Desenvolvimento Sustentavel e Economia Verdepdf

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DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL À
ECONOMIA VERDE OPERAM-SE AVANÇOS OU
RETROCESSOS?

Chapter · February 2017

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Gustavo Ferreira da Costa Lima


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Referência: LIMA, G. F. da C. Do desenvolvimento sustentável à economia verde operam-se avanços ou


retrocessos? In: OLIVEIRA, M. M. D. de et.al. Cidadania, meio ambiente e sustentabilidade [recurso eletrônico].
Caxias do Sul, RS: Educs, 2017.

DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL À ECONOMIA VERDE OPERAM-SE


AVANÇOS OU RETROCESSOS?

Gustavo Ferreira da Costa Lima1

1.Considerações iniciais

Passados quarenta e quatro anos da Conferência de Estocolmo, que promoveu a


primeira discussão global sobre a questão ambiental moderna e vinte e nove anos da
publicação do Relatório Nosso Futuro Comum pela Comissão Brundtland, que consagrou a
idéia de Desenvolvimento Sustentável - DS2, o quanto conseguimos avançar no debate e no
enfrentamento concreto dos desafios ambientais modernos? Qual o estado da arte do debate
sobre o Desenvolvimento Sustentável? Quais seus limites e possibilidades? Nesse contexto,
quais os significados da proposta de Economia verde apresentada na última grande
Conferência internacional a Rio+20 em 2014? Ela representa um avanço ou um retrocesso em
relação às premissas do Desenvolvimento Sustentável e aos problemas socioambientais
experimentados? As duas propostas mencionadas são, bem ou mal, as grandes narrativas a
orientar o labirinto dos conflitos socioambientais na modernidade avançada. Serão elas
capazes de oferecer as respostas necessárias à superação dos problemas vivenciados? Que
desafios se colocam à comunidade mundial, às instituições constituídas, aos atores sociais
direta ou indiretamente envolvidos com o equacionamento destes problemas e aos próprios
cidadãos ao redor do planeta?
Este feixe de indagações converge no objetivo do presente ensaio que busca refletir
sobre as propostas de Desenvolvimento Sustentável e Economia Verde tendo como pano de
fundo um cenário de múltiplas crises, social e ambiental, mas também econômica, política e
cultural. Objetiva-se assim, problematizar o debate que associa o Desenvolvimento
Sustentável e a Economia Verde em seus significados, diferenciações, contradições e

1
Doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP, Professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais e
do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, ambos da Universidade
Federal da Paraíba – UFPB. E-mail: [email protected]
2
Para efeito de simplificação usaremos também a abreviatura DS para designar a noção de Desenvolvimento
Sustentável, central neste artigo.
2

desdobramentos e, em sua capacidade de responder aos desafios socioambientais


contemporâneos.
O ensaio dialoga com a literatura da área e com aportes teóricos da Ecologia Política,
do Pensamento de Complexidade e com a noção de Campo Social formulada por Pierre
Bourdieu (LIPIETZ, 2003; MORIN, 1996; BOURDIEU, 2001).
A Ecologia política contribui com a presente análise através da crítica, da politização e
da análise dos conflitos socioambientais. Ela permite, por um lado, problematizar, como o
ambiente é afetado pelos modelos de desenvolvimento econômico-social, pelos interesses
particularistas dos diversos agentes sociais, pelos padrões ético-culturais e ideológicos
hegemônicos e pelo perfil das instituições e políticas dominantes em cada contexto histórico-
social. Agrega, em sentido inverso, a consciência de uma ecoesfera dinâmica que contém
limites biofísicos e impõe restrições sobre a ordem econômica e social, embora essas
restrições nem sempre sejam percebidas ou consideradas pelos cientistas sociais e, sobretudo,
pelos agentes econômicos e políticos ( LIPIETZ, 2003; LITTLE, 2006).
O Pensamento da Complexidade se tornou oportuno no contexto da modernidade
avançada, pela emergência e interseção das múltiplas crises climática, hídrica, energética, da
biodiversidade; do trabalho e do emprego; da democracia representativa e da governança, dos
direitos humanos e das utopias; da ciência, das tecnologias e dos novos riscos, da saúde física
e mental das populações; da intolerância e da violência que assolam a vida humana e não-
humana na comtemporaneidade. Esse caldo de cultura de fim e começo de século revelou ao
pensamento ocidental um conjunto de problemas de alta complexidade, que surpreendeu a
ciência convencional e os saberes especializados em sua capacidade de produzir explicações e
respostas convincentes e efetivas aos novos problemas. Por outro lado, os próprios problemas
ambientais revelam, por definição, questões interdisciplinares e multidimensionais que
guardam afinidades com a visão de complexidade e fazem dela um recurso analítico
necessário à compreensão da realidade (BECK, 1992; ANTUNES, 1995; MORIN, 1996;
GIDDENS, 1997; SACHS, 2002).
O texto refere-se também à noção de campo social de Bourdieu por entender o debate
sobre o Desenvolvimento sustentável e a Economia verde como campos sociais e discursivos
onde um conjunto de atores e forças sociais concorrem entre si pelo poder de definir o
significado legítimo destas noções e de orientar as respostas e políticas para a superação dos
problemas socioambientais colocados (BOURDIEU, 2001; 2004).
A recém concluída Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável (CNUDS), também conhecida como Rio+20, prometia, de alguma maneira,
3

construir respostas, ainda que parciais, aos desafios socioambientais contemporâneos, mas
novamente, e segundo diversas avaliações e razões, resultou em expectativas frustradas
(GUIMARÃES; FONTOURA, 2012; VIOLA; FRANCHINI, 2012). A falta de compromissos
e metas formais de combate à pobreza, de redução das emissões de carbono, de transferência
de tecnologia para os países pobres e de investimento em energias renováveis; o adiamento do
fortalecimento institucional do PNUMA; os obstáculos na formação de fundos mundiais para
financiar projetos de promoção da sustentabilidade; os conflitos na distribuição das
responsabilidades sobre os problemas ambientais e sobre as mudanças climáticas; as
diferenças de perspectivas entre países do norte e do sul e a crença no crescimento econômico
ilimitado, entre outros fatores, figuram no balanço de críticas à citada Conferência. Esses
resultados, por sua vez, evidenciam que a questão ambiental ainda não é uma prioridade
efetiva na agenda política global e que a economia continua sendo o eixo organizador da vida
social e política.
Presencia-se, portanto, uma situação paradoxal, onde se expande a informação e a
consciência pública sobre os problemas ambientais e, no entanto, os problemas seguem se
ampliando e complexificando. Por outro lado, ainda que a questão ambiental tenha se
deslocado nas últimas décadas da periferia para o centro da agenda política global não
consegue acumular forças e posição de prioridade no interior desta agenda.
Para cumprir seus objetivos, o artigo se estrutura em três seções além da introdução. A
primeira revisita o debate do Desenvolvimento Sustentável, procurando mapear suas
principais interpretações, inovações e limites. A segunda discute a recente proposta de
Economia Verde seus significados e contradições, procurando compreender em que medida
ela representa um avanço ou um retrocesso em relação aos debates pré-existentes. Na terceira
seção dedicada às considerações finais, delineiam-se os resultados da análise em diálogo com
as indagações formuladas pelo texto e verificam-se as alternativas capazes de superar a inércia
e o autismo econômico3 que tem prevalecido nos dias atuais em relação aos problemas
socioambientais.

2.Revisitando o debate sobre o Desenvolvimento Sustentável

3
A expressão autismo econômico foi usada inicialmente em 2000, por estudantes de economia na França em
sua luta por mudanças curriculares no curso de economia. Combatiam o dogmatismo da economia
neoclássica e sua incapacidade de dialogar com outras abordagens teórico-metodológicas, com outras
ciências e conseqüentemente com os novos problemas e realidades do mundo contemporâneo. Esse protesto
inicial se converteu em um movimento internacional por uma Economia Pós-Autista que congrega
economistas, cientistas sociais e estudantes ao redor do mundo. Veja por exemplo www.paecon.net
4

Os últimos vinte e nove anos testemunharam a ampla difusão do discurso do DS nos


mais diversos fóruns, sob múltiplas interpretações e finalidades e sua transformação em
referência hegemônica nos debates que envolvem as questões de meio ambiente e de
desenvolvimento. É certo que sua ambigüidade constitutiva favoreceu a pulverização de seu
uso e sua apropriação por uma comunidade plural de agentes e de instituições sociais,
produziu confusões semânticas, comunicativas, educacionais e políticas nas relações entre
estes agentes e ocultou conflitos, que resultaram invisibilizados nessa rede de confusões
discursivas.
A polissemia e as ambiguidades intrínsecas ao DS derivam, em grande medida, de seu
contexto controverso marcado, por um lado, pelas crises ambiental, das experiências de
Desenvolvimento econômico ao redor do mundo e do Estado de bem-estar social e, por outro
lado, pela emergência das idéias e políticas neoliberais. Essa conjunção de crises e mudanças
socioambientais resultou em um debate plural, onde o DS foi concebido de formas
extremadas. Para alguns grupos e analistas sociais o DS aparece como a síntese redentora
capaz de sanar os problemas do mundo e para outros não passa de um mito insustentável
construído para legitimar a reprodução da contraditória ordem capitalista. Entre essas
posições extremadas aparecem posições intermediárias e reformistas que entendem que,
embora tenha limites, a idéia de DS tem relevância e pode favorecer mudanças positivas ainda
que parciais.
Ensaia-se nesta seção um mapeamento deste debate em suas principais tendências e
argumentos, ciente de que toda tipologia implica, em certa medida, em simplificações do real,
ainda que, simultaneamente, aprofunde o conhecimento sobre o campo estudado e favoreça o
posicionamento político dos atores que nele se movimentam ou a ele se referem. No caso
particular do DS, suas ambiguidades inerentes recobrem com um véu de homogeneidade
profundas diferenças políticas, éticas e sociais que confundem a percepção dos atores sociais.
Trabalha-se aqui com a noção de tipo ideal weberiano entendido como um recurso
analítico que, embora não tenha uma correspondência precisa com os fatos da vida social,
funciona como referência útil para sua compreensão. Nesse sentido, cada uma das tendências
mencionadas representa uma diversidade de posições mais ou menos próximas ao tipo ideal e
não uma única interpretação homogênea entre todas as leituras que compõe a tipologia
referida (LALLEMENT, 2003).
A revisão da literatura sobre o DS permite compreender esse campo social
comportando três tendências principais que podem ser denominadas como: uma posição
conservadora ou de defesa do status quo, uma posição reformista ou intermediária e uma
5

terceira posição transformadora que tende a desacreditar no DS nos termos e condições em


que está colocado na atual conjuntura social (HOPWOOD, 2005).
A posição conservadora reconhece os problemas ambientais como efeitos colaterais do
progresso e a proposta de DS como a resposta eficiente para sua superação. Nesse sentido,
entende que o DS é capaz de corrigir os efeitos nocivos das experiências do desenvolvimento
econômico, de algum modo, mal-sucedidas, além de abrir novas possibilidades de arranjos
institucionais e de negócios, através da produção e do consumo de novos produtos e serviços
“verdes”. Por essa visão é possível compatibilizar crescimento econômico e conservação
ambiental dentro dos marcos do capitalismo combinando a oferta de informação
“ecologicamente correta”, sistemas de gestão ambiental mais eficientes, novas tecnologias
“limpas” e processos de governança mistos entre governos e iniciativa privada. Para todos os
efeitos, o mercado é a esfera privilegiada para conduzir a transição rumo a cenários sociais
sustentáveis e o Estado figura apenas como elemento secundário de apoio às ações do
mercado, segundo a lógica liberal e neoliberal de minimização do setor público.
A posição conservadora é a posição hegemônica entre as grandes empresas
multinacionais, suas associações4 e fundações, os organismos internacionais como o BIRD,
FMI, ONU, OCDE, os governos, em especial, dos países do norte, os partidos políticos
movidos por ideologias de centro-direita e de direita, os economistas neoclássicos e
ambientais que defendem a chamada “sustentabilidade fraca”, as grandes ONGs
internacionais de caráter preservacionista, como a IUCN, o WWF e TNC e os teóricos da
Modernização Ecológica.
O economista norte-americano Robert Solow, apontado como um dos advogados da
“sustentabilidade fraca”, argumenta que a natureza jamais constituirá um obstáculo definitivo
ao crescimento da economia porque a substituibilidade dos fatores de produção – capital,
trabalho humano e recursos naturais – sempre permitirá que a eventual escassez de recursos
naturais seja superada pela combinação de capital e engenhosidade humana. Nesse sentido, os
limites ao crescimento seriam quando muito passageiros já que, para ele, a engenhosidade
humana e a disponibilidade de capital serão sempre capazes de criar recursos naturais
substitutos, mantendo indefinidamente a expansão econômica (SOLOW, 2000; VEIGA, 2005;
ROMEIRO, 2012). Essa posição otimista de Solow inspirou a idéia da sustentabilidade fraca
contraposta à outra noção de sustentabilidade forte que divide o debate dos economistas
ecológicos. A sustentabilidade forte, analogamente, entende, numa perspectiva mais realista,

4
O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD) é um desses exemplos
agregadores de empresas em torno do desenvolvimento sustentável.
6

que a substituição entre os fatores de produção pode ocorrer até certo ponto, mas no longo
prazo, irá encontrar limites que a inovação tecnológica não será capaz de transpor. Segundo
essa posição, a natureza e os ecossistemas fornecem à humanidade e ao seu metabolismo –
inclusive econômico - um conjunto de bens e serviços indispensáveis como alimento, água,
matérias-primas diversas, fontes de energia e serviços de estabilidade climática, fotossíntese,
assimilação e regeneração de resíduos, decomposição da matéria orgânica, fertilidade dos
solos, a polinização das plantas e a renovação do ar e da água, entre outros. Alguns desses
bens e serviços podem, eventualmente, ser substituídos ou multiplicados com auxílio de
capitais, tecnologias, engenho e trabalho humano, como é o caso da troca de fontes de energia
não-renováveis por outras renováveis, o replantio de florestas, a criação de peixes, a
dessalinização da água do mar, a intensificação da produção de alimentos ou outros bens, mas
essa substituição é limitada, sobretudo, com relação aos serviços ambientais que dão
sustentação à reprodução dos demais bens citados. Para Romeiro (2012), a noção de
sustentabilidade forte sustentada pela Economia ecológica se diferencia da economia
dominante quando introduz as idéias de limites e de irreversibilidade através dos conceitos de
capacidade de carga e, sobretudo, de entropia, veiculados pelas contribuições pioneiras de
Boulding (1993) e Georgescu-Roegen (1971). O conceito de capacidade de carga, tomado de
empréstimo das ciências naturais – e limitado quando aplicado a cenários sociais -, indica a
população máxima que pode ser suportada indefinidamente por um sistema ou ecossistema,
ou seja, estabelece limites de uso dos recursos naturais. Já o conceito de entropia, originado
na física e na termodinâmica, indica a tendência em todos os processos vivos e humanos à
transformação de energia útil em energia dissipada e não mais disponível, uma transformação
qualitativa que, no longo prazo, se orienta para a crescente desordem. A contribuição original
de Roegen à economia da sustentabilidade sob o capitalismo está em contrariar as pretensões
de crescimento econômico ilimitado que ignora dependência da economia em relação à
natureza, a velocidade e a escala de uso dos recursos naturais que caracterizam os atuais
modelos de produção e consumo (MARTINEZ-ALIER, 2007; ROMEIRO, 2012).
A segunda tendência neste debate é a que denominamos de reformista ou do caminho
do meio. Esse conjunto de interpretações sobre os problemas ambientais e o DS reconhece a
necessidade de mudanças no modelo atual de desenvolvimento, através de reformas nas
políticas e instituições governamentais, no papel das empresas, na pesquisa e inovação
tecnológica e no papel da sociedade civil no processo de transição para a sustentabilidade.
Contrastam com a posição anterior porque diferentemente dela reconhecem a existência de
problemas de alta gravidade e de riscos na ultrapassagem de certas fronteiras ecossistêmicas,
7

mas acreditam que reformas setoriais podem ser realizadas no interior do sistema capitalista
para evitar a catástrofe. Como visto acima, os grupos e tendências analisados não são
homogêneos e alinhados em todas as polêmicas referentes ao desenvolvimento sustentável,
mas guardam semelhanças na sua compreensão do problema e nas possíveis soluções políticas
dos mesmos. Isto se traduz na confiança de que é possível, mesmo no contexto sócio-
econômico capitalista, construir e implementar respostas que compatibilizem crescentemente
crescimento econômico, conservação ambiental e equidade social e na crença de que a
proposta de desenvolvimento, apesar de suas contradições, pode ser levada a bom termo por
uma vontade política pactuada que corrija seus desvios históricos. O reformismo está presente
em setores governamentais, em partidos políticos de centro-esquerda, em organizações não-
governamentais com orientação socioambientalista e em amplos setores da comunidade
científica. A obra do economista Ignacy Sachs, de relevante contribuição ao debate ambiental,
se identifica com esse “caminho do meio”, entre o otimismo dos que defendem a
possibilidade de crescimento ilimitado e o pessimismo catastrofista dos que entendem que não
há saída ecológica possível no contexto da economia capitalista (SACHS, 2002). Os
partidários do desenvolvimentismo e do neodesenvolvimentismo, em que pesem as diferenças
político-ideológicas de suas orientações, também podem ser associados ao perfil reformista
referido.
Um dos aspectos que diferencia a posição reformista da conservadora é o papel que
cabe ao Estado na construção do desenvolvimento sustentável. Na posição conservadora o
protagonismo cabe ao Mercado, restando ao Estado uma função mínima de garantia da
reprodução sistêmica. No caso do reformismo, a defesa do intervencionismo estatal não é
unânime, mas é uma idéia de relevo neste campo que, recentemente, divide espaços com as
propostas de governança público-privada e de gestão compartilhada do desenvolvimento com
outros agentes do mercado e da sociedade, estimulados por cenários de crise e de atrofia do
Estado.
A terceira posição no debate do DS reúne autores e atores, de diversa inspiração
teórico-ideológica, que rejeitam o discurso de DS por não reconhecerem sua capacidade de
realizar as complexas mudanças necessárias para superar as crises experimentadas. Para estes,
o DS é um discurso vazio, atravessado por ambiguidades e contradições e impossível de ser
viabilizado no interior de uma sociedade capitalista intrinsecamente desigual, excludente e
predatória. Segundo essa concepção o DS, entendido como proposta de realização simultânea
da preservação ambiental, justiça social, viabilidade econômica, participação política e
diversidade cultural é um projeto transformador, incapaz de ser alcançado por reformas
8

setoriais na ordem capitalista instituída. Nesse sentido, a própria radicalidade desta reflexão e
seus traços utópicos tendem a limitar seu alcance ao mundo acadêmico e a grupos de atores
sociais associados a movimentos sociais, organizações não-governamentais e governos
inclinados à transformação social, à inovação e prospecção de cenários futuros.
Esses analistas combinam perspectivas analíticas provindas do marxismo, do
paradigma da termodinâmica, do pós-estruturalismo, do pós-desenvolvimento, dos estudos
pós-coloniais, da Economia ecológica ou das teses sobre o Decrescimento para criticar o
desenvolvimento econômico convencional e o desenvolvimento sustentável, visto como uma
extensão do modelo anterior que, no entanto, não é capaz de superar as críticas que sobre ele
recaem.
A argumentação marxista aponta o caráter inerentemente desigual do capitalismo, sua
incapacidade de distribuir os benefícios do crescimento econômico, a distribuição desigual do
acesso aos recursos naturais e dos riscos decorrentes da produção, a exploração simultânea do
trabalho humano e dos recursos naturais, a lógica expansiva e ilimitada de sua reprodução, os
limites da contradição entre produção crescente e demanda decrescente que produz crises
periódicas, a mercantilização da natureza e da vida humana, a impossibilidade de
universalizar um padrão de produção e consumo semelhante ao dos países do centro e a
conseqüente relação desigual de importação e exportação de poluição e de recursos naturais
entre os países do centro e da periferia, entre outros obstáculos (O’CONNOR, 1988;
ALTVATER, 1995; RIST, 2006; MARTINEZ-ALIER, 2007; LATOUCHE, 2009). Para esses
analistas o desenvolvimento econômico e suas derivações – local, humano, endógeno,
sustentável, como liberdade – criou uma história de fracassos que degradou o ambiente
natural e a qualidade das relações sociais. Rist (2006, p. 7), por exemplo, vai afirmar que “o
desenvolvimento como ocorre hoje é nada mais que a mercantilização generalizada da
natureza e das relações sociais”. Sendo assim, para esses autores o debate sobre a
possibilidade de um DS no atual contexto político-econômico capitalista é marcado pelo
ceticismo e, embora desejem essas mudanças, só as consideram viáveis através de
transformações profundas que implicariam a transição para um outro sistema.
Segundo o paradigma da termodinâmica, adotado por amplos setores da Economia
ecológica, a lei da entropia, no longo prazo, impõe limites ao crescimento da economia
porque tende a transformar qualitativa e irreversivelmente energia útil em energia inútil em
todos os processos físicos ou econômicos que envolvem transformação de energia. Não é,
portanto, possível, imaginar um processo de crescimento indefinido a partir de uma base finita
de recursos naturais, como não é possível pensar o sistema econômico como um sistema
9

autônomo independente da natureza. Além disso, a intensidade e a aceleração temporal da


economia capitalista opera em franco descompasso com o ritmo de regeneração da natureza
impondo, no longo prazo, um débito inevitável para as gerações futuras. Assim, por mais que
o progresso técnico seja capaz de aumentar a eficiência e a substituibilidade no uso dos
recursos naturais, retardando relativamente o processo de degradação, em algum momento no
tempo os limites se imporão, tornando imperiosa a discussão sobre a estabililização do
processo econômico que Daly (1974) denominou de Estado estacionário. O problema do
desenvolvimento sem crescimento reedita um debate complexo e desafiador, já trilhado pela
economia clássica nos séculos XVIII e XIX, em especial por John Stuart Mill, que retorna
agora motivado pela perspectiva das recentes crises ambiental e climática. Novamente aqui, a
partir das condições econômicas e políticas vigentes, o realismo político não seria suficiente
para promover as mudanças necessárias no sentido da sustentabilidade, obrigando-nos a
considerar questões sensíveis como a distribuição da riqueza social, mudanças significativas
no modelo de produção e consumo, supressão da idéia de crescimento contínuo da economia,
da obsolescência planejada e da descartabilidade dos bens, redução e reestruturação do
mercado de trabalho, reconversão cultural dos estilos de vida, de consumo e do sentido da
própria felicidade que, em conjunto, são por demais inovadoras e colocam desafios para os
quais as ciências sociais e naturais ainda não dispõem de respostas conclusivas. É razoável
supor que o teor revolucionário dessas novas questões só tendam a se tornar plausíveis em
cenários de colapso ambiental, ainda que se acumule desde já uma “massa crítica” sobre o
tema.
Além dos argumentos e referenciais marxistas, os autores vinculados ao debate sobre o
pós-desenvolvimento trazem para a análise do desenvolvimento abordagens articuladas ao
pós-estruturalismo e aos estudos pós-coloniais. Nesse sentido, substituem a centralidade
econômica por análises do poder fundadas na formação da cultura e do saber. Segundo tais
análises, trata-se de descontruir a narrativa do desenvolvimento, entendida como uma
construção eurocêntrica que cria representações, saberes, identidades, hierarquias, disciplinas
e prescrições opressivas e restritivas à autonomia dos povos e territórios colonizados.
Segundo essa visão, a narrativa do desenvolvimento acaba dirigindo a interpretação e as
relações sociais – e ambientais - das populações sob sua influência e comprometendo a
possibilidade de elas criarem alternativas de vida e cultura próprias. A partir desse
diagnóstico, a maioria desses autores propõe o abandono da narrativa e das práticas de
desenvolvimento e o duplo desafio de descolonizar o pensamento e conhecimento dos
indivíduos e populações afetados e imaginar uma era pós-desenvolvimento. Embora essa seja
10

a posição dominante no interior do debate, nele também transparece, em um plano sutil, uma
ambigüidade que admite a possibilidade de processos endógenos e autônomos de
desenvolvimento, ou seja, de reconfigurá-lo em novos sentidos transformadores e alternativos
(MIGNOLO, 2000; QUIJANO, 2000; ESCOBAR, 2005; RADOMSKY, 2011).
Diante desta cartografia do debate do DS é possível indagar pelas possíveis
implicações de cada uma destas tendências na governança e construção de uma
sustentabilidade democrática e complexa, capaz de integrar justiça social, preservação
ambiental, participação política, viabilidade econômica e diversidade cultural. Tantos
qualificativos se fazem necessários para corrigir a insuficiência e as ambiguidades da
definição oficial de desenvolvimento sustentável e para dar ênfase ao caráter
multidimensional que marca sua constituição discursiva. Nestes termos, parece evidente que,
dada a magnitude e crescimento dos problemas socioambientais e os limites das respostas do
mercado a tais problemas, a tendência conservadora representa a via menos efetiva na
transição para a sustentabilidade ainda que represente a posição hegemônica. Ou seja, a
inerente desigualdade socioeconômica do capitalismo; sua propensão a crescer degradando a
base biofísica que lhe dá sustentação; o caráter assimétrico das relações de poder que ele
constitui e a erosão da diversidade cultural de seu entorno depõem contra a sustentabilidade
do capitalismo enquanto arranjo civilizatório.
A alternativa reformista, embora admita reformas pontuais nos rumos do
desenvolvimento, tende a se deparar com obstáculos estruturais do sistema capitalista que
impedem o avanço de políticas de distribuição de riqueza; que colocam os objetivos
econômicos sobre o ambientais, dificultando conter a degradação ambiental e a emissão de
carbono em níveis sustentáveis e que não permitem promover a participação dos cidadãos
além dos limites consentidos usualmente. Uma análise rigorosa dessa alternativa reformista
provavelmente nos dirá que, mesmo sob condições sociais e políticas favoráveis o projeto de
uma sustentabilidade democrática nos termos aqui definidos, encontrará limites
intransponíveis. Observando, contudo, por uma perspectiva pragmática a via reformista tem,
em tempos recentes representado a resposta possível para evitar o caminho ainda mais
insustentável do neoliberalismo.
A vertente transformadora, por sua vez, em sua melhor expressão é aquela que mais se
aproxima de um projeto complexo de sustentabilidade democrática, mas só poderá alcançá-lo,
verdadeiramente, transbordando as fronteiras do sistema capitalista como o conhecemos, ou
seja, transformando-o. Nesse sentido, coloca-se como instrumento de luta, de expansão de
direitos e de horizontes utópicos, que aperfeiçoa o presente e aponta para avanços futuros.
11

Para O’Connor (1988) são inatingíveis as condições de realização de um capitalismo


sustentável e as escassas possibilidades de avanço na direção de um socialismo ecológico vão
depender do fortalecimento, articulação e mobilização dos movimentos sociais, já que as
próprias contradições do capitalismo tendem a agravar as condições de vida social e
ambiental. Entende que o capitalismo se depara com duas contradições fundamentais, pelo
lado da demanda e da oferta. A primeira delas contrapõe a produção social e a apropriação
privada e supõe que quanto maior a exploração e concentração de poder e riqueza do capital
menor o poder aquisitivo e de consumo das massas trabalhadoras, caracterizando uma crise de
demanda e de reprodução do sistema econômico. A segunda contradição se estabelece entre o
capital e a natureza – e outras condições de produção5 – em decorrência da degradação gerada
pelo próprio processo de acumulação de capital e da conseqüente pressão política dos
movimentos sociais em defesa da recuperação dos danos e impactos causados pela exploração
sobre a vida socioambiental.
Elmar Altvater (1995) chega à conclusão semelhante, ao considerar que a grave crise
global não será resultado das crises econômicas e sociais cíclicas, sempre passíveis de
reformas e intervenções estatais. Para ele a crise maior virá do colapso ecológico global, por
exploração excessiva das reservas globais de recursos materiais e energéticos, insolúvel no
curto prazo.
Conclui-se essa seção ponderando que o desafio do desenvolvimento sustentável só é
concebível hoje através da articulação da imaginação e da prática política que se expressam
através do realismo e da utopia. Existem, por um lado, problemas concretos à espera de
soluções ou de mitigação e não é possível negá-los sem sofrer seus reveses. Contudo, as
soluções possíveis na conjuntura atual, dados os limites sistêmicos, institucionais, culturais e
dos conhecimentos vigentes, não respondem à sua magnitude e urgência. Parece, assim,
necessária uma práxis capaz de responder aos problemas do presente sem perder de vista a
ampliação do horizonte utópico. Santos (1999), quando pensa a construção de um pensamento
crítico emancipador, diz que a teoria crítica é aquela que não reduz a realidade ao que existe.
A realidade é compreendida como um campo plural de alternativas ao que está dado.
Ressignifica, assim, o sentido de utopia ao tratá-la não como a idealização abstrata e
irrealizável, mas como utopias concretas, plurais, ancoradas no presente e em sua crítica e na

5
Refere-se aqui à degradação das condições de trabalho que produz doenças comprometendo os custos e a oferta
de trabalho e a degradação das cidades e sua infraestrutura gerando custos adicionais de mobilidade e segurança
por exemplo.
12

exploração das possibilidades de ser e estar no mundo ainda-não realizadas porque


silenciadas, invisibilizadas e excluídas pela razão hegemônica no ocidente (SANTOS, 2002).

3. Economia verde: avanço ou retrocesso?

A proposta de transição para uma Economia Verde foi lançada em 2008 pelo PNUMA
– Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, no contexto e em resposta à crise
financeira e econômica deflagrada neste ano. Em 2011, às vésperas da RIO + 20, ela voltou a
ganhar evidência através do relatório “Rumo a uma Economia Verde: caminhos para o
Desenvolvimento Sustentável e a erradicação da pobreza” que sistematiza a proposta e lança a
noção como carro-chefe da conferência, ainda que a idéia de erradicação da pobreza também
apareça em um plano secundário ou complementar (PNUMA, 2011). O PNUMA define a
Economia verde “como aquela que resulta na melhoria do bem-estar da humanidade e da
igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente riscos ambientais e
escassez ecológica” (PNUMA, 2011, p. 2).
Resumidamente a proposta se estrutura em três estratégias principais que envolvem
redução de carbono, maior eficiência energética e conservação da biodiversidade e dos
serviços ecossistêmicos e busca se viabilizar através de investimentos públicos e privados, por
reformas políticas e mudanças regulatórias. Estima-se um investimento de 2% do PIB global
em setores diversos como agricultura, edificações, energia, pesca, silvicultura, indústria,
turismo, transporte, água e gestão de resíduos como soma suficiente para promover a
transição de uma economia marrom para outra verde.
A proposta é ambiciosa e as crises climática e ambiental sem dúvida exigem respostas.
Por isso mesmo, sua análise suscita indagações sobre sua motivação e viabilidade, sobre
como ela será implementada, por iniciativa e liderança de que protagonistas e em benefício de
que setores e grupos sociais. São essas indagações que animam a presente reflexão que será
desenvolvida com auxílio de parte da bibliografia existente sobre o tema e sob as perspectivas
teóricas anunciadas anteriormente.
Em primeiro lugar, chama atenção o fato de que a Iniciativa Economia Verde6
expressa uma ênfase econômica em uma civilização já saturada de economia, que
experimenta danos sociais e ambientais decorrentes da expansão do capitalismo e carente de
debates e decisões substantivas sobre limites, desigualdades, déficit ético-cultural,

6
Denominação usada pela proposta do PNUMA
13

participação e direitos humanos. O desenvolvimento sustentável, apesar de limitado e


controverso, refere-se a dimensões múltiplas do desenvolvimento que incluem a economia,
mas também, a política, a cultura, o ambiente e a sociedade. Há, portanto, uma redução de
uma complexidade maior a uma equação onde a economia aparece como fator prioritário e o
ambiente como o “capital natural” a ser gerenciado pela economia.
Há, por outro lado, um visível otimismo na eficiência tecnológica e na expectativa de
que os avanços em inovação poderão produzir o desacoplamento entre o crescimento
econômico e o uso de recursos naturais e energéticos. Apesar de reconhecer a importância da
inovação tecnológica para a conservação ambiental, em geral, e para a redução das emissões
de carbono, em particular, diversos estudo têm demonstrado que essa estratégia, isoladamente,
não é suficiente para conter o impacto e a pressão global sobre o ambiente por diversas razões
(ABRAMOVAY, 2012; CECHIN; PACINI, 2012). Em primeiro lugar, porque o aumento da
produção global e do uso de recursos naturais e energia cresce mais rápido do que a redução
na intensidade de uso desses materiais promovida pelo avanço tecnológico. Ou seja, o
desacoplamento entre o crescimento econômico e o consumo de recursos naturais ocorre
relativamente, mas, em termos absolutos, a pressão sobre os recursos e o ambiente segue
crescendo devido, entre outros fatores, ao aumento da população e do mercado consumidor
mundiais. Cechin e Pacini (2012), por exemplo demonstram que:

“Embora a intensidade material tenha diminuído 26% de 1980 a 2007, o PIB


global aumentou em 120% e a população mundial aumentou em 50%, o que
resultou em aumento absoluto de 62% na extração global de recursos. Isso
significa que o impacto ambiental global continua a crescer em termos absolutos
(2012, p.127).

Considere-se como fator adicional, mas não menos importante, o fato de que, em
geral, os países desenvolvidos têm conseguido limpar sua economia e padrões tecnológicos ao
custo da terceirização, para os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, das atividades
mais poluentes ou demandantes de recursos naturais e energia como agricultura, pecuária,
mineração, extração de petróleo e madeira e produção de papel, entre outras.
Ademais, a assimetria na produção de tecnologias entre países do norte e do sul e a
indispensabilidade da inovação na transição para a Economia verde coloca o problema de
como realizar o compartilhamento de tecnologias entre ambos os blocos.
14

Lembre-se também que a aposta nas saídas tecnológicas, ainda que reconhecidamente
importante, é argumento frequente no debate de soluções aos problemas ambientais, porque é
funcional à conservação do “status quo”, dos modelos de produção e consumo e do próprio
capitalismo. As saídas tecnológicas permitem criar soluções setoriais, que passam ao largo da
política e da ética, evitando o enfrentamento dos conflitos distributivos, valorativos e de
assimetria de poder no interior do regime estabelecido. Ou seja, tecnologia e economia são
meios para o desenvolvimento não são fins em si, elas mudam os meios sem colocar em
discussão os fins do desenvolvimento. Os fins são questões éticas que envolvem a
preservação da vida humana e não-humana, o sentido e realização da vida, os valores e
princípios que devem reger a vida individual e social em suas múltiplas expressões.
A proposta da Economia Verde também não estabelece limites para o crescimento
econômico, trabalhando com a hipótese de que os problemas decorrentes do crescimento,
como as dívidas social e ambiental, podem ser sanados com mais crescimento. Isso configura
a Teoria do derrame, segundo a qual o mero crescimento da riqueza tende automaticamente a
transbordar em seu entorno, beneficiando as populações carentes que ali vivem. Esse
argumento tem sido contestado pela experiência histórica, pelo acompanhamento feito pela
ONU através de seus Informes de Desenvolvimento Humano e por diversos analistas do
problema. Ou seja, a experiência tem demonstrado que o crescimento econômico no
capitalismo tende a promover concentração de renda, desigualdade e exclusão social e
degradação crescente do ambiente onde se realiza (SACHS, 2001, 2002; KLIKSBERG, 2003;
SAAVEDRA; ARMELLA, 2009; PEREIRA, 2016).
Para Rockstrom et. Al. (2009) os impactos ambientais da expansão econômica vêm
ameaçando e, em alguns casos, ultrapassando os limites seguros do desenvolvimento humano
no sistema terrestre. Os autores identificam nove fronteiras planetárias, ou limites biofísicos,
das quais sete são passíveis de quantificação: mudança climática, acidificação dos oceanos;
ozônio; ciclo biogeoquímico do nitrogênio e fósforo; uso de água doce; mudanças no uso da
terra; biodiversidade; poluição química e concentração de aerossóis na atmosfera. Segundo os
pesquisadores, desses nove limites, três já teriam sido ultrapassados que são o ciclo do
nitrogênio, o referente a mudanças climáticas e à perdas em biodiversidade. Ou seja, a
humanidade já entrou em uma zona de risco que ameaça a estabilidade dos ecossistemas
indispensável à sobrevivência e desenvolvimento humano (ROCKSTROM, 2009;
ABRAMOVAY, 2012; VIOLA; FRANCHINI, 2012). Por essa razão, Crutzen (2002)
considera que o Planeta Terra, desde a Revolução Industrial, transitou gradualmente do
Holoceno para a “Era do Antropoceno” dada a magnitude e velocidade dos efeitos da ação
15

humana sobre a biosfera. Ou seja, a profundidade do impacto sobre os ecossistemas terrestres,


alterando ciclos biogeoquímicos, clima, o estado dos oceanos e das geleiras tem resultado em
consequências não apenas localizadas e setoriais, mas sistêmicas.
A transição para a Economia verde supõe e legitima processos de monetização,
mercantilização e privatização de bens e serviços ambientais e levanta suspeitas de maiores
restrições de acesso e uso desses bens e serviços, de possíveis prejuízos à conservação do
patrimônio ambiental global e de favorecer a concentração de riqueza, de poder já existente.
Ou seja, ainda que se mude o adjetivo de marrom para verde, a racionalidade econômica que
orienta o capitalismo continua a operar segundo a rentabilidade máxima dos investimentos ao
menor custo e prazo possíveis. Essa lógica tende a resultar em injustiças sociais e ambientais,
como a distribuição desigual dos benefícios do crescimento e dos riscos resultantes deste
crescimento. Por essa razão, os movimentos sociais e comunidades potencialmente atingíveis
pela proposta têm reagido, em especial, aqueles contingentes que retiram sua sobrevivência
direta do ambiente natural, como é o caso dos agricultores familiares, dos pescadores
artesanais, das populações extrativistas, dos indígenas e comunidades quilombolas, entre
outras (MARTINEZ-ALIER, 2007; ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009; SANTOS,
2012; JACOBI; SINISGALLI, 2012).
A questão da governança da Economia verde suscita dúvidas quanto aos papéis que o
Estado e o Mercado terão na condução do processo, à capacidade de realizar os objetivos de
garantir a sustentabilidade global e erradicar a pobreza, ao tipo de participação que a
Sociedade civil será capaz de exercer e à possibilidade de construir uma nova cultura
ambiental. Isso porque no paradigma cultural centrado no crescimento predatório o ambiente
não constitui prioridade e os valores e instituições dominantes se orientam pelas noções de
progresso, consumo, distinção, hedonismo e descartabilidade (BAUMAN, 1999;
BOURDIEU, 1999; CARUSO; AVIGNON, 2011; SAWYER, 2011; HARVEY; 2012).
O relatório do PNUMA (2011) sobre Economia verde sinaliza para uma governança
compartilhada entre os governos e o setor privado. Conta com o estímulo dos governos em
diversas áreas para facilitar os investimentos verdes em fronteiras de risco onde a iniciativa
privada não se interessa em atuar, remover incentivos e subsídios existentes a atividades da
economia marrom, converter investimentos públicos para fins ecologicamente corretos,
orientar as compras do governo para setores comprometidos com a produção limpa e revisar
políticas e incentivos para novos bens, serviços e tecnologias ambientais. Da parte do setor
privado, espera-se que responda aos estímulos governamentais através de investimentos
16

crescentes em produtos, processos e tecnologias verdes nos setores considerados estratégicos


a essa transição e na geração de empregos com as mesmas características.
Chama atenção a ausência de menção à Sociedade civil nesse modelo de governança.
Nesse sentido, se o Estado e os agentes do Mercado são parceiros nessa construção da
Economia verde, quem vai controlar os eventuais excesso e abusos que venham a ser
cometidos por essas esferas? Sabe-se de antemão, que o Estado no sistema capitalista sofre de
uma ambiguidade que se expressa na dupla função de, por um lado, estimular a iniciativa
privada através de subsídios, isenções, oferta de infraestrutura e crédito e, por outro lado,
regular e executar a gestão ambiental sobre os impactos advindos da própria atividade que
estimula (HANNIGAN, 2009). Ora, se o Estado depende dos impostos que arrecada dos
cidadãos e da atividade econômica realizada, como poderá controlar os excessos e desmandos
dos agentes econômicos?
A vida política brasileira assistiu, nas últimas décadas, a reiterados flagrantes de
financiamento privado de campanhas eleitorais, em todos os níveis de governo, que
resultaram em clara intervenção nas políticas públicas e ações governamentais. Como impedir
que tais fatos não ameacem a Economia verde? São exemplos patentes dessa intervenção
econômica nas políticas públicas ambientais a flexibilização do Código Florestal aprovada
pelo Congresso Nacional em 2012 por pressões de setores do agronegócio; a impunidade do
conglomerado empresarial Samarco/Vale/BHP Billinton pelo mega desastre ambiental
perpetrado em Mariana/MG e as mais recentes propostas de mudança da legislação que
normatiza o licenciamento ambiental no Brasil. As propostas de ataque ao licenciamento
partem de três origens distintas, embora denotem um objetivo comum: a primeira proposta foi
apresentada pela ABEMA - Associação Brasileira de Entidades Estaduais do Meio Ambiente,
entidade que representa as secretarias estaduais do Meio Ambiente; a segunda, é o Projeto de
Lei 3.794, de 2014, elaborado pelo deputado Ricardo Trípoli (PSDB/SP) e a terceira, é o
projeto de Lei 654, de 2015, apresentado pelo senador Romero Jucá (PMDB/RR). Com
pequenas diferenças entre si, elas defendem um processo sumário de licenciamento ambiental
de projetos ditos “estratégicos” pelo governo e de “interesse nacional” (RUPPENTHAL,
2016; MARTINS, 2012). Assim, o perfil da governança “Verde” que Estado e Mercado serão
capazes de realizar vai depender em grande medida do tipo de cultura política dominante em
cada país e da vocação democrática das instituições constituídas.
A questão de saber se a parceria Estado/Mercado terá capacidade de garantir a
sustentabilidade e a erradicação da pobreza está diretamente relacionada à questão anterior.
Pelas razões expostas é difícil, em primeiro lugar, acreditar que os estímulos da Economia
17

verde sejam suficientes para mudar a trajetória e os vícios dos agentes públicos e privados no
Brasil em relação à sustentabilidade ambiental. É sabido que a questão ambiental nunca foi
prioridade no Brasil por quaisquer critérios que se queira analisar. É inegável, como ponderou
Drysek (1997), que num cenário de transnacionalização do capitalismo, submetido aos
imperativos do livre mercado e de governos comprometidos com políticas de privatização, o
discurso do desenvolvimento sustentável só poderá obter sucesso se conseguir demonstrar que
a conservação ambiental promoverá o crescimento dos negócios e da economia. Contudo,
legitimar o discurso do Desenvolvimento sustentável pela via do mercado é um objetivo bem
diferente de garantir uma sustentabilidade democrática e multidimensional.
Quanto ao segundo objetivo de erradicação da pobreza, persistem igualmente sérias
dúvidas. Em primeiro lugar, é perceptível que, apesar do tom vago e mal definido do conceito,
as sinalizações do PNUMA (2011) quanto a Economia verde sugerem que economia e
tecnologia são os eixos centrais da proposta. Também, ainda que faça referências ao problema
da pobreza, a proposta não aborda a questão das desigualdades sociais e de consumo de
recursos naturais, aspectos centrais do desenvolvimento sustentável em contexto de crise
climática. Isto é, se é reconhecidamente relevante planejar o desenvolvimento internalizando a
idéia de limites do crescimento, da produção e do consumo e se a sustentabilidade supõe,
inquestionavelmente, a internalização da justiça social, não há meios de elevar o padrão de
vida dos países e populações mais pobres – sem precipitar catástrofes climáticas – sem reduzir
o espaço carbono e o consumo dos mais ricos. Essa expectativa, contudo, parece cada dia
mais remota, seja porque não se dispõe de mecanismos realistas de distribuição de riquezas na
economia política capitalista, seja porque o consumo assumiu uma centralidade imperativa na
vida cultural contemporânea (ABRAMOVAY, 2012; HARVEY, 2012).
Abramovay (2012) aborda o problema da desigualdade pelo prisma do consumo de
recursos naturais, energéticos, de emissão de carbono e geração de resíduos. Apoia-se em
fundamentos da Economia ecológica que, a partir do reconhecimento da crise climática e de
limites ecossistêmicos, procura avaliar a relação entre a sociedade e natureza – o metabolismo
social - a partir do volume de matéria e energia utilizada, da eficiência de sua transformação
pela economia e da distribuição dos benefícios desse processo no interior da sociedade.
Ilustra, portanto, o dilema da desigualdade comparando o consumo de recursos naturais e de
emissão de carbono entre um cidadão norte-americano e outro indiano. Considera, assim, que
da totalidade de 60 milhões de toneladas que o sistema econômico extrai da superfície
terrestre por ano - de biomassa, combustíveis fósseis, minérios industriais e materiais de
construção - resulta uma média mundial de 9 toneladas por pessoa por ano, sendo que, desse
18

total, um cidadão norte-americano consome em média 25 toneladas/ano enquanto um indiano


consome 4 toneladas Ou seja, os norte-americanos consomem quase 3 vezes mais que a média
mundial e quase seis vezes mais que a média dos indianos. Com relação à emissão de carbono
a desproporção chega a ser ainda maior numa relação de 20 toneladas emitidas pelos cidadãos
norte-americanos contra duas toneladas emitidas pelos indiano. Diante dessa constatação
arremata:
“Propor o combate à pobreza sem integrá-lo organicamente à luta contra
desigualdades significa imaginar que a distância entre Índia e Canadá pode ser
encurtada apenas no rumo ascendente, como se fosse possível dispor dos
recursos para que o consumo médio per capita do Planeta subisse das atuais
nove para 25 toneladas por ano” (ABRAMOVAY, 2012, p. 27).

Ou seja, o sistema ainda funciona, ainda não entrou em colapso devido à persistente e
histórica desigualdade que separa países e cidadãos do centro e da periferia com a ressalva de
que as elites dos países periféricos concentram riqueza e consumo equivalentes às elites dos
países centrais.
No relatório do PNUMA (2011) a erradição da pobreza parece depender da criação de
novos empregos verdes, de políticas de transferência de renda, de iniciativas e investimentos
dirigidos à preservação de recursos naturais, oferta de energia e saneamento básico que
podem, indiretamente, se refletir sobre qualidade de vida dos mais pobres. Esse pacote de
medidas não parece ser muito convincente. É possível, por exemplo, supor que os empregos
verdes sejam decorrentes de atividades intensivas em tecnologia que tendem a poupar postos
de trabalho. A transição da economia marrom para a verde também deverá eliminar uma
quantidade expressiva de empregos já existentes. Por outro lado, os novos serviços
decorrentes de investimentos privados, como energia, saneamento e abastecimento de água,
podem elevar os custos dos mesmos em lugar de diminuí-los, já que os mercados não tem
compromisso com a pobreza, mas sim com o consumo e comercialização de mercadorias
(SAWYER, 2011). Acresce ainda o fato, de que programas de transferência de renda e
estímulos estatais a investimentos com efeito inclusivo vão depender de governos que não
abandonem a capacidade de coordenação e de regulação da governança nem o compromisso
com a justiça social como advoga o ideário neoliberal (BURSZTYN, 2001). Cabe lembrar que
o contexto político brasileiro, desde o governo Collor de Melo - com um intervalo nos
governos do PT que assumiram uma postura mais intervencionista com reforço de políticas
sociais - tem sido marcado pela retração dos Estados nacionais, pela subordinação dos
governos aos interesses do capitalismo agrário, industrial e financeiro e por uma franca
instabilidade político-insitucional, como demonstra a história política recente. Nesses
19

contextos de hegemonia neoliberal as políticas de transferência de renda se tornam cada vez


mais inviáveis.
Outro ponto pouco debatido e de alta relevância para pensar a Economia verde é a
transição cultural implicada nesse deslocamento de uma economia dissociada de
considerações ambientais para outra orientada por motivações “ecológicas”. Há, nessa
transição, um conjunto de obstáculos institucionais, políticos, jurídicos, educacionais, éticos,
atitudinais, empresariais e científicos que não se processam no curto prazo e que são, ao
mesmo tempo, indispensáveis ao avanço da proposta.
Por fim, necessário voltar à questão da participação da sociedade civil na engenharia
social da Economia verde. A sociedade civil aparece de modo bastante periférico e indireto no
interior da proposta. As referências à governança da Economia verde mencionam o
protagonismo do Estado e do Mercado, mas esquecem de dizer onde e como se inserem os
movimentos sociais, o associativismo civil, as ONGs e mesmo o restante dos cidadãos que
não tem poder deliberativo na construção desse projeto, embora devam ser potencialmente
afetados pelas mudanças planejadas. Ainda que as ONGs mais representativas tenham status
consultivo nos debates preparatórios das conferências das Nações Unidas, isso não pode ser
considerado como uma participação efetiva da sociedade civil e representa um déficit na
legitimação de uma iniciativa ambiciosa como a da Economia Verde.
4. Considerações finais

O cenário atual da governança mundial sobre as questões ambientais e a


sustentabilidade é incerto, carente de coordenação e de vontade política que lhes atribuam um
status de prioridade nas agendas políticas local, nacional e global, ainda que esforços setoriais
venham sendo empreendidos neste sentido, desde o final do século passado.
O projeto de Desenvolvimento Sustentável construído pelo Relatório Brundtland em
1987, não deu sinais significativos de avanço porque, como era de se esperar, foi subordinado
pela racionalidade capitalista hegemônica, onde a dimensão econômica do desenvolvimento é
a prioritária em última instância e todas as demais dimensões da sustentabilidade ainda não
acumulam forças capazes de confrontá-la. Assim, o discurso do Desenvolvimento sustentável
se esvaziou ao longo dos anos, perdendo grande parte de sua credibilidade inicial.
A Iniciativa Economia Verde apresentada pelo PNUMA(2011) é um novo esforço
para reeditar a velha idéia de progresso e desenvolvimento com uma nova roupagem
mercadológica, tecnológica e ecológica. O próprio PNUMA reconhece que a iniciativa “foi
uma das nove iniciativas conjuntas contra a crise assumidas pelo Secratário Geral da ONU e
20

sua câmara de diretores gerais em resposta à crise econômica e financeira de 2008” (PNUMA,
2011, p. 16). Nesse sentido, é mais reducionista que a proposta de Desenvolvimento
sustentável porque atribui ênfase econômica ao desenvolvimento e reforça os mecanismos de
mercado como condutores privilegiados dessa transição, ainda que a ela se assemelhe em
diversos outros aspectos.
Discutiu-se acima o tom vago e mal definido da proposta que, para alguns analistas,
tem a intencionalidade de não explicitar objetivos e metas e seguir praticando o modelo usual
acrescido de medidas cosméticas (SAWYER, 2011).
Além disso a proposta não incorpora a questão dos limites planetários suscitados pela
crise climática; deposita confiança excessiva nos processos de inovação tecnológica; não
responde ao problema das desigualdades sociais e de consumo de recursos naturais, apelando
para uma promessa de erradicação da pobreza pouco transparente e de efetividade duvidosa;
não define os canais de participação da sociedade civil no interior da transição planejada; não
indica os meios de controle dos agentes econômicos nesse processo e não aponta caminhos
realistas para o compartilhamento de tecnologias entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento.
Por essas razões, a Economia verde parece representar mais retrocessos que avanços,
tanto em relação ao Desenvolvimento sustentável quanto em relação aos desafios
socioambientais vivenciados. É certo que o Desenvolvimento sustentável também é uma
narrativa limitada, ambígua e sem viabilidade no contexto de uma sociedade capitalista, em
especial, em momentos de hegemonia neoliberal, onde os Estados nacionais se acham
fragilizados e a sociedade organizada não acumula forças suficientes para se contrapor a esse
ideário.
No caso Brasileiro, é inegável que seria proveitoso transitar de um modelo econômico
exportador de recursos naturais e intensivo na produção de bens poluentes para um outro
modelo econômico “verde”. A questão é saber como essa transição se dará e a que custos
sociais. No caso estudado, trata-se de uma transição mediada pelo mercado e seus
instrumentos - ainda que com incentivos públicos - que tende a aprofundar os processos de
mercantilização da natureza com efeitos regressivos sobre a sociedade e o ambiente, em
especial, sobre aqueles mais vulneráveis.
Raciocínio análogo pode ser feito à promoção de novas tecnologias ambientais. É
evidentemente desejável e necessário o estímulo ao desenvolvimento de tecnologias limpas e
mais eficientes, contudo, é preciso também criar meios de compartilhar tecnologias, de
estimular o desenvolvimento de tecnologias simples, baratas e adequadas à solução de
21

problemas que atingem à populações socialmente vulneráveis e de reconhecer que as


tecnologias são recursos necessários, mas não suficientes para superar as crises do século
XXI.
As vésperas da Rio + 20 Abramovay resumiu, em entrevista, um diagnóstico sensato
de nosso tempo afirmando que: “A civilização contemporânea vive a explosiva combinação
de evolução tecnológica rápida e evolução ética e social lenta” (ABRAMOVAY, 2012a).
Nesse sentido, talvez mais do que pensar e praticar uma Economia verde dever-se-ia
pensar e praticar uma Sociedade Verde, que seja inclusiva tanto no sentido de acolhimento
das diversas dimensões da sustentabilidade quanto no sentido da integração de todos os
cidadãos e seres vivos.

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