TCC Faculdade
TCC Faculdade
TCC Faculdade
Curso de Direito
Rio de Janeiro
2018.1
2
Rio de Janeiro
2018.1
3
RESUMO
Este trabalho visa demonstrar os traumas que podem ser acarretados a um infante que
seja desprovido de afeto parental em idade tenra, idade primordial para sua formação e
desenvoltura. Bem como indicar se tais efeitos são passíveis de reparação. Apontar as
possíveis causas que levam os responsáveis a negligenciarem suas proles de amor,
carinho e atenção. É analisado também quais são as responsabilidades dos pais e o
exercício do poder familiar. Demonstrando a importância familiar como base e suporte
da construção física, psíquica e emocional. Nele constam as novas e diferentes formas
de instituir uma família e o devido amparo do ordenamento jurídico. Uma vez que
diferentes níveis hierárquicos atribuem valor a instituição família.
SUMÁRIO
1. Introdução; 2. Desenvolvimento; 2.1 Conceito de família; 2.2
Responsabilidades paternas em relação aos filhos; 2.3 Causas e efeitos do abandono
afetivo; 2.4 Da reversão das consequências do abandono afetivo; 2.5 As incongruências
do abandono afetivo sob a ótica do ordenamento jurídico; 3. Conclusão; 4. Referências.
1. INTRODUÇÃO
1
Aluna da UNESA do Campus Presidente Vargas, cursando o 10º período do Curso de Direito.
4
2. DESENVOLVIMENTO
2
COSTA, Débora Souto. O abandono afetivo e o dano moral à luz do princípio da dignidade da pessoa
humana. Universidade Católica do Salvador- Mestrado em Família na sociedade contemporânea.
Salvador: 2012, p. 15-29.
6
O termo família, nos dias atuais, tem uma concepção múltipla, plural,
podendo dizer respeito a um ou mais indivíduos, ligados por traços
biológicos ou sócio-psico-afetivos, com intenção de estabelecer,
eticamente, o desenvolvimento da personalidade de cada um. 4
Sendo assim a instituição família foi ganhando traços de acordo com sua
evolução. A família no Código Civil de 1916 era matrimonializada, patriarcal,
hierarquizada, heteroparental, biológica, unidade de produção e reprodução e vista
apenas como uma instituição. Ao passo que a família na Constituição de 1988 e no
Código Civil de 2002, passou a ser pluralizada, democrática, igualitária
substancialmente, hetero e homo parental, biológica ou socioafetiva, e de caráter
instrumental. Pois como cita Farias e Rosenvald: “tornou-se inviável estabelecer um
modelo familiar uniforme, havendo a necessidade de traduzi-la em conformidade com
as transformações sociais no decorrer do tempo”. 5
A família não se limita apenas a sua estrutura formal. Ela compreende um
ambiente em que se compartilha afeto, comunicação, experiências, dentre outras coisas.
Certo é que esta instituição corrobora para o crescimento, desenvolvimento e inserção
de cidadãos dentro da sociedade.6Dessa maneira evidencia-se a importância do núcleo
familiar em desenvolver a personalidade humana, caráter, essências estabelecidas desde
cedo no interior de cada um, que irão direcionar o indivíduo por toda sua vida. Além de
ser na infância que surge no ser humano a mais importante e radical ocorrência no
processo evolutivo, isto é, a autoconsciência.
Quando o indivíduo tem a oportunidade de estar em um lar sólido, bem
estruturado que o faça crescer, aprender e apreender faz com que ele seja autorealizado,
determinado, com seus sentimentos bem resolvidos.
3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 11 ed.– Volume seis. Brasil: Saraiva, 2014, p.
18.
4
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 11 ed.– Volume seis. Brasil: Saraiva, 2014, p.
18.
5
FARIAS, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Direito das famílias. 2 ed. Rio de janeiro: Lumen Juris,
2010, p.23.
6
ALVES, Leonardo B. Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família. Revista
jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Minas Gerais: p. 330-333, Nov/2007.
7
7
CAMARGO, M. Ética, vida e saúde. 3. Ed. Petropólis: Vozes, 1976.
8
NORONHA, MaressaMaelly Soares; PARRON, Stênio Ferreira. A evolução do conceito de família.
[s/d]
9
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013,
p. 29 e 36.
10
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 11 ed. – Volume seis. Brasil: Saraiva, 2014, p.
417 e 418.
8
Essas responsabilidades dos pais podem ser entendidas como o Poder Familiar.
Que nada mais é do que regras a serem seguidas pelos pais na criação de seus filhos. De
acordo com Maria Helena Diniz a definição e as características do poder familiar:
11
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 23 ed. São Paulo: Saraiva
2008, p. 539.
9
12
TARTUCE, Flávio. Direito de família. 12. Ed.- Volume 5. Brasil: Forense, p. 507, 2017.
13
PEREIRA, Rodrigo Cunha; SILVA, Cláudia Maria. Nem só de pão vive o homem. Sociedade e Estado,
Brasília, v. 21, n. 3, p. 667-680, set./dez 2006.
10
Pai é alguém que, por causa do filho, tem sua vida inteira mudada de forma
inexorável. Isso não é verdadeiro do pai biológico. É fácil demais ser pai
biológico. Pai biológico não precisa ter alma. Um pai biológico se faz num
momento. Mas há um pai que é um ser da eternidade: aquele cujo coração
caminha por caminhos fora do seu corpo. Pulsa, secretamente, no corpo do seu
filho (muito embora o filho não saiba disso). 14
Dessa maneira pode-se perceber que as responsabilidades dos pais perante seus
filhos sobrepõem o conjunto de diretrizes do texto constitucional e dispositivos infra-
legais. Que ao somar tais deveres e obrigações com um suporte sólido de um lar
direcionado a suprir necessidades extrapatrimoniais de suas proles, resultará em pessoas
mais fortes, autorealizadas e determinadas.
Tendo em vista as responsabilidades paternas elencadas no ordenamento
jurídico, indaga-se sobre a obrigatoriedade dos pais em conceder atenção, amor, carinho
e afeto a seus filhos. De início pode-se declarar que existem divergências
jurisprudenciais a cerca do tema. Sob esse entendimento a 7ª Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul15, alegou que a falta deatenção do pai ou de um suporte
presencial não violam dispositivos legais, reconhecendo a turma como decorrência de
fato da vida.
Por outro lado, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro16 deu um parecer
favorável à pretensão da criança de ter amor e acolhimento paternal. Sob essa égide
conclui-se que amor e atenção não são obrigatórios aos pais na criação de seus filhos. A
lei não impõe expressamente a nenhuma pessoa o dever de amar, mas apresenta deveres
obrigacionais em que o infante tem direito de convivência e companhia. Contudo, a lei é
transparente ao impor aos pais a companhia, guarda, direção e educação dos infantes.
Somado ao encargo de sustento deve haver a convivência familiar, onde se desenvolve
um vínculo afetivo, em que cada integrante da família se sente seguro, acolhido e
protegido.17
Na atualidade, as questões afetivas que chegam ao judiciário são vistas do ponto
de vista da responsabilidade civil como reparação dos danos causados pela ausência de
educação, amor, inerentes as responsabilidades dos pais. Mas na verdade o que deveria
14
ALVES, Rubem. Um mundo num grão de areia: o ser humano e seu universo. Campinas: Verus, 2002.
15
APELAÇÃO nº 70053030284
16
RECURSO n° 0011643- 61.2012.8.19.0023
17
PEREIRA, Rodrigo Cunha; SILVA, Cláudia Maria. Nem só de pão vive o homem. Sociedade e Estado,
Brasília, v. 21, n. 3, p. 672-677, set./dez 2006.
11
ser priorizado são os danos sofridos.18A lei não impõe expressamente a nenhuma pessoa
o dever de amar, mas apresenta deveres obrigacionais como o direito de companhia e
convivência dos filhos. Deve-se ressaltar que as relações parentais são desiguais, tendo
em vista que há uma parte vulnerável e dependente.
18
MORAES, Maria Celina Bodin. Deveres parentais e responsabilidade civil. Revista Brasileira de
Direito de Família, Porto Alegre: ago./set. 2005.
19
FONSECA, P. Maria. Síndrome de alienação parental. Pediatria: São Paulo, 2006; p. 263-266.
12
20
ROUSSILLON, R. Teoria da simbolização: a simbolização primária. São Paulo: Escuta, 2013, p. 265.
21
SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo. Blucher: 2017, p. 160 e 161.
22
SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo. Blucher: 2017, p. 17-30.
13
com seu crescimento natural passa a ter uma maior percepção da realidade, começa a se
identificar como um uma pessoa independente, com suas escolhas, seus atos, mas ao
mesmo tempo consegue perceber que existe um liame entre ela, seus pais e pessoas com
quem convive. Aqui surge o papel crucial para a formação do indivíduo, qual seja o
amor.
A formação da personalidade é um processo contínuo que se inicia como
nascimento e culmina com a morte. A personalidade nada mais é do que a soma dos
sistemas físicos, fisiológicos, psíquicos e morais, que interligados individualizam cada
indivíduo. Para tanto cada espaço vai sendo preenchido de acordo com as informações,
ensinamentos que vão tendo ao longo da vida. Quanto mais estáveis forem as relações
que permeiam o ser humano desde seu nascimento, maior a probabilidade de formação
ser mais consistente, firme e servir de base e apoio para a construção de sua jornada.
O direito da personalidade, não é propriamente um direito, mas sim um conceito
jurídico, sob o qual estão firmados os direitos. Está associado ao reconhecimento da
dignidade da pessoa humana, sendo um atributo essencial para o desenvolvimento
físico, psíquico e morais de todo ser humano. Não possui valor econômico, pois está
relacionado diretamente com o indivíduo, e na conjuntura atual reconhecido como
direito subjetivo. Então com a valorização da pessoa e conscientização da importância
do direito da personalidade, a esfera jurídica o protege e resguarda para que haja
respeito e não seja violado.
O grande cerne da questão é que crianças são vistas como um ser que não tem
capacidade de compreensão, que não entendem das coisas, e que são incapazes de
absorver e lembrar sua realidade enquanto seres infantis, e até mesmo como se fossem
ausentes de sentimentos. Como se tudo que fizesse estivesse envolto em uma fantasia,
abstrata sem nenhuma importância ou valor. Mas na verdade demonstra um desrespeito
contra o ser humano ainda no início de sua trajetória. Ninguém vira adulto do nada.
Para se chegar nessa fase foi acumulado conhecimentos, ensinamentos que fizeram
aquela pessoa.
A criança em plena vigência da dependência infantil, quando se vê ausente de
acolhimento, carinho e preocupação tenta encontrar maneiras de subverter-se a essa
situação. Dentre essas maneiras podem-se encontrar crianças vivazes e adoráveis,
fazendo seu mundo colorido, na busca de encontrar ajuda para colorir a parte escura de
encontra em seu interior. Bem como na tentativa de fugir de um vazio, sentimento de
culpa inconsciente e depressão. Ou crianças que na impossibilidade de pertencer e
14
adentrar o mundo dos outros acabam que fazendo seu próprio universo e vivendo
sozinhas, na solidão.
Os buracos do abandono afetivo também tendem a ser preenchidos por
expressões destrutivas, a criança para se defender acaba que agindo de forma, agressiva
e violenta. A criança se vê impotente frente a essa situação, e às vezes até acha que a
culpa para o afastamento amoroso dos pais está nela. Ou então pensa que houve um
assassinato simbólico da representação dos pais, marcando assim a culpa e a prática de
um crime. Atraindo assim uma punição para aliviar o que sente mesmo a razão sendo
desconhecida, como ingerência da sua consciência moral.23Sendo assim nota-se a
importância da análise dentro do Direito da subjetividade ao proibido e avaliar quais são
as causas que levam o homem a envolver-se nos atos ilícitos da vida. Para a criança ter
uma personalidade sadia, ser controladora de seus impulsos e comportamentos, cuja
ausência ou disfunção severa acarreta abalo na personalidade, necessitam de suporte de
alguém que lhe ajude a organizar seu interior, suas emoções e o tanto de coisas novas
que está aprendendo.
Com o abandono afetivo, situação que é dificilmente absorvida e metabolizada
pelo aparelho mental infantil, surge um sofrimento intolerável e a tendência é que o
infante entre em um processo de transe, resultando em uma desorientação psíquica que
o torna inerte a percepção da realidade, tanto de si mesmos quanto do outro e do mundo.
Além do conceito dos pais de enxergarem seus filhos como seres incompreensíveis,
incapazes de perceberem o que lhes cerca, impedem a criança de ver que tem
capacidade para suas próprias compreensões do mundo. Limita a mente da criança a se
expandir. Quando em um grupo familiar a criança não tem possibilidade de usufruir seu
extinto natural de investigação, a chance de pensar, ela tenta localizar em si mesma a
causa de desamor que paira sobre ela. Chegando à conclusão de que sofre por sua
própria natureza.
Somado ao fato que tal descaso sentimental perante os filhos resulta em
distúrbios de comportamento, de relacionamento social, problemas escolares, depressão,
tristeza, baixa autoestima, inclusive problemas de saúde, entre outros devidamente
comprovados por estudos clínicos e psicológicos.24 Isso tudo gerado no interior da
criança a partir de indagações que permeiam seu cotidiano, buscando entender porque
23
BRAGA, J. C. Oliveira. Abandono afetivo: Da urgência do diálogo entre direito e psicanálise.
Universidade Veiga de Almeida. Rio de Janeiro, dezembro de 2012, p. 130.
24
BICCA, Charles. Abandono afetivo: o dever de cuidado e a responsabilidade civil por abandono de
filhos. Brasília, DF: owl, 2015.
15
os pais de seus amigos o buscam na escola, demonstram afeto enquanto o dele nem se
quer liga para saber de ele está bem.
Além do mais, quando a criança é gerada em um ambiente frágil, frio, gera
futuramente uma incapacidade de amar, de se relacionar, de se aceitar como sujeito e ser
capaz de ser relacionar com outro sujeito. Resultando no rompimento com suas relações
saudáveis a fim de se proteger de dar e receber sentimentos de amor e carinho que nos
primórdios não obteve. Pelo simples fato que para qualquer relação, precisa-se de um
reconhecimento sentimental mútuo e genuíno. E torna-se difícil dividir o que nunca se
ganhou.25
Os efeitos do abandono afetivo não afetam apenas as pessoas que passam por
esse descaso. É natural do ser humano ter necessidade do outro, no início da vida
principalmente. Ser rodeado de pessoas, trocar afinidade, experiências, ternuras, são
sentimentos normais. Viver isolado não é a tendência do ser humano. A sociedade se
funde de pessoas que tem experiências e especificidades próprias, e então o abandono
afetivo ultrapassa questões pessoais atingindo assim a população como um todo,
tornando-se um problema de saúde pública. E a frequência dessa problemática no
cenário brasileiro tende a ser um obstáculo para o equilíbrio social, assim apara
perquirir solucionar tais diligencias recorre-se a esfera jurídica para restabelecer a
constância das relações. 26
Pensa-se que o número de crianças e adolescentes envolvidos com tráfico,
drogas, gravidez precoce, tabagismo, crimes, se dá isoladamente por falta de políticas
públicas, no entanto tais acontecimentos devem ser associados ao abandono que são
acometidos, tanto materialmente como sentimentalmente. Um vazio tentando ser
preenchido com outros vazios.
25
SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo. Blucher: 2017, p. 202-208.
26
COSTA, Débora Souto. O abandono afetivo e o dano moral à luz do princípio da dignidade da pessoa
humana. Universidade Católica do Salvador. Salvador: 2012, p. 34-45.
16
27
BRAGA, J. C. Oliveira. Abandono afetivo: Da urgência do diálogo entre direito e psicanálise.
Universidade Veiga de Almeida. Rio de Janeiro, dezembro de 2012, p. 128- 137.
28
SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo. Blucher: 2017, p. 171-180.
17
29
AVANSINI, Carolina. Comum após a separação, abandono afetivo dos filhos está na mira da justiça.
Bonde: Paraná, nov./2015.
30
SILVA, Laísa Santos. Responsabilidade Civil por abandono afetivo: Punição pela violação do dever
de cuidado ou preço por não amar? Universidade de Santa Catarina. Florianópolis, 2017, p. 74-76.
18
conduta dolosa ou culposa, que tenha nexo de causalidade com o dano. Assim a
responsabilidade civil familiar é do tipo subjetivo.31
Da análise dos elementos integradores da responsabilidade civil, encontra-se o
dano. Que pode ser entendido com um prejuízo sofrido por alguém, e no caso em
análise pela ausência de convivência familiar ou outros deveres inerentes aos pais.
Como conceitua Cavalieri: “A subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer
que seja a sua natureza, quer se trate de um b em patrimonial, quer se trate de um bem
integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, imagem, liberdade
etc”.32 E a ideia da culpa, abrange tanto sentido genérico, incluindo o dolo ou no seu
33
sentido estrito, caracterizado pela negligência, imprudência ou imperícia. E entre
ambos deve haver o nexo de causalidade, em que o dano sofrido pelo indivíduo advenha
de uma consequência culposa do agente. Resultando assim um dano moral.
Não se trata da intenção isolada de atribuir valor pecuniário ao desamor e nem
da análise profunda se presentes os requisitos da responsabilidade civil. E sim
identificar e compartilhar a importância e grandes consequências que o desafeto pode
gerar dentro de cada família e resvalar na sociedade. Salientar a relevância institucional
da família para preservar o ser humano e permitir sua formação de forma eficaz. 34 A
responsabilidade civil dos dias atuais deve ser vista como uma maneira de restabelecer o
equilíbrio moral e patrimonial desfeito pelo descumprimento de prescrições legais
integrantes do ordenamento jurídico. 35
31
NETA, Ainah H. Angelini. Convivência parental e responsabilidade Civil. Juruá: Curitiba, 2016, p.
146- 156.
32
CAVALIERI, Filho Sergio. Programa de responsabilidade civil. 9. Ed. São Paulo: Atlas, 2010, p.73.
33
ZACCHI, Simone Pamplona. Abandono afetivo paterno filial: A (im)possibilidade de responsabilização
civil paterna pelo abandono dos filhos menores. Universidade do Sul de Santa Catarina. Palhoça, 2015, p.
40.
34
. ANGELUCI, Cleber Afonso. Abandono afetivo: considerações para a constituição da dignidade da
pessoa humana. Revista CEJ, Brasília, n. 33, p.52, abr./jun. 2006.
35
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. Ed. 28. Saraiva:
2014, p. 21-26.
19
36
ANGELUCI, Cleber Afonso. Abandono afetivo: considerações para a constituição da dignidade da
pessoa humana. Revista CEJ, Brasília, n. 33, p. 48 e 49, abr./jun. 2006.
37
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013,
p. 64 e 65.
20
própria Carta Magna também trouxe em seu art. 227 o direito da criança e do
adolescente ao convívio familiar, pois o afeto e a solidariedade decorrem desse direito.
Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8.069/1990) amplia os
direitos dos infantes, sendo vistos como sujeitos capazes de gozar de direitos
fundamentais. Mas levando em consideração sua vulnerabilidade e a necessidade de ser
amparado, conduzido, para seu sustento e sobrevivência, até ter a possibilidade de fazê-
lo por si só, o ECA traz dispositivos que asseguram o cumprimento de deveres,
fornecendo as crianças e aos adolescentes proteção integral, suporte e apoio para seu
pleno desenvolvimento social, moral, intelectual. 38
Ressalta-se que quando a Constituição reconheceu a união estável como
entidade familiar, se desvinculou do entendimento pretérito que a família apenas era
constituída pelo casamento. Dessa forma acrescentou um valor jurídico ao afeto, pois
tais relações eram formadas pelo vínculo sentimental que conectava as pessoas. Mesmo
não sendo de maneira expressa, a Carta Magna aumentou a importância do afeto e
realização individual. E, por conseguinte não se limita apenas ao seio familiar, pois a
sociedade é feita da soma de pessoas que emanam de um núcleo familiar, onde formou
seu caráter, sua personalidade, sua ética. Assim a base da organização social, como a
própria constituição diz que é a família, vai estar sólida, mais humana, mais solidária,
39
mais forte.
Sendo a Constituição norma fundamental e suprema do Estado que está no topo
do ordenamento jurídico e regula as relações sociais, de observância obrigatória de
todos, não cumprir sua norma resultaria em clara violação ao texto constitucional. Um
núcleo familiar que não prioriza a essência do ser humano, que não é base de sustento,
desenvolvimento, solidariedade, respeito, acaba que violando o texto constitucional.
O reconhecimento Estatal da importância familiar faz com que se tenha uma
proteção especial à instituição que desenvolve cada pessoa, que ensina precipuamente a
maneira de se relacionar. E com esse intuito foram criados no ordenamento jurídicos
dispositivos a fim de efetivar tal medida. E inobservar tais mandamentos seria uma
afronta direta não só a literalidade dos textos, como também a própria essência da
instituição família. Pois o conjunto de regras abstratas e gerais a respeito do direito
familiar incide sobre todos, devendo ser rigorosamente cumpridos. Antes de o Estado
38
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013,
p. 64 e 71.
39
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013,
p. 72 e 73.
21
entrar com sua provisão, deve a família e a sociedade cumprir com suas obrigações à
medida que estiverem ao seu alcance.40
3. CONCLUSÃO
Após o estudo realizado, resta claro que o abandono afetivo pode gerar inúmeros
danos ao indivíduo que se vê privado de condições adequadas para seu progresso
pessoal. Quando os pais não cumprem seu papel precípuo na vida de um filho,
sobretudo do ponto de vista sentimental, estão relativizando a sensibilidade infantil. Isso
traz resultados negativos na construção da personalidade humana, nos futuros
relacionamentos, bem como solidão.
Tendo como premissa a proteção institucional familiar o sistema normativo
jurídico tem por escopo estabelecer algumas regras de observância obrigatória. Tal qual
a sua inobservância pode acarretar reparação pela via judicial. Além disso, a maior
intenção estar em proteger os laços familiares, e reconhecer a importância desse núcleo
para a sadia estrutura organizacional. Uma vez que a sociedade é elaborada pelas
famílias, inferindo-se que se temos uma sociedade violenta, possivelmente essa
violência começou dentro de casa.
Dessa maneira olhar pela base nuclear da sociedade, atribui valor a cada
integrante da casta, zelar por relações saudáveis, iria prevenir a fragilização da família e,
por conseguinte do convívio social. Isso seria mais viável com a aproximação entre o
Direito e a Psicanálise. Cada matéria em si não é inteira, dialogar com as disciplinas é
trazer completude para o estudo de temas. Mas esta articulação é necessária no
momento em que a absorção dos princípios da dignidade pelo ordenamento jurídico
possibilitou uma reconfiguração, sem precedentes, das relações interpessoais na
sociedade contemporânea a demandar uma nova perspectiva do sujeito pelo viés da
Psicanálise.
O Direito quando reconhece e protege as novas formas de composição familiar,
nada mais está do que permeando as relações dos sujeitos e atribuindo valor a cada um
deles. Vislumbrar o Direito além da objetividade, e atribui valor aos desejos
inconsciente. Em relação à afetividade, cabe às ciências psicológicas fixar o seu
40
Constituição Federal 1988.
22
REFERÊNCIAS
ALVES, Leonardo B. Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família. Revista jurídica
do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Minas Gerais: p. 330-333, Nov/2007.
ALVES, Rubem. Um mundo num grão de areia: o ser humano e seu universo. Campinas: Verus, 2002.
ANGELUCI, Cleber Afonso. Abandono afetivo: considerações para a constituição da dignidade da
pessoa humana. Revista CEJ, Brasília, n. 33, p.52, abr./jun. 2006.
AVANSINI, Carolina. Comum após a separação, abandono afetivo dos filhos está na mira da justiça.
Bonde: Paraná, nov./2015.
BICCA, Charles. Abandono afetivo: o dever de cuidado e a responsabilidade civil por abandono de
filhos. Brasília, DF: owl, 2015.
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humana. Universidade Católica do Salvador- Mestrado em Família na sociedade contemporânea.
Salvador: 2012, p. 15-29.
COSTA, Débora Souto. O abandono afetivo e o dano moral à luz do princípio da dignidade da pessoa
humana. Universidade Católica do Salvador. Salvador: 2012, p. 34-45.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013, p.
29 e 36.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013, p.
64 e 65.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013, p.
64 e 71.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. Ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2013, p.
72 e 73.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. Ed. 28. Saraiva: 2014,
p. 21-26.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 23 ed. São Paulo: Saraiva
2008, p. 539.
FARIAS, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Direito das famílias. 2 ed. Rio de janeiro: Lumen Juris,
2010, p.23.
23
FONSECA, P. Maria. Síndrome de alienação parental. Pediatria: São Paulo, 2006; p. 263-266.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 11 ed.– Volume seis. Brasil: Saraiva, 2014, p.
18.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 11 ed. – Volume seis. Brasil: Saraiva, 2014, p.
417 e 418.
MORAES, Maria Celina Bodin. Deveres parentais e responsabilidade civil. Revista Brasileira de Direito
de Família, Porto Alegre: ago./set. 2005.
NETA, Ainah H. Angelini. Convivência parental e responsabilidade Civil. Juruá: Curitiba, 2016, p. 146-
156.
NORONHA, MaressaMaelly Soares; PARRON, Stênio Ferreira. A evolução do conceito de família. [s/d]
PEREIRA, Rodrigo Cunha; SILVA, Cláudia Maria. Nem só de pão vive o homem. Sociedade e Estado,
Brasília, v. 21, n. 3, p. 672-677, set./dez 2006.
PEREIRA, Rodrigo Cunha; SILVA, Cláudia Maria. Nem só de pão vive o homem. Sociedade e Estado,
Brasília, v. 21, n. 3, p. 667-680, set./dez 2006.
ROUSSILLON, R. Teoria da simbolização: a simbolização primária. São Paulo: Escuta, 2013, p. 265.
SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo. Blucher: 2017, p. 160 e 161.
SILVA, Laísa Santos. Responsabilidade Civil por abandono afetivo: Punição pela violação do dever de
cuidado ou preço por não amar? Universidade de Santa Catarina. Florianópolis, 2017, p. 74-76.
TARTUCE, Flávio. Direito de família. 12. Ed.- Volume 5. Brasil: Forense, p. 507, 2017.
LEGISLAÇÃO
BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional n°65 trazendo a redação do art. 227.
BRASIL. Código civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 25.
ed. São Paulo: Rideel, 2017.
BRASIL. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da criança e do adolescente, e da
outras providências.
JURISPRUDÊNCIA
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. APELAÇÃO CÍVEL N° 70053030284. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR ABANDONO MATERIAL, MORAL E AFETIVO. ABALO EMOCIONAL
24
PELA AUSÊNCIA DO PAI. Relatora: Des.ª Liselena Schifino Robles Ribeiro. Porto Alegre, 07 de
fevereiro de 2013.