Estudo de Caso - Seixal - Evolução e Atualidade

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Y

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Introdução................................................................................3

1. - Uma pequena cidade piscatória.........................................4


1.1. - Breve história do seixal....................................................4
1.2. - Principais atividades económicas e impacto na estrutura
urbana.......................................................................................5

2. - Uma cidade em pleno desenvolvimento.............................6


2.1. - Os antecedentes da fase industrial...................................7
2.2. - Uma população que acompanha o crescimento da cidade
....................................................................................................7
2.3. - Indústria - a nova atividade económica dominante.........8

3. - Uma cidade industrializada..............................................12


3.1. - Retrato urbanístico-demográfico: aumento da população,
novos polos e a grande falta de infraestruturas......................12
3.1.1 - Boom populacional......................................................12
3.1.2. - Novas infraestruturas, novas oportunidades..............13
3.1.3. - Crescimento dos polos existentes e falta de
infraestruturas........................................................................13
3.2 - A Siderurgia Nacional: Um país sem Siderurgia é uma
horta........................................................................................13

4. - Uma cidade com foco no setor terciário..........................16


4.1. - A revitalização urbana: O caminho seguido pelo
conselho do Seixal..................................................................19
4.2. - Entrevista a um operador turístico: novas perspetivas,
desafios e limitações...............................................................20

5. - Conclusão........................................................................21

6. - Lista de mapas e imagens.................................................22

7. - Bibliografia e Webliografia..............................................22

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Já no séc. XVIII a pequena aldeia junto ao rio Judeu
começava a ganhar a sua forma muito devido à sua praia que
continha um elemento necessário para os lastros dos barcos.
Com a chegada do séc. XIX o Seixal demonstrava bastante
potencial, a nível nacional, para as atividades industriais
devido à proximidade do acesso fluvial através do Tejo o que
levou a que na segunda metade desse século, variadas
indústrias se estabelecessem nesta localidade. Estas unidades
fabris e a construção da Ponte 25 de Abril desencadearam
tanto um rápido desenvolvimento económico bem como uma
grande explosão demográfica, fazendo com que no início do
séc. XX já existisse um considerável desenvolvimento
económico e social no concelho. Nas últimas décadas tem se
assistido a um retroceder deste processo de industrialização
devido em parte às grandes alterações ao nível das políticas
industriais, mas também devido à terciarização que a
economia tem sofrido como consequência da globalização.
Estas razões contribuíram para que este setor tenha vindo a
perder a sua expressão com o passar do tempo, fazendo com
que os espaços outrora ocupados por estas unidades fabris se
encontram agora em planos de requalificação urbana
propostos por novos empresários tendo em mente as
vantagens que estes espaços têm a oferecer.

Neste trabalho tentaremos explicar o que tem


acontecido desde o séc. XVIII até á atualidade no
Seixal em termos económicos e socias. Com isto em
mente propomos uma divisão em 4 partes,
começando pelo Seixal do séc. XVIII com uma
cidade ribeirinha que tinha como o foco principal a
pesca, passando para a primeira fase de
industrialização em 1900 e as suas consequências,
retratando a segunda fase de industrialização em
1960 e dando alguns dados estatísticos, uma
entrevista a um agente turístico e algumas conversas
informais com residentes do Seixal.

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1.1 Breve história do seixal

Há muito tempo atrás, antes de ser uma povoação, o Seixal era


o nome dado a uma praia onde existiam muitos seixos utilizados
para o lastro das embarcações (parte de baixo de uma embarcação
adicionada para aumentar o peso e/ou manter estabilidade). No
entanto com o passar dos tempos a população começou a
“conquistar” o rio e a estabelecer-se na sua margem. Nomes como
Nuno Álvares Pereira e Estevão e Paulo da Gama (irmãos do
Vasco da Gama) também passaram por este local. Mas quem teve
mais relevância foi sem dúvida o próprio Rei Dom Manuel I que,
numa das suas visitas ao estaleiro Coina, passou pelo Seixal e lhe
concedeu o seu nome. Durante esse tempo o Seixal foi privilegiado
e até tinha um certo estatuto ligado ao burgo da Arrentela. Entre
os séc. XVIII e XIX a construção naval, a agricultura e a pesca
eram as atividades económicas principais, e o pinhal, que
contribuía com madeiras para a construção de barcos, como naus e
galés, que depois serviam os portos vizinhos, como o de Lisboa,
atividade esta a determinante na fundação da localidade: Segundo
Pinho Leal, na sua obra Portugal Antigo e Moderno: “Vendo
pessoas competentes, que o sítio (Seixal) era azado para
construções navais em grande escala, e que estava em fácil
comunicação com os operários da fábrica da Ribeira das Naus (…)
e, pouco a pouco, os mestres e operários (…) aqui foram
construindo casa de habitação” Assim, de modo a estarem
próximos ao seu ofício, a população instalou-se junto ao rio, em
redor da ermida, esta edificada à volta de 1500.

Os efeitos do sismo de 1755 também se fizeram sentir no Seixal, destruindo grande parte do
património edificado: Segundo Alexandre Flores, grande parte da Igreja Paroquial ruiu,
aproximadamente cinquenta habitações ficaram “caídas no chão”, e as restantes encontravam-se
inabitáveis. Alguns anos depois, o Seixal era finalmente tornado concelho, no reinado de D. Maria II,
a 6 de novembro de 1836, sendo esta lembrada na toponímia de uma rua da localidade. Apesar de ter
sido elevado a concelho nesta data, foi extinto em 1898 e restaurado dois anos depois.

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1.2 Principais atividades económicas e impacto na estrutura urbana

Segundo Pinho Leal, na sua obra Portugal Antigo e Moderno, o Seixal é apresentado como um concelho
pouco desenvolvido, e bastante atrás de outros seus vizinhos, como Almada: A pesca é a atividade principal
desenvolvida no concelho, à frente da agricultura. O terreno do Seixal é descrito como acidentado, o que não
impede, no entanto, a sua grande fertilidade, que possibilita a produção de pão, frutas, legumes e vinho, que
embora em quantidade menor quando comparado à produção de Almada, é considerado de grande qualidade, a
maioria destes bens são exportados, como as laranjas, que têm como destino a Inglaterra. Anteriormente a 1854
foram produzidas 3000 pipas de vinho (reduzidas a 510 devido a pragas como o oídio). Foram também
produzidos 5000 alqueires de trigo, 31500 de milho, 2000 de cevada, 1000 de feijão, 7500 de favas, 30 de grão-
de-bico, 170 quilogramas de mel. Os recursos florestais também eram explorados no concelho, dado que o
concelho era limitado por pinhais, que possibilitavam a extração de recursos como madeira e lenha. Também
começavam a aparecer algumas indústrias, como a fábrica de lanifícios da Arrentela, que se estabeleceu em
1855.

Relativamente às habitações, o autor destaca


a não existência de quaisquer edifícios de
grandeza significativa, e os que existem, sem
muita qualidade, são “acanhados” e com poucas
condições. Existem muitas quintas (trinta e
uma), mas que, segundo o autor, nada de
relevante têm a assinalar, exceto o estado de
deterioração e abandono de algumas e, com
mais importância, o pouco ou nenhum lucro que
Imagem 1
produzem.

No entanto, a situação nem sempre foi esta, dado que o autor assinala a antiga existência de muitas quintas
pertencentes à nobreza, bem como da Igreja, mostrando que a situação existente a meio do século XIX nem
sempre se verificou. Assim, a imagem apresentada do Seixal na sua obra é a de um concelho rústico, pobre e
intimamente ligado a atividades do setor primário.

Numa obra mais recente, datada de 1879, a Chorographia


Moderna do Reino de Portugal, de João Maria Baptista, a
situação descrita não é muito diferente: A pesca continua a
ser o principal recurso da população, mas já é dado ênfase ao
facto de se começarem a instalar mais unidades fabris no
Seixal, devido às águas fluviais que permitiam o embarque e
desembarque de cargas. Mapa 1
5
A partir da obra Recordações do Seixal, de 1857 é também possível produzir um pequeno retrato da vida
social, não da população em geral, mas das elites locais: Os serões passados a dançar, passeios a pé ou de
barco junto ao rio e pelas quintas.

Como observamos nos Mapas 1 e 2, o Seixal nem sempre foi relevante a nível nacional. As atividades
económicas principais que eram desenvolvidas no Seixal sempre estiveram relacionadas ao mar, e, nesta
fase, o rio e o que daí provinha era a fonte de rendimento principal. Até à segunda metade do século XIX a
agricultura também tinha um papel muito importante, sendo a atividade desenvolvida por grande parte da
população. No entanto, e como observámos, algumas indústrias já se começavam a estabelecer no
concelho, como a fábrica dos lanifícios da Arrentela, que será abordada nesta parte do trabalho.

Mapa 2

6
2.1 Os antecedentes da fase industrial

A presença da indústria no Seixal não é um facto recente:


Desde os primórdios da localidade que algumas atividades
consideradas “industriais” laboravam no concelho, como os
fornos de cal dos frades Jerónimos de Belém, na zona de Paio
Pires. Esta situação não era, no entanto, pioneira na área, pois
suspeita-se que outras ordens religiosas tivessem tido fornos
de cal na Margem Sul. Estas pequenas indústrias não eram
muito relevantes até ao início do século XX, como já tínhamos
estabelecido anteriormente, prevalecendo a agricultura, pesca
e outras atividades do setor primário. Esta situação começa a
mudar quando, em 1906, uma matéria-prima já existente no
Mapa 3 (detalhe recortado)
Seixal começa a ser explorada pelas mãos da Mundet, a
cortiça.

A localização desta, próxima ao centro histórico já existente, permitiu uma maior dinamização da vida no
centro, sendo este o polo central, o que é visível através da representação em mapas. Para além, é visível a
existência de algumas vias de acesso, localizadas junto aos novos polos fabris, como a Arrentela, Torre da
Marinha ou a Aldeia de Paio Pires como fazendo com que a população usufruísse de uma maior e melhor
rede de transportes nesta localidade, embora bastantes rudimentares, como visível pelo estado destas na
altura do 25 de abril.

2.2 Uma população que acompanha o crescimento da cidade

A estrutura populacional também se alterou, passando de um crescimento lento na fase anterior: De 1864
para 1890 a população cresceu 18%, passando de 5.634 residentes em 1864 para 6.661 em 1900, em média
28 habitantes por ano. A partir daí a situação alterou-se: Com o estabelecimento de indústrias, que
necessitavam de mão de obra, a população começou a aumentar mais rapidamente: De 1910 para 1911
cresceu 28%; de 1911 para 1920 em 12%; de 1920 para 1930 cresceu 4%. Nesta fase existe crescimento,
mas a um ritmo decrescente. Daqui para a frente a situação inverte-se: O crescimento passa a ser a ritmo
crescente: De 1930 para 1940 aumentou 19%, de 1940 para 1950 o crescimento foi de 23%, e, no último
período enquadrado nesta fase, 1950-1960, o aumento da população foi na ordem dos 28%. Considerando
tudo, no espaço de 60 anos a população cresceu 207%, mais que duplicando, devendo-se este crescimento
populacional à mudança da atividade económica dominante, que iremos abordar agora
Este crescimento ficou a dever-se às migrações internas, que trouxeram população de outros pontos do
país para as indústrias da seca do peixe ou da cortiça.

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Indústria - a nova atividade económica dominante

Desde o fim do século XIX que estava em curso uma mudança na estrutura económica no concelho:
Como já tínhamos referido, sempre existiram indústrias no concelho do Seixal, como os fornos da cal dos
frades de Belém, ou mesmo a fábrica dos lanifícios da Arrentela. Estas unidades industriais não chegariam
no seu conjunto à dimensão da Mundet, que chegou a empregar 2500 pessoas e que também foi, em certa
altura, o maior exportador de cortiça do mundo.

Em 1930 a indústria era a ocupação de 43,45% da população. A demonstrar a clara transição do Seixal
para a indústria está a baixa percentagem de população empregada na pesca, menos de 5%. A indústria
continuou a ver a sua importância a aumentar, ano após ano, empregando mais de metade da população do
concelho nos anos 60. Mesmo tendo a indústria grande importância, esta chegou tardiamente ao concelho,
pois já na segunda metade do século XIX muitas outras cidades ou urbanizações da Margem Sul, como
Barreiro, Montijo ou Almada apresentavam uma maior envolvência com o setor secundário, com fábricas
como a CUF, a título de exemplo. Apesar deste atraso, em 1905 instala-se no concelho do Seixal uma
indústria que determinaria todo o futuro da localidade: A Mundet. anos depois, uma congénere da cortiça, a
Wicander, establece-se igualmente” no concelho, em 1911.

- A Mundet e o seu “pequeno” monopólio – circunstâncias favoráveis á mesma & as outras indústrias

A década de 30, o início da Ditadura Militar e a


conjetura da época foram favoráveis ao setor da cortiça, o
que possibilitou a expansão da fábrica e a criação de uma
série de serviços de apoio à comunidade por parte da
fábrica, que aprofundaremos mais à frente. A condição
Imagem 2 financeira da Mundet era também bastante positiva nesta
Imagem 3 fase, dado ao seu recente investimento em navios próprios
para o transporte desta mercadoria.

A Mundet e a Wicander não eram, no entanto, as únicas produtoras de


cortiça e muito menos as únicas indústrias existentes no concelho do
Seixal:
Existiam alguns pequenos produtores de cortiça na década de 50, mas com dimensão quase irrelevante.
Outros setores da indústria também estavam presentes no concelho, como a dos explosivos, dos
lanifícios/têxtil e a construção naval: A indústria dos explosivos, presente em Vale de Milhaços começou a
laborar em 1895, e em 1948 chegou mesmo a empregar 107 trabalhadores.

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Apesar disso teve a sua quota-parte de polémicas. Tendo acontecido, nesse mesmo ano, uma explosão
onde morreram 27 operários e igual número ficou ferido. Esta fábrica é, no entanto, um exemplo de
requalificação de monumentos de interesse, sendo das primeiras a ser transformada em núcleo museológico.

Ainda quando laborava apresentava um horário de invejar a muitos trabalhadores atuais: A atividade na
Fábrica da Pólvora iniciava-se às 8 horas da manhã, com saída às 11 horas e 40 para almoço, com retorno às
13 horas, terminando assim o dia de trabalho às 16:40 com um total de 7 horas e 30 minutos. A fábrica
também distribuiu terras pelos trabalhadores, para que a cultivassem, tendo também, por curiosidade, uma
das primeiras televisões da zona.

A indústria têxtil, mais antiga no concelho, data de meados do século XIX, através da presença da
Fábrica de Lanifícios de Arrentela. Mais tarde surgiu a “Fábrica de Lanifícios de Amora”, que nada mais era
do que o mesmo produtor em locais diferentes onde eram produzidos principalmente xailes de lã e seda.

A construção naval também foi determinante no passado do Seixal. Segundo o Anuário Comercial de
1920, pelos estaleiros de construção passaram alguns nomes conhecidos, como José de Anjos Júnior,
Alfredo dos Reis Silveira (que hoje em dia dá nome a uma escola no concelho), José Policarpo Alves
Ferreira e entre outros. Esta atividade prevaleceu no concelho, embora não com a importância do passado,
devido à forte concorrência dos construtores em ferro (nesta altura os barcos produzidos no Seixal eram
feitos de madeira), situação esta demonstrada pelo baixo número de trabalhadores: Em 1956 trabalhavam no
Seixal 78 indivíduos.

2.4 Retrato de algumas das mais importantes indústrias

Em 1957, esta situação, de impotência das indústrias seixalenses face à competição de outros setores
iria alterar-se, com o anúncio da instalação da primeira indústria siderúrgica de Portugal. Por agora iremos
apresentar mais detalhes relativos a algumas das indústrias que considerámos mais relevantes para esta fase.

2.4.1 O domínio da Mundet

Esta empresa foi fundada em 1905 e chegou a empregar mais de 4000 pessoas no seu auge, nos anos 40,
sendo maioritariamente constituída por população do sexo feminino. Dos 4000 trabalhadores, 2500 eram
mulheres, embora fosse nítida a divisão de tarefas: Os homens realizavam tarefas “de homem”, e as
mulheres tarefas “de mulher”, segundo o testemunho de Adelina Maria da Conceição, antiga trabalhadora da
corticeira.
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A Mundet no Seixal foi também considerada uma
fábrica bastante avançada em termos de
responsabilidade social para a época, sendo pioneira
numa série de benefícios como a criação de uma
Caixa de Previdência para os seus trabalhadores, que
fazia face à ausência de um sistema de segurança
social no país, uma creche e jardim de infância para
os filhos dos trabalhadores (principalmente
trabalhadoras) da unidade fabril (em linha com as
Imagem 4
políticas do Estado Novo “Deus, Pátria, Família”) e
ainda um clube desportivo para os trabalhadores da Na verdade a preocupação extraeconómica da

fábrica, como forma de promover a moral dos Mundet estendia-se para lá do seu recinto da

operários e aumentar as horas de lazer dos fábrica: Em 1955 foi criado um posto médico e

trabalhadores. adicionada uma ambulância (a primeira


ambulância do seixal pertenceu à Mundet e era a
única ambulância da região) dedicado não só ao
pessoal da Mundet, mas também comunidade.
Esta preocupação social era de facto justificada
visto a esta ser o maior empregador de todo o
concelho.

Imagem 5

No entanto, o futuro não foi bondoso com a


Mundet. Com os novíssimos produtos em
plástico a chegarem ao mercado como uma
novidade com múltiplos benefícios e a um preço
muito mais competitivo, a concorrência fez com
que a L.Mundet & Son fechasse as portas no
Imagem 6
final da década de 80 (1988).

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2.4.2 O “pioneirismo” da Fábrica dos Lanifícios da Arrentela

Esta fábrica, uma das mais antigas do concelho do Seixal,


foi fundada em 1855, por Júlio Caldas Aulete, como a Fábrica
de Lanifícios da Arrentela. Imagem 7

Após mudar de nome em 1862 e ficando para sempre conhecida como Companhia de Lanifícios da
Arrentela. Nos períodos 1843 foram adquiridas várias máquinas a vapor, ainda bastante raras em Portugal
para a sua altura. Em 1858 foram produzidos 10.650 metros de pano mas após alguns anos, depois de
uma troca na administração, deu se o primeiro grande aumento na produção, duplicando assim para os
21.475. Até 1861 a produção continuou a aumentar, duplicando mais uma vez o valor anterior e
alcançando por fim os 40.000 metros de pano produzidos na fábrica. Esta unidade fabril não passaria
desconhecida, dado que a sua produção foi levada, inclusive, à exposição industrial do Porto, desse
mesmo ano. Chegando a empregar 160 operários, de ambos os sexos. Foi pioneira na afirmação da
indústria como atividade dominante no concelho do Seixal, mas isso não impediu que hoje em dia se
encontre num estado de degradação alto, embora o pavilhão principal tenha sido usado ocasionalmente
para eventos, como foi o caso das festas populares, onde desempenhou o papel de salão de exposições.

2.4.3 A oposição sucesso/falhanço empresarial na Fábrica Vidreira da Amora

Esta unidade fabril ilustra bem a dicotomia entre o sucesso


e o falhanço empresarial nesta fase de desenvolvimento do
Seixal: Fundada em 1888 por José Lourenço da Silva Gomes.
Dois anos depois foi contruído um forno a gás e outras
máquinas, o que permitiu um aumento da produção diária de
2.400 garrafas para 8 mil. Estas garrafas eram produzidas para
servirem de embalagem a diversos tipos de bebidas, como
vinho, água e cerveja. Os anos iniciais, até à década de 20
foram positivos, principalmente com os compradores do Porto.
Imagem 8 No entanto, quando estes compradores portuenses mudaram
de
produtor de embalagem, as consequências para a fábrica foram catastróficas: Em 1923 a fábrica foi alienada,
levando ao seu encerramento. Os requintes de tragicidade do encerramento desta unidade fabril, se
considerarmos aquilo que fez pela sua comunidade. Foi pioneira no apoio dado aos seus trabalhadores,
devido à edificação dos bairros operários da Amora, com condições muito díspares das existentes das
habitações da altura:

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O bairro operário localizado na marginal da Amora, entre a Escola Básica Paulo da Gama e o Coreto da
Amora trouxe inovações na tipologia das habitações, com cozinha e quartos separados, estando próximos do
local de trabalho, assegurando assim melhores condições de salubridade, o que reduzia o número de faltas
dos trabalhadores por motivos de saúde.

3. Seixal: Um espaço industrializado e o crescimento urbano

Ao longo dos anos, muitas das indústrias que laboravam no concelho do Seixal começavam a perder
relevância: A construção naval não chegava a empregar mais de 100 pessoas, a Fábrica Vidreira da Amora
já não era relevante desde os anos 20 e mesmo a Mundet já tinha passado do seu auge. É assim, nesta
situação lamentável que é feito o anúncio da instalação da Siderurgia Nacional, que viria trazer vida nova ao
concelho. Associado a esta situação, é também relevante assinalar a instalação da ponte 25 de abril. Estas
duas situações viriam a contribuir grandemente para o grande dinamismo verificado.

A criação da Siderurgia Nacional coincide também com o período de início de decadência da Mundet.
Embora esta não tenha desaparecido até 1988 uma série de fatores prejudicaram a situação da mesma, como
por exemplo a crise internacional dos anos 70, à expansão do plástico como material dominante e a recusa
em modernizar as instalações e o processo produtivo. Os direitos adquiridos pelos trabalhadores começavam
a recuar com a má situação financeira da fábrica, que obrigou ao encerramento de partes da fábrica bem
como dos benefícios sociais referidos anteriormente.

Esta situação de decadência, associada à instalação da siderurgia, levou a que o foco de crescimento
urbano passasse para a zona mais próxima à Siderurgia Nacional. No entanto, e como é visível em muitos
outros locais da margem sul, onde existiu crescimento rápido, também existiu crescimento desordenado: O
foco deixou de estar exclusivamente no centro histórico, localizado perto da Mundet, para se tornar mais
disperso, passando a existir mais foco noutras áreas, como a Aldeia de Paio Pires.

3.1 Retrato urbanístico-demográfico: Aumento da população, novos polos e a grande falta de


infraestruturas.

3.1.1 O Boom populacional

Se começarmos a nossa análise em 1950, antes da instalação da Siderurgia Nacional, podemos observar o
efeito, ou pelo menos, a coincidência do crescimento populacional com esta: Se existe uma relação de
causalidade entre as duas, é difícil determinar: Em 1950 a população era de 15.937 habitantes, menos do que
os concelhos vizinhos de Almada (43.768 habitantes) e Barreiro (29.719 habitantes), verificando-se um
crescimento absoluto de 3005 habitantes, e um crescimento relativo de 23,2%. Assim, em 1960, um ano antes
do início do funcionamento da Mundet, observamos uma taxa de crescimento semelhante: 28,4%.

12
Entre este período a Siderurgia instala-se, levando à necessidade mais mão-de-obra: Segundo Lima
(1997), a Siderurgia empregou, inicialmente “trabalhadores (…) na casa dos milhares”, oriundos do
“Alentejo, da Estremadura, ou das Beiras”, o que explica o aumento populacional de 1960 para 1970 de 86%
que se traduz em 17.620 habitantes.

Nos anos seguintes a população continuou a aumentar, passando para 89,169 habitantes em 1981, um
aumento de 134%, e de 30% de 1981 para 1991, entrando no século XXI (2001) com mais de 150.000
habitantes, superando o Barreiro, e chegando perto de Almada.

3.1.2 Novas infraestruturas, novas oportunidades

A criação de uma série de infraestruturas perto do concelho beneficiou o seu desenvolvimento, e também
teve consequências diretas no crescimento da população: A construção da A2, da ponte 25 de abril em 1966,
e da Siderurgia possibilitaram um contacto mais direto e ao mesmo tempo maior autonomia face a outros
espaços, como Lisboa, pelo menos em teoria: Segundo o relato de uma residente do Seixal, a ponte 25 de
abril, na altura ponte Salazar, não causou, pelo menos inicialmente, grandes alterações no quotidiano da
população do Seixal. Só após a revolução de abril esta começou a utilizar mais este meio. De facto, a
população de Lisboa utilizava mais este meio nas suas deslocações ao Seixal, com a população do Seixal a
utilizar maioritariamente o barco, nas suas deslocações pendulares a Lisboa. Uma situação semelhante
observou-se no passado, com a utilização dos varinos e botes de fragata no transporte de mercadorias para
Lisboa

3.1.3 Crescimento dos polos existentes e falta de infraestruturas

A partir da análise de um mapa


oriundo da União Soviética, de 1967,
é possível ter uma ideia dos locais
onde a população se concentrava: na
zona histórica, junto à Siderurgia
(Aldeia de Paio Pires) e junto à Torre
da Marinha, os locais onde as
principais indústrias existiam.
Tomando em consideração o caso da
Siderurgia Nacional, como descrito
pelo autor acima citado é possível
explicar esta aglomeração: As Mapa 4

condições naturais do local favorecem a instalação da fábrica: Relevo pouco acentuado,


proximidade à capital, proximidade aos minérios explorados no sul do país, facilidade de terraplanagem,
entre outros.
13
Por outro lado, a fábrica, necessita de mão-de-obra, que é “fornecida” por vários pontos do país, como
referido acima, e todos estes novos operários necessitam de habitação (neste caso foi inicialmente fornecida
pela fábrica, custando 3 milhões de contos, na altura), o que leva à necessidade de construção rápida de
novas habitações, muitas vezes sem muito planeamento, o que leva a um crescimento urbano desordenado, e
sem as necessárias infraestruturas de apoio à atividade humana:

O livro 23 anos de poder local democrático: Um roteiro de memórias para o futuro, publicado pela
Câmara Municipal do Seixal, em 1997, dá-nos uma boa ideia das condições do concelho aquando do 25 de
abril, data incluída na fase que queremos retratar: O tratamento das águas era feito diretamente para o rio, e
não existia abastecimento de água na maioria das casas, tendo este de ser feito através dos fontanários de
cada localidade.

Não existia recolha de lixo propriamente dita, e a


eletricidade demorou muito tempo para ser instalada. Muitos
destes problemas foram resolvidos apenas depois do 25 de
abril e de um melhor ordenamento do território, quer da
Câmara, quer dos sucessivos governos, pois, como é referido
numa reportagem da Visão: “Durante o Estado Novo, a
margem sul era a margem errada.” Resumidamente, a
população vivia em condições muito semelhantes às dos seus
Imagem 9
antepassados, sem muita qualidade de vida, separando-os o
facto de agora a maioria laborar no setor secundário.

3.2 A Siderurgia Nacional: Um país sem siderurgia é uma horta!

Esta afirmação, proferida pelo ministro da economia da altura, aquando da fundação da Siderurgia,
ilustra bem o entusiasmo com que a instalação da primeira siderurgia em solo nacional foi recebida pelo
governo: De facto, esta afirmação ilustra bem a situação do Seixal: Antes da instalação das primeiras
indústrias, o concelho era, em parte, uma horta, devido à grande orientação ao setor primário. A siderurgia,
símbolo do progresso, da produção, da industrialização de um país onde quase tudo era importado foi uma
grande mais- valia, quer para o concelho, quer para o país, possibilitando assim acompanhar a Europa e o
Mundo.

Por este motivo, consideramos importante explicar um pouco da história desta:

A história da Siderurgia Nacional remonta a 1957, quando foi constituída a sociedade destinada à
construção de uma siderurgia em solo português, ainda em local indeterminado: Os primeiros locais
considerados foram Alcochete, Setúbal, Leixões e Moncorvo (devido à proximidade ao minério), mas a
Aldeia de Paio Pires e os terrenos das Quintas das Palmeiras e outras (outrora dedicadas à agricultura, agora
utilizada para a construção da “maior fábrica do país”) foram escolhidos, por uma série de fatores referidos
acima.~
14
Para a sua construção foram movimentados 1.400.000 metros cúbicos de terra, e foi necessário o
assoreamento de 1.200.000 metro cúbicos de vasas no rio Coina, para permitir o acesso fluvial à fábrica. Foi
também construído um terminal de 350 metros de comprimento, permitindo o transporte de cargas de até
6.000 toneladas. A partir de 1958, e até 1961, trabalharam na construção da fábrica perto de 7 mil operários,
técnicos e mestres, contando-se com a representação de mais de 30 empresas de vários países. Inicialmente a
obra cobria 80.000 metros quadrados, com 650 metros de comprimento, chegando a ser o maior edifício do
país: O alto forno, parte crucial do funcionamento da fábrica, com 50 metros de altura e 6 metros de
diâmetro.

Já depois do final da construção, começava a produção de aço em bruto: No primeiro ano foram
produzidas 91.900 toneladas de aço, produção esta que aumentou para 165.000 toneladas em 1962, e
211.300 toneladas em 1963, um aumento total de 130%, ou seja, 119.400 toneladas adicionais, com a grande
maioria a ser destinada para o mercado nacional, que chegou a absorver 600 mil a 700 mil toneladas de aço
anuais.

Para ser possível toda esta produção, mesmo nos anos iniciais, a Siderurgia Nacional consome vastas
quantidades de matérias-primas, como minérios de ferro (hematite, magnetite e limonite), calcários (castina
e dolomite), além do carvão que chegavam à fábrica por via marítima, através do terminal que aí existia

Inicialmente existiu uma preocupação no sentido de utilizar materiais portugueses, sendo esta prática
abandonada algum tempo depois, devido à baixa qualidade destes, passando a fábrica a utilizar minérios
estrangeiros, provenientes de locais como o Canadá, Brasil, Venezuela ou EUA.

Alguns anos depois da sua fundação ocorre o 25 de abril, bem como a vaga de nacionalizações que a ele
se seguiram, em 1975, apenas para, 22 anos depois ser reprivatizada, desta vez em circunstâncias
desfavoráveis, que levam ao seu encerramento em 2002. Hoje em dia já não é Siderurgia Nacional, mas sim
SN Seixal, detida por uma empresa espanhola.

Na atualidade as consequências da Siderurgia


ainda se fazem sentir, como é visível na
janela com notícia
frequência com que as notícias relativas à
poluição por esta causada surgem: Uma pesquisa
no Google com as palavras-chave “Siderurgia
Nacional Poluição” origina 17.600 resultados,
uma das quais apresentaremos posteriormente.
Imagem 10
A desindustrialização, processo pelo qual quase todos os países desenvolvidos passam, em certa medida
também se observou no Seixal: Em 1988, encerrava a Mundet, em 2002, a Fábrica da Pólvora e a Siderurgia
Nacional, elevando as taxas de desemprego a número nunca antes vistos. Assim, passam-se os anos 90 e
entramos no século XXI, começando a Câmara Municipal a intervir mais na vida local:

15
Com um elevado número de edifícios votados ao abandono e em estado de deterioração, são criados
planos de ordenamento do território (um dos primeiros PDM’s feitos com sucesso é o do concelho do
Seixal), é feita a preservação de espaços industriais históricos, como a Fábrica da Pólvora, um dos primeiros
espaços a ser musealizados, ou a Mundet, hoje conservada, em parte e também musealizada. É nesta
situação, de impasse entre a memória de um passado recente industrial e a realidade de uma certa decadência
que começamos a entrar por fim no século XXI.

4. Seixal: Uma cidade focada no setor terciário

A entrada no século XXI faz-se com um centro histórico degradado, e uma estrutura do emprego em
transição: 70% da população empregada no setor terciário, quase 30% no setor secundário e menos de 0,5%
no setor primário.

4.1.1 População em crescimento estável e as principais atividades económicas

A população, por outro lado, continua a teimar em


Movimento de cidadãos do Seixal apresentou
crescer, mesmo contra as tendências de outros municípios,
queixa na UE contra poluição da Siderurgia
pois verificamos que de 2001 para 2009 a população
Nacional
aumentou de 151.166 habitantes para 157.571 habitantes.

Consideram os cidadãos em causa que "O ar é


Passados 10 anos a população continua a aumentar, desta

frequentemente irrespirável, o pó acumula-se em vez mais de 10.000 pessoas: Em 2009 tinha 157.571
tudo o que está exposto aos elementos, e o barulho habitantes, e em 2019 passa para 167.752 habitantes.
da fábrica é audível a vários quilómetros de Constate-se que o concelho do Seixal tem vindo a crescer
distância. Apesar disso, e não obstante os contínuos bastante, em termos populacionais.
protestos da população, a licença ambiental da
fábrica foi renovada em abril deste ano"

Uma fábrica desta natureza, explicam, emite para a


Imagem 11

atmosfera no processo de fabrico furanos, dioxinas,


óxidos de nitrogénio, de enxofre e de carbono,
compostos orgânicos voláteis e metais pesados.

O movimento queixa-se que nunca foram realizados Observando agora a tabela relativa ao crescimento
quaisquer estudos epidemiológicos ou quaisquer efetivo, e sabendo que o Crescimento Efetivo se refere ao
tipos de rastreios junto da população residente junto Crescimento Natural agregado ao Saldo Migratório,
à fábrica. podemos dizer que o crescimento efetivo foi maior em
2001, ou seja há 20 anos, dado que o saldo total foi de 1608
fonte da notícia: Movimento de cidadãos do Seixal apresentou
queixa na UE contra poluição da Siderurgia Nacional (dn.pt) pessoas.

16
Desse ano para 2009 o crescimento foi menor, dado que o saldo total nos diz que o crescimento efetivo
foi de 708 pessoas. Passados 10 anos o crescimento efetivo voltou a ser maior, passando de um crescimento
de 708 indivíduos para um crescimento de 917 indivíduos. Esta variação demográfica está intimamente
ligada à proximidade à capital. É um concelho desligado das suas raízes, com pouquíssima população
empregada nas atividades que o definiram inicialmente, como a pesca e agricultura. O seu passado industrial
é para a maioria da população, o passado.

A indústria persistente é hoje muito mais modernizada, encontrando-se em modernos parques industriais,
beneficiando da aglomeração com outras indústrias, mas empregando muito menos população. Os serviços,
o comércio e o turismo empregam a maioria da população: O centro comercial Rio Sul é um exemplo
desta
mudança, empregando muita população.
Através da análise do (colocar legenda: excerto
de imagem de satélite onde é visível a malha
urbana de parte do concelho do Seixal) PDM e
de uma imagem de satélite é possível ver a
grande continuidade urbana, existindo uma
espécie de “triângulo” urbanizado entre a Aldeia
de Paio Pires, o Seixal e a Torre da Marinha: O
traçado do Seixal antigo sobressai relativamente
ao resto da urbanização, verificando-se um
contínuo ao longo da baía, bem como junto à
Siderurgia, destacando-se esta do resto como
Imagem 12
um grande recinto cinzento no lado esquerdo da
Esta possibilita uma análise espacial, permitindo fotografia aérea.
detetar concentrações urbanísticas e eventuais
4.1.2 O retrato urbano do concelho
dispersões, não fornecendo, porém, uma divisão
morfológica do espaço, esta sim possível na análise do Pode observar-se que existe um equilíbrio
PDM (Plano Diretor Municipal): relativo á divisão do solo neste concelho: das 3
grandes divisões que se encontram podem
reparar-
se que a que aparenta ocupar mais espaço no concelho parece ser a ligada às atividades económicas (roxo),
estando numa posição mais próxima ao rio Judeu e localizando-se mais a Este a ocupação industrial (esta
indústria será, como já mencionado anteriormente, a Siderurgia e as suas indústrias suporte, que ocupam
algo como 1/4 do concelho); As zonas urbanizadas parecem ficar em segundo lugar em termos de área de
ocupação: Estas áreas encontram se bastante dispersas umas das outras, existindo no meio alguns espaços
verdes e alguns equipamentos de utilização coletiva.
17
Importa mencionar ainda que estas áreas se encontram mais perto das zonas junto ao rio, mais para a
Oeste, evitando assim a poluição vinda da zona industrial localizada alguns km mais a Leste.

Por fim o terceiro grupo que aparenta ocupar grande parte do concelho que são as zonas florestais e/ou
agrícolas. Estas zonas têm mais expressão entre as duas divisões mencionadas anteriormente, parecendo
atuar como uma barreira de divisão entre estes dois locais (zona industrial de Paio Pires / zona residencial do
Vale da Romeira e Quinta Manuel André). Para finalizar pode observar-se ainda a escassez de espaços
verdes no concelho do seixal, face à malha urbana edificada.

Mapa 5
18
4.1.1 Revitalização urbana: O caminho seguido pelo Concelho do Seixal

Das três formas de revitalização urbana principais, como a requalificação urbana, ou seja, a redistribuição
de população ou atividades; a renovação urbana, que implica a demolição ou destruição de edifícios e a
reabilitação urbana, que se traduz na salvaguarda da traça dos edifícios e das suas funções, a opção tomada,
quer de forma coordenada ou não, pela autarquia e pelos particulares foi a reabilitação urbana: A partir de
um passeio a pé pelo Seixal, momento no qual estas imagens foram retiradas, é possível observar a intenção
( e concretização) de manter os edifícios mais próximos daquilo que foram, no passado:

Nesta imagem é possível observar a encruzilhada em que o


centro histórico de Seixal se encontra: não totalmente
revitalizado, mas a meio do caminho, coexistindo habitações
destruídas com habitações renovadas, porém mantendo as
funções com que inicialmente foram construídas, a
habitacional.

Esta opção não foi tomada, no entanto, em todas as


situações: No caso do edifício frontal da Mundet, a opção da
Câmara passou pela renovação urbana, tendo sida deixada cair
a fachada para a futura construção de um hotel, mantendo,
contudo, a estrutura dos antigos refeitórios, que se encontram
afetos à restauração. A taberna do Sousa, na alçada Sul da
Mundet, mantém igualmente as suas funções iniciais. O futuro
do centro histórico, espaço de convivência de gerações
diferentes, testemunho vivo da história da localidade
dependerá da cooperação entre particulares e Câmara. Imagem 13

4.2 Entrevista a um operador turístico: novas perspetivas, desafios e limitações

Para completar a nossa análise da atualidade do Seixal considerámos importante inserir um resumo da
nossa entrevista a um operador turístico, abaixo apresentada:

Os turistas que visitam o Seixal são provenientes de países desenvolvidos, como franceses, suecos,
americanos e dinamarqueses, e costumam passar pouco tempo, normalmente algumas horas: Isto deve-se á
pouca oferta turística de qualidade, não tendo assim atrativos que justifiquem a passagem, de muito tempo,
visitando a Baía e pouco mais. Para sermos francos e imparciais, não existem, pelo menos à data da
produção deste Estudo de Caso, quaisquer hotéis que possibilitassem uma estadia mais prolongada, no
centro histórico do Seixal. Existem, no entanto, algumas unidades de alojamento local, que procuram
colmatar uma falha.

19
Importa também discutir o que motiva os turistas a visitarem o Seixal: acima de tudo a curiosidade em
saber o que existe do outro lado de Lisboa, sendo atraídos principalmente pela beleza da Baía.

Por outro lado, existem também pessoas que têm intenções de se instalar no concelho, para aproveitar os
incentivos do Visto Gold, existindo também alguns suecos, tendo estes idades acima dos 65 anos, que
devido à calma que a região apresenta esta torna-se atrativa para a sua instalação, e usufruto da reforma.

O Seixal não apresenta ser importante por si só, porém para os estrangeiros moradores talvez seja um
ponto de transição para Lisboa.

Para ser possível a transformação do Seixal ainda existe muito caminho a percorrer, mas o nosso
entrevistado defende que, por agora, foi importante a recuperação da zona pedonal da Baía e a criação do
Parque Urbano. Por outro lado, também apresenta algumas soluções, como a necessidade da construção de
uma marina, e a reversão de alguns investimentos camarários. Não basta a iniciativa pública, camarária, mas
também estar recetivo à iniciativa privada, é necessário um planeamento a longo prazo: Em suma, uma
renovação urbana que não esteja subordinada aos interesses da Câmara Municipal do Seixal, mas que possa
revitalizar os diferentes espaços, quer por iniciativa privada, quer camarária.

20
5. Conclusões principais e uma visão de futuro

Com este Estudo de Caso, cumprimos os objetivos a que nos propusemos: Dar a conhecer a evolução do
Seixal e perspetivar em parte as mudanças que estão a ser efetuadas e como tal pode impactar o futuro:

-A primeira fase, desde os “primórdios da nacionalidade” até à instalação das primeiras indústrias, com
todas as consequências na estrutura urbana e produtiva;

-A segunda fase, desde a instalação das primeiras indústrias até à criação da Siderurgia Nacional, com
foco na Mundet, e todos os benefícios que trouxe à comunidade, bem como os seus efeitos na morfologia
urbana;

-A terceira fase, desde a siderurgia até meados do século XXI, com a Siderurgia Nacional e a sua a
influência na população e no concelho;

-A quarta fase, focada na atualidade, com a revitalização urbana do centro em foco, e um concelho que se
dedica principalmente a atividades do setor terciário, que agora tenta crescer na direção do turismo, num
percurso ainda incipiente

Constatámos um concelho, que na sua malha urbana, demografia e atividade económica dominante foi
desde sempre influenciado pelo rio e pelos recursos naturais que nele se encontravam. Ainda nos dias de
hoje, em que a população mais jovem desconhece as suas raízes e as suas influências, as marcas de uma
evolução estão patentes, quer na malha urbana dominante, nos valores defendidos, bem como na toponímia
e estatuária urbana. Estes aspetos refletem a evolução de um território marcado inicialmente pelas atividades
do setor primário, tendo vindo a meta morfar-se em direção às atividades do setor secundário.

Denota-se uma preocupação com o território, integrando parte do passado, vivendo o presente e
delineando o futuro. Em jeito final queremos destacar a impossibilidade que a pandemia trouxe em impedir
a entrevista planeada com os técnicos do Ecomuseu, que em muito poderiam ter enriquecido este estudo.

Para o futuro, consideramos importante a necessidade de criar um planeamento adequado às


especificidades regionais, que tenha o seu passado em mente, e que, sobretudo, atenda às necessidades da
população, esta uma marca da sua história e geografia, deste povo desde sempre ligado ao mar, o Seixal.

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Lista de figuras:

- Figura 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 - Imagens da coleção Europeana da C.M.S. que retratam aspetos


antigos da vida seixalense - http://catalogo.cm-seixal.pt:8080/ow4/seixal27052013/index.xsp

- Restantes imagens: Crédito dos autores

Lista de mapas:

- Mapa 1 – Pormenor de um mapa, onde é visível a distribuição urbana da


localidade https://iiif.lib.harvard.edu/manifests/view/ids:8784115

- Mapa 2 - Primeira representação do Seixal em mapa

https://biblio.unibe.ch/web-apps/maps/zoomify.php?pic=Ryh_1604_39.jpg&col=ryh

- Mapa 3 - Junção de uma série de mapas, com pormenores do Seixal

https://www.oldmapsonline.org/map/cuni/1170791

- Mapa 4 – Pormenor de mapa proveniente da David Rumsey Map Collection: The World Atlas,
pertencente à antiga União Soviética.

https://www.oldmapsonline.org/map/rumsey/1603.083

- Mapa 5 - Plano Diretor Municipal do Seixal, 2015 - Serviços cartográficos da C.M.S - https://www.cm-
seixal.pt/sites/default/files/documents/PDM2015/1510_pl_ord_solo_corr-dep.pdf

Bibliografia:
- Câmara Municipal do Seixal. (1997). Município do Seixal: um roteiro de memórias para o futuro.

- Censos da População: 1864 a 2011

- Lima, M. A. S. (1997) Terra de Larus: Encontros com o património Natural e Ambiental do


Concelho do Seixal, Plátano Editora

- Lima, M. A. S. (2006) Amora - Memórias e Vivências D’Outrora, Plátano Editora

- Lopes ,R.M.D,(2016) Faculdade de Ciências Sociais e Humanas: O Estado Novo e a vila do Seixal
(1926-1961): um percurso político e socioeconómico do concelho durante a ditadura.

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- Rua, L.M.R.B,(2014) Instituto Superior de Educação e Ciências. A no concelho do Seixal e o desafio
da conversão das antigas áreas industriais na perspetiva da gestão autárquica.

- Silva, A. C. R., Nunes, M. I. & Luís, M. (2013) Memórias do Seixal, Paulinas Editora
Valadares, F.M,(2008). Universidade Aberta Lisboa: Ruralidade em Almada e SeixaL nos séculos XVIII
e XIX.

Webliografia:
Mundet: https://osetubalense.com/dossie/especial/2018/07/14/mundet-uma-fabrica-transformada-em-
museu-restaurante-arquivo-e-escola/ (acedido a 21/05/2021),

https://www.cm-seixal.pt/ecomuseu-municipal/nucleo-da-mundet (acedido a 21/05/2021)


http://historiavista.blogspot.com/2008/01/fbrica-de-cortia-mundet-seixal-oficina.html (acedido a
21/05/2021)
Companhia de Lanifícios da Arrentela: http://aultimapedra.blogspot.com/2013/04/companhia-
de- lanificios-da-arrentela.html (acedido a 21/05/2021)
Fábrica de Vidros da Amora- https://asraizesdeamora.blogs.sapo.pt/empresa-da-fabrica-de-vidros-da-
amora-2-3430 (acedido a 21/05/2021)
https://asraizesdeamora.blogs.sapo.pt/a-fabrica-dos-vidros-de-amora-3007 (acedido a 21/05/2021)
http://aultimapedra.blogspot.com/2013/04/companhia-de-lanificios-da-arrentela.html (acedido a
21/05/2021)
Ponte 25 de Abril- https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2016-08-05-esta-ponte-construiu-novas-
cidades/ (acedido a 21/05/2021)
Siderurgia Nacional- https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/03/siderurgia-nacional.html (acedido a
21/05/2021)

Jornal Diário de Notícias: https://www.dn.pt/lusa/movimento-de-cidadaos-do-seixal-apresentou-queixa-


na-ue-contra-poluicao-da-siderurgia-nacional-9071887.html (acedido a 21/05/2021)

População residente - https://www.pordata.pt/Municipios/Popula%c3%a7%c3%a3o+residente+


+estimativas+a+31+de+Dezem bro-120 (acedido a 21/05/2021)

Densidade Populacional-https://www.pordata.pt/Municipios/Densidade+populacional-452 (acedido a


21/05/2021)
PDM(Plano Diretor Municipal)-https://www.cm-seixal.pt/ordenamento-do-territorio/plano-diretor-
municipal (acedido a 21/05/2021)

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