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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

Curso de Direito

CONSEQUÊNCIAS DO ABANDONO AFETIVO

Thaísa de Souza da Silva

Rio de Janeiro
2018.1
2

THAÍSA DE SOUZA DA SILVA

CONSEQUÊNCIAS DO ABANDONO AFETIVO

Artigo Científico Jurídico apresentado à


Universidade Estácio de Sá, Curso de
Direito, como requisito parcial para
conclusão da disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso.

Orientador (a): Prof(a). Ana Lectícia Erthal

Rio de Janeiro

Campus Presidente Vargas

2018.1
3

CONSEQUÊNCIAS DO ABANDONO AFETIVO

Thaísa de Souza da Silva1

RESUMO

Este trabalho visa demonstrar os traumas que podem ser acarretados a um infante que
seja desprovido de afeto parental em idade tenra, idade primordial para sua formação e
desenvoltura. Bem como indicar se tais efeitos são passíveis de reparação. Apontar as
possíveis causas que levam os responsáveis a negligenciarem suas proles de amor,
carinho e atenção. É analisado também quais são as responsabilidades dos pais e o
exercício do poder familiar. Demonstrando a importância familiar como base e suporte
da construção física, psíquica e emocional. Nele constam as novas e diferentes formas
de instituir uma família e o devido amparo do ordenamento jurídico. Uma vez que
diferentes níveis hierárquicos atribuem valor a instituição família.

Palavras chave: Abandono afetivo. Consequências. Criança. Adolescente. Família.

SUMÁRIO
1. Introdução; 2. Desenvolvimento; 2.1 Conceito de família; 2.2
Responsabilidades paternas em relação aos filhos; 2.3 Causas e efeitos do abandono
afetivo; 2.4 Da reversão das consequências do abandono afetivo; 2.5 As incongruências
do abandono afetivo sob a ótica do ordenamento jurídico; 3. Conclusão; 4. Referências.

1. INTRODUÇÃO

A sociedade está em constante transformação, e para continuar cumprindo seu


papel de protegê-la o Direito precisa estar em consonância com a soma de fatores reais
da coletividade. Assim sendo, as modificações da estrutura familiar continuam sendo
amparadas pelo ordenamento jurídico, não apenas a instituição, mas cada integrante
como merecedor da dignidade da pessoa humana, possuindo direitos e deveres.

1
Aluna da UNESA do Campus Presidente Vargas, cursando o 10º período do Curso de Direito.
4

Neste sentido este projeto de pesquisa versa sobre as consequências do abandono


afetivo. Tendo por base o instituto legal do Estatuto da criança e do adolescente, bem
como o Código Civil em seu art. 1.634 que dispõe de forma exemplificativa
responsabilidades e o exercício do poder familiar de ambos os pais. Como um dos
resultados da inobservância de tais postulados, tem-se o abandono afetivo. Utilizou-se
ainda da psicanálise para compreender o que se passa com um indivíduo que teve afeto
omitido e seus resultados ao longo da vida.
Além do mais, o Estado ao positivar conceitos familiares em diferentes níveis
hierárquicos estatais, está atribuindo à entidade familiar grande importância, uma vez
que a mesma é base para a organização da sociedade. Assim sendo, para que a mesma
seja harmoniosa, regulada, necessário se faz proteger seus firmamentos, sendo um deles
a família. E como a mesma se constitui de membros, cada um deve receber recursos
necessários para sua plena e eficaz formação, corroborando assim para que a soma de
cada integrante resulte em organizações familiares sólidas e fortificadas ingerindo de
forma positiva na estruturação social.
Nessa perspectiva, é demonstrado primeiramente o que se entende por família e
sua evolução histórica. Que oportuno se fez reconhecer outras formas de constituição de
família além da matrimonilizada, como a socioafetiva e monoparental. Não obstante o
núcleo familiar não se limita apenas a sua estruturação, envolve um ambiente em que se
compartilha experiencias, amor, carinho. E para proteger de forma eficaz a ordem
familiar oportuno se fez a instauração de um conjunto legal estabelecendo os
compromissos e desempenho do poder familiar pelos genitores.
Sobretudo pretendeu-se demonstrar o que leva os pais a negligenciarem seus
filhos de cuidados sentimentais, carinho e atenção, como fatores conjugais, alienação
parental. E sobre esse aspecto analisar as conseqüências geradas em crianças e
adolescentes que se vêem sem o devido amparo emocional e sentimental nas fases
primordiais da vida. Além do mais se buscou verificar se há possibilidade de reverter às
seqüelas causadas pelo abandono afetivo. Pautado na observância das incongruências da
prática do abandono afetivo como ordenamento jurídico pátrio.
A formação da personalidade, psiquismo e conceitos morais dá-se em maior
profundidade nas primeiras fases da vida. Com isso pode-se ressaltar a importância em
proporcionar ao infante uma base familiar sólida, fortificada que forneça um ambiente
propicio para seu pleno desenvolvimento e formação.
5

Sabe-se que para uma sociedade ser organizada é preciso um conjunto de


normas para regular o convívio entre as pessoas, de forma a obter respeito mútuo, paz,
fraternidade. No entanto tais relações também são pautadas no afeto recíproco. A partir
desse ponto torna-se necessário elevar a importância da valorização do afeto na área
jurídica. De maneira mais evidente na família, pois o envolvimento familiar deve
superar a proteção no âmbito do Direito civil familiar apenas do ponto de vista
patrimonialista. Uma vez que o afeto é de suma importância para a concretização do
princípio da dignidade da pessoa humana. Analisar o afeto na seara jurídica como um
valor inerente a constituição da pessoa, implícito na sua integridade para formação
pessoal.
A metodologia utilizada neste trabalho é de cunho bibliográfico, tendo em vista
que a leitura de livros e de artigos científicos foi primordial para o desenvolvimento da
pesquisa.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. CONCEITO DE FAMÍLIA

O indivíduo ao nascer, automaticamente se insere em um núcleo familiar,


independente de sua anuência. A partir desse momento, cria-se um vínculo natural que
une o homem a família. No entanto, não existe apenas esta maneira de iniciar a
instituição família. A mesma pode ser constituída pelo vínculo de afinidade, que se
estabelece entre um cônjuge e os parentes do outro, bem como pela adoção, sendo um
ato solene que insere a criança ou adolescente em uma família substituta.2 No entanto,
independente da configuração familiar, sem dúvidas a família é imprescindível para o
desenvolvimento da criança, pois nela haverá um primeiro convívio social, em que
agregam valores éticos e morais, e são vividas experiências afetivas.
Ressalta-se que o embasamento do conceito família foi construído ao longo da
evolução da sociedade em determinado período de tempo. Sendo assim, oportuno se faz
conhecer as especificidades do núcleo familiar das principais épocas, que se
modificaram no decorrer do tempo e resultaram no molde familiar dos dias atuais.

2
COSTA, Débora Souto. O abandono afetivo e o dano moral à luz do princípio da dignidade da pessoa
humana. Universidade Católica do Salvador- Mestrado em Família na sociedade contemporânea.
Salvador: 2012, p. 15-29.
6

Inicialmente, a expressão família, de acordo com Cristiano Chaves e Nelson


Rosenvald3, tem sua origem da língua oscos, povo do norte da península italiana, famel,
com o significado de servo ou conjunto de escravos pertencentes ao mesmo patrão. No
entanto, a percepção do conceito de família tanto do ponto de vista literal como no real
ganhou novo significado. Como diz os referidos autores:

O termo família, nos dias atuais, tem uma concepção múltipla, plural,
podendo dizer respeito a um ou mais indivíduos, ligados por traços
biológicos ou sócio-psico-afetivos, com intenção de estabelecer,
eticamente, o desenvolvimento da personalidade de cada um. 4

Sendo assim a instituição família foi ganhando traços de acordo com sua
evolução. A família no Código Civil de 1916 era matrimonializada, patriarcal,
hierarquizada, heteroparental, biológica, unidade de produção e reprodução e vista
apenas como uma instituição. Ao passo que a família na Constituição de 1988 e no
Código Civil de 2002, passou a ser pluralizada, democrática, igualitária
substancialmente, hetero e homo parental, biológica ou socioafetiva, e de caráter
instrumental. Pois como cita Farias e Rosenvald: “tornou-se inviável estabelecer um
modelo familiar uniforme, havendo a necessidade de traduzi-la em conformidade com
as transformações sociais no decorrer do tempo”. 5
A família não se limita apenas a sua estrutura formal. Ela compreende um
ambiente em que se compartilha afeto, comunicação, experiências, dentre outras coisas.
Certo é que esta instituição corrobora para o crescimento, desenvolvimento e inserção
de cidadãos dentro da sociedade.6Dessa maneira evidencia-se a importância do núcleo
familiar em desenvolver a personalidade humana, caráter, essências estabelecidas desde
cedo no interior de cada um, que irão direcionar o indivíduo por toda sua vida. Além de
ser na infância que surge no ser humano a mais importante e radical ocorrência no
processo evolutivo, isto é, a autoconsciência.
Quando o indivíduo tem a oportunidade de estar em um lar sólido, bem
estruturado que o faça crescer, aprender e apreender faz com que ele seja autorealizado,
determinado, com seus sentimentos bem resolvidos.

3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 11 ed.– Volume seis. Brasil: Saraiva, 2014, p.
18.
4
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 11 ed.– Volume seis. Brasil: Saraiva, 2014, p.
18.
5
FARIAS, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Direito das famílias. 2 ed. Rio de janeiro: Lumen Juris,
2010, p.23.
6
ALVES, Leonardo B. Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família. Revista
jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Minas Gerais: p. 330-333, Nov/2007.
7

Somado ao fato que experiências, conhecimentos, informações, exercício de


direitos e deveres, debates da realidade que cerca o ser humano, vividas no seio
familiar, cria no indivíduo a noção de ser cidadão. A necessidade de participar
ativamente da vida política e social que o abrange e perspectiva de alterar situações.
Segundo Camargo:7
A cidadania é constituída, potencialmente de ação coletiva e
individual em prol do bem comum e do gozo particular. É vital para o
indivíduo, sentir-se valorizado, ter supridas suas necessidades, para
não se envergonhar diante de si próprio, já que a vergonha bloqueia a
ação e o pensamento, indo gerar a submissão. E a pessoa insegura
tende a uma autodestruição inútil.

Além do mais, o ordenamento jurídico brasileiro traz dispositivos que enaltecem


a importância da solidariedade familiar. Dentre eles cita-se o Código Civil em seu art.
1.694 que aduz sobre a responsabilidade de alimentação mútua. A Constituição Federal
de 1988 em seu preâmbulo menciona a solidariedade fraterna, em que a base da família
deve centrar-se na dignidade da pessoa humana e na solidariedade social. Além de
estimular um tratamento solidário entre os membros da família, acaba que influenciando
na maneira como cada indivíduo lida dentro da sociedade. Resultando positivamente na
evolução da população. 8
Sendo assim, a instituição familiar assume grande importância a partir do
momento em que é base para a organização social, recebendo grande proteção do
Estado a fim de preservar e fortalecer suas bases. Por ser o Estado Brasileiro um Estado
social, em que interfere na vida privada do cidadão para protegê-lo. 9

2.2. RESPONSABILIDADES DOS PAIS EM RELAÇÃO AOS FILHOS

Sabe-se que a criança é um ser vulnerável que precisa de cuidados especiais e


atenção, tendo em vista que está em pleno desenvolvimento e não é capaz de realizá-los
por si só. Por conseguinte, foram criados dispositivos legais e constitucionais a fim de
prescrever aos pais deveres perante seus filhos para salvaguardá-los do alento e do
abandono.10

7
CAMARGO, M. Ética, vida e saúde. 3. Ed. Petropólis: Vozes, 1976.
8
NORONHA, MaressaMaelly Soares; PARRON, Stênio Ferreira. A evolução do conceito de família.
[s/d]
9
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013,
p. 29 e 36.
10
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 11 ed. – Volume seis. Brasil: Saraiva, 2014, p.
417 e 418.
8

Essas responsabilidades dos pais podem ser entendidas como o Poder Familiar.
Que nada mais é do que regras a serem seguidas pelos pais na criação de seus filhos. De
acordo com Maria Helena Diniz a definição e as características do poder familiar:

O poder familiar constitui um múnus publico, isto é, uma


espécie de função correspondente a um cargo privado, sendo o poder
familiar um direito-função e um poder-dever,... É irrenunciável, pois
os pais não podem abrir mão dele; é inalienável ou indisponível, no
sentido de que não pode ser transferido pelos pais a outrem, a título
gratuito ou oneroso, salvo caso de delegação do poder familiar,
desejadas pelos pais ou responsáveis para prevenir a ocorrência de
situação irregular do menor,... É imprescritível, já que dele não
decaem os genitores pelo simples fato de deixarem de exercê-lo, sendo
que somente poderão perdê-lo nos casos previstos em lei; é
incompatível com a tutela, não podendo nomear tutor a menor cujo pai
ou mãe não foi suspenso ou destituído do poder familiar; conserva,
ainda, a natureza de uma relação de autoridade por haver vínculo de
subordinação entre pais e filhos, pois os genitores têm poder de mando
e a prole o dever de obediência.11

A importância do exercício do poder familiar é tão grande que o texto


constitucional (CF/1988) traz dispositivos para efetivar a medida. Cite-se como
exemplo: “Art. 227. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e
os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou
enfermidade’’.
Somado ao texto do Código Civil que traz em seu corpo algumas das obrigações
dos pais em seu art. 1.634, enumerando alguns deveres paternos independentemente da
situação conjugal, exercendo assim o pleno poder familiar. Contudo cabe ressaltar que
há uma distinção entre obrigação e responsabilidade. A primeira decorre do
cumprimento espontâneo do exercício de um dever. Já o segundo é uma consequência
pelo inadimplemento, ressarcimento em vista de um prejuízo.
Antigamente o poder familiar era intitulado como pátrio poder, em que tinha
uma ideia de soberania da figura paterna, e que o mesmo buscava a sua satisfação
independentemente da vontade de sua prole, era visto como um benefício. Com a
evolução e transformação do conceito de família, o termo foi substituído por poder
familiar, entendido como um encargo atribuído aos pais para perquirir o melhor
interesse da criança e adolescente. Tendo em vista que o infante ainda não tem
capacidade para suprir suas necessidades vitais, sendo dependente de proteção e
cuidado.

11
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 23 ed. São Paulo: Saraiva
2008, p. 539.
9

O Estado quando elenca dispositivos que protegem a família, não está


adentrando totalmente na esfera de liberdade de seus integrantes, mas sim buscando
meios de impelir o sujeito a cumprir com o poder familiar, equilibrando a supremacia
do estado e o direito de livre ingerência do ser humano sobre sua família. Visando dessa
maneira a garantir o pleno desenvolvimento físico, psíquico e emocional da criança e do
adolescente.
Cabe ressaltar que essas obrigações prescritas em lei, em regra duram enquanto
os filhos forem menores. Nesse contexto traz o art. 1.630 do CC que os filhos estão
sujeitos ao poder familiar enquanto menores. Porém pode haver exceções como trazido
pelo enunciado n. 344 do CJF: “que a obrigação alimentar originada do poder familiar,
especialmente para atender às necessidades educacionais, pode não cessar com a
maioridade”.12
No entanto, para além das regras predispostas no conjunto base do ordenamento
jurídico que visa à proteção do desenvolvimento da criança e do adolescente de forma
eficaz, oportuno se faz ressaltar que tais regras não são taxativas. A criação envolve
muito mais do que um suporte financeiro e material. A criança e adolescente precisa de
um suporte psicólogo, psíquico, que envolve orientação moral, manifestação de afeto,
acompanhamento físico e psicológico ao longo de seu crescimento. Pontos que muitas
vezes são relativizados sem saber das grandes consequências negativas que podem
trazer para o futuro do indivíduo.13
Com fulcro no maior acolhimento da criança e do adolescente, em 1990 surge o
Estatuto da Criança e do Adolescente, com mais amparo, posto que o surgimento de
princípios como proteção geral, proteção integral, proteção especial, garantia prioritária,
prevalência dos direitos dos menores, indisponibilidade do direito da criança e do
adolescente, reintegração e reeducação do menor acarretam em uma maior proteção ao
infante no seio da família .
Ser responsável por um ser humano é muito mais do que prover alimentação,
vestuário, abrigo ou educação. A criança que tem um lar em que se sente seguro,
protegido, amparado, de forma sentimental, psíquica tem uma desenvoltura como
indivíduo muito mais consistente e eficaz do que aquele que cresce desamparado, ao
alento, fortalecido por si só. Como bem o diz Rubem Alves:

12
TARTUCE, Flávio. Direito de família. 12. Ed.- Volume 5. Brasil: Forense, p. 507, 2017.
13
PEREIRA, Rodrigo Cunha; SILVA, Cláudia Maria. Nem só de pão vive o homem. Sociedade e Estado,
Brasília, v. 21, n. 3, p. 667-680, set./dez 2006.
10

Pai é alguém que, por causa do filho, tem sua vida inteira mudada de forma
inexorável. Isso não é verdadeiro do pai biológico. É fácil demais ser pai
biológico. Pai biológico não precisa ter alma. Um pai biológico se faz num
momento. Mas há um pai que é um ser da eternidade: aquele cujo coração
caminha por caminhos fora do seu corpo. Pulsa, secretamente, no corpo do seu
filho (muito embora o filho não saiba disso). 14

Dessa maneira pode-se perceber que as responsabilidades dos pais perante seus
filhos sobrepõem o conjunto de diretrizes do texto constitucional e dispositivos infra-
legais. Que ao somar tais deveres e obrigações com um suporte sólido de um lar
direcionado a suprir necessidades extrapatrimoniais de suas proles, resultará em pessoas
mais fortes, autorealizadas e determinadas.
Tendo em vista as responsabilidades paternas elencadas no ordenamento
jurídico, indaga-se sobre a obrigatoriedade dos pais em conceder atenção, amor, carinho
e afeto a seus filhos. De início pode-se declarar que existem divergências
jurisprudenciais a cerca do tema. Sob esse entendimento a 7ª Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul15, alegou que a falta deatenção do pai ou de um suporte
presencial não violam dispositivos legais, reconhecendo a turma como decorrência de
fato da vida.
Por outro lado, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro16 deu um parecer
favorável à pretensão da criança de ter amor e acolhimento paternal. Sob essa égide
conclui-se que amor e atenção não são obrigatórios aos pais na criação de seus filhos. A
lei não impõe expressamente a nenhuma pessoa o dever de amar, mas apresenta deveres
obrigacionais em que o infante tem direito de convivência e companhia. Contudo, a lei é
transparente ao impor aos pais a companhia, guarda, direção e educação dos infantes.
Somado ao encargo de sustento deve haver a convivência familiar, onde se desenvolve
um vínculo afetivo, em que cada integrante da família se sente seguro, acolhido e
protegido.17
Na atualidade, as questões afetivas que chegam ao judiciário são vistas do ponto
de vista da responsabilidade civil como reparação dos danos causados pela ausência de
educação, amor, inerentes as responsabilidades dos pais. Mas na verdade o que deveria

14
ALVES, Rubem. Um mundo num grão de areia: o ser humano e seu universo. Campinas: Verus, 2002.
15
APELAÇÃO nº 70053030284
16
RECURSO n° 0011643- 61.2012.8.19.0023
17
PEREIRA, Rodrigo Cunha; SILVA, Cláudia Maria. Nem só de pão vive o homem. Sociedade e Estado,
Brasília, v. 21, n. 3, p. 672-677, set./dez 2006.
11

ser priorizado são os danos sofridos.18A lei não impõe expressamente a nenhuma pessoa
o dever de amar, mas apresenta deveres obrigacionais como o direito de companhia e
convivência dos filhos. Deve-se ressaltar que as relações parentais são desiguais, tendo
em vista que há uma parte vulnerável e dependente.

2.3. CAUSAS E EFEITOS DO ABANDONO AFETIVO

Frente a essas responsabilidades elencadas no conjunto jurídico que visa reger e


proteger a instituição familiar encontra-se pais que não cumprem com seus deveres pré-
estabelecidos. Os motivos variam de acordo com a realidade de cada pessoa. Mas o que
cada um deveria ter em mente é que independentemente da situação ou da fase que
esteja vivendo, filho nunca deixa de ser filho. A prole continua dependente de cuidados,
afeto, amor, proteção. Não se pode omitir ou desvalorizar a importância que uma
família organizada e bem estrutura traz para seus membros, um lugar seguro em que
possa se desenvolver e crescer amparada e protegida.
Dessa maneira oportuno se faz mencionar algumas causas que levam os pais a
abandonarem seus filhos emocionalmente. A primeira situação pode ser vista a partir de
um rompimento de uma relação conjugal. Dependendo do motivo que culminou a
separação um dos pais começa a praticar com seu filho alienação parental, que nada
mais é do que afastamento do filho de um dos genitores, provocado pelo outro. Pode ser
gerada por um motivo de inveja, raiva. E essa atitude acabe que rompendo com os laços
de afetividade que ligam os filhos. Com intuito de evitar brigas conjugais, acabam que
evitando dialogar com o ex-cônjuge para exercer seus direitos e deveres de pai ou
mãe.19
Além do mais, existem casos que nem necessita da prática da alienação parental.
Ao término de uma vida a dois, com raiva do seu parceiro ou parceira, acabam que
negligenciando seus filhos de todo seu afeto e carinho. Chegando até a virar-lhes as
costas por a prole ter em seu sangue, sangue do ex-cônjuge. Pensam que ao olhar para o
filho estarão olhando para a pessoa que lhe fez mal ou lhe fez sofrer. Ou quando a

18
MORAES, Maria Celina Bodin. Deveres parentais e responsabilidade civil. Revista Brasileira de
Direito de Família, Porto Alegre: ago./set. 2005.
19
FONSECA, P. Maria. Síndrome de alienação parental. Pediatria: São Paulo, 2006; p. 263-266.
12

criança não é um hóspede bem-vindo na família, é rejeitada. Como diz Roussillon:20


“Uma criança que é fisicamente rejeitada, ou uma cuja mãe desenvolve fobia de tocá-la,
constrói uma representação inicial de si mesma como “lixo” ou “excremento”. 21
Somado ao fato de que adolescentes que não tiverem uma boa orientação na sua
formação, acabam que antecedendo fases e gerando uma criança enquanto ainda não
possuem a maturidade para criar um ser. Às vezes são pessoas absolutamente incapazes,
no ponto de vista civil, que não se encontram preparadas psicologicamente e nem
fisicamente para receber um indivíduo. E isso acaba que resultando na despretensão
para com suas proles, tendem a criá-los de qualquer maneira, sem atentar para as
particularidades de cada etapa da vida infantil.
Outro fator que gera o descuido emocional para com os filhos é o envolvimento
dos pais com entorpecentes, drogas e bebidas alcoólicas. Acabam que entrando em uma
realidade que os papéis se invertem e quem necessita de maiores cuidados são eles
próprios. Não tem como amparar e ajudar alguém, quando na realidade a pessoa que
deveria dispensar esses cuidados é que precisa.
A cegueira dos adultos a respeito da extrema sensibilidade infantil acaba que
resultando em um desinvestimento amoroso para com eles. Nessa fase inicial da vida
estão desenvolvendo sua personalidade, o interior da criança está em plena desordem e
precisa de alguém de fora para auxiliá-la a gerir esse turbilhão de sentimentos que passa
por ela. É um momento que não enxerga com os próprios olhos, mas com os olhos dos
pais. Então quando percebe que está desamparada de atenção e zelo, tem a necessidade
natural de aprender a lhe dar com suas confusões sentimentais sozinha, criando desde
cedo uma autonomia e maturação precoce que pulam etapas e resultam em um
desenvolvimento incompleto. Criando assim mecanismos próprios para preencher esse
vazio interior. E as consequências dessas saídas são tão prejudiciais que estudos
psicanalíticos se voltam sobre as dimensões dessas experiências traumáticas. A partir da
análise pode-se compreender o que ocorre com uma criança que se vê sozinha e
desamparada emocionalmente nessa idade tão importante para sua desenvoltura como
ser humano e integrante da sociedade e pessoas que a circundam.22
Na infância começa o processo evolutivo de seu organismo e dentro dele está à
autoconsciência. Sendo uma característica lógica de a criança conhecer a si mesmo. E

20
ROUSSILLON, R. Teoria da simbolização: a simbolização primária. São Paulo: Escuta, 2013, p. 265.
21
SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo. Blucher: 2017, p. 160 e 161.
22
SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo. Blucher: 2017, p. 17-30.
13

com seu crescimento natural passa a ter uma maior percepção da realidade, começa a se
identificar como um uma pessoa independente, com suas escolhas, seus atos, mas ao
mesmo tempo consegue perceber que existe um liame entre ela, seus pais e pessoas com
quem convive. Aqui surge o papel crucial para a formação do indivíduo, qual seja o
amor.
A formação da personalidade é um processo contínuo que se inicia como
nascimento e culmina com a morte. A personalidade nada mais é do que a soma dos
sistemas físicos, fisiológicos, psíquicos e morais, que interligados individualizam cada
indivíduo. Para tanto cada espaço vai sendo preenchido de acordo com as informações,
ensinamentos que vão tendo ao longo da vida. Quanto mais estáveis forem as relações
que permeiam o ser humano desde seu nascimento, maior a probabilidade de formação
ser mais consistente, firme e servir de base e apoio para a construção de sua jornada.
O direito da personalidade, não é propriamente um direito, mas sim um conceito
jurídico, sob o qual estão firmados os direitos. Está associado ao reconhecimento da
dignidade da pessoa humana, sendo um atributo essencial para o desenvolvimento
físico, psíquico e morais de todo ser humano. Não possui valor econômico, pois está
relacionado diretamente com o indivíduo, e na conjuntura atual reconhecido como
direito subjetivo. Então com a valorização da pessoa e conscientização da importância
do direito da personalidade, a esfera jurídica o protege e resguarda para que haja
respeito e não seja violado.
O grande cerne da questão é que crianças são vistas como um ser que não tem
capacidade de compreensão, que não entendem das coisas, e que são incapazes de
absorver e lembrar sua realidade enquanto seres infantis, e até mesmo como se fossem
ausentes de sentimentos. Como se tudo que fizesse estivesse envolto em uma fantasia,
abstrata sem nenhuma importância ou valor. Mas na verdade demonstra um desrespeito
contra o ser humano ainda no início de sua trajetória. Ninguém vira adulto do nada.
Para se chegar nessa fase foi acumulado conhecimentos, ensinamentos que fizeram
aquela pessoa.
A criança em plena vigência da dependência infantil, quando se vê ausente de
acolhimento, carinho e preocupação tenta encontrar maneiras de subverter-se a essa
situação. Dentre essas maneiras podem-se encontrar crianças vivazes e adoráveis,
fazendo seu mundo colorido, na busca de encontrar ajuda para colorir a parte escura de
encontra em seu interior. Bem como na tentativa de fugir de um vazio, sentimento de
culpa inconsciente e depressão. Ou crianças que na impossibilidade de pertencer e
14

adentrar o mundo dos outros acabam que fazendo seu próprio universo e vivendo
sozinhas, na solidão.
Os buracos do abandono afetivo também tendem a ser preenchidos por
expressões destrutivas, a criança para se defender acaba que agindo de forma, agressiva
e violenta. A criança se vê impotente frente a essa situação, e às vezes até acha que a
culpa para o afastamento amoroso dos pais está nela. Ou então pensa que houve um
assassinato simbólico da representação dos pais, marcando assim a culpa e a prática de
um crime. Atraindo assim uma punição para aliviar o que sente mesmo a razão sendo
desconhecida, como ingerência da sua consciência moral.23Sendo assim nota-se a
importância da análise dentro do Direito da subjetividade ao proibido e avaliar quais são
as causas que levam o homem a envolver-se nos atos ilícitos da vida. Para a criança ter
uma personalidade sadia, ser controladora de seus impulsos e comportamentos, cuja
ausência ou disfunção severa acarreta abalo na personalidade, necessitam de suporte de
alguém que lhe ajude a organizar seu interior, suas emoções e o tanto de coisas novas
que está aprendendo.
Com o abandono afetivo, situação que é dificilmente absorvida e metabolizada
pelo aparelho mental infantil, surge um sofrimento intolerável e a tendência é que o
infante entre em um processo de transe, resultando em uma desorientação psíquica que
o torna inerte a percepção da realidade, tanto de si mesmos quanto do outro e do mundo.
Além do conceito dos pais de enxergarem seus filhos como seres incompreensíveis,
incapazes de perceberem o que lhes cerca, impedem a criança de ver que tem
capacidade para suas próprias compreensões do mundo. Limita a mente da criança a se
expandir. Quando em um grupo familiar a criança não tem possibilidade de usufruir seu
extinto natural de investigação, a chance de pensar, ela tenta localizar em si mesma a
causa de desamor que paira sobre ela. Chegando à conclusão de que sofre por sua
própria natureza.
Somado ao fato que tal descaso sentimental perante os filhos resulta em
distúrbios de comportamento, de relacionamento social, problemas escolares, depressão,
tristeza, baixa autoestima, inclusive problemas de saúde, entre outros devidamente
comprovados por estudos clínicos e psicológicos.24 Isso tudo gerado no interior da
criança a partir de indagações que permeiam seu cotidiano, buscando entender porque

23
BRAGA, J. C. Oliveira. Abandono afetivo: Da urgência do diálogo entre direito e psicanálise.
Universidade Veiga de Almeida. Rio de Janeiro, dezembro de 2012, p. 130.
24
BICCA, Charles. Abandono afetivo: o dever de cuidado e a responsabilidade civil por abandono de
filhos. Brasília, DF: owl, 2015.
15

os pais de seus amigos o buscam na escola, demonstram afeto enquanto o dele nem se
quer liga para saber de ele está bem.
Além do mais, quando a criança é gerada em um ambiente frágil, frio, gera
futuramente uma incapacidade de amar, de se relacionar, de se aceitar como sujeito e ser
capaz de ser relacionar com outro sujeito. Resultando no rompimento com suas relações
saudáveis a fim de se proteger de dar e receber sentimentos de amor e carinho que nos
primórdios não obteve. Pelo simples fato que para qualquer relação, precisa-se de um
reconhecimento sentimental mútuo e genuíno. E torna-se difícil dividir o que nunca se
ganhou.25
Os efeitos do abandono afetivo não afetam apenas as pessoas que passam por
esse descaso. É natural do ser humano ter necessidade do outro, no início da vida
principalmente. Ser rodeado de pessoas, trocar afinidade, experiências, ternuras, são
sentimentos normais. Viver isolado não é a tendência do ser humano. A sociedade se
funde de pessoas que tem experiências e especificidades próprias, e então o abandono
afetivo ultrapassa questões pessoais atingindo assim a população como um todo,
tornando-se um problema de saúde pública. E a frequência dessa problemática no
cenário brasileiro tende a ser um obstáculo para o equilíbrio social, assim apara
perquirir solucionar tais diligencias recorre-se a esfera jurídica para restabelecer a
constância das relações. 26
Pensa-se que o número de crianças e adolescentes envolvidos com tráfico,
drogas, gravidez precoce, tabagismo, crimes, se dá isoladamente por falta de políticas
públicas, no entanto tais acontecimentos devem ser associados ao abandono que são
acometidos, tanto materialmente como sentimentalmente. Um vazio tentando ser
preenchido com outros vazios.

2.4. DA REVERSÃO DAS CONSEQUENCIAS DO ABANDONO AFETIVO

Quando o indivíduo nasce, e está inserido em um ambiente familiar precário de


presença firme, tranquila e amorosa, parece que já está sentenciado a padecer das
mazelas de seu abandono afetivo. No entanto, para alterar essa realidade, tem-se a

25
SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo. Blucher: 2017, p. 202-208.
26
COSTA, Débora Souto. O abandono afetivo e o dano moral à luz do princípio da dignidade da pessoa
humana. Universidade Católica do Salvador. Salvador: 2012, p. 34-45.
16

psicanálise, que consiste em um método terapêutico que explica o funcionamento da


mente.
A psicanálise tem o escopo ajudar o paciente a entender suas experiências
psíquicas vividas, o que passa em sua mente e interior. Ajudá-lo a sair do estado de
inércia e superar dores que parecem ser insuportáveis, encontrar defesas para a perda de
sentido. Comparado ao Direito, que em um cenário visa julgar as partes integrantes da
relação jurídica, a psicanálise não julga e avalia ninguém, e sim buscando compreender
o que se passa com pacientes difíceis. Decerto por carregarem um sofrimento mortal em
sua alma ou cicatrizes mal fechadas de experiências traumáticas do seu abandono
afetivo. 27
Outra maneira de amenizar tal situação e suportá-la é quando a criança transfere
para outro “objeto” suas expectativas, anseios e desejos. Assim faz dele um substituto,
que simboliza o objeto principal. Necessitando de um lugar que poderá analisar as
diferenciações que o caracterizam e fazer a substituição de acordo com suas carências.
Nas palavras de Schor: “O meio maleável é, simultaneamente, o solo para o trabalho de
simbolização e o espelho que permite simbolizar o processo simbolizante”.28
Entretanto, antes da geração do problema e da desenvoltura de seqüelas físicas e
emocionais na vida de uma pessoa que passa por tamanha turbulência, têm-se
mecanismos que podem agir na prevenção desses resultados. Certo é que os pais têm
papéis primordiais na vida de um filho, mas quando estes não vêm a cumpri-los uma
maneira de proteger os menores de tais abusos psicológicos é com a implementação de
pessoas que possam substituir e suprir tais funções na vida deles. A preferência é que
seja por pessoas pertencentes ao seio familiar. O próprio ECA diz que a criança e
adolescente deve ser criado e educado preferencialmente no seio de sua família, sendo a
colocação em família substituta medida excepcional.
Além do mais a própria justiça brasileira vem se mobilizando para sanar tal
problemática que tem ocorrido com a sociedade em diferentes classes e regiões. São
notórios os prejuízos que resultam a uma criança e adolescente que se vêm
desamparados de amor e carinho, e frente a isso o Conselho Nacional de Justiça
recomendou uma série de ações na Recomendação n° 50 de 08/05/2014, em que
incentiva aos Tribunais de Justiça, Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunais

27
BRAGA, J. C. Oliveira. Abandono afetivo: Da urgência do diálogo entre direito e psicanálise.
Universidade Veiga de Almeida. Rio de Janeiro, dezembro de 2012, p. 128- 137.
28
SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo. Blucher: 2017, p. 171-180.
17

Regionais Federais realização de estudos e de ações tendentes a dar continuidade ao


Movimento Permanente pela Conciliação. E uma de suas recomendações é de adotarem
oficinas de parentalidade como política pública na resolução e prevenção de conflitos
familiares. Um dos tribunais que já adotou tal medida foi o do Paraná, Londrina, que
instalou o Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania (CEJUSC), o intuito e
aconselhar os pais quando há a ruptura do vínculo afetivo- conjugal a permanecer uma
relação parental saudável com os filhos.29
Ressalta-se que no Brasil, a jurisprudência e a doutrina, ainda que divergente, já
vêm se posicionando a favor de uma indenização decorrente da privação e não
cumprimento de direitos e deveres jurídicos, impostos pela nova ordem constitucional
aos membros de uma família, caracterizando um ilícito civil. Inicialmente não se via nas
relações familiares a necessidade de responsabilização por descumprimento dos deveres
inerentes a cada membro. No entanto, com o decorrer do tempo tornou-se evidente que
para manter os laços familiares e preservar a dignidade da pessoa humana, era
necessário que o indivíduo respondesse por suas condutas também no seio familiar.
O posicionamento atual do Superior Tribunal de Justiça é de que havendo
negligência dos deveres precípuos inerentes a paternidade é suficiente para caracterizar
a responsabilidade civil. Na Resp. 1.159.242/SP, a relatora Ministra Nancy Andrigy,
entendeu que o ser humano para sua manutenção precisa além do básico, de outros
elementos imaterias necessários a adequada formação do ser humano. Não discutindo a
obrigação de amar, mas a imposição jurídica de cuidar. 30
Em contrapartida na uma apelação n° 70050203751, a Oitava Câmara Cível do
Estado do Rio Grande do Sul, indeferiu o pedido de indenização por abandono afetivo,
sob o argumento de que mesmo trazendo abalos psicólogos em razão da falta de afeto,
não pode prever a responsabilidade civil por impossibilidade de aferição da culpa.
A responsabilidade civil dentro da família encontra dificuldades por ser um
instituto de caráter extrapatrimonial. Contudo, a Constituição ao estabelecer a dignidade
da pessoa humana como fundamento, elevou a valorização das situações existenciais
sobre as situações patrimoniais. Sendo que para sua configuração, precisa de uma

29
AVANSINI, Carolina. Comum após a separação, abandono afetivo dos filhos está na mira da justiça.
Bonde: Paraná, nov./2015.
30
SILVA, Laísa Santos. Responsabilidade Civil por abandono afetivo: Punição pela violação do dever
de cuidado ou preço por não amar? Universidade de Santa Catarina. Florianópolis, 2017, p. 74-76.
18

conduta dolosa ou culposa, que tenha nexo de causalidade com o dano. Assim a
responsabilidade civil familiar é do tipo subjetivo.31
Da análise dos elementos integradores da responsabilidade civil, encontra-se o
dano. Que pode ser entendido com um prejuízo sofrido por alguém, e no caso em
análise pela ausência de convivência familiar ou outros deveres inerentes aos pais.
Como conceitua Cavalieri: “A subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer
que seja a sua natureza, quer se trate de um b em patrimonial, quer se trate de um bem
integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, imagem, liberdade
etc”.32 E a ideia da culpa, abrange tanto sentido genérico, incluindo o dolo ou no seu
33
sentido estrito, caracterizado pela negligência, imprudência ou imperícia. E entre
ambos deve haver o nexo de causalidade, em que o dano sofrido pelo indivíduo advenha
de uma consequência culposa do agente. Resultando assim um dano moral.
Não se trata da intenção isolada de atribuir valor pecuniário ao desamor e nem
da análise profunda se presentes os requisitos da responsabilidade civil. E sim
identificar e compartilhar a importância e grandes consequências que o desafeto pode
gerar dentro de cada família e resvalar na sociedade. Salientar a relevância institucional
da família para preservar o ser humano e permitir sua formação de forma eficaz. 34 A
responsabilidade civil dos dias atuais deve ser vista como uma maneira de restabelecer o
equilíbrio moral e patrimonial desfeito pelo descumprimento de prescrições legais
integrantes do ordenamento jurídico. 35

2.5. AS INCONGRUÊNCIAS DO ABANDONO AFETIVO SOB A ÓTICA DO


ORDENAMENTO JURÍDICO

Sabe-se que o ordenamento jurídico nada mais é do que a expressão escrita do


que ocorre na sociedade real. Sociedade essa que evolui cada vez mais com o passar do
tempo. E para o Estado acompanhar e legislar sobre os modernos enfoques sociais
torna-se dificultoso, pois a realidade sempre antecede ao direito. E não foi diferente com

31
NETA, Ainah H. Angelini. Convivência parental e responsabilidade Civil. Juruá: Curitiba, 2016, p.
146- 156.
32
CAVALIERI, Filho Sergio. Programa de responsabilidade civil. 9. Ed. São Paulo: Atlas, 2010, p.73.
33
ZACCHI, Simone Pamplona. Abandono afetivo paterno filial: A (im)possibilidade de responsabilização
civil paterna pelo abandono dos filhos menores. Universidade do Sul de Santa Catarina. Palhoça, 2015, p.
40.
34
. ANGELUCI, Cleber Afonso. Abandono afetivo: considerações para a constituição da dignidade da
pessoa humana. Revista CEJ, Brasília, n. 33, p.52, abr./jun. 2006.
35
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. Ed. 28. Saraiva:
2014, p. 21-26.
19

a instituição família, que foi se amoldando de acordo com as vivências sociais. As


pessoas passaram a ser unidas não pelo casamento, mas pelo afeto que é criado dentro
do núcleo familiar e que ajuda no desenvolvimento de cada integrante. 36
Não obstante, a esfera jurídica ainda não atribuía valor e relevância ao amor para
a pessoa e para a sociedade, pois prevalecia uma proteção ao patrimônio. A partir da
conscientização da mudança de paradigmas o Estado rompeu com seu entendimento
anterior do que vinha a ser família, para perceber, aceitar e regular os novos moldes que
se enquadrava, uma relação formada pelo afeto, laços, ultrapassando o vínculo
biológico. Além de corroborar para concretização do princípio da dignidade da pessoa
humana.
A Constituição da República de 1988 ao elencar o princípio da dignidade da
pessoa humana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil atestou e
elevou a importância do ser humano. O Brasil Aprovou pela Resolução n° 217 em 1948,
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinando a valorização humana e a sua
necessária proteção. Fundamentando-se pela harmonia, amor, afeto o princípio da
dignidade da pessoa humana irradia para outros ramos além do constitucional.
Privilegiando as relações pautadas em seres humanos, em sentimentos abstratos, não
impondo apenas deveres para o indivíduo, mas outorgando-lhe direitos que permitem
que não apenas vivam, mas vivam a cada dia com respeito, justiça, harmonia, que sejam
titulares de condições mínimas para coexistir no lugar em que está inserido, onde deve
imperar o respeito e a consideração mútua entre os demais seres. E nada mais humano
do que a instituição familiar, lugar onde emana e pratica-se a liberdade, igualdade,
justiça. 37
No entanto a Constituição não se limita apenas a esse princípio. O seu
preâmbulo traz em seu texto a solidariedade fraternal. Ser solidário nada mais é do que
ter empatia por alguém, cuidar se colocar à disposição para ajudar. E dentro de cada
família, cada partícipe tem o dever de assumir responsabilidades e ter as suas funções
bem definidas para o crescimento e desenvolvimento sadio do lar. O próprio Código
Civil trouxe alguma dessas responsabilidades, como a reciprocidade da prestação de
alimentos, mas tal solidariedade da matença familiar não deve se limitar apenas ao seu
sustento material. Um verdadeiro lar, além disso, é pautado na união, amor, cuidado. E a

36
ANGELUCI, Cleber Afonso. Abandono afetivo: considerações para a constituição da dignidade da
pessoa humana. Revista CEJ, Brasília, n. 33, p. 48 e 49, abr./jun. 2006.
37
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013,
p. 64 e 65.
20

própria Carta Magna também trouxe em seu art. 227 o direito da criança e do
adolescente ao convívio familiar, pois o afeto e a solidariedade decorrem desse direito.
Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8.069/1990) amplia os
direitos dos infantes, sendo vistos como sujeitos capazes de gozar de direitos
fundamentais. Mas levando em consideração sua vulnerabilidade e a necessidade de ser
amparado, conduzido, para seu sustento e sobrevivência, até ter a possibilidade de fazê-
lo por si só, o ECA traz dispositivos que asseguram o cumprimento de deveres,
fornecendo as crianças e aos adolescentes proteção integral, suporte e apoio para seu
pleno desenvolvimento social, moral, intelectual. 38
Ressalta-se que quando a Constituição reconheceu a união estável como
entidade familiar, se desvinculou do entendimento pretérito que a família apenas era
constituída pelo casamento. Dessa forma acrescentou um valor jurídico ao afeto, pois
tais relações eram formadas pelo vínculo sentimental que conectava as pessoas. Mesmo
não sendo de maneira expressa, a Carta Magna aumentou a importância do afeto e
realização individual. E, por conseguinte não se limita apenas ao seio familiar, pois a
sociedade é feita da soma de pessoas que emanam de um núcleo familiar, onde formou
seu caráter, sua personalidade, sua ética. Assim a base da organização social, como a
própria constituição diz que é a família, vai estar sólida, mais humana, mais solidária,
39
mais forte.
Sendo a Constituição norma fundamental e suprema do Estado que está no topo
do ordenamento jurídico e regula as relações sociais, de observância obrigatória de
todos, não cumprir sua norma resultaria em clara violação ao texto constitucional. Um
núcleo familiar que não prioriza a essência do ser humano, que não é base de sustento,
desenvolvimento, solidariedade, respeito, acaba que violando o texto constitucional.
O reconhecimento Estatal da importância familiar faz com que se tenha uma
proteção especial à instituição que desenvolve cada pessoa, que ensina precipuamente a
maneira de se relacionar. E com esse intuito foram criados no ordenamento jurídicos
dispositivos a fim de efetivar tal medida. E inobservar tais mandamentos seria uma
afronta direta não só a literalidade dos textos, como também a própria essência da
instituição família. Pois o conjunto de regras abstratas e gerais a respeito do direito
familiar incide sobre todos, devendo ser rigorosamente cumpridos. Antes de o Estado

38
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013,
p. 64 e 71.
39
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013,
p. 72 e 73.
21

entrar com sua provisão, deve a família e a sociedade cumprir com suas obrigações à
medida que estiverem ao seu alcance.40

3. CONCLUSÃO

Após o estudo realizado, resta claro que o abandono afetivo pode gerar inúmeros
danos ao indivíduo que se vê privado de condições adequadas para seu progresso
pessoal. Quando os pais não cumprem seu papel precípuo na vida de um filho,
sobretudo do ponto de vista sentimental, estão relativizando a sensibilidade infantil. Isso
traz resultados negativos na construção da personalidade humana, nos futuros
relacionamentos, bem como solidão.
Tendo como premissa a proteção institucional familiar o sistema normativo
jurídico tem por escopo estabelecer algumas regras de observância obrigatória. Tal qual
a sua inobservância pode acarretar reparação pela via judicial. Além disso, a maior
intenção estar em proteger os laços familiares, e reconhecer a importância desse núcleo
para a sadia estrutura organizacional. Uma vez que a sociedade é elaborada pelas
famílias, inferindo-se que se temos uma sociedade violenta, possivelmente essa
violência começou dentro de casa.
Dessa maneira olhar pela base nuclear da sociedade, atribui valor a cada
integrante da casta, zelar por relações saudáveis, iria prevenir a fragilização da família e,
por conseguinte do convívio social. Isso seria mais viável com a aproximação entre o
Direito e a Psicanálise. Cada matéria em si não é inteira, dialogar com as disciplinas é
trazer completude para o estudo de temas. Mas esta articulação é necessária no
momento em que a absorção dos princípios da dignidade pelo ordenamento jurídico
possibilitou uma reconfiguração, sem precedentes, das relações interpessoais na
sociedade contemporânea a demandar uma nova perspectiva do sujeito pelo viés da
Psicanálise.
O Direito quando reconhece e protege as novas formas de composição familiar,
nada mais está do que permeando as relações dos sujeitos e atribuindo valor a cada um
deles. Vislumbrar o Direito além da objetividade, e atribui valor aos desejos
inconsciente. Em relação à afetividade, cabe às ciências psicológicas fixar o seu

40
Constituição Federal 1988.
22

conteúdo, restando ao Direito, imputar sentido a essa afirmação, reconhecendo o valor


da afetividade e exigindo as condutas necessárias à sua proteção.

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JURISPRUDÊNCIA
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. APELAÇÃO CÍVEL N° 70053030284. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR ABANDONO MATERIAL, MORAL E AFETIVO. ABALO EMOCIONAL
24

PELA AUSÊNCIA DO PAI. Relatora: Des.ª Liselena Schifino Robles Ribeiro. Porto Alegre, 07 de
fevereiro de 2013.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO N° 0011643-


61.2012.8.19.0023. ABANDONO AFETIVO. DEVER DE CUIDADO. REPARAÇÃO POR DANOS
MORAIS. POSSIBILIDADE. ACORDO FIRMADO ENTRE AS PARTES. HOMOLOGAÇÃO.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. Embargante: José Ribamar De Souza Filho Embargada: Katiane
Gonçalves De Souza. Relator: Desembargadora Renata Machado Cotta. Rio de Janeiro, 14 de agosto de
2014.

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