TCC Finalizado
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Resumo
As doenças cardiovasculares impactam negativamente na capacidade funcional e
qualidade de vida dos pacientes. Esses desfechos podem ser avaliados pelo Duke Activity
Status Index (DASI) e Minnesota Living with Heart Failure (MLHFQ), respectivamente.
O objetivo deste estudo foi verificar se existe diferença na pontuação nos questionários
DASI e MLHFQ entre as classificações funcionais da New York Heart Association
(NYHA) no pré-operatório de cirurgias cardíacas abertas. Participaram do estudo 26
pacientes que apresentavam indicação de cirurgia de revascularização do miocárdio, de
troca valvar, combinada ou outras. Na semana anterior à cirurgia, os pacientes foram
avaliados quanto a: dados relacionados a doença e processo cirúrgico, classificação
funcional da NYHA, DASI e MLHFQ. Os pacientes do grupo NYHA I apresentaram
maior pontuação no DASI (média da diferença = 16,1; IC95% = 2,66 a 29,6), maior
VO2máx estimado pelo DASI (média da diferença = 6,93; IC95% = 1,14 a 12,7), bem
como menor pontuação no MLHFQ (média da diferença = -23,9; IC95% = -39,1 a -8,74)
quando comparados aos pacientes do grupo NYHA II-III. Portanto, pacientes com maior
comprometimento da capacidade funcional avaliada pela NYHA apresentam menor nível
de atividade física e pior qualidade de vida relacionada à saúde.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
em Seres Humanos do Centro Universitário Estácio de Santa Catarina (CAEE:
13698319.2.0000.5357). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
As coletas de dados ocorreram no Imperial Hospital de Caridade de
Florianópolis/SC e incluiu pacientes maiores de 18 anos que apresentavam indicação de
cirurgia de revascularização do miocárdio, de troca valvar, combinada ou outras. Foram
excluídos pacientes que apresentassem: doenças pulmonares, neurológicas, ortopédicas
ou reumatológicas incapacitantes; hipertensão arterial sistêmica não controlada; câncer;
angina estável nas últimas 24h, angina instável nas últimas 72h ou arritmias com
comprometimento hemodinâmico; classe funcional IV da NYHA; ou incapacidade de
executar qualquer avaliação proposta.
O procedimento de coleta de dados foi realizado no pré-operatório, em um único
dia, dentro de uma semana antes do procedimento cirúrgico. Dados de FEVE e grau de
lesão coronariana foram coletados do ecocardiograma e cateterismo, respectivamente,
registrados no prontuário eletrônico do paciente. Uma anamnese inicial foi realizada para
coletar dados pessoais, histórico da doença atual e pregressa, motivo da cirurgia cardíaca,
principais sintomas e doenças associadas. Conforme anamnese, foi realizada a
classificação funcional da NYHA. Em seguida, foram aplicados os questionários DASI e
MLHFQ.
RESULTADOS
Trinta e nove indivíduos foram elegíveis para este estudo. Entretanto, 13 foram
excluídos (três por se recusarem a participar e dez por internação em tempo inábil para
realização da avaliação pré-operatória). Portanto, 26 pacientes participaram do estudo.
Desses, vinte e dois (85%) possuíam FEVE ≥ 50% e apenas quatro (15%) possuíam FEVE
entre 40-50%. Referente ao grau de lesão coronária, seis pacientes não apresentavam
lesão, três lesão em 1 ou 2 vasos e dezessete possuíam lesão em 3 ou mais vasos. Os
demais dados de caracterização da amostra estão descritos na tabela 1.
Característica Valor
Idade, anos 64 ± 12
I 10
II 12
III 4
CRM 15
CTVAo 3
CTVMi 3
CTVMi + CRM 3
CTVMi + CTVAo 1
CTVMi + TRVP 1
Os valores são apresentados em média ± desvio padrão, a menos que seja indicado o contrário. kg:
quilograma; cm: centímetro; IMC: índice de massa corporal; kg/m²: quilograma por metro quadrado;
FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo; EuroSCORE II: Sistema Europeu de Avaliação de Risco
em Cirurgia Cardíaca II; DASI: Duke Activity Status Index; VO2máx pred: predição do consumo máximo
de oxigênio; MLHFQ: Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire; NYHA: classificação funcional
da New York Heart Association; CRM: cirurgia de revascularização do miocárdio; CTVAo: cirurgia de
troca valvar aórtica; CTVMi: cirurgia de troca valvar mitral; VPTr: valvoplastia tricúspide.
Os pacientes do grupo NYHA I apresentaram maior pontuação no DASI (média
da diferença = 16,1; IC95% = 2,66 a 29,6; figura 1), maior VO2máx estimado pelo DASI
(média da diferença = 6,93; IC95% = 1,14 a 12,7), bem como menor pontuação no
MLHFQ (média da diferença = -23,9; IC95% = -39,1 a -8,74; figura 2) quando
comparados aos pacientes do grupo NYHA II-III.
DISCUSSÃO
O presente estudo identificou que os pacientes com classe funcional I da NYHA
apresentaram maior pontuação no DASI e menor pontuação no MLHFQ quando
comparados aos pacientes com NYHA II e III. Além disso, o VO2máx estimado pelo
questionário DASI também foi maior nos pacientes com classe funcional I.
A classificação funcional da NYHA determina o grau de limitação nas AVDs por
meio da mensuração da sintomatologia.(14) Dada a sua simplicidade, é muito utilizada na
prática clínica, sendo capaz de predizer desfechos importantes em pacientes com doenças
cardiovasculares. Pacientes com classe funcional III e IV da NYHA apresentam
condições clínicas progressivamente piores, internações hospitalares mais frequentes e
maior risco de mortalidade.(19) Dalos et al(20) demonstraram que pacientes com
insuficiência cardíaca com classe funcional III e IV eram mais velhos e relatavam
hospitalizações anteriores com maior frequência em comparação aos que apresentavam
classe II. Além disso, pacientes NYHA IV apresentaram sobrevida livre de eventos menor
em comparação com aqueles de classe II ou III da NYHA. Mais de 60% dos pacientes
em classe IV experimentaram eventos cardíacos. Vale ressaltar que os pacientes com
NYHA I foram excluídos desse estudo.
Quando usada para avaliar pacientes com DAC, a NYHA também se mostra capaz
de predizer desfechos importantes. Bredy et. al.(21) demonstraram que o risco de
mortalidade foi 2,5 vezes maior na classe funcional II e 8,7 vezes maior na classe
funcional III quando comparadas à classe funcional I da NYHA. O estudo demonstrou
que a classificação da NYHA é um método válido para classificar pacientes com DAC,
tendo relação com as medidas objetivas de capacidade de exercício. Entretanto, sugere-
se que seja usada com cautela, já que demonstrou subestimar o grau de limitação em
pacientes com doenças de longa data que adaptaram cronicamente seu estilo de vida, uma
vez que mais da metade dos pacientes assintomáticos do estudo apresentaram um VO2 de
pico reduzido.
No que se refere à DASI, não foram encontrados na literatura estudos recentes que
tenham associado a pontuação do questionário com a classe funcional da NYHA em
pacientes com doenças cardíacas. Em nosso estudo, pacientes no pré-operatório de
cirurgia cardíaca sintomáticos (NYHA II e III) tiveram menor nível de atividade física
avaliado pelo DASI. Isso reforça que o instrumento é capaz de diferenciar o estado
funcional dos pacientes com doença cardiovascular.
O DASI apresenta-se como um bom questionário para predizer a capacidade
funcional, usado para avaliar os efeitos dos tratamentos médicos, da reabilitação cardíaca
e auxiliar nas decisões clínicas. Sua validade é evidenciada na aplicabilidade com
pacientes cardíacos nos casos de DAC, insuficiência cardíaca, isquemia miocárdica e
infarto agudo do miocárdio.(15) Outros estudos já haviam demonstrado associação do
DASI com outros desfechos em indivíduos com doenças cardiovasculares, como:
capacidade funcional após cirurgia, mortalidade, infarto agudo do miocárdio,
complicações e risco pré-operatório.(22, 23) Piores escores no DASI também se mostraram
associados à pior qualidade de vida relacionada à saúde avaliada pelo MLHFQ em
pacientes com insuficiência cardíaca.(24)
A redução da capacidade funcional está relacionada ao aumento da dependência
para as AVD’s, o que pode afetar negativamente a qualidade de vida dos pacientes.(9) Os
achados deste estudo evidenciaram que, de fato, pacientes sintomáticos de acordo com a
classificação da NYHA apresentaram pior qualidade de vida pelo MLHQ. Estudos
anteriores comprovam estes achados. Gallagher et. al.(25) demonstraram que quanto mais
elevada a NYHA, mais prejudicada era a qualidade de vida de pacientes com insuficiência
cardíaca. Dentre os instrumentos utilizados pelos autores para avaliação da qualidade de
vida, os questionários específicos para doença cardiovascular foram os que obtiveram
uma melhor correlação com a NYHA, incluindo o MLHFQ (r = 0,59, p < 0,01). Ahmeti
et. al.(26) compararam as classes funcionais I, II e III da NYHA e demonstraram diferença
na pontuação do MLHFQ, sendo que quanto maior a classificação da NYHA, pior a
qualidade de vida (42±18; 50±18 e 58±11; respectivamente; p<0,001). A pontuação no
MLHFQ também se correlacionou negativamente com a distância percorrida no teste de
caminhada de seis minutos (r = -0,45; p<0,001).
O estudo apresenta algumas limitações importantes. O tamanho da amostra é
pequeno e pode acarretar insuficiência de poder para algumas análises. Devido a isso, nós
optamos por analisar os pacientes do grupo NYHA II e III em um mesmo grupo,
considerando que apresentam sintomas. Nesse sentido, o tamanho da amostra foi
suficiente para detectar diferença estatisticamente significante dos questionários DASI e
MLHFQ entre os pacientes assintomáticos e sintomáticos de acordo com a NYHA. Outro
fator limitante foi a exclusão de pacientes com NYHA IV, que são mais sintomáticos,
normalmente possuem capacidade funcional mais comprometida e provavelmente
apresentam pior nível de atividade física e qualidade de vida. Portanto, os resultados desse
estudo não podem ser extrapolados para esse grupo.
CONCLUSÃO
A pontuação nos questionários DASI e MLHFQ diferenciam-se entre as
classificações funcionais I e II-III da NYHA no pré-operatório de cirurgias cardíacas
abertas. Pacientes com maior comprometimento da capacidade funcional avaliada pela
NYHA apresentam menor nível de atividade física e pior qualidade de vida relacionada
à saúde.
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