Quintais Agroflorestais Aurélio BT-189 Ceplac 2005

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MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO .

Comissão Executiva dó Plano da Lavoura Cacaueira


Ministério da Agricultura, Centro de Pesquisas do . Cacau
Pecuária e Abastecimento

SEGURANÇA ALIMENTAR
. E OS QUINTAIS ·AGROFLORESTAIS
NA REGIÃO DE 'AMARGOSA- BAHIA
. ;

Aurélio José Antunes de Carvalho


Quintino Reis de Araujo ·
Paulo Gabriel Soledade Nacif
Gilca Garcia Oliveira
Everton·Hilo de .Souza
Carla Teresa dos Santos Marques
Erasmo Viana Silva Gama

2005
'II:\ISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECl-:\RI:\ E :\B:\STECIl\IENTO
\Iinistro: Roberto Rodrigues

l~omissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - C."EPL:\("


()iretor: Gustavo Costa de Moura

Superintendência Regional da Bahia e Espírito Santo (Sl-Bf:S t


Superintendente: Wellington Duarte da Costa

Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC)


Chefe: Jonas de Souza

Centro de Extensão (CENEX)


("hefe: Elieser Barros Correia

Superint~nd~ncia R~gional da Amazônia Ocidentgl (SUPOC)


Superintendente: Francisco Chagas R. Sobrinho

Superintendência Regional da Amazônia Oriental (SUPOR)


Superintendente: Aliomar Arapiraca da Silva
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
~ Çomissão Executiva do Plano da Lavoura .Cacaueira '.
Centro de Pesquisas do Cacau
Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

ISSN 01 00~0845

SEGURANÇA A~MENTA~
E OS QUINTAIS AGROFLORESTAIS
NA REGIÃO DE AMARGOSA - BAHIA .

Aurélio José Antunes de Carvalho


Quintino Reis de Araujo
Paulo Gabriel Soledade Nacif
G'Ica Garcia Oliveira
Everton H'Io de ·Souza
Carla Teresa dos Santos Marques
Erasmo Viana S'Iva Gama

,
BOLETIM TECNICO N° 189

Ilhéus - Bahia

2005
CENTRO DE PESQL"ISAS D() CACAl· . (CEPEC)
Chefe: Jonas de Sou/a

Comissão de Editoração: José Luiz Bezerra. \ ·1igucl A . \1ur('n(~ RUIl (' \1J!ton \1acoto Yamada
Editor: Miguel Antonio Moreno-Ruiz
Assistentes de Editoração: Jacqueline C. C. do An1ar~1 c Sc;,-~né Cf] . . tirla B~J~ró

~ormalização de referências bibliográficas: Maria Christina de C. F:lrJ:l


Editoração eletrônica: Jacqueline C. C. do Amaral
Apoio financeiro: CEPLAC

Endereço para correspondência:


CEPLACICEPEC/SIDOC
Caixa Po~tal 07,45600-970, Itabuna, Bahia, Bra~il

Telefone: (73) 3214 -3218


Fax: (73) 3214 - 3218
E-mail: [email protected]
Tiragem: 500 exemplares

F
630.2
C331

CARVALHO, A. J. A. de et ai. 2005. Segurança alimentar e os quintais


agroflorestais na Região de Amargosa - Bahia. Ilhéus, CEPLACI
CEPEC. Boletim Técnico 189. 44p.

1. Agricultura familiar -AluargoBilBahia. 2. Segurança alimentar. 3. Quintais


agroflorestais. I. Título. 11. Série.

o
SUMÁRIO

RESUMO 7

ABSTRACT 8

INTRODUÇÃO 9

MATERIAL E MÉTODOS 11
Local de Estudo 11
Ambiente Físico 12
Procedimentos Metodológicos 12
Entrevistas 12
Oficinas 12
Definição dos Quintais para Estudos de Casos 13
Zoneamento dos Quintais 13
Estratificação, Inventários Florísticos dos Quintais, Uso e 13
Funcionalidade das Espécies
Valoração dos Quintais 13

RESULTADOS E DISCUSSÃO 14
Visões Sobre os Quintais Agroflorestais nas Unidades Familiares 14
Estratificação Vegetal 15
Zoneamento dos Quintais 17
Inventário Florístico, Uso e Funcionalidade 19
Manejo dos Quintais 36
Quintais Agroflorestais e Segurança Alimentar 36
Valoração dos Quintais 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS 41

LITERATURA CITADA 42
SEGURANÇA ALIMENTAR E OS QUINTAIS
AGRO FLORESTAIS
NA REGIÃO DE AMARGOSA - BAHIA *

Aurélio José Antunes de Carvalho!, Quintino Reis de Arauj02, Paulo Gabriel


Soledade Nacif, Gilca Garcia Oliveira 4, Everton Hilo de Souza!, Carla
Teresa dos Santos Marques!, Erasmo Viana Silva Gama}

* Parte da Dissertação apresentada pelo primeiro autor à Universidade Federal da Bahia para
obtenção de grau de Mestre em Ciências Agrárias.

RESUMO

A região de Amargosa - Bahia abrange 10 municípios e compõe a 29a região Administrativa


pertencente ao Recôncavo Sul do estado da Bahia. Nela há a ocorrência de dois biomas diferenciados:
Mata Atlântica e Caatinga e um ecótono na interface destes, denominado regionalmente de "beira
campo". A população rural é representativa, principalmente no município de São Miguel das Matas
(localidade do Córrego), onde 70% dos habitantes vivem no campo. O sistema e manejo adotados,
em especial para as atividades agrícolas predominantes, com pastagens (Brachiaria decumbens) e
mandioca (Manihot sp.), têm sido prejudiciais aos recursos solo e água. Nas unidades familiares
entre os agricultores com posse consolidada da terra é comum a presença dos quintais agroflorestais,
combinando estratégia de segurança alimentar e de produção para o mercado principalmente de
cacau (Theobro,na cacao). Verificou-se a existência de três a cinco estratos verticais nos quintais
agroflorestais, desempenhando inúmeras funções e usos, compostos de mais de três dezenas de
flutíferas garantindo uma dieta diversificada para família rural. O quintal é um espaço de múltiplo

1 UFBA - Escola de Agronomia / Depto. de Fitotecnia. Escola de Agronomia da UFBA. 44.380-000,


Cruz das Almas, Bahia, Brasil. [email protected]
2 CEPLAC I Centro de Pesquisas do Cacau e UESC I Depe). de Ciências Agrárias e Ambientais,

Rodovia Ilhéus-Itabuna, CP 07,45600-970, Itabuna, Bahia, Brasil. [email protected]


3 UFBA I Escola de Agronomia I Depto. Química Agrícola e Solos. 44380-000, Cruz das Almas,

Bahia, Brasil. pgabriel @utba.br


4 UFBA I Escola de Agronomia I Dept<>. Ciências Sociais Aplicadas à Agricultura. 44380-000, Cruz

das Almas, Bahia, Brasil. [email protected]

7
Carvalho et 01.

'.lSO. no qual o desempenho feminino é ressaltado no aspecto da segurança alimentar. A mulher


ft?sponsabiliza-se pelo plantio e cultivo de espécies de valor alimentício e de uso medicinal. As
Jli \'idades masculinas estão, na maioria das vezes, concentradas nas culturas de valor comercial,
Lomo na produção de cacau. Nos quintais estudados, encontraram-se entre 68 e 97 diferentes espécies
Jc plantas. Os quintais agroflorestais podem conferir uma renda mensal em torno de 1,5 salário
mínimo/famflialha. Verificou-se a importância deste sistema agrícola da unidade familiar no aspecto
Ja biodiversidade e segurança alimentar das populações locais.

Palavras-chave: quintais agroflorestais, segurança alimentar, agricultura familiar.

ABSTRACT

Alimentary safety and the agroforestry .g ardens in


Amargosa region, State of Bahia, Brazil

The Amargosa area (state of Bahia, Brazil), has 10 districts, and belongs to South Recôncavo
region ofthe State. This region has two differentiated ecosystems: Rain forest and Brasilian Savanna
\vith a transition area, called "beira campo" (field boarder). In São Miguel das Matas (Córrego),
the country population is representative, where 70% ofthe population lives in the rural zone. The
main agricultural systems, based on the cassava crop (Manihot sp) and brachiaria pasture
(8rachiaria decumbens), have threatened the natural resources water and soil. The homegardens
are common to the landowners, combining strategy of alimentary safety and crop production,
mainly cocoa (Theobroma cacao) for marketing. Three to five vertical strata were verified in the
homegardens, having several functions and uses, composed by more than three dozens of fruit
crops, which provide a diversified diet for the farmers. The agroforestry gardens are a multiple
use space, in which the labor is important in the alimentary safety. The women are responsible
for the cultivation of the home consuming and medicinal plants. The man usually works with
commercial crops like cocoa. In the studied agroforestry gardens, the number of plant was from 68
to 97 different species. These gardens produce an income to the rural fami1y approximately of 1.5
Brazilian basic salary. In the family farms these agroforestry gardens are very important to the
biodiversi!y and alimentary safety ofthe local population.

Key words: alimentary safety, family farm, agroforestry garden.

8
Segurança alimentar e oS quintais agroflorestais de Amargosa

INTRODUÇÃO

A segurança alimentar no Brasil é muito debatida na atualidade. A defini~'jl)


de segurança alimentar, contida no Tratado de Segurança Alimentar da ECO-() ~
(Fórum Internacional das Organizações Não-Governamentais, 1992), EstabelcL'c
a garantia a todos de condições de acesso a alimentos básicos, de qualidade e ern
quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outra,
necessidades básicas, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo.
assim, para uma existência cidadã.
No plano local, articula-se com a necessidade de desenvol ver/potencializar
tecnologias e sistemas agrícolas que utilizem recursos renováveis, minimize ()
uso de insumos externos, aumento da independência local e a auto-suficiência.
assegurando fonte de renda estável para os agricultores familiares, permitindo ao
mesmo tempo, a permanência na terra de um maior número de pessoas.
fortalecimento de comunidades rurais e integração de homens e mulheres ao meio
ambiente (Fórum Internacional das Organizações Não-Governamentais, 1992).
A Revolução Verde aumentando a produtividade de determinados produtos
sob condições favoráveis, às custas da subordinação da agricultura à indústria ê
mudanças na forma de se produzir tanto no campo das relações de trabalho, quanto
no sistema de produção (Ehlers, 1994), colaborou para excl usão de agricultores
familiares, embora propugnasse a erradicação da fome no mundo. Neste contexto.
a ciência agronômica estava amparada no paradigma do produtivismo e de
respostas mecanicistas na agricultura. Tal reducionismo alijou a agricultura familiar
e fortaleceu o processo de modernização conservadora, modelo de desenvolvimento
que concentrou a terra e a renda, ampliando o latifúndio e modernizando a
produção, lastreada na Revolução Verde (Silva, 1981; Pinheiro, 2001). O conjunto
tecnológico preconizado pela Revolução Verde viabilizou, em muitas partes do
mundo, as condições necessárias à adoção, em larga escala de sistemas
monoculturais (Ehlers, 1994).
Altieri (2002) descreve que a Revolução Verde teve conseqüências nas áreas
rurais que, geralmente, serviram para marginalizar grande parte de sua
população. Primeiramente seus benefícios foram direcionados aos produtores
capitalizados, acelerando as diferenças entre estes e os demais, de maneira que
a desigualdade no meio rural ficou mais acentuada por meio desse processo.
Em segundo lugar mudaram as relações sociais de produção, o trabalho
assalariado foi ampliado e reduziram-se muitas formas tradicionais de acesso a
terra, a exemplo da meação e parceria, bem como modos tradicionais de culti \'0
e uso da terra.

9
Carvalho et 01.

Capra (1982) afirma que os cultivos monotípicos afetaram a saúde das pessoas
que vivem em áreas agrícolas; essas pessoas já não eram capazes de obter uma
dieta balanceada através de alimentos cultivados nas imediações e, assim, tornaram-
se propensas a enfermidades. Corroborou para exclusão de agricultores familiares,
embora propugnasse a erradicação da fome no mundo. Mesmo diante desta
tendência, sabe-se que 600/0 das terras agricultáveis no mundo, ainda são
administradas com métodos tradicionais e de subsistência. Este tipo de culti vo
beneficiou-se com os séculos de evolução cultural e biológica, o que a adaptou às
condições locais (Egger,1981). Neste contexto, os quintais são locais privilegiados,
onde o agricultor experimenta e observa o desenvolvimento de uma nova espécie
ou variedade de planta.
Sistemas agrícolas complexos requerem um conhecimento íntimo e altamente
sofisticado da terra, algo que os pequenos produtores estão mais aptos a desenvolver,
dada sua dedicação integral. Duas ou três culturas diferentes, com diferentes
profundidades de raízes, por exemplo, freqüentemente podem ser culti vadas na
mesma extensão de terra ou lavouras que exigem drenagens diferentes, podem ser
plantadas próximas umas das outras em terreno com topografia di ferenciada. O
cultivo altamente específico em termos de local e intensivo em manejo requer
engenhosidade e consciência da ecologia local, e não deveria ser realizado com
equipamentos pesados e aplicações fortes de agrotóxicos (Halweil, 2000).
Os pequenos agricultores desenvolveraITI e herdaram sistemas complexos de
produção que possibilitaram suprir as necessidades de subsistência por séculos,
mesmo sob condiç0es adversas (solos deficientes, áreas secas ou propensas às
inundações, com re( 'ursos escassos), sem depender de mecanização, de pesticidas
ou de fertilizantes (juímicos. Geralmente, esses sistemas de produção consistem
numa combinação de atividades de produção e consumo (Altieri, 2002). O quintal
agroflorestal é um slstema de produção, principalmente de autoconsumo falniliar.
Praticado amplamente nos países em desenvolvimento e em muitas comunidades
de países industrial izados. A contribuição para a produção global de alimentos é
geralmente ignorada nas estatísticas de consumo alimentar, tanto no âmbito
nacional quanto no internacional.
Como os quinta] s agroflorestais são compostos de inúmeras espécies vegetais, .
proporciona uma dieta di versificada capaz de melhorar a qualidade de vida das
populações. Neste sentido, a instituição internacional, Helen Keller International
desenvolve uma experiência exitosa em Bangladesh - Índia na redução da cegueira
provocada pela subnutrição dada a carência de vitamina A. Foi montada uma
estratégia de ação usando a melhoria da dieta alimentar desta população. Este projeto
piloto preconizou a implantação de quintais, incluindo espécies como bredo

10
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

(Anzaranthus sp.), batata doce, espinafre, mamão dentre outras, ricas em caroten(l.
Constatou-se melhoria substancial na dieta dos participantes do grupo de estudl l.
através do incremento no consumo de frutas e verduras (Marsh & Talukder, 199-l J

e conseqüente redução da cegueira.


No Brasil, os estudos acerca dos componentes alimentícios dos quintais ainda
são incipientes.
Há de se reforçar alternativas locais de fortalecimento da agricultura familiar
que englobe preservação ambiental e produção de alimentos, sintetizado nos quintai"
agroflorestais. Neste sistema dois aspectos são primordiais: a produção de alimentos
para populações locais e a subsistência da própria família. Salienta-se que há uma
tendência dos alimentos, oriundos desse agroecossistema, possuírem qualidade
superior quando comparados àqueles oriundos do complexo agro-alimentar
(Guazzelli, 1985).
Na paisagem da região de Amargosa, em áreas de concentração de agricultores
familiares, é comum a existência dos quintais agrotlorestais, sistemas complexos
com grande riqueza de variedades de espécies adaptadas às condições edafo-
climáticas locais e de manejo condu~ido pelo agric~ltor. Como objetivo básico deste
trabalho, a caracterizaçãode·sses quintais tem grande relevância para a questão da
segurança alimentar.

MATERIAL E MÉTODOS

Local de Estudo - O município de São Miguel das Matas - Bahia, localizado


no Recôncavo Sul, a 200 km da capital do Estado, juntamente com outras cidades
compõe a 29 a Região Administrativa - Amargosa. Conta com uma população de
9.311 habitantes (7.271 na zona rural), apresentando uma taxa de urbanização de
21,91 %. Daí percebe-se a importância e o peso representativo da população rural
neste município.
O índice de analfabetismo eln São Miguel das Matas chega a 49% com maior
concentração na zona rural. Verificou-se que 63,2 % das famílias vivem com renda
mensal de um salário mínimo. Conta com um Sindicato dos Trabalhadores Rurais
(STR) atuante, com 3.050 sócios, sendo 35% homens e 65% mulheres. Está
classificado entre os 100 municípios mais pobres na Bahia (MEB, 2001).
Insere-se também neste estudo, a localidade do Córrego, área de grande
concentração de agricultores familiares em Amargosa - BA, sendo que neste
município a população rural representa aproximadamente 43% dos seus habitantes.

11 .
Carvalho et 01.

Ambiente Físico - O município de São Miguel das Matas situa-se em


domínios originalmente de Mata Atlântica, com altitude variando de 200 a 300
metros. A paisagem mostra-se bastante modificada pela ação do homem. É
composta por roças de mandioca, pastagens de braquiária e quintais
agroflorestais, sendo os solos predominantemente Latossolos e Argissolos,
com relevo plano a suavemente ondulado.
As temperaturas são sempre acima de 16°C, mesmo no inverno, chegando no
verão a temperaturas acima de 26°C; a temperatura média anual variando de 19,5
a 25,1 °C - considerada dentro da faixa ótima para maioria das espécies. Apresenta
precipitação anual média de 1342,3 mm, sendo os meses mais chuvosos de março
a agosto e secos de setembro a fevereiro. Quanto ao balanço hídrico, ocorre
reposição hídrica durante os meses mais chuvosos: junho,julho e agosto, de acordo
com Rolim e Sentelhas (1999).

Procedimentos Metodológicos - Os procedimentos metodológicos


constaram de entrevistas e oficinas, objetivando a escolha de unidades familiares
para estudo de caso. Tais procedimentos buscaram levantar informações sobre
retrospecti va histórica de formação do quintal, funcionalidade e uso das
essências florestais, estratificação, zoneamento do quintal, percepção de
gênero, contribuição dos quintais na renda familiar (valoração) e segurança
aI i mentar.

Entrevistas - Elaborou-se um roteiro de entrevistas, aplicado a 12 agricul-


tores de 12 unidades familiares diferentes, preferencialmente a membros mais
idosos e mais conhecedores da história local, acerca do histórico de ocupação
agrícola da gleba familiar. A aplicação do questionário seguiu a técnica de entre-
vista informal (UFV, 1979; Baruqui, 1982; Cardoso, 1993), tendo como base
perguntas geradoras iniciais que particularizavam o histórico de uso, a ocupação
e os sistemas de manejos dos quintais agroflorestais. Posteriormente realizou-se
a identificação das espécies de plantas existentes nos quintais.

Oficinas - As oficinas foram realizadas na Comunidade do Córrego


(Amargosa - BA), a 12 km da sede do município, tendo como objetivo perceber a
visão específica de cada um dos grupos presentes no encontro: homens, mulheres,
jovens e crianças sobre os quintais agroflorestais.
Os subgrupos, diferenciados por geração e sexo, trataram da vivência de cada
participante para a posterior confecção dos painéis. Feito isto, um relator do
subgrupo apresentava o trabalho aos demais presentes para discussão, onde houve

12
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

a troca de saberes e experiência de cada um dos grupos, revelando os diferentes


olhares acerca de um tema que faz parte do cotidiano daquelas pessoas.

Definição dos Quintais para Estudos de Casos - A definição da~


áreas dos quintais agroflorestais para o estudo seguiu os seguintes critérios: ser
agricultor familiar, possuir quintal e Cultivo Monotípico com mesmo tipo de solo
e declividade em sua unidade produtiva. Desse modo, elegeram-se para o estudo
as seguintes unidades familiares:

Fazenda Ticum (13°05'10,4"S e 39°20'35,8"W),


Fazenda Prensa (13°04'29,02"S e 39°27'45,2"W) e
Fazenda Boa Vista (13°04'37,39"S e 39°28'16,7"W).

Zoneamento dos Quintais - O zoneamento se deu durante a realização


das entrevistas, observando as diferentes paisagens em cada um dos quintais
agroflorestais e verificando juntamente com o agricultor as diferentes áreas e manejos
exi stentes nesses ,agroecossi
.
~
stemas .

Estratificação, Inventários Florísticos dos Quintais, Uso e


Funcionalidade das Espécies - A estratificação vertical foi realizada e
registrada por meio de observação visual, desenhos esquemáticos e fotografias.
verificando-se as diferentes alturas de plantas componentes do quintal.
O uso de cada uma das espécies, componente do sistema foi identificado no
n10111cnto em que se realizava o inventário tlorístico pela indagação aos agricultores
sobre a que se destinava cada uma das plantas.
Entende-se por riqueza a medida do nún1ero de espécies de uma comunidade.
ou seja, espécies cultivadas participantes no sistema agrotlorestal. O índice de
diversidade corresponde à distribuição ou número de indivíduos de cada espécie
na comunidade (Mafra, 1988).

Valoração dos Quintais - Estimou-se o valor dos produtos oriundos dos


quintais correspondendo-o com a despesa que a família rural teria para adquirir
os produtos alimentícios no comércio local, à exceção do cacau que foi registrado
seu valor para a venda.
O quadro valorativo foi montado por meio de preços ao consumidor, cujos valores
foram obtidos no comércio local e feira livre no mês de julho de 2003, em moeda
corrente (Real). O montante encontrado corresponde a um valor que contribui com a
renda e a manutenção da família, porém é considerado como renda não monetária.

13
Carvalho et aI.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Visões Sobre os Quintais Agroflorestais nas Unidades Familiares

As oficinas e as entrevistas, além de demarcarem o zoneamento, o conceito e a


reconstituição da implantação dos quintais, apontaram no sentido de delimitar os
quintais agrotlorestais, enquanto espaço de uso múltiplo para os diversos grupos
existentes nas comunidades e famílias rurais.
Desse modo, o olhar de gênero diferenciou-se: As mulheres tendem a delimitar o
quintal como a área de maior contato no seu cotidiano de trabalho associado à lida
com a cozinha e ao bem estar da família, cuidado com as crianças e cultivo de
hortaliças e plantas medicinais. Enquanto que o homem associa o quintaL próximo
à residência, onde plantam o cacau em sistema agroflorestal com espécies frutíferas
e algumas essências florestais, a exemplo: eritrina (Erythrina sp.), monzê (Albizia
polycephala), cedro (Cedrela sp.) e outras que nascem espontaneamente. Nos
espaços com maior entrada de luminosidade são cultivadas mandioca, aipim, abóbora
ou batata doce. Os homens objetivam as culturas de maior valor comercial. Também
são aproveitados os espaços verticais das árvores com o plantio de pimenta do
reino~ chuchu e maracujá. As crianças associam o quintal agroflorstal com espaço
de lazer e de realização de algumas tarefas como: aguar as plantas, executar pequenos
plantios e fornecer alimentos para pequenos animais, a exemplo, de porcos e galinhas.
Nas visões do homem e da mulher, ou mesmo das crianças, o vínculo e a proximidade
com o espaço de moradia são evidentes.
Também foi percebido por House e Ochoa (1998) que a mulher tem uma
percepção multidimensional, buscado ampliar a biodiversidade de sua roça, em
contraste com o homem que possui um ponto de vista unidimensional, empenhando-
se em melhorar o rendimento de algumas espécies em particular.
Para as mulheres o quintal agrotlorestal representa um agroecossistema bastante
diversificado, com muitas espécies, utilizadas no cotidiano e tarefas que executam
no espaço do quintal, como: regar as plantas, capina, criação de porcos e galinha,
colher os frutos para o consumo, cultivo de plantas medicinais, processar mandioca
e cuidar das plantas ornamentais Uardim).
Os homens expuseram a interpretação de um agroecossistema também
diversificado, com maior número de espécies arbóreas e de valor comercial a
exemplo do cacau, coco e banana. As tarefas realizadas no espaço do quintal são:
adubar, transporte de sacas de cacau, lascar lenha, capina, podas, coveamento
para plantio e construção de cerca.

14
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

Para as crianças, que expõem o quintal como área lúdica, o local foi idealizado
com muitas flores e árvores frutíferas. Associaram-se a tarefas auxiliares como:
aguar as plantas, fornecer alimentos para os pequenos animais e colher frutos.

Estratificação Vegetal

Segundo agricultores da região os quintais agrotlorestais são estabelecidos em


um primeiro momento, com o plantio de culturas alimentares, sendo a mandioca a
espécie pioneira. O terreno é desmatado e queimado; planta-se a mandioca e sob
esta roça são plantados a bananeira, o coqueiro e outras frutíferas. Um aspecto
importante na implantação do quintal é a posse da terra, pela maior diversificação e
organização do sistema, no qual o agricultor proprietário forma seu quintal plantando
árvores frutíferas e sob estas os cacaueiros, sendo que a mandioca, plantada um pouco
antes, serve de sombreamento temporário e as frutíferas servirão de sombreamento
definitivo para o cacau. Por outro lado, observações de campo permitem afirmar que
os agricultores meeiros tendem a ter quintais mais simplificados, sob o ponto de
vista funcional e estrutural, porque não detêm a posse da terra.
Mais próximo à moradia predominam as espécies vegetais ornamentais e de
uso medicinal e algumas hortaliças. Esta di visão espacial e funcional origina o
zoneamento do quintal. Os modelos de estratificação estão dispostos
esquematicamente em três a cinco níveis, conforme Figuras 1, 2 e 3.
Na Fazenda Ticum (Figura 1) são nítidos os vários pisos, andares ou níveis de
estratificação, havendo um maior número de fruteiras arbóreas e arbustivas com
adensamento inter-específico. Há ocorrência de algumas espécies nativas como
curindiba (Trema nzicrantha) e monzê (Albizia polycephala). O sombreamento é
contínuo, ou seja, toda a superfície cultivada é mantida sob sombra do dos seI superior.
Na Fazenda Prensa (Figura 2), as árvores de sombra são mais rarefeitas, há espaços
em que predominam o cacau sem sombreamento, próximo à residência. No entanto.
as copas das árvores madeiráveis nativas são dispersas assumindo posição de destaque
no estrato superior. Na Fazenda Boa Vista (Figura 3) há predomínio de coqueiros
(Cocos nucifera) no sistema e de frutíferas bem copadas distribuídas por toda área.
Observa-se que as plantas nos quintais agroflorestais estudados são dispostas
quanto à funcionalidade de forma que aproveite a maior quantidade de energia
solar. Segundo Ruthemberg (1980) o princípio básico da produção na agricultura
é a conversão pelas plantas da energia solar em energia química (alimentos e
outros produtos úteis ao homem). Sem limitações quanto à disponibilidade de
água, nutrientes e trabalho humano, uma lnaior quantidade de energia solar, recebida
por unidade de área do terreno, implica maior potencial agrícola.

15
,....-------1. Jambo

Fumo Brav·o ....- -.. ...-----tl... Caimito

1----. Coco .

--..-. Taioba

Figura 1. Desenho esquemático representativo .da estratificaçãó vertical, em 5 níveis, do


quintal agroflorestal da Fazenda Ticum, São Miguel das Matas - BA .

....-----~.. Cajá

Canela

------ Coco
.Cacau e--

----I" Couve .

Figura 2. Desenho esquemático da estratificação vertical, em 4 níveis, do quintal agroflorestal


da Fazenda Prensa, São Miguel das Matas - ·BA .

. '16
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

, -;

Jaca

Ingá

.....,..-..-t... Coco

· Cacau ~-""
t .....---t. . Taioba

Figura 3. Desenho esquemático da estratificação vertical, em 5 níveis, do quintal agroflorestal


da Fazenda Boa Vista, São Miguel das Matas - BA.

Zoneamento dos Quintais

A estratificação horizontal segue a lógica de zoneamento., Há nichos


'espacialmente separados em: área para lazer, 'cultivo de pl,antas medicinais,
ornamentais e algumas hortaliças de uso permanente na cozinha que, não raras
vezes, são plantadas entremeando a zona do 'cultivo das plantas medicinais e/ou
ornamentais. No final destas zonas, aparecem as frutíferas e sob a copa destas há o
cultivo de cacau. Distanciando ám pouco mais dá sede verifica-se a p~esença em
maior quantidade de árvores de serviço.
A Figura 4 ilustra aspectos do zoneamento de áreas estudadas, aqui
exemplifiçado com a 'Fazenda Prensa, verificando que, em geral, a móradia é o
referencial principal ' do ,quintal com suas respectivas zonas que podem ser
percebidas por meio da estratificação horizontal. Nas proximidades da casa, em
geral dispõe-se o espaço de plantas ornamentais e medicinais. Pode-se encontrar
também, em certas propriedades, a capel~, uma área de lazer e serviços (secagem
de ca~au e outros produtos, extração de caldo de can~, viveiro de mu~as).

' 17
Carvalho et aI.

Figura 4. quintal agroflorestal da Fazenda Prensa, São Miguel das Matas - BA zoneamento
e cultivo mono típico de mandioca.

18
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

Inventário Florístico, Uso e Funcionalidade

o quintal da Fazenda Ticum apresentou maior diversidade de espécies em relação


aos demais estudados: em 1,12 ha, encontraram-se mais de 90 espécies diferentes.
de diversas famílias, entre ornamentais, frutíferas, condimentares, medicinais.
energéticas (lenha) e madeiráveis (Tabela 1).
Observou-se que o número de espécies de plantas encontradas nos quintais é
muito variável. Em certas localidades da Indonésia foram encontradas 152 espécies
em alguns quintais (NCR, 1993), portanto, com base nos dados das Tabelas 1, 2
e 3, o número encontrado nas Fazendas Ticum, Fazenda Prensa e Boa Vista em
São Miguel das Matas - BA revelou uma grande variedade de espécies.
Há abundância de plantas medicinais, seguida de espécies frutíferas e
ornamentais, sendo encontradas: 37 medicinais, 35 frutíferas e 20 ornamentais .
Tal configuração em riqueza de espécies frutíferas demonstrou a importância do
quintal, enquanto estratégia de segurança alimentar, ofertando uma dieta rica e
variada durante o ano para a família.
Salienta-se que foram relacionada& 22 espécies nativas do ecossistema local
(Mata Atlântica), que o agricultor conserva objetivando algum serviço, a exemplo
de sombreamento de cultivos, madeira, lenha ou cerca viva. No entanto, as espécies
madeiráveis e de serviços não são numerosas.
A Fazenda Prensa (Tabela 2), cuja área do quintal é de 2,09 ha, aparece como
a de menor diversidade de espécies em comparação à área da Fazenda Ticum.
Apresenta madeiráveis como o cedro (Cedrela odorata) e a inhaíba (Eschweilera
cOlnplanata) e as hortaliças ocorrem em maior quantidade. 21 espécies nati vas
da Mata Atlântica estão incluídas e as madeiráveis presentes não são numerosas e
são usadas para sombreamento do cacau. O cacau está sob sombreamento mais
rarefeito, principalmente próximo à moradia.
O quintal da Fazenda Boa Vista de 0,8 ha, possui uma riqueza de espécies
inferior às demais. Tem um maior número de coqueiros e árvores bem copadas,
exemplo de jenipapeiros e jaqueiras. Quanto às árvores usadas para serviços (cerca
viva, adubação verde) é a que apresenta maior número. Percebe-se que há uma
quantidade inferior de essências nativas da Mata Atlântica, sendo quantificadas
17 espécies .(Tabela 3).
Há grande quantidade de plantas medicinais nos quintais, tal situação ' pode
conferir a estes um status de farmácia viva, sem contar algumas espécies que
são usadas com finalidade medicinal, embora ainda não exista referência na
literatura, a exemplo do monzê (Cecropia palnlata) utilizada para tirar
manchas na pele.

19
Carvalho et 01.

Tabela 1. Inventário de Vegetação no quintal agroflorestal- Fazenda Ticum.

N° Nome Popular Nome Científico Uso Quant. Origem


Familia - Piso

Abacate Persea alnericana ME eFR 3 E-4


Lauraceae
2 Abiu Pouteria caimito FR 2 E-3
Sapotacea
3 Abóbora Cucurbita sp. AL 5 E-I
Cucurbitaceae
4 Acerola Malpighia emarginata ME eFR 4 E-2
Malpighiaceae
5 Água D' alevante Alpinia speciosa ME E-I
Zingiberaceae
6 Alecrim ROSlnarinus officinale ME 1 E-I
Labiatae
7 Alfavaca Ocimuln sp. CO eME 8 N -1
Labiatae
8 Algodão Gossipium herbacelun ME 1 E-2
Malvaceae
9 i\ lpinia Phaemeria magnifica OR 1 E-I
Zingi berace ae
10 Araruta Maranta arundinaceae AL 20 E-I
M arantaceae
11 Aroeira Schinus nzolle ME 3 N -3
Anacardiaceae
12 .Atade Lima Rollinia nluscosa FR E-3
(Biribá) Anonaceae
13 Babosa Aloe arborescens ME 2 E-I
Liliaceae
14 Bambu chinês Olyra polypodioides OR 3 E-I
Poaceae
15 Banana Musa sp. FR 18 E-3
Musaceae
16 Batata doce lpomoea batatas AL (*) E-I
Convolvulaceae

Continua...

20
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

17 Beriberi Averrhoa bilimbi ME eFR 3 E-3


Oxalidaceae
18 Bogari Jasminllln sanzbac OR E-I
Oleaceae
19 Bougainvíllca Bougainvillaea spectabilis OR E-2
Nictaginaceae
20 Cacau Theobrolna cacao FR 1200 E-2
Sterculiaceae
21 Café Coffea arabica ME eFR 6 E-2
Rubiaceae
22 Caimito Lllcluna caifnito FR 02 E-3
Sapotaceae
23 Cajá Spondias monlbin FReLE 03 N-5
A nacardi aceae
24 Caju Anacardiunz occidentale ME eFR 07 N -4
Anacardiaceae
25. C ali andra Calliandra sp. OR 03 E-2
Mimosoidae
26 Cana Saccharllrn officinarllnl AL (*) E-2
Poaceae
27 Capim Santo Cylnbapagoll citratas ME 02 E-I
Poaceae
28 Carambola Averrhoa carambola ME eFR 02 E-3
Oxalidaceae
29 Castanha do maranhão Bombax affine CV 15 N-3
Bombacaceae
30 Cebolinha Alliunz fistulosum AL 12 E-I
Aliaceae
31 Chuchu Sechium edule AL 02 E-I
Cucurbitaceae
32 Cica Cyca resoluta OR 02 E-2
Cycadaceae
33 Coco Cocos nucifera ME, ORe FR 06 E-4
Palmae
34 Coentro largo Eryng iUln foetidum CO (*) E-I
Apiaceae
Continua...

21
Carvalho et 01.

35 Confrei Symphytum officinale ME 01 E-I


Boraginaceae
36 Cordão de S. Francisco Leonotis nepetaefolia ME (*) N-1
Labiatae
37 Couve Brass ica oleracea AL 08 E-I
Cruciferae
38 Cravo de Defunto Tagetes patula MEeOR 08 E-I
Compositae
39 Cróton Codiaeum variegatum OR (*) E-I
Euphorbiaceae
40 Curindiba Trema micrantha LE 02 N-3
Ulmaceae
41 Dália Dahlia pinnata OR 05 E-I
Asteraceae
42 Dendê Elaeis guineensis AL 01 E-4
Palmae
43 Espada de São Jorge Sansevieria zeylaniceae OR (*) E-I
Agavaceae
44 Fedegoso Senna occidentales ME (*) N- 1
Leguminosae - Caesalpinoideae
45 Fícus Ficus sp. OR 01 E-3
Moraceae
46 Fruta do Conde Annona reticulata FR 01 E-I
Anonaceae
47 Fruta-pão Artocarpus incisa AL 01 E-5
Moraceae
48 Gérbera Ge rbera jamesonii OR 04 E-I
Compositae
49 Goiaba Psidium guajava MEeFR 03 N-3
Myrtaceae
50 Graviola Annona muricata FR 02 E-3
Annonaceae
51 Guiné Petiveria tetrandra ME (*) N- 1
Fitolacaceae
52 Hibisco (Graxa) Hibiscus rosa-sinensis OReCV (*) E-2
Malvaceae

Continua...

22
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

53 Hortência Hydrangea sp. OR 01 E-I


Saxifragaceae
54 Ingá Ingá sp. FReLE 02 N-4
Leguminosae - Mimosaceae
55 Inhame Colocas ia sp. AL 08 E-I
Araceae
56 Jabuticaba My rc ia ria jaboticaba MEeFR 01 N -4
Myrtaceae
57 Jaca Artocarpus integrifólia FR, MAeLE 03 E-5
Moraceae
58 Jambo Eugenia jambos FR 01 E-4
Myrtaceae
59 Jamelão Syzygium cuminni FReLE 01 E-4
Myrtaceae
60 Jasmim café Jasminum sp. OR 01 E-I
Oleaceae
61 Jasmim do Cabo Gardênia g randiflora OR 01 E-I
Rubiaceae
62 Jenipapo Genipa americana MEeFR 02 N-5
Rubiaceae
63 Jiló Solanum gilo AL (*) E-I
Solanaceae
64 Laranja Citrus sinensis FR 05 E-2
Rutaceae
65 Licuri Cocos coronata AL 02 E- 3
Palmae
66 Limão Citrus limonum MEeFR 02 E-2
Rutaceae
67 Limão Cravo Citrus bigaradia MEeFR 01 E-2
Rutaceae
68 Mamão Carica papaya MEeFR 02 E- 3
C ari cace ae
69 Mamona Ricinus communis ME 08 E-2
Euphorbiaceae
70 Mandioca Manihot esculenta AL (*) E-I
Euphorbiaceae

Continua...

23
Carvalho et 01.

71 Manga Mangifera indica FR 04 E-4


Anacardiaceae
72 Maracujá Passiflora edulis FR 03 N- I
Passifloraceae
73 Maravilha Cae salpillia pulcherrinza OR 02 E-3
Leguminosae- Cesalpinoidae
74 Matataúba Cecropia palma la SE OI N-5
Im baúba-branca Cecropiaceae
75 Melissa M elissa officinalis ME OI E-I
Labiatae
76 Mirra Commiphora sp. ME 01 E-I
Burseraceae
77 Monzê Albizia polycephala LE 05 N-3
Angico-branco Mimosoidae
78 Murici By rsoninla crassifolia LE 01 N-3
Malpighiaceae
79 Murta-de-parida Mouriri guianensis OR 06 E-2
Melastomataceae
80 Nogueira Aleurites Inoluccana ME 02 E-4
Euforbiaceae
81 Palma Achillea lnillefoliuln ME 01 E-I
Compositae
82 Pimenta Cumarim Caps iClun frutescens CO 01 N- 1
Solanaceae
83 Pimenta do reino Piper nigrum CO 06 E-I
Piperaceae
84 Pinha Annona squamosa FR 01 E-2
Annonaceae
85 Pitanga Eugenia uniflora MEeFR 02 N-2
Malpighiaceae
86 Poejo Cunila microcephala ME (*) N-I
Labiatae
87 Quebra pedra Phyllanthus tenellllS ME (*) N-1
Euphorbiaceae
88 Romã Punica granatum ME 02 E-3
Punicaceae

Continua.. .

- 24
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

89 Roseira Rosa gallica MEeOR 12 E-I


Rosaceae
90 Sabugueiro Sambuclls australis ME 01 E-2
Caprifoliaceae
91 Sapoti Acharas sapota FR 01 E-4
Sapotaceae
92 Sete dores Coleus barbatus ME 02 E-I
Labiatae
93 Suspiro Scabiosa maritima OR 02 E-I
Dipsacaceae
94 Taioba Xanthosoma violaceu!n AL (*) E-I
Araceae
95 Tangerina Citrus nobilis FR 19 E-2
Rutaceae
96 Tansagem Plantago !najor ME (*) E-I
Plantagineaceae
97 Urucum Bixa orellana CO 03 N-3
Bixaceae

(*) - Não quantificado; Alimentício - AL; Medicinal- ME; Lenha - LE; Madeirável- MA;

Frutífera - FR; Ornamental- OR; Cerca Viva - CV; Condimentares - CO; Outros Serviços-
SE; Nativa da Mata Atlântica - N; Outros Ecossistemas - E; Piso 1,2, 3,4 e 5 diz respeito aos
diferentes estratos verticais ascendentes nos quintais.

25
Carvalho et 01.

Tabela 2. Inventário de Vegetação no quintal agroflorestal - Fazenda Prensa.

N° Nome Popular Nome Científico Uso Quant. Origem


Familia - Piso

OI Abacate Persea alnericana MEeFR 02 E-4


Lauraceae
02 Abacaxi Ananas COlnosus AL 08 N- 1
Bromeliaceae
03 Abiu Pouteria caimito FR 01 E-3
Sapotaceae
04 Abóbora Curcubita sp. AL 03 E-I
Cucurbi taceae
05 Acerola Malpighia emarginata MEeFR 03 E-2
Malpigruaceae
06 Água D'alevante A/pinia speciosa ME 01 E-I
Zingi beraceae
07 Alfavaca Ocimum sp. COeME 03 N-1
Labiatae
08 Amêndoa Termina/ia catappa FReLE 01 E-4
Combretaceae
09 Andu Cajan us cajan AL 38 E-2
Papili onaceae
10 Araruta Maranta arundinaceae AL 08 E-I
Marantaceae
11 Babosa A/oe arborescens ME 03 E-I
Liliaceae
12 Bambu chinês OLyra polypodioides OR 02 E-I
Poaceae
13 Banana Musasp. FR 45 E-3
Musaceae
14 Batata doce lpomoea batatas AL (*) E-I
Convolvulaceae
15 Berinjela SoLanum melongena AL 09 E-I
Solanaceae
16 Bogari Jasminum sambac OR 03 E-I
Oleaceae

Continua...

26
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

- _ . _ -- - -- ~-

17 Cacau Theobroma cacao FR 2400 E-2


S terculi aceae
18 Café Coffea arabica MEeFR 29 E-2
Rubiaceae
19 Cajá Spondias mombin FR 02 N-4
Anacardiaceae
20 Caju Anacardium occidentale MEeFR 38 N-4
Anacardiaceae
21 Cana Saccharum officinarum AL (*) E-2
Poaceae
22 Canela Cil1namOtnUnl ~eylallicum CO 01 E-3
Lauraceae
23 Capim Santo Cynlbopogon citratus ME 01 E-I
Poaceae
24 Castanha do I11aranhão Bonlbax affine CY 11 N-3
Bombacacea-e
25 Cedro Cedrela odorata MA 02 N-4
Meliaceae
26 Chuchu Sechium edule AL 01 E-I
Cucurbi taceae
27 Coco Cocos nucifera ME, ORe FR 23 E-3
Palmae
28 Coentro largo Eryng ium foetidunl CO (*) E-I
Apiaceae
29 Cordão de S. Francisco Leonotis nepetaefolia ME (*) N-1
l:abiatae
-- - - _._--
30 Couve Brassica oleracea AL 23 E-I
Cruciferae
31 Cravo Sygygiutn oromaticunl CO 01 E-3
Mirtaceae -- -_ ._--
32 Cróton CodiacUI11 variegatum OR (*) E-I
Euphorbiaceae
33 CUlindiba Trenza micrantha LE 01 N -' 3
Ulmaceae p' 4 ~ _ __ _ __

" --" ~. -- . - - . .-.- -

34 Dália Dahlia pinnata OR 01 E-I


Compositae
--- - - - _._ - _._ - - -_._ - -- ---_ ._..
Continua .. .

27
Carvalho et aI.

35 Dendê Elaesis guineensis AL 03 E-3


Palmae
36 Espada de São Jorge Sansevieria zeylaniceae OR (*) E-I
Agaviaceae
37 Fedegoso Senna occidentales ME (*) N-1
Caesalpinoidae
38 Fícus Ficus sp. OR 01 E-3
Moraceae
39 Fruta do Conde Annona reticulata FR 01 E-2
Anonaceae
40 Fruta-pão Artocarpus incisa AL 01 E-4
Moraceae
41 Goiaba Psidium guayava MEeFR 06 N-3
Myrtaceae
42 Guaraná Paullinia cupania FR 03 E-2
Sapindaceae
43 Guiné Petiveria tetrandra ME (*) E- I
Fitolacaceae
44 Hibisco (Graxa) Hibiscus rosa -sinensis OReCV 03 E-I
Malvaceae
45 Ingá Inga sp. FReLE 03 N-4
Mimosoideae
46 Inhame Colocasia sp. AL 05 E-I
Araceae
47 Inhaiba Eschweilera cOfnplanata MA 02 N -4
Lecythidaceae
48 Jabuticaba Myrciaria cauliflora MEeFR 02 N-3
Myrtaceae
· 49 Jaca Artocarpus integra FR, MAeLE 06 E-4
Moraceae
50 Jambo Eugeniajas FR 01 E-4
Myrtaceae
51 Jiló Solanum gilo AL (*) E-I
Solaneceae
52 Laranja Citrus sinensis FR 02 E-2
Rutaceae
Continua ...

28
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

53 Licuri Cocos coronata AL 01 E-I


Palmae
54 Limão Citrus limonum MEeFR 01 E-2
Rutaceae
55 Limão Cravo Citrus bigaradia MEeFR 01 E-2
Rutaceae
56 Mamão Carica papaya MEeFR 01 E-2
C ari cace ae
57 Manacá Brunfelsia hopeana OR 01 E-I
Solanaceae
58 Mandioca Manihot esculenta AL (*) E-1
Euphorbiaceae
59 Manga MangiJera indica FR 03 E- 3
Anacardiaceae
60 Maracujá Passiflora edulis FR 01 N -1
Passifloraceae
61 Maravilha Caesalpiniapulcherrima OR 01 E- 3
Caesalpinoidae
62 Matataúba Cecropia palmata SE 01 N -4
Cecropiaceae
63 Monzê Albizia polycephala LEeME 01 N-3
. Caesalpinoidae
64 Pimenta Cumarim Capsicumfrutescens CO 02 N-1
Solanaceae
65 Pimenta do reino Pipernigrum CO 02 E-1
Piperaceae
66 Pitanga Eugenia uniflora MEeFR 01 N -2
Myrtaceae
67 Poejo Cunila microcephala ME (*) N -1
Labiatae
68 Quebra pedra Phyllanthus tenellus ME (*) N -1
Euphorbi aceae
69 Quiabo Abelmochus esculentos AL 18 E-1
Malvaceae
70 Resedá R eseda odorata OR 01 E-I
Resedaceae
Continua....

29
Carvalho et 01.

71 Romã Punica granatum ME 01 E-2


Punicaceae
72 Roseira Rosa gallica MEeOR 06 E-I
Rosaceae
73 Sabugueiro Sambucus australis ME 01 E-2
Caprifoliaceae
74 Sete dores Coleus barbatus ME 01 E-I
Labiatae
75 Taioba Xanthosoma violaceum AL (*) E-I
Araceae
76 Tangerina Citrus nobilis FR 03 E-2
Rutaceae
77 Tansagem Plantago major ME (*) E-I
Plantagineaceae
78 Urucum Bixa orellana CO 02 N-3
Bixaceae

(*) - Não quantificado~ Alimentício - AL; Medicinal - ME; Lenha- LE; Madeirável - MA;
Frutífera - FR; Ornamental - OR; Cerca Viva - CV; Condimentares - CO; Outros Serviços -
SE; Nativa da Mata Atlântica - N; Outros Ecossistemas - E; Piso 1,2,3 e 4 diz respeito aos
diferentes estratos verticais ascendentes nos quintais.

30
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

Tabela 3. Inventário de Vegetação no quintal agrotlorestal - Fazenda Boa Vista

N° Nome Popular Nome Científico Uso Quant. Origem


Familia - Piso

01 Abacate Persea alnericana MEeFR 02 E-4


Lauraceae
02 Abacaxi Ananas comosus FR 15 N-1
Bromeliaceae
03 Abóbora Curcubita sp. AL 06 E-I
Cucurbitaceae
04 Acerola Malpighia emarginata MEeFR 02 E-2
Malpighiaceae
05 Alecrim Roslnarinus officinale ME 01 E-I
Labiatae
06 Alfavaca Ocinlum sp. COeME 04 N- I
Labiatae
07 Algodão Gossupilan he rbaceunl ME OI E-2
Malvaceae
08 Aroeira Schinu5111011e ME 10 N-3
Anacardiaceae
09 Babosa A/oe arbore scens ME 02 E-I
Lilíaceae
10 Banana Musa sp. FR 32 E-3
Musaceae
11 Bogari Jasminllm sambac OR 01 E-I
Oleaceae
12 Cacau Theobroma cacao FR 1000 E-2
Sterculiaceae
13 Café Coffea arabica MEeFR 23 E-2
Rubiaceae
14 Cajá Spondias mombin FReLE 05 N -4
Anacardiaceae
15 Caju Anacardium occidentale MEeFR 12 N-3
Anacardiaceae
16 Cana Saccharuln oificinarunl AL (*) E-2
Poaceae

Continua...

31
Carvalho et 01.

17 Capim santo Cylnbopogon citratus ME 01 E-I


Gramineae
18 Castanha do maranhão Bonzbax affine CY 30 N-3
Bombacaceae
19 Chuchu Sechiunl edule AL 02 E-I
Cucurbitaceae
20 Coco Cocos l111cifera ME, ORe FR 38 E-4
Palmae
21 Coentro largo Eryngium !oetidu.fn CO (*) E-I
Apiaceae
22 Cordão de S. Francisco Leonotis nepetaefolia ME (*) N- 1
Labiatae
23 Cravo de Defunto Tageles patula MEeOR 05 E-I
Compositae
24 Cróton Codiaclon variegatllfn OR (*) E-I
Euphorbiaceae
25 CUlindiba TreIna mícrantha LE 03 N-3
Ulmaceac
-- -- --~ -- - -----

26 Dália Dahlia pinnala OR 02 E- I


Compositae
_._ -- -_._ . •---_ _ - - - - - - -- -
.. - ------
27 Ocndê Elaeis guineensis AL 06 E-3
Palmae
28 Espada de São Jorge Sallsevíería :.eylaniceae OR (*) E-I
Agavaceae
L '

--
29 Fedegoso Senna occidentales ME (*) E-I
Leguminosae
30 Fruta-pão Artocarpus incisa AL 03 E-4
Moraceae
31 Goiaba Psidhl1n guayava MEeFR 04 N-3
Myrtaceae
32 Guiné Petiveria tetrandra ME (*) E-I
Fitolaceae
33 Hibisco (Graxa) Hibiscus rosa - sinensis OR eCY 05 E-2
Malvaceae
34 lngá Inga sp. FReLE 02 N-3
Mimosoideae
Continua ...

32
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

35 Inhame Colocasia sp. AL 02 E-I


Araceae
36 Inhaiba Eschweilera complanata MA 01 N-5
Lecythi daceae
37 Jaca Artocarpus integra FR, MAeLE 02 E-5
Moraceae
38 lambo Eugeniajambs FR 01 E-4
Myrtaceae
39 Jamelão Syzygium cuminni FReLE OI E-3
Myrtaceae
40 Jenipapo Genipa americana MEeFR 05 N-3
Rubiaceae
41 Jiló Solanum gilo AL (*) E-I
Solanaceae
42 Laranja Citrus sinensis FR 08 E-2
Rutaceae
43 Licuri Cocos coronata AL 01 E-3
Palmae
44 Limão Citrus lifnonum MEeFR 01 E-2
Rutaceae
45 Limão Cravo Citrus bigaradia MEeFR OI E-2
Rutaceae
46 Mamão Carica papaya MEeFR 04 E-2
Caricaceae
47 Manacá Brunfelsia hopeana OR 03 E-I
Solanaceae
48 Mandioca Manihot esculenta AL (*) E- 1
Euphorbiaceae
49 Manga Mangifera indica FR 04 E-3
Anacardiaceae
50 Maracujá Passiflora edulis FR 04 N-1
Passifloraceae
51 Matataúba Cecropia palma ta SE 03 N-5
Cecropiaceae
52 Monzê Albizia polycephala LEeME 03 N-3
Leguminosae - Caesalpinoidae
Continua...

33
Carvalho et 01.

53 Murici Byrsoninza crassifolia LE 03 N-3


Malpighiaceae
5.+ Mulungu
u
Erythrina spp. SE 06 E-4
Leguminoseae- Papilionoideae
55 Murta-de-patida Mouriria guianensis OR 01 E-2
Melastomataceae
56 Nogueira A/euritis rnoluccana ME 01 E-I
Euforbiaceae
57 Pimenta Cumarim Caps icum frute scens CO 01 N-1
Solanaceae
58 Pimenta do reino Piper nigrunl CO 03 E-I
Piperaceae
59 Pitanga Eugenia uniflora MEeFR 04 N-2
Myrtaceae
60 Poejo Clll1ila rnicrocephala ME (*) N-1
Labiatae
61 Quebra pedra Phyllanthus tenellus ME (*) N-1
Euphorbiaceae
62 Roseira Rosa gallica MEeOR 08 E-I
Rosaceae
63 Sabugueiro
L-
Sambucus australis ME 01 E-2
Caprifoliaceae
64 Sete dores Coleus barbatus ME 02 E-I
Labiatae
65 Taioba Xanthosoma vio/acel-on AL (*) E-I
Araceae
66 Tangerina Citrus nobilis FR 06 E-2
Rutaceae
67 Tansagem Plantago major ME (*) E-I
Plantagineaceae
68 Urucum Bixa oreZ/ana CO 01 N-3
Bixaceae

(*) - Não quantificado; Alimentício - AL; Medicinal- ME; Lenha - LE; Madeirável- MA;
Frutífera - FR; Ornamental- OR; Cerca Viva - CV; Condimentares - CO; Outros Serviços-
SE; Nativa da Mata Atlântica - N; Outros Ecossistemas - E; Piso 1, 2, 3,4 e 5 diz respeito aos
diferentes estratos verticais ascendentes nos quintais.

34
Segurança alimentar e oS.quintais agroflorestai$··. de Amargosa .

Quanto às plantas frutíferas exibem uma quantificação considerável. As planta


. '. orriamentais são -ta~bém ' encontradas . em .grande número, ocasionando efeit
paisagís~ico no espaço próximo à · moradia. A. quantificação desta diversidade
vegetal é apresentada na Figura 5.
. Verificou-se junto .às falTIl1ias rurais a necessidade de se introduzir l:lm maior
número de espécies energéticas (lenha) e madeiráveis, visto que 'há um número
reduzido destas, existindo demanda tanto para uso doméstico quanto para as casas
de farinha.
Os agricultores possuem uma interessante percepção do grau de desenvolvimento
do cacau em diferentes àmbie~tes sob sombra e relatam que as árvores de fruta-pão
. (Artocarpus incisa) e ingá (!nga sp) não são recom~ndadas para o sombreamento
desta cultura. Isto coritradiz as a~irmações de Young (1990) e Matiello (1997) que
destacam a ingazeira como uma planta importante para sombreamento em sistemas
agroflorestais, beneficiando com suas funções de proteção e enriquecimento em
nitrogênio, por exemplo o cafezal em sub-bosque. Pelo relato dos agricultores
considera-se esta questão um interessante tema de futuras pesquisas, para verificar
o motivo desta possível incompatibilidad"e~

40
o
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::l 3·0
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5
O
AI ' ME LE MA · ·FROR CV C'O S·E

. ·Uso
Alimentício - AL; Medicinal- ME; Lenha - LE; Madeirável- MA; Frutífera
- FR; Ornament~I . - OR; Cerca Viva - CV; Condimentares .- CO; Outros
Serviços - SE

. . . .

. Figura 5. Quantificação de vegetais quanto ao uso nos quintais agroflorestais em três


. fazendas no .Município de São Miguel das Matas ~ BA.

'35
Carvalho et 01.

Manejo dos Quintais

As intervenções anuais existentes nos quintais são: podas e limpezas. As podas


são realizadas no período que antecede ao inverno na região, de março a abril, para
maior entrada de lumjnosidade no agroecossitema durante os meses de dias cunos.
Os agricultores adotam os momentos das podas orientados pela estação do ano e
pelo estado estrutural da copa das árvores, ou seja~ quando estão com galhos
pendentes. As plantas podadas normalmente são: mangueiras~ cajueiros e cacaueiros.
Ocorrem adubações minerais, principalmente na formulação N P K (10-10-10)
ou, separadamente, uréia, superfosfato simples e cloreto de potássio para o cacau
nos quintais, quando esta cultura alcança melhores cotações no IT1ercado,
possibilitando maiores despesas com insumos. As adubações são realizadas sem
análise química dos solos; sendo o produto adquirido nas casas comerciais e
espalhado na projeção da copa do cacau.

Quintais Agroflorestais e Segurança Alimentar

Os quintais agrotlorestais são sistemas que ajudam na manutenção da fatnília


rural tanto em épocas de entressafra como no período de maior abundância de
alimento, além de ser este um sistema que possui maior resiliência quanto ao ataque
de pragas e doenças e adversidades climáticas. Por resiliência compreende-se a
capacidade de um sistema tolerar perturbações ocasionais. tendo a capacidade de
se recuperar uma vez que o agente desestabilizador tenha passado.
Faz-se necessária uma explicação quanto à terminologia a respeito de quintais
agroflorestais, aplicada na região, uma vez que o tema causa estranheza tanto a
alguns agricultores e, principalmente, a muitos pesquisadores, pois a pesquisa em
tal área é incipiente em nosso país, principalmente no Nordeste brasileiro. O
depoimento do senhor Roque Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais - STR de São Miguel das Matas, refere à compreensão local:
A moradia é um referencial para delimitar o quintal, embora as pessoas mais
idosas denominem quintais, referindo-se aos antigos quintais de Café em sub-bosque
em regime de parceria.
Atualmente, devido ao processo de modernização no campo, o quintal foi se
reduzindo ao espaço cada vez mais exíguo e próximo à moradia, sendo em alguns
casos inexistente.
Os quintais agroflorestais constituem uma estratégia eficiente de uso da terra
nos espaços da propriedade rural. É um local de grande variabilidade genética inter

36
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

e intra-específica, com atributos importantes como a adaptabilidade às condições


locais e a diversidade de variedades e espécies.
Os quintais na região são caracterizados por grande variedade de plantas de uso
múltiplo. Algumas destas espécies são herbáceas, outras arbustivas ou arborescentes
e formam em seu conjunto vários andares (pisos ou estrutura vertical). Quase sempre
são criados pequenos animais: galinhas e porcos - fonte de proteína para família. A
fruta-pão e o inhame, fontes de carboidrato, estão quase sempre presentes, bem
como as plantas medicinais e espécies para lenha. Espécimes de sucessão secundária
ou primária que nascem espontaneamente servindo para madeira ou lenha são
poupadas para uso posterior; o monzê e o fumo bravo são exemplos deste manejo.
O cacau é a cultura que sucedeu o café no sub-bosque e assume um valor
comercial considerável. Esta cultura estende, não raras vezes, seus domínios até a
proximidade da cozinha.

Valoração dos Quintais

No quintal apresentam-se duas vertentes: o autoconsumo e a comercialização.


O cacau é o cultivo de maior valor comercial sendo toda a produção vendida aos
armazéns. Concomitantemente, ocorre a vendagem flutuante de banana, jaca, galinha~
ovos, jiló, jenipapo dentre outros produtos. Nas Tabelas 4, 5 e 6 são retratadas
estimativas das principais culturas que podem ser consumidas e/ou vendidas pela
família rural, com base nos quintais.
Observou-se, pelos dados expostos, que o quintal confere ao agricultor em uma
área de lha, renda mensal de aproximadamente dois salários mínimos. Esta renda
não está expressa em valor monetário, mas na renda que, se a família não dispusesse
destes produtos na unidade produtiva, teria que comprar na feira. A exceção feita é
para a cultura do cacau que é comercializada nos armazéns locais, entrando como
componente na renda monetária da farru1ia.
Deve-se ressaltar a existência de mecanismos que conferem valor agregado ao
produto excedente. Exemplo que é encontrado na Fazenda Ticum, onde se fabrica
balinhas de jenipapo, advindo dos quintais, para a comercialização na praça de
Santo Antônio de Jesus. Por isso, verificou-se a importância e a necessidade de
uma ação planejada para o setor, de processamento/beneficiamento dos produtos
locais, que gera renda no meio rural.
Não foram quantificadas saídas do sistema como lenha advinda das podas,
plantas medicinais, polpa do cacau e outras frutas que não foram relacionadas no
quadro de estimativa de renda.

37
Carvalho et aI.

Tabela 4. Renda estimada, com base no preço ao consumidor, obtida no quintal da Fazenda
Ticum de 1,12 ha.

Produto Quantidade Produção/ano Unidade Valor Unitário Total

Cacau 1200 40 @ 60,00 2400,00


Abacate 3 600 Uno 0,10 60,00
Abóbora 5 100 Uno 1,00 100,00
Acerola 4 40 1 0,80 32,00
Alfavaca 144 12 Maço 0,20 2,40
Banana 100 100 Cacho 3,00 300,00
Café 6 30 Kg 1,30 39,00
Cajá 7 120 Kg. 0,80 96,00
Cana 5 50 Uno 0,25 12,50
Carambola 2 200 Uno 0,05 10,00
Cebolinha 144 12 Maço 0,50 6,00
Chuchu 2 200 Uno 0,10 20,00
Coco 6 200 Uno 0,50 100,00
Coentro Largo 144 12 Maço 0,50 6,00
Couve 8 12 Maço 0,50 6,00
Fruta-pão 1 200 Uno 1,00 200,00
Galinha 80 Uno 8,00 640,00
Ingá 2 1000 Uno 0,02 20,00
Inhame 8 24 Kg 2,5 60,00
Jaca 3 600 Uno 0,25 150,00
Jenipapo 2 400 Uno 0,20 80,00
Jiló 10 720 Uno 0,02 14,40
Laranja 5 500 Uno 0,12 60,00
Mamão 2 30 Uno 0,30 9,00
Maracujá 3 500 Uno 0,10 50,00
Ovos 30 4000 Uno 0,25 1000,00
Pimenta do Reino 6 2,5 Kg 10,00 25,00
Urucum 3 9 Kg 5,00 45,00

Total geral no ano 5543,30

38
Segurança alimentar e os quintais"agroflorestais de Amargosa

Tabela 5. Renda estimada, com base no preço ao consumidor, obtida no quintal da FazcnJ~l
Prensa de 2 ha.

Produto Quantidade Produção/ano Unidade Valor Unitário Total

Cacau 2400 80 @ 60,00 4800,00


Abacate ")
J..J 400 Un o 0,10 40 00
1

Abóbora 3 60 Uno 1,00 60,00


Acerola 3 28 L 0,80 22,40
Alfavaca 144 12 Maço 0,20 2,40
Andu 38 72 Kgw 2,00 144,00
Banana 225 225 Cacho 3,00 675 ,00
Café 29 116 Kg 1,30 150,80
Cajá 38 651 Kg 0,80 520,80
Cana 5 50 Uno 0,25 12,50
Chuchu 1 100 Uno 0, 10 10,00
Coco 23 920 Uno 0,50 460,00
Coentro Largo 144 12 Maço 0,50 6,00
Couve 23 23 Maço 0,50 11,50
Fruta-pão 200 Uno 1,00 200,00
Galinha 25 Uno 8,00 200,00
Ingá 3 1500 Uno 0,02 30,00
Inhame 5 15 Kg 2,50 37,50
Jaca 6 1200 Un o 0,25 300,00
Jiló 10 720 Uno 0,02 14,40
Laranja 2 200 Uno 0,12 24,00
Mamão 8 Uno 0,30 2,40
Maracujá 1 100 Uno 0,10 10,00
Ovos 8 1200 Uno 0,25 300,00
Pimenta do Reino 2 0,5 Kg 10,00 5,00
Quiabo 18 200 Uno 0,10 20,00
Urucum 2 6 Kg 5,00 30,00

Total geral no ano 8088,70

39
Carvalho et 01.

Tabela 6. Renda estimada, com base no preço ao consumidor, obtida no quintal da Fazenda
Boa Vista de 0,80 ha.

Produto Quantidade Produção/ano Unidade Valor Unitário Total

Cacau 1000 32 @ 60,00 1920,00


Abacate 2 400 Uno 0,10 40,00
Abóbora 6 20 Uno 1,00 20,00
Acerola 2 20 L 0,80 16,00
Alfavaca 144 12 Maço 0,20 2,40
Banana 160 160 Cacho 3,00 480,00
Café 23 100 Kg 1,30 130,00
Cajá 12 204 Kg 0,80 163,20
Cana 8 80 Uno 0,25 20,00
Chuchu 2 200 Uno 0,10 20,00
Coco 38 800 Uno 0,50 400,00
Coentro Largo 144 12 Maço 0,50 6,00
Fruta-pão 3 400 Uno 1,00 400,00
Galinha 30 Uno 8,00 240,00
Ingá 2 1000 Uno 0,02 20,00
Inhame 2 6 Kg 2,50 15,00
Jaca 2 400 Uno 0,25 100,00
Jiló 5 400 Uno 0,02 8,00
Laranja 8 800 Uno 0,10 80,00
!Yfamão 4 32 Uno 0,30 9,60
Maracujá 4 250 Uno 0,10 25,00
Ovos 10 1400 Uno 0,25 350,00
Pimenta do Reino 3 0,8 Kg 10,00 8,00
Urucum 3 Kg 5,00 15,00

Total geral no ano 4488,20

40
Segurança alimentar e os quintais agroflorestais de Amargosa

Durante a convi vência com os agricultores da região de Amargosa, percebeu-


se que as verduras alface, cebola, cenoura, coentro e tomate, não são encontradas
rotineiramente nos quintais. Tal situação é atribuída a vários fatores, dentre eles:
hábito alimentar, renda da aposentadoria rural e animais criados livremente.
apresentando-se como impeditivo ao cultivo de algumas dessas hortaliças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

o que distingue o quintal agrotlorestal dos outros sistemas de produção é sua


alta diversidade, complexidade e variedades de benefícios que dispõem para a família.
Isto é logrado com uso relativamente baixo de insumos e mão-de-obra, a ponto de
ser considerado pela família rural como um sistema complementar na produção da
unidade familiar e de geração de entradas por meios alternativos. Os quintais
agroflorestais podem conferir uma renda mensal em torno de 1,5 salário mínimo/
família/ha.
A lógica da instalação desta modalidade de Sistema agroflorestal pode ser
expandida para outras áreas da unidade familiar, necessitando de enriquecimento
com espécies madeiráveis e energéticas, já que parte da lenha vem de fora, causando
desmatamento em áreas "ex-situ", em geral no ecossistema da caatinga ou da
própria mata atlântica. O manejo necessita de capacitação quanto à forma, altura
e idade de corte das diferentes espécies madeiráveis ou energéticas.
As mulheres assumem uma relação de grande proximidade com os quintais no
que diz respeito ao cultivo de espécies utilizadas com fins alimentícios e medicinais.
Os homens por sua vez exercem uma intluência maior nos cultivos comerciais
existentes nos quintais, participando de algumas atividades atribuídas ao homem
como: podas, corte de lenhas e outras atividades que normalmente necessitam de
maior força física.
Há necessidade de ajustes quanto às podas e as adubações, a fim de que os
quintais ofertem produtos de melhor qualidade e que permitam auferir maiores
rendas às famílias rurais.
Medidas de educação ambiental devem ser adotadas/estimuladas, a exemplo
do saneamento, pois há acúmulo de resíduos plásticos dispersos no local mais
próximo à moradia.
Os sistemas agroflorestais autóctones, no qual se inserem os quintais
agroflorestais, dada a sua importância entre os agricultores de unidade familiar,
podem ser aprimorados e ser objeto da ação de políticas públicas.

41
Carvalho et 01.

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