pesquisa par-
No processo de seleção de cultivares em sistema orgânico. ticipativa, com envolvimento do exten-
de tomate, a amplitude de adaptação, Os cultivares de tomate são oriun- sionista municipal da Epagri, lideranças
o potencial produtivo, a resistência ou dos dos três estados do Sul do Brasil, municipais e produtores de tomate do
tolerância a doenças e pragas e as carac- por meio da prospecção de cultivares município. As avaliações foram as mes-
terísticas organolépticas superiores são de tomate plantados por produtores mas realizadas na EEI.
os atributos que definem a viabilidade familiares que cultivavam em sistema Após a conclusão desta eta-
ou não de seu cultivo em escala comer- orgânico de produção. Este processo pa de pesquisa participativa, o cultivar
cial (MELO et al., 2009). Os problemas teve o aval dos produtores, que concor- SCS375 Kaiçara (Figura 1) destacou-se
fitossanitários constituem o fator limi- daram em ceder os materiais para fins nas avaliações agronômicas realizadas,
tante principal à expansão da produ- de pesquisa. sendo o melhor cultivar dentre os ma-
ção de tomate orgânico. Por isso, o uso Estes cultivares passaram a ser teriais avaliados, inferior apenas ao co-
de cultivares tolerantes ou resistentes avaliados na EEI, cultivados em campo mercial híbrido, sendo por esse motivo
pode representar para os produtores aberto em parcelas de 10 plantas. Nesta recomendado para registro no Registro
real vantagem no manejo de pragas e avaliação, os melhores acessos quanto Nacional de Cultivares (RNC) do MAPA.
doenças, bem como viabilidade de ado- à produtividade, qualidade dos frutos
ção do cultivar (BETTIOL et al., 2004). e resistência a doenças foliares foram
Considerando que muitos produto- sendo selecionados e continuaram Descrições morfológicas e
res ainda mantêm cultivares crioulos de em avaliação anual até o ano de 2007, desempenho agronômico
tomate em suas propriedades, selecio- quando apenas oito acessos foram sele-
nados pelas mais variadas característi- cionados como os melhores em produ- A planta do cultivar SCS375 Kaiçara
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.50-54, set./dez. 2017 51
é de crescimento indeterminado, com
entrenó médio, ausência de abscisão
do pedúnculo, folhas curtas, horizontais
e de largura média (Tabela 1), caracte-
rísticas desejáveis do ponto de vista de
facilidade nos tratos culturais e manejo
fitossanitário, melhorando também a
aeração do cultivo e propiciando condi-
ções desfavoráveis para surgimento de
doenças foliares (Figura 2).
Em avaliações na EEI, o cultivar
SCS375 Kaiçara apresentou estabilidade
na produção ao longo dos anos de 2008,
2009, 2012, 2014 e 2015. A produtivi-
dade média do cultivar SCS375 Kaiçara
foi de 67.772kg/ha. Esta produtividade
foi inferior à do híbrido comercial, mas
maior que os demais cultivares avalia-
dos, tanto nas avaliações na EEI como
nos municípios de Massaranduba, Blu-
menau e Camboriú (Tabela 2).
Outra importante característica do
cultivar SCS375 Kaiçara é a baixa susce-
tibilidade a doenças foliares. Trata-se de Figura 1. Frutos do cultivar de tomate SCS375 Kaiçara. Epagri / Estação Experimental de
Itajaí, 2016
uma característica desejável em qual-
quer cultivar para todos os sistemas de
cultivo, principalmente para sistemas orgânicos de produção, onde
não é permitido o uso de agrotóxicos convencionais.
Os frutos são firmes, de coloração vermelha e formato tipo ca-
qui, apresentando pequena área coberta pelo ombro verde e peso
médio de 106 gramas. Quanto à qualidade nutricional, sabe-se que
o tomate e seus derivados são ricos em compostos relacionados à
saúde alimentar, com destaque para o antioxidante ácido ascórbico
e para compostos fenólicos (SOUZA et al., 2008). Nas avaliações quí-
micas dos frutos do SCS375 Kaiçara, a acidez foi de 0,38 (g ácido cí-
trico 100g-1), fenólicos de 40,4 (GAE mg 100g-1) e 6,22 (mg 100g-1) de
Vitamina C. Segundo Borguini & Silva (2005), Monteiro et al. (2008)
e Silva et al. (2010), estes valores estão dentro dos padrões ideais
para um tomate de mesa (Tabela 3). Por sua composição química
de boa qualidade, torna-se competitivo e desejável sob a ótica do
consumidor.
Além disso, por ser de polinização aberta, o cultivar SCS375 Kai-
çara possibilita ao agricultor a retirada da própria semente. Isto,
para o sistema agroecológico e orgânico de produção, é um impor-
tante fator, pois reduz os custos de produção e diminui a dependên-
cia de insumos externos à propriedade. Outra vantagem é que, com
sementes próprias e de polinização aberta, fica mais fácil para os
produtores de tomate em sistema orgânico de produção atenderem
as normas oficiais de produção orgânica (BRASIL, 2003).

Perspectivas e problemas
O cultivar SCS375 Kaiçara tem grande potencial de cultivo prin-
cipalmente para os produtores que adotam o sistema orgânico de
produção. A agricultura orgânica está crescendo, ganhando cada vez
mais reconhecimento social, político e científico em todo o mundo
por estar fundamentada na aplicação de insumos locais, o que au- Figura 2. Planta em cultivo do cultivar de tomate SCS375
menta o valor agregado e propicia uma cadeia de comercialização Kaiçara. Epagri / Estação Experimental de Itajaí, 2016

52 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.50-54, set./dez. 2017


Tabela 1. Características e descrição morfológica do cultivar SCS375 Kaiçara. Epagri / Estação mais justa (MELO et al., 2009). O mer-
Experimental de Itajaí, 2016 cado de produtos orgânicos é impulsio-
Descrição da nado pela demanda de consumidores
Característica preocupados com qualidade, saúde,
característica
questões ambientais e de preservação
1. Plântula: pigmentação antociânica do hipocótilo Presente
(TOLEDO et al., 2011). A menor susceti-
2. Planta: hábito de crescimento Indeterminado bilidade da planta a doenças foliares, a
3. Haste: pigmentação antociânica no terço superior Ausente ou muito fraca boa produtividade e qualidade dos fru-
tos, aliadas à possibilidade de retirar a
4. Haste: comprimento do entrenó Médio própria semente, são vantagens que o
5. Folha: posição (no terço médio da planta) Horizontal cultivar SCS375 Kaiçara oferece frente
6. Folha: comprimento Curta outros materiais disponíveis no merca-
do.
7. Folha: largura Média O ‘SCS375 Kaiçara’ pode ser cultiva-
8. Folha: forma Tipo 1 do em todo estado de Santa Catarina,
porém devem ser respeitadas as épocas
9. Folha: divisão do limbo Bipinada
de cultivo indicadas para cada região.
10. Folha: intensidade de cor verde Média
11. Folhas: presença de bolhas Fraca Disponibilidade de
12. Inflorescência: tipo Principalmente multípara sementes
13. Flor: fasciação (primeira flor da inflorescência) Ausente
O cultivar SCS375 Kaiçara está ins-
14. Flor: coloração Amarela crito no Registro Nacional de Cultivares
15. Pedúnculo: abscisão Ausente (RNC), sob a inscrição n. 36085, e dispo-
nível na Epagri/ Estação Experimental
16. Pedúnculo: comprimento (desde a zona de
Médio de Itajaí.
abscisão até o cálice)
17. Fruto: tamanho Médio
Referências
18. Fruto: razão comprimento/diâmetro Pequena
19. Fruto: formato na seção longitudinal Elíptico ALVARENGA, M.A.R. Tomate: Produção
20. Fruto: costelamento na zona peduncular Ausente ou muito fraco em campo, em casa-de-vegetação e em
hidroponia. Lavras: UFLA, 2004. 400p.
21. Fruto: depressão na zona peduncular Média
ANATER, E.U. Tomate. In: EPAGRI/CEPA.
22. Fruto: tamanho da cicatriz peduncular Média
Síntese anual da agricultura de Santa
23. Fruto: tamanho da lesão pistilar Pequena Catarina 2015-2016. Florianópolis: Epa-
24. Fruto: forma da extremidade pistilar Plana gri, 2016. p.87-89.
25. Fruto: tamanho do miolo em seção transversal ANDREUCCETTI, C.; FERREIRA, M.D.;
Médio
(em relação ao diâmetro total) GUTIERREZ, A.S.D.; TAVARES, M. Carac-
26. Fruto: espessura do pericarpo Média terização da comercialização de tomate
de mesa na CEAGESP: perfil dos ataca-
27. Fruto: número predominante de lóculos Somente dois distas. Horticultura Brasileira, Brasília,
28. Fruto: ombro verde (antes da maturação) Presente v.23, n.2, p.324-328, abr.-jun, 2005.
29. Fruto: área coberta pelo ombro verde Pequena BETTIOL, W.; GHINI, R.; GALVÃO, J.A.H.;
30. Fruto: intensidade de coloração verde do ombro Fraca SILOTO, R.C. Organic and conventional
tomato cropping systems. Scientia Agri-
31. Fruto: intensidade da coloração verde antes da
Fraca cola, Piracicaba, v.61, n.3, p.253-259,
maturação
maio-jun. 2004.
32. Fruto: coloração extrema na maturação Vermelha
BORGUINI, R.G.; SILVA, M.V. Característi-
33. Fruto: coloração interna (polpa) na maturação Vermelha
cas físico-químicas e sensorias do toma-
34. Fruto: firmeza Firme te (Lycopersicon esculentum) produzido
35. Ciclo até o florescimento: primeira flor Médio por cultivo orgânico em comparação ao
convencional. Alim. Nutr., Araraquara,
36. Ciclo até a maturação Médio
v.16, n.4, p.355-361, out./dez. 2005.
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.50-54, set./dez. 2017 53
Tabela 2. Produtividade comercial (kg/ha) de cultivares de tomate, cultivados nos anos de 2008, 2009, 2012, 2014 e 2015 na EEI e em
Blumenau, Camboriú e Massaranduba – Epagri / Estação Experimental de Itajaí, 2016
Massaran-
Cultivares Itajaí - EEI Blumenau Camboriú Média
duba

2008 2009 2012 2014 2015 2015 2015 2015


Kaiçara 73.940 bABC 70.395 bCD 78.236 bAB 84.583 bA 73.420 bBC 60.480 abD 62.000 aCD 39.118 bE 67.772 b
Híbrido
95.590 aB 88.640 aB 91.420 aB 93.700 aB 108.600 aA 62.392 abC 65.360 aC 59.423 aC 83.141 a
comercial
Miguelinho 28.857 dD 55.678 cB 56.700 cB 55.870 cdB 78.700 bA 46.150 dC 39.808 bC 30.622 bcD 49.048 c
Santa Clara
19.128 eD 43.420 deB 43.861 deB 47.370 dB 32.080 dC 67.725 aA 31.045 bcC 23.881 cdCD 38.564 e
157
Santa Clara
65.100 bA 54.450 cB 55.013 cB 56.930 cAB 45.300 cC 43.836 dC 38.931 bCD 29.947 bcD 48.688 c
120
Klaus 17.240 eD 37.382 eB 37.756 eB 55.049 cdA 20.760 eCD 57.525 bcA 26.728 cC 20.560 dCD 34.125 f
Klaus indeter-
35.000 dD 45.200 deC 45.695 deC 82.164 bA 32.340 dDE 55.486 bcB 32.318 bcDE 24.860 cdE 44.133 d
minado
Turquia 37.235 dBC 43.420 deAB 43.852 deAB 28.461 eCD 17.280 eE 49.600 cdA 31.045 cCD 23.881 cdDE 34.347 f
Grécia 55.300 cAB 50.694 cdBC 51.201 cdBC 59.826 cA 44.320 cCD 46.088 dC 36.245 bcDE 27.881 cdE 46.444 cd
47.488C 54.364B 55.970B 62.661A 50.311C 54.365B 40.387D 31.130E

*Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).

Tabela 3. Principais características agronômicas e químicas do cultivar de tomate SCS375 gido. Horticultura Brasileira, Brasília,
Kaiçara, nos anos de 2008, 2009, 2012, 2014 e 2015. Epagri / Estação Experimental de v.27, n.4, p.553-559, out.-dez. 2009.
Itajaí, 2016
Cultivar SCS 375 Kaiçara MONTEIRO, C.S.; BALBI, M.E.; MIGUEL,
Produtividade (kg/ha) 67.772,00 O.G.; PENTEADO, P.T.P.S.; HARACEMIV,
Peso médio do fruto (gramas) 106 S.M.C. Qualidade nutricional e antioxi-
Diâmetro médio do fruto (cm) 6,5 dante do tomate “tipo italiano”. Alim.
Nutr., Araraquara, v.19, n.1, p.25-31,
Suscetibilidade a doenças foliares Baixa
jan./mar. 2008.
Hábito de crescimento Indeterminado
Acidez (g ácido cítrico 100g ) -1
0,38 NUEZ, F. El Cultivo del Tomate. Madrid:
Fenólicos (GAE mg 100g-1)* 40,4 Mundi Prensa, 2001. 793p.
Vitamina C (mg 100g ) -1
6,22 SILVA, M.L.C.; COSTA, R.S.; SANTANA,
*GAE - Equivalente ao ácido gálico A.S.; KOBLITZ, M.G.G.B. Compostos fe-
nólicos, carotenóides e atividade antio-
BRASIL. Lei n. 10.831, de 23 de ESPINOZA, W. Manual de Produção de xidante em produtos vegetais. Ciências
dezembro de 2003.  Diário Oficial da Tomate Industrial no Vale do São Fran- Agrárias, Londrina, v.31, n.3, p.669-682,
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BOITEUX, L.S. Melhoramento genético
TOLEDO, D.S.; COSTA, C.A.; BACCI, L.;
do tomateiro para resistência a doenças MELO, P.C.T.; TAMISO L.G.; AMBROSA-
de etiologia viral: avanços e perspectivas. NO, E.J.; SCHAMMASS, E.A.; INOMOTO, FERNANDES, L.A.; SOUZA, M.F. Produc-
Revista Anual de Patologia de Plantas M.M.; SASAKI, M.E.M.; ROSSI, F. De- tion and quality of tomato fruits under
(RAPP), Passo Fundo, v.22, p.280-361, sempenho de cultivares de tomateiro organic management. Horticultura Bra-
2014. em sistema orgânico sob cultivo prote- sileira, Brasília, v.29, p.253-257, 2011.

54 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.50-54, set./dez. 2017


ARTIGO CIENTÍFICO

Índices de maturação para o ponto ideal de


colheita de maçãs ‘SCS425 Luiza’
Fernanda Pelizzari Magrin1, Luiz Carlos Argenta2, Cassandro Vidal Talamini do Amarante3, Aquidauana Miqueloto4,
Maraisa Crestani Hawerroth2, Charle Kramer Borges de Macedo1, Frederico Denardi5 e Marcus Vinícius Kvitschal2
Resumo – Esse estudo foi conduzido para determinar os índices de maturação de maçãs ‘SCS425 Luiza’ para o ponto ideal de
colheita. As maçãs foram colhidas semanalmente, de 121 a 153 dias após a plena floração (DAPF) e analisadas um dia após a
colheita e após sete meses de armazenagem em AC. Considerando a aparência, o período ideal de colheita (PIC) das maçãs
destinadas ao consumo imediato ocorreu entre 138 e 153 DAPF. O aumento acentuado da produção de etileno dos frutos a
partir de 127 DAPF indicou que eles devem ser colhidos até essa data se destinados a longos períodos de armazenagem. No
entanto, para colher ao menos 50% de maçãs com cor vermelha equivalente a Categoria 1, o PIC deve ser a partir de 127 DAPF.
O PIC dos frutos não pode se estender além de 138 DAPF para que a incidência de escurecimento da polpa e podridões durante
a armazenagem seja mínima. Máxima qualidade sensorial das maçãs após a armazenagem ocorreu quando colhidas entre 121
e 131 DAPF. Considerando que o PIC das maçãs ‘SCS425 Luiza’ destinadas à armazenagem em AC por sete meses esteja entre
121 e 131 DAPF, os índices de maturação destes frutos foram: 17,0 a 18,2 lb para a firmeza de polpa; 10,6 a 12,3% para o teor
de sólidos solúveis; 0,272 a 0,310% para a acidez titulável; 1,8 a 7,0 para o índice de amido.

Termos para indexação: Malus domestica, qualidade, armazenagem.

Maturation indexes for optimum harvest of ‘SCS425 Luiza’ apple fruit

Abstract – This study was carried out to determine fruit maturation indexes for apple cv. SCS425 Luiza for optimum harvest
period (OHP). Fruits were harvested weekly from 121 to 153 days after full bloom (DAFB) and assessed one day after harvest,
and after seven months of CA storage. Considering fruit appearance, OHP for immediate consumption was between 138 and
153 DAFB. The substantial increase of ethylene production in fruit after 127 DAFB indicated they should be harvested until
this date if intended to long-term storage. However, to achieve at least 50% of the fruit with red color skin corresponding
to Category 1, the OHP should be from 127 DAFB. The OHP should not exceed 138 DAPF to minimize the incidence of pulp
darkening and rot during storage. Maximum sensory quality of apples after storage occurred when harvested between 121 and
131 DAFB. Considering that the OHP for ‘SCS425 Luiza’ apples intended for seven months in CA storage is between 121 and 131
DAFB, the maturation indexes of these fruits were: 17.0 to 18.2 lb for flesh firmness, 10.6 to 12.3% for soluble solids content,
0.272 to 0.310% for titratable acidity, and 1.8 to 7.0 for starch index.

Index terms: Malus domestica, quality, storage.

Introdução malmente utilizados para determinar o a colheita no momento ideal para que
estádio de maturação e o ponto ideal os frutos preservem sua qualidade e re-
O estádio de maturação é um dos de colheita de maçãs (ARGENTA, 2006; duzam as perdas da produção durante e
fatores que mais afetam a qualidade ARGENTA et al., 2010). após o armazenamento.
na colheita e após o armazenamento A colheita de maçãs no Brasil ocorre Maçãs colhidas antes do ponto ideal
de maçãs. A mudança da coloração da durante o verão e grande parte da pro- de colheita (imaturas), apesar de exibi-
epiderme, a firmeza da polpa, os teores dução é armazenada para a disponibi- rem boa conservação pós-colheita de
de amido, os açúcares solúveis e a pro- lização aos consumidores ao longo do alguns aspectos de qualidade, apresen-
dução de etileno são os atributos nor- ano. Portanto, é indispensável realizar tam características indesejáveis como:

Recebido em 8/9/2016. Aceito para publicação em 16/5/2017.


1
Engenheira-agrônoma, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal, Udesc/CAV, Av. Luís de Camões, 2090, Bairro Conta Dinheiro,
88.520-000, Lages, SC, e-mail: [email protected], [email protected]
2
Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, Rua Abílio Franco, 1500, 89.500-000, Caçador, SC, e-mail: [email protected],
[email protected], [email protected]
3
Engenheiro-agrônomo, PhD., professor da Udesc/CAV, SC, e-mail: [email protected]
4
Engenheira-agrônoma, Dra., professora do Instituto Federal de Santa Catarina, Rua 22 de Abril, Bairro São Luiz, 89900-000, São Miguel do Oeste, SC, e-mail:
[email protected]
5
Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, aposentado.

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.55-60, set./dez. 2017 55


menor tamanho; pouca coloração; sa- nados em atmosfera controlada (AC: 1,5 de cada variável em função do tempo
bor e aroma pobres e maior suscetibi- kPa de O2 e 1,5 kPa de CO2 / 0,7±0,5°C (dias) após a plena floração foram de-
lidade a alguns distúrbios fisiológicos, e 93±3% de umidade relativa [UR]) por terminados por análise de regressão,
como escaldadura superficial e “bitter sete meses. Os frutos foram avaliados usando software estatístico SigmaStat
pit” (ARGENTA & MONDARDO, 1994; um dia após a colheita e, após a armaze- 4.0 (SYSTAT SOFTWARE, 2011). Esses
DELONG et al., 1999; ARGENTA, 2006). nagem, mais um e mais sete dias a 22°C. modelos foram usados para estimar
Por outro lado, maçãs colhidas em está- Massa fresca, taxa de produção de índices de maturação para o período
gios mais avançados de maturação são etileno, medidas de firmeza de polpa, ideal de colheita (PIC). Adicionalmente,
mais suscetíveis à ocorrência de danos índice de amido (escala 1 a 9), teores os dados foram submetidos à análise
mecânicos, podridões e alguns distúr- de sólidos solúveis (SS), acidez titulável da variância (ANOVA) e as médias com-
bios fisiológicos (pingo de mel [acúmulo (AT) e porcentagem de cor vermelha na paradas pelo teste de Tukey (p<0,05),
de sorbitol nos espaços intercelulares superfície dos frutos foram determina- usando software estatístico SAS (SAS
do fruto], desenvolvimento de textura dos conforme descrito por Scolaro et INSTITUTE, 2002).
farinácea, escurecimento senescente al. (2015), e a cor de fundo da epider-
me, na seção de menor pigmentação
da polpa e dano por CO2) (ARGENTA
vermelha da epiderme (região menos
Resultados e discussão
& MONDARDO, 1994; DELONG et al.,
1999; BULENS et al., 2012). exposta a radiação solar direta), confor-
A massa fresca dos frutos aumentou
Novos cultivares de maçã com alta me descrito por Argenta et al. (2010). A
aproximadamente 36% entre 121 e 153
capacidade produtiva foram recente- incidência de podridões (%), escureci-
DAPF, passando de 144g para 195g, em
mente desenvolvidos como a ‘SCS425 mento da polpa e o pingo de mel foram
32 dias de maturação dos frutos nas
Luiza’. Esse cultivar é resultante do cru- determinados pela contagem dos frutos
plantas (Figura 1). Esse crescimento dos
zamento entre ‘Imperatriz’ (♀) (Gala × com a presença da doença e/ou do dis-
túrbio fisiológico. A severidade de po- frutos foi equivalente a 11g por semana
Mollie’s Delicious) e ‘Cripps Pink’ (♂) durante o período de maturação, sendo
(Golden Delicious × Lady Williams) e se dridões (%) foi determinada com base
em uma escala de 1 a 3 (1 = ausência de aproximadamente duas vezes superior
destaca por apresentar menor requeri- aquele observado para outras cultivares
mento de frio hibernal para superação podridão; 2 = uma ou duas lesões com
somatório de diâmetro inferior a 1cm; de maçãs, como ‘Daiane’ (STANGER et
da dormência em relação à ‘Gala’. As al., 2013).
plantas deste novo cultivar possuem re- e 3 = uma ou mais lesões com diâmetro
superior a 1cm). A severidade do escu- Houve aumento significativo da
sistência à mancha foliar de glomerella produção de etileno durante a matu-
(Colletotrichum spp.), precocidade para recimento (%) da polpa foi determinada
com uso de uma escala de 1 a 4 (1 = au- ração dos frutos entre 127 e 131 DAPF,
o início da produção e alta capacidade indicando o início do amadurecimento
de esporonamento associada à alta pro- sência de sintoma; 2 = 1 a 30% da região
da polpa com coloração marrom; 3 = 30 associado ao climatério (Figura 1). Es-
dutividade (DENARDI et al., 2015). tudos prévios indicaram que o período
O presente artigo relata o primeiro a 60% da polpa com coloração marrom
difusa; e 4 = mais de 60% com coloração ideal de colheita de maçãs destinadas
estudo desenvolvido com o objetivo ao armazenamento por longos períodos
marrom).
de determinar os índices de maturação ocorre antes do aumento acentuado da
A análise sensorial foi realizada em
para o período ideal de colheita de ma- produção de etileno (ARGENTA, 2006).
60 frutos por data de colheita, arma-
çãs ‘SCS425 Luiza’ para máxima qualida- Portanto, os dados de produção de eti-
zenados por sete meses sob AC mais
de e alto potencial de armazenamento leno obtidos no presente estudo sina-
sete dias a 22°C. A análise sensorial foi
dos frutos em condição de atmosfera lizam que o período ideal de colheita
realizada pelo método de ordenação
controlada. de maçãs ‘SCS425 Luiza’ destinadas ao
(‘ranking’), conforme descrito por Cha-
ves & Sproesser (2005). Cada avaliador armazenamento por longos períodos
Material e métodos provou seis amostras de maçãs corres- ocorre até os 127 DAPF. Ao contrário do
pondentes aos seis períodos de colhei- observado na colheita, a produção de
O experimento foi realizado em ta. As amostras foram seccionadas em etileno pós-armazenagem dos frutos foi
um pomar experimental de macieiras formato de cunha (¼ do fruto), removi- maior naqueles colhidos aos 121 e 127
‘SCS425 Luiza’, com oito anos de ida- das a casca e as sementes. Os atributos DAPF do que naqueles colhidos aos 146
de, conduzidas em líder central, com o avaliados foram sabor e textura da pol- e 153 DAPF.
porta-enxerto Marubakaido e interen- pa dos frutos. A maior firmeza de polpa foi obser-
xerto M.9, no espaçamento de 0,70m O delineamento experimental foi in- vada em frutos colhidos aos 121 DAPF
entre plantas e 3,80m entre linhas, em teiramente casualizado, com três repeti- (Figura 2). Após esse período, houve
Fraiburgo, Santa Catarina (27°03’32” S e ções de 20 frutos para as análises físico- redução contínua na firmeza de polpa
50°54’21” W, com altitude de 1.050m). químicas e dos distúrbios. Para a análise com o retardo da colheita, tanto para
Os frutos foram colhidos aos 121, sensorial, utilizou-se o delineamento os frutos avaliados logo após a colhei-
127, 131, 138, 146 e 153 dias após a experimental em blocos ao acaso, com ta como para aqueles submetidos ao
plena floração (DAPF), a qual ocorreu 184 repetições (avaliadores) por perío- armazenamento. A diferença entre fir-
no dia 25/09/2013. Eles foram armaze- do de colheita. Modelos matemáticos meza da polpa um dia após a colheita

56 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.55-60, set./dez. 2017


Figura 1. Massa fresca e taxa de produção
de etileno de maçãs ‘SCS425 Luiza’ em
função da data de colheita. Os frutos foram
analisados na colheita (●) e após sete meses
de armazenagem sob atmosfera controlada,
seguidos de um (□) e sete dias (∆) a 22°C. Figura 2. Índices de maturação e qualidade de maçãs ‘SCS425 Luiza’, em função de datas
DMS: diferenças mínimas significativas para de colheita. Os frutos foram analisados na colheita (●) e após sete meses de armazenagem
efeitos de data de colheita (barra vertical sob atmosfera controlada, seguidos de um (□) e sete dias (∆) a 22°C. As barras verticais
para massa dos frutos e valores para taxa representam as diferenças mínimas significativas (p<0,05) para o efeito de data de colheita.
de produção de etileno). Setas verticais As setas pontilhadas verticais indicam o período ideal de colheita. A época de análise dos
indicam o período ideal de colheita. frutos identificada nos símbolos para o teor de SS se aplica para as demais variáveis.

e após a armazenagem foi menor para longos períodos de armazenagem está As diferenças entre frutos de diferentes
frutos colhidos precocemente que para entre 121 e 127 DAPF (Figura 2). Esse datas de colheita quanto à acidez fo-
frutos colhidos tardiamente, eviden- limite de firmeza é adotado nas norma- ram maiores um dia após a colheita que
ciando menor potencial de armazena- tizações para exportação de maçãs nos após a armazenagem.
gem dos frutos colhidos tardiamente. Estados Unidos (WASHINGTON, 1999). O teor de SS em maçãs ‘SCS425 Lui-
A firmeza de polpa foi superior a Cabe salientar que frutos com firmeza za’ aumentou de 121 a 138 DAPF duran-
12lb (53 N) para todos os períodos de igual ou superior a 12 lb têm menor pre- te a maturação na planta (Figura 2). Fru-
colheita avaliados, indicando que os disposição a sintomas de senescência, tos armazenados por sete meses em AC
frutos poderiam ser colhidos até 153 caracterizado por polpa farinácea, com seguidos de sete dias a 22°C apresenta-
DAPF se destinados para o mercado logo mínima crocância e suculência (HARKER ram maior teor de SS quando colhidos
após a colheita (Figura 2). Entretanto, et al., 2002). tardiamente, assim como observado
após longos períodos de armazenamen- A AT foi significativamente maior um dia após a colheita. No entanto, a
to, apenas os frutos colhidos aos 121 e em frutos colhidos aos 121 e 127 DAPF, diferença entre frutos colhidos precoce
129 DAPF apresentaram firmeza de pol- quando comparada aos demais perío- e tardiamente, quanto ao teor de SS,
pa superior a 12 lb (Figura 2). Portanto, dos de colheita (Figura 2). Após esse pe- foi menor após a armazenagem do que
levando-se em consideração que o limi- ríodo (121 e 127 DAPF) houve redução um dia após a colheita. Frutos de dife-
te mínimo de firmeza para comercializa- na AT, tanto para frutos avaliados logo rentes datas de colheita não diferiram
ção é de 12 lb, o período ideal de colhei- após a colheita como para aqueles sub- significativamente quanto ao teor de SS
ta de maçãs ‘SCS425 Luiza’ destinadas a metidos ao armazenamento (Figura 2). depois da armazenagem por sete meses
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.55-60, set./dez. 2017 57
Figura 3. Imagens de maçãs ‘SCS425 Luiza’, em função das datas de colheita (dias após a plena floração; DAPF) na face de transição sol/
sombra, na face exposta ao sol e na face de sombra (menos exposta ao sol) dos frutos.

58 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.55-60, set./dez. 2017


sob AC mais um dia a 22°C. renças de índice de cor de fundo entre
O índice de amido aumentou, indi- frutos de diferentes datas de colheita
cando redução do teor de amido, em observadas na colheita se mantiveram
função do atraso da colheita (Figura 2). após a armazenagem, mas em menor
Os maiores índices de amido foram ve- grau.
rificados nos frutos colhidos entre 131 Os padrões de mudanças da quali-
a 153 DAPF (Figura 2). Maçãs colhidas dade físico-química das maçãs ‘SCS425
com índices de amido superiores a 5,5 Luiza’ em função da data de colheita são
são mais susceptíveis ao desenvolvi- semelhantes àqueles observados ante-
mento de degenerescência senescente riormente para maçãs ‘Gala’, ‘Golden
e podridões durante a armazenagem Delicious’ e ‘Daiane’ (ARGENTA & MON-
por longos períodos (ARGENTA & MON- DARDO, 1994; ARGENTA et al., 1995;
DARDO, 1994). Argenta et al. (1995), STANGER, 2012; SCOLARO et al., 2015).
estudando padrões de maturação de O escurecimento da polpa aumen-
maçãs, observaram que os índices de tou nos frutos colhidos após os 138
amido entre 3 e 5 em ‘Gala’ e ‘Golden DAPF, e a incidência e severidade de po-
Delicious’, e de 4 a 6 em ‘Fuji’, estão fre- dridões foi máxima nos frutos colhidos
quentemente associados ao período de 153 DAPF (Figura 4). De acordo com es-
colheita comercial de maçãs destinadas ses dados de escurecimento de polpa e
à armazenagem. Por isso, com base nos de podridões, o período ideal de colhei-
dados de índice de amido, a colheita das ta de maçãs ‘SCS425 Luiza’ destinadas à
maçãs ‘SCS425 Luiza’ deve ser realizada armazenagem ocorre até 138 DAPF.
até 128 DAPF, quando destinadas a lon- A incidência de frutos com podridão
gos períodos de armazenagem (Figura carpelar e pingo de mel foram próximas
2). a zero e não foram afetadas pelos perí-
A intensidade de cor vermelha na odos de colheita dos frutos (dados não
colheita foi máxima em frutos colhidos apresentados).
aos 153 DAPF, não diferindo estatisti- A análise sensorial realizada após a
camente daqueles colhidos entre 138 armazenagem dos frutos demonstrou
e 146 DAPF (Figura 2 e Figura 3). As que a preferência dos provadores para
normas brasileiras de classificação de o conjunto sabor e textura foi superior
maçã, tanto para os frutos produzidos para maçãs ‘SCS425 Luiza’ colhidas aos Figura 4. Severidade e incidência de
no Brasil quanto para aqueles impor- 121 e 127 DAPF (Figura 4). Houve per- escurecimento da polpa e podridões, e
tados, regulamentam que o mínimo de da progressiva da qualidade sensorial qualidade sensorial (escores de 1 a 5) de
área da epiderme da fruta com colora- com o atraso da colheita. Considerando maçãs ‘SCS425 Luiza’, em função de datas
ção vermelha para as cultivares verme- a qualidade sensorial, o período ideal de colheita. Os frutos foram analisados
lhas é de ≥75% para a Categoria Extra, de colheita das maçãs ‘SCS425 Luiza’, após sete meses de armazenagem sob
50-75% para a Categoria 1, 25-50% para destinadas à armazenagem por longos atmosfera controlada, seguido de sete dias
Categoria 2 e 15-25% para Categoria 3 períodos em AC, deve ser entre 121 e a 22°C. As barras verticais representam
(BRASIL, 2006). Dessa forma, se a co- 131 DAPF. Essa redução da qualidade as diferenças mínimas significativas para
lheita for realizada quando as maciei- sensorial de maçãs com o avanço da efeitos de data de colheita. As setas
ras apresentarem pelo menos 50% dos maturação, quando armazenadas por verticais indicam o período ideal de
frutos na Categoria 1, de acordo com longos períodos, está relacionada em colheita.
a intensidade de cor vermelha, o pon- parte com a deterioração da textura (Fi-
to ideal de colheita das maçãs ‘SCS425 gura 2). A menor taxa de produção de
Luiza’ seria a partir de 127 DAPF. No en- etileno nos frutos colhidos tardiamente sem suculência, e por isso não são pre-
tanto, se a colheita for realizada quando em relação aos frutos colhidos precoce- feridas pelos consumidores (HARKER et
as plantas tiverem pelo menos 50% das mente, após longos períodos de arma- al., 2002).
maçãs na Categoria Extra, o ponto ideal zenagem (Figura 1), evidencia que os
Em resumo, os resultados referentes
de colheita seria a partir dos 138 DAPF. frutos estavam em estádio muito avan-
à produção de etileno, firmeza de pol-
O índice de cor de fundo aumentou çado de maturação, correspondendo
com o retardamento da data de colhei- ao pós-climatérico. Segundo Jaeger et pa, índice de amido e qualidade senso-
ta (Figura 3), indicando que a coloração al. (1998) e Harker et al. (2002), a pre- rial indicaram que a colheita das maçãs
da região não avermelhada da superfí- ferência do consumidor de maçãs está ‘SCS425 Luiza’ destinadas à armazena-
cie dos frutos (região menos exposta ao associada com a alta firmeza, a suculên- gem sob AC, por sete meses, deve ser
sol) mudou de verde a amarelo-laranja, cia e a doçura. Maçãs muito maduras, realizada até 127 DAPF. Por outro lado,
conforme tabela de cores (ARGENTA et com firmeza de polpa inferior a 12 lb, para se produzir frutos com maior per-
al., 2010) usada nesse estudo. As dife- normalmente exibem textura farinácea, centual de cor vermelha na epiderme
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.55-60, set./dez. 2017 59
(maior quantidade de frutos das cate- pelo cultivo do pomar experimental e DENARDI, F.; KVITSCHAL, M.V.; HAWER-
gorias 1 e Extra) e menor incidência de armazenagem das maçãs em condição ROTH, M.C. SCS425 Luiza, SCS426 Ven-
escurecimento da polpa e podridões, de AC; e à Cleiton Alves de Souza, Kary- ice e SCS427 Elenise: Novas cultivares
o período ideal de colheita para arma- ne Souza Betinelli e Leonardo Mueller, de macieira da Epagri para o Sul do Bra-
zenagem pode se estender até os 138 pela colaboração na execução do expe- sil. In: XIV Encontro Nacional sobre Fru-
DAPF. Todavia, considerando que maçãs rimento. ticultura de Clima Temperado. Anais...
‘SCS425 Luiza’ colhidas aos 138 DAPF Caçador: Epagri, vol. 1 (palestras), 2015.
apresentam firmeza de polpa inferior Referências p.96-101.
a 12 lb após sete meses de armazena-
gem sob AC (1,5% de O2 e 2% de CO2), ARGENTA, L.C. Fisiologia pós-colheita: HARKER, F.R.; MAINDONALD, J.; MUR-
sugere-se avaliar períodos inferiores a maturação, colheita e armazenagem RAY, S.H.; GUNSON, F.A.; HALLETT, I.C.;
sete meses de armazenagem e/ou uso dos frutos. In: Epagri (Ed.). A cultura da WALKER, S.B. Sensory interpretation
de técnicas avançadas de armazenagem macieira. Florianópolis: Epagri, 2006. of instrumental measurements 1: tex-
para maximizar a conservação da firme- p.691-732. ture of apple fruit. Postharvest Biology
za, quando elas são colhidas aos 138 and Technology, Amsterdam, v.24, n.3,
DAPF. O armazenamento em AC com ARGENTA, L.C.; MONDARDO, M. Matu-
ração na colheita e qualidade de maçãs p.225-239, 2002.
concentrações de O2 ultrabaixas (<1%)
e tratamento com 1-metilciclopropeno ‘Gala’ após a armazenagem. Revista JAEGER, S.R.; ANDANI, Z.; WAKELING,
(1-MCP; inibidor da ação de etileno), Brasileira de Fisiologia Vegetal, São
I.N.; MACFIE, H.J.H. Consumer prefer-
são exemplos de técnicas avançadas Carlos, v.6, n.2, p.135-140, 1994.
ences for fresh and aged apples: a cross-
para aumento da conservação pós-co- cultural comparison. Food Quality and
ARGENTA, L.C.; BENDER, R.J.; KREUZ,
lheita da firmeza da polpa de maçãs. Preference, Oxford, v.9, n.5, p.355-366,
C.L.; MONDARDO, M. Padrões de ma-
Considerando a aparência (colora- 1998.
turação e índices de colheita de maçãs
ção), o tamanho e os teores de amido e
cvs. Gala, Golden Delicious e Fuji. Pes-
açucares solúveis, a qualidade das ma- SAS INSTITUTE. SAS User’s guide: sta-
quisa Agropecuária Brasileira, Brasília,
çãs ‘SCS425 Luiza’ é máxima na colheita tistics. Software Version 9.0. Cary, NC,
v.30, n.10, p.1259-1266, 1995.
entre 138 e 153 DAPF (Figuras 1 a 3). No USA, 2002.
entanto, maçãs ‘SCS425 Luiza’ colhidas ARGENTA, L.C.; VIEIRA, M.J.; SCOLARO,
entre 146 e 153 DAPF apresentam bai- A.M.T. Validação de catálogos de cores SCOLARO, A.M.T.; ARGENTA, L.C.; AMA-
xa qualidade após longos períodos de como indicadores do estádio de matu- RANTE, C.V.T.; PETRI, J.L.; HAWERROTH,
armazenagem apesar de apresentarem ração e do ponto de colheita de maçã. F.J. Controle da maturação pré-colheita
firmeza da polpa de superior a 16 lb, um Revista Agropecuária Catarinense, Flo- de maçãs ‘Royal Gala’ pela inibição da
dia após a colheita (Figura 2) e, por isso, rianópolis, v.23, n.3, p.71-77, 2010. ação ou síntese do etileno. Revista Bra-
devem ser destinada ao mercado breve- sileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.37,
mente após a colheita. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pe- n.1, p.38-47, 2015.
cuária e Abastecimento. Regulamento
Conclusão técnico de identidade e qualidade da STANGER, M.C. Manejo pós-colheita de
maçã. Brasília, 2006. 9p. (Instrução Nor- maçãs ‘Daiane’. 2012. 54f. Dissertação
O ponto ideal de colheita das maçãs mativa, 5). (Mestrado em Produção Vegetal), Uni-
da ‘SCS425 Luiza’ destinadas ao armaze- versidade do Estado de Santa Catarina,
BULENS, I.; VAN DE POEL, B.; HERTOG,
namento por sete meses em AC ocorre Centro de Ciências Agroveterinárias, La-
M.L.A.T.M.; DE PROFT, M.P.; GEERAERD,
entre 121 e 131 DAPF. Os índices de ma- ges, SC, 2012.
A.H.; NICOLAI, B.M. Influence of harvest
turação para o período ideal de colheita
time and 1-MCP application on posthar- STANGER, M.C.; ARGENTA, L.C.; STE-
dos frutos destinados ao armazenamen-
vest ripening and ethylene biosynthesis
to por sete meses em AC são de 17,0 a FFENS, C.A.; AMARANTE, C.V.T. Estádio
of ‘Jonagold’ apple. Postharvest Biol-
18,2 lb para a firmeza de polpa, 10,6 a de maturação para o período ideal de
ogy and Technology, Amsterdam, v.72,
12,3% para o teor de sólidos solúveis, colheita de maçãs ‘Daiane’ destina-
p.11-19, 2012.
0,272 a 0,310% para a acidez titulável, das à armazenagem. Revista Brasileira
1,8 a 7,0 para o índice de amido e 1,8 CHAVES, J.B.P.; SPROESSER, R.L. Práticas de Fruticultura, Jaboticabal, v.35, n.4,
a 3,1 para a escala de cor de fundo da de laboratório de análise sensorial de p.977-989, 2013.
epiderme. alimentos e bebidas. Viçosa: UFV, 2005.
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Agradecimentos dows Version 12.0. San Jose: Systat
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À Fundação de Apoio à Pesquisa SON, P.A.; SCHOFIELD, R.A.; DEELL, J.R.
Científica e Tecnológica do Estado de Using the Streif Index as a final harvest WASHINGTON STATE LEGISLATURE.
Santa Catarina (Fapesc) e à Fundação window for controlled-atmosphere Washington inspection procedures.
de Estudos e Projetos (Finep) pelo apoio storage of apples. HortScience, Saint Jo- Washington Agriculture Code. Olympia,
financeiro; à Fischer S/A Agroindústria, seph, v.34, n.7, p.1251-1255, 1999. 1999.

60 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.55-60, set./dez. 2017


ARTIGO CIENTÍFICO

Aplicação de formulações de cálcio e boro na cultura do tomateiro tutorado


Leandro Hahn1, Atsuo Suzuki2, Anderson Luiz Feltrim3, Anderson Fernando Wamser4, Siegfried Mueller5 e Janice Valmorbida6
Resumo – Aplicação via solo e foliar de fertilizantes formulados com cálcio (Ca) e boro (B) é prática comum para prevenção de
distúrbios fisiológicos em tomates. Objetivou-se avaliar o efeito da aplicação de formulações de Ca e B e ácido bórico via foliar,
e de bórax via solo, em tomateiro de mesa, em Caçador, SC, nas safras 2010/11, 2011/12 e 2012/13. No início da maturação
dos frutos, determinaram-se macro e micronutrientes na folha diagnose. Na colheita, avaliaram-se a produtividade total,
comercial (extra AA e extra A) o descarte e a incidência dos distúrbios fisiológicos como podridão apical e lóculo aberto. As
aplicações de Ca e B não influenciaram a produtividade e a incidência de distúrbios fisiológicos. Não se observaram sintomas
de deficiência ou toxidez nas plantas que apresentaram teores foliares de nutrientes abaixo ou acima da faixa recomendada
para a cultura. A aplicação foliar de B, como ácido bórico, aumentou o teor de B na folha diagnose, porém sem efeito na
produção e na incidência de lóculo aberto nos frutos.

Termos para indexação: Lycopersicon esculentum Mill., podridão apical, lóculos abertos, análise foliar.

Calcium and boron application in staked tomato

Abstract – Calcium (Ca) and boron (B) application to prevent physiological disorders is a common practice in tomato crop.
This study aimed to evaluate the effects of foliar sprays of boric acid and Ca and B formulations, and soil application of borax,
in tomato crop during the growing seasons 2010/11, 2011/12 and 2012/13, in Caçador – SC. Macro and micronutrients were
determined in the diagnostic leaf at the beginning of fruit ripening. In each harvest date, it was evaluated total, marketable
(extra AA and extra A) and unmarketable yield, and physiological disorders. Ca and B applications had no effect on tomato yield
and on physiological disorders. It was not observed visual symptoms of deficiency or toxicity when a nutrient content in leaves
was bellow or above the normal range. Foliar sprays of boric acid increased B content in leaves but had no effect on yield and
on physiological disorders.

Index Terms: Lycopersicon esculentum Mill., blossom-end rot, catfacing, leaf diagnosis.

Introdução íon sinalizador nas plantas, o Ca exerce podridão estilar. A PA é caracterizada


múltiplas funções em diversos locais e por uma deficiência local de Ca na parte
O município de Caçador, localizado redes de sinalização em “cascata” (AG- distal do fruto, o que resulta no aumen-
na região do Alto Vale do Rio do Peixe, DHAM et al., 2012). A parede celular to da permeabilidade e deterioração
SC, é o maior produtor estadual de to- representa o maior estoque de Ca2+ em de membranas celulares, com subse-
mate, com aproximadamente 800ha de tecidos vegetais, contendo de 60 a 75% quente perda de turgor e vazamento de
área plantada, envolvendo cerca de 400 do conteúdo total do elemento dos te- conteúdo celular líquido (ADAMS, 2002;
produtores rurais (EPAGRI/CEPA, 2014). cidos (DEMARTY et al., 1984). O Ca, por SAURE, 2014).
Com uma produção em torno de 54 mil ser divalente (Ca2+), estabelece uma O B apresenta similaridades de fun-
toneladas, o município é um dos prin- rede de ligações cruzadas dos polissaca- ções com o Ca, como a formação da pa-
cipais fornecedores de tomate de mesa rídeos pécticos, aumentando a firmeza rede celular, a divisão e o alongamento
para o mercado nacional durante o ve- dos frutos. das células. Por isso, estes dois elemen-
rão. Após ser absorvido pelas raízes, o Ca tos têm sido estudados conjuntamente
Na nutrição mineral do tomateiro, é transportado via xilema. Quando ces- (SANTOS et al., 1990). Pela importância
cálcio (Ca) e boro (B) têm merecido uma sa a divisão celular e inicia a subsequen- do B no desenvolvimento do tecido me-
atenção especial pela sua participação te expansão celular, pouco Ca adicional ristemático, sua ausência implica para-
na estrutura celular e na ativação de entra nos tecidos dos frutos (LURIE, lisia do crescimento do tecido e morte
reações vitais nas plantas, interferindo 2009). Frutos podem apresentar um im- da gema terminal, sintomas estes muito
diretamente na produção e na quali- portante distúrbio fisiológico associado semelhantes aos que ocorrem com a
dade de frutos. Como mais importante ao Ca, que é a podridão apical (PA) ou deficiência de Ca. Um sintoma típico da

Recebido em 2/6/2016. Aceito para publicação em 14/9/2017.


1
Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, Professor Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (Uniarp), Rua Abílio Franco, 1500,
Bairro Bom Sucesso, Cx Postal 500, e-mail: [email protected].
2
Engenheiro-agrônomo, M.Sc, Aposentado, Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].
3
Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, Rua Abílio Franco, 1500, Bairro Bom Sucesso, Cx Postal 500, e-mail: andersonfeltrim@
epagri.sc.gov.br; [email protected]; [email protected].
4
Engenheiro-agrônomo, Dr., Aposentado, Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].

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deficiência de B é o “lóculo aberto”, ca- CaB Stoller e CaB Timac) e um trata- por ocasião do 1º fruto maduro. No la-
racterizado pela exposição da placenta mento com produto sólido contendo Ca boratório de Ensaio Químico da Estação
(FREITAS et al., 2012). (CaCL2). Nas safras 2011/12 e 2012/13, Experimental de Caçador, determinou-
O solo é o fornecedor primário de Ca via foliar, repetiu-se as quatro formu- se macro (N, P, K, Ca e Mg) e micronu-
e B às plantas de tomate. Complemen- lações líquidas contendo Ca e B do ano trientes (Zn, Cu, Fe, Mn e B) de acordo
tar à absorção destes dois elementos anterior, mais um tratamento foliar só com metodologia de Embrapa (2009).
pelo sistema radicular, aplicações com com B, usando ácido bórico. Noutro tra- Submeteram-se os dados à análise de
sais de Ca e B sobre as folhas e frutos tamento aplicou-se bórax via solo, no variância, considerando os efeitos dos
são feitas frequentemente e ajudam a sulco de plantio. Em cada experimento, tratamentos em 2010/11 e para inte-
reduzir a incidência de PA (HO & WHITE, houve um tratamento testemunha, sem ração safras e tratamentos 2012/13.
2005; RAB & HAQ, 2012). aplicação de Ca e B. As seis aplicações Usou-se o programa “R”, versão 3.0.3
Novos produtos comerciais têm sido foliares em cada safra foram quinzenais, (TEAM RDC, 2014) ao nível de 5% de
desenvolvidos para satisfazer as exigên- a partir do início do florescimento. As probabilidade.
cias nutricionais de Ca e B das plantas. doses (Tabela 2) das formulações co-
merciais foram conforme recomenda-
Atualmente, um grande número de
ção dos fabricantes e, para os demais
Resultados e discussão
fertilizantes foliares está disponível no
mercado, como fornecedores isolados produtos, conforme recomendação
Houve interação significativa en-
de Ca ou B, ou formulações contendo para a cultura. O delineamento expe-
tre safras e tratamentos em 2011/12 e
estes ou mais elementos essenciais, rimental foi de blocos completos ao
2012/13, quando se repetiram os mes-
com destaque para os sais e os quela- acaso, com cinco repetições na safra
mos tratamentos. Por isso, os resulta-
tos. Também há formulações com bio- 2010/11 e quatro nas safras 2011/12 e
dos foram apresentados e discutidos
estimulantes, como aminoácidos, extra- 2012/13. Cada parcela foi constituída
de uma fileira de 12 plantas, espaçadas considerando o efeito dos tratamen-
tos de algas marinhas e ácidos húmicos. tos e das safras. As safras 2010/11 e
Estudos mostram que estes produtos de 1,5m entre fileiras e 0,6m entre plan-
tas. O híbrido utilizado nas três safras foi 2011/12 apresentaram produtividades
estimulam processos metabólicos, a de 99,2 e 111, 5t ha-1, respectivamen-
atividade respiratória, o crescimento o Paronset.
O pH do solo foi ajustado para 6,0 te. Em 2012/13 a produtividade média
celular, assim como apresentam ação total de frutos (66t ha-1) foi inferior às
fito-hormonal (SANDERS et al., 1990), pela aplicação de calcáreo dolomítico.
Em cada safra, aplicou-se 600kg ha-1 de outras safras, provavelmente, devido à
ainda que testes locais e regionais para incidência de doenças de solo. Porém,
comprovar a eficiência destes produtos N (NH4NO3) e 800kg ha-1 de P2O5 (su-
perfosfato triplo) e nas safras 2010/11, esta produtividade é próxima à média
não têm sido conduzidos pela pesquisa. nacional (61,8t ha-1 em 2010/2011) e
Apesar disso, tomaticultores têm utiliza- 2011/12 e 2012/13, aplicou-se 400,
500 e 400kg ha-1 de K2O (KCl), de acor- estadual (67,8t ha-1 em safra 2012/13)
do estes produtos, mesmo o solo indi- (EPAGRI/CEPA, 2014). As aplicações de
cando altos teores de Ca e B. O objetivo do com recomendações de Mueller et
al. (2008). Todo o P2O5 mais 5 e 10% das Ca e B, por sua vez, não afetaram ne-
deste trabalho foi estudar o efeito da nhuma variável relacionada a produção
doses de N e do K2O, respectivamente,
aplicação de Ca e B sobre a produção e e incidência de distúrbios fisiológicos
foram aplicados no plantio. O restante
o estado nutricional de tomateiro tuto- nas três safras avaliadas (Tabela 3). 
via fertirrigação semanalmente de acor-
rado em Caçador, SC. As respostas do tomateiro às aplica-
do com a curva de absorção de nutrien-
tes do tomateiro (modificado de ALVA- ções de Ca e B são muito variáveis. Para
Material e métodos RENGA, 2004). Com equipamento para o B, características do solo, como textura
corte da palhada, sulcou-se o solo para arenosa, baixa umidade, valores de pH
Os experimentos foram conduzidos aplicação da adubação de base. A con- muito altos e baixos teores de MO, as-
em condições de campo, de novembro dução foi com duas hastes por planta, sociadas às altas temperatura do ar, são
a maio nas safras 2010/11, 2011/12 tutoradas verticalmente com fitilho. As os principais fatores que condicionam
e 2012/13, na área experimental da demais práticas culturais foram confor- baixa disponibilidade e absorção deste
Estação Experimental de Caçador, SC me as indicações técnicas para o toma- elemento para as plantas e aumentam
(26º46’32'’ S; 51º00’50'’ W; 960 m de teiro tutorado na região do Alto Vale do a incidência de frutos com lóculos aber-
altitude). O clima da região é Cfb (PAN- Rio do Peixe (MUELLER et al., 2008). tos (GOLDBERG, 1997). Deficiência de B
DOLFO et al., 2002). Os solos, classifi- Colheu-se duas vezes por semana é mais frequente em tomate cultivado
cados como Nitossolo Bruno distrófico em função do ponto de colheita dos to- em áreas com alta precipitação asso-
típico (EMBRAPA, 2013), apresentaram mates. Avaliou-se a produtividade total, ciada a solos arenosos e ácidos, onde
os atributos da Tabela 1. comercial, extra AA (>150 g), extra A o B pode ser lixiviado (COMMUNAR &
A Tabela 2 contém os tratamentos (100 a 150 g), frutos descarte e frutos KEREN, 2007). A incidência de podridão
testados. Na safra 2010/11 fizeram-se com podridão apical e lóculos abertos. apical, associada à deficiência de Ca, é
aplicações foliares em quatro tratamen- Para a análise foliar, coletou-se a tercei- influenciada pelo cultivar, concentra-
tos com formulações comerciais líqui- ra folha completa (com pecíolo) a partir ção de Ca, NH4+, K, Mg e a salinidade do
das de Ca e B (CaB Bionex, CaB Wiser, do ápice, das plantas úteis da parcela, solo, estresse hídrico, disponibilidade

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de oxigênio na zona de raízes, umidade acima de 27oC e baixa umidade relativa RS/SC (2004) e Embrapa (2009).
relativa e temperatura do ar (NAVARRO do ar (abaixo de 70%). Segundo Wui & Os tratamentos diferiram entre si
et al. 2005; SAURE, 2014). Com o envol- Takano (1995) estas condições favore- quanto aos teores dos micronutrientes
vimento de tantos fatores na ocorrência cem o surgimento de distúrbios fisioló- Fe, Mn, Zn e Cu (Tabela 4). Porém, a
da PA, não tem sido possível identificar gicos associados a Ca e B em tomateiro. aplicação de B via foliar na forma de áci-
valores absolutos críticos de concentra- Com relação ao teor de macronu- do bórico aumentou os teores foliares
ção de Ca no fruto que estejam asso- trientes na folha diagnose, os tratamen- deste elemento nas safras 2011/2012
ciados ao aparecimento deste distúrbio tos não diferiram da testemunha (Tabe- em relação aos demais tratamentos, e
fisiológico (HO & WHITE, 2005). Além la 4). Apenas o tratamento com aplica- na safra 2012/13 somente não diferiu
dos fatores acima citados, a capacidade ção foliar de CaCl2 apresentou maiores do tratamento com B aplicado no solo.
de troca de cátions (CTC) é um atributo teores foliares de P em relação ao tra- Nas safras 2011/12 e 2012/13, os teo-
importante para caracterizar um solo com tamento CaB Bionex na safra 2010/11. res aumentaram mais de 100 e 60%,
alta disponibilidade de Ca (CHAUDHARY & Nas safras 2011/12 e 2012/13 não hou- respectivamente, em relação à teste-
SHUKLA, 2004). A interpretação da análise ve diferenças entre os tratamentos para munha, sem influir na produtividade.
do solo das três safras (CQFS-RS/SC, 2004) o teor foliar de macronutrientes. Na sa- O fato pode ser explicado por teores
acusou teores de Ca e B acima do teor crí- fra 2010/11, o teor foliar de N de todos dentro da faixa adequada para folhas de
tico (4cmolc dm-3 e 0,3mg dm-3, respecti- os tratamentos foi abaixo do limite infe- tomateiro (30 a 100mg kg-1) segundo os
vamente), alta saturação de Ca na CTC rior da faixa considerada adequada para padrões adotados (CQFS-RS/SC, 2004;
(acima de 40%), altos teores de argila plantas de tomateiro (40g kg-1) segundo EMBRAPA, 2009) e pela disponibilidade
(acima de 600g kg-1), além de médios CQFS-RS/SC (2004) e Embrapa (2009). O de B no solo (Tabela 1).
teores de MO (Tabela 1). Destaque-se mesmo ocorreu nesta safra para os te- A aplicação foliar de maiores quan-
ainda que o cultivar Paronset tem maior ores de P nos tratamentos CaB Bionex, tidades de B na forma de ácido bórico,
predisposição genética para apresentar CaB Wiser e CaB Timac. Somente na sa- e o consequente maior teor na folha
lóculo aberto, pois tomates do grupo fra 2010/11 e os tratamentos CaB e tes- diagnóstica, não diminuíram o número
Salada possuem maior número de lócu- temunha apresentaram teor foliar de K e o percentual de frutos com o distúr-
los (MATOS et al., 2012). Por outro lado, dentro da faixa considerada adequada bio fisiológico lóculo aberto em relação
cultivares deste grupo possuem uma (30 a 50g kg-1), enquanto nos demais ao tratamento testemunha (Tabela 3).
menor suscetibilidade à ocorrência de tratamentos e safras os valores sempre A imobilidade do elemento dentro da
podridão apical em comparação a culti- foram abaixo do normal. Os teores de planta via floema pode explicar este
vares do grupo Italiano (WAMSER et al., Mg, à exceção da safra 2012/13 e dos resultado. Pulverizações com solução
2008). tratamentos CaB Wiser, CaB Stoller, B fo- contendo 10B na concentração de B de
Apesar dos resultados, aplicações de liar e B via solo, foram abaixo do limite in- 0,340g L-1 não foram eficientes para
Ca e B, tanto via foliar quanto via solo, ferior considerado adequado (40g kg-1). aumentar o teor do micronutriente no
têm apresentado respostas positivas De todos os macronutrientes, somente tecido novo de tomate e beterraba emi-
no tomateiro, principalmente, em so- o Ca encontraram-se dentro da faixa tido após a aplicação, comparado à apli-
los com textura arenosa (DORAIS et al, considerada adequada (14 a 40g kg-1). cação do nutriente via raiz, inferindo-se
2001; RAB & HAQ, 2012), associados Apesar disso, não ocorreram problemas não haver mobilidade do boro nestas
com baixos teores de MO (HUANG & nutricionais e de produtividades. Em duas culturas (PRADO et al., 2013). A
SNAPP, 2004) e períodos com estresse outro trabalho conduzido em Caçador, mobilidade do boro é mais frequen-
hídrico e altas temperaturas (ZHANG & SC, também verificaram-se resultados te nas plantas que apresentam o boro
SCHMIDT, 2000). No presente estudo, similares para os teores foliares de ma- complexado a carboidratos como sor-
a formulação de Ca e B com os bioes- cronutrientes, também sem afetar a bitol, manitol e ducitol (HU & BROWN,
timulantes à base de aminoácidos (CaB produtividade de frutos (MUELLER et 1997).
Bionex) e a de extrato de algas marinhas al., 2013). Estes resultados e os obti- Os teores de Cu nas três safras e os
(CaB Timac) também não apresentaram dos no presente estudo levam a inferir de Mn em 2012/13 estavam muito aci-
resultados positivos, apesar de se verifi- que as faixas de teores foliares de N, P, ma da faixa considerada adequada (5
car nas safras 2012/13 e, principalmen- K e Mg, consideradas como adequadas a 15mg kg-1 para Cu e 50 a 250mg kg-1
te na safra 2011/12, sequência de dias para o tomateiro, deveriam ser inferio- para Mn). Provavelmente a aplicação de
de janeiro a março com temperaturas res aos atualmente adotados pela CQFS- produtos fitossanitários para controle

Tabela 1. Atributos químicos dos solos utilizados nos experimentos


Argila MO pH P K B Ca Mg Al CTCpH 7,0
Safras
(g kg-1) (H2O) (mg dm-3) (cmolc dm-3)
2010/11 730 2,8 5,8 3,4 244,0 0,4 6,3 2,5 0,0 15,3
2011/12 680 3,6 5,7 2,6 109,4 0,5 6,9 2,3 0,0 16,2
2012/13 640 3,1 5,9 3,8 186,2 0,5 6,2 2,8 0,0 15,1

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.61-66, set./dez. 2017 63


Tabela 2. Tratamentos, nomes comerciais, formulações e doses utilizados nos experimentos
Garantias (%)
Tratamentos Nome comercial Dose aplicada
Ca B % (Agente complexante)
CaB Bionex Bionex CaBoron Max 9,5 2 5,8 (aminoácidos) 1mL L-1 de calda
CaB Wiser CaB Wiser 10 2 4,1 (MEA*) 4mL L-1 de calda
CaB Stoller CaB 8 0,5 - 3mL L-1 de calda
CaB Timac Fertiactyl Kalibor 4 0,2 Extrato de algas marinhas 1mL L-1 de calda
CaCl2 Cloreto de cálcio 20 - - 1g L-1 de calda
H3BO3 Ácido bórico - 17 3g L-1 de calda
Bórax solo Bórax - 11 - 30 kg ha-1
*MEA: agente quelante monoetanolamina.

Tabela 3. Produtividade total, comercial, extra AA e A e descarte, e número e percentual de frutos com lóculos abertos (NLA e PLA) e com
podridão apical (NPA e PPA) em tomateiro de mesa tutorado em função de tratamentos com aplicação foliar de Ca e B, safras 2010-11,
2011/12 e 2012/13
Total Comercial Extra AA Extra A Descarte PPA
Tratamentos NLA PLA (%) NPA
--- t ha-1 --- (%)
Safra 2010-11
CaB Bionex 102,2 *
94,9 *
76,5* 18,4* 7,4* 10296* 1,68* 741* 0,12*
CaB Wiser 97,8 90,4 73,9 18,0 7,4 6129 1,01 1810 0,29
CaB Stoller 100,5 92,2 72,6 18,3 8,3 11741 1,88 1074 0,17
CaB Timac 100,0 91,0 72,5 18,4 9,0 10404 1,69 370 0,06
CaCl2 94,9 85,9 66,5 19,4 9,0 10632 1,76 1726 0,29
Testemunha 99,8 93,0 77,5 16,1 6,2 9917 1,69 1417 0,23
Média 99,2 91,2 73,3 18,1 7,9 9853 1,61 1190 0,19
 CV (%) 4,0 5,1 7,3 13,5 24,5 41,3 40,8 114,5 44,2
Safra 2011-12
CaB Bionex 114,9* 109,9* 92,9* 16,9* 5,1* 12032* 1,86* 1761* 0,27*
CaB Wiser 111,6 105,9 87,3 18,7 5,7 14394 2,29 333 0,05
CaB Stoller 106,3 101,7 84,3 17,4 5,1 11964 2,00 667 0,11
CaB Timac 115,9 110,6 93,4 17,2 5,3 10755 1,65 3166 0,48
Ácido bórico 105,7 98,9 80,2 18,8 6,7 12172 1,90 1370 0,23
Bórax solo 114,2 106,6 88,7 17,9 7,6 16902 2,55 4982 0,74
Testemunha 115,3 109,9 89,5 20,4 5,4 8806 1,37 1815 0,38
Média 111,5 105,6 87,2 18,4 6,0 12499 1,95 2056 0,31
CV (%) 7,8 7,5 8,3 15,4 31,5 40,6 18,6 115,2 98,4
Safra 2012-13
CaB Bionex 56,4* 50,9* 33,5* 12,7* 10,2* 12377* 3,32* 1725* 0,40*
CaB Wiser 59,5 46,2 37,8 13,1 8,5 9084 1,00 2002 0,50
CaB Stoller 64,6 54,8 42,6 12,2 9,8 12672 3,50 3307 0,77
CaB Timac 65,8 54,8 41,5 13,4 11,0 11337 2,72 293 0,07
Ácido bórico 71,6 60,4 46,3 14,1 11,1 9640 2,07 615 0,14
Bórax solo 68,1 57,1 42,8 14,4 11,0 10095 3,32 901 0,21
Testemunha 66,6 57,6 43,4 14,2 9,0 9806 1,39 2005 0,48
Média 66,0 55,2 42,4 13,6 10,1 10439 2,48 1521 0,37
CV (%) 14,1 14,3 19,3 9,2 23,1 32,8 28,3 112,9 103,2
· Sem diferença significativa (p<0,05) entre as médias.

64 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.61-66, set./dez. 2017


Tabela 4. Teores de macro e micronutrientes da folha diagnose do tomateiro de mesa tutorado em função de tratamentos com aplicação
foliar de Ca e B, safras 2010-11, 2011/12 e 2012/13
Macronutrientes (g kg-1) Micronutrientes (mg kg-1)
Tratamentos
N P K Ca Mg Fe Mn Zn Cu B
Safra 2010-11
CaB Bionex 37,7* 3,8b 30,0* 14,8* 3,0* 86* 61* 14* 723* 38*
CaB Wiser 31,6 3,8ab 28,7 15,0 2,8 82 60 15 698 32
CaB Stoller 35,6 4,0ab 20,8 15,4 2,0 79 63 14 690 39
CaB Timac 36,9 3,9ab 22,7 14,9 2,7 87 59 14 780 40
CaCl2 38,6 4,5a 29,3 15,1 2,9 81 58 13 714 34
Testemunha 35,6 4,1ab 38,2 15,1 3,8 79 62 15 740 34
Média 36,0 4,0 28,1 15,1 2,8 82 60 14 724 36
 CV (%) 25,0 8,9 57,5 8,8 55,5 12,2 15,3 11,6 13,3 19,3
Safra 2011-12
CaB Bionex 40,5* 5,6* 16,1* 14,3* 3,3* 141* 218* 48,0* 470* 26b
CaB Wiser 40,0 5,8 16,1 14,2 3,3 14 218 45,8 449 29b
CaB Stoller 40,1 5,4 15,9 14,2 3,3 145 212 47,5 414 29b
CaB Timac 40,4 5,3 16,4 14,2 3,3 162 208 46,0 448 31b
Ácido bórico 41,1 5,3 16,0 14,2 3,2 146 205 44,5 466 54a
Bórax solo 40,5 5,3 16,2 14,2 3,3 156 216 48,0 533 36b
Testemunha 41,5 5,4 15,9 14,1 3,2 50 215 45,5 446 26b
Média 40,6 5,4 16,1 14,2 3,3 151 212 46,2 459 34
CV (%) 4,0 8,3 3,1 3,2 2,3 7,4 8,4 6,9 14,1 18,6
Safra 2012-13
CaB Bionex 40,1* 4,6* 24,4* 16,8* 3,8* 208* 270* 33* 401* 23b
CaB Wiser 41,1 4,3 21,6 16,3 4,1 209 292 33 341 21b
CaB Stoller 40,2 4,3 21,7 16,4 4,0 209 278 32 358 24b
CaB Timac 40,4 4,5 21,5 16,3 3,9 225 293 34 376 23b
Ácido bórico 40,4 4,5 21,5 16,8 4,1 215 315 36 377 35a
Bóraxsolo 40,1 4,6 21,6 16,8 4,0 224 305 35 370 26ab
Testemunha 41,8 4,5 22,4 15,8 3,7 182 297 31 321 22b
Média 40,7 4,5 21,7 16,4 4,0 211 297 33 357 25
CV (%) 3,9 7,7 13,1 7,7 13,2 16,2 23,3 15,4 30,7 18,8
Médias seguidas de letras diferentes diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,05).
Sem diferença significativa (p<0,05) entre as médias.

de doenças contendo estes dois micro- Conclusões Agradecimentos


nutrientes aumentou consideravelmen-
te os teores foliares. Este fato, comum Aplicações foliares de Ca e B e de B Ao Conselho Nacional de Desenvol-
em muitas culturas, praticamente invia- vimento Científico e Tecnológico (CNPq)
via solo não aumentam a produção e
biliza a análise foliar para diagnóstico do e à Fundação de Amparo à Pesquisa e
não diminuem a incidência dos distúr- Inovação do Estado de Santa Catarina
estado nutricional das plantas para es-
bios fisiológicos podridão apical e lócu- (Fapesc) pelo projeto REPENSA intitula-
tes micronutrientes. Na safra 2010/11,
los aberto em tomateiro tutorado. do “Produção Integrada de Tomate de
os teores de Fe e Zn estiveram abaixo do
Na folha diagnóstica, os teores de N, Mesa” pelo financiamento.
limite inferior da faixa adequada, res-
P, K, Mg, Fe e Zn estavam abaixo e os de
pectivamente, 100 a 300 e 30 a 100mg
Cu e Mn acima da faixa adequada, mas
Referências
kg-1, porém sem presença de sintomas
visíveis. O trabalho permite sugerir que não interferiram na produtividade e na ADAMS, P. Nutritional control in hydro-
se deveria revisar os valores atualmen- qualidade de frutos. ponics. In: SAVVAS, D.; PASSAM, H.C.
te usados para interpretação da análise A aplicação de B na forma de ácido (Eds.). Hydroponic Production of Vege-
foliar na cultura do tomateiro para con- bórico aumenta o teor de B na folha tables and Ornamentals. Athens, Gre-
diagnóstica, porém, sem efeito na pro- ece: Embryo Publications, 2002. p.211-
dições de cultivo similares às usadas nos
261.
experimentos conduzidos na região de dução e incidência em lóculos abertos
Caçador, SC. nos frutos. AGHDAM, M.S.; HASSANPOURAG-
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.61-66, set./dez. 2017 65
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66 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.61-66, set./dez. 2017


ARTIGO CIENTÍFICO

Avaliação de áreas produtoras de vinhos finos de altitude de acordo com a


sua aptidão ou potencial agrícola das terras
Denilson Dortzbach¹, Marcos Gervasio Pereira², Lúcia Helena Cunha dos Anjos3, Antonio Paz González4
Resumo – A hipótese do presente estudo é a de que diferentes metodologias de avaliação da aptidão agrícola dos solos
podem resultar em diagnósticos diferenciados para a mesma área. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar e comparar
a aptidão agrícola através das metodologias do Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras (SAAAT), Sistema de
Classificação da Capacidade de Uso (SCCU), Classificação da Aptidão de Uso das Terras do Estado de Santa Catarina (CAUTSC)
e os Critérios Edáficos para a Viticultura no Vale dos Vinhedos (CEVVV), em 38 perfis de solo em áreas produtoras de vinhos
finos em regiões de altitude de SC. O estudo foi desenvolvido nas regiões de Água Doce, Campos Novos e São Joaquim, que
se destacam como as principais produtoras dos vinhos finos de altitude no estado de Santa Catarina. Os resultados indicaram
que as áreas onde são produzidos vinhos de altitude possuem baixa aptidão agrícola para culturas anuais. Entre os fatores
limitantes destacam-se a fertilidade do solo e a declividade. Vinhedos altomontanos necessitam de metodologia de aptidão
específica.

Palavras-chave: viticultura, fatores edáficos, fertilidade do solo, aptidão das terras

Evaluation of altitude fine wines producing areas according to its aptitude


or agricultural potential of the land

Abstract – The hypothesis of the present study is that different methodologies for evaluating soil agricultural aptitude may
result in different diagnoses for the same area. Thus, the objective of the present study was to evaluate and compare agricultural
aptitude through the methodologies of System of Agricultural Evaluation and Land Suitability (SAELS), System of Evaluation
of Land Agricultural Capability (SELAC), Rating Fitness of Use of Lands of the State of Santa Catarina (RFULSSC) and Edaphic
Criteria for Viticulture in “Vale dos Vinhedos” (ECVVV) in 38 soil profiles in fine wines producing areas in SC altitude regions.
The study was developed in the Água Doce, Campos Novos and São Joaquim regions, which stand out as the main producers of
altitude fine wines in the state of Santa Catarina. The results indicated that the areas where altitude wines are produced have
low agricultural aptitude for annual crops. Among the limiting factors, soil fertility and steep slopes stand out. High altitude
vineyards require specific aptitude methodology.

Index terms: viticulture, soil factors, soil fertility, land aptitude

Introdução incidindo em características edafoclimá- Adequar as condições específicas de


ticas específicas, que refletem na qua- cada paisagem para um determinado
Os vinhos finos de altitude do es- lidade dos vinhos. Os vinhedos de alti- uso do solo necessita de um planeja-
tude estão distribuídos em 13 municí- mento adequado, no intuito de maxi-
tado de Santa Catarina (SC), apesar do
pios com destaque para o município de mizar os resultados esperados. O uso
pequeno período de produção, vêm al-
São Joaquim (50,6% da área plantada) indiscriminado das terras, sem levar
cançando posição de destaque no cená-
e Água Doce (15,3%). As propriedades em conta as potencialidades e limita-
rio nacional e internacional pela sua alta com as maiores áreas individuais estão ções peculiares de cada região, é uma
qualidade. As uvas produzidas no Oeste em Água Doce, com média de 17,2ha, das principais causas da degradação do
e Planalto Catarinense apresentam ca- Urupema (16,7ha) e Tangará (11,1ha). solo, erosão e perda de sua capacidade
racterísticas próprias e distintas das de- São Joaquim é o município com maior produtiva (PEREIRA, 2002).
mais regiões produtoras do Brasil, sen- número de propriedades (39,6%), com No Brasil as principais metodologias
do que a altitude é um dos fatores que uma área média de 7,6ha por proprie- de classificação das terras de acordo
mais influenciam esta diferenciação, dade (DORTZBACH, 2016). com a sua aptidão ou potencial agrícola

Recebido em 1/11/2016. Aceito para publicação em 20/6/2017.


¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Epagri, 88034-901 Florianópolis, SC, e-mail: denilson@
epagri.sc.gov.br.
² Engenheiro-agrônomo, Dr., Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 23897-000 Seropédica, RJ, e-mail: [email protected]; [email protected].
³ Licenciado em Ciências Biológicas, PhD, Universidade da Coruña, Coruña, Espanha, e-mail: [email protected].

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.67-71, set./dez. 2017 67


são o Sistema de Avaliação da Aptidão Material e métodos segundo o Sistema Brasileiro de Classi-
Agrícola das Terras (SAAAT), propos- ficação de Solos (SiBCS) (SANTOS et al.,
to por Ramalho Filho & Beek (1995), O estudo foi desenvolvido nas re- 2013b).
derivado do sistema FAO, e o Sistema giões de Água Doce, Campos Novos e Os perfis foram classificados de
de Classificação da Capacidade de Uso São Joaquim. Estas regiões se destacam acordo com a sua aptidão ou potencial
(SCCU), adaptado por Lepsch et al. como as principais produtoras dos vi- agrícola pelo Sistema de Avaliação da
(2015) do Land Capability Classifica- nhos finos de altitude no estado de San- Aptidão Agrícola das Terras (SAAAT) (RA-
tion Americano. Em Santa Catarina foi ta Catarina (Figura 1). MALHO FILHO & BEEK, 1995), Sistema
desenvolvida por Uberti et al. (1991) Os solos nessas áreas têm como ma- de Classificação da Capacidade de Uso
a metodologia para a Classificação da terial de origem rochas da Formação (SCCU) (LEPSCH et al., 2015), metodolo-
Serra Geral sobre a Bacia do Paraná e gia para Classificação da Aptidão de Uso
Aptidão de Uso das Terras do Estado
também rochas sedimentares paleozói- das Terras do Estado de Santa Catarina
de Santa Catarina (CAUTSC), adaptada
cas da Bacia do Paraná. Foram abertas (CAUTSC) (UBERTI et al., 1991) e pelos
para as condições do Estado, que esta-
trincheiras para a coleta de 38 perfis critérios edáficos para a viticultura no
belece cinco classes de aptidão de uso,
modais (Tabela 1), descritos segundo Vale dos Vinhedos (CEVVV) (SARMENTO
possibilitando uma melhor avaliação do
Santos et al. (2013a). As amostras de to- et al., 2011).
potencial, tanto para uso com culturas
dos os horizontes foram secas, destor-
anuais quanto para usos menos intensi- Resultados e discussão
roadas e passadas por peneira (2mm),
vos. No Rio Grande do Sul, Sarmento et
constituindo a terra fina seca ao ar
al. (2011) propuseram um conjunto de (TFSA). Os resultados observados no SAAAT
critérios edáficos para a viticultura no Foram avaliados os atributos quími- (Tabela 1), demonstram que as terras
Vale dos Vinhedos (CEVVV), utilizados cos: pH em água, Ca2+, Mg2+, K+ e Na+, P, onde atualmente estão sendo produ-
para interpretar e avaliar as proprieda- Al3+; e físicos: densidade de partículas zidos vinhos de altitude pertencem na
des do solo do ponto de vista da sua (Dp) e granulometria (areia, silte e ar- sua maioria ao grupo 4, subgrupo 4P
adequação. gila) (DONAGEMA et al., 2011), e cal- (42%), 4(p) (34%) e 4p (13%), com apti-
Essas metodologias de avaliação das culados: Soma de Bases (SB), CTC (pH dão agrícola boa, restrita e regular, res-
terras constituem ferramentas para o 7,0), atividade da argila (Targ) e grau de pectivamente, para pastagem plantada
suporte de tomada de decisão, propon- floculação (GF). Todas as análises foram e não recomendada para culturas de
do um diagnóstico para o uso mais ade- realizadas no laboratório de solos da uso mais intensivo.
quado, com a indicação de práticas agrí- Epagri, no município de Chapecó, SC. Os A baixa aptidão agrícola das terras
colas recomendadas para o seu melho- resultados da caracterização dos perfis apresentada condiciona o uso das terras
ramento, baseado nas limitações e de encontram-se em Dortzbach (2016). a atividades menos intensivas no nível
como essas restringem a sua aptidão/ A partir dos atributos morfológicos de manejo B. A baixa fertilidade dos so-
capacidade de uso (DELARMELINDA et e dos dados de análises físicas e quími- los com graus de limitação moderada a
al., 2011). cas, os perfis de solo foram classificados forte associada à declividade com graus
Entretanto, muitas metodologias
podem não ser adequadas para as con-
dições locais, e dependem das poten-
cialidades do ambiente, das demandas
fisiológicas para determinada cultura e
de condições socioeconômicas do siste-
ma de produção.
Dessa forma, a hipótese do presente
estudo é a de que diferentes metodo-
logias de avaliação da aptidão agrícola
dos solos podem resultar em diagnós-
ticos diferenciados para a mesma área.
Assim, o objetivo do presente estu-
do foi avaliar e comparar a aptidão agrí-
cola através das metodologias SAAAT,
SCCU, CAUTSC e CEVVV em 38 perfis de
solo em áreas produtoras de vinhos fi- Figura 1. Regiões de altitude do estado de Santa Catarina e distribuição dos perfis de solos
nos em regiões de altitude de SC. coletados

68 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.67-71, set./dez. 2017


Tabela 1. Perfis de solo, com coordenadas e altitude e classificação da aptidão agrícola através das metodologias

Perfil Coordenadas Atitude Classificação


SAAAT SCCU CAUTSC CEVVV
nº (m)
x y
1 648336 6929661 902 CAMBISSOLO HÁPLICO Alítico típico 4(p) VIe 3f PR
2 634183 6928696 864 CAMBISSOLO HÁPLICO Ta Distrófico léptico 4P IVe 3f PR
3 640564 6909346 1.144 CAMBISSOLO HÚMICO Alítico típico 4(p) IVe 3f PR
4 692137 6933879 1.059 CAMBISSOLO HÁPLICO Alítico típico 4(p) IVe 3f PR
5 614882 6887112 1.258 NITOSSOLO BRUNO Distrófico húmico 4P IIIes 3f NR
6 614804 6886861 1.282 NEOSSOLO LITÓLICO Distrófico típico 5n IVs 3prf PR
7 614952 6887292 1.259 NITOSSOLO BRUNO Alumínico típico 4p IVe 3f PR
8 617122 6886388 1.359 CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico 4(p) VIe 3d PR
9 616935 6888630 1.259 CAMBISSOLO HÁPLICO Alítico típico 4(p) VIe 3d P
10 601323 6872431 1.304 CAMBISSOLO HÁPLICO Alítico típico 4P IVe 3f NR
11 602781 6874099 1.274 CAMBISSOLO HÁPLICO Ta Distrófico léptico 4P IVe 2d PR
12 601649 6874949 1.240 CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico 4P IVe 3f PR
13 602748 6876005 1.227 CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico 4(p) VIe 3d PR
14 598834 6876373 1.302 CAMBISSOLO HÁPLICO Alítico típico 4P IVe 3d PR
15 599164 6876935 1.301 CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico 2abc IIes 2f R
16 598479 6880683 1.270 CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico 4P IIIes 3f R
17 600111 6874767 1.328 CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico 4p VIe 3f PR
18 591146 6876251 1.112 NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico típico 4P IVe 2d PR
19 587203 6878623 1.146 CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico 4(p) VIe 3d PR
20 595322 6892674 1.109 CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico 4P IIIes 2prf PR
21 593195 6856252 1.217 CAMBISSOLO HÁPLICO Alítico típico 4p IIIes 3f PR
22 525172 6939550 900 NITOSSOLO VERMELHO Distrófico típico 4p VIe 3d PR
23 507146 6925654 989 CAMBISSOLO HÁPLICO Alítico típico 4P IIIes 3f PR
24 419723 7015409 1183 NITOSSOLO VERMELHO Alítico típico 1ABC IIes 1/2f PR
25 484770 6953453 869 NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico típico 4P IIIes 3f NR
26 483745 6975319 976 NITOSSOLO HÁPLICO Alumínico típico 4P IIIes 2f PR
27 472186 6955375 877 LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico 4P IIes 2f PR
28 470390 6961938 852 LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico 3(abc) IIes 2f PR
29 477522 6971137 949 CAMBISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico 4P IVe 3f PR
30 494783 6969905 880 NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico típico 4P IVe 3f PR
31 482296 6992408 912 NITOSSOLO VERMELHO Alumínico típico 4(p) IVe 3f PR
32 488274 6989440 1.162 CAMBISSOLO HÁPLICO Ta Distrófico típico 4p VIe 3f PR
33 487706 6988949 1.055 NITOSSOLO HÁPLICO Eutrófico típico 4(p) VIe 3d PR
34 485194 7006662 919 NITOSSOLO HÁPLICO Distrófico típico 4P IIIes 3f PR
35 488210 7009152 849 CAMBISSOLO HÚMICO Alítico típico 4(p) IIIs 3f NR
36 448263 7030119 1.330 CAMBISSOLO HÚMICO Alítico típico 4(p) IVe 3f PR
37 450148 7045289 1.260 CAMBISSOLO HÁPLICO Alítico típico 4(p) IIIes 3f PR
38 456577 7045197 1.260 CAMBISSOLO HÁPLICO Alítico típico 4(p) IVe 2d PR

Legenda: Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras (SAAAT), Sistema de Classificação da Capacidade de Uso (SCCU), Classificação da Aptidão de Uso
das Terras do Estado de Santa Catarina (CAUTSC) e os Critérios Edáficos para a Viticultura no Vale dos Vinhedos (CEVVV

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.67-71, set./dez. 2017 69


de limitação, em alguns casos, classifi- Assim, a capacidade de uso das terras rado risco de erosão, sendo necessá-
cada como muito forte (Perfis 1, 8, 9, varia com o conjunto dos atributos do rias práticas simples de conservação
13, 19 e 33), constituíram as principais solo e do ambiente, tais como a profun- do solo. Há problemas de elevado teor
limitações quanto ao uso agrícola des- didade efetiva do solo, a drenagem in- de Al, que deve ser corrigido através de
sas áreas. terna do perfil, a declividade do terreno práticas de calagem.
Dessa forma, essas áreas apresen- e a erosão superficial, que influenciam Segundo a metodologia CAUTSC, a
tam solos que exigem elevadas doses a classificação tanto em nível de grupo classe de aptidão mais representativa
de fertilizantes e corretivos, em função quanto de classe (SANTOS et al., 2012). foi a classe 3, que correspondeu a 76%
da baixa disponibilidade de nutrientes Entre os perfis avaliados, segundo a dos perfis avaliados. Essa classe apre-
e dos elevados teores de matéria orgâ- metodologia SCCU, a classe IV foi a mais senta aptidão com restrições para cul-
nica e alumínio trocável, limitantes nos expressiva, ocorrendo em 18 perfis ava- turas anuais climaticamente adaptadas,
níveis de manejo B com baixo investi- liados, destacando a subclasse IVe clas- aptidão regular para fruticultura e boa
mento de capital. Essa condição mere- sificada como terras limitadas por risco aptidão para pastagem e reflorestamen-
ce atenção quando da implantação de de erosão para cultivos intensivos, com to. São terras que apresentam alto risco
novos vinhedos, pois se tem que consi- característica de apresentar declivida- de degradação ou limitações fortes para
derar o elevado investimento com cala- des acentuadas, fato observado em 14 utilização com culturas anuais. Nesta
gem e adubação para alcançar as doses perfis. classe foram observadas 3 subclasses:
necessárias para a cultura da videira. Nessa classe as terras têm riscos ou 3f (21 perfis), onde a maior limitação
Fatores como deficiência de água, limitações permanentes muito severas foi a fertilidade; 3d (7 perfis), maior li-
excesso de água ou deficiência de oxi- quando usadas para culturas anuais. mitação foi a declividade (20% a 45%);
gênio não influenciaram a classificação Devem ser mantidas preferencialmente 3prf (perfil 6), com maiores limitações
devido aos fatores climáticos da região, como pastagens, mas podem ser sufi- relacionadas a profundidade efetiva e
que possibilita chuvas regulares duran- cientemente boas para certos cultivos a fertilidade (necessita de mais de 12 t
te o ano todo, evitando problemas com ocasionais ou para certas culturas anu- ha-1 de calcário).
deficiência de água. Em contrapartida, ais ou perenes, porém com cuidados Os demais perfis foram classificados
as áreas cultivadas encontram-se na muito especiais. As recomendações de como classe 2, com aptidão regular para
maioria dos casos em encostas com uso das terras da SCCU supõem um ní- culturas anuais climaticamente adapta-
orientação para o norte, e são ignoradas vel de manejo desenvolvido, com signi- das. São terras que apresentam limi-
pelos produtores as áreas de baixada, o ficativa aplicação de capital e tecnologia tações moderadas para sua utilização
que elimina os problemas com excesso (LEPSCH et al., 2015). com culturas anuais e/ou com riscos
de água. A classe III foi observada em 10 per- moderados de degradação. Nesta clas-
Os perfis 15, 24 e 29 apresentaram fis e caracteriza-se por agrupar terras se foram observadas as subclasses: 2d
as melhores classes de aptidão. O perfil que podem ser cultivadas com culturas (3 perfis) – maior limitação foi a decli-
24 foi classificado como 1ABC, repre- anuais, perenes, pastagem e refloresta- vidade (8% a 20%); 2f (5 perfis) – maior
sentando terras pertencentes à classe mento, desde que haja adoção de práti- limitação foi a fertilidade (necessita de 6
de aptidão boa para lavoura, nos níveis cas intensivas de conservação do solo. A a 12 t ha-1 de calcário); 2prf (perfil 20) –
de manejo A, B e C; o perfil 15 classi- declividade foi o fator mais limitante, o maior limitação foi a profundidade efe-
ficado como 2abc, sendo terras perten- que implica especial atenção ao contro- tiva e a fertilidade.
centes à classe de aptidão regular para le da erosão, especialmente se cultiva- De acordo com os critérios edáfi-
lavoura nos níveis de manejo A, B, e C e das sob preparo convencional. cos para a viticultura utilizados para a
o 29, como classe 3(abc), representan- A classe VIe foi observada em 6 região específica do Vale dos Vinhedos
do terras pertencentes à classe de apti- perfis, e é considerada imprópria para no estado do RS (CEVVV), que dentre as
dão restrita para lavouras nos níveis de lavouras intensivas, sendo aptas para metodologias utilizadas nesse estudo
manejo A, B e C. pastagens, florestas e algumas culturas teria maior possibilidade de se adequar
O perfil 6 (Neossolo Litólico) apre- permanentes protetoras do solo, desde à aptidão para a região em estudo, veri-
sentou classificação 5n devido a sua bai- que sejam usadas práticas complexas ficou-se, porém, que 31 dos 38 perfis fo-
xa profundidade efetiva, sendo caracte- de conservação do solo. Caracteriza-se ram classificados como áreas pouco re-
rizado como terras inaptas para lavoura por apresentar declividade acentuada comendadas para a viticultura, 4 perfis
e pastagens plantadas, porém regulares (> 20%). como não recomendados, perfis 15 e 16
para pastagens naturais. A classe IIes, observada nos perfis como recomendados e apenas o perfil 9
A metodologia SCCU foi desenvolvi- 15, 24, 26 e 27, é classificada como ter- foi classificado como preferencial para a
da prioritariamente para planejamen- ra boa para o cultivo de culturas anuais, viticultura.
tos de práticas de conservação do solo com baixo índice de saturação por bases Esses resultados estão relaciona-
exigidas em terras consideradas aráveis. (V% < 50%) e apresenta ligeiro a mode- dos principalmente ao elevado teor de

70 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.67-71, set./dez. 2017


matéria orgânica no horizonte A nas Conclusões ras e sensibilidade ambiental: proposta
regiões de altitude de SC, à baixa pro- metodológica. 122p.Tese (Doutorado
fundidade efetiva, à pequena espessura Para as áreas de vinhedos altomon- em Planejamento e Desenvolvimento
do horizonte A, textura argilosa a muito tanos é necessário o desenvolvimento Rural Sustentável) – Faculdade de Enge-
argilosa e baixa fertilidade. de uma metodologia específica para a nharia Agrícola, Universidade Estadual
Quando são comparados os dados avaliação da aptidão agrícola. de Campinas, Campinas, 2002.
observados na metodologia SAAAT com As áreas onde são produzidos vinhos
as demais metodologias (Tabela 2), RAMALHO FILHO, A.; BEEK, K.J. Sistema
de altitude possuem baixa aptidão agrí-
observa-se que em muitos casos ocor- de avaliação da aptidão agrícola das
cola para culturas anuais.
re similaridade entre as classificações, terras. 3.ed. Rio de Janeiro: Embrapa-
Entre os fatores limitantes desta-
da mesma forma que em outros casos CNPS, 1995. 65p.
cam-se a fertilidade do solo e a declivi-
ocorre grande diferenciação na classifi- dade. SANTOS, R.D. dos; LEMOS, R.C. de; SAN-
cação entre as metodologias. TOS, H.G. dos; KER, J.C.; ANJOS, L.H.C.
Em estudo que objetivou identificar Referências dos; SHIMIZU, S.H. Manual de descrição
e contrastar o potencial agrícola das ter- e coleta de solo no campo. 6.ed. rev. e
ras em duas vilas rurais situadas no mu- COSTA, F.S.; BAYER, C.; ZANATTA, J.A.; ampl. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ci-
nicípio de Rio Negro, Paraná, utilizando MIELNICZUK, J. Estoque de carbono or- ência do Solo, 2013a. 100p.
as metodologias SAAAT E SCCU, Costa gânico no solo e emissões de dióxido de
et al. (2008) concluíram que o SAAAT carbono influenciadas por sistemas de SANTOS, H.G. dos; JACOMINE, P.K.T.;
mostrou-se mais apropriado do que o manejo no sul do Brasil. Revista Brasi- ANJOS, L.H.C. dos; OLIVEIRA, V.A. de;
SCCU para determinação do potencial leira de Ciência do Solo, Viçosa, v.32, LUMBRERAS, J.F.; COELHO, M.R.; AL-
agrícola das terras. n.1, p.323-332, janeiro/fevereiro 2008.  MEIDA, J.A. de; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA,
Em outro estudo no estado do Acre, J.B. de. Sistema Brasileiro de Classifica-
com o objetivo de avaliar como dife- DELARMELINDA, E.A.; WADT, P.G.S.; ção de Solos. 3.ed. rev. e ampl. Brasília,
rentes especialistas percebem a impor- ANJOS, L.H.C.; MASUTTI, C.S.M.; SILVA, DF: Embrapa, 2013b. 353p.
tância relativa dos indicadores de um E.F.; SILVA, M.B.E.; COELHO, R.M.; SHI-
sistema de aptidão agrícola e como eles MIZU, S.H.; COUTO, W.H. Avaliação da SANTOS, P.G. dos; BERTOL, I.; CAMPOS,
interpretam esses atributos para a defi- Aptidão Agrícola dos Solos do Acre por M.L.; NETO, S.L.R.; MAFRA, A.L. Classifi-
nição das diferentes classes de aptidão, Diferentes Especialistas. Revista Brasi- cação de terras segundo sua capacida-
leira de Ciência do Solo, Viçosa, v.35, de de uso e identificação de conflito de
Delarmelinda et al. (2011) concluíram
n.6, p.1841-1853, novembro/dezembro uso do solo em microbacia hidrográfica.
que a avaliação da aptidão agrícola re-
2011. Revista de Ciências Agroveterinárias,
alizada por diferentes avaliadores resul-
tou em classificações de grupos de uso Lages, v.11, n.2, p.146-157, abril 2012.
DONAGEMA, G.K.; CAMPOS, D.V.B. de;
das terras distintos para os mesmos so- CALDERANO, S.B.; TEIXEIRA, W.G.; VIA- SARMENTO, E.C.; FLORES, C.A.; WE-
los e ambientes. NA, J.H.M. (Org.).  Manual de métodos BER, E.; HASENACK, H. Vineyards and
Entre as metodologias, a idealizada de análise de solos. 2.ed. rev. Rio de Ja- edaphic suitability for viticulture in the
para as condições do estado de Santa neiro: Embrapa Solos, 2011. 230p. (Em- Vale dos Vinhedos, Brazil. In: Anais 34°
Catarina foi a menos restritiva para a brapa Solos. Documentos, 132). World Congress of the International
produção agrícola, porém para a vitivi- Vine an Wine; 2011; Porto. Porto: OIV.
nicultura foi a metodologia menos apro- DORTZBACH, D. Caracterização dos so-
Disponível em: <http://www.ecologia.
priada. O fato é que nessas áreas atu- los, avaliação da aptidão agrícola e zo-
ufrgs.br/labgeo/arquivos/Publicaco-
almente está sendo produzida uva para neamento das regiões produtoras de
es/Congressos/2011/Sarmento_et_
produção de vinho, mas de acordo com vinhos finos de altitude de SC. 2016.
al_2011_Vineyards_and_edaphic_sui-
as metodologias de aptidão das terras 192f. Tese (Doutorado em Ciências) –
tability_for_viticulture.pdf>. Acesso
mais utilizadas, essa não seria a melhor Instituto de Agronomia, Universidade
em: 15 jan. 2016.
alternativa de uso. Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropé-
Diante dos resultados observados dica, RJ, 2016. UBERTI, A.A.A.; BACIK, I.L.Z.; PANICHI,
se faz necessárioa a elaboração de uma J.V.; NETO, J.A.L.; MOSER, J.M.; PUN-
LEPSCH, I.F.; ESPÍNDOLA, C.R.; VISCHI
metodologia específica para os vinhe- DEK, M.; CARRIÃO, S.L. Metodologia
FILHO, O.J.; HERNANI, L.C. Manual para
dos das regiões altomontanas do esta- levantamento utilitário e classificação para classificação da aptidão de uso
do de Santa Catarina, considerando os de terras no sistema de capacidade de das terras do estado de Santa Catarina.
fatores específicos dessas áreas, que uso. Viçosa-MG: SBCS, 2015. 170p. Florianópolis, SC: Empresa de Pesquisa
para determinada cultura podem ser Agropecuária de Santa Catarina, 1991.
favoráveis. PEREIRA, L.C. Aptidão agrícola das ter- 19p. (Documentos, 119).
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.67-71, set./dez. 2017 71
ARTIGO CIENTÍFICO

Manejo da Adubação Nitrogenada e Desempenho Agronômico do Arroz


Irrigado Cultivado em Zonas de Altitude no estado de Santa Catarina
Fabiana Schmidt1; Marcos Lima Campos do Vale1; Ronaldir Knoblauch2; Ricieri Verdi3; Dirceu Schwartz3
Resumo - Na região do Alto Vale do Itajaí, Santa Catarina, as lavouras de arroz estão localizadas em altitudes que variam
entre 300 e 600 metros. Esta condição predispõe a região à ocorrência de fenômenos climáticos que podem interferir nos
processos de crescimento e desenvolvimento da cultura, com reflexos sobre a produtividade de grãos. O objetivo deste estudo
foi avaliar doses e parcelamento da aplicação de N para o arroz irrigado em zonas de altitude desta região. Os experimentos
foram conduzidos em Rio do Campo, SC (600m de altitude), nas safras 2012/13 e 2013/14. Os tratamentos consistiram na
combinação dos fatores doses de N e parcelamento da adubação. Os efeitos do clima sobre a resposta do arroz ao manejo da
adubação nitrogenada foram avaliados por meio da incorporação do fator ano de cultivo ao modelo estatístico. As variações
de temperatura e radiação solar ocorridas na fase reprodutiva não têm efeito sobre a resposta produtiva do arroz à adubação
nitrogenada na região do Alto Vale do Itajaí. A dose e parcelamento da adubação nitrogenada para lavouras dessa região
podem ser 90kg de N ha-1, em duas aplicações em cobertura, sem prejuízos ao desempenho produtivo do arroz irrigado.

Termos de indexação: Oryza sativa, nitrogênio, doses e parcelamento, regiões frias.

Management of Nitrogen Fertilization and Agronomic Performance of Irrigated Rice Cultivated in


Altitude Zones in the State of Santa Catarina
Abstract- In Alto Vale do Itajaí region, Santa Catarina State, rice fields are located at elevations ranging between 300 and 600m.
This condition predisposes the region to weather phenomena that may interfere on growth and development process of rice
crop, reflecting on grain yield. The aim of this study was to evaluate the dose and installment of N application for lowland rice
at the altitude zones of that region. The experiments were conducted in Rio do Campo (600 m over the sea), SC, in 2012/13
and 2013/14 growing seasons. The treatments consisted in the combination of the factors dose of N and fertilizer installment.
The climate effects on the rice response to nitrogen fertilization were evaluated by incorporating the factor cropping year in
the statistical model. Temperature and solar radiation variations that occurred in the reproductive phase have no effect in yield
response of rice to N fertilization in the Alto Vale do Itajaí region. The dose and installment of N fertilization in that region, can
be 90 kg of N ha-1, carried in two applications, with no prejudice to the agronomical performance of lowland rice.

Index terms: Oryza sativa; nitrogen, rate and installment, cold regions.

Introdução do mar (PANDOLFO et al., 2002). Esta nuvens na região (CAVALCANTI & FER-
condição predispõe a região à ocorrên- REIRA, 2009). Como consequência, as
O Alto Vale do Itajaí configura-se cia de fenômenos climáticos que podem plantas de arroz podem apresentar uma
como uma das regiões produtoras de interferir significativamente nos proces- redução de sua taxa fotossintética, re-
arroz irrigado do estado de Santa Cata- sos de crescimento e desenvolvimento dução do consumo e translocação de
rina. A região representa 7,28% da área da cultura, com reflexos sobre a produ- carboidratos, e aumento da degradação
total plantada (10.684ha) e 7,53% da tividade de grãos (MARSCHALEK et al., de proteínas, sendo a intensidade des-
quantidade produzida (77.324 tonela- 2013). tes processos dependente da fase do
das) de arroz no Estado (dados não pu- As principais variáveis climáticas desenvolvimento da cultura (OHASHI et
blicados fornecidos pelo Epagri/Cepa, afetadas pela altitude na região do Alto al., 2000).
referentes à safra 2015/2016). Uma das Vale do Itajaí são radiação solar e tem- Do ponto de vista nutricional, o ni-
principais características que diferencia peratura. De forma geral, o resfriamen- trogênio (N) é, sem dúvida, o elemen-
o Alto Vale do Itajaí das demais regiões to adiabático provocado pela ascensão to cujo manejo é mais intensamente
orizícolas do Estado é a localização das orográfica das massas de ar promove afetado por variações do ambiente de
lavouras em altitudes que variam entre a manutenção de temperaturas mais cultivo. Considerando o amônio (NH4+)
300 e 600 metros em relação ao nível baixas e o aumento da cobertura de como a forma preferencialmente absor-

Recebido em 2/6/2017. Aceito para publicação em 31/7/2017.


1
Engenheira-agrônoma(o), Dra.(Dr.), Epagri/ Estação Experimental de Itajaí, Bairro Itaipava 6800, 88318-112 Itajaí, SC, fone: (47) 3398-6365, e-mail:
[email protected]; [email protected].
2
Engenheiro-agrônomo, Dr., pesquisador aposentado da Epagri, e-mail: [email protected].
3
Engenheiro-agrônomo, Extensionista da Epagri de Pouso Redondo e Rio do Campo, e-mail: [email protected]; [email protected].

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vida, a redução da atividade metabólica 596m de altitude), município de Rio do Antes da instalação dos experimen-
da planta de arroz pode limitar a taxa de Campo, SC, durante as safras orizícolas tos foram coletadas amostras de solo na
absorção do nutriente, tanto pela ação de 2012/2013 e 2013/2014. O solo da camada de 0-20cm de profundidade da
de mecanismos de inibição por retroa- área experimental é caracterizado como área para a determinação de atributos
limentação, inibidores metabólicos da Cambissolo Háplico Tb álico de textura químicos do solo seguindo metodolo-
glutamina sintetase (GS), como pelo argilosa (EMBRAPA, 2013). O clima da gias descritas por Tedesco et al. (1995).
aumento da taxa de efluxo do elemen- região é do tipo mesotérmico úmido Os valores obtidos para a primeira e se-
to (SOUZA & FERNANDES, 2006). Estes com verão quente, boa distribuição de gunda safra foram: teor de argila, 33%;
processos podem ter forte associação chuvas e estações do ano bem defini- pH água, 4,4 e 4,5; índice SMP, 4,8 e
com a menor resposta da cultura à das conforme a classificação climática 5,2; P (Mehlich-1), 3,4 e 3,8 mg dm-3,
adubação nitrogenada em condições de Koppen-Geiger (PANDOLFO et al., K (Mehlich-1) 51 e 59 mg dm-3, CTC pH
de baixas temperaturas e baixa dispo- 2002). 7,0, 20 e 13 cmolc dm-3 e matéria orgâni-
nibilidade de radiação solar relatada As precipitações pluviométricas ca, 2,2 e 2,3%, respectivamente.
por alguns autores (GUNAWARDENA & acumuladas no período de condução O delineamento experimental uti-
FUKAI, 2005). dos cultivos do arroz (meses de setem- lizado foi de blocos ao acaso, em um
Outro aspecto relevante para o ma- bro a fevereiro) nas safras 2012/2013 esquema fatorial 4x3x2, com três repe-
nejo do N em zonas sujeitas à ocorrên- e 2013/2014 foram respectivamente tições. Os tratamentos foram aplicados
cia de baixas temperaturas é o efeito 1.238mm e 1.423mm. As temperaturas em parcelas de 30m2 (5 x 6m) e consis-
de sua concentração no tecido vegetal mínimas, máximas e médias ocorridas tiram na combinação das doses de N
sobre a suscetibilidade à esterilização
durante o período de cultivo do arroz (testemunha- 0, 60, 90 e 120 kg ha-1 de
de espiguetas. Embora os mecanismos
nas duas safras são apresentadas na Fi- N, aplicadas na forma de ureia), e parce-
associados ao processo ainda se encon-
gura 1. lamento da adubação (em 1, 2 e 3 apli-
trem pouco descritos, considera-se que
o aumento da esterilidade seja causa-
do pelo excesso de N na microsporo-
gênese. O processo é aparentemente
mais acentuado quando o manejo do
nutriente favorece tanto o aumento do
número de perfilhos como a elevação
da concentração no tecido logo após a
diferenciação do primórdio floral (LAR-
ROSA, 2008).
As especificidades do clima da re-
gião tornam recorrentes as dúvidas de
agricultores e técnicos sobre o mane-
jo da adubação nitrogenada. Embora
a pesquisa preveja a possibilidade de
ajuste da dose com base nas condições
climáticas, a falta de detalhamento dos
efeitos das baixas temperaturas e bai-
xa radiação sobre a resposta do arroz à
adubação compromete a definição do
manejo mais adequado para o nutrien-
te na região. Nesse sentido, o presente
estudo foi desenvolvido com o intuito
de avaliar doses e o parcelamento da
adubação nitrogenada para o arroz ir-
rigado em zonas de altitude localizadas
na região catarinense do Alto Vale do
Itajaí nas safras agrícolas de 2012/13 e
2013/14.

Material e métodos
Dois experimentos foram insta-
lados a campo, na localidade de Rio Figura 1. Valores de temperatura (T) média, mínima e máxima do ar no período de cultivo
Azul (26°53’19,58’’S; 50°11’47,08’’W, e do arroz nas safras de 2012/13 e 2013/14, em Rio do Campo/SC
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cações em cobertura, nos estádios de (5%) para o detalhamento dos fatores celamento do N não tenha ocasionado
início de perfilhamento, perfilhamento parcelamento da aplicação e ano de prejuízos à produtividade do arroz mes-
pleno e iniciação da panícula (R0) que cultivo. O efeito principal do fator doses mo na safra 2012/2013, que apresentou
corresponderam respectivamente aos de N sobre a produtividade foi avalia- maior número de dias com temperatu-
30, 60 e 85 dias após a semeadura do do por regressão linear, considerando ras críticas (abaixo de 17°C) para o arroz
arroz. o nível de interação entre as condições na fase reprodutiva (Tabela 1), vários
Os efeitos do clima sobre a respos- experimentais avaliadas. Procedeu-se, trabalhos desenvolvidos para o cultivo
ta do arroz ao manejo da adubação também, a avaliação do grau de rela- do arroz mostram que o conteúdo de
nitrogenada foram avaliados por meio cionamento entre a produtividade e os N na planta, que pode ser alterado de
da incorporação do fator de condição componentes do rendimento pela re- acordo com o manejo da adubação ni-
experimental ano de cultivo ao modelo gressão linear múltipla. Os valores dos trogenada, é um fator que influencia na
estatístico linear misto. Também foram componentes de rendimento foram pa- sensibilidade das plantas ao frio (GUNA-
estimados os parâmetros climáticos dronizados para a supressão do efeito WARDENA et al., 2003; GUNAWARDENA
radiação acumulada e soma térmica da escala de medida sobre os coeficien- & FUKAY, 2005; LARROSA, 2008).
nos períodos vegetativo (setembro a tes ajustados. Todos os procedimentos Gunawardena et al. (2003) mostra-
dezembro) e reprodutivo (janeiro e fe- de análise dos dados foram realizados ram que as aplicações de doses altas de
vereiro) do arroz, e o número de dias com o auxílio do software estatístico R N que determinam um maior número
com temperaturas mínimas abaixo do (R CORE TEAM, 2015). de perfilhos causaram também o au-
nível crítico (17°C) estabelecido para o mento da esterilidade. Os autores atri-
início do período reprodutivo do arroz Resultados e discussão buíram este efeito à influência do N no
(mês de janeiro) (SOSBAI, 2012). O valor aumento do crescimento do colmo em
da soma térmica foi calculado conforme A interação “doses de N x parce- comprimento, localizando a panícula
descrito por Arnold (1960). As variáveis lamento da adubação x anos” não foi fora da proteção da água. Além disso,
meteorológicas foram obtidas na Esta- significativa para a produtividade e os Gunawardena & Fukai (2005) relatam
ção Meteorológica de Observação de componentes de rendimento do arroz que a maior quantidade de perfilhos e
Superfície Automática de Rio do Cam- irrigado cultivado em região de altitude de grãos por panícula, provocada pela
po, SC, através do Instituto Nacional de (Tabela 1). As interações “doses N x par- alta aplicação de N, diminui a disponibi-
Meteorologia (INMET). celamento do N”, “doses de N x anos” lidade imediata de assimilados no mo-
O cultivar de arroz utilizado foi Epa- e “parcelamento de N x anos” também mento da produção de grãos de pólen,
gri 109, de ciclo tardio. A adubação de não foram significativas para as variáveis ocasionando um aumento de esterilida-
base, com P e K, foi aplicada a lanço an- produtividade, número de grãos por pa- de de espiguetas.
tes da semeadura, para a expectativa de nícula, peso de mil grãos e esterilidade As comparações dos níveis do fator
rendimento de grãos alta, sendo aplica- (Tabela 1). Efeito significativo da intera- parcelamento (1, 2 e 3 aplicações de N)
dos 50kg de P2O5 e 70kg de K2O por hec- ção “doses de N x anos” foi observado revelaram efeito similar do manejo da
tare. Todos os procedimentos de mane- apenas para o número de panículas por adubação nitrogenada para as variáveis
jo da cultura foram realizados conforme metro quadrado (Tabela 1). produtividade e número de grãos por
recomendações descritas pela pesquisa A avaliação dos efeitos isolados panícula, evidenciando o efeito posi-
para o Sul do Brasil para o sistema de dos fatores experimentais (doses de N, tivo do fracionamento da aplicação do
cultivo pré-germinado (SOSBAI, 2012). parcelamento do N e anos de cultivo) nutriente (Tabela 2). O parcelamento da
A produtividade de grãos foi quan- evidenciou os efeitos específicos do dose de N em duas aplicações também
tificada pela colheita manual de amos- manejo do N e das condições climáticas resultou um maior número de panícu-
tras de uma área útil de 6m2 por parcela sobre o comportamento do arroz (Tabe- las/m2, havendo, porém, decréscimo no
no momento em que a cultura atingiu la 1). Considerando a produtividade do valor da variável para o parcelamento
o estádio de maturidade fisiológica. As arroz, verificou-se significância para o em três aplicações (Tabela 2). A esterili-
amostras colhidas foram trilhadas e se- efeito isolado das doses de N, do par- dade de grãos e a massa de 1000 grãos
cadas até atingir a umidade de 13%. Os celamento do N e dos anos de cultivo. não foram afetadas pelo fracionamento
componentes de rendimento, número Para os componentes de rendimento, da aplicação do N (Tabela 2).
de panículas por metro quadrado, nú- observou-se influência das doses de N A comparação das médias da produ-
mero de grãos por panícula, peso de aplicadas sobre o número de grãos for- tividade com o número de grãos por pa-
mil grãos e esterilidade de espiguetas mados por panícula, e do parcelamento nícula, entre os anos de cultivo, mostrou
foram determinados em amostras co- das aplicações sobre o número de pa- equivalência nas respostas (Tabela 2).
letadas de uma área útil de 0,5m2 por nículas por metro quadrado e número Na safra de 2013/14, em comparação
parcela. de grãos por panículas. O ano de cultivo a safra 2012/13, verificaram-se acrésci-
A análise estatística foi realizada teve influência sobre todos os compo- mos médios de 2.342kg ha-1 de arroz e
pelo método de análise de modelos li- nentes de rendimento da cultura. 38 grãos por panícula (Tabela 2). Com-
neares mistos. Quando verificados efei- Embora neste estudo o manejo da portamento antagônico foi observado
tos significativos, procederam-se com- adubação relacionado a doses e par- para o número de panículas por metro
parações de médias pelo teste de Tukey quadrado, peso de mil grãos e esterili-

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Tabela 1. Estimativa da probabilidade (p) para a produtividade (Prod.), número de panícula por metro quadrado (Pan m-2), grãos por
panícula (Grãos pan-1), massa de mil grãos (MS 1000 grãos), esterilidade (Esteril.) associada ao efeito de doses de N, parcelamento da
adubação, safras de cultivo e suas interações
Parâmetros
Causas da variação
Prod. (kg ha ) -1
Pan m ( n )
2 o
Grãos Pan-1 (no) MS 1000 grãos (g) Esteril. (%)
Doses N 0.001** 0.407ns 0.049* 0.185 ns 0.061 ns
Parcelamento N 0.002** 0.001** 0.013* 0.662 ns 0.281 ns
Safras <0.001** <0.001** <0.001** 0.003** <0.001**
Doses N x Parcelamento N 0.591 ns 0.353 ns 0.583 ns 0.301 ns 0.617 ns
Doses N x Safras 0.119 ns 0.012 * 0.658 ns 0.075 ns 0.567 ns
Parcelamento N x Safras 0.679 ns 0.689 ns 0.561 ns 0.385 ns 0.609 ns
DosesN x Parcel. x Safras 0.343 ns 0.258 ns 0.675 ns 0.735 ns 0.658 ns
**
significativo a 1%; * significativo a 5% de probabilidade pelo teste F; ns não significativo.

dade, havendo decréscimos respectivos outras variáveis do ambiente, principal- 4). Enquanto no período vegetativo a
de 65 panículas/m2, 0,9g por mil grãos e mente as relacionadas ao clima (tempe- radiação acumulada e soma térmica
4% na esterilidade de grãos, respectiva- ratura do ar e à radiação solar) sobre o variaram aproximadamente 0,2 e 12%
mente, na safra de 2013/14 (Tabela 2). desempenho produtivo da cultura. respectivamente, as variações destas no
O aumento da esterilidade de paní- Os resultados da análise de regres- período reprodutivo foram na ordem de
culas e a redução do número de grãos são linear múltipla para os componen- 15 e 22% respectivamente. A variação
por panícula na safra 2012/13 podem tes de rendimento padronizados e a também foi verificada para o número de
estar associados ao maior número de produtividade do arroz mostraram um dias com temperaturas mínimas abaixo
panículas formado por área. Nessa sa- ajuste significativo (Tabela 3). O teste do nível crítico definido para o período
fra, provavelmente a aplicação do N es- dos coeficientes ajustados revelou efei- (17°C), sendo observados 12 e 5 dias
timulou o crescimento vegetativo, o que to significativo sobre a produtividade para as safras 2012/13 e 2013/14, res-
pode ter diminuído a quantidade de fo- apenas para os componentes núme- pectivamente (Tabela 4).
toassimilados recebidos por panícula ro de panículas por metro quadrado e Ohashi et al. (2000) estudaram o
devido à maior partição, reduzindo, con- número de grãos por panícula. O valor efeito da incidência de baixa tempera-
sequentemente, as espiguetas cheias e dos coeficientes indicou, contudo, que a tura combinada à baixa radiação e ob-
a produtividade final em comparação à relação de dependência com a produti- servaram que quando há ocorrência de
safra 2013/14. A maior quantidade de vidade é mais intensa para o número de frio na fase reprodutiva do arroz, ocorre
perfilhos provocada pela aplicação de grãos por panícula (Tabela 3). uma redução na taxa fotossintética de
N deve ter diminuído a disponibilidade O efeito significativo exercido pelo 14% a 20%, devido à indução ao fecha-
imediata de assimilados nas folhas no ano de cultivo sobre a produtivida- mento dos estômatos.
momento da produção de grãos de pó- de do arroz parece estar associado às Em condições de estresse por frio, a
len, ocasionando um aumento de este- variações das condições climáticas. A planta pode sofrer alterações na fluidez
rilidade de espiguetas. observação dos parâmetros climáticos dos lipídeos das membranas celulares,
Segundo Gunawardena et al. (2003), indica, contudo, que a intensidade des- causando perda de suas funções nor-
as aplicações de N nos estádios vegeta- tas variações se restringe ao período mais. As enzimas ligadas à membrana
tivos podem aumentar o perfilhamento reprodutivo do ciclo da cultura (Tabela diminuem suas atividades, com acúmu-
e o número de espiguetas por planta,
provocando redução de grãos de pólen Tabela 2. Produtividade, número de panículas por m2 e de grãos por panícula, massa de mil
cheios por antera, tornando-os mais grãos e esterilidade do arroz em resposta ao parcelamento da adubação nitrogenada em
propensos a uma maior esterilidade de duas safras
espiguetas sob baixa temperatura. Fatores e níveis Prod. Pan m2 Grão Pan-1 MS 1000 Esterilidade
A produtividade do arroz aumentou de tratamentos (kg ha-1) ( no) ( no) grãos (g) (% )
com o acréscimo nas doses de N apli-
Parcelamento N
cadas, sendo os resultados ajustados
ao modelo polinomial de primeiro grau 1 aplicação 6.354 b 345 ab 66 b 29,3 ns 13 ns
(Figura 2). Embora a análise da variân- 2 aplicações 7.039 a 371 a 68 ab 29,4 ns 14 ns
cia tenha mostrado o efeito significativo 3 aplicações 7.062 a 319 b 78 a 29,5 ns 15 ns
para o modelo ajustado (p=0,012), o va- Safras
lor do erro padrão (1.381kg ha-1) expres- 2012/13 5.528 b 376 a 51 b 29,9 a 16 a
sa a ocorrência de desvios consideráveis
2013/14 7.870 a 311 b 89 a 29,0 b 12 b
em relação aos valores estimados, evi- ns
não significativo; médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem significativamente entre si
denciando interferências relevantes de pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p72-78, set./dez. 2017 75


lo de metabólitos tóxicos e redução de
corrente citoplasmática. O frio também
origina aumento dos níveis de espécies
reativas de oxigênio que causam danos
às membranas das células e organelas,
principalmente dos cloroplastos, dimi-
nuindo a atividade fotossintética (KUK
et al., 2003).
O efeito não significativo da intera-
ção entre o ano de cultivo e o manejo
da adubação nitrogenada (doses e par-
celamento), indica pouca relevância das
condições climáticas nas safras avalia-
das sobre a taxa de resposta do arroz
à aplicação do N. A independência do
ganho de produtividade em função da
dose indica que a ação do clima se deu
predominantemente sobre os proces-
Figura 2. Produtividade do arroz irrigado por alagamento em função da aplicação de doses sos de acúmulo de amido, pouco inter-
de N em região de altitude nas safras de 2012/13 e 2013/14. ferindo no metabolismo do nutriente
p (F)=0,012 (valor p ANOVA); Erro Padrão=1.381 kg ha-1. (Tabelas 1 e 2). Contudo, a interpreta-
ção desses resultados deve considerar
as variações de temperatura e radiação
Tabela 3. Análise da variância (ANOVA) e análise dos parâmetros ajustados do modelo de
nas safras avaliadas, as quais ocorreram
regressão linear para a relação entre os componentes de rendimento padronizados e a
majoritariamente durante a fase repro-
produtividade do arroz irrigado
dutiva do arroz.
ANOVA Diferente da fase vegetativa, onde
Graus liberdade F p o requerimento pelo N também está
associado à síntese de proteínas que
Modelo 4 173,0 <0.001 atuam nos processos que definem o po-
Resíduo 55 tencial produtivo (expansão do aparato
fotossintético e formação de espigue-
Regressão
tas), na fase reprodutiva o requerimen-
Parâmetro Coeficiente t p to tem maior relação com a atividade
Interseção 6.698,9 127,6 <0.001 da Ribulose-1,5-bifosfato-carboxilase-
oxigenase (Rubisco) nas folhas fotos-
Pan.m 2
1.002,3 11,0 <0.001 sinteticamente mais ativas (MATSUO et
Grão/Pan. 2.120,8 22,1 <0.001 al., 1995). Esta diferenciação corrobora
com o efeito pouco relevante do clima
Esterilidade -6,1 -0,1 0.920
sobre a resposta da cultura ao manejo
Massa mil grãos 103,5 1,7 0.102 da adubação observado neste estudo,
R2 múltiplo 0,93 visto que a concentração da enzima
nestas folhas resulta principalmente da
Erro Padrão 406,66 translocação do N adquirido durante
a fase juvenil do desenvolvimento da
planta.
Tabela 4. Valores do somatório da radiação solar nas fases vegetativa (∑Rad. veg.) As informações a respeito da relação
reprodutiva (∑Rad. rep.), soma térmica nos períodos vegetativo (ST veg.) e reprodutivo (ST entre a fase de ocorrência da variação
rep.) e número de dias do mês de janeiro com temperatura abaixo do nível crítico (Temp. de temperatura e radiação e o seu efei-
Mín. Crítica Jan.) nas safras de 2012/13 e 2013/14, em Rio do Campo/SC
to sobre o metabolismo do N para o ar-
Parâmetros climáticos roz ainda são escassas para a Região Sul
Temp. Min. do Brasil (LARROSA, 2008). Os estudos
Safras ∑Rad. veg. ∑Rad. rep. ST veg. ST rep. realizados avaliam, principalmente, o
Crítica Jan.
(kJ m-2) (kJ m-2) (°Dia) (°Dia) (dias) efeito da ocorrência do frio ao longo do
ciclo da cultura e seus impactos sobre a
2012/13 40.750 20.980 1.173 445 12 produtividade (STEINMETZ et al., 1997).
De forma geral, assume-se que as
2013/14 40.814 24.592 1.048 544 5 respostas do arroz a estas variáveis

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estejam associadas principalmente à principal definidor do desempenho pro- nitrogenada para o arroz restringe-se ao
taxa de absorção e requerimento do dutivo do arroz em zonas de altitude. O período de definição de seu potencial
nutriente, translocação e à intensidade valor do coeficiente atribuído ao núme- produtivo. Tal relação tem grande rele-
de síntese de proteínas (MATSUO et al., ro de grãos por panículas no ajuste line- vância para o Alto Vale do Itajaí, que é
1995). Considerando a forte relação en- ar múltiplo dos dados de produtividade frequentemente submetido a condições
tre a atuação destes processos e a taxa sugere que o potencial produtivo da de baixa temperatura e radiação solar
de formação de tecidos, é razoável infe- cultura está mais fortemente associado durante a primavera (PANDOLFO et al.,
rir que o efeito do clima sobre o manejo à manutenção de teores adequados de 2002). Além disso, este comportamento
da adubação nitrogenada para o arroz N no tecido no estádio de diferenciação sugere a possibilidade de uso de parâ-
tenha maior relação com variações cli- do primórdio floral (Tabela 3). Esse re- metros do dossel como critério adicional
máticas ocorridas durante a fase vege- sultado está de acordo com os obtidos de definição da expectativa de resposta
tativa. por Gunawardena e Fukai (2005), os à adubação nitrogenada, requerendo,
Outro aspecto relevante observado quais verificaram maior influência dos porém, a identificação prévia daqueles
neste estudo foi a resposta do parce- assimilados sintetizados no início da com maior associação com o potencial
lamento da aplicação do N nas doses fase reprodutiva sobre o número de produtivo e variações climáticas. Estas
testadas. Aparentemente, o efeito be- grãos totalmente cheios, em compara- informações configurar-se-iam como
néfico do parcelamento da dose so- ção aos translocados das reservas de ferramentas valiosas para a elaboração
bre o aproveitamento do N independe bainhas e colmos. de recomendações de manejo capazes
do número de aplicações realizadas. A Esse resultado sugere uma alta ca-
de otimizar a resposta da cultura à adu-
comparação das médias do fator parce- pacidade de compensação da planta de
bação nitrogenada na região.
lamento (Tabela 2) revelou que o deslo- arroz, evidenciando a relevância do ma-
camento das curvas de dose-resposta é nejo da adubação nitrogenada para a
significativo apenas para a aplicação em cultura. Vários trabalhos realizados tam- Conclusões
dose única. Resultados similares tam- bém comprovaram a resposta do arroz
bém foram encontrados por Gunawar- irrigado à adubação nitrogenada como As variações de temperatura e ra-
dena et al. (2003), que verificaram que, fator de incremento do rendimento de diação solar ocorridas apenas na fase
independentemente da fase vegetativa grãos devido ao aumento do número de reprodutiva não têm efeito sobre a
ou reprodutiva, doses únicas originam grãos formados por panícula (LOPES et resposta do arroz irrigado à adubação
alta esterilidade de espiguetas, ainda al., 1999). Entretanto, esta capacidade nitrogenada na região do Alto Vale do
que não verificada neste estudo. de compensação pode ser pouco efetiva Itajaí.
A semelhança da produtividade al- em anos adversos, em virtude da forte A dose e parcelamento da adubação
cançada com o parcelamento do N em influência da condição climática nos pe- nitrogenada para regiões com altitude
2 ou 3 aplicações sugere que a redução ríodos críticos de definição dos compo- semelhante à desse estudo pode ser
dos teores de N na planta de arroz no nentes da produção, sendo fundamen- 90kg de N ha-1, em duas aplicações em
período entre a primeira aplicação (iní- tal o cuidado com o estabelecimento do cobertura, sem prejuízos ao desempe-
cio do perfilhamento) e a diferenciação estande de plantas. nho produtivo do arroz irrigado.
da panícula não é suficiente para afetar Apesar de corroborar com os pres-
a definição do potencial produtivo da supostos definidos por diversos autores
cultura. para os efeitos da temperatura do ar e a
Agradecimentos
Embora tal redução não tenha exer- radiação solar sobre a produtividade do
cido influência sobre a definição do po- arroz irrigado (BARBOSA FILHO, 1987), Nossos agradecimentos ao Sr. Antô-
tencial produtivo, a diluição da dose em os resultados deste estudo diferem da- nio Carlos Contezzini, que gentilmente
função do aumento do parcelamento queles destinados à avaliação dos efei- disponibilizou a área para a condução
afetou o estabelecimento do estande tos do manejo do N e do frio sobre a dos experimentos.
de plantas. A redução da quantidade de esterilidade de espiguetas. A indução
N no início do perfilhamento pelo par- ao maior percentual de espiguetas esté- Referências Bibliográficas
celamento da dose em três aplicações, reis, promovida pelo aumento da dose
comprometeu a capacidade da planta de N em condições de baixa temperatu- AGOSTINETTO, D.; FLECK, N.G.; RIZZAR-
de desenvolver suas estruturas axilares ra na microsporogênese (GUNAWARDE- DI, M.A.; MEROTTO JR., A.; VIDAL, R.A.
e reduziu de forma significativa o núme- NA et al., 2003), não foi verificada nes- Arroz vermelho: ecofisiologia e estra-
ro de panículas por área (Tabela 2). Esta te estudo. Esta divergência pode estar tégias de controle. Ciência Rural, Santa
condição pode interferir negativamente associada à maior amplitude das doses Maria, v.31, n.2, p.341-349, 2001.
para o fechamento do dossel, reduzin- adotadas por outros autores, cujos má-
do principalmente a capacidade da cul- ximos foram superiores àquele definido ARNOLD, C.Y. Maximum-minimum
tura em competir com plantas daninhas neste estudo. temperatures as a basis for computing
(AGOSTINETTO et al., 2001). Os resultados do presente estudo heating units. Journal of the American
O efeito da diluição da dose de N em permitem considerar que a interferência Society of Horticultural Sciences,
cobertura, contudo, parece não ser o do clima sobre o manejo da adubação Alexandria, v.76, p.682-692, 1960.
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p72-78, set./dez. 2017 77
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78 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.72-78, set./dez. 2017


ARTIGO CIENTÍFICO

Variações na produtividade e matéria seca de raízes de mandioca em


função da época de colheita
Augusto Carlos Pola1, Alexsander Luís Moreto2, Eduardo da Costa Nunes2, Luiz Augusto Martins Peruch2 e Enilto de
Oliveira Neubert1

Resumo - As indústrias processadoras de mandioca do Litoral Sul de Santa Catarina operam durante cerca de quatro meses ao
ano. Objetivou-se com este trabalho identificar variedades que possibilitem ampliar o período de colheita e, consequentemente,
viabilizar o aumento do período de processamento industrial. Foram avaliadas seis variedades em 17 meses consecutivos de
colheita quanto à produtividade e teor de matéria seca das raízes. Foi observado um aumento médio de 29.0% na produção
de raízes e uma diminuição no teor de matéria seca de 6,28% entre o primeiro ciclo vegetativo (julho) e o segundo (abril).
Estas variações foram influenciadas pela ocorrência de podridões de raízes, estiagens e temperaturas elevadas. Os resultados
indicam que é possível aumentar o período de operação das indústrias com a utilização de cultivares com teores de matéria
seca mais elevados, como o SCS253 Sangão e o SCS254 Sambaqui.

Termos para indexação: Manihot esculenta, amido, estiagem, temperatura, produção.

Variations in productivity and dry matter of cassava roots as a function of the harvest season

Abstract - Cassava processing industries, located in Southern Coast of Santa Catarina State, Brazil, operate for only four months
a year. The objective of this work was to identify varieties that make possible to extend the harvest period and, consequently,
to increase the industrial processing period. Six varieties were evaluated during 17 consecutive months regarding to crop
yield and root dry matter content. It was observed an average increase of 29.0% in root production and a decrease in dry
matter content of 6.28% between the first vegetative cycle (July) and the second (April). These variations were influenced
by the occurrence of root rot, drought and high temperatures. The results indicated that it is possible to increase the period
of operation of the industries with the use of cultivars with higher dry matter content, such as SCS253-Sangão and SCS254-
Sambaqui.

Index terms: Manihot esculenta, starch, drought, temperature, yield.

Introdução ciclo vegetativo, geralmente de maio colheitas de segundo ciclo geralmente


a agosto, em torno do 10o mês após ocorrem a partir de abril.
Os imigrantes açorianos do estado o plantio, quando as raízes tuberosas Dentre muitas características desejá-
de Santa Catarina foram os que inicia- apresentam os maiores teores (porcen- veis, os cultivares de mandioca destina-
ram a industrialização da mandioca tagens) de matéria seca. Este primeiro dos à indústria devem apresentar uma
(Manihot esculenta Crantz) no Brasil a ciclo vegetativo finaliza em julho ou elevada produtividade e altos teores
partir do século XVIIIl (NEUBERT, 2013). agosto, quando as folhas caem e a plan- de matéria seca nas raízes tuberosas. A
Atualmente, Santa Catarina apresenta ta se encontra em repouso fisiológico. O matéria seca pode variar de 17 a 47%,
uma área plantada em torno de 47 mil segundo ciclo vegetativo inicia com as com maior concentração na faixa de
hectares e um rendimento médio de novas brotações que surgem a partir de 20 a 40%, sendo que valores acima de
18,7t/ha de raízes (EPAGRI/CEPA, 2017). agosto, em função da elevação da tem- 30% são considerados altos (TEYE et al.,
O plantio da mandioca no Litoral Sul Ca- peratura, quando o amido acumulado 2011). Para a indústria, cultivares com
tarinense ocorre preferencialmente nos nas raízes tuberosas é transformado em mais amido proporcionam maior lucra-
meses de agosto a outubro, com maior açúcares solúveis, os quais são metabo- tividade, principalmente em razão de
intensidade em setembro. As colheitas lizados e utilizados para o crescimento/ economicidade no transporte, menor
são feitas principalmente no primeiro desenvolvimento da parte aérea. As gasto com energia para o beneficiamen-

Recebido em 26/12/2016. Aceito para publicação em 22/8/2017.


1
Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri/ Estação Experimental de Urussanga, Urussanga, SC, e-mails: [email protected], [email protected].
br, [email protected], [email protected].
2
Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri/ Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p79-83, set./dez. 2017 79


to, aumento no rendimento industrial e março de 2015 a julho de 2016). Para matéria seca e produtividade de maté-
diminuição do volume de efluentes ge- cada época de colheita foi instalado um ria seca dos meses de julho (do primeiro
rados, dentre outras; para os produto- experimento no delineamento em blo- ciclo de crescimento) e abril (do segun-
res, maior valor pago pela tonelada de cos completos casualizados, com qua- do ciclo) foram comparadas pelo teste
matéria prima ofertada. tro repetições e parcelas de duas linhas de Scott & Knott (1974) a 5% de proba-
As indústrias do Litoral Sul Catari- de cinco plantas, com espaçamento de bilidade.
nense que processam as raízes para a 0,8 x 0,8m. Os tratamentos (cultivares)
produção de farinha ou fécula operam avaliados foram SCS253 Sangão, SCS254 Resultados e discussão
cerca de quatro meses por ano, geral- Sambaqui, SCS255 Luna, Mandim Bran-
mente de maio a agosto, ficando prati- ca, Olho Junto e STS1302/96. Em cada Na Figura 1 são apresentados os re-
camente ociosas o restante do ano. Fora experimento foi utilizado o cultivar sultados médios de produtividade de
desse período, observa-se uma diminui- SCS254 Sambaqui como bordadura. raízes, obtidos em diferentes meses, em
ção no teor de matéria seca nas raízes, Foram avaliadas nas 17 épocas de Jaguaruna, SC. É possível observar que
reduzindo o rendimento industrial. colheita: a produtividade (t/ha); o teor no segundo ciclo vegetativo ocorreu
Alternativamente, algumas indústrias de matéria seca nas raízes (%), obtido uma diminuição acentuada e relativa-
iniciam o processamento em abril, com pelo método da balança hidrostática, mente constante da produtividade no
raízes provenientes de cultivos de dois utilizando uma amostra de 3kg de raízes período de fevereiro a maio. Também
ciclos, quando disponíveis. frescas (GROSSMAN & FREITAS, 1950); são apresentados graficamente, para
Conhecer o comportamento tem- a produtividade de matéria seca (t/ha), comparação, os resultados médios de
poral da concentração de amido nas obtida pela relação entre produtividade produtividade de seis cultivares obtidos
raízes dos cultivares possibilita um me- de raízes e teor de matéria seca; a ocor- por Mondardo et al. (2001) em dois ex-
lhor planejamento da safra e, conse- rência de podridão de raízes. perimentos instalados em Jaguaruna,
quentemente, do período de atuação Em parcelas com falhas no estande, SC nos anos de 1992 e 1993, e a curva
das indústrias. Assim, objetivou-se com os dados de produtividade de raízes tu- média de produtividade de três culti-
este trabalho identificar cultivares que berosas foram submetidos a um ajuste vares obtida por Sagrilo et al. (2002) a
apresentem um maior teor de amido (correção) para um estande completo partir de diferentes épocas de colheita,
em colheitas mais precoces ou tardias, de 10 plantas, segundo metodologia em Araruna, PR. Foram utilizados os re-
possibilitando a expansão do período proposta por Zuber (1942): sultados obtidos pelos referidos autores
de colheita e processamento industrial. Pc = Po +[(0,7(10-ES)(Po/ES)] em razão da relativa similaridade cli-
Em que: mática e produtiva da mandioca nestes
Pc = Produtividade corrigida, Po = dois estados e em razão da inexistência
Material e métodos Produtividade obtida e ES = estande fi- de trabalhos semelhantes realizados no
nal. Sul do Brasil.
O experimento foi conduzido na
Os valores médios mensais de pro-
área experimental da Epagri/ Campo
As análises estatísticas foram rea- dutividade obtidos no presente traba-
Experimental de Jaguaruna, localizada
lizadas utilizando o programa GENES lho (Figura 1) deveriam apresentar um
no município de Jaguaruna, Litoral Sul
(CRUZ, 2006). As médias dos cultivares crescimento contínuo a partir de de-
do Estado de Santa Catarina, a 28°37’ com relação à produtividade de raízes, zembro do segundo ciclo, de uma ma-
latitude Sul, 48°52’ longitude Oeste e
48 metros de altitude, em um solo clas-
Tabela 1. Dados de temperatura média e precipitação total mensal do município de
sificado como Neossolo Quartzarênico Jaguaruna, SC durante a condução do experimento
(EMBRAPA, 1999). O plantio ocorreu em
16 de setembro de 2014. O clima local 2014 2015 2016
é do tipo Subtropical Úmido com ve- T (oC) P (mm) T (oC) P (mm) T (oC) P (mm)
rão quente, cuja simbologia é Cfa pela JAN 25,4 219,0 24,5 109,6
classificação de Koeppen. Os dados de FEV 24,4 138,0 24,9 133,6
temperatura média e precipitação total MAR 23,2 173,0 23,1 168,2
mensal registrados durante o período ABR 21,1 93,0 24,8 154,8
de condução do experimento são apre-
MAI 19,0 127,0 16,5 38,0
sentados na Tabela 1. Neste experimen-
to considerou-se estiagem o período JUN 17,0 99,0 13,5 17,1
em que não ocorreram precipitações, JUL 16,7 202,2 14,7 143,1
ou em que estas precipitações ocorre- AGO 19,8 34,4
ram de forma isolada e com valores in- SET 23,6 120,4 18,2 261,7
feriores a 10mm. OUT 22,6 100,4 19,1 249,3
Foi avaliado o comportamento de
NOV 22,3 57,0 21,1 123,8
seis variedades em 17 épocas de colhei-
ta, do 6o ao 22o mês após o plantio (de DEZ 24,0 92,0 23,8 89,2

80 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.79-83, set./dez. 2017


neira similar ao crescimento produtivo
apresentado pelos outros três plantios
(os de 1992 e de 1993, em Jaguaruna-
SC, e o de Araruna, PR), mas observou-
se uma diminuição a partir do mês de
fevereiro. Esta diminuição da produtivi-
dade do plantio em 2014 foi devida, ao
menos em parte, à ocorrência de podri-
dões de raízes (causadas principalmen-
te por Phytophthora spp. e Fusarium
spp.). Foram observadas perdas de até
20% no número de raízes em razão des-
tas podridões.
Outro fator que pode ter contribuí- Figura 1. Produtividade média de raízes de mandioca em colheitas contínuas de diferentes
meses, anos e locais. A curva sigmoide tracejada foi obtida por Sagrilo et al. (2002). Os
do para a diminuição da produtividade
triângulos e quadrados brancos representam os resultados obtidos por Mondardo et
no segundo ciclo vegetativo foi a ocor-
al. (2001). Os círculos escuros referem-se aos resultados obtidos no presente trabalho.
rência de várias estiagens e altas tempe- Jaguaruna, SC, 1992 a 1994, 1993 a 1995 e 2014 a 2016; Araruna, PR, 1997 a 1999.
raturas durante esta fase. As colheitas
de março, abril e maio podem ter sido
afetadas por três períodos de estiagens cimo médio na produtividade de 40%. (SAGRILO, 2001). Este autor observou
com durações de 20, 14 e 18 dias, res- Para os plantios de 1992 e 1993, neste um comportamento semelhante em
pectivamente. Nos trinta dias anteriores mesmo período, ocorreram acréscimos Araruna, PR, onde os menores teores de
à colheita do mês de março ocorreram na produtividade de raízes de 54% e amido nas raízes ocorreram nas colhei-
20 dias com temperaturas acima dos 58%, respectivamente. Estes aumen- tas de novembro e dezembro do segun-
30°C, 15 dias antes da colheita de abril e tos de produtividade do primeiro para do ciclo, e a elevação na produção mé-
8 dias antes da de maio, com tempera- o segundo ciclo de colheita obtidos em dia de matéria seca ocorreu a partir de
tura máxima observada de 37,6°C. Bro- Jaguaruna, SC, são inferiores ao resulta- dezembro. Ternes et al. (1978) também
wn et al. (2016) observaram que uma do de Sagrilo et al. (2002), que obtive- observaram uma diminuição nos teo-
seca de 30 dias antes da colheita fez di- ram, em um argissolo, acréscimo médio res de amido de agosto a dezembro em
minuir o crescimento e a produtividade de produtividade de 92% em colheitas variedades de mandioca cultivadas em
de plantas de mandioca. Também testa- de segundo ciclo, em Araruna, PR. Por- um solo arenoso do Litoral Sul de Santa
ram os efeitos de temperaturas de 23 e tanto, a ocorrência de podridões pode Catarina, com posterior elevação até o
34°C nesta condição de estresse hídrico, comprometer a lucratividade esperada mês de março, quando os teores atingi-
verificando que a temperatura mais ele- para uma colheita no segundo ciclo ve- ram valores similares aos do primeiro ci-
vada provocou uma maior diminuição getativo, devendo ser considerado este clo. Entretanto, no plantio de 2014, não
na produção de raízes. risco quando se planeja implantar uma
foi observada uma elevação nos teores
A diminuição da produtividade em lavoura para este tipo de colheita. Para
de matéria seca a partir de dezembro
taxas relativamente baixas, que se ob- diminuir as perdas com podridões, reco-
como observado nestes outros traba-
serva de agosto a novembro/dezembro mendam-se o plantio de cultivares com
lhos de pesquisa, sendo observada uma
em todos os três anos de plantio em Ja- algum grau de resistência à podridão
diminuição média nos teores de matéria
guaruna, SC (Figura 1), provavelmente radicular, a rotação de culturas, o mane-
seca do primeiro para o segundo ano de
está relacionada com a translocação de jo de solo e da adubação, a retirada e
queima de restos culturais e a escolha colheita, de 35% para 29% (Figura 2).
carboidratos das raízes tuberosas para
de áreas menos propícias a estas doen- Esta diminuição da matéria seca que
o desenvolvimento da nova parte aérea
ças (MICHEREFF et al., 2005). se observou no segundo ciclo do plan-
das plantas (MORETO et al., 2013).
Através da Figura 2 é possível obser- tio de 2014 pode ter sido causada pelos
Em decorrência da podridão de ra-
ízes, as colheitas de maio a julho do var que nos plantios de 1992 e de 1993 vários períodos de estiagem e altas tem-
segundo ciclo vegetativo do plantio de o teor de matéria seca nas raízes tube- peraturas que ocorreram de dezembro
2014 não proporcionaram nenhum ga- rosas é mínimo em dezembro do segun- a julho. Entre as colheitas de dezembro
nho em produtividade de raízes em re- do ciclo vegetativo e posteriormente e janeiro ocorreram dois períodos sem
lação ao primeiro ciclo, como pode ser começa a se elevar, atingindo valores chuva, um com 13 e outro com 15 dias.
observado na Figura 1. Entretanto, as similares e até superiores ao do primei- De fevereiro a março ocorreu uma estia-
colheitas em abril do segundo ciclo, mês ro ciclo. Esta redução gradual nos teores gem de 20 dias. De março a abril ocor-
em que comumente se colhem os culti- que se observa até dezembro deve-se à reram dois períodos secos, um com 9 e
vos de dois ciclos na região, com relação mobilização do amido das raízes tubero- outro com 14 dias; de abril a maio, um
a julho do primeiro ciclo (mês em que a sas para as novas folhas e hastes, já que período com 18 dias; de maio a junho,
planta encontra-se em fase de repouso nesta fase ocorre um intenso processo um com 31 dias; junho a julho, um perí-
fisiológico), proporcionaram um acrés- de crescimento vegetativo das plantas odo com 27 dias.
Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p79-83, set./dez. 2017 81
téria seca na raiz em torno de 33% (Fi-
gura 3). Se considerarmos como 32% o
teor mínimo de matéria seca que permi-
ta um rendimento industrial economi-
camente adequado, esta variedade e o
cultivar Luna poderiam ser colhidos nos
meses de junho a setembro (4 meses);
as variedades Olho Junto e STS1302/96
poderiam ser colhidas de maio a novem-
bro (7 meses); os cultivares Sambaqui e
Sangão, de abril a novembro (8 meses).
Apesar das condições climáticas que
Figura 2. Teores de matéria seca em raízes tuberosas de mandioca em três anos de plantio. prejudicaram a assimilação de amido
Os dados referentes aos anos de plantio em 1992 e 1993 foram obtidos por Mondardo et. pelas raízes no segundo ciclo vegetati-
al (2001). Jaguaruna-SC, 1992 a 1994, 1993 a 1995 e 2014 a 2016. vo, o cultivar Sangão foi o que apresen-
tou os maiores teores de matéria seca
Oliveira et al. (2009) testaram três pode sustentar o crescimento vegetati- nas raízes (Figura 3). É importante aqui
épocas de colheita (11, 16 e 21 meses vo e de biomassa em temperaturas ele-
salientar que colheitas mais precoces ou
após o plantio) com nove cultivares vadas (33 a 40°C) sob umidade adequa-
tardias podem exigir um planejamento
de mandioca no estado do Tocantins, da do solo. Mas sob estresse hídrico, a
em um solo arenoso. Não choveu nos síntese e exportação de açúcares das de plantio adequado, já que, em alguns
três meses anteriores à última data de folhas e a síntese de amido nos tubér- meses, as ramas não se encontram ma-
colheita. Observaram que a maioria culos serão afetados por temperaturas duras, inviabilizando a sua utilização fu-
das variedades colhidas aos 21 meses maiores que 30°C (SINGH, 2013). tura para plantio.
apresentou um teor de amido inferior Sambaqui, Luna e Olho Junto foram Na eventual falta de variedades com
àquelas colhidas aos 11 meses. Fiuza os cultivares que apresentaram a maior dois ciclos produtivos para o início do
(2010) observou que baixos valores de produtividade de raízes tanto no primei- processamento em abril, os cultivares
potencial hídrico do solo promoveram ro como no segundo ciclo vegetativo Sangão e Sambaqui poderiam suprir
reduções na altura da planta, área foliar, (Tabela 2). Com relação à porcentagem esta necessidade em razão de apresen-
comprimento do caule, retenção foliar, de matéria seca nas raízes, os menores tarem altos teores iniciais de matéria
condutância estomática e produtivida- teores foram apresentados pelos culti- seca em suas raízes no referido mês
de em mandioca. vares Luna e Mandim Branca no primei- (Figura 3). Antes da colheita precoce ou
Em 30 dos 90 dias anteriores à co- ro e segundo ciclo, e Olho Junto no se- tardia, recomenda-se a determinação
lheita do mês de março do segundo gundo (Figura 3, Tabela 2). da matéria seca para auxiliar na tomada
ciclo de cultivo foram observados 30 O cultivar Mandim Branca é o mais
de decisão.
dias com temperaturas máximas supe- plantado no sul de Santa Catarina. Ape-
O cultivar Olho Junto, apesar de pro-
riores a 30°C, com máxima registrada de sar de produtivo, costuma apresentar
dutivo, apresentou grande suscetibilida-
37,6°C. Estas altas temperaturas, ocor- um teor de amido relativamente baixo
rendo concomitantemente com defici- em condições de solos arenosos. Neste de à bacteriose e à podridão de raízes.
ências hídricas no solo, podem diminuir experimento, no primeiro ciclo vegetati- Por outro lado, os cultivares Sambaqui e
a matéria seca das raízes. A mandioca vo, apresentou teores máximos de ma- Sangão são reconhecidamente resisten-
tes à bacteriose, sendo as variedades
que apresentaram as menores taxas de
podridão de raízes.

Conclusões
- É possível aumentar o período de
operação das indústrias beneficiadoras
de mandioca através de um planeja-
mento de plantio e de colheita com va-
riedades mais amiláceas.
- Os cultivares Sangão, Sambaqui e
STS1302/96 apresentaram os maiores
teores médios de matéria seca nas raí-
Figura 3. Teores de matéria seca nas raízes de diferentes variedades de mandioca em zes e as menores perdas causadas por
função do mês de colheita. Jaguaruna-SC, 2014 a 2016. podridões.

82 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, p.79-83, set./dez. 2017


Tabela 2. Produtividade (P), matéria seca (MS) e produtividade de matéria seca (PMS) de tividade e teor de amido de variedades
raízes tuberosas no primeiro ciclo vegetativo (1), em julho (jul), e no segundo ciclo (2), em de mandioca em diferentes épocas de
abril (abr), de seis variedades de mandioca. Jaguaruna, SC, 2014 a 2016
colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO
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Variedade P1jul P2abr MS1jul MS2abr PMS1jul PMS2abr Anais... Botucatu: CERAT-UNESP, 2009.
(t/ha) (t/ha) (%) (%) (t/ha) (t/ha) p.731-735.
Sambaqui 29,1 a 37,3 a 35,93 a 29,36 a 10,42 a 10,95 a
SAGRILO, E. Produtividade de três cul-
Luna 32,0 a 40,4 a 32,50 b 24,49 b 10,37 a 9,89 a tivares de mandioca (Manihot escu-
Sangão 16,9 b 21,1 b 36,80 a 32,04 a 6,22 a 6,76 b lenta, Crantz) em diferentes épocas de
colheita no segundo ciclo vegetativo.
Olho Junto 32,0 a 46,3 a 34,90 a 26,75 b 11,15 a 12,39 a
136f. Dissertação (Mestrado em Agro-
STS1302/96 20,9 b 18,5 b 35,50 a 31,12 a 7,44 a 5,76 b nomia) - Universidade Estadual de Ma-
Mandim Branca 21,1 b 32,1 b 32,80 b 27,03 b 6,88 a 8,68 b ringá, Maringá, PR, 2001.
Obs.: Letras iguais nas colunas indicam que as médias não diferem significativamente entre si pelo teste
de Scott-Knott, ao nível de 5%. SAGRILO, E.; VIDIGAL-FILHO, P.S.; PE-
QUENO, M.G.; SCAPIM, C.A.; GONÇAL-
VES-VIDIGAL, M.C.; MAIA, R.R.; KVITS-
- O cultivar Luna, apesar de produ- em Ciências Agrárias) – Universidade CHAL, M.V. Efeito da época de colheita
tivo, apresentou, em termos médios, o Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz no crescimento vegetativo, na produ-
menor teor de matéria seca nas raízes. das Almas, BA, 2010. tividade e na qualidade de raízes de
- O período de junho a setembro três cultivares de mandioca. Bragantia,
GROSSMAN, J.; FREITAS, A.G. Deter-
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA AGROPECUÁRIA CATARINENSE (RAC)

Os trabalhos devem ser submetidos à RAC mos para indexação), título em inglês,  Abs- texto. Os casos de colaboração, apoio técnico
através do portal de publicações da Epagri tract  e  Index terms, Introdução, origem (in- ou financeiro são inseridos ao final da parte
no endereço  http://publicacoes.epagri. cluindo pedigree), descrição (planta, brotação, técnica do artigo e antes das referências, com
sc.gov.br/  ou diretamente no endereço da floração, fruto, folha, sistema radicular, tabela subtítulo Agradecimentos.
RAC  http://publicacoes.epagri.sc.gov.br/ com dados comparativos), perspectivas e pro-
index.php/RAC/  em  espaçamento duplo, 8. As  citações  no texto devem ser feitas por
blemas do novo cultivar ou germoplasma, dis-
fonte Arial 12 e margens de 2,5cm.  Matérias sobrenome e ano, com apenas a primeira le-
ponibilidade de material e Referências. O limite
ligadas à agropecuária e à pesca são aceitas tra maiúscula se no texto; se entre parênteses,
é de 12 páginas para cada matéria, incluindo
para publicação desde que se enquadrem nas TODAS maiúsculas. Quando houver dois auto-
tabelas e figuras (ver item 9).
seguintes normas: res, separar por “&”; se houver mais de dois, ci-
6. A  Revisão bibliográfica  apresenta o estado tar o primeiro seguido por “et al.” (sem itálico).
1. Trabalhos para as seções  Artigo científico, da arte de tecnologia ou processo tecnológi-
Germoplasma, Nota científica, Informativo 9. Tabelas e figuras geradas no Word não de-
co das Ciências Agrárias, sobre os quais o(s)
técnico e Revisão bibliográfica devem ser ori- vem estar inseridas no texto e devem vir nu-
autor(es) deve(m) ter reconhecida qualificação
ginais e vir acompanhados de carta ou e-mail meradas, ao final da matéria, em ordem de
e experiência. O texto deve apresentar não só
afirmando que é exclusivo à RAC. Ao mesmo apresentação, com as devidas legendas. Grá-
uma análise descritiva, mas também crítica,
tempo, o autor deve concordar em ceder para ficos gerados no Excel devem ser enviados,
e referências bibliográficas atualizadas. Deve
a revista os direitos autorais do texto que será com as respectivas planilhas, em arquivos se-
conter título, Resumo (máximo de 15 linhas),
publicado. parados do texto. As tabelas e as figuras (fotos
incluindo Termos para indexação, título em in- e gráficos) devem ter título claro e objetivo e
2. O Informativo técnico refere-se à descrição glês, Abstract e Index terms, Desenvolvimento, ser autoexplicativas. O título da tabela deve
de uma técnica já consagrada, doenças, inse- Discussão, Conclusões ou Considerações finais, estar acima dela, e o título da figura, abaixo.
tos-praga e outras recomendações técnicas de Agradecimentos (opcional), Referências, tabe- As tabelas devem ser abertas à esquerda e à
cunho prático, tendo como principal público las e figuras. Não deve ultrapassar 16 páginas, direita, sem linhas verticais e horizontais, com
extensionistas e técnicos em geral. O assunto incluindo tabelas e figuras. exceção daquelas para separação do cabeçalho
deve fazer parte das pesquisas ou da prática 7. Devem constar nos  metadados do artigo e do fechamento. As abreviaturas devem ser
profissional do autor. Máximo de 8 páginas, submetido (informados pela plataforma de explicadas ao aparecerem pela primeira vez.
incluindo figuras e tabelas (ver item 9). Deve submissão): formação profissional do autor e As chamadas devem ser feitas em algarismos
ter Resumo (máximo de 10 linhas, incluindo do(s) coautor(es), título de graduação e pós- arábicos sobrescritos, entre parênteses e em
Termos para indexação), título em inglês, Abs- graduação (especialização, mestrado, dou- ordem crescente (ver modelo).
tract  e  Index  terms, Introdução e subtítulos, torado), nome e endereço da instituição em
conforme o conteúdo do texto. Para finalizar 10. As fotografias (figuras) devem estar digita-
que trabalha, telefone para contato, endereço lizadas, em formato JPG ou TIFF, em arquivos
a matéria, utiliza-se o subtítulo Considerações eletrônico e entidade financiadora do trabalho
finais ou Recomendações. O item Agradeci- separados do texto, com resolução mínima de
(antes do(s) currículo(s)), se houver. Alguns 300dpi, 15cm de base, e submetidos na plata-
mentos é opcional, e as referências não devem
exemplos seguem abaixo, sendo altamente re- forma como ARQUIVOS SUPLEMENTARES.
ultrapassar o número de dez.
comendável o máximo de três coautores por
3. O  Artigo científico  deve ser conclusivo, artigo.  ATENÇÃO: esses dados devem ser in- 11. As matérias apresentadas para as se-
oriundo de pesquisa já encerrada. Deve estar formados na plataforma e não acompanham ções  Registro, Opinião e Conjuntura  devem
organizado em título, Resumo (máximo de 15 o manuscrito. orientar-se pelas normas deste item.
linhas, incluindo Termos para indexação), título 11.1  Opinião  – deve discorrer sobre assuntos
[1] Zootecnista, Dr., Epagri / Centro de Pesqui-
em inglês, Abstract e Index terms, Introdução, que expressam a opinião do autor e não neces-
sa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791,
Material e métodos, Resultados e discussão, sariamente da Revista sobre o fato em foco. O
89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 2049-7510,
Conclusão, Agradecimentos (opcional), Refe- texto deve ter até cinco páginas.
e-mail: [email protected].
rências, tabelas e figuras. Os termos para inde-
xação não devem conter palavras já existentes [2] Médico-veterinário, Dr., Udesc / CAV, Av. 11.2 Conjuntura – matérias que enfocam fatos
no título e devem ter no mínimo três e no má- Luís de Camões, 2090, Bairro Conta Dinheiro, atuais com base em análise econômica, social
ximo cinco palavras. Nomes científicos no títu- 88520-000 Lages, SC, fone: (49) 2101-22121, e- ou política, cuja divulgação é oportuna.  Não
lo não devem conter o nome do identificador mail: [email protected]. devem ter mais que dez páginas.
da espécie. Há um limite de 15 páginas (ver 12. O arquivo com o trabalho textual deve ser
item 9) para Artigo científico, incluindo tabelas [3] Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Cepaf,
e-mail: [email protected]. submetido ao sistema em formato Word para
e figuras.
Windows, letra Arial, tamanho 12, espaço du-
4. A Nota científica refere-se a pesquisa cientí- [4] Economista, M.Sc., Epagri / Estação Experi- plo. Devem ter margem superior, inferior e
fica inédita e recente com resultados importan- mental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, laterais de 2,5cm, estar paginados e com as
tes e de interesse para rápida divulgação, po- fone: (47) 3233-5244, e-mail: nome@epagri. linhas numeradas.
rém com volume de informações insuficiente sc.gov.br. 
13. As referências devem estar restritas à lite-
para constituir um artigo científico completo. [5] Acadêmico do Curso de Agronomia, Uno- ratura citada no texto, de acordo com a ABNT e
Pode ser também a descrição de nova doença esc,  campus  Xanxerê, e-mail: nome@hotmail. em ordem alfabética. Não são aceitas citações
ou inseto-praga. Deve ter no máximo oito pági- com. de dados não publicados e de publicações no
nas, incluídas as tabelas e figuras (ver item 9).
prelo. 
Deve estar organizada em título, Resumo (má- [6] Engenheiro de aquicultura, Dr., pesquisador
ximo de 12 linhas, incluindo Termos para inde- do Nupa Sul-1 do IFCCA, e-mail: nome@ifc- 14. Conflito de interesses – Como o processo de
xação), título em inglês,  Abstract  e  Index  ter- araquari.edu.br. revisão dos artigos pelos consultores ad hoc e
ms, texto corrido, Agradecimentos (opcional), do Comitê é sigiloso, procura-se evitar interes-
Observação: há um entendimento que a auto-
Referências, tabelas e figuras. Não deve ultra- ses pessoais e outros que possam influenciar
ria de um artigo preconiza que  qualquer um
passar dez referências. na elaboração ou avaliação de manuscritos.
dos autores tenha condições de defender o
5. A seção  Germoplasma  deve conter título, trabalho em qualquer evento, e tenha  efe- 15. Plágio – A revista não admite, em nenhuma
Resumo (máximo de 15 linhas, incluindo Ter- tivamente contribuído para a produção do hipótese, plágio total ou parcial.

84 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.30, n.3, set./dez. 2017

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