Apostila - Civil - LINDB
Apostila - Civil - LINDB
Apostila - Civil - LINDB
1.3. REPRISTINAÇÃO
Repristinação significa restaurar a vigência de uma lei pelo fato de a lei revogadora ter
perdido a sua vigência. É o que dispõe o art. 2º, §3º da LINDB: “salvo disposição em contrário, a
lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.
Desta forma, em regra, não há repristinação no ordenamento jurídico vigente. Todavia,
esse efeito pode acontecer quando o legislador fizer constar essa previsão na lei revogadora.
Desta forma, se ficar consignado na lei revogadora que um de seus efeitos é ressuscitar a lei
revogada, verifica-se o efeito repristinatório da lei.
Há uma classificação de normas no art. 2º, §2° da LINDB em que se entende por norma
especial aquela que possui um conteúdo especializado dentro de um ramo do direito (por exemplo,
Lei de Alimentos, Código de Defesa do Consumidor). Já a norma geral aborda o conteúdo de um
ramo do direito de maneira geral.
A norma geral não revoga a especial e a norma especial não revoga a geral. Tais normas
caminharão conjuntamente. A norma especial pode revogar a geral de duas formas: de forma
explícita, ou então, de forma implícita. A revogação expressa ou explicita ocorre quando há
previsão de que a norma especial está revogando a geral. A revogação implícita, por sua vez,
acontece no momento em que regula a mesma matéria que a geral, modificando o seu conteúdo.
Pode ser que uma lei especial contenha uma parte específica e outra parte geral que também está
disposta em um Código, sem que haja, entre elas, contradição. Nesse caso, ambas continuarão
em vigor, coexistindo.
Pelo fato lógico de que o legislador não consegue prever todos os acontecimentos, seja
para o presente seja para o futuro, e da mesma forma que o juiz não pode ser furtar ao seu mister
de julgar alegando ausência de norma legal sobre o assunto, é que existe o instrumento de
integração das normas, permitindo-se que haja o preenchimento de lacunas (CPC, art. 140).
Dispõe o art. 4º da LINDB: “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. O juiz não pode deixar de decidir uma
1.5.1. ANALOGIA
Consiste a analogia na busca da solução em outra norma que é similar ao caso desprovido
de lei. Utiliza-se de uma norma ou conjunto de normas aproximadas a um caso. A analogia pode
ser classificada como analogia legal e analogia jurídica.
A analogia legal, segundo os ensinamentos de Limongi França, é exatamente a aplicação
de uma lei àquele caso em específico. Cita-se como exemplo o caso da convalidação do negócio
jurídico praticado com o vício da lesão. Dispõe o § 2º do art. 157 do Código Civil que “não se
decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida
concordar com a redução do proveito”. Porém, e se o caso for cometido em estado de perigo? O
Código Civil não traz a convalidação do negócio praticado em estado de perigo.
Assim, a doutrina e a jurisprudência se valendo da analogia legal permitem a utilização da
convalidação também para o estado de perigo. Inclusive, o enunciado 148 da III Jornada de Direito
Civil é nesse sentido.
A analogia jurídica é diversa. Consiste em utilizar-se de princípios, conceitos, preceitos
consagrados pela doutrina e pela jurisprudência a um caso em específico. Cumpre mencionar que
para alguns doutrinadores, a analogia jurídica se constitui na aplicação dos princípios gerais do
direito.
1.5.2. COSTUMES
1.6. DA EQUIDADE
A regra é que a lei não retroage, abarcando apenas as situações jurídicas criadas a partir
da sua vigência. Trata-se de um princípio que visa dar estabilidade e segurança ao ordenamento
jurídico, preservando situações já consolidadas sob a lei antiga, em que o interesse particular deve
prevalecer. Denomina-se de regra do tempus regit actum. Todavia, essas regras não são
absolutas, podendo sofrer mitigações no âmbito do Direito Penal, por exemplo.
Observa-se, por fim, o art. 5º, inciso XXXVI da Constituição Federal que determina: “a lei
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Nessa mesma linha,
temos o disposto no art. 6º da LINDB que prevê: “a lei em vigor terá efeito imediato e geral,
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”.
O ato jurídico perfeito e acabado é aquele que já se consumou perante a lei vigente do
tempo em que se efetuou. Pense em um contrato de compra e venda de bem imóvel, sem escritura
lavrada porque o imóvel tem valor de 28 salários vigentes (CC, art. 108) e com registro realizado.
Posteriormente ao ato, vem uma lei que altera a obrigação de lavrar escritura para os negócios
que tenham como objeto imóvel acima de 20 salários. Essa lei não vai atingir aquele contrato
celebrado.
A coisa julgada é a decisão que não comporta mais recurso, tendo atingido o trânsito em
julgado. Assim, uma lei nova não pode alterar aquilo que já foi apreciado em definitivo pelo Poder
Judiciário.
Sobre a coisa julgada é importante constar que consta o enunciado 109 da Jornada de
Direito Civil que diz: “a restrição da coisa julgada, oriunda de demandas reputadas improcedentes
por insuficiência de provas, não deve prevalecer para inibir a busca da identidade genética pelo
investigando”.
É possível que existam leis que se contrariem, aparentemente. Quando isso acontece há
uma antinomia. Diz-se aparentemente porque, em tese, o ordenamento jurídico é perfeito e não
apresenta tais conflitos. Não é o que acontece.
A antinomia pode ser aparente e real. A antinomia real ocorre quando duas leis são
exatamente conflitantes entre si. No caso desse conflito o sistema jurídico não traz uma solução,
devendo ser tal conflito resolvido pelo Poder Judiciário. O Código de Processo Civil, no art. 8º,
prevê que “ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do
bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”. Embora esteja
dentro do Código de Processo Civil, pode servir de norte par aplicação de outros ramos do
ordenamento jurídico.
O conflito aparente, como o próprio nome diz, é apenas ilusório. Menciona-se, como
exemplo, o prazo de prisão civil do devedor de alimentos. Na Lei dos Alimentos há uma previsão
A regra geral é que, dentro do território brasileiro, aplica-se a lei brasileira. O Estado
politicamente organizado tem soberania sobre o seu território e sobre seus habitantes. Decorre
1.1. SOCIALIDADE
O Código Civil de 2002 visa atingir um maior número de pessoas, deixando de lado a
aplicação estrita ao indivíduo, passando a respeitar direitos sociais, e assim, exigir uma função
social, como a função social da propriedade (art. 5º, XXII e XXIII e art. 1.228, § 1º do Código Civil),
do contrato (art. 421), da posse e da empresa. A atividade, ainda que privada, deve considerar em
seu contexto a sociedade e não apenas os sujeitos do negócio. Exemplo que podemos citar: a
diminuição dos prazos para a usucapião, quando a pessoa ali exerce posse e trabalho; o contrato
nulo, quando ofende direito dos trabalhadores. Tanto é que a LINDB, no art. 5º, diz que “na
aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.
Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves defendem que esse princípio encontra-se atrelado
ao direito subjetivo. O direito subjetivo consiste no direito do indivíduo de agir amparado pelo
ordenamento jurídico com o objetivo de satisfazer um interesse legítimo. Para esses
doutrinadores, o direito subjetivo corresponde a uma função social. O sujeito ao agir sempre age
no interesse próprio, mas esse interesse individual não pode contrariar um direito social, sob pena
de perder força.
1.2. ETICIDADE
O Código Civil de 1916, de Beviláquia, não possuía preceitos éticos. O atual Código Civil
1.3. OPERABILIDADE
O Código Civil está umbilicalmente ligado à Constituição Federal. A expressão Direito Civil
Constitucional advém do Direito Italiano e baseia-se em uma visão unitária do ordenamento
jurídico. É imprescindível a leitura dos artigos do Código Civil sob a luz da Constituição Federal.
Exemplo claro que reflete a questão é a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas
(eficácia horizontal dos direitos fundamentais), assim como a aplicação da dignidade humana nas
relações privadas.
A eficácia horizontal dos direitos fundamentais é a possibilidade que se tem de aplicar os
direitos fundamentais, previstos na Constituição Federal, na relação entre particulares. Notase que
o Código Civil, acompanhando essa permissão, modificou o art. 57 que assim passou a ser
redigido: “A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em
procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto”.
Entende-se que os ramos jurídicos diversos não podem se excluir quando da análise de um
caso concreto. Isso quer dizer que se mostra perfeitamente possível a complementação entre os
ramos jurídicos distintos, aplicando-se no caso concreto, sem exclusão mútua. Caso mais comum
é a aplicação harmônica entre o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil.
39A jurisprudência do STJ já aplicou a teoria do diálogo das fontes4, em caso envolvendo o
contrato de leasing.
2. DAS PESSOAS
Pessoa é todo aquele que titulariza direitos. Para a via processual, pode ser aquele que
ocupa tanto o polo ativo quanto o polo passivo de uma relação jurídica. É comum ao se falar em
pessoa logo imaginar a pessoa como ser humano. Todavia, no direito civil a pessoa pode ser
natural, ou física, ou então, jurídica ou coletiva.
Dispõe o art. 1º do Código Civil que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem
civil”. Ao nascer com vida, a pessoa adquire a personalidade jurídica, que nada mais é do que a
aptidão genérica para se titularizar direitos e deveres.
Diante disso, a pessoa adquire a personalidade jurídica ao nascer com vida, ou seja, ao
respirar. É o disposto no art. 2º, primeira parte, do Código Civil. Para tanto, existia o exame
denominado de docimasia hidrostática de Galeno. Esse método consistia em colocar o pulmão do
recém-nascido em recipiente com água. Se o pulmão boiasse, é porque entrou ar; com isso,
adquiriu personalidade jurídica. Se o pulmão afundasse, é porque não entrou ar, o que indica a
ausência de aquisição de personalidade jurídica. A relevância disso é auferida no direito das
sucessões, já que interfere na ordem da vocação hereditária.
Por fim, a personalidade jurídica coincide com a capacidade de direito, capacidade que
todos têm.
2.2. DO NASCITURO
2.3. DA CAPACIDADE
A capacidade é a medida da personalidade. A pessoa plenamente capaz é aquela que
está apta para o exercício dos atos da vida civil sem estar assistido ou representado. A capacidade
pode ser de direito ou de fato.
A capacidade de direito, também conhecida como capacidade de gozo, confunde-se com
a personalidade jurídica, sendo adquirida no momento em que a pessoa nasce com vida. A
capacidade de direito ou de gozo é uma capacidade geral, genérica, que qualquer pessoa tem.
Bebê de 21 dias tem capacidade de direito, homem maior de 18 também. Todos têm.
Capacidade de fato ou de exercício nem toda pessoa a tem. Ela traduz a aptidão para a
prática dos atos da vida civil. O absolutamente incapaz não a tem. Quando um sujeito reúne as
duas capacidades (de direito e de fato), ele atinge a capacidade civil plena.
A capacidade plena não se confunde com a legitimação. Legitimação é a capacidade
especial para um determinado ato ou negócio jurídico. Ex.: necessidade de outorga conjugal para
vender o imóvel, sob pena de anulabilidade do contrato. Esta legitimação é conferida ao cônjuge.
Veja, o cônjuge varão é plenamente capaz, no entanto, não pode vender o bem imóvel sem a
outorga do outro, sob pena de faltar legitimação para o ato.
Em contraposição à capacidade, temos a incapacidade, que nada mais é do que a
ausência de capacidade de fato.
2.4. DA INCAPACIDADE
A Lei nº 13.146/2015 entrou no nosso sistema jurídico em julho de 2015, teve período de
vacatio legis de 180 dias, tendo em vista a grande repercussão no mundo jurídico. Sua criação
teve por finalidade dar maior proteção às pessoas com deficiência.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência revolucionou nosso sistema de incapacidade,
conferindo maiores oportunidades às pessoas com deficiência, inclusive, para atuarem no mundo
cível com maior de liberdade.
Em virtude disso, antes da entrada em vigor da Lei n° 13.146/2015, as pessoas que tinham
discernimento reduzido eram chamadas de relativamente incapaz, ao passo que, aqueles que não
tinham qualquer discernimento, eram denominados de absolutamente incapaz.
A maioridade põe fim à menoridade. Conforme ensina Fábio Ulhoa, a maioridade inicia-
se à zero hora do primeiro dia seguinte àquele em que a pessoa completou seu décimo oitavo
aniversário.
A partir desse instante a pessoa é plenamente capaz para os atos da vida civil. Embora a
maioridade só inicie aos 18 anos, é possível que haja a antecipação de seus efeitos. Muitos dizem,
de forma equivocada, que a maioridade pode ser antecipada. Não, não pode. O que se antecipa
são os efeitos da maioridade. Isso se dá com a emancipação.
Dois pontos merecem atenção quando se fala em maioridade. O primeiro deles diz
respeito a pensão alimentícia. Significa que o genitor que paga pensão alimentícia não fica
automaticamente desobrigado do dever alimentar pelo simples fato do seu filho atingir a
maioridade. Nesse caso, é preciso que se ingresse com ação de exoneração de alimentos,
garantindo, assim, o direito ao contraditório1. Isso porque é possível que esse filho esteja
estudando, fato que prorrogará a pensão alimentícia até os 24 anos de idade.
1
Súmula 358 do STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão
judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.
2.5.1. DA EMANCIPAÇÃO
A emancipação é a antecipação dos efeitos da maioridade. Ela está prevista no art. 5º,
parágrafo único, do Código Civil, podendo ser voluntária, legal ou judicial. A emancipação somente
pode acontecer para os maiores de 16 anos de idade, mesmo nas hipóteses de emancipação
legal. No caso do casamento é preciso fazer apenas uma observação. A regra é a de que o
casamento só pode ser contraído por quem tenha a idade núbil.
Essa é atingida aos 16 anos de idade. Portanto, mesmo no caso de emancipação pelo
casamento, é necessário ter 16 anos de idade. Por fim, é interessante, antes de ingressar nas
formas de emancipação, falar sobre a emancipação e a permissão para conduzir veículo
automotor.
Embora o emancipado esteja, com a emancipação, apto a praticar os atos da vida civil,
podendo, inclusive, comprar um carro, não poderá conduzi-lo. Isso porque o Código de Trânsito
Brasileiro, no art. 140, I, diz que é requisito para adquirir a habilitação ser penalmente imputável,
ou seja, enquanto a maioridade penal for atingida apenas aos 18 anos de idade, somente com
essa idade a pessoa pode dirigir.
A emancipação judicial acontece em uma única hipótese, qual seja, quando concedida a
pedido do tutor. É necessária a oitiva do tutor e do Ministério Público. É importante ponderar que
o tutor não pode emancipar o tutelado de forma voluntária.
Por fim, a emancipação legal acontece nas hipóteses trazidas pelo Código Civil, sendo
aquelas previstas no art. 5º, parágrafo único, II, III, IV e V do Código Civil, ou seja, pelo casamento,
pelo exercício de emprego público efetivo, pela colação de grau em curso de ensino superior, e
por fim, por ser titular de estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria.
Sobre a emancipação legal é preciso pontuar: a) economia própria é um conceito vago,
que será interpretado no caso concreto. É a aplicação efetiva da teoria das janelas abertas;
Dispõe o art. 7º, incisos I e II, Código Civil, que pode ser declarada a morte presumida,
sem decretação de ausência, se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo
de vida, ou então, se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado
até dois anos após o término da guerra7. Na primeira hipótese temos os casos recentes de
tragédias envolvendo as companhias aéreas, como Air France; Air Malasia, barragem de
Brumadinho, dentre outros.
É importante constar que a declaração da morte presumida, nesses casos, somente
poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a
data provável do falecimento. Para que o juiz profira essa sentença é preciso que haja o
procedimento de justificação.
2.6.3. DA COMORIÊNCIA
Comoriência tem relação com o momento da morte, interferindo diretamente nos direitos
sucessórios. Segundo o art. 8 do Código Civil, se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma
ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-seão
simultaneamente mortos.
Há uma discussão na comoriência se o Código Civil, ao se valer do termo mesma ocasião,
pretendeu adotar comocomorientes as pessoas que morrem do mesmo evento, ou então, que
faleceram ao mesmo tempo. A doutrina majoritária, que enfrenta o assunto, posiciona-se no
sentido de que mesma ocasião leva a ideia de tempo e não de lugar. Nesse caso, considera-se
comorientes as pessoas que morreram ao mesmo tempo, independentemente de ser sido do
mesmo evento.
O enunciado representa muito bem a Escola do Direito Civil Constitucional que procura
analisar o direito privado a partir da Constituição Federal e dos seus princípios fundamentais. O
artigo 11 do Código Civil menciona que “com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária”.
O referido artigo trabalha com mais uma das características dos direitos de personalidade,
o qual não consta no rol já mencionado. Desse modo, quando falamos em intransmissível e
irrenunciável, tem-se que os direitos de personalidade são indisponíveis.
Todavia, tais características não estão revistas de caráter absoluto. Significa que em
algumas situações pode-se dispor desses direitos de personalidade. A parte destacável dos
direitos da personalidade é aquela de cunho patrimonial, realizada mediante um contrato, que tem
que respeitar a sua função social. Essa parte disponível tem um limite temporal e moral, ou seja,
a disponibilidade não pode ser eterna e não pode ofender a moral e os bons costumes, além de
não atentar contra a dignidade humana. Aqui, não tem como não lembrar do famoso caso de
arremessos de anão na França.
Além disso, o contrato que trata dessa parte destacável tem que respeitar a eficácia interna
da função social, ou seja, entre as partes do contrato é preciso que haja um respeito aos interesses
sociais. A Jornada de Direito Civil da Justiça Federal editou três enunciados sobre o tema, sendo
o 49, 2310 e 36011.
O Código Civil prevê a proteção dos direitos da personalidade em seu art. 12. Os direitos
da personalidade são protegidos pelos princípios da prevenção e da proteção integral dos danos.
Dispõe o art. 13, caput e parágrafo único, do Código Civil que, salvo por exigência médica,
é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da
integridade física, ou contrariar os bons costumes. O ato de disposição será admitido para fins de
transplante, na forma estabelecida em lei especial.
O Código estabelece que essa disposição do corpo de forma permanente é vedada, salvo
se existir uma exigência médica nesse sentido. Caso não exista exigência médica, não há de que
se falar em disposição de parte do corpo vivo de forma permanente, salvo para fins detransplante.
Dispõe o art. 15 do Código Civil que “ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com
risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”. Significa que no caso em que o
paciente, ao ser previamente esclarecido do risco do procedimento, tem o direito potestativo de se
2.7.5. DO NOME
O nome é o instrumento que identifica a pessoa no meio social. “É o nome que identifica
a pessoa nos circuitos familiar, profissional e social, daí exsurgindo a sua importância como traço
individualizador que molda e projeta a sua personalidade” (JAMES, Eduardo Oliveira – Código
Civil Anotado e Comentado – Editora Forense).
O nome encontra-se protegido pelo Código Civil e pelas leis especiais, e emerge do
princípio da segurança jurídica. Protege-se a sociedade evitando-se que a pessoa mude seu
nome, sem fundamento, prejudicando terceiros, tanto na esfera criminal quanto na esfera cível.
Diante disso, o nome é protegido pelo princípio da imutabilidade do nome. Todavia, esse princípio
não é absoluto.
São elementos do nome o prenome; sobrenome, e ainda, o agnome. O prenome é o
primeiro nome da pessoa, podendo ser ele simples ou composto. O sobrenome, antigamente
conhecido como patronímico de família (mudança ocasionada pelo princípio da operabilidade) é o
identificador familiar. Por fim, o agnome é o elemento que identifica, dentro de uma mesma família,
pessoas com o mesmo prenome e sobrenome. Se o patriarca se chama Antenor Zuliani, seu filho
vai se chamar Antenor Zuliani Filho, e seu neto se chamará Antenor Zuliani Neto.
Conforme ressaltado, o nome se sujeita ao princípio da imutabilidade do nome. No
entanto, essa imutabilidade não é absoluta. Dispõe a Lei de Registros Públicos, no art. 56, que: “o
interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por
procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-
se a alteração que será publicada pela imprensa”. Significa que, entre os 18 e 19 anos, a pessoa
pode, administrativamente, alterar o nome, desde que isso não prejudique a sua identificação no
seio familiar.
Pela leitura do dispositivo legal podemos extrair que, nos casos de interesse da ordem
pública e de interesse da administração da justiça, o direito de imagem da pessoa pode ser
utilizado sem necessidade de autorização. Ordem pública e administração da justiça são cláusulas
gerais, ou seja, é o Juiz quem vai dizer, no caso concreto, se fica autorizada a divulgação dessa
imagem da pessoa sem a sua autorização.
Nos demais casos, a autorização de seu titular é imprescindível. Não havendo
autorização, é possível aplicar o princípio da prevenção, impedindo que novas publicações sejam
feitas, bem como o princípio da reparação integral do dano, de forma que, caso haja violação,
deverá reparar o dano.
Outra questão é que, pelo dispositivo legal, somente pode proibir a utilização da imagem
sem autorização, caso ela atinja a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a
fins comerciais. Essa interpretação é equivocada do ponto de vista doutrinário e jurisprudencial.
Isso porque, atualmente, em razão da relevância da dignidade humana e dos princípios
fundamentais, a proibição pode ocorrer em qualquer caso quando não exigir autorização. A
natureza da utilização da imagem é que vai ser analisada para gerar ou não indenização. Assim,
se a utilização sem autorização atingir a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se
A intimidade e a vida privada da pessoa humana angariam proteção pelo Código Civil, como se
nota do art. 21 do Código Civil, in verbis: “a vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a
A única observação que deve ser lembrada, embora retórica, é a de que, não obstante se
tenha esquecido da pessoa do companheiro, em razão da interpretação pacífica que se faz sobre
o Código Civil, tem ele legitimidade, ao lado do cônjuge. Nesse sentido, existe o Enunciado 275
da IV Jornada de Direito Civil.
A pessoa jurídica, tida como ente fictício, tem alguns dos direitos da personalidade, como
ser observa do art. 52 do Código Civil, que assim se encontra redigido: “aplica-se às pessoas
jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”.
Quando falamos em dano moral a pessoa jurídica, a mesma se justifica na ofensa a honra
objetiva. A honra objetiva pode ser compreendida como o juízo que terceiros fazem acerca dos
atributos de alguém. A honra subjetiva, noutro giro, se revela no sentimento que a pessoa tem
dela mesma.
Muito se discute sobre a teoria adotada pelo Código Civil no que concerne a criação das
pessoas jurídicas. O Código Civil adotou a teoria da realidade técnica. Essa teoria é uma junção
de outras duas teorias, a teoria da ficção, idealizada por Savigny, e, ainda, a teoria da realidade
orgânica, criada por Otto Gierke.
Por essa teoria afirma-se que a pessoa jurídica teria existência real, não obstante a sua
personalidade ser conferida pelo direito. Uma vez personificada pelo direito, a pessoa jurídica
passa a ter a atuação social na condição de sujeito de direito. Não se olvida que a personalidade
jurídica, uma vez concedida pelo direito, passa a ter ela uma função social, atendendo, assim, ao
princípio da socialidade, um dos pilares do Código Civil de 2002.
A teoria da realidade técnica se revela, basicamente, no artigo 45 do Código Civil, que
assim dispõe:
Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado
com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida,
quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que
passar o ato constitutivo.
O art. 53 diz que se constituem as associações pela união de pessoas que se organizem
para fins não econômicos. Por fins não econômicos entende-se pela ausência de finalidade
lucrativa. Isso não significa que a pessoa jurídica não possa angariar dinheiro, o que é proibido é
a distribuição de dividendos.
Geralmente o estatuto de uma associação prevê, no que se refere à sua estrutura, uma
diretoria, uma presidência, um conselho fiscal, um conselho administrativo. No entanto, o órgão
máximo de toda e qualquer associação é a sua assembleia geral, cuja atribuição está delineada
no art. 59 do Código Civil, sendo resumidamente a destituição de administradores e a alteração
de estatuto.
Para as deliberações a que se referem os incisos do art. 59 é exigido deliberação da
assembleia especialmente convocada para esse fim, cujo quórum será o estabelecido no estatuto,
bem como os critérios de eleição dos administradores.
Em uma associação não existe entre os associados direitos e obrigações recíprocos. Isso
porque não há intuito de lucro. A diferença entre a associação e a sociedade é a de que aquela
Fundações podem ser conceituadas como um conjunto de bens, os quais são arrecadados
e personificados para uma determinada finalidade. A fundação é uma pessoa jurídica especial,
pois ela resulta de um patrimônio destacado e se personifica para se constituir. Só constitui
fundação quem tem muito patrimônio.
O art. 62 do Código Civil diz que as fundações são criadas por escritura pública ou por
testamento. A sua criação pressupõe a existência de afetação de bens livres, a especificação da
sua finalidade, a previsão de como será administrada a fundação, e por fim, a elaboração de
estatuto.
O art. 64 do CC diz que constituída a fundação, num negócio jurídico entre vivos, o
instituidor é obrigado a transferir à fundação a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens
dotados. Caso não o faça, os bens serão registrados em nome da fundação por mandado judicial.
A elaboração do estatuto é submetida à apreciação do Ministério Público, eis que ele
fiscaliza a fundação, cabendo a ele a função de aprovar a elaboração. No entanto, pode ser que
o Ministério Público tenha que, ele próprio, elaborar o estatuto. Isso acontece quando o estatuto
não é elaborado dentro do prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e
oitenta dias. É o que dispõe o art. 65, parágrafo único, do Código Civil. Nesse caso, a quem cabe
a aprovação do estatuto elaborado pelo Ministério Público? Caso o Ministério Público elabore o
estatuto, o art. 764, II do Código de Processo Civil estabelece que deverá o mesmo ser aprovado
pelo juiz.
É importante constar que Pablo Stolze critica essa norma. Ele defende que isso escapa
da função jurisdicional. Se o juiz aprovar um estatuto, ele não poderá julgar as lides que envolvam
esse estatuto, pois ele o aprovou. Assim, a aprovação do estatuto não parece ser uma função
jurisdicional.
2.9. DO DOMICÍLIO
As regras quanto ao domicílio da pessoa natural estão entre os arts. 70 e 78 do Código
Civil. Domicílio é o local em que a pessoa pode ser sujeito de direitos e deveres na ordem privada.
É o local onde poderá ser cobrada ou cobrar direitos e deveres na ordem jurídica.
Domicílio é o local da sua residência. Há quem diga que domicílio é residência com ânimo
definitivo. O domicílio eleitoral é mais amplo do que o domicílio civil. Existe o elemento objetivo e
o elemento subjetivo do domicílio. O elemento objetivo representa a fixação da pessoa em um
determinado lugar. É a cidade que o sujeito escolhe para morar, por exemplo. O elemento
subjetivo, por sua vez, é a vontade de ali permanecer de forma definitiva.
O Código Civil admite a pluralidade de domicílios, ou seja, a pessoa poderá ter duas ou
mais residências, o qual ela viva alternadamente, considerando-se domicílio seu qualquer delas.
É o que se extrai do art. 71 do código privado.
O art. 72 do Código Civil diz que o local em que a pessoa exercitar profissão também é