Maurice Tardif
Maurice Tardif
Maurice Tardif
Nas sociedades contemporneas, a pesquisa cientfica e erudita, enquanto sistema socialmente organizado de produo de conhecimentos, est inter-relacionada com o sistema de formao e de educao em vigor.
Entretanto, na medida em que a produo de novos conhecimentos tende a se impor como um fim em si mesmo e um imperativo social indiscutvel, e o que parece ocorrer hoje em dia, as atividades de formao parecem passar para segundo plano.
Os saberes docentes:
Entretanto a relao dos docentes com seus saberes no se reduz a uma funo de transmisso dos conhecimentos j constitudos. Sua prtica integra diferentes saberes, com os quais o corpo docente mantm diferentes relaes.
Os saberes da formao profissional (das cincias da educao e da ideologia Pode-se chamar de saberes profissionais o conjunto de saberes transmitidos pelas instituies de pedaggica) formao de professores.
O professor e o ensino constituem objetos de saber para as cincias humanas e para as cincias da educao. Obs.: Mas a prtica docente no apenas um objeto de saber das cincias da educao, ela tambm uma atividade que mobiliza diversos saberes que podem ser chamados de pedaggicos.
Os saberes disciplinares.
Alm dos saberes produzidos pelas cincias da educao e dos saberes pedaggicos, a prtica docente incorpora ainda saberes sociais definidos e selecionados pela instituio universitria. Estes saberes integram-se igualmente prtica docente atravs da formao inicial e continua.
Os saberes curriculares.
Estes saberes correspondem aos discursos, objetivos, contedos e mtodos a partir dos quais a instituio escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos da cultura erudita.
professores, no exerccio de suas funes e na prtica de sua profisso, desenvolvem saberes especficos, baseados em seu trabalho cotidiano e no conhecimento de seu meio.
As relaes dos professorespode-se dizer que os com seus De modo geral, professores ocupam uma posio estratgica, prprios saberes porm socialmente desvalorizada, entre os
diferentes grupos que atuam, de uma maneira ou de outra, no campo dos saberes. De fato, os saberes da formao profissional, ou saberes disciplinares e os saberes curriculares parecem sempre ser mais ou menos de segunda mo.
2. O docente diante de seus saberes: as certezas da prtica e a importncia crtica da experincia De fato, quando interrogamos os professores
sobre os seus saberes e sobre sua relao com os saberes, eles apontam, a partir da categoria de seu prprio discurso, saberes que denominam de prticos ou experienciais.
Os saberes experienciais
Pode-se chamar de saberes experienciais o conjunto de saberes atualizados, adquiridos e necessrios no mbito da prtica da profisso docente e que no provm das instituies de formao nem dos currculos. Os saberes experienciais esto enraizados no seguinte fato mais amplo: o ensino se desenvolve num contexto de mltiplas interaes que representam condicionantes diversos para a atuao do professor.
A objetivao parcial dos saberes experienciais. e, atravs das relaes com os pares
portanto, atravs do confronto entre os saberes produzidos pela experincia coletiva dos professores, que os saberes experienciais adquirem uma certa objetividade: as certezas subjetivas devem ser sistematizadas a fim de se transformarem num discurso objetivo.
Se o trabalho modifica o trabalhador e sua identidade, modifica tambm, sempre com o passar do tempo, o seu saber trabalhar. Obs.: Tal como Marx j havia enunciado, toda praxis social , de uma certa maneira, um trabalho cujo processo de realizao desencadeia uma transformao real no trabalhador.
2) As fontes pr-profissionais do saber-ensinar: uma histria pessoal de social. Ao longo e sua histria de vida pessoal
e escolar, supe-se que o futuro professor interioriza um certo nmero de conhecimentos, de competncias, de crenas, de valores, etc., os quais estruturam a sua personalidade e suas relaes com os outros e so reatualizados e reutilizados, de maneira no reflexiva.
3) A carreira e a edificao temporal dos saberes profissionais. Adotando o ponto de vista da Escola de Chicago,
pode-se conceber a carreira como a trajetria dos indivduos atravs da realidade social e organizacional das ocupaes, pouco importa seu grau de estabilidade e sua identidade. A carreira consiste numa sequncia de fases de integrao numa ocupao. Obs.: a anlise da carreira deve apoiar-se no estudo de dois fenmenos interligados: a institucionalizao da carreira e sua representao subjetiva entre os atores.
guisa de concluso: Saberes, identidade e trabalho na linha do tempo O objetivo deste captulo era estudar as
relaes entre os saberes profissionais dos professores, o tempo e o aprendizado de trabalho. Obs.: Partimos da idia de que o tempo um fator importante na edificao dos saberes que servem de base ao trabalho docente.
Trabalho na indstria Obj. do trabalho Precisos Operatrios e delimitados Coerentes A curto prazo Natureza do objeto do trabalho Material Seriado Homogneo Passivo Determinado
Trabalho na escola Ambguos Gerais e ambiciosos Heterogneos A longo prazo Humano Individual e social Heterogneo Ativo e capaz de oferecer resistncia Comporta uma parcela de indeterminao e de autodeterminao (liberdade)
Trabalho na indstria Natureza do objeto de Simples pode ser trabalho analisado e reduzido aos seus componentes funcionais Natureza e Relao tcnica com o componentes tpicos da objeto: manipulao, relao do trabalhador controle e produo com o objeto
Trabalho na escola Complexo no pode ser analisado nem reduzido aos seus componentes funcionais Relao multidimensional com o objeto: profissional, pessoal, intersubjetiva, jurdica, emocional, normativa, etc.
O trabalhador controla O trabalhador precisa diretamente o objeto colaborao do objeto O trabalhador controla O trabalhador nunca totalmente o objeto pode controlar totalmente o objeto
Trabalho na indstria Produto do trabalho O produto do trabalho material e pode ser observado, medido, avaliado O consumo do produto do trabalho totalmente separvel da atividade do trabalhador Independente do trabalhador
Trabalho na escola O produto do trabalho intangvel e imaterial, pode dificilmente ser observado e medido O consumo do produto do trabalho pode dificilmente ser separado da atividade do trabalhador e do espao de trabalho Dependente do trabalhador
Comparao entre o trabalho industrial e o trabalho docente no que se refere s tecnologias Tecnologias do trabalho Tecnologia do trabalho na
no setor da indstria, com escola com seres objetos materiais humanos
Baseadas nas cincias naturais e aplicadas Repertrios de conhecimentos Baseada nas cincias humanas e nas cincias da educao, bem como do senso comum Saberes no formais, instveis, problemticos e plurais
Natureza dos conhecimentos Saberes formalizados, em questo proposicionais, validados e unificados Natureza do objeto tcnico
Aplicam-se a causalidades, a Aplicam-se a relaes sociais regularidades funcionais, a e a individualidades, assim classes de objetos, a sries como relaes que apresentam irregularidades; so confrontadas com indivduos com particularidades
A ordem na sala de aula, a motivao dos alunos, a aprendizagem dos saberes escolares, a socializao, etc.
Apresentam-se como um Tecnologias frequentemente dispositivo material que gera invisveis, simblicas, efeitos materiais lingusticas que geram crenas e prticas
Controle do objeto
Possibilitam um alto grau de Possibilitam um baixo grau determinao do objeto de determinao do objeto
Exemplos de tcnicas
Lisonjear, ameaar,
Atividade imanente Fabricao de uma Contemplao e ao agente, ao obra e produo de conhecimento moral algo rigoroso O homem prudente, o arteso, o sofista, O sbio, o filsofo, o homem poltico, o o mdico, o o cientista guerreiro, o educador gozador Orientadas por fins Orientada por imanente ou resultados naturais ao agente exteriores ao agente Os fins e as normas Os seres contingentes e individuais Orientada por um interesse relativo ao puro conhecimento Os seres necessrios (os nmeros, o dvino)
Ator tpico
Natureza da atividade
Objeto do saber
Atores tpicos
A conformidade s regras O domnio e controle dos e interesses fenmenos As regras, o interesse subjetivo Todos os fenmenos naturais e o ser humano como fenmeno natural
Mas na falta de unidade, defendo a que o saber ensinar possui uma especificidade prtica, que deve ser buscada naquilo que se pode chamar de cultura profissional dos professores.
Bibliografia.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formao profissional; 10. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2010.