0% acharam este documento útil (0 voto)
53 visualizações5 páginas

Um Olhar Investigativo

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1/ 5

O Olhar Investigativo na Perícia Psicológica

DEFININDO A PSICOLOGIA FORENSE

O uso do termo “forense” sugere uma relação equivocada e direta com o tribunal,
mas deve ficar claro que o trabalho do psicólogo forense vai muito além desse
espaço, estendendo-se para uma grande variedade de contextos, instituições ou
locais, como em serviços específicos do sistema judicial, centros de tratamento ou
reeducação para infratores, unidades de pesquisa do Ministério da Justiça, serviço
de apoio às crianças ou às vítimas, universidades, estabelecimentos de saúde
mental ou prisional, entre outros. (FONSECA, 2006).

A Psicologia Forense é uma das atividades do psicólogo, que é relativa à descrição


dos processos mentais e comportamentais, conforme o uso de técnicas psicológicas
reconhecidas, respondendo estritamente à demanda judicial, sem emitir juízo de
valor. Nesse sentido, vale a lembrança de que o psicólogo responde judicialmente
pelos efeitos e resultados da medida judicial pautada pelo seu trabalho.

É importante, ainda, distinguir a prática da psicologia e da psiquiatria forense.


Enquanto o psiquiatra forense analisa aspectos ligados aos transtornos mentais e
suas conexões com um crime específico, o psicólogo foca nos aspectos referentes à
subjetividade e personalidade dos indivíduos avaliados, bem como a forma com a
qual esse sujeito significa suas experiências, visando auxiliar o magistrado no seu
processo de tomada de decisão.

Com isso, o psicólogo forense busca compreender o humano a partir dos princípios
da:

1. Ênfase na análise individual relacionada com o seu contexto social, político,


econômico;
2. Ideia de que os comportamentos devem ser analisados em todos os âmbitos,
não só no aspecto criminal, mas também no ambiental e emocional;
3. Crença na ideia de que o ser humano orienta-se por sua “escala de
necessidades”, que vão desde a subsistência à dimensão moral, religiosa
etc.;
4. Avaliação da motivação psicológica e de como os estímulos do ambiente são
processados e interpretados e de como adquirem significado pessoal.

Por fim, vale mencionar que a Psicologia Forense situa-se na confluência de vários
saberes. Há inúmeras conexões, por exemplo, com o Direito, a Psiquiatria, a
Medicina, o Serviço Social, a Sociologia, a Antropologia, entre outras. Assim, a
multiplicidade de saberes e de competências é uma das marcas da Psicologia
Forense.

A PERÍCIA PSICOLÓGICA FORENSE

Podemos definir perícia psicológica no contexto forense como o exame científico,


desenvolvido por um especialista, realizado com o uso de métodos e técnicas
reconhecidas pela Psicologia, com o objetivo de elaborar análises e conclusões
sobre os fatos e pessoas, apontando uma possível correlação de causa e efeito,
além de identificar a motivação e as alterações psicológicas dos agentes envolvidos
no processo judicial. A fundamentação legal da perícia psicológica encontra-se
definida em várias legislações. Entre elas destacamos:

1. Área Civil - Código de Processo Civil (Lei Federal nº 13.105/2015);


2. Área Penal – Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689/1941) –
artigos 149 a 154, 775; Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940) e Lei de
Execução Penal (Lei Federal nº 7.210/1984), que, entre outras orientações,
passaram a prever os exames de personalidade, criminológico e o parecer
técnico das Comissões Técnicas de Classificação.
3. Decreto nº 5.123/2004 – que trata do porte de armas e da avaliação do
candidato pelo psicólogo.
4. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei Federal nº 8.069/1990) -
com orientações sobre o atendimento psicossocial dessa população e sobre
a atividade de perícia e acompanhamento por parte do psicólogo.
5. Código de ética dos psicólogos (CFP, 2005).
6. Resolução CFP nº 008/2010 – que dispõe sobre a atuação do psicólogo
como perito e assistente técnico no Poder Judiciário.
7. Lei Federal nº 4.119/1964 – que trata da profissão de psicólogo e das suas
funções, entre elas a de realizar perícia e emitir pareceres.

Para ser perito é necessário que o profissional tenha nível superior, esteja inscrito
no seu Conselho de Classe e comprove sua condição com certidão do seu órgão
profissional, por exemplo, a carteira profissional. Portanto, o psicólogo perito deve
possuir graduação em Psicologia e inscrição regularizada no seu Conselho Regional
de Psicologia (CRP).

A lei não aponta a obrigatoriedade de o psicólogo possuir especialização na área de


perícia, basta que o profissional tenha capacidade técnica para responder as
questões apontadas no processo judicial. Mas, de modo geral, o psicólogo que
possui formação na área jurídica/forense é tido como mais capaz para responder à
demanda jurídica.
É importante destacar que o psicólogo perito responde judicialmente por prestar
informações inverídicas, seja por dolo ou culpa. Nesse caso, o profissional pode ser
responsabilizado pelos prejuízos que causar à parte, ficar inabilitado, por dois anos,
a conduzir outras perícias, incorrer na sanção que a lei penal estabelecer, além de
sofrer as penalidades previstas pelo seu respectivo conselho de classe.

Características do contexto da avaliação forense:

Uma das principais características da avaliação psicológica pericial ou perícia


psicológica forense é que a mesma torna-se peculiar em relação aos outros tipos de
avaliação psicológica, em função do seu objetivo final que é o de subsidiar decisões
legais, quando estas dependem de um entendimento acerca do funcionamento
psicológico do envolvidos (JUNG 2014, p. 01).

Importantes diferenças relacionadas à dimensão do processo de avaliação forense


fazem com que a mesma se torne distinta dos modelos de avaliação psicológica
clínica com fins terapêuticos, e convocam o psicólogo (perito) a uma compreensão
da especificidade do seu papel frente às demandas jurídicas, ou seja:

● Na avaliação forense há um maior distanciamento emocional entre o sujeito a


ser periciado e o Psicólogo, uma vez que este profissional não é visto pelo
sujeito como alguém que vai ajudá-lo.
● A avaliação Psicológica forense dirige-se a um foco específico geralmente
determinado pela autoridade Judicial.
● Torna-se necessária a busca de informações precisas e exatas, inclusive em
outras fontes como escolas, local de trabalho, clínicas etc.
● O sujeito poderá não ser colaborativo e apresentar resistência consciente à
avaliação, pois a procura do mesmo para a avaliação não surge por sua
vontade própria, e, sim, pela sua dependência com o marco legal.
● No contexto forense o sujeito pode distorcer consciente e intencionalmente
as informações.
● O tempo destinado à avaliação é menor diminuindo a possibilidade de
reflexão das formulações feitas pelo sujeito.

Neste sentido, torna-se fundamental que o psicólogo, ao exercer o seu papel na


área forense, tenha estabelecido às distinções do seu trabalho do que é exercido na
clínica com fins terapêuticos, podendo, deste modo, trazer contribuições efetivas ao
campo do Direito.

Limites da avaliação psicológica pericial


É importante lembrar que, por intermédio da avaliação, os psicólogos buscam
informações que os ajudem a responder questões sobre o funcionamento
psicológico das pessoas e suas implicações. Como o comportamento humano é
resultado de uma complexa teia de dimensões interrelacionadas que interagem para
produzi-lo, é praticamente impossível entender e considerar todas as nuances e
relações a ponto de prevê-lo sem margem de erro. Sendo assim as avaliações têm
um limite em relação ao que é possível entender e prever (CFP, 2007, 10).

Comumente espera-se do psicólogo a capacidade de fornecer informações sobre a


veracidade dos fatos, o que extrapola – e muito – a capacidade da Avaliação
Psicológica. Dessa forma, muitas vezes, espera-se da perícia psicológica a resposta
de questões que, até o momento, estão incompreendidas, questões essas que não
são passíveis de ser respondidas por meio apenas do exame psicológico.

Diferentemente do que muitos acreditam, o psicólogo não lê pensamentos ou


consegue arrancar a verdade total sobre os fatos, mas trata-se de um profissional,
que, por meio de suas ferramentas, procura entender melhor a dinâmica psíquica e
estabelecer conexões com os fatos, sejam essas conexões relacionadas ao
comportamento criminoso, seja aos sintomas e sentimentos vivenciados pela vítima
de violência.

Dessa forma, a atuação do psicólogo no contexto forense tem muito a contribuir no


contexto judiciário brasileiro. Existem muitos outros campos nos quais o psicólogo
pode contribuir que não foram citados nesse módulo, como a avaliação de
competência parental, o estudo do comportamento violento e avaliação da
capacidade civil. Contudo esperamos ter contribuído para um melhor entendimento
sobre a dinâmica da avaliação psicológica pericial, suas contribuições, limites e
importância para subsidiar os operadores do Direito no seu processo de tomada de
decisão.

REFERÊNCIAS:

CENTOFANTI, Rogério. O discriminacionismo afetivo de Radecki. Memorandum, nº


5, 2003, p. 91-104. Disponível em:
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos05/artigo08.pdf Acesso em
15/02/2016.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do


Psicólogo. 2014. Disponível em:
http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf
Acesso em: 20/02/2016.
__________________. Atribuições Profissionais do Psicólogo no Brasil.
Contribuição do Conselho Federal de psicologia ao Ministério do trabalho para
integrar o catálogo brasileiro de ocupações.17 de Outubro 1992.

___________________. Cartilha de avaliação Psicológica. 2007. Disponível em


http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Cartilha-Avalia%C3%A7%C3%A3o
-Psicol%C3%B3gica.pdf Acesso em 06/03/2016.

FONSECA, Antônio Castro. Psicologia Forense: uma breve introdução. In:


FONSECA, Antonio Castro. (ET AL.) Psicologia Forense. Coimbra: Almedina, 2006.
p. 03-23.

JUNG, Flávia Hermann. Avaliação Psicológica Pericial: Áreas e Instrumentos.


Revista Especialize online IPOG- Goiânia edição especial nº008 vol.01-2014 set
2014. Disponível em:
http://www.ipoggo.com.br/uploads/arquivos/2837ae3256017b1882e9b4b7862885ce.
pdf Acesso em 14/02/2016.

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE


2015, Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20152018/2015/Lei/L13105.htm#art1046.
Acesso em 15/02/2016.

ROVINSKI, Sônia Liane Reichert. Fundamentos da Perícia Psicológica Forense. 3ª


Ed. São Paulo: Vetor, 2013.

SAUNIER, Roberto Victor. La psicologia Forense en Argentina. In: BRITO, Leila


Maria Torraca. Temas de psicologia jurídica. Rio de Janeiro: RelumeDumará, 2002.
p. 19-44.

Você também pode gostar