1º Teste Com Cartoon

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PALAVRAS 12

Teste de avaliação – 12.º ano novembro 2020

Educação Literária

Grupo I (104 pontos)

A (60 pontos)

Lê atentamente o texto que se segue.

Cansa sentir quando se pensa.


No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar.

Neste momento insone1 e triste


Em que não sei quem hei de ser,
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer.

Tudo isto me parece tudo.


E é uma noite a ter um fim
Um negro astral silêncio surdo
E não poder viver assim.

(Tudo isto me parece tudo.


Mas noite, frio, negror sem fim,
Mundo mudo, silêncio mudo –
Ah, nada é isto, nada é assim!)

9-11-1932
Fernando Pessoa, Poesias, Lisboa: Ática, 1942, pág.148.
Nota: 1 sem sono

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Refere três traços caracterizadores do estado de alma do sujeito poético,


fundamentando-te no texto, e explicita-os.
2. As marcas do envolvimento noturno remetem para a analogia com a solidão e a
angústia do sujeito poético.
2.1. Seleciona dois recursos expressivos utilizados na caracterização de ambos e
salienta o respetivo valor.

1
PALAVRAS 12

3. Interpreta a última estrofe, mostrando o paradoxo que ela encerra e justificando o


discurso parentético.

B (30 pontos)

Lê o seguinte soneto de Luís de Camões.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,


outra mudança faz de mor espanto1,
que não se muda já como soía2.

Luís de Camões, Lírica Completa – II, Lisboa: IN-CM, 1994, p.


289.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

4. A mudança atinge os seres humanos e a natureza. Explicita o modo como ocorre em cada
uma dessas realidades.
5. Infere o sentido da “outra mudança” referida no último terceto.

C (14 pontos)
6. Explicita, numa breve exposição de oitenta a cento e trinta palavras, exemplificando, o modo
como se concretiza, no “Sermão de Santo António (aos Peixes)", a alegoria de intuitos críticos.

A tua exposição deve incluir:


•  uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual refiras, no mínimo, uma das críticas, fundamentando as ideias
apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Grupo II (56 pontos)


1
mudança mais surpreendente.
2
costumava.
2
PALAVRAS 12

Leitura | Gramática

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
O verbo saudar

A aldeia global tornou-nos apenas próximos: não nos apresentou uns aos outros.
Passamos a partilhar uma quantidade colossal de informações, mas continuamos
perfeitos estranhos. Quanto muito tem crescido o voyeurismo3 que sobrevoa a
existência alheia e nos dispersa da nossa. Às nossas sociedades hipertecnológicas
5 faltam os protocolos de encontro que, por exemplo, integravam com a maior
naturalidade o quotidiano das sociedades primitivas. Entre os povos do deserto,
quando os desconhecidos eram aceites como hóspedes, seguia-se este ritual de
aproximação: “Considera-te bem-vindo! Recebe as minhas saudações. Como
prosseguem os teus dias? Como vão os filhos de Adão? E a tua família? E a tua
10 tenda? E a tua gente? E a tua mãe? E tu, como corre a viagem que estás a realizar?”
Percebe-se que acolher implicava escutar o outro em profundidade. É isso que está
em jogo num genuíno encontro. As fórmulas podem ser mais longas ou mais breves,
mas o fundamental é que um espírito de cerimónia persista, pois ele humaniza as
nossas trajetórias. Na Bíblia hebraica, encontramos o “Quem és? De onde vens? Para
15 onde vais?” trocado, com cordial curiosidade, entre viajantes. Os gregos e romanos,
por seu lado, vulgarizaram o aperto de mão, como se pode ver nos monumentos
figurativos e sobretudo nas estelas4 funerárias. O beijo é praticamente uma
importação do Oriente. Mas tanto gregos como romanos mantinham também o hábito
de favorecer os seus interlocutores com felizes augúrios, herança que apenas em
20 parte conservamos: o grego χαῖρε, “alegra-te” ou ἔρρωσο, “sê em toda a tua força”; o
latino Ave, “Deus te salve!” ou Vale, “que tenhas saúde!”. As fórmulas de
cumprimento tornaram-se tão sincopadas a Ocidente que perderam a sua força
expressiva. A maior parte das vezes são hoje repetidas de maneira automática. Por
isso sabe bem recordar outras possibilidades: como entre os etíopes, onde se recorre a
25 um termo que significa “Vejo-te” ou entre os ameríndios, que usam uma expressão
que diz qualquer coisa como “Recebo agora o teu cheiro”. O protocolo de encontro
tem ainda uma plasticidade visceral que demonstra a centralidade que ocupa nessas
práticas sociais. Facto que soará estranhíssimo numa época como a nossa em que nos
tornamos cosmopolitas, de uma hora para outra, só porque esbarramos com mais
30 estranhos na rua, sem aumentar o número de vezes que dizemos “bom-dia”.
José Tolentino Mendonça, Revista do Expresso, 19 de agosto de 2017, p. 92.

1. De acordo com o texto, o acolhimento do outro pressupõe


(A) a aceitação das suas especificidades.
3
Curiosidade mórbida relativamente a aspetos íntimos ou da vida privada de alguém.
4
Coluna monolítica destinada a ter inscrição.
3
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(B) a sua integração na nova sociedade.


(C) a partilha de muitas informações.
(D) o cumprimento de protocolos solenes.

2. Atualmente, as fórmulas de saudação são


(A) curtas e inexpressivas.
(B) curtas, mas muito expressivas.
(C) curtas e instintivas.
(D) longas e significativas.

3. O nosso cosmopolitismo revela-se


(A) através da abertura a culturas e hábitos diferentes.
(B) através da aceitação de estrangeiros.
(C) através da influência de culturas estrangeiras.
(D) pelo aumento da presença de estranhos.

4. A primeira frase encerra


(A) a tese que o texto desenvolve.
(B) um argumento aceite consensualmente.
(C) uma opinião generalizada.
(D) um facto inexplicável.

5. Os vocábulos sublinhados em “A aldeia global tornou-nos apenas próximos: não nos


apresentou uns aos outros” (l.1) são
(A) pronomes pessoais com função de complemento direto.
(B) pronomes pessoais com função de complemento indireto.
(C) pronomes pessoais com função de complemento direto e complemento indireto
respetivamente.
(D) pronomes pessoais com função de complemento indireto e complemento direto
respetivamente.

6. Os vocábulos “sociedades” (l. 4, 6) e “povos” (l. 6) asseguram


(A) a coesão interfrásica.
(B) a coerência textual.
(C) a coesão frásica.
(D) a coesão lexical.

7. Identifica o antecedente do pronome presente em “faltam os protocolos de encontro


que, por exemplo, integravam com a maior naturalidade o quotidiano das sociedades
primitivas” (ll. 5-6).

8. Divide e classifica as orações da seguinte frase: “As fórmulas de cumprimento


tornaram-se tão sincopadas a Ocidente que perderam a sua força expressiva” (ll.
21-22).
Grupo III (40 pontos)
4
PALAVRAS 12

Escrita
Redige uma apreciação crítica (180 a 250 palavras) do cartoon apresentado. Não
te esqueças de planificar previamente o teu texto e de o rever.

Wagner Zanirato, Aquário do futuro (consultado em 12/11/2020).


O teu texto deve incluir:
– a descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua composição;
–um comentário crítico, fundamentando devidamente a tua apreciação e utilizando um discurso
valorativo;
– uma conclusão adequada aos pontos de vista desenvolvidos.
Bom trabalho!

O cartoon apresentado, da autoria de Wagner Zanirato e intitulado “Aquário do


Futuro”, retrata um rapaz com um ar assustado no interior de uma espécie de Oceanário
com vidros gigantescos.
A cor predominante na imagem é o azul, que remete para a água que está no
interior da superfície envidraçada, na qual se podem visualizar diversos detritos,
nomeadamente garrafas de plástico, latas de coca cola, pneus, sacos de plástico, entre
outros.
A criança parece estar desesperada com o facto de não conseguir ver nenhum
animal marinho a nadar, e o seu olhar suplicante parece ter como destinatário as
autoridades, que nada fazem para impedir que a poluição continue a ser praticada nem se
preocupam em aplicar as sanções devidas. Por outras palavras, é como se a figura

5
PALAVRAS 12

representativa da geração mais nova estivesse a dar um grito de revolta contra os seres
humanos que estão a colocar a sobrevivência do planeta em causa, revelando uma
maturidade e uma consciência de dever cívico espantosos.
As emoções despertadas pela imagem remetem para a importância de lutarmos pela
proteção ambiental com todas as nossas forças, não obstante os obstáculos difíceis que se
colocam no caminho.
Em suma, a intenção do autor é sensibilizar a população para a necessidade de
defendermos os oceanos contra a poluição que permanentemente os ameaçam. Convém ter em
mente que, só através da união entre as pessoas, conseguiremos fazer ouvir a nossa voz junto
dos detentores do poder, cuja tendência é mostrar desinteresse e alheamento relativamente a
esta catástrofe ambiental.

Proposta de correção
Grupo I
EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A
1. O “eu” apresenta características de pendor negativo causadas pela simultaneidade das ações
de sentir e pensar. Assim, sente-se sozinho “Há uma solidão imensa”, triste “Neste momento
insone e triste”, fragmentado “Não sei quem hei de ser”. (cansado “Pesa-me o informe real”,
angustiado “Tudo isto me parece tudo” e inconformado “Não poder viver assim”). O estado
de alma do sujeito poético é, portanto, revelador das diferentes sensações de tédio e de
frustração, que vai “fingindo” como motivos poéticos. Concluindo, o sujeito revela uma
inquietação e confusão provenientes da sua incapacidade de apenas sentir.
2. 1. As marcas do envolvimento noturno remetem, por analogia, para a solidão, o isolamento,
a angústia, a tristeza do sujeito poético. Assim, a adjetivação expressiva – “negro astral
silêncio surdo” permite caracterizar a visão exacerbada de um envolvimento silencioso que
reflete um estado de espírito taciturno; a metáfora – “pesa-me o informe real” – destaca a
característica negativa do estado de espírito, causada pela indefinição da realidade que o
6
PALAVRAS 12

incomoda como se fosse um peso; a personificação – “silêncio surdo” – intensifica o


silêncio; a enumeração gradativa – “noite, frio, negror sem fim” – realça as características de
um quadro tradicionalmente melancólico; a hipérbole – “tudo isto me parece tudo” enfatiza
o excesso de sensações que cansam o sujeito poético. Em conclusão, os recursos expressivos
realçam com veemência o estado atormentado do “eu” resultante do sentir poético, enquanto
atividade intelectual confrangedora.
3. Na última estrofe, o “eu” faz uma autoanálise como conclusão do poema. O paradoxo - ”
tudo isto me parece tudo” e “nada é isto, nada é assim” – bem como o discurso parentético
em que os versos da estrofe se encontram marcam a oposição entre o sentir pensado do
sujeito poético e o sentir da vivência real. O “eu” lírico faz um aparte, distanciando-se do
mundo das emoções racionalizadas e descritas nas estrofes anteriores, que era “fingido”,
racionalizado e que não corresponderá a qualquer situação de verdade; não deixa, no
entanto, de expor a sua frustração/insatisfação com o jogo poético, mostrando cansaço e
quase exaspero denunciado na enumeração e no último verso através da exclamação. A
última estrofe atesta, então, o desespero do sujeito poético proveniente da sua lucidez, da sua
capacidade de pensar.
B
4. No soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, é realçada a diferença na forma
como a mudança atinge os seres humanos e a natureza. Enquanto a mudança na natureza é
cíclica e implica renovação, como comprova o primeiro terceto, nos seres humanos apresenta-
se, geralmente, com uma carga negativa porque não há uma alteração que traga esperança. Na
segunda quadra, o “eu” afirma que nós, os humanos, retemos na memória as mágoas do mal e
as saudades do bem, se é que existiu, como prova de que qualquer mudança implica lembrança
e sofrimento Concluindo, o sujeito poético dá conta da existência de uma mudança
generalizada, mas muito distinta entre o ser humano e a natureza.
5. No mundo a mudança tudo abrange. No entanto, a mudança mais surpreendente é a da
própria mudança no sujeito poético que, também ela, mudou e “não se muda já como soía”. À
medida que envelhece, o “eu” sente que o seu pessimismo se agudiza e já não é capaz de ter as
esperanças que tinha outrora. Em suma, a natureza da mudança é, portanto, contínua e
inconstante.

C
A alegoria associa-se ao “Sermão de Santo António (aos Peixes)”, pois Vieira toma
os peixes como metáfora dos vícios dos homens.
Efetivamente, a repreensão aos peixes deve ser entendida como uma crítica direta aos
homens, que são, durante o discurso, equiparados àqueles por causa da sua atitude (“Eis aqui
Voadores do mar, o que sucede aos da terra, para que cada um se contente com o seu
elemento.”).
Quando fala aos peixes, na verdade, é aos homens que se dirige, e assim, com a repreensão
daqueles, o pregador destaca defeitos que abundam nos seres humanos, tais como a ambição
desmedida, que os conduz à perdição.
Concluindo, este sermão do padre António Vieira é uma sátira social, que se serve da
alegoria para criticar os defeitos dos homens. (128 palavras)

Grupo II
LEITURA / GRAMÁTICA
Item
1. D
7
PALAVRAS 12

2. C
3. D
4. A
5. A
6. D
7. “(os) protocolos de encontro”.
8. Oração subordinante: “As fórmulas de cumprimento tornaram-se tão
sincopadas a Ocidente”;
Oração subordinada adverbial consecutiva: “que perderam a sua força
expressiva”.

Grupo III
ESCRITA
 Estruturação temática e discursiva (ETD)
 Correção linguística (CL)

Tópicos:

 aquário com grande superfície envidraçada;


 cor azul da água;
 ausência de vida marinha;
 abundância de garrafas, pneus, bidões, etc.;
 observação atenta da criança;
 poluição dos oceanos;
 alerta para os malefícios da presença humana;
 passividade do ser humano;
 …

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