Pancreatite Aguda
Pancreatite Aguda
Pancreatite Aguda
Morfofisiologia do pâncreas
O pâncreas é uma glândula retroperitoneal que mede aproximadamente 12 a 15 cm de
comprimento e 2,5 cm de espessura, encontra-se posteriormente à curvatura maior do
estômago.
Consiste em uma cabeça, corpo e cauda, geralmente está ligado por dois ductos. A
cabeça do pâncreas é a porção expandida do órgão, próxima da curva do duodeno;
superiormente e à esquerda da cabeça estão o corpo do pâncreas central e a cauda do
pâncreas afilada.
Os sucos pancreáticos são secretados pelas células exócrinas em pequenos ductos que
por fim se unem para formar dois ductos maiores, o ducto pancreático e o ducto acessório,
que levarão as secreções até o intestino delgado.
Na maior parte das pessoas, o ducto pancreático se une ao ducto colédoco que vem do
fígado e vesícula biliar e entra no duodeno como um ducto comum dilatado chamado
ampola hepatopancreática (ampola de Vater).
A passagem do suco pancreático e biliar por meio da ampola de Vater para o duodeno do
intestino delgado é regulada por massa de músculo liso que circunda a ampola, chamado
Etiologia
A determinação da sua etiologia é muito importante, porque muitas podem ser tratadas e
eliminadas, prevenindo recorrências.
Litíase biliar: Embora a maioria dos doentes se recupere sem complicações ou sequelas,
cerca de 15% a 30% apresentam evolução grave, exigindo cuidados intensivos.
Alcoolismo: Incide com maior frequência em adultos jovens do sexo masculino.
Geralmente, pacientes que apresentam pancreatite aguda por álcool já possuem
evidências funcionais ou morfológicas de pancreatite crônica, logo, se enquadra em
pancreatite crônica agudizada.
Hipertrigliceridemia: Níveis elevados de VLDL e quilomícron levam a liberação de ácidos
graxos livres, com lesões direta das células acinares pancreáticas e do endotélio.
Geralmente acomete diabéticos mal controlados com antecedentes de hipertrigliceridemia,
alcoolistas com hipertrigliceridemia.
Iatrogênica: Após o pós operatório (devido manipulações do trato biliar e de ampola de
Vater, ou após operações gastroduodenais, cesariana, dentre outras).
Medicamentos: Causam PA devido seu efeito tóxico direto da droga, reações de
hipersensibilidade ou efeito tóxico indireto, mediado por hipertrigliceridemia ou outras
anormalidades metabólicas.
Tumores: Tumores pancreáticos ou papilares que obstruem a drenagem do suco
pancreático.
Fisiopatologia
Ocorre ativação prematura do tripsinogênio no interior das células pancreáticas em
quantidades suficientes para superar os mecanismos de defesa capazes de proteger o
pâncreas da tripsina ativada. Isso causará a ativação seriada dos demais zimogênios e da
fosfolipase A2, promovendo a autodigestão do parênquima pancreático.
Na fase tardia das pancreatites agudas graves, infecções dos tecidos pancreáticos e
peripancreático surgem como principal causa de mortalidade. A hipotensão secundária ao
extravasamento de água livre para o terceiro espaço por alteração de permeabilidade
capilar resulta em isquemia intestinal e queda da barreira mucosa, provocando
microfraturas epiteliais que permitem o deslocamento de microrganismos provenientes na
luz do cólon para a circulação linfática e venosa.
Muitas vezes, esses pacientes possuem algum grau de supercrescimento bacteriano
subclínico, seja por íleo prolongado ou uso concomitante de antimicrobianos de amplo
espectro. Uma vez em contato com o tecido pancreático necrótico, tais microrganismos
encontram um ambiente propício para a proliferação.
Manifestações clínicas
Dor abdominal é a principal queixa da maioria dos pacientes com pancreatite aguda, sendo
sua intensidade variável de leve desconforto à dor incapacitante.
É contínua, mal definida, localizada no epigástrio ou no andar superior do abdome,
irradiando-se para o dorso, mas também pode atingir o flanco direito ou esquerdo.
O alívio ocorre na posição genupeitoral e há agravamento com a adoção da posição
supina ou com o esforço.
Em 90% dos casos, a dor se acompanha de náuseas e vômitos, possivelmente
relacionados à intensidade da dor ou à inflamação da parede posterior do estômago.
Manifestações como sede, débito urinário reduzido, taquicardia crescente, taquipneia,
hipoxemia, agitação, confusão mental, nível crescente de hematócrito e inexistência de
melhora dos sintomas nas primeiras 48 horas são sinais indicativos de doença grave
iminente.
As complicações são reação inflamatória sistêmica, síndrome de angustia respiratória
aguda, necrose tubular aguda e falência de órgãos.
Diagnóstico
Para diagnóstico de pancreatite aguda, utiliza-se os seguintes critérios: Dor abdominal
persistente, de forte intensidade, localizada no andar superior do abdome com irradiação
para o dorso e associada a náuseas e vômitos; amilase ou lipase maior ou igual a três
vezes o limite superior da normalidade e achados tomográficos compatíveis com
pancreatite aguda.
A dosagem das enzimas pancreáticas é o exame laboratorial mais indicado para
diagnóstico da pancreatite aguda, mas elas podem se encontrar alteradas em grande
número de condições, tanto pancreáticas como não pancreáticas, de modo que elevações
discretas devem ser analisadas em um contexto clínico bastante amplo.
O intervalo de tempo entre início dos sintomas e dosagem das enzimas deve ser lembrado,
pois elevações persistentes das enzimas após a resolução do quadro sugerem presença
de complicações, como pseudocistos. Elevações superiores a três vezes o limite superior
da normalidade são consideradas mais específicas para diagnóstico da pancreatite aguda
e os níveis sérios dessas enzimas não possuem qualquer implicação prognóstica.
Tratamento
Medidas gerais: A avaliação dos sinais vitais deve ser realizada de 4 em 4 horas nas
primeiras 24 horas. Oxigênio suplementar deve ser fornecido se narcóticos forem
administrados ou se houver queda da saturação de oxigênio. A gasometria arterial deve
ser realizada se a saturação de oxigênio for menor ou igual a 95%, se houver hipotensão
ou alteração do parâmetro respiratório.
Reposição volêmica: Deve ser iniciada precoce e agressivamente, visando manter
estabilidade hemodinâmica, diurese maior do que 0,5 a 1 Ml/kg/hora e normalização do
hematócrito.
Analgesia: Dor abdominal é o sinal predominante. Analgésicos opioides por via venosa
são preferíveis, pois a via subcutânea não é recomendada, sobretudo em pacientes com
instabilidade hemodinâmica não revertida.
Nutrição: Considerada padrão para os quadros leves, repouso pancreático com jejum oral
não foi testado com ensaios clínicos. Baseada no conceito fisiológico de que a alimentação
aumenta a secreção de enzimas pancreáticos, isso no contexto de uma pancreatite aguda,
aumentaria o processo inflamatório local e perpetuaria a agressão sistêmica.