Cessação Da Vigência Das Leis

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1.

CESSAÇÃO DA VIGÊNCIA DAS LEIS

Como tudo no mundo, as leis transformam-se, renovando-se ao


longo do tempo, mas isto não exclui certa estabilidade. Em princípio,
as leis fazem-se para durar. Efectivamente, quando o legislador as
formula, fá-lo, normalmente, para que estas tenham duração indefinida,
permanecendo em vigor até que ele próprio venha suprimi-las, no todo
ou em parte. Isto significa, que a norma jurídica não é,
necessariamente, afectada pelo desaparecimento dos motivos ou das
circunstâncias que determinaram a sua criação, ou pela contrariedade
com as novas exigências socias. A mudança de condições que torna a lei
desactualizada não constitui, por si, causa de extinção. De facto,
para que se dê a extinção da norma legal é necessária uma de duas
coisas, a saber:

• Ou a própria lei contenha em si um limite à sua vigência


(caducidade);

• Ou que seja revogada por uma lei posterior (revogação).

1.1. CADUCIDADE

O fim da vigência de uma lei, por caducidade, resulta, sempre


da ocorrência de um facto. Neste caso há um limite temporal insito na
própria norma, de forma directa ou indirecta, esta marca o período da
sua vigência de modo que decorrido o mesmo, perde valor, morre, sem
que o legislador nada diga. Por outas palavra, a própria lei subordina
o termo da sua vigência à verificação de um acontecimento, o qual pode
ser o decurso do tempo, ou a impossibilidade factual da situação
abstrata desenhada na previsão.

Se caducidade da lei resultar do decurso do tempo da sua


vigência, do conteúdo da mesma constará a indicação do período de
tempo durante o qual estará em vigor ou a determinação de uma data
limite para a sua vigência, estabelecendo, por exemplo que “a presente

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lei vigorara por seis meses” ou “a presente lei estará em vigor ate
ao dia tantos do tal”.

Se a cessação da vigência da lei por caducidade resultar da


impossibilidade factual da situação abstrata desenhada na previsão,
importa referir que caberá à própria lei preencher a sua previsão com
uma situação que, pela sua própria natureza, ou por causas advenientes,
deixará de poder concretizar-se. A lei condiciona o seu período de
aplicabilidade a circunstâncias que deixaram de poder verificar-se.
Neste caso, a lei não fixa nem um prazo para a sua vigência, mas
declara-se aplicável, apenas, enquanto durar uma certa situação.

Aponta-se o exemplo clássico da lei que concede benefícios


fiscais aos cidadãos Angolanos que combateram na I Guerra Mundial.
Quando o último dos combatentes tiver morrido, naturalmente que a lei
em questão já não sera aplicável, caducando. Pensa-se, nas adaptações
na organização, na medida de coação de interdição de acesso a recintos
desportivos, entre outras, as quais estarão, e encontrar-se-ão,
dependentes da existência deste mesmo evento. É certo que a lei
apontava termo inicial e final para a sua vigência, mas, ainda que não
o fizesse, sempre se deveria entender que o regime nela previsto,
apenas, vigorava naquele contexto, e para aqueles efeitos. Esta
tipologia de legislação designa-se por leis transitórias.

A cessação da razão de ser da lei por si só, não extingue a


vigência daquela. À caducidade refere-se expressamente 1ª parte do
art.º 7.º/1, CC, ao estipular que “quando se não destina a ter vigência
temporária ...”.

1.2. REVOGAÇÃO

A caducidade não é, contudo, a modalidade mais frequente da


extinção da lei. Normalmente a lei extingue-se por aparecimento de lei
posterior. Neste caso, estaremos na presença de duas leis que sucedem,
ou seja, a posterior atinge a anterior, revogando-a.
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Assim, a revogação traduz-se no afastamento da lei por outra
lei posterior, de valor e hierárquico igual ou superior, nomeadamente:

• por um lado, porque em termo de direito legislado, ao ente


criador de uma norma com valor obrigatório é conferido poder de impor
condutas, o que supõe, necessariamente, a faculdade de não admitir que
sejam praticadas outras condutas;

• Por outro lado, sendo o direito um conjunto sistemático e


ordenado de normas jurídicas, não se conceberia, nesse conjunto, a
coexistência de normas dispondo antagonicamente.

Para aferirmos qual será a lei mais antiga, devemos atender à


data da publicação, ou seja, a ordem de prioridade não se define pela
entrada em vigor, mas sim pela publicação. De duas leis é mais antiga
a que foi primeiro publicada, embora destinada a entrar em vigor depois
da outra. Lei posterior, reflexamente, é publicada em segundo lugar,
ainda que para começar a vigorar antes.

A revogação pode assumir três espécies:

• revogação expressa;
• revogação tácita;
• revogação de sistema.

A revogação expressa tem lugar nos casos em que um preceito da


nova lei designa uma lei anterior e a declara revogada, podendo a
individualização da lei ser feita:

• de forma concreta – “é revogado o art.º x da lei y”;

• referir-se a um conjunto mais ou menos geral (art.º 3 da


Lei preambular do CC – “fica revogada toda a legislação civil relativas
às matérias que esses diplomas abrangem ...”).

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A ela se refere a primeira parte do n.º 2 do art.º 7.º do CC,
ao dispor que “a revogação pode resultar de declaração expressa”.

A revogação tacita, tem lugar nos casos em que não há revogação


expressa, mas as normas da lei posterior são incompatíveis com as da
anterior, de modo que, sendo inconciliáveis, a lei anterior dá lugar
à lei posterior, podendo tal revogação ser parcelar ou global.

Diz-se tacita, pós que a revogação não é verbalizadamente


mencionada na lei posterior, e advém na mera incompatibilidade das
disposições da lei nova, com as disposições da lei anterior, cujo
vigência, queda extinta. a revogação tacita parcelar só atoa na estrita
medida da incompatibilidade ou contraditoriedade.

A ela se refere a 2ª parte do art.º 7.º do CC, ao referir que


“a revogação pode resultar (...) da incompatibilidade entre as novas
disposições e as regres precedentes”.

A revogação de sistema, global ou por substituição, a qual tem


lugar quando o legislador pretende que um determinado diploma legal
seja o único diploma incidente sobre determinada matéria, e verificada
tal intenção legislativa aos aspectos da lei antiga sofrem uma
revogação do sistema.

Ocorre, portanto, quando, e apesar de não se verificar a


revogação expressa, nem tacita, se conclui que o legislador de certo
diploma teve a intenção de que esse passe a ser o único regulador de
certas matérias ou assunto. Nos termos do art.º 7.º/2, 3ª parte do CC,
ao dispor que “a revogação pode resultar (...) da circunstância da
nova lei regular toda a matéria da lei anterior”.

Neste contexto, importa, ainda, proceder á enunciação da


destrinça entre a revogação, derrogação e abrogação da lei.

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A revogação distingue-se da abrogação e derrogação, nos
seguintes termos:

a) a derrogação consiste numa revogação parcial, que surge nos


casos em que a lei nova suprime apenas uma parte do conteúdo da lei
anterior;

b) a abrogação consiste numa revogação total, que surge quando


a lei nova suprime todo o conteúdo da lei ou leis anteriores.

Por exemplo, o Código da Estrada estabelece que a idade mínima


para obtenção da carta de condução é 18 anos. Assim, se uma nova lei
estatuísse que tal idade passaria para os 21 anos, estaria a revogar,
totalmente, a norma em questão. Se, porém, a nova lei estatuísse que,
para os cidadãos do sexo masculino, a idade mínima para obtenção da
carta era de 20 anos, estaria a revogar, parcialmente, a antiga norma,
a qual continuaria a vigorar para os cidadãos do sexo feminino.

1.3. AS DISPOSIÇÕES DO N.º 3 E 4 DO ART.º 7.º DO CC

Dispõe o n.º 3 do art.º 7.º que “a lei geral não revoga a lei
especial, excepto se outra for a intenção inequívoca do legislador”.

A lei especial quando estabelece um regime que, harmonizando-


se com o regime geral, regula de forma particular uma espécie de
relações atendendo a suas singularidades (exemplo, o regime do
arrendamento urbano).

A lei geral (art.º 1022.º e SS do CC, sobre a locação),


estabelece os princípios gerais sobre determinadas matérias. As regras
sobre a locação são regras gerais, em relação as que visam o
arrendamento de prédios urbanos, e estas especiais, em relação aquelas
e gerais em relação ás que regulam o arrendamento para o comercio ou
indústria.

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Se a lei especial sucede á lei geral, deve entender-se que a
lei especial posterior não revoga a lei geral anterior, podendo, na
verdade, estas coexistirem.

A lei especial vem, somente subtrair á lei procedente aquela


categoria de casos particulares para que é formulada, sendo que não
mais a lei geral subsiste. Nesse caso há apenas derrogação.

Em princípio, a lei geral posterior não revoga a lei especial


anterior. Com efeito, a lei geral nova não revoga, necessariamente, a
lei especial anterior, que para ser revogada necessita que o
legislador:

a) O declare expressamente na lei geral nova;

b) Ou revele a sua intenção nesse sentido por ter regulado


diversamente as matérias da lei especial, por ter estabelecido novos
princípios jurídicos – socias incompatíveis com os da lei especial,
por a lei geral não admitir qualquer excepção ou, apenas, as excepções
taxativamente estatuídas.

O legislador estatuiu, ainda, que “a revogação da lei


revogatória não importa o renascimento da lei que esta revogara” (art.º
7/4, do CC).

Por exemplo a lei A revoga a lei B, e a lei C revoga a lei A.


Nesta situação, não é, imperativamente resposta em vigor a lei B, a
menos que o legislador, na lei nova declare a intenção de reposição
em vigor da lei cuja vigência foi extinta por efeito da lei ora
revogada. Por exemplo, a lei A revoga a lei B, que havia revogado a
lei C. A lei A contém a declaração de que é a sua intenção, ao revogar
a lei B, repor em vigência a lei C. Trata-se, dessa forma, de um caso
de lei repristinatória.

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1.4. SUSPENSÃO DA LEI

Uma lei pode ser suspensa por outra, ou por uma fonte
hierarquicamente superior. Neste caso, a lei deixará de vigorar
enquanto estiver suspensa. Se foi suspensa por certo prazo (por exemplo
um ano), a lei retornará, automaticamente, a sua vigência, uma vez
decorrido esse prazo. Se, por seu turno, a dita lei foi suspensa sine
die, a lei só voltará a vigorar, se uma nova lei vier a repô-la em
vigor.

2. A IDENTIFICAÇÃO DAS LEIS E CODIFICAÇÃO

As leis identificam-se pela categoria (Lei, Decreto-Lei,


Portaria, entre outras tipologias), número (numeração essa que é
corrida é anual, por exemplo, n.º 69), e data (98, de 11 de Novembro).

Alguns diplomas distinguem-se por nomes tradicionais ou usuais,


que exprimem a matéria ou o conteúdo da espécie legal em questão,
sendo mais facilmente memorável, como por exemplo Código Civil,
Constituição da República de Angola, Estatuto da Ordem dos Advogado,
Regime de Arrendamento Urbano, entre outros. Os textos legais são
redigidos articuladamente, segundo uma lógica de artigos, por vezes
divididos em números.

As leis que se destinam a aprovar e regular a entrada em vigor


de outro diploma designam-se por lei preambular, lei ou decreto – lei
de aprovação. Veja-se, por exemplo, o Decreto-Lei n.º 47344, de 25 de
Novembro, o qual costuma designar-se por preambular do Código Civil.

Um código, traduz-se numa lei que reúne, de um modo sistemático,


cientifico e sintético, e tanto quanto possível completo, toda a
regulamentação de um certo ramo do direito, ou parte importante desde,
como por exemplo o faz o Código Civil, o Código de Processo Civil, o
Código Comercial, o Código das Sociedades Comercias, o Código do
Trabalho, o Código Penal e o Código de Processo Penal, entre outros.

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As leis avulsas são, normalmente, de extensão reduzida, regulam
uma matéria delimitada e circunscrita, sem grandes preocupações de
apuro científico, e sem a designação formal de código. Como exemplo,
podemos apontar a Lei das Finanças Locais – Leis n.º 2/2007, de 25 de
Janeira.

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