Luís Vaz de Camões - Lírica

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LUÍS VAZ DE CAMÕES

Cristina Basto
A Lírica Camoniana
• É costume identificar duas influências na lírica de Camões:

→ Corrente tradicional (a influência dos temas da poesia


trovadoresca e das formas da poesia palaciana);

→ Corrente renascentista (a influência greco-latina e italiana –


Dante e Petrarca).
Corrente Tradicional – Medida Velha

• A poesia camoniana, na sua vertente tradicional, recorre a


géneros ou formas literárias já utilizadas na poesia do século
XV: vilancetes, cantigas, trovas, esparsas e endechas.

• As composições de Camões que seguem estes modelos


tradicionais designam-se por redondilhas, uma vez que
utilizam o verso de redondilha menor (5 sílabas métricas) ou
maior (7 sílabas métricas).
Vilancetes e cantigas

• Os vilancetes e as cantigas são, também, conhecidos como


poemas com mote e glosa/volta, por apresentarem uma estrofe
inicial mais curta e as restantes estrofes (também designadas de
voltas) constituírem o desenvolvimento da estrofe inicial.
• Vilancetes e cantigas distinguem-se entre si pelo número de
versos do mote.
• O vilancete apresenta um mote de dois ou três versos, ao passo
que na cantiga o mote tem quatro ou cinco versos.
Trovas
• As trovas são composições poéticas não sujeitas a mote, constituídas
por um número variável de estrofes, como o mesmo número de
versos, geralmente, oitavas.

Esparsas
• Trova de cariz triste e melancólico, generalizada na Península Ibérica
a partir do século XV, e que não é precedida nem de glosa nem de
mote. Constituída por uma única estrofe de redondilha maior (com
oito a dezasseis versos).

Endecha
• Composição lírica peninsular do Cancioneiro Geral que exprime
sentimentos tristes. Poema formado por um número variável de
estrofes (quadras ou oitavas) com versos de cinco ou seis sílabas
métricas.
Temas dominantes da lírica tradicional
• a menina que vai à fonte;
• o verde dos campos e dos olhos;
• o amor simples e natural;
• a saudade e o sofrimento;
• a dor e a mágoa;
• o ambiente cortesão com as suas “cousas de folgar” e as
futilidades;
• a exaltação da beleza de uma mulher de condição servil, de olhos
pretos e tez morena;
• a infelicidade presente e a felicidade passada.
Corrente Renascentista – Medida Nova

• Poesia de influência renascentista, nomeadamente de Dante e


de Petrarca.

• Cultivou o verso decassílabo, através de novas composições


poéticas, como o soneto, a canção, a écloga, a elegia, a ode.

• Camões cultiva com mestria e brilhantismo o soneto. Escreve


mais de 200 e sente que este é o modelo lírico ideal para
debater uma ideia ou desenvolver uma reflexão em registo
lírico sobre os temas centrais da obra.
Representação
da amada
Tema do
desconcerto Representação
da Natureza
Temas
predominantes
da lírica
Reflexão sobre
camoniana
a vida pessoal Tema da
mudança
Experiência amorosa
e reflexão sobre o
amor
A Representação da amada

• Na lírica camoniana, segundo António José Saraiva, temos dois tipos de


mulher:

► a mulher petrarquista (Laura) o ideal de amor espiritual

► o ideal de Vénus o ideal de amor sensual


A Representação da amada

• Imagem de uma mulher angélica, um ser divino, de pele, olhos e


cabelos claros, elementos físicos reveladores das qualidades da
alma, com um poder transformador da Natureza e do Homem
(influência petrarquista).
A Representação da amada

• Mulher inacessível, misteriosa, quase divina, de beleza inefável,


a quem o sujeito poético presta vassalagem e adoração e que se
relaciona com o amor espiritual. Ela é a Beleza, a Perfeição
intocável e inatingível, cópia do modelo divino. Alma
predestinada para ser amada pelo poeta, que, através dela,
atingirá a perfeição.

Ex.: «Ondados fios d’ouro reluzente»;


«Leda serenidade deleitosa»;
«Um mover d’olhos, brando e piadoso» .
A Representação da amada [cont.]

• Outro tipo de mulher é a terrena, modelada de formas

ondulantes e atraentes. É Vénus.


• O ideal de Vénus (mulher carnal): contornos físicos bem definidos

e atraentes que despertam o desejo e o prazer dos sentidos.

• Corresponde à exaltação da dimensão sensível e terrena do amor,

por quem o sujeito poético se sente atraído e fascinado.

Ex.: «Aquela cativa»;


«Minina dos olhos verdes».
Representação da Natureza
• Espaço alegre, tranquilo, sereno, propício ao amor (locus
amoenus).
• Espelho/Reflexo da alma do poeta, refletindo os seus sentimentos.

• Personificação da natureza, encarada como confidente, testemunha


da dor da ausência/separação da amada.
• Na ausência da mulher amada, de nada serve a paisagem ser bela e
amena, pois até essa beleza se torna hostil ao poeta por lhe lembrar
a saudade de quem já ali esteve e já não está.
Representação da Natureza [cont.]

• Verifica-se a recorrência a elementos da natureza, como árvores,

fontes, pássaros e todos os elementos sensoriais, tais como o


perfume das flores, o cromatismo da paisagem, o canto das aves.
A experiência amorosa e a reflexão sobre o amor

• O Amor é, de facto, o principal tema de toda a lírica camoniana.

• Na lírica, o amor é fonte de contradições vivamente sentidas.

• Camões, como Petrarca, cantou o amor platónico, espiritual, que


ignora o desejo e não exige a presença física da amada. É um amor
ideal, uma contemplação espiritual, que exclui a sensualidade.

• Amor conturbado, dividido entre o anseio espiritual e o desejo,


marcado pela culpa, saudade e insatisfação («Alma gentil, que te
partiste»; «Amor é fogo que arde sem se ver»).
A experiência amorosa e a reflexão sobre o amor [cont.]

• No entanto, as contradições que esta filosofia amorosa desperta

no ser humano – alegria e dor, prazer e sofrimento – encaradas


por Petrarca com serenidade, pois integradas num percurso
purificador, são para Camões fonte de inquietação e desespero.
A reflexão sobre a vida pessoal
• Reflexão do poeta sobre o destino (que nunca lhe foi favorável), os
erros que cometeu (fracasso), o desterro.
• Nos poemas marcados pela experiência vivida, Camões manifesta
angústia, cansaço, sofrimento, perplexidade, frustração e revolta,
pois:
→ o Amor dá-lhe esperanças que não se concretizam;
→ o ideal sonhado é inalcançável/inatingível;
→ o destino condena-o à infelicidade.
A reflexão sobre a vida pessoal [cont.]

• A experiência ensina-lhe que a mulher amada pode afastar-se do


ideal feminino renascentista e que o amor nem sempre está livre de
sensualidade.
O tema do desconcerto
• Tema humanista.

• Reflexão pessimista sobre a vida e o mundo, vistos «às avessas», com a


realidade contrária à lógica do bem e da virtude.

• O poeta julga-se incompreendido e vítima do destino, a viver num


mundo que premeia os maus, enquanto ele, praticamente do bem, só
recebe infelicidade e tormento.

• As injustiças sociais.

• A morte sempre no horizonte e sem explicações lógicas.

• O fracasso do sonho e dos projetos.


O tema da mudança
• Tema humanista.

• O Poeta vê a permanente mudança na Natureza provocada pela


passagem do tempo e reflete sobre a própria mudança.

• Conclui que, enquanto a Natureza se renova com as estações, no


homem e nele próprio, o tempo é inimigo e a mudança é sem
esperança nem remédio.

• Para o Poeta, a vida muda sempre para pior.

• A mudança traz a tristeza (presente) e elimina a felicidade


(passado)

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