O CAMINHO DA FUGA DOS ÍNDIOS QUE VIVIAM AO REDOR DA BAÍA DE GUANABARA NO SÉCULO XVI Ou O CAMINHO DE ARARIBÓIA

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COGITAÇÕES

O CAMINHO DA FUGA DOS ÍNDIOS QUE VIVIAM AO REDOR


DA BAÍA DE GUANABARA NO SÉCULO XVI ou O CAMINHO DE
ARARIBÓIA

Ronaldo Victer1

As motivações de uma pessoa que a impulsionam empreender uma longa


caminhada são muito subjetivas. Pode ser pelo desejo de peregrinação religiosa, ou pela
busca da introspecção, ou de cultura. Ou, ainda por uma identificação especial com a
história do caminho. As motivações são muitas. Mas, qualquer que seja ela
recompensará a pessoa com o bem-estar de quem cumpriu a tarefa. Sem dúvida, quem
juntar vontade de caminhar com uma história fará um caminho como algo muito pessoal
e singular.

Quando caminhamos por muitas horas, o gesto do caminhar é feito de forma


lenta e repetitiva levando-nos, magicamente, envolvermos com cada passo. A cada
momento, pequenas partes do nosso ser vão sendo estimuladas pela imaginação, e sem
nos darmos conta, tudo vai se juntando, e de repente, fazemos uma viagem imaginária.
Por isso, podemos unir o Século XVI com o Século XXI, borrifar com alguma coisa do
Século XX, e pintar a baía de Guanabara e a orla nordeste do Estado do Rio como pano
de fundo para nossas histórias.

O desfecho dramático da fuga dos índios que viviam ao redor da baía de


Guanabara para Cabo Frio no Século XVI, serve-nos como ingredientes de
rememoração da nossa história social, antropológica e cultural.

A partir do ano de 1500 começa uma história no Brasil: a da colonização.


Contudo, a História do Brasil ensinada nas escolas está cheia de interpretações
casuísticas oriundas dos longos períodos do oportunismo das classes sociais
dominantes, as quais geraram uma história pouco compromissada com o significado de
uma singular identidade sócio-cultural. Somente nas últimas décadas do Século XX
(entre 1980 e 2000), as pesquisas da história do Brasil têm se direcionado de forma mais
responsável e com a dignidade de ciência.

Quantas controvérsias ouvem-se aqui e acolá, desde os motivos imputados a


Dom Pedro Alvarez Cabral a vir descobrir o Brasil, outras questões da história do Brasil
até mais complexas como a da verdadeira liderança ideológica de Tiradentes na
Inconfidência Mineira. Muitos outros exemplos, como a história problematizada por
1
Professor de Psiquiatria da Universidade Federal Fluminense, membro da Sociedade Psicanalítica do Rio
de Janeiro filiada à International Psychoanalytical Association e membro Titular da Academia de
Medicina do Estado do Rio de Janeiro.
historiadores ingênuos que viam nos quilombos dos escravos africanos que fugiam da
escravidão, a formação de uma sociedade com igualdade social. Mas, esses
historiadores ignoraram que entre os próprios africanos fugitivos repetia-se a relação
escravagista, ou seja, a manutenção da verticalidade senhor e escravo. Desconheciam
que ainda na África, os escravos eram arrebanhados de forma desumana, através das
próprias tribos africanas, vendidos como escravos.

Também importante é re-lembrar outra controvérsia histórica: quanto à


descoberta da Ilha de Vera Cruz (Brasil) ter sido feita em nome da Companhia da
Ordem de Jesus, remanescente da Ordem dos Templários, e não em nome de
Portugal como deveria ter sido etc.

Aproveitar para dar um destaque à palavra descobrimento. Para Fernando


Cristóvão (Camões, Revista de Letras e Cultura Lusófonas, pág.97) diz, aquilo a que
podemos chamar a ideologia do “descobrimento” processa-se em duas áreas
complementares: no significado histórico contido na palavra descobrir, e no
exercício de uma soberania tanto temporal como espiritual. Continuando, o mesmo
artigo, o autor aborda a questão da substituição da palavra achamento por
descobrimento, feita pelos historiadores na carta de Pêro Vaz de Caminha, assim:
traduz, com a mesma ênfase, o mesmo estado de espírito nacional. Perante ela
(descobrimento), o modesto, o gótico achamento, tinha que desaparecer subvertido
pela linguagem grandiloqüente que a nação, desde 1500, começava a falar. O
destacar isso é apenas para chamar a atenção, o quanto às palavras, aos poucos, podem
modificar o sentido de época.

Réplica da Nau de Cabral construída para Comemoração dos 500 anos da Descoberta do
Brasil (fundeado no Clube Naval – Charitas, Niterói, 2005).

Mais obscuro é quanto à história de nossos silvícolas do período do


descobrimento do Brasil, porque a história oficial tenta enquadrar o misticismo
antropofágico contumaz entre os índios, como sendo praticado por seres de escala
animal inferior. Algo abertamente preconceituoso, o qual continua como um desafio
para conscientização histórica a vencer. Há um sem número de interpretações a respeito
da História do Brasil que nos deixam atônitos depois que vimos saber de outras
vertentes da mesma.

Quando o Brasil se chamava Terra de Santa Cruz havia somente as povoações


de Salvador e Porto Seguro na Bahia, Vitória no Espírito Santo, Cabo Frio (a primeira
bem-feitoria do Brasil em 1503) e Paraty (ambas no Estado do Rio), e mais ao sul, o
grande povoado de São Vicente (SP).

Em novembro de 1555 o Senhor Villegaignon, de nome Nicolas Durand de


Villegaignon (francês nascido em Provins 1510 e falecido em 1571 em Beauvais),
Cavalheiro da Ordem de Malta, também conhecida por Ordem de São João de
Jerusalém, instalou-se em local onde os índios chamavam de Guanabara. Comandava
dois barcos com 600 colonos. Vinha para servir a Deus de acordo com o evangelho
reformado de Calvino e preparar um refúgio para todos os que desejassem fugir das
perseguições na Europa, o nome seria França Antártica. Villegaignon primeiramente,
tentou fazer uma fortificação na entrada da baia da Guanabara, do lado direito, onde se
encontra hoje a Fortaleza de Santa Cruz, mas as ondas logo a destruíram. Adentrou-se
pelo então chamado rio de janeiro, fixando-se numa pequena ilha a de Serijipe, onde
hoje está a Escola Naval, e lá fundou uma cidade a Henriville.

Villegaignon partiu da França sob auspício do Almirante Gaspard de Coligny


fiel do Rei de França Henrique II. Em 1557 chegou outra expedição para enriquecer a
França Antártica trazendo homens e as primeiras mulheres brancas, além de pequenos
animais.

Penetrar na guanabara (seio do mar − barra da água grande), logo rebatizado


pelos Portugueses de rio de janeiro, foi tarefa fácil para uma expedição militar francesa
que aspirava fundar uma pátria. Conviver com os habitantes da região, pessoas que
andavam nuas, ordeiras e curiosas, isso também foi uma missão fácil. Ganhar confiança
delas e participar de seus rituais antropofágicos, conhecendo-os intimamente fazia parte
da missão dos calvinistas. Enfim, esses franceses conquistaram o pequeno território
indígena no qual viviam os Tupinambás, Cariocas e outros. Contra esses, os Margaiás
ou Maracajás (gato-do-mato). Ao redor da baía de Guanabara de água cristalina, em um
verdadeiro celeiro de peixes e animais, conviviam todos esses seres humanos. Quem
hoje pode dimensionar o que devia ser a baía de Guanabara?

O que pôde ter sucedido no imaginário do europeu cristão por fé católica, ao se


deparar com hábitos adversos, numa terra com vida cultural e social sem a preocupação
com o pecado do catolicismo? Seria possível ele concluir que havia chegado ao
Paraíso? − O Paraíso descrito nas frases bíblicas? O sonho acalentado de construir a
França Antártica, como local livre de perseguições, como algo já comprovado nas
Escrituras Divinas, podia ter gerado nesses homens um grande afã pela conquista.
Como devia ter sido ter uma convivência pacífica e libada entre os franceses de tez
branca com os silvícolas de tez amarela? Como devia ter sido para os cristãos tementes
a Deus compartilharem com uma massa de indígenas obedientes a espíritos ancestrais
exorcizados em rituais antropofágicos? Sexualidades compartilhadas e convivendo
juntas, de um lado com os padrões cristãos, do outro, sob o prisma indígena. Preceitos
religiosos e morais distintos, diariamente, num mesmo território abundante de riquezas
naturais. Experiências mútuas transculturais pioneiras.
Moquém antropofágico na Tribo dos Tupinambás

Um dos primeiros registros das relações franco-tupis data de 1550: é a cerimônia


da entrada real de Henrique II em Rouen. A festa brasileira simulou a vida selvagem
nas florestas tropicais, com a presença de cerca de cinqüenta índios levados do Brasil
para a cerimônia, ao lado de marinheiros fantasiados à la tupinambá. O livreto
publicado na época, com uma imagem da encenação, traz uma descrição detalhada do
tráfico do pau-brasil pelos franceses e indica a terminologia indígena para as diversas
espécies de pássaros brasileiros, muito procuradas pelo mercado francês por causa do
seu colorido. Os armadores de Rouen tinham um objetivo preciso ao apresentar esse
espetáculo: atrair a atenção do Rei para as riquezas do país e levar a França a ingressar
numa política de exploração comercial da madeira corante vinda do Brasil.

Ao que parece, depois dessa festa, as exibições e desfiles exóticos feitos para
monarcas franceses tornaram-se moda. Em 1562, Carlos IX conversou longamente com
alguns índios. Montaigne relata o diálogo que teve com um deles através de um
intérprete. Dois anos mais tarde, o Rei, na sua entrada na cidade de Troyes, foi honrado
com um cortejo de várias nações selvagens. Numa ocasião similar, em Bordeaux, em
1566, dentre as 12 nações estrangeiras estavam selvagens brasileiros que discursaram
para o Rei. O que esses selvagens teriam dito? Fica a pergunta.

Quanto à rivalidade dos indígenas. Os Margaiás ou Maracajás vivam na Ilha


Grande (atual Ilha do Governador) juntamente com seus inimigos, os Tupinambás em
maior número. Havia uma pequena tribo chamada Carioca a qual ocupava onde hoje
está o bairro do Flamengo. Importante ressaltar que após 1500, com a presença dos
europeus, franceses e portugueses, essas rivalidades acentuaram-se.

Na história do Brasil do Século XVI ainda existem muitas passagens a serem


mais bem comprovadas. Uma dessas é quanto a ida do principal dos Maracajás, o
Maracajá-Assu, de barco da Ilha Grande, hoje Ilha do Governador (dentro da baía de
Guanabara) até ao sul da Capitania (hoje Estado do Espírito Santo) para solicitar
proteção ao Governador. Porque eles viviam em penúria infringida pelos Tupinambás.
Em face disso toda a aldeia dos Maracajás foi resgata por uma caravela em 1530 e
levada para o Espírito Santo. Essa tribo ficou conhecida pelo nome de Temiminós na
qual se desenvolveu o filho do Maracaju-Assu, o Araribóia, cobra da tempestade.
.
Contudo se pode objetar quanto os Temiminós terem vivido na baia de
Guanabara antes da presença dos europeus, como foi dito acima, ou se eles eram
mesmos originários do Espírito Santo, e posteriormente trazidos por Mem de Sá em
1560 para combater os Tamoios e Franceses na baía de Guanabara? Também se poderá
dizer que estivessem assentados em dois sítios tão longe um do outro?

Também é importante ressaltar que nos primeiros cinqüenta anos, os


investimentos portugueses concentraram-se principalmente na colonização na Bahia em
São Vicente. Enquanto a baía de Guanabara ainda não fazia parte dos investimentos
portugueses, os franceses, mais diretamente Villegaignon na condição de Cavaleiro da
Ordem de Malta, obtiveram condescendência dos portugueses para fundar a França
Antártica. Mas, no momento que os portugueses evidenciaram o objetivo de
Villegaignon de albergar os perseguidos do catolicismo europeu, os portugueses contra-
reagiram. Passaram a considerar Villegaignon como serviçal do calvinismo, e em ato
contínuo, quiseram o expulsar.

Confluíram dois episódios para a expulsão dos Franceses da baia de Guanabara.


Em primeiro lugar, foi à condição inimiga assumida dos Portugueses aos propósitos
calvinistas e a outra, foi o assassinato do Almirante Coligny o qual era o mentor e o
patrocinador dos recursos militares e civis da empreitada da França Antártica, que se
deu simultaneamente com a queda do Rei Henrique II. Por isso, em 1557 Villegaignon
teve de retornar para França com alguns de seus compatriotas. Mas, alguns por aqui
ficaram no refúgio da Casa de Pedra (hoje conhecida por Casa da Pedra Francesa) em
Cabo Frio, no Morro do Arpoador, de onde os Franceses embarcavam o pau-brasil para
Europa.

A estratégia dos portugueses para expulsar os Franceses da baía de Guanabara


consistia em utilizar os Temiminós inimigos históricos dos Paranapuans e dos
Tupinambás que se uniram aos franceses. Em 1560, os Temiminós comandados por
Araribóia e os Portugueses por Mem de Sá fizeram a primeira investida bélica. Mas
foi em 1565 no comando de Estácio de Sá que os portugueses expulsaram
definitivamente os Franceses da baía de Guanabara, com o auxílio da tribo liderada por
Araribóia. Por uma só ação, eliminou o foco Tamoio de luta contra os Portugueses
assim como a presença dos Franceses na baía de Guanabara.

Livre dos Franceses e dos Tamoios, os Portugueses retribuíram aos Temiminós,


com uma doação de sesmaria. O índio Araribóia foi batizado com o nome de Martim
Afonso de Sousa em 1562 (ou 1563). Em 16 de março de 1568, Estácio de Sá concedeu
a Martim Afonso de Sousa, o Araribóia, terras na Banda de Além, no lado oriental da
baía de Guanabara, e a posse foi em 22 de novembro de 1573 (data da fundação de
Niterói). No Auto de Posse da Sesmaria de Martim Affonso de Souza está assim:
Saibam quantos este público instrumento de posse de terras de sesmaria dada
por mandado e autoridade de justiça virem, que no ano do nascimento de
nosso senhor jesus cristo de 1573 anos, aos vinte e dois dias deste presente
mês de novembro desta presente era da banda de além desta cidade de s.
sebastião desta capitania e governação e baía deste rio de janeiro, terras do
brasil, no termo delas, nas terras que dizem ser a escritura e carta dada atrás,
que o governador o general mendonça a martim affonso de sousa, cavalheiro
da ordem de cristo, e logo aí, por este dito a mim público tabelião e ao
porteiro mestre vasco, e perante as testemunhas, que ao todo foram
presentes, que o dito governador lhe deu de sesmaria para ele e para seus
ascendentes e descendentes, aí aonde estava uma légua de terras e duas para
o sertão, a qual ... etc, etc...

Hoje, essa faixa de terra, corresponde ao trecho entre os bairros Gragoatá e São
Lourenço próximo a um braço de mar, denominado Nictherói que se traduz do Tupi-
Guarani por águas escondidas.

A fuga dos índios que viviam ao redor da baía de Guanabara no século XVI

Os Tamoios que viviam ao redor da baía de Guanabara fugiram para Cabo Frio
porque lá estavam os Franceses e assim se afastavam do território de São Vicente onde
havia grande grupamento de Portugueses. A Confederação dos Tamoios era a união
das tribos que habitavam desde norte de São Paulo até norte do Estado Rio, dentro
Capitania de São Vicente, incluindo os Aymorés e os Goitacazes. Tamoio significa
primeiro da terra, ou avôs. Enquanto Temiminós, os netos, os que vêem depois.

A Confederação dos Tamoios surgiu em torno dos anos de 1554 e 1555, até os
anos de 1567. Cunhambebe foi o primeiro índio escolhido por um Conselho dos
principais índios das tribos. Quando Cunhambebe morreu em combate, assumiu o
morubixaba Aimberê que teve participação na luta dentro da baía de Guanabara.

Em 1575, o Governador Salvador Correia de Sá juntamente com Araribóia


mataram 1500 índios entre guerreiros, mulheres e crianças, além de dois Franceses. Por
que na Guerra de Cabo Frio apenas dois franceses morreram, se, nesse local,
certamente, havia um significativo número de Franceses refugiados?

Na fase de instalação dos Temiminós em Niterói, onde anteriormente estava


assentada a tribo dos Tupinambás, os Portugueses produziram a primeira guerra
biológica do planeta. Presentearam aos Temiminós roupas contaminadas com varíola.
Experiência já conhecida em Salvador, Bahia, em 1560, quando se registrou o primeiro
caso de varíola entre os índios. Em 1589 Araribóia morreu de varíola, na antiga Aldeia
de São Lourenço, e foi enterrado na Igreja de São Lourenço dos Índios. Nos anos
dessa epidemia, muitos membros das tribos Temiminós puseram-se em fuga porque
foram atingindo por um mal desconhecido que matavam a todos. Tomaram a decisão de
fugir de Niterói indo para o Espírito Santo, ou seja, empreenderam O Caminho da
Fuga. Por ironia da história, foi o mesmo caminho que tinha sido feito anteriormente
por seus inimigos Tamoios dizimados na Guerra de Cabo Frio os quais se refugiaram
no Morro do Arpoador próximo ao Forte de São Mateus (Cabo Frio RJ).

Os Temiminós semelhantemente os Tamoios morreram na região de Santa


Helena de Cabo Frio, mas dessa feita não morreram guerreando, morreram de
varíola. Tombaram onde hoje se localiza a Base Aero-Naval de São Pedro d’Aldeia.
Ninguém sobreviveu. Aliás, o resultado final da contaminação por varíola entre os
índios, foi o aniquilamento total dos primitivos habitantes do litoral. A partir da metade
do Século XVII (1650) não havia um único índio de quaisquer das tribos. A Guanabara
passou a ser inteiramente, e somente, dos Portugueses.

Conjecturas
Por duas vezes os índios fugiram da região da baía de Guanabara em direção a
Cabo Frio. A primeira foi quando houve a expulsão dos Tupinambás pelos Temiminós
e Franceses, a segunda, quando os Temiminós foram atingidos pela epidemia de
varíola. Possivelmente, tanto uns quanto outros seguiram pelo caminho mais
confortável disponível. Fugiram usando o caminho pela orla marítima. Hoje, existem
vestígios de dois sambaquis nesse percurso. Um está em Itaipu e outro em Saquarema.
Considerando a nomenclatura dos logradouros na atualidade, podemos supor que
foram por um atalho da praia de Charitas existente em frente ao atual Clube Naval,
chegaram à praia do Forte Imbuí, depois, seguiram em direção ao canal da lagoa de
Piratininga com o mar. Seguiram pela praia de Piratininga até o canal da lagoa de Itaipu
(onde se pode encontrar o sambaqui), tomaram a direção da serra da Tiririca. Daí,
Itaipuaçu, sempre pela orla, foram para Barra de Maricá, Ponta Negra, Jaconé,
Saquarema (outro sambaqui), lagoa de Araruama, limites de Arraial do Cabo e no
sentido de São Pedro d’Aldeia, dirigiram-se para atual Base Aero-Naval. Possivelmente,
esses Temiminós queriam chegar ao Estado do Espírito Santo. Hoje não podemos
repetir exatamente o trajeto dos índios porque o Forte do Imbuí está reservado ao
Exército Brasileiro.

Concluir que Araribóia representa uma imagem heróica do povo nativo destas
terras, que o que houve em sua história foi resultado do imediatismo de um povo sem
nenhuma objetividade para a própria sobrevivência, torna-se óbvio. Mas se re-
pensarmos detidamente a respeito desses episódios, resta-nos perguntar: até que ponto,
ainda hoje, o povo brasileiro que aqui vive, nestas terras do Brasil, já totalmente
miscigenado, possui a mesma semelhança cultural dos primitivos silvícolas de não
futurar?

Referências:
Pontos Controvertidos da Vida de ARARIBÓIA de Luiz Carlos Lessa, trabalho
publicado pela Editora Laplace em Niterói,1996.
Viagem à terra do Brasil de Jean de Léry editado em La Rochelle, França, em 1578; re-
editado pela Biblioteca do Exército  Editora, Rio de Janeiro, em 1961.
Enciclopédia BARSA, páginas 171 a 173 − Volume 6, páginas 433 e 434 − volume 15,
RJ/SP,1984.
Revista Nossa História, Ano 1/ número 9. Edição de julho de 2004,páginas 34 a 39,
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, RJ.
Ilha da Boa Viagem, paisagem − monumento da baía de Guanabara/ Regina Célia da
Silva Costa. Niterói,RJ: Niterói Livros,2004.
A Guerra dos Tamoios de Aylton Quintiliano 2ª ed.revisada, Relume Dumará, Rio de
Janeiro, 2003.
Camões – Revista de Letras e Culturas Lusófonas – número 8 – Terra Brasilis –
Instituto Camões, Lisboa, janeiro – março 2000.

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